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Page 1: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I210

Palavras da professora-pesquisadora

Caro aprendente do curso de Pedagogia

Estamos iniciando o segundo marco do curso e neste componente curricularestaremos trabalhando as contribuiccedilotildees da psicologia no campo da educaccedilatildeoEsta eacute uma tarefa aacuterdua porque iremos dirigir um olhar criacutetico agrave histoacuteria dealianccedilas entre estes dois saberes trazendo da literatura acadecircmica contribuiccedilotildeesde autores contemporacircneos preocupados em construir uma nova montagem dapsicologia na escola

Veremos como ao longo da histoacuteria da psicologia o compromisso poliacutetico sefez com as elites e todo o esforccedilo se situava na construccedilatildeo cientiacutefica deexplicaccedilotildees sobre o comportamento dos homens baseado na detecccedilatildeo e avaliaccedilatildeodas diferenccedilas Este procedimento era marcado pela ideacuteia da existecircncia de umdeacuteficit a ser identificado - algo que falta a alguns homens para que tenhamsucesso na vida no trabalho na escola O empenho era o de montar teorias queestabelecessem uma causalidade individual para as desigualdades sociais istoeacute para a forma como os homens se localizam na estrutura socioeconocircmica

A construccedilatildeo de teorias criacuteticas no campo da psicologia escolareducacional vem sendo uminvestimento de diversos profissionais que seratildeo privilegiados em nosso trabalho Assim o conviteque faccedilo a todos vocecircs aprendentes de pedagogia eacute que apreendendo o movimento de produccedilatildeodos saberes possam contribuir para a construccedilatildeo de novas alianccedilas entre a educaccedilatildeo e apsicologia

Comeccedilaremos nosso trabalho por um panorama da psicologia e suas principais vertentesdesde sua criaccedilatildeo Em seguida buscaremos na histoacuteria da psicologia no Brasil os aspectos dasalianccedilas entre os saberes que nos interessam A produccedilatildeo da infacircncia e das teorias dodesenvolvimento seraacute focalizada pela lente da construccedilatildeo da sociedade disciplinar Na segundaunidade o foco se coloca sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar e iremos assumir com MariaHelena de Souza Patto e outros pesquisadores a ideacuteia de se tratar de uma produccedilatildeo social quevisa tornar legiacutetima a exclusatildeo das crianccedilas pobres Nesta unidade jaacute iremos indicar algunscaminhos que psicoacutelogos brasileiros tecircm inventado no trabalho na escola Na uacuteltima unidadeiremos tratar das contribuiccedilotildees da psicologia na construccedilatildeo de uma outra loacutegica a do sucessoe do prazer na produccedilatildeo do conhecimento Iremos estudar as teorias sobre o funcionamento dosgrupos incentivando e capacitando vocecircs aprendentes a observarem a dinacircmica de uma salade aula podendo elaborar estrateacutegias de produccedilatildeo de conhecimento que priorizem o conjunto dealunos valorizando as diferenccedilas entre estes sujeitos e as possibilidades de cada um e de cadagrupo

Espero que assim juntos possamos construir novas alianccedilas entre psicologia e educaccedilatildeoparticipando de um grande movimento nacional inspirado no compromisso social com a escola ecom a ciecircncia

Se a tarefa parecer difiacutecil natildeo desanime porque estaremos presentes facilitando caminhosQuando precisar de ajuda natildeo paralise Continue seu caminho e iremos juntos porque nossaproposta eacute ir com vocecirc em uma viagem surpreendente subindo as dunas para olhar o mar comoDiego e seu pai

Diego natildeo conhecia o m ar O pai Sant iago Kovadloff levou-o para quedescobrisse o mar Viajaram para o sul

211

Ele o mar estava do outro lado das dunas altas esperando

Quando o m enino e o pai enfim alcanccedilaram aquelas alturas de areiadepois de m uito cam inhar o m ar estava na frente de seus olhos E foitanta a imensidatildeo do mar e tanto o seu fulgor que o menino ficou mudode beleza

E quando finalm ente conseguiu falar t rem endo gaguejando pediu aopai

Me ajuda a olhar (GALEANO 2006)

Profa Dra Acircngela Maria Dias Fernandes

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I212

Croqui do Percurso

UNI VERSI DADE ABERT A DO BRASI LUNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIacuteBA

CURSO PEDAGOGI A - MODALI DADE A DI ST AcircNCI APSICOLOGIA EDUCACIONAL I

Professora Dra Acircngela Maria Dias FernandesE-mail angeladfernandesyahoocombr MARCO II

Componente curricular Psicologia Educacional I 60 horasaula 04 creacuteditos

Ementa Visatildeo histoacuterica do surgimento da psicologia e sua articulaccedilatildeo com a educaccedilatildeoConstruccedilatildeo do discurso psicoloacutegico A produccedilatildeo social das dificuldades de aprendizagem e acriacutetica agraves teorias explicativas do fracasso na escola Exclusatildeo social educaccedilatildeo e psicologia Aproduccedilatildeo da autonomia Psicologia e abordagem institucionalista na educaccedilatildeo

Obje t ivo Ge r a l A partir da apreensatildeo histoacuterica da relaccedilatildeo entre psicologia e educaccedilatildeofornecer elementos para a construccedilatildeo de uma visatildeo criacutetica sobre os aspectos disciplinares eexcludentes da escola criando bases para a construccedilatildeo de uma nova articulaccedilatildeo entre estessaberes

Objetivos especiacuteficos- Promover uma reflexatildeo criacutet ica sobre os discursos expl icat ivos das dif iculdades deaprendizagem- Desenvolver condiccedilotildees para a construccedilatildeo de propostas educativas valorizando as diferenccedilasentre os sujeitos e suas possibilidades de criaccedilatildeo- Promover uma reflexatildeo sobre a escola valorizando os espaccedilo de produccedilatildeo coletiva envolvendoprofissionais alunos e famiacutelias

Competecircncias e habilidades a serem desenvolvidas- Capacidade de interpretaccedilatildeo de textos- Capacidade de gerar novas ideacuteias e conhecimentos- Capacidade de trabalhar em equipe valorizando os espaccedilos coletivos- Capacidade de comunicaccedilatildeo oral escrita e virtual- Capacidade de estabelecer interaccedilotildees virtuais

Etapas do percurso Fontes principais

UNIDADE I Psicologia e educaccedilatildeo alianccedilas naproduccedilatildeo de um olhar sobre a infacircncia

- A construccedilatildeo histoacuterica da Psicologia- Psicologia e Educaccedilatildeo no Brasil - compromissos ealianccedilas- Conhecimento saber e poder um olhar sobre ainfacircncia escolarizada

ANTUNES Mitsuko Aparecida Makino(1998) A psicologia no Brasil umaleitura histoacuterica sobre sua constituiccedilatildeoSatildeo Paulo Unimarco EdEduc p 37 -39 e 63 - 85 1998

BOCK Ana Mercecircs Bahia Psicologia eCompromisso Social Satildeo PauloCortez (Cap 2 p 29 - 36) 2003

U N I D A D E I I U m a a b o r d a g e m c r iacute t ic a d ocotidiano escolar

- Dos coleacutegios da modernidade agraves escolas atuais -uma anaacutelise criacutetica das praacuteticas cotidianas- A exclusatildeo social e a educaccedilatildeo - anotaccedilotildees sobreo fracasso escolar- Medicalizaccedilatildeo da infacircncia - a diferenccedila negada nocotidiano escolar

MACHADO Adriana Marcondes ampSOUZA Marilene Proenccedila Rebello de(Org)Psicologia Escolar em busca denovos rumos Satildeo Paulo Casa doPsicoacutelogo (Cap 1 p 19 - 38 e Cap 2p 39 - 54) 2004

NUNES Ligya Bojunga A casa daMadrinha Rio de Janeiro Agir 1992

213

Etapas do percurso Fontes principais

UNIDADE III Outras articulaccedilotildees para umanova montagem da psicologia educacional

- Psicologia e produccedilatildeo da autonomia- Escola como instituiccedilatildeo - um campo de relaccedilotildeesem movimento- Psicologia e Educaccedilatildeo - novas articulaccedilotildees ealgumas propostas

BOCK Ana Mercecircs Bahia (Org)Psicologia e Compromisso Social SatildeoPaulo Cortez (Cap1 p 15 - 28)2003

CAMPOS Herculano Ricardo (Org)Formaccedilatildeo em Psicologia escolar -realidades e perspectivas CampinasEd Aliacutenea (Cap5 p 109 - 134 e Cap7 p 149 - 162) 2007

MACIEL Ira Maria (Org) Psicologia eEducaccedilatildeo novos caminhos para aformaccedilatildeo Rio de Janeiro CiecircnciaModerna (Parte I p 15 - 33 e ParteIII p 213 - 229) 2001

Recursos teacutecnico-pedagoacutegicos

AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem)- Foacuteruns- Sala de bate-papo- Diaacuterio de bordo- Disponibilidade de arquivos de texto- Disponibilidade de arquivos com apresentaccedilotildees didaacuteticas- DesafiosViacutedeo-conferecircnciaLe itura do livro T r ilhas do Aprendente Consulta a livrosConsulta agrave WEB

Estrateacutegias

A metodologia do percurso estaacute fundada na participaccedilatildeo interaccedilatildeo e conexatildeo da teoria com ouniverso praacutetico Para tanto eacute fundamental que os(as) aprendentes visitem participem einterajam no ambiente virtual de aprendizagem e nas aulas presencias aleacutem da frequumlecircnciacontiacutenua ao Poacutelo Municipal de Apoio Presencial (PMAP) onde poderatildeo ser orientados(as)pelos(as) mediadores(as) pedagoacutegicos(as) acerca dos desafios propostos

Desafios

Os instrumentos de avaliaccedilatildeo dos(as) aprendentes seratildeo diversificados exerciacutecios escritostestes produccedilatildeo textual seminaacuterio virtual debates em foacuteruns Para avaliar tais produccedilotildeesseratildeo considerados os objetivos do componente curricular e a implicaccedilatildeo capacidade criacutetica ede reflexatildeo demonstrada pelo aprendente

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I214

REFEREcircNCIAS

Baacutesicas

ANTUNES Mitsuko Aparecida Makino A psicologia no Brasil uma leitura histoacuterica sobre suaconstituiccedilatildeo Satildeo Paulo Unimarco EdEduc 1998

BOCK Ana Mercecircs Bahia (Org) Psicologia e Compromisso Social Satildeo Paulo Cortez 2003

CAMPOS Herculano Ricardo (Org) Formaccedilatildeo em Psicologia escolar realidades eperspectivas Campinas Ed Aliacutenea 2007

MACHADO Adriana Marcondes SOUZA Marilene Proenccedila Rebello de (Org) PsicologiaEscolar em busca de novos rumos Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2004

MACIEL Ira Maria (Org) Psicologia e Educaccedilatildeo novos caminhos para a formaccedilatildeo Rio deJaneiro Ciecircncia Moderna 2001

NUNES Ligya Bojunga A casa da Madrinha Rio de Janeiro Agir 1992

Complementares

ALTMANN Helena A Influecircncia do Banco Mundial no projeto educacional brasileiro Educaccedilatildeo ePesquisa janjunho 2002 V 28 n 1 p 77-89

ALTOEacute Sonia (Org) Reneacute Lourau Analista institucional em tempo integral Satildeo Paulo EdHucitec 2004

ANDREWS S Deacuteficit de natureza Revista Eacutepoca Rio de Janeiro n 473 junho de 2007Editora Globo p 45-52

ARDUINO Jaques LOURAU Reneacute As pedagogias institucionais Satildeo Carlos Rima 2003

ARIEgraveS Philippe Histoacuteria social da infacircncia e da famiacutelia Rio de Janeiro Ed Guanabara1978

BENCINI R Comprimidos em excesso Revista Nova Escola Satildeo Paulo nordm 202 maio de 2007Editora Abril p 38-45

COSTA Marisa Vorraber A perspectiva na sala de aula e o processo de significaccedilatildeo INSILVA Luiz Heron (Org) A escola cidadatilde no contexto de globalizaccedilatildeo Petroacutepolis Vozes1999

FERNANDES Acircngela M Dias LIMA Patriacutecia Alvarenga Hiperatividade e sofrimento escolar adiferenccedila negada no cotidiano da escola IN Anais da Conferecircncia I nternacional educaccedilatildeo globalizaccedilatildeo e cidadania (miacutedia) Joatildeo Pessoa wwwsocieduca-interorg 2008

FREITAS Marcos Cezar (Org) Histoacuteria Social da Infacircncia no Brasil 6 ed Satildeo PauloCortez 2006

215

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica da autonomia SatildeoPaulo Ed Paz e Terra 1998

FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Ed Graal 1979

FRIGOTTO G A produtividade da escola improdutiva Satildeo Paulo CortezAutoresAssociados 1984

GENTILI Pablo ALENCAR Chico Educar na esperanccedila em tempos de desencantoPetroacutepolis Ed Vozes 2001

GONZALEZ REY F L Pesquisa Qualitativa em Psicologia caminhos e desafios Satildeo PauloPioneira Thompson 2002

GUATARRI Felix Revoluccedilatildeo molecular pulsaccedilotildees poliacuteticas do desejo Satildeo Paulo EdBrasiliense 1991

HARPER Babertte CECCON Claudius OLIVEIRA Miguel Darcy e OLIVEIRA Rosiska DarcyCuidado escola Desigualdade domesticaccedilatildeo e algumas saiacutedas Satildeo Paulo Ed Brasiliense1980

KAPLAN I SANDOCK B J Compecircndio de Psiquiatria Porto Alegre Artes Meacutedicas 2003

MACHADO Adriana FERNANDES Angela e ROCHA Marisa (orgs) Novos possiacuteveis noencontro da psicologia com a educaccedilatildeo Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2007

MOYSES Maria Aparecida Afonso A institucionalizaccedilatildeo invisiacutevel - crianccedilas que natildeoaprendem na escola Campinas SP Mercado de Letras Satildeo Paulo Papesp 2001

PATTO Maria Helena Sousa Psicologia e Ideologia uma introduccedilatildeo criacutetica agrave psicologiaescolar Satildeo Paulo T A Queiroz 1984

______ A produccedilatildeo do fracasso escolar histoacuterias de submissatildeo e rebeldia Satildeo Paulo T A Queiroz 1990

______ Mutaccedilotildees do cativeiro escritos de psicologia e poliacutetica Satildeo Paulo EDUSPHackerEditores 2000

______ Exerciacutecios de indignaccedilatildeo escritos de educaccedilatildeo e psicologia Satildeo Paulo Casa doPsicoacutelogo 2005

SILVA Tomaz Tadeu da (org) O sujeito da educaccedilatildeo estudos foucaultianos PetroacutepolisEd Vozes 1994

Sites indicados

wwwineporgbr

wwwpedagogiaemfocoprobrheb07ahtm

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I216

217

UNI VERSI DADE ABERTA DO BRASI LUNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIacuteBA

CURSO DE PEDAGOGI A - MODALI DADE A DI STAcircNCI APSICOLOGIA EDUCACIONAL I

Professora-pesquisadora Dra AcircNGELA MARIA DIAS FERNANDES

DESEMPENHO NO PERCURSO

Aulas Desafios PontuaccedilatildeoDesempenho

obtidoPrazo de

finalizaccedilatildeo

UNIDADE I

Aula 1

1) Esquema das principaiscorrentes de pensamentopsicoloacutegico2) Foacuterum Quais asprincipais diferenccedilas entreas correntes depensamento psicoloacutegico

20

20

Aula 2

Produccedilatildeo de texto sobre aTeoria da CarecircnciaCultural e seu percurso apartir da MedicinaPsicologia e Pedagogia

30

Aula 3

1) Glossaacuterio comconceitos dos termosPedagogizaccedilatildeo dosconhecimentos edisciplinamento dossaberes2) Chat temaacutetico

15

15

Tota l de pontos na Unidade I 100

UNIDADE II

Aula 4Foacuterum relacionando avivecircncia escolar doaprendente com o texto

30

Aula 5 Chat sobre exclusatildeo sociale escola 30

Aula 6Pesquisa de campo(entrevistas comprofessores)

40

Tota l de pontos na Unidade I I 100

UNIDADE III

Aula 7Produccedilatildeo de texto sobreautonomia e Psicologia naescola

30

Aula 8

1) Foacuterum sobre o trabalhodo professor no contoinfantil2) Chat temaacutetico

20

20

Aula 9 Foacuterum sobre propostas emPsicologia Educacional 30

Tota l de pontos na Unidade I I I 100

AVALIACcedilAtildeOPRESENCIAL

(Prova escrita)

Conteuacutedo das trecircsunidades

100 Final dopercurso

TOT AL DE PONTOS OBTI DOS NO PERCURSO

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I218

UNIDADE I

PSI COLOGI A E EDUCACcedilAtildeO ALI ANCcedilAS NA PRODUCcedilAtildeO DE UMOLHAR SOBRE A INFAcircNCIA

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 1 A CONSTRUCcedilAtildeO HI STOacuteRI CA DA PSI COLOGI A

Para estudarmos a psicologia suas teorias praacuteticas e princiacutepios metodoloacutegicos eacute necessaacuterioinicialmente termos conhecimento de sua histoacuteria e do contexto soacutecio-poliacutetico-cultural quepermitiu sua constituiccedilatildeo

1 A const ruccedilatildeo da psicologia cient iacuteficaInicialmente iremos situar a construccedilatildeo cientiacutefica da psicologia a partir das linhas claacutessicas

do pensamento psicoloacutegico behaviorismo gestaltismo funcionalismo psicologia cognitivapsicologia soacutecio-histoacuterica e psicanaacutelise

Todos os historiadores da psicologia concordam que foi Wilhen Wundt na Alemanha emmeados do Seacuteculo XIX que criou os fundamentos cientiacuteficos determinando o objeto de estudo omeacutetodo de pesquisa e os objetivos dessa nova ciecircncia Wundt afirmou a independecircncia dapsicologia em relaccedilatildeo agraves outras ciecircncias situando-a na intermediaccedilatildeo entre as ciecircncias danatureza e da cultura A experiecircncia imediata dos homens era seu foco de interesse baseandosua teoria na ideacuteia de uma unidade psicofiacutesica dos processos elementares da vida mental

No final do Seacuteculo XIX outros estudiosos se lanccedilaram naaventura da pesquisa em psicologia concordando com Wundtou se opondo a ele O Co m p o r t a m e n t a l i sm o ouBehaviorismo surge com John Watson nos EUA que discordaque o foco esteja na experiecircncia imediata Para Watson o objetode estudo da nova ciecircncia deve ser a comportamento humanoEste teoacuterico afirma que o comportamento deve ser visto comoindependente daquilo que o sujeito pensa sente deseja ou emque crecirc Jaacute no iniacutecio do Seacuteculo XX os novos comportamentalistasreordenam os estudos das interaccedilotildees entre os organismos vivose seus ambientes O psicoacutelogo americano BF ltSkinnergt sesobressai ao se referir agrave importacircncia dos condicionamentossociais no comportamento Ele afirma que as experiecircnciassubjetivas satildeo sempre construiacutedas pela sociedade sem nenhumainterferecircncia da consciecircncia ou de um eu interno e formula oconceito de condicionamento operante relacionando aaprendizagem a um sistema de reforccedilo e puniccedilatildeo

Note-se que ateacute aqui estamos trazendo as oposiccedilotildees entre duas linhas de pensamentoSituamos Wundt que afirma a importacircncia das experiecircncias imediatas no estudo do psiquismohumano e uma outra vertente que propotildee ignorar a existecircncia de tais experiecircncias na construccedilatildeoda psicologia cientiacutefica como propotildeem os teoacutericos do comportamentalismo

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

A ca ix a de Sk inn er

219

Nessa polecircmica sobre o estudo do homem podemos situar uma teoriasobremaneira importante - o ltGestaltismogt - mais conhecido comopsicologia da forma que surge na Alemanha no iniacutecio do Seacuteculo XX Emoposiccedilatildeo clara a J Watson seus mais importantes representantes foramMax Wetheimer Kurt Koffka e Wolfgan Koller Seus estudos partiam daexperiecircncia imediata utilizando como meacutetodo a fenomenologia Segundo

esses estudiosos os fenocircmenos da percepccedilatildeo da memoacuteria e da afetividade eram vivenciadossob a forma de estruturas Eles recusavam a ideacuteia de Watson para quem o comportamento eraunicamente dependente do estiacutemulo (relaccedilatildeo conhecida como estiacutemulo-resposta ou E-R) afirmandoque a forma resultante de um processo de percepccedilatildeo era muito mais que a soma das partes Ogestaltismo trazia como preocupaccedilatildeo central a necessidade de se relacionar a experiecircncia imediatados sujeitos com a natureza fiacutesica e bioloacutegica e com o mundo dos valores socioculturais

Outra importante corrente surgida na passagem do SeacuteculoXIX para o Seacuteculo XX nos EUA foi o Funcionalismo Maisconhecido por suas teses adaptacionistas traz uma grandeinfluecircncia das teorias evolucionistas de lt Charles Darw ingt Os estudiosos dessa corrente admitiam a possibilidade de seestudar a mente por meio dos comportamentos e para a suasobrevivecircncia o ser humano deveria adaptar-se agraves condiccedilotildeesambientais John Dewey foi o que mais trouxe contribuiccedilotildees nocampo da educaccedilatildeo afirmando que o ensino deveria orientar-se para o aluno e natildeo para o assunto Acreditava com issoque se poderia formar o ser humano adaptando-o agravesnecessidades da sociedade por meio da educaccedilatildeo

As receacutem estruturadas sociedades industriais capitalistas iratildeo indicar para a correnteadaptacionista uma importante tarefa a de cont r ibuir com invest igaccedilotildees cient iacutef icas sobre oshomens com o objetivo de melhor adaptaacute-los agrave nova ordem social A psicologia se desenvolveno iniacutecio do Seacuteculo XX com a construccedilatildeo de instrumentos de mensuraccedilatildeo da inteligecircncia e dapersonalidade Os testes psicoloacutegicos propostos pelos pesquisadores eram utilizados nosprocedimentos de seleccedilatildeo e orientaccedilatildeo no trabalho e na escola Tanto nos EUA com FrancisGalton quanto na Franccedila com Binet e Simon assiste-se ao desenvolvimento da psicometriautilizada na educaccedilatildeo como forma de conhecer as caracteriacutesticas de cada sujeito Esseconhecimento serviria para justificar a partir das diferenccedilas individuais a distribuiccedilatildeo em classessociais distintas colocando fora de questionamento a desigualdade social e distribuiccedilatildeo desigualde oportunidades

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

O filme Tempos Modernos de Charles Chaplin jaacute foiobjeto de reflexotildees no MarcoI Caso deseje revecirc-lo dirija-se ao Poacutelo Municipal de ApoioPresencial de sua cidade

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I220

A configuraccedilatildeo do objeto de estudos da psicologia centrada no indiviacuteduo afasta a necessidadede uma anaacutelise contextualizada da sociedade onde os sujeitos estatildeo inseridos assim como suaforma de inserccedilatildeo Nas sociedades marcadas pela divisatildeo em classes e cuja base eacute o modelocapitalista de produccedilatildeo difunde-se a crenccedila na igualdade de oportunidades minimizando ainfluecircncia do modo de produccedilatildeo na localizaccedilatildeo dos sujeitos na estrutura social As diferenccedilasindividuais satildeo utilizadas para mascarar a impossibilidade de que a as oportunidades sejam iguaispara todos Assim aprofunda-se a marca principal da psicologia desde sua criaccedilatildeo a de selecionarorientar adaptar e racionalizar a existecircncia humana em nome da produtividade e da eficaacutecia

Podemos situar ainda a Psicologia Cognitiva como outracorrente que se oporaacute aos princiacutepios do ComportamentalismoltJean Piagetgt eacute um importante estudioso do desenvolvimentoinfantil cuja base satildeo as estruturas cognitivas A criacutetica agraveobjetividade cientiacutefica observada nas teorias comportamentaise funcionalistas eacute um importante fundamento desse caminhode pensamento sobre o ser humano e traraacute enormescontribuiccedilotildees para a educaccedilatildeo

Lev Vygotsky psicoacutelogo russo propocircs no iniacutecio do Seacuteculo XX uma nova teoria a PsicologiaSoacutecio-histoacuterica que parte da afirmaccedilatildeo da construccedilatildeo social do conhecimento e da importacircnciada mediaccedilatildeo da educaccedilatildeo da escola e do professor nos processos de ensino e de aprendizagemTrata-se de um importante passo na direccedilatildeo de relacionar o individual e o social na compreensatildeodo psiquismo humano

Sigmund Freud o criador da ltPsicanaacutelisegt eacute tambeacutemsituado no campo dos estudiosos da gecircnese do sujeito Emoposiccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees positivistas e objetivadoras dofuncionalismo psiacutequico Freud iraacute definir o inconsciente comoobjeto de estudo Ele concebe a ideacuteia de uma subjetividadecindida e incompleta recusando o eu como centro dopsiquismo o que torna a psicanaacutelise uma teoria original

2 Desenvolvim ento da psicologia no seacuteculo XX

A partir dessas correntes claacutessicas (behaviorismo gestaltismo funcionalismo psicologiacognitiva psicologia soacutecio-histoacuterica e psicanaacutelise) observa-se na histoacuteria da psicologia o surgimentode outras teorias e estrateacutegias de atuaccedilatildeo Podemos destacar nesse processo as teorias ligadasagrave psicologia dos grupos a teoria humanista as teorias da subjetividade e aquelas que surgem apartir do movimento institucionalista

Os estudiosos da histoacuteria da psicologia assinalam o meacutedicoJ Prattes como o pioneiro nos trabalhos com grupos em 1906mas eacute consensual a afirmaccedilatildeo de que foi Moreno psiquiatraromeno que na deacutecada de 1930 nos EUA idealizou olt p sico d r a m a gt uma passagem da arte dramaacutetica agravepsicoterapia

O alematildeo Kurt Lewin eacute tambeacutem situado no campo das psicoterapias de grupo incrementadas

D ivatilde u t i l iz a do pe lo psica n a l ist a ee x p o st o n o M u se u Fr e u d e mLon d r e s

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

221

pelas condiccedilotildees do poacutes-guerra (deacutecada de 1940) impondo a necessidade de expansatildeo dostrabalhos de sauacutede mental e de recuperaccedilatildeo imediata da matildeo-de-obra deteriorada Em 1944Lewin criou o conceito de dinacircmica de grupo afirmando que o grupo eacute mais do que a soma dassuas partes e que quando haacute modificaccedilatildeo de uma das partes a estrutura grupal se modificaOutro teoacuterico da psicologia dos grupos eacute o argentino Pichoacuten Riviegravere que estruturou a estrateacutegiado grupo operativo que considerava que um grupo soacute se estruturava quando estivesse operandosobre uma tarefa

Como pode ser observado ateacute esta etapa de nossa aula a partir da segunda guerramundial a psicologia fortalece seu interesse pelo social natildeo soacute no campo da pesquisa considerandosua repercussatildeo na constituiccedilatildeo dos sujeitos como tambeacutem enquanto espaccedilo de intervenccedilatildeo emorganizaccedilotildees (hospitais escolas faacutebricas sindicatos etc)

As teorias ligadas agrave Psicologia Humanista constituem outro importante espaccedilo de praacuteticasna qual se sobressaem Carl Rogers da Abordagem Centrada na Pessoa e alguns teoacutericos dagestalt-terapia e da Bioenergeacutetica traduzindo muito bem uma forma mais intimista de responderaos acontecimentos dos anos de 1960 e 1970 Priorizando o corpo o auto-conhecimento e aliberaccedilatildeo dos sujeitos os autores humanistas centram sua preocupaccedilatildeo na adaptaccedilatildeo do homemao meio de forma criativa e ativa

Ainda nas deacutecadas de 1950 e 1960 assiste-se a um movimento de resistecircncia principalmentena Europa que se faz presente nos hospitais e nas escolas aliando a psicologia a sociologia aeducaccedilatildeo e a psiquiatria O Movimento Institucionalista nasce de uma criacutetica agrave organizaccedilatildeohieraacuterquica e centralizadora tanto nos hospitais psiquiaacutetricos quanto nas organizaccedilotildees escolaresconstituindo-se a Psicoterapia I nst itucional (1950) e mais tarde (1962) a PedagogiaInstitucional A Psicossociologia Institucional significa um avanccedilo no processo de autogestatildeoe juntamente com os anti-institucionalistas (Lang Cooper e Ivan Illich) iraacute criar as condiccedilotildeespara o surgimento de uma outra perspectiva de intervenccedilatildeo em 1963 conhecida como AnaacuteliseInstitucional

Por sua criacutetica agrave sociedade capitalista e aoconservadorismo os institucionalistas relacionam-se comos ltmovimentos da contra-cultura na Franccedilagt e emoutros paiacuteses e elaboram inspirados em conceitos devaacuterias correntes da psicologia da sociologia e da filosofiapropostas de investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Essas ideacuteiassatildeo representadas principalmente pelos franceses ReneacuteLourau Felix Guattari e Georges Lapassade

No Brasil apoacutes a ditadura militar essas formulaccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas encontraramum terreno feacutertil junto a psicoacutelogos implicados com os movimentos sociais propondo um conjuntode ferramentas proacuteprias para a intervenccedilatildeo em instituiccedilotildees conceituadas como praacuteticas sociaise para a compreensatildeo das subjetividades

Nas duas uacuteltimas deacutecadas do Seacuteculo XX e iniacutecio do Seacuteculo XXI a partir dos avanccedilos dacomunicaccedilatildeo da expansatildeo de outras linguagens como a informaacutetica e do surgimento de novasproblemaacuteticas sociais configuram-se teorias e proposiccedilotildees centradas algumas delas tambeacutemno conceito de Subjetividade Fernando Gonzaacutelez Rey identifica na histoacuteria desse conceito umprocesso de ruptura com a psicologia cientiacutefica objetiva e neutra tendo significado um desafio

Paris em 1968

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I222

na afirmaccedilatildeo de uma psique que se constroacutei a partir de uma visatildeo cultural em uma dimensatildeocomplexa e dialeacutetica Esse estudioso da psicologia aponta a obra de Vygotsky pouco valorizadano Ocidente ateacute muito recentemente como um marco na definiccedilatildeo do conceito de subjetividade

A psicanaacutelise e a psicologia soacutecio-histoacuterica de L Vygotsky e outras linhas de pensamentotecircm sido revistas em associaccedilatildeo com diversas aacutereas do conhecimento inaugurando um caminhointerdisciplinar

Nesses uacuteltimos trinta anos ainda as teorias comportamentais vecircm buscando sua renovaccedilatildeomediante o aprimoramento das teacutecnicas quantitativas de avaliaccedilatildeo de valores sociais e de programasde assistecircncia e e intervenccedilotildees no campo da cogniccedilatildeo e do treinamento comportamental

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

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AULA 2 PSI COLOGI A E EDUCACcedilAtildeO NO BRASI L COMPROMI SSOS E ALI ANCcedilAS

Como vimos na aula anterior a constituiccedilatildeo da psicologia comociecircncia data de meados do Seacuteculo XIX com Wundt na AlemanhaNesse periacuteodo de mais de um seacuteculo de construccedilotildees teoacutericas eproposiccedilotildees praacuteticas constatamos a existecircncia de uma variedadede olhares sobre o homem e seu funcionamento psiacutequico Percebemosao longo da histoacuteria da psicologia que natildeo existe um pensamentouacutenico e que o contexto soacutecio-histoacuterico e a forma como o psicoacutelogopesquisador compreende o mundo e nele se insere seratildeo umimportantes fatores que determinaratildeo a proposta formulada

No Brasil assistiremos a um processo que segundo algunspsicoacutelogos brasileiros preocupados com a historiografia dessaciecircncia tem relaccedilatildeo com as experiecircncias de colonizaccedilatildeo eafirmaccedilatildeo dos interesses de uma classe dominante fortementemarcada por teorias racistas e eugecircnicas alimentadas pela obrade Charles Darwin e suas consequumlecircncias para o estudo dohomem O impulsionamento da psicologia como ciecircncia no Brasileacute relacionado a necessidades impostas pelo desenvolvimentourbano-industrial agraves novas formas de ocupaccedilatildeo das cidadesditadas pela Repuacuteblica e ao reordenamento da forccedila de trabalhona direccedilatildeo da escola preferencialmente profissionalizante

A constituiccedilatildeo da psicologia desde fins do Seacuteculo XIX e iniacuteciodo Seacuteculo XX deu-se em estreita articulaccedilatildeo com a educaccedilatildeo e amedicina podendo-se afirmar que a psicologia foi gerada no interiordessas duas aacutereas de conhecimento sendo nesses campos em quedesenvolveraacute seu projeto de autonomizaccedilatildeo como demonstra MitzukoAntunes em seu estudo a ltPsicologia no Brasil leitura histoacutericasobre sua constituiccedilatildeogt

A atuaccedilatildeo da psicologia junto agraves instituiccedilotildees de sauacutede noiniacutecio do Seacuteculo XX fez-se em nome do controle social com sentidopreventivista e eugecircnico A psiquiatria e o higienismo quecaracterizaram a medicina da eacutepoca clamaram pela participaccedilatildeo dapsicologia na detecccedilatildeo da anormalidade como tambeacutem na prevenccedilatildeo de problemas sociais quepoderiam advir relacionados agrave presenccedila das raccedilas que eram consideradas inferiores e que poderiamperturbar a ordem na vida urbana

A Liga Brasileira de Higiene Mental criada em 1920 representou de maneira radical essesideais tendo se colocado abertamente a favor do aperfeiccediloamento da raccedila (ariana) e contra osnegros e mesticcedilos que eram caracterizados pelas teorias racistas da eacutepoca como indolentesdegenerados preguiccedilosos e sujeitos a enfermidades por sua natureza e iacutendole Os princiacutepios da

Antes de prosseguir aleitura da aula volte agraveaula anterior e revejaquais as principaiscorrentes dapsicologia no processode sua construccedilatildeohistoacuterica

Dirija-se agrave bibliotecado Poacutelo Municipal deApoio Presencial e faccedilaa leitura dos capiacutetulos1 e 2 da Parte II dolivro de MitzukoAntunes (p 37-85)

Trabalhadores da Faacutebricade Tecidos Videira

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higienizaccedilatildeo e da disciplinarizaccedilatildeo da sociedade iratildeo caracterizar o trabalho nas instituiccedilotildeespsiquiaacutetricas preocupadas com uma intervenccedilatildeo para aleacutem do encarceramento da loucura

Apesar da diversidade de pesquisas que se desenvolviam em outros paiacuteses no Brasil ainfluecircncia da pesquisa experimental baseada na psicometria ocorreu de forma hegemocircnica ateacute

pelo menos a deacutecada de 1980

Nas instituiccedilotildees educacionais a preocupaccedilatildeo central era com o analfabetismo e a falta deinstruccedilatildeo do povo brasileiro em um paiacutes em franco desenvolvimento e requisitando uma matildeo-de-obra conhecedora pelo menos da leitura e da escrita Vaacuterios movimentos pela difusatildeo e ampliaccedilatildeoda escola puacuteblica e gratuita surgiram no paiacutes mostrando diferentes ideais de sociedade que vatildeodesde a preparaccedilatildeo para o trabalho ateacute uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo como emancipadora dopovo em uma luta contra a opressatildeo colonialista Nesse quadro a demanda dos profissionais daeducaccedilatildeo no sentido de construir uma pedagogia moderna e cientiacutefica fez da psicologia seuprincipal ponto de sustentaccedilatildeo uma vez que fornecia as bases de conhecimento sobre osindiviacuteduos o processo de desenvolvimento psiacutequico as vocaccedilotildees emoccedilotildees e a organizaccedilatildeo dapersonalidade

A preocupaccedilatildeo com o indiviacuteduo e com as teacutecnicas que pudessem instrumentalizar a praacuteticaeducativa fez surgir no Brasil no iniacutecio do Seacuteculo XX uma seacuterie de Laboratoacuterios e Institutosvoltados para a pesquisa psicoloacutegica destacando-se o Pedagogium depois transformado emLaboratoacuterio de Psicologia Experimental no Rio de Janeiro o Instituto de Psicologia de Pernambucoa Escola de Aperfeiccediloamento Pedagoacutegico de Belo Horizonte e o Laboratoacuterio de PedagogiaExperimental de Satildeo Paulo Nesse periacuteodo surgem as Escolas Normais encarregadas da formaccedilatildeode professores

No processo de constituiccedilatildeo cientiacutefica da pedagogia e de afirmaccedilatildeo da psicologia oslaboratoacuterios e institutos de pesquisa vatildeo sendo incorporados a essas escolas A instalaccedilatildeo desalas de exame psicoloacutegico e de afericcedilatildeo antropomeacutetrica seguia a demanda de higienizaccedilatildeo dapopulaccedilatildeo vigente na eacutepoca e era inspirada nas pesquisas trazidas da Europa e dos EUA queprivilegiavam a psicometria de modo geral Apesar da pouca inserccedilatildeo nas escolas oficiais essapraacutetica serviu para difundir e legitimar o discurso cientiacutefico utilizado para explicar a localizaccedilatildeo decada indiviacuteduo na estrutura social A existecircncia de diferenccedilas individuais era o principal argumentodesse discurso sendo desconsideradas desse esquema de causalidade as imposiccedilotildees da sociedadecapitalista industrial e sua principal base que eacute a divisatildeo em classes sociais com chances epossibilidades desiguais

Em um estudo sobre a disciplina na sociedade moderna em que analisa o funcionamento doGabinete de Antropologia e Psicologia Pedagoacutegica de Satildeo Paulo Marta Carvalho afirma

Neste horizonte criteacuterios raciais nem sempre explicitados traccedilavam os limitesdas boas intenccedilotildees republicanas operando a distinccedilatildeo entre populaccedilotildeeseducaacuteveis capazes portanto de cidadania e populaccedilotildees em que o peso dahereditariedade (leia-se raccedila ) era a marca de um destino que a educaccedilatildeo

era incapaz de alterar (CARVALHO 2006 p 299)

A partir da deacutecada de 1920 e principalmente de 1930 o ideaacuterio escolanovista baseadonos princiacutepios da modernidade fez-se mais presente na educaccedilatildeo brasileira mobilizando os

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educadores na luta contra os elevados iacutendices de repetecircncia eevasatildeo na escola puacuteblica A educaccedilatildeo era compreendida comoa base de uma sociedade saudaacutevel que precisava ser moralmentepreparada para o trabalho

Os novos intelectuais se uniram em torno da crenccedila de que a sauacutede e a educaccedilatildeo eramfatores capazes de promover a necessaacuteria regeneraccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira A preocupaccedilatildeocom o rendimento na escola promoveu a incorporaccedilatildeo do ltmodelo tayloristagt de produccedilatildeofabril afirmando na educaccedilatildeo as posiccedilotildees tecnicistas norteadas pela eficiecircncia e eficaacutecia dasaccedilotildees No trecho abaixo Maria Helena de Souza Patto (2003) expressa o significado dainfluecircncia desse modelo produtivo na educaccedilatildeo ao identificar um vieacutes adaptacionista naproduccedilatildeo em seacuterie de alunos perfeitamente adaptados aos diferentes lugares que lhes seratildeo

destinados numa realidade social inquestionada

Eis a via da naturalizaccedilatildeo da desigualdade que temorigem na maneira como a sociedade se estrutura maseacute lida como diferenccedila bioloacutegica ou psicoloacutegica deaptidatildeo intelectual entre grupos e indiviacuteduos (PATTO2003 p 33)

O movimento chamado Escola Nova esboccedilou-se na deacutecada de 1920 no Brasil

O mundo vivia agrave eacutepoca um momento de crescimento industrial e de expansatildeourbana e nesse contexto um grupo de intelectuais brasileiros sentiu necessidadede preparar o paiacutes para acompanhar esse desenvolvimento A educaccedilatildeo era poreles percebida como o elemento-chave para promover a remodelaccedilatildeo requerida

Inspirados nas ideacuteias poliacutetico-filosoacuteficas de igualdade entre os homens e do direitode todos agrave educaccedilatildeo esses intelectuais viam num sistema estatal de ensinopuacuteblico livre e aberto o uacutenico meio efetivo de combate agraves desigualdades sociaisda naccedilatildeoDenominado de Escola Nova o movimento ganhou impulso na deacutecada de 1930apoacutes a divulgaccedilatildeo do lt Manifesto da Escola Novagt (1932) Nesse documentodefendia-se a universalizaccedilatildeo da escola puacuteblica laica e gratuita Entre os seussignataacuterios destacavam-se os nomes de Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo

Lourenccedilo Filho e Ceciacutelia Meireles

Para ler o Manifesto dosPioneiros acessewwwpedagogiaemfocoprobrheb07ahtm

O americano lt Freder ick Taylorgt considerado o pai da organizaccedilatildeo cientiacutefica dotrabalho propocircs um modelo de produccedilatildeo industrial aliando eficaacutecia e eficiecircnciaSua preocupaccedilatildeo era com o sistema produtivo e natildeo com o homem negando aotrabalhador qualquer manifestaccedilatildeo criativa ou participaccedilatildeo O ideaacuterio tayloristafoi transposto para a educaccedilatildeo promovendo uma valorizaccedilatildeo do tecnicismo tendocomo efeitos a fragmentaccedilatildeo e a hierarquizaccedilatildeo do ensino e do conhecimento

Dirija-se ao PMAP pararealizar a leitura do texto Oque a h ist oacuter ia pode dizerso b r e a p r o f i ssatilde o d op si coacute l o g o a r e l a ccedilatilde opsicologia e educaccedilatildeo deMaria Helena de S Patto nolivro P si co l o g i a ecompromisso social

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Associada agrave escola nova a psicologia continuou fornecendo os subsiacutedios cientiacuteficos para oconhecimento das possibilidades individuais e das dificuldades escolares natildeo mais identificadascomo efeito da hereditariedade e da raccedila mas da organizaccedilatildeo e dos haacutebitos familiares e doambiente soacutecio-cultural Manteacutem-se a utilizaccedilatildeo dos instrumentos de avaliaccedilatildeo psicoloacutegica cadavez mais associada agrave pesquisa sobre o fracasso escolar e centrada no aluno e nos processos deaprendizagem

Na deacutecada de 1950 amplia-se para aleacutem do aluno o campo de pesquisa educacional praticadaprincipalmente nos institutos ligados ao governo que tinham em seus quadros o psicoacutelogoLourenccedilo Filho um dos precursores do escolanovismo A escola reafirmava sua posiccedilatildeo comoelemento fundamental no desenvolvimento da sociedade e era defendida enquanto prioridade nademocratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo e das chances oferecidas aos sujeitos

O periacuteodo de 1960 ateacute meados da deacutecada de 1970 tem como o eixo principal a Teoria doCapital Humano Em estudo sobre essa teoria e sua influecircncia no modelo educacional brasileiroGaudecircncio Frigotto em seu livro A produtividade da escola improdutiva afirma que

Do ponto de vista macroeconocircmico o investimento no fator humano passa asignificar um dos determinantes baacutesicos para o aumento da produtividade eelemento de superaccedilatildeo do atraso econocircmico Do ponto de vistamicroeconocircmico constitui-se no fator explicativo das diferenccedilas individuais deprodutividade e renda e consequumlentemente de mobilidade social (FRIGOTTO1984 p 172)

Comungando com os interesses do ltregime militargt vigentenesse periacuteodo a psicologia voltou-se ainda mais para a avaliaccedilatildeodas capacidades e habilidades psiacutequicas associadas ao investimentoindividual e ao rendimento escolar

Nos proacuteximos anos (a partir de 1970) a Teoria da CarecircnciaCultural de origem norte-americana iria influenciar a pesquisa sobreo fracasso escolar colaborando com a construccedilatildeo de um discursoque mantinha a linha de causalidade que culpava o aluno por seuinsucesso na escola Um dos aspectos principais dessa teoria eacute aafirmaccedilatildeo de que a escola eacute inadequada agraves caracteriacutesticas psiacutequicasda crianccedila pobre Esta teoria parte da existecircncia de um supostodeacuteficit considerado natural na populaccedilatildeo pobre o qual impede queas crianccedilas aproveitem as oportunidades oferecidas pela sociedadeA desigualdade social produto da sociedade cindida em classes e obaixo desempenho na escola e no trabalho satildeo ltnaturalizadosgtcom a participaccedilatildeo ativa dos elementos cientiacuteficos emprestados pelapsicologia

Eacute a partir do final dessa deacutecada de 1970 e de modo maispotente na deacutecada de 1980 que comeccedilam a ser construiacutedos outrosespaccedilos de reflexatildeo e de praacuteticas que significaratildeo a abertura denovos caminhos tanto na educaccedilatildeo quanto na psicologia Inaugura-se uma possibilidade de anaacutelise criacutetica do sistema educacionalapontando relaccedilotildees com a estrutura soacutecio-econocircmica vigente que

Alguns ditos popularesservem para esteprocesso fazendo comuma afirmaccedilatildeo sejacompreendida comon a t u r a l inquestionaacutevel

Q u e m t r a b a l h asem pre alcanccedila

O trabalho enobreceo hom em

A cada um segundosuas possibilidades

Ouccedila a muacutesica M e uca r o a m i g o composta por ChicoBuarque de Holandadurante seu exiacutelio naFranccedila Para issouti l ize ocd-rom doAprendente

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alavancam uma criacutetica da psicologia sobre si mesma Satildeo os novos tempos do fim da ditaduramilitar e da democratizaccedilatildeo no Brasil

Eacute a partir de meados da deacutecada de 1980 que a pesquisa em psicologia comeccedila a tentarromper com as alianccedilas que a constituiacuteram como base do discurso eugecircnico higienista e nosuacuteltimos anos pelo menos preconceituoso

No campo da pesquisa ressaltam-se os trabalhos de MariaHelena Sousa Patto que afirma o compromisso ideoloacutegico da psicologiacom os ideais das classes dominantes montando teorias que servissempara explicar as desigualdades sociais (1984) inaugurando um campode criacutetica importante para as posteriores investigaccedilotildees teoacutericas eintervenccedilotildees educacionais Em estudo posterior Patto nos permiteavanccedilar na compreensatildeo do fracasso escolar como uma produccedilatildeosocial e natildeo como decorrecircncia de problemas individuais proacuteprios dapobreza inaugurando uma forte criacutetica agrave lt Teoria da CarecircnciaCultural (1990)gt

Mesmo anunciando esse caminho de construccedilatildeo de umapsicologia criacutetica e baseada em compromissos sociais eacute importanteque se tenha claro que ainda vigoram nas escolas e na sociedadevaacuterias afirmaccedilotildees que se assentam nos trilhos da Teoria da CarecircnciaCultural Essas ideacuteias penetram com muita facilidade no cotidiano daescola e nos debates do senso comum uma vez que coincidem com anecessidade de predomiacutenio dos princiacutepios da sociedade capitalistapor meio de um discurso hegemocircnico

Por isso CUIDADO Sinal Vermelho Na proacutexima Unidadevoltaremos a esses caminhos e agraves proposiccedilotildees e intervenccedilotildees praacuteticasda psicologia daiacute decorrentes Esse procedimento pode contribuirpara que vocecirc nosso aprendente venha a diferenciar praacuteticas ediscursos e reconhecer a que visatildeo de homem de mundo e desociedade estatildeo servindo

Antes poreacutem de dar esse passo em nossa trilha iremos analisar os processos de construccedilatildeodo conhecimento enquanto marcados pelo exerciacutecio do poder que se efetivam no cotidianoescolar trazendo a disciplina como questatildeo teoacuterica e sua gecircnese como objeto de estudo

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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A Teoria da CarecircnciaCultural fois u f i c i e n t e m e n t einvestigada por MariaHelena Sousa Pattoprincipalmente em trecircspublicaccedilotildees Psicologiae I d eo l o g i a u m ai n t r o d u ccedilatildeo c r iacutet i ca agravep s i co l o g i a esco l a r(1984) A produccedilatildeo dof r acasso esco l a r histoacuter ias de subm issatildeoe rebeldia (1990) e notexto Para um a criacutet icada razatildeo psicom eacutet r icapublicado no l ivroMutaccedilotildees do cativeiro(2000 p 5)

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AULA 3 CONHECI MENTO SABER E PODER UM OLHAR SOBRE A I NFAcircNCI AESCOLARIZADA

Ateacute esta etapa de nosso caminho estudamos a construccedilatildeo das teorias psicoloacutegicas e ahistoacuteria da articulaccedilatildeo entre a psicologia a medicina e a pedagogia no Brasil constituindoalianccedilas em nome de uma abordagem cientiacutefica dos problemas educacionais

A partir de agora promoveremos outro tipo de investigaccedilatildeo para que seja possiacutevel umamaior compreensatildeo do cotidiano escolar com base na anaacutelise das praacuteticas educativas e dasrelaccedilotildees sociais que se estabelecem entre alunos profissionais e comunidades

Nosso ponto de partida seratildeo os estudos de Philippe Ariegraves publicados no livro Histoacuteriasocial da infacircncia e da fam iacutelia que demonstram o surgimento das instituiccedilotildees educativas namodernidade caracterizadas por dar sentido a uma infacircncia que passa a ser vista como naturalmentefraacutegil A educaccedilatildeo impositiva moralizante e disciplinadora se justifica pela necessidade de formaros sujeitos que a sociedade comeccedila a conceber como corpos que necessitam de cuidados porquesatildeo deacutebeis e fracos Ariegraves parte da ideacuteia de que esse sentimento de infacircncia tem origem com aemergecircncia da sociedade burguesa e eacute fortalecido pela accedilatildeo dos jesuiacutetas

Para melhor compreender os efeitos da educaccedilatildeo na constituiccedilatildeo dessa infacircncia podemosrecorrer ao filoacutesofo francecircs Michel Foucault quando ele aponta em seu livro Microfiacutesica do Poder(1979) que a disciplina eacute uma teacutecnica de exerciacutecio de poder que foi natildeo inteiramente inventadamas elaborada em seus princiacutepios fundamentais durante o seacuteculo XVIII (p 105) O autor nosentido de melhor esclarecer a origem da disciplina nas sociedades ocidentais afirma que essa eacuteuma arte de distribuiccedilatildeo dos homens no espaccedilo baseada na individualizaccedilatildeo dos corpos (p

105) A disciplina que se exerce sobre cada corpo isoladamente eacute uma praacutetica que permite aclassificaccedilatildeo dos sujeitos observados e controlados A vigilacircncia deve ser permanente para que adisciplina seja conseguida

Foucault ressalta a importacircncia das praacuteticas de exame (provas avaliaccedilotildees) e de penalizaccedilatildeoou castigo como formas de fazer com que os sujeitos internalizem o poder Quanto mais a morale a disciplina forem sentidas como necessaacuterias agrave existecircncia humana mais sucesso teraacute o processode disciplinamento e controle social A citaccedilatildeo a seguir sintetiza a anaacutelise de Foucault sobre essetema

Escola s n a h ist oacuter ia da h um a nida de

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A disciplina eacute o conjunto de teacutecnicas pelas quais os sistemas de poder vatildeo terpor alvo e resultado os indiviacuteduos em sua singularidade Eacute o poder deindividualizaccedilatildeo que tem o exame como instrumento fundamental O exame eacutea vigilacircncia permanente classificatoacuteria que permite distribuir os indiviacuteduosjulgaacute-los medi-los localizaacute-los e por conseguinte utilizaacute-los ao maacuteximo(FOUCAULT 1979 p107)

Retomando as contribuiccedilotildees de Philippe Ariegraves vimos que a modernidade instaura umaseparaccedilatildeo entre o mundo dos adultos e das crianccedilas e para tanto organiza novas formas eespaccedilos de educaccedilatildeo Os coleacutegios (educaccedilatildeo em preacutedios fechados) o mobiliaacuterio (bancos escolaresbirocirc etc) a separaccedilatildeo em classes (inicialmente por conhecimento e mais recentemente poridades e ainda por localizaccedilatildeo na estrutura social) satildeo intervenccedilotildees protagonizadas desde oSeacuteculo XV ateacute os dias de hoje com o objetivo de instruir e moralizar a sociedade

A ideacuteia de que a infacircncia eacute uma produccedilatildeo social natildeo eacute mais novidade para noacutes Temosdebatido durante nosso percurso que o sentimento que hoje temos com relaccedilatildeo agrave infacircnciaapareceu no momento em que a famiacutelia burguesa se distinguiu como elemento central da sociedadecom a preocupaccedilatildeo de formar homens honrados e moralmente constituiacutedos A sociedade maisespecificamente a igreja catoacutelica comeccedila a valorizar a propriedade de bens centrada nas matildeosde nuacutecleos familiares A famiacutelia volta-se para si mesma resguardando seus membros exigindoassim uma educaccedilatildeo rigorosa dos herdeiros

A partir dessas colocaccedilotildees sobre uma disciplina (escolar) que eacute exigida para que a sociedadeexerccedila controle sobre os homens podemos ainda aceitar a ideacuteia de que os conhecimentossaberes ministrados nos coleacutegios foram igualmente objetos de disciplinarizaccedilatildeo isto eacute de umaintervenccedilatildeo para que servissem aos interesses da reforma moral cristatilde e depois laica (SeacuteculoXVIII)

Juacutelia Varella no texto intitulado O estatuto do saber pedagoacutegico (publicado em O sujeitoda Educaccedilatildeo 4 ed 2000) identifica na passagem do Renascimento para a Modernidade umapedagogizaccedilatildeo dos conhecimentos que significa um novo ordenamento dos saberes de acordocom os interesses moralizantes e disciplinadores que emanam da igreja catoacutelica e dos coleacutegiosjesuiacutetas Conforme demonstra essa autora

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O olhar invisiacutevel podeser representado peloPanopticon de Benthanque permite ver tudosem ser visto produzindono aluno a disciplina pelomedo do exame e docastigo

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Para levar adiante seu projeto de formaccedilatildeo de bons cristatildeos os mestresjesuiacutetas natildeo apenas reforccedilaram o estatuto conferido agrave infacircncia com a opccedilatildeode educaacute-la em espaccedilos fechados nos coleacutegios mas sentiram tambeacutem anecessidade de controlar os saberes que iam transmitir e de organizar essessaberes de tal forma que se adequassem agraves supostas capacidades infantis(VARELLA 2000 apud SILVA 1994 p 88)

Os mestres jesuiacutetas se converteram em autoridades maacuteximas exercendo um poder sobreseus alunos retirando toda a possibilidade vivenciada na Idade Meacutedia de autonomia no estudoForam desenvolvidas estrateacutegias e teacutecnicas que tinham como objetivo dirigir ao conhecimento omesmo sentido moralizante que vinha sendo dado agrave formaccedilatildeo dos alunos A disciplina e a ordemnas salas de aula passaram a ser elementos necessaacuterios nesse processo de penalizaccedilatildeo emoralizaccedilatildeo

Em segundo lugar Juacutelia Varella reconhece a existecircncia de um processo que se daacute no interiorda produccedilatildeo do conhecimento o disciplinamento interno dos saberes eliminando o que eraconsiderado como saberes inuacuteteis segundo as normas de moralizaccedilatildeo e reordenando umacomunicaccedilatildeo entre esses retirando-lhes a forccedila e a intensidade Nesse processo eacute importanteque se promova ainda uma classificaccedilatildeo e hierarquizaccedilatildeo entre os saberes promovendo umacentralizaccedilatildeo de cima para baixo As fronteiras entre a histoacuteria a geografia e a sociologia foramtraccediladas por exemplo pela humanidade assim como a orientaccedilatildeo no processo de ensino-aprendizagem do que deve ser ensinado primeiro e qual saber eacute mais nobre isto eacute que deveocupar o topo de todos os conhecimentos

Os processos que foram aos poucos se instaurando apartir do Seacuteculo XVI produziram censura e controle e mais doque isso devido agraves divisotildees impostas que delimitavam as aacutereasde saberes (conhecimentos) buscavam eliminar a ideacuteia dohomem universal acentuando a possibilidade de tornar doacuteceisos corpos (os sujeitos) mediante essa praacutetica disciplinar impostana produccedilatildeo dos saberes Se anteriormente na Idade Meacutedia oaluno detinha um poder sobre o que queria aprender e ondebuscar o conhecimento na era da modernidade essapossibilidade passa a ser inexistente O aluno perde o poder sobre seus caminhos passando a sercompreendido como um mero elemento de transmissatildeo de conhecimento Natildeo mais pode escolhero que deve ser aprendido tampouco o ritmo desse aprendizado ou o que fazer do conhecimentoadquirido A grade de disciplinas hoje tatildeo naturalmente absorvida por todos noacutes em qualquercurso eacute uma produccedilatildeo social e serve a esses interesses de tornar doacutecil o corpo a ser disciplinadoAprendemos esse ordenamento dos saberes e passamos a respeitaacute-los como se fossemincontestaacuteveis naturais e acima de tudo necessaacuterios

Michel Foucault jaacute citado anteriormente reconhece nesse processo a emergecircncia dasociedade disciplinar que funciona confinando aprisionando os homens agraves escolas agraves prisotildeesagraves igrejas aos hospitais agraves faacutebricas etc

Os processos descritos acima por Juacutelia Varella podem ser reconhecidos ateacute hoje nas praacuteticasescolares Poreacutem com a intervenccedilatildeo das miacutedias e dos novos equipamentos sociais jaacute se pode

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identificar um controle que natildeo mais iraacute somente confinar isolar os estudantes nas escolas osloucos nos asilos e os empregados nas faacutebricas para que sejam produtivos

Trata-se da emergecircncia da sociedade de controle que atua de forma contiacutenua Entramem accedilatildeo a TV os microcomputadores e os celulares que permitem conhecer e conectar o mundoa partir de um uacutenico lugar Satildeo maacutequinas que iratildeo estruturar a vida organizando uma subjetividadedo consumo e da informaccedilatildeo Mas como relacionar esse processo aos domiacutenios da escola

Aqui lanccedilaremos matildeo de outro escritor francecircs Feacutelix Guattari (1985) que no estudo Ascreches e a iniciaccedilatildeo publicado no livro intitulado Revoluccedilotildees Moleculares mostra-nos osefeitos do processo de iniciaccedilatildeo das crianccedilas agrave loacutegica capitalista O autor se refere agrave produccedilatildeode modos de viver pensar e sentir que estariam em consonacircncia com os mais novos modos deproduccedilatildeo material na sociedade capitalista industrial Denomina como aparelhos de semiotizaccedilatildeoos viacutedeo-games CD-rom etc Esses aparelhos passam a dar o sentido dos modos de existecircncia

Guattari (1985) indica que as crianccedilas estatildeo sendo iniciadas cada vez mais cedo nossistemas de representaccedilatildeo e nos valores do capitalismo que produzem uma modelagem adequadaaos coacutedigos utilizados em nosso cotidiano Aponta como importante o fato de que se mobilizamno processo de formaccedilatildeo da crianccedila esquemas de aprendizagem que permitem traduzir oconjunto de coacutedigos ou semioacuteticas dominantes Por fim chama a atenccedilatildeo para a necessidade deanalisarmos o funcionamento da creche e o efeito da educaccedilatildeo infantil na constituiccedilatildeo dessecorpo que eacute modelado para atuar produtivamente de acordo com os ideais da sociedade capitalista

A sua grande contribuiccedilatildeo eacute indicar no espaccedilo da educaccedilatildeo uma perspectiva de que acrianccedila venha a aprender o que eacute a sociedade o que satildeo seus instrumentos (GUATTARI 1985p 54) para poder interferir de forma autocircnoma e criativa no mundo Aprender os coacutedigos e osmodos de funcionamento da sociedade na qual estaacute inserida pode ser importante para que acrianccedila tenha a possibilidade de desenvolver formas singulares de estar no mundo

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegico(a)s a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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UNIDADE II

UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA DO COTIDIANO ESCOLAR

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 4 DOS COLEacuteGI OS DA MODERNI DADE AgraveS ESCOLAS ATUAI S UMAANAacuteLI SE CRIacute TI CA DAS PRAacuteTI CAS COTI DI ANAS

Seguindo a linha de anaacutelise de nosso percurso iremosneste momento buscar os fios que nos permitem compreenderalguns elementos do cotidiano escolar como um espaccedilodisciplinar e controlador das subjetividades O estudo da origemdas praacuteticas educativas a partir dos coleacutegios do Seacuteculo XVIIIforneceu-nos os elementos que seratildeo aqui utilizados paraexercitarmos uma investigaccedilatildeo criacutetica da escola na atualidadeEsse exerciacutecio de reflexatildeo eacute fundamental para que possamosabrir novas portas e inventar outras praacuteticas da psicologia naescola

Com o objetivo de melhor sistematizar nosso trabalho deanaacutelise dividiremos a explanaccedilatildeo em seis itens a saber

1 As praacutet icas cot idianas conspiram cont ra a produccedilatildeoda autonomia e da autogestatildeo

Como jaacute estudamos anteriormente o poder de decisatildeofoi retirado do aluno quando da organizaccedilatildeo dos coleacutegios apartir do Seacuteculo XVIII sendo produzida uma ideacuteia de infacircnciafragilizada e portanto sem possibilidades de exercitar suaautonomia Eacute naturalizada uma concepccedilatildeo de aluno como umcorpo vazio a ser preenchido e modelado

As atividades nas escolas e na vida contemporacircnea passam a ser geridas por outrem -pelo supervisor pelo livro didaacutetico pelos programas governamentais (Escola Aberta Bolsa Escolae outros) - ou coordenadas por entidades como o Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem Aspraacuteticas de avaliaccedilatildeo se apresentam aos alunos como destituiacutedas de sentido Para os professoresessas praacuteticas representam mais uma etapa do processo sendo orientadas pela mesma loacutegica doplanejamento e das atividades contidas no livro didaacutetico Os principais atores sociais (alunos eprofessores) satildeo enfraquecidos no exerciacutecio do poder como sujeitos incapacitados de produzir aarticulaccedilatildeo entre praacuteticas e seus efeitos

Ilustraccedilatildeo de capa do livro O berccedilod a d es i g u a l d a d e de CristovamBuarque com fotos de SebastiatildeoSalgado

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lt Paulo Freiregt ao trabalhar o tema da autonomia no livroPedagogia da Aut onom ia (1996) estabelece a relaccedilatildeo entre oexerciacutecio da liberdade por parte do aluno e da autoridade peloeducador Aponta como fundamental para a construccedilatildeo da autonomiaa praacutetica da responsabilidade Segundo esse educador o educandoque exercita sua liberdade ficaraacute tatildeo mais livre quanto mais eticamentevaacute assumindo a responsabilidade de suas accedilotildees (p 104) mas essaautonomia somente se constitui quando desaparece a relaccedilatildeo dedependecircncia Continuando com o pensamento de Freire ele afirmaque

No fundo o essencial nas relaccedilotildees entre educador eeducando entre autoridade e liberdade entre pais matildeesfilhos filhas eacute a reinvenccedilatildeo do ser humano no aprendizadoda autonomia (FREIRE 1996 p 105)

O pensamento e a accedilatildeo autocircnomos natildeo se datildeo sem que sejamexplicitados os lugares de poder Por isso Paulo Freire fala da reinvenccedilatildeodo ser humano e mais do que isso da reinvenccedilatildeo das relaccedilotildees pedagoacutegicasque deveriam trocar a dependecircncia pela responsabilidade

2 O m odelo educat ivo dest itui os hom ens de sua condiccedilatildeo deprodutores do conhecim ento

A concepccedilatildeo de sujeito a-histoacuterico estaacute presente no contextoescolar onde o conhecimento eacute dado como objetivo e assumido comoverdade absoluta a ser aprendida A organizaccedilatildeo do saber hierarquicamentedisciplinado como nos mostrou Juacutelia Varella na aula anterior (Aula 3Unidade I) elimina a concepccedilatildeo de sujeito como produtor de conhecimentoOs processos de p e d a g o g i z a ccedilatilde o d o s co n h e ci m e n t o s e dedisciplinam ento interno dos saberes estatildeo presentes nas praacuteticaseducacionais atuais fazendo com que tanto alunos quanto professoressejam concebidos como meros coadjuvantes

Trata-se de um treino para o bom comportamento social valorizando o lugar do expectador daquele que natildeo interfere no andamentoda aula e que deve seguir agrave risca o que eacute ditado pelo planejamentomuitas vezes elaborado pelos especialistas da educaccedilatildeo A ausecircncia deuma implicaccedilatildeo dos alunos no processo de aprendizagem eacute consequumlecircnciadesse modelo de escola que somente legitima o conhecimento que eacuteproduzido fora de seu cotidiano A sala de aula eacute assim desumanizada edestituiacuteda de vida proacutepria O mesmo processo eacute vivido pelos educadoresque aprendem no exerciacutecio profissional a praticar e valorizar a obediecircncia

Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

Fo n t e Charge deClaudius Cecconpublicada no livroCu i d a d o Esco l a (p64)

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

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5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I246

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

257

No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I258

Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 2: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

211

Ele o mar estava do outro lado das dunas altas esperando

Quando o m enino e o pai enfim alcanccedilaram aquelas alturas de areiadepois de m uito cam inhar o m ar estava na frente de seus olhos E foitanta a imensidatildeo do mar e tanto o seu fulgor que o menino ficou mudode beleza

E quando finalm ente conseguiu falar t rem endo gaguejando pediu aopai

Me ajuda a olhar (GALEANO 2006)

Profa Dra Acircngela Maria Dias Fernandes

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I212

Croqui do Percurso

UNI VERSI DADE ABERT A DO BRASI LUNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIacuteBA

CURSO PEDAGOGI A - MODALI DADE A DI ST AcircNCI APSICOLOGIA EDUCACIONAL I

Professora Dra Acircngela Maria Dias FernandesE-mail angeladfernandesyahoocombr MARCO II

Componente curricular Psicologia Educacional I 60 horasaula 04 creacuteditos

Ementa Visatildeo histoacuterica do surgimento da psicologia e sua articulaccedilatildeo com a educaccedilatildeoConstruccedilatildeo do discurso psicoloacutegico A produccedilatildeo social das dificuldades de aprendizagem e acriacutetica agraves teorias explicativas do fracasso na escola Exclusatildeo social educaccedilatildeo e psicologia Aproduccedilatildeo da autonomia Psicologia e abordagem institucionalista na educaccedilatildeo

Obje t ivo Ge r a l A partir da apreensatildeo histoacuterica da relaccedilatildeo entre psicologia e educaccedilatildeofornecer elementos para a construccedilatildeo de uma visatildeo criacutetica sobre os aspectos disciplinares eexcludentes da escola criando bases para a construccedilatildeo de uma nova articulaccedilatildeo entre estessaberes

Objetivos especiacuteficos- Promover uma reflexatildeo criacutet ica sobre os discursos expl icat ivos das dif iculdades deaprendizagem- Desenvolver condiccedilotildees para a construccedilatildeo de propostas educativas valorizando as diferenccedilasentre os sujeitos e suas possibilidades de criaccedilatildeo- Promover uma reflexatildeo sobre a escola valorizando os espaccedilo de produccedilatildeo coletiva envolvendoprofissionais alunos e famiacutelias

Competecircncias e habilidades a serem desenvolvidas- Capacidade de interpretaccedilatildeo de textos- Capacidade de gerar novas ideacuteias e conhecimentos- Capacidade de trabalhar em equipe valorizando os espaccedilos coletivos- Capacidade de comunicaccedilatildeo oral escrita e virtual- Capacidade de estabelecer interaccedilotildees virtuais

Etapas do percurso Fontes principais

UNIDADE I Psicologia e educaccedilatildeo alianccedilas naproduccedilatildeo de um olhar sobre a infacircncia

- A construccedilatildeo histoacuterica da Psicologia- Psicologia e Educaccedilatildeo no Brasil - compromissos ealianccedilas- Conhecimento saber e poder um olhar sobre ainfacircncia escolarizada

ANTUNES Mitsuko Aparecida Makino(1998) A psicologia no Brasil umaleitura histoacuterica sobre sua constituiccedilatildeoSatildeo Paulo Unimarco EdEduc p 37 -39 e 63 - 85 1998

BOCK Ana Mercecircs Bahia Psicologia eCompromisso Social Satildeo PauloCortez (Cap 2 p 29 - 36) 2003

U N I D A D E I I U m a a b o r d a g e m c r iacute t ic a d ocotidiano escolar

- Dos coleacutegios da modernidade agraves escolas atuais -uma anaacutelise criacutetica das praacuteticas cotidianas- A exclusatildeo social e a educaccedilatildeo - anotaccedilotildees sobreo fracasso escolar- Medicalizaccedilatildeo da infacircncia - a diferenccedila negada nocotidiano escolar

MACHADO Adriana Marcondes ampSOUZA Marilene Proenccedila Rebello de(Org)Psicologia Escolar em busca denovos rumos Satildeo Paulo Casa doPsicoacutelogo (Cap 1 p 19 - 38 e Cap 2p 39 - 54) 2004

NUNES Ligya Bojunga A casa daMadrinha Rio de Janeiro Agir 1992

213

Etapas do percurso Fontes principais

UNIDADE III Outras articulaccedilotildees para umanova montagem da psicologia educacional

- Psicologia e produccedilatildeo da autonomia- Escola como instituiccedilatildeo - um campo de relaccedilotildeesem movimento- Psicologia e Educaccedilatildeo - novas articulaccedilotildees ealgumas propostas

BOCK Ana Mercecircs Bahia (Org)Psicologia e Compromisso Social SatildeoPaulo Cortez (Cap1 p 15 - 28)2003

CAMPOS Herculano Ricardo (Org)Formaccedilatildeo em Psicologia escolar -realidades e perspectivas CampinasEd Aliacutenea (Cap5 p 109 - 134 e Cap7 p 149 - 162) 2007

MACIEL Ira Maria (Org) Psicologia eEducaccedilatildeo novos caminhos para aformaccedilatildeo Rio de Janeiro CiecircnciaModerna (Parte I p 15 - 33 e ParteIII p 213 - 229) 2001

Recursos teacutecnico-pedagoacutegicos

AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem)- Foacuteruns- Sala de bate-papo- Diaacuterio de bordo- Disponibilidade de arquivos de texto- Disponibilidade de arquivos com apresentaccedilotildees didaacuteticas- DesafiosViacutedeo-conferecircnciaLe itura do livro T r ilhas do Aprendente Consulta a livrosConsulta agrave WEB

Estrateacutegias

A metodologia do percurso estaacute fundada na participaccedilatildeo interaccedilatildeo e conexatildeo da teoria com ouniverso praacutetico Para tanto eacute fundamental que os(as) aprendentes visitem participem einterajam no ambiente virtual de aprendizagem e nas aulas presencias aleacutem da frequumlecircnciacontiacutenua ao Poacutelo Municipal de Apoio Presencial (PMAP) onde poderatildeo ser orientados(as)pelos(as) mediadores(as) pedagoacutegicos(as) acerca dos desafios propostos

Desafios

Os instrumentos de avaliaccedilatildeo dos(as) aprendentes seratildeo diversificados exerciacutecios escritostestes produccedilatildeo textual seminaacuterio virtual debates em foacuteruns Para avaliar tais produccedilotildeesseratildeo considerados os objetivos do componente curricular e a implicaccedilatildeo capacidade criacutetica ede reflexatildeo demonstrada pelo aprendente

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I214

REFEREcircNCIAS

Baacutesicas

ANTUNES Mitsuko Aparecida Makino A psicologia no Brasil uma leitura histoacuterica sobre suaconstituiccedilatildeo Satildeo Paulo Unimarco EdEduc 1998

BOCK Ana Mercecircs Bahia (Org) Psicologia e Compromisso Social Satildeo Paulo Cortez 2003

CAMPOS Herculano Ricardo (Org) Formaccedilatildeo em Psicologia escolar realidades eperspectivas Campinas Ed Aliacutenea 2007

MACHADO Adriana Marcondes SOUZA Marilene Proenccedila Rebello de (Org) PsicologiaEscolar em busca de novos rumos Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2004

MACIEL Ira Maria (Org) Psicologia e Educaccedilatildeo novos caminhos para a formaccedilatildeo Rio deJaneiro Ciecircncia Moderna 2001

NUNES Ligya Bojunga A casa da Madrinha Rio de Janeiro Agir 1992

Complementares

ALTMANN Helena A Influecircncia do Banco Mundial no projeto educacional brasileiro Educaccedilatildeo ePesquisa janjunho 2002 V 28 n 1 p 77-89

ALTOEacute Sonia (Org) Reneacute Lourau Analista institucional em tempo integral Satildeo Paulo EdHucitec 2004

ANDREWS S Deacuteficit de natureza Revista Eacutepoca Rio de Janeiro n 473 junho de 2007Editora Globo p 45-52

ARDUINO Jaques LOURAU Reneacute As pedagogias institucionais Satildeo Carlos Rima 2003

ARIEgraveS Philippe Histoacuteria social da infacircncia e da famiacutelia Rio de Janeiro Ed Guanabara1978

BENCINI R Comprimidos em excesso Revista Nova Escola Satildeo Paulo nordm 202 maio de 2007Editora Abril p 38-45

COSTA Marisa Vorraber A perspectiva na sala de aula e o processo de significaccedilatildeo INSILVA Luiz Heron (Org) A escola cidadatilde no contexto de globalizaccedilatildeo Petroacutepolis Vozes1999

FERNANDES Acircngela M Dias LIMA Patriacutecia Alvarenga Hiperatividade e sofrimento escolar adiferenccedila negada no cotidiano da escola IN Anais da Conferecircncia I nternacional educaccedilatildeo globalizaccedilatildeo e cidadania (miacutedia) Joatildeo Pessoa wwwsocieduca-interorg 2008

FREITAS Marcos Cezar (Org) Histoacuteria Social da Infacircncia no Brasil 6 ed Satildeo PauloCortez 2006

215

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica da autonomia SatildeoPaulo Ed Paz e Terra 1998

FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Ed Graal 1979

FRIGOTTO G A produtividade da escola improdutiva Satildeo Paulo CortezAutoresAssociados 1984

GENTILI Pablo ALENCAR Chico Educar na esperanccedila em tempos de desencantoPetroacutepolis Ed Vozes 2001

GONZALEZ REY F L Pesquisa Qualitativa em Psicologia caminhos e desafios Satildeo PauloPioneira Thompson 2002

GUATARRI Felix Revoluccedilatildeo molecular pulsaccedilotildees poliacuteticas do desejo Satildeo Paulo EdBrasiliense 1991

HARPER Babertte CECCON Claudius OLIVEIRA Miguel Darcy e OLIVEIRA Rosiska DarcyCuidado escola Desigualdade domesticaccedilatildeo e algumas saiacutedas Satildeo Paulo Ed Brasiliense1980

KAPLAN I SANDOCK B J Compecircndio de Psiquiatria Porto Alegre Artes Meacutedicas 2003

MACHADO Adriana FERNANDES Angela e ROCHA Marisa (orgs) Novos possiacuteveis noencontro da psicologia com a educaccedilatildeo Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2007

MOYSES Maria Aparecida Afonso A institucionalizaccedilatildeo invisiacutevel - crianccedilas que natildeoaprendem na escola Campinas SP Mercado de Letras Satildeo Paulo Papesp 2001

PATTO Maria Helena Sousa Psicologia e Ideologia uma introduccedilatildeo criacutetica agrave psicologiaescolar Satildeo Paulo T A Queiroz 1984

______ A produccedilatildeo do fracasso escolar histoacuterias de submissatildeo e rebeldia Satildeo Paulo T A Queiroz 1990

______ Mutaccedilotildees do cativeiro escritos de psicologia e poliacutetica Satildeo Paulo EDUSPHackerEditores 2000

______ Exerciacutecios de indignaccedilatildeo escritos de educaccedilatildeo e psicologia Satildeo Paulo Casa doPsicoacutelogo 2005

SILVA Tomaz Tadeu da (org) O sujeito da educaccedilatildeo estudos foucaultianos PetroacutepolisEd Vozes 1994

Sites indicados

wwwineporgbr

wwwpedagogiaemfocoprobrheb07ahtm

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I216

217

UNI VERSI DADE ABERTA DO BRASI LUNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIacuteBA

CURSO DE PEDAGOGI A - MODALI DADE A DI STAcircNCI APSICOLOGIA EDUCACIONAL I

Professora-pesquisadora Dra AcircNGELA MARIA DIAS FERNANDES

DESEMPENHO NO PERCURSO

Aulas Desafios PontuaccedilatildeoDesempenho

obtidoPrazo de

finalizaccedilatildeo

UNIDADE I

Aula 1

1) Esquema das principaiscorrentes de pensamentopsicoloacutegico2) Foacuterum Quais asprincipais diferenccedilas entreas correntes depensamento psicoloacutegico

20

20

Aula 2

Produccedilatildeo de texto sobre aTeoria da CarecircnciaCultural e seu percurso apartir da MedicinaPsicologia e Pedagogia

30

Aula 3

1) Glossaacuterio comconceitos dos termosPedagogizaccedilatildeo dosconhecimentos edisciplinamento dossaberes2) Chat temaacutetico

15

15

Tota l de pontos na Unidade I 100

UNIDADE II

Aula 4Foacuterum relacionando avivecircncia escolar doaprendente com o texto

30

Aula 5 Chat sobre exclusatildeo sociale escola 30

Aula 6Pesquisa de campo(entrevistas comprofessores)

40

Tota l de pontos na Unidade I I 100

UNIDADE III

Aula 7Produccedilatildeo de texto sobreautonomia e Psicologia naescola

30

Aula 8

1) Foacuterum sobre o trabalhodo professor no contoinfantil2) Chat temaacutetico

20

20

Aula 9 Foacuterum sobre propostas emPsicologia Educacional 30

Tota l de pontos na Unidade I I I 100

AVALIACcedilAtildeOPRESENCIAL

(Prova escrita)

Conteuacutedo das trecircsunidades

100 Final dopercurso

TOT AL DE PONTOS OBTI DOS NO PERCURSO

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I218

UNIDADE I

PSI COLOGI A E EDUCACcedilAtildeO ALI ANCcedilAS NA PRODUCcedilAtildeO DE UMOLHAR SOBRE A INFAcircNCIA

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 1 A CONSTRUCcedilAtildeO HI STOacuteRI CA DA PSI COLOGI A

Para estudarmos a psicologia suas teorias praacuteticas e princiacutepios metodoloacutegicos eacute necessaacuterioinicialmente termos conhecimento de sua histoacuteria e do contexto soacutecio-poliacutetico-cultural quepermitiu sua constituiccedilatildeo

1 A const ruccedilatildeo da psicologia cient iacuteficaInicialmente iremos situar a construccedilatildeo cientiacutefica da psicologia a partir das linhas claacutessicas

do pensamento psicoloacutegico behaviorismo gestaltismo funcionalismo psicologia cognitivapsicologia soacutecio-histoacuterica e psicanaacutelise

Todos os historiadores da psicologia concordam que foi Wilhen Wundt na Alemanha emmeados do Seacuteculo XIX que criou os fundamentos cientiacuteficos determinando o objeto de estudo omeacutetodo de pesquisa e os objetivos dessa nova ciecircncia Wundt afirmou a independecircncia dapsicologia em relaccedilatildeo agraves outras ciecircncias situando-a na intermediaccedilatildeo entre as ciecircncias danatureza e da cultura A experiecircncia imediata dos homens era seu foco de interesse baseandosua teoria na ideacuteia de uma unidade psicofiacutesica dos processos elementares da vida mental

No final do Seacuteculo XIX outros estudiosos se lanccedilaram naaventura da pesquisa em psicologia concordando com Wundtou se opondo a ele O Co m p o r t a m e n t a l i sm o ouBehaviorismo surge com John Watson nos EUA que discordaque o foco esteja na experiecircncia imediata Para Watson o objetode estudo da nova ciecircncia deve ser a comportamento humanoEste teoacuterico afirma que o comportamento deve ser visto comoindependente daquilo que o sujeito pensa sente deseja ou emque crecirc Jaacute no iniacutecio do Seacuteculo XX os novos comportamentalistasreordenam os estudos das interaccedilotildees entre os organismos vivose seus ambientes O psicoacutelogo americano BF ltSkinnergt sesobressai ao se referir agrave importacircncia dos condicionamentossociais no comportamento Ele afirma que as experiecircnciassubjetivas satildeo sempre construiacutedas pela sociedade sem nenhumainterferecircncia da consciecircncia ou de um eu interno e formula oconceito de condicionamento operante relacionando aaprendizagem a um sistema de reforccedilo e puniccedilatildeo

Note-se que ateacute aqui estamos trazendo as oposiccedilotildees entre duas linhas de pensamentoSituamos Wundt que afirma a importacircncia das experiecircncias imediatas no estudo do psiquismohumano e uma outra vertente que propotildee ignorar a existecircncia de tais experiecircncias na construccedilatildeoda psicologia cientiacutefica como propotildeem os teoacutericos do comportamentalismo

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

A ca ix a de Sk inn er

219

Nessa polecircmica sobre o estudo do homem podemos situar uma teoriasobremaneira importante - o ltGestaltismogt - mais conhecido comopsicologia da forma que surge na Alemanha no iniacutecio do Seacuteculo XX Emoposiccedilatildeo clara a J Watson seus mais importantes representantes foramMax Wetheimer Kurt Koffka e Wolfgan Koller Seus estudos partiam daexperiecircncia imediata utilizando como meacutetodo a fenomenologia Segundo

esses estudiosos os fenocircmenos da percepccedilatildeo da memoacuteria e da afetividade eram vivenciadossob a forma de estruturas Eles recusavam a ideacuteia de Watson para quem o comportamento eraunicamente dependente do estiacutemulo (relaccedilatildeo conhecida como estiacutemulo-resposta ou E-R) afirmandoque a forma resultante de um processo de percepccedilatildeo era muito mais que a soma das partes Ogestaltismo trazia como preocupaccedilatildeo central a necessidade de se relacionar a experiecircncia imediatados sujeitos com a natureza fiacutesica e bioloacutegica e com o mundo dos valores socioculturais

Outra importante corrente surgida na passagem do SeacuteculoXIX para o Seacuteculo XX nos EUA foi o Funcionalismo Maisconhecido por suas teses adaptacionistas traz uma grandeinfluecircncia das teorias evolucionistas de lt Charles Darw ingt Os estudiosos dessa corrente admitiam a possibilidade de seestudar a mente por meio dos comportamentos e para a suasobrevivecircncia o ser humano deveria adaptar-se agraves condiccedilotildeesambientais John Dewey foi o que mais trouxe contribuiccedilotildees nocampo da educaccedilatildeo afirmando que o ensino deveria orientar-se para o aluno e natildeo para o assunto Acreditava com issoque se poderia formar o ser humano adaptando-o agravesnecessidades da sociedade por meio da educaccedilatildeo

As receacutem estruturadas sociedades industriais capitalistas iratildeo indicar para a correnteadaptacionista uma importante tarefa a de cont r ibuir com invest igaccedilotildees cient iacutef icas sobre oshomens com o objetivo de melhor adaptaacute-los agrave nova ordem social A psicologia se desenvolveno iniacutecio do Seacuteculo XX com a construccedilatildeo de instrumentos de mensuraccedilatildeo da inteligecircncia e dapersonalidade Os testes psicoloacutegicos propostos pelos pesquisadores eram utilizados nosprocedimentos de seleccedilatildeo e orientaccedilatildeo no trabalho e na escola Tanto nos EUA com FrancisGalton quanto na Franccedila com Binet e Simon assiste-se ao desenvolvimento da psicometriautilizada na educaccedilatildeo como forma de conhecer as caracteriacutesticas de cada sujeito Esseconhecimento serviria para justificar a partir das diferenccedilas individuais a distribuiccedilatildeo em classessociais distintas colocando fora de questionamento a desigualdade social e distribuiccedilatildeo desigualde oportunidades

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

O filme Tempos Modernos de Charles Chaplin jaacute foiobjeto de reflexotildees no MarcoI Caso deseje revecirc-lo dirija-se ao Poacutelo Municipal de ApoioPresencial de sua cidade

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I220

A configuraccedilatildeo do objeto de estudos da psicologia centrada no indiviacuteduo afasta a necessidadede uma anaacutelise contextualizada da sociedade onde os sujeitos estatildeo inseridos assim como suaforma de inserccedilatildeo Nas sociedades marcadas pela divisatildeo em classes e cuja base eacute o modelocapitalista de produccedilatildeo difunde-se a crenccedila na igualdade de oportunidades minimizando ainfluecircncia do modo de produccedilatildeo na localizaccedilatildeo dos sujeitos na estrutura social As diferenccedilasindividuais satildeo utilizadas para mascarar a impossibilidade de que a as oportunidades sejam iguaispara todos Assim aprofunda-se a marca principal da psicologia desde sua criaccedilatildeo a de selecionarorientar adaptar e racionalizar a existecircncia humana em nome da produtividade e da eficaacutecia

Podemos situar ainda a Psicologia Cognitiva como outracorrente que se oporaacute aos princiacutepios do ComportamentalismoltJean Piagetgt eacute um importante estudioso do desenvolvimentoinfantil cuja base satildeo as estruturas cognitivas A criacutetica agraveobjetividade cientiacutefica observada nas teorias comportamentaise funcionalistas eacute um importante fundamento desse caminhode pensamento sobre o ser humano e traraacute enormescontribuiccedilotildees para a educaccedilatildeo

Lev Vygotsky psicoacutelogo russo propocircs no iniacutecio do Seacuteculo XX uma nova teoria a PsicologiaSoacutecio-histoacuterica que parte da afirmaccedilatildeo da construccedilatildeo social do conhecimento e da importacircnciada mediaccedilatildeo da educaccedilatildeo da escola e do professor nos processos de ensino e de aprendizagemTrata-se de um importante passo na direccedilatildeo de relacionar o individual e o social na compreensatildeodo psiquismo humano

Sigmund Freud o criador da ltPsicanaacutelisegt eacute tambeacutemsituado no campo dos estudiosos da gecircnese do sujeito Emoposiccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees positivistas e objetivadoras dofuncionalismo psiacutequico Freud iraacute definir o inconsciente comoobjeto de estudo Ele concebe a ideacuteia de uma subjetividadecindida e incompleta recusando o eu como centro dopsiquismo o que torna a psicanaacutelise uma teoria original

2 Desenvolvim ento da psicologia no seacuteculo XX

A partir dessas correntes claacutessicas (behaviorismo gestaltismo funcionalismo psicologiacognitiva psicologia soacutecio-histoacuterica e psicanaacutelise) observa-se na histoacuteria da psicologia o surgimentode outras teorias e estrateacutegias de atuaccedilatildeo Podemos destacar nesse processo as teorias ligadasagrave psicologia dos grupos a teoria humanista as teorias da subjetividade e aquelas que surgem apartir do movimento institucionalista

Os estudiosos da histoacuteria da psicologia assinalam o meacutedicoJ Prattes como o pioneiro nos trabalhos com grupos em 1906mas eacute consensual a afirmaccedilatildeo de que foi Moreno psiquiatraromeno que na deacutecada de 1930 nos EUA idealizou olt p sico d r a m a gt uma passagem da arte dramaacutetica agravepsicoterapia

O alematildeo Kurt Lewin eacute tambeacutem situado no campo das psicoterapias de grupo incrementadas

D ivatilde u t i l iz a do pe lo psica n a l ist a ee x p o st o n o M u se u Fr e u d e mLon d r e s

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

221

pelas condiccedilotildees do poacutes-guerra (deacutecada de 1940) impondo a necessidade de expansatildeo dostrabalhos de sauacutede mental e de recuperaccedilatildeo imediata da matildeo-de-obra deteriorada Em 1944Lewin criou o conceito de dinacircmica de grupo afirmando que o grupo eacute mais do que a soma dassuas partes e que quando haacute modificaccedilatildeo de uma das partes a estrutura grupal se modificaOutro teoacuterico da psicologia dos grupos eacute o argentino Pichoacuten Riviegravere que estruturou a estrateacutegiado grupo operativo que considerava que um grupo soacute se estruturava quando estivesse operandosobre uma tarefa

Como pode ser observado ateacute esta etapa de nossa aula a partir da segunda guerramundial a psicologia fortalece seu interesse pelo social natildeo soacute no campo da pesquisa considerandosua repercussatildeo na constituiccedilatildeo dos sujeitos como tambeacutem enquanto espaccedilo de intervenccedilatildeo emorganizaccedilotildees (hospitais escolas faacutebricas sindicatos etc)

As teorias ligadas agrave Psicologia Humanista constituem outro importante espaccedilo de praacuteticasna qual se sobressaem Carl Rogers da Abordagem Centrada na Pessoa e alguns teoacutericos dagestalt-terapia e da Bioenergeacutetica traduzindo muito bem uma forma mais intimista de responderaos acontecimentos dos anos de 1960 e 1970 Priorizando o corpo o auto-conhecimento e aliberaccedilatildeo dos sujeitos os autores humanistas centram sua preocupaccedilatildeo na adaptaccedilatildeo do homemao meio de forma criativa e ativa

Ainda nas deacutecadas de 1950 e 1960 assiste-se a um movimento de resistecircncia principalmentena Europa que se faz presente nos hospitais e nas escolas aliando a psicologia a sociologia aeducaccedilatildeo e a psiquiatria O Movimento Institucionalista nasce de uma criacutetica agrave organizaccedilatildeohieraacuterquica e centralizadora tanto nos hospitais psiquiaacutetricos quanto nas organizaccedilotildees escolaresconstituindo-se a Psicoterapia I nst itucional (1950) e mais tarde (1962) a PedagogiaInstitucional A Psicossociologia Institucional significa um avanccedilo no processo de autogestatildeoe juntamente com os anti-institucionalistas (Lang Cooper e Ivan Illich) iraacute criar as condiccedilotildeespara o surgimento de uma outra perspectiva de intervenccedilatildeo em 1963 conhecida como AnaacuteliseInstitucional

Por sua criacutetica agrave sociedade capitalista e aoconservadorismo os institucionalistas relacionam-se comos ltmovimentos da contra-cultura na Franccedilagt e emoutros paiacuteses e elaboram inspirados em conceitos devaacuterias correntes da psicologia da sociologia e da filosofiapropostas de investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Essas ideacuteiassatildeo representadas principalmente pelos franceses ReneacuteLourau Felix Guattari e Georges Lapassade

No Brasil apoacutes a ditadura militar essas formulaccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas encontraramum terreno feacutertil junto a psicoacutelogos implicados com os movimentos sociais propondo um conjuntode ferramentas proacuteprias para a intervenccedilatildeo em instituiccedilotildees conceituadas como praacuteticas sociaise para a compreensatildeo das subjetividades

Nas duas uacuteltimas deacutecadas do Seacuteculo XX e iniacutecio do Seacuteculo XXI a partir dos avanccedilos dacomunicaccedilatildeo da expansatildeo de outras linguagens como a informaacutetica e do surgimento de novasproblemaacuteticas sociais configuram-se teorias e proposiccedilotildees centradas algumas delas tambeacutemno conceito de Subjetividade Fernando Gonzaacutelez Rey identifica na histoacuteria desse conceito umprocesso de ruptura com a psicologia cientiacutefica objetiva e neutra tendo significado um desafio

Paris em 1968

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I222

na afirmaccedilatildeo de uma psique que se constroacutei a partir de uma visatildeo cultural em uma dimensatildeocomplexa e dialeacutetica Esse estudioso da psicologia aponta a obra de Vygotsky pouco valorizadano Ocidente ateacute muito recentemente como um marco na definiccedilatildeo do conceito de subjetividade

A psicanaacutelise e a psicologia soacutecio-histoacuterica de L Vygotsky e outras linhas de pensamentotecircm sido revistas em associaccedilatildeo com diversas aacutereas do conhecimento inaugurando um caminhointerdisciplinar

Nesses uacuteltimos trinta anos ainda as teorias comportamentais vecircm buscando sua renovaccedilatildeomediante o aprimoramento das teacutecnicas quantitativas de avaliaccedilatildeo de valores sociais e de programasde assistecircncia e e intervenccedilotildees no campo da cogniccedilatildeo e do treinamento comportamental

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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AULA 2 PSI COLOGI A E EDUCACcedilAtildeO NO BRASI L COMPROMI SSOS E ALI ANCcedilAS

Como vimos na aula anterior a constituiccedilatildeo da psicologia comociecircncia data de meados do Seacuteculo XIX com Wundt na AlemanhaNesse periacuteodo de mais de um seacuteculo de construccedilotildees teoacutericas eproposiccedilotildees praacuteticas constatamos a existecircncia de uma variedadede olhares sobre o homem e seu funcionamento psiacutequico Percebemosao longo da histoacuteria da psicologia que natildeo existe um pensamentouacutenico e que o contexto soacutecio-histoacuterico e a forma como o psicoacutelogopesquisador compreende o mundo e nele se insere seratildeo umimportantes fatores que determinaratildeo a proposta formulada

No Brasil assistiremos a um processo que segundo algunspsicoacutelogos brasileiros preocupados com a historiografia dessaciecircncia tem relaccedilatildeo com as experiecircncias de colonizaccedilatildeo eafirmaccedilatildeo dos interesses de uma classe dominante fortementemarcada por teorias racistas e eugecircnicas alimentadas pela obrade Charles Darwin e suas consequumlecircncias para o estudo dohomem O impulsionamento da psicologia como ciecircncia no Brasileacute relacionado a necessidades impostas pelo desenvolvimentourbano-industrial agraves novas formas de ocupaccedilatildeo das cidadesditadas pela Repuacuteblica e ao reordenamento da forccedila de trabalhona direccedilatildeo da escola preferencialmente profissionalizante

A constituiccedilatildeo da psicologia desde fins do Seacuteculo XIX e iniacuteciodo Seacuteculo XX deu-se em estreita articulaccedilatildeo com a educaccedilatildeo e amedicina podendo-se afirmar que a psicologia foi gerada no interiordessas duas aacutereas de conhecimento sendo nesses campos em quedesenvolveraacute seu projeto de autonomizaccedilatildeo como demonstra MitzukoAntunes em seu estudo a ltPsicologia no Brasil leitura histoacutericasobre sua constituiccedilatildeogt

A atuaccedilatildeo da psicologia junto agraves instituiccedilotildees de sauacutede noiniacutecio do Seacuteculo XX fez-se em nome do controle social com sentidopreventivista e eugecircnico A psiquiatria e o higienismo quecaracterizaram a medicina da eacutepoca clamaram pela participaccedilatildeo dapsicologia na detecccedilatildeo da anormalidade como tambeacutem na prevenccedilatildeo de problemas sociais quepoderiam advir relacionados agrave presenccedila das raccedilas que eram consideradas inferiores e que poderiamperturbar a ordem na vida urbana

A Liga Brasileira de Higiene Mental criada em 1920 representou de maneira radical essesideais tendo se colocado abertamente a favor do aperfeiccediloamento da raccedila (ariana) e contra osnegros e mesticcedilos que eram caracterizados pelas teorias racistas da eacutepoca como indolentesdegenerados preguiccedilosos e sujeitos a enfermidades por sua natureza e iacutendole Os princiacutepios da

Antes de prosseguir aleitura da aula volte agraveaula anterior e revejaquais as principaiscorrentes dapsicologia no processode sua construccedilatildeohistoacuterica

Dirija-se agrave bibliotecado Poacutelo Municipal deApoio Presencial e faccedilaa leitura dos capiacutetulos1 e 2 da Parte II dolivro de MitzukoAntunes (p 37-85)

Trabalhadores da Faacutebricade Tecidos Videira

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I224

higienizaccedilatildeo e da disciplinarizaccedilatildeo da sociedade iratildeo caracterizar o trabalho nas instituiccedilotildeespsiquiaacutetricas preocupadas com uma intervenccedilatildeo para aleacutem do encarceramento da loucura

Apesar da diversidade de pesquisas que se desenvolviam em outros paiacuteses no Brasil ainfluecircncia da pesquisa experimental baseada na psicometria ocorreu de forma hegemocircnica ateacute

pelo menos a deacutecada de 1980

Nas instituiccedilotildees educacionais a preocupaccedilatildeo central era com o analfabetismo e a falta deinstruccedilatildeo do povo brasileiro em um paiacutes em franco desenvolvimento e requisitando uma matildeo-de-obra conhecedora pelo menos da leitura e da escrita Vaacuterios movimentos pela difusatildeo e ampliaccedilatildeoda escola puacuteblica e gratuita surgiram no paiacutes mostrando diferentes ideais de sociedade que vatildeodesde a preparaccedilatildeo para o trabalho ateacute uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo como emancipadora dopovo em uma luta contra a opressatildeo colonialista Nesse quadro a demanda dos profissionais daeducaccedilatildeo no sentido de construir uma pedagogia moderna e cientiacutefica fez da psicologia seuprincipal ponto de sustentaccedilatildeo uma vez que fornecia as bases de conhecimento sobre osindiviacuteduos o processo de desenvolvimento psiacutequico as vocaccedilotildees emoccedilotildees e a organizaccedilatildeo dapersonalidade

A preocupaccedilatildeo com o indiviacuteduo e com as teacutecnicas que pudessem instrumentalizar a praacuteticaeducativa fez surgir no Brasil no iniacutecio do Seacuteculo XX uma seacuterie de Laboratoacuterios e Institutosvoltados para a pesquisa psicoloacutegica destacando-se o Pedagogium depois transformado emLaboratoacuterio de Psicologia Experimental no Rio de Janeiro o Instituto de Psicologia de Pernambucoa Escola de Aperfeiccediloamento Pedagoacutegico de Belo Horizonte e o Laboratoacuterio de PedagogiaExperimental de Satildeo Paulo Nesse periacuteodo surgem as Escolas Normais encarregadas da formaccedilatildeode professores

No processo de constituiccedilatildeo cientiacutefica da pedagogia e de afirmaccedilatildeo da psicologia oslaboratoacuterios e institutos de pesquisa vatildeo sendo incorporados a essas escolas A instalaccedilatildeo desalas de exame psicoloacutegico e de afericcedilatildeo antropomeacutetrica seguia a demanda de higienizaccedilatildeo dapopulaccedilatildeo vigente na eacutepoca e era inspirada nas pesquisas trazidas da Europa e dos EUA queprivilegiavam a psicometria de modo geral Apesar da pouca inserccedilatildeo nas escolas oficiais essapraacutetica serviu para difundir e legitimar o discurso cientiacutefico utilizado para explicar a localizaccedilatildeo decada indiviacuteduo na estrutura social A existecircncia de diferenccedilas individuais era o principal argumentodesse discurso sendo desconsideradas desse esquema de causalidade as imposiccedilotildees da sociedadecapitalista industrial e sua principal base que eacute a divisatildeo em classes sociais com chances epossibilidades desiguais

Em um estudo sobre a disciplina na sociedade moderna em que analisa o funcionamento doGabinete de Antropologia e Psicologia Pedagoacutegica de Satildeo Paulo Marta Carvalho afirma

Neste horizonte criteacuterios raciais nem sempre explicitados traccedilavam os limitesdas boas intenccedilotildees republicanas operando a distinccedilatildeo entre populaccedilotildeeseducaacuteveis capazes portanto de cidadania e populaccedilotildees em que o peso dahereditariedade (leia-se raccedila ) era a marca de um destino que a educaccedilatildeo

era incapaz de alterar (CARVALHO 2006 p 299)

A partir da deacutecada de 1920 e principalmente de 1930 o ideaacuterio escolanovista baseadonos princiacutepios da modernidade fez-se mais presente na educaccedilatildeo brasileira mobilizando os

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educadores na luta contra os elevados iacutendices de repetecircncia eevasatildeo na escola puacuteblica A educaccedilatildeo era compreendida comoa base de uma sociedade saudaacutevel que precisava ser moralmentepreparada para o trabalho

Os novos intelectuais se uniram em torno da crenccedila de que a sauacutede e a educaccedilatildeo eramfatores capazes de promover a necessaacuteria regeneraccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira A preocupaccedilatildeocom o rendimento na escola promoveu a incorporaccedilatildeo do ltmodelo tayloristagt de produccedilatildeofabril afirmando na educaccedilatildeo as posiccedilotildees tecnicistas norteadas pela eficiecircncia e eficaacutecia dasaccedilotildees No trecho abaixo Maria Helena de Souza Patto (2003) expressa o significado dainfluecircncia desse modelo produtivo na educaccedilatildeo ao identificar um vieacutes adaptacionista naproduccedilatildeo em seacuterie de alunos perfeitamente adaptados aos diferentes lugares que lhes seratildeo

destinados numa realidade social inquestionada

Eis a via da naturalizaccedilatildeo da desigualdade que temorigem na maneira como a sociedade se estrutura maseacute lida como diferenccedila bioloacutegica ou psicoloacutegica deaptidatildeo intelectual entre grupos e indiviacuteduos (PATTO2003 p 33)

O movimento chamado Escola Nova esboccedilou-se na deacutecada de 1920 no Brasil

O mundo vivia agrave eacutepoca um momento de crescimento industrial e de expansatildeourbana e nesse contexto um grupo de intelectuais brasileiros sentiu necessidadede preparar o paiacutes para acompanhar esse desenvolvimento A educaccedilatildeo era poreles percebida como o elemento-chave para promover a remodelaccedilatildeo requerida

Inspirados nas ideacuteias poliacutetico-filosoacuteficas de igualdade entre os homens e do direitode todos agrave educaccedilatildeo esses intelectuais viam num sistema estatal de ensinopuacuteblico livre e aberto o uacutenico meio efetivo de combate agraves desigualdades sociaisda naccedilatildeoDenominado de Escola Nova o movimento ganhou impulso na deacutecada de 1930apoacutes a divulgaccedilatildeo do lt Manifesto da Escola Novagt (1932) Nesse documentodefendia-se a universalizaccedilatildeo da escola puacuteblica laica e gratuita Entre os seussignataacuterios destacavam-se os nomes de Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo

Lourenccedilo Filho e Ceciacutelia Meireles

Para ler o Manifesto dosPioneiros acessewwwpedagogiaemfocoprobrheb07ahtm

O americano lt Freder ick Taylorgt considerado o pai da organizaccedilatildeo cientiacutefica dotrabalho propocircs um modelo de produccedilatildeo industrial aliando eficaacutecia e eficiecircnciaSua preocupaccedilatildeo era com o sistema produtivo e natildeo com o homem negando aotrabalhador qualquer manifestaccedilatildeo criativa ou participaccedilatildeo O ideaacuterio tayloristafoi transposto para a educaccedilatildeo promovendo uma valorizaccedilatildeo do tecnicismo tendocomo efeitos a fragmentaccedilatildeo e a hierarquizaccedilatildeo do ensino e do conhecimento

Dirija-se ao PMAP pararealizar a leitura do texto Oque a h ist oacuter ia pode dizerso b r e a p r o f i ssatilde o d op si coacute l o g o a r e l a ccedilatilde opsicologia e educaccedilatildeo deMaria Helena de S Patto nolivro P si co l o g i a ecompromisso social

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Associada agrave escola nova a psicologia continuou fornecendo os subsiacutedios cientiacuteficos para oconhecimento das possibilidades individuais e das dificuldades escolares natildeo mais identificadascomo efeito da hereditariedade e da raccedila mas da organizaccedilatildeo e dos haacutebitos familiares e doambiente soacutecio-cultural Manteacutem-se a utilizaccedilatildeo dos instrumentos de avaliaccedilatildeo psicoloacutegica cadavez mais associada agrave pesquisa sobre o fracasso escolar e centrada no aluno e nos processos deaprendizagem

Na deacutecada de 1950 amplia-se para aleacutem do aluno o campo de pesquisa educacional praticadaprincipalmente nos institutos ligados ao governo que tinham em seus quadros o psicoacutelogoLourenccedilo Filho um dos precursores do escolanovismo A escola reafirmava sua posiccedilatildeo comoelemento fundamental no desenvolvimento da sociedade e era defendida enquanto prioridade nademocratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo e das chances oferecidas aos sujeitos

O periacuteodo de 1960 ateacute meados da deacutecada de 1970 tem como o eixo principal a Teoria doCapital Humano Em estudo sobre essa teoria e sua influecircncia no modelo educacional brasileiroGaudecircncio Frigotto em seu livro A produtividade da escola improdutiva afirma que

Do ponto de vista macroeconocircmico o investimento no fator humano passa asignificar um dos determinantes baacutesicos para o aumento da produtividade eelemento de superaccedilatildeo do atraso econocircmico Do ponto de vistamicroeconocircmico constitui-se no fator explicativo das diferenccedilas individuais deprodutividade e renda e consequumlentemente de mobilidade social (FRIGOTTO1984 p 172)

Comungando com os interesses do ltregime militargt vigentenesse periacuteodo a psicologia voltou-se ainda mais para a avaliaccedilatildeodas capacidades e habilidades psiacutequicas associadas ao investimentoindividual e ao rendimento escolar

Nos proacuteximos anos (a partir de 1970) a Teoria da CarecircnciaCultural de origem norte-americana iria influenciar a pesquisa sobreo fracasso escolar colaborando com a construccedilatildeo de um discursoque mantinha a linha de causalidade que culpava o aluno por seuinsucesso na escola Um dos aspectos principais dessa teoria eacute aafirmaccedilatildeo de que a escola eacute inadequada agraves caracteriacutesticas psiacutequicasda crianccedila pobre Esta teoria parte da existecircncia de um supostodeacuteficit considerado natural na populaccedilatildeo pobre o qual impede queas crianccedilas aproveitem as oportunidades oferecidas pela sociedadeA desigualdade social produto da sociedade cindida em classes e obaixo desempenho na escola e no trabalho satildeo ltnaturalizadosgtcom a participaccedilatildeo ativa dos elementos cientiacuteficos emprestados pelapsicologia

Eacute a partir do final dessa deacutecada de 1970 e de modo maispotente na deacutecada de 1980 que comeccedilam a ser construiacutedos outrosespaccedilos de reflexatildeo e de praacuteticas que significaratildeo a abertura denovos caminhos tanto na educaccedilatildeo quanto na psicologia Inaugura-se uma possibilidade de anaacutelise criacutetica do sistema educacionalapontando relaccedilotildees com a estrutura soacutecio-econocircmica vigente que

Alguns ditos popularesservem para esteprocesso fazendo comuma afirmaccedilatildeo sejacompreendida comon a t u r a l inquestionaacutevel

Q u e m t r a b a l h asem pre alcanccedila

O trabalho enobreceo hom em

A cada um segundosuas possibilidades

Ouccedila a muacutesica M e uca r o a m i g o composta por ChicoBuarque de Holandadurante seu exiacutelio naFranccedila Para issouti l ize ocd-rom doAprendente

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alavancam uma criacutetica da psicologia sobre si mesma Satildeo os novos tempos do fim da ditaduramilitar e da democratizaccedilatildeo no Brasil

Eacute a partir de meados da deacutecada de 1980 que a pesquisa em psicologia comeccedila a tentarromper com as alianccedilas que a constituiacuteram como base do discurso eugecircnico higienista e nosuacuteltimos anos pelo menos preconceituoso

No campo da pesquisa ressaltam-se os trabalhos de MariaHelena Sousa Patto que afirma o compromisso ideoloacutegico da psicologiacom os ideais das classes dominantes montando teorias que servissempara explicar as desigualdades sociais (1984) inaugurando um campode criacutetica importante para as posteriores investigaccedilotildees teoacutericas eintervenccedilotildees educacionais Em estudo posterior Patto nos permiteavanccedilar na compreensatildeo do fracasso escolar como uma produccedilatildeosocial e natildeo como decorrecircncia de problemas individuais proacuteprios dapobreza inaugurando uma forte criacutetica agrave lt Teoria da CarecircnciaCultural (1990)gt

Mesmo anunciando esse caminho de construccedilatildeo de umapsicologia criacutetica e baseada em compromissos sociais eacute importanteque se tenha claro que ainda vigoram nas escolas e na sociedadevaacuterias afirmaccedilotildees que se assentam nos trilhos da Teoria da CarecircnciaCultural Essas ideacuteias penetram com muita facilidade no cotidiano daescola e nos debates do senso comum uma vez que coincidem com anecessidade de predomiacutenio dos princiacutepios da sociedade capitalistapor meio de um discurso hegemocircnico

Por isso CUIDADO Sinal Vermelho Na proacutexima Unidadevoltaremos a esses caminhos e agraves proposiccedilotildees e intervenccedilotildees praacuteticasda psicologia daiacute decorrentes Esse procedimento pode contribuirpara que vocecirc nosso aprendente venha a diferenciar praacuteticas ediscursos e reconhecer a que visatildeo de homem de mundo e desociedade estatildeo servindo

Antes poreacutem de dar esse passo em nossa trilha iremos analisar os processos de construccedilatildeodo conhecimento enquanto marcados pelo exerciacutecio do poder que se efetivam no cotidianoescolar trazendo a disciplina como questatildeo teoacuterica e sua gecircnese como objeto de estudo

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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A Teoria da CarecircnciaCultural fois u f i c i e n t e m e n t einvestigada por MariaHelena Sousa Pattoprincipalmente em trecircspublicaccedilotildees Psicologiae I d eo l o g i a u m ai n t r o d u ccedilatildeo c r iacutet i ca agravep s i co l o g i a esco l a r(1984) A produccedilatildeo dof r acasso esco l a r histoacuter ias de subm issatildeoe rebeldia (1990) e notexto Para um a criacutet icada razatildeo psicom eacutet r icapublicado no l ivroMutaccedilotildees do cativeiro(2000 p 5)

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AULA 3 CONHECI MENTO SABER E PODER UM OLHAR SOBRE A I NFAcircNCI AESCOLARIZADA

Ateacute esta etapa de nosso caminho estudamos a construccedilatildeo das teorias psicoloacutegicas e ahistoacuteria da articulaccedilatildeo entre a psicologia a medicina e a pedagogia no Brasil constituindoalianccedilas em nome de uma abordagem cientiacutefica dos problemas educacionais

A partir de agora promoveremos outro tipo de investigaccedilatildeo para que seja possiacutevel umamaior compreensatildeo do cotidiano escolar com base na anaacutelise das praacuteticas educativas e dasrelaccedilotildees sociais que se estabelecem entre alunos profissionais e comunidades

Nosso ponto de partida seratildeo os estudos de Philippe Ariegraves publicados no livro Histoacuteriasocial da infacircncia e da fam iacutelia que demonstram o surgimento das instituiccedilotildees educativas namodernidade caracterizadas por dar sentido a uma infacircncia que passa a ser vista como naturalmentefraacutegil A educaccedilatildeo impositiva moralizante e disciplinadora se justifica pela necessidade de formaros sujeitos que a sociedade comeccedila a conceber como corpos que necessitam de cuidados porquesatildeo deacutebeis e fracos Ariegraves parte da ideacuteia de que esse sentimento de infacircncia tem origem com aemergecircncia da sociedade burguesa e eacute fortalecido pela accedilatildeo dos jesuiacutetas

Para melhor compreender os efeitos da educaccedilatildeo na constituiccedilatildeo dessa infacircncia podemosrecorrer ao filoacutesofo francecircs Michel Foucault quando ele aponta em seu livro Microfiacutesica do Poder(1979) que a disciplina eacute uma teacutecnica de exerciacutecio de poder que foi natildeo inteiramente inventadamas elaborada em seus princiacutepios fundamentais durante o seacuteculo XVIII (p 105) O autor nosentido de melhor esclarecer a origem da disciplina nas sociedades ocidentais afirma que essa eacuteuma arte de distribuiccedilatildeo dos homens no espaccedilo baseada na individualizaccedilatildeo dos corpos (p

105) A disciplina que se exerce sobre cada corpo isoladamente eacute uma praacutetica que permite aclassificaccedilatildeo dos sujeitos observados e controlados A vigilacircncia deve ser permanente para que adisciplina seja conseguida

Foucault ressalta a importacircncia das praacuteticas de exame (provas avaliaccedilotildees) e de penalizaccedilatildeoou castigo como formas de fazer com que os sujeitos internalizem o poder Quanto mais a morale a disciplina forem sentidas como necessaacuterias agrave existecircncia humana mais sucesso teraacute o processode disciplinamento e controle social A citaccedilatildeo a seguir sintetiza a anaacutelise de Foucault sobre essetema

Escola s n a h ist oacuter ia da h um a nida de

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A disciplina eacute o conjunto de teacutecnicas pelas quais os sistemas de poder vatildeo terpor alvo e resultado os indiviacuteduos em sua singularidade Eacute o poder deindividualizaccedilatildeo que tem o exame como instrumento fundamental O exame eacutea vigilacircncia permanente classificatoacuteria que permite distribuir os indiviacuteduosjulgaacute-los medi-los localizaacute-los e por conseguinte utilizaacute-los ao maacuteximo(FOUCAULT 1979 p107)

Retomando as contribuiccedilotildees de Philippe Ariegraves vimos que a modernidade instaura umaseparaccedilatildeo entre o mundo dos adultos e das crianccedilas e para tanto organiza novas formas eespaccedilos de educaccedilatildeo Os coleacutegios (educaccedilatildeo em preacutedios fechados) o mobiliaacuterio (bancos escolaresbirocirc etc) a separaccedilatildeo em classes (inicialmente por conhecimento e mais recentemente poridades e ainda por localizaccedilatildeo na estrutura social) satildeo intervenccedilotildees protagonizadas desde oSeacuteculo XV ateacute os dias de hoje com o objetivo de instruir e moralizar a sociedade

A ideacuteia de que a infacircncia eacute uma produccedilatildeo social natildeo eacute mais novidade para noacutes Temosdebatido durante nosso percurso que o sentimento que hoje temos com relaccedilatildeo agrave infacircnciaapareceu no momento em que a famiacutelia burguesa se distinguiu como elemento central da sociedadecom a preocupaccedilatildeo de formar homens honrados e moralmente constituiacutedos A sociedade maisespecificamente a igreja catoacutelica comeccedila a valorizar a propriedade de bens centrada nas matildeosde nuacutecleos familiares A famiacutelia volta-se para si mesma resguardando seus membros exigindoassim uma educaccedilatildeo rigorosa dos herdeiros

A partir dessas colocaccedilotildees sobre uma disciplina (escolar) que eacute exigida para que a sociedadeexerccedila controle sobre os homens podemos ainda aceitar a ideacuteia de que os conhecimentossaberes ministrados nos coleacutegios foram igualmente objetos de disciplinarizaccedilatildeo isto eacute de umaintervenccedilatildeo para que servissem aos interesses da reforma moral cristatilde e depois laica (SeacuteculoXVIII)

Juacutelia Varella no texto intitulado O estatuto do saber pedagoacutegico (publicado em O sujeitoda Educaccedilatildeo 4 ed 2000) identifica na passagem do Renascimento para a Modernidade umapedagogizaccedilatildeo dos conhecimentos que significa um novo ordenamento dos saberes de acordocom os interesses moralizantes e disciplinadores que emanam da igreja catoacutelica e dos coleacutegiosjesuiacutetas Conforme demonstra essa autora

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O olhar invisiacutevel podeser representado peloPanopticon de Benthanque permite ver tudosem ser visto produzindono aluno a disciplina pelomedo do exame e docastigo

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Para levar adiante seu projeto de formaccedilatildeo de bons cristatildeos os mestresjesuiacutetas natildeo apenas reforccedilaram o estatuto conferido agrave infacircncia com a opccedilatildeode educaacute-la em espaccedilos fechados nos coleacutegios mas sentiram tambeacutem anecessidade de controlar os saberes que iam transmitir e de organizar essessaberes de tal forma que se adequassem agraves supostas capacidades infantis(VARELLA 2000 apud SILVA 1994 p 88)

Os mestres jesuiacutetas se converteram em autoridades maacuteximas exercendo um poder sobreseus alunos retirando toda a possibilidade vivenciada na Idade Meacutedia de autonomia no estudoForam desenvolvidas estrateacutegias e teacutecnicas que tinham como objetivo dirigir ao conhecimento omesmo sentido moralizante que vinha sendo dado agrave formaccedilatildeo dos alunos A disciplina e a ordemnas salas de aula passaram a ser elementos necessaacuterios nesse processo de penalizaccedilatildeo emoralizaccedilatildeo

Em segundo lugar Juacutelia Varella reconhece a existecircncia de um processo que se daacute no interiorda produccedilatildeo do conhecimento o disciplinamento interno dos saberes eliminando o que eraconsiderado como saberes inuacuteteis segundo as normas de moralizaccedilatildeo e reordenando umacomunicaccedilatildeo entre esses retirando-lhes a forccedila e a intensidade Nesse processo eacute importanteque se promova ainda uma classificaccedilatildeo e hierarquizaccedilatildeo entre os saberes promovendo umacentralizaccedilatildeo de cima para baixo As fronteiras entre a histoacuteria a geografia e a sociologia foramtraccediladas por exemplo pela humanidade assim como a orientaccedilatildeo no processo de ensino-aprendizagem do que deve ser ensinado primeiro e qual saber eacute mais nobre isto eacute que deveocupar o topo de todos os conhecimentos

Os processos que foram aos poucos se instaurando apartir do Seacuteculo XVI produziram censura e controle e mais doque isso devido agraves divisotildees impostas que delimitavam as aacutereasde saberes (conhecimentos) buscavam eliminar a ideacuteia dohomem universal acentuando a possibilidade de tornar doacuteceisos corpos (os sujeitos) mediante essa praacutetica disciplinar impostana produccedilatildeo dos saberes Se anteriormente na Idade Meacutedia oaluno detinha um poder sobre o que queria aprender e ondebuscar o conhecimento na era da modernidade essapossibilidade passa a ser inexistente O aluno perde o poder sobre seus caminhos passando a sercompreendido como um mero elemento de transmissatildeo de conhecimento Natildeo mais pode escolhero que deve ser aprendido tampouco o ritmo desse aprendizado ou o que fazer do conhecimentoadquirido A grade de disciplinas hoje tatildeo naturalmente absorvida por todos noacutes em qualquercurso eacute uma produccedilatildeo social e serve a esses interesses de tornar doacutecil o corpo a ser disciplinadoAprendemos esse ordenamento dos saberes e passamos a respeitaacute-los como se fossemincontestaacuteveis naturais e acima de tudo necessaacuterios

Michel Foucault jaacute citado anteriormente reconhece nesse processo a emergecircncia dasociedade disciplinar que funciona confinando aprisionando os homens agraves escolas agraves prisotildeesagraves igrejas aos hospitais agraves faacutebricas etc

Os processos descritos acima por Juacutelia Varella podem ser reconhecidos ateacute hoje nas praacuteticasescolares Poreacutem com a intervenccedilatildeo das miacutedias e dos novos equipamentos sociais jaacute se pode

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identificar um controle que natildeo mais iraacute somente confinar isolar os estudantes nas escolas osloucos nos asilos e os empregados nas faacutebricas para que sejam produtivos

Trata-se da emergecircncia da sociedade de controle que atua de forma contiacutenua Entramem accedilatildeo a TV os microcomputadores e os celulares que permitem conhecer e conectar o mundoa partir de um uacutenico lugar Satildeo maacutequinas que iratildeo estruturar a vida organizando uma subjetividadedo consumo e da informaccedilatildeo Mas como relacionar esse processo aos domiacutenios da escola

Aqui lanccedilaremos matildeo de outro escritor francecircs Feacutelix Guattari (1985) que no estudo Ascreches e a iniciaccedilatildeo publicado no livro intitulado Revoluccedilotildees Moleculares mostra-nos osefeitos do processo de iniciaccedilatildeo das crianccedilas agrave loacutegica capitalista O autor se refere agrave produccedilatildeode modos de viver pensar e sentir que estariam em consonacircncia com os mais novos modos deproduccedilatildeo material na sociedade capitalista industrial Denomina como aparelhos de semiotizaccedilatildeoos viacutedeo-games CD-rom etc Esses aparelhos passam a dar o sentido dos modos de existecircncia

Guattari (1985) indica que as crianccedilas estatildeo sendo iniciadas cada vez mais cedo nossistemas de representaccedilatildeo e nos valores do capitalismo que produzem uma modelagem adequadaaos coacutedigos utilizados em nosso cotidiano Aponta como importante o fato de que se mobilizamno processo de formaccedilatildeo da crianccedila esquemas de aprendizagem que permitem traduzir oconjunto de coacutedigos ou semioacuteticas dominantes Por fim chama a atenccedilatildeo para a necessidade deanalisarmos o funcionamento da creche e o efeito da educaccedilatildeo infantil na constituiccedilatildeo dessecorpo que eacute modelado para atuar produtivamente de acordo com os ideais da sociedade capitalista

A sua grande contribuiccedilatildeo eacute indicar no espaccedilo da educaccedilatildeo uma perspectiva de que acrianccedila venha a aprender o que eacute a sociedade o que satildeo seus instrumentos (GUATTARI 1985p 54) para poder interferir de forma autocircnoma e criativa no mundo Aprender os coacutedigos e osmodos de funcionamento da sociedade na qual estaacute inserida pode ser importante para que acrianccedila tenha a possibilidade de desenvolver formas singulares de estar no mundo

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I232

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegico(a)s a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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UNIDADE II

UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA DO COTIDIANO ESCOLAR

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 4 DOS COLEacuteGI OS DA MODERNI DADE AgraveS ESCOLAS ATUAI S UMAANAacuteLI SE CRIacute TI CA DAS PRAacuteTI CAS COTI DI ANAS

Seguindo a linha de anaacutelise de nosso percurso iremosneste momento buscar os fios que nos permitem compreenderalguns elementos do cotidiano escolar como um espaccedilodisciplinar e controlador das subjetividades O estudo da origemdas praacuteticas educativas a partir dos coleacutegios do Seacuteculo XVIIIforneceu-nos os elementos que seratildeo aqui utilizados paraexercitarmos uma investigaccedilatildeo criacutetica da escola na atualidadeEsse exerciacutecio de reflexatildeo eacute fundamental para que possamosabrir novas portas e inventar outras praacuteticas da psicologia naescola

Com o objetivo de melhor sistematizar nosso trabalho deanaacutelise dividiremos a explanaccedilatildeo em seis itens a saber

1 As praacutet icas cot idianas conspiram cont ra a produccedilatildeoda autonomia e da autogestatildeo

Como jaacute estudamos anteriormente o poder de decisatildeofoi retirado do aluno quando da organizaccedilatildeo dos coleacutegios apartir do Seacuteculo XVIII sendo produzida uma ideacuteia de infacircnciafragilizada e portanto sem possibilidades de exercitar suaautonomia Eacute naturalizada uma concepccedilatildeo de aluno como umcorpo vazio a ser preenchido e modelado

As atividades nas escolas e na vida contemporacircnea passam a ser geridas por outrem -pelo supervisor pelo livro didaacutetico pelos programas governamentais (Escola Aberta Bolsa Escolae outros) - ou coordenadas por entidades como o Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem Aspraacuteticas de avaliaccedilatildeo se apresentam aos alunos como destituiacutedas de sentido Para os professoresessas praacuteticas representam mais uma etapa do processo sendo orientadas pela mesma loacutegica doplanejamento e das atividades contidas no livro didaacutetico Os principais atores sociais (alunos eprofessores) satildeo enfraquecidos no exerciacutecio do poder como sujeitos incapacitados de produzir aarticulaccedilatildeo entre praacuteticas e seus efeitos

Ilustraccedilatildeo de capa do livro O berccedilod a d es i g u a l d a d e de CristovamBuarque com fotos de SebastiatildeoSalgado

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lt Paulo Freiregt ao trabalhar o tema da autonomia no livroPedagogia da Aut onom ia (1996) estabelece a relaccedilatildeo entre oexerciacutecio da liberdade por parte do aluno e da autoridade peloeducador Aponta como fundamental para a construccedilatildeo da autonomiaa praacutetica da responsabilidade Segundo esse educador o educandoque exercita sua liberdade ficaraacute tatildeo mais livre quanto mais eticamentevaacute assumindo a responsabilidade de suas accedilotildees (p 104) mas essaautonomia somente se constitui quando desaparece a relaccedilatildeo dedependecircncia Continuando com o pensamento de Freire ele afirmaque

No fundo o essencial nas relaccedilotildees entre educador eeducando entre autoridade e liberdade entre pais matildeesfilhos filhas eacute a reinvenccedilatildeo do ser humano no aprendizadoda autonomia (FREIRE 1996 p 105)

O pensamento e a accedilatildeo autocircnomos natildeo se datildeo sem que sejamexplicitados os lugares de poder Por isso Paulo Freire fala da reinvenccedilatildeodo ser humano e mais do que isso da reinvenccedilatildeo das relaccedilotildees pedagoacutegicasque deveriam trocar a dependecircncia pela responsabilidade

2 O m odelo educat ivo dest itui os hom ens de sua condiccedilatildeo deprodutores do conhecim ento

A concepccedilatildeo de sujeito a-histoacuterico estaacute presente no contextoescolar onde o conhecimento eacute dado como objetivo e assumido comoverdade absoluta a ser aprendida A organizaccedilatildeo do saber hierarquicamentedisciplinado como nos mostrou Juacutelia Varella na aula anterior (Aula 3Unidade I) elimina a concepccedilatildeo de sujeito como produtor de conhecimentoOs processos de p e d a g o g i z a ccedilatilde o d o s co n h e ci m e n t o s e dedisciplinam ento interno dos saberes estatildeo presentes nas praacuteticaseducacionais atuais fazendo com que tanto alunos quanto professoressejam concebidos como meros coadjuvantes

Trata-se de um treino para o bom comportamento social valorizando o lugar do expectador daquele que natildeo interfere no andamentoda aula e que deve seguir agrave risca o que eacute ditado pelo planejamentomuitas vezes elaborado pelos especialistas da educaccedilatildeo A ausecircncia deuma implicaccedilatildeo dos alunos no processo de aprendizagem eacute consequumlecircnciadesse modelo de escola que somente legitima o conhecimento que eacuteproduzido fora de seu cotidiano A sala de aula eacute assim desumanizada edestituiacuteda de vida proacutepria O mesmo processo eacute vivido pelos educadoresque aprendem no exerciacutecio profissional a praticar e valorizar a obediecircncia

Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

Fo n t e Charge deClaudius Cecconpublicada no livroCu i d a d o Esco l a (p64)

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

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5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I246

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I254

DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I256

Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

257

No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I258

Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 3: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I212

Croqui do Percurso

UNI VERSI DADE ABERT A DO BRASI LUNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIacuteBA

CURSO PEDAGOGI A - MODALI DADE A DI ST AcircNCI APSICOLOGIA EDUCACIONAL I

Professora Dra Acircngela Maria Dias FernandesE-mail angeladfernandesyahoocombr MARCO II

Componente curricular Psicologia Educacional I 60 horasaula 04 creacuteditos

Ementa Visatildeo histoacuterica do surgimento da psicologia e sua articulaccedilatildeo com a educaccedilatildeoConstruccedilatildeo do discurso psicoloacutegico A produccedilatildeo social das dificuldades de aprendizagem e acriacutetica agraves teorias explicativas do fracasso na escola Exclusatildeo social educaccedilatildeo e psicologia Aproduccedilatildeo da autonomia Psicologia e abordagem institucionalista na educaccedilatildeo

Obje t ivo Ge r a l A partir da apreensatildeo histoacuterica da relaccedilatildeo entre psicologia e educaccedilatildeofornecer elementos para a construccedilatildeo de uma visatildeo criacutetica sobre os aspectos disciplinares eexcludentes da escola criando bases para a construccedilatildeo de uma nova articulaccedilatildeo entre estessaberes

Objetivos especiacuteficos- Promover uma reflexatildeo criacutet ica sobre os discursos expl icat ivos das dif iculdades deaprendizagem- Desenvolver condiccedilotildees para a construccedilatildeo de propostas educativas valorizando as diferenccedilasentre os sujeitos e suas possibilidades de criaccedilatildeo- Promover uma reflexatildeo sobre a escola valorizando os espaccedilo de produccedilatildeo coletiva envolvendoprofissionais alunos e famiacutelias

Competecircncias e habilidades a serem desenvolvidas- Capacidade de interpretaccedilatildeo de textos- Capacidade de gerar novas ideacuteias e conhecimentos- Capacidade de trabalhar em equipe valorizando os espaccedilos coletivos- Capacidade de comunicaccedilatildeo oral escrita e virtual- Capacidade de estabelecer interaccedilotildees virtuais

Etapas do percurso Fontes principais

UNIDADE I Psicologia e educaccedilatildeo alianccedilas naproduccedilatildeo de um olhar sobre a infacircncia

- A construccedilatildeo histoacuterica da Psicologia- Psicologia e Educaccedilatildeo no Brasil - compromissos ealianccedilas- Conhecimento saber e poder um olhar sobre ainfacircncia escolarizada

ANTUNES Mitsuko Aparecida Makino(1998) A psicologia no Brasil umaleitura histoacuterica sobre sua constituiccedilatildeoSatildeo Paulo Unimarco EdEduc p 37 -39 e 63 - 85 1998

BOCK Ana Mercecircs Bahia Psicologia eCompromisso Social Satildeo PauloCortez (Cap 2 p 29 - 36) 2003

U N I D A D E I I U m a a b o r d a g e m c r iacute t ic a d ocotidiano escolar

- Dos coleacutegios da modernidade agraves escolas atuais -uma anaacutelise criacutetica das praacuteticas cotidianas- A exclusatildeo social e a educaccedilatildeo - anotaccedilotildees sobreo fracasso escolar- Medicalizaccedilatildeo da infacircncia - a diferenccedila negada nocotidiano escolar

MACHADO Adriana Marcondes ampSOUZA Marilene Proenccedila Rebello de(Org)Psicologia Escolar em busca denovos rumos Satildeo Paulo Casa doPsicoacutelogo (Cap 1 p 19 - 38 e Cap 2p 39 - 54) 2004

NUNES Ligya Bojunga A casa daMadrinha Rio de Janeiro Agir 1992

213

Etapas do percurso Fontes principais

UNIDADE III Outras articulaccedilotildees para umanova montagem da psicologia educacional

- Psicologia e produccedilatildeo da autonomia- Escola como instituiccedilatildeo - um campo de relaccedilotildeesem movimento- Psicologia e Educaccedilatildeo - novas articulaccedilotildees ealgumas propostas

BOCK Ana Mercecircs Bahia (Org)Psicologia e Compromisso Social SatildeoPaulo Cortez (Cap1 p 15 - 28)2003

CAMPOS Herculano Ricardo (Org)Formaccedilatildeo em Psicologia escolar -realidades e perspectivas CampinasEd Aliacutenea (Cap5 p 109 - 134 e Cap7 p 149 - 162) 2007

MACIEL Ira Maria (Org) Psicologia eEducaccedilatildeo novos caminhos para aformaccedilatildeo Rio de Janeiro CiecircnciaModerna (Parte I p 15 - 33 e ParteIII p 213 - 229) 2001

Recursos teacutecnico-pedagoacutegicos

AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem)- Foacuteruns- Sala de bate-papo- Diaacuterio de bordo- Disponibilidade de arquivos de texto- Disponibilidade de arquivos com apresentaccedilotildees didaacuteticas- DesafiosViacutedeo-conferecircnciaLe itura do livro T r ilhas do Aprendente Consulta a livrosConsulta agrave WEB

Estrateacutegias

A metodologia do percurso estaacute fundada na participaccedilatildeo interaccedilatildeo e conexatildeo da teoria com ouniverso praacutetico Para tanto eacute fundamental que os(as) aprendentes visitem participem einterajam no ambiente virtual de aprendizagem e nas aulas presencias aleacutem da frequumlecircnciacontiacutenua ao Poacutelo Municipal de Apoio Presencial (PMAP) onde poderatildeo ser orientados(as)pelos(as) mediadores(as) pedagoacutegicos(as) acerca dos desafios propostos

Desafios

Os instrumentos de avaliaccedilatildeo dos(as) aprendentes seratildeo diversificados exerciacutecios escritostestes produccedilatildeo textual seminaacuterio virtual debates em foacuteruns Para avaliar tais produccedilotildeesseratildeo considerados os objetivos do componente curricular e a implicaccedilatildeo capacidade criacutetica ede reflexatildeo demonstrada pelo aprendente

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I214

REFEREcircNCIAS

Baacutesicas

ANTUNES Mitsuko Aparecida Makino A psicologia no Brasil uma leitura histoacuterica sobre suaconstituiccedilatildeo Satildeo Paulo Unimarco EdEduc 1998

BOCK Ana Mercecircs Bahia (Org) Psicologia e Compromisso Social Satildeo Paulo Cortez 2003

CAMPOS Herculano Ricardo (Org) Formaccedilatildeo em Psicologia escolar realidades eperspectivas Campinas Ed Aliacutenea 2007

MACHADO Adriana Marcondes SOUZA Marilene Proenccedila Rebello de (Org) PsicologiaEscolar em busca de novos rumos Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2004

MACIEL Ira Maria (Org) Psicologia e Educaccedilatildeo novos caminhos para a formaccedilatildeo Rio deJaneiro Ciecircncia Moderna 2001

NUNES Ligya Bojunga A casa da Madrinha Rio de Janeiro Agir 1992

Complementares

ALTMANN Helena A Influecircncia do Banco Mundial no projeto educacional brasileiro Educaccedilatildeo ePesquisa janjunho 2002 V 28 n 1 p 77-89

ALTOEacute Sonia (Org) Reneacute Lourau Analista institucional em tempo integral Satildeo Paulo EdHucitec 2004

ANDREWS S Deacuteficit de natureza Revista Eacutepoca Rio de Janeiro n 473 junho de 2007Editora Globo p 45-52

ARDUINO Jaques LOURAU Reneacute As pedagogias institucionais Satildeo Carlos Rima 2003

ARIEgraveS Philippe Histoacuteria social da infacircncia e da famiacutelia Rio de Janeiro Ed Guanabara1978

BENCINI R Comprimidos em excesso Revista Nova Escola Satildeo Paulo nordm 202 maio de 2007Editora Abril p 38-45

COSTA Marisa Vorraber A perspectiva na sala de aula e o processo de significaccedilatildeo INSILVA Luiz Heron (Org) A escola cidadatilde no contexto de globalizaccedilatildeo Petroacutepolis Vozes1999

FERNANDES Acircngela M Dias LIMA Patriacutecia Alvarenga Hiperatividade e sofrimento escolar adiferenccedila negada no cotidiano da escola IN Anais da Conferecircncia I nternacional educaccedilatildeo globalizaccedilatildeo e cidadania (miacutedia) Joatildeo Pessoa wwwsocieduca-interorg 2008

FREITAS Marcos Cezar (Org) Histoacuteria Social da Infacircncia no Brasil 6 ed Satildeo PauloCortez 2006

215

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica da autonomia SatildeoPaulo Ed Paz e Terra 1998

FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Ed Graal 1979

FRIGOTTO G A produtividade da escola improdutiva Satildeo Paulo CortezAutoresAssociados 1984

GENTILI Pablo ALENCAR Chico Educar na esperanccedila em tempos de desencantoPetroacutepolis Ed Vozes 2001

GONZALEZ REY F L Pesquisa Qualitativa em Psicologia caminhos e desafios Satildeo PauloPioneira Thompson 2002

GUATARRI Felix Revoluccedilatildeo molecular pulsaccedilotildees poliacuteticas do desejo Satildeo Paulo EdBrasiliense 1991

HARPER Babertte CECCON Claudius OLIVEIRA Miguel Darcy e OLIVEIRA Rosiska DarcyCuidado escola Desigualdade domesticaccedilatildeo e algumas saiacutedas Satildeo Paulo Ed Brasiliense1980

KAPLAN I SANDOCK B J Compecircndio de Psiquiatria Porto Alegre Artes Meacutedicas 2003

MACHADO Adriana FERNANDES Angela e ROCHA Marisa (orgs) Novos possiacuteveis noencontro da psicologia com a educaccedilatildeo Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2007

MOYSES Maria Aparecida Afonso A institucionalizaccedilatildeo invisiacutevel - crianccedilas que natildeoaprendem na escola Campinas SP Mercado de Letras Satildeo Paulo Papesp 2001

PATTO Maria Helena Sousa Psicologia e Ideologia uma introduccedilatildeo criacutetica agrave psicologiaescolar Satildeo Paulo T A Queiroz 1984

______ A produccedilatildeo do fracasso escolar histoacuterias de submissatildeo e rebeldia Satildeo Paulo T A Queiroz 1990

______ Mutaccedilotildees do cativeiro escritos de psicologia e poliacutetica Satildeo Paulo EDUSPHackerEditores 2000

______ Exerciacutecios de indignaccedilatildeo escritos de educaccedilatildeo e psicologia Satildeo Paulo Casa doPsicoacutelogo 2005

SILVA Tomaz Tadeu da (org) O sujeito da educaccedilatildeo estudos foucaultianos PetroacutepolisEd Vozes 1994

Sites indicados

wwwineporgbr

wwwpedagogiaemfocoprobrheb07ahtm

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I216

217

UNI VERSI DADE ABERTA DO BRASI LUNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIacuteBA

CURSO DE PEDAGOGI A - MODALI DADE A DI STAcircNCI APSICOLOGIA EDUCACIONAL I

Professora-pesquisadora Dra AcircNGELA MARIA DIAS FERNANDES

DESEMPENHO NO PERCURSO

Aulas Desafios PontuaccedilatildeoDesempenho

obtidoPrazo de

finalizaccedilatildeo

UNIDADE I

Aula 1

1) Esquema das principaiscorrentes de pensamentopsicoloacutegico2) Foacuterum Quais asprincipais diferenccedilas entreas correntes depensamento psicoloacutegico

20

20

Aula 2

Produccedilatildeo de texto sobre aTeoria da CarecircnciaCultural e seu percurso apartir da MedicinaPsicologia e Pedagogia

30

Aula 3

1) Glossaacuterio comconceitos dos termosPedagogizaccedilatildeo dosconhecimentos edisciplinamento dossaberes2) Chat temaacutetico

15

15

Tota l de pontos na Unidade I 100

UNIDADE II

Aula 4Foacuterum relacionando avivecircncia escolar doaprendente com o texto

30

Aula 5 Chat sobre exclusatildeo sociale escola 30

Aula 6Pesquisa de campo(entrevistas comprofessores)

40

Tota l de pontos na Unidade I I 100

UNIDADE III

Aula 7Produccedilatildeo de texto sobreautonomia e Psicologia naescola

30

Aula 8

1) Foacuterum sobre o trabalhodo professor no contoinfantil2) Chat temaacutetico

20

20

Aula 9 Foacuterum sobre propostas emPsicologia Educacional 30

Tota l de pontos na Unidade I I I 100

AVALIACcedilAtildeOPRESENCIAL

(Prova escrita)

Conteuacutedo das trecircsunidades

100 Final dopercurso

TOT AL DE PONTOS OBTI DOS NO PERCURSO

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I218

UNIDADE I

PSI COLOGI A E EDUCACcedilAtildeO ALI ANCcedilAS NA PRODUCcedilAtildeO DE UMOLHAR SOBRE A INFAcircNCIA

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 1 A CONSTRUCcedilAtildeO HI STOacuteRI CA DA PSI COLOGI A

Para estudarmos a psicologia suas teorias praacuteticas e princiacutepios metodoloacutegicos eacute necessaacuterioinicialmente termos conhecimento de sua histoacuteria e do contexto soacutecio-poliacutetico-cultural quepermitiu sua constituiccedilatildeo

1 A const ruccedilatildeo da psicologia cient iacuteficaInicialmente iremos situar a construccedilatildeo cientiacutefica da psicologia a partir das linhas claacutessicas

do pensamento psicoloacutegico behaviorismo gestaltismo funcionalismo psicologia cognitivapsicologia soacutecio-histoacuterica e psicanaacutelise

Todos os historiadores da psicologia concordam que foi Wilhen Wundt na Alemanha emmeados do Seacuteculo XIX que criou os fundamentos cientiacuteficos determinando o objeto de estudo omeacutetodo de pesquisa e os objetivos dessa nova ciecircncia Wundt afirmou a independecircncia dapsicologia em relaccedilatildeo agraves outras ciecircncias situando-a na intermediaccedilatildeo entre as ciecircncias danatureza e da cultura A experiecircncia imediata dos homens era seu foco de interesse baseandosua teoria na ideacuteia de uma unidade psicofiacutesica dos processos elementares da vida mental

No final do Seacuteculo XIX outros estudiosos se lanccedilaram naaventura da pesquisa em psicologia concordando com Wundtou se opondo a ele O Co m p o r t a m e n t a l i sm o ouBehaviorismo surge com John Watson nos EUA que discordaque o foco esteja na experiecircncia imediata Para Watson o objetode estudo da nova ciecircncia deve ser a comportamento humanoEste teoacuterico afirma que o comportamento deve ser visto comoindependente daquilo que o sujeito pensa sente deseja ou emque crecirc Jaacute no iniacutecio do Seacuteculo XX os novos comportamentalistasreordenam os estudos das interaccedilotildees entre os organismos vivose seus ambientes O psicoacutelogo americano BF ltSkinnergt sesobressai ao se referir agrave importacircncia dos condicionamentossociais no comportamento Ele afirma que as experiecircnciassubjetivas satildeo sempre construiacutedas pela sociedade sem nenhumainterferecircncia da consciecircncia ou de um eu interno e formula oconceito de condicionamento operante relacionando aaprendizagem a um sistema de reforccedilo e puniccedilatildeo

Note-se que ateacute aqui estamos trazendo as oposiccedilotildees entre duas linhas de pensamentoSituamos Wundt que afirma a importacircncia das experiecircncias imediatas no estudo do psiquismohumano e uma outra vertente que propotildee ignorar a existecircncia de tais experiecircncias na construccedilatildeoda psicologia cientiacutefica como propotildeem os teoacutericos do comportamentalismo

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

A ca ix a de Sk inn er

219

Nessa polecircmica sobre o estudo do homem podemos situar uma teoriasobremaneira importante - o ltGestaltismogt - mais conhecido comopsicologia da forma que surge na Alemanha no iniacutecio do Seacuteculo XX Emoposiccedilatildeo clara a J Watson seus mais importantes representantes foramMax Wetheimer Kurt Koffka e Wolfgan Koller Seus estudos partiam daexperiecircncia imediata utilizando como meacutetodo a fenomenologia Segundo

esses estudiosos os fenocircmenos da percepccedilatildeo da memoacuteria e da afetividade eram vivenciadossob a forma de estruturas Eles recusavam a ideacuteia de Watson para quem o comportamento eraunicamente dependente do estiacutemulo (relaccedilatildeo conhecida como estiacutemulo-resposta ou E-R) afirmandoque a forma resultante de um processo de percepccedilatildeo era muito mais que a soma das partes Ogestaltismo trazia como preocupaccedilatildeo central a necessidade de se relacionar a experiecircncia imediatados sujeitos com a natureza fiacutesica e bioloacutegica e com o mundo dos valores socioculturais

Outra importante corrente surgida na passagem do SeacuteculoXIX para o Seacuteculo XX nos EUA foi o Funcionalismo Maisconhecido por suas teses adaptacionistas traz uma grandeinfluecircncia das teorias evolucionistas de lt Charles Darw ingt Os estudiosos dessa corrente admitiam a possibilidade de seestudar a mente por meio dos comportamentos e para a suasobrevivecircncia o ser humano deveria adaptar-se agraves condiccedilotildeesambientais John Dewey foi o que mais trouxe contribuiccedilotildees nocampo da educaccedilatildeo afirmando que o ensino deveria orientar-se para o aluno e natildeo para o assunto Acreditava com issoque se poderia formar o ser humano adaptando-o agravesnecessidades da sociedade por meio da educaccedilatildeo

As receacutem estruturadas sociedades industriais capitalistas iratildeo indicar para a correnteadaptacionista uma importante tarefa a de cont r ibuir com invest igaccedilotildees cient iacutef icas sobre oshomens com o objetivo de melhor adaptaacute-los agrave nova ordem social A psicologia se desenvolveno iniacutecio do Seacuteculo XX com a construccedilatildeo de instrumentos de mensuraccedilatildeo da inteligecircncia e dapersonalidade Os testes psicoloacutegicos propostos pelos pesquisadores eram utilizados nosprocedimentos de seleccedilatildeo e orientaccedilatildeo no trabalho e na escola Tanto nos EUA com FrancisGalton quanto na Franccedila com Binet e Simon assiste-se ao desenvolvimento da psicometriautilizada na educaccedilatildeo como forma de conhecer as caracteriacutesticas de cada sujeito Esseconhecimento serviria para justificar a partir das diferenccedilas individuais a distribuiccedilatildeo em classessociais distintas colocando fora de questionamento a desigualdade social e distribuiccedilatildeo desigualde oportunidades

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

O filme Tempos Modernos de Charles Chaplin jaacute foiobjeto de reflexotildees no MarcoI Caso deseje revecirc-lo dirija-se ao Poacutelo Municipal de ApoioPresencial de sua cidade

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I220

A configuraccedilatildeo do objeto de estudos da psicologia centrada no indiviacuteduo afasta a necessidadede uma anaacutelise contextualizada da sociedade onde os sujeitos estatildeo inseridos assim como suaforma de inserccedilatildeo Nas sociedades marcadas pela divisatildeo em classes e cuja base eacute o modelocapitalista de produccedilatildeo difunde-se a crenccedila na igualdade de oportunidades minimizando ainfluecircncia do modo de produccedilatildeo na localizaccedilatildeo dos sujeitos na estrutura social As diferenccedilasindividuais satildeo utilizadas para mascarar a impossibilidade de que a as oportunidades sejam iguaispara todos Assim aprofunda-se a marca principal da psicologia desde sua criaccedilatildeo a de selecionarorientar adaptar e racionalizar a existecircncia humana em nome da produtividade e da eficaacutecia

Podemos situar ainda a Psicologia Cognitiva como outracorrente que se oporaacute aos princiacutepios do ComportamentalismoltJean Piagetgt eacute um importante estudioso do desenvolvimentoinfantil cuja base satildeo as estruturas cognitivas A criacutetica agraveobjetividade cientiacutefica observada nas teorias comportamentaise funcionalistas eacute um importante fundamento desse caminhode pensamento sobre o ser humano e traraacute enormescontribuiccedilotildees para a educaccedilatildeo

Lev Vygotsky psicoacutelogo russo propocircs no iniacutecio do Seacuteculo XX uma nova teoria a PsicologiaSoacutecio-histoacuterica que parte da afirmaccedilatildeo da construccedilatildeo social do conhecimento e da importacircnciada mediaccedilatildeo da educaccedilatildeo da escola e do professor nos processos de ensino e de aprendizagemTrata-se de um importante passo na direccedilatildeo de relacionar o individual e o social na compreensatildeodo psiquismo humano

Sigmund Freud o criador da ltPsicanaacutelisegt eacute tambeacutemsituado no campo dos estudiosos da gecircnese do sujeito Emoposiccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees positivistas e objetivadoras dofuncionalismo psiacutequico Freud iraacute definir o inconsciente comoobjeto de estudo Ele concebe a ideacuteia de uma subjetividadecindida e incompleta recusando o eu como centro dopsiquismo o que torna a psicanaacutelise uma teoria original

2 Desenvolvim ento da psicologia no seacuteculo XX

A partir dessas correntes claacutessicas (behaviorismo gestaltismo funcionalismo psicologiacognitiva psicologia soacutecio-histoacuterica e psicanaacutelise) observa-se na histoacuteria da psicologia o surgimentode outras teorias e estrateacutegias de atuaccedilatildeo Podemos destacar nesse processo as teorias ligadasagrave psicologia dos grupos a teoria humanista as teorias da subjetividade e aquelas que surgem apartir do movimento institucionalista

Os estudiosos da histoacuteria da psicologia assinalam o meacutedicoJ Prattes como o pioneiro nos trabalhos com grupos em 1906mas eacute consensual a afirmaccedilatildeo de que foi Moreno psiquiatraromeno que na deacutecada de 1930 nos EUA idealizou olt p sico d r a m a gt uma passagem da arte dramaacutetica agravepsicoterapia

O alematildeo Kurt Lewin eacute tambeacutem situado no campo das psicoterapias de grupo incrementadas

D ivatilde u t i l iz a do pe lo psica n a l ist a ee x p o st o n o M u se u Fr e u d e mLon d r e s

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

221

pelas condiccedilotildees do poacutes-guerra (deacutecada de 1940) impondo a necessidade de expansatildeo dostrabalhos de sauacutede mental e de recuperaccedilatildeo imediata da matildeo-de-obra deteriorada Em 1944Lewin criou o conceito de dinacircmica de grupo afirmando que o grupo eacute mais do que a soma dassuas partes e que quando haacute modificaccedilatildeo de uma das partes a estrutura grupal se modificaOutro teoacuterico da psicologia dos grupos eacute o argentino Pichoacuten Riviegravere que estruturou a estrateacutegiado grupo operativo que considerava que um grupo soacute se estruturava quando estivesse operandosobre uma tarefa

Como pode ser observado ateacute esta etapa de nossa aula a partir da segunda guerramundial a psicologia fortalece seu interesse pelo social natildeo soacute no campo da pesquisa considerandosua repercussatildeo na constituiccedilatildeo dos sujeitos como tambeacutem enquanto espaccedilo de intervenccedilatildeo emorganizaccedilotildees (hospitais escolas faacutebricas sindicatos etc)

As teorias ligadas agrave Psicologia Humanista constituem outro importante espaccedilo de praacuteticasna qual se sobressaem Carl Rogers da Abordagem Centrada na Pessoa e alguns teoacutericos dagestalt-terapia e da Bioenergeacutetica traduzindo muito bem uma forma mais intimista de responderaos acontecimentos dos anos de 1960 e 1970 Priorizando o corpo o auto-conhecimento e aliberaccedilatildeo dos sujeitos os autores humanistas centram sua preocupaccedilatildeo na adaptaccedilatildeo do homemao meio de forma criativa e ativa

Ainda nas deacutecadas de 1950 e 1960 assiste-se a um movimento de resistecircncia principalmentena Europa que se faz presente nos hospitais e nas escolas aliando a psicologia a sociologia aeducaccedilatildeo e a psiquiatria O Movimento Institucionalista nasce de uma criacutetica agrave organizaccedilatildeohieraacuterquica e centralizadora tanto nos hospitais psiquiaacutetricos quanto nas organizaccedilotildees escolaresconstituindo-se a Psicoterapia I nst itucional (1950) e mais tarde (1962) a PedagogiaInstitucional A Psicossociologia Institucional significa um avanccedilo no processo de autogestatildeoe juntamente com os anti-institucionalistas (Lang Cooper e Ivan Illich) iraacute criar as condiccedilotildeespara o surgimento de uma outra perspectiva de intervenccedilatildeo em 1963 conhecida como AnaacuteliseInstitucional

Por sua criacutetica agrave sociedade capitalista e aoconservadorismo os institucionalistas relacionam-se comos ltmovimentos da contra-cultura na Franccedilagt e emoutros paiacuteses e elaboram inspirados em conceitos devaacuterias correntes da psicologia da sociologia e da filosofiapropostas de investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Essas ideacuteiassatildeo representadas principalmente pelos franceses ReneacuteLourau Felix Guattari e Georges Lapassade

No Brasil apoacutes a ditadura militar essas formulaccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas encontraramum terreno feacutertil junto a psicoacutelogos implicados com os movimentos sociais propondo um conjuntode ferramentas proacuteprias para a intervenccedilatildeo em instituiccedilotildees conceituadas como praacuteticas sociaise para a compreensatildeo das subjetividades

Nas duas uacuteltimas deacutecadas do Seacuteculo XX e iniacutecio do Seacuteculo XXI a partir dos avanccedilos dacomunicaccedilatildeo da expansatildeo de outras linguagens como a informaacutetica e do surgimento de novasproblemaacuteticas sociais configuram-se teorias e proposiccedilotildees centradas algumas delas tambeacutemno conceito de Subjetividade Fernando Gonzaacutelez Rey identifica na histoacuteria desse conceito umprocesso de ruptura com a psicologia cientiacutefica objetiva e neutra tendo significado um desafio

Paris em 1968

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na afirmaccedilatildeo de uma psique que se constroacutei a partir de uma visatildeo cultural em uma dimensatildeocomplexa e dialeacutetica Esse estudioso da psicologia aponta a obra de Vygotsky pouco valorizadano Ocidente ateacute muito recentemente como um marco na definiccedilatildeo do conceito de subjetividade

A psicanaacutelise e a psicologia soacutecio-histoacuterica de L Vygotsky e outras linhas de pensamentotecircm sido revistas em associaccedilatildeo com diversas aacutereas do conhecimento inaugurando um caminhointerdisciplinar

Nesses uacuteltimos trinta anos ainda as teorias comportamentais vecircm buscando sua renovaccedilatildeomediante o aprimoramento das teacutecnicas quantitativas de avaliaccedilatildeo de valores sociais e de programasde assistecircncia e e intervenccedilotildees no campo da cogniccedilatildeo e do treinamento comportamental

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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AULA 2 PSI COLOGI A E EDUCACcedilAtildeO NO BRASI L COMPROMI SSOS E ALI ANCcedilAS

Como vimos na aula anterior a constituiccedilatildeo da psicologia comociecircncia data de meados do Seacuteculo XIX com Wundt na AlemanhaNesse periacuteodo de mais de um seacuteculo de construccedilotildees teoacutericas eproposiccedilotildees praacuteticas constatamos a existecircncia de uma variedadede olhares sobre o homem e seu funcionamento psiacutequico Percebemosao longo da histoacuteria da psicologia que natildeo existe um pensamentouacutenico e que o contexto soacutecio-histoacuterico e a forma como o psicoacutelogopesquisador compreende o mundo e nele se insere seratildeo umimportantes fatores que determinaratildeo a proposta formulada

No Brasil assistiremos a um processo que segundo algunspsicoacutelogos brasileiros preocupados com a historiografia dessaciecircncia tem relaccedilatildeo com as experiecircncias de colonizaccedilatildeo eafirmaccedilatildeo dos interesses de uma classe dominante fortementemarcada por teorias racistas e eugecircnicas alimentadas pela obrade Charles Darwin e suas consequumlecircncias para o estudo dohomem O impulsionamento da psicologia como ciecircncia no Brasileacute relacionado a necessidades impostas pelo desenvolvimentourbano-industrial agraves novas formas de ocupaccedilatildeo das cidadesditadas pela Repuacuteblica e ao reordenamento da forccedila de trabalhona direccedilatildeo da escola preferencialmente profissionalizante

A constituiccedilatildeo da psicologia desde fins do Seacuteculo XIX e iniacuteciodo Seacuteculo XX deu-se em estreita articulaccedilatildeo com a educaccedilatildeo e amedicina podendo-se afirmar que a psicologia foi gerada no interiordessas duas aacutereas de conhecimento sendo nesses campos em quedesenvolveraacute seu projeto de autonomizaccedilatildeo como demonstra MitzukoAntunes em seu estudo a ltPsicologia no Brasil leitura histoacutericasobre sua constituiccedilatildeogt

A atuaccedilatildeo da psicologia junto agraves instituiccedilotildees de sauacutede noiniacutecio do Seacuteculo XX fez-se em nome do controle social com sentidopreventivista e eugecircnico A psiquiatria e o higienismo quecaracterizaram a medicina da eacutepoca clamaram pela participaccedilatildeo dapsicologia na detecccedilatildeo da anormalidade como tambeacutem na prevenccedilatildeo de problemas sociais quepoderiam advir relacionados agrave presenccedila das raccedilas que eram consideradas inferiores e que poderiamperturbar a ordem na vida urbana

A Liga Brasileira de Higiene Mental criada em 1920 representou de maneira radical essesideais tendo se colocado abertamente a favor do aperfeiccediloamento da raccedila (ariana) e contra osnegros e mesticcedilos que eram caracterizados pelas teorias racistas da eacutepoca como indolentesdegenerados preguiccedilosos e sujeitos a enfermidades por sua natureza e iacutendole Os princiacutepios da

Antes de prosseguir aleitura da aula volte agraveaula anterior e revejaquais as principaiscorrentes dapsicologia no processode sua construccedilatildeohistoacuterica

Dirija-se agrave bibliotecado Poacutelo Municipal deApoio Presencial e faccedilaa leitura dos capiacutetulos1 e 2 da Parte II dolivro de MitzukoAntunes (p 37-85)

Trabalhadores da Faacutebricade Tecidos Videira

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higienizaccedilatildeo e da disciplinarizaccedilatildeo da sociedade iratildeo caracterizar o trabalho nas instituiccedilotildeespsiquiaacutetricas preocupadas com uma intervenccedilatildeo para aleacutem do encarceramento da loucura

Apesar da diversidade de pesquisas que se desenvolviam em outros paiacuteses no Brasil ainfluecircncia da pesquisa experimental baseada na psicometria ocorreu de forma hegemocircnica ateacute

pelo menos a deacutecada de 1980

Nas instituiccedilotildees educacionais a preocupaccedilatildeo central era com o analfabetismo e a falta deinstruccedilatildeo do povo brasileiro em um paiacutes em franco desenvolvimento e requisitando uma matildeo-de-obra conhecedora pelo menos da leitura e da escrita Vaacuterios movimentos pela difusatildeo e ampliaccedilatildeoda escola puacuteblica e gratuita surgiram no paiacutes mostrando diferentes ideais de sociedade que vatildeodesde a preparaccedilatildeo para o trabalho ateacute uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo como emancipadora dopovo em uma luta contra a opressatildeo colonialista Nesse quadro a demanda dos profissionais daeducaccedilatildeo no sentido de construir uma pedagogia moderna e cientiacutefica fez da psicologia seuprincipal ponto de sustentaccedilatildeo uma vez que fornecia as bases de conhecimento sobre osindiviacuteduos o processo de desenvolvimento psiacutequico as vocaccedilotildees emoccedilotildees e a organizaccedilatildeo dapersonalidade

A preocupaccedilatildeo com o indiviacuteduo e com as teacutecnicas que pudessem instrumentalizar a praacuteticaeducativa fez surgir no Brasil no iniacutecio do Seacuteculo XX uma seacuterie de Laboratoacuterios e Institutosvoltados para a pesquisa psicoloacutegica destacando-se o Pedagogium depois transformado emLaboratoacuterio de Psicologia Experimental no Rio de Janeiro o Instituto de Psicologia de Pernambucoa Escola de Aperfeiccediloamento Pedagoacutegico de Belo Horizonte e o Laboratoacuterio de PedagogiaExperimental de Satildeo Paulo Nesse periacuteodo surgem as Escolas Normais encarregadas da formaccedilatildeode professores

No processo de constituiccedilatildeo cientiacutefica da pedagogia e de afirmaccedilatildeo da psicologia oslaboratoacuterios e institutos de pesquisa vatildeo sendo incorporados a essas escolas A instalaccedilatildeo desalas de exame psicoloacutegico e de afericcedilatildeo antropomeacutetrica seguia a demanda de higienizaccedilatildeo dapopulaccedilatildeo vigente na eacutepoca e era inspirada nas pesquisas trazidas da Europa e dos EUA queprivilegiavam a psicometria de modo geral Apesar da pouca inserccedilatildeo nas escolas oficiais essapraacutetica serviu para difundir e legitimar o discurso cientiacutefico utilizado para explicar a localizaccedilatildeo decada indiviacuteduo na estrutura social A existecircncia de diferenccedilas individuais era o principal argumentodesse discurso sendo desconsideradas desse esquema de causalidade as imposiccedilotildees da sociedadecapitalista industrial e sua principal base que eacute a divisatildeo em classes sociais com chances epossibilidades desiguais

Em um estudo sobre a disciplina na sociedade moderna em que analisa o funcionamento doGabinete de Antropologia e Psicologia Pedagoacutegica de Satildeo Paulo Marta Carvalho afirma

Neste horizonte criteacuterios raciais nem sempre explicitados traccedilavam os limitesdas boas intenccedilotildees republicanas operando a distinccedilatildeo entre populaccedilotildeeseducaacuteveis capazes portanto de cidadania e populaccedilotildees em que o peso dahereditariedade (leia-se raccedila ) era a marca de um destino que a educaccedilatildeo

era incapaz de alterar (CARVALHO 2006 p 299)

A partir da deacutecada de 1920 e principalmente de 1930 o ideaacuterio escolanovista baseadonos princiacutepios da modernidade fez-se mais presente na educaccedilatildeo brasileira mobilizando os

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educadores na luta contra os elevados iacutendices de repetecircncia eevasatildeo na escola puacuteblica A educaccedilatildeo era compreendida comoa base de uma sociedade saudaacutevel que precisava ser moralmentepreparada para o trabalho

Os novos intelectuais se uniram em torno da crenccedila de que a sauacutede e a educaccedilatildeo eramfatores capazes de promover a necessaacuteria regeneraccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira A preocupaccedilatildeocom o rendimento na escola promoveu a incorporaccedilatildeo do ltmodelo tayloristagt de produccedilatildeofabril afirmando na educaccedilatildeo as posiccedilotildees tecnicistas norteadas pela eficiecircncia e eficaacutecia dasaccedilotildees No trecho abaixo Maria Helena de Souza Patto (2003) expressa o significado dainfluecircncia desse modelo produtivo na educaccedilatildeo ao identificar um vieacutes adaptacionista naproduccedilatildeo em seacuterie de alunos perfeitamente adaptados aos diferentes lugares que lhes seratildeo

destinados numa realidade social inquestionada

Eis a via da naturalizaccedilatildeo da desigualdade que temorigem na maneira como a sociedade se estrutura maseacute lida como diferenccedila bioloacutegica ou psicoloacutegica deaptidatildeo intelectual entre grupos e indiviacuteduos (PATTO2003 p 33)

O movimento chamado Escola Nova esboccedilou-se na deacutecada de 1920 no Brasil

O mundo vivia agrave eacutepoca um momento de crescimento industrial e de expansatildeourbana e nesse contexto um grupo de intelectuais brasileiros sentiu necessidadede preparar o paiacutes para acompanhar esse desenvolvimento A educaccedilatildeo era poreles percebida como o elemento-chave para promover a remodelaccedilatildeo requerida

Inspirados nas ideacuteias poliacutetico-filosoacuteficas de igualdade entre os homens e do direitode todos agrave educaccedilatildeo esses intelectuais viam num sistema estatal de ensinopuacuteblico livre e aberto o uacutenico meio efetivo de combate agraves desigualdades sociaisda naccedilatildeoDenominado de Escola Nova o movimento ganhou impulso na deacutecada de 1930apoacutes a divulgaccedilatildeo do lt Manifesto da Escola Novagt (1932) Nesse documentodefendia-se a universalizaccedilatildeo da escola puacuteblica laica e gratuita Entre os seussignataacuterios destacavam-se os nomes de Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo

Lourenccedilo Filho e Ceciacutelia Meireles

Para ler o Manifesto dosPioneiros acessewwwpedagogiaemfocoprobrheb07ahtm

O americano lt Freder ick Taylorgt considerado o pai da organizaccedilatildeo cientiacutefica dotrabalho propocircs um modelo de produccedilatildeo industrial aliando eficaacutecia e eficiecircnciaSua preocupaccedilatildeo era com o sistema produtivo e natildeo com o homem negando aotrabalhador qualquer manifestaccedilatildeo criativa ou participaccedilatildeo O ideaacuterio tayloristafoi transposto para a educaccedilatildeo promovendo uma valorizaccedilatildeo do tecnicismo tendocomo efeitos a fragmentaccedilatildeo e a hierarquizaccedilatildeo do ensino e do conhecimento

Dirija-se ao PMAP pararealizar a leitura do texto Oque a h ist oacuter ia pode dizerso b r e a p r o f i ssatilde o d op si coacute l o g o a r e l a ccedilatilde opsicologia e educaccedilatildeo deMaria Helena de S Patto nolivro P si co l o g i a ecompromisso social

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Associada agrave escola nova a psicologia continuou fornecendo os subsiacutedios cientiacuteficos para oconhecimento das possibilidades individuais e das dificuldades escolares natildeo mais identificadascomo efeito da hereditariedade e da raccedila mas da organizaccedilatildeo e dos haacutebitos familiares e doambiente soacutecio-cultural Manteacutem-se a utilizaccedilatildeo dos instrumentos de avaliaccedilatildeo psicoloacutegica cadavez mais associada agrave pesquisa sobre o fracasso escolar e centrada no aluno e nos processos deaprendizagem

Na deacutecada de 1950 amplia-se para aleacutem do aluno o campo de pesquisa educacional praticadaprincipalmente nos institutos ligados ao governo que tinham em seus quadros o psicoacutelogoLourenccedilo Filho um dos precursores do escolanovismo A escola reafirmava sua posiccedilatildeo comoelemento fundamental no desenvolvimento da sociedade e era defendida enquanto prioridade nademocratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo e das chances oferecidas aos sujeitos

O periacuteodo de 1960 ateacute meados da deacutecada de 1970 tem como o eixo principal a Teoria doCapital Humano Em estudo sobre essa teoria e sua influecircncia no modelo educacional brasileiroGaudecircncio Frigotto em seu livro A produtividade da escola improdutiva afirma que

Do ponto de vista macroeconocircmico o investimento no fator humano passa asignificar um dos determinantes baacutesicos para o aumento da produtividade eelemento de superaccedilatildeo do atraso econocircmico Do ponto de vistamicroeconocircmico constitui-se no fator explicativo das diferenccedilas individuais deprodutividade e renda e consequumlentemente de mobilidade social (FRIGOTTO1984 p 172)

Comungando com os interesses do ltregime militargt vigentenesse periacuteodo a psicologia voltou-se ainda mais para a avaliaccedilatildeodas capacidades e habilidades psiacutequicas associadas ao investimentoindividual e ao rendimento escolar

Nos proacuteximos anos (a partir de 1970) a Teoria da CarecircnciaCultural de origem norte-americana iria influenciar a pesquisa sobreo fracasso escolar colaborando com a construccedilatildeo de um discursoque mantinha a linha de causalidade que culpava o aluno por seuinsucesso na escola Um dos aspectos principais dessa teoria eacute aafirmaccedilatildeo de que a escola eacute inadequada agraves caracteriacutesticas psiacutequicasda crianccedila pobre Esta teoria parte da existecircncia de um supostodeacuteficit considerado natural na populaccedilatildeo pobre o qual impede queas crianccedilas aproveitem as oportunidades oferecidas pela sociedadeA desigualdade social produto da sociedade cindida em classes e obaixo desempenho na escola e no trabalho satildeo ltnaturalizadosgtcom a participaccedilatildeo ativa dos elementos cientiacuteficos emprestados pelapsicologia

Eacute a partir do final dessa deacutecada de 1970 e de modo maispotente na deacutecada de 1980 que comeccedilam a ser construiacutedos outrosespaccedilos de reflexatildeo e de praacuteticas que significaratildeo a abertura denovos caminhos tanto na educaccedilatildeo quanto na psicologia Inaugura-se uma possibilidade de anaacutelise criacutetica do sistema educacionalapontando relaccedilotildees com a estrutura soacutecio-econocircmica vigente que

Alguns ditos popularesservem para esteprocesso fazendo comuma afirmaccedilatildeo sejacompreendida comon a t u r a l inquestionaacutevel

Q u e m t r a b a l h asem pre alcanccedila

O trabalho enobreceo hom em

A cada um segundosuas possibilidades

Ouccedila a muacutesica M e uca r o a m i g o composta por ChicoBuarque de Holandadurante seu exiacutelio naFranccedila Para issouti l ize ocd-rom doAprendente

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alavancam uma criacutetica da psicologia sobre si mesma Satildeo os novos tempos do fim da ditaduramilitar e da democratizaccedilatildeo no Brasil

Eacute a partir de meados da deacutecada de 1980 que a pesquisa em psicologia comeccedila a tentarromper com as alianccedilas que a constituiacuteram como base do discurso eugecircnico higienista e nosuacuteltimos anos pelo menos preconceituoso

No campo da pesquisa ressaltam-se os trabalhos de MariaHelena Sousa Patto que afirma o compromisso ideoloacutegico da psicologiacom os ideais das classes dominantes montando teorias que servissempara explicar as desigualdades sociais (1984) inaugurando um campode criacutetica importante para as posteriores investigaccedilotildees teoacutericas eintervenccedilotildees educacionais Em estudo posterior Patto nos permiteavanccedilar na compreensatildeo do fracasso escolar como uma produccedilatildeosocial e natildeo como decorrecircncia de problemas individuais proacuteprios dapobreza inaugurando uma forte criacutetica agrave lt Teoria da CarecircnciaCultural (1990)gt

Mesmo anunciando esse caminho de construccedilatildeo de umapsicologia criacutetica e baseada em compromissos sociais eacute importanteque se tenha claro que ainda vigoram nas escolas e na sociedadevaacuterias afirmaccedilotildees que se assentam nos trilhos da Teoria da CarecircnciaCultural Essas ideacuteias penetram com muita facilidade no cotidiano daescola e nos debates do senso comum uma vez que coincidem com anecessidade de predomiacutenio dos princiacutepios da sociedade capitalistapor meio de um discurso hegemocircnico

Por isso CUIDADO Sinal Vermelho Na proacutexima Unidadevoltaremos a esses caminhos e agraves proposiccedilotildees e intervenccedilotildees praacuteticasda psicologia daiacute decorrentes Esse procedimento pode contribuirpara que vocecirc nosso aprendente venha a diferenciar praacuteticas ediscursos e reconhecer a que visatildeo de homem de mundo e desociedade estatildeo servindo

Antes poreacutem de dar esse passo em nossa trilha iremos analisar os processos de construccedilatildeodo conhecimento enquanto marcados pelo exerciacutecio do poder que se efetivam no cotidianoescolar trazendo a disciplina como questatildeo teoacuterica e sua gecircnese como objeto de estudo

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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A Teoria da CarecircnciaCultural fois u f i c i e n t e m e n t einvestigada por MariaHelena Sousa Pattoprincipalmente em trecircspublicaccedilotildees Psicologiae I d eo l o g i a u m ai n t r o d u ccedilatildeo c r iacutet i ca agravep s i co l o g i a esco l a r(1984) A produccedilatildeo dof r acasso esco l a r histoacuter ias de subm issatildeoe rebeldia (1990) e notexto Para um a criacutet icada razatildeo psicom eacutet r icapublicado no l ivroMutaccedilotildees do cativeiro(2000 p 5)

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AULA 3 CONHECI MENTO SABER E PODER UM OLHAR SOBRE A I NFAcircNCI AESCOLARIZADA

Ateacute esta etapa de nosso caminho estudamos a construccedilatildeo das teorias psicoloacutegicas e ahistoacuteria da articulaccedilatildeo entre a psicologia a medicina e a pedagogia no Brasil constituindoalianccedilas em nome de uma abordagem cientiacutefica dos problemas educacionais

A partir de agora promoveremos outro tipo de investigaccedilatildeo para que seja possiacutevel umamaior compreensatildeo do cotidiano escolar com base na anaacutelise das praacuteticas educativas e dasrelaccedilotildees sociais que se estabelecem entre alunos profissionais e comunidades

Nosso ponto de partida seratildeo os estudos de Philippe Ariegraves publicados no livro Histoacuteriasocial da infacircncia e da fam iacutelia que demonstram o surgimento das instituiccedilotildees educativas namodernidade caracterizadas por dar sentido a uma infacircncia que passa a ser vista como naturalmentefraacutegil A educaccedilatildeo impositiva moralizante e disciplinadora se justifica pela necessidade de formaros sujeitos que a sociedade comeccedila a conceber como corpos que necessitam de cuidados porquesatildeo deacutebeis e fracos Ariegraves parte da ideacuteia de que esse sentimento de infacircncia tem origem com aemergecircncia da sociedade burguesa e eacute fortalecido pela accedilatildeo dos jesuiacutetas

Para melhor compreender os efeitos da educaccedilatildeo na constituiccedilatildeo dessa infacircncia podemosrecorrer ao filoacutesofo francecircs Michel Foucault quando ele aponta em seu livro Microfiacutesica do Poder(1979) que a disciplina eacute uma teacutecnica de exerciacutecio de poder que foi natildeo inteiramente inventadamas elaborada em seus princiacutepios fundamentais durante o seacuteculo XVIII (p 105) O autor nosentido de melhor esclarecer a origem da disciplina nas sociedades ocidentais afirma que essa eacuteuma arte de distribuiccedilatildeo dos homens no espaccedilo baseada na individualizaccedilatildeo dos corpos (p

105) A disciplina que se exerce sobre cada corpo isoladamente eacute uma praacutetica que permite aclassificaccedilatildeo dos sujeitos observados e controlados A vigilacircncia deve ser permanente para que adisciplina seja conseguida

Foucault ressalta a importacircncia das praacuteticas de exame (provas avaliaccedilotildees) e de penalizaccedilatildeoou castigo como formas de fazer com que os sujeitos internalizem o poder Quanto mais a morale a disciplina forem sentidas como necessaacuterias agrave existecircncia humana mais sucesso teraacute o processode disciplinamento e controle social A citaccedilatildeo a seguir sintetiza a anaacutelise de Foucault sobre essetema

Escola s n a h ist oacuter ia da h um a nida de

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A disciplina eacute o conjunto de teacutecnicas pelas quais os sistemas de poder vatildeo terpor alvo e resultado os indiviacuteduos em sua singularidade Eacute o poder deindividualizaccedilatildeo que tem o exame como instrumento fundamental O exame eacutea vigilacircncia permanente classificatoacuteria que permite distribuir os indiviacuteduosjulgaacute-los medi-los localizaacute-los e por conseguinte utilizaacute-los ao maacuteximo(FOUCAULT 1979 p107)

Retomando as contribuiccedilotildees de Philippe Ariegraves vimos que a modernidade instaura umaseparaccedilatildeo entre o mundo dos adultos e das crianccedilas e para tanto organiza novas formas eespaccedilos de educaccedilatildeo Os coleacutegios (educaccedilatildeo em preacutedios fechados) o mobiliaacuterio (bancos escolaresbirocirc etc) a separaccedilatildeo em classes (inicialmente por conhecimento e mais recentemente poridades e ainda por localizaccedilatildeo na estrutura social) satildeo intervenccedilotildees protagonizadas desde oSeacuteculo XV ateacute os dias de hoje com o objetivo de instruir e moralizar a sociedade

A ideacuteia de que a infacircncia eacute uma produccedilatildeo social natildeo eacute mais novidade para noacutes Temosdebatido durante nosso percurso que o sentimento que hoje temos com relaccedilatildeo agrave infacircnciaapareceu no momento em que a famiacutelia burguesa se distinguiu como elemento central da sociedadecom a preocupaccedilatildeo de formar homens honrados e moralmente constituiacutedos A sociedade maisespecificamente a igreja catoacutelica comeccedila a valorizar a propriedade de bens centrada nas matildeosde nuacutecleos familiares A famiacutelia volta-se para si mesma resguardando seus membros exigindoassim uma educaccedilatildeo rigorosa dos herdeiros

A partir dessas colocaccedilotildees sobre uma disciplina (escolar) que eacute exigida para que a sociedadeexerccedila controle sobre os homens podemos ainda aceitar a ideacuteia de que os conhecimentossaberes ministrados nos coleacutegios foram igualmente objetos de disciplinarizaccedilatildeo isto eacute de umaintervenccedilatildeo para que servissem aos interesses da reforma moral cristatilde e depois laica (SeacuteculoXVIII)

Juacutelia Varella no texto intitulado O estatuto do saber pedagoacutegico (publicado em O sujeitoda Educaccedilatildeo 4 ed 2000) identifica na passagem do Renascimento para a Modernidade umapedagogizaccedilatildeo dos conhecimentos que significa um novo ordenamento dos saberes de acordocom os interesses moralizantes e disciplinadores que emanam da igreja catoacutelica e dos coleacutegiosjesuiacutetas Conforme demonstra essa autora

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O olhar invisiacutevel podeser representado peloPanopticon de Benthanque permite ver tudosem ser visto produzindono aluno a disciplina pelomedo do exame e docastigo

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Para levar adiante seu projeto de formaccedilatildeo de bons cristatildeos os mestresjesuiacutetas natildeo apenas reforccedilaram o estatuto conferido agrave infacircncia com a opccedilatildeode educaacute-la em espaccedilos fechados nos coleacutegios mas sentiram tambeacutem anecessidade de controlar os saberes que iam transmitir e de organizar essessaberes de tal forma que se adequassem agraves supostas capacidades infantis(VARELLA 2000 apud SILVA 1994 p 88)

Os mestres jesuiacutetas se converteram em autoridades maacuteximas exercendo um poder sobreseus alunos retirando toda a possibilidade vivenciada na Idade Meacutedia de autonomia no estudoForam desenvolvidas estrateacutegias e teacutecnicas que tinham como objetivo dirigir ao conhecimento omesmo sentido moralizante que vinha sendo dado agrave formaccedilatildeo dos alunos A disciplina e a ordemnas salas de aula passaram a ser elementos necessaacuterios nesse processo de penalizaccedilatildeo emoralizaccedilatildeo

Em segundo lugar Juacutelia Varella reconhece a existecircncia de um processo que se daacute no interiorda produccedilatildeo do conhecimento o disciplinamento interno dos saberes eliminando o que eraconsiderado como saberes inuacuteteis segundo as normas de moralizaccedilatildeo e reordenando umacomunicaccedilatildeo entre esses retirando-lhes a forccedila e a intensidade Nesse processo eacute importanteque se promova ainda uma classificaccedilatildeo e hierarquizaccedilatildeo entre os saberes promovendo umacentralizaccedilatildeo de cima para baixo As fronteiras entre a histoacuteria a geografia e a sociologia foramtraccediladas por exemplo pela humanidade assim como a orientaccedilatildeo no processo de ensino-aprendizagem do que deve ser ensinado primeiro e qual saber eacute mais nobre isto eacute que deveocupar o topo de todos os conhecimentos

Os processos que foram aos poucos se instaurando apartir do Seacuteculo XVI produziram censura e controle e mais doque isso devido agraves divisotildees impostas que delimitavam as aacutereasde saberes (conhecimentos) buscavam eliminar a ideacuteia dohomem universal acentuando a possibilidade de tornar doacuteceisos corpos (os sujeitos) mediante essa praacutetica disciplinar impostana produccedilatildeo dos saberes Se anteriormente na Idade Meacutedia oaluno detinha um poder sobre o que queria aprender e ondebuscar o conhecimento na era da modernidade essapossibilidade passa a ser inexistente O aluno perde o poder sobre seus caminhos passando a sercompreendido como um mero elemento de transmissatildeo de conhecimento Natildeo mais pode escolhero que deve ser aprendido tampouco o ritmo desse aprendizado ou o que fazer do conhecimentoadquirido A grade de disciplinas hoje tatildeo naturalmente absorvida por todos noacutes em qualquercurso eacute uma produccedilatildeo social e serve a esses interesses de tornar doacutecil o corpo a ser disciplinadoAprendemos esse ordenamento dos saberes e passamos a respeitaacute-los como se fossemincontestaacuteveis naturais e acima de tudo necessaacuterios

Michel Foucault jaacute citado anteriormente reconhece nesse processo a emergecircncia dasociedade disciplinar que funciona confinando aprisionando os homens agraves escolas agraves prisotildeesagraves igrejas aos hospitais agraves faacutebricas etc

Os processos descritos acima por Juacutelia Varella podem ser reconhecidos ateacute hoje nas praacuteticasescolares Poreacutem com a intervenccedilatildeo das miacutedias e dos novos equipamentos sociais jaacute se pode

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identificar um controle que natildeo mais iraacute somente confinar isolar os estudantes nas escolas osloucos nos asilos e os empregados nas faacutebricas para que sejam produtivos

Trata-se da emergecircncia da sociedade de controle que atua de forma contiacutenua Entramem accedilatildeo a TV os microcomputadores e os celulares que permitem conhecer e conectar o mundoa partir de um uacutenico lugar Satildeo maacutequinas que iratildeo estruturar a vida organizando uma subjetividadedo consumo e da informaccedilatildeo Mas como relacionar esse processo aos domiacutenios da escola

Aqui lanccedilaremos matildeo de outro escritor francecircs Feacutelix Guattari (1985) que no estudo Ascreches e a iniciaccedilatildeo publicado no livro intitulado Revoluccedilotildees Moleculares mostra-nos osefeitos do processo de iniciaccedilatildeo das crianccedilas agrave loacutegica capitalista O autor se refere agrave produccedilatildeode modos de viver pensar e sentir que estariam em consonacircncia com os mais novos modos deproduccedilatildeo material na sociedade capitalista industrial Denomina como aparelhos de semiotizaccedilatildeoos viacutedeo-games CD-rom etc Esses aparelhos passam a dar o sentido dos modos de existecircncia

Guattari (1985) indica que as crianccedilas estatildeo sendo iniciadas cada vez mais cedo nossistemas de representaccedilatildeo e nos valores do capitalismo que produzem uma modelagem adequadaaos coacutedigos utilizados em nosso cotidiano Aponta como importante o fato de que se mobilizamno processo de formaccedilatildeo da crianccedila esquemas de aprendizagem que permitem traduzir oconjunto de coacutedigos ou semioacuteticas dominantes Por fim chama a atenccedilatildeo para a necessidade deanalisarmos o funcionamento da creche e o efeito da educaccedilatildeo infantil na constituiccedilatildeo dessecorpo que eacute modelado para atuar produtivamente de acordo com os ideais da sociedade capitalista

A sua grande contribuiccedilatildeo eacute indicar no espaccedilo da educaccedilatildeo uma perspectiva de que acrianccedila venha a aprender o que eacute a sociedade o que satildeo seus instrumentos (GUATTARI 1985p 54) para poder interferir de forma autocircnoma e criativa no mundo Aprender os coacutedigos e osmodos de funcionamento da sociedade na qual estaacute inserida pode ser importante para que acrianccedila tenha a possibilidade de desenvolver formas singulares de estar no mundo

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegico(a)s a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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UNIDADE II

UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA DO COTIDIANO ESCOLAR

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 4 DOS COLEacuteGI OS DA MODERNI DADE AgraveS ESCOLAS ATUAI S UMAANAacuteLI SE CRIacute TI CA DAS PRAacuteTI CAS COTI DI ANAS

Seguindo a linha de anaacutelise de nosso percurso iremosneste momento buscar os fios que nos permitem compreenderalguns elementos do cotidiano escolar como um espaccedilodisciplinar e controlador das subjetividades O estudo da origemdas praacuteticas educativas a partir dos coleacutegios do Seacuteculo XVIIIforneceu-nos os elementos que seratildeo aqui utilizados paraexercitarmos uma investigaccedilatildeo criacutetica da escola na atualidadeEsse exerciacutecio de reflexatildeo eacute fundamental para que possamosabrir novas portas e inventar outras praacuteticas da psicologia naescola

Com o objetivo de melhor sistematizar nosso trabalho deanaacutelise dividiremos a explanaccedilatildeo em seis itens a saber

1 As praacutet icas cot idianas conspiram cont ra a produccedilatildeoda autonomia e da autogestatildeo

Como jaacute estudamos anteriormente o poder de decisatildeofoi retirado do aluno quando da organizaccedilatildeo dos coleacutegios apartir do Seacuteculo XVIII sendo produzida uma ideacuteia de infacircnciafragilizada e portanto sem possibilidades de exercitar suaautonomia Eacute naturalizada uma concepccedilatildeo de aluno como umcorpo vazio a ser preenchido e modelado

As atividades nas escolas e na vida contemporacircnea passam a ser geridas por outrem -pelo supervisor pelo livro didaacutetico pelos programas governamentais (Escola Aberta Bolsa Escolae outros) - ou coordenadas por entidades como o Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem Aspraacuteticas de avaliaccedilatildeo se apresentam aos alunos como destituiacutedas de sentido Para os professoresessas praacuteticas representam mais uma etapa do processo sendo orientadas pela mesma loacutegica doplanejamento e das atividades contidas no livro didaacutetico Os principais atores sociais (alunos eprofessores) satildeo enfraquecidos no exerciacutecio do poder como sujeitos incapacitados de produzir aarticulaccedilatildeo entre praacuteticas e seus efeitos

Ilustraccedilatildeo de capa do livro O berccedilod a d es i g u a l d a d e de CristovamBuarque com fotos de SebastiatildeoSalgado

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lt Paulo Freiregt ao trabalhar o tema da autonomia no livroPedagogia da Aut onom ia (1996) estabelece a relaccedilatildeo entre oexerciacutecio da liberdade por parte do aluno e da autoridade peloeducador Aponta como fundamental para a construccedilatildeo da autonomiaa praacutetica da responsabilidade Segundo esse educador o educandoque exercita sua liberdade ficaraacute tatildeo mais livre quanto mais eticamentevaacute assumindo a responsabilidade de suas accedilotildees (p 104) mas essaautonomia somente se constitui quando desaparece a relaccedilatildeo dedependecircncia Continuando com o pensamento de Freire ele afirmaque

No fundo o essencial nas relaccedilotildees entre educador eeducando entre autoridade e liberdade entre pais matildeesfilhos filhas eacute a reinvenccedilatildeo do ser humano no aprendizadoda autonomia (FREIRE 1996 p 105)

O pensamento e a accedilatildeo autocircnomos natildeo se datildeo sem que sejamexplicitados os lugares de poder Por isso Paulo Freire fala da reinvenccedilatildeodo ser humano e mais do que isso da reinvenccedilatildeo das relaccedilotildees pedagoacutegicasque deveriam trocar a dependecircncia pela responsabilidade

2 O m odelo educat ivo dest itui os hom ens de sua condiccedilatildeo deprodutores do conhecim ento

A concepccedilatildeo de sujeito a-histoacuterico estaacute presente no contextoescolar onde o conhecimento eacute dado como objetivo e assumido comoverdade absoluta a ser aprendida A organizaccedilatildeo do saber hierarquicamentedisciplinado como nos mostrou Juacutelia Varella na aula anterior (Aula 3Unidade I) elimina a concepccedilatildeo de sujeito como produtor de conhecimentoOs processos de p e d a g o g i z a ccedilatilde o d o s co n h e ci m e n t o s e dedisciplinam ento interno dos saberes estatildeo presentes nas praacuteticaseducacionais atuais fazendo com que tanto alunos quanto professoressejam concebidos como meros coadjuvantes

Trata-se de um treino para o bom comportamento social valorizando o lugar do expectador daquele que natildeo interfere no andamentoda aula e que deve seguir agrave risca o que eacute ditado pelo planejamentomuitas vezes elaborado pelos especialistas da educaccedilatildeo A ausecircncia deuma implicaccedilatildeo dos alunos no processo de aprendizagem eacute consequumlecircnciadesse modelo de escola que somente legitima o conhecimento que eacuteproduzido fora de seu cotidiano A sala de aula eacute assim desumanizada edestituiacuteda de vida proacutepria O mesmo processo eacute vivido pelos educadoresque aprendem no exerciacutecio profissional a praticar e valorizar a obediecircncia

Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

Fo n t e Charge deClaudius Cecconpublicada no livroCu i d a d o Esco l a (p64)

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

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5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I244

frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

255

AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I256

Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

257

No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I258

Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 4: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

213

Etapas do percurso Fontes principais

UNIDADE III Outras articulaccedilotildees para umanova montagem da psicologia educacional

- Psicologia e produccedilatildeo da autonomia- Escola como instituiccedilatildeo - um campo de relaccedilotildeesem movimento- Psicologia e Educaccedilatildeo - novas articulaccedilotildees ealgumas propostas

BOCK Ana Mercecircs Bahia (Org)Psicologia e Compromisso Social SatildeoPaulo Cortez (Cap1 p 15 - 28)2003

CAMPOS Herculano Ricardo (Org)Formaccedilatildeo em Psicologia escolar -realidades e perspectivas CampinasEd Aliacutenea (Cap5 p 109 - 134 e Cap7 p 149 - 162) 2007

MACIEL Ira Maria (Org) Psicologia eEducaccedilatildeo novos caminhos para aformaccedilatildeo Rio de Janeiro CiecircnciaModerna (Parte I p 15 - 33 e ParteIII p 213 - 229) 2001

Recursos teacutecnico-pedagoacutegicos

AVA (Ambiente Virtual de Aprendizagem)- Foacuteruns- Sala de bate-papo- Diaacuterio de bordo- Disponibilidade de arquivos de texto- Disponibilidade de arquivos com apresentaccedilotildees didaacuteticas- DesafiosViacutedeo-conferecircnciaLe itura do livro T r ilhas do Aprendente Consulta a livrosConsulta agrave WEB

Estrateacutegias

A metodologia do percurso estaacute fundada na participaccedilatildeo interaccedilatildeo e conexatildeo da teoria com ouniverso praacutetico Para tanto eacute fundamental que os(as) aprendentes visitem participem einterajam no ambiente virtual de aprendizagem e nas aulas presencias aleacutem da frequumlecircnciacontiacutenua ao Poacutelo Municipal de Apoio Presencial (PMAP) onde poderatildeo ser orientados(as)pelos(as) mediadores(as) pedagoacutegicos(as) acerca dos desafios propostos

Desafios

Os instrumentos de avaliaccedilatildeo dos(as) aprendentes seratildeo diversificados exerciacutecios escritostestes produccedilatildeo textual seminaacuterio virtual debates em foacuteruns Para avaliar tais produccedilotildeesseratildeo considerados os objetivos do componente curricular e a implicaccedilatildeo capacidade criacutetica ede reflexatildeo demonstrada pelo aprendente

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I214

REFEREcircNCIAS

Baacutesicas

ANTUNES Mitsuko Aparecida Makino A psicologia no Brasil uma leitura histoacuterica sobre suaconstituiccedilatildeo Satildeo Paulo Unimarco EdEduc 1998

BOCK Ana Mercecircs Bahia (Org) Psicologia e Compromisso Social Satildeo Paulo Cortez 2003

CAMPOS Herculano Ricardo (Org) Formaccedilatildeo em Psicologia escolar realidades eperspectivas Campinas Ed Aliacutenea 2007

MACHADO Adriana Marcondes SOUZA Marilene Proenccedila Rebello de (Org) PsicologiaEscolar em busca de novos rumos Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2004

MACIEL Ira Maria (Org) Psicologia e Educaccedilatildeo novos caminhos para a formaccedilatildeo Rio deJaneiro Ciecircncia Moderna 2001

NUNES Ligya Bojunga A casa da Madrinha Rio de Janeiro Agir 1992

Complementares

ALTMANN Helena A Influecircncia do Banco Mundial no projeto educacional brasileiro Educaccedilatildeo ePesquisa janjunho 2002 V 28 n 1 p 77-89

ALTOEacute Sonia (Org) Reneacute Lourau Analista institucional em tempo integral Satildeo Paulo EdHucitec 2004

ANDREWS S Deacuteficit de natureza Revista Eacutepoca Rio de Janeiro n 473 junho de 2007Editora Globo p 45-52

ARDUINO Jaques LOURAU Reneacute As pedagogias institucionais Satildeo Carlos Rima 2003

ARIEgraveS Philippe Histoacuteria social da infacircncia e da famiacutelia Rio de Janeiro Ed Guanabara1978

BENCINI R Comprimidos em excesso Revista Nova Escola Satildeo Paulo nordm 202 maio de 2007Editora Abril p 38-45

COSTA Marisa Vorraber A perspectiva na sala de aula e o processo de significaccedilatildeo INSILVA Luiz Heron (Org) A escola cidadatilde no contexto de globalizaccedilatildeo Petroacutepolis Vozes1999

FERNANDES Acircngela M Dias LIMA Patriacutecia Alvarenga Hiperatividade e sofrimento escolar adiferenccedila negada no cotidiano da escola IN Anais da Conferecircncia I nternacional educaccedilatildeo globalizaccedilatildeo e cidadania (miacutedia) Joatildeo Pessoa wwwsocieduca-interorg 2008

FREITAS Marcos Cezar (Org) Histoacuteria Social da Infacircncia no Brasil 6 ed Satildeo PauloCortez 2006

215

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica da autonomia SatildeoPaulo Ed Paz e Terra 1998

FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Ed Graal 1979

FRIGOTTO G A produtividade da escola improdutiva Satildeo Paulo CortezAutoresAssociados 1984

GENTILI Pablo ALENCAR Chico Educar na esperanccedila em tempos de desencantoPetroacutepolis Ed Vozes 2001

GONZALEZ REY F L Pesquisa Qualitativa em Psicologia caminhos e desafios Satildeo PauloPioneira Thompson 2002

GUATARRI Felix Revoluccedilatildeo molecular pulsaccedilotildees poliacuteticas do desejo Satildeo Paulo EdBrasiliense 1991

HARPER Babertte CECCON Claudius OLIVEIRA Miguel Darcy e OLIVEIRA Rosiska DarcyCuidado escola Desigualdade domesticaccedilatildeo e algumas saiacutedas Satildeo Paulo Ed Brasiliense1980

KAPLAN I SANDOCK B J Compecircndio de Psiquiatria Porto Alegre Artes Meacutedicas 2003

MACHADO Adriana FERNANDES Angela e ROCHA Marisa (orgs) Novos possiacuteveis noencontro da psicologia com a educaccedilatildeo Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2007

MOYSES Maria Aparecida Afonso A institucionalizaccedilatildeo invisiacutevel - crianccedilas que natildeoaprendem na escola Campinas SP Mercado de Letras Satildeo Paulo Papesp 2001

PATTO Maria Helena Sousa Psicologia e Ideologia uma introduccedilatildeo criacutetica agrave psicologiaescolar Satildeo Paulo T A Queiroz 1984

______ A produccedilatildeo do fracasso escolar histoacuterias de submissatildeo e rebeldia Satildeo Paulo T A Queiroz 1990

______ Mutaccedilotildees do cativeiro escritos de psicologia e poliacutetica Satildeo Paulo EDUSPHackerEditores 2000

______ Exerciacutecios de indignaccedilatildeo escritos de educaccedilatildeo e psicologia Satildeo Paulo Casa doPsicoacutelogo 2005

SILVA Tomaz Tadeu da (org) O sujeito da educaccedilatildeo estudos foucaultianos PetroacutepolisEd Vozes 1994

Sites indicados

wwwineporgbr

wwwpedagogiaemfocoprobrheb07ahtm

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I216

217

UNI VERSI DADE ABERTA DO BRASI LUNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIacuteBA

CURSO DE PEDAGOGI A - MODALI DADE A DI STAcircNCI APSICOLOGIA EDUCACIONAL I

Professora-pesquisadora Dra AcircNGELA MARIA DIAS FERNANDES

DESEMPENHO NO PERCURSO

Aulas Desafios PontuaccedilatildeoDesempenho

obtidoPrazo de

finalizaccedilatildeo

UNIDADE I

Aula 1

1) Esquema das principaiscorrentes de pensamentopsicoloacutegico2) Foacuterum Quais asprincipais diferenccedilas entreas correntes depensamento psicoloacutegico

20

20

Aula 2

Produccedilatildeo de texto sobre aTeoria da CarecircnciaCultural e seu percurso apartir da MedicinaPsicologia e Pedagogia

30

Aula 3

1) Glossaacuterio comconceitos dos termosPedagogizaccedilatildeo dosconhecimentos edisciplinamento dossaberes2) Chat temaacutetico

15

15

Tota l de pontos na Unidade I 100

UNIDADE II

Aula 4Foacuterum relacionando avivecircncia escolar doaprendente com o texto

30

Aula 5 Chat sobre exclusatildeo sociale escola 30

Aula 6Pesquisa de campo(entrevistas comprofessores)

40

Tota l de pontos na Unidade I I 100

UNIDADE III

Aula 7Produccedilatildeo de texto sobreautonomia e Psicologia naescola

30

Aula 8

1) Foacuterum sobre o trabalhodo professor no contoinfantil2) Chat temaacutetico

20

20

Aula 9 Foacuterum sobre propostas emPsicologia Educacional 30

Tota l de pontos na Unidade I I I 100

AVALIACcedilAtildeOPRESENCIAL

(Prova escrita)

Conteuacutedo das trecircsunidades

100 Final dopercurso

TOT AL DE PONTOS OBTI DOS NO PERCURSO

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I218

UNIDADE I

PSI COLOGI A E EDUCACcedilAtildeO ALI ANCcedilAS NA PRODUCcedilAtildeO DE UMOLHAR SOBRE A INFAcircNCIA

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 1 A CONSTRUCcedilAtildeO HI STOacuteRI CA DA PSI COLOGI A

Para estudarmos a psicologia suas teorias praacuteticas e princiacutepios metodoloacutegicos eacute necessaacuterioinicialmente termos conhecimento de sua histoacuteria e do contexto soacutecio-poliacutetico-cultural quepermitiu sua constituiccedilatildeo

1 A const ruccedilatildeo da psicologia cient iacuteficaInicialmente iremos situar a construccedilatildeo cientiacutefica da psicologia a partir das linhas claacutessicas

do pensamento psicoloacutegico behaviorismo gestaltismo funcionalismo psicologia cognitivapsicologia soacutecio-histoacuterica e psicanaacutelise

Todos os historiadores da psicologia concordam que foi Wilhen Wundt na Alemanha emmeados do Seacuteculo XIX que criou os fundamentos cientiacuteficos determinando o objeto de estudo omeacutetodo de pesquisa e os objetivos dessa nova ciecircncia Wundt afirmou a independecircncia dapsicologia em relaccedilatildeo agraves outras ciecircncias situando-a na intermediaccedilatildeo entre as ciecircncias danatureza e da cultura A experiecircncia imediata dos homens era seu foco de interesse baseandosua teoria na ideacuteia de uma unidade psicofiacutesica dos processos elementares da vida mental

No final do Seacuteculo XIX outros estudiosos se lanccedilaram naaventura da pesquisa em psicologia concordando com Wundtou se opondo a ele O Co m p o r t a m e n t a l i sm o ouBehaviorismo surge com John Watson nos EUA que discordaque o foco esteja na experiecircncia imediata Para Watson o objetode estudo da nova ciecircncia deve ser a comportamento humanoEste teoacuterico afirma que o comportamento deve ser visto comoindependente daquilo que o sujeito pensa sente deseja ou emque crecirc Jaacute no iniacutecio do Seacuteculo XX os novos comportamentalistasreordenam os estudos das interaccedilotildees entre os organismos vivose seus ambientes O psicoacutelogo americano BF ltSkinnergt sesobressai ao se referir agrave importacircncia dos condicionamentossociais no comportamento Ele afirma que as experiecircnciassubjetivas satildeo sempre construiacutedas pela sociedade sem nenhumainterferecircncia da consciecircncia ou de um eu interno e formula oconceito de condicionamento operante relacionando aaprendizagem a um sistema de reforccedilo e puniccedilatildeo

Note-se que ateacute aqui estamos trazendo as oposiccedilotildees entre duas linhas de pensamentoSituamos Wundt que afirma a importacircncia das experiecircncias imediatas no estudo do psiquismohumano e uma outra vertente que propotildee ignorar a existecircncia de tais experiecircncias na construccedilatildeoda psicologia cientiacutefica como propotildeem os teoacutericos do comportamentalismo

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

A ca ix a de Sk inn er

219

Nessa polecircmica sobre o estudo do homem podemos situar uma teoriasobremaneira importante - o ltGestaltismogt - mais conhecido comopsicologia da forma que surge na Alemanha no iniacutecio do Seacuteculo XX Emoposiccedilatildeo clara a J Watson seus mais importantes representantes foramMax Wetheimer Kurt Koffka e Wolfgan Koller Seus estudos partiam daexperiecircncia imediata utilizando como meacutetodo a fenomenologia Segundo

esses estudiosos os fenocircmenos da percepccedilatildeo da memoacuteria e da afetividade eram vivenciadossob a forma de estruturas Eles recusavam a ideacuteia de Watson para quem o comportamento eraunicamente dependente do estiacutemulo (relaccedilatildeo conhecida como estiacutemulo-resposta ou E-R) afirmandoque a forma resultante de um processo de percepccedilatildeo era muito mais que a soma das partes Ogestaltismo trazia como preocupaccedilatildeo central a necessidade de se relacionar a experiecircncia imediatados sujeitos com a natureza fiacutesica e bioloacutegica e com o mundo dos valores socioculturais

Outra importante corrente surgida na passagem do SeacuteculoXIX para o Seacuteculo XX nos EUA foi o Funcionalismo Maisconhecido por suas teses adaptacionistas traz uma grandeinfluecircncia das teorias evolucionistas de lt Charles Darw ingt Os estudiosos dessa corrente admitiam a possibilidade de seestudar a mente por meio dos comportamentos e para a suasobrevivecircncia o ser humano deveria adaptar-se agraves condiccedilotildeesambientais John Dewey foi o que mais trouxe contribuiccedilotildees nocampo da educaccedilatildeo afirmando que o ensino deveria orientar-se para o aluno e natildeo para o assunto Acreditava com issoque se poderia formar o ser humano adaptando-o agravesnecessidades da sociedade por meio da educaccedilatildeo

As receacutem estruturadas sociedades industriais capitalistas iratildeo indicar para a correnteadaptacionista uma importante tarefa a de cont r ibuir com invest igaccedilotildees cient iacutef icas sobre oshomens com o objetivo de melhor adaptaacute-los agrave nova ordem social A psicologia se desenvolveno iniacutecio do Seacuteculo XX com a construccedilatildeo de instrumentos de mensuraccedilatildeo da inteligecircncia e dapersonalidade Os testes psicoloacutegicos propostos pelos pesquisadores eram utilizados nosprocedimentos de seleccedilatildeo e orientaccedilatildeo no trabalho e na escola Tanto nos EUA com FrancisGalton quanto na Franccedila com Binet e Simon assiste-se ao desenvolvimento da psicometriautilizada na educaccedilatildeo como forma de conhecer as caracteriacutesticas de cada sujeito Esseconhecimento serviria para justificar a partir das diferenccedilas individuais a distribuiccedilatildeo em classessociais distintas colocando fora de questionamento a desigualdade social e distribuiccedilatildeo desigualde oportunidades

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

O filme Tempos Modernos de Charles Chaplin jaacute foiobjeto de reflexotildees no MarcoI Caso deseje revecirc-lo dirija-se ao Poacutelo Municipal de ApoioPresencial de sua cidade

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I220

A configuraccedilatildeo do objeto de estudos da psicologia centrada no indiviacuteduo afasta a necessidadede uma anaacutelise contextualizada da sociedade onde os sujeitos estatildeo inseridos assim como suaforma de inserccedilatildeo Nas sociedades marcadas pela divisatildeo em classes e cuja base eacute o modelocapitalista de produccedilatildeo difunde-se a crenccedila na igualdade de oportunidades minimizando ainfluecircncia do modo de produccedilatildeo na localizaccedilatildeo dos sujeitos na estrutura social As diferenccedilasindividuais satildeo utilizadas para mascarar a impossibilidade de que a as oportunidades sejam iguaispara todos Assim aprofunda-se a marca principal da psicologia desde sua criaccedilatildeo a de selecionarorientar adaptar e racionalizar a existecircncia humana em nome da produtividade e da eficaacutecia

Podemos situar ainda a Psicologia Cognitiva como outracorrente que se oporaacute aos princiacutepios do ComportamentalismoltJean Piagetgt eacute um importante estudioso do desenvolvimentoinfantil cuja base satildeo as estruturas cognitivas A criacutetica agraveobjetividade cientiacutefica observada nas teorias comportamentaise funcionalistas eacute um importante fundamento desse caminhode pensamento sobre o ser humano e traraacute enormescontribuiccedilotildees para a educaccedilatildeo

Lev Vygotsky psicoacutelogo russo propocircs no iniacutecio do Seacuteculo XX uma nova teoria a PsicologiaSoacutecio-histoacuterica que parte da afirmaccedilatildeo da construccedilatildeo social do conhecimento e da importacircnciada mediaccedilatildeo da educaccedilatildeo da escola e do professor nos processos de ensino e de aprendizagemTrata-se de um importante passo na direccedilatildeo de relacionar o individual e o social na compreensatildeodo psiquismo humano

Sigmund Freud o criador da ltPsicanaacutelisegt eacute tambeacutemsituado no campo dos estudiosos da gecircnese do sujeito Emoposiccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees positivistas e objetivadoras dofuncionalismo psiacutequico Freud iraacute definir o inconsciente comoobjeto de estudo Ele concebe a ideacuteia de uma subjetividadecindida e incompleta recusando o eu como centro dopsiquismo o que torna a psicanaacutelise uma teoria original

2 Desenvolvim ento da psicologia no seacuteculo XX

A partir dessas correntes claacutessicas (behaviorismo gestaltismo funcionalismo psicologiacognitiva psicologia soacutecio-histoacuterica e psicanaacutelise) observa-se na histoacuteria da psicologia o surgimentode outras teorias e estrateacutegias de atuaccedilatildeo Podemos destacar nesse processo as teorias ligadasagrave psicologia dos grupos a teoria humanista as teorias da subjetividade e aquelas que surgem apartir do movimento institucionalista

Os estudiosos da histoacuteria da psicologia assinalam o meacutedicoJ Prattes como o pioneiro nos trabalhos com grupos em 1906mas eacute consensual a afirmaccedilatildeo de que foi Moreno psiquiatraromeno que na deacutecada de 1930 nos EUA idealizou olt p sico d r a m a gt uma passagem da arte dramaacutetica agravepsicoterapia

O alematildeo Kurt Lewin eacute tambeacutem situado no campo das psicoterapias de grupo incrementadas

D ivatilde u t i l iz a do pe lo psica n a l ist a ee x p o st o n o M u se u Fr e u d e mLon d r e s

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

221

pelas condiccedilotildees do poacutes-guerra (deacutecada de 1940) impondo a necessidade de expansatildeo dostrabalhos de sauacutede mental e de recuperaccedilatildeo imediata da matildeo-de-obra deteriorada Em 1944Lewin criou o conceito de dinacircmica de grupo afirmando que o grupo eacute mais do que a soma dassuas partes e que quando haacute modificaccedilatildeo de uma das partes a estrutura grupal se modificaOutro teoacuterico da psicologia dos grupos eacute o argentino Pichoacuten Riviegravere que estruturou a estrateacutegiado grupo operativo que considerava que um grupo soacute se estruturava quando estivesse operandosobre uma tarefa

Como pode ser observado ateacute esta etapa de nossa aula a partir da segunda guerramundial a psicologia fortalece seu interesse pelo social natildeo soacute no campo da pesquisa considerandosua repercussatildeo na constituiccedilatildeo dos sujeitos como tambeacutem enquanto espaccedilo de intervenccedilatildeo emorganizaccedilotildees (hospitais escolas faacutebricas sindicatos etc)

As teorias ligadas agrave Psicologia Humanista constituem outro importante espaccedilo de praacuteticasna qual se sobressaem Carl Rogers da Abordagem Centrada na Pessoa e alguns teoacutericos dagestalt-terapia e da Bioenergeacutetica traduzindo muito bem uma forma mais intimista de responderaos acontecimentos dos anos de 1960 e 1970 Priorizando o corpo o auto-conhecimento e aliberaccedilatildeo dos sujeitos os autores humanistas centram sua preocupaccedilatildeo na adaptaccedilatildeo do homemao meio de forma criativa e ativa

Ainda nas deacutecadas de 1950 e 1960 assiste-se a um movimento de resistecircncia principalmentena Europa que se faz presente nos hospitais e nas escolas aliando a psicologia a sociologia aeducaccedilatildeo e a psiquiatria O Movimento Institucionalista nasce de uma criacutetica agrave organizaccedilatildeohieraacuterquica e centralizadora tanto nos hospitais psiquiaacutetricos quanto nas organizaccedilotildees escolaresconstituindo-se a Psicoterapia I nst itucional (1950) e mais tarde (1962) a PedagogiaInstitucional A Psicossociologia Institucional significa um avanccedilo no processo de autogestatildeoe juntamente com os anti-institucionalistas (Lang Cooper e Ivan Illich) iraacute criar as condiccedilotildeespara o surgimento de uma outra perspectiva de intervenccedilatildeo em 1963 conhecida como AnaacuteliseInstitucional

Por sua criacutetica agrave sociedade capitalista e aoconservadorismo os institucionalistas relacionam-se comos ltmovimentos da contra-cultura na Franccedilagt e emoutros paiacuteses e elaboram inspirados em conceitos devaacuterias correntes da psicologia da sociologia e da filosofiapropostas de investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Essas ideacuteiassatildeo representadas principalmente pelos franceses ReneacuteLourau Felix Guattari e Georges Lapassade

No Brasil apoacutes a ditadura militar essas formulaccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas encontraramum terreno feacutertil junto a psicoacutelogos implicados com os movimentos sociais propondo um conjuntode ferramentas proacuteprias para a intervenccedilatildeo em instituiccedilotildees conceituadas como praacuteticas sociaise para a compreensatildeo das subjetividades

Nas duas uacuteltimas deacutecadas do Seacuteculo XX e iniacutecio do Seacuteculo XXI a partir dos avanccedilos dacomunicaccedilatildeo da expansatildeo de outras linguagens como a informaacutetica e do surgimento de novasproblemaacuteticas sociais configuram-se teorias e proposiccedilotildees centradas algumas delas tambeacutemno conceito de Subjetividade Fernando Gonzaacutelez Rey identifica na histoacuteria desse conceito umprocesso de ruptura com a psicologia cientiacutefica objetiva e neutra tendo significado um desafio

Paris em 1968

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na afirmaccedilatildeo de uma psique que se constroacutei a partir de uma visatildeo cultural em uma dimensatildeocomplexa e dialeacutetica Esse estudioso da psicologia aponta a obra de Vygotsky pouco valorizadano Ocidente ateacute muito recentemente como um marco na definiccedilatildeo do conceito de subjetividade

A psicanaacutelise e a psicologia soacutecio-histoacuterica de L Vygotsky e outras linhas de pensamentotecircm sido revistas em associaccedilatildeo com diversas aacutereas do conhecimento inaugurando um caminhointerdisciplinar

Nesses uacuteltimos trinta anos ainda as teorias comportamentais vecircm buscando sua renovaccedilatildeomediante o aprimoramento das teacutecnicas quantitativas de avaliaccedilatildeo de valores sociais e de programasde assistecircncia e e intervenccedilotildees no campo da cogniccedilatildeo e do treinamento comportamental

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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AULA 2 PSI COLOGI A E EDUCACcedilAtildeO NO BRASI L COMPROMI SSOS E ALI ANCcedilAS

Como vimos na aula anterior a constituiccedilatildeo da psicologia comociecircncia data de meados do Seacuteculo XIX com Wundt na AlemanhaNesse periacuteodo de mais de um seacuteculo de construccedilotildees teoacutericas eproposiccedilotildees praacuteticas constatamos a existecircncia de uma variedadede olhares sobre o homem e seu funcionamento psiacutequico Percebemosao longo da histoacuteria da psicologia que natildeo existe um pensamentouacutenico e que o contexto soacutecio-histoacuterico e a forma como o psicoacutelogopesquisador compreende o mundo e nele se insere seratildeo umimportantes fatores que determinaratildeo a proposta formulada

No Brasil assistiremos a um processo que segundo algunspsicoacutelogos brasileiros preocupados com a historiografia dessaciecircncia tem relaccedilatildeo com as experiecircncias de colonizaccedilatildeo eafirmaccedilatildeo dos interesses de uma classe dominante fortementemarcada por teorias racistas e eugecircnicas alimentadas pela obrade Charles Darwin e suas consequumlecircncias para o estudo dohomem O impulsionamento da psicologia como ciecircncia no Brasileacute relacionado a necessidades impostas pelo desenvolvimentourbano-industrial agraves novas formas de ocupaccedilatildeo das cidadesditadas pela Repuacuteblica e ao reordenamento da forccedila de trabalhona direccedilatildeo da escola preferencialmente profissionalizante

A constituiccedilatildeo da psicologia desde fins do Seacuteculo XIX e iniacuteciodo Seacuteculo XX deu-se em estreita articulaccedilatildeo com a educaccedilatildeo e amedicina podendo-se afirmar que a psicologia foi gerada no interiordessas duas aacutereas de conhecimento sendo nesses campos em quedesenvolveraacute seu projeto de autonomizaccedilatildeo como demonstra MitzukoAntunes em seu estudo a ltPsicologia no Brasil leitura histoacutericasobre sua constituiccedilatildeogt

A atuaccedilatildeo da psicologia junto agraves instituiccedilotildees de sauacutede noiniacutecio do Seacuteculo XX fez-se em nome do controle social com sentidopreventivista e eugecircnico A psiquiatria e o higienismo quecaracterizaram a medicina da eacutepoca clamaram pela participaccedilatildeo dapsicologia na detecccedilatildeo da anormalidade como tambeacutem na prevenccedilatildeo de problemas sociais quepoderiam advir relacionados agrave presenccedila das raccedilas que eram consideradas inferiores e que poderiamperturbar a ordem na vida urbana

A Liga Brasileira de Higiene Mental criada em 1920 representou de maneira radical essesideais tendo se colocado abertamente a favor do aperfeiccediloamento da raccedila (ariana) e contra osnegros e mesticcedilos que eram caracterizados pelas teorias racistas da eacutepoca como indolentesdegenerados preguiccedilosos e sujeitos a enfermidades por sua natureza e iacutendole Os princiacutepios da

Antes de prosseguir aleitura da aula volte agraveaula anterior e revejaquais as principaiscorrentes dapsicologia no processode sua construccedilatildeohistoacuterica

Dirija-se agrave bibliotecado Poacutelo Municipal deApoio Presencial e faccedilaa leitura dos capiacutetulos1 e 2 da Parte II dolivro de MitzukoAntunes (p 37-85)

Trabalhadores da Faacutebricade Tecidos Videira

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higienizaccedilatildeo e da disciplinarizaccedilatildeo da sociedade iratildeo caracterizar o trabalho nas instituiccedilotildeespsiquiaacutetricas preocupadas com uma intervenccedilatildeo para aleacutem do encarceramento da loucura

Apesar da diversidade de pesquisas que se desenvolviam em outros paiacuteses no Brasil ainfluecircncia da pesquisa experimental baseada na psicometria ocorreu de forma hegemocircnica ateacute

pelo menos a deacutecada de 1980

Nas instituiccedilotildees educacionais a preocupaccedilatildeo central era com o analfabetismo e a falta deinstruccedilatildeo do povo brasileiro em um paiacutes em franco desenvolvimento e requisitando uma matildeo-de-obra conhecedora pelo menos da leitura e da escrita Vaacuterios movimentos pela difusatildeo e ampliaccedilatildeoda escola puacuteblica e gratuita surgiram no paiacutes mostrando diferentes ideais de sociedade que vatildeodesde a preparaccedilatildeo para o trabalho ateacute uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo como emancipadora dopovo em uma luta contra a opressatildeo colonialista Nesse quadro a demanda dos profissionais daeducaccedilatildeo no sentido de construir uma pedagogia moderna e cientiacutefica fez da psicologia seuprincipal ponto de sustentaccedilatildeo uma vez que fornecia as bases de conhecimento sobre osindiviacuteduos o processo de desenvolvimento psiacutequico as vocaccedilotildees emoccedilotildees e a organizaccedilatildeo dapersonalidade

A preocupaccedilatildeo com o indiviacuteduo e com as teacutecnicas que pudessem instrumentalizar a praacuteticaeducativa fez surgir no Brasil no iniacutecio do Seacuteculo XX uma seacuterie de Laboratoacuterios e Institutosvoltados para a pesquisa psicoloacutegica destacando-se o Pedagogium depois transformado emLaboratoacuterio de Psicologia Experimental no Rio de Janeiro o Instituto de Psicologia de Pernambucoa Escola de Aperfeiccediloamento Pedagoacutegico de Belo Horizonte e o Laboratoacuterio de PedagogiaExperimental de Satildeo Paulo Nesse periacuteodo surgem as Escolas Normais encarregadas da formaccedilatildeode professores

No processo de constituiccedilatildeo cientiacutefica da pedagogia e de afirmaccedilatildeo da psicologia oslaboratoacuterios e institutos de pesquisa vatildeo sendo incorporados a essas escolas A instalaccedilatildeo desalas de exame psicoloacutegico e de afericcedilatildeo antropomeacutetrica seguia a demanda de higienizaccedilatildeo dapopulaccedilatildeo vigente na eacutepoca e era inspirada nas pesquisas trazidas da Europa e dos EUA queprivilegiavam a psicometria de modo geral Apesar da pouca inserccedilatildeo nas escolas oficiais essapraacutetica serviu para difundir e legitimar o discurso cientiacutefico utilizado para explicar a localizaccedilatildeo decada indiviacuteduo na estrutura social A existecircncia de diferenccedilas individuais era o principal argumentodesse discurso sendo desconsideradas desse esquema de causalidade as imposiccedilotildees da sociedadecapitalista industrial e sua principal base que eacute a divisatildeo em classes sociais com chances epossibilidades desiguais

Em um estudo sobre a disciplina na sociedade moderna em que analisa o funcionamento doGabinete de Antropologia e Psicologia Pedagoacutegica de Satildeo Paulo Marta Carvalho afirma

Neste horizonte criteacuterios raciais nem sempre explicitados traccedilavam os limitesdas boas intenccedilotildees republicanas operando a distinccedilatildeo entre populaccedilotildeeseducaacuteveis capazes portanto de cidadania e populaccedilotildees em que o peso dahereditariedade (leia-se raccedila ) era a marca de um destino que a educaccedilatildeo

era incapaz de alterar (CARVALHO 2006 p 299)

A partir da deacutecada de 1920 e principalmente de 1930 o ideaacuterio escolanovista baseadonos princiacutepios da modernidade fez-se mais presente na educaccedilatildeo brasileira mobilizando os

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educadores na luta contra os elevados iacutendices de repetecircncia eevasatildeo na escola puacuteblica A educaccedilatildeo era compreendida comoa base de uma sociedade saudaacutevel que precisava ser moralmentepreparada para o trabalho

Os novos intelectuais se uniram em torno da crenccedila de que a sauacutede e a educaccedilatildeo eramfatores capazes de promover a necessaacuteria regeneraccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira A preocupaccedilatildeocom o rendimento na escola promoveu a incorporaccedilatildeo do ltmodelo tayloristagt de produccedilatildeofabril afirmando na educaccedilatildeo as posiccedilotildees tecnicistas norteadas pela eficiecircncia e eficaacutecia dasaccedilotildees No trecho abaixo Maria Helena de Souza Patto (2003) expressa o significado dainfluecircncia desse modelo produtivo na educaccedilatildeo ao identificar um vieacutes adaptacionista naproduccedilatildeo em seacuterie de alunos perfeitamente adaptados aos diferentes lugares que lhes seratildeo

destinados numa realidade social inquestionada

Eis a via da naturalizaccedilatildeo da desigualdade que temorigem na maneira como a sociedade se estrutura maseacute lida como diferenccedila bioloacutegica ou psicoloacutegica deaptidatildeo intelectual entre grupos e indiviacuteduos (PATTO2003 p 33)

O movimento chamado Escola Nova esboccedilou-se na deacutecada de 1920 no Brasil

O mundo vivia agrave eacutepoca um momento de crescimento industrial e de expansatildeourbana e nesse contexto um grupo de intelectuais brasileiros sentiu necessidadede preparar o paiacutes para acompanhar esse desenvolvimento A educaccedilatildeo era poreles percebida como o elemento-chave para promover a remodelaccedilatildeo requerida

Inspirados nas ideacuteias poliacutetico-filosoacuteficas de igualdade entre os homens e do direitode todos agrave educaccedilatildeo esses intelectuais viam num sistema estatal de ensinopuacuteblico livre e aberto o uacutenico meio efetivo de combate agraves desigualdades sociaisda naccedilatildeoDenominado de Escola Nova o movimento ganhou impulso na deacutecada de 1930apoacutes a divulgaccedilatildeo do lt Manifesto da Escola Novagt (1932) Nesse documentodefendia-se a universalizaccedilatildeo da escola puacuteblica laica e gratuita Entre os seussignataacuterios destacavam-se os nomes de Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo

Lourenccedilo Filho e Ceciacutelia Meireles

Para ler o Manifesto dosPioneiros acessewwwpedagogiaemfocoprobrheb07ahtm

O americano lt Freder ick Taylorgt considerado o pai da organizaccedilatildeo cientiacutefica dotrabalho propocircs um modelo de produccedilatildeo industrial aliando eficaacutecia e eficiecircnciaSua preocupaccedilatildeo era com o sistema produtivo e natildeo com o homem negando aotrabalhador qualquer manifestaccedilatildeo criativa ou participaccedilatildeo O ideaacuterio tayloristafoi transposto para a educaccedilatildeo promovendo uma valorizaccedilatildeo do tecnicismo tendocomo efeitos a fragmentaccedilatildeo e a hierarquizaccedilatildeo do ensino e do conhecimento

Dirija-se ao PMAP pararealizar a leitura do texto Oque a h ist oacuter ia pode dizerso b r e a p r o f i ssatilde o d op si coacute l o g o a r e l a ccedilatilde opsicologia e educaccedilatildeo deMaria Helena de S Patto nolivro P si co l o g i a ecompromisso social

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Associada agrave escola nova a psicologia continuou fornecendo os subsiacutedios cientiacuteficos para oconhecimento das possibilidades individuais e das dificuldades escolares natildeo mais identificadascomo efeito da hereditariedade e da raccedila mas da organizaccedilatildeo e dos haacutebitos familiares e doambiente soacutecio-cultural Manteacutem-se a utilizaccedilatildeo dos instrumentos de avaliaccedilatildeo psicoloacutegica cadavez mais associada agrave pesquisa sobre o fracasso escolar e centrada no aluno e nos processos deaprendizagem

Na deacutecada de 1950 amplia-se para aleacutem do aluno o campo de pesquisa educacional praticadaprincipalmente nos institutos ligados ao governo que tinham em seus quadros o psicoacutelogoLourenccedilo Filho um dos precursores do escolanovismo A escola reafirmava sua posiccedilatildeo comoelemento fundamental no desenvolvimento da sociedade e era defendida enquanto prioridade nademocratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo e das chances oferecidas aos sujeitos

O periacuteodo de 1960 ateacute meados da deacutecada de 1970 tem como o eixo principal a Teoria doCapital Humano Em estudo sobre essa teoria e sua influecircncia no modelo educacional brasileiroGaudecircncio Frigotto em seu livro A produtividade da escola improdutiva afirma que

Do ponto de vista macroeconocircmico o investimento no fator humano passa asignificar um dos determinantes baacutesicos para o aumento da produtividade eelemento de superaccedilatildeo do atraso econocircmico Do ponto de vistamicroeconocircmico constitui-se no fator explicativo das diferenccedilas individuais deprodutividade e renda e consequumlentemente de mobilidade social (FRIGOTTO1984 p 172)

Comungando com os interesses do ltregime militargt vigentenesse periacuteodo a psicologia voltou-se ainda mais para a avaliaccedilatildeodas capacidades e habilidades psiacutequicas associadas ao investimentoindividual e ao rendimento escolar

Nos proacuteximos anos (a partir de 1970) a Teoria da CarecircnciaCultural de origem norte-americana iria influenciar a pesquisa sobreo fracasso escolar colaborando com a construccedilatildeo de um discursoque mantinha a linha de causalidade que culpava o aluno por seuinsucesso na escola Um dos aspectos principais dessa teoria eacute aafirmaccedilatildeo de que a escola eacute inadequada agraves caracteriacutesticas psiacutequicasda crianccedila pobre Esta teoria parte da existecircncia de um supostodeacuteficit considerado natural na populaccedilatildeo pobre o qual impede queas crianccedilas aproveitem as oportunidades oferecidas pela sociedadeA desigualdade social produto da sociedade cindida em classes e obaixo desempenho na escola e no trabalho satildeo ltnaturalizadosgtcom a participaccedilatildeo ativa dos elementos cientiacuteficos emprestados pelapsicologia

Eacute a partir do final dessa deacutecada de 1970 e de modo maispotente na deacutecada de 1980 que comeccedilam a ser construiacutedos outrosespaccedilos de reflexatildeo e de praacuteticas que significaratildeo a abertura denovos caminhos tanto na educaccedilatildeo quanto na psicologia Inaugura-se uma possibilidade de anaacutelise criacutetica do sistema educacionalapontando relaccedilotildees com a estrutura soacutecio-econocircmica vigente que

Alguns ditos popularesservem para esteprocesso fazendo comuma afirmaccedilatildeo sejacompreendida comon a t u r a l inquestionaacutevel

Q u e m t r a b a l h asem pre alcanccedila

O trabalho enobreceo hom em

A cada um segundosuas possibilidades

Ouccedila a muacutesica M e uca r o a m i g o composta por ChicoBuarque de Holandadurante seu exiacutelio naFranccedila Para issouti l ize ocd-rom doAprendente

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alavancam uma criacutetica da psicologia sobre si mesma Satildeo os novos tempos do fim da ditaduramilitar e da democratizaccedilatildeo no Brasil

Eacute a partir de meados da deacutecada de 1980 que a pesquisa em psicologia comeccedila a tentarromper com as alianccedilas que a constituiacuteram como base do discurso eugecircnico higienista e nosuacuteltimos anos pelo menos preconceituoso

No campo da pesquisa ressaltam-se os trabalhos de MariaHelena Sousa Patto que afirma o compromisso ideoloacutegico da psicologiacom os ideais das classes dominantes montando teorias que servissempara explicar as desigualdades sociais (1984) inaugurando um campode criacutetica importante para as posteriores investigaccedilotildees teoacutericas eintervenccedilotildees educacionais Em estudo posterior Patto nos permiteavanccedilar na compreensatildeo do fracasso escolar como uma produccedilatildeosocial e natildeo como decorrecircncia de problemas individuais proacuteprios dapobreza inaugurando uma forte criacutetica agrave lt Teoria da CarecircnciaCultural (1990)gt

Mesmo anunciando esse caminho de construccedilatildeo de umapsicologia criacutetica e baseada em compromissos sociais eacute importanteque se tenha claro que ainda vigoram nas escolas e na sociedadevaacuterias afirmaccedilotildees que se assentam nos trilhos da Teoria da CarecircnciaCultural Essas ideacuteias penetram com muita facilidade no cotidiano daescola e nos debates do senso comum uma vez que coincidem com anecessidade de predomiacutenio dos princiacutepios da sociedade capitalistapor meio de um discurso hegemocircnico

Por isso CUIDADO Sinal Vermelho Na proacutexima Unidadevoltaremos a esses caminhos e agraves proposiccedilotildees e intervenccedilotildees praacuteticasda psicologia daiacute decorrentes Esse procedimento pode contribuirpara que vocecirc nosso aprendente venha a diferenciar praacuteticas ediscursos e reconhecer a que visatildeo de homem de mundo e desociedade estatildeo servindo

Antes poreacutem de dar esse passo em nossa trilha iremos analisar os processos de construccedilatildeodo conhecimento enquanto marcados pelo exerciacutecio do poder que se efetivam no cotidianoescolar trazendo a disciplina como questatildeo teoacuterica e sua gecircnese como objeto de estudo

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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A Teoria da CarecircnciaCultural fois u f i c i e n t e m e n t einvestigada por MariaHelena Sousa Pattoprincipalmente em trecircspublicaccedilotildees Psicologiae I d eo l o g i a u m ai n t r o d u ccedilatildeo c r iacutet i ca agravep s i co l o g i a esco l a r(1984) A produccedilatildeo dof r acasso esco l a r histoacuter ias de subm issatildeoe rebeldia (1990) e notexto Para um a criacutet icada razatildeo psicom eacutet r icapublicado no l ivroMutaccedilotildees do cativeiro(2000 p 5)

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AULA 3 CONHECI MENTO SABER E PODER UM OLHAR SOBRE A I NFAcircNCI AESCOLARIZADA

Ateacute esta etapa de nosso caminho estudamos a construccedilatildeo das teorias psicoloacutegicas e ahistoacuteria da articulaccedilatildeo entre a psicologia a medicina e a pedagogia no Brasil constituindoalianccedilas em nome de uma abordagem cientiacutefica dos problemas educacionais

A partir de agora promoveremos outro tipo de investigaccedilatildeo para que seja possiacutevel umamaior compreensatildeo do cotidiano escolar com base na anaacutelise das praacuteticas educativas e dasrelaccedilotildees sociais que se estabelecem entre alunos profissionais e comunidades

Nosso ponto de partida seratildeo os estudos de Philippe Ariegraves publicados no livro Histoacuteriasocial da infacircncia e da fam iacutelia que demonstram o surgimento das instituiccedilotildees educativas namodernidade caracterizadas por dar sentido a uma infacircncia que passa a ser vista como naturalmentefraacutegil A educaccedilatildeo impositiva moralizante e disciplinadora se justifica pela necessidade de formaros sujeitos que a sociedade comeccedila a conceber como corpos que necessitam de cuidados porquesatildeo deacutebeis e fracos Ariegraves parte da ideacuteia de que esse sentimento de infacircncia tem origem com aemergecircncia da sociedade burguesa e eacute fortalecido pela accedilatildeo dos jesuiacutetas

Para melhor compreender os efeitos da educaccedilatildeo na constituiccedilatildeo dessa infacircncia podemosrecorrer ao filoacutesofo francecircs Michel Foucault quando ele aponta em seu livro Microfiacutesica do Poder(1979) que a disciplina eacute uma teacutecnica de exerciacutecio de poder que foi natildeo inteiramente inventadamas elaborada em seus princiacutepios fundamentais durante o seacuteculo XVIII (p 105) O autor nosentido de melhor esclarecer a origem da disciplina nas sociedades ocidentais afirma que essa eacuteuma arte de distribuiccedilatildeo dos homens no espaccedilo baseada na individualizaccedilatildeo dos corpos (p

105) A disciplina que se exerce sobre cada corpo isoladamente eacute uma praacutetica que permite aclassificaccedilatildeo dos sujeitos observados e controlados A vigilacircncia deve ser permanente para que adisciplina seja conseguida

Foucault ressalta a importacircncia das praacuteticas de exame (provas avaliaccedilotildees) e de penalizaccedilatildeoou castigo como formas de fazer com que os sujeitos internalizem o poder Quanto mais a morale a disciplina forem sentidas como necessaacuterias agrave existecircncia humana mais sucesso teraacute o processode disciplinamento e controle social A citaccedilatildeo a seguir sintetiza a anaacutelise de Foucault sobre essetema

Escola s n a h ist oacuter ia da h um a nida de

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A disciplina eacute o conjunto de teacutecnicas pelas quais os sistemas de poder vatildeo terpor alvo e resultado os indiviacuteduos em sua singularidade Eacute o poder deindividualizaccedilatildeo que tem o exame como instrumento fundamental O exame eacutea vigilacircncia permanente classificatoacuteria que permite distribuir os indiviacuteduosjulgaacute-los medi-los localizaacute-los e por conseguinte utilizaacute-los ao maacuteximo(FOUCAULT 1979 p107)

Retomando as contribuiccedilotildees de Philippe Ariegraves vimos que a modernidade instaura umaseparaccedilatildeo entre o mundo dos adultos e das crianccedilas e para tanto organiza novas formas eespaccedilos de educaccedilatildeo Os coleacutegios (educaccedilatildeo em preacutedios fechados) o mobiliaacuterio (bancos escolaresbirocirc etc) a separaccedilatildeo em classes (inicialmente por conhecimento e mais recentemente poridades e ainda por localizaccedilatildeo na estrutura social) satildeo intervenccedilotildees protagonizadas desde oSeacuteculo XV ateacute os dias de hoje com o objetivo de instruir e moralizar a sociedade

A ideacuteia de que a infacircncia eacute uma produccedilatildeo social natildeo eacute mais novidade para noacutes Temosdebatido durante nosso percurso que o sentimento que hoje temos com relaccedilatildeo agrave infacircnciaapareceu no momento em que a famiacutelia burguesa se distinguiu como elemento central da sociedadecom a preocupaccedilatildeo de formar homens honrados e moralmente constituiacutedos A sociedade maisespecificamente a igreja catoacutelica comeccedila a valorizar a propriedade de bens centrada nas matildeosde nuacutecleos familiares A famiacutelia volta-se para si mesma resguardando seus membros exigindoassim uma educaccedilatildeo rigorosa dos herdeiros

A partir dessas colocaccedilotildees sobre uma disciplina (escolar) que eacute exigida para que a sociedadeexerccedila controle sobre os homens podemos ainda aceitar a ideacuteia de que os conhecimentossaberes ministrados nos coleacutegios foram igualmente objetos de disciplinarizaccedilatildeo isto eacute de umaintervenccedilatildeo para que servissem aos interesses da reforma moral cristatilde e depois laica (SeacuteculoXVIII)

Juacutelia Varella no texto intitulado O estatuto do saber pedagoacutegico (publicado em O sujeitoda Educaccedilatildeo 4 ed 2000) identifica na passagem do Renascimento para a Modernidade umapedagogizaccedilatildeo dos conhecimentos que significa um novo ordenamento dos saberes de acordocom os interesses moralizantes e disciplinadores que emanam da igreja catoacutelica e dos coleacutegiosjesuiacutetas Conforme demonstra essa autora

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O olhar invisiacutevel podeser representado peloPanopticon de Benthanque permite ver tudosem ser visto produzindono aluno a disciplina pelomedo do exame e docastigo

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Para levar adiante seu projeto de formaccedilatildeo de bons cristatildeos os mestresjesuiacutetas natildeo apenas reforccedilaram o estatuto conferido agrave infacircncia com a opccedilatildeode educaacute-la em espaccedilos fechados nos coleacutegios mas sentiram tambeacutem anecessidade de controlar os saberes que iam transmitir e de organizar essessaberes de tal forma que se adequassem agraves supostas capacidades infantis(VARELLA 2000 apud SILVA 1994 p 88)

Os mestres jesuiacutetas se converteram em autoridades maacuteximas exercendo um poder sobreseus alunos retirando toda a possibilidade vivenciada na Idade Meacutedia de autonomia no estudoForam desenvolvidas estrateacutegias e teacutecnicas que tinham como objetivo dirigir ao conhecimento omesmo sentido moralizante que vinha sendo dado agrave formaccedilatildeo dos alunos A disciplina e a ordemnas salas de aula passaram a ser elementos necessaacuterios nesse processo de penalizaccedilatildeo emoralizaccedilatildeo

Em segundo lugar Juacutelia Varella reconhece a existecircncia de um processo que se daacute no interiorda produccedilatildeo do conhecimento o disciplinamento interno dos saberes eliminando o que eraconsiderado como saberes inuacuteteis segundo as normas de moralizaccedilatildeo e reordenando umacomunicaccedilatildeo entre esses retirando-lhes a forccedila e a intensidade Nesse processo eacute importanteque se promova ainda uma classificaccedilatildeo e hierarquizaccedilatildeo entre os saberes promovendo umacentralizaccedilatildeo de cima para baixo As fronteiras entre a histoacuteria a geografia e a sociologia foramtraccediladas por exemplo pela humanidade assim como a orientaccedilatildeo no processo de ensino-aprendizagem do que deve ser ensinado primeiro e qual saber eacute mais nobre isto eacute que deveocupar o topo de todos os conhecimentos

Os processos que foram aos poucos se instaurando apartir do Seacuteculo XVI produziram censura e controle e mais doque isso devido agraves divisotildees impostas que delimitavam as aacutereasde saberes (conhecimentos) buscavam eliminar a ideacuteia dohomem universal acentuando a possibilidade de tornar doacuteceisos corpos (os sujeitos) mediante essa praacutetica disciplinar impostana produccedilatildeo dos saberes Se anteriormente na Idade Meacutedia oaluno detinha um poder sobre o que queria aprender e ondebuscar o conhecimento na era da modernidade essapossibilidade passa a ser inexistente O aluno perde o poder sobre seus caminhos passando a sercompreendido como um mero elemento de transmissatildeo de conhecimento Natildeo mais pode escolhero que deve ser aprendido tampouco o ritmo desse aprendizado ou o que fazer do conhecimentoadquirido A grade de disciplinas hoje tatildeo naturalmente absorvida por todos noacutes em qualquercurso eacute uma produccedilatildeo social e serve a esses interesses de tornar doacutecil o corpo a ser disciplinadoAprendemos esse ordenamento dos saberes e passamos a respeitaacute-los como se fossemincontestaacuteveis naturais e acima de tudo necessaacuterios

Michel Foucault jaacute citado anteriormente reconhece nesse processo a emergecircncia dasociedade disciplinar que funciona confinando aprisionando os homens agraves escolas agraves prisotildeesagraves igrejas aos hospitais agraves faacutebricas etc

Os processos descritos acima por Juacutelia Varella podem ser reconhecidos ateacute hoje nas praacuteticasescolares Poreacutem com a intervenccedilatildeo das miacutedias e dos novos equipamentos sociais jaacute se pode

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identificar um controle que natildeo mais iraacute somente confinar isolar os estudantes nas escolas osloucos nos asilos e os empregados nas faacutebricas para que sejam produtivos

Trata-se da emergecircncia da sociedade de controle que atua de forma contiacutenua Entramem accedilatildeo a TV os microcomputadores e os celulares que permitem conhecer e conectar o mundoa partir de um uacutenico lugar Satildeo maacutequinas que iratildeo estruturar a vida organizando uma subjetividadedo consumo e da informaccedilatildeo Mas como relacionar esse processo aos domiacutenios da escola

Aqui lanccedilaremos matildeo de outro escritor francecircs Feacutelix Guattari (1985) que no estudo Ascreches e a iniciaccedilatildeo publicado no livro intitulado Revoluccedilotildees Moleculares mostra-nos osefeitos do processo de iniciaccedilatildeo das crianccedilas agrave loacutegica capitalista O autor se refere agrave produccedilatildeode modos de viver pensar e sentir que estariam em consonacircncia com os mais novos modos deproduccedilatildeo material na sociedade capitalista industrial Denomina como aparelhos de semiotizaccedilatildeoos viacutedeo-games CD-rom etc Esses aparelhos passam a dar o sentido dos modos de existecircncia

Guattari (1985) indica que as crianccedilas estatildeo sendo iniciadas cada vez mais cedo nossistemas de representaccedilatildeo e nos valores do capitalismo que produzem uma modelagem adequadaaos coacutedigos utilizados em nosso cotidiano Aponta como importante o fato de que se mobilizamno processo de formaccedilatildeo da crianccedila esquemas de aprendizagem que permitem traduzir oconjunto de coacutedigos ou semioacuteticas dominantes Por fim chama a atenccedilatildeo para a necessidade deanalisarmos o funcionamento da creche e o efeito da educaccedilatildeo infantil na constituiccedilatildeo dessecorpo que eacute modelado para atuar produtivamente de acordo com os ideais da sociedade capitalista

A sua grande contribuiccedilatildeo eacute indicar no espaccedilo da educaccedilatildeo uma perspectiva de que acrianccedila venha a aprender o que eacute a sociedade o que satildeo seus instrumentos (GUATTARI 1985p 54) para poder interferir de forma autocircnoma e criativa no mundo Aprender os coacutedigos e osmodos de funcionamento da sociedade na qual estaacute inserida pode ser importante para que acrianccedila tenha a possibilidade de desenvolver formas singulares de estar no mundo

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegico(a)s a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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UNIDADE II

UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA DO COTIDIANO ESCOLAR

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 4 DOS COLEacuteGI OS DA MODERNI DADE AgraveS ESCOLAS ATUAI S UMAANAacuteLI SE CRIacute TI CA DAS PRAacuteTI CAS COTI DI ANAS

Seguindo a linha de anaacutelise de nosso percurso iremosneste momento buscar os fios que nos permitem compreenderalguns elementos do cotidiano escolar como um espaccedilodisciplinar e controlador das subjetividades O estudo da origemdas praacuteticas educativas a partir dos coleacutegios do Seacuteculo XVIIIforneceu-nos os elementos que seratildeo aqui utilizados paraexercitarmos uma investigaccedilatildeo criacutetica da escola na atualidadeEsse exerciacutecio de reflexatildeo eacute fundamental para que possamosabrir novas portas e inventar outras praacuteticas da psicologia naescola

Com o objetivo de melhor sistematizar nosso trabalho deanaacutelise dividiremos a explanaccedilatildeo em seis itens a saber

1 As praacutet icas cot idianas conspiram cont ra a produccedilatildeoda autonomia e da autogestatildeo

Como jaacute estudamos anteriormente o poder de decisatildeofoi retirado do aluno quando da organizaccedilatildeo dos coleacutegios apartir do Seacuteculo XVIII sendo produzida uma ideacuteia de infacircnciafragilizada e portanto sem possibilidades de exercitar suaautonomia Eacute naturalizada uma concepccedilatildeo de aluno como umcorpo vazio a ser preenchido e modelado

As atividades nas escolas e na vida contemporacircnea passam a ser geridas por outrem -pelo supervisor pelo livro didaacutetico pelos programas governamentais (Escola Aberta Bolsa Escolae outros) - ou coordenadas por entidades como o Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem Aspraacuteticas de avaliaccedilatildeo se apresentam aos alunos como destituiacutedas de sentido Para os professoresessas praacuteticas representam mais uma etapa do processo sendo orientadas pela mesma loacutegica doplanejamento e das atividades contidas no livro didaacutetico Os principais atores sociais (alunos eprofessores) satildeo enfraquecidos no exerciacutecio do poder como sujeitos incapacitados de produzir aarticulaccedilatildeo entre praacuteticas e seus efeitos

Ilustraccedilatildeo de capa do livro O berccedilod a d es i g u a l d a d e de CristovamBuarque com fotos de SebastiatildeoSalgado

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lt Paulo Freiregt ao trabalhar o tema da autonomia no livroPedagogia da Aut onom ia (1996) estabelece a relaccedilatildeo entre oexerciacutecio da liberdade por parte do aluno e da autoridade peloeducador Aponta como fundamental para a construccedilatildeo da autonomiaa praacutetica da responsabilidade Segundo esse educador o educandoque exercita sua liberdade ficaraacute tatildeo mais livre quanto mais eticamentevaacute assumindo a responsabilidade de suas accedilotildees (p 104) mas essaautonomia somente se constitui quando desaparece a relaccedilatildeo dedependecircncia Continuando com o pensamento de Freire ele afirmaque

No fundo o essencial nas relaccedilotildees entre educador eeducando entre autoridade e liberdade entre pais matildeesfilhos filhas eacute a reinvenccedilatildeo do ser humano no aprendizadoda autonomia (FREIRE 1996 p 105)

O pensamento e a accedilatildeo autocircnomos natildeo se datildeo sem que sejamexplicitados os lugares de poder Por isso Paulo Freire fala da reinvenccedilatildeodo ser humano e mais do que isso da reinvenccedilatildeo das relaccedilotildees pedagoacutegicasque deveriam trocar a dependecircncia pela responsabilidade

2 O m odelo educat ivo dest itui os hom ens de sua condiccedilatildeo deprodutores do conhecim ento

A concepccedilatildeo de sujeito a-histoacuterico estaacute presente no contextoescolar onde o conhecimento eacute dado como objetivo e assumido comoverdade absoluta a ser aprendida A organizaccedilatildeo do saber hierarquicamentedisciplinado como nos mostrou Juacutelia Varella na aula anterior (Aula 3Unidade I) elimina a concepccedilatildeo de sujeito como produtor de conhecimentoOs processos de p e d a g o g i z a ccedilatilde o d o s co n h e ci m e n t o s e dedisciplinam ento interno dos saberes estatildeo presentes nas praacuteticaseducacionais atuais fazendo com que tanto alunos quanto professoressejam concebidos como meros coadjuvantes

Trata-se de um treino para o bom comportamento social valorizando o lugar do expectador daquele que natildeo interfere no andamentoda aula e que deve seguir agrave risca o que eacute ditado pelo planejamentomuitas vezes elaborado pelos especialistas da educaccedilatildeo A ausecircncia deuma implicaccedilatildeo dos alunos no processo de aprendizagem eacute consequumlecircnciadesse modelo de escola que somente legitima o conhecimento que eacuteproduzido fora de seu cotidiano A sala de aula eacute assim desumanizada edestituiacuteda de vida proacutepria O mesmo processo eacute vivido pelos educadoresque aprendem no exerciacutecio profissional a praticar e valorizar a obediecircncia

Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

Fo n t e Charge deClaudius Cecconpublicada no livroCu i d a d o Esco l a (p64)

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

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5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I244

frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

255

AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I256

Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

257

No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I258

Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 5: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I214

REFEREcircNCIAS

Baacutesicas

ANTUNES Mitsuko Aparecida Makino A psicologia no Brasil uma leitura histoacuterica sobre suaconstituiccedilatildeo Satildeo Paulo Unimarco EdEduc 1998

BOCK Ana Mercecircs Bahia (Org) Psicologia e Compromisso Social Satildeo Paulo Cortez 2003

CAMPOS Herculano Ricardo (Org) Formaccedilatildeo em Psicologia escolar realidades eperspectivas Campinas Ed Aliacutenea 2007

MACHADO Adriana Marcondes SOUZA Marilene Proenccedila Rebello de (Org) PsicologiaEscolar em busca de novos rumos Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2004

MACIEL Ira Maria (Org) Psicologia e Educaccedilatildeo novos caminhos para a formaccedilatildeo Rio deJaneiro Ciecircncia Moderna 2001

NUNES Ligya Bojunga A casa da Madrinha Rio de Janeiro Agir 1992

Complementares

ALTMANN Helena A Influecircncia do Banco Mundial no projeto educacional brasileiro Educaccedilatildeo ePesquisa janjunho 2002 V 28 n 1 p 77-89

ALTOEacute Sonia (Org) Reneacute Lourau Analista institucional em tempo integral Satildeo Paulo EdHucitec 2004

ANDREWS S Deacuteficit de natureza Revista Eacutepoca Rio de Janeiro n 473 junho de 2007Editora Globo p 45-52

ARDUINO Jaques LOURAU Reneacute As pedagogias institucionais Satildeo Carlos Rima 2003

ARIEgraveS Philippe Histoacuteria social da infacircncia e da famiacutelia Rio de Janeiro Ed Guanabara1978

BENCINI R Comprimidos em excesso Revista Nova Escola Satildeo Paulo nordm 202 maio de 2007Editora Abril p 38-45

COSTA Marisa Vorraber A perspectiva na sala de aula e o processo de significaccedilatildeo INSILVA Luiz Heron (Org) A escola cidadatilde no contexto de globalizaccedilatildeo Petroacutepolis Vozes1999

FERNANDES Acircngela M Dias LIMA Patriacutecia Alvarenga Hiperatividade e sofrimento escolar adiferenccedila negada no cotidiano da escola IN Anais da Conferecircncia I nternacional educaccedilatildeo globalizaccedilatildeo e cidadania (miacutedia) Joatildeo Pessoa wwwsocieduca-interorg 2008

FREITAS Marcos Cezar (Org) Histoacuteria Social da Infacircncia no Brasil 6 ed Satildeo PauloCortez 2006

215

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica da autonomia SatildeoPaulo Ed Paz e Terra 1998

FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Ed Graal 1979

FRIGOTTO G A produtividade da escola improdutiva Satildeo Paulo CortezAutoresAssociados 1984

GENTILI Pablo ALENCAR Chico Educar na esperanccedila em tempos de desencantoPetroacutepolis Ed Vozes 2001

GONZALEZ REY F L Pesquisa Qualitativa em Psicologia caminhos e desafios Satildeo PauloPioneira Thompson 2002

GUATARRI Felix Revoluccedilatildeo molecular pulsaccedilotildees poliacuteticas do desejo Satildeo Paulo EdBrasiliense 1991

HARPER Babertte CECCON Claudius OLIVEIRA Miguel Darcy e OLIVEIRA Rosiska DarcyCuidado escola Desigualdade domesticaccedilatildeo e algumas saiacutedas Satildeo Paulo Ed Brasiliense1980

KAPLAN I SANDOCK B J Compecircndio de Psiquiatria Porto Alegre Artes Meacutedicas 2003

MACHADO Adriana FERNANDES Angela e ROCHA Marisa (orgs) Novos possiacuteveis noencontro da psicologia com a educaccedilatildeo Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2007

MOYSES Maria Aparecida Afonso A institucionalizaccedilatildeo invisiacutevel - crianccedilas que natildeoaprendem na escola Campinas SP Mercado de Letras Satildeo Paulo Papesp 2001

PATTO Maria Helena Sousa Psicologia e Ideologia uma introduccedilatildeo criacutetica agrave psicologiaescolar Satildeo Paulo T A Queiroz 1984

______ A produccedilatildeo do fracasso escolar histoacuterias de submissatildeo e rebeldia Satildeo Paulo T A Queiroz 1990

______ Mutaccedilotildees do cativeiro escritos de psicologia e poliacutetica Satildeo Paulo EDUSPHackerEditores 2000

______ Exerciacutecios de indignaccedilatildeo escritos de educaccedilatildeo e psicologia Satildeo Paulo Casa doPsicoacutelogo 2005

SILVA Tomaz Tadeu da (org) O sujeito da educaccedilatildeo estudos foucaultianos PetroacutepolisEd Vozes 1994

Sites indicados

wwwineporgbr

wwwpedagogiaemfocoprobrheb07ahtm

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I216

217

UNI VERSI DADE ABERTA DO BRASI LUNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIacuteBA

CURSO DE PEDAGOGI A - MODALI DADE A DI STAcircNCI APSICOLOGIA EDUCACIONAL I

Professora-pesquisadora Dra AcircNGELA MARIA DIAS FERNANDES

DESEMPENHO NO PERCURSO

Aulas Desafios PontuaccedilatildeoDesempenho

obtidoPrazo de

finalizaccedilatildeo

UNIDADE I

Aula 1

1) Esquema das principaiscorrentes de pensamentopsicoloacutegico2) Foacuterum Quais asprincipais diferenccedilas entreas correntes depensamento psicoloacutegico

20

20

Aula 2

Produccedilatildeo de texto sobre aTeoria da CarecircnciaCultural e seu percurso apartir da MedicinaPsicologia e Pedagogia

30

Aula 3

1) Glossaacuterio comconceitos dos termosPedagogizaccedilatildeo dosconhecimentos edisciplinamento dossaberes2) Chat temaacutetico

15

15

Tota l de pontos na Unidade I 100

UNIDADE II

Aula 4Foacuterum relacionando avivecircncia escolar doaprendente com o texto

30

Aula 5 Chat sobre exclusatildeo sociale escola 30

Aula 6Pesquisa de campo(entrevistas comprofessores)

40

Tota l de pontos na Unidade I I 100

UNIDADE III

Aula 7Produccedilatildeo de texto sobreautonomia e Psicologia naescola

30

Aula 8

1) Foacuterum sobre o trabalhodo professor no contoinfantil2) Chat temaacutetico

20

20

Aula 9 Foacuterum sobre propostas emPsicologia Educacional 30

Tota l de pontos na Unidade I I I 100

AVALIACcedilAtildeOPRESENCIAL

(Prova escrita)

Conteuacutedo das trecircsunidades

100 Final dopercurso

TOT AL DE PONTOS OBTI DOS NO PERCURSO

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I218

UNIDADE I

PSI COLOGI A E EDUCACcedilAtildeO ALI ANCcedilAS NA PRODUCcedilAtildeO DE UMOLHAR SOBRE A INFAcircNCIA

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 1 A CONSTRUCcedilAtildeO HI STOacuteRI CA DA PSI COLOGI A

Para estudarmos a psicologia suas teorias praacuteticas e princiacutepios metodoloacutegicos eacute necessaacuterioinicialmente termos conhecimento de sua histoacuteria e do contexto soacutecio-poliacutetico-cultural quepermitiu sua constituiccedilatildeo

1 A const ruccedilatildeo da psicologia cient iacuteficaInicialmente iremos situar a construccedilatildeo cientiacutefica da psicologia a partir das linhas claacutessicas

do pensamento psicoloacutegico behaviorismo gestaltismo funcionalismo psicologia cognitivapsicologia soacutecio-histoacuterica e psicanaacutelise

Todos os historiadores da psicologia concordam que foi Wilhen Wundt na Alemanha emmeados do Seacuteculo XIX que criou os fundamentos cientiacuteficos determinando o objeto de estudo omeacutetodo de pesquisa e os objetivos dessa nova ciecircncia Wundt afirmou a independecircncia dapsicologia em relaccedilatildeo agraves outras ciecircncias situando-a na intermediaccedilatildeo entre as ciecircncias danatureza e da cultura A experiecircncia imediata dos homens era seu foco de interesse baseandosua teoria na ideacuteia de uma unidade psicofiacutesica dos processos elementares da vida mental

No final do Seacuteculo XIX outros estudiosos se lanccedilaram naaventura da pesquisa em psicologia concordando com Wundtou se opondo a ele O Co m p o r t a m e n t a l i sm o ouBehaviorismo surge com John Watson nos EUA que discordaque o foco esteja na experiecircncia imediata Para Watson o objetode estudo da nova ciecircncia deve ser a comportamento humanoEste teoacuterico afirma que o comportamento deve ser visto comoindependente daquilo que o sujeito pensa sente deseja ou emque crecirc Jaacute no iniacutecio do Seacuteculo XX os novos comportamentalistasreordenam os estudos das interaccedilotildees entre os organismos vivose seus ambientes O psicoacutelogo americano BF ltSkinnergt sesobressai ao se referir agrave importacircncia dos condicionamentossociais no comportamento Ele afirma que as experiecircnciassubjetivas satildeo sempre construiacutedas pela sociedade sem nenhumainterferecircncia da consciecircncia ou de um eu interno e formula oconceito de condicionamento operante relacionando aaprendizagem a um sistema de reforccedilo e puniccedilatildeo

Note-se que ateacute aqui estamos trazendo as oposiccedilotildees entre duas linhas de pensamentoSituamos Wundt que afirma a importacircncia das experiecircncias imediatas no estudo do psiquismohumano e uma outra vertente que propotildee ignorar a existecircncia de tais experiecircncias na construccedilatildeoda psicologia cientiacutefica como propotildeem os teoacutericos do comportamentalismo

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

A ca ix a de Sk inn er

219

Nessa polecircmica sobre o estudo do homem podemos situar uma teoriasobremaneira importante - o ltGestaltismogt - mais conhecido comopsicologia da forma que surge na Alemanha no iniacutecio do Seacuteculo XX Emoposiccedilatildeo clara a J Watson seus mais importantes representantes foramMax Wetheimer Kurt Koffka e Wolfgan Koller Seus estudos partiam daexperiecircncia imediata utilizando como meacutetodo a fenomenologia Segundo

esses estudiosos os fenocircmenos da percepccedilatildeo da memoacuteria e da afetividade eram vivenciadossob a forma de estruturas Eles recusavam a ideacuteia de Watson para quem o comportamento eraunicamente dependente do estiacutemulo (relaccedilatildeo conhecida como estiacutemulo-resposta ou E-R) afirmandoque a forma resultante de um processo de percepccedilatildeo era muito mais que a soma das partes Ogestaltismo trazia como preocupaccedilatildeo central a necessidade de se relacionar a experiecircncia imediatados sujeitos com a natureza fiacutesica e bioloacutegica e com o mundo dos valores socioculturais

Outra importante corrente surgida na passagem do SeacuteculoXIX para o Seacuteculo XX nos EUA foi o Funcionalismo Maisconhecido por suas teses adaptacionistas traz uma grandeinfluecircncia das teorias evolucionistas de lt Charles Darw ingt Os estudiosos dessa corrente admitiam a possibilidade de seestudar a mente por meio dos comportamentos e para a suasobrevivecircncia o ser humano deveria adaptar-se agraves condiccedilotildeesambientais John Dewey foi o que mais trouxe contribuiccedilotildees nocampo da educaccedilatildeo afirmando que o ensino deveria orientar-se para o aluno e natildeo para o assunto Acreditava com issoque se poderia formar o ser humano adaptando-o agravesnecessidades da sociedade por meio da educaccedilatildeo

As receacutem estruturadas sociedades industriais capitalistas iratildeo indicar para a correnteadaptacionista uma importante tarefa a de cont r ibuir com invest igaccedilotildees cient iacutef icas sobre oshomens com o objetivo de melhor adaptaacute-los agrave nova ordem social A psicologia se desenvolveno iniacutecio do Seacuteculo XX com a construccedilatildeo de instrumentos de mensuraccedilatildeo da inteligecircncia e dapersonalidade Os testes psicoloacutegicos propostos pelos pesquisadores eram utilizados nosprocedimentos de seleccedilatildeo e orientaccedilatildeo no trabalho e na escola Tanto nos EUA com FrancisGalton quanto na Franccedila com Binet e Simon assiste-se ao desenvolvimento da psicometriautilizada na educaccedilatildeo como forma de conhecer as caracteriacutesticas de cada sujeito Esseconhecimento serviria para justificar a partir das diferenccedilas individuais a distribuiccedilatildeo em classessociais distintas colocando fora de questionamento a desigualdade social e distribuiccedilatildeo desigualde oportunidades

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

O filme Tempos Modernos de Charles Chaplin jaacute foiobjeto de reflexotildees no MarcoI Caso deseje revecirc-lo dirija-se ao Poacutelo Municipal de ApoioPresencial de sua cidade

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I220

A configuraccedilatildeo do objeto de estudos da psicologia centrada no indiviacuteduo afasta a necessidadede uma anaacutelise contextualizada da sociedade onde os sujeitos estatildeo inseridos assim como suaforma de inserccedilatildeo Nas sociedades marcadas pela divisatildeo em classes e cuja base eacute o modelocapitalista de produccedilatildeo difunde-se a crenccedila na igualdade de oportunidades minimizando ainfluecircncia do modo de produccedilatildeo na localizaccedilatildeo dos sujeitos na estrutura social As diferenccedilasindividuais satildeo utilizadas para mascarar a impossibilidade de que a as oportunidades sejam iguaispara todos Assim aprofunda-se a marca principal da psicologia desde sua criaccedilatildeo a de selecionarorientar adaptar e racionalizar a existecircncia humana em nome da produtividade e da eficaacutecia

Podemos situar ainda a Psicologia Cognitiva como outracorrente que se oporaacute aos princiacutepios do ComportamentalismoltJean Piagetgt eacute um importante estudioso do desenvolvimentoinfantil cuja base satildeo as estruturas cognitivas A criacutetica agraveobjetividade cientiacutefica observada nas teorias comportamentaise funcionalistas eacute um importante fundamento desse caminhode pensamento sobre o ser humano e traraacute enormescontribuiccedilotildees para a educaccedilatildeo

Lev Vygotsky psicoacutelogo russo propocircs no iniacutecio do Seacuteculo XX uma nova teoria a PsicologiaSoacutecio-histoacuterica que parte da afirmaccedilatildeo da construccedilatildeo social do conhecimento e da importacircnciada mediaccedilatildeo da educaccedilatildeo da escola e do professor nos processos de ensino e de aprendizagemTrata-se de um importante passo na direccedilatildeo de relacionar o individual e o social na compreensatildeodo psiquismo humano

Sigmund Freud o criador da ltPsicanaacutelisegt eacute tambeacutemsituado no campo dos estudiosos da gecircnese do sujeito Emoposiccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees positivistas e objetivadoras dofuncionalismo psiacutequico Freud iraacute definir o inconsciente comoobjeto de estudo Ele concebe a ideacuteia de uma subjetividadecindida e incompleta recusando o eu como centro dopsiquismo o que torna a psicanaacutelise uma teoria original

2 Desenvolvim ento da psicologia no seacuteculo XX

A partir dessas correntes claacutessicas (behaviorismo gestaltismo funcionalismo psicologiacognitiva psicologia soacutecio-histoacuterica e psicanaacutelise) observa-se na histoacuteria da psicologia o surgimentode outras teorias e estrateacutegias de atuaccedilatildeo Podemos destacar nesse processo as teorias ligadasagrave psicologia dos grupos a teoria humanista as teorias da subjetividade e aquelas que surgem apartir do movimento institucionalista

Os estudiosos da histoacuteria da psicologia assinalam o meacutedicoJ Prattes como o pioneiro nos trabalhos com grupos em 1906mas eacute consensual a afirmaccedilatildeo de que foi Moreno psiquiatraromeno que na deacutecada de 1930 nos EUA idealizou olt p sico d r a m a gt uma passagem da arte dramaacutetica agravepsicoterapia

O alematildeo Kurt Lewin eacute tambeacutem situado no campo das psicoterapias de grupo incrementadas

D ivatilde u t i l iz a do pe lo psica n a l ist a ee x p o st o n o M u se u Fr e u d e mLon d r e s

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

221

pelas condiccedilotildees do poacutes-guerra (deacutecada de 1940) impondo a necessidade de expansatildeo dostrabalhos de sauacutede mental e de recuperaccedilatildeo imediata da matildeo-de-obra deteriorada Em 1944Lewin criou o conceito de dinacircmica de grupo afirmando que o grupo eacute mais do que a soma dassuas partes e que quando haacute modificaccedilatildeo de uma das partes a estrutura grupal se modificaOutro teoacuterico da psicologia dos grupos eacute o argentino Pichoacuten Riviegravere que estruturou a estrateacutegiado grupo operativo que considerava que um grupo soacute se estruturava quando estivesse operandosobre uma tarefa

Como pode ser observado ateacute esta etapa de nossa aula a partir da segunda guerramundial a psicologia fortalece seu interesse pelo social natildeo soacute no campo da pesquisa considerandosua repercussatildeo na constituiccedilatildeo dos sujeitos como tambeacutem enquanto espaccedilo de intervenccedilatildeo emorganizaccedilotildees (hospitais escolas faacutebricas sindicatos etc)

As teorias ligadas agrave Psicologia Humanista constituem outro importante espaccedilo de praacuteticasna qual se sobressaem Carl Rogers da Abordagem Centrada na Pessoa e alguns teoacutericos dagestalt-terapia e da Bioenergeacutetica traduzindo muito bem uma forma mais intimista de responderaos acontecimentos dos anos de 1960 e 1970 Priorizando o corpo o auto-conhecimento e aliberaccedilatildeo dos sujeitos os autores humanistas centram sua preocupaccedilatildeo na adaptaccedilatildeo do homemao meio de forma criativa e ativa

Ainda nas deacutecadas de 1950 e 1960 assiste-se a um movimento de resistecircncia principalmentena Europa que se faz presente nos hospitais e nas escolas aliando a psicologia a sociologia aeducaccedilatildeo e a psiquiatria O Movimento Institucionalista nasce de uma criacutetica agrave organizaccedilatildeohieraacuterquica e centralizadora tanto nos hospitais psiquiaacutetricos quanto nas organizaccedilotildees escolaresconstituindo-se a Psicoterapia I nst itucional (1950) e mais tarde (1962) a PedagogiaInstitucional A Psicossociologia Institucional significa um avanccedilo no processo de autogestatildeoe juntamente com os anti-institucionalistas (Lang Cooper e Ivan Illich) iraacute criar as condiccedilotildeespara o surgimento de uma outra perspectiva de intervenccedilatildeo em 1963 conhecida como AnaacuteliseInstitucional

Por sua criacutetica agrave sociedade capitalista e aoconservadorismo os institucionalistas relacionam-se comos ltmovimentos da contra-cultura na Franccedilagt e emoutros paiacuteses e elaboram inspirados em conceitos devaacuterias correntes da psicologia da sociologia e da filosofiapropostas de investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Essas ideacuteiassatildeo representadas principalmente pelos franceses ReneacuteLourau Felix Guattari e Georges Lapassade

No Brasil apoacutes a ditadura militar essas formulaccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas encontraramum terreno feacutertil junto a psicoacutelogos implicados com os movimentos sociais propondo um conjuntode ferramentas proacuteprias para a intervenccedilatildeo em instituiccedilotildees conceituadas como praacuteticas sociaise para a compreensatildeo das subjetividades

Nas duas uacuteltimas deacutecadas do Seacuteculo XX e iniacutecio do Seacuteculo XXI a partir dos avanccedilos dacomunicaccedilatildeo da expansatildeo de outras linguagens como a informaacutetica e do surgimento de novasproblemaacuteticas sociais configuram-se teorias e proposiccedilotildees centradas algumas delas tambeacutemno conceito de Subjetividade Fernando Gonzaacutelez Rey identifica na histoacuteria desse conceito umprocesso de ruptura com a psicologia cientiacutefica objetiva e neutra tendo significado um desafio

Paris em 1968

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na afirmaccedilatildeo de uma psique que se constroacutei a partir de uma visatildeo cultural em uma dimensatildeocomplexa e dialeacutetica Esse estudioso da psicologia aponta a obra de Vygotsky pouco valorizadano Ocidente ateacute muito recentemente como um marco na definiccedilatildeo do conceito de subjetividade

A psicanaacutelise e a psicologia soacutecio-histoacuterica de L Vygotsky e outras linhas de pensamentotecircm sido revistas em associaccedilatildeo com diversas aacutereas do conhecimento inaugurando um caminhointerdisciplinar

Nesses uacuteltimos trinta anos ainda as teorias comportamentais vecircm buscando sua renovaccedilatildeomediante o aprimoramento das teacutecnicas quantitativas de avaliaccedilatildeo de valores sociais e de programasde assistecircncia e e intervenccedilotildees no campo da cogniccedilatildeo e do treinamento comportamental

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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AULA 2 PSI COLOGI A E EDUCACcedilAtildeO NO BRASI L COMPROMI SSOS E ALI ANCcedilAS

Como vimos na aula anterior a constituiccedilatildeo da psicologia comociecircncia data de meados do Seacuteculo XIX com Wundt na AlemanhaNesse periacuteodo de mais de um seacuteculo de construccedilotildees teoacutericas eproposiccedilotildees praacuteticas constatamos a existecircncia de uma variedadede olhares sobre o homem e seu funcionamento psiacutequico Percebemosao longo da histoacuteria da psicologia que natildeo existe um pensamentouacutenico e que o contexto soacutecio-histoacuterico e a forma como o psicoacutelogopesquisador compreende o mundo e nele se insere seratildeo umimportantes fatores que determinaratildeo a proposta formulada

No Brasil assistiremos a um processo que segundo algunspsicoacutelogos brasileiros preocupados com a historiografia dessaciecircncia tem relaccedilatildeo com as experiecircncias de colonizaccedilatildeo eafirmaccedilatildeo dos interesses de uma classe dominante fortementemarcada por teorias racistas e eugecircnicas alimentadas pela obrade Charles Darwin e suas consequumlecircncias para o estudo dohomem O impulsionamento da psicologia como ciecircncia no Brasileacute relacionado a necessidades impostas pelo desenvolvimentourbano-industrial agraves novas formas de ocupaccedilatildeo das cidadesditadas pela Repuacuteblica e ao reordenamento da forccedila de trabalhona direccedilatildeo da escola preferencialmente profissionalizante

A constituiccedilatildeo da psicologia desde fins do Seacuteculo XIX e iniacuteciodo Seacuteculo XX deu-se em estreita articulaccedilatildeo com a educaccedilatildeo e amedicina podendo-se afirmar que a psicologia foi gerada no interiordessas duas aacutereas de conhecimento sendo nesses campos em quedesenvolveraacute seu projeto de autonomizaccedilatildeo como demonstra MitzukoAntunes em seu estudo a ltPsicologia no Brasil leitura histoacutericasobre sua constituiccedilatildeogt

A atuaccedilatildeo da psicologia junto agraves instituiccedilotildees de sauacutede noiniacutecio do Seacuteculo XX fez-se em nome do controle social com sentidopreventivista e eugecircnico A psiquiatria e o higienismo quecaracterizaram a medicina da eacutepoca clamaram pela participaccedilatildeo dapsicologia na detecccedilatildeo da anormalidade como tambeacutem na prevenccedilatildeo de problemas sociais quepoderiam advir relacionados agrave presenccedila das raccedilas que eram consideradas inferiores e que poderiamperturbar a ordem na vida urbana

A Liga Brasileira de Higiene Mental criada em 1920 representou de maneira radical essesideais tendo se colocado abertamente a favor do aperfeiccediloamento da raccedila (ariana) e contra osnegros e mesticcedilos que eram caracterizados pelas teorias racistas da eacutepoca como indolentesdegenerados preguiccedilosos e sujeitos a enfermidades por sua natureza e iacutendole Os princiacutepios da

Antes de prosseguir aleitura da aula volte agraveaula anterior e revejaquais as principaiscorrentes dapsicologia no processode sua construccedilatildeohistoacuterica

Dirija-se agrave bibliotecado Poacutelo Municipal deApoio Presencial e faccedilaa leitura dos capiacutetulos1 e 2 da Parte II dolivro de MitzukoAntunes (p 37-85)

Trabalhadores da Faacutebricade Tecidos Videira

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higienizaccedilatildeo e da disciplinarizaccedilatildeo da sociedade iratildeo caracterizar o trabalho nas instituiccedilotildeespsiquiaacutetricas preocupadas com uma intervenccedilatildeo para aleacutem do encarceramento da loucura

Apesar da diversidade de pesquisas que se desenvolviam em outros paiacuteses no Brasil ainfluecircncia da pesquisa experimental baseada na psicometria ocorreu de forma hegemocircnica ateacute

pelo menos a deacutecada de 1980

Nas instituiccedilotildees educacionais a preocupaccedilatildeo central era com o analfabetismo e a falta deinstruccedilatildeo do povo brasileiro em um paiacutes em franco desenvolvimento e requisitando uma matildeo-de-obra conhecedora pelo menos da leitura e da escrita Vaacuterios movimentos pela difusatildeo e ampliaccedilatildeoda escola puacuteblica e gratuita surgiram no paiacutes mostrando diferentes ideais de sociedade que vatildeodesde a preparaccedilatildeo para o trabalho ateacute uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo como emancipadora dopovo em uma luta contra a opressatildeo colonialista Nesse quadro a demanda dos profissionais daeducaccedilatildeo no sentido de construir uma pedagogia moderna e cientiacutefica fez da psicologia seuprincipal ponto de sustentaccedilatildeo uma vez que fornecia as bases de conhecimento sobre osindiviacuteduos o processo de desenvolvimento psiacutequico as vocaccedilotildees emoccedilotildees e a organizaccedilatildeo dapersonalidade

A preocupaccedilatildeo com o indiviacuteduo e com as teacutecnicas que pudessem instrumentalizar a praacuteticaeducativa fez surgir no Brasil no iniacutecio do Seacuteculo XX uma seacuterie de Laboratoacuterios e Institutosvoltados para a pesquisa psicoloacutegica destacando-se o Pedagogium depois transformado emLaboratoacuterio de Psicologia Experimental no Rio de Janeiro o Instituto de Psicologia de Pernambucoa Escola de Aperfeiccediloamento Pedagoacutegico de Belo Horizonte e o Laboratoacuterio de PedagogiaExperimental de Satildeo Paulo Nesse periacuteodo surgem as Escolas Normais encarregadas da formaccedilatildeode professores

No processo de constituiccedilatildeo cientiacutefica da pedagogia e de afirmaccedilatildeo da psicologia oslaboratoacuterios e institutos de pesquisa vatildeo sendo incorporados a essas escolas A instalaccedilatildeo desalas de exame psicoloacutegico e de afericcedilatildeo antropomeacutetrica seguia a demanda de higienizaccedilatildeo dapopulaccedilatildeo vigente na eacutepoca e era inspirada nas pesquisas trazidas da Europa e dos EUA queprivilegiavam a psicometria de modo geral Apesar da pouca inserccedilatildeo nas escolas oficiais essapraacutetica serviu para difundir e legitimar o discurso cientiacutefico utilizado para explicar a localizaccedilatildeo decada indiviacuteduo na estrutura social A existecircncia de diferenccedilas individuais era o principal argumentodesse discurso sendo desconsideradas desse esquema de causalidade as imposiccedilotildees da sociedadecapitalista industrial e sua principal base que eacute a divisatildeo em classes sociais com chances epossibilidades desiguais

Em um estudo sobre a disciplina na sociedade moderna em que analisa o funcionamento doGabinete de Antropologia e Psicologia Pedagoacutegica de Satildeo Paulo Marta Carvalho afirma

Neste horizonte criteacuterios raciais nem sempre explicitados traccedilavam os limitesdas boas intenccedilotildees republicanas operando a distinccedilatildeo entre populaccedilotildeeseducaacuteveis capazes portanto de cidadania e populaccedilotildees em que o peso dahereditariedade (leia-se raccedila ) era a marca de um destino que a educaccedilatildeo

era incapaz de alterar (CARVALHO 2006 p 299)

A partir da deacutecada de 1920 e principalmente de 1930 o ideaacuterio escolanovista baseadonos princiacutepios da modernidade fez-se mais presente na educaccedilatildeo brasileira mobilizando os

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educadores na luta contra os elevados iacutendices de repetecircncia eevasatildeo na escola puacuteblica A educaccedilatildeo era compreendida comoa base de uma sociedade saudaacutevel que precisava ser moralmentepreparada para o trabalho

Os novos intelectuais se uniram em torno da crenccedila de que a sauacutede e a educaccedilatildeo eramfatores capazes de promover a necessaacuteria regeneraccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira A preocupaccedilatildeocom o rendimento na escola promoveu a incorporaccedilatildeo do ltmodelo tayloristagt de produccedilatildeofabril afirmando na educaccedilatildeo as posiccedilotildees tecnicistas norteadas pela eficiecircncia e eficaacutecia dasaccedilotildees No trecho abaixo Maria Helena de Souza Patto (2003) expressa o significado dainfluecircncia desse modelo produtivo na educaccedilatildeo ao identificar um vieacutes adaptacionista naproduccedilatildeo em seacuterie de alunos perfeitamente adaptados aos diferentes lugares que lhes seratildeo

destinados numa realidade social inquestionada

Eis a via da naturalizaccedilatildeo da desigualdade que temorigem na maneira como a sociedade se estrutura maseacute lida como diferenccedila bioloacutegica ou psicoloacutegica deaptidatildeo intelectual entre grupos e indiviacuteduos (PATTO2003 p 33)

O movimento chamado Escola Nova esboccedilou-se na deacutecada de 1920 no Brasil

O mundo vivia agrave eacutepoca um momento de crescimento industrial e de expansatildeourbana e nesse contexto um grupo de intelectuais brasileiros sentiu necessidadede preparar o paiacutes para acompanhar esse desenvolvimento A educaccedilatildeo era poreles percebida como o elemento-chave para promover a remodelaccedilatildeo requerida

Inspirados nas ideacuteias poliacutetico-filosoacuteficas de igualdade entre os homens e do direitode todos agrave educaccedilatildeo esses intelectuais viam num sistema estatal de ensinopuacuteblico livre e aberto o uacutenico meio efetivo de combate agraves desigualdades sociaisda naccedilatildeoDenominado de Escola Nova o movimento ganhou impulso na deacutecada de 1930apoacutes a divulgaccedilatildeo do lt Manifesto da Escola Novagt (1932) Nesse documentodefendia-se a universalizaccedilatildeo da escola puacuteblica laica e gratuita Entre os seussignataacuterios destacavam-se os nomes de Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo

Lourenccedilo Filho e Ceciacutelia Meireles

Para ler o Manifesto dosPioneiros acessewwwpedagogiaemfocoprobrheb07ahtm

O americano lt Freder ick Taylorgt considerado o pai da organizaccedilatildeo cientiacutefica dotrabalho propocircs um modelo de produccedilatildeo industrial aliando eficaacutecia e eficiecircnciaSua preocupaccedilatildeo era com o sistema produtivo e natildeo com o homem negando aotrabalhador qualquer manifestaccedilatildeo criativa ou participaccedilatildeo O ideaacuterio tayloristafoi transposto para a educaccedilatildeo promovendo uma valorizaccedilatildeo do tecnicismo tendocomo efeitos a fragmentaccedilatildeo e a hierarquizaccedilatildeo do ensino e do conhecimento

Dirija-se ao PMAP pararealizar a leitura do texto Oque a h ist oacuter ia pode dizerso b r e a p r o f i ssatilde o d op si coacute l o g o a r e l a ccedilatilde opsicologia e educaccedilatildeo deMaria Helena de S Patto nolivro P si co l o g i a ecompromisso social

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Associada agrave escola nova a psicologia continuou fornecendo os subsiacutedios cientiacuteficos para oconhecimento das possibilidades individuais e das dificuldades escolares natildeo mais identificadascomo efeito da hereditariedade e da raccedila mas da organizaccedilatildeo e dos haacutebitos familiares e doambiente soacutecio-cultural Manteacutem-se a utilizaccedilatildeo dos instrumentos de avaliaccedilatildeo psicoloacutegica cadavez mais associada agrave pesquisa sobre o fracasso escolar e centrada no aluno e nos processos deaprendizagem

Na deacutecada de 1950 amplia-se para aleacutem do aluno o campo de pesquisa educacional praticadaprincipalmente nos institutos ligados ao governo que tinham em seus quadros o psicoacutelogoLourenccedilo Filho um dos precursores do escolanovismo A escola reafirmava sua posiccedilatildeo comoelemento fundamental no desenvolvimento da sociedade e era defendida enquanto prioridade nademocratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo e das chances oferecidas aos sujeitos

O periacuteodo de 1960 ateacute meados da deacutecada de 1970 tem como o eixo principal a Teoria doCapital Humano Em estudo sobre essa teoria e sua influecircncia no modelo educacional brasileiroGaudecircncio Frigotto em seu livro A produtividade da escola improdutiva afirma que

Do ponto de vista macroeconocircmico o investimento no fator humano passa asignificar um dos determinantes baacutesicos para o aumento da produtividade eelemento de superaccedilatildeo do atraso econocircmico Do ponto de vistamicroeconocircmico constitui-se no fator explicativo das diferenccedilas individuais deprodutividade e renda e consequumlentemente de mobilidade social (FRIGOTTO1984 p 172)

Comungando com os interesses do ltregime militargt vigentenesse periacuteodo a psicologia voltou-se ainda mais para a avaliaccedilatildeodas capacidades e habilidades psiacutequicas associadas ao investimentoindividual e ao rendimento escolar

Nos proacuteximos anos (a partir de 1970) a Teoria da CarecircnciaCultural de origem norte-americana iria influenciar a pesquisa sobreo fracasso escolar colaborando com a construccedilatildeo de um discursoque mantinha a linha de causalidade que culpava o aluno por seuinsucesso na escola Um dos aspectos principais dessa teoria eacute aafirmaccedilatildeo de que a escola eacute inadequada agraves caracteriacutesticas psiacutequicasda crianccedila pobre Esta teoria parte da existecircncia de um supostodeacuteficit considerado natural na populaccedilatildeo pobre o qual impede queas crianccedilas aproveitem as oportunidades oferecidas pela sociedadeA desigualdade social produto da sociedade cindida em classes e obaixo desempenho na escola e no trabalho satildeo ltnaturalizadosgtcom a participaccedilatildeo ativa dos elementos cientiacuteficos emprestados pelapsicologia

Eacute a partir do final dessa deacutecada de 1970 e de modo maispotente na deacutecada de 1980 que comeccedilam a ser construiacutedos outrosespaccedilos de reflexatildeo e de praacuteticas que significaratildeo a abertura denovos caminhos tanto na educaccedilatildeo quanto na psicologia Inaugura-se uma possibilidade de anaacutelise criacutetica do sistema educacionalapontando relaccedilotildees com a estrutura soacutecio-econocircmica vigente que

Alguns ditos popularesservem para esteprocesso fazendo comuma afirmaccedilatildeo sejacompreendida comon a t u r a l inquestionaacutevel

Q u e m t r a b a l h asem pre alcanccedila

O trabalho enobreceo hom em

A cada um segundosuas possibilidades

Ouccedila a muacutesica M e uca r o a m i g o composta por ChicoBuarque de Holandadurante seu exiacutelio naFranccedila Para issouti l ize ocd-rom doAprendente

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alavancam uma criacutetica da psicologia sobre si mesma Satildeo os novos tempos do fim da ditaduramilitar e da democratizaccedilatildeo no Brasil

Eacute a partir de meados da deacutecada de 1980 que a pesquisa em psicologia comeccedila a tentarromper com as alianccedilas que a constituiacuteram como base do discurso eugecircnico higienista e nosuacuteltimos anos pelo menos preconceituoso

No campo da pesquisa ressaltam-se os trabalhos de MariaHelena Sousa Patto que afirma o compromisso ideoloacutegico da psicologiacom os ideais das classes dominantes montando teorias que servissempara explicar as desigualdades sociais (1984) inaugurando um campode criacutetica importante para as posteriores investigaccedilotildees teoacutericas eintervenccedilotildees educacionais Em estudo posterior Patto nos permiteavanccedilar na compreensatildeo do fracasso escolar como uma produccedilatildeosocial e natildeo como decorrecircncia de problemas individuais proacuteprios dapobreza inaugurando uma forte criacutetica agrave lt Teoria da CarecircnciaCultural (1990)gt

Mesmo anunciando esse caminho de construccedilatildeo de umapsicologia criacutetica e baseada em compromissos sociais eacute importanteque se tenha claro que ainda vigoram nas escolas e na sociedadevaacuterias afirmaccedilotildees que se assentam nos trilhos da Teoria da CarecircnciaCultural Essas ideacuteias penetram com muita facilidade no cotidiano daescola e nos debates do senso comum uma vez que coincidem com anecessidade de predomiacutenio dos princiacutepios da sociedade capitalistapor meio de um discurso hegemocircnico

Por isso CUIDADO Sinal Vermelho Na proacutexima Unidadevoltaremos a esses caminhos e agraves proposiccedilotildees e intervenccedilotildees praacuteticasda psicologia daiacute decorrentes Esse procedimento pode contribuirpara que vocecirc nosso aprendente venha a diferenciar praacuteticas ediscursos e reconhecer a que visatildeo de homem de mundo e desociedade estatildeo servindo

Antes poreacutem de dar esse passo em nossa trilha iremos analisar os processos de construccedilatildeodo conhecimento enquanto marcados pelo exerciacutecio do poder que se efetivam no cotidianoescolar trazendo a disciplina como questatildeo teoacuterica e sua gecircnese como objeto de estudo

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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A Teoria da CarecircnciaCultural fois u f i c i e n t e m e n t einvestigada por MariaHelena Sousa Pattoprincipalmente em trecircspublicaccedilotildees Psicologiae I d eo l o g i a u m ai n t r o d u ccedilatildeo c r iacutet i ca agravep s i co l o g i a esco l a r(1984) A produccedilatildeo dof r acasso esco l a r histoacuter ias de subm issatildeoe rebeldia (1990) e notexto Para um a criacutet icada razatildeo psicom eacutet r icapublicado no l ivroMutaccedilotildees do cativeiro(2000 p 5)

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AULA 3 CONHECI MENTO SABER E PODER UM OLHAR SOBRE A I NFAcircNCI AESCOLARIZADA

Ateacute esta etapa de nosso caminho estudamos a construccedilatildeo das teorias psicoloacutegicas e ahistoacuteria da articulaccedilatildeo entre a psicologia a medicina e a pedagogia no Brasil constituindoalianccedilas em nome de uma abordagem cientiacutefica dos problemas educacionais

A partir de agora promoveremos outro tipo de investigaccedilatildeo para que seja possiacutevel umamaior compreensatildeo do cotidiano escolar com base na anaacutelise das praacuteticas educativas e dasrelaccedilotildees sociais que se estabelecem entre alunos profissionais e comunidades

Nosso ponto de partida seratildeo os estudos de Philippe Ariegraves publicados no livro Histoacuteriasocial da infacircncia e da fam iacutelia que demonstram o surgimento das instituiccedilotildees educativas namodernidade caracterizadas por dar sentido a uma infacircncia que passa a ser vista como naturalmentefraacutegil A educaccedilatildeo impositiva moralizante e disciplinadora se justifica pela necessidade de formaros sujeitos que a sociedade comeccedila a conceber como corpos que necessitam de cuidados porquesatildeo deacutebeis e fracos Ariegraves parte da ideacuteia de que esse sentimento de infacircncia tem origem com aemergecircncia da sociedade burguesa e eacute fortalecido pela accedilatildeo dos jesuiacutetas

Para melhor compreender os efeitos da educaccedilatildeo na constituiccedilatildeo dessa infacircncia podemosrecorrer ao filoacutesofo francecircs Michel Foucault quando ele aponta em seu livro Microfiacutesica do Poder(1979) que a disciplina eacute uma teacutecnica de exerciacutecio de poder que foi natildeo inteiramente inventadamas elaborada em seus princiacutepios fundamentais durante o seacuteculo XVIII (p 105) O autor nosentido de melhor esclarecer a origem da disciplina nas sociedades ocidentais afirma que essa eacuteuma arte de distribuiccedilatildeo dos homens no espaccedilo baseada na individualizaccedilatildeo dos corpos (p

105) A disciplina que se exerce sobre cada corpo isoladamente eacute uma praacutetica que permite aclassificaccedilatildeo dos sujeitos observados e controlados A vigilacircncia deve ser permanente para que adisciplina seja conseguida

Foucault ressalta a importacircncia das praacuteticas de exame (provas avaliaccedilotildees) e de penalizaccedilatildeoou castigo como formas de fazer com que os sujeitos internalizem o poder Quanto mais a morale a disciplina forem sentidas como necessaacuterias agrave existecircncia humana mais sucesso teraacute o processode disciplinamento e controle social A citaccedilatildeo a seguir sintetiza a anaacutelise de Foucault sobre essetema

Escola s n a h ist oacuter ia da h um a nida de

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A disciplina eacute o conjunto de teacutecnicas pelas quais os sistemas de poder vatildeo terpor alvo e resultado os indiviacuteduos em sua singularidade Eacute o poder deindividualizaccedilatildeo que tem o exame como instrumento fundamental O exame eacutea vigilacircncia permanente classificatoacuteria que permite distribuir os indiviacuteduosjulgaacute-los medi-los localizaacute-los e por conseguinte utilizaacute-los ao maacuteximo(FOUCAULT 1979 p107)

Retomando as contribuiccedilotildees de Philippe Ariegraves vimos que a modernidade instaura umaseparaccedilatildeo entre o mundo dos adultos e das crianccedilas e para tanto organiza novas formas eespaccedilos de educaccedilatildeo Os coleacutegios (educaccedilatildeo em preacutedios fechados) o mobiliaacuterio (bancos escolaresbirocirc etc) a separaccedilatildeo em classes (inicialmente por conhecimento e mais recentemente poridades e ainda por localizaccedilatildeo na estrutura social) satildeo intervenccedilotildees protagonizadas desde oSeacuteculo XV ateacute os dias de hoje com o objetivo de instruir e moralizar a sociedade

A ideacuteia de que a infacircncia eacute uma produccedilatildeo social natildeo eacute mais novidade para noacutes Temosdebatido durante nosso percurso que o sentimento que hoje temos com relaccedilatildeo agrave infacircnciaapareceu no momento em que a famiacutelia burguesa se distinguiu como elemento central da sociedadecom a preocupaccedilatildeo de formar homens honrados e moralmente constituiacutedos A sociedade maisespecificamente a igreja catoacutelica comeccedila a valorizar a propriedade de bens centrada nas matildeosde nuacutecleos familiares A famiacutelia volta-se para si mesma resguardando seus membros exigindoassim uma educaccedilatildeo rigorosa dos herdeiros

A partir dessas colocaccedilotildees sobre uma disciplina (escolar) que eacute exigida para que a sociedadeexerccedila controle sobre os homens podemos ainda aceitar a ideacuteia de que os conhecimentossaberes ministrados nos coleacutegios foram igualmente objetos de disciplinarizaccedilatildeo isto eacute de umaintervenccedilatildeo para que servissem aos interesses da reforma moral cristatilde e depois laica (SeacuteculoXVIII)

Juacutelia Varella no texto intitulado O estatuto do saber pedagoacutegico (publicado em O sujeitoda Educaccedilatildeo 4 ed 2000) identifica na passagem do Renascimento para a Modernidade umapedagogizaccedilatildeo dos conhecimentos que significa um novo ordenamento dos saberes de acordocom os interesses moralizantes e disciplinadores que emanam da igreja catoacutelica e dos coleacutegiosjesuiacutetas Conforme demonstra essa autora

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O olhar invisiacutevel podeser representado peloPanopticon de Benthanque permite ver tudosem ser visto produzindono aluno a disciplina pelomedo do exame e docastigo

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Para levar adiante seu projeto de formaccedilatildeo de bons cristatildeos os mestresjesuiacutetas natildeo apenas reforccedilaram o estatuto conferido agrave infacircncia com a opccedilatildeode educaacute-la em espaccedilos fechados nos coleacutegios mas sentiram tambeacutem anecessidade de controlar os saberes que iam transmitir e de organizar essessaberes de tal forma que se adequassem agraves supostas capacidades infantis(VARELLA 2000 apud SILVA 1994 p 88)

Os mestres jesuiacutetas se converteram em autoridades maacuteximas exercendo um poder sobreseus alunos retirando toda a possibilidade vivenciada na Idade Meacutedia de autonomia no estudoForam desenvolvidas estrateacutegias e teacutecnicas que tinham como objetivo dirigir ao conhecimento omesmo sentido moralizante que vinha sendo dado agrave formaccedilatildeo dos alunos A disciplina e a ordemnas salas de aula passaram a ser elementos necessaacuterios nesse processo de penalizaccedilatildeo emoralizaccedilatildeo

Em segundo lugar Juacutelia Varella reconhece a existecircncia de um processo que se daacute no interiorda produccedilatildeo do conhecimento o disciplinamento interno dos saberes eliminando o que eraconsiderado como saberes inuacuteteis segundo as normas de moralizaccedilatildeo e reordenando umacomunicaccedilatildeo entre esses retirando-lhes a forccedila e a intensidade Nesse processo eacute importanteque se promova ainda uma classificaccedilatildeo e hierarquizaccedilatildeo entre os saberes promovendo umacentralizaccedilatildeo de cima para baixo As fronteiras entre a histoacuteria a geografia e a sociologia foramtraccediladas por exemplo pela humanidade assim como a orientaccedilatildeo no processo de ensino-aprendizagem do que deve ser ensinado primeiro e qual saber eacute mais nobre isto eacute que deveocupar o topo de todos os conhecimentos

Os processos que foram aos poucos se instaurando apartir do Seacuteculo XVI produziram censura e controle e mais doque isso devido agraves divisotildees impostas que delimitavam as aacutereasde saberes (conhecimentos) buscavam eliminar a ideacuteia dohomem universal acentuando a possibilidade de tornar doacuteceisos corpos (os sujeitos) mediante essa praacutetica disciplinar impostana produccedilatildeo dos saberes Se anteriormente na Idade Meacutedia oaluno detinha um poder sobre o que queria aprender e ondebuscar o conhecimento na era da modernidade essapossibilidade passa a ser inexistente O aluno perde o poder sobre seus caminhos passando a sercompreendido como um mero elemento de transmissatildeo de conhecimento Natildeo mais pode escolhero que deve ser aprendido tampouco o ritmo desse aprendizado ou o que fazer do conhecimentoadquirido A grade de disciplinas hoje tatildeo naturalmente absorvida por todos noacutes em qualquercurso eacute uma produccedilatildeo social e serve a esses interesses de tornar doacutecil o corpo a ser disciplinadoAprendemos esse ordenamento dos saberes e passamos a respeitaacute-los como se fossemincontestaacuteveis naturais e acima de tudo necessaacuterios

Michel Foucault jaacute citado anteriormente reconhece nesse processo a emergecircncia dasociedade disciplinar que funciona confinando aprisionando os homens agraves escolas agraves prisotildeesagraves igrejas aos hospitais agraves faacutebricas etc

Os processos descritos acima por Juacutelia Varella podem ser reconhecidos ateacute hoje nas praacuteticasescolares Poreacutem com a intervenccedilatildeo das miacutedias e dos novos equipamentos sociais jaacute se pode

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identificar um controle que natildeo mais iraacute somente confinar isolar os estudantes nas escolas osloucos nos asilos e os empregados nas faacutebricas para que sejam produtivos

Trata-se da emergecircncia da sociedade de controle que atua de forma contiacutenua Entramem accedilatildeo a TV os microcomputadores e os celulares que permitem conhecer e conectar o mundoa partir de um uacutenico lugar Satildeo maacutequinas que iratildeo estruturar a vida organizando uma subjetividadedo consumo e da informaccedilatildeo Mas como relacionar esse processo aos domiacutenios da escola

Aqui lanccedilaremos matildeo de outro escritor francecircs Feacutelix Guattari (1985) que no estudo Ascreches e a iniciaccedilatildeo publicado no livro intitulado Revoluccedilotildees Moleculares mostra-nos osefeitos do processo de iniciaccedilatildeo das crianccedilas agrave loacutegica capitalista O autor se refere agrave produccedilatildeode modos de viver pensar e sentir que estariam em consonacircncia com os mais novos modos deproduccedilatildeo material na sociedade capitalista industrial Denomina como aparelhos de semiotizaccedilatildeoos viacutedeo-games CD-rom etc Esses aparelhos passam a dar o sentido dos modos de existecircncia

Guattari (1985) indica que as crianccedilas estatildeo sendo iniciadas cada vez mais cedo nossistemas de representaccedilatildeo e nos valores do capitalismo que produzem uma modelagem adequadaaos coacutedigos utilizados em nosso cotidiano Aponta como importante o fato de que se mobilizamno processo de formaccedilatildeo da crianccedila esquemas de aprendizagem que permitem traduzir oconjunto de coacutedigos ou semioacuteticas dominantes Por fim chama a atenccedilatildeo para a necessidade deanalisarmos o funcionamento da creche e o efeito da educaccedilatildeo infantil na constituiccedilatildeo dessecorpo que eacute modelado para atuar produtivamente de acordo com os ideais da sociedade capitalista

A sua grande contribuiccedilatildeo eacute indicar no espaccedilo da educaccedilatildeo uma perspectiva de que acrianccedila venha a aprender o que eacute a sociedade o que satildeo seus instrumentos (GUATTARI 1985p 54) para poder interferir de forma autocircnoma e criativa no mundo Aprender os coacutedigos e osmodos de funcionamento da sociedade na qual estaacute inserida pode ser importante para que acrianccedila tenha a possibilidade de desenvolver formas singulares de estar no mundo

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegico(a)s a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

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UNIDADE II

UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA DO COTIDIANO ESCOLAR

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 4 DOS COLEacuteGI OS DA MODERNI DADE AgraveS ESCOLAS ATUAI S UMAANAacuteLI SE CRIacute TI CA DAS PRAacuteTI CAS COTI DI ANAS

Seguindo a linha de anaacutelise de nosso percurso iremosneste momento buscar os fios que nos permitem compreenderalguns elementos do cotidiano escolar como um espaccedilodisciplinar e controlador das subjetividades O estudo da origemdas praacuteticas educativas a partir dos coleacutegios do Seacuteculo XVIIIforneceu-nos os elementos que seratildeo aqui utilizados paraexercitarmos uma investigaccedilatildeo criacutetica da escola na atualidadeEsse exerciacutecio de reflexatildeo eacute fundamental para que possamosabrir novas portas e inventar outras praacuteticas da psicologia naescola

Com o objetivo de melhor sistematizar nosso trabalho deanaacutelise dividiremos a explanaccedilatildeo em seis itens a saber

1 As praacutet icas cot idianas conspiram cont ra a produccedilatildeoda autonomia e da autogestatildeo

Como jaacute estudamos anteriormente o poder de decisatildeofoi retirado do aluno quando da organizaccedilatildeo dos coleacutegios apartir do Seacuteculo XVIII sendo produzida uma ideacuteia de infacircnciafragilizada e portanto sem possibilidades de exercitar suaautonomia Eacute naturalizada uma concepccedilatildeo de aluno como umcorpo vazio a ser preenchido e modelado

As atividades nas escolas e na vida contemporacircnea passam a ser geridas por outrem -pelo supervisor pelo livro didaacutetico pelos programas governamentais (Escola Aberta Bolsa Escolae outros) - ou coordenadas por entidades como o Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem Aspraacuteticas de avaliaccedilatildeo se apresentam aos alunos como destituiacutedas de sentido Para os professoresessas praacuteticas representam mais uma etapa do processo sendo orientadas pela mesma loacutegica doplanejamento e das atividades contidas no livro didaacutetico Os principais atores sociais (alunos eprofessores) satildeo enfraquecidos no exerciacutecio do poder como sujeitos incapacitados de produzir aarticulaccedilatildeo entre praacuteticas e seus efeitos

Ilustraccedilatildeo de capa do livro O berccedilod a d es i g u a l d a d e de CristovamBuarque com fotos de SebastiatildeoSalgado

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lt Paulo Freiregt ao trabalhar o tema da autonomia no livroPedagogia da Aut onom ia (1996) estabelece a relaccedilatildeo entre oexerciacutecio da liberdade por parte do aluno e da autoridade peloeducador Aponta como fundamental para a construccedilatildeo da autonomiaa praacutetica da responsabilidade Segundo esse educador o educandoque exercita sua liberdade ficaraacute tatildeo mais livre quanto mais eticamentevaacute assumindo a responsabilidade de suas accedilotildees (p 104) mas essaautonomia somente se constitui quando desaparece a relaccedilatildeo dedependecircncia Continuando com o pensamento de Freire ele afirmaque

No fundo o essencial nas relaccedilotildees entre educador eeducando entre autoridade e liberdade entre pais matildeesfilhos filhas eacute a reinvenccedilatildeo do ser humano no aprendizadoda autonomia (FREIRE 1996 p 105)

O pensamento e a accedilatildeo autocircnomos natildeo se datildeo sem que sejamexplicitados os lugares de poder Por isso Paulo Freire fala da reinvenccedilatildeodo ser humano e mais do que isso da reinvenccedilatildeo das relaccedilotildees pedagoacutegicasque deveriam trocar a dependecircncia pela responsabilidade

2 O m odelo educat ivo dest itui os hom ens de sua condiccedilatildeo deprodutores do conhecim ento

A concepccedilatildeo de sujeito a-histoacuterico estaacute presente no contextoescolar onde o conhecimento eacute dado como objetivo e assumido comoverdade absoluta a ser aprendida A organizaccedilatildeo do saber hierarquicamentedisciplinado como nos mostrou Juacutelia Varella na aula anterior (Aula 3Unidade I) elimina a concepccedilatildeo de sujeito como produtor de conhecimentoOs processos de p e d a g o g i z a ccedilatilde o d o s co n h e ci m e n t o s e dedisciplinam ento interno dos saberes estatildeo presentes nas praacuteticaseducacionais atuais fazendo com que tanto alunos quanto professoressejam concebidos como meros coadjuvantes

Trata-se de um treino para o bom comportamento social valorizando o lugar do expectador daquele que natildeo interfere no andamentoda aula e que deve seguir agrave risca o que eacute ditado pelo planejamentomuitas vezes elaborado pelos especialistas da educaccedilatildeo A ausecircncia deuma implicaccedilatildeo dos alunos no processo de aprendizagem eacute consequumlecircnciadesse modelo de escola que somente legitima o conhecimento que eacuteproduzido fora de seu cotidiano A sala de aula eacute assim desumanizada edestituiacuteda de vida proacutepria O mesmo processo eacute vivido pelos educadoresque aprendem no exerciacutecio profissional a praticar e valorizar a obediecircncia

Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

Fo n t e Charge deClaudius Cecconpublicada no livroCu i d a d o Esco l a (p64)

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

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5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I240

A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I242

que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I244

frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I246

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I254

DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I256

Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

257

No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I258

Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 6: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

215

FREIRE Paulo Pedagogia da autonomia saberes necessaacuterios agrave praacutetica da autonomia SatildeoPaulo Ed Paz e Terra 1998

FOUCAULT Michel Microfiacutesica do poder Rio de Janeiro Ed Graal 1979

FRIGOTTO G A produtividade da escola improdutiva Satildeo Paulo CortezAutoresAssociados 1984

GENTILI Pablo ALENCAR Chico Educar na esperanccedila em tempos de desencantoPetroacutepolis Ed Vozes 2001

GONZALEZ REY F L Pesquisa Qualitativa em Psicologia caminhos e desafios Satildeo PauloPioneira Thompson 2002

GUATARRI Felix Revoluccedilatildeo molecular pulsaccedilotildees poliacuteticas do desejo Satildeo Paulo EdBrasiliense 1991

HARPER Babertte CECCON Claudius OLIVEIRA Miguel Darcy e OLIVEIRA Rosiska DarcyCuidado escola Desigualdade domesticaccedilatildeo e algumas saiacutedas Satildeo Paulo Ed Brasiliense1980

KAPLAN I SANDOCK B J Compecircndio de Psiquiatria Porto Alegre Artes Meacutedicas 2003

MACHADO Adriana FERNANDES Angela e ROCHA Marisa (orgs) Novos possiacuteveis noencontro da psicologia com a educaccedilatildeo Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2007

MOYSES Maria Aparecida Afonso A institucionalizaccedilatildeo invisiacutevel - crianccedilas que natildeoaprendem na escola Campinas SP Mercado de Letras Satildeo Paulo Papesp 2001

PATTO Maria Helena Sousa Psicologia e Ideologia uma introduccedilatildeo criacutetica agrave psicologiaescolar Satildeo Paulo T A Queiroz 1984

______ A produccedilatildeo do fracasso escolar histoacuterias de submissatildeo e rebeldia Satildeo Paulo T A Queiroz 1990

______ Mutaccedilotildees do cativeiro escritos de psicologia e poliacutetica Satildeo Paulo EDUSPHackerEditores 2000

______ Exerciacutecios de indignaccedilatildeo escritos de educaccedilatildeo e psicologia Satildeo Paulo Casa doPsicoacutelogo 2005

SILVA Tomaz Tadeu da (org) O sujeito da educaccedilatildeo estudos foucaultianos PetroacutepolisEd Vozes 1994

Sites indicados

wwwineporgbr

wwwpedagogiaemfocoprobrheb07ahtm

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I216

217

UNI VERSI DADE ABERTA DO BRASI LUNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIacuteBA

CURSO DE PEDAGOGI A - MODALI DADE A DI STAcircNCI APSICOLOGIA EDUCACIONAL I

Professora-pesquisadora Dra AcircNGELA MARIA DIAS FERNANDES

DESEMPENHO NO PERCURSO

Aulas Desafios PontuaccedilatildeoDesempenho

obtidoPrazo de

finalizaccedilatildeo

UNIDADE I

Aula 1

1) Esquema das principaiscorrentes de pensamentopsicoloacutegico2) Foacuterum Quais asprincipais diferenccedilas entreas correntes depensamento psicoloacutegico

20

20

Aula 2

Produccedilatildeo de texto sobre aTeoria da CarecircnciaCultural e seu percurso apartir da MedicinaPsicologia e Pedagogia

30

Aula 3

1) Glossaacuterio comconceitos dos termosPedagogizaccedilatildeo dosconhecimentos edisciplinamento dossaberes2) Chat temaacutetico

15

15

Tota l de pontos na Unidade I 100

UNIDADE II

Aula 4Foacuterum relacionando avivecircncia escolar doaprendente com o texto

30

Aula 5 Chat sobre exclusatildeo sociale escola 30

Aula 6Pesquisa de campo(entrevistas comprofessores)

40

Tota l de pontos na Unidade I I 100

UNIDADE III

Aula 7Produccedilatildeo de texto sobreautonomia e Psicologia naescola

30

Aula 8

1) Foacuterum sobre o trabalhodo professor no contoinfantil2) Chat temaacutetico

20

20

Aula 9 Foacuterum sobre propostas emPsicologia Educacional 30

Tota l de pontos na Unidade I I I 100

AVALIACcedilAtildeOPRESENCIAL

(Prova escrita)

Conteuacutedo das trecircsunidades

100 Final dopercurso

TOT AL DE PONTOS OBTI DOS NO PERCURSO

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I218

UNIDADE I

PSI COLOGI A E EDUCACcedilAtildeO ALI ANCcedilAS NA PRODUCcedilAtildeO DE UMOLHAR SOBRE A INFAcircNCIA

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 1 A CONSTRUCcedilAtildeO HI STOacuteRI CA DA PSI COLOGI A

Para estudarmos a psicologia suas teorias praacuteticas e princiacutepios metodoloacutegicos eacute necessaacuterioinicialmente termos conhecimento de sua histoacuteria e do contexto soacutecio-poliacutetico-cultural quepermitiu sua constituiccedilatildeo

1 A const ruccedilatildeo da psicologia cient iacuteficaInicialmente iremos situar a construccedilatildeo cientiacutefica da psicologia a partir das linhas claacutessicas

do pensamento psicoloacutegico behaviorismo gestaltismo funcionalismo psicologia cognitivapsicologia soacutecio-histoacuterica e psicanaacutelise

Todos os historiadores da psicologia concordam que foi Wilhen Wundt na Alemanha emmeados do Seacuteculo XIX que criou os fundamentos cientiacuteficos determinando o objeto de estudo omeacutetodo de pesquisa e os objetivos dessa nova ciecircncia Wundt afirmou a independecircncia dapsicologia em relaccedilatildeo agraves outras ciecircncias situando-a na intermediaccedilatildeo entre as ciecircncias danatureza e da cultura A experiecircncia imediata dos homens era seu foco de interesse baseandosua teoria na ideacuteia de uma unidade psicofiacutesica dos processos elementares da vida mental

No final do Seacuteculo XIX outros estudiosos se lanccedilaram naaventura da pesquisa em psicologia concordando com Wundtou se opondo a ele O Co m p o r t a m e n t a l i sm o ouBehaviorismo surge com John Watson nos EUA que discordaque o foco esteja na experiecircncia imediata Para Watson o objetode estudo da nova ciecircncia deve ser a comportamento humanoEste teoacuterico afirma que o comportamento deve ser visto comoindependente daquilo que o sujeito pensa sente deseja ou emque crecirc Jaacute no iniacutecio do Seacuteculo XX os novos comportamentalistasreordenam os estudos das interaccedilotildees entre os organismos vivose seus ambientes O psicoacutelogo americano BF ltSkinnergt sesobressai ao se referir agrave importacircncia dos condicionamentossociais no comportamento Ele afirma que as experiecircnciassubjetivas satildeo sempre construiacutedas pela sociedade sem nenhumainterferecircncia da consciecircncia ou de um eu interno e formula oconceito de condicionamento operante relacionando aaprendizagem a um sistema de reforccedilo e puniccedilatildeo

Note-se que ateacute aqui estamos trazendo as oposiccedilotildees entre duas linhas de pensamentoSituamos Wundt que afirma a importacircncia das experiecircncias imediatas no estudo do psiquismohumano e uma outra vertente que propotildee ignorar a existecircncia de tais experiecircncias na construccedilatildeoda psicologia cientiacutefica como propotildeem os teoacutericos do comportamentalismo

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

A ca ix a de Sk inn er

219

Nessa polecircmica sobre o estudo do homem podemos situar uma teoriasobremaneira importante - o ltGestaltismogt - mais conhecido comopsicologia da forma que surge na Alemanha no iniacutecio do Seacuteculo XX Emoposiccedilatildeo clara a J Watson seus mais importantes representantes foramMax Wetheimer Kurt Koffka e Wolfgan Koller Seus estudos partiam daexperiecircncia imediata utilizando como meacutetodo a fenomenologia Segundo

esses estudiosos os fenocircmenos da percepccedilatildeo da memoacuteria e da afetividade eram vivenciadossob a forma de estruturas Eles recusavam a ideacuteia de Watson para quem o comportamento eraunicamente dependente do estiacutemulo (relaccedilatildeo conhecida como estiacutemulo-resposta ou E-R) afirmandoque a forma resultante de um processo de percepccedilatildeo era muito mais que a soma das partes Ogestaltismo trazia como preocupaccedilatildeo central a necessidade de se relacionar a experiecircncia imediatados sujeitos com a natureza fiacutesica e bioloacutegica e com o mundo dos valores socioculturais

Outra importante corrente surgida na passagem do SeacuteculoXIX para o Seacuteculo XX nos EUA foi o Funcionalismo Maisconhecido por suas teses adaptacionistas traz uma grandeinfluecircncia das teorias evolucionistas de lt Charles Darw ingt Os estudiosos dessa corrente admitiam a possibilidade de seestudar a mente por meio dos comportamentos e para a suasobrevivecircncia o ser humano deveria adaptar-se agraves condiccedilotildeesambientais John Dewey foi o que mais trouxe contribuiccedilotildees nocampo da educaccedilatildeo afirmando que o ensino deveria orientar-se para o aluno e natildeo para o assunto Acreditava com issoque se poderia formar o ser humano adaptando-o agravesnecessidades da sociedade por meio da educaccedilatildeo

As receacutem estruturadas sociedades industriais capitalistas iratildeo indicar para a correnteadaptacionista uma importante tarefa a de cont r ibuir com invest igaccedilotildees cient iacutef icas sobre oshomens com o objetivo de melhor adaptaacute-los agrave nova ordem social A psicologia se desenvolveno iniacutecio do Seacuteculo XX com a construccedilatildeo de instrumentos de mensuraccedilatildeo da inteligecircncia e dapersonalidade Os testes psicoloacutegicos propostos pelos pesquisadores eram utilizados nosprocedimentos de seleccedilatildeo e orientaccedilatildeo no trabalho e na escola Tanto nos EUA com FrancisGalton quanto na Franccedila com Binet e Simon assiste-se ao desenvolvimento da psicometriautilizada na educaccedilatildeo como forma de conhecer as caracteriacutesticas de cada sujeito Esseconhecimento serviria para justificar a partir das diferenccedilas individuais a distribuiccedilatildeo em classessociais distintas colocando fora de questionamento a desigualdade social e distribuiccedilatildeo desigualde oportunidades

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

O filme Tempos Modernos de Charles Chaplin jaacute foiobjeto de reflexotildees no MarcoI Caso deseje revecirc-lo dirija-se ao Poacutelo Municipal de ApoioPresencial de sua cidade

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I220

A configuraccedilatildeo do objeto de estudos da psicologia centrada no indiviacuteduo afasta a necessidadede uma anaacutelise contextualizada da sociedade onde os sujeitos estatildeo inseridos assim como suaforma de inserccedilatildeo Nas sociedades marcadas pela divisatildeo em classes e cuja base eacute o modelocapitalista de produccedilatildeo difunde-se a crenccedila na igualdade de oportunidades minimizando ainfluecircncia do modo de produccedilatildeo na localizaccedilatildeo dos sujeitos na estrutura social As diferenccedilasindividuais satildeo utilizadas para mascarar a impossibilidade de que a as oportunidades sejam iguaispara todos Assim aprofunda-se a marca principal da psicologia desde sua criaccedilatildeo a de selecionarorientar adaptar e racionalizar a existecircncia humana em nome da produtividade e da eficaacutecia

Podemos situar ainda a Psicologia Cognitiva como outracorrente que se oporaacute aos princiacutepios do ComportamentalismoltJean Piagetgt eacute um importante estudioso do desenvolvimentoinfantil cuja base satildeo as estruturas cognitivas A criacutetica agraveobjetividade cientiacutefica observada nas teorias comportamentaise funcionalistas eacute um importante fundamento desse caminhode pensamento sobre o ser humano e traraacute enormescontribuiccedilotildees para a educaccedilatildeo

Lev Vygotsky psicoacutelogo russo propocircs no iniacutecio do Seacuteculo XX uma nova teoria a PsicologiaSoacutecio-histoacuterica que parte da afirmaccedilatildeo da construccedilatildeo social do conhecimento e da importacircnciada mediaccedilatildeo da educaccedilatildeo da escola e do professor nos processos de ensino e de aprendizagemTrata-se de um importante passo na direccedilatildeo de relacionar o individual e o social na compreensatildeodo psiquismo humano

Sigmund Freud o criador da ltPsicanaacutelisegt eacute tambeacutemsituado no campo dos estudiosos da gecircnese do sujeito Emoposiccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees positivistas e objetivadoras dofuncionalismo psiacutequico Freud iraacute definir o inconsciente comoobjeto de estudo Ele concebe a ideacuteia de uma subjetividadecindida e incompleta recusando o eu como centro dopsiquismo o que torna a psicanaacutelise uma teoria original

2 Desenvolvim ento da psicologia no seacuteculo XX

A partir dessas correntes claacutessicas (behaviorismo gestaltismo funcionalismo psicologiacognitiva psicologia soacutecio-histoacuterica e psicanaacutelise) observa-se na histoacuteria da psicologia o surgimentode outras teorias e estrateacutegias de atuaccedilatildeo Podemos destacar nesse processo as teorias ligadasagrave psicologia dos grupos a teoria humanista as teorias da subjetividade e aquelas que surgem apartir do movimento institucionalista

Os estudiosos da histoacuteria da psicologia assinalam o meacutedicoJ Prattes como o pioneiro nos trabalhos com grupos em 1906mas eacute consensual a afirmaccedilatildeo de que foi Moreno psiquiatraromeno que na deacutecada de 1930 nos EUA idealizou olt p sico d r a m a gt uma passagem da arte dramaacutetica agravepsicoterapia

O alematildeo Kurt Lewin eacute tambeacutem situado no campo das psicoterapias de grupo incrementadas

D ivatilde u t i l iz a do pe lo psica n a l ist a ee x p o st o n o M u se u Fr e u d e mLon d r e s

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

221

pelas condiccedilotildees do poacutes-guerra (deacutecada de 1940) impondo a necessidade de expansatildeo dostrabalhos de sauacutede mental e de recuperaccedilatildeo imediata da matildeo-de-obra deteriorada Em 1944Lewin criou o conceito de dinacircmica de grupo afirmando que o grupo eacute mais do que a soma dassuas partes e que quando haacute modificaccedilatildeo de uma das partes a estrutura grupal se modificaOutro teoacuterico da psicologia dos grupos eacute o argentino Pichoacuten Riviegravere que estruturou a estrateacutegiado grupo operativo que considerava que um grupo soacute se estruturava quando estivesse operandosobre uma tarefa

Como pode ser observado ateacute esta etapa de nossa aula a partir da segunda guerramundial a psicologia fortalece seu interesse pelo social natildeo soacute no campo da pesquisa considerandosua repercussatildeo na constituiccedilatildeo dos sujeitos como tambeacutem enquanto espaccedilo de intervenccedilatildeo emorganizaccedilotildees (hospitais escolas faacutebricas sindicatos etc)

As teorias ligadas agrave Psicologia Humanista constituem outro importante espaccedilo de praacuteticasna qual se sobressaem Carl Rogers da Abordagem Centrada na Pessoa e alguns teoacutericos dagestalt-terapia e da Bioenergeacutetica traduzindo muito bem uma forma mais intimista de responderaos acontecimentos dos anos de 1960 e 1970 Priorizando o corpo o auto-conhecimento e aliberaccedilatildeo dos sujeitos os autores humanistas centram sua preocupaccedilatildeo na adaptaccedilatildeo do homemao meio de forma criativa e ativa

Ainda nas deacutecadas de 1950 e 1960 assiste-se a um movimento de resistecircncia principalmentena Europa que se faz presente nos hospitais e nas escolas aliando a psicologia a sociologia aeducaccedilatildeo e a psiquiatria O Movimento Institucionalista nasce de uma criacutetica agrave organizaccedilatildeohieraacuterquica e centralizadora tanto nos hospitais psiquiaacutetricos quanto nas organizaccedilotildees escolaresconstituindo-se a Psicoterapia I nst itucional (1950) e mais tarde (1962) a PedagogiaInstitucional A Psicossociologia Institucional significa um avanccedilo no processo de autogestatildeoe juntamente com os anti-institucionalistas (Lang Cooper e Ivan Illich) iraacute criar as condiccedilotildeespara o surgimento de uma outra perspectiva de intervenccedilatildeo em 1963 conhecida como AnaacuteliseInstitucional

Por sua criacutetica agrave sociedade capitalista e aoconservadorismo os institucionalistas relacionam-se comos ltmovimentos da contra-cultura na Franccedilagt e emoutros paiacuteses e elaboram inspirados em conceitos devaacuterias correntes da psicologia da sociologia e da filosofiapropostas de investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Essas ideacuteiassatildeo representadas principalmente pelos franceses ReneacuteLourau Felix Guattari e Georges Lapassade

No Brasil apoacutes a ditadura militar essas formulaccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas encontraramum terreno feacutertil junto a psicoacutelogos implicados com os movimentos sociais propondo um conjuntode ferramentas proacuteprias para a intervenccedilatildeo em instituiccedilotildees conceituadas como praacuteticas sociaise para a compreensatildeo das subjetividades

Nas duas uacuteltimas deacutecadas do Seacuteculo XX e iniacutecio do Seacuteculo XXI a partir dos avanccedilos dacomunicaccedilatildeo da expansatildeo de outras linguagens como a informaacutetica e do surgimento de novasproblemaacuteticas sociais configuram-se teorias e proposiccedilotildees centradas algumas delas tambeacutemno conceito de Subjetividade Fernando Gonzaacutelez Rey identifica na histoacuteria desse conceito umprocesso de ruptura com a psicologia cientiacutefica objetiva e neutra tendo significado um desafio

Paris em 1968

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I222

na afirmaccedilatildeo de uma psique que se constroacutei a partir de uma visatildeo cultural em uma dimensatildeocomplexa e dialeacutetica Esse estudioso da psicologia aponta a obra de Vygotsky pouco valorizadano Ocidente ateacute muito recentemente como um marco na definiccedilatildeo do conceito de subjetividade

A psicanaacutelise e a psicologia soacutecio-histoacuterica de L Vygotsky e outras linhas de pensamentotecircm sido revistas em associaccedilatildeo com diversas aacutereas do conhecimento inaugurando um caminhointerdisciplinar

Nesses uacuteltimos trinta anos ainda as teorias comportamentais vecircm buscando sua renovaccedilatildeomediante o aprimoramento das teacutecnicas quantitativas de avaliaccedilatildeo de valores sociais e de programasde assistecircncia e e intervenccedilotildees no campo da cogniccedilatildeo e do treinamento comportamental

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

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AULA 2 PSI COLOGI A E EDUCACcedilAtildeO NO BRASI L COMPROMI SSOS E ALI ANCcedilAS

Como vimos na aula anterior a constituiccedilatildeo da psicologia comociecircncia data de meados do Seacuteculo XIX com Wundt na AlemanhaNesse periacuteodo de mais de um seacuteculo de construccedilotildees teoacutericas eproposiccedilotildees praacuteticas constatamos a existecircncia de uma variedadede olhares sobre o homem e seu funcionamento psiacutequico Percebemosao longo da histoacuteria da psicologia que natildeo existe um pensamentouacutenico e que o contexto soacutecio-histoacuterico e a forma como o psicoacutelogopesquisador compreende o mundo e nele se insere seratildeo umimportantes fatores que determinaratildeo a proposta formulada

No Brasil assistiremos a um processo que segundo algunspsicoacutelogos brasileiros preocupados com a historiografia dessaciecircncia tem relaccedilatildeo com as experiecircncias de colonizaccedilatildeo eafirmaccedilatildeo dos interesses de uma classe dominante fortementemarcada por teorias racistas e eugecircnicas alimentadas pela obrade Charles Darwin e suas consequumlecircncias para o estudo dohomem O impulsionamento da psicologia como ciecircncia no Brasileacute relacionado a necessidades impostas pelo desenvolvimentourbano-industrial agraves novas formas de ocupaccedilatildeo das cidadesditadas pela Repuacuteblica e ao reordenamento da forccedila de trabalhona direccedilatildeo da escola preferencialmente profissionalizante

A constituiccedilatildeo da psicologia desde fins do Seacuteculo XIX e iniacuteciodo Seacuteculo XX deu-se em estreita articulaccedilatildeo com a educaccedilatildeo e amedicina podendo-se afirmar que a psicologia foi gerada no interiordessas duas aacutereas de conhecimento sendo nesses campos em quedesenvolveraacute seu projeto de autonomizaccedilatildeo como demonstra MitzukoAntunes em seu estudo a ltPsicologia no Brasil leitura histoacutericasobre sua constituiccedilatildeogt

A atuaccedilatildeo da psicologia junto agraves instituiccedilotildees de sauacutede noiniacutecio do Seacuteculo XX fez-se em nome do controle social com sentidopreventivista e eugecircnico A psiquiatria e o higienismo quecaracterizaram a medicina da eacutepoca clamaram pela participaccedilatildeo dapsicologia na detecccedilatildeo da anormalidade como tambeacutem na prevenccedilatildeo de problemas sociais quepoderiam advir relacionados agrave presenccedila das raccedilas que eram consideradas inferiores e que poderiamperturbar a ordem na vida urbana

A Liga Brasileira de Higiene Mental criada em 1920 representou de maneira radical essesideais tendo se colocado abertamente a favor do aperfeiccediloamento da raccedila (ariana) e contra osnegros e mesticcedilos que eram caracterizados pelas teorias racistas da eacutepoca como indolentesdegenerados preguiccedilosos e sujeitos a enfermidades por sua natureza e iacutendole Os princiacutepios da

Antes de prosseguir aleitura da aula volte agraveaula anterior e revejaquais as principaiscorrentes dapsicologia no processode sua construccedilatildeohistoacuterica

Dirija-se agrave bibliotecado Poacutelo Municipal deApoio Presencial e faccedilaa leitura dos capiacutetulos1 e 2 da Parte II dolivro de MitzukoAntunes (p 37-85)

Trabalhadores da Faacutebricade Tecidos Videira

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 2 Aula 3Aula 1

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I224

higienizaccedilatildeo e da disciplinarizaccedilatildeo da sociedade iratildeo caracterizar o trabalho nas instituiccedilotildeespsiquiaacutetricas preocupadas com uma intervenccedilatildeo para aleacutem do encarceramento da loucura

Apesar da diversidade de pesquisas que se desenvolviam em outros paiacuteses no Brasil ainfluecircncia da pesquisa experimental baseada na psicometria ocorreu de forma hegemocircnica ateacute

pelo menos a deacutecada de 1980

Nas instituiccedilotildees educacionais a preocupaccedilatildeo central era com o analfabetismo e a falta deinstruccedilatildeo do povo brasileiro em um paiacutes em franco desenvolvimento e requisitando uma matildeo-de-obra conhecedora pelo menos da leitura e da escrita Vaacuterios movimentos pela difusatildeo e ampliaccedilatildeoda escola puacuteblica e gratuita surgiram no paiacutes mostrando diferentes ideais de sociedade que vatildeodesde a preparaccedilatildeo para o trabalho ateacute uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo como emancipadora dopovo em uma luta contra a opressatildeo colonialista Nesse quadro a demanda dos profissionais daeducaccedilatildeo no sentido de construir uma pedagogia moderna e cientiacutefica fez da psicologia seuprincipal ponto de sustentaccedilatildeo uma vez que fornecia as bases de conhecimento sobre osindiviacuteduos o processo de desenvolvimento psiacutequico as vocaccedilotildees emoccedilotildees e a organizaccedilatildeo dapersonalidade

A preocupaccedilatildeo com o indiviacuteduo e com as teacutecnicas que pudessem instrumentalizar a praacuteticaeducativa fez surgir no Brasil no iniacutecio do Seacuteculo XX uma seacuterie de Laboratoacuterios e Institutosvoltados para a pesquisa psicoloacutegica destacando-se o Pedagogium depois transformado emLaboratoacuterio de Psicologia Experimental no Rio de Janeiro o Instituto de Psicologia de Pernambucoa Escola de Aperfeiccediloamento Pedagoacutegico de Belo Horizonte e o Laboratoacuterio de PedagogiaExperimental de Satildeo Paulo Nesse periacuteodo surgem as Escolas Normais encarregadas da formaccedilatildeode professores

No processo de constituiccedilatildeo cientiacutefica da pedagogia e de afirmaccedilatildeo da psicologia oslaboratoacuterios e institutos de pesquisa vatildeo sendo incorporados a essas escolas A instalaccedilatildeo desalas de exame psicoloacutegico e de afericcedilatildeo antropomeacutetrica seguia a demanda de higienizaccedilatildeo dapopulaccedilatildeo vigente na eacutepoca e era inspirada nas pesquisas trazidas da Europa e dos EUA queprivilegiavam a psicometria de modo geral Apesar da pouca inserccedilatildeo nas escolas oficiais essapraacutetica serviu para difundir e legitimar o discurso cientiacutefico utilizado para explicar a localizaccedilatildeo decada indiviacuteduo na estrutura social A existecircncia de diferenccedilas individuais era o principal argumentodesse discurso sendo desconsideradas desse esquema de causalidade as imposiccedilotildees da sociedadecapitalista industrial e sua principal base que eacute a divisatildeo em classes sociais com chances epossibilidades desiguais

Em um estudo sobre a disciplina na sociedade moderna em que analisa o funcionamento doGabinete de Antropologia e Psicologia Pedagoacutegica de Satildeo Paulo Marta Carvalho afirma

Neste horizonte criteacuterios raciais nem sempre explicitados traccedilavam os limitesdas boas intenccedilotildees republicanas operando a distinccedilatildeo entre populaccedilotildeeseducaacuteveis capazes portanto de cidadania e populaccedilotildees em que o peso dahereditariedade (leia-se raccedila ) era a marca de um destino que a educaccedilatildeo

era incapaz de alterar (CARVALHO 2006 p 299)

A partir da deacutecada de 1920 e principalmente de 1930 o ideaacuterio escolanovista baseadonos princiacutepios da modernidade fez-se mais presente na educaccedilatildeo brasileira mobilizando os

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educadores na luta contra os elevados iacutendices de repetecircncia eevasatildeo na escola puacuteblica A educaccedilatildeo era compreendida comoa base de uma sociedade saudaacutevel que precisava ser moralmentepreparada para o trabalho

Os novos intelectuais se uniram em torno da crenccedila de que a sauacutede e a educaccedilatildeo eramfatores capazes de promover a necessaacuteria regeneraccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira A preocupaccedilatildeocom o rendimento na escola promoveu a incorporaccedilatildeo do ltmodelo tayloristagt de produccedilatildeofabril afirmando na educaccedilatildeo as posiccedilotildees tecnicistas norteadas pela eficiecircncia e eficaacutecia dasaccedilotildees No trecho abaixo Maria Helena de Souza Patto (2003) expressa o significado dainfluecircncia desse modelo produtivo na educaccedilatildeo ao identificar um vieacutes adaptacionista naproduccedilatildeo em seacuterie de alunos perfeitamente adaptados aos diferentes lugares que lhes seratildeo

destinados numa realidade social inquestionada

Eis a via da naturalizaccedilatildeo da desigualdade que temorigem na maneira como a sociedade se estrutura maseacute lida como diferenccedila bioloacutegica ou psicoloacutegica deaptidatildeo intelectual entre grupos e indiviacuteduos (PATTO2003 p 33)

O movimento chamado Escola Nova esboccedilou-se na deacutecada de 1920 no Brasil

O mundo vivia agrave eacutepoca um momento de crescimento industrial e de expansatildeourbana e nesse contexto um grupo de intelectuais brasileiros sentiu necessidadede preparar o paiacutes para acompanhar esse desenvolvimento A educaccedilatildeo era poreles percebida como o elemento-chave para promover a remodelaccedilatildeo requerida

Inspirados nas ideacuteias poliacutetico-filosoacuteficas de igualdade entre os homens e do direitode todos agrave educaccedilatildeo esses intelectuais viam num sistema estatal de ensinopuacuteblico livre e aberto o uacutenico meio efetivo de combate agraves desigualdades sociaisda naccedilatildeoDenominado de Escola Nova o movimento ganhou impulso na deacutecada de 1930apoacutes a divulgaccedilatildeo do lt Manifesto da Escola Novagt (1932) Nesse documentodefendia-se a universalizaccedilatildeo da escola puacuteblica laica e gratuita Entre os seussignataacuterios destacavam-se os nomes de Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo

Lourenccedilo Filho e Ceciacutelia Meireles

Para ler o Manifesto dosPioneiros acessewwwpedagogiaemfocoprobrheb07ahtm

O americano lt Freder ick Taylorgt considerado o pai da organizaccedilatildeo cientiacutefica dotrabalho propocircs um modelo de produccedilatildeo industrial aliando eficaacutecia e eficiecircnciaSua preocupaccedilatildeo era com o sistema produtivo e natildeo com o homem negando aotrabalhador qualquer manifestaccedilatildeo criativa ou participaccedilatildeo O ideaacuterio tayloristafoi transposto para a educaccedilatildeo promovendo uma valorizaccedilatildeo do tecnicismo tendocomo efeitos a fragmentaccedilatildeo e a hierarquizaccedilatildeo do ensino e do conhecimento

Dirija-se ao PMAP pararealizar a leitura do texto Oque a h ist oacuter ia pode dizerso b r e a p r o f i ssatilde o d op si coacute l o g o a r e l a ccedilatilde opsicologia e educaccedilatildeo deMaria Helena de S Patto nolivro P si co l o g i a ecompromisso social

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Associada agrave escola nova a psicologia continuou fornecendo os subsiacutedios cientiacuteficos para oconhecimento das possibilidades individuais e das dificuldades escolares natildeo mais identificadascomo efeito da hereditariedade e da raccedila mas da organizaccedilatildeo e dos haacutebitos familiares e doambiente soacutecio-cultural Manteacutem-se a utilizaccedilatildeo dos instrumentos de avaliaccedilatildeo psicoloacutegica cadavez mais associada agrave pesquisa sobre o fracasso escolar e centrada no aluno e nos processos deaprendizagem

Na deacutecada de 1950 amplia-se para aleacutem do aluno o campo de pesquisa educacional praticadaprincipalmente nos institutos ligados ao governo que tinham em seus quadros o psicoacutelogoLourenccedilo Filho um dos precursores do escolanovismo A escola reafirmava sua posiccedilatildeo comoelemento fundamental no desenvolvimento da sociedade e era defendida enquanto prioridade nademocratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo e das chances oferecidas aos sujeitos

O periacuteodo de 1960 ateacute meados da deacutecada de 1970 tem como o eixo principal a Teoria doCapital Humano Em estudo sobre essa teoria e sua influecircncia no modelo educacional brasileiroGaudecircncio Frigotto em seu livro A produtividade da escola improdutiva afirma que

Do ponto de vista macroeconocircmico o investimento no fator humano passa asignificar um dos determinantes baacutesicos para o aumento da produtividade eelemento de superaccedilatildeo do atraso econocircmico Do ponto de vistamicroeconocircmico constitui-se no fator explicativo das diferenccedilas individuais deprodutividade e renda e consequumlentemente de mobilidade social (FRIGOTTO1984 p 172)

Comungando com os interesses do ltregime militargt vigentenesse periacuteodo a psicologia voltou-se ainda mais para a avaliaccedilatildeodas capacidades e habilidades psiacutequicas associadas ao investimentoindividual e ao rendimento escolar

Nos proacuteximos anos (a partir de 1970) a Teoria da CarecircnciaCultural de origem norte-americana iria influenciar a pesquisa sobreo fracasso escolar colaborando com a construccedilatildeo de um discursoque mantinha a linha de causalidade que culpava o aluno por seuinsucesso na escola Um dos aspectos principais dessa teoria eacute aafirmaccedilatildeo de que a escola eacute inadequada agraves caracteriacutesticas psiacutequicasda crianccedila pobre Esta teoria parte da existecircncia de um supostodeacuteficit considerado natural na populaccedilatildeo pobre o qual impede queas crianccedilas aproveitem as oportunidades oferecidas pela sociedadeA desigualdade social produto da sociedade cindida em classes e obaixo desempenho na escola e no trabalho satildeo ltnaturalizadosgtcom a participaccedilatildeo ativa dos elementos cientiacuteficos emprestados pelapsicologia

Eacute a partir do final dessa deacutecada de 1970 e de modo maispotente na deacutecada de 1980 que comeccedilam a ser construiacutedos outrosespaccedilos de reflexatildeo e de praacuteticas que significaratildeo a abertura denovos caminhos tanto na educaccedilatildeo quanto na psicologia Inaugura-se uma possibilidade de anaacutelise criacutetica do sistema educacionalapontando relaccedilotildees com a estrutura soacutecio-econocircmica vigente que

Alguns ditos popularesservem para esteprocesso fazendo comuma afirmaccedilatildeo sejacompreendida comon a t u r a l inquestionaacutevel

Q u e m t r a b a l h asem pre alcanccedila

O trabalho enobreceo hom em

A cada um segundosuas possibilidades

Ouccedila a muacutesica M e uca r o a m i g o composta por ChicoBuarque de Holandadurante seu exiacutelio naFranccedila Para issouti l ize ocd-rom doAprendente

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alavancam uma criacutetica da psicologia sobre si mesma Satildeo os novos tempos do fim da ditaduramilitar e da democratizaccedilatildeo no Brasil

Eacute a partir de meados da deacutecada de 1980 que a pesquisa em psicologia comeccedila a tentarromper com as alianccedilas que a constituiacuteram como base do discurso eugecircnico higienista e nosuacuteltimos anos pelo menos preconceituoso

No campo da pesquisa ressaltam-se os trabalhos de MariaHelena Sousa Patto que afirma o compromisso ideoloacutegico da psicologiacom os ideais das classes dominantes montando teorias que servissempara explicar as desigualdades sociais (1984) inaugurando um campode criacutetica importante para as posteriores investigaccedilotildees teoacutericas eintervenccedilotildees educacionais Em estudo posterior Patto nos permiteavanccedilar na compreensatildeo do fracasso escolar como uma produccedilatildeosocial e natildeo como decorrecircncia de problemas individuais proacuteprios dapobreza inaugurando uma forte criacutetica agrave lt Teoria da CarecircnciaCultural (1990)gt

Mesmo anunciando esse caminho de construccedilatildeo de umapsicologia criacutetica e baseada em compromissos sociais eacute importanteque se tenha claro que ainda vigoram nas escolas e na sociedadevaacuterias afirmaccedilotildees que se assentam nos trilhos da Teoria da CarecircnciaCultural Essas ideacuteias penetram com muita facilidade no cotidiano daescola e nos debates do senso comum uma vez que coincidem com anecessidade de predomiacutenio dos princiacutepios da sociedade capitalistapor meio de um discurso hegemocircnico

Por isso CUIDADO Sinal Vermelho Na proacutexima Unidadevoltaremos a esses caminhos e agraves proposiccedilotildees e intervenccedilotildees praacuteticasda psicologia daiacute decorrentes Esse procedimento pode contribuirpara que vocecirc nosso aprendente venha a diferenciar praacuteticas ediscursos e reconhecer a que visatildeo de homem de mundo e desociedade estatildeo servindo

Antes poreacutem de dar esse passo em nossa trilha iremos analisar os processos de construccedilatildeodo conhecimento enquanto marcados pelo exerciacutecio do poder que se efetivam no cotidianoescolar trazendo a disciplina como questatildeo teoacuterica e sua gecircnese como objeto de estudo

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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A Teoria da CarecircnciaCultural fois u f i c i e n t e m e n t einvestigada por MariaHelena Sousa Pattoprincipalmente em trecircspublicaccedilotildees Psicologiae I d eo l o g i a u m ai n t r o d u ccedilatildeo c r iacutet i ca agravep s i co l o g i a esco l a r(1984) A produccedilatildeo dof r acasso esco l a r histoacuter ias de subm issatildeoe rebeldia (1990) e notexto Para um a criacutet icada razatildeo psicom eacutet r icapublicado no l ivroMutaccedilotildees do cativeiro(2000 p 5)

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AULA 3 CONHECI MENTO SABER E PODER UM OLHAR SOBRE A I NFAcircNCI AESCOLARIZADA

Ateacute esta etapa de nosso caminho estudamos a construccedilatildeo das teorias psicoloacutegicas e ahistoacuteria da articulaccedilatildeo entre a psicologia a medicina e a pedagogia no Brasil constituindoalianccedilas em nome de uma abordagem cientiacutefica dos problemas educacionais

A partir de agora promoveremos outro tipo de investigaccedilatildeo para que seja possiacutevel umamaior compreensatildeo do cotidiano escolar com base na anaacutelise das praacuteticas educativas e dasrelaccedilotildees sociais que se estabelecem entre alunos profissionais e comunidades

Nosso ponto de partida seratildeo os estudos de Philippe Ariegraves publicados no livro Histoacuteriasocial da infacircncia e da fam iacutelia que demonstram o surgimento das instituiccedilotildees educativas namodernidade caracterizadas por dar sentido a uma infacircncia que passa a ser vista como naturalmentefraacutegil A educaccedilatildeo impositiva moralizante e disciplinadora se justifica pela necessidade de formaros sujeitos que a sociedade comeccedila a conceber como corpos que necessitam de cuidados porquesatildeo deacutebeis e fracos Ariegraves parte da ideacuteia de que esse sentimento de infacircncia tem origem com aemergecircncia da sociedade burguesa e eacute fortalecido pela accedilatildeo dos jesuiacutetas

Para melhor compreender os efeitos da educaccedilatildeo na constituiccedilatildeo dessa infacircncia podemosrecorrer ao filoacutesofo francecircs Michel Foucault quando ele aponta em seu livro Microfiacutesica do Poder(1979) que a disciplina eacute uma teacutecnica de exerciacutecio de poder que foi natildeo inteiramente inventadamas elaborada em seus princiacutepios fundamentais durante o seacuteculo XVIII (p 105) O autor nosentido de melhor esclarecer a origem da disciplina nas sociedades ocidentais afirma que essa eacuteuma arte de distribuiccedilatildeo dos homens no espaccedilo baseada na individualizaccedilatildeo dos corpos (p

105) A disciplina que se exerce sobre cada corpo isoladamente eacute uma praacutetica que permite aclassificaccedilatildeo dos sujeitos observados e controlados A vigilacircncia deve ser permanente para que adisciplina seja conseguida

Foucault ressalta a importacircncia das praacuteticas de exame (provas avaliaccedilotildees) e de penalizaccedilatildeoou castigo como formas de fazer com que os sujeitos internalizem o poder Quanto mais a morale a disciplina forem sentidas como necessaacuterias agrave existecircncia humana mais sucesso teraacute o processode disciplinamento e controle social A citaccedilatildeo a seguir sintetiza a anaacutelise de Foucault sobre essetema

Escola s n a h ist oacuter ia da h um a nida de

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A disciplina eacute o conjunto de teacutecnicas pelas quais os sistemas de poder vatildeo terpor alvo e resultado os indiviacuteduos em sua singularidade Eacute o poder deindividualizaccedilatildeo que tem o exame como instrumento fundamental O exame eacutea vigilacircncia permanente classificatoacuteria que permite distribuir os indiviacuteduosjulgaacute-los medi-los localizaacute-los e por conseguinte utilizaacute-los ao maacuteximo(FOUCAULT 1979 p107)

Retomando as contribuiccedilotildees de Philippe Ariegraves vimos que a modernidade instaura umaseparaccedilatildeo entre o mundo dos adultos e das crianccedilas e para tanto organiza novas formas eespaccedilos de educaccedilatildeo Os coleacutegios (educaccedilatildeo em preacutedios fechados) o mobiliaacuterio (bancos escolaresbirocirc etc) a separaccedilatildeo em classes (inicialmente por conhecimento e mais recentemente poridades e ainda por localizaccedilatildeo na estrutura social) satildeo intervenccedilotildees protagonizadas desde oSeacuteculo XV ateacute os dias de hoje com o objetivo de instruir e moralizar a sociedade

A ideacuteia de que a infacircncia eacute uma produccedilatildeo social natildeo eacute mais novidade para noacutes Temosdebatido durante nosso percurso que o sentimento que hoje temos com relaccedilatildeo agrave infacircnciaapareceu no momento em que a famiacutelia burguesa se distinguiu como elemento central da sociedadecom a preocupaccedilatildeo de formar homens honrados e moralmente constituiacutedos A sociedade maisespecificamente a igreja catoacutelica comeccedila a valorizar a propriedade de bens centrada nas matildeosde nuacutecleos familiares A famiacutelia volta-se para si mesma resguardando seus membros exigindoassim uma educaccedilatildeo rigorosa dos herdeiros

A partir dessas colocaccedilotildees sobre uma disciplina (escolar) que eacute exigida para que a sociedadeexerccedila controle sobre os homens podemos ainda aceitar a ideacuteia de que os conhecimentossaberes ministrados nos coleacutegios foram igualmente objetos de disciplinarizaccedilatildeo isto eacute de umaintervenccedilatildeo para que servissem aos interesses da reforma moral cristatilde e depois laica (SeacuteculoXVIII)

Juacutelia Varella no texto intitulado O estatuto do saber pedagoacutegico (publicado em O sujeitoda Educaccedilatildeo 4 ed 2000) identifica na passagem do Renascimento para a Modernidade umapedagogizaccedilatildeo dos conhecimentos que significa um novo ordenamento dos saberes de acordocom os interesses moralizantes e disciplinadores que emanam da igreja catoacutelica e dos coleacutegiosjesuiacutetas Conforme demonstra essa autora

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O olhar invisiacutevel podeser representado peloPanopticon de Benthanque permite ver tudosem ser visto produzindono aluno a disciplina pelomedo do exame e docastigo

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Para levar adiante seu projeto de formaccedilatildeo de bons cristatildeos os mestresjesuiacutetas natildeo apenas reforccedilaram o estatuto conferido agrave infacircncia com a opccedilatildeode educaacute-la em espaccedilos fechados nos coleacutegios mas sentiram tambeacutem anecessidade de controlar os saberes que iam transmitir e de organizar essessaberes de tal forma que se adequassem agraves supostas capacidades infantis(VARELLA 2000 apud SILVA 1994 p 88)

Os mestres jesuiacutetas se converteram em autoridades maacuteximas exercendo um poder sobreseus alunos retirando toda a possibilidade vivenciada na Idade Meacutedia de autonomia no estudoForam desenvolvidas estrateacutegias e teacutecnicas que tinham como objetivo dirigir ao conhecimento omesmo sentido moralizante que vinha sendo dado agrave formaccedilatildeo dos alunos A disciplina e a ordemnas salas de aula passaram a ser elementos necessaacuterios nesse processo de penalizaccedilatildeo emoralizaccedilatildeo

Em segundo lugar Juacutelia Varella reconhece a existecircncia de um processo que se daacute no interiorda produccedilatildeo do conhecimento o disciplinamento interno dos saberes eliminando o que eraconsiderado como saberes inuacuteteis segundo as normas de moralizaccedilatildeo e reordenando umacomunicaccedilatildeo entre esses retirando-lhes a forccedila e a intensidade Nesse processo eacute importanteque se promova ainda uma classificaccedilatildeo e hierarquizaccedilatildeo entre os saberes promovendo umacentralizaccedilatildeo de cima para baixo As fronteiras entre a histoacuteria a geografia e a sociologia foramtraccediladas por exemplo pela humanidade assim como a orientaccedilatildeo no processo de ensino-aprendizagem do que deve ser ensinado primeiro e qual saber eacute mais nobre isto eacute que deveocupar o topo de todos os conhecimentos

Os processos que foram aos poucos se instaurando apartir do Seacuteculo XVI produziram censura e controle e mais doque isso devido agraves divisotildees impostas que delimitavam as aacutereasde saberes (conhecimentos) buscavam eliminar a ideacuteia dohomem universal acentuando a possibilidade de tornar doacuteceisos corpos (os sujeitos) mediante essa praacutetica disciplinar impostana produccedilatildeo dos saberes Se anteriormente na Idade Meacutedia oaluno detinha um poder sobre o que queria aprender e ondebuscar o conhecimento na era da modernidade essapossibilidade passa a ser inexistente O aluno perde o poder sobre seus caminhos passando a sercompreendido como um mero elemento de transmissatildeo de conhecimento Natildeo mais pode escolhero que deve ser aprendido tampouco o ritmo desse aprendizado ou o que fazer do conhecimentoadquirido A grade de disciplinas hoje tatildeo naturalmente absorvida por todos noacutes em qualquercurso eacute uma produccedilatildeo social e serve a esses interesses de tornar doacutecil o corpo a ser disciplinadoAprendemos esse ordenamento dos saberes e passamos a respeitaacute-los como se fossemincontestaacuteveis naturais e acima de tudo necessaacuterios

Michel Foucault jaacute citado anteriormente reconhece nesse processo a emergecircncia dasociedade disciplinar que funciona confinando aprisionando os homens agraves escolas agraves prisotildeesagraves igrejas aos hospitais agraves faacutebricas etc

Os processos descritos acima por Juacutelia Varella podem ser reconhecidos ateacute hoje nas praacuteticasescolares Poreacutem com a intervenccedilatildeo das miacutedias e dos novos equipamentos sociais jaacute se pode

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identificar um controle que natildeo mais iraacute somente confinar isolar os estudantes nas escolas osloucos nos asilos e os empregados nas faacutebricas para que sejam produtivos

Trata-se da emergecircncia da sociedade de controle que atua de forma contiacutenua Entramem accedilatildeo a TV os microcomputadores e os celulares que permitem conhecer e conectar o mundoa partir de um uacutenico lugar Satildeo maacutequinas que iratildeo estruturar a vida organizando uma subjetividadedo consumo e da informaccedilatildeo Mas como relacionar esse processo aos domiacutenios da escola

Aqui lanccedilaremos matildeo de outro escritor francecircs Feacutelix Guattari (1985) que no estudo Ascreches e a iniciaccedilatildeo publicado no livro intitulado Revoluccedilotildees Moleculares mostra-nos osefeitos do processo de iniciaccedilatildeo das crianccedilas agrave loacutegica capitalista O autor se refere agrave produccedilatildeode modos de viver pensar e sentir que estariam em consonacircncia com os mais novos modos deproduccedilatildeo material na sociedade capitalista industrial Denomina como aparelhos de semiotizaccedilatildeoos viacutedeo-games CD-rom etc Esses aparelhos passam a dar o sentido dos modos de existecircncia

Guattari (1985) indica que as crianccedilas estatildeo sendo iniciadas cada vez mais cedo nossistemas de representaccedilatildeo e nos valores do capitalismo que produzem uma modelagem adequadaaos coacutedigos utilizados em nosso cotidiano Aponta como importante o fato de que se mobilizamno processo de formaccedilatildeo da crianccedila esquemas de aprendizagem que permitem traduzir oconjunto de coacutedigos ou semioacuteticas dominantes Por fim chama a atenccedilatildeo para a necessidade deanalisarmos o funcionamento da creche e o efeito da educaccedilatildeo infantil na constituiccedilatildeo dessecorpo que eacute modelado para atuar produtivamente de acordo com os ideais da sociedade capitalista

A sua grande contribuiccedilatildeo eacute indicar no espaccedilo da educaccedilatildeo uma perspectiva de que acrianccedila venha a aprender o que eacute a sociedade o que satildeo seus instrumentos (GUATTARI 1985p 54) para poder interferir de forma autocircnoma e criativa no mundo Aprender os coacutedigos e osmodos de funcionamento da sociedade na qual estaacute inserida pode ser importante para que acrianccedila tenha a possibilidade de desenvolver formas singulares de estar no mundo

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegico(a)s a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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UNIDADE II

UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA DO COTIDIANO ESCOLAR

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 4 DOS COLEacuteGI OS DA MODERNI DADE AgraveS ESCOLAS ATUAI S UMAANAacuteLI SE CRIacute TI CA DAS PRAacuteTI CAS COTI DI ANAS

Seguindo a linha de anaacutelise de nosso percurso iremosneste momento buscar os fios que nos permitem compreenderalguns elementos do cotidiano escolar como um espaccedilodisciplinar e controlador das subjetividades O estudo da origemdas praacuteticas educativas a partir dos coleacutegios do Seacuteculo XVIIIforneceu-nos os elementos que seratildeo aqui utilizados paraexercitarmos uma investigaccedilatildeo criacutetica da escola na atualidadeEsse exerciacutecio de reflexatildeo eacute fundamental para que possamosabrir novas portas e inventar outras praacuteticas da psicologia naescola

Com o objetivo de melhor sistematizar nosso trabalho deanaacutelise dividiremos a explanaccedilatildeo em seis itens a saber

1 As praacutet icas cot idianas conspiram cont ra a produccedilatildeoda autonomia e da autogestatildeo

Como jaacute estudamos anteriormente o poder de decisatildeofoi retirado do aluno quando da organizaccedilatildeo dos coleacutegios apartir do Seacuteculo XVIII sendo produzida uma ideacuteia de infacircnciafragilizada e portanto sem possibilidades de exercitar suaautonomia Eacute naturalizada uma concepccedilatildeo de aluno como umcorpo vazio a ser preenchido e modelado

As atividades nas escolas e na vida contemporacircnea passam a ser geridas por outrem -pelo supervisor pelo livro didaacutetico pelos programas governamentais (Escola Aberta Bolsa Escolae outros) - ou coordenadas por entidades como o Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem Aspraacuteticas de avaliaccedilatildeo se apresentam aos alunos como destituiacutedas de sentido Para os professoresessas praacuteticas representam mais uma etapa do processo sendo orientadas pela mesma loacutegica doplanejamento e das atividades contidas no livro didaacutetico Os principais atores sociais (alunos eprofessores) satildeo enfraquecidos no exerciacutecio do poder como sujeitos incapacitados de produzir aarticulaccedilatildeo entre praacuteticas e seus efeitos

Ilustraccedilatildeo de capa do livro O berccedilod a d es i g u a l d a d e de CristovamBuarque com fotos de SebastiatildeoSalgado

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lt Paulo Freiregt ao trabalhar o tema da autonomia no livroPedagogia da Aut onom ia (1996) estabelece a relaccedilatildeo entre oexerciacutecio da liberdade por parte do aluno e da autoridade peloeducador Aponta como fundamental para a construccedilatildeo da autonomiaa praacutetica da responsabilidade Segundo esse educador o educandoque exercita sua liberdade ficaraacute tatildeo mais livre quanto mais eticamentevaacute assumindo a responsabilidade de suas accedilotildees (p 104) mas essaautonomia somente se constitui quando desaparece a relaccedilatildeo dedependecircncia Continuando com o pensamento de Freire ele afirmaque

No fundo o essencial nas relaccedilotildees entre educador eeducando entre autoridade e liberdade entre pais matildeesfilhos filhas eacute a reinvenccedilatildeo do ser humano no aprendizadoda autonomia (FREIRE 1996 p 105)

O pensamento e a accedilatildeo autocircnomos natildeo se datildeo sem que sejamexplicitados os lugares de poder Por isso Paulo Freire fala da reinvenccedilatildeodo ser humano e mais do que isso da reinvenccedilatildeo das relaccedilotildees pedagoacutegicasque deveriam trocar a dependecircncia pela responsabilidade

2 O m odelo educat ivo dest itui os hom ens de sua condiccedilatildeo deprodutores do conhecim ento

A concepccedilatildeo de sujeito a-histoacuterico estaacute presente no contextoescolar onde o conhecimento eacute dado como objetivo e assumido comoverdade absoluta a ser aprendida A organizaccedilatildeo do saber hierarquicamentedisciplinado como nos mostrou Juacutelia Varella na aula anterior (Aula 3Unidade I) elimina a concepccedilatildeo de sujeito como produtor de conhecimentoOs processos de p e d a g o g i z a ccedilatilde o d o s co n h e ci m e n t o s e dedisciplinam ento interno dos saberes estatildeo presentes nas praacuteticaseducacionais atuais fazendo com que tanto alunos quanto professoressejam concebidos como meros coadjuvantes

Trata-se de um treino para o bom comportamento social valorizando o lugar do expectador daquele que natildeo interfere no andamentoda aula e que deve seguir agrave risca o que eacute ditado pelo planejamentomuitas vezes elaborado pelos especialistas da educaccedilatildeo A ausecircncia deuma implicaccedilatildeo dos alunos no processo de aprendizagem eacute consequumlecircnciadesse modelo de escola que somente legitima o conhecimento que eacuteproduzido fora de seu cotidiano A sala de aula eacute assim desumanizada edestituiacuteda de vida proacutepria O mesmo processo eacute vivido pelos educadoresque aprendem no exerciacutecio profissional a praticar e valorizar a obediecircncia

Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

Fo n t e Charge deClaudius Cecconpublicada no livroCu i d a d o Esco l a (p64)

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I236

5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I248

Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I250

3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I256

Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I258

Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 7: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I216

217

UNI VERSI DADE ABERTA DO BRASI LUNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIacuteBA

CURSO DE PEDAGOGI A - MODALI DADE A DI STAcircNCI APSICOLOGIA EDUCACIONAL I

Professora-pesquisadora Dra AcircNGELA MARIA DIAS FERNANDES

DESEMPENHO NO PERCURSO

Aulas Desafios PontuaccedilatildeoDesempenho

obtidoPrazo de

finalizaccedilatildeo

UNIDADE I

Aula 1

1) Esquema das principaiscorrentes de pensamentopsicoloacutegico2) Foacuterum Quais asprincipais diferenccedilas entreas correntes depensamento psicoloacutegico

20

20

Aula 2

Produccedilatildeo de texto sobre aTeoria da CarecircnciaCultural e seu percurso apartir da MedicinaPsicologia e Pedagogia

30

Aula 3

1) Glossaacuterio comconceitos dos termosPedagogizaccedilatildeo dosconhecimentos edisciplinamento dossaberes2) Chat temaacutetico

15

15

Tota l de pontos na Unidade I 100

UNIDADE II

Aula 4Foacuterum relacionando avivecircncia escolar doaprendente com o texto

30

Aula 5 Chat sobre exclusatildeo sociale escola 30

Aula 6Pesquisa de campo(entrevistas comprofessores)

40

Tota l de pontos na Unidade I I 100

UNIDADE III

Aula 7Produccedilatildeo de texto sobreautonomia e Psicologia naescola

30

Aula 8

1) Foacuterum sobre o trabalhodo professor no contoinfantil2) Chat temaacutetico

20

20

Aula 9 Foacuterum sobre propostas emPsicologia Educacional 30

Tota l de pontos na Unidade I I I 100

AVALIACcedilAtildeOPRESENCIAL

(Prova escrita)

Conteuacutedo das trecircsunidades

100 Final dopercurso

TOT AL DE PONTOS OBTI DOS NO PERCURSO

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I218

UNIDADE I

PSI COLOGI A E EDUCACcedilAtildeO ALI ANCcedilAS NA PRODUCcedilAtildeO DE UMOLHAR SOBRE A INFAcircNCIA

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 1 A CONSTRUCcedilAtildeO HI STOacuteRI CA DA PSI COLOGI A

Para estudarmos a psicologia suas teorias praacuteticas e princiacutepios metodoloacutegicos eacute necessaacuterioinicialmente termos conhecimento de sua histoacuteria e do contexto soacutecio-poliacutetico-cultural quepermitiu sua constituiccedilatildeo

1 A const ruccedilatildeo da psicologia cient iacuteficaInicialmente iremos situar a construccedilatildeo cientiacutefica da psicologia a partir das linhas claacutessicas

do pensamento psicoloacutegico behaviorismo gestaltismo funcionalismo psicologia cognitivapsicologia soacutecio-histoacuterica e psicanaacutelise

Todos os historiadores da psicologia concordam que foi Wilhen Wundt na Alemanha emmeados do Seacuteculo XIX que criou os fundamentos cientiacuteficos determinando o objeto de estudo omeacutetodo de pesquisa e os objetivos dessa nova ciecircncia Wundt afirmou a independecircncia dapsicologia em relaccedilatildeo agraves outras ciecircncias situando-a na intermediaccedilatildeo entre as ciecircncias danatureza e da cultura A experiecircncia imediata dos homens era seu foco de interesse baseandosua teoria na ideacuteia de uma unidade psicofiacutesica dos processos elementares da vida mental

No final do Seacuteculo XIX outros estudiosos se lanccedilaram naaventura da pesquisa em psicologia concordando com Wundtou se opondo a ele O Co m p o r t a m e n t a l i sm o ouBehaviorismo surge com John Watson nos EUA que discordaque o foco esteja na experiecircncia imediata Para Watson o objetode estudo da nova ciecircncia deve ser a comportamento humanoEste teoacuterico afirma que o comportamento deve ser visto comoindependente daquilo que o sujeito pensa sente deseja ou emque crecirc Jaacute no iniacutecio do Seacuteculo XX os novos comportamentalistasreordenam os estudos das interaccedilotildees entre os organismos vivose seus ambientes O psicoacutelogo americano BF ltSkinnergt sesobressai ao se referir agrave importacircncia dos condicionamentossociais no comportamento Ele afirma que as experiecircnciassubjetivas satildeo sempre construiacutedas pela sociedade sem nenhumainterferecircncia da consciecircncia ou de um eu interno e formula oconceito de condicionamento operante relacionando aaprendizagem a um sistema de reforccedilo e puniccedilatildeo

Note-se que ateacute aqui estamos trazendo as oposiccedilotildees entre duas linhas de pensamentoSituamos Wundt que afirma a importacircncia das experiecircncias imediatas no estudo do psiquismohumano e uma outra vertente que propotildee ignorar a existecircncia de tais experiecircncias na construccedilatildeoda psicologia cientiacutefica como propotildeem os teoacutericos do comportamentalismo

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

A ca ix a de Sk inn er

219

Nessa polecircmica sobre o estudo do homem podemos situar uma teoriasobremaneira importante - o ltGestaltismogt - mais conhecido comopsicologia da forma que surge na Alemanha no iniacutecio do Seacuteculo XX Emoposiccedilatildeo clara a J Watson seus mais importantes representantes foramMax Wetheimer Kurt Koffka e Wolfgan Koller Seus estudos partiam daexperiecircncia imediata utilizando como meacutetodo a fenomenologia Segundo

esses estudiosos os fenocircmenos da percepccedilatildeo da memoacuteria e da afetividade eram vivenciadossob a forma de estruturas Eles recusavam a ideacuteia de Watson para quem o comportamento eraunicamente dependente do estiacutemulo (relaccedilatildeo conhecida como estiacutemulo-resposta ou E-R) afirmandoque a forma resultante de um processo de percepccedilatildeo era muito mais que a soma das partes Ogestaltismo trazia como preocupaccedilatildeo central a necessidade de se relacionar a experiecircncia imediatados sujeitos com a natureza fiacutesica e bioloacutegica e com o mundo dos valores socioculturais

Outra importante corrente surgida na passagem do SeacuteculoXIX para o Seacuteculo XX nos EUA foi o Funcionalismo Maisconhecido por suas teses adaptacionistas traz uma grandeinfluecircncia das teorias evolucionistas de lt Charles Darw ingt Os estudiosos dessa corrente admitiam a possibilidade de seestudar a mente por meio dos comportamentos e para a suasobrevivecircncia o ser humano deveria adaptar-se agraves condiccedilotildeesambientais John Dewey foi o que mais trouxe contribuiccedilotildees nocampo da educaccedilatildeo afirmando que o ensino deveria orientar-se para o aluno e natildeo para o assunto Acreditava com issoque se poderia formar o ser humano adaptando-o agravesnecessidades da sociedade por meio da educaccedilatildeo

As receacutem estruturadas sociedades industriais capitalistas iratildeo indicar para a correnteadaptacionista uma importante tarefa a de cont r ibuir com invest igaccedilotildees cient iacutef icas sobre oshomens com o objetivo de melhor adaptaacute-los agrave nova ordem social A psicologia se desenvolveno iniacutecio do Seacuteculo XX com a construccedilatildeo de instrumentos de mensuraccedilatildeo da inteligecircncia e dapersonalidade Os testes psicoloacutegicos propostos pelos pesquisadores eram utilizados nosprocedimentos de seleccedilatildeo e orientaccedilatildeo no trabalho e na escola Tanto nos EUA com FrancisGalton quanto na Franccedila com Binet e Simon assiste-se ao desenvolvimento da psicometriautilizada na educaccedilatildeo como forma de conhecer as caracteriacutesticas de cada sujeito Esseconhecimento serviria para justificar a partir das diferenccedilas individuais a distribuiccedilatildeo em classessociais distintas colocando fora de questionamento a desigualdade social e distribuiccedilatildeo desigualde oportunidades

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

O filme Tempos Modernos de Charles Chaplin jaacute foiobjeto de reflexotildees no MarcoI Caso deseje revecirc-lo dirija-se ao Poacutelo Municipal de ApoioPresencial de sua cidade

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I220

A configuraccedilatildeo do objeto de estudos da psicologia centrada no indiviacuteduo afasta a necessidadede uma anaacutelise contextualizada da sociedade onde os sujeitos estatildeo inseridos assim como suaforma de inserccedilatildeo Nas sociedades marcadas pela divisatildeo em classes e cuja base eacute o modelocapitalista de produccedilatildeo difunde-se a crenccedila na igualdade de oportunidades minimizando ainfluecircncia do modo de produccedilatildeo na localizaccedilatildeo dos sujeitos na estrutura social As diferenccedilasindividuais satildeo utilizadas para mascarar a impossibilidade de que a as oportunidades sejam iguaispara todos Assim aprofunda-se a marca principal da psicologia desde sua criaccedilatildeo a de selecionarorientar adaptar e racionalizar a existecircncia humana em nome da produtividade e da eficaacutecia

Podemos situar ainda a Psicologia Cognitiva como outracorrente que se oporaacute aos princiacutepios do ComportamentalismoltJean Piagetgt eacute um importante estudioso do desenvolvimentoinfantil cuja base satildeo as estruturas cognitivas A criacutetica agraveobjetividade cientiacutefica observada nas teorias comportamentaise funcionalistas eacute um importante fundamento desse caminhode pensamento sobre o ser humano e traraacute enormescontribuiccedilotildees para a educaccedilatildeo

Lev Vygotsky psicoacutelogo russo propocircs no iniacutecio do Seacuteculo XX uma nova teoria a PsicologiaSoacutecio-histoacuterica que parte da afirmaccedilatildeo da construccedilatildeo social do conhecimento e da importacircnciada mediaccedilatildeo da educaccedilatildeo da escola e do professor nos processos de ensino e de aprendizagemTrata-se de um importante passo na direccedilatildeo de relacionar o individual e o social na compreensatildeodo psiquismo humano

Sigmund Freud o criador da ltPsicanaacutelisegt eacute tambeacutemsituado no campo dos estudiosos da gecircnese do sujeito Emoposiccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees positivistas e objetivadoras dofuncionalismo psiacutequico Freud iraacute definir o inconsciente comoobjeto de estudo Ele concebe a ideacuteia de uma subjetividadecindida e incompleta recusando o eu como centro dopsiquismo o que torna a psicanaacutelise uma teoria original

2 Desenvolvim ento da psicologia no seacuteculo XX

A partir dessas correntes claacutessicas (behaviorismo gestaltismo funcionalismo psicologiacognitiva psicologia soacutecio-histoacuterica e psicanaacutelise) observa-se na histoacuteria da psicologia o surgimentode outras teorias e estrateacutegias de atuaccedilatildeo Podemos destacar nesse processo as teorias ligadasagrave psicologia dos grupos a teoria humanista as teorias da subjetividade e aquelas que surgem apartir do movimento institucionalista

Os estudiosos da histoacuteria da psicologia assinalam o meacutedicoJ Prattes como o pioneiro nos trabalhos com grupos em 1906mas eacute consensual a afirmaccedilatildeo de que foi Moreno psiquiatraromeno que na deacutecada de 1930 nos EUA idealizou olt p sico d r a m a gt uma passagem da arte dramaacutetica agravepsicoterapia

O alematildeo Kurt Lewin eacute tambeacutem situado no campo das psicoterapias de grupo incrementadas

D ivatilde u t i l iz a do pe lo psica n a l ist a ee x p o st o n o M u se u Fr e u d e mLon d r e s

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

221

pelas condiccedilotildees do poacutes-guerra (deacutecada de 1940) impondo a necessidade de expansatildeo dostrabalhos de sauacutede mental e de recuperaccedilatildeo imediata da matildeo-de-obra deteriorada Em 1944Lewin criou o conceito de dinacircmica de grupo afirmando que o grupo eacute mais do que a soma dassuas partes e que quando haacute modificaccedilatildeo de uma das partes a estrutura grupal se modificaOutro teoacuterico da psicologia dos grupos eacute o argentino Pichoacuten Riviegravere que estruturou a estrateacutegiado grupo operativo que considerava que um grupo soacute se estruturava quando estivesse operandosobre uma tarefa

Como pode ser observado ateacute esta etapa de nossa aula a partir da segunda guerramundial a psicologia fortalece seu interesse pelo social natildeo soacute no campo da pesquisa considerandosua repercussatildeo na constituiccedilatildeo dos sujeitos como tambeacutem enquanto espaccedilo de intervenccedilatildeo emorganizaccedilotildees (hospitais escolas faacutebricas sindicatos etc)

As teorias ligadas agrave Psicologia Humanista constituem outro importante espaccedilo de praacuteticasna qual se sobressaem Carl Rogers da Abordagem Centrada na Pessoa e alguns teoacutericos dagestalt-terapia e da Bioenergeacutetica traduzindo muito bem uma forma mais intimista de responderaos acontecimentos dos anos de 1960 e 1970 Priorizando o corpo o auto-conhecimento e aliberaccedilatildeo dos sujeitos os autores humanistas centram sua preocupaccedilatildeo na adaptaccedilatildeo do homemao meio de forma criativa e ativa

Ainda nas deacutecadas de 1950 e 1960 assiste-se a um movimento de resistecircncia principalmentena Europa que se faz presente nos hospitais e nas escolas aliando a psicologia a sociologia aeducaccedilatildeo e a psiquiatria O Movimento Institucionalista nasce de uma criacutetica agrave organizaccedilatildeohieraacuterquica e centralizadora tanto nos hospitais psiquiaacutetricos quanto nas organizaccedilotildees escolaresconstituindo-se a Psicoterapia I nst itucional (1950) e mais tarde (1962) a PedagogiaInstitucional A Psicossociologia Institucional significa um avanccedilo no processo de autogestatildeoe juntamente com os anti-institucionalistas (Lang Cooper e Ivan Illich) iraacute criar as condiccedilotildeespara o surgimento de uma outra perspectiva de intervenccedilatildeo em 1963 conhecida como AnaacuteliseInstitucional

Por sua criacutetica agrave sociedade capitalista e aoconservadorismo os institucionalistas relacionam-se comos ltmovimentos da contra-cultura na Franccedilagt e emoutros paiacuteses e elaboram inspirados em conceitos devaacuterias correntes da psicologia da sociologia e da filosofiapropostas de investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Essas ideacuteiassatildeo representadas principalmente pelos franceses ReneacuteLourau Felix Guattari e Georges Lapassade

No Brasil apoacutes a ditadura militar essas formulaccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas encontraramum terreno feacutertil junto a psicoacutelogos implicados com os movimentos sociais propondo um conjuntode ferramentas proacuteprias para a intervenccedilatildeo em instituiccedilotildees conceituadas como praacuteticas sociaise para a compreensatildeo das subjetividades

Nas duas uacuteltimas deacutecadas do Seacuteculo XX e iniacutecio do Seacuteculo XXI a partir dos avanccedilos dacomunicaccedilatildeo da expansatildeo de outras linguagens como a informaacutetica e do surgimento de novasproblemaacuteticas sociais configuram-se teorias e proposiccedilotildees centradas algumas delas tambeacutemno conceito de Subjetividade Fernando Gonzaacutelez Rey identifica na histoacuteria desse conceito umprocesso de ruptura com a psicologia cientiacutefica objetiva e neutra tendo significado um desafio

Paris em 1968

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I222

na afirmaccedilatildeo de uma psique que se constroacutei a partir de uma visatildeo cultural em uma dimensatildeocomplexa e dialeacutetica Esse estudioso da psicologia aponta a obra de Vygotsky pouco valorizadano Ocidente ateacute muito recentemente como um marco na definiccedilatildeo do conceito de subjetividade

A psicanaacutelise e a psicologia soacutecio-histoacuterica de L Vygotsky e outras linhas de pensamentotecircm sido revistas em associaccedilatildeo com diversas aacutereas do conhecimento inaugurando um caminhointerdisciplinar

Nesses uacuteltimos trinta anos ainda as teorias comportamentais vecircm buscando sua renovaccedilatildeomediante o aprimoramento das teacutecnicas quantitativas de avaliaccedilatildeo de valores sociais e de programasde assistecircncia e e intervenccedilotildees no campo da cogniccedilatildeo e do treinamento comportamental

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

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AULA 2 PSI COLOGI A E EDUCACcedilAtildeO NO BRASI L COMPROMI SSOS E ALI ANCcedilAS

Como vimos na aula anterior a constituiccedilatildeo da psicologia comociecircncia data de meados do Seacuteculo XIX com Wundt na AlemanhaNesse periacuteodo de mais de um seacuteculo de construccedilotildees teoacutericas eproposiccedilotildees praacuteticas constatamos a existecircncia de uma variedadede olhares sobre o homem e seu funcionamento psiacutequico Percebemosao longo da histoacuteria da psicologia que natildeo existe um pensamentouacutenico e que o contexto soacutecio-histoacuterico e a forma como o psicoacutelogopesquisador compreende o mundo e nele se insere seratildeo umimportantes fatores que determinaratildeo a proposta formulada

No Brasil assistiremos a um processo que segundo algunspsicoacutelogos brasileiros preocupados com a historiografia dessaciecircncia tem relaccedilatildeo com as experiecircncias de colonizaccedilatildeo eafirmaccedilatildeo dos interesses de uma classe dominante fortementemarcada por teorias racistas e eugecircnicas alimentadas pela obrade Charles Darwin e suas consequumlecircncias para o estudo dohomem O impulsionamento da psicologia como ciecircncia no Brasileacute relacionado a necessidades impostas pelo desenvolvimentourbano-industrial agraves novas formas de ocupaccedilatildeo das cidadesditadas pela Repuacuteblica e ao reordenamento da forccedila de trabalhona direccedilatildeo da escola preferencialmente profissionalizante

A constituiccedilatildeo da psicologia desde fins do Seacuteculo XIX e iniacuteciodo Seacuteculo XX deu-se em estreita articulaccedilatildeo com a educaccedilatildeo e amedicina podendo-se afirmar que a psicologia foi gerada no interiordessas duas aacutereas de conhecimento sendo nesses campos em quedesenvolveraacute seu projeto de autonomizaccedilatildeo como demonstra MitzukoAntunes em seu estudo a ltPsicologia no Brasil leitura histoacutericasobre sua constituiccedilatildeogt

A atuaccedilatildeo da psicologia junto agraves instituiccedilotildees de sauacutede noiniacutecio do Seacuteculo XX fez-se em nome do controle social com sentidopreventivista e eugecircnico A psiquiatria e o higienismo quecaracterizaram a medicina da eacutepoca clamaram pela participaccedilatildeo dapsicologia na detecccedilatildeo da anormalidade como tambeacutem na prevenccedilatildeo de problemas sociais quepoderiam advir relacionados agrave presenccedila das raccedilas que eram consideradas inferiores e que poderiamperturbar a ordem na vida urbana

A Liga Brasileira de Higiene Mental criada em 1920 representou de maneira radical essesideais tendo se colocado abertamente a favor do aperfeiccediloamento da raccedila (ariana) e contra osnegros e mesticcedilos que eram caracterizados pelas teorias racistas da eacutepoca como indolentesdegenerados preguiccedilosos e sujeitos a enfermidades por sua natureza e iacutendole Os princiacutepios da

Antes de prosseguir aleitura da aula volte agraveaula anterior e revejaquais as principaiscorrentes dapsicologia no processode sua construccedilatildeohistoacuterica

Dirija-se agrave bibliotecado Poacutelo Municipal deApoio Presencial e faccedilaa leitura dos capiacutetulos1 e 2 da Parte II dolivro de MitzukoAntunes (p 37-85)

Trabalhadores da Faacutebricade Tecidos Videira

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 2 Aula 3Aula 1

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I224

higienizaccedilatildeo e da disciplinarizaccedilatildeo da sociedade iratildeo caracterizar o trabalho nas instituiccedilotildeespsiquiaacutetricas preocupadas com uma intervenccedilatildeo para aleacutem do encarceramento da loucura

Apesar da diversidade de pesquisas que se desenvolviam em outros paiacuteses no Brasil ainfluecircncia da pesquisa experimental baseada na psicometria ocorreu de forma hegemocircnica ateacute

pelo menos a deacutecada de 1980

Nas instituiccedilotildees educacionais a preocupaccedilatildeo central era com o analfabetismo e a falta deinstruccedilatildeo do povo brasileiro em um paiacutes em franco desenvolvimento e requisitando uma matildeo-de-obra conhecedora pelo menos da leitura e da escrita Vaacuterios movimentos pela difusatildeo e ampliaccedilatildeoda escola puacuteblica e gratuita surgiram no paiacutes mostrando diferentes ideais de sociedade que vatildeodesde a preparaccedilatildeo para o trabalho ateacute uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo como emancipadora dopovo em uma luta contra a opressatildeo colonialista Nesse quadro a demanda dos profissionais daeducaccedilatildeo no sentido de construir uma pedagogia moderna e cientiacutefica fez da psicologia seuprincipal ponto de sustentaccedilatildeo uma vez que fornecia as bases de conhecimento sobre osindiviacuteduos o processo de desenvolvimento psiacutequico as vocaccedilotildees emoccedilotildees e a organizaccedilatildeo dapersonalidade

A preocupaccedilatildeo com o indiviacuteduo e com as teacutecnicas que pudessem instrumentalizar a praacuteticaeducativa fez surgir no Brasil no iniacutecio do Seacuteculo XX uma seacuterie de Laboratoacuterios e Institutosvoltados para a pesquisa psicoloacutegica destacando-se o Pedagogium depois transformado emLaboratoacuterio de Psicologia Experimental no Rio de Janeiro o Instituto de Psicologia de Pernambucoa Escola de Aperfeiccediloamento Pedagoacutegico de Belo Horizonte e o Laboratoacuterio de PedagogiaExperimental de Satildeo Paulo Nesse periacuteodo surgem as Escolas Normais encarregadas da formaccedilatildeode professores

No processo de constituiccedilatildeo cientiacutefica da pedagogia e de afirmaccedilatildeo da psicologia oslaboratoacuterios e institutos de pesquisa vatildeo sendo incorporados a essas escolas A instalaccedilatildeo desalas de exame psicoloacutegico e de afericcedilatildeo antropomeacutetrica seguia a demanda de higienizaccedilatildeo dapopulaccedilatildeo vigente na eacutepoca e era inspirada nas pesquisas trazidas da Europa e dos EUA queprivilegiavam a psicometria de modo geral Apesar da pouca inserccedilatildeo nas escolas oficiais essapraacutetica serviu para difundir e legitimar o discurso cientiacutefico utilizado para explicar a localizaccedilatildeo decada indiviacuteduo na estrutura social A existecircncia de diferenccedilas individuais era o principal argumentodesse discurso sendo desconsideradas desse esquema de causalidade as imposiccedilotildees da sociedadecapitalista industrial e sua principal base que eacute a divisatildeo em classes sociais com chances epossibilidades desiguais

Em um estudo sobre a disciplina na sociedade moderna em que analisa o funcionamento doGabinete de Antropologia e Psicologia Pedagoacutegica de Satildeo Paulo Marta Carvalho afirma

Neste horizonte criteacuterios raciais nem sempre explicitados traccedilavam os limitesdas boas intenccedilotildees republicanas operando a distinccedilatildeo entre populaccedilotildeeseducaacuteveis capazes portanto de cidadania e populaccedilotildees em que o peso dahereditariedade (leia-se raccedila ) era a marca de um destino que a educaccedilatildeo

era incapaz de alterar (CARVALHO 2006 p 299)

A partir da deacutecada de 1920 e principalmente de 1930 o ideaacuterio escolanovista baseadonos princiacutepios da modernidade fez-se mais presente na educaccedilatildeo brasileira mobilizando os

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 2 Aula 3Aula 1

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educadores na luta contra os elevados iacutendices de repetecircncia eevasatildeo na escola puacuteblica A educaccedilatildeo era compreendida comoa base de uma sociedade saudaacutevel que precisava ser moralmentepreparada para o trabalho

Os novos intelectuais se uniram em torno da crenccedila de que a sauacutede e a educaccedilatildeo eramfatores capazes de promover a necessaacuteria regeneraccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira A preocupaccedilatildeocom o rendimento na escola promoveu a incorporaccedilatildeo do ltmodelo tayloristagt de produccedilatildeofabril afirmando na educaccedilatildeo as posiccedilotildees tecnicistas norteadas pela eficiecircncia e eficaacutecia dasaccedilotildees No trecho abaixo Maria Helena de Souza Patto (2003) expressa o significado dainfluecircncia desse modelo produtivo na educaccedilatildeo ao identificar um vieacutes adaptacionista naproduccedilatildeo em seacuterie de alunos perfeitamente adaptados aos diferentes lugares que lhes seratildeo

destinados numa realidade social inquestionada

Eis a via da naturalizaccedilatildeo da desigualdade que temorigem na maneira como a sociedade se estrutura maseacute lida como diferenccedila bioloacutegica ou psicoloacutegica deaptidatildeo intelectual entre grupos e indiviacuteduos (PATTO2003 p 33)

O movimento chamado Escola Nova esboccedilou-se na deacutecada de 1920 no Brasil

O mundo vivia agrave eacutepoca um momento de crescimento industrial e de expansatildeourbana e nesse contexto um grupo de intelectuais brasileiros sentiu necessidadede preparar o paiacutes para acompanhar esse desenvolvimento A educaccedilatildeo era poreles percebida como o elemento-chave para promover a remodelaccedilatildeo requerida

Inspirados nas ideacuteias poliacutetico-filosoacuteficas de igualdade entre os homens e do direitode todos agrave educaccedilatildeo esses intelectuais viam num sistema estatal de ensinopuacuteblico livre e aberto o uacutenico meio efetivo de combate agraves desigualdades sociaisda naccedilatildeoDenominado de Escola Nova o movimento ganhou impulso na deacutecada de 1930apoacutes a divulgaccedilatildeo do lt Manifesto da Escola Novagt (1932) Nesse documentodefendia-se a universalizaccedilatildeo da escola puacuteblica laica e gratuita Entre os seussignataacuterios destacavam-se os nomes de Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo

Lourenccedilo Filho e Ceciacutelia Meireles

Para ler o Manifesto dosPioneiros acessewwwpedagogiaemfocoprobrheb07ahtm

O americano lt Freder ick Taylorgt considerado o pai da organizaccedilatildeo cientiacutefica dotrabalho propocircs um modelo de produccedilatildeo industrial aliando eficaacutecia e eficiecircnciaSua preocupaccedilatildeo era com o sistema produtivo e natildeo com o homem negando aotrabalhador qualquer manifestaccedilatildeo criativa ou participaccedilatildeo O ideaacuterio tayloristafoi transposto para a educaccedilatildeo promovendo uma valorizaccedilatildeo do tecnicismo tendocomo efeitos a fragmentaccedilatildeo e a hierarquizaccedilatildeo do ensino e do conhecimento

Dirija-se ao PMAP pararealizar a leitura do texto Oque a h ist oacuter ia pode dizerso b r e a p r o f i ssatilde o d op si coacute l o g o a r e l a ccedilatilde opsicologia e educaccedilatildeo deMaria Helena de S Patto nolivro P si co l o g i a ecompromisso social

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 2 Aula 3Aula 1

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I226

Associada agrave escola nova a psicologia continuou fornecendo os subsiacutedios cientiacuteficos para oconhecimento das possibilidades individuais e das dificuldades escolares natildeo mais identificadascomo efeito da hereditariedade e da raccedila mas da organizaccedilatildeo e dos haacutebitos familiares e doambiente soacutecio-cultural Manteacutem-se a utilizaccedilatildeo dos instrumentos de avaliaccedilatildeo psicoloacutegica cadavez mais associada agrave pesquisa sobre o fracasso escolar e centrada no aluno e nos processos deaprendizagem

Na deacutecada de 1950 amplia-se para aleacutem do aluno o campo de pesquisa educacional praticadaprincipalmente nos institutos ligados ao governo que tinham em seus quadros o psicoacutelogoLourenccedilo Filho um dos precursores do escolanovismo A escola reafirmava sua posiccedilatildeo comoelemento fundamental no desenvolvimento da sociedade e era defendida enquanto prioridade nademocratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo e das chances oferecidas aos sujeitos

O periacuteodo de 1960 ateacute meados da deacutecada de 1970 tem como o eixo principal a Teoria doCapital Humano Em estudo sobre essa teoria e sua influecircncia no modelo educacional brasileiroGaudecircncio Frigotto em seu livro A produtividade da escola improdutiva afirma que

Do ponto de vista macroeconocircmico o investimento no fator humano passa asignificar um dos determinantes baacutesicos para o aumento da produtividade eelemento de superaccedilatildeo do atraso econocircmico Do ponto de vistamicroeconocircmico constitui-se no fator explicativo das diferenccedilas individuais deprodutividade e renda e consequumlentemente de mobilidade social (FRIGOTTO1984 p 172)

Comungando com os interesses do ltregime militargt vigentenesse periacuteodo a psicologia voltou-se ainda mais para a avaliaccedilatildeodas capacidades e habilidades psiacutequicas associadas ao investimentoindividual e ao rendimento escolar

Nos proacuteximos anos (a partir de 1970) a Teoria da CarecircnciaCultural de origem norte-americana iria influenciar a pesquisa sobreo fracasso escolar colaborando com a construccedilatildeo de um discursoque mantinha a linha de causalidade que culpava o aluno por seuinsucesso na escola Um dos aspectos principais dessa teoria eacute aafirmaccedilatildeo de que a escola eacute inadequada agraves caracteriacutesticas psiacutequicasda crianccedila pobre Esta teoria parte da existecircncia de um supostodeacuteficit considerado natural na populaccedilatildeo pobre o qual impede queas crianccedilas aproveitem as oportunidades oferecidas pela sociedadeA desigualdade social produto da sociedade cindida em classes e obaixo desempenho na escola e no trabalho satildeo ltnaturalizadosgtcom a participaccedilatildeo ativa dos elementos cientiacuteficos emprestados pelapsicologia

Eacute a partir do final dessa deacutecada de 1970 e de modo maispotente na deacutecada de 1980 que comeccedilam a ser construiacutedos outrosespaccedilos de reflexatildeo e de praacuteticas que significaratildeo a abertura denovos caminhos tanto na educaccedilatildeo quanto na psicologia Inaugura-se uma possibilidade de anaacutelise criacutetica do sistema educacionalapontando relaccedilotildees com a estrutura soacutecio-econocircmica vigente que

Alguns ditos popularesservem para esteprocesso fazendo comuma afirmaccedilatildeo sejacompreendida comon a t u r a l inquestionaacutevel

Q u e m t r a b a l h asem pre alcanccedila

O trabalho enobreceo hom em

A cada um segundosuas possibilidades

Ouccedila a muacutesica M e uca r o a m i g o composta por ChicoBuarque de Holandadurante seu exiacutelio naFranccedila Para issouti l ize ocd-rom doAprendente

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Aula 2 Aula 3Aula 1

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alavancam uma criacutetica da psicologia sobre si mesma Satildeo os novos tempos do fim da ditaduramilitar e da democratizaccedilatildeo no Brasil

Eacute a partir de meados da deacutecada de 1980 que a pesquisa em psicologia comeccedila a tentarromper com as alianccedilas que a constituiacuteram como base do discurso eugecircnico higienista e nosuacuteltimos anos pelo menos preconceituoso

No campo da pesquisa ressaltam-se os trabalhos de MariaHelena Sousa Patto que afirma o compromisso ideoloacutegico da psicologiacom os ideais das classes dominantes montando teorias que servissempara explicar as desigualdades sociais (1984) inaugurando um campode criacutetica importante para as posteriores investigaccedilotildees teoacutericas eintervenccedilotildees educacionais Em estudo posterior Patto nos permiteavanccedilar na compreensatildeo do fracasso escolar como uma produccedilatildeosocial e natildeo como decorrecircncia de problemas individuais proacuteprios dapobreza inaugurando uma forte criacutetica agrave lt Teoria da CarecircnciaCultural (1990)gt

Mesmo anunciando esse caminho de construccedilatildeo de umapsicologia criacutetica e baseada em compromissos sociais eacute importanteque se tenha claro que ainda vigoram nas escolas e na sociedadevaacuterias afirmaccedilotildees que se assentam nos trilhos da Teoria da CarecircnciaCultural Essas ideacuteias penetram com muita facilidade no cotidiano daescola e nos debates do senso comum uma vez que coincidem com anecessidade de predomiacutenio dos princiacutepios da sociedade capitalistapor meio de um discurso hegemocircnico

Por isso CUIDADO Sinal Vermelho Na proacutexima Unidadevoltaremos a esses caminhos e agraves proposiccedilotildees e intervenccedilotildees praacuteticasda psicologia daiacute decorrentes Esse procedimento pode contribuirpara que vocecirc nosso aprendente venha a diferenciar praacuteticas ediscursos e reconhecer a que visatildeo de homem de mundo e desociedade estatildeo servindo

Antes poreacutem de dar esse passo em nossa trilha iremos analisar os processos de construccedilatildeodo conhecimento enquanto marcados pelo exerciacutecio do poder que se efetivam no cotidianoescolar trazendo a disciplina como questatildeo teoacuterica e sua gecircnese como objeto de estudo

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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A Teoria da CarecircnciaCultural fois u f i c i e n t e m e n t einvestigada por MariaHelena Sousa Pattoprincipalmente em trecircspublicaccedilotildees Psicologiae I d eo l o g i a u m ai n t r o d u ccedilatildeo c r iacutet i ca agravep s i co l o g i a esco l a r(1984) A produccedilatildeo dof r acasso esco l a r histoacuter ias de subm issatildeoe rebeldia (1990) e notexto Para um a criacutet icada razatildeo psicom eacutet r icapublicado no l ivroMutaccedilotildees do cativeiro(2000 p 5)

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I228

AULA 3 CONHECI MENTO SABER E PODER UM OLHAR SOBRE A I NFAcircNCI AESCOLARIZADA

Ateacute esta etapa de nosso caminho estudamos a construccedilatildeo das teorias psicoloacutegicas e ahistoacuteria da articulaccedilatildeo entre a psicologia a medicina e a pedagogia no Brasil constituindoalianccedilas em nome de uma abordagem cientiacutefica dos problemas educacionais

A partir de agora promoveremos outro tipo de investigaccedilatildeo para que seja possiacutevel umamaior compreensatildeo do cotidiano escolar com base na anaacutelise das praacuteticas educativas e dasrelaccedilotildees sociais que se estabelecem entre alunos profissionais e comunidades

Nosso ponto de partida seratildeo os estudos de Philippe Ariegraves publicados no livro Histoacuteriasocial da infacircncia e da fam iacutelia que demonstram o surgimento das instituiccedilotildees educativas namodernidade caracterizadas por dar sentido a uma infacircncia que passa a ser vista como naturalmentefraacutegil A educaccedilatildeo impositiva moralizante e disciplinadora se justifica pela necessidade de formaros sujeitos que a sociedade comeccedila a conceber como corpos que necessitam de cuidados porquesatildeo deacutebeis e fracos Ariegraves parte da ideacuteia de que esse sentimento de infacircncia tem origem com aemergecircncia da sociedade burguesa e eacute fortalecido pela accedilatildeo dos jesuiacutetas

Para melhor compreender os efeitos da educaccedilatildeo na constituiccedilatildeo dessa infacircncia podemosrecorrer ao filoacutesofo francecircs Michel Foucault quando ele aponta em seu livro Microfiacutesica do Poder(1979) que a disciplina eacute uma teacutecnica de exerciacutecio de poder que foi natildeo inteiramente inventadamas elaborada em seus princiacutepios fundamentais durante o seacuteculo XVIII (p 105) O autor nosentido de melhor esclarecer a origem da disciplina nas sociedades ocidentais afirma que essa eacuteuma arte de distribuiccedilatildeo dos homens no espaccedilo baseada na individualizaccedilatildeo dos corpos (p

105) A disciplina que se exerce sobre cada corpo isoladamente eacute uma praacutetica que permite aclassificaccedilatildeo dos sujeitos observados e controlados A vigilacircncia deve ser permanente para que adisciplina seja conseguida

Foucault ressalta a importacircncia das praacuteticas de exame (provas avaliaccedilotildees) e de penalizaccedilatildeoou castigo como formas de fazer com que os sujeitos internalizem o poder Quanto mais a morale a disciplina forem sentidas como necessaacuterias agrave existecircncia humana mais sucesso teraacute o processode disciplinamento e controle social A citaccedilatildeo a seguir sintetiza a anaacutelise de Foucault sobre essetema

Escola s n a h ist oacuter ia da h um a nida de

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A disciplina eacute o conjunto de teacutecnicas pelas quais os sistemas de poder vatildeo terpor alvo e resultado os indiviacuteduos em sua singularidade Eacute o poder deindividualizaccedilatildeo que tem o exame como instrumento fundamental O exame eacutea vigilacircncia permanente classificatoacuteria que permite distribuir os indiviacuteduosjulgaacute-los medi-los localizaacute-los e por conseguinte utilizaacute-los ao maacuteximo(FOUCAULT 1979 p107)

Retomando as contribuiccedilotildees de Philippe Ariegraves vimos que a modernidade instaura umaseparaccedilatildeo entre o mundo dos adultos e das crianccedilas e para tanto organiza novas formas eespaccedilos de educaccedilatildeo Os coleacutegios (educaccedilatildeo em preacutedios fechados) o mobiliaacuterio (bancos escolaresbirocirc etc) a separaccedilatildeo em classes (inicialmente por conhecimento e mais recentemente poridades e ainda por localizaccedilatildeo na estrutura social) satildeo intervenccedilotildees protagonizadas desde oSeacuteculo XV ateacute os dias de hoje com o objetivo de instruir e moralizar a sociedade

A ideacuteia de que a infacircncia eacute uma produccedilatildeo social natildeo eacute mais novidade para noacutes Temosdebatido durante nosso percurso que o sentimento que hoje temos com relaccedilatildeo agrave infacircnciaapareceu no momento em que a famiacutelia burguesa se distinguiu como elemento central da sociedadecom a preocupaccedilatildeo de formar homens honrados e moralmente constituiacutedos A sociedade maisespecificamente a igreja catoacutelica comeccedila a valorizar a propriedade de bens centrada nas matildeosde nuacutecleos familiares A famiacutelia volta-se para si mesma resguardando seus membros exigindoassim uma educaccedilatildeo rigorosa dos herdeiros

A partir dessas colocaccedilotildees sobre uma disciplina (escolar) que eacute exigida para que a sociedadeexerccedila controle sobre os homens podemos ainda aceitar a ideacuteia de que os conhecimentossaberes ministrados nos coleacutegios foram igualmente objetos de disciplinarizaccedilatildeo isto eacute de umaintervenccedilatildeo para que servissem aos interesses da reforma moral cristatilde e depois laica (SeacuteculoXVIII)

Juacutelia Varella no texto intitulado O estatuto do saber pedagoacutegico (publicado em O sujeitoda Educaccedilatildeo 4 ed 2000) identifica na passagem do Renascimento para a Modernidade umapedagogizaccedilatildeo dos conhecimentos que significa um novo ordenamento dos saberes de acordocom os interesses moralizantes e disciplinadores que emanam da igreja catoacutelica e dos coleacutegiosjesuiacutetas Conforme demonstra essa autora

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O olhar invisiacutevel podeser representado peloPanopticon de Benthanque permite ver tudosem ser visto produzindono aluno a disciplina pelomedo do exame e docastigo

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Para levar adiante seu projeto de formaccedilatildeo de bons cristatildeos os mestresjesuiacutetas natildeo apenas reforccedilaram o estatuto conferido agrave infacircncia com a opccedilatildeode educaacute-la em espaccedilos fechados nos coleacutegios mas sentiram tambeacutem anecessidade de controlar os saberes que iam transmitir e de organizar essessaberes de tal forma que se adequassem agraves supostas capacidades infantis(VARELLA 2000 apud SILVA 1994 p 88)

Os mestres jesuiacutetas se converteram em autoridades maacuteximas exercendo um poder sobreseus alunos retirando toda a possibilidade vivenciada na Idade Meacutedia de autonomia no estudoForam desenvolvidas estrateacutegias e teacutecnicas que tinham como objetivo dirigir ao conhecimento omesmo sentido moralizante que vinha sendo dado agrave formaccedilatildeo dos alunos A disciplina e a ordemnas salas de aula passaram a ser elementos necessaacuterios nesse processo de penalizaccedilatildeo emoralizaccedilatildeo

Em segundo lugar Juacutelia Varella reconhece a existecircncia de um processo que se daacute no interiorda produccedilatildeo do conhecimento o disciplinamento interno dos saberes eliminando o que eraconsiderado como saberes inuacuteteis segundo as normas de moralizaccedilatildeo e reordenando umacomunicaccedilatildeo entre esses retirando-lhes a forccedila e a intensidade Nesse processo eacute importanteque se promova ainda uma classificaccedilatildeo e hierarquizaccedilatildeo entre os saberes promovendo umacentralizaccedilatildeo de cima para baixo As fronteiras entre a histoacuteria a geografia e a sociologia foramtraccediladas por exemplo pela humanidade assim como a orientaccedilatildeo no processo de ensino-aprendizagem do que deve ser ensinado primeiro e qual saber eacute mais nobre isto eacute que deveocupar o topo de todos os conhecimentos

Os processos que foram aos poucos se instaurando apartir do Seacuteculo XVI produziram censura e controle e mais doque isso devido agraves divisotildees impostas que delimitavam as aacutereasde saberes (conhecimentos) buscavam eliminar a ideacuteia dohomem universal acentuando a possibilidade de tornar doacuteceisos corpos (os sujeitos) mediante essa praacutetica disciplinar impostana produccedilatildeo dos saberes Se anteriormente na Idade Meacutedia oaluno detinha um poder sobre o que queria aprender e ondebuscar o conhecimento na era da modernidade essapossibilidade passa a ser inexistente O aluno perde o poder sobre seus caminhos passando a sercompreendido como um mero elemento de transmissatildeo de conhecimento Natildeo mais pode escolhero que deve ser aprendido tampouco o ritmo desse aprendizado ou o que fazer do conhecimentoadquirido A grade de disciplinas hoje tatildeo naturalmente absorvida por todos noacutes em qualquercurso eacute uma produccedilatildeo social e serve a esses interesses de tornar doacutecil o corpo a ser disciplinadoAprendemos esse ordenamento dos saberes e passamos a respeitaacute-los como se fossemincontestaacuteveis naturais e acima de tudo necessaacuterios

Michel Foucault jaacute citado anteriormente reconhece nesse processo a emergecircncia dasociedade disciplinar que funciona confinando aprisionando os homens agraves escolas agraves prisotildeesagraves igrejas aos hospitais agraves faacutebricas etc

Os processos descritos acima por Juacutelia Varella podem ser reconhecidos ateacute hoje nas praacuteticasescolares Poreacutem com a intervenccedilatildeo das miacutedias e dos novos equipamentos sociais jaacute se pode

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identificar um controle que natildeo mais iraacute somente confinar isolar os estudantes nas escolas osloucos nos asilos e os empregados nas faacutebricas para que sejam produtivos

Trata-se da emergecircncia da sociedade de controle que atua de forma contiacutenua Entramem accedilatildeo a TV os microcomputadores e os celulares que permitem conhecer e conectar o mundoa partir de um uacutenico lugar Satildeo maacutequinas que iratildeo estruturar a vida organizando uma subjetividadedo consumo e da informaccedilatildeo Mas como relacionar esse processo aos domiacutenios da escola

Aqui lanccedilaremos matildeo de outro escritor francecircs Feacutelix Guattari (1985) que no estudo Ascreches e a iniciaccedilatildeo publicado no livro intitulado Revoluccedilotildees Moleculares mostra-nos osefeitos do processo de iniciaccedilatildeo das crianccedilas agrave loacutegica capitalista O autor se refere agrave produccedilatildeode modos de viver pensar e sentir que estariam em consonacircncia com os mais novos modos deproduccedilatildeo material na sociedade capitalista industrial Denomina como aparelhos de semiotizaccedilatildeoos viacutedeo-games CD-rom etc Esses aparelhos passam a dar o sentido dos modos de existecircncia

Guattari (1985) indica que as crianccedilas estatildeo sendo iniciadas cada vez mais cedo nossistemas de representaccedilatildeo e nos valores do capitalismo que produzem uma modelagem adequadaaos coacutedigos utilizados em nosso cotidiano Aponta como importante o fato de que se mobilizamno processo de formaccedilatildeo da crianccedila esquemas de aprendizagem que permitem traduzir oconjunto de coacutedigos ou semioacuteticas dominantes Por fim chama a atenccedilatildeo para a necessidade deanalisarmos o funcionamento da creche e o efeito da educaccedilatildeo infantil na constituiccedilatildeo dessecorpo que eacute modelado para atuar produtivamente de acordo com os ideais da sociedade capitalista

A sua grande contribuiccedilatildeo eacute indicar no espaccedilo da educaccedilatildeo uma perspectiva de que acrianccedila venha a aprender o que eacute a sociedade o que satildeo seus instrumentos (GUATTARI 1985p 54) para poder interferir de forma autocircnoma e criativa no mundo Aprender os coacutedigos e osmodos de funcionamento da sociedade na qual estaacute inserida pode ser importante para que acrianccedila tenha a possibilidade de desenvolver formas singulares de estar no mundo

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegico(a)s a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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UNIDADE II

UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA DO COTIDIANO ESCOLAR

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 4 DOS COLEacuteGI OS DA MODERNI DADE AgraveS ESCOLAS ATUAI S UMAANAacuteLI SE CRIacute TI CA DAS PRAacuteTI CAS COTI DI ANAS

Seguindo a linha de anaacutelise de nosso percurso iremosneste momento buscar os fios que nos permitem compreenderalguns elementos do cotidiano escolar como um espaccedilodisciplinar e controlador das subjetividades O estudo da origemdas praacuteticas educativas a partir dos coleacutegios do Seacuteculo XVIIIforneceu-nos os elementos que seratildeo aqui utilizados paraexercitarmos uma investigaccedilatildeo criacutetica da escola na atualidadeEsse exerciacutecio de reflexatildeo eacute fundamental para que possamosabrir novas portas e inventar outras praacuteticas da psicologia naescola

Com o objetivo de melhor sistematizar nosso trabalho deanaacutelise dividiremos a explanaccedilatildeo em seis itens a saber

1 As praacutet icas cot idianas conspiram cont ra a produccedilatildeoda autonomia e da autogestatildeo

Como jaacute estudamos anteriormente o poder de decisatildeofoi retirado do aluno quando da organizaccedilatildeo dos coleacutegios apartir do Seacuteculo XVIII sendo produzida uma ideacuteia de infacircnciafragilizada e portanto sem possibilidades de exercitar suaautonomia Eacute naturalizada uma concepccedilatildeo de aluno como umcorpo vazio a ser preenchido e modelado

As atividades nas escolas e na vida contemporacircnea passam a ser geridas por outrem -pelo supervisor pelo livro didaacutetico pelos programas governamentais (Escola Aberta Bolsa Escolae outros) - ou coordenadas por entidades como o Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem Aspraacuteticas de avaliaccedilatildeo se apresentam aos alunos como destituiacutedas de sentido Para os professoresessas praacuteticas representam mais uma etapa do processo sendo orientadas pela mesma loacutegica doplanejamento e das atividades contidas no livro didaacutetico Os principais atores sociais (alunos eprofessores) satildeo enfraquecidos no exerciacutecio do poder como sujeitos incapacitados de produzir aarticulaccedilatildeo entre praacuteticas e seus efeitos

Ilustraccedilatildeo de capa do livro O berccedilod a d es i g u a l d a d e de CristovamBuarque com fotos de SebastiatildeoSalgado

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lt Paulo Freiregt ao trabalhar o tema da autonomia no livroPedagogia da Aut onom ia (1996) estabelece a relaccedilatildeo entre oexerciacutecio da liberdade por parte do aluno e da autoridade peloeducador Aponta como fundamental para a construccedilatildeo da autonomiaa praacutetica da responsabilidade Segundo esse educador o educandoque exercita sua liberdade ficaraacute tatildeo mais livre quanto mais eticamentevaacute assumindo a responsabilidade de suas accedilotildees (p 104) mas essaautonomia somente se constitui quando desaparece a relaccedilatildeo dedependecircncia Continuando com o pensamento de Freire ele afirmaque

No fundo o essencial nas relaccedilotildees entre educador eeducando entre autoridade e liberdade entre pais matildeesfilhos filhas eacute a reinvenccedilatildeo do ser humano no aprendizadoda autonomia (FREIRE 1996 p 105)

O pensamento e a accedilatildeo autocircnomos natildeo se datildeo sem que sejamexplicitados os lugares de poder Por isso Paulo Freire fala da reinvenccedilatildeodo ser humano e mais do que isso da reinvenccedilatildeo das relaccedilotildees pedagoacutegicasque deveriam trocar a dependecircncia pela responsabilidade

2 O m odelo educat ivo dest itui os hom ens de sua condiccedilatildeo deprodutores do conhecim ento

A concepccedilatildeo de sujeito a-histoacuterico estaacute presente no contextoescolar onde o conhecimento eacute dado como objetivo e assumido comoverdade absoluta a ser aprendida A organizaccedilatildeo do saber hierarquicamentedisciplinado como nos mostrou Juacutelia Varella na aula anterior (Aula 3Unidade I) elimina a concepccedilatildeo de sujeito como produtor de conhecimentoOs processos de p e d a g o g i z a ccedilatilde o d o s co n h e ci m e n t o s e dedisciplinam ento interno dos saberes estatildeo presentes nas praacuteticaseducacionais atuais fazendo com que tanto alunos quanto professoressejam concebidos como meros coadjuvantes

Trata-se de um treino para o bom comportamento social valorizando o lugar do expectador daquele que natildeo interfere no andamentoda aula e que deve seguir agrave risca o que eacute ditado pelo planejamentomuitas vezes elaborado pelos especialistas da educaccedilatildeo A ausecircncia deuma implicaccedilatildeo dos alunos no processo de aprendizagem eacute consequumlecircnciadesse modelo de escola que somente legitima o conhecimento que eacuteproduzido fora de seu cotidiano A sala de aula eacute assim desumanizada edestituiacuteda de vida proacutepria O mesmo processo eacute vivido pelos educadoresque aprendem no exerciacutecio profissional a praticar e valorizar a obediecircncia

Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

Fo n t e Charge deClaudius Cecconpublicada no livroCu i d a d o Esco l a (p64)

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

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5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I238

AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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Aula 4 Aula 5 Aula 6

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I250

3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

251

A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I252

AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I254

DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I256

Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

257

No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I258

Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 8: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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UNI VERSI DADE ABERTA DO BRASI LUNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAIacuteBA

CURSO DE PEDAGOGI A - MODALI DADE A DI STAcircNCI APSICOLOGIA EDUCACIONAL I

Professora-pesquisadora Dra AcircNGELA MARIA DIAS FERNANDES

DESEMPENHO NO PERCURSO

Aulas Desafios PontuaccedilatildeoDesempenho

obtidoPrazo de

finalizaccedilatildeo

UNIDADE I

Aula 1

1) Esquema das principaiscorrentes de pensamentopsicoloacutegico2) Foacuterum Quais asprincipais diferenccedilas entreas correntes depensamento psicoloacutegico

20

20

Aula 2

Produccedilatildeo de texto sobre aTeoria da CarecircnciaCultural e seu percurso apartir da MedicinaPsicologia e Pedagogia

30

Aula 3

1) Glossaacuterio comconceitos dos termosPedagogizaccedilatildeo dosconhecimentos edisciplinamento dossaberes2) Chat temaacutetico

15

15

Tota l de pontos na Unidade I 100

UNIDADE II

Aula 4Foacuterum relacionando avivecircncia escolar doaprendente com o texto

30

Aula 5 Chat sobre exclusatildeo sociale escola 30

Aula 6Pesquisa de campo(entrevistas comprofessores)

40

Tota l de pontos na Unidade I I 100

UNIDADE III

Aula 7Produccedilatildeo de texto sobreautonomia e Psicologia naescola

30

Aula 8

1) Foacuterum sobre o trabalhodo professor no contoinfantil2) Chat temaacutetico

20

20

Aula 9 Foacuterum sobre propostas emPsicologia Educacional 30

Tota l de pontos na Unidade I I I 100

AVALIACcedilAtildeOPRESENCIAL

(Prova escrita)

Conteuacutedo das trecircsunidades

100 Final dopercurso

TOT AL DE PONTOS OBTI DOS NO PERCURSO

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I218

UNIDADE I

PSI COLOGI A E EDUCACcedilAtildeO ALI ANCcedilAS NA PRODUCcedilAtildeO DE UMOLHAR SOBRE A INFAcircNCIA

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 1 A CONSTRUCcedilAtildeO HI STOacuteRI CA DA PSI COLOGI A

Para estudarmos a psicologia suas teorias praacuteticas e princiacutepios metodoloacutegicos eacute necessaacuterioinicialmente termos conhecimento de sua histoacuteria e do contexto soacutecio-poliacutetico-cultural quepermitiu sua constituiccedilatildeo

1 A const ruccedilatildeo da psicologia cient iacuteficaInicialmente iremos situar a construccedilatildeo cientiacutefica da psicologia a partir das linhas claacutessicas

do pensamento psicoloacutegico behaviorismo gestaltismo funcionalismo psicologia cognitivapsicologia soacutecio-histoacuterica e psicanaacutelise

Todos os historiadores da psicologia concordam que foi Wilhen Wundt na Alemanha emmeados do Seacuteculo XIX que criou os fundamentos cientiacuteficos determinando o objeto de estudo omeacutetodo de pesquisa e os objetivos dessa nova ciecircncia Wundt afirmou a independecircncia dapsicologia em relaccedilatildeo agraves outras ciecircncias situando-a na intermediaccedilatildeo entre as ciecircncias danatureza e da cultura A experiecircncia imediata dos homens era seu foco de interesse baseandosua teoria na ideacuteia de uma unidade psicofiacutesica dos processos elementares da vida mental

No final do Seacuteculo XIX outros estudiosos se lanccedilaram naaventura da pesquisa em psicologia concordando com Wundtou se opondo a ele O Co m p o r t a m e n t a l i sm o ouBehaviorismo surge com John Watson nos EUA que discordaque o foco esteja na experiecircncia imediata Para Watson o objetode estudo da nova ciecircncia deve ser a comportamento humanoEste teoacuterico afirma que o comportamento deve ser visto comoindependente daquilo que o sujeito pensa sente deseja ou emque crecirc Jaacute no iniacutecio do Seacuteculo XX os novos comportamentalistasreordenam os estudos das interaccedilotildees entre os organismos vivose seus ambientes O psicoacutelogo americano BF ltSkinnergt sesobressai ao se referir agrave importacircncia dos condicionamentossociais no comportamento Ele afirma que as experiecircnciassubjetivas satildeo sempre construiacutedas pela sociedade sem nenhumainterferecircncia da consciecircncia ou de um eu interno e formula oconceito de condicionamento operante relacionando aaprendizagem a um sistema de reforccedilo e puniccedilatildeo

Note-se que ateacute aqui estamos trazendo as oposiccedilotildees entre duas linhas de pensamentoSituamos Wundt que afirma a importacircncia das experiecircncias imediatas no estudo do psiquismohumano e uma outra vertente que propotildee ignorar a existecircncia de tais experiecircncias na construccedilatildeoda psicologia cientiacutefica como propotildeem os teoacutericos do comportamentalismo

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

A ca ix a de Sk inn er

219

Nessa polecircmica sobre o estudo do homem podemos situar uma teoriasobremaneira importante - o ltGestaltismogt - mais conhecido comopsicologia da forma que surge na Alemanha no iniacutecio do Seacuteculo XX Emoposiccedilatildeo clara a J Watson seus mais importantes representantes foramMax Wetheimer Kurt Koffka e Wolfgan Koller Seus estudos partiam daexperiecircncia imediata utilizando como meacutetodo a fenomenologia Segundo

esses estudiosos os fenocircmenos da percepccedilatildeo da memoacuteria e da afetividade eram vivenciadossob a forma de estruturas Eles recusavam a ideacuteia de Watson para quem o comportamento eraunicamente dependente do estiacutemulo (relaccedilatildeo conhecida como estiacutemulo-resposta ou E-R) afirmandoque a forma resultante de um processo de percepccedilatildeo era muito mais que a soma das partes Ogestaltismo trazia como preocupaccedilatildeo central a necessidade de se relacionar a experiecircncia imediatados sujeitos com a natureza fiacutesica e bioloacutegica e com o mundo dos valores socioculturais

Outra importante corrente surgida na passagem do SeacuteculoXIX para o Seacuteculo XX nos EUA foi o Funcionalismo Maisconhecido por suas teses adaptacionistas traz uma grandeinfluecircncia das teorias evolucionistas de lt Charles Darw ingt Os estudiosos dessa corrente admitiam a possibilidade de seestudar a mente por meio dos comportamentos e para a suasobrevivecircncia o ser humano deveria adaptar-se agraves condiccedilotildeesambientais John Dewey foi o que mais trouxe contribuiccedilotildees nocampo da educaccedilatildeo afirmando que o ensino deveria orientar-se para o aluno e natildeo para o assunto Acreditava com issoque se poderia formar o ser humano adaptando-o agravesnecessidades da sociedade por meio da educaccedilatildeo

As receacutem estruturadas sociedades industriais capitalistas iratildeo indicar para a correnteadaptacionista uma importante tarefa a de cont r ibuir com invest igaccedilotildees cient iacutef icas sobre oshomens com o objetivo de melhor adaptaacute-los agrave nova ordem social A psicologia se desenvolveno iniacutecio do Seacuteculo XX com a construccedilatildeo de instrumentos de mensuraccedilatildeo da inteligecircncia e dapersonalidade Os testes psicoloacutegicos propostos pelos pesquisadores eram utilizados nosprocedimentos de seleccedilatildeo e orientaccedilatildeo no trabalho e na escola Tanto nos EUA com FrancisGalton quanto na Franccedila com Binet e Simon assiste-se ao desenvolvimento da psicometriautilizada na educaccedilatildeo como forma de conhecer as caracteriacutesticas de cada sujeito Esseconhecimento serviria para justificar a partir das diferenccedilas individuais a distribuiccedilatildeo em classessociais distintas colocando fora de questionamento a desigualdade social e distribuiccedilatildeo desigualde oportunidades

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 1 Aula 2 Aula 3

O filme Tempos Modernos de Charles Chaplin jaacute foiobjeto de reflexotildees no MarcoI Caso deseje revecirc-lo dirija-se ao Poacutelo Municipal de ApoioPresencial de sua cidade

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I220

A configuraccedilatildeo do objeto de estudos da psicologia centrada no indiviacuteduo afasta a necessidadede uma anaacutelise contextualizada da sociedade onde os sujeitos estatildeo inseridos assim como suaforma de inserccedilatildeo Nas sociedades marcadas pela divisatildeo em classes e cuja base eacute o modelocapitalista de produccedilatildeo difunde-se a crenccedila na igualdade de oportunidades minimizando ainfluecircncia do modo de produccedilatildeo na localizaccedilatildeo dos sujeitos na estrutura social As diferenccedilasindividuais satildeo utilizadas para mascarar a impossibilidade de que a as oportunidades sejam iguaispara todos Assim aprofunda-se a marca principal da psicologia desde sua criaccedilatildeo a de selecionarorientar adaptar e racionalizar a existecircncia humana em nome da produtividade e da eficaacutecia

Podemos situar ainda a Psicologia Cognitiva como outracorrente que se oporaacute aos princiacutepios do ComportamentalismoltJean Piagetgt eacute um importante estudioso do desenvolvimentoinfantil cuja base satildeo as estruturas cognitivas A criacutetica agraveobjetividade cientiacutefica observada nas teorias comportamentaise funcionalistas eacute um importante fundamento desse caminhode pensamento sobre o ser humano e traraacute enormescontribuiccedilotildees para a educaccedilatildeo

Lev Vygotsky psicoacutelogo russo propocircs no iniacutecio do Seacuteculo XX uma nova teoria a PsicologiaSoacutecio-histoacuterica que parte da afirmaccedilatildeo da construccedilatildeo social do conhecimento e da importacircnciada mediaccedilatildeo da educaccedilatildeo da escola e do professor nos processos de ensino e de aprendizagemTrata-se de um importante passo na direccedilatildeo de relacionar o individual e o social na compreensatildeodo psiquismo humano

Sigmund Freud o criador da ltPsicanaacutelisegt eacute tambeacutemsituado no campo dos estudiosos da gecircnese do sujeito Emoposiccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees positivistas e objetivadoras dofuncionalismo psiacutequico Freud iraacute definir o inconsciente comoobjeto de estudo Ele concebe a ideacuteia de uma subjetividadecindida e incompleta recusando o eu como centro dopsiquismo o que torna a psicanaacutelise uma teoria original

2 Desenvolvim ento da psicologia no seacuteculo XX

A partir dessas correntes claacutessicas (behaviorismo gestaltismo funcionalismo psicologiacognitiva psicologia soacutecio-histoacuterica e psicanaacutelise) observa-se na histoacuteria da psicologia o surgimentode outras teorias e estrateacutegias de atuaccedilatildeo Podemos destacar nesse processo as teorias ligadasagrave psicologia dos grupos a teoria humanista as teorias da subjetividade e aquelas que surgem apartir do movimento institucionalista

Os estudiosos da histoacuteria da psicologia assinalam o meacutedicoJ Prattes como o pioneiro nos trabalhos com grupos em 1906mas eacute consensual a afirmaccedilatildeo de que foi Moreno psiquiatraromeno que na deacutecada de 1930 nos EUA idealizou olt p sico d r a m a gt uma passagem da arte dramaacutetica agravepsicoterapia

O alematildeo Kurt Lewin eacute tambeacutem situado no campo das psicoterapias de grupo incrementadas

D ivatilde u t i l iz a do pe lo psica n a l ist a ee x p o st o n o M u se u Fr e u d e mLon d r e s

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pelas condiccedilotildees do poacutes-guerra (deacutecada de 1940) impondo a necessidade de expansatildeo dostrabalhos de sauacutede mental e de recuperaccedilatildeo imediata da matildeo-de-obra deteriorada Em 1944Lewin criou o conceito de dinacircmica de grupo afirmando que o grupo eacute mais do que a soma dassuas partes e que quando haacute modificaccedilatildeo de uma das partes a estrutura grupal se modificaOutro teoacuterico da psicologia dos grupos eacute o argentino Pichoacuten Riviegravere que estruturou a estrateacutegiado grupo operativo que considerava que um grupo soacute se estruturava quando estivesse operandosobre uma tarefa

Como pode ser observado ateacute esta etapa de nossa aula a partir da segunda guerramundial a psicologia fortalece seu interesse pelo social natildeo soacute no campo da pesquisa considerandosua repercussatildeo na constituiccedilatildeo dos sujeitos como tambeacutem enquanto espaccedilo de intervenccedilatildeo emorganizaccedilotildees (hospitais escolas faacutebricas sindicatos etc)

As teorias ligadas agrave Psicologia Humanista constituem outro importante espaccedilo de praacuteticasna qual se sobressaem Carl Rogers da Abordagem Centrada na Pessoa e alguns teoacutericos dagestalt-terapia e da Bioenergeacutetica traduzindo muito bem uma forma mais intimista de responderaos acontecimentos dos anos de 1960 e 1970 Priorizando o corpo o auto-conhecimento e aliberaccedilatildeo dos sujeitos os autores humanistas centram sua preocupaccedilatildeo na adaptaccedilatildeo do homemao meio de forma criativa e ativa

Ainda nas deacutecadas de 1950 e 1960 assiste-se a um movimento de resistecircncia principalmentena Europa que se faz presente nos hospitais e nas escolas aliando a psicologia a sociologia aeducaccedilatildeo e a psiquiatria O Movimento Institucionalista nasce de uma criacutetica agrave organizaccedilatildeohieraacuterquica e centralizadora tanto nos hospitais psiquiaacutetricos quanto nas organizaccedilotildees escolaresconstituindo-se a Psicoterapia I nst itucional (1950) e mais tarde (1962) a PedagogiaInstitucional A Psicossociologia Institucional significa um avanccedilo no processo de autogestatildeoe juntamente com os anti-institucionalistas (Lang Cooper e Ivan Illich) iraacute criar as condiccedilotildeespara o surgimento de uma outra perspectiva de intervenccedilatildeo em 1963 conhecida como AnaacuteliseInstitucional

Por sua criacutetica agrave sociedade capitalista e aoconservadorismo os institucionalistas relacionam-se comos ltmovimentos da contra-cultura na Franccedilagt e emoutros paiacuteses e elaboram inspirados em conceitos devaacuterias correntes da psicologia da sociologia e da filosofiapropostas de investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Essas ideacuteiassatildeo representadas principalmente pelos franceses ReneacuteLourau Felix Guattari e Georges Lapassade

No Brasil apoacutes a ditadura militar essas formulaccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas encontraramum terreno feacutertil junto a psicoacutelogos implicados com os movimentos sociais propondo um conjuntode ferramentas proacuteprias para a intervenccedilatildeo em instituiccedilotildees conceituadas como praacuteticas sociaise para a compreensatildeo das subjetividades

Nas duas uacuteltimas deacutecadas do Seacuteculo XX e iniacutecio do Seacuteculo XXI a partir dos avanccedilos dacomunicaccedilatildeo da expansatildeo de outras linguagens como a informaacutetica e do surgimento de novasproblemaacuteticas sociais configuram-se teorias e proposiccedilotildees centradas algumas delas tambeacutemno conceito de Subjetividade Fernando Gonzaacutelez Rey identifica na histoacuteria desse conceito umprocesso de ruptura com a psicologia cientiacutefica objetiva e neutra tendo significado um desafio

Paris em 1968

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I222

na afirmaccedilatildeo de uma psique que se constroacutei a partir de uma visatildeo cultural em uma dimensatildeocomplexa e dialeacutetica Esse estudioso da psicologia aponta a obra de Vygotsky pouco valorizadano Ocidente ateacute muito recentemente como um marco na definiccedilatildeo do conceito de subjetividade

A psicanaacutelise e a psicologia soacutecio-histoacuterica de L Vygotsky e outras linhas de pensamentotecircm sido revistas em associaccedilatildeo com diversas aacutereas do conhecimento inaugurando um caminhointerdisciplinar

Nesses uacuteltimos trinta anos ainda as teorias comportamentais vecircm buscando sua renovaccedilatildeomediante o aprimoramento das teacutecnicas quantitativas de avaliaccedilatildeo de valores sociais e de programasde assistecircncia e e intervenccedilotildees no campo da cogniccedilatildeo e do treinamento comportamental

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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AULA 2 PSI COLOGI A E EDUCACcedilAtildeO NO BRASI L COMPROMI SSOS E ALI ANCcedilAS

Como vimos na aula anterior a constituiccedilatildeo da psicologia comociecircncia data de meados do Seacuteculo XIX com Wundt na AlemanhaNesse periacuteodo de mais de um seacuteculo de construccedilotildees teoacutericas eproposiccedilotildees praacuteticas constatamos a existecircncia de uma variedadede olhares sobre o homem e seu funcionamento psiacutequico Percebemosao longo da histoacuteria da psicologia que natildeo existe um pensamentouacutenico e que o contexto soacutecio-histoacuterico e a forma como o psicoacutelogopesquisador compreende o mundo e nele se insere seratildeo umimportantes fatores que determinaratildeo a proposta formulada

No Brasil assistiremos a um processo que segundo algunspsicoacutelogos brasileiros preocupados com a historiografia dessaciecircncia tem relaccedilatildeo com as experiecircncias de colonizaccedilatildeo eafirmaccedilatildeo dos interesses de uma classe dominante fortementemarcada por teorias racistas e eugecircnicas alimentadas pela obrade Charles Darwin e suas consequumlecircncias para o estudo dohomem O impulsionamento da psicologia como ciecircncia no Brasileacute relacionado a necessidades impostas pelo desenvolvimentourbano-industrial agraves novas formas de ocupaccedilatildeo das cidadesditadas pela Repuacuteblica e ao reordenamento da forccedila de trabalhona direccedilatildeo da escola preferencialmente profissionalizante

A constituiccedilatildeo da psicologia desde fins do Seacuteculo XIX e iniacuteciodo Seacuteculo XX deu-se em estreita articulaccedilatildeo com a educaccedilatildeo e amedicina podendo-se afirmar que a psicologia foi gerada no interiordessas duas aacutereas de conhecimento sendo nesses campos em quedesenvolveraacute seu projeto de autonomizaccedilatildeo como demonstra MitzukoAntunes em seu estudo a ltPsicologia no Brasil leitura histoacutericasobre sua constituiccedilatildeogt

A atuaccedilatildeo da psicologia junto agraves instituiccedilotildees de sauacutede noiniacutecio do Seacuteculo XX fez-se em nome do controle social com sentidopreventivista e eugecircnico A psiquiatria e o higienismo quecaracterizaram a medicina da eacutepoca clamaram pela participaccedilatildeo dapsicologia na detecccedilatildeo da anormalidade como tambeacutem na prevenccedilatildeo de problemas sociais quepoderiam advir relacionados agrave presenccedila das raccedilas que eram consideradas inferiores e que poderiamperturbar a ordem na vida urbana

A Liga Brasileira de Higiene Mental criada em 1920 representou de maneira radical essesideais tendo se colocado abertamente a favor do aperfeiccediloamento da raccedila (ariana) e contra osnegros e mesticcedilos que eram caracterizados pelas teorias racistas da eacutepoca como indolentesdegenerados preguiccedilosos e sujeitos a enfermidades por sua natureza e iacutendole Os princiacutepios da

Antes de prosseguir aleitura da aula volte agraveaula anterior e revejaquais as principaiscorrentes dapsicologia no processode sua construccedilatildeohistoacuterica

Dirija-se agrave bibliotecado Poacutelo Municipal deApoio Presencial e faccedilaa leitura dos capiacutetulos1 e 2 da Parte II dolivro de MitzukoAntunes (p 37-85)

Trabalhadores da Faacutebricade Tecidos Videira

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I224

higienizaccedilatildeo e da disciplinarizaccedilatildeo da sociedade iratildeo caracterizar o trabalho nas instituiccedilotildeespsiquiaacutetricas preocupadas com uma intervenccedilatildeo para aleacutem do encarceramento da loucura

Apesar da diversidade de pesquisas que se desenvolviam em outros paiacuteses no Brasil ainfluecircncia da pesquisa experimental baseada na psicometria ocorreu de forma hegemocircnica ateacute

pelo menos a deacutecada de 1980

Nas instituiccedilotildees educacionais a preocupaccedilatildeo central era com o analfabetismo e a falta deinstruccedilatildeo do povo brasileiro em um paiacutes em franco desenvolvimento e requisitando uma matildeo-de-obra conhecedora pelo menos da leitura e da escrita Vaacuterios movimentos pela difusatildeo e ampliaccedilatildeoda escola puacuteblica e gratuita surgiram no paiacutes mostrando diferentes ideais de sociedade que vatildeodesde a preparaccedilatildeo para o trabalho ateacute uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo como emancipadora dopovo em uma luta contra a opressatildeo colonialista Nesse quadro a demanda dos profissionais daeducaccedilatildeo no sentido de construir uma pedagogia moderna e cientiacutefica fez da psicologia seuprincipal ponto de sustentaccedilatildeo uma vez que fornecia as bases de conhecimento sobre osindiviacuteduos o processo de desenvolvimento psiacutequico as vocaccedilotildees emoccedilotildees e a organizaccedilatildeo dapersonalidade

A preocupaccedilatildeo com o indiviacuteduo e com as teacutecnicas que pudessem instrumentalizar a praacuteticaeducativa fez surgir no Brasil no iniacutecio do Seacuteculo XX uma seacuterie de Laboratoacuterios e Institutosvoltados para a pesquisa psicoloacutegica destacando-se o Pedagogium depois transformado emLaboratoacuterio de Psicologia Experimental no Rio de Janeiro o Instituto de Psicologia de Pernambucoa Escola de Aperfeiccediloamento Pedagoacutegico de Belo Horizonte e o Laboratoacuterio de PedagogiaExperimental de Satildeo Paulo Nesse periacuteodo surgem as Escolas Normais encarregadas da formaccedilatildeode professores

No processo de constituiccedilatildeo cientiacutefica da pedagogia e de afirmaccedilatildeo da psicologia oslaboratoacuterios e institutos de pesquisa vatildeo sendo incorporados a essas escolas A instalaccedilatildeo desalas de exame psicoloacutegico e de afericcedilatildeo antropomeacutetrica seguia a demanda de higienizaccedilatildeo dapopulaccedilatildeo vigente na eacutepoca e era inspirada nas pesquisas trazidas da Europa e dos EUA queprivilegiavam a psicometria de modo geral Apesar da pouca inserccedilatildeo nas escolas oficiais essapraacutetica serviu para difundir e legitimar o discurso cientiacutefico utilizado para explicar a localizaccedilatildeo decada indiviacuteduo na estrutura social A existecircncia de diferenccedilas individuais era o principal argumentodesse discurso sendo desconsideradas desse esquema de causalidade as imposiccedilotildees da sociedadecapitalista industrial e sua principal base que eacute a divisatildeo em classes sociais com chances epossibilidades desiguais

Em um estudo sobre a disciplina na sociedade moderna em que analisa o funcionamento doGabinete de Antropologia e Psicologia Pedagoacutegica de Satildeo Paulo Marta Carvalho afirma

Neste horizonte criteacuterios raciais nem sempre explicitados traccedilavam os limitesdas boas intenccedilotildees republicanas operando a distinccedilatildeo entre populaccedilotildeeseducaacuteveis capazes portanto de cidadania e populaccedilotildees em que o peso dahereditariedade (leia-se raccedila ) era a marca de um destino que a educaccedilatildeo

era incapaz de alterar (CARVALHO 2006 p 299)

A partir da deacutecada de 1920 e principalmente de 1930 o ideaacuterio escolanovista baseadonos princiacutepios da modernidade fez-se mais presente na educaccedilatildeo brasileira mobilizando os

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educadores na luta contra os elevados iacutendices de repetecircncia eevasatildeo na escola puacuteblica A educaccedilatildeo era compreendida comoa base de uma sociedade saudaacutevel que precisava ser moralmentepreparada para o trabalho

Os novos intelectuais se uniram em torno da crenccedila de que a sauacutede e a educaccedilatildeo eramfatores capazes de promover a necessaacuteria regeneraccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira A preocupaccedilatildeocom o rendimento na escola promoveu a incorporaccedilatildeo do ltmodelo tayloristagt de produccedilatildeofabril afirmando na educaccedilatildeo as posiccedilotildees tecnicistas norteadas pela eficiecircncia e eficaacutecia dasaccedilotildees No trecho abaixo Maria Helena de Souza Patto (2003) expressa o significado dainfluecircncia desse modelo produtivo na educaccedilatildeo ao identificar um vieacutes adaptacionista naproduccedilatildeo em seacuterie de alunos perfeitamente adaptados aos diferentes lugares que lhes seratildeo

destinados numa realidade social inquestionada

Eis a via da naturalizaccedilatildeo da desigualdade que temorigem na maneira como a sociedade se estrutura maseacute lida como diferenccedila bioloacutegica ou psicoloacutegica deaptidatildeo intelectual entre grupos e indiviacuteduos (PATTO2003 p 33)

O movimento chamado Escola Nova esboccedilou-se na deacutecada de 1920 no Brasil

O mundo vivia agrave eacutepoca um momento de crescimento industrial e de expansatildeourbana e nesse contexto um grupo de intelectuais brasileiros sentiu necessidadede preparar o paiacutes para acompanhar esse desenvolvimento A educaccedilatildeo era poreles percebida como o elemento-chave para promover a remodelaccedilatildeo requerida

Inspirados nas ideacuteias poliacutetico-filosoacuteficas de igualdade entre os homens e do direitode todos agrave educaccedilatildeo esses intelectuais viam num sistema estatal de ensinopuacuteblico livre e aberto o uacutenico meio efetivo de combate agraves desigualdades sociaisda naccedilatildeoDenominado de Escola Nova o movimento ganhou impulso na deacutecada de 1930apoacutes a divulgaccedilatildeo do lt Manifesto da Escola Novagt (1932) Nesse documentodefendia-se a universalizaccedilatildeo da escola puacuteblica laica e gratuita Entre os seussignataacuterios destacavam-se os nomes de Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo

Lourenccedilo Filho e Ceciacutelia Meireles

Para ler o Manifesto dosPioneiros acessewwwpedagogiaemfocoprobrheb07ahtm

O americano lt Freder ick Taylorgt considerado o pai da organizaccedilatildeo cientiacutefica dotrabalho propocircs um modelo de produccedilatildeo industrial aliando eficaacutecia e eficiecircnciaSua preocupaccedilatildeo era com o sistema produtivo e natildeo com o homem negando aotrabalhador qualquer manifestaccedilatildeo criativa ou participaccedilatildeo O ideaacuterio tayloristafoi transposto para a educaccedilatildeo promovendo uma valorizaccedilatildeo do tecnicismo tendocomo efeitos a fragmentaccedilatildeo e a hierarquizaccedilatildeo do ensino e do conhecimento

Dirija-se ao PMAP pararealizar a leitura do texto Oque a h ist oacuter ia pode dizerso b r e a p r o f i ssatilde o d op si coacute l o g o a r e l a ccedilatilde opsicologia e educaccedilatildeo deMaria Helena de S Patto nolivro P si co l o g i a ecompromisso social

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Associada agrave escola nova a psicologia continuou fornecendo os subsiacutedios cientiacuteficos para oconhecimento das possibilidades individuais e das dificuldades escolares natildeo mais identificadascomo efeito da hereditariedade e da raccedila mas da organizaccedilatildeo e dos haacutebitos familiares e doambiente soacutecio-cultural Manteacutem-se a utilizaccedilatildeo dos instrumentos de avaliaccedilatildeo psicoloacutegica cadavez mais associada agrave pesquisa sobre o fracasso escolar e centrada no aluno e nos processos deaprendizagem

Na deacutecada de 1950 amplia-se para aleacutem do aluno o campo de pesquisa educacional praticadaprincipalmente nos institutos ligados ao governo que tinham em seus quadros o psicoacutelogoLourenccedilo Filho um dos precursores do escolanovismo A escola reafirmava sua posiccedilatildeo comoelemento fundamental no desenvolvimento da sociedade e era defendida enquanto prioridade nademocratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo e das chances oferecidas aos sujeitos

O periacuteodo de 1960 ateacute meados da deacutecada de 1970 tem como o eixo principal a Teoria doCapital Humano Em estudo sobre essa teoria e sua influecircncia no modelo educacional brasileiroGaudecircncio Frigotto em seu livro A produtividade da escola improdutiva afirma que

Do ponto de vista macroeconocircmico o investimento no fator humano passa asignificar um dos determinantes baacutesicos para o aumento da produtividade eelemento de superaccedilatildeo do atraso econocircmico Do ponto de vistamicroeconocircmico constitui-se no fator explicativo das diferenccedilas individuais deprodutividade e renda e consequumlentemente de mobilidade social (FRIGOTTO1984 p 172)

Comungando com os interesses do ltregime militargt vigentenesse periacuteodo a psicologia voltou-se ainda mais para a avaliaccedilatildeodas capacidades e habilidades psiacutequicas associadas ao investimentoindividual e ao rendimento escolar

Nos proacuteximos anos (a partir de 1970) a Teoria da CarecircnciaCultural de origem norte-americana iria influenciar a pesquisa sobreo fracasso escolar colaborando com a construccedilatildeo de um discursoque mantinha a linha de causalidade que culpava o aluno por seuinsucesso na escola Um dos aspectos principais dessa teoria eacute aafirmaccedilatildeo de que a escola eacute inadequada agraves caracteriacutesticas psiacutequicasda crianccedila pobre Esta teoria parte da existecircncia de um supostodeacuteficit considerado natural na populaccedilatildeo pobre o qual impede queas crianccedilas aproveitem as oportunidades oferecidas pela sociedadeA desigualdade social produto da sociedade cindida em classes e obaixo desempenho na escola e no trabalho satildeo ltnaturalizadosgtcom a participaccedilatildeo ativa dos elementos cientiacuteficos emprestados pelapsicologia

Eacute a partir do final dessa deacutecada de 1970 e de modo maispotente na deacutecada de 1980 que comeccedilam a ser construiacutedos outrosespaccedilos de reflexatildeo e de praacuteticas que significaratildeo a abertura denovos caminhos tanto na educaccedilatildeo quanto na psicologia Inaugura-se uma possibilidade de anaacutelise criacutetica do sistema educacionalapontando relaccedilotildees com a estrutura soacutecio-econocircmica vigente que

Alguns ditos popularesservem para esteprocesso fazendo comuma afirmaccedilatildeo sejacompreendida comon a t u r a l inquestionaacutevel

Q u e m t r a b a l h asem pre alcanccedila

O trabalho enobreceo hom em

A cada um segundosuas possibilidades

Ouccedila a muacutesica M e uca r o a m i g o composta por ChicoBuarque de Holandadurante seu exiacutelio naFranccedila Para issouti l ize ocd-rom doAprendente

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alavancam uma criacutetica da psicologia sobre si mesma Satildeo os novos tempos do fim da ditaduramilitar e da democratizaccedilatildeo no Brasil

Eacute a partir de meados da deacutecada de 1980 que a pesquisa em psicologia comeccedila a tentarromper com as alianccedilas que a constituiacuteram como base do discurso eugecircnico higienista e nosuacuteltimos anos pelo menos preconceituoso

No campo da pesquisa ressaltam-se os trabalhos de MariaHelena Sousa Patto que afirma o compromisso ideoloacutegico da psicologiacom os ideais das classes dominantes montando teorias que servissempara explicar as desigualdades sociais (1984) inaugurando um campode criacutetica importante para as posteriores investigaccedilotildees teoacutericas eintervenccedilotildees educacionais Em estudo posterior Patto nos permiteavanccedilar na compreensatildeo do fracasso escolar como uma produccedilatildeosocial e natildeo como decorrecircncia de problemas individuais proacuteprios dapobreza inaugurando uma forte criacutetica agrave lt Teoria da CarecircnciaCultural (1990)gt

Mesmo anunciando esse caminho de construccedilatildeo de umapsicologia criacutetica e baseada em compromissos sociais eacute importanteque se tenha claro que ainda vigoram nas escolas e na sociedadevaacuterias afirmaccedilotildees que se assentam nos trilhos da Teoria da CarecircnciaCultural Essas ideacuteias penetram com muita facilidade no cotidiano daescola e nos debates do senso comum uma vez que coincidem com anecessidade de predomiacutenio dos princiacutepios da sociedade capitalistapor meio de um discurso hegemocircnico

Por isso CUIDADO Sinal Vermelho Na proacutexima Unidadevoltaremos a esses caminhos e agraves proposiccedilotildees e intervenccedilotildees praacuteticasda psicologia daiacute decorrentes Esse procedimento pode contribuirpara que vocecirc nosso aprendente venha a diferenciar praacuteticas ediscursos e reconhecer a que visatildeo de homem de mundo e desociedade estatildeo servindo

Antes poreacutem de dar esse passo em nossa trilha iremos analisar os processos de construccedilatildeodo conhecimento enquanto marcados pelo exerciacutecio do poder que se efetivam no cotidianoescolar trazendo a disciplina como questatildeo teoacuterica e sua gecircnese como objeto de estudo

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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A Teoria da CarecircnciaCultural fois u f i c i e n t e m e n t einvestigada por MariaHelena Sousa Pattoprincipalmente em trecircspublicaccedilotildees Psicologiae I d eo l o g i a u m ai n t r o d u ccedilatildeo c r iacutet i ca agravep s i co l o g i a esco l a r(1984) A produccedilatildeo dof r acasso esco l a r histoacuter ias de subm issatildeoe rebeldia (1990) e notexto Para um a criacutet icada razatildeo psicom eacutet r icapublicado no l ivroMutaccedilotildees do cativeiro(2000 p 5)

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AULA 3 CONHECI MENTO SABER E PODER UM OLHAR SOBRE A I NFAcircNCI AESCOLARIZADA

Ateacute esta etapa de nosso caminho estudamos a construccedilatildeo das teorias psicoloacutegicas e ahistoacuteria da articulaccedilatildeo entre a psicologia a medicina e a pedagogia no Brasil constituindoalianccedilas em nome de uma abordagem cientiacutefica dos problemas educacionais

A partir de agora promoveremos outro tipo de investigaccedilatildeo para que seja possiacutevel umamaior compreensatildeo do cotidiano escolar com base na anaacutelise das praacuteticas educativas e dasrelaccedilotildees sociais que se estabelecem entre alunos profissionais e comunidades

Nosso ponto de partida seratildeo os estudos de Philippe Ariegraves publicados no livro Histoacuteriasocial da infacircncia e da fam iacutelia que demonstram o surgimento das instituiccedilotildees educativas namodernidade caracterizadas por dar sentido a uma infacircncia que passa a ser vista como naturalmentefraacutegil A educaccedilatildeo impositiva moralizante e disciplinadora se justifica pela necessidade de formaros sujeitos que a sociedade comeccedila a conceber como corpos que necessitam de cuidados porquesatildeo deacutebeis e fracos Ariegraves parte da ideacuteia de que esse sentimento de infacircncia tem origem com aemergecircncia da sociedade burguesa e eacute fortalecido pela accedilatildeo dos jesuiacutetas

Para melhor compreender os efeitos da educaccedilatildeo na constituiccedilatildeo dessa infacircncia podemosrecorrer ao filoacutesofo francecircs Michel Foucault quando ele aponta em seu livro Microfiacutesica do Poder(1979) que a disciplina eacute uma teacutecnica de exerciacutecio de poder que foi natildeo inteiramente inventadamas elaborada em seus princiacutepios fundamentais durante o seacuteculo XVIII (p 105) O autor nosentido de melhor esclarecer a origem da disciplina nas sociedades ocidentais afirma que essa eacuteuma arte de distribuiccedilatildeo dos homens no espaccedilo baseada na individualizaccedilatildeo dos corpos (p

105) A disciplina que se exerce sobre cada corpo isoladamente eacute uma praacutetica que permite aclassificaccedilatildeo dos sujeitos observados e controlados A vigilacircncia deve ser permanente para que adisciplina seja conseguida

Foucault ressalta a importacircncia das praacuteticas de exame (provas avaliaccedilotildees) e de penalizaccedilatildeoou castigo como formas de fazer com que os sujeitos internalizem o poder Quanto mais a morale a disciplina forem sentidas como necessaacuterias agrave existecircncia humana mais sucesso teraacute o processode disciplinamento e controle social A citaccedilatildeo a seguir sintetiza a anaacutelise de Foucault sobre essetema

Escola s n a h ist oacuter ia da h um a nida de

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A disciplina eacute o conjunto de teacutecnicas pelas quais os sistemas de poder vatildeo terpor alvo e resultado os indiviacuteduos em sua singularidade Eacute o poder deindividualizaccedilatildeo que tem o exame como instrumento fundamental O exame eacutea vigilacircncia permanente classificatoacuteria que permite distribuir os indiviacuteduosjulgaacute-los medi-los localizaacute-los e por conseguinte utilizaacute-los ao maacuteximo(FOUCAULT 1979 p107)

Retomando as contribuiccedilotildees de Philippe Ariegraves vimos que a modernidade instaura umaseparaccedilatildeo entre o mundo dos adultos e das crianccedilas e para tanto organiza novas formas eespaccedilos de educaccedilatildeo Os coleacutegios (educaccedilatildeo em preacutedios fechados) o mobiliaacuterio (bancos escolaresbirocirc etc) a separaccedilatildeo em classes (inicialmente por conhecimento e mais recentemente poridades e ainda por localizaccedilatildeo na estrutura social) satildeo intervenccedilotildees protagonizadas desde oSeacuteculo XV ateacute os dias de hoje com o objetivo de instruir e moralizar a sociedade

A ideacuteia de que a infacircncia eacute uma produccedilatildeo social natildeo eacute mais novidade para noacutes Temosdebatido durante nosso percurso que o sentimento que hoje temos com relaccedilatildeo agrave infacircnciaapareceu no momento em que a famiacutelia burguesa se distinguiu como elemento central da sociedadecom a preocupaccedilatildeo de formar homens honrados e moralmente constituiacutedos A sociedade maisespecificamente a igreja catoacutelica comeccedila a valorizar a propriedade de bens centrada nas matildeosde nuacutecleos familiares A famiacutelia volta-se para si mesma resguardando seus membros exigindoassim uma educaccedilatildeo rigorosa dos herdeiros

A partir dessas colocaccedilotildees sobre uma disciplina (escolar) que eacute exigida para que a sociedadeexerccedila controle sobre os homens podemos ainda aceitar a ideacuteia de que os conhecimentossaberes ministrados nos coleacutegios foram igualmente objetos de disciplinarizaccedilatildeo isto eacute de umaintervenccedilatildeo para que servissem aos interesses da reforma moral cristatilde e depois laica (SeacuteculoXVIII)

Juacutelia Varella no texto intitulado O estatuto do saber pedagoacutegico (publicado em O sujeitoda Educaccedilatildeo 4 ed 2000) identifica na passagem do Renascimento para a Modernidade umapedagogizaccedilatildeo dos conhecimentos que significa um novo ordenamento dos saberes de acordocom os interesses moralizantes e disciplinadores que emanam da igreja catoacutelica e dos coleacutegiosjesuiacutetas Conforme demonstra essa autora

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O olhar invisiacutevel podeser representado peloPanopticon de Benthanque permite ver tudosem ser visto produzindono aluno a disciplina pelomedo do exame e docastigo

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Para levar adiante seu projeto de formaccedilatildeo de bons cristatildeos os mestresjesuiacutetas natildeo apenas reforccedilaram o estatuto conferido agrave infacircncia com a opccedilatildeode educaacute-la em espaccedilos fechados nos coleacutegios mas sentiram tambeacutem anecessidade de controlar os saberes que iam transmitir e de organizar essessaberes de tal forma que se adequassem agraves supostas capacidades infantis(VARELLA 2000 apud SILVA 1994 p 88)

Os mestres jesuiacutetas se converteram em autoridades maacuteximas exercendo um poder sobreseus alunos retirando toda a possibilidade vivenciada na Idade Meacutedia de autonomia no estudoForam desenvolvidas estrateacutegias e teacutecnicas que tinham como objetivo dirigir ao conhecimento omesmo sentido moralizante que vinha sendo dado agrave formaccedilatildeo dos alunos A disciplina e a ordemnas salas de aula passaram a ser elementos necessaacuterios nesse processo de penalizaccedilatildeo emoralizaccedilatildeo

Em segundo lugar Juacutelia Varella reconhece a existecircncia de um processo que se daacute no interiorda produccedilatildeo do conhecimento o disciplinamento interno dos saberes eliminando o que eraconsiderado como saberes inuacuteteis segundo as normas de moralizaccedilatildeo e reordenando umacomunicaccedilatildeo entre esses retirando-lhes a forccedila e a intensidade Nesse processo eacute importanteque se promova ainda uma classificaccedilatildeo e hierarquizaccedilatildeo entre os saberes promovendo umacentralizaccedilatildeo de cima para baixo As fronteiras entre a histoacuteria a geografia e a sociologia foramtraccediladas por exemplo pela humanidade assim como a orientaccedilatildeo no processo de ensino-aprendizagem do que deve ser ensinado primeiro e qual saber eacute mais nobre isto eacute que deveocupar o topo de todos os conhecimentos

Os processos que foram aos poucos se instaurando apartir do Seacuteculo XVI produziram censura e controle e mais doque isso devido agraves divisotildees impostas que delimitavam as aacutereasde saberes (conhecimentos) buscavam eliminar a ideacuteia dohomem universal acentuando a possibilidade de tornar doacuteceisos corpos (os sujeitos) mediante essa praacutetica disciplinar impostana produccedilatildeo dos saberes Se anteriormente na Idade Meacutedia oaluno detinha um poder sobre o que queria aprender e ondebuscar o conhecimento na era da modernidade essapossibilidade passa a ser inexistente O aluno perde o poder sobre seus caminhos passando a sercompreendido como um mero elemento de transmissatildeo de conhecimento Natildeo mais pode escolhero que deve ser aprendido tampouco o ritmo desse aprendizado ou o que fazer do conhecimentoadquirido A grade de disciplinas hoje tatildeo naturalmente absorvida por todos noacutes em qualquercurso eacute uma produccedilatildeo social e serve a esses interesses de tornar doacutecil o corpo a ser disciplinadoAprendemos esse ordenamento dos saberes e passamos a respeitaacute-los como se fossemincontestaacuteveis naturais e acima de tudo necessaacuterios

Michel Foucault jaacute citado anteriormente reconhece nesse processo a emergecircncia dasociedade disciplinar que funciona confinando aprisionando os homens agraves escolas agraves prisotildeesagraves igrejas aos hospitais agraves faacutebricas etc

Os processos descritos acima por Juacutelia Varella podem ser reconhecidos ateacute hoje nas praacuteticasescolares Poreacutem com a intervenccedilatildeo das miacutedias e dos novos equipamentos sociais jaacute se pode

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identificar um controle que natildeo mais iraacute somente confinar isolar os estudantes nas escolas osloucos nos asilos e os empregados nas faacutebricas para que sejam produtivos

Trata-se da emergecircncia da sociedade de controle que atua de forma contiacutenua Entramem accedilatildeo a TV os microcomputadores e os celulares que permitem conhecer e conectar o mundoa partir de um uacutenico lugar Satildeo maacutequinas que iratildeo estruturar a vida organizando uma subjetividadedo consumo e da informaccedilatildeo Mas como relacionar esse processo aos domiacutenios da escola

Aqui lanccedilaremos matildeo de outro escritor francecircs Feacutelix Guattari (1985) que no estudo Ascreches e a iniciaccedilatildeo publicado no livro intitulado Revoluccedilotildees Moleculares mostra-nos osefeitos do processo de iniciaccedilatildeo das crianccedilas agrave loacutegica capitalista O autor se refere agrave produccedilatildeode modos de viver pensar e sentir que estariam em consonacircncia com os mais novos modos deproduccedilatildeo material na sociedade capitalista industrial Denomina como aparelhos de semiotizaccedilatildeoos viacutedeo-games CD-rom etc Esses aparelhos passam a dar o sentido dos modos de existecircncia

Guattari (1985) indica que as crianccedilas estatildeo sendo iniciadas cada vez mais cedo nossistemas de representaccedilatildeo e nos valores do capitalismo que produzem uma modelagem adequadaaos coacutedigos utilizados em nosso cotidiano Aponta como importante o fato de que se mobilizamno processo de formaccedilatildeo da crianccedila esquemas de aprendizagem que permitem traduzir oconjunto de coacutedigos ou semioacuteticas dominantes Por fim chama a atenccedilatildeo para a necessidade deanalisarmos o funcionamento da creche e o efeito da educaccedilatildeo infantil na constituiccedilatildeo dessecorpo que eacute modelado para atuar produtivamente de acordo com os ideais da sociedade capitalista

A sua grande contribuiccedilatildeo eacute indicar no espaccedilo da educaccedilatildeo uma perspectiva de que acrianccedila venha a aprender o que eacute a sociedade o que satildeo seus instrumentos (GUATTARI 1985p 54) para poder interferir de forma autocircnoma e criativa no mundo Aprender os coacutedigos e osmodos de funcionamento da sociedade na qual estaacute inserida pode ser importante para que acrianccedila tenha a possibilidade de desenvolver formas singulares de estar no mundo

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegico(a)s a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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UNIDADE II

UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA DO COTIDIANO ESCOLAR

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 4 DOS COLEacuteGI OS DA MODERNI DADE AgraveS ESCOLAS ATUAI S UMAANAacuteLI SE CRIacute TI CA DAS PRAacuteTI CAS COTI DI ANAS

Seguindo a linha de anaacutelise de nosso percurso iremosneste momento buscar os fios que nos permitem compreenderalguns elementos do cotidiano escolar como um espaccedilodisciplinar e controlador das subjetividades O estudo da origemdas praacuteticas educativas a partir dos coleacutegios do Seacuteculo XVIIIforneceu-nos os elementos que seratildeo aqui utilizados paraexercitarmos uma investigaccedilatildeo criacutetica da escola na atualidadeEsse exerciacutecio de reflexatildeo eacute fundamental para que possamosabrir novas portas e inventar outras praacuteticas da psicologia naescola

Com o objetivo de melhor sistematizar nosso trabalho deanaacutelise dividiremos a explanaccedilatildeo em seis itens a saber

1 As praacutet icas cot idianas conspiram cont ra a produccedilatildeoda autonomia e da autogestatildeo

Como jaacute estudamos anteriormente o poder de decisatildeofoi retirado do aluno quando da organizaccedilatildeo dos coleacutegios apartir do Seacuteculo XVIII sendo produzida uma ideacuteia de infacircnciafragilizada e portanto sem possibilidades de exercitar suaautonomia Eacute naturalizada uma concepccedilatildeo de aluno como umcorpo vazio a ser preenchido e modelado

As atividades nas escolas e na vida contemporacircnea passam a ser geridas por outrem -pelo supervisor pelo livro didaacutetico pelos programas governamentais (Escola Aberta Bolsa Escolae outros) - ou coordenadas por entidades como o Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem Aspraacuteticas de avaliaccedilatildeo se apresentam aos alunos como destituiacutedas de sentido Para os professoresessas praacuteticas representam mais uma etapa do processo sendo orientadas pela mesma loacutegica doplanejamento e das atividades contidas no livro didaacutetico Os principais atores sociais (alunos eprofessores) satildeo enfraquecidos no exerciacutecio do poder como sujeitos incapacitados de produzir aarticulaccedilatildeo entre praacuteticas e seus efeitos

Ilustraccedilatildeo de capa do livro O berccedilod a d es i g u a l d a d e de CristovamBuarque com fotos de SebastiatildeoSalgado

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lt Paulo Freiregt ao trabalhar o tema da autonomia no livroPedagogia da Aut onom ia (1996) estabelece a relaccedilatildeo entre oexerciacutecio da liberdade por parte do aluno e da autoridade peloeducador Aponta como fundamental para a construccedilatildeo da autonomiaa praacutetica da responsabilidade Segundo esse educador o educandoque exercita sua liberdade ficaraacute tatildeo mais livre quanto mais eticamentevaacute assumindo a responsabilidade de suas accedilotildees (p 104) mas essaautonomia somente se constitui quando desaparece a relaccedilatildeo dedependecircncia Continuando com o pensamento de Freire ele afirmaque

No fundo o essencial nas relaccedilotildees entre educador eeducando entre autoridade e liberdade entre pais matildeesfilhos filhas eacute a reinvenccedilatildeo do ser humano no aprendizadoda autonomia (FREIRE 1996 p 105)

O pensamento e a accedilatildeo autocircnomos natildeo se datildeo sem que sejamexplicitados os lugares de poder Por isso Paulo Freire fala da reinvenccedilatildeodo ser humano e mais do que isso da reinvenccedilatildeo das relaccedilotildees pedagoacutegicasque deveriam trocar a dependecircncia pela responsabilidade

2 O m odelo educat ivo dest itui os hom ens de sua condiccedilatildeo deprodutores do conhecim ento

A concepccedilatildeo de sujeito a-histoacuterico estaacute presente no contextoescolar onde o conhecimento eacute dado como objetivo e assumido comoverdade absoluta a ser aprendida A organizaccedilatildeo do saber hierarquicamentedisciplinado como nos mostrou Juacutelia Varella na aula anterior (Aula 3Unidade I) elimina a concepccedilatildeo de sujeito como produtor de conhecimentoOs processos de p e d a g o g i z a ccedilatilde o d o s co n h e ci m e n t o s e dedisciplinam ento interno dos saberes estatildeo presentes nas praacuteticaseducacionais atuais fazendo com que tanto alunos quanto professoressejam concebidos como meros coadjuvantes

Trata-se de um treino para o bom comportamento social valorizando o lugar do expectador daquele que natildeo interfere no andamentoda aula e que deve seguir agrave risca o que eacute ditado pelo planejamentomuitas vezes elaborado pelos especialistas da educaccedilatildeo A ausecircncia deuma implicaccedilatildeo dos alunos no processo de aprendizagem eacute consequumlecircnciadesse modelo de escola que somente legitima o conhecimento que eacuteproduzido fora de seu cotidiano A sala de aula eacute assim desumanizada edestituiacuteda de vida proacutepria O mesmo processo eacute vivido pelos educadoresque aprendem no exerciacutecio profissional a praticar e valorizar a obediecircncia

Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

Fo n t e Charge deClaudius Cecconpublicada no livroCu i d a d o Esco l a (p64)

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

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5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 9: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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UNIDADE I

PSI COLOGI A E EDUCACcedilAtildeO ALI ANCcedilAS NA PRODUCcedilAtildeO DE UMOLHAR SOBRE A INFAcircNCIA

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 1 A CONSTRUCcedilAtildeO HI STOacuteRI CA DA PSI COLOGI A

Para estudarmos a psicologia suas teorias praacuteticas e princiacutepios metodoloacutegicos eacute necessaacuterioinicialmente termos conhecimento de sua histoacuteria e do contexto soacutecio-poliacutetico-cultural quepermitiu sua constituiccedilatildeo

1 A const ruccedilatildeo da psicologia cient iacuteficaInicialmente iremos situar a construccedilatildeo cientiacutefica da psicologia a partir das linhas claacutessicas

do pensamento psicoloacutegico behaviorismo gestaltismo funcionalismo psicologia cognitivapsicologia soacutecio-histoacuterica e psicanaacutelise

Todos os historiadores da psicologia concordam que foi Wilhen Wundt na Alemanha emmeados do Seacuteculo XIX que criou os fundamentos cientiacuteficos determinando o objeto de estudo omeacutetodo de pesquisa e os objetivos dessa nova ciecircncia Wundt afirmou a independecircncia dapsicologia em relaccedilatildeo agraves outras ciecircncias situando-a na intermediaccedilatildeo entre as ciecircncias danatureza e da cultura A experiecircncia imediata dos homens era seu foco de interesse baseandosua teoria na ideacuteia de uma unidade psicofiacutesica dos processos elementares da vida mental

No final do Seacuteculo XIX outros estudiosos se lanccedilaram naaventura da pesquisa em psicologia concordando com Wundtou se opondo a ele O Co m p o r t a m e n t a l i sm o ouBehaviorismo surge com John Watson nos EUA que discordaque o foco esteja na experiecircncia imediata Para Watson o objetode estudo da nova ciecircncia deve ser a comportamento humanoEste teoacuterico afirma que o comportamento deve ser visto comoindependente daquilo que o sujeito pensa sente deseja ou emque crecirc Jaacute no iniacutecio do Seacuteculo XX os novos comportamentalistasreordenam os estudos das interaccedilotildees entre os organismos vivose seus ambientes O psicoacutelogo americano BF ltSkinnergt sesobressai ao se referir agrave importacircncia dos condicionamentossociais no comportamento Ele afirma que as experiecircnciassubjetivas satildeo sempre construiacutedas pela sociedade sem nenhumainterferecircncia da consciecircncia ou de um eu interno e formula oconceito de condicionamento operante relacionando aaprendizagem a um sistema de reforccedilo e puniccedilatildeo

Note-se que ateacute aqui estamos trazendo as oposiccedilotildees entre duas linhas de pensamentoSituamos Wundt que afirma a importacircncia das experiecircncias imediatas no estudo do psiquismohumano e uma outra vertente que propotildee ignorar a existecircncia de tais experiecircncias na construccedilatildeoda psicologia cientiacutefica como propotildeem os teoacutericos do comportamentalismo

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A ca ix a de Sk inn er

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Nessa polecircmica sobre o estudo do homem podemos situar uma teoriasobremaneira importante - o ltGestaltismogt - mais conhecido comopsicologia da forma que surge na Alemanha no iniacutecio do Seacuteculo XX Emoposiccedilatildeo clara a J Watson seus mais importantes representantes foramMax Wetheimer Kurt Koffka e Wolfgan Koller Seus estudos partiam daexperiecircncia imediata utilizando como meacutetodo a fenomenologia Segundo

esses estudiosos os fenocircmenos da percepccedilatildeo da memoacuteria e da afetividade eram vivenciadossob a forma de estruturas Eles recusavam a ideacuteia de Watson para quem o comportamento eraunicamente dependente do estiacutemulo (relaccedilatildeo conhecida como estiacutemulo-resposta ou E-R) afirmandoque a forma resultante de um processo de percepccedilatildeo era muito mais que a soma das partes Ogestaltismo trazia como preocupaccedilatildeo central a necessidade de se relacionar a experiecircncia imediatados sujeitos com a natureza fiacutesica e bioloacutegica e com o mundo dos valores socioculturais

Outra importante corrente surgida na passagem do SeacuteculoXIX para o Seacuteculo XX nos EUA foi o Funcionalismo Maisconhecido por suas teses adaptacionistas traz uma grandeinfluecircncia das teorias evolucionistas de lt Charles Darw ingt Os estudiosos dessa corrente admitiam a possibilidade de seestudar a mente por meio dos comportamentos e para a suasobrevivecircncia o ser humano deveria adaptar-se agraves condiccedilotildeesambientais John Dewey foi o que mais trouxe contribuiccedilotildees nocampo da educaccedilatildeo afirmando que o ensino deveria orientar-se para o aluno e natildeo para o assunto Acreditava com issoque se poderia formar o ser humano adaptando-o agravesnecessidades da sociedade por meio da educaccedilatildeo

As receacutem estruturadas sociedades industriais capitalistas iratildeo indicar para a correnteadaptacionista uma importante tarefa a de cont r ibuir com invest igaccedilotildees cient iacutef icas sobre oshomens com o objetivo de melhor adaptaacute-los agrave nova ordem social A psicologia se desenvolveno iniacutecio do Seacuteculo XX com a construccedilatildeo de instrumentos de mensuraccedilatildeo da inteligecircncia e dapersonalidade Os testes psicoloacutegicos propostos pelos pesquisadores eram utilizados nosprocedimentos de seleccedilatildeo e orientaccedilatildeo no trabalho e na escola Tanto nos EUA com FrancisGalton quanto na Franccedila com Binet e Simon assiste-se ao desenvolvimento da psicometriautilizada na educaccedilatildeo como forma de conhecer as caracteriacutesticas de cada sujeito Esseconhecimento serviria para justificar a partir das diferenccedilas individuais a distribuiccedilatildeo em classessociais distintas colocando fora de questionamento a desigualdade social e distribuiccedilatildeo desigualde oportunidades

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O filme Tempos Modernos de Charles Chaplin jaacute foiobjeto de reflexotildees no MarcoI Caso deseje revecirc-lo dirija-se ao Poacutelo Municipal de ApoioPresencial de sua cidade

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A configuraccedilatildeo do objeto de estudos da psicologia centrada no indiviacuteduo afasta a necessidadede uma anaacutelise contextualizada da sociedade onde os sujeitos estatildeo inseridos assim como suaforma de inserccedilatildeo Nas sociedades marcadas pela divisatildeo em classes e cuja base eacute o modelocapitalista de produccedilatildeo difunde-se a crenccedila na igualdade de oportunidades minimizando ainfluecircncia do modo de produccedilatildeo na localizaccedilatildeo dos sujeitos na estrutura social As diferenccedilasindividuais satildeo utilizadas para mascarar a impossibilidade de que a as oportunidades sejam iguaispara todos Assim aprofunda-se a marca principal da psicologia desde sua criaccedilatildeo a de selecionarorientar adaptar e racionalizar a existecircncia humana em nome da produtividade e da eficaacutecia

Podemos situar ainda a Psicologia Cognitiva como outracorrente que se oporaacute aos princiacutepios do ComportamentalismoltJean Piagetgt eacute um importante estudioso do desenvolvimentoinfantil cuja base satildeo as estruturas cognitivas A criacutetica agraveobjetividade cientiacutefica observada nas teorias comportamentaise funcionalistas eacute um importante fundamento desse caminhode pensamento sobre o ser humano e traraacute enormescontribuiccedilotildees para a educaccedilatildeo

Lev Vygotsky psicoacutelogo russo propocircs no iniacutecio do Seacuteculo XX uma nova teoria a PsicologiaSoacutecio-histoacuterica que parte da afirmaccedilatildeo da construccedilatildeo social do conhecimento e da importacircnciada mediaccedilatildeo da educaccedilatildeo da escola e do professor nos processos de ensino e de aprendizagemTrata-se de um importante passo na direccedilatildeo de relacionar o individual e o social na compreensatildeodo psiquismo humano

Sigmund Freud o criador da ltPsicanaacutelisegt eacute tambeacutemsituado no campo dos estudiosos da gecircnese do sujeito Emoposiccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees positivistas e objetivadoras dofuncionalismo psiacutequico Freud iraacute definir o inconsciente comoobjeto de estudo Ele concebe a ideacuteia de uma subjetividadecindida e incompleta recusando o eu como centro dopsiquismo o que torna a psicanaacutelise uma teoria original

2 Desenvolvim ento da psicologia no seacuteculo XX

A partir dessas correntes claacutessicas (behaviorismo gestaltismo funcionalismo psicologiacognitiva psicologia soacutecio-histoacuterica e psicanaacutelise) observa-se na histoacuteria da psicologia o surgimentode outras teorias e estrateacutegias de atuaccedilatildeo Podemos destacar nesse processo as teorias ligadasagrave psicologia dos grupos a teoria humanista as teorias da subjetividade e aquelas que surgem apartir do movimento institucionalista

Os estudiosos da histoacuteria da psicologia assinalam o meacutedicoJ Prattes como o pioneiro nos trabalhos com grupos em 1906mas eacute consensual a afirmaccedilatildeo de que foi Moreno psiquiatraromeno que na deacutecada de 1930 nos EUA idealizou olt p sico d r a m a gt uma passagem da arte dramaacutetica agravepsicoterapia

O alematildeo Kurt Lewin eacute tambeacutem situado no campo das psicoterapias de grupo incrementadas

D ivatilde u t i l iz a do pe lo psica n a l ist a ee x p o st o n o M u se u Fr e u d e mLon d r e s

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pelas condiccedilotildees do poacutes-guerra (deacutecada de 1940) impondo a necessidade de expansatildeo dostrabalhos de sauacutede mental e de recuperaccedilatildeo imediata da matildeo-de-obra deteriorada Em 1944Lewin criou o conceito de dinacircmica de grupo afirmando que o grupo eacute mais do que a soma dassuas partes e que quando haacute modificaccedilatildeo de uma das partes a estrutura grupal se modificaOutro teoacuterico da psicologia dos grupos eacute o argentino Pichoacuten Riviegravere que estruturou a estrateacutegiado grupo operativo que considerava que um grupo soacute se estruturava quando estivesse operandosobre uma tarefa

Como pode ser observado ateacute esta etapa de nossa aula a partir da segunda guerramundial a psicologia fortalece seu interesse pelo social natildeo soacute no campo da pesquisa considerandosua repercussatildeo na constituiccedilatildeo dos sujeitos como tambeacutem enquanto espaccedilo de intervenccedilatildeo emorganizaccedilotildees (hospitais escolas faacutebricas sindicatos etc)

As teorias ligadas agrave Psicologia Humanista constituem outro importante espaccedilo de praacuteticasna qual se sobressaem Carl Rogers da Abordagem Centrada na Pessoa e alguns teoacutericos dagestalt-terapia e da Bioenergeacutetica traduzindo muito bem uma forma mais intimista de responderaos acontecimentos dos anos de 1960 e 1970 Priorizando o corpo o auto-conhecimento e aliberaccedilatildeo dos sujeitos os autores humanistas centram sua preocupaccedilatildeo na adaptaccedilatildeo do homemao meio de forma criativa e ativa

Ainda nas deacutecadas de 1950 e 1960 assiste-se a um movimento de resistecircncia principalmentena Europa que se faz presente nos hospitais e nas escolas aliando a psicologia a sociologia aeducaccedilatildeo e a psiquiatria O Movimento Institucionalista nasce de uma criacutetica agrave organizaccedilatildeohieraacuterquica e centralizadora tanto nos hospitais psiquiaacutetricos quanto nas organizaccedilotildees escolaresconstituindo-se a Psicoterapia I nst itucional (1950) e mais tarde (1962) a PedagogiaInstitucional A Psicossociologia Institucional significa um avanccedilo no processo de autogestatildeoe juntamente com os anti-institucionalistas (Lang Cooper e Ivan Illich) iraacute criar as condiccedilotildeespara o surgimento de uma outra perspectiva de intervenccedilatildeo em 1963 conhecida como AnaacuteliseInstitucional

Por sua criacutetica agrave sociedade capitalista e aoconservadorismo os institucionalistas relacionam-se comos ltmovimentos da contra-cultura na Franccedilagt e emoutros paiacuteses e elaboram inspirados em conceitos devaacuterias correntes da psicologia da sociologia e da filosofiapropostas de investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Essas ideacuteiassatildeo representadas principalmente pelos franceses ReneacuteLourau Felix Guattari e Georges Lapassade

No Brasil apoacutes a ditadura militar essas formulaccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas encontraramum terreno feacutertil junto a psicoacutelogos implicados com os movimentos sociais propondo um conjuntode ferramentas proacuteprias para a intervenccedilatildeo em instituiccedilotildees conceituadas como praacuteticas sociaise para a compreensatildeo das subjetividades

Nas duas uacuteltimas deacutecadas do Seacuteculo XX e iniacutecio do Seacuteculo XXI a partir dos avanccedilos dacomunicaccedilatildeo da expansatildeo de outras linguagens como a informaacutetica e do surgimento de novasproblemaacuteticas sociais configuram-se teorias e proposiccedilotildees centradas algumas delas tambeacutemno conceito de Subjetividade Fernando Gonzaacutelez Rey identifica na histoacuteria desse conceito umprocesso de ruptura com a psicologia cientiacutefica objetiva e neutra tendo significado um desafio

Paris em 1968

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I222

na afirmaccedilatildeo de uma psique que se constroacutei a partir de uma visatildeo cultural em uma dimensatildeocomplexa e dialeacutetica Esse estudioso da psicologia aponta a obra de Vygotsky pouco valorizadano Ocidente ateacute muito recentemente como um marco na definiccedilatildeo do conceito de subjetividade

A psicanaacutelise e a psicologia soacutecio-histoacuterica de L Vygotsky e outras linhas de pensamentotecircm sido revistas em associaccedilatildeo com diversas aacutereas do conhecimento inaugurando um caminhointerdisciplinar

Nesses uacuteltimos trinta anos ainda as teorias comportamentais vecircm buscando sua renovaccedilatildeomediante o aprimoramento das teacutecnicas quantitativas de avaliaccedilatildeo de valores sociais e de programasde assistecircncia e e intervenccedilotildees no campo da cogniccedilatildeo e do treinamento comportamental

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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AULA 2 PSI COLOGI A E EDUCACcedilAtildeO NO BRASI L COMPROMI SSOS E ALI ANCcedilAS

Como vimos na aula anterior a constituiccedilatildeo da psicologia comociecircncia data de meados do Seacuteculo XIX com Wundt na AlemanhaNesse periacuteodo de mais de um seacuteculo de construccedilotildees teoacutericas eproposiccedilotildees praacuteticas constatamos a existecircncia de uma variedadede olhares sobre o homem e seu funcionamento psiacutequico Percebemosao longo da histoacuteria da psicologia que natildeo existe um pensamentouacutenico e que o contexto soacutecio-histoacuterico e a forma como o psicoacutelogopesquisador compreende o mundo e nele se insere seratildeo umimportantes fatores que determinaratildeo a proposta formulada

No Brasil assistiremos a um processo que segundo algunspsicoacutelogos brasileiros preocupados com a historiografia dessaciecircncia tem relaccedilatildeo com as experiecircncias de colonizaccedilatildeo eafirmaccedilatildeo dos interesses de uma classe dominante fortementemarcada por teorias racistas e eugecircnicas alimentadas pela obrade Charles Darwin e suas consequumlecircncias para o estudo dohomem O impulsionamento da psicologia como ciecircncia no Brasileacute relacionado a necessidades impostas pelo desenvolvimentourbano-industrial agraves novas formas de ocupaccedilatildeo das cidadesditadas pela Repuacuteblica e ao reordenamento da forccedila de trabalhona direccedilatildeo da escola preferencialmente profissionalizante

A constituiccedilatildeo da psicologia desde fins do Seacuteculo XIX e iniacuteciodo Seacuteculo XX deu-se em estreita articulaccedilatildeo com a educaccedilatildeo e amedicina podendo-se afirmar que a psicologia foi gerada no interiordessas duas aacutereas de conhecimento sendo nesses campos em quedesenvolveraacute seu projeto de autonomizaccedilatildeo como demonstra MitzukoAntunes em seu estudo a ltPsicologia no Brasil leitura histoacutericasobre sua constituiccedilatildeogt

A atuaccedilatildeo da psicologia junto agraves instituiccedilotildees de sauacutede noiniacutecio do Seacuteculo XX fez-se em nome do controle social com sentidopreventivista e eugecircnico A psiquiatria e o higienismo quecaracterizaram a medicina da eacutepoca clamaram pela participaccedilatildeo dapsicologia na detecccedilatildeo da anormalidade como tambeacutem na prevenccedilatildeo de problemas sociais quepoderiam advir relacionados agrave presenccedila das raccedilas que eram consideradas inferiores e que poderiamperturbar a ordem na vida urbana

A Liga Brasileira de Higiene Mental criada em 1920 representou de maneira radical essesideais tendo se colocado abertamente a favor do aperfeiccediloamento da raccedila (ariana) e contra osnegros e mesticcedilos que eram caracterizados pelas teorias racistas da eacutepoca como indolentesdegenerados preguiccedilosos e sujeitos a enfermidades por sua natureza e iacutendole Os princiacutepios da

Antes de prosseguir aleitura da aula volte agraveaula anterior e revejaquais as principaiscorrentes dapsicologia no processode sua construccedilatildeohistoacuterica

Dirija-se agrave bibliotecado Poacutelo Municipal deApoio Presencial e faccedilaa leitura dos capiacutetulos1 e 2 da Parte II dolivro de MitzukoAntunes (p 37-85)

Trabalhadores da Faacutebricade Tecidos Videira

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I224

higienizaccedilatildeo e da disciplinarizaccedilatildeo da sociedade iratildeo caracterizar o trabalho nas instituiccedilotildeespsiquiaacutetricas preocupadas com uma intervenccedilatildeo para aleacutem do encarceramento da loucura

Apesar da diversidade de pesquisas que se desenvolviam em outros paiacuteses no Brasil ainfluecircncia da pesquisa experimental baseada na psicometria ocorreu de forma hegemocircnica ateacute

pelo menos a deacutecada de 1980

Nas instituiccedilotildees educacionais a preocupaccedilatildeo central era com o analfabetismo e a falta deinstruccedilatildeo do povo brasileiro em um paiacutes em franco desenvolvimento e requisitando uma matildeo-de-obra conhecedora pelo menos da leitura e da escrita Vaacuterios movimentos pela difusatildeo e ampliaccedilatildeoda escola puacuteblica e gratuita surgiram no paiacutes mostrando diferentes ideais de sociedade que vatildeodesde a preparaccedilatildeo para o trabalho ateacute uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo como emancipadora dopovo em uma luta contra a opressatildeo colonialista Nesse quadro a demanda dos profissionais daeducaccedilatildeo no sentido de construir uma pedagogia moderna e cientiacutefica fez da psicologia seuprincipal ponto de sustentaccedilatildeo uma vez que fornecia as bases de conhecimento sobre osindiviacuteduos o processo de desenvolvimento psiacutequico as vocaccedilotildees emoccedilotildees e a organizaccedilatildeo dapersonalidade

A preocupaccedilatildeo com o indiviacuteduo e com as teacutecnicas que pudessem instrumentalizar a praacuteticaeducativa fez surgir no Brasil no iniacutecio do Seacuteculo XX uma seacuterie de Laboratoacuterios e Institutosvoltados para a pesquisa psicoloacutegica destacando-se o Pedagogium depois transformado emLaboratoacuterio de Psicologia Experimental no Rio de Janeiro o Instituto de Psicologia de Pernambucoa Escola de Aperfeiccediloamento Pedagoacutegico de Belo Horizonte e o Laboratoacuterio de PedagogiaExperimental de Satildeo Paulo Nesse periacuteodo surgem as Escolas Normais encarregadas da formaccedilatildeode professores

No processo de constituiccedilatildeo cientiacutefica da pedagogia e de afirmaccedilatildeo da psicologia oslaboratoacuterios e institutos de pesquisa vatildeo sendo incorporados a essas escolas A instalaccedilatildeo desalas de exame psicoloacutegico e de afericcedilatildeo antropomeacutetrica seguia a demanda de higienizaccedilatildeo dapopulaccedilatildeo vigente na eacutepoca e era inspirada nas pesquisas trazidas da Europa e dos EUA queprivilegiavam a psicometria de modo geral Apesar da pouca inserccedilatildeo nas escolas oficiais essapraacutetica serviu para difundir e legitimar o discurso cientiacutefico utilizado para explicar a localizaccedilatildeo decada indiviacuteduo na estrutura social A existecircncia de diferenccedilas individuais era o principal argumentodesse discurso sendo desconsideradas desse esquema de causalidade as imposiccedilotildees da sociedadecapitalista industrial e sua principal base que eacute a divisatildeo em classes sociais com chances epossibilidades desiguais

Em um estudo sobre a disciplina na sociedade moderna em que analisa o funcionamento doGabinete de Antropologia e Psicologia Pedagoacutegica de Satildeo Paulo Marta Carvalho afirma

Neste horizonte criteacuterios raciais nem sempre explicitados traccedilavam os limitesdas boas intenccedilotildees republicanas operando a distinccedilatildeo entre populaccedilotildeeseducaacuteveis capazes portanto de cidadania e populaccedilotildees em que o peso dahereditariedade (leia-se raccedila ) era a marca de um destino que a educaccedilatildeo

era incapaz de alterar (CARVALHO 2006 p 299)

A partir da deacutecada de 1920 e principalmente de 1930 o ideaacuterio escolanovista baseadonos princiacutepios da modernidade fez-se mais presente na educaccedilatildeo brasileira mobilizando os

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educadores na luta contra os elevados iacutendices de repetecircncia eevasatildeo na escola puacuteblica A educaccedilatildeo era compreendida comoa base de uma sociedade saudaacutevel que precisava ser moralmentepreparada para o trabalho

Os novos intelectuais se uniram em torno da crenccedila de que a sauacutede e a educaccedilatildeo eramfatores capazes de promover a necessaacuteria regeneraccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira A preocupaccedilatildeocom o rendimento na escola promoveu a incorporaccedilatildeo do ltmodelo tayloristagt de produccedilatildeofabril afirmando na educaccedilatildeo as posiccedilotildees tecnicistas norteadas pela eficiecircncia e eficaacutecia dasaccedilotildees No trecho abaixo Maria Helena de Souza Patto (2003) expressa o significado dainfluecircncia desse modelo produtivo na educaccedilatildeo ao identificar um vieacutes adaptacionista naproduccedilatildeo em seacuterie de alunos perfeitamente adaptados aos diferentes lugares que lhes seratildeo

destinados numa realidade social inquestionada

Eis a via da naturalizaccedilatildeo da desigualdade que temorigem na maneira como a sociedade se estrutura maseacute lida como diferenccedila bioloacutegica ou psicoloacutegica deaptidatildeo intelectual entre grupos e indiviacuteduos (PATTO2003 p 33)

O movimento chamado Escola Nova esboccedilou-se na deacutecada de 1920 no Brasil

O mundo vivia agrave eacutepoca um momento de crescimento industrial e de expansatildeourbana e nesse contexto um grupo de intelectuais brasileiros sentiu necessidadede preparar o paiacutes para acompanhar esse desenvolvimento A educaccedilatildeo era poreles percebida como o elemento-chave para promover a remodelaccedilatildeo requerida

Inspirados nas ideacuteias poliacutetico-filosoacuteficas de igualdade entre os homens e do direitode todos agrave educaccedilatildeo esses intelectuais viam num sistema estatal de ensinopuacuteblico livre e aberto o uacutenico meio efetivo de combate agraves desigualdades sociaisda naccedilatildeoDenominado de Escola Nova o movimento ganhou impulso na deacutecada de 1930apoacutes a divulgaccedilatildeo do lt Manifesto da Escola Novagt (1932) Nesse documentodefendia-se a universalizaccedilatildeo da escola puacuteblica laica e gratuita Entre os seussignataacuterios destacavam-se os nomes de Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo

Lourenccedilo Filho e Ceciacutelia Meireles

Para ler o Manifesto dosPioneiros acessewwwpedagogiaemfocoprobrheb07ahtm

O americano lt Freder ick Taylorgt considerado o pai da organizaccedilatildeo cientiacutefica dotrabalho propocircs um modelo de produccedilatildeo industrial aliando eficaacutecia e eficiecircnciaSua preocupaccedilatildeo era com o sistema produtivo e natildeo com o homem negando aotrabalhador qualquer manifestaccedilatildeo criativa ou participaccedilatildeo O ideaacuterio tayloristafoi transposto para a educaccedilatildeo promovendo uma valorizaccedilatildeo do tecnicismo tendocomo efeitos a fragmentaccedilatildeo e a hierarquizaccedilatildeo do ensino e do conhecimento

Dirija-se ao PMAP pararealizar a leitura do texto Oque a h ist oacuter ia pode dizerso b r e a p r o f i ssatilde o d op si coacute l o g o a r e l a ccedilatilde opsicologia e educaccedilatildeo deMaria Helena de S Patto nolivro P si co l o g i a ecompromisso social

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Associada agrave escola nova a psicologia continuou fornecendo os subsiacutedios cientiacuteficos para oconhecimento das possibilidades individuais e das dificuldades escolares natildeo mais identificadascomo efeito da hereditariedade e da raccedila mas da organizaccedilatildeo e dos haacutebitos familiares e doambiente soacutecio-cultural Manteacutem-se a utilizaccedilatildeo dos instrumentos de avaliaccedilatildeo psicoloacutegica cadavez mais associada agrave pesquisa sobre o fracasso escolar e centrada no aluno e nos processos deaprendizagem

Na deacutecada de 1950 amplia-se para aleacutem do aluno o campo de pesquisa educacional praticadaprincipalmente nos institutos ligados ao governo que tinham em seus quadros o psicoacutelogoLourenccedilo Filho um dos precursores do escolanovismo A escola reafirmava sua posiccedilatildeo comoelemento fundamental no desenvolvimento da sociedade e era defendida enquanto prioridade nademocratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo e das chances oferecidas aos sujeitos

O periacuteodo de 1960 ateacute meados da deacutecada de 1970 tem como o eixo principal a Teoria doCapital Humano Em estudo sobre essa teoria e sua influecircncia no modelo educacional brasileiroGaudecircncio Frigotto em seu livro A produtividade da escola improdutiva afirma que

Do ponto de vista macroeconocircmico o investimento no fator humano passa asignificar um dos determinantes baacutesicos para o aumento da produtividade eelemento de superaccedilatildeo do atraso econocircmico Do ponto de vistamicroeconocircmico constitui-se no fator explicativo das diferenccedilas individuais deprodutividade e renda e consequumlentemente de mobilidade social (FRIGOTTO1984 p 172)

Comungando com os interesses do ltregime militargt vigentenesse periacuteodo a psicologia voltou-se ainda mais para a avaliaccedilatildeodas capacidades e habilidades psiacutequicas associadas ao investimentoindividual e ao rendimento escolar

Nos proacuteximos anos (a partir de 1970) a Teoria da CarecircnciaCultural de origem norte-americana iria influenciar a pesquisa sobreo fracasso escolar colaborando com a construccedilatildeo de um discursoque mantinha a linha de causalidade que culpava o aluno por seuinsucesso na escola Um dos aspectos principais dessa teoria eacute aafirmaccedilatildeo de que a escola eacute inadequada agraves caracteriacutesticas psiacutequicasda crianccedila pobre Esta teoria parte da existecircncia de um supostodeacuteficit considerado natural na populaccedilatildeo pobre o qual impede queas crianccedilas aproveitem as oportunidades oferecidas pela sociedadeA desigualdade social produto da sociedade cindida em classes e obaixo desempenho na escola e no trabalho satildeo ltnaturalizadosgtcom a participaccedilatildeo ativa dos elementos cientiacuteficos emprestados pelapsicologia

Eacute a partir do final dessa deacutecada de 1970 e de modo maispotente na deacutecada de 1980 que comeccedilam a ser construiacutedos outrosespaccedilos de reflexatildeo e de praacuteticas que significaratildeo a abertura denovos caminhos tanto na educaccedilatildeo quanto na psicologia Inaugura-se uma possibilidade de anaacutelise criacutetica do sistema educacionalapontando relaccedilotildees com a estrutura soacutecio-econocircmica vigente que

Alguns ditos popularesservem para esteprocesso fazendo comuma afirmaccedilatildeo sejacompreendida comon a t u r a l inquestionaacutevel

Q u e m t r a b a l h asem pre alcanccedila

O trabalho enobreceo hom em

A cada um segundosuas possibilidades

Ouccedila a muacutesica M e uca r o a m i g o composta por ChicoBuarque de Holandadurante seu exiacutelio naFranccedila Para issouti l ize ocd-rom doAprendente

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alavancam uma criacutetica da psicologia sobre si mesma Satildeo os novos tempos do fim da ditaduramilitar e da democratizaccedilatildeo no Brasil

Eacute a partir de meados da deacutecada de 1980 que a pesquisa em psicologia comeccedila a tentarromper com as alianccedilas que a constituiacuteram como base do discurso eugecircnico higienista e nosuacuteltimos anos pelo menos preconceituoso

No campo da pesquisa ressaltam-se os trabalhos de MariaHelena Sousa Patto que afirma o compromisso ideoloacutegico da psicologiacom os ideais das classes dominantes montando teorias que servissempara explicar as desigualdades sociais (1984) inaugurando um campode criacutetica importante para as posteriores investigaccedilotildees teoacutericas eintervenccedilotildees educacionais Em estudo posterior Patto nos permiteavanccedilar na compreensatildeo do fracasso escolar como uma produccedilatildeosocial e natildeo como decorrecircncia de problemas individuais proacuteprios dapobreza inaugurando uma forte criacutetica agrave lt Teoria da CarecircnciaCultural (1990)gt

Mesmo anunciando esse caminho de construccedilatildeo de umapsicologia criacutetica e baseada em compromissos sociais eacute importanteque se tenha claro que ainda vigoram nas escolas e na sociedadevaacuterias afirmaccedilotildees que se assentam nos trilhos da Teoria da CarecircnciaCultural Essas ideacuteias penetram com muita facilidade no cotidiano daescola e nos debates do senso comum uma vez que coincidem com anecessidade de predomiacutenio dos princiacutepios da sociedade capitalistapor meio de um discurso hegemocircnico

Por isso CUIDADO Sinal Vermelho Na proacutexima Unidadevoltaremos a esses caminhos e agraves proposiccedilotildees e intervenccedilotildees praacuteticasda psicologia daiacute decorrentes Esse procedimento pode contribuirpara que vocecirc nosso aprendente venha a diferenciar praacuteticas ediscursos e reconhecer a que visatildeo de homem de mundo e desociedade estatildeo servindo

Antes poreacutem de dar esse passo em nossa trilha iremos analisar os processos de construccedilatildeodo conhecimento enquanto marcados pelo exerciacutecio do poder que se efetivam no cotidianoescolar trazendo a disciplina como questatildeo teoacuterica e sua gecircnese como objeto de estudo

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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A Teoria da CarecircnciaCultural fois u f i c i e n t e m e n t einvestigada por MariaHelena Sousa Pattoprincipalmente em trecircspublicaccedilotildees Psicologiae I d eo l o g i a u m ai n t r o d u ccedilatildeo c r iacutet i ca agravep s i co l o g i a esco l a r(1984) A produccedilatildeo dof r acasso esco l a r histoacuter ias de subm issatildeoe rebeldia (1990) e notexto Para um a criacutet icada razatildeo psicom eacutet r icapublicado no l ivroMutaccedilotildees do cativeiro(2000 p 5)

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AULA 3 CONHECI MENTO SABER E PODER UM OLHAR SOBRE A I NFAcircNCI AESCOLARIZADA

Ateacute esta etapa de nosso caminho estudamos a construccedilatildeo das teorias psicoloacutegicas e ahistoacuteria da articulaccedilatildeo entre a psicologia a medicina e a pedagogia no Brasil constituindoalianccedilas em nome de uma abordagem cientiacutefica dos problemas educacionais

A partir de agora promoveremos outro tipo de investigaccedilatildeo para que seja possiacutevel umamaior compreensatildeo do cotidiano escolar com base na anaacutelise das praacuteticas educativas e dasrelaccedilotildees sociais que se estabelecem entre alunos profissionais e comunidades

Nosso ponto de partida seratildeo os estudos de Philippe Ariegraves publicados no livro Histoacuteriasocial da infacircncia e da fam iacutelia que demonstram o surgimento das instituiccedilotildees educativas namodernidade caracterizadas por dar sentido a uma infacircncia que passa a ser vista como naturalmentefraacutegil A educaccedilatildeo impositiva moralizante e disciplinadora se justifica pela necessidade de formaros sujeitos que a sociedade comeccedila a conceber como corpos que necessitam de cuidados porquesatildeo deacutebeis e fracos Ariegraves parte da ideacuteia de que esse sentimento de infacircncia tem origem com aemergecircncia da sociedade burguesa e eacute fortalecido pela accedilatildeo dos jesuiacutetas

Para melhor compreender os efeitos da educaccedilatildeo na constituiccedilatildeo dessa infacircncia podemosrecorrer ao filoacutesofo francecircs Michel Foucault quando ele aponta em seu livro Microfiacutesica do Poder(1979) que a disciplina eacute uma teacutecnica de exerciacutecio de poder que foi natildeo inteiramente inventadamas elaborada em seus princiacutepios fundamentais durante o seacuteculo XVIII (p 105) O autor nosentido de melhor esclarecer a origem da disciplina nas sociedades ocidentais afirma que essa eacuteuma arte de distribuiccedilatildeo dos homens no espaccedilo baseada na individualizaccedilatildeo dos corpos (p

105) A disciplina que se exerce sobre cada corpo isoladamente eacute uma praacutetica que permite aclassificaccedilatildeo dos sujeitos observados e controlados A vigilacircncia deve ser permanente para que adisciplina seja conseguida

Foucault ressalta a importacircncia das praacuteticas de exame (provas avaliaccedilotildees) e de penalizaccedilatildeoou castigo como formas de fazer com que os sujeitos internalizem o poder Quanto mais a morale a disciplina forem sentidas como necessaacuterias agrave existecircncia humana mais sucesso teraacute o processode disciplinamento e controle social A citaccedilatildeo a seguir sintetiza a anaacutelise de Foucault sobre essetema

Escola s n a h ist oacuter ia da h um a nida de

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A disciplina eacute o conjunto de teacutecnicas pelas quais os sistemas de poder vatildeo terpor alvo e resultado os indiviacuteduos em sua singularidade Eacute o poder deindividualizaccedilatildeo que tem o exame como instrumento fundamental O exame eacutea vigilacircncia permanente classificatoacuteria que permite distribuir os indiviacuteduosjulgaacute-los medi-los localizaacute-los e por conseguinte utilizaacute-los ao maacuteximo(FOUCAULT 1979 p107)

Retomando as contribuiccedilotildees de Philippe Ariegraves vimos que a modernidade instaura umaseparaccedilatildeo entre o mundo dos adultos e das crianccedilas e para tanto organiza novas formas eespaccedilos de educaccedilatildeo Os coleacutegios (educaccedilatildeo em preacutedios fechados) o mobiliaacuterio (bancos escolaresbirocirc etc) a separaccedilatildeo em classes (inicialmente por conhecimento e mais recentemente poridades e ainda por localizaccedilatildeo na estrutura social) satildeo intervenccedilotildees protagonizadas desde oSeacuteculo XV ateacute os dias de hoje com o objetivo de instruir e moralizar a sociedade

A ideacuteia de que a infacircncia eacute uma produccedilatildeo social natildeo eacute mais novidade para noacutes Temosdebatido durante nosso percurso que o sentimento que hoje temos com relaccedilatildeo agrave infacircnciaapareceu no momento em que a famiacutelia burguesa se distinguiu como elemento central da sociedadecom a preocupaccedilatildeo de formar homens honrados e moralmente constituiacutedos A sociedade maisespecificamente a igreja catoacutelica comeccedila a valorizar a propriedade de bens centrada nas matildeosde nuacutecleos familiares A famiacutelia volta-se para si mesma resguardando seus membros exigindoassim uma educaccedilatildeo rigorosa dos herdeiros

A partir dessas colocaccedilotildees sobre uma disciplina (escolar) que eacute exigida para que a sociedadeexerccedila controle sobre os homens podemos ainda aceitar a ideacuteia de que os conhecimentossaberes ministrados nos coleacutegios foram igualmente objetos de disciplinarizaccedilatildeo isto eacute de umaintervenccedilatildeo para que servissem aos interesses da reforma moral cristatilde e depois laica (SeacuteculoXVIII)

Juacutelia Varella no texto intitulado O estatuto do saber pedagoacutegico (publicado em O sujeitoda Educaccedilatildeo 4 ed 2000) identifica na passagem do Renascimento para a Modernidade umapedagogizaccedilatildeo dos conhecimentos que significa um novo ordenamento dos saberes de acordocom os interesses moralizantes e disciplinadores que emanam da igreja catoacutelica e dos coleacutegiosjesuiacutetas Conforme demonstra essa autora

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O olhar invisiacutevel podeser representado peloPanopticon de Benthanque permite ver tudosem ser visto produzindono aluno a disciplina pelomedo do exame e docastigo

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Para levar adiante seu projeto de formaccedilatildeo de bons cristatildeos os mestresjesuiacutetas natildeo apenas reforccedilaram o estatuto conferido agrave infacircncia com a opccedilatildeode educaacute-la em espaccedilos fechados nos coleacutegios mas sentiram tambeacutem anecessidade de controlar os saberes que iam transmitir e de organizar essessaberes de tal forma que se adequassem agraves supostas capacidades infantis(VARELLA 2000 apud SILVA 1994 p 88)

Os mestres jesuiacutetas se converteram em autoridades maacuteximas exercendo um poder sobreseus alunos retirando toda a possibilidade vivenciada na Idade Meacutedia de autonomia no estudoForam desenvolvidas estrateacutegias e teacutecnicas que tinham como objetivo dirigir ao conhecimento omesmo sentido moralizante que vinha sendo dado agrave formaccedilatildeo dos alunos A disciplina e a ordemnas salas de aula passaram a ser elementos necessaacuterios nesse processo de penalizaccedilatildeo emoralizaccedilatildeo

Em segundo lugar Juacutelia Varella reconhece a existecircncia de um processo que se daacute no interiorda produccedilatildeo do conhecimento o disciplinamento interno dos saberes eliminando o que eraconsiderado como saberes inuacuteteis segundo as normas de moralizaccedilatildeo e reordenando umacomunicaccedilatildeo entre esses retirando-lhes a forccedila e a intensidade Nesse processo eacute importanteque se promova ainda uma classificaccedilatildeo e hierarquizaccedilatildeo entre os saberes promovendo umacentralizaccedilatildeo de cima para baixo As fronteiras entre a histoacuteria a geografia e a sociologia foramtraccediladas por exemplo pela humanidade assim como a orientaccedilatildeo no processo de ensino-aprendizagem do que deve ser ensinado primeiro e qual saber eacute mais nobre isto eacute que deveocupar o topo de todos os conhecimentos

Os processos que foram aos poucos se instaurando apartir do Seacuteculo XVI produziram censura e controle e mais doque isso devido agraves divisotildees impostas que delimitavam as aacutereasde saberes (conhecimentos) buscavam eliminar a ideacuteia dohomem universal acentuando a possibilidade de tornar doacuteceisos corpos (os sujeitos) mediante essa praacutetica disciplinar impostana produccedilatildeo dos saberes Se anteriormente na Idade Meacutedia oaluno detinha um poder sobre o que queria aprender e ondebuscar o conhecimento na era da modernidade essapossibilidade passa a ser inexistente O aluno perde o poder sobre seus caminhos passando a sercompreendido como um mero elemento de transmissatildeo de conhecimento Natildeo mais pode escolhero que deve ser aprendido tampouco o ritmo desse aprendizado ou o que fazer do conhecimentoadquirido A grade de disciplinas hoje tatildeo naturalmente absorvida por todos noacutes em qualquercurso eacute uma produccedilatildeo social e serve a esses interesses de tornar doacutecil o corpo a ser disciplinadoAprendemos esse ordenamento dos saberes e passamos a respeitaacute-los como se fossemincontestaacuteveis naturais e acima de tudo necessaacuterios

Michel Foucault jaacute citado anteriormente reconhece nesse processo a emergecircncia dasociedade disciplinar que funciona confinando aprisionando os homens agraves escolas agraves prisotildeesagraves igrejas aos hospitais agraves faacutebricas etc

Os processos descritos acima por Juacutelia Varella podem ser reconhecidos ateacute hoje nas praacuteticasescolares Poreacutem com a intervenccedilatildeo das miacutedias e dos novos equipamentos sociais jaacute se pode

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identificar um controle que natildeo mais iraacute somente confinar isolar os estudantes nas escolas osloucos nos asilos e os empregados nas faacutebricas para que sejam produtivos

Trata-se da emergecircncia da sociedade de controle que atua de forma contiacutenua Entramem accedilatildeo a TV os microcomputadores e os celulares que permitem conhecer e conectar o mundoa partir de um uacutenico lugar Satildeo maacutequinas que iratildeo estruturar a vida organizando uma subjetividadedo consumo e da informaccedilatildeo Mas como relacionar esse processo aos domiacutenios da escola

Aqui lanccedilaremos matildeo de outro escritor francecircs Feacutelix Guattari (1985) que no estudo Ascreches e a iniciaccedilatildeo publicado no livro intitulado Revoluccedilotildees Moleculares mostra-nos osefeitos do processo de iniciaccedilatildeo das crianccedilas agrave loacutegica capitalista O autor se refere agrave produccedilatildeode modos de viver pensar e sentir que estariam em consonacircncia com os mais novos modos deproduccedilatildeo material na sociedade capitalista industrial Denomina como aparelhos de semiotizaccedilatildeoos viacutedeo-games CD-rom etc Esses aparelhos passam a dar o sentido dos modos de existecircncia

Guattari (1985) indica que as crianccedilas estatildeo sendo iniciadas cada vez mais cedo nossistemas de representaccedilatildeo e nos valores do capitalismo que produzem uma modelagem adequadaaos coacutedigos utilizados em nosso cotidiano Aponta como importante o fato de que se mobilizamno processo de formaccedilatildeo da crianccedila esquemas de aprendizagem que permitem traduzir oconjunto de coacutedigos ou semioacuteticas dominantes Por fim chama a atenccedilatildeo para a necessidade deanalisarmos o funcionamento da creche e o efeito da educaccedilatildeo infantil na constituiccedilatildeo dessecorpo que eacute modelado para atuar produtivamente de acordo com os ideais da sociedade capitalista

A sua grande contribuiccedilatildeo eacute indicar no espaccedilo da educaccedilatildeo uma perspectiva de que acrianccedila venha a aprender o que eacute a sociedade o que satildeo seus instrumentos (GUATTARI 1985p 54) para poder interferir de forma autocircnoma e criativa no mundo Aprender os coacutedigos e osmodos de funcionamento da sociedade na qual estaacute inserida pode ser importante para que acrianccedila tenha a possibilidade de desenvolver formas singulares de estar no mundo

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I232

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegico(a)s a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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UNIDADE II

UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA DO COTIDIANO ESCOLAR

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 4 DOS COLEacuteGI OS DA MODERNI DADE AgraveS ESCOLAS ATUAI S UMAANAacuteLI SE CRIacute TI CA DAS PRAacuteTI CAS COTI DI ANAS

Seguindo a linha de anaacutelise de nosso percurso iremosneste momento buscar os fios que nos permitem compreenderalguns elementos do cotidiano escolar como um espaccedilodisciplinar e controlador das subjetividades O estudo da origemdas praacuteticas educativas a partir dos coleacutegios do Seacuteculo XVIIIforneceu-nos os elementos que seratildeo aqui utilizados paraexercitarmos uma investigaccedilatildeo criacutetica da escola na atualidadeEsse exerciacutecio de reflexatildeo eacute fundamental para que possamosabrir novas portas e inventar outras praacuteticas da psicologia naescola

Com o objetivo de melhor sistematizar nosso trabalho deanaacutelise dividiremos a explanaccedilatildeo em seis itens a saber

1 As praacutet icas cot idianas conspiram cont ra a produccedilatildeoda autonomia e da autogestatildeo

Como jaacute estudamos anteriormente o poder de decisatildeofoi retirado do aluno quando da organizaccedilatildeo dos coleacutegios apartir do Seacuteculo XVIII sendo produzida uma ideacuteia de infacircnciafragilizada e portanto sem possibilidades de exercitar suaautonomia Eacute naturalizada uma concepccedilatildeo de aluno como umcorpo vazio a ser preenchido e modelado

As atividades nas escolas e na vida contemporacircnea passam a ser geridas por outrem -pelo supervisor pelo livro didaacutetico pelos programas governamentais (Escola Aberta Bolsa Escolae outros) - ou coordenadas por entidades como o Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem Aspraacuteticas de avaliaccedilatildeo se apresentam aos alunos como destituiacutedas de sentido Para os professoresessas praacuteticas representam mais uma etapa do processo sendo orientadas pela mesma loacutegica doplanejamento e das atividades contidas no livro didaacutetico Os principais atores sociais (alunos eprofessores) satildeo enfraquecidos no exerciacutecio do poder como sujeitos incapacitados de produzir aarticulaccedilatildeo entre praacuteticas e seus efeitos

Ilustraccedilatildeo de capa do livro O berccedilod a d es i g u a l d a d e de CristovamBuarque com fotos de SebastiatildeoSalgado

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lt Paulo Freiregt ao trabalhar o tema da autonomia no livroPedagogia da Aut onom ia (1996) estabelece a relaccedilatildeo entre oexerciacutecio da liberdade por parte do aluno e da autoridade peloeducador Aponta como fundamental para a construccedilatildeo da autonomiaa praacutetica da responsabilidade Segundo esse educador o educandoque exercita sua liberdade ficaraacute tatildeo mais livre quanto mais eticamentevaacute assumindo a responsabilidade de suas accedilotildees (p 104) mas essaautonomia somente se constitui quando desaparece a relaccedilatildeo dedependecircncia Continuando com o pensamento de Freire ele afirmaque

No fundo o essencial nas relaccedilotildees entre educador eeducando entre autoridade e liberdade entre pais matildeesfilhos filhas eacute a reinvenccedilatildeo do ser humano no aprendizadoda autonomia (FREIRE 1996 p 105)

O pensamento e a accedilatildeo autocircnomos natildeo se datildeo sem que sejamexplicitados os lugares de poder Por isso Paulo Freire fala da reinvenccedilatildeodo ser humano e mais do que isso da reinvenccedilatildeo das relaccedilotildees pedagoacutegicasque deveriam trocar a dependecircncia pela responsabilidade

2 O m odelo educat ivo dest itui os hom ens de sua condiccedilatildeo deprodutores do conhecim ento

A concepccedilatildeo de sujeito a-histoacuterico estaacute presente no contextoescolar onde o conhecimento eacute dado como objetivo e assumido comoverdade absoluta a ser aprendida A organizaccedilatildeo do saber hierarquicamentedisciplinado como nos mostrou Juacutelia Varella na aula anterior (Aula 3Unidade I) elimina a concepccedilatildeo de sujeito como produtor de conhecimentoOs processos de p e d a g o g i z a ccedilatilde o d o s co n h e ci m e n t o s e dedisciplinam ento interno dos saberes estatildeo presentes nas praacuteticaseducacionais atuais fazendo com que tanto alunos quanto professoressejam concebidos como meros coadjuvantes

Trata-se de um treino para o bom comportamento social valorizando o lugar do expectador daquele que natildeo interfere no andamentoda aula e que deve seguir agrave risca o que eacute ditado pelo planejamentomuitas vezes elaborado pelos especialistas da educaccedilatildeo A ausecircncia deuma implicaccedilatildeo dos alunos no processo de aprendizagem eacute consequumlecircnciadesse modelo de escola que somente legitima o conhecimento que eacuteproduzido fora de seu cotidiano A sala de aula eacute assim desumanizada edestituiacuteda de vida proacutepria O mesmo processo eacute vivido pelos educadoresque aprendem no exerciacutecio profissional a praticar e valorizar a obediecircncia

Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

Fo n t e Charge deClaudius Cecconpublicada no livroCu i d a d o Esco l a (p64)

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

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5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I246

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I254

DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I256

Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I258

Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 10: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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Nessa polecircmica sobre o estudo do homem podemos situar uma teoriasobremaneira importante - o ltGestaltismogt - mais conhecido comopsicologia da forma que surge na Alemanha no iniacutecio do Seacuteculo XX Emoposiccedilatildeo clara a J Watson seus mais importantes representantes foramMax Wetheimer Kurt Koffka e Wolfgan Koller Seus estudos partiam daexperiecircncia imediata utilizando como meacutetodo a fenomenologia Segundo

esses estudiosos os fenocircmenos da percepccedilatildeo da memoacuteria e da afetividade eram vivenciadossob a forma de estruturas Eles recusavam a ideacuteia de Watson para quem o comportamento eraunicamente dependente do estiacutemulo (relaccedilatildeo conhecida como estiacutemulo-resposta ou E-R) afirmandoque a forma resultante de um processo de percepccedilatildeo era muito mais que a soma das partes Ogestaltismo trazia como preocupaccedilatildeo central a necessidade de se relacionar a experiecircncia imediatados sujeitos com a natureza fiacutesica e bioloacutegica e com o mundo dos valores socioculturais

Outra importante corrente surgida na passagem do SeacuteculoXIX para o Seacuteculo XX nos EUA foi o Funcionalismo Maisconhecido por suas teses adaptacionistas traz uma grandeinfluecircncia das teorias evolucionistas de lt Charles Darw ingt Os estudiosos dessa corrente admitiam a possibilidade de seestudar a mente por meio dos comportamentos e para a suasobrevivecircncia o ser humano deveria adaptar-se agraves condiccedilotildeesambientais John Dewey foi o que mais trouxe contribuiccedilotildees nocampo da educaccedilatildeo afirmando que o ensino deveria orientar-se para o aluno e natildeo para o assunto Acreditava com issoque se poderia formar o ser humano adaptando-o agravesnecessidades da sociedade por meio da educaccedilatildeo

As receacutem estruturadas sociedades industriais capitalistas iratildeo indicar para a correnteadaptacionista uma importante tarefa a de cont r ibuir com invest igaccedilotildees cient iacutef icas sobre oshomens com o objetivo de melhor adaptaacute-los agrave nova ordem social A psicologia se desenvolveno iniacutecio do Seacuteculo XX com a construccedilatildeo de instrumentos de mensuraccedilatildeo da inteligecircncia e dapersonalidade Os testes psicoloacutegicos propostos pelos pesquisadores eram utilizados nosprocedimentos de seleccedilatildeo e orientaccedilatildeo no trabalho e na escola Tanto nos EUA com FrancisGalton quanto na Franccedila com Binet e Simon assiste-se ao desenvolvimento da psicometriautilizada na educaccedilatildeo como forma de conhecer as caracteriacutesticas de cada sujeito Esseconhecimento serviria para justificar a partir das diferenccedilas individuais a distribuiccedilatildeo em classessociais distintas colocando fora de questionamento a desigualdade social e distribuiccedilatildeo desigualde oportunidades

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O filme Tempos Modernos de Charles Chaplin jaacute foiobjeto de reflexotildees no MarcoI Caso deseje revecirc-lo dirija-se ao Poacutelo Municipal de ApoioPresencial de sua cidade

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A configuraccedilatildeo do objeto de estudos da psicologia centrada no indiviacuteduo afasta a necessidadede uma anaacutelise contextualizada da sociedade onde os sujeitos estatildeo inseridos assim como suaforma de inserccedilatildeo Nas sociedades marcadas pela divisatildeo em classes e cuja base eacute o modelocapitalista de produccedilatildeo difunde-se a crenccedila na igualdade de oportunidades minimizando ainfluecircncia do modo de produccedilatildeo na localizaccedilatildeo dos sujeitos na estrutura social As diferenccedilasindividuais satildeo utilizadas para mascarar a impossibilidade de que a as oportunidades sejam iguaispara todos Assim aprofunda-se a marca principal da psicologia desde sua criaccedilatildeo a de selecionarorientar adaptar e racionalizar a existecircncia humana em nome da produtividade e da eficaacutecia

Podemos situar ainda a Psicologia Cognitiva como outracorrente que se oporaacute aos princiacutepios do ComportamentalismoltJean Piagetgt eacute um importante estudioso do desenvolvimentoinfantil cuja base satildeo as estruturas cognitivas A criacutetica agraveobjetividade cientiacutefica observada nas teorias comportamentaise funcionalistas eacute um importante fundamento desse caminhode pensamento sobre o ser humano e traraacute enormescontribuiccedilotildees para a educaccedilatildeo

Lev Vygotsky psicoacutelogo russo propocircs no iniacutecio do Seacuteculo XX uma nova teoria a PsicologiaSoacutecio-histoacuterica que parte da afirmaccedilatildeo da construccedilatildeo social do conhecimento e da importacircnciada mediaccedilatildeo da educaccedilatildeo da escola e do professor nos processos de ensino e de aprendizagemTrata-se de um importante passo na direccedilatildeo de relacionar o individual e o social na compreensatildeodo psiquismo humano

Sigmund Freud o criador da ltPsicanaacutelisegt eacute tambeacutemsituado no campo dos estudiosos da gecircnese do sujeito Emoposiccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees positivistas e objetivadoras dofuncionalismo psiacutequico Freud iraacute definir o inconsciente comoobjeto de estudo Ele concebe a ideacuteia de uma subjetividadecindida e incompleta recusando o eu como centro dopsiquismo o que torna a psicanaacutelise uma teoria original

2 Desenvolvim ento da psicologia no seacuteculo XX

A partir dessas correntes claacutessicas (behaviorismo gestaltismo funcionalismo psicologiacognitiva psicologia soacutecio-histoacuterica e psicanaacutelise) observa-se na histoacuteria da psicologia o surgimentode outras teorias e estrateacutegias de atuaccedilatildeo Podemos destacar nesse processo as teorias ligadasagrave psicologia dos grupos a teoria humanista as teorias da subjetividade e aquelas que surgem apartir do movimento institucionalista

Os estudiosos da histoacuteria da psicologia assinalam o meacutedicoJ Prattes como o pioneiro nos trabalhos com grupos em 1906mas eacute consensual a afirmaccedilatildeo de que foi Moreno psiquiatraromeno que na deacutecada de 1930 nos EUA idealizou olt p sico d r a m a gt uma passagem da arte dramaacutetica agravepsicoterapia

O alematildeo Kurt Lewin eacute tambeacutem situado no campo das psicoterapias de grupo incrementadas

D ivatilde u t i l iz a do pe lo psica n a l ist a ee x p o st o n o M u se u Fr e u d e mLon d r e s

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pelas condiccedilotildees do poacutes-guerra (deacutecada de 1940) impondo a necessidade de expansatildeo dostrabalhos de sauacutede mental e de recuperaccedilatildeo imediata da matildeo-de-obra deteriorada Em 1944Lewin criou o conceito de dinacircmica de grupo afirmando que o grupo eacute mais do que a soma dassuas partes e que quando haacute modificaccedilatildeo de uma das partes a estrutura grupal se modificaOutro teoacuterico da psicologia dos grupos eacute o argentino Pichoacuten Riviegravere que estruturou a estrateacutegiado grupo operativo que considerava que um grupo soacute se estruturava quando estivesse operandosobre uma tarefa

Como pode ser observado ateacute esta etapa de nossa aula a partir da segunda guerramundial a psicologia fortalece seu interesse pelo social natildeo soacute no campo da pesquisa considerandosua repercussatildeo na constituiccedilatildeo dos sujeitos como tambeacutem enquanto espaccedilo de intervenccedilatildeo emorganizaccedilotildees (hospitais escolas faacutebricas sindicatos etc)

As teorias ligadas agrave Psicologia Humanista constituem outro importante espaccedilo de praacuteticasna qual se sobressaem Carl Rogers da Abordagem Centrada na Pessoa e alguns teoacutericos dagestalt-terapia e da Bioenergeacutetica traduzindo muito bem uma forma mais intimista de responderaos acontecimentos dos anos de 1960 e 1970 Priorizando o corpo o auto-conhecimento e aliberaccedilatildeo dos sujeitos os autores humanistas centram sua preocupaccedilatildeo na adaptaccedilatildeo do homemao meio de forma criativa e ativa

Ainda nas deacutecadas de 1950 e 1960 assiste-se a um movimento de resistecircncia principalmentena Europa que se faz presente nos hospitais e nas escolas aliando a psicologia a sociologia aeducaccedilatildeo e a psiquiatria O Movimento Institucionalista nasce de uma criacutetica agrave organizaccedilatildeohieraacuterquica e centralizadora tanto nos hospitais psiquiaacutetricos quanto nas organizaccedilotildees escolaresconstituindo-se a Psicoterapia I nst itucional (1950) e mais tarde (1962) a PedagogiaInstitucional A Psicossociologia Institucional significa um avanccedilo no processo de autogestatildeoe juntamente com os anti-institucionalistas (Lang Cooper e Ivan Illich) iraacute criar as condiccedilotildeespara o surgimento de uma outra perspectiva de intervenccedilatildeo em 1963 conhecida como AnaacuteliseInstitucional

Por sua criacutetica agrave sociedade capitalista e aoconservadorismo os institucionalistas relacionam-se comos ltmovimentos da contra-cultura na Franccedilagt e emoutros paiacuteses e elaboram inspirados em conceitos devaacuterias correntes da psicologia da sociologia e da filosofiapropostas de investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Essas ideacuteiassatildeo representadas principalmente pelos franceses ReneacuteLourau Felix Guattari e Georges Lapassade

No Brasil apoacutes a ditadura militar essas formulaccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas encontraramum terreno feacutertil junto a psicoacutelogos implicados com os movimentos sociais propondo um conjuntode ferramentas proacuteprias para a intervenccedilatildeo em instituiccedilotildees conceituadas como praacuteticas sociaise para a compreensatildeo das subjetividades

Nas duas uacuteltimas deacutecadas do Seacuteculo XX e iniacutecio do Seacuteculo XXI a partir dos avanccedilos dacomunicaccedilatildeo da expansatildeo de outras linguagens como a informaacutetica e do surgimento de novasproblemaacuteticas sociais configuram-se teorias e proposiccedilotildees centradas algumas delas tambeacutemno conceito de Subjetividade Fernando Gonzaacutelez Rey identifica na histoacuteria desse conceito umprocesso de ruptura com a psicologia cientiacutefica objetiva e neutra tendo significado um desafio

Paris em 1968

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na afirmaccedilatildeo de uma psique que se constroacutei a partir de uma visatildeo cultural em uma dimensatildeocomplexa e dialeacutetica Esse estudioso da psicologia aponta a obra de Vygotsky pouco valorizadano Ocidente ateacute muito recentemente como um marco na definiccedilatildeo do conceito de subjetividade

A psicanaacutelise e a psicologia soacutecio-histoacuterica de L Vygotsky e outras linhas de pensamentotecircm sido revistas em associaccedilatildeo com diversas aacutereas do conhecimento inaugurando um caminhointerdisciplinar

Nesses uacuteltimos trinta anos ainda as teorias comportamentais vecircm buscando sua renovaccedilatildeomediante o aprimoramento das teacutecnicas quantitativas de avaliaccedilatildeo de valores sociais e de programasde assistecircncia e e intervenccedilotildees no campo da cogniccedilatildeo e do treinamento comportamental

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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AULA 2 PSI COLOGI A E EDUCACcedilAtildeO NO BRASI L COMPROMI SSOS E ALI ANCcedilAS

Como vimos na aula anterior a constituiccedilatildeo da psicologia comociecircncia data de meados do Seacuteculo XIX com Wundt na AlemanhaNesse periacuteodo de mais de um seacuteculo de construccedilotildees teoacutericas eproposiccedilotildees praacuteticas constatamos a existecircncia de uma variedadede olhares sobre o homem e seu funcionamento psiacutequico Percebemosao longo da histoacuteria da psicologia que natildeo existe um pensamentouacutenico e que o contexto soacutecio-histoacuterico e a forma como o psicoacutelogopesquisador compreende o mundo e nele se insere seratildeo umimportantes fatores que determinaratildeo a proposta formulada

No Brasil assistiremos a um processo que segundo algunspsicoacutelogos brasileiros preocupados com a historiografia dessaciecircncia tem relaccedilatildeo com as experiecircncias de colonizaccedilatildeo eafirmaccedilatildeo dos interesses de uma classe dominante fortementemarcada por teorias racistas e eugecircnicas alimentadas pela obrade Charles Darwin e suas consequumlecircncias para o estudo dohomem O impulsionamento da psicologia como ciecircncia no Brasileacute relacionado a necessidades impostas pelo desenvolvimentourbano-industrial agraves novas formas de ocupaccedilatildeo das cidadesditadas pela Repuacuteblica e ao reordenamento da forccedila de trabalhona direccedilatildeo da escola preferencialmente profissionalizante

A constituiccedilatildeo da psicologia desde fins do Seacuteculo XIX e iniacuteciodo Seacuteculo XX deu-se em estreita articulaccedilatildeo com a educaccedilatildeo e amedicina podendo-se afirmar que a psicologia foi gerada no interiordessas duas aacutereas de conhecimento sendo nesses campos em quedesenvolveraacute seu projeto de autonomizaccedilatildeo como demonstra MitzukoAntunes em seu estudo a ltPsicologia no Brasil leitura histoacutericasobre sua constituiccedilatildeogt

A atuaccedilatildeo da psicologia junto agraves instituiccedilotildees de sauacutede noiniacutecio do Seacuteculo XX fez-se em nome do controle social com sentidopreventivista e eugecircnico A psiquiatria e o higienismo quecaracterizaram a medicina da eacutepoca clamaram pela participaccedilatildeo dapsicologia na detecccedilatildeo da anormalidade como tambeacutem na prevenccedilatildeo de problemas sociais quepoderiam advir relacionados agrave presenccedila das raccedilas que eram consideradas inferiores e que poderiamperturbar a ordem na vida urbana

A Liga Brasileira de Higiene Mental criada em 1920 representou de maneira radical essesideais tendo se colocado abertamente a favor do aperfeiccediloamento da raccedila (ariana) e contra osnegros e mesticcedilos que eram caracterizados pelas teorias racistas da eacutepoca como indolentesdegenerados preguiccedilosos e sujeitos a enfermidades por sua natureza e iacutendole Os princiacutepios da

Antes de prosseguir aleitura da aula volte agraveaula anterior e revejaquais as principaiscorrentes dapsicologia no processode sua construccedilatildeohistoacuterica

Dirija-se agrave bibliotecado Poacutelo Municipal deApoio Presencial e faccedilaa leitura dos capiacutetulos1 e 2 da Parte II dolivro de MitzukoAntunes (p 37-85)

Trabalhadores da Faacutebricade Tecidos Videira

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I224

higienizaccedilatildeo e da disciplinarizaccedilatildeo da sociedade iratildeo caracterizar o trabalho nas instituiccedilotildeespsiquiaacutetricas preocupadas com uma intervenccedilatildeo para aleacutem do encarceramento da loucura

Apesar da diversidade de pesquisas que se desenvolviam em outros paiacuteses no Brasil ainfluecircncia da pesquisa experimental baseada na psicometria ocorreu de forma hegemocircnica ateacute

pelo menos a deacutecada de 1980

Nas instituiccedilotildees educacionais a preocupaccedilatildeo central era com o analfabetismo e a falta deinstruccedilatildeo do povo brasileiro em um paiacutes em franco desenvolvimento e requisitando uma matildeo-de-obra conhecedora pelo menos da leitura e da escrita Vaacuterios movimentos pela difusatildeo e ampliaccedilatildeoda escola puacuteblica e gratuita surgiram no paiacutes mostrando diferentes ideais de sociedade que vatildeodesde a preparaccedilatildeo para o trabalho ateacute uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo como emancipadora dopovo em uma luta contra a opressatildeo colonialista Nesse quadro a demanda dos profissionais daeducaccedilatildeo no sentido de construir uma pedagogia moderna e cientiacutefica fez da psicologia seuprincipal ponto de sustentaccedilatildeo uma vez que fornecia as bases de conhecimento sobre osindiviacuteduos o processo de desenvolvimento psiacutequico as vocaccedilotildees emoccedilotildees e a organizaccedilatildeo dapersonalidade

A preocupaccedilatildeo com o indiviacuteduo e com as teacutecnicas que pudessem instrumentalizar a praacuteticaeducativa fez surgir no Brasil no iniacutecio do Seacuteculo XX uma seacuterie de Laboratoacuterios e Institutosvoltados para a pesquisa psicoloacutegica destacando-se o Pedagogium depois transformado emLaboratoacuterio de Psicologia Experimental no Rio de Janeiro o Instituto de Psicologia de Pernambucoa Escola de Aperfeiccediloamento Pedagoacutegico de Belo Horizonte e o Laboratoacuterio de PedagogiaExperimental de Satildeo Paulo Nesse periacuteodo surgem as Escolas Normais encarregadas da formaccedilatildeode professores

No processo de constituiccedilatildeo cientiacutefica da pedagogia e de afirmaccedilatildeo da psicologia oslaboratoacuterios e institutos de pesquisa vatildeo sendo incorporados a essas escolas A instalaccedilatildeo desalas de exame psicoloacutegico e de afericcedilatildeo antropomeacutetrica seguia a demanda de higienizaccedilatildeo dapopulaccedilatildeo vigente na eacutepoca e era inspirada nas pesquisas trazidas da Europa e dos EUA queprivilegiavam a psicometria de modo geral Apesar da pouca inserccedilatildeo nas escolas oficiais essapraacutetica serviu para difundir e legitimar o discurso cientiacutefico utilizado para explicar a localizaccedilatildeo decada indiviacuteduo na estrutura social A existecircncia de diferenccedilas individuais era o principal argumentodesse discurso sendo desconsideradas desse esquema de causalidade as imposiccedilotildees da sociedadecapitalista industrial e sua principal base que eacute a divisatildeo em classes sociais com chances epossibilidades desiguais

Em um estudo sobre a disciplina na sociedade moderna em que analisa o funcionamento doGabinete de Antropologia e Psicologia Pedagoacutegica de Satildeo Paulo Marta Carvalho afirma

Neste horizonte criteacuterios raciais nem sempre explicitados traccedilavam os limitesdas boas intenccedilotildees republicanas operando a distinccedilatildeo entre populaccedilotildeeseducaacuteveis capazes portanto de cidadania e populaccedilotildees em que o peso dahereditariedade (leia-se raccedila ) era a marca de um destino que a educaccedilatildeo

era incapaz de alterar (CARVALHO 2006 p 299)

A partir da deacutecada de 1920 e principalmente de 1930 o ideaacuterio escolanovista baseadonos princiacutepios da modernidade fez-se mais presente na educaccedilatildeo brasileira mobilizando os

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educadores na luta contra os elevados iacutendices de repetecircncia eevasatildeo na escola puacuteblica A educaccedilatildeo era compreendida comoa base de uma sociedade saudaacutevel que precisava ser moralmentepreparada para o trabalho

Os novos intelectuais se uniram em torno da crenccedila de que a sauacutede e a educaccedilatildeo eramfatores capazes de promover a necessaacuteria regeneraccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira A preocupaccedilatildeocom o rendimento na escola promoveu a incorporaccedilatildeo do ltmodelo tayloristagt de produccedilatildeofabril afirmando na educaccedilatildeo as posiccedilotildees tecnicistas norteadas pela eficiecircncia e eficaacutecia dasaccedilotildees No trecho abaixo Maria Helena de Souza Patto (2003) expressa o significado dainfluecircncia desse modelo produtivo na educaccedilatildeo ao identificar um vieacutes adaptacionista naproduccedilatildeo em seacuterie de alunos perfeitamente adaptados aos diferentes lugares que lhes seratildeo

destinados numa realidade social inquestionada

Eis a via da naturalizaccedilatildeo da desigualdade que temorigem na maneira como a sociedade se estrutura maseacute lida como diferenccedila bioloacutegica ou psicoloacutegica deaptidatildeo intelectual entre grupos e indiviacuteduos (PATTO2003 p 33)

O movimento chamado Escola Nova esboccedilou-se na deacutecada de 1920 no Brasil

O mundo vivia agrave eacutepoca um momento de crescimento industrial e de expansatildeourbana e nesse contexto um grupo de intelectuais brasileiros sentiu necessidadede preparar o paiacutes para acompanhar esse desenvolvimento A educaccedilatildeo era poreles percebida como o elemento-chave para promover a remodelaccedilatildeo requerida

Inspirados nas ideacuteias poliacutetico-filosoacuteficas de igualdade entre os homens e do direitode todos agrave educaccedilatildeo esses intelectuais viam num sistema estatal de ensinopuacuteblico livre e aberto o uacutenico meio efetivo de combate agraves desigualdades sociaisda naccedilatildeoDenominado de Escola Nova o movimento ganhou impulso na deacutecada de 1930apoacutes a divulgaccedilatildeo do lt Manifesto da Escola Novagt (1932) Nesse documentodefendia-se a universalizaccedilatildeo da escola puacuteblica laica e gratuita Entre os seussignataacuterios destacavam-se os nomes de Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo

Lourenccedilo Filho e Ceciacutelia Meireles

Para ler o Manifesto dosPioneiros acessewwwpedagogiaemfocoprobrheb07ahtm

O americano lt Freder ick Taylorgt considerado o pai da organizaccedilatildeo cientiacutefica dotrabalho propocircs um modelo de produccedilatildeo industrial aliando eficaacutecia e eficiecircnciaSua preocupaccedilatildeo era com o sistema produtivo e natildeo com o homem negando aotrabalhador qualquer manifestaccedilatildeo criativa ou participaccedilatildeo O ideaacuterio tayloristafoi transposto para a educaccedilatildeo promovendo uma valorizaccedilatildeo do tecnicismo tendocomo efeitos a fragmentaccedilatildeo e a hierarquizaccedilatildeo do ensino e do conhecimento

Dirija-se ao PMAP pararealizar a leitura do texto Oque a h ist oacuter ia pode dizerso b r e a p r o f i ssatilde o d op si coacute l o g o a r e l a ccedilatilde opsicologia e educaccedilatildeo deMaria Helena de S Patto nolivro P si co l o g i a ecompromisso social

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I226

Associada agrave escola nova a psicologia continuou fornecendo os subsiacutedios cientiacuteficos para oconhecimento das possibilidades individuais e das dificuldades escolares natildeo mais identificadascomo efeito da hereditariedade e da raccedila mas da organizaccedilatildeo e dos haacutebitos familiares e doambiente soacutecio-cultural Manteacutem-se a utilizaccedilatildeo dos instrumentos de avaliaccedilatildeo psicoloacutegica cadavez mais associada agrave pesquisa sobre o fracasso escolar e centrada no aluno e nos processos deaprendizagem

Na deacutecada de 1950 amplia-se para aleacutem do aluno o campo de pesquisa educacional praticadaprincipalmente nos institutos ligados ao governo que tinham em seus quadros o psicoacutelogoLourenccedilo Filho um dos precursores do escolanovismo A escola reafirmava sua posiccedilatildeo comoelemento fundamental no desenvolvimento da sociedade e era defendida enquanto prioridade nademocratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo e das chances oferecidas aos sujeitos

O periacuteodo de 1960 ateacute meados da deacutecada de 1970 tem como o eixo principal a Teoria doCapital Humano Em estudo sobre essa teoria e sua influecircncia no modelo educacional brasileiroGaudecircncio Frigotto em seu livro A produtividade da escola improdutiva afirma que

Do ponto de vista macroeconocircmico o investimento no fator humano passa asignificar um dos determinantes baacutesicos para o aumento da produtividade eelemento de superaccedilatildeo do atraso econocircmico Do ponto de vistamicroeconocircmico constitui-se no fator explicativo das diferenccedilas individuais deprodutividade e renda e consequumlentemente de mobilidade social (FRIGOTTO1984 p 172)

Comungando com os interesses do ltregime militargt vigentenesse periacuteodo a psicologia voltou-se ainda mais para a avaliaccedilatildeodas capacidades e habilidades psiacutequicas associadas ao investimentoindividual e ao rendimento escolar

Nos proacuteximos anos (a partir de 1970) a Teoria da CarecircnciaCultural de origem norte-americana iria influenciar a pesquisa sobreo fracasso escolar colaborando com a construccedilatildeo de um discursoque mantinha a linha de causalidade que culpava o aluno por seuinsucesso na escola Um dos aspectos principais dessa teoria eacute aafirmaccedilatildeo de que a escola eacute inadequada agraves caracteriacutesticas psiacutequicasda crianccedila pobre Esta teoria parte da existecircncia de um supostodeacuteficit considerado natural na populaccedilatildeo pobre o qual impede queas crianccedilas aproveitem as oportunidades oferecidas pela sociedadeA desigualdade social produto da sociedade cindida em classes e obaixo desempenho na escola e no trabalho satildeo ltnaturalizadosgtcom a participaccedilatildeo ativa dos elementos cientiacuteficos emprestados pelapsicologia

Eacute a partir do final dessa deacutecada de 1970 e de modo maispotente na deacutecada de 1980 que comeccedilam a ser construiacutedos outrosespaccedilos de reflexatildeo e de praacuteticas que significaratildeo a abertura denovos caminhos tanto na educaccedilatildeo quanto na psicologia Inaugura-se uma possibilidade de anaacutelise criacutetica do sistema educacionalapontando relaccedilotildees com a estrutura soacutecio-econocircmica vigente que

Alguns ditos popularesservem para esteprocesso fazendo comuma afirmaccedilatildeo sejacompreendida comon a t u r a l inquestionaacutevel

Q u e m t r a b a l h asem pre alcanccedila

O trabalho enobreceo hom em

A cada um segundosuas possibilidades

Ouccedila a muacutesica M e uca r o a m i g o composta por ChicoBuarque de Holandadurante seu exiacutelio naFranccedila Para issouti l ize ocd-rom doAprendente

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alavancam uma criacutetica da psicologia sobre si mesma Satildeo os novos tempos do fim da ditaduramilitar e da democratizaccedilatildeo no Brasil

Eacute a partir de meados da deacutecada de 1980 que a pesquisa em psicologia comeccedila a tentarromper com as alianccedilas que a constituiacuteram como base do discurso eugecircnico higienista e nosuacuteltimos anos pelo menos preconceituoso

No campo da pesquisa ressaltam-se os trabalhos de MariaHelena Sousa Patto que afirma o compromisso ideoloacutegico da psicologiacom os ideais das classes dominantes montando teorias que servissempara explicar as desigualdades sociais (1984) inaugurando um campode criacutetica importante para as posteriores investigaccedilotildees teoacutericas eintervenccedilotildees educacionais Em estudo posterior Patto nos permiteavanccedilar na compreensatildeo do fracasso escolar como uma produccedilatildeosocial e natildeo como decorrecircncia de problemas individuais proacuteprios dapobreza inaugurando uma forte criacutetica agrave lt Teoria da CarecircnciaCultural (1990)gt

Mesmo anunciando esse caminho de construccedilatildeo de umapsicologia criacutetica e baseada em compromissos sociais eacute importanteque se tenha claro que ainda vigoram nas escolas e na sociedadevaacuterias afirmaccedilotildees que se assentam nos trilhos da Teoria da CarecircnciaCultural Essas ideacuteias penetram com muita facilidade no cotidiano daescola e nos debates do senso comum uma vez que coincidem com anecessidade de predomiacutenio dos princiacutepios da sociedade capitalistapor meio de um discurso hegemocircnico

Por isso CUIDADO Sinal Vermelho Na proacutexima Unidadevoltaremos a esses caminhos e agraves proposiccedilotildees e intervenccedilotildees praacuteticasda psicologia daiacute decorrentes Esse procedimento pode contribuirpara que vocecirc nosso aprendente venha a diferenciar praacuteticas ediscursos e reconhecer a que visatildeo de homem de mundo e desociedade estatildeo servindo

Antes poreacutem de dar esse passo em nossa trilha iremos analisar os processos de construccedilatildeodo conhecimento enquanto marcados pelo exerciacutecio do poder que se efetivam no cotidianoescolar trazendo a disciplina como questatildeo teoacuterica e sua gecircnese como objeto de estudo

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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A Teoria da CarecircnciaCultural fois u f i c i e n t e m e n t einvestigada por MariaHelena Sousa Pattoprincipalmente em trecircspublicaccedilotildees Psicologiae I d eo l o g i a u m ai n t r o d u ccedilatildeo c r iacutet i ca agravep s i co l o g i a esco l a r(1984) A produccedilatildeo dof r acasso esco l a r histoacuter ias de subm issatildeoe rebeldia (1990) e notexto Para um a criacutet icada razatildeo psicom eacutet r icapublicado no l ivroMutaccedilotildees do cativeiro(2000 p 5)

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AULA 3 CONHECI MENTO SABER E PODER UM OLHAR SOBRE A I NFAcircNCI AESCOLARIZADA

Ateacute esta etapa de nosso caminho estudamos a construccedilatildeo das teorias psicoloacutegicas e ahistoacuteria da articulaccedilatildeo entre a psicologia a medicina e a pedagogia no Brasil constituindoalianccedilas em nome de uma abordagem cientiacutefica dos problemas educacionais

A partir de agora promoveremos outro tipo de investigaccedilatildeo para que seja possiacutevel umamaior compreensatildeo do cotidiano escolar com base na anaacutelise das praacuteticas educativas e dasrelaccedilotildees sociais que se estabelecem entre alunos profissionais e comunidades

Nosso ponto de partida seratildeo os estudos de Philippe Ariegraves publicados no livro Histoacuteriasocial da infacircncia e da fam iacutelia que demonstram o surgimento das instituiccedilotildees educativas namodernidade caracterizadas por dar sentido a uma infacircncia que passa a ser vista como naturalmentefraacutegil A educaccedilatildeo impositiva moralizante e disciplinadora se justifica pela necessidade de formaros sujeitos que a sociedade comeccedila a conceber como corpos que necessitam de cuidados porquesatildeo deacutebeis e fracos Ariegraves parte da ideacuteia de que esse sentimento de infacircncia tem origem com aemergecircncia da sociedade burguesa e eacute fortalecido pela accedilatildeo dos jesuiacutetas

Para melhor compreender os efeitos da educaccedilatildeo na constituiccedilatildeo dessa infacircncia podemosrecorrer ao filoacutesofo francecircs Michel Foucault quando ele aponta em seu livro Microfiacutesica do Poder(1979) que a disciplina eacute uma teacutecnica de exerciacutecio de poder que foi natildeo inteiramente inventadamas elaborada em seus princiacutepios fundamentais durante o seacuteculo XVIII (p 105) O autor nosentido de melhor esclarecer a origem da disciplina nas sociedades ocidentais afirma que essa eacuteuma arte de distribuiccedilatildeo dos homens no espaccedilo baseada na individualizaccedilatildeo dos corpos (p

105) A disciplina que se exerce sobre cada corpo isoladamente eacute uma praacutetica que permite aclassificaccedilatildeo dos sujeitos observados e controlados A vigilacircncia deve ser permanente para que adisciplina seja conseguida

Foucault ressalta a importacircncia das praacuteticas de exame (provas avaliaccedilotildees) e de penalizaccedilatildeoou castigo como formas de fazer com que os sujeitos internalizem o poder Quanto mais a morale a disciplina forem sentidas como necessaacuterias agrave existecircncia humana mais sucesso teraacute o processode disciplinamento e controle social A citaccedilatildeo a seguir sintetiza a anaacutelise de Foucault sobre essetema

Escola s n a h ist oacuter ia da h um a nida de

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A disciplina eacute o conjunto de teacutecnicas pelas quais os sistemas de poder vatildeo terpor alvo e resultado os indiviacuteduos em sua singularidade Eacute o poder deindividualizaccedilatildeo que tem o exame como instrumento fundamental O exame eacutea vigilacircncia permanente classificatoacuteria que permite distribuir os indiviacuteduosjulgaacute-los medi-los localizaacute-los e por conseguinte utilizaacute-los ao maacuteximo(FOUCAULT 1979 p107)

Retomando as contribuiccedilotildees de Philippe Ariegraves vimos que a modernidade instaura umaseparaccedilatildeo entre o mundo dos adultos e das crianccedilas e para tanto organiza novas formas eespaccedilos de educaccedilatildeo Os coleacutegios (educaccedilatildeo em preacutedios fechados) o mobiliaacuterio (bancos escolaresbirocirc etc) a separaccedilatildeo em classes (inicialmente por conhecimento e mais recentemente poridades e ainda por localizaccedilatildeo na estrutura social) satildeo intervenccedilotildees protagonizadas desde oSeacuteculo XV ateacute os dias de hoje com o objetivo de instruir e moralizar a sociedade

A ideacuteia de que a infacircncia eacute uma produccedilatildeo social natildeo eacute mais novidade para noacutes Temosdebatido durante nosso percurso que o sentimento que hoje temos com relaccedilatildeo agrave infacircnciaapareceu no momento em que a famiacutelia burguesa se distinguiu como elemento central da sociedadecom a preocupaccedilatildeo de formar homens honrados e moralmente constituiacutedos A sociedade maisespecificamente a igreja catoacutelica comeccedila a valorizar a propriedade de bens centrada nas matildeosde nuacutecleos familiares A famiacutelia volta-se para si mesma resguardando seus membros exigindoassim uma educaccedilatildeo rigorosa dos herdeiros

A partir dessas colocaccedilotildees sobre uma disciplina (escolar) que eacute exigida para que a sociedadeexerccedila controle sobre os homens podemos ainda aceitar a ideacuteia de que os conhecimentossaberes ministrados nos coleacutegios foram igualmente objetos de disciplinarizaccedilatildeo isto eacute de umaintervenccedilatildeo para que servissem aos interesses da reforma moral cristatilde e depois laica (SeacuteculoXVIII)

Juacutelia Varella no texto intitulado O estatuto do saber pedagoacutegico (publicado em O sujeitoda Educaccedilatildeo 4 ed 2000) identifica na passagem do Renascimento para a Modernidade umapedagogizaccedilatildeo dos conhecimentos que significa um novo ordenamento dos saberes de acordocom os interesses moralizantes e disciplinadores que emanam da igreja catoacutelica e dos coleacutegiosjesuiacutetas Conforme demonstra essa autora

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O olhar invisiacutevel podeser representado peloPanopticon de Benthanque permite ver tudosem ser visto produzindono aluno a disciplina pelomedo do exame e docastigo

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Para levar adiante seu projeto de formaccedilatildeo de bons cristatildeos os mestresjesuiacutetas natildeo apenas reforccedilaram o estatuto conferido agrave infacircncia com a opccedilatildeode educaacute-la em espaccedilos fechados nos coleacutegios mas sentiram tambeacutem anecessidade de controlar os saberes que iam transmitir e de organizar essessaberes de tal forma que se adequassem agraves supostas capacidades infantis(VARELLA 2000 apud SILVA 1994 p 88)

Os mestres jesuiacutetas se converteram em autoridades maacuteximas exercendo um poder sobreseus alunos retirando toda a possibilidade vivenciada na Idade Meacutedia de autonomia no estudoForam desenvolvidas estrateacutegias e teacutecnicas que tinham como objetivo dirigir ao conhecimento omesmo sentido moralizante que vinha sendo dado agrave formaccedilatildeo dos alunos A disciplina e a ordemnas salas de aula passaram a ser elementos necessaacuterios nesse processo de penalizaccedilatildeo emoralizaccedilatildeo

Em segundo lugar Juacutelia Varella reconhece a existecircncia de um processo que se daacute no interiorda produccedilatildeo do conhecimento o disciplinamento interno dos saberes eliminando o que eraconsiderado como saberes inuacuteteis segundo as normas de moralizaccedilatildeo e reordenando umacomunicaccedilatildeo entre esses retirando-lhes a forccedila e a intensidade Nesse processo eacute importanteque se promova ainda uma classificaccedilatildeo e hierarquizaccedilatildeo entre os saberes promovendo umacentralizaccedilatildeo de cima para baixo As fronteiras entre a histoacuteria a geografia e a sociologia foramtraccediladas por exemplo pela humanidade assim como a orientaccedilatildeo no processo de ensino-aprendizagem do que deve ser ensinado primeiro e qual saber eacute mais nobre isto eacute que deveocupar o topo de todos os conhecimentos

Os processos que foram aos poucos se instaurando apartir do Seacuteculo XVI produziram censura e controle e mais doque isso devido agraves divisotildees impostas que delimitavam as aacutereasde saberes (conhecimentos) buscavam eliminar a ideacuteia dohomem universal acentuando a possibilidade de tornar doacuteceisos corpos (os sujeitos) mediante essa praacutetica disciplinar impostana produccedilatildeo dos saberes Se anteriormente na Idade Meacutedia oaluno detinha um poder sobre o que queria aprender e ondebuscar o conhecimento na era da modernidade essapossibilidade passa a ser inexistente O aluno perde o poder sobre seus caminhos passando a sercompreendido como um mero elemento de transmissatildeo de conhecimento Natildeo mais pode escolhero que deve ser aprendido tampouco o ritmo desse aprendizado ou o que fazer do conhecimentoadquirido A grade de disciplinas hoje tatildeo naturalmente absorvida por todos noacutes em qualquercurso eacute uma produccedilatildeo social e serve a esses interesses de tornar doacutecil o corpo a ser disciplinadoAprendemos esse ordenamento dos saberes e passamos a respeitaacute-los como se fossemincontestaacuteveis naturais e acima de tudo necessaacuterios

Michel Foucault jaacute citado anteriormente reconhece nesse processo a emergecircncia dasociedade disciplinar que funciona confinando aprisionando os homens agraves escolas agraves prisotildeesagraves igrejas aos hospitais agraves faacutebricas etc

Os processos descritos acima por Juacutelia Varella podem ser reconhecidos ateacute hoje nas praacuteticasescolares Poreacutem com a intervenccedilatildeo das miacutedias e dos novos equipamentos sociais jaacute se pode

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identificar um controle que natildeo mais iraacute somente confinar isolar os estudantes nas escolas osloucos nos asilos e os empregados nas faacutebricas para que sejam produtivos

Trata-se da emergecircncia da sociedade de controle que atua de forma contiacutenua Entramem accedilatildeo a TV os microcomputadores e os celulares que permitem conhecer e conectar o mundoa partir de um uacutenico lugar Satildeo maacutequinas que iratildeo estruturar a vida organizando uma subjetividadedo consumo e da informaccedilatildeo Mas como relacionar esse processo aos domiacutenios da escola

Aqui lanccedilaremos matildeo de outro escritor francecircs Feacutelix Guattari (1985) que no estudo Ascreches e a iniciaccedilatildeo publicado no livro intitulado Revoluccedilotildees Moleculares mostra-nos osefeitos do processo de iniciaccedilatildeo das crianccedilas agrave loacutegica capitalista O autor se refere agrave produccedilatildeode modos de viver pensar e sentir que estariam em consonacircncia com os mais novos modos deproduccedilatildeo material na sociedade capitalista industrial Denomina como aparelhos de semiotizaccedilatildeoos viacutedeo-games CD-rom etc Esses aparelhos passam a dar o sentido dos modos de existecircncia

Guattari (1985) indica que as crianccedilas estatildeo sendo iniciadas cada vez mais cedo nossistemas de representaccedilatildeo e nos valores do capitalismo que produzem uma modelagem adequadaaos coacutedigos utilizados em nosso cotidiano Aponta como importante o fato de que se mobilizamno processo de formaccedilatildeo da crianccedila esquemas de aprendizagem que permitem traduzir oconjunto de coacutedigos ou semioacuteticas dominantes Por fim chama a atenccedilatildeo para a necessidade deanalisarmos o funcionamento da creche e o efeito da educaccedilatildeo infantil na constituiccedilatildeo dessecorpo que eacute modelado para atuar produtivamente de acordo com os ideais da sociedade capitalista

A sua grande contribuiccedilatildeo eacute indicar no espaccedilo da educaccedilatildeo uma perspectiva de que acrianccedila venha a aprender o que eacute a sociedade o que satildeo seus instrumentos (GUATTARI 1985p 54) para poder interferir de forma autocircnoma e criativa no mundo Aprender os coacutedigos e osmodos de funcionamento da sociedade na qual estaacute inserida pode ser importante para que acrianccedila tenha a possibilidade de desenvolver formas singulares de estar no mundo

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegico(a)s a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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UNIDADE II

UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA DO COTIDIANO ESCOLAR

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 4 DOS COLEacuteGI OS DA MODERNI DADE AgraveS ESCOLAS ATUAI S UMAANAacuteLI SE CRIacute TI CA DAS PRAacuteTI CAS COTI DI ANAS

Seguindo a linha de anaacutelise de nosso percurso iremosneste momento buscar os fios que nos permitem compreenderalguns elementos do cotidiano escolar como um espaccedilodisciplinar e controlador das subjetividades O estudo da origemdas praacuteticas educativas a partir dos coleacutegios do Seacuteculo XVIIIforneceu-nos os elementos que seratildeo aqui utilizados paraexercitarmos uma investigaccedilatildeo criacutetica da escola na atualidadeEsse exerciacutecio de reflexatildeo eacute fundamental para que possamosabrir novas portas e inventar outras praacuteticas da psicologia naescola

Com o objetivo de melhor sistematizar nosso trabalho deanaacutelise dividiremos a explanaccedilatildeo em seis itens a saber

1 As praacutet icas cot idianas conspiram cont ra a produccedilatildeoda autonomia e da autogestatildeo

Como jaacute estudamos anteriormente o poder de decisatildeofoi retirado do aluno quando da organizaccedilatildeo dos coleacutegios apartir do Seacuteculo XVIII sendo produzida uma ideacuteia de infacircnciafragilizada e portanto sem possibilidades de exercitar suaautonomia Eacute naturalizada uma concepccedilatildeo de aluno como umcorpo vazio a ser preenchido e modelado

As atividades nas escolas e na vida contemporacircnea passam a ser geridas por outrem -pelo supervisor pelo livro didaacutetico pelos programas governamentais (Escola Aberta Bolsa Escolae outros) - ou coordenadas por entidades como o Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem Aspraacuteticas de avaliaccedilatildeo se apresentam aos alunos como destituiacutedas de sentido Para os professoresessas praacuteticas representam mais uma etapa do processo sendo orientadas pela mesma loacutegica doplanejamento e das atividades contidas no livro didaacutetico Os principais atores sociais (alunos eprofessores) satildeo enfraquecidos no exerciacutecio do poder como sujeitos incapacitados de produzir aarticulaccedilatildeo entre praacuteticas e seus efeitos

Ilustraccedilatildeo de capa do livro O berccedilod a d es i g u a l d a d e de CristovamBuarque com fotos de SebastiatildeoSalgado

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lt Paulo Freiregt ao trabalhar o tema da autonomia no livroPedagogia da Aut onom ia (1996) estabelece a relaccedilatildeo entre oexerciacutecio da liberdade por parte do aluno e da autoridade peloeducador Aponta como fundamental para a construccedilatildeo da autonomiaa praacutetica da responsabilidade Segundo esse educador o educandoque exercita sua liberdade ficaraacute tatildeo mais livre quanto mais eticamentevaacute assumindo a responsabilidade de suas accedilotildees (p 104) mas essaautonomia somente se constitui quando desaparece a relaccedilatildeo dedependecircncia Continuando com o pensamento de Freire ele afirmaque

No fundo o essencial nas relaccedilotildees entre educador eeducando entre autoridade e liberdade entre pais matildeesfilhos filhas eacute a reinvenccedilatildeo do ser humano no aprendizadoda autonomia (FREIRE 1996 p 105)

O pensamento e a accedilatildeo autocircnomos natildeo se datildeo sem que sejamexplicitados os lugares de poder Por isso Paulo Freire fala da reinvenccedilatildeodo ser humano e mais do que isso da reinvenccedilatildeo das relaccedilotildees pedagoacutegicasque deveriam trocar a dependecircncia pela responsabilidade

2 O m odelo educat ivo dest itui os hom ens de sua condiccedilatildeo deprodutores do conhecim ento

A concepccedilatildeo de sujeito a-histoacuterico estaacute presente no contextoescolar onde o conhecimento eacute dado como objetivo e assumido comoverdade absoluta a ser aprendida A organizaccedilatildeo do saber hierarquicamentedisciplinado como nos mostrou Juacutelia Varella na aula anterior (Aula 3Unidade I) elimina a concepccedilatildeo de sujeito como produtor de conhecimentoOs processos de p e d a g o g i z a ccedilatilde o d o s co n h e ci m e n t o s e dedisciplinam ento interno dos saberes estatildeo presentes nas praacuteticaseducacionais atuais fazendo com que tanto alunos quanto professoressejam concebidos como meros coadjuvantes

Trata-se de um treino para o bom comportamento social valorizando o lugar do expectador daquele que natildeo interfere no andamentoda aula e que deve seguir agrave risca o que eacute ditado pelo planejamentomuitas vezes elaborado pelos especialistas da educaccedilatildeo A ausecircncia deuma implicaccedilatildeo dos alunos no processo de aprendizagem eacute consequumlecircnciadesse modelo de escola que somente legitima o conhecimento que eacuteproduzido fora de seu cotidiano A sala de aula eacute assim desumanizada edestituiacuteda de vida proacutepria O mesmo processo eacute vivido pelos educadoresque aprendem no exerciacutecio profissional a praticar e valorizar a obediecircncia

Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

Fo n t e Charge deClaudius Cecconpublicada no livroCu i d a d o Esco l a (p64)

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

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5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I238

AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I240

A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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Aula 4 Aula 5 Aula 6

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I242

que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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Aula 4 Aula 5 Aula 6

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I244

frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I246

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I248

Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I252

AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I256

Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 11: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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A configuraccedilatildeo do objeto de estudos da psicologia centrada no indiviacuteduo afasta a necessidadede uma anaacutelise contextualizada da sociedade onde os sujeitos estatildeo inseridos assim como suaforma de inserccedilatildeo Nas sociedades marcadas pela divisatildeo em classes e cuja base eacute o modelocapitalista de produccedilatildeo difunde-se a crenccedila na igualdade de oportunidades minimizando ainfluecircncia do modo de produccedilatildeo na localizaccedilatildeo dos sujeitos na estrutura social As diferenccedilasindividuais satildeo utilizadas para mascarar a impossibilidade de que a as oportunidades sejam iguaispara todos Assim aprofunda-se a marca principal da psicologia desde sua criaccedilatildeo a de selecionarorientar adaptar e racionalizar a existecircncia humana em nome da produtividade e da eficaacutecia

Podemos situar ainda a Psicologia Cognitiva como outracorrente que se oporaacute aos princiacutepios do ComportamentalismoltJean Piagetgt eacute um importante estudioso do desenvolvimentoinfantil cuja base satildeo as estruturas cognitivas A criacutetica agraveobjetividade cientiacutefica observada nas teorias comportamentaise funcionalistas eacute um importante fundamento desse caminhode pensamento sobre o ser humano e traraacute enormescontribuiccedilotildees para a educaccedilatildeo

Lev Vygotsky psicoacutelogo russo propocircs no iniacutecio do Seacuteculo XX uma nova teoria a PsicologiaSoacutecio-histoacuterica que parte da afirmaccedilatildeo da construccedilatildeo social do conhecimento e da importacircnciada mediaccedilatildeo da educaccedilatildeo da escola e do professor nos processos de ensino e de aprendizagemTrata-se de um importante passo na direccedilatildeo de relacionar o individual e o social na compreensatildeodo psiquismo humano

Sigmund Freud o criador da ltPsicanaacutelisegt eacute tambeacutemsituado no campo dos estudiosos da gecircnese do sujeito Emoposiccedilatildeo agraves afirmaccedilotildees positivistas e objetivadoras dofuncionalismo psiacutequico Freud iraacute definir o inconsciente comoobjeto de estudo Ele concebe a ideacuteia de uma subjetividadecindida e incompleta recusando o eu como centro dopsiquismo o que torna a psicanaacutelise uma teoria original

2 Desenvolvim ento da psicologia no seacuteculo XX

A partir dessas correntes claacutessicas (behaviorismo gestaltismo funcionalismo psicologiacognitiva psicologia soacutecio-histoacuterica e psicanaacutelise) observa-se na histoacuteria da psicologia o surgimentode outras teorias e estrateacutegias de atuaccedilatildeo Podemos destacar nesse processo as teorias ligadasagrave psicologia dos grupos a teoria humanista as teorias da subjetividade e aquelas que surgem apartir do movimento institucionalista

Os estudiosos da histoacuteria da psicologia assinalam o meacutedicoJ Prattes como o pioneiro nos trabalhos com grupos em 1906mas eacute consensual a afirmaccedilatildeo de que foi Moreno psiquiatraromeno que na deacutecada de 1930 nos EUA idealizou olt p sico d r a m a gt uma passagem da arte dramaacutetica agravepsicoterapia

O alematildeo Kurt Lewin eacute tambeacutem situado no campo das psicoterapias de grupo incrementadas

D ivatilde u t i l iz a do pe lo psica n a l ist a ee x p o st o n o M u se u Fr e u d e mLon d r e s

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Aula 1 Aula 2 Aula 3

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pelas condiccedilotildees do poacutes-guerra (deacutecada de 1940) impondo a necessidade de expansatildeo dostrabalhos de sauacutede mental e de recuperaccedilatildeo imediata da matildeo-de-obra deteriorada Em 1944Lewin criou o conceito de dinacircmica de grupo afirmando que o grupo eacute mais do que a soma dassuas partes e que quando haacute modificaccedilatildeo de uma das partes a estrutura grupal se modificaOutro teoacuterico da psicologia dos grupos eacute o argentino Pichoacuten Riviegravere que estruturou a estrateacutegiado grupo operativo que considerava que um grupo soacute se estruturava quando estivesse operandosobre uma tarefa

Como pode ser observado ateacute esta etapa de nossa aula a partir da segunda guerramundial a psicologia fortalece seu interesse pelo social natildeo soacute no campo da pesquisa considerandosua repercussatildeo na constituiccedilatildeo dos sujeitos como tambeacutem enquanto espaccedilo de intervenccedilatildeo emorganizaccedilotildees (hospitais escolas faacutebricas sindicatos etc)

As teorias ligadas agrave Psicologia Humanista constituem outro importante espaccedilo de praacuteticasna qual se sobressaem Carl Rogers da Abordagem Centrada na Pessoa e alguns teoacutericos dagestalt-terapia e da Bioenergeacutetica traduzindo muito bem uma forma mais intimista de responderaos acontecimentos dos anos de 1960 e 1970 Priorizando o corpo o auto-conhecimento e aliberaccedilatildeo dos sujeitos os autores humanistas centram sua preocupaccedilatildeo na adaptaccedilatildeo do homemao meio de forma criativa e ativa

Ainda nas deacutecadas de 1950 e 1960 assiste-se a um movimento de resistecircncia principalmentena Europa que se faz presente nos hospitais e nas escolas aliando a psicologia a sociologia aeducaccedilatildeo e a psiquiatria O Movimento Institucionalista nasce de uma criacutetica agrave organizaccedilatildeohieraacuterquica e centralizadora tanto nos hospitais psiquiaacutetricos quanto nas organizaccedilotildees escolaresconstituindo-se a Psicoterapia I nst itucional (1950) e mais tarde (1962) a PedagogiaInstitucional A Psicossociologia Institucional significa um avanccedilo no processo de autogestatildeoe juntamente com os anti-institucionalistas (Lang Cooper e Ivan Illich) iraacute criar as condiccedilotildeespara o surgimento de uma outra perspectiva de intervenccedilatildeo em 1963 conhecida como AnaacuteliseInstitucional

Por sua criacutetica agrave sociedade capitalista e aoconservadorismo os institucionalistas relacionam-se comos ltmovimentos da contra-cultura na Franccedilagt e emoutros paiacuteses e elaboram inspirados em conceitos devaacuterias correntes da psicologia da sociologia e da filosofiapropostas de investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Essas ideacuteiassatildeo representadas principalmente pelos franceses ReneacuteLourau Felix Guattari e Georges Lapassade

No Brasil apoacutes a ditadura militar essas formulaccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas encontraramum terreno feacutertil junto a psicoacutelogos implicados com os movimentos sociais propondo um conjuntode ferramentas proacuteprias para a intervenccedilatildeo em instituiccedilotildees conceituadas como praacuteticas sociaise para a compreensatildeo das subjetividades

Nas duas uacuteltimas deacutecadas do Seacuteculo XX e iniacutecio do Seacuteculo XXI a partir dos avanccedilos dacomunicaccedilatildeo da expansatildeo de outras linguagens como a informaacutetica e do surgimento de novasproblemaacuteticas sociais configuram-se teorias e proposiccedilotildees centradas algumas delas tambeacutemno conceito de Subjetividade Fernando Gonzaacutelez Rey identifica na histoacuteria desse conceito umprocesso de ruptura com a psicologia cientiacutefica objetiva e neutra tendo significado um desafio

Paris em 1968

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I222

na afirmaccedilatildeo de uma psique que se constroacutei a partir de uma visatildeo cultural em uma dimensatildeocomplexa e dialeacutetica Esse estudioso da psicologia aponta a obra de Vygotsky pouco valorizadano Ocidente ateacute muito recentemente como um marco na definiccedilatildeo do conceito de subjetividade

A psicanaacutelise e a psicologia soacutecio-histoacuterica de L Vygotsky e outras linhas de pensamentotecircm sido revistas em associaccedilatildeo com diversas aacutereas do conhecimento inaugurando um caminhointerdisciplinar

Nesses uacuteltimos trinta anos ainda as teorias comportamentais vecircm buscando sua renovaccedilatildeomediante o aprimoramento das teacutecnicas quantitativas de avaliaccedilatildeo de valores sociais e de programasde assistecircncia e e intervenccedilotildees no campo da cogniccedilatildeo e do treinamento comportamental

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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AULA 2 PSI COLOGI A E EDUCACcedilAtildeO NO BRASI L COMPROMI SSOS E ALI ANCcedilAS

Como vimos na aula anterior a constituiccedilatildeo da psicologia comociecircncia data de meados do Seacuteculo XIX com Wundt na AlemanhaNesse periacuteodo de mais de um seacuteculo de construccedilotildees teoacutericas eproposiccedilotildees praacuteticas constatamos a existecircncia de uma variedadede olhares sobre o homem e seu funcionamento psiacutequico Percebemosao longo da histoacuteria da psicologia que natildeo existe um pensamentouacutenico e que o contexto soacutecio-histoacuterico e a forma como o psicoacutelogopesquisador compreende o mundo e nele se insere seratildeo umimportantes fatores que determinaratildeo a proposta formulada

No Brasil assistiremos a um processo que segundo algunspsicoacutelogos brasileiros preocupados com a historiografia dessaciecircncia tem relaccedilatildeo com as experiecircncias de colonizaccedilatildeo eafirmaccedilatildeo dos interesses de uma classe dominante fortementemarcada por teorias racistas e eugecircnicas alimentadas pela obrade Charles Darwin e suas consequumlecircncias para o estudo dohomem O impulsionamento da psicologia como ciecircncia no Brasileacute relacionado a necessidades impostas pelo desenvolvimentourbano-industrial agraves novas formas de ocupaccedilatildeo das cidadesditadas pela Repuacuteblica e ao reordenamento da forccedila de trabalhona direccedilatildeo da escola preferencialmente profissionalizante

A constituiccedilatildeo da psicologia desde fins do Seacuteculo XIX e iniacuteciodo Seacuteculo XX deu-se em estreita articulaccedilatildeo com a educaccedilatildeo e amedicina podendo-se afirmar que a psicologia foi gerada no interiordessas duas aacutereas de conhecimento sendo nesses campos em quedesenvolveraacute seu projeto de autonomizaccedilatildeo como demonstra MitzukoAntunes em seu estudo a ltPsicologia no Brasil leitura histoacutericasobre sua constituiccedilatildeogt

A atuaccedilatildeo da psicologia junto agraves instituiccedilotildees de sauacutede noiniacutecio do Seacuteculo XX fez-se em nome do controle social com sentidopreventivista e eugecircnico A psiquiatria e o higienismo quecaracterizaram a medicina da eacutepoca clamaram pela participaccedilatildeo dapsicologia na detecccedilatildeo da anormalidade como tambeacutem na prevenccedilatildeo de problemas sociais quepoderiam advir relacionados agrave presenccedila das raccedilas que eram consideradas inferiores e que poderiamperturbar a ordem na vida urbana

A Liga Brasileira de Higiene Mental criada em 1920 representou de maneira radical essesideais tendo se colocado abertamente a favor do aperfeiccediloamento da raccedila (ariana) e contra osnegros e mesticcedilos que eram caracterizados pelas teorias racistas da eacutepoca como indolentesdegenerados preguiccedilosos e sujeitos a enfermidades por sua natureza e iacutendole Os princiacutepios da

Antes de prosseguir aleitura da aula volte agraveaula anterior e revejaquais as principaiscorrentes dapsicologia no processode sua construccedilatildeohistoacuterica

Dirija-se agrave bibliotecado Poacutelo Municipal deApoio Presencial e faccedilaa leitura dos capiacutetulos1 e 2 da Parte II dolivro de MitzukoAntunes (p 37-85)

Trabalhadores da Faacutebricade Tecidos Videira

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higienizaccedilatildeo e da disciplinarizaccedilatildeo da sociedade iratildeo caracterizar o trabalho nas instituiccedilotildeespsiquiaacutetricas preocupadas com uma intervenccedilatildeo para aleacutem do encarceramento da loucura

Apesar da diversidade de pesquisas que se desenvolviam em outros paiacuteses no Brasil ainfluecircncia da pesquisa experimental baseada na psicometria ocorreu de forma hegemocircnica ateacute

pelo menos a deacutecada de 1980

Nas instituiccedilotildees educacionais a preocupaccedilatildeo central era com o analfabetismo e a falta deinstruccedilatildeo do povo brasileiro em um paiacutes em franco desenvolvimento e requisitando uma matildeo-de-obra conhecedora pelo menos da leitura e da escrita Vaacuterios movimentos pela difusatildeo e ampliaccedilatildeoda escola puacuteblica e gratuita surgiram no paiacutes mostrando diferentes ideais de sociedade que vatildeodesde a preparaccedilatildeo para o trabalho ateacute uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo como emancipadora dopovo em uma luta contra a opressatildeo colonialista Nesse quadro a demanda dos profissionais daeducaccedilatildeo no sentido de construir uma pedagogia moderna e cientiacutefica fez da psicologia seuprincipal ponto de sustentaccedilatildeo uma vez que fornecia as bases de conhecimento sobre osindiviacuteduos o processo de desenvolvimento psiacutequico as vocaccedilotildees emoccedilotildees e a organizaccedilatildeo dapersonalidade

A preocupaccedilatildeo com o indiviacuteduo e com as teacutecnicas que pudessem instrumentalizar a praacuteticaeducativa fez surgir no Brasil no iniacutecio do Seacuteculo XX uma seacuterie de Laboratoacuterios e Institutosvoltados para a pesquisa psicoloacutegica destacando-se o Pedagogium depois transformado emLaboratoacuterio de Psicologia Experimental no Rio de Janeiro o Instituto de Psicologia de Pernambucoa Escola de Aperfeiccediloamento Pedagoacutegico de Belo Horizonte e o Laboratoacuterio de PedagogiaExperimental de Satildeo Paulo Nesse periacuteodo surgem as Escolas Normais encarregadas da formaccedilatildeode professores

No processo de constituiccedilatildeo cientiacutefica da pedagogia e de afirmaccedilatildeo da psicologia oslaboratoacuterios e institutos de pesquisa vatildeo sendo incorporados a essas escolas A instalaccedilatildeo desalas de exame psicoloacutegico e de afericcedilatildeo antropomeacutetrica seguia a demanda de higienizaccedilatildeo dapopulaccedilatildeo vigente na eacutepoca e era inspirada nas pesquisas trazidas da Europa e dos EUA queprivilegiavam a psicometria de modo geral Apesar da pouca inserccedilatildeo nas escolas oficiais essapraacutetica serviu para difundir e legitimar o discurso cientiacutefico utilizado para explicar a localizaccedilatildeo decada indiviacuteduo na estrutura social A existecircncia de diferenccedilas individuais era o principal argumentodesse discurso sendo desconsideradas desse esquema de causalidade as imposiccedilotildees da sociedadecapitalista industrial e sua principal base que eacute a divisatildeo em classes sociais com chances epossibilidades desiguais

Em um estudo sobre a disciplina na sociedade moderna em que analisa o funcionamento doGabinete de Antropologia e Psicologia Pedagoacutegica de Satildeo Paulo Marta Carvalho afirma

Neste horizonte criteacuterios raciais nem sempre explicitados traccedilavam os limitesdas boas intenccedilotildees republicanas operando a distinccedilatildeo entre populaccedilotildeeseducaacuteveis capazes portanto de cidadania e populaccedilotildees em que o peso dahereditariedade (leia-se raccedila ) era a marca de um destino que a educaccedilatildeo

era incapaz de alterar (CARVALHO 2006 p 299)

A partir da deacutecada de 1920 e principalmente de 1930 o ideaacuterio escolanovista baseadonos princiacutepios da modernidade fez-se mais presente na educaccedilatildeo brasileira mobilizando os

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educadores na luta contra os elevados iacutendices de repetecircncia eevasatildeo na escola puacuteblica A educaccedilatildeo era compreendida comoa base de uma sociedade saudaacutevel que precisava ser moralmentepreparada para o trabalho

Os novos intelectuais se uniram em torno da crenccedila de que a sauacutede e a educaccedilatildeo eramfatores capazes de promover a necessaacuteria regeneraccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira A preocupaccedilatildeocom o rendimento na escola promoveu a incorporaccedilatildeo do ltmodelo tayloristagt de produccedilatildeofabril afirmando na educaccedilatildeo as posiccedilotildees tecnicistas norteadas pela eficiecircncia e eficaacutecia dasaccedilotildees No trecho abaixo Maria Helena de Souza Patto (2003) expressa o significado dainfluecircncia desse modelo produtivo na educaccedilatildeo ao identificar um vieacutes adaptacionista naproduccedilatildeo em seacuterie de alunos perfeitamente adaptados aos diferentes lugares que lhes seratildeo

destinados numa realidade social inquestionada

Eis a via da naturalizaccedilatildeo da desigualdade que temorigem na maneira como a sociedade se estrutura maseacute lida como diferenccedila bioloacutegica ou psicoloacutegica deaptidatildeo intelectual entre grupos e indiviacuteduos (PATTO2003 p 33)

O movimento chamado Escola Nova esboccedilou-se na deacutecada de 1920 no Brasil

O mundo vivia agrave eacutepoca um momento de crescimento industrial e de expansatildeourbana e nesse contexto um grupo de intelectuais brasileiros sentiu necessidadede preparar o paiacutes para acompanhar esse desenvolvimento A educaccedilatildeo era poreles percebida como o elemento-chave para promover a remodelaccedilatildeo requerida

Inspirados nas ideacuteias poliacutetico-filosoacuteficas de igualdade entre os homens e do direitode todos agrave educaccedilatildeo esses intelectuais viam num sistema estatal de ensinopuacuteblico livre e aberto o uacutenico meio efetivo de combate agraves desigualdades sociaisda naccedilatildeoDenominado de Escola Nova o movimento ganhou impulso na deacutecada de 1930apoacutes a divulgaccedilatildeo do lt Manifesto da Escola Novagt (1932) Nesse documentodefendia-se a universalizaccedilatildeo da escola puacuteblica laica e gratuita Entre os seussignataacuterios destacavam-se os nomes de Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo

Lourenccedilo Filho e Ceciacutelia Meireles

Para ler o Manifesto dosPioneiros acessewwwpedagogiaemfocoprobrheb07ahtm

O americano lt Freder ick Taylorgt considerado o pai da organizaccedilatildeo cientiacutefica dotrabalho propocircs um modelo de produccedilatildeo industrial aliando eficaacutecia e eficiecircnciaSua preocupaccedilatildeo era com o sistema produtivo e natildeo com o homem negando aotrabalhador qualquer manifestaccedilatildeo criativa ou participaccedilatildeo O ideaacuterio tayloristafoi transposto para a educaccedilatildeo promovendo uma valorizaccedilatildeo do tecnicismo tendocomo efeitos a fragmentaccedilatildeo e a hierarquizaccedilatildeo do ensino e do conhecimento

Dirija-se ao PMAP pararealizar a leitura do texto Oque a h ist oacuter ia pode dizerso b r e a p r o f i ssatilde o d op si coacute l o g o a r e l a ccedilatilde opsicologia e educaccedilatildeo deMaria Helena de S Patto nolivro P si co l o g i a ecompromisso social

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Associada agrave escola nova a psicologia continuou fornecendo os subsiacutedios cientiacuteficos para oconhecimento das possibilidades individuais e das dificuldades escolares natildeo mais identificadascomo efeito da hereditariedade e da raccedila mas da organizaccedilatildeo e dos haacutebitos familiares e doambiente soacutecio-cultural Manteacutem-se a utilizaccedilatildeo dos instrumentos de avaliaccedilatildeo psicoloacutegica cadavez mais associada agrave pesquisa sobre o fracasso escolar e centrada no aluno e nos processos deaprendizagem

Na deacutecada de 1950 amplia-se para aleacutem do aluno o campo de pesquisa educacional praticadaprincipalmente nos institutos ligados ao governo que tinham em seus quadros o psicoacutelogoLourenccedilo Filho um dos precursores do escolanovismo A escola reafirmava sua posiccedilatildeo comoelemento fundamental no desenvolvimento da sociedade e era defendida enquanto prioridade nademocratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo e das chances oferecidas aos sujeitos

O periacuteodo de 1960 ateacute meados da deacutecada de 1970 tem como o eixo principal a Teoria doCapital Humano Em estudo sobre essa teoria e sua influecircncia no modelo educacional brasileiroGaudecircncio Frigotto em seu livro A produtividade da escola improdutiva afirma que

Do ponto de vista macroeconocircmico o investimento no fator humano passa asignificar um dos determinantes baacutesicos para o aumento da produtividade eelemento de superaccedilatildeo do atraso econocircmico Do ponto de vistamicroeconocircmico constitui-se no fator explicativo das diferenccedilas individuais deprodutividade e renda e consequumlentemente de mobilidade social (FRIGOTTO1984 p 172)

Comungando com os interesses do ltregime militargt vigentenesse periacuteodo a psicologia voltou-se ainda mais para a avaliaccedilatildeodas capacidades e habilidades psiacutequicas associadas ao investimentoindividual e ao rendimento escolar

Nos proacuteximos anos (a partir de 1970) a Teoria da CarecircnciaCultural de origem norte-americana iria influenciar a pesquisa sobreo fracasso escolar colaborando com a construccedilatildeo de um discursoque mantinha a linha de causalidade que culpava o aluno por seuinsucesso na escola Um dos aspectos principais dessa teoria eacute aafirmaccedilatildeo de que a escola eacute inadequada agraves caracteriacutesticas psiacutequicasda crianccedila pobre Esta teoria parte da existecircncia de um supostodeacuteficit considerado natural na populaccedilatildeo pobre o qual impede queas crianccedilas aproveitem as oportunidades oferecidas pela sociedadeA desigualdade social produto da sociedade cindida em classes e obaixo desempenho na escola e no trabalho satildeo ltnaturalizadosgtcom a participaccedilatildeo ativa dos elementos cientiacuteficos emprestados pelapsicologia

Eacute a partir do final dessa deacutecada de 1970 e de modo maispotente na deacutecada de 1980 que comeccedilam a ser construiacutedos outrosespaccedilos de reflexatildeo e de praacuteticas que significaratildeo a abertura denovos caminhos tanto na educaccedilatildeo quanto na psicologia Inaugura-se uma possibilidade de anaacutelise criacutetica do sistema educacionalapontando relaccedilotildees com a estrutura soacutecio-econocircmica vigente que

Alguns ditos popularesservem para esteprocesso fazendo comuma afirmaccedilatildeo sejacompreendida comon a t u r a l inquestionaacutevel

Q u e m t r a b a l h asem pre alcanccedila

O trabalho enobreceo hom em

A cada um segundosuas possibilidades

Ouccedila a muacutesica M e uca r o a m i g o composta por ChicoBuarque de Holandadurante seu exiacutelio naFranccedila Para issouti l ize ocd-rom doAprendente

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alavancam uma criacutetica da psicologia sobre si mesma Satildeo os novos tempos do fim da ditaduramilitar e da democratizaccedilatildeo no Brasil

Eacute a partir de meados da deacutecada de 1980 que a pesquisa em psicologia comeccedila a tentarromper com as alianccedilas que a constituiacuteram como base do discurso eugecircnico higienista e nosuacuteltimos anos pelo menos preconceituoso

No campo da pesquisa ressaltam-se os trabalhos de MariaHelena Sousa Patto que afirma o compromisso ideoloacutegico da psicologiacom os ideais das classes dominantes montando teorias que servissempara explicar as desigualdades sociais (1984) inaugurando um campode criacutetica importante para as posteriores investigaccedilotildees teoacutericas eintervenccedilotildees educacionais Em estudo posterior Patto nos permiteavanccedilar na compreensatildeo do fracasso escolar como uma produccedilatildeosocial e natildeo como decorrecircncia de problemas individuais proacuteprios dapobreza inaugurando uma forte criacutetica agrave lt Teoria da CarecircnciaCultural (1990)gt

Mesmo anunciando esse caminho de construccedilatildeo de umapsicologia criacutetica e baseada em compromissos sociais eacute importanteque se tenha claro que ainda vigoram nas escolas e na sociedadevaacuterias afirmaccedilotildees que se assentam nos trilhos da Teoria da CarecircnciaCultural Essas ideacuteias penetram com muita facilidade no cotidiano daescola e nos debates do senso comum uma vez que coincidem com anecessidade de predomiacutenio dos princiacutepios da sociedade capitalistapor meio de um discurso hegemocircnico

Por isso CUIDADO Sinal Vermelho Na proacutexima Unidadevoltaremos a esses caminhos e agraves proposiccedilotildees e intervenccedilotildees praacuteticasda psicologia daiacute decorrentes Esse procedimento pode contribuirpara que vocecirc nosso aprendente venha a diferenciar praacuteticas ediscursos e reconhecer a que visatildeo de homem de mundo e desociedade estatildeo servindo

Antes poreacutem de dar esse passo em nossa trilha iremos analisar os processos de construccedilatildeodo conhecimento enquanto marcados pelo exerciacutecio do poder que se efetivam no cotidianoescolar trazendo a disciplina como questatildeo teoacuterica e sua gecircnese como objeto de estudo

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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A Teoria da CarecircnciaCultural fois u f i c i e n t e m e n t einvestigada por MariaHelena Sousa Pattoprincipalmente em trecircspublicaccedilotildees Psicologiae I d eo l o g i a u m ai n t r o d u ccedilatildeo c r iacutet i ca agravep s i co l o g i a esco l a r(1984) A produccedilatildeo dof r acasso esco l a r histoacuter ias de subm issatildeoe rebeldia (1990) e notexto Para um a criacutet icada razatildeo psicom eacutet r icapublicado no l ivroMutaccedilotildees do cativeiro(2000 p 5)

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AULA 3 CONHECI MENTO SABER E PODER UM OLHAR SOBRE A I NFAcircNCI AESCOLARIZADA

Ateacute esta etapa de nosso caminho estudamos a construccedilatildeo das teorias psicoloacutegicas e ahistoacuteria da articulaccedilatildeo entre a psicologia a medicina e a pedagogia no Brasil constituindoalianccedilas em nome de uma abordagem cientiacutefica dos problemas educacionais

A partir de agora promoveremos outro tipo de investigaccedilatildeo para que seja possiacutevel umamaior compreensatildeo do cotidiano escolar com base na anaacutelise das praacuteticas educativas e dasrelaccedilotildees sociais que se estabelecem entre alunos profissionais e comunidades

Nosso ponto de partida seratildeo os estudos de Philippe Ariegraves publicados no livro Histoacuteriasocial da infacircncia e da fam iacutelia que demonstram o surgimento das instituiccedilotildees educativas namodernidade caracterizadas por dar sentido a uma infacircncia que passa a ser vista como naturalmentefraacutegil A educaccedilatildeo impositiva moralizante e disciplinadora se justifica pela necessidade de formaros sujeitos que a sociedade comeccedila a conceber como corpos que necessitam de cuidados porquesatildeo deacutebeis e fracos Ariegraves parte da ideacuteia de que esse sentimento de infacircncia tem origem com aemergecircncia da sociedade burguesa e eacute fortalecido pela accedilatildeo dos jesuiacutetas

Para melhor compreender os efeitos da educaccedilatildeo na constituiccedilatildeo dessa infacircncia podemosrecorrer ao filoacutesofo francecircs Michel Foucault quando ele aponta em seu livro Microfiacutesica do Poder(1979) que a disciplina eacute uma teacutecnica de exerciacutecio de poder que foi natildeo inteiramente inventadamas elaborada em seus princiacutepios fundamentais durante o seacuteculo XVIII (p 105) O autor nosentido de melhor esclarecer a origem da disciplina nas sociedades ocidentais afirma que essa eacuteuma arte de distribuiccedilatildeo dos homens no espaccedilo baseada na individualizaccedilatildeo dos corpos (p

105) A disciplina que se exerce sobre cada corpo isoladamente eacute uma praacutetica que permite aclassificaccedilatildeo dos sujeitos observados e controlados A vigilacircncia deve ser permanente para que adisciplina seja conseguida

Foucault ressalta a importacircncia das praacuteticas de exame (provas avaliaccedilotildees) e de penalizaccedilatildeoou castigo como formas de fazer com que os sujeitos internalizem o poder Quanto mais a morale a disciplina forem sentidas como necessaacuterias agrave existecircncia humana mais sucesso teraacute o processode disciplinamento e controle social A citaccedilatildeo a seguir sintetiza a anaacutelise de Foucault sobre essetema

Escola s n a h ist oacuter ia da h um a nida de

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A disciplina eacute o conjunto de teacutecnicas pelas quais os sistemas de poder vatildeo terpor alvo e resultado os indiviacuteduos em sua singularidade Eacute o poder deindividualizaccedilatildeo que tem o exame como instrumento fundamental O exame eacutea vigilacircncia permanente classificatoacuteria que permite distribuir os indiviacuteduosjulgaacute-los medi-los localizaacute-los e por conseguinte utilizaacute-los ao maacuteximo(FOUCAULT 1979 p107)

Retomando as contribuiccedilotildees de Philippe Ariegraves vimos que a modernidade instaura umaseparaccedilatildeo entre o mundo dos adultos e das crianccedilas e para tanto organiza novas formas eespaccedilos de educaccedilatildeo Os coleacutegios (educaccedilatildeo em preacutedios fechados) o mobiliaacuterio (bancos escolaresbirocirc etc) a separaccedilatildeo em classes (inicialmente por conhecimento e mais recentemente poridades e ainda por localizaccedilatildeo na estrutura social) satildeo intervenccedilotildees protagonizadas desde oSeacuteculo XV ateacute os dias de hoje com o objetivo de instruir e moralizar a sociedade

A ideacuteia de que a infacircncia eacute uma produccedilatildeo social natildeo eacute mais novidade para noacutes Temosdebatido durante nosso percurso que o sentimento que hoje temos com relaccedilatildeo agrave infacircnciaapareceu no momento em que a famiacutelia burguesa se distinguiu como elemento central da sociedadecom a preocupaccedilatildeo de formar homens honrados e moralmente constituiacutedos A sociedade maisespecificamente a igreja catoacutelica comeccedila a valorizar a propriedade de bens centrada nas matildeosde nuacutecleos familiares A famiacutelia volta-se para si mesma resguardando seus membros exigindoassim uma educaccedilatildeo rigorosa dos herdeiros

A partir dessas colocaccedilotildees sobre uma disciplina (escolar) que eacute exigida para que a sociedadeexerccedila controle sobre os homens podemos ainda aceitar a ideacuteia de que os conhecimentossaberes ministrados nos coleacutegios foram igualmente objetos de disciplinarizaccedilatildeo isto eacute de umaintervenccedilatildeo para que servissem aos interesses da reforma moral cristatilde e depois laica (SeacuteculoXVIII)

Juacutelia Varella no texto intitulado O estatuto do saber pedagoacutegico (publicado em O sujeitoda Educaccedilatildeo 4 ed 2000) identifica na passagem do Renascimento para a Modernidade umapedagogizaccedilatildeo dos conhecimentos que significa um novo ordenamento dos saberes de acordocom os interesses moralizantes e disciplinadores que emanam da igreja catoacutelica e dos coleacutegiosjesuiacutetas Conforme demonstra essa autora

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O olhar invisiacutevel podeser representado peloPanopticon de Benthanque permite ver tudosem ser visto produzindono aluno a disciplina pelomedo do exame e docastigo

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Para levar adiante seu projeto de formaccedilatildeo de bons cristatildeos os mestresjesuiacutetas natildeo apenas reforccedilaram o estatuto conferido agrave infacircncia com a opccedilatildeode educaacute-la em espaccedilos fechados nos coleacutegios mas sentiram tambeacutem anecessidade de controlar os saberes que iam transmitir e de organizar essessaberes de tal forma que se adequassem agraves supostas capacidades infantis(VARELLA 2000 apud SILVA 1994 p 88)

Os mestres jesuiacutetas se converteram em autoridades maacuteximas exercendo um poder sobreseus alunos retirando toda a possibilidade vivenciada na Idade Meacutedia de autonomia no estudoForam desenvolvidas estrateacutegias e teacutecnicas que tinham como objetivo dirigir ao conhecimento omesmo sentido moralizante que vinha sendo dado agrave formaccedilatildeo dos alunos A disciplina e a ordemnas salas de aula passaram a ser elementos necessaacuterios nesse processo de penalizaccedilatildeo emoralizaccedilatildeo

Em segundo lugar Juacutelia Varella reconhece a existecircncia de um processo que se daacute no interiorda produccedilatildeo do conhecimento o disciplinamento interno dos saberes eliminando o que eraconsiderado como saberes inuacuteteis segundo as normas de moralizaccedilatildeo e reordenando umacomunicaccedilatildeo entre esses retirando-lhes a forccedila e a intensidade Nesse processo eacute importanteque se promova ainda uma classificaccedilatildeo e hierarquizaccedilatildeo entre os saberes promovendo umacentralizaccedilatildeo de cima para baixo As fronteiras entre a histoacuteria a geografia e a sociologia foramtraccediladas por exemplo pela humanidade assim como a orientaccedilatildeo no processo de ensino-aprendizagem do que deve ser ensinado primeiro e qual saber eacute mais nobre isto eacute que deveocupar o topo de todos os conhecimentos

Os processos que foram aos poucos se instaurando apartir do Seacuteculo XVI produziram censura e controle e mais doque isso devido agraves divisotildees impostas que delimitavam as aacutereasde saberes (conhecimentos) buscavam eliminar a ideacuteia dohomem universal acentuando a possibilidade de tornar doacuteceisos corpos (os sujeitos) mediante essa praacutetica disciplinar impostana produccedilatildeo dos saberes Se anteriormente na Idade Meacutedia oaluno detinha um poder sobre o que queria aprender e ondebuscar o conhecimento na era da modernidade essapossibilidade passa a ser inexistente O aluno perde o poder sobre seus caminhos passando a sercompreendido como um mero elemento de transmissatildeo de conhecimento Natildeo mais pode escolhero que deve ser aprendido tampouco o ritmo desse aprendizado ou o que fazer do conhecimentoadquirido A grade de disciplinas hoje tatildeo naturalmente absorvida por todos noacutes em qualquercurso eacute uma produccedilatildeo social e serve a esses interesses de tornar doacutecil o corpo a ser disciplinadoAprendemos esse ordenamento dos saberes e passamos a respeitaacute-los como se fossemincontestaacuteveis naturais e acima de tudo necessaacuterios

Michel Foucault jaacute citado anteriormente reconhece nesse processo a emergecircncia dasociedade disciplinar que funciona confinando aprisionando os homens agraves escolas agraves prisotildeesagraves igrejas aos hospitais agraves faacutebricas etc

Os processos descritos acima por Juacutelia Varella podem ser reconhecidos ateacute hoje nas praacuteticasescolares Poreacutem com a intervenccedilatildeo das miacutedias e dos novos equipamentos sociais jaacute se pode

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identificar um controle que natildeo mais iraacute somente confinar isolar os estudantes nas escolas osloucos nos asilos e os empregados nas faacutebricas para que sejam produtivos

Trata-se da emergecircncia da sociedade de controle que atua de forma contiacutenua Entramem accedilatildeo a TV os microcomputadores e os celulares que permitem conhecer e conectar o mundoa partir de um uacutenico lugar Satildeo maacutequinas que iratildeo estruturar a vida organizando uma subjetividadedo consumo e da informaccedilatildeo Mas como relacionar esse processo aos domiacutenios da escola

Aqui lanccedilaremos matildeo de outro escritor francecircs Feacutelix Guattari (1985) que no estudo Ascreches e a iniciaccedilatildeo publicado no livro intitulado Revoluccedilotildees Moleculares mostra-nos osefeitos do processo de iniciaccedilatildeo das crianccedilas agrave loacutegica capitalista O autor se refere agrave produccedilatildeode modos de viver pensar e sentir que estariam em consonacircncia com os mais novos modos deproduccedilatildeo material na sociedade capitalista industrial Denomina como aparelhos de semiotizaccedilatildeoos viacutedeo-games CD-rom etc Esses aparelhos passam a dar o sentido dos modos de existecircncia

Guattari (1985) indica que as crianccedilas estatildeo sendo iniciadas cada vez mais cedo nossistemas de representaccedilatildeo e nos valores do capitalismo que produzem uma modelagem adequadaaos coacutedigos utilizados em nosso cotidiano Aponta como importante o fato de que se mobilizamno processo de formaccedilatildeo da crianccedila esquemas de aprendizagem que permitem traduzir oconjunto de coacutedigos ou semioacuteticas dominantes Por fim chama a atenccedilatildeo para a necessidade deanalisarmos o funcionamento da creche e o efeito da educaccedilatildeo infantil na constituiccedilatildeo dessecorpo que eacute modelado para atuar produtivamente de acordo com os ideais da sociedade capitalista

A sua grande contribuiccedilatildeo eacute indicar no espaccedilo da educaccedilatildeo uma perspectiva de que acrianccedila venha a aprender o que eacute a sociedade o que satildeo seus instrumentos (GUATTARI 1985p 54) para poder interferir de forma autocircnoma e criativa no mundo Aprender os coacutedigos e osmodos de funcionamento da sociedade na qual estaacute inserida pode ser importante para que acrianccedila tenha a possibilidade de desenvolver formas singulares de estar no mundo

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegico(a)s a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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UNIDADE II

UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA DO COTIDIANO ESCOLAR

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 4 DOS COLEacuteGI OS DA MODERNI DADE AgraveS ESCOLAS ATUAI S UMAANAacuteLI SE CRIacute TI CA DAS PRAacuteTI CAS COTI DI ANAS

Seguindo a linha de anaacutelise de nosso percurso iremosneste momento buscar os fios que nos permitem compreenderalguns elementos do cotidiano escolar como um espaccedilodisciplinar e controlador das subjetividades O estudo da origemdas praacuteticas educativas a partir dos coleacutegios do Seacuteculo XVIIIforneceu-nos os elementos que seratildeo aqui utilizados paraexercitarmos uma investigaccedilatildeo criacutetica da escola na atualidadeEsse exerciacutecio de reflexatildeo eacute fundamental para que possamosabrir novas portas e inventar outras praacuteticas da psicologia naescola

Com o objetivo de melhor sistematizar nosso trabalho deanaacutelise dividiremos a explanaccedilatildeo em seis itens a saber

1 As praacutet icas cot idianas conspiram cont ra a produccedilatildeoda autonomia e da autogestatildeo

Como jaacute estudamos anteriormente o poder de decisatildeofoi retirado do aluno quando da organizaccedilatildeo dos coleacutegios apartir do Seacuteculo XVIII sendo produzida uma ideacuteia de infacircnciafragilizada e portanto sem possibilidades de exercitar suaautonomia Eacute naturalizada uma concepccedilatildeo de aluno como umcorpo vazio a ser preenchido e modelado

As atividades nas escolas e na vida contemporacircnea passam a ser geridas por outrem -pelo supervisor pelo livro didaacutetico pelos programas governamentais (Escola Aberta Bolsa Escolae outros) - ou coordenadas por entidades como o Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem Aspraacuteticas de avaliaccedilatildeo se apresentam aos alunos como destituiacutedas de sentido Para os professoresessas praacuteticas representam mais uma etapa do processo sendo orientadas pela mesma loacutegica doplanejamento e das atividades contidas no livro didaacutetico Os principais atores sociais (alunos eprofessores) satildeo enfraquecidos no exerciacutecio do poder como sujeitos incapacitados de produzir aarticulaccedilatildeo entre praacuteticas e seus efeitos

Ilustraccedilatildeo de capa do livro O berccedilod a d es i g u a l d a d e de CristovamBuarque com fotos de SebastiatildeoSalgado

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lt Paulo Freiregt ao trabalhar o tema da autonomia no livroPedagogia da Aut onom ia (1996) estabelece a relaccedilatildeo entre oexerciacutecio da liberdade por parte do aluno e da autoridade peloeducador Aponta como fundamental para a construccedilatildeo da autonomiaa praacutetica da responsabilidade Segundo esse educador o educandoque exercita sua liberdade ficaraacute tatildeo mais livre quanto mais eticamentevaacute assumindo a responsabilidade de suas accedilotildees (p 104) mas essaautonomia somente se constitui quando desaparece a relaccedilatildeo dedependecircncia Continuando com o pensamento de Freire ele afirmaque

No fundo o essencial nas relaccedilotildees entre educador eeducando entre autoridade e liberdade entre pais matildeesfilhos filhas eacute a reinvenccedilatildeo do ser humano no aprendizadoda autonomia (FREIRE 1996 p 105)

O pensamento e a accedilatildeo autocircnomos natildeo se datildeo sem que sejamexplicitados os lugares de poder Por isso Paulo Freire fala da reinvenccedilatildeodo ser humano e mais do que isso da reinvenccedilatildeo das relaccedilotildees pedagoacutegicasque deveriam trocar a dependecircncia pela responsabilidade

2 O m odelo educat ivo dest itui os hom ens de sua condiccedilatildeo deprodutores do conhecim ento

A concepccedilatildeo de sujeito a-histoacuterico estaacute presente no contextoescolar onde o conhecimento eacute dado como objetivo e assumido comoverdade absoluta a ser aprendida A organizaccedilatildeo do saber hierarquicamentedisciplinado como nos mostrou Juacutelia Varella na aula anterior (Aula 3Unidade I) elimina a concepccedilatildeo de sujeito como produtor de conhecimentoOs processos de p e d a g o g i z a ccedilatilde o d o s co n h e ci m e n t o s e dedisciplinam ento interno dos saberes estatildeo presentes nas praacuteticaseducacionais atuais fazendo com que tanto alunos quanto professoressejam concebidos como meros coadjuvantes

Trata-se de um treino para o bom comportamento social valorizando o lugar do expectador daquele que natildeo interfere no andamentoda aula e que deve seguir agrave risca o que eacute ditado pelo planejamentomuitas vezes elaborado pelos especialistas da educaccedilatildeo A ausecircncia deuma implicaccedilatildeo dos alunos no processo de aprendizagem eacute consequumlecircnciadesse modelo de escola que somente legitima o conhecimento que eacuteproduzido fora de seu cotidiano A sala de aula eacute assim desumanizada edestituiacuteda de vida proacutepria O mesmo processo eacute vivido pelos educadoresque aprendem no exerciacutecio profissional a praticar e valorizar a obediecircncia

Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

Fo n t e Charge deClaudius Cecconpublicada no livroCu i d a d o Esco l a (p64)

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

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5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I244

frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 12: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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pelas condiccedilotildees do poacutes-guerra (deacutecada de 1940) impondo a necessidade de expansatildeo dostrabalhos de sauacutede mental e de recuperaccedilatildeo imediata da matildeo-de-obra deteriorada Em 1944Lewin criou o conceito de dinacircmica de grupo afirmando que o grupo eacute mais do que a soma dassuas partes e que quando haacute modificaccedilatildeo de uma das partes a estrutura grupal se modificaOutro teoacuterico da psicologia dos grupos eacute o argentino Pichoacuten Riviegravere que estruturou a estrateacutegiado grupo operativo que considerava que um grupo soacute se estruturava quando estivesse operandosobre uma tarefa

Como pode ser observado ateacute esta etapa de nossa aula a partir da segunda guerramundial a psicologia fortalece seu interesse pelo social natildeo soacute no campo da pesquisa considerandosua repercussatildeo na constituiccedilatildeo dos sujeitos como tambeacutem enquanto espaccedilo de intervenccedilatildeo emorganizaccedilotildees (hospitais escolas faacutebricas sindicatos etc)

As teorias ligadas agrave Psicologia Humanista constituem outro importante espaccedilo de praacuteticasna qual se sobressaem Carl Rogers da Abordagem Centrada na Pessoa e alguns teoacutericos dagestalt-terapia e da Bioenergeacutetica traduzindo muito bem uma forma mais intimista de responderaos acontecimentos dos anos de 1960 e 1970 Priorizando o corpo o auto-conhecimento e aliberaccedilatildeo dos sujeitos os autores humanistas centram sua preocupaccedilatildeo na adaptaccedilatildeo do homemao meio de forma criativa e ativa

Ainda nas deacutecadas de 1950 e 1960 assiste-se a um movimento de resistecircncia principalmentena Europa que se faz presente nos hospitais e nas escolas aliando a psicologia a sociologia aeducaccedilatildeo e a psiquiatria O Movimento Institucionalista nasce de uma criacutetica agrave organizaccedilatildeohieraacuterquica e centralizadora tanto nos hospitais psiquiaacutetricos quanto nas organizaccedilotildees escolaresconstituindo-se a Psicoterapia I nst itucional (1950) e mais tarde (1962) a PedagogiaInstitucional A Psicossociologia Institucional significa um avanccedilo no processo de autogestatildeoe juntamente com os anti-institucionalistas (Lang Cooper e Ivan Illich) iraacute criar as condiccedilotildeespara o surgimento de uma outra perspectiva de intervenccedilatildeo em 1963 conhecida como AnaacuteliseInstitucional

Por sua criacutetica agrave sociedade capitalista e aoconservadorismo os institucionalistas relacionam-se comos ltmovimentos da contra-cultura na Franccedilagt e emoutros paiacuteses e elaboram inspirados em conceitos devaacuterias correntes da psicologia da sociologia e da filosofiapropostas de investigaccedilatildeo e intervenccedilatildeo Essas ideacuteiassatildeo representadas principalmente pelos franceses ReneacuteLourau Felix Guattari e Georges Lapassade

No Brasil apoacutes a ditadura militar essas formulaccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas encontraramum terreno feacutertil junto a psicoacutelogos implicados com os movimentos sociais propondo um conjuntode ferramentas proacuteprias para a intervenccedilatildeo em instituiccedilotildees conceituadas como praacuteticas sociaise para a compreensatildeo das subjetividades

Nas duas uacuteltimas deacutecadas do Seacuteculo XX e iniacutecio do Seacuteculo XXI a partir dos avanccedilos dacomunicaccedilatildeo da expansatildeo de outras linguagens como a informaacutetica e do surgimento de novasproblemaacuteticas sociais configuram-se teorias e proposiccedilotildees centradas algumas delas tambeacutemno conceito de Subjetividade Fernando Gonzaacutelez Rey identifica na histoacuteria desse conceito umprocesso de ruptura com a psicologia cientiacutefica objetiva e neutra tendo significado um desafio

Paris em 1968

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na afirmaccedilatildeo de uma psique que se constroacutei a partir de uma visatildeo cultural em uma dimensatildeocomplexa e dialeacutetica Esse estudioso da psicologia aponta a obra de Vygotsky pouco valorizadano Ocidente ateacute muito recentemente como um marco na definiccedilatildeo do conceito de subjetividade

A psicanaacutelise e a psicologia soacutecio-histoacuterica de L Vygotsky e outras linhas de pensamentotecircm sido revistas em associaccedilatildeo com diversas aacutereas do conhecimento inaugurando um caminhointerdisciplinar

Nesses uacuteltimos trinta anos ainda as teorias comportamentais vecircm buscando sua renovaccedilatildeomediante o aprimoramento das teacutecnicas quantitativas de avaliaccedilatildeo de valores sociais e de programasde assistecircncia e e intervenccedilotildees no campo da cogniccedilatildeo e do treinamento comportamental

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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AULA 2 PSI COLOGI A E EDUCACcedilAtildeO NO BRASI L COMPROMI SSOS E ALI ANCcedilAS

Como vimos na aula anterior a constituiccedilatildeo da psicologia comociecircncia data de meados do Seacuteculo XIX com Wundt na AlemanhaNesse periacuteodo de mais de um seacuteculo de construccedilotildees teoacutericas eproposiccedilotildees praacuteticas constatamos a existecircncia de uma variedadede olhares sobre o homem e seu funcionamento psiacutequico Percebemosao longo da histoacuteria da psicologia que natildeo existe um pensamentouacutenico e que o contexto soacutecio-histoacuterico e a forma como o psicoacutelogopesquisador compreende o mundo e nele se insere seratildeo umimportantes fatores que determinaratildeo a proposta formulada

No Brasil assistiremos a um processo que segundo algunspsicoacutelogos brasileiros preocupados com a historiografia dessaciecircncia tem relaccedilatildeo com as experiecircncias de colonizaccedilatildeo eafirmaccedilatildeo dos interesses de uma classe dominante fortementemarcada por teorias racistas e eugecircnicas alimentadas pela obrade Charles Darwin e suas consequumlecircncias para o estudo dohomem O impulsionamento da psicologia como ciecircncia no Brasileacute relacionado a necessidades impostas pelo desenvolvimentourbano-industrial agraves novas formas de ocupaccedilatildeo das cidadesditadas pela Repuacuteblica e ao reordenamento da forccedila de trabalhona direccedilatildeo da escola preferencialmente profissionalizante

A constituiccedilatildeo da psicologia desde fins do Seacuteculo XIX e iniacuteciodo Seacuteculo XX deu-se em estreita articulaccedilatildeo com a educaccedilatildeo e amedicina podendo-se afirmar que a psicologia foi gerada no interiordessas duas aacutereas de conhecimento sendo nesses campos em quedesenvolveraacute seu projeto de autonomizaccedilatildeo como demonstra MitzukoAntunes em seu estudo a ltPsicologia no Brasil leitura histoacutericasobre sua constituiccedilatildeogt

A atuaccedilatildeo da psicologia junto agraves instituiccedilotildees de sauacutede noiniacutecio do Seacuteculo XX fez-se em nome do controle social com sentidopreventivista e eugecircnico A psiquiatria e o higienismo quecaracterizaram a medicina da eacutepoca clamaram pela participaccedilatildeo dapsicologia na detecccedilatildeo da anormalidade como tambeacutem na prevenccedilatildeo de problemas sociais quepoderiam advir relacionados agrave presenccedila das raccedilas que eram consideradas inferiores e que poderiamperturbar a ordem na vida urbana

A Liga Brasileira de Higiene Mental criada em 1920 representou de maneira radical essesideais tendo se colocado abertamente a favor do aperfeiccediloamento da raccedila (ariana) e contra osnegros e mesticcedilos que eram caracterizados pelas teorias racistas da eacutepoca como indolentesdegenerados preguiccedilosos e sujeitos a enfermidades por sua natureza e iacutendole Os princiacutepios da

Antes de prosseguir aleitura da aula volte agraveaula anterior e revejaquais as principaiscorrentes dapsicologia no processode sua construccedilatildeohistoacuterica

Dirija-se agrave bibliotecado Poacutelo Municipal deApoio Presencial e faccedilaa leitura dos capiacutetulos1 e 2 da Parte II dolivro de MitzukoAntunes (p 37-85)

Trabalhadores da Faacutebricade Tecidos Videira

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higienizaccedilatildeo e da disciplinarizaccedilatildeo da sociedade iratildeo caracterizar o trabalho nas instituiccedilotildeespsiquiaacutetricas preocupadas com uma intervenccedilatildeo para aleacutem do encarceramento da loucura

Apesar da diversidade de pesquisas que se desenvolviam em outros paiacuteses no Brasil ainfluecircncia da pesquisa experimental baseada na psicometria ocorreu de forma hegemocircnica ateacute

pelo menos a deacutecada de 1980

Nas instituiccedilotildees educacionais a preocupaccedilatildeo central era com o analfabetismo e a falta deinstruccedilatildeo do povo brasileiro em um paiacutes em franco desenvolvimento e requisitando uma matildeo-de-obra conhecedora pelo menos da leitura e da escrita Vaacuterios movimentos pela difusatildeo e ampliaccedilatildeoda escola puacuteblica e gratuita surgiram no paiacutes mostrando diferentes ideais de sociedade que vatildeodesde a preparaccedilatildeo para o trabalho ateacute uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo como emancipadora dopovo em uma luta contra a opressatildeo colonialista Nesse quadro a demanda dos profissionais daeducaccedilatildeo no sentido de construir uma pedagogia moderna e cientiacutefica fez da psicologia seuprincipal ponto de sustentaccedilatildeo uma vez que fornecia as bases de conhecimento sobre osindiviacuteduos o processo de desenvolvimento psiacutequico as vocaccedilotildees emoccedilotildees e a organizaccedilatildeo dapersonalidade

A preocupaccedilatildeo com o indiviacuteduo e com as teacutecnicas que pudessem instrumentalizar a praacuteticaeducativa fez surgir no Brasil no iniacutecio do Seacuteculo XX uma seacuterie de Laboratoacuterios e Institutosvoltados para a pesquisa psicoloacutegica destacando-se o Pedagogium depois transformado emLaboratoacuterio de Psicologia Experimental no Rio de Janeiro o Instituto de Psicologia de Pernambucoa Escola de Aperfeiccediloamento Pedagoacutegico de Belo Horizonte e o Laboratoacuterio de PedagogiaExperimental de Satildeo Paulo Nesse periacuteodo surgem as Escolas Normais encarregadas da formaccedilatildeode professores

No processo de constituiccedilatildeo cientiacutefica da pedagogia e de afirmaccedilatildeo da psicologia oslaboratoacuterios e institutos de pesquisa vatildeo sendo incorporados a essas escolas A instalaccedilatildeo desalas de exame psicoloacutegico e de afericcedilatildeo antropomeacutetrica seguia a demanda de higienizaccedilatildeo dapopulaccedilatildeo vigente na eacutepoca e era inspirada nas pesquisas trazidas da Europa e dos EUA queprivilegiavam a psicometria de modo geral Apesar da pouca inserccedilatildeo nas escolas oficiais essapraacutetica serviu para difundir e legitimar o discurso cientiacutefico utilizado para explicar a localizaccedilatildeo decada indiviacuteduo na estrutura social A existecircncia de diferenccedilas individuais era o principal argumentodesse discurso sendo desconsideradas desse esquema de causalidade as imposiccedilotildees da sociedadecapitalista industrial e sua principal base que eacute a divisatildeo em classes sociais com chances epossibilidades desiguais

Em um estudo sobre a disciplina na sociedade moderna em que analisa o funcionamento doGabinete de Antropologia e Psicologia Pedagoacutegica de Satildeo Paulo Marta Carvalho afirma

Neste horizonte criteacuterios raciais nem sempre explicitados traccedilavam os limitesdas boas intenccedilotildees republicanas operando a distinccedilatildeo entre populaccedilotildeeseducaacuteveis capazes portanto de cidadania e populaccedilotildees em que o peso dahereditariedade (leia-se raccedila ) era a marca de um destino que a educaccedilatildeo

era incapaz de alterar (CARVALHO 2006 p 299)

A partir da deacutecada de 1920 e principalmente de 1930 o ideaacuterio escolanovista baseadonos princiacutepios da modernidade fez-se mais presente na educaccedilatildeo brasileira mobilizando os

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educadores na luta contra os elevados iacutendices de repetecircncia eevasatildeo na escola puacuteblica A educaccedilatildeo era compreendida comoa base de uma sociedade saudaacutevel que precisava ser moralmentepreparada para o trabalho

Os novos intelectuais se uniram em torno da crenccedila de que a sauacutede e a educaccedilatildeo eramfatores capazes de promover a necessaacuteria regeneraccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira A preocupaccedilatildeocom o rendimento na escola promoveu a incorporaccedilatildeo do ltmodelo tayloristagt de produccedilatildeofabril afirmando na educaccedilatildeo as posiccedilotildees tecnicistas norteadas pela eficiecircncia e eficaacutecia dasaccedilotildees No trecho abaixo Maria Helena de Souza Patto (2003) expressa o significado dainfluecircncia desse modelo produtivo na educaccedilatildeo ao identificar um vieacutes adaptacionista naproduccedilatildeo em seacuterie de alunos perfeitamente adaptados aos diferentes lugares que lhes seratildeo

destinados numa realidade social inquestionada

Eis a via da naturalizaccedilatildeo da desigualdade que temorigem na maneira como a sociedade se estrutura maseacute lida como diferenccedila bioloacutegica ou psicoloacutegica deaptidatildeo intelectual entre grupos e indiviacuteduos (PATTO2003 p 33)

O movimento chamado Escola Nova esboccedilou-se na deacutecada de 1920 no Brasil

O mundo vivia agrave eacutepoca um momento de crescimento industrial e de expansatildeourbana e nesse contexto um grupo de intelectuais brasileiros sentiu necessidadede preparar o paiacutes para acompanhar esse desenvolvimento A educaccedilatildeo era poreles percebida como o elemento-chave para promover a remodelaccedilatildeo requerida

Inspirados nas ideacuteias poliacutetico-filosoacuteficas de igualdade entre os homens e do direitode todos agrave educaccedilatildeo esses intelectuais viam num sistema estatal de ensinopuacuteblico livre e aberto o uacutenico meio efetivo de combate agraves desigualdades sociaisda naccedilatildeoDenominado de Escola Nova o movimento ganhou impulso na deacutecada de 1930apoacutes a divulgaccedilatildeo do lt Manifesto da Escola Novagt (1932) Nesse documentodefendia-se a universalizaccedilatildeo da escola puacuteblica laica e gratuita Entre os seussignataacuterios destacavam-se os nomes de Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo

Lourenccedilo Filho e Ceciacutelia Meireles

Para ler o Manifesto dosPioneiros acessewwwpedagogiaemfocoprobrheb07ahtm

O americano lt Freder ick Taylorgt considerado o pai da organizaccedilatildeo cientiacutefica dotrabalho propocircs um modelo de produccedilatildeo industrial aliando eficaacutecia e eficiecircnciaSua preocupaccedilatildeo era com o sistema produtivo e natildeo com o homem negando aotrabalhador qualquer manifestaccedilatildeo criativa ou participaccedilatildeo O ideaacuterio tayloristafoi transposto para a educaccedilatildeo promovendo uma valorizaccedilatildeo do tecnicismo tendocomo efeitos a fragmentaccedilatildeo e a hierarquizaccedilatildeo do ensino e do conhecimento

Dirija-se ao PMAP pararealizar a leitura do texto Oque a h ist oacuter ia pode dizerso b r e a p r o f i ssatilde o d op si coacute l o g o a r e l a ccedilatilde opsicologia e educaccedilatildeo deMaria Helena de S Patto nolivro P si co l o g i a ecompromisso social

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Associada agrave escola nova a psicologia continuou fornecendo os subsiacutedios cientiacuteficos para oconhecimento das possibilidades individuais e das dificuldades escolares natildeo mais identificadascomo efeito da hereditariedade e da raccedila mas da organizaccedilatildeo e dos haacutebitos familiares e doambiente soacutecio-cultural Manteacutem-se a utilizaccedilatildeo dos instrumentos de avaliaccedilatildeo psicoloacutegica cadavez mais associada agrave pesquisa sobre o fracasso escolar e centrada no aluno e nos processos deaprendizagem

Na deacutecada de 1950 amplia-se para aleacutem do aluno o campo de pesquisa educacional praticadaprincipalmente nos institutos ligados ao governo que tinham em seus quadros o psicoacutelogoLourenccedilo Filho um dos precursores do escolanovismo A escola reafirmava sua posiccedilatildeo comoelemento fundamental no desenvolvimento da sociedade e era defendida enquanto prioridade nademocratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo e das chances oferecidas aos sujeitos

O periacuteodo de 1960 ateacute meados da deacutecada de 1970 tem como o eixo principal a Teoria doCapital Humano Em estudo sobre essa teoria e sua influecircncia no modelo educacional brasileiroGaudecircncio Frigotto em seu livro A produtividade da escola improdutiva afirma que

Do ponto de vista macroeconocircmico o investimento no fator humano passa asignificar um dos determinantes baacutesicos para o aumento da produtividade eelemento de superaccedilatildeo do atraso econocircmico Do ponto de vistamicroeconocircmico constitui-se no fator explicativo das diferenccedilas individuais deprodutividade e renda e consequumlentemente de mobilidade social (FRIGOTTO1984 p 172)

Comungando com os interesses do ltregime militargt vigentenesse periacuteodo a psicologia voltou-se ainda mais para a avaliaccedilatildeodas capacidades e habilidades psiacutequicas associadas ao investimentoindividual e ao rendimento escolar

Nos proacuteximos anos (a partir de 1970) a Teoria da CarecircnciaCultural de origem norte-americana iria influenciar a pesquisa sobreo fracasso escolar colaborando com a construccedilatildeo de um discursoque mantinha a linha de causalidade que culpava o aluno por seuinsucesso na escola Um dos aspectos principais dessa teoria eacute aafirmaccedilatildeo de que a escola eacute inadequada agraves caracteriacutesticas psiacutequicasda crianccedila pobre Esta teoria parte da existecircncia de um supostodeacuteficit considerado natural na populaccedilatildeo pobre o qual impede queas crianccedilas aproveitem as oportunidades oferecidas pela sociedadeA desigualdade social produto da sociedade cindida em classes e obaixo desempenho na escola e no trabalho satildeo ltnaturalizadosgtcom a participaccedilatildeo ativa dos elementos cientiacuteficos emprestados pelapsicologia

Eacute a partir do final dessa deacutecada de 1970 e de modo maispotente na deacutecada de 1980 que comeccedilam a ser construiacutedos outrosespaccedilos de reflexatildeo e de praacuteticas que significaratildeo a abertura denovos caminhos tanto na educaccedilatildeo quanto na psicologia Inaugura-se uma possibilidade de anaacutelise criacutetica do sistema educacionalapontando relaccedilotildees com a estrutura soacutecio-econocircmica vigente que

Alguns ditos popularesservem para esteprocesso fazendo comuma afirmaccedilatildeo sejacompreendida comon a t u r a l inquestionaacutevel

Q u e m t r a b a l h asem pre alcanccedila

O trabalho enobreceo hom em

A cada um segundosuas possibilidades

Ouccedila a muacutesica M e uca r o a m i g o composta por ChicoBuarque de Holandadurante seu exiacutelio naFranccedila Para issouti l ize ocd-rom doAprendente

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Aula 2 Aula 3Aula 1

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alavancam uma criacutetica da psicologia sobre si mesma Satildeo os novos tempos do fim da ditaduramilitar e da democratizaccedilatildeo no Brasil

Eacute a partir de meados da deacutecada de 1980 que a pesquisa em psicologia comeccedila a tentarromper com as alianccedilas que a constituiacuteram como base do discurso eugecircnico higienista e nosuacuteltimos anos pelo menos preconceituoso

No campo da pesquisa ressaltam-se os trabalhos de MariaHelena Sousa Patto que afirma o compromisso ideoloacutegico da psicologiacom os ideais das classes dominantes montando teorias que servissempara explicar as desigualdades sociais (1984) inaugurando um campode criacutetica importante para as posteriores investigaccedilotildees teoacutericas eintervenccedilotildees educacionais Em estudo posterior Patto nos permiteavanccedilar na compreensatildeo do fracasso escolar como uma produccedilatildeosocial e natildeo como decorrecircncia de problemas individuais proacuteprios dapobreza inaugurando uma forte criacutetica agrave lt Teoria da CarecircnciaCultural (1990)gt

Mesmo anunciando esse caminho de construccedilatildeo de umapsicologia criacutetica e baseada em compromissos sociais eacute importanteque se tenha claro que ainda vigoram nas escolas e na sociedadevaacuterias afirmaccedilotildees que se assentam nos trilhos da Teoria da CarecircnciaCultural Essas ideacuteias penetram com muita facilidade no cotidiano daescola e nos debates do senso comum uma vez que coincidem com anecessidade de predomiacutenio dos princiacutepios da sociedade capitalistapor meio de um discurso hegemocircnico

Por isso CUIDADO Sinal Vermelho Na proacutexima Unidadevoltaremos a esses caminhos e agraves proposiccedilotildees e intervenccedilotildees praacuteticasda psicologia daiacute decorrentes Esse procedimento pode contribuirpara que vocecirc nosso aprendente venha a diferenciar praacuteticas ediscursos e reconhecer a que visatildeo de homem de mundo e desociedade estatildeo servindo

Antes poreacutem de dar esse passo em nossa trilha iremos analisar os processos de construccedilatildeodo conhecimento enquanto marcados pelo exerciacutecio do poder que se efetivam no cotidianoescolar trazendo a disciplina como questatildeo teoacuterica e sua gecircnese como objeto de estudo

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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A Teoria da CarecircnciaCultural fois u f i c i e n t e m e n t einvestigada por MariaHelena Sousa Pattoprincipalmente em trecircspublicaccedilotildees Psicologiae I d eo l o g i a u m ai n t r o d u ccedilatildeo c r iacutet i ca agravep s i co l o g i a esco l a r(1984) A produccedilatildeo dof r acasso esco l a r histoacuter ias de subm issatildeoe rebeldia (1990) e notexto Para um a criacutet icada razatildeo psicom eacutet r icapublicado no l ivroMutaccedilotildees do cativeiro(2000 p 5)

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I228

AULA 3 CONHECI MENTO SABER E PODER UM OLHAR SOBRE A I NFAcircNCI AESCOLARIZADA

Ateacute esta etapa de nosso caminho estudamos a construccedilatildeo das teorias psicoloacutegicas e ahistoacuteria da articulaccedilatildeo entre a psicologia a medicina e a pedagogia no Brasil constituindoalianccedilas em nome de uma abordagem cientiacutefica dos problemas educacionais

A partir de agora promoveremos outro tipo de investigaccedilatildeo para que seja possiacutevel umamaior compreensatildeo do cotidiano escolar com base na anaacutelise das praacuteticas educativas e dasrelaccedilotildees sociais que se estabelecem entre alunos profissionais e comunidades

Nosso ponto de partida seratildeo os estudos de Philippe Ariegraves publicados no livro Histoacuteriasocial da infacircncia e da fam iacutelia que demonstram o surgimento das instituiccedilotildees educativas namodernidade caracterizadas por dar sentido a uma infacircncia que passa a ser vista como naturalmentefraacutegil A educaccedilatildeo impositiva moralizante e disciplinadora se justifica pela necessidade de formaros sujeitos que a sociedade comeccedila a conceber como corpos que necessitam de cuidados porquesatildeo deacutebeis e fracos Ariegraves parte da ideacuteia de que esse sentimento de infacircncia tem origem com aemergecircncia da sociedade burguesa e eacute fortalecido pela accedilatildeo dos jesuiacutetas

Para melhor compreender os efeitos da educaccedilatildeo na constituiccedilatildeo dessa infacircncia podemosrecorrer ao filoacutesofo francecircs Michel Foucault quando ele aponta em seu livro Microfiacutesica do Poder(1979) que a disciplina eacute uma teacutecnica de exerciacutecio de poder que foi natildeo inteiramente inventadamas elaborada em seus princiacutepios fundamentais durante o seacuteculo XVIII (p 105) O autor nosentido de melhor esclarecer a origem da disciplina nas sociedades ocidentais afirma que essa eacuteuma arte de distribuiccedilatildeo dos homens no espaccedilo baseada na individualizaccedilatildeo dos corpos (p

105) A disciplina que se exerce sobre cada corpo isoladamente eacute uma praacutetica que permite aclassificaccedilatildeo dos sujeitos observados e controlados A vigilacircncia deve ser permanente para que adisciplina seja conseguida

Foucault ressalta a importacircncia das praacuteticas de exame (provas avaliaccedilotildees) e de penalizaccedilatildeoou castigo como formas de fazer com que os sujeitos internalizem o poder Quanto mais a morale a disciplina forem sentidas como necessaacuterias agrave existecircncia humana mais sucesso teraacute o processode disciplinamento e controle social A citaccedilatildeo a seguir sintetiza a anaacutelise de Foucault sobre essetema

Escola s n a h ist oacuter ia da h um a nida de

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A disciplina eacute o conjunto de teacutecnicas pelas quais os sistemas de poder vatildeo terpor alvo e resultado os indiviacuteduos em sua singularidade Eacute o poder deindividualizaccedilatildeo que tem o exame como instrumento fundamental O exame eacutea vigilacircncia permanente classificatoacuteria que permite distribuir os indiviacuteduosjulgaacute-los medi-los localizaacute-los e por conseguinte utilizaacute-los ao maacuteximo(FOUCAULT 1979 p107)

Retomando as contribuiccedilotildees de Philippe Ariegraves vimos que a modernidade instaura umaseparaccedilatildeo entre o mundo dos adultos e das crianccedilas e para tanto organiza novas formas eespaccedilos de educaccedilatildeo Os coleacutegios (educaccedilatildeo em preacutedios fechados) o mobiliaacuterio (bancos escolaresbirocirc etc) a separaccedilatildeo em classes (inicialmente por conhecimento e mais recentemente poridades e ainda por localizaccedilatildeo na estrutura social) satildeo intervenccedilotildees protagonizadas desde oSeacuteculo XV ateacute os dias de hoje com o objetivo de instruir e moralizar a sociedade

A ideacuteia de que a infacircncia eacute uma produccedilatildeo social natildeo eacute mais novidade para noacutes Temosdebatido durante nosso percurso que o sentimento que hoje temos com relaccedilatildeo agrave infacircnciaapareceu no momento em que a famiacutelia burguesa se distinguiu como elemento central da sociedadecom a preocupaccedilatildeo de formar homens honrados e moralmente constituiacutedos A sociedade maisespecificamente a igreja catoacutelica comeccedila a valorizar a propriedade de bens centrada nas matildeosde nuacutecleos familiares A famiacutelia volta-se para si mesma resguardando seus membros exigindoassim uma educaccedilatildeo rigorosa dos herdeiros

A partir dessas colocaccedilotildees sobre uma disciplina (escolar) que eacute exigida para que a sociedadeexerccedila controle sobre os homens podemos ainda aceitar a ideacuteia de que os conhecimentossaberes ministrados nos coleacutegios foram igualmente objetos de disciplinarizaccedilatildeo isto eacute de umaintervenccedilatildeo para que servissem aos interesses da reforma moral cristatilde e depois laica (SeacuteculoXVIII)

Juacutelia Varella no texto intitulado O estatuto do saber pedagoacutegico (publicado em O sujeitoda Educaccedilatildeo 4 ed 2000) identifica na passagem do Renascimento para a Modernidade umapedagogizaccedilatildeo dos conhecimentos que significa um novo ordenamento dos saberes de acordocom os interesses moralizantes e disciplinadores que emanam da igreja catoacutelica e dos coleacutegiosjesuiacutetas Conforme demonstra essa autora

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O olhar invisiacutevel podeser representado peloPanopticon de Benthanque permite ver tudosem ser visto produzindono aluno a disciplina pelomedo do exame e docastigo

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Para levar adiante seu projeto de formaccedilatildeo de bons cristatildeos os mestresjesuiacutetas natildeo apenas reforccedilaram o estatuto conferido agrave infacircncia com a opccedilatildeode educaacute-la em espaccedilos fechados nos coleacutegios mas sentiram tambeacutem anecessidade de controlar os saberes que iam transmitir e de organizar essessaberes de tal forma que se adequassem agraves supostas capacidades infantis(VARELLA 2000 apud SILVA 1994 p 88)

Os mestres jesuiacutetas se converteram em autoridades maacuteximas exercendo um poder sobreseus alunos retirando toda a possibilidade vivenciada na Idade Meacutedia de autonomia no estudoForam desenvolvidas estrateacutegias e teacutecnicas que tinham como objetivo dirigir ao conhecimento omesmo sentido moralizante que vinha sendo dado agrave formaccedilatildeo dos alunos A disciplina e a ordemnas salas de aula passaram a ser elementos necessaacuterios nesse processo de penalizaccedilatildeo emoralizaccedilatildeo

Em segundo lugar Juacutelia Varella reconhece a existecircncia de um processo que se daacute no interiorda produccedilatildeo do conhecimento o disciplinamento interno dos saberes eliminando o que eraconsiderado como saberes inuacuteteis segundo as normas de moralizaccedilatildeo e reordenando umacomunicaccedilatildeo entre esses retirando-lhes a forccedila e a intensidade Nesse processo eacute importanteque se promova ainda uma classificaccedilatildeo e hierarquizaccedilatildeo entre os saberes promovendo umacentralizaccedilatildeo de cima para baixo As fronteiras entre a histoacuteria a geografia e a sociologia foramtraccediladas por exemplo pela humanidade assim como a orientaccedilatildeo no processo de ensino-aprendizagem do que deve ser ensinado primeiro e qual saber eacute mais nobre isto eacute que deveocupar o topo de todos os conhecimentos

Os processos que foram aos poucos se instaurando apartir do Seacuteculo XVI produziram censura e controle e mais doque isso devido agraves divisotildees impostas que delimitavam as aacutereasde saberes (conhecimentos) buscavam eliminar a ideacuteia dohomem universal acentuando a possibilidade de tornar doacuteceisos corpos (os sujeitos) mediante essa praacutetica disciplinar impostana produccedilatildeo dos saberes Se anteriormente na Idade Meacutedia oaluno detinha um poder sobre o que queria aprender e ondebuscar o conhecimento na era da modernidade essapossibilidade passa a ser inexistente O aluno perde o poder sobre seus caminhos passando a sercompreendido como um mero elemento de transmissatildeo de conhecimento Natildeo mais pode escolhero que deve ser aprendido tampouco o ritmo desse aprendizado ou o que fazer do conhecimentoadquirido A grade de disciplinas hoje tatildeo naturalmente absorvida por todos noacutes em qualquercurso eacute uma produccedilatildeo social e serve a esses interesses de tornar doacutecil o corpo a ser disciplinadoAprendemos esse ordenamento dos saberes e passamos a respeitaacute-los como se fossemincontestaacuteveis naturais e acima de tudo necessaacuterios

Michel Foucault jaacute citado anteriormente reconhece nesse processo a emergecircncia dasociedade disciplinar que funciona confinando aprisionando os homens agraves escolas agraves prisotildeesagraves igrejas aos hospitais agraves faacutebricas etc

Os processos descritos acima por Juacutelia Varella podem ser reconhecidos ateacute hoje nas praacuteticasescolares Poreacutem com a intervenccedilatildeo das miacutedias e dos novos equipamentos sociais jaacute se pode

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identificar um controle que natildeo mais iraacute somente confinar isolar os estudantes nas escolas osloucos nos asilos e os empregados nas faacutebricas para que sejam produtivos

Trata-se da emergecircncia da sociedade de controle que atua de forma contiacutenua Entramem accedilatildeo a TV os microcomputadores e os celulares que permitem conhecer e conectar o mundoa partir de um uacutenico lugar Satildeo maacutequinas que iratildeo estruturar a vida organizando uma subjetividadedo consumo e da informaccedilatildeo Mas como relacionar esse processo aos domiacutenios da escola

Aqui lanccedilaremos matildeo de outro escritor francecircs Feacutelix Guattari (1985) que no estudo Ascreches e a iniciaccedilatildeo publicado no livro intitulado Revoluccedilotildees Moleculares mostra-nos osefeitos do processo de iniciaccedilatildeo das crianccedilas agrave loacutegica capitalista O autor se refere agrave produccedilatildeode modos de viver pensar e sentir que estariam em consonacircncia com os mais novos modos deproduccedilatildeo material na sociedade capitalista industrial Denomina como aparelhos de semiotizaccedilatildeoos viacutedeo-games CD-rom etc Esses aparelhos passam a dar o sentido dos modos de existecircncia

Guattari (1985) indica que as crianccedilas estatildeo sendo iniciadas cada vez mais cedo nossistemas de representaccedilatildeo e nos valores do capitalismo que produzem uma modelagem adequadaaos coacutedigos utilizados em nosso cotidiano Aponta como importante o fato de que se mobilizamno processo de formaccedilatildeo da crianccedila esquemas de aprendizagem que permitem traduzir oconjunto de coacutedigos ou semioacuteticas dominantes Por fim chama a atenccedilatildeo para a necessidade deanalisarmos o funcionamento da creche e o efeito da educaccedilatildeo infantil na constituiccedilatildeo dessecorpo que eacute modelado para atuar produtivamente de acordo com os ideais da sociedade capitalista

A sua grande contribuiccedilatildeo eacute indicar no espaccedilo da educaccedilatildeo uma perspectiva de que acrianccedila venha a aprender o que eacute a sociedade o que satildeo seus instrumentos (GUATTARI 1985p 54) para poder interferir de forma autocircnoma e criativa no mundo Aprender os coacutedigos e osmodos de funcionamento da sociedade na qual estaacute inserida pode ser importante para que acrianccedila tenha a possibilidade de desenvolver formas singulares de estar no mundo

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegico(a)s a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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UNIDADE II

UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA DO COTIDIANO ESCOLAR

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 4 DOS COLEacuteGI OS DA MODERNI DADE AgraveS ESCOLAS ATUAI S UMAANAacuteLI SE CRIacute TI CA DAS PRAacuteTI CAS COTI DI ANAS

Seguindo a linha de anaacutelise de nosso percurso iremosneste momento buscar os fios que nos permitem compreenderalguns elementos do cotidiano escolar como um espaccedilodisciplinar e controlador das subjetividades O estudo da origemdas praacuteticas educativas a partir dos coleacutegios do Seacuteculo XVIIIforneceu-nos os elementos que seratildeo aqui utilizados paraexercitarmos uma investigaccedilatildeo criacutetica da escola na atualidadeEsse exerciacutecio de reflexatildeo eacute fundamental para que possamosabrir novas portas e inventar outras praacuteticas da psicologia naescola

Com o objetivo de melhor sistematizar nosso trabalho deanaacutelise dividiremos a explanaccedilatildeo em seis itens a saber

1 As praacutet icas cot idianas conspiram cont ra a produccedilatildeoda autonomia e da autogestatildeo

Como jaacute estudamos anteriormente o poder de decisatildeofoi retirado do aluno quando da organizaccedilatildeo dos coleacutegios apartir do Seacuteculo XVIII sendo produzida uma ideacuteia de infacircnciafragilizada e portanto sem possibilidades de exercitar suaautonomia Eacute naturalizada uma concepccedilatildeo de aluno como umcorpo vazio a ser preenchido e modelado

As atividades nas escolas e na vida contemporacircnea passam a ser geridas por outrem -pelo supervisor pelo livro didaacutetico pelos programas governamentais (Escola Aberta Bolsa Escolae outros) - ou coordenadas por entidades como o Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem Aspraacuteticas de avaliaccedilatildeo se apresentam aos alunos como destituiacutedas de sentido Para os professoresessas praacuteticas representam mais uma etapa do processo sendo orientadas pela mesma loacutegica doplanejamento e das atividades contidas no livro didaacutetico Os principais atores sociais (alunos eprofessores) satildeo enfraquecidos no exerciacutecio do poder como sujeitos incapacitados de produzir aarticulaccedilatildeo entre praacuteticas e seus efeitos

Ilustraccedilatildeo de capa do livro O berccedilod a d es i g u a l d a d e de CristovamBuarque com fotos de SebastiatildeoSalgado

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lt Paulo Freiregt ao trabalhar o tema da autonomia no livroPedagogia da Aut onom ia (1996) estabelece a relaccedilatildeo entre oexerciacutecio da liberdade por parte do aluno e da autoridade peloeducador Aponta como fundamental para a construccedilatildeo da autonomiaa praacutetica da responsabilidade Segundo esse educador o educandoque exercita sua liberdade ficaraacute tatildeo mais livre quanto mais eticamentevaacute assumindo a responsabilidade de suas accedilotildees (p 104) mas essaautonomia somente se constitui quando desaparece a relaccedilatildeo dedependecircncia Continuando com o pensamento de Freire ele afirmaque

No fundo o essencial nas relaccedilotildees entre educador eeducando entre autoridade e liberdade entre pais matildeesfilhos filhas eacute a reinvenccedilatildeo do ser humano no aprendizadoda autonomia (FREIRE 1996 p 105)

O pensamento e a accedilatildeo autocircnomos natildeo se datildeo sem que sejamexplicitados os lugares de poder Por isso Paulo Freire fala da reinvenccedilatildeodo ser humano e mais do que isso da reinvenccedilatildeo das relaccedilotildees pedagoacutegicasque deveriam trocar a dependecircncia pela responsabilidade

2 O m odelo educat ivo dest itui os hom ens de sua condiccedilatildeo deprodutores do conhecim ento

A concepccedilatildeo de sujeito a-histoacuterico estaacute presente no contextoescolar onde o conhecimento eacute dado como objetivo e assumido comoverdade absoluta a ser aprendida A organizaccedilatildeo do saber hierarquicamentedisciplinado como nos mostrou Juacutelia Varella na aula anterior (Aula 3Unidade I) elimina a concepccedilatildeo de sujeito como produtor de conhecimentoOs processos de p e d a g o g i z a ccedilatilde o d o s co n h e ci m e n t o s e dedisciplinam ento interno dos saberes estatildeo presentes nas praacuteticaseducacionais atuais fazendo com que tanto alunos quanto professoressejam concebidos como meros coadjuvantes

Trata-se de um treino para o bom comportamento social valorizando o lugar do expectador daquele que natildeo interfere no andamentoda aula e que deve seguir agrave risca o que eacute ditado pelo planejamentomuitas vezes elaborado pelos especialistas da educaccedilatildeo A ausecircncia deuma implicaccedilatildeo dos alunos no processo de aprendizagem eacute consequumlecircnciadesse modelo de escola que somente legitima o conhecimento que eacuteproduzido fora de seu cotidiano A sala de aula eacute assim desumanizada edestituiacuteda de vida proacutepria O mesmo processo eacute vivido pelos educadoresque aprendem no exerciacutecio profissional a praticar e valorizar a obediecircncia

Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

Fo n t e Charge deClaudius Cecconpublicada no livroCu i d a d o Esco l a (p64)

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

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5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I240

A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I248

Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I250

3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I252

AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 13: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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na afirmaccedilatildeo de uma psique que se constroacutei a partir de uma visatildeo cultural em uma dimensatildeocomplexa e dialeacutetica Esse estudioso da psicologia aponta a obra de Vygotsky pouco valorizadano Ocidente ateacute muito recentemente como um marco na definiccedilatildeo do conceito de subjetividade

A psicanaacutelise e a psicologia soacutecio-histoacuterica de L Vygotsky e outras linhas de pensamentotecircm sido revistas em associaccedilatildeo com diversas aacutereas do conhecimento inaugurando um caminhointerdisciplinar

Nesses uacuteltimos trinta anos ainda as teorias comportamentais vecircm buscando sua renovaccedilatildeomediante o aprimoramento das teacutecnicas quantitativas de avaliaccedilatildeo de valores sociais e de programasde assistecircncia e e intervenccedilotildees no campo da cogniccedilatildeo e do treinamento comportamental

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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AULA 2 PSI COLOGI A E EDUCACcedilAtildeO NO BRASI L COMPROMI SSOS E ALI ANCcedilAS

Como vimos na aula anterior a constituiccedilatildeo da psicologia comociecircncia data de meados do Seacuteculo XIX com Wundt na AlemanhaNesse periacuteodo de mais de um seacuteculo de construccedilotildees teoacutericas eproposiccedilotildees praacuteticas constatamos a existecircncia de uma variedadede olhares sobre o homem e seu funcionamento psiacutequico Percebemosao longo da histoacuteria da psicologia que natildeo existe um pensamentouacutenico e que o contexto soacutecio-histoacuterico e a forma como o psicoacutelogopesquisador compreende o mundo e nele se insere seratildeo umimportantes fatores que determinaratildeo a proposta formulada

No Brasil assistiremos a um processo que segundo algunspsicoacutelogos brasileiros preocupados com a historiografia dessaciecircncia tem relaccedilatildeo com as experiecircncias de colonizaccedilatildeo eafirmaccedilatildeo dos interesses de uma classe dominante fortementemarcada por teorias racistas e eugecircnicas alimentadas pela obrade Charles Darwin e suas consequumlecircncias para o estudo dohomem O impulsionamento da psicologia como ciecircncia no Brasileacute relacionado a necessidades impostas pelo desenvolvimentourbano-industrial agraves novas formas de ocupaccedilatildeo das cidadesditadas pela Repuacuteblica e ao reordenamento da forccedila de trabalhona direccedilatildeo da escola preferencialmente profissionalizante

A constituiccedilatildeo da psicologia desde fins do Seacuteculo XIX e iniacuteciodo Seacuteculo XX deu-se em estreita articulaccedilatildeo com a educaccedilatildeo e amedicina podendo-se afirmar que a psicologia foi gerada no interiordessas duas aacutereas de conhecimento sendo nesses campos em quedesenvolveraacute seu projeto de autonomizaccedilatildeo como demonstra MitzukoAntunes em seu estudo a ltPsicologia no Brasil leitura histoacutericasobre sua constituiccedilatildeogt

A atuaccedilatildeo da psicologia junto agraves instituiccedilotildees de sauacutede noiniacutecio do Seacuteculo XX fez-se em nome do controle social com sentidopreventivista e eugecircnico A psiquiatria e o higienismo quecaracterizaram a medicina da eacutepoca clamaram pela participaccedilatildeo dapsicologia na detecccedilatildeo da anormalidade como tambeacutem na prevenccedilatildeo de problemas sociais quepoderiam advir relacionados agrave presenccedila das raccedilas que eram consideradas inferiores e que poderiamperturbar a ordem na vida urbana

A Liga Brasileira de Higiene Mental criada em 1920 representou de maneira radical essesideais tendo se colocado abertamente a favor do aperfeiccediloamento da raccedila (ariana) e contra osnegros e mesticcedilos que eram caracterizados pelas teorias racistas da eacutepoca como indolentesdegenerados preguiccedilosos e sujeitos a enfermidades por sua natureza e iacutendole Os princiacutepios da

Antes de prosseguir aleitura da aula volte agraveaula anterior e revejaquais as principaiscorrentes dapsicologia no processode sua construccedilatildeohistoacuterica

Dirija-se agrave bibliotecado Poacutelo Municipal deApoio Presencial e faccedilaa leitura dos capiacutetulos1 e 2 da Parte II dolivro de MitzukoAntunes (p 37-85)

Trabalhadores da Faacutebricade Tecidos Videira

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I224

higienizaccedilatildeo e da disciplinarizaccedilatildeo da sociedade iratildeo caracterizar o trabalho nas instituiccedilotildeespsiquiaacutetricas preocupadas com uma intervenccedilatildeo para aleacutem do encarceramento da loucura

Apesar da diversidade de pesquisas que se desenvolviam em outros paiacuteses no Brasil ainfluecircncia da pesquisa experimental baseada na psicometria ocorreu de forma hegemocircnica ateacute

pelo menos a deacutecada de 1980

Nas instituiccedilotildees educacionais a preocupaccedilatildeo central era com o analfabetismo e a falta deinstruccedilatildeo do povo brasileiro em um paiacutes em franco desenvolvimento e requisitando uma matildeo-de-obra conhecedora pelo menos da leitura e da escrita Vaacuterios movimentos pela difusatildeo e ampliaccedilatildeoda escola puacuteblica e gratuita surgiram no paiacutes mostrando diferentes ideais de sociedade que vatildeodesde a preparaccedilatildeo para o trabalho ateacute uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo como emancipadora dopovo em uma luta contra a opressatildeo colonialista Nesse quadro a demanda dos profissionais daeducaccedilatildeo no sentido de construir uma pedagogia moderna e cientiacutefica fez da psicologia seuprincipal ponto de sustentaccedilatildeo uma vez que fornecia as bases de conhecimento sobre osindiviacuteduos o processo de desenvolvimento psiacutequico as vocaccedilotildees emoccedilotildees e a organizaccedilatildeo dapersonalidade

A preocupaccedilatildeo com o indiviacuteduo e com as teacutecnicas que pudessem instrumentalizar a praacuteticaeducativa fez surgir no Brasil no iniacutecio do Seacuteculo XX uma seacuterie de Laboratoacuterios e Institutosvoltados para a pesquisa psicoloacutegica destacando-se o Pedagogium depois transformado emLaboratoacuterio de Psicologia Experimental no Rio de Janeiro o Instituto de Psicologia de Pernambucoa Escola de Aperfeiccediloamento Pedagoacutegico de Belo Horizonte e o Laboratoacuterio de PedagogiaExperimental de Satildeo Paulo Nesse periacuteodo surgem as Escolas Normais encarregadas da formaccedilatildeode professores

No processo de constituiccedilatildeo cientiacutefica da pedagogia e de afirmaccedilatildeo da psicologia oslaboratoacuterios e institutos de pesquisa vatildeo sendo incorporados a essas escolas A instalaccedilatildeo desalas de exame psicoloacutegico e de afericcedilatildeo antropomeacutetrica seguia a demanda de higienizaccedilatildeo dapopulaccedilatildeo vigente na eacutepoca e era inspirada nas pesquisas trazidas da Europa e dos EUA queprivilegiavam a psicometria de modo geral Apesar da pouca inserccedilatildeo nas escolas oficiais essapraacutetica serviu para difundir e legitimar o discurso cientiacutefico utilizado para explicar a localizaccedilatildeo decada indiviacuteduo na estrutura social A existecircncia de diferenccedilas individuais era o principal argumentodesse discurso sendo desconsideradas desse esquema de causalidade as imposiccedilotildees da sociedadecapitalista industrial e sua principal base que eacute a divisatildeo em classes sociais com chances epossibilidades desiguais

Em um estudo sobre a disciplina na sociedade moderna em que analisa o funcionamento doGabinete de Antropologia e Psicologia Pedagoacutegica de Satildeo Paulo Marta Carvalho afirma

Neste horizonte criteacuterios raciais nem sempre explicitados traccedilavam os limitesdas boas intenccedilotildees republicanas operando a distinccedilatildeo entre populaccedilotildeeseducaacuteveis capazes portanto de cidadania e populaccedilotildees em que o peso dahereditariedade (leia-se raccedila ) era a marca de um destino que a educaccedilatildeo

era incapaz de alterar (CARVALHO 2006 p 299)

A partir da deacutecada de 1920 e principalmente de 1930 o ideaacuterio escolanovista baseadonos princiacutepios da modernidade fez-se mais presente na educaccedilatildeo brasileira mobilizando os

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educadores na luta contra os elevados iacutendices de repetecircncia eevasatildeo na escola puacuteblica A educaccedilatildeo era compreendida comoa base de uma sociedade saudaacutevel que precisava ser moralmentepreparada para o trabalho

Os novos intelectuais se uniram em torno da crenccedila de que a sauacutede e a educaccedilatildeo eramfatores capazes de promover a necessaacuteria regeneraccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira A preocupaccedilatildeocom o rendimento na escola promoveu a incorporaccedilatildeo do ltmodelo tayloristagt de produccedilatildeofabril afirmando na educaccedilatildeo as posiccedilotildees tecnicistas norteadas pela eficiecircncia e eficaacutecia dasaccedilotildees No trecho abaixo Maria Helena de Souza Patto (2003) expressa o significado dainfluecircncia desse modelo produtivo na educaccedilatildeo ao identificar um vieacutes adaptacionista naproduccedilatildeo em seacuterie de alunos perfeitamente adaptados aos diferentes lugares que lhes seratildeo

destinados numa realidade social inquestionada

Eis a via da naturalizaccedilatildeo da desigualdade que temorigem na maneira como a sociedade se estrutura maseacute lida como diferenccedila bioloacutegica ou psicoloacutegica deaptidatildeo intelectual entre grupos e indiviacuteduos (PATTO2003 p 33)

O movimento chamado Escola Nova esboccedilou-se na deacutecada de 1920 no Brasil

O mundo vivia agrave eacutepoca um momento de crescimento industrial e de expansatildeourbana e nesse contexto um grupo de intelectuais brasileiros sentiu necessidadede preparar o paiacutes para acompanhar esse desenvolvimento A educaccedilatildeo era poreles percebida como o elemento-chave para promover a remodelaccedilatildeo requerida

Inspirados nas ideacuteias poliacutetico-filosoacuteficas de igualdade entre os homens e do direitode todos agrave educaccedilatildeo esses intelectuais viam num sistema estatal de ensinopuacuteblico livre e aberto o uacutenico meio efetivo de combate agraves desigualdades sociaisda naccedilatildeoDenominado de Escola Nova o movimento ganhou impulso na deacutecada de 1930apoacutes a divulgaccedilatildeo do lt Manifesto da Escola Novagt (1932) Nesse documentodefendia-se a universalizaccedilatildeo da escola puacuteblica laica e gratuita Entre os seussignataacuterios destacavam-se os nomes de Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo

Lourenccedilo Filho e Ceciacutelia Meireles

Para ler o Manifesto dosPioneiros acessewwwpedagogiaemfocoprobrheb07ahtm

O americano lt Freder ick Taylorgt considerado o pai da organizaccedilatildeo cientiacutefica dotrabalho propocircs um modelo de produccedilatildeo industrial aliando eficaacutecia e eficiecircnciaSua preocupaccedilatildeo era com o sistema produtivo e natildeo com o homem negando aotrabalhador qualquer manifestaccedilatildeo criativa ou participaccedilatildeo O ideaacuterio tayloristafoi transposto para a educaccedilatildeo promovendo uma valorizaccedilatildeo do tecnicismo tendocomo efeitos a fragmentaccedilatildeo e a hierarquizaccedilatildeo do ensino e do conhecimento

Dirija-se ao PMAP pararealizar a leitura do texto Oque a h ist oacuter ia pode dizerso b r e a p r o f i ssatilde o d op si coacute l o g o a r e l a ccedilatilde opsicologia e educaccedilatildeo deMaria Helena de S Patto nolivro P si co l o g i a ecompromisso social

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Associada agrave escola nova a psicologia continuou fornecendo os subsiacutedios cientiacuteficos para oconhecimento das possibilidades individuais e das dificuldades escolares natildeo mais identificadascomo efeito da hereditariedade e da raccedila mas da organizaccedilatildeo e dos haacutebitos familiares e doambiente soacutecio-cultural Manteacutem-se a utilizaccedilatildeo dos instrumentos de avaliaccedilatildeo psicoloacutegica cadavez mais associada agrave pesquisa sobre o fracasso escolar e centrada no aluno e nos processos deaprendizagem

Na deacutecada de 1950 amplia-se para aleacutem do aluno o campo de pesquisa educacional praticadaprincipalmente nos institutos ligados ao governo que tinham em seus quadros o psicoacutelogoLourenccedilo Filho um dos precursores do escolanovismo A escola reafirmava sua posiccedilatildeo comoelemento fundamental no desenvolvimento da sociedade e era defendida enquanto prioridade nademocratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo e das chances oferecidas aos sujeitos

O periacuteodo de 1960 ateacute meados da deacutecada de 1970 tem como o eixo principal a Teoria doCapital Humano Em estudo sobre essa teoria e sua influecircncia no modelo educacional brasileiroGaudecircncio Frigotto em seu livro A produtividade da escola improdutiva afirma que

Do ponto de vista macroeconocircmico o investimento no fator humano passa asignificar um dos determinantes baacutesicos para o aumento da produtividade eelemento de superaccedilatildeo do atraso econocircmico Do ponto de vistamicroeconocircmico constitui-se no fator explicativo das diferenccedilas individuais deprodutividade e renda e consequumlentemente de mobilidade social (FRIGOTTO1984 p 172)

Comungando com os interesses do ltregime militargt vigentenesse periacuteodo a psicologia voltou-se ainda mais para a avaliaccedilatildeodas capacidades e habilidades psiacutequicas associadas ao investimentoindividual e ao rendimento escolar

Nos proacuteximos anos (a partir de 1970) a Teoria da CarecircnciaCultural de origem norte-americana iria influenciar a pesquisa sobreo fracasso escolar colaborando com a construccedilatildeo de um discursoque mantinha a linha de causalidade que culpava o aluno por seuinsucesso na escola Um dos aspectos principais dessa teoria eacute aafirmaccedilatildeo de que a escola eacute inadequada agraves caracteriacutesticas psiacutequicasda crianccedila pobre Esta teoria parte da existecircncia de um supostodeacuteficit considerado natural na populaccedilatildeo pobre o qual impede queas crianccedilas aproveitem as oportunidades oferecidas pela sociedadeA desigualdade social produto da sociedade cindida em classes e obaixo desempenho na escola e no trabalho satildeo ltnaturalizadosgtcom a participaccedilatildeo ativa dos elementos cientiacuteficos emprestados pelapsicologia

Eacute a partir do final dessa deacutecada de 1970 e de modo maispotente na deacutecada de 1980 que comeccedilam a ser construiacutedos outrosespaccedilos de reflexatildeo e de praacuteticas que significaratildeo a abertura denovos caminhos tanto na educaccedilatildeo quanto na psicologia Inaugura-se uma possibilidade de anaacutelise criacutetica do sistema educacionalapontando relaccedilotildees com a estrutura soacutecio-econocircmica vigente que

Alguns ditos popularesservem para esteprocesso fazendo comuma afirmaccedilatildeo sejacompreendida comon a t u r a l inquestionaacutevel

Q u e m t r a b a l h asem pre alcanccedila

O trabalho enobreceo hom em

A cada um segundosuas possibilidades

Ouccedila a muacutesica M e uca r o a m i g o composta por ChicoBuarque de Holandadurante seu exiacutelio naFranccedila Para issouti l ize ocd-rom doAprendente

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alavancam uma criacutetica da psicologia sobre si mesma Satildeo os novos tempos do fim da ditaduramilitar e da democratizaccedilatildeo no Brasil

Eacute a partir de meados da deacutecada de 1980 que a pesquisa em psicologia comeccedila a tentarromper com as alianccedilas que a constituiacuteram como base do discurso eugecircnico higienista e nosuacuteltimos anos pelo menos preconceituoso

No campo da pesquisa ressaltam-se os trabalhos de MariaHelena Sousa Patto que afirma o compromisso ideoloacutegico da psicologiacom os ideais das classes dominantes montando teorias que servissempara explicar as desigualdades sociais (1984) inaugurando um campode criacutetica importante para as posteriores investigaccedilotildees teoacutericas eintervenccedilotildees educacionais Em estudo posterior Patto nos permiteavanccedilar na compreensatildeo do fracasso escolar como uma produccedilatildeosocial e natildeo como decorrecircncia de problemas individuais proacuteprios dapobreza inaugurando uma forte criacutetica agrave lt Teoria da CarecircnciaCultural (1990)gt

Mesmo anunciando esse caminho de construccedilatildeo de umapsicologia criacutetica e baseada em compromissos sociais eacute importanteque se tenha claro que ainda vigoram nas escolas e na sociedadevaacuterias afirmaccedilotildees que se assentam nos trilhos da Teoria da CarecircnciaCultural Essas ideacuteias penetram com muita facilidade no cotidiano daescola e nos debates do senso comum uma vez que coincidem com anecessidade de predomiacutenio dos princiacutepios da sociedade capitalistapor meio de um discurso hegemocircnico

Por isso CUIDADO Sinal Vermelho Na proacutexima Unidadevoltaremos a esses caminhos e agraves proposiccedilotildees e intervenccedilotildees praacuteticasda psicologia daiacute decorrentes Esse procedimento pode contribuirpara que vocecirc nosso aprendente venha a diferenciar praacuteticas ediscursos e reconhecer a que visatildeo de homem de mundo e desociedade estatildeo servindo

Antes poreacutem de dar esse passo em nossa trilha iremos analisar os processos de construccedilatildeodo conhecimento enquanto marcados pelo exerciacutecio do poder que se efetivam no cotidianoescolar trazendo a disciplina como questatildeo teoacuterica e sua gecircnese como objeto de estudo

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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A Teoria da CarecircnciaCultural fois u f i c i e n t e m e n t einvestigada por MariaHelena Sousa Pattoprincipalmente em trecircspublicaccedilotildees Psicologiae I d eo l o g i a u m ai n t r o d u ccedilatildeo c r iacutet i ca agravep s i co l o g i a esco l a r(1984) A produccedilatildeo dof r acasso esco l a r histoacuter ias de subm issatildeoe rebeldia (1990) e notexto Para um a criacutet icada razatildeo psicom eacutet r icapublicado no l ivroMutaccedilotildees do cativeiro(2000 p 5)

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AULA 3 CONHECI MENTO SABER E PODER UM OLHAR SOBRE A I NFAcircNCI AESCOLARIZADA

Ateacute esta etapa de nosso caminho estudamos a construccedilatildeo das teorias psicoloacutegicas e ahistoacuteria da articulaccedilatildeo entre a psicologia a medicina e a pedagogia no Brasil constituindoalianccedilas em nome de uma abordagem cientiacutefica dos problemas educacionais

A partir de agora promoveremos outro tipo de investigaccedilatildeo para que seja possiacutevel umamaior compreensatildeo do cotidiano escolar com base na anaacutelise das praacuteticas educativas e dasrelaccedilotildees sociais que se estabelecem entre alunos profissionais e comunidades

Nosso ponto de partida seratildeo os estudos de Philippe Ariegraves publicados no livro Histoacuteriasocial da infacircncia e da fam iacutelia que demonstram o surgimento das instituiccedilotildees educativas namodernidade caracterizadas por dar sentido a uma infacircncia que passa a ser vista como naturalmentefraacutegil A educaccedilatildeo impositiva moralizante e disciplinadora se justifica pela necessidade de formaros sujeitos que a sociedade comeccedila a conceber como corpos que necessitam de cuidados porquesatildeo deacutebeis e fracos Ariegraves parte da ideacuteia de que esse sentimento de infacircncia tem origem com aemergecircncia da sociedade burguesa e eacute fortalecido pela accedilatildeo dos jesuiacutetas

Para melhor compreender os efeitos da educaccedilatildeo na constituiccedilatildeo dessa infacircncia podemosrecorrer ao filoacutesofo francecircs Michel Foucault quando ele aponta em seu livro Microfiacutesica do Poder(1979) que a disciplina eacute uma teacutecnica de exerciacutecio de poder que foi natildeo inteiramente inventadamas elaborada em seus princiacutepios fundamentais durante o seacuteculo XVIII (p 105) O autor nosentido de melhor esclarecer a origem da disciplina nas sociedades ocidentais afirma que essa eacuteuma arte de distribuiccedilatildeo dos homens no espaccedilo baseada na individualizaccedilatildeo dos corpos (p

105) A disciplina que se exerce sobre cada corpo isoladamente eacute uma praacutetica que permite aclassificaccedilatildeo dos sujeitos observados e controlados A vigilacircncia deve ser permanente para que adisciplina seja conseguida

Foucault ressalta a importacircncia das praacuteticas de exame (provas avaliaccedilotildees) e de penalizaccedilatildeoou castigo como formas de fazer com que os sujeitos internalizem o poder Quanto mais a morale a disciplina forem sentidas como necessaacuterias agrave existecircncia humana mais sucesso teraacute o processode disciplinamento e controle social A citaccedilatildeo a seguir sintetiza a anaacutelise de Foucault sobre essetema

Escola s n a h ist oacuter ia da h um a nida de

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A disciplina eacute o conjunto de teacutecnicas pelas quais os sistemas de poder vatildeo terpor alvo e resultado os indiviacuteduos em sua singularidade Eacute o poder deindividualizaccedilatildeo que tem o exame como instrumento fundamental O exame eacutea vigilacircncia permanente classificatoacuteria que permite distribuir os indiviacuteduosjulgaacute-los medi-los localizaacute-los e por conseguinte utilizaacute-los ao maacuteximo(FOUCAULT 1979 p107)

Retomando as contribuiccedilotildees de Philippe Ariegraves vimos que a modernidade instaura umaseparaccedilatildeo entre o mundo dos adultos e das crianccedilas e para tanto organiza novas formas eespaccedilos de educaccedilatildeo Os coleacutegios (educaccedilatildeo em preacutedios fechados) o mobiliaacuterio (bancos escolaresbirocirc etc) a separaccedilatildeo em classes (inicialmente por conhecimento e mais recentemente poridades e ainda por localizaccedilatildeo na estrutura social) satildeo intervenccedilotildees protagonizadas desde oSeacuteculo XV ateacute os dias de hoje com o objetivo de instruir e moralizar a sociedade

A ideacuteia de que a infacircncia eacute uma produccedilatildeo social natildeo eacute mais novidade para noacutes Temosdebatido durante nosso percurso que o sentimento que hoje temos com relaccedilatildeo agrave infacircnciaapareceu no momento em que a famiacutelia burguesa se distinguiu como elemento central da sociedadecom a preocupaccedilatildeo de formar homens honrados e moralmente constituiacutedos A sociedade maisespecificamente a igreja catoacutelica comeccedila a valorizar a propriedade de bens centrada nas matildeosde nuacutecleos familiares A famiacutelia volta-se para si mesma resguardando seus membros exigindoassim uma educaccedilatildeo rigorosa dos herdeiros

A partir dessas colocaccedilotildees sobre uma disciplina (escolar) que eacute exigida para que a sociedadeexerccedila controle sobre os homens podemos ainda aceitar a ideacuteia de que os conhecimentossaberes ministrados nos coleacutegios foram igualmente objetos de disciplinarizaccedilatildeo isto eacute de umaintervenccedilatildeo para que servissem aos interesses da reforma moral cristatilde e depois laica (SeacuteculoXVIII)

Juacutelia Varella no texto intitulado O estatuto do saber pedagoacutegico (publicado em O sujeitoda Educaccedilatildeo 4 ed 2000) identifica na passagem do Renascimento para a Modernidade umapedagogizaccedilatildeo dos conhecimentos que significa um novo ordenamento dos saberes de acordocom os interesses moralizantes e disciplinadores que emanam da igreja catoacutelica e dos coleacutegiosjesuiacutetas Conforme demonstra essa autora

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O olhar invisiacutevel podeser representado peloPanopticon de Benthanque permite ver tudosem ser visto produzindono aluno a disciplina pelomedo do exame e docastigo

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Para levar adiante seu projeto de formaccedilatildeo de bons cristatildeos os mestresjesuiacutetas natildeo apenas reforccedilaram o estatuto conferido agrave infacircncia com a opccedilatildeode educaacute-la em espaccedilos fechados nos coleacutegios mas sentiram tambeacutem anecessidade de controlar os saberes que iam transmitir e de organizar essessaberes de tal forma que se adequassem agraves supostas capacidades infantis(VARELLA 2000 apud SILVA 1994 p 88)

Os mestres jesuiacutetas se converteram em autoridades maacuteximas exercendo um poder sobreseus alunos retirando toda a possibilidade vivenciada na Idade Meacutedia de autonomia no estudoForam desenvolvidas estrateacutegias e teacutecnicas que tinham como objetivo dirigir ao conhecimento omesmo sentido moralizante que vinha sendo dado agrave formaccedilatildeo dos alunos A disciplina e a ordemnas salas de aula passaram a ser elementos necessaacuterios nesse processo de penalizaccedilatildeo emoralizaccedilatildeo

Em segundo lugar Juacutelia Varella reconhece a existecircncia de um processo que se daacute no interiorda produccedilatildeo do conhecimento o disciplinamento interno dos saberes eliminando o que eraconsiderado como saberes inuacuteteis segundo as normas de moralizaccedilatildeo e reordenando umacomunicaccedilatildeo entre esses retirando-lhes a forccedila e a intensidade Nesse processo eacute importanteque se promova ainda uma classificaccedilatildeo e hierarquizaccedilatildeo entre os saberes promovendo umacentralizaccedilatildeo de cima para baixo As fronteiras entre a histoacuteria a geografia e a sociologia foramtraccediladas por exemplo pela humanidade assim como a orientaccedilatildeo no processo de ensino-aprendizagem do que deve ser ensinado primeiro e qual saber eacute mais nobre isto eacute que deveocupar o topo de todos os conhecimentos

Os processos que foram aos poucos se instaurando apartir do Seacuteculo XVI produziram censura e controle e mais doque isso devido agraves divisotildees impostas que delimitavam as aacutereasde saberes (conhecimentos) buscavam eliminar a ideacuteia dohomem universal acentuando a possibilidade de tornar doacuteceisos corpos (os sujeitos) mediante essa praacutetica disciplinar impostana produccedilatildeo dos saberes Se anteriormente na Idade Meacutedia oaluno detinha um poder sobre o que queria aprender e ondebuscar o conhecimento na era da modernidade essapossibilidade passa a ser inexistente O aluno perde o poder sobre seus caminhos passando a sercompreendido como um mero elemento de transmissatildeo de conhecimento Natildeo mais pode escolhero que deve ser aprendido tampouco o ritmo desse aprendizado ou o que fazer do conhecimentoadquirido A grade de disciplinas hoje tatildeo naturalmente absorvida por todos noacutes em qualquercurso eacute uma produccedilatildeo social e serve a esses interesses de tornar doacutecil o corpo a ser disciplinadoAprendemos esse ordenamento dos saberes e passamos a respeitaacute-los como se fossemincontestaacuteveis naturais e acima de tudo necessaacuterios

Michel Foucault jaacute citado anteriormente reconhece nesse processo a emergecircncia dasociedade disciplinar que funciona confinando aprisionando os homens agraves escolas agraves prisotildeesagraves igrejas aos hospitais agraves faacutebricas etc

Os processos descritos acima por Juacutelia Varella podem ser reconhecidos ateacute hoje nas praacuteticasescolares Poreacutem com a intervenccedilatildeo das miacutedias e dos novos equipamentos sociais jaacute se pode

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identificar um controle que natildeo mais iraacute somente confinar isolar os estudantes nas escolas osloucos nos asilos e os empregados nas faacutebricas para que sejam produtivos

Trata-se da emergecircncia da sociedade de controle que atua de forma contiacutenua Entramem accedilatildeo a TV os microcomputadores e os celulares que permitem conhecer e conectar o mundoa partir de um uacutenico lugar Satildeo maacutequinas que iratildeo estruturar a vida organizando uma subjetividadedo consumo e da informaccedilatildeo Mas como relacionar esse processo aos domiacutenios da escola

Aqui lanccedilaremos matildeo de outro escritor francecircs Feacutelix Guattari (1985) que no estudo Ascreches e a iniciaccedilatildeo publicado no livro intitulado Revoluccedilotildees Moleculares mostra-nos osefeitos do processo de iniciaccedilatildeo das crianccedilas agrave loacutegica capitalista O autor se refere agrave produccedilatildeode modos de viver pensar e sentir que estariam em consonacircncia com os mais novos modos deproduccedilatildeo material na sociedade capitalista industrial Denomina como aparelhos de semiotizaccedilatildeoos viacutedeo-games CD-rom etc Esses aparelhos passam a dar o sentido dos modos de existecircncia

Guattari (1985) indica que as crianccedilas estatildeo sendo iniciadas cada vez mais cedo nossistemas de representaccedilatildeo e nos valores do capitalismo que produzem uma modelagem adequadaaos coacutedigos utilizados em nosso cotidiano Aponta como importante o fato de que se mobilizamno processo de formaccedilatildeo da crianccedila esquemas de aprendizagem que permitem traduzir oconjunto de coacutedigos ou semioacuteticas dominantes Por fim chama a atenccedilatildeo para a necessidade deanalisarmos o funcionamento da creche e o efeito da educaccedilatildeo infantil na constituiccedilatildeo dessecorpo que eacute modelado para atuar produtivamente de acordo com os ideais da sociedade capitalista

A sua grande contribuiccedilatildeo eacute indicar no espaccedilo da educaccedilatildeo uma perspectiva de que acrianccedila venha a aprender o que eacute a sociedade o que satildeo seus instrumentos (GUATTARI 1985p 54) para poder interferir de forma autocircnoma e criativa no mundo Aprender os coacutedigos e osmodos de funcionamento da sociedade na qual estaacute inserida pode ser importante para que acrianccedila tenha a possibilidade de desenvolver formas singulares de estar no mundo

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegico(a)s a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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UNIDADE II

UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA DO COTIDIANO ESCOLAR

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 4 DOS COLEacuteGI OS DA MODERNI DADE AgraveS ESCOLAS ATUAI S UMAANAacuteLI SE CRIacute TI CA DAS PRAacuteTI CAS COTI DI ANAS

Seguindo a linha de anaacutelise de nosso percurso iremosneste momento buscar os fios que nos permitem compreenderalguns elementos do cotidiano escolar como um espaccedilodisciplinar e controlador das subjetividades O estudo da origemdas praacuteticas educativas a partir dos coleacutegios do Seacuteculo XVIIIforneceu-nos os elementos que seratildeo aqui utilizados paraexercitarmos uma investigaccedilatildeo criacutetica da escola na atualidadeEsse exerciacutecio de reflexatildeo eacute fundamental para que possamosabrir novas portas e inventar outras praacuteticas da psicologia naescola

Com o objetivo de melhor sistematizar nosso trabalho deanaacutelise dividiremos a explanaccedilatildeo em seis itens a saber

1 As praacutet icas cot idianas conspiram cont ra a produccedilatildeoda autonomia e da autogestatildeo

Como jaacute estudamos anteriormente o poder de decisatildeofoi retirado do aluno quando da organizaccedilatildeo dos coleacutegios apartir do Seacuteculo XVIII sendo produzida uma ideacuteia de infacircnciafragilizada e portanto sem possibilidades de exercitar suaautonomia Eacute naturalizada uma concepccedilatildeo de aluno como umcorpo vazio a ser preenchido e modelado

As atividades nas escolas e na vida contemporacircnea passam a ser geridas por outrem -pelo supervisor pelo livro didaacutetico pelos programas governamentais (Escola Aberta Bolsa Escolae outros) - ou coordenadas por entidades como o Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem Aspraacuteticas de avaliaccedilatildeo se apresentam aos alunos como destituiacutedas de sentido Para os professoresessas praacuteticas representam mais uma etapa do processo sendo orientadas pela mesma loacutegica doplanejamento e das atividades contidas no livro didaacutetico Os principais atores sociais (alunos eprofessores) satildeo enfraquecidos no exerciacutecio do poder como sujeitos incapacitados de produzir aarticulaccedilatildeo entre praacuteticas e seus efeitos

Ilustraccedilatildeo de capa do livro O berccedilod a d es i g u a l d a d e de CristovamBuarque com fotos de SebastiatildeoSalgado

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lt Paulo Freiregt ao trabalhar o tema da autonomia no livroPedagogia da Aut onom ia (1996) estabelece a relaccedilatildeo entre oexerciacutecio da liberdade por parte do aluno e da autoridade peloeducador Aponta como fundamental para a construccedilatildeo da autonomiaa praacutetica da responsabilidade Segundo esse educador o educandoque exercita sua liberdade ficaraacute tatildeo mais livre quanto mais eticamentevaacute assumindo a responsabilidade de suas accedilotildees (p 104) mas essaautonomia somente se constitui quando desaparece a relaccedilatildeo dedependecircncia Continuando com o pensamento de Freire ele afirmaque

No fundo o essencial nas relaccedilotildees entre educador eeducando entre autoridade e liberdade entre pais matildeesfilhos filhas eacute a reinvenccedilatildeo do ser humano no aprendizadoda autonomia (FREIRE 1996 p 105)

O pensamento e a accedilatildeo autocircnomos natildeo se datildeo sem que sejamexplicitados os lugares de poder Por isso Paulo Freire fala da reinvenccedilatildeodo ser humano e mais do que isso da reinvenccedilatildeo das relaccedilotildees pedagoacutegicasque deveriam trocar a dependecircncia pela responsabilidade

2 O m odelo educat ivo dest itui os hom ens de sua condiccedilatildeo deprodutores do conhecim ento

A concepccedilatildeo de sujeito a-histoacuterico estaacute presente no contextoescolar onde o conhecimento eacute dado como objetivo e assumido comoverdade absoluta a ser aprendida A organizaccedilatildeo do saber hierarquicamentedisciplinado como nos mostrou Juacutelia Varella na aula anterior (Aula 3Unidade I) elimina a concepccedilatildeo de sujeito como produtor de conhecimentoOs processos de p e d a g o g i z a ccedilatilde o d o s co n h e ci m e n t o s e dedisciplinam ento interno dos saberes estatildeo presentes nas praacuteticaseducacionais atuais fazendo com que tanto alunos quanto professoressejam concebidos como meros coadjuvantes

Trata-se de um treino para o bom comportamento social valorizando o lugar do expectador daquele que natildeo interfere no andamentoda aula e que deve seguir agrave risca o que eacute ditado pelo planejamentomuitas vezes elaborado pelos especialistas da educaccedilatildeo A ausecircncia deuma implicaccedilatildeo dos alunos no processo de aprendizagem eacute consequumlecircnciadesse modelo de escola que somente legitima o conhecimento que eacuteproduzido fora de seu cotidiano A sala de aula eacute assim desumanizada edestituiacuteda de vida proacutepria O mesmo processo eacute vivido pelos educadoresque aprendem no exerciacutecio profissional a praticar e valorizar a obediecircncia

Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

Fo n t e Charge deClaudius Cecconpublicada no livroCu i d a d o Esco l a (p64)

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

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5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I238

AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I240

A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I242

que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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Aula 4 Aula 5 Aula 6

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I244

frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I246

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I248

Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 14: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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AULA 2 PSI COLOGI A E EDUCACcedilAtildeO NO BRASI L COMPROMI SSOS E ALI ANCcedilAS

Como vimos na aula anterior a constituiccedilatildeo da psicologia comociecircncia data de meados do Seacuteculo XIX com Wundt na AlemanhaNesse periacuteodo de mais de um seacuteculo de construccedilotildees teoacutericas eproposiccedilotildees praacuteticas constatamos a existecircncia de uma variedadede olhares sobre o homem e seu funcionamento psiacutequico Percebemosao longo da histoacuteria da psicologia que natildeo existe um pensamentouacutenico e que o contexto soacutecio-histoacuterico e a forma como o psicoacutelogopesquisador compreende o mundo e nele se insere seratildeo umimportantes fatores que determinaratildeo a proposta formulada

No Brasil assistiremos a um processo que segundo algunspsicoacutelogos brasileiros preocupados com a historiografia dessaciecircncia tem relaccedilatildeo com as experiecircncias de colonizaccedilatildeo eafirmaccedilatildeo dos interesses de uma classe dominante fortementemarcada por teorias racistas e eugecircnicas alimentadas pela obrade Charles Darwin e suas consequumlecircncias para o estudo dohomem O impulsionamento da psicologia como ciecircncia no Brasileacute relacionado a necessidades impostas pelo desenvolvimentourbano-industrial agraves novas formas de ocupaccedilatildeo das cidadesditadas pela Repuacuteblica e ao reordenamento da forccedila de trabalhona direccedilatildeo da escola preferencialmente profissionalizante

A constituiccedilatildeo da psicologia desde fins do Seacuteculo XIX e iniacuteciodo Seacuteculo XX deu-se em estreita articulaccedilatildeo com a educaccedilatildeo e amedicina podendo-se afirmar que a psicologia foi gerada no interiordessas duas aacutereas de conhecimento sendo nesses campos em quedesenvolveraacute seu projeto de autonomizaccedilatildeo como demonstra MitzukoAntunes em seu estudo a ltPsicologia no Brasil leitura histoacutericasobre sua constituiccedilatildeogt

A atuaccedilatildeo da psicologia junto agraves instituiccedilotildees de sauacutede noiniacutecio do Seacuteculo XX fez-se em nome do controle social com sentidopreventivista e eugecircnico A psiquiatria e o higienismo quecaracterizaram a medicina da eacutepoca clamaram pela participaccedilatildeo dapsicologia na detecccedilatildeo da anormalidade como tambeacutem na prevenccedilatildeo de problemas sociais quepoderiam advir relacionados agrave presenccedila das raccedilas que eram consideradas inferiores e que poderiamperturbar a ordem na vida urbana

A Liga Brasileira de Higiene Mental criada em 1920 representou de maneira radical essesideais tendo se colocado abertamente a favor do aperfeiccediloamento da raccedila (ariana) e contra osnegros e mesticcedilos que eram caracterizados pelas teorias racistas da eacutepoca como indolentesdegenerados preguiccedilosos e sujeitos a enfermidades por sua natureza e iacutendole Os princiacutepios da

Antes de prosseguir aleitura da aula volte agraveaula anterior e revejaquais as principaiscorrentes dapsicologia no processode sua construccedilatildeohistoacuterica

Dirija-se agrave bibliotecado Poacutelo Municipal deApoio Presencial e faccedilaa leitura dos capiacutetulos1 e 2 da Parte II dolivro de MitzukoAntunes (p 37-85)

Trabalhadores da Faacutebricade Tecidos Videira

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higienizaccedilatildeo e da disciplinarizaccedilatildeo da sociedade iratildeo caracterizar o trabalho nas instituiccedilotildeespsiquiaacutetricas preocupadas com uma intervenccedilatildeo para aleacutem do encarceramento da loucura

Apesar da diversidade de pesquisas que se desenvolviam em outros paiacuteses no Brasil ainfluecircncia da pesquisa experimental baseada na psicometria ocorreu de forma hegemocircnica ateacute

pelo menos a deacutecada de 1980

Nas instituiccedilotildees educacionais a preocupaccedilatildeo central era com o analfabetismo e a falta deinstruccedilatildeo do povo brasileiro em um paiacutes em franco desenvolvimento e requisitando uma matildeo-de-obra conhecedora pelo menos da leitura e da escrita Vaacuterios movimentos pela difusatildeo e ampliaccedilatildeoda escola puacuteblica e gratuita surgiram no paiacutes mostrando diferentes ideais de sociedade que vatildeodesde a preparaccedilatildeo para o trabalho ateacute uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo como emancipadora dopovo em uma luta contra a opressatildeo colonialista Nesse quadro a demanda dos profissionais daeducaccedilatildeo no sentido de construir uma pedagogia moderna e cientiacutefica fez da psicologia seuprincipal ponto de sustentaccedilatildeo uma vez que fornecia as bases de conhecimento sobre osindiviacuteduos o processo de desenvolvimento psiacutequico as vocaccedilotildees emoccedilotildees e a organizaccedilatildeo dapersonalidade

A preocupaccedilatildeo com o indiviacuteduo e com as teacutecnicas que pudessem instrumentalizar a praacuteticaeducativa fez surgir no Brasil no iniacutecio do Seacuteculo XX uma seacuterie de Laboratoacuterios e Institutosvoltados para a pesquisa psicoloacutegica destacando-se o Pedagogium depois transformado emLaboratoacuterio de Psicologia Experimental no Rio de Janeiro o Instituto de Psicologia de Pernambucoa Escola de Aperfeiccediloamento Pedagoacutegico de Belo Horizonte e o Laboratoacuterio de PedagogiaExperimental de Satildeo Paulo Nesse periacuteodo surgem as Escolas Normais encarregadas da formaccedilatildeode professores

No processo de constituiccedilatildeo cientiacutefica da pedagogia e de afirmaccedilatildeo da psicologia oslaboratoacuterios e institutos de pesquisa vatildeo sendo incorporados a essas escolas A instalaccedilatildeo desalas de exame psicoloacutegico e de afericcedilatildeo antropomeacutetrica seguia a demanda de higienizaccedilatildeo dapopulaccedilatildeo vigente na eacutepoca e era inspirada nas pesquisas trazidas da Europa e dos EUA queprivilegiavam a psicometria de modo geral Apesar da pouca inserccedilatildeo nas escolas oficiais essapraacutetica serviu para difundir e legitimar o discurso cientiacutefico utilizado para explicar a localizaccedilatildeo decada indiviacuteduo na estrutura social A existecircncia de diferenccedilas individuais era o principal argumentodesse discurso sendo desconsideradas desse esquema de causalidade as imposiccedilotildees da sociedadecapitalista industrial e sua principal base que eacute a divisatildeo em classes sociais com chances epossibilidades desiguais

Em um estudo sobre a disciplina na sociedade moderna em que analisa o funcionamento doGabinete de Antropologia e Psicologia Pedagoacutegica de Satildeo Paulo Marta Carvalho afirma

Neste horizonte criteacuterios raciais nem sempre explicitados traccedilavam os limitesdas boas intenccedilotildees republicanas operando a distinccedilatildeo entre populaccedilotildeeseducaacuteveis capazes portanto de cidadania e populaccedilotildees em que o peso dahereditariedade (leia-se raccedila ) era a marca de um destino que a educaccedilatildeo

era incapaz de alterar (CARVALHO 2006 p 299)

A partir da deacutecada de 1920 e principalmente de 1930 o ideaacuterio escolanovista baseadonos princiacutepios da modernidade fez-se mais presente na educaccedilatildeo brasileira mobilizando os

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educadores na luta contra os elevados iacutendices de repetecircncia eevasatildeo na escola puacuteblica A educaccedilatildeo era compreendida comoa base de uma sociedade saudaacutevel que precisava ser moralmentepreparada para o trabalho

Os novos intelectuais se uniram em torno da crenccedila de que a sauacutede e a educaccedilatildeo eramfatores capazes de promover a necessaacuteria regeneraccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira A preocupaccedilatildeocom o rendimento na escola promoveu a incorporaccedilatildeo do ltmodelo tayloristagt de produccedilatildeofabril afirmando na educaccedilatildeo as posiccedilotildees tecnicistas norteadas pela eficiecircncia e eficaacutecia dasaccedilotildees No trecho abaixo Maria Helena de Souza Patto (2003) expressa o significado dainfluecircncia desse modelo produtivo na educaccedilatildeo ao identificar um vieacutes adaptacionista naproduccedilatildeo em seacuterie de alunos perfeitamente adaptados aos diferentes lugares que lhes seratildeo

destinados numa realidade social inquestionada

Eis a via da naturalizaccedilatildeo da desigualdade que temorigem na maneira como a sociedade se estrutura maseacute lida como diferenccedila bioloacutegica ou psicoloacutegica deaptidatildeo intelectual entre grupos e indiviacuteduos (PATTO2003 p 33)

O movimento chamado Escola Nova esboccedilou-se na deacutecada de 1920 no Brasil

O mundo vivia agrave eacutepoca um momento de crescimento industrial e de expansatildeourbana e nesse contexto um grupo de intelectuais brasileiros sentiu necessidadede preparar o paiacutes para acompanhar esse desenvolvimento A educaccedilatildeo era poreles percebida como o elemento-chave para promover a remodelaccedilatildeo requerida

Inspirados nas ideacuteias poliacutetico-filosoacuteficas de igualdade entre os homens e do direitode todos agrave educaccedilatildeo esses intelectuais viam num sistema estatal de ensinopuacuteblico livre e aberto o uacutenico meio efetivo de combate agraves desigualdades sociaisda naccedilatildeoDenominado de Escola Nova o movimento ganhou impulso na deacutecada de 1930apoacutes a divulgaccedilatildeo do lt Manifesto da Escola Novagt (1932) Nesse documentodefendia-se a universalizaccedilatildeo da escola puacuteblica laica e gratuita Entre os seussignataacuterios destacavam-se os nomes de Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo

Lourenccedilo Filho e Ceciacutelia Meireles

Para ler o Manifesto dosPioneiros acessewwwpedagogiaemfocoprobrheb07ahtm

O americano lt Freder ick Taylorgt considerado o pai da organizaccedilatildeo cientiacutefica dotrabalho propocircs um modelo de produccedilatildeo industrial aliando eficaacutecia e eficiecircnciaSua preocupaccedilatildeo era com o sistema produtivo e natildeo com o homem negando aotrabalhador qualquer manifestaccedilatildeo criativa ou participaccedilatildeo O ideaacuterio tayloristafoi transposto para a educaccedilatildeo promovendo uma valorizaccedilatildeo do tecnicismo tendocomo efeitos a fragmentaccedilatildeo e a hierarquizaccedilatildeo do ensino e do conhecimento

Dirija-se ao PMAP pararealizar a leitura do texto Oque a h ist oacuter ia pode dizerso b r e a p r o f i ssatilde o d op si coacute l o g o a r e l a ccedilatilde opsicologia e educaccedilatildeo deMaria Helena de S Patto nolivro P si co l o g i a ecompromisso social

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Associada agrave escola nova a psicologia continuou fornecendo os subsiacutedios cientiacuteficos para oconhecimento das possibilidades individuais e das dificuldades escolares natildeo mais identificadascomo efeito da hereditariedade e da raccedila mas da organizaccedilatildeo e dos haacutebitos familiares e doambiente soacutecio-cultural Manteacutem-se a utilizaccedilatildeo dos instrumentos de avaliaccedilatildeo psicoloacutegica cadavez mais associada agrave pesquisa sobre o fracasso escolar e centrada no aluno e nos processos deaprendizagem

Na deacutecada de 1950 amplia-se para aleacutem do aluno o campo de pesquisa educacional praticadaprincipalmente nos institutos ligados ao governo que tinham em seus quadros o psicoacutelogoLourenccedilo Filho um dos precursores do escolanovismo A escola reafirmava sua posiccedilatildeo comoelemento fundamental no desenvolvimento da sociedade e era defendida enquanto prioridade nademocratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo e das chances oferecidas aos sujeitos

O periacuteodo de 1960 ateacute meados da deacutecada de 1970 tem como o eixo principal a Teoria doCapital Humano Em estudo sobre essa teoria e sua influecircncia no modelo educacional brasileiroGaudecircncio Frigotto em seu livro A produtividade da escola improdutiva afirma que

Do ponto de vista macroeconocircmico o investimento no fator humano passa asignificar um dos determinantes baacutesicos para o aumento da produtividade eelemento de superaccedilatildeo do atraso econocircmico Do ponto de vistamicroeconocircmico constitui-se no fator explicativo das diferenccedilas individuais deprodutividade e renda e consequumlentemente de mobilidade social (FRIGOTTO1984 p 172)

Comungando com os interesses do ltregime militargt vigentenesse periacuteodo a psicologia voltou-se ainda mais para a avaliaccedilatildeodas capacidades e habilidades psiacutequicas associadas ao investimentoindividual e ao rendimento escolar

Nos proacuteximos anos (a partir de 1970) a Teoria da CarecircnciaCultural de origem norte-americana iria influenciar a pesquisa sobreo fracasso escolar colaborando com a construccedilatildeo de um discursoque mantinha a linha de causalidade que culpava o aluno por seuinsucesso na escola Um dos aspectos principais dessa teoria eacute aafirmaccedilatildeo de que a escola eacute inadequada agraves caracteriacutesticas psiacutequicasda crianccedila pobre Esta teoria parte da existecircncia de um supostodeacuteficit considerado natural na populaccedilatildeo pobre o qual impede queas crianccedilas aproveitem as oportunidades oferecidas pela sociedadeA desigualdade social produto da sociedade cindida em classes e obaixo desempenho na escola e no trabalho satildeo ltnaturalizadosgtcom a participaccedilatildeo ativa dos elementos cientiacuteficos emprestados pelapsicologia

Eacute a partir do final dessa deacutecada de 1970 e de modo maispotente na deacutecada de 1980 que comeccedilam a ser construiacutedos outrosespaccedilos de reflexatildeo e de praacuteticas que significaratildeo a abertura denovos caminhos tanto na educaccedilatildeo quanto na psicologia Inaugura-se uma possibilidade de anaacutelise criacutetica do sistema educacionalapontando relaccedilotildees com a estrutura soacutecio-econocircmica vigente que

Alguns ditos popularesservem para esteprocesso fazendo comuma afirmaccedilatildeo sejacompreendida comon a t u r a l inquestionaacutevel

Q u e m t r a b a l h asem pre alcanccedila

O trabalho enobreceo hom em

A cada um segundosuas possibilidades

Ouccedila a muacutesica M e uca r o a m i g o composta por ChicoBuarque de Holandadurante seu exiacutelio naFranccedila Para issouti l ize ocd-rom doAprendente

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alavancam uma criacutetica da psicologia sobre si mesma Satildeo os novos tempos do fim da ditaduramilitar e da democratizaccedilatildeo no Brasil

Eacute a partir de meados da deacutecada de 1980 que a pesquisa em psicologia comeccedila a tentarromper com as alianccedilas que a constituiacuteram como base do discurso eugecircnico higienista e nosuacuteltimos anos pelo menos preconceituoso

No campo da pesquisa ressaltam-se os trabalhos de MariaHelena Sousa Patto que afirma o compromisso ideoloacutegico da psicologiacom os ideais das classes dominantes montando teorias que servissempara explicar as desigualdades sociais (1984) inaugurando um campode criacutetica importante para as posteriores investigaccedilotildees teoacutericas eintervenccedilotildees educacionais Em estudo posterior Patto nos permiteavanccedilar na compreensatildeo do fracasso escolar como uma produccedilatildeosocial e natildeo como decorrecircncia de problemas individuais proacuteprios dapobreza inaugurando uma forte criacutetica agrave lt Teoria da CarecircnciaCultural (1990)gt

Mesmo anunciando esse caminho de construccedilatildeo de umapsicologia criacutetica e baseada em compromissos sociais eacute importanteque se tenha claro que ainda vigoram nas escolas e na sociedadevaacuterias afirmaccedilotildees que se assentam nos trilhos da Teoria da CarecircnciaCultural Essas ideacuteias penetram com muita facilidade no cotidiano daescola e nos debates do senso comum uma vez que coincidem com anecessidade de predomiacutenio dos princiacutepios da sociedade capitalistapor meio de um discurso hegemocircnico

Por isso CUIDADO Sinal Vermelho Na proacutexima Unidadevoltaremos a esses caminhos e agraves proposiccedilotildees e intervenccedilotildees praacuteticasda psicologia daiacute decorrentes Esse procedimento pode contribuirpara que vocecirc nosso aprendente venha a diferenciar praacuteticas ediscursos e reconhecer a que visatildeo de homem de mundo e desociedade estatildeo servindo

Antes poreacutem de dar esse passo em nossa trilha iremos analisar os processos de construccedilatildeodo conhecimento enquanto marcados pelo exerciacutecio do poder que se efetivam no cotidianoescolar trazendo a disciplina como questatildeo teoacuterica e sua gecircnese como objeto de estudo

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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A Teoria da CarecircnciaCultural fois u f i c i e n t e m e n t einvestigada por MariaHelena Sousa Pattoprincipalmente em trecircspublicaccedilotildees Psicologiae I d eo l o g i a u m ai n t r o d u ccedilatildeo c r iacutet i ca agravep s i co l o g i a esco l a r(1984) A produccedilatildeo dof r acasso esco l a r histoacuter ias de subm issatildeoe rebeldia (1990) e notexto Para um a criacutet icada razatildeo psicom eacutet r icapublicado no l ivroMutaccedilotildees do cativeiro(2000 p 5)

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AULA 3 CONHECI MENTO SABER E PODER UM OLHAR SOBRE A I NFAcircNCI AESCOLARIZADA

Ateacute esta etapa de nosso caminho estudamos a construccedilatildeo das teorias psicoloacutegicas e ahistoacuteria da articulaccedilatildeo entre a psicologia a medicina e a pedagogia no Brasil constituindoalianccedilas em nome de uma abordagem cientiacutefica dos problemas educacionais

A partir de agora promoveremos outro tipo de investigaccedilatildeo para que seja possiacutevel umamaior compreensatildeo do cotidiano escolar com base na anaacutelise das praacuteticas educativas e dasrelaccedilotildees sociais que se estabelecem entre alunos profissionais e comunidades

Nosso ponto de partida seratildeo os estudos de Philippe Ariegraves publicados no livro Histoacuteriasocial da infacircncia e da fam iacutelia que demonstram o surgimento das instituiccedilotildees educativas namodernidade caracterizadas por dar sentido a uma infacircncia que passa a ser vista como naturalmentefraacutegil A educaccedilatildeo impositiva moralizante e disciplinadora se justifica pela necessidade de formaros sujeitos que a sociedade comeccedila a conceber como corpos que necessitam de cuidados porquesatildeo deacutebeis e fracos Ariegraves parte da ideacuteia de que esse sentimento de infacircncia tem origem com aemergecircncia da sociedade burguesa e eacute fortalecido pela accedilatildeo dos jesuiacutetas

Para melhor compreender os efeitos da educaccedilatildeo na constituiccedilatildeo dessa infacircncia podemosrecorrer ao filoacutesofo francecircs Michel Foucault quando ele aponta em seu livro Microfiacutesica do Poder(1979) que a disciplina eacute uma teacutecnica de exerciacutecio de poder que foi natildeo inteiramente inventadamas elaborada em seus princiacutepios fundamentais durante o seacuteculo XVIII (p 105) O autor nosentido de melhor esclarecer a origem da disciplina nas sociedades ocidentais afirma que essa eacuteuma arte de distribuiccedilatildeo dos homens no espaccedilo baseada na individualizaccedilatildeo dos corpos (p

105) A disciplina que se exerce sobre cada corpo isoladamente eacute uma praacutetica que permite aclassificaccedilatildeo dos sujeitos observados e controlados A vigilacircncia deve ser permanente para que adisciplina seja conseguida

Foucault ressalta a importacircncia das praacuteticas de exame (provas avaliaccedilotildees) e de penalizaccedilatildeoou castigo como formas de fazer com que os sujeitos internalizem o poder Quanto mais a morale a disciplina forem sentidas como necessaacuterias agrave existecircncia humana mais sucesso teraacute o processode disciplinamento e controle social A citaccedilatildeo a seguir sintetiza a anaacutelise de Foucault sobre essetema

Escola s n a h ist oacuter ia da h um a nida de

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A disciplina eacute o conjunto de teacutecnicas pelas quais os sistemas de poder vatildeo terpor alvo e resultado os indiviacuteduos em sua singularidade Eacute o poder deindividualizaccedilatildeo que tem o exame como instrumento fundamental O exame eacutea vigilacircncia permanente classificatoacuteria que permite distribuir os indiviacuteduosjulgaacute-los medi-los localizaacute-los e por conseguinte utilizaacute-los ao maacuteximo(FOUCAULT 1979 p107)

Retomando as contribuiccedilotildees de Philippe Ariegraves vimos que a modernidade instaura umaseparaccedilatildeo entre o mundo dos adultos e das crianccedilas e para tanto organiza novas formas eespaccedilos de educaccedilatildeo Os coleacutegios (educaccedilatildeo em preacutedios fechados) o mobiliaacuterio (bancos escolaresbirocirc etc) a separaccedilatildeo em classes (inicialmente por conhecimento e mais recentemente poridades e ainda por localizaccedilatildeo na estrutura social) satildeo intervenccedilotildees protagonizadas desde oSeacuteculo XV ateacute os dias de hoje com o objetivo de instruir e moralizar a sociedade

A ideacuteia de que a infacircncia eacute uma produccedilatildeo social natildeo eacute mais novidade para noacutes Temosdebatido durante nosso percurso que o sentimento que hoje temos com relaccedilatildeo agrave infacircnciaapareceu no momento em que a famiacutelia burguesa se distinguiu como elemento central da sociedadecom a preocupaccedilatildeo de formar homens honrados e moralmente constituiacutedos A sociedade maisespecificamente a igreja catoacutelica comeccedila a valorizar a propriedade de bens centrada nas matildeosde nuacutecleos familiares A famiacutelia volta-se para si mesma resguardando seus membros exigindoassim uma educaccedilatildeo rigorosa dos herdeiros

A partir dessas colocaccedilotildees sobre uma disciplina (escolar) que eacute exigida para que a sociedadeexerccedila controle sobre os homens podemos ainda aceitar a ideacuteia de que os conhecimentossaberes ministrados nos coleacutegios foram igualmente objetos de disciplinarizaccedilatildeo isto eacute de umaintervenccedilatildeo para que servissem aos interesses da reforma moral cristatilde e depois laica (SeacuteculoXVIII)

Juacutelia Varella no texto intitulado O estatuto do saber pedagoacutegico (publicado em O sujeitoda Educaccedilatildeo 4 ed 2000) identifica na passagem do Renascimento para a Modernidade umapedagogizaccedilatildeo dos conhecimentos que significa um novo ordenamento dos saberes de acordocom os interesses moralizantes e disciplinadores que emanam da igreja catoacutelica e dos coleacutegiosjesuiacutetas Conforme demonstra essa autora

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O olhar invisiacutevel podeser representado peloPanopticon de Benthanque permite ver tudosem ser visto produzindono aluno a disciplina pelomedo do exame e docastigo

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Para levar adiante seu projeto de formaccedilatildeo de bons cristatildeos os mestresjesuiacutetas natildeo apenas reforccedilaram o estatuto conferido agrave infacircncia com a opccedilatildeode educaacute-la em espaccedilos fechados nos coleacutegios mas sentiram tambeacutem anecessidade de controlar os saberes que iam transmitir e de organizar essessaberes de tal forma que se adequassem agraves supostas capacidades infantis(VARELLA 2000 apud SILVA 1994 p 88)

Os mestres jesuiacutetas se converteram em autoridades maacuteximas exercendo um poder sobreseus alunos retirando toda a possibilidade vivenciada na Idade Meacutedia de autonomia no estudoForam desenvolvidas estrateacutegias e teacutecnicas que tinham como objetivo dirigir ao conhecimento omesmo sentido moralizante que vinha sendo dado agrave formaccedilatildeo dos alunos A disciplina e a ordemnas salas de aula passaram a ser elementos necessaacuterios nesse processo de penalizaccedilatildeo emoralizaccedilatildeo

Em segundo lugar Juacutelia Varella reconhece a existecircncia de um processo que se daacute no interiorda produccedilatildeo do conhecimento o disciplinamento interno dos saberes eliminando o que eraconsiderado como saberes inuacuteteis segundo as normas de moralizaccedilatildeo e reordenando umacomunicaccedilatildeo entre esses retirando-lhes a forccedila e a intensidade Nesse processo eacute importanteque se promova ainda uma classificaccedilatildeo e hierarquizaccedilatildeo entre os saberes promovendo umacentralizaccedilatildeo de cima para baixo As fronteiras entre a histoacuteria a geografia e a sociologia foramtraccediladas por exemplo pela humanidade assim como a orientaccedilatildeo no processo de ensino-aprendizagem do que deve ser ensinado primeiro e qual saber eacute mais nobre isto eacute que deveocupar o topo de todos os conhecimentos

Os processos que foram aos poucos se instaurando apartir do Seacuteculo XVI produziram censura e controle e mais doque isso devido agraves divisotildees impostas que delimitavam as aacutereasde saberes (conhecimentos) buscavam eliminar a ideacuteia dohomem universal acentuando a possibilidade de tornar doacuteceisos corpos (os sujeitos) mediante essa praacutetica disciplinar impostana produccedilatildeo dos saberes Se anteriormente na Idade Meacutedia oaluno detinha um poder sobre o que queria aprender e ondebuscar o conhecimento na era da modernidade essapossibilidade passa a ser inexistente O aluno perde o poder sobre seus caminhos passando a sercompreendido como um mero elemento de transmissatildeo de conhecimento Natildeo mais pode escolhero que deve ser aprendido tampouco o ritmo desse aprendizado ou o que fazer do conhecimentoadquirido A grade de disciplinas hoje tatildeo naturalmente absorvida por todos noacutes em qualquercurso eacute uma produccedilatildeo social e serve a esses interesses de tornar doacutecil o corpo a ser disciplinadoAprendemos esse ordenamento dos saberes e passamos a respeitaacute-los como se fossemincontestaacuteveis naturais e acima de tudo necessaacuterios

Michel Foucault jaacute citado anteriormente reconhece nesse processo a emergecircncia dasociedade disciplinar que funciona confinando aprisionando os homens agraves escolas agraves prisotildeesagraves igrejas aos hospitais agraves faacutebricas etc

Os processos descritos acima por Juacutelia Varella podem ser reconhecidos ateacute hoje nas praacuteticasescolares Poreacutem com a intervenccedilatildeo das miacutedias e dos novos equipamentos sociais jaacute se pode

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identificar um controle que natildeo mais iraacute somente confinar isolar os estudantes nas escolas osloucos nos asilos e os empregados nas faacutebricas para que sejam produtivos

Trata-se da emergecircncia da sociedade de controle que atua de forma contiacutenua Entramem accedilatildeo a TV os microcomputadores e os celulares que permitem conhecer e conectar o mundoa partir de um uacutenico lugar Satildeo maacutequinas que iratildeo estruturar a vida organizando uma subjetividadedo consumo e da informaccedilatildeo Mas como relacionar esse processo aos domiacutenios da escola

Aqui lanccedilaremos matildeo de outro escritor francecircs Feacutelix Guattari (1985) que no estudo Ascreches e a iniciaccedilatildeo publicado no livro intitulado Revoluccedilotildees Moleculares mostra-nos osefeitos do processo de iniciaccedilatildeo das crianccedilas agrave loacutegica capitalista O autor se refere agrave produccedilatildeode modos de viver pensar e sentir que estariam em consonacircncia com os mais novos modos deproduccedilatildeo material na sociedade capitalista industrial Denomina como aparelhos de semiotizaccedilatildeoos viacutedeo-games CD-rom etc Esses aparelhos passam a dar o sentido dos modos de existecircncia

Guattari (1985) indica que as crianccedilas estatildeo sendo iniciadas cada vez mais cedo nossistemas de representaccedilatildeo e nos valores do capitalismo que produzem uma modelagem adequadaaos coacutedigos utilizados em nosso cotidiano Aponta como importante o fato de que se mobilizamno processo de formaccedilatildeo da crianccedila esquemas de aprendizagem que permitem traduzir oconjunto de coacutedigos ou semioacuteticas dominantes Por fim chama a atenccedilatildeo para a necessidade deanalisarmos o funcionamento da creche e o efeito da educaccedilatildeo infantil na constituiccedilatildeo dessecorpo que eacute modelado para atuar produtivamente de acordo com os ideais da sociedade capitalista

A sua grande contribuiccedilatildeo eacute indicar no espaccedilo da educaccedilatildeo uma perspectiva de que acrianccedila venha a aprender o que eacute a sociedade o que satildeo seus instrumentos (GUATTARI 1985p 54) para poder interferir de forma autocircnoma e criativa no mundo Aprender os coacutedigos e osmodos de funcionamento da sociedade na qual estaacute inserida pode ser importante para que acrianccedila tenha a possibilidade de desenvolver formas singulares de estar no mundo

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegico(a)s a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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UNIDADE II

UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA DO COTIDIANO ESCOLAR

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 4 DOS COLEacuteGI OS DA MODERNI DADE AgraveS ESCOLAS ATUAI S UMAANAacuteLI SE CRIacute TI CA DAS PRAacuteTI CAS COTI DI ANAS

Seguindo a linha de anaacutelise de nosso percurso iremosneste momento buscar os fios que nos permitem compreenderalguns elementos do cotidiano escolar como um espaccedilodisciplinar e controlador das subjetividades O estudo da origemdas praacuteticas educativas a partir dos coleacutegios do Seacuteculo XVIIIforneceu-nos os elementos que seratildeo aqui utilizados paraexercitarmos uma investigaccedilatildeo criacutetica da escola na atualidadeEsse exerciacutecio de reflexatildeo eacute fundamental para que possamosabrir novas portas e inventar outras praacuteticas da psicologia naescola

Com o objetivo de melhor sistematizar nosso trabalho deanaacutelise dividiremos a explanaccedilatildeo em seis itens a saber

1 As praacutet icas cot idianas conspiram cont ra a produccedilatildeoda autonomia e da autogestatildeo

Como jaacute estudamos anteriormente o poder de decisatildeofoi retirado do aluno quando da organizaccedilatildeo dos coleacutegios apartir do Seacuteculo XVIII sendo produzida uma ideacuteia de infacircnciafragilizada e portanto sem possibilidades de exercitar suaautonomia Eacute naturalizada uma concepccedilatildeo de aluno como umcorpo vazio a ser preenchido e modelado

As atividades nas escolas e na vida contemporacircnea passam a ser geridas por outrem -pelo supervisor pelo livro didaacutetico pelos programas governamentais (Escola Aberta Bolsa Escolae outros) - ou coordenadas por entidades como o Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem Aspraacuteticas de avaliaccedilatildeo se apresentam aos alunos como destituiacutedas de sentido Para os professoresessas praacuteticas representam mais uma etapa do processo sendo orientadas pela mesma loacutegica doplanejamento e das atividades contidas no livro didaacutetico Os principais atores sociais (alunos eprofessores) satildeo enfraquecidos no exerciacutecio do poder como sujeitos incapacitados de produzir aarticulaccedilatildeo entre praacuteticas e seus efeitos

Ilustraccedilatildeo de capa do livro O berccedilod a d es i g u a l d a d e de CristovamBuarque com fotos de SebastiatildeoSalgado

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lt Paulo Freiregt ao trabalhar o tema da autonomia no livroPedagogia da Aut onom ia (1996) estabelece a relaccedilatildeo entre oexerciacutecio da liberdade por parte do aluno e da autoridade peloeducador Aponta como fundamental para a construccedilatildeo da autonomiaa praacutetica da responsabilidade Segundo esse educador o educandoque exercita sua liberdade ficaraacute tatildeo mais livre quanto mais eticamentevaacute assumindo a responsabilidade de suas accedilotildees (p 104) mas essaautonomia somente se constitui quando desaparece a relaccedilatildeo dedependecircncia Continuando com o pensamento de Freire ele afirmaque

No fundo o essencial nas relaccedilotildees entre educador eeducando entre autoridade e liberdade entre pais matildeesfilhos filhas eacute a reinvenccedilatildeo do ser humano no aprendizadoda autonomia (FREIRE 1996 p 105)

O pensamento e a accedilatildeo autocircnomos natildeo se datildeo sem que sejamexplicitados os lugares de poder Por isso Paulo Freire fala da reinvenccedilatildeodo ser humano e mais do que isso da reinvenccedilatildeo das relaccedilotildees pedagoacutegicasque deveriam trocar a dependecircncia pela responsabilidade

2 O m odelo educat ivo dest itui os hom ens de sua condiccedilatildeo deprodutores do conhecim ento

A concepccedilatildeo de sujeito a-histoacuterico estaacute presente no contextoescolar onde o conhecimento eacute dado como objetivo e assumido comoverdade absoluta a ser aprendida A organizaccedilatildeo do saber hierarquicamentedisciplinado como nos mostrou Juacutelia Varella na aula anterior (Aula 3Unidade I) elimina a concepccedilatildeo de sujeito como produtor de conhecimentoOs processos de p e d a g o g i z a ccedilatilde o d o s co n h e ci m e n t o s e dedisciplinam ento interno dos saberes estatildeo presentes nas praacuteticaseducacionais atuais fazendo com que tanto alunos quanto professoressejam concebidos como meros coadjuvantes

Trata-se de um treino para o bom comportamento social valorizando o lugar do expectador daquele que natildeo interfere no andamentoda aula e que deve seguir agrave risca o que eacute ditado pelo planejamentomuitas vezes elaborado pelos especialistas da educaccedilatildeo A ausecircncia deuma implicaccedilatildeo dos alunos no processo de aprendizagem eacute consequumlecircnciadesse modelo de escola que somente legitima o conhecimento que eacuteproduzido fora de seu cotidiano A sala de aula eacute assim desumanizada edestituiacuteda de vida proacutepria O mesmo processo eacute vivido pelos educadoresque aprendem no exerciacutecio profissional a praticar e valorizar a obediecircncia

Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

Fo n t e Charge deClaudius Cecconpublicada no livroCu i d a d o Esco l a (p64)

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

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5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I246

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I258

Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 15: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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higienizaccedilatildeo e da disciplinarizaccedilatildeo da sociedade iratildeo caracterizar o trabalho nas instituiccedilotildeespsiquiaacutetricas preocupadas com uma intervenccedilatildeo para aleacutem do encarceramento da loucura

Apesar da diversidade de pesquisas que se desenvolviam em outros paiacuteses no Brasil ainfluecircncia da pesquisa experimental baseada na psicometria ocorreu de forma hegemocircnica ateacute

pelo menos a deacutecada de 1980

Nas instituiccedilotildees educacionais a preocupaccedilatildeo central era com o analfabetismo e a falta deinstruccedilatildeo do povo brasileiro em um paiacutes em franco desenvolvimento e requisitando uma matildeo-de-obra conhecedora pelo menos da leitura e da escrita Vaacuterios movimentos pela difusatildeo e ampliaccedilatildeoda escola puacuteblica e gratuita surgiram no paiacutes mostrando diferentes ideais de sociedade que vatildeodesde a preparaccedilatildeo para o trabalho ateacute uma concepccedilatildeo de educaccedilatildeo como emancipadora dopovo em uma luta contra a opressatildeo colonialista Nesse quadro a demanda dos profissionais daeducaccedilatildeo no sentido de construir uma pedagogia moderna e cientiacutefica fez da psicologia seuprincipal ponto de sustentaccedilatildeo uma vez que fornecia as bases de conhecimento sobre osindiviacuteduos o processo de desenvolvimento psiacutequico as vocaccedilotildees emoccedilotildees e a organizaccedilatildeo dapersonalidade

A preocupaccedilatildeo com o indiviacuteduo e com as teacutecnicas que pudessem instrumentalizar a praacuteticaeducativa fez surgir no Brasil no iniacutecio do Seacuteculo XX uma seacuterie de Laboratoacuterios e Institutosvoltados para a pesquisa psicoloacutegica destacando-se o Pedagogium depois transformado emLaboratoacuterio de Psicologia Experimental no Rio de Janeiro o Instituto de Psicologia de Pernambucoa Escola de Aperfeiccediloamento Pedagoacutegico de Belo Horizonte e o Laboratoacuterio de PedagogiaExperimental de Satildeo Paulo Nesse periacuteodo surgem as Escolas Normais encarregadas da formaccedilatildeode professores

No processo de constituiccedilatildeo cientiacutefica da pedagogia e de afirmaccedilatildeo da psicologia oslaboratoacuterios e institutos de pesquisa vatildeo sendo incorporados a essas escolas A instalaccedilatildeo desalas de exame psicoloacutegico e de afericcedilatildeo antropomeacutetrica seguia a demanda de higienizaccedilatildeo dapopulaccedilatildeo vigente na eacutepoca e era inspirada nas pesquisas trazidas da Europa e dos EUA queprivilegiavam a psicometria de modo geral Apesar da pouca inserccedilatildeo nas escolas oficiais essapraacutetica serviu para difundir e legitimar o discurso cientiacutefico utilizado para explicar a localizaccedilatildeo decada indiviacuteduo na estrutura social A existecircncia de diferenccedilas individuais era o principal argumentodesse discurso sendo desconsideradas desse esquema de causalidade as imposiccedilotildees da sociedadecapitalista industrial e sua principal base que eacute a divisatildeo em classes sociais com chances epossibilidades desiguais

Em um estudo sobre a disciplina na sociedade moderna em que analisa o funcionamento doGabinete de Antropologia e Psicologia Pedagoacutegica de Satildeo Paulo Marta Carvalho afirma

Neste horizonte criteacuterios raciais nem sempre explicitados traccedilavam os limitesdas boas intenccedilotildees republicanas operando a distinccedilatildeo entre populaccedilotildeeseducaacuteveis capazes portanto de cidadania e populaccedilotildees em que o peso dahereditariedade (leia-se raccedila ) era a marca de um destino que a educaccedilatildeo

era incapaz de alterar (CARVALHO 2006 p 299)

A partir da deacutecada de 1920 e principalmente de 1930 o ideaacuterio escolanovista baseadonos princiacutepios da modernidade fez-se mais presente na educaccedilatildeo brasileira mobilizando os

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educadores na luta contra os elevados iacutendices de repetecircncia eevasatildeo na escola puacuteblica A educaccedilatildeo era compreendida comoa base de uma sociedade saudaacutevel que precisava ser moralmentepreparada para o trabalho

Os novos intelectuais se uniram em torno da crenccedila de que a sauacutede e a educaccedilatildeo eramfatores capazes de promover a necessaacuteria regeneraccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira A preocupaccedilatildeocom o rendimento na escola promoveu a incorporaccedilatildeo do ltmodelo tayloristagt de produccedilatildeofabril afirmando na educaccedilatildeo as posiccedilotildees tecnicistas norteadas pela eficiecircncia e eficaacutecia dasaccedilotildees No trecho abaixo Maria Helena de Souza Patto (2003) expressa o significado dainfluecircncia desse modelo produtivo na educaccedilatildeo ao identificar um vieacutes adaptacionista naproduccedilatildeo em seacuterie de alunos perfeitamente adaptados aos diferentes lugares que lhes seratildeo

destinados numa realidade social inquestionada

Eis a via da naturalizaccedilatildeo da desigualdade que temorigem na maneira como a sociedade se estrutura maseacute lida como diferenccedila bioloacutegica ou psicoloacutegica deaptidatildeo intelectual entre grupos e indiviacuteduos (PATTO2003 p 33)

O movimento chamado Escola Nova esboccedilou-se na deacutecada de 1920 no Brasil

O mundo vivia agrave eacutepoca um momento de crescimento industrial e de expansatildeourbana e nesse contexto um grupo de intelectuais brasileiros sentiu necessidadede preparar o paiacutes para acompanhar esse desenvolvimento A educaccedilatildeo era poreles percebida como o elemento-chave para promover a remodelaccedilatildeo requerida

Inspirados nas ideacuteias poliacutetico-filosoacuteficas de igualdade entre os homens e do direitode todos agrave educaccedilatildeo esses intelectuais viam num sistema estatal de ensinopuacuteblico livre e aberto o uacutenico meio efetivo de combate agraves desigualdades sociaisda naccedilatildeoDenominado de Escola Nova o movimento ganhou impulso na deacutecada de 1930apoacutes a divulgaccedilatildeo do lt Manifesto da Escola Novagt (1932) Nesse documentodefendia-se a universalizaccedilatildeo da escola puacuteblica laica e gratuita Entre os seussignataacuterios destacavam-se os nomes de Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo

Lourenccedilo Filho e Ceciacutelia Meireles

Para ler o Manifesto dosPioneiros acessewwwpedagogiaemfocoprobrheb07ahtm

O americano lt Freder ick Taylorgt considerado o pai da organizaccedilatildeo cientiacutefica dotrabalho propocircs um modelo de produccedilatildeo industrial aliando eficaacutecia e eficiecircnciaSua preocupaccedilatildeo era com o sistema produtivo e natildeo com o homem negando aotrabalhador qualquer manifestaccedilatildeo criativa ou participaccedilatildeo O ideaacuterio tayloristafoi transposto para a educaccedilatildeo promovendo uma valorizaccedilatildeo do tecnicismo tendocomo efeitos a fragmentaccedilatildeo e a hierarquizaccedilatildeo do ensino e do conhecimento

Dirija-se ao PMAP pararealizar a leitura do texto Oque a h ist oacuter ia pode dizerso b r e a p r o f i ssatilde o d op si coacute l o g o a r e l a ccedilatilde opsicologia e educaccedilatildeo deMaria Helena de S Patto nolivro P si co l o g i a ecompromisso social

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Associada agrave escola nova a psicologia continuou fornecendo os subsiacutedios cientiacuteficos para oconhecimento das possibilidades individuais e das dificuldades escolares natildeo mais identificadascomo efeito da hereditariedade e da raccedila mas da organizaccedilatildeo e dos haacutebitos familiares e doambiente soacutecio-cultural Manteacutem-se a utilizaccedilatildeo dos instrumentos de avaliaccedilatildeo psicoloacutegica cadavez mais associada agrave pesquisa sobre o fracasso escolar e centrada no aluno e nos processos deaprendizagem

Na deacutecada de 1950 amplia-se para aleacutem do aluno o campo de pesquisa educacional praticadaprincipalmente nos institutos ligados ao governo que tinham em seus quadros o psicoacutelogoLourenccedilo Filho um dos precursores do escolanovismo A escola reafirmava sua posiccedilatildeo comoelemento fundamental no desenvolvimento da sociedade e era defendida enquanto prioridade nademocratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo e das chances oferecidas aos sujeitos

O periacuteodo de 1960 ateacute meados da deacutecada de 1970 tem como o eixo principal a Teoria doCapital Humano Em estudo sobre essa teoria e sua influecircncia no modelo educacional brasileiroGaudecircncio Frigotto em seu livro A produtividade da escola improdutiva afirma que

Do ponto de vista macroeconocircmico o investimento no fator humano passa asignificar um dos determinantes baacutesicos para o aumento da produtividade eelemento de superaccedilatildeo do atraso econocircmico Do ponto de vistamicroeconocircmico constitui-se no fator explicativo das diferenccedilas individuais deprodutividade e renda e consequumlentemente de mobilidade social (FRIGOTTO1984 p 172)

Comungando com os interesses do ltregime militargt vigentenesse periacuteodo a psicologia voltou-se ainda mais para a avaliaccedilatildeodas capacidades e habilidades psiacutequicas associadas ao investimentoindividual e ao rendimento escolar

Nos proacuteximos anos (a partir de 1970) a Teoria da CarecircnciaCultural de origem norte-americana iria influenciar a pesquisa sobreo fracasso escolar colaborando com a construccedilatildeo de um discursoque mantinha a linha de causalidade que culpava o aluno por seuinsucesso na escola Um dos aspectos principais dessa teoria eacute aafirmaccedilatildeo de que a escola eacute inadequada agraves caracteriacutesticas psiacutequicasda crianccedila pobre Esta teoria parte da existecircncia de um supostodeacuteficit considerado natural na populaccedilatildeo pobre o qual impede queas crianccedilas aproveitem as oportunidades oferecidas pela sociedadeA desigualdade social produto da sociedade cindida em classes e obaixo desempenho na escola e no trabalho satildeo ltnaturalizadosgtcom a participaccedilatildeo ativa dos elementos cientiacuteficos emprestados pelapsicologia

Eacute a partir do final dessa deacutecada de 1970 e de modo maispotente na deacutecada de 1980 que comeccedilam a ser construiacutedos outrosespaccedilos de reflexatildeo e de praacuteticas que significaratildeo a abertura denovos caminhos tanto na educaccedilatildeo quanto na psicologia Inaugura-se uma possibilidade de anaacutelise criacutetica do sistema educacionalapontando relaccedilotildees com a estrutura soacutecio-econocircmica vigente que

Alguns ditos popularesservem para esteprocesso fazendo comuma afirmaccedilatildeo sejacompreendida comon a t u r a l inquestionaacutevel

Q u e m t r a b a l h asem pre alcanccedila

O trabalho enobreceo hom em

A cada um segundosuas possibilidades

Ouccedila a muacutesica M e uca r o a m i g o composta por ChicoBuarque de Holandadurante seu exiacutelio naFranccedila Para issouti l ize ocd-rom doAprendente

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alavancam uma criacutetica da psicologia sobre si mesma Satildeo os novos tempos do fim da ditaduramilitar e da democratizaccedilatildeo no Brasil

Eacute a partir de meados da deacutecada de 1980 que a pesquisa em psicologia comeccedila a tentarromper com as alianccedilas que a constituiacuteram como base do discurso eugecircnico higienista e nosuacuteltimos anos pelo menos preconceituoso

No campo da pesquisa ressaltam-se os trabalhos de MariaHelena Sousa Patto que afirma o compromisso ideoloacutegico da psicologiacom os ideais das classes dominantes montando teorias que servissempara explicar as desigualdades sociais (1984) inaugurando um campode criacutetica importante para as posteriores investigaccedilotildees teoacutericas eintervenccedilotildees educacionais Em estudo posterior Patto nos permiteavanccedilar na compreensatildeo do fracasso escolar como uma produccedilatildeosocial e natildeo como decorrecircncia de problemas individuais proacuteprios dapobreza inaugurando uma forte criacutetica agrave lt Teoria da CarecircnciaCultural (1990)gt

Mesmo anunciando esse caminho de construccedilatildeo de umapsicologia criacutetica e baseada em compromissos sociais eacute importanteque se tenha claro que ainda vigoram nas escolas e na sociedadevaacuterias afirmaccedilotildees que se assentam nos trilhos da Teoria da CarecircnciaCultural Essas ideacuteias penetram com muita facilidade no cotidiano daescola e nos debates do senso comum uma vez que coincidem com anecessidade de predomiacutenio dos princiacutepios da sociedade capitalistapor meio de um discurso hegemocircnico

Por isso CUIDADO Sinal Vermelho Na proacutexima Unidadevoltaremos a esses caminhos e agraves proposiccedilotildees e intervenccedilotildees praacuteticasda psicologia daiacute decorrentes Esse procedimento pode contribuirpara que vocecirc nosso aprendente venha a diferenciar praacuteticas ediscursos e reconhecer a que visatildeo de homem de mundo e desociedade estatildeo servindo

Antes poreacutem de dar esse passo em nossa trilha iremos analisar os processos de construccedilatildeodo conhecimento enquanto marcados pelo exerciacutecio do poder que se efetivam no cotidianoescolar trazendo a disciplina como questatildeo teoacuterica e sua gecircnese como objeto de estudo

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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A Teoria da CarecircnciaCultural fois u f i c i e n t e m e n t einvestigada por MariaHelena Sousa Pattoprincipalmente em trecircspublicaccedilotildees Psicologiae I d eo l o g i a u m ai n t r o d u ccedilatildeo c r iacutet i ca agravep s i co l o g i a esco l a r(1984) A produccedilatildeo dof r acasso esco l a r histoacuter ias de subm issatildeoe rebeldia (1990) e notexto Para um a criacutet icada razatildeo psicom eacutet r icapublicado no l ivroMutaccedilotildees do cativeiro(2000 p 5)

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AULA 3 CONHECI MENTO SABER E PODER UM OLHAR SOBRE A I NFAcircNCI AESCOLARIZADA

Ateacute esta etapa de nosso caminho estudamos a construccedilatildeo das teorias psicoloacutegicas e ahistoacuteria da articulaccedilatildeo entre a psicologia a medicina e a pedagogia no Brasil constituindoalianccedilas em nome de uma abordagem cientiacutefica dos problemas educacionais

A partir de agora promoveremos outro tipo de investigaccedilatildeo para que seja possiacutevel umamaior compreensatildeo do cotidiano escolar com base na anaacutelise das praacuteticas educativas e dasrelaccedilotildees sociais que se estabelecem entre alunos profissionais e comunidades

Nosso ponto de partida seratildeo os estudos de Philippe Ariegraves publicados no livro Histoacuteriasocial da infacircncia e da fam iacutelia que demonstram o surgimento das instituiccedilotildees educativas namodernidade caracterizadas por dar sentido a uma infacircncia que passa a ser vista como naturalmentefraacutegil A educaccedilatildeo impositiva moralizante e disciplinadora se justifica pela necessidade de formaros sujeitos que a sociedade comeccedila a conceber como corpos que necessitam de cuidados porquesatildeo deacutebeis e fracos Ariegraves parte da ideacuteia de que esse sentimento de infacircncia tem origem com aemergecircncia da sociedade burguesa e eacute fortalecido pela accedilatildeo dos jesuiacutetas

Para melhor compreender os efeitos da educaccedilatildeo na constituiccedilatildeo dessa infacircncia podemosrecorrer ao filoacutesofo francecircs Michel Foucault quando ele aponta em seu livro Microfiacutesica do Poder(1979) que a disciplina eacute uma teacutecnica de exerciacutecio de poder que foi natildeo inteiramente inventadamas elaborada em seus princiacutepios fundamentais durante o seacuteculo XVIII (p 105) O autor nosentido de melhor esclarecer a origem da disciplina nas sociedades ocidentais afirma que essa eacuteuma arte de distribuiccedilatildeo dos homens no espaccedilo baseada na individualizaccedilatildeo dos corpos (p

105) A disciplina que se exerce sobre cada corpo isoladamente eacute uma praacutetica que permite aclassificaccedilatildeo dos sujeitos observados e controlados A vigilacircncia deve ser permanente para que adisciplina seja conseguida

Foucault ressalta a importacircncia das praacuteticas de exame (provas avaliaccedilotildees) e de penalizaccedilatildeoou castigo como formas de fazer com que os sujeitos internalizem o poder Quanto mais a morale a disciplina forem sentidas como necessaacuterias agrave existecircncia humana mais sucesso teraacute o processode disciplinamento e controle social A citaccedilatildeo a seguir sintetiza a anaacutelise de Foucault sobre essetema

Escola s n a h ist oacuter ia da h um a nida de

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A disciplina eacute o conjunto de teacutecnicas pelas quais os sistemas de poder vatildeo terpor alvo e resultado os indiviacuteduos em sua singularidade Eacute o poder deindividualizaccedilatildeo que tem o exame como instrumento fundamental O exame eacutea vigilacircncia permanente classificatoacuteria que permite distribuir os indiviacuteduosjulgaacute-los medi-los localizaacute-los e por conseguinte utilizaacute-los ao maacuteximo(FOUCAULT 1979 p107)

Retomando as contribuiccedilotildees de Philippe Ariegraves vimos que a modernidade instaura umaseparaccedilatildeo entre o mundo dos adultos e das crianccedilas e para tanto organiza novas formas eespaccedilos de educaccedilatildeo Os coleacutegios (educaccedilatildeo em preacutedios fechados) o mobiliaacuterio (bancos escolaresbirocirc etc) a separaccedilatildeo em classes (inicialmente por conhecimento e mais recentemente poridades e ainda por localizaccedilatildeo na estrutura social) satildeo intervenccedilotildees protagonizadas desde oSeacuteculo XV ateacute os dias de hoje com o objetivo de instruir e moralizar a sociedade

A ideacuteia de que a infacircncia eacute uma produccedilatildeo social natildeo eacute mais novidade para noacutes Temosdebatido durante nosso percurso que o sentimento que hoje temos com relaccedilatildeo agrave infacircnciaapareceu no momento em que a famiacutelia burguesa se distinguiu como elemento central da sociedadecom a preocupaccedilatildeo de formar homens honrados e moralmente constituiacutedos A sociedade maisespecificamente a igreja catoacutelica comeccedila a valorizar a propriedade de bens centrada nas matildeosde nuacutecleos familiares A famiacutelia volta-se para si mesma resguardando seus membros exigindoassim uma educaccedilatildeo rigorosa dos herdeiros

A partir dessas colocaccedilotildees sobre uma disciplina (escolar) que eacute exigida para que a sociedadeexerccedila controle sobre os homens podemos ainda aceitar a ideacuteia de que os conhecimentossaberes ministrados nos coleacutegios foram igualmente objetos de disciplinarizaccedilatildeo isto eacute de umaintervenccedilatildeo para que servissem aos interesses da reforma moral cristatilde e depois laica (SeacuteculoXVIII)

Juacutelia Varella no texto intitulado O estatuto do saber pedagoacutegico (publicado em O sujeitoda Educaccedilatildeo 4 ed 2000) identifica na passagem do Renascimento para a Modernidade umapedagogizaccedilatildeo dos conhecimentos que significa um novo ordenamento dos saberes de acordocom os interesses moralizantes e disciplinadores que emanam da igreja catoacutelica e dos coleacutegiosjesuiacutetas Conforme demonstra essa autora

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O olhar invisiacutevel podeser representado peloPanopticon de Benthanque permite ver tudosem ser visto produzindono aluno a disciplina pelomedo do exame e docastigo

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Para levar adiante seu projeto de formaccedilatildeo de bons cristatildeos os mestresjesuiacutetas natildeo apenas reforccedilaram o estatuto conferido agrave infacircncia com a opccedilatildeode educaacute-la em espaccedilos fechados nos coleacutegios mas sentiram tambeacutem anecessidade de controlar os saberes que iam transmitir e de organizar essessaberes de tal forma que se adequassem agraves supostas capacidades infantis(VARELLA 2000 apud SILVA 1994 p 88)

Os mestres jesuiacutetas se converteram em autoridades maacuteximas exercendo um poder sobreseus alunos retirando toda a possibilidade vivenciada na Idade Meacutedia de autonomia no estudoForam desenvolvidas estrateacutegias e teacutecnicas que tinham como objetivo dirigir ao conhecimento omesmo sentido moralizante que vinha sendo dado agrave formaccedilatildeo dos alunos A disciplina e a ordemnas salas de aula passaram a ser elementos necessaacuterios nesse processo de penalizaccedilatildeo emoralizaccedilatildeo

Em segundo lugar Juacutelia Varella reconhece a existecircncia de um processo que se daacute no interiorda produccedilatildeo do conhecimento o disciplinamento interno dos saberes eliminando o que eraconsiderado como saberes inuacuteteis segundo as normas de moralizaccedilatildeo e reordenando umacomunicaccedilatildeo entre esses retirando-lhes a forccedila e a intensidade Nesse processo eacute importanteque se promova ainda uma classificaccedilatildeo e hierarquizaccedilatildeo entre os saberes promovendo umacentralizaccedilatildeo de cima para baixo As fronteiras entre a histoacuteria a geografia e a sociologia foramtraccediladas por exemplo pela humanidade assim como a orientaccedilatildeo no processo de ensino-aprendizagem do que deve ser ensinado primeiro e qual saber eacute mais nobre isto eacute que deveocupar o topo de todos os conhecimentos

Os processos que foram aos poucos se instaurando apartir do Seacuteculo XVI produziram censura e controle e mais doque isso devido agraves divisotildees impostas que delimitavam as aacutereasde saberes (conhecimentos) buscavam eliminar a ideacuteia dohomem universal acentuando a possibilidade de tornar doacuteceisos corpos (os sujeitos) mediante essa praacutetica disciplinar impostana produccedilatildeo dos saberes Se anteriormente na Idade Meacutedia oaluno detinha um poder sobre o que queria aprender e ondebuscar o conhecimento na era da modernidade essapossibilidade passa a ser inexistente O aluno perde o poder sobre seus caminhos passando a sercompreendido como um mero elemento de transmissatildeo de conhecimento Natildeo mais pode escolhero que deve ser aprendido tampouco o ritmo desse aprendizado ou o que fazer do conhecimentoadquirido A grade de disciplinas hoje tatildeo naturalmente absorvida por todos noacutes em qualquercurso eacute uma produccedilatildeo social e serve a esses interesses de tornar doacutecil o corpo a ser disciplinadoAprendemos esse ordenamento dos saberes e passamos a respeitaacute-los como se fossemincontestaacuteveis naturais e acima de tudo necessaacuterios

Michel Foucault jaacute citado anteriormente reconhece nesse processo a emergecircncia dasociedade disciplinar que funciona confinando aprisionando os homens agraves escolas agraves prisotildeesagraves igrejas aos hospitais agraves faacutebricas etc

Os processos descritos acima por Juacutelia Varella podem ser reconhecidos ateacute hoje nas praacuteticasescolares Poreacutem com a intervenccedilatildeo das miacutedias e dos novos equipamentos sociais jaacute se pode

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identificar um controle que natildeo mais iraacute somente confinar isolar os estudantes nas escolas osloucos nos asilos e os empregados nas faacutebricas para que sejam produtivos

Trata-se da emergecircncia da sociedade de controle que atua de forma contiacutenua Entramem accedilatildeo a TV os microcomputadores e os celulares que permitem conhecer e conectar o mundoa partir de um uacutenico lugar Satildeo maacutequinas que iratildeo estruturar a vida organizando uma subjetividadedo consumo e da informaccedilatildeo Mas como relacionar esse processo aos domiacutenios da escola

Aqui lanccedilaremos matildeo de outro escritor francecircs Feacutelix Guattari (1985) que no estudo Ascreches e a iniciaccedilatildeo publicado no livro intitulado Revoluccedilotildees Moleculares mostra-nos osefeitos do processo de iniciaccedilatildeo das crianccedilas agrave loacutegica capitalista O autor se refere agrave produccedilatildeode modos de viver pensar e sentir que estariam em consonacircncia com os mais novos modos deproduccedilatildeo material na sociedade capitalista industrial Denomina como aparelhos de semiotizaccedilatildeoos viacutedeo-games CD-rom etc Esses aparelhos passam a dar o sentido dos modos de existecircncia

Guattari (1985) indica que as crianccedilas estatildeo sendo iniciadas cada vez mais cedo nossistemas de representaccedilatildeo e nos valores do capitalismo que produzem uma modelagem adequadaaos coacutedigos utilizados em nosso cotidiano Aponta como importante o fato de que se mobilizamno processo de formaccedilatildeo da crianccedila esquemas de aprendizagem que permitem traduzir oconjunto de coacutedigos ou semioacuteticas dominantes Por fim chama a atenccedilatildeo para a necessidade deanalisarmos o funcionamento da creche e o efeito da educaccedilatildeo infantil na constituiccedilatildeo dessecorpo que eacute modelado para atuar produtivamente de acordo com os ideais da sociedade capitalista

A sua grande contribuiccedilatildeo eacute indicar no espaccedilo da educaccedilatildeo uma perspectiva de que acrianccedila venha a aprender o que eacute a sociedade o que satildeo seus instrumentos (GUATTARI 1985p 54) para poder interferir de forma autocircnoma e criativa no mundo Aprender os coacutedigos e osmodos de funcionamento da sociedade na qual estaacute inserida pode ser importante para que acrianccedila tenha a possibilidade de desenvolver formas singulares de estar no mundo

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegico(a)s a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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UNIDADE II

UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA DO COTIDIANO ESCOLAR

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 4 DOS COLEacuteGI OS DA MODERNI DADE AgraveS ESCOLAS ATUAI S UMAANAacuteLI SE CRIacute TI CA DAS PRAacuteTI CAS COTI DI ANAS

Seguindo a linha de anaacutelise de nosso percurso iremosneste momento buscar os fios que nos permitem compreenderalguns elementos do cotidiano escolar como um espaccedilodisciplinar e controlador das subjetividades O estudo da origemdas praacuteticas educativas a partir dos coleacutegios do Seacuteculo XVIIIforneceu-nos os elementos que seratildeo aqui utilizados paraexercitarmos uma investigaccedilatildeo criacutetica da escola na atualidadeEsse exerciacutecio de reflexatildeo eacute fundamental para que possamosabrir novas portas e inventar outras praacuteticas da psicologia naescola

Com o objetivo de melhor sistematizar nosso trabalho deanaacutelise dividiremos a explanaccedilatildeo em seis itens a saber

1 As praacutet icas cot idianas conspiram cont ra a produccedilatildeoda autonomia e da autogestatildeo

Como jaacute estudamos anteriormente o poder de decisatildeofoi retirado do aluno quando da organizaccedilatildeo dos coleacutegios apartir do Seacuteculo XVIII sendo produzida uma ideacuteia de infacircnciafragilizada e portanto sem possibilidades de exercitar suaautonomia Eacute naturalizada uma concepccedilatildeo de aluno como umcorpo vazio a ser preenchido e modelado

As atividades nas escolas e na vida contemporacircnea passam a ser geridas por outrem -pelo supervisor pelo livro didaacutetico pelos programas governamentais (Escola Aberta Bolsa Escolae outros) - ou coordenadas por entidades como o Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem Aspraacuteticas de avaliaccedilatildeo se apresentam aos alunos como destituiacutedas de sentido Para os professoresessas praacuteticas representam mais uma etapa do processo sendo orientadas pela mesma loacutegica doplanejamento e das atividades contidas no livro didaacutetico Os principais atores sociais (alunos eprofessores) satildeo enfraquecidos no exerciacutecio do poder como sujeitos incapacitados de produzir aarticulaccedilatildeo entre praacuteticas e seus efeitos

Ilustraccedilatildeo de capa do livro O berccedilod a d es i g u a l d a d e de CristovamBuarque com fotos de SebastiatildeoSalgado

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lt Paulo Freiregt ao trabalhar o tema da autonomia no livroPedagogia da Aut onom ia (1996) estabelece a relaccedilatildeo entre oexerciacutecio da liberdade por parte do aluno e da autoridade peloeducador Aponta como fundamental para a construccedilatildeo da autonomiaa praacutetica da responsabilidade Segundo esse educador o educandoque exercita sua liberdade ficaraacute tatildeo mais livre quanto mais eticamentevaacute assumindo a responsabilidade de suas accedilotildees (p 104) mas essaautonomia somente se constitui quando desaparece a relaccedilatildeo dedependecircncia Continuando com o pensamento de Freire ele afirmaque

No fundo o essencial nas relaccedilotildees entre educador eeducando entre autoridade e liberdade entre pais matildeesfilhos filhas eacute a reinvenccedilatildeo do ser humano no aprendizadoda autonomia (FREIRE 1996 p 105)

O pensamento e a accedilatildeo autocircnomos natildeo se datildeo sem que sejamexplicitados os lugares de poder Por isso Paulo Freire fala da reinvenccedilatildeodo ser humano e mais do que isso da reinvenccedilatildeo das relaccedilotildees pedagoacutegicasque deveriam trocar a dependecircncia pela responsabilidade

2 O m odelo educat ivo dest itui os hom ens de sua condiccedilatildeo deprodutores do conhecim ento

A concepccedilatildeo de sujeito a-histoacuterico estaacute presente no contextoescolar onde o conhecimento eacute dado como objetivo e assumido comoverdade absoluta a ser aprendida A organizaccedilatildeo do saber hierarquicamentedisciplinado como nos mostrou Juacutelia Varella na aula anterior (Aula 3Unidade I) elimina a concepccedilatildeo de sujeito como produtor de conhecimentoOs processos de p e d a g o g i z a ccedilatilde o d o s co n h e ci m e n t o s e dedisciplinam ento interno dos saberes estatildeo presentes nas praacuteticaseducacionais atuais fazendo com que tanto alunos quanto professoressejam concebidos como meros coadjuvantes

Trata-se de um treino para o bom comportamento social valorizando o lugar do expectador daquele que natildeo interfere no andamentoda aula e que deve seguir agrave risca o que eacute ditado pelo planejamentomuitas vezes elaborado pelos especialistas da educaccedilatildeo A ausecircncia deuma implicaccedilatildeo dos alunos no processo de aprendizagem eacute consequumlecircnciadesse modelo de escola que somente legitima o conhecimento que eacuteproduzido fora de seu cotidiano A sala de aula eacute assim desumanizada edestituiacuteda de vida proacutepria O mesmo processo eacute vivido pelos educadoresque aprendem no exerciacutecio profissional a praticar e valorizar a obediecircncia

Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

Fo n t e Charge deClaudius Cecconpublicada no livroCu i d a d o Esco l a (p64)

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

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5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I246

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I254

DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 16: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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educadores na luta contra os elevados iacutendices de repetecircncia eevasatildeo na escola puacuteblica A educaccedilatildeo era compreendida comoa base de uma sociedade saudaacutevel que precisava ser moralmentepreparada para o trabalho

Os novos intelectuais se uniram em torno da crenccedila de que a sauacutede e a educaccedilatildeo eramfatores capazes de promover a necessaacuteria regeneraccedilatildeo da populaccedilatildeo brasileira A preocupaccedilatildeocom o rendimento na escola promoveu a incorporaccedilatildeo do ltmodelo tayloristagt de produccedilatildeofabril afirmando na educaccedilatildeo as posiccedilotildees tecnicistas norteadas pela eficiecircncia e eficaacutecia dasaccedilotildees No trecho abaixo Maria Helena de Souza Patto (2003) expressa o significado dainfluecircncia desse modelo produtivo na educaccedilatildeo ao identificar um vieacutes adaptacionista naproduccedilatildeo em seacuterie de alunos perfeitamente adaptados aos diferentes lugares que lhes seratildeo

destinados numa realidade social inquestionada

Eis a via da naturalizaccedilatildeo da desigualdade que temorigem na maneira como a sociedade se estrutura maseacute lida como diferenccedila bioloacutegica ou psicoloacutegica deaptidatildeo intelectual entre grupos e indiviacuteduos (PATTO2003 p 33)

O movimento chamado Escola Nova esboccedilou-se na deacutecada de 1920 no Brasil

O mundo vivia agrave eacutepoca um momento de crescimento industrial e de expansatildeourbana e nesse contexto um grupo de intelectuais brasileiros sentiu necessidadede preparar o paiacutes para acompanhar esse desenvolvimento A educaccedilatildeo era poreles percebida como o elemento-chave para promover a remodelaccedilatildeo requerida

Inspirados nas ideacuteias poliacutetico-filosoacuteficas de igualdade entre os homens e do direitode todos agrave educaccedilatildeo esses intelectuais viam num sistema estatal de ensinopuacuteblico livre e aberto o uacutenico meio efetivo de combate agraves desigualdades sociaisda naccedilatildeoDenominado de Escola Nova o movimento ganhou impulso na deacutecada de 1930apoacutes a divulgaccedilatildeo do lt Manifesto da Escola Novagt (1932) Nesse documentodefendia-se a universalizaccedilatildeo da escola puacuteblica laica e gratuita Entre os seussignataacuterios destacavam-se os nomes de Aniacutesio Teixeira Fernando de Azevedo

Lourenccedilo Filho e Ceciacutelia Meireles

Para ler o Manifesto dosPioneiros acessewwwpedagogiaemfocoprobrheb07ahtm

O americano lt Freder ick Taylorgt considerado o pai da organizaccedilatildeo cientiacutefica dotrabalho propocircs um modelo de produccedilatildeo industrial aliando eficaacutecia e eficiecircnciaSua preocupaccedilatildeo era com o sistema produtivo e natildeo com o homem negando aotrabalhador qualquer manifestaccedilatildeo criativa ou participaccedilatildeo O ideaacuterio tayloristafoi transposto para a educaccedilatildeo promovendo uma valorizaccedilatildeo do tecnicismo tendocomo efeitos a fragmentaccedilatildeo e a hierarquizaccedilatildeo do ensino e do conhecimento

Dirija-se ao PMAP pararealizar a leitura do texto Oque a h ist oacuter ia pode dizerso b r e a p r o f i ssatilde o d op si coacute l o g o a r e l a ccedilatilde opsicologia e educaccedilatildeo deMaria Helena de S Patto nolivro P si co l o g i a ecompromisso social

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Associada agrave escola nova a psicologia continuou fornecendo os subsiacutedios cientiacuteficos para oconhecimento das possibilidades individuais e das dificuldades escolares natildeo mais identificadascomo efeito da hereditariedade e da raccedila mas da organizaccedilatildeo e dos haacutebitos familiares e doambiente soacutecio-cultural Manteacutem-se a utilizaccedilatildeo dos instrumentos de avaliaccedilatildeo psicoloacutegica cadavez mais associada agrave pesquisa sobre o fracasso escolar e centrada no aluno e nos processos deaprendizagem

Na deacutecada de 1950 amplia-se para aleacutem do aluno o campo de pesquisa educacional praticadaprincipalmente nos institutos ligados ao governo que tinham em seus quadros o psicoacutelogoLourenccedilo Filho um dos precursores do escolanovismo A escola reafirmava sua posiccedilatildeo comoelemento fundamental no desenvolvimento da sociedade e era defendida enquanto prioridade nademocratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo e das chances oferecidas aos sujeitos

O periacuteodo de 1960 ateacute meados da deacutecada de 1970 tem como o eixo principal a Teoria doCapital Humano Em estudo sobre essa teoria e sua influecircncia no modelo educacional brasileiroGaudecircncio Frigotto em seu livro A produtividade da escola improdutiva afirma que

Do ponto de vista macroeconocircmico o investimento no fator humano passa asignificar um dos determinantes baacutesicos para o aumento da produtividade eelemento de superaccedilatildeo do atraso econocircmico Do ponto de vistamicroeconocircmico constitui-se no fator explicativo das diferenccedilas individuais deprodutividade e renda e consequumlentemente de mobilidade social (FRIGOTTO1984 p 172)

Comungando com os interesses do ltregime militargt vigentenesse periacuteodo a psicologia voltou-se ainda mais para a avaliaccedilatildeodas capacidades e habilidades psiacutequicas associadas ao investimentoindividual e ao rendimento escolar

Nos proacuteximos anos (a partir de 1970) a Teoria da CarecircnciaCultural de origem norte-americana iria influenciar a pesquisa sobreo fracasso escolar colaborando com a construccedilatildeo de um discursoque mantinha a linha de causalidade que culpava o aluno por seuinsucesso na escola Um dos aspectos principais dessa teoria eacute aafirmaccedilatildeo de que a escola eacute inadequada agraves caracteriacutesticas psiacutequicasda crianccedila pobre Esta teoria parte da existecircncia de um supostodeacuteficit considerado natural na populaccedilatildeo pobre o qual impede queas crianccedilas aproveitem as oportunidades oferecidas pela sociedadeA desigualdade social produto da sociedade cindida em classes e obaixo desempenho na escola e no trabalho satildeo ltnaturalizadosgtcom a participaccedilatildeo ativa dos elementos cientiacuteficos emprestados pelapsicologia

Eacute a partir do final dessa deacutecada de 1970 e de modo maispotente na deacutecada de 1980 que comeccedilam a ser construiacutedos outrosespaccedilos de reflexatildeo e de praacuteticas que significaratildeo a abertura denovos caminhos tanto na educaccedilatildeo quanto na psicologia Inaugura-se uma possibilidade de anaacutelise criacutetica do sistema educacionalapontando relaccedilotildees com a estrutura soacutecio-econocircmica vigente que

Alguns ditos popularesservem para esteprocesso fazendo comuma afirmaccedilatildeo sejacompreendida comon a t u r a l inquestionaacutevel

Q u e m t r a b a l h asem pre alcanccedila

O trabalho enobreceo hom em

A cada um segundosuas possibilidades

Ouccedila a muacutesica M e uca r o a m i g o composta por ChicoBuarque de Holandadurante seu exiacutelio naFranccedila Para issouti l ize ocd-rom doAprendente

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alavancam uma criacutetica da psicologia sobre si mesma Satildeo os novos tempos do fim da ditaduramilitar e da democratizaccedilatildeo no Brasil

Eacute a partir de meados da deacutecada de 1980 que a pesquisa em psicologia comeccedila a tentarromper com as alianccedilas que a constituiacuteram como base do discurso eugecircnico higienista e nosuacuteltimos anos pelo menos preconceituoso

No campo da pesquisa ressaltam-se os trabalhos de MariaHelena Sousa Patto que afirma o compromisso ideoloacutegico da psicologiacom os ideais das classes dominantes montando teorias que servissempara explicar as desigualdades sociais (1984) inaugurando um campode criacutetica importante para as posteriores investigaccedilotildees teoacutericas eintervenccedilotildees educacionais Em estudo posterior Patto nos permiteavanccedilar na compreensatildeo do fracasso escolar como uma produccedilatildeosocial e natildeo como decorrecircncia de problemas individuais proacuteprios dapobreza inaugurando uma forte criacutetica agrave lt Teoria da CarecircnciaCultural (1990)gt

Mesmo anunciando esse caminho de construccedilatildeo de umapsicologia criacutetica e baseada em compromissos sociais eacute importanteque se tenha claro que ainda vigoram nas escolas e na sociedadevaacuterias afirmaccedilotildees que se assentam nos trilhos da Teoria da CarecircnciaCultural Essas ideacuteias penetram com muita facilidade no cotidiano daescola e nos debates do senso comum uma vez que coincidem com anecessidade de predomiacutenio dos princiacutepios da sociedade capitalistapor meio de um discurso hegemocircnico

Por isso CUIDADO Sinal Vermelho Na proacutexima Unidadevoltaremos a esses caminhos e agraves proposiccedilotildees e intervenccedilotildees praacuteticasda psicologia daiacute decorrentes Esse procedimento pode contribuirpara que vocecirc nosso aprendente venha a diferenciar praacuteticas ediscursos e reconhecer a que visatildeo de homem de mundo e desociedade estatildeo servindo

Antes poreacutem de dar esse passo em nossa trilha iremos analisar os processos de construccedilatildeodo conhecimento enquanto marcados pelo exerciacutecio do poder que se efetivam no cotidianoescolar trazendo a disciplina como questatildeo teoacuterica e sua gecircnese como objeto de estudo

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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A Teoria da CarecircnciaCultural fois u f i c i e n t e m e n t einvestigada por MariaHelena Sousa Pattoprincipalmente em trecircspublicaccedilotildees Psicologiae I d eo l o g i a u m ai n t r o d u ccedilatildeo c r iacutet i ca agravep s i co l o g i a esco l a r(1984) A produccedilatildeo dof r acasso esco l a r histoacuter ias de subm issatildeoe rebeldia (1990) e notexto Para um a criacutet icada razatildeo psicom eacutet r icapublicado no l ivroMutaccedilotildees do cativeiro(2000 p 5)

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AULA 3 CONHECI MENTO SABER E PODER UM OLHAR SOBRE A I NFAcircNCI AESCOLARIZADA

Ateacute esta etapa de nosso caminho estudamos a construccedilatildeo das teorias psicoloacutegicas e ahistoacuteria da articulaccedilatildeo entre a psicologia a medicina e a pedagogia no Brasil constituindoalianccedilas em nome de uma abordagem cientiacutefica dos problemas educacionais

A partir de agora promoveremos outro tipo de investigaccedilatildeo para que seja possiacutevel umamaior compreensatildeo do cotidiano escolar com base na anaacutelise das praacuteticas educativas e dasrelaccedilotildees sociais que se estabelecem entre alunos profissionais e comunidades

Nosso ponto de partida seratildeo os estudos de Philippe Ariegraves publicados no livro Histoacuteriasocial da infacircncia e da fam iacutelia que demonstram o surgimento das instituiccedilotildees educativas namodernidade caracterizadas por dar sentido a uma infacircncia que passa a ser vista como naturalmentefraacutegil A educaccedilatildeo impositiva moralizante e disciplinadora se justifica pela necessidade de formaros sujeitos que a sociedade comeccedila a conceber como corpos que necessitam de cuidados porquesatildeo deacutebeis e fracos Ariegraves parte da ideacuteia de que esse sentimento de infacircncia tem origem com aemergecircncia da sociedade burguesa e eacute fortalecido pela accedilatildeo dos jesuiacutetas

Para melhor compreender os efeitos da educaccedilatildeo na constituiccedilatildeo dessa infacircncia podemosrecorrer ao filoacutesofo francecircs Michel Foucault quando ele aponta em seu livro Microfiacutesica do Poder(1979) que a disciplina eacute uma teacutecnica de exerciacutecio de poder que foi natildeo inteiramente inventadamas elaborada em seus princiacutepios fundamentais durante o seacuteculo XVIII (p 105) O autor nosentido de melhor esclarecer a origem da disciplina nas sociedades ocidentais afirma que essa eacuteuma arte de distribuiccedilatildeo dos homens no espaccedilo baseada na individualizaccedilatildeo dos corpos (p

105) A disciplina que se exerce sobre cada corpo isoladamente eacute uma praacutetica que permite aclassificaccedilatildeo dos sujeitos observados e controlados A vigilacircncia deve ser permanente para que adisciplina seja conseguida

Foucault ressalta a importacircncia das praacuteticas de exame (provas avaliaccedilotildees) e de penalizaccedilatildeoou castigo como formas de fazer com que os sujeitos internalizem o poder Quanto mais a morale a disciplina forem sentidas como necessaacuterias agrave existecircncia humana mais sucesso teraacute o processode disciplinamento e controle social A citaccedilatildeo a seguir sintetiza a anaacutelise de Foucault sobre essetema

Escola s n a h ist oacuter ia da h um a nida de

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A disciplina eacute o conjunto de teacutecnicas pelas quais os sistemas de poder vatildeo terpor alvo e resultado os indiviacuteduos em sua singularidade Eacute o poder deindividualizaccedilatildeo que tem o exame como instrumento fundamental O exame eacutea vigilacircncia permanente classificatoacuteria que permite distribuir os indiviacuteduosjulgaacute-los medi-los localizaacute-los e por conseguinte utilizaacute-los ao maacuteximo(FOUCAULT 1979 p107)

Retomando as contribuiccedilotildees de Philippe Ariegraves vimos que a modernidade instaura umaseparaccedilatildeo entre o mundo dos adultos e das crianccedilas e para tanto organiza novas formas eespaccedilos de educaccedilatildeo Os coleacutegios (educaccedilatildeo em preacutedios fechados) o mobiliaacuterio (bancos escolaresbirocirc etc) a separaccedilatildeo em classes (inicialmente por conhecimento e mais recentemente poridades e ainda por localizaccedilatildeo na estrutura social) satildeo intervenccedilotildees protagonizadas desde oSeacuteculo XV ateacute os dias de hoje com o objetivo de instruir e moralizar a sociedade

A ideacuteia de que a infacircncia eacute uma produccedilatildeo social natildeo eacute mais novidade para noacutes Temosdebatido durante nosso percurso que o sentimento que hoje temos com relaccedilatildeo agrave infacircnciaapareceu no momento em que a famiacutelia burguesa se distinguiu como elemento central da sociedadecom a preocupaccedilatildeo de formar homens honrados e moralmente constituiacutedos A sociedade maisespecificamente a igreja catoacutelica comeccedila a valorizar a propriedade de bens centrada nas matildeosde nuacutecleos familiares A famiacutelia volta-se para si mesma resguardando seus membros exigindoassim uma educaccedilatildeo rigorosa dos herdeiros

A partir dessas colocaccedilotildees sobre uma disciplina (escolar) que eacute exigida para que a sociedadeexerccedila controle sobre os homens podemos ainda aceitar a ideacuteia de que os conhecimentossaberes ministrados nos coleacutegios foram igualmente objetos de disciplinarizaccedilatildeo isto eacute de umaintervenccedilatildeo para que servissem aos interesses da reforma moral cristatilde e depois laica (SeacuteculoXVIII)

Juacutelia Varella no texto intitulado O estatuto do saber pedagoacutegico (publicado em O sujeitoda Educaccedilatildeo 4 ed 2000) identifica na passagem do Renascimento para a Modernidade umapedagogizaccedilatildeo dos conhecimentos que significa um novo ordenamento dos saberes de acordocom os interesses moralizantes e disciplinadores que emanam da igreja catoacutelica e dos coleacutegiosjesuiacutetas Conforme demonstra essa autora

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O olhar invisiacutevel podeser representado peloPanopticon de Benthanque permite ver tudosem ser visto produzindono aluno a disciplina pelomedo do exame e docastigo

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Para levar adiante seu projeto de formaccedilatildeo de bons cristatildeos os mestresjesuiacutetas natildeo apenas reforccedilaram o estatuto conferido agrave infacircncia com a opccedilatildeode educaacute-la em espaccedilos fechados nos coleacutegios mas sentiram tambeacutem anecessidade de controlar os saberes que iam transmitir e de organizar essessaberes de tal forma que se adequassem agraves supostas capacidades infantis(VARELLA 2000 apud SILVA 1994 p 88)

Os mestres jesuiacutetas se converteram em autoridades maacuteximas exercendo um poder sobreseus alunos retirando toda a possibilidade vivenciada na Idade Meacutedia de autonomia no estudoForam desenvolvidas estrateacutegias e teacutecnicas que tinham como objetivo dirigir ao conhecimento omesmo sentido moralizante que vinha sendo dado agrave formaccedilatildeo dos alunos A disciplina e a ordemnas salas de aula passaram a ser elementos necessaacuterios nesse processo de penalizaccedilatildeo emoralizaccedilatildeo

Em segundo lugar Juacutelia Varella reconhece a existecircncia de um processo que se daacute no interiorda produccedilatildeo do conhecimento o disciplinamento interno dos saberes eliminando o que eraconsiderado como saberes inuacuteteis segundo as normas de moralizaccedilatildeo e reordenando umacomunicaccedilatildeo entre esses retirando-lhes a forccedila e a intensidade Nesse processo eacute importanteque se promova ainda uma classificaccedilatildeo e hierarquizaccedilatildeo entre os saberes promovendo umacentralizaccedilatildeo de cima para baixo As fronteiras entre a histoacuteria a geografia e a sociologia foramtraccediladas por exemplo pela humanidade assim como a orientaccedilatildeo no processo de ensino-aprendizagem do que deve ser ensinado primeiro e qual saber eacute mais nobre isto eacute que deveocupar o topo de todos os conhecimentos

Os processos que foram aos poucos se instaurando apartir do Seacuteculo XVI produziram censura e controle e mais doque isso devido agraves divisotildees impostas que delimitavam as aacutereasde saberes (conhecimentos) buscavam eliminar a ideacuteia dohomem universal acentuando a possibilidade de tornar doacuteceisos corpos (os sujeitos) mediante essa praacutetica disciplinar impostana produccedilatildeo dos saberes Se anteriormente na Idade Meacutedia oaluno detinha um poder sobre o que queria aprender e ondebuscar o conhecimento na era da modernidade essapossibilidade passa a ser inexistente O aluno perde o poder sobre seus caminhos passando a sercompreendido como um mero elemento de transmissatildeo de conhecimento Natildeo mais pode escolhero que deve ser aprendido tampouco o ritmo desse aprendizado ou o que fazer do conhecimentoadquirido A grade de disciplinas hoje tatildeo naturalmente absorvida por todos noacutes em qualquercurso eacute uma produccedilatildeo social e serve a esses interesses de tornar doacutecil o corpo a ser disciplinadoAprendemos esse ordenamento dos saberes e passamos a respeitaacute-los como se fossemincontestaacuteveis naturais e acima de tudo necessaacuterios

Michel Foucault jaacute citado anteriormente reconhece nesse processo a emergecircncia dasociedade disciplinar que funciona confinando aprisionando os homens agraves escolas agraves prisotildeesagraves igrejas aos hospitais agraves faacutebricas etc

Os processos descritos acima por Juacutelia Varella podem ser reconhecidos ateacute hoje nas praacuteticasescolares Poreacutem com a intervenccedilatildeo das miacutedias e dos novos equipamentos sociais jaacute se pode

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identificar um controle que natildeo mais iraacute somente confinar isolar os estudantes nas escolas osloucos nos asilos e os empregados nas faacutebricas para que sejam produtivos

Trata-se da emergecircncia da sociedade de controle que atua de forma contiacutenua Entramem accedilatildeo a TV os microcomputadores e os celulares que permitem conhecer e conectar o mundoa partir de um uacutenico lugar Satildeo maacutequinas que iratildeo estruturar a vida organizando uma subjetividadedo consumo e da informaccedilatildeo Mas como relacionar esse processo aos domiacutenios da escola

Aqui lanccedilaremos matildeo de outro escritor francecircs Feacutelix Guattari (1985) que no estudo Ascreches e a iniciaccedilatildeo publicado no livro intitulado Revoluccedilotildees Moleculares mostra-nos osefeitos do processo de iniciaccedilatildeo das crianccedilas agrave loacutegica capitalista O autor se refere agrave produccedilatildeode modos de viver pensar e sentir que estariam em consonacircncia com os mais novos modos deproduccedilatildeo material na sociedade capitalista industrial Denomina como aparelhos de semiotizaccedilatildeoos viacutedeo-games CD-rom etc Esses aparelhos passam a dar o sentido dos modos de existecircncia

Guattari (1985) indica que as crianccedilas estatildeo sendo iniciadas cada vez mais cedo nossistemas de representaccedilatildeo e nos valores do capitalismo que produzem uma modelagem adequadaaos coacutedigos utilizados em nosso cotidiano Aponta como importante o fato de que se mobilizamno processo de formaccedilatildeo da crianccedila esquemas de aprendizagem que permitem traduzir oconjunto de coacutedigos ou semioacuteticas dominantes Por fim chama a atenccedilatildeo para a necessidade deanalisarmos o funcionamento da creche e o efeito da educaccedilatildeo infantil na constituiccedilatildeo dessecorpo que eacute modelado para atuar produtivamente de acordo com os ideais da sociedade capitalista

A sua grande contribuiccedilatildeo eacute indicar no espaccedilo da educaccedilatildeo uma perspectiva de que acrianccedila venha a aprender o que eacute a sociedade o que satildeo seus instrumentos (GUATTARI 1985p 54) para poder interferir de forma autocircnoma e criativa no mundo Aprender os coacutedigos e osmodos de funcionamento da sociedade na qual estaacute inserida pode ser importante para que acrianccedila tenha a possibilidade de desenvolver formas singulares de estar no mundo

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegico(a)s a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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UNIDADE II

UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA DO COTIDIANO ESCOLAR

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 4 DOS COLEacuteGI OS DA MODERNI DADE AgraveS ESCOLAS ATUAI S UMAANAacuteLI SE CRIacute TI CA DAS PRAacuteTI CAS COTI DI ANAS

Seguindo a linha de anaacutelise de nosso percurso iremosneste momento buscar os fios que nos permitem compreenderalguns elementos do cotidiano escolar como um espaccedilodisciplinar e controlador das subjetividades O estudo da origemdas praacuteticas educativas a partir dos coleacutegios do Seacuteculo XVIIIforneceu-nos os elementos que seratildeo aqui utilizados paraexercitarmos uma investigaccedilatildeo criacutetica da escola na atualidadeEsse exerciacutecio de reflexatildeo eacute fundamental para que possamosabrir novas portas e inventar outras praacuteticas da psicologia naescola

Com o objetivo de melhor sistematizar nosso trabalho deanaacutelise dividiremos a explanaccedilatildeo em seis itens a saber

1 As praacutet icas cot idianas conspiram cont ra a produccedilatildeoda autonomia e da autogestatildeo

Como jaacute estudamos anteriormente o poder de decisatildeofoi retirado do aluno quando da organizaccedilatildeo dos coleacutegios apartir do Seacuteculo XVIII sendo produzida uma ideacuteia de infacircnciafragilizada e portanto sem possibilidades de exercitar suaautonomia Eacute naturalizada uma concepccedilatildeo de aluno como umcorpo vazio a ser preenchido e modelado

As atividades nas escolas e na vida contemporacircnea passam a ser geridas por outrem -pelo supervisor pelo livro didaacutetico pelos programas governamentais (Escola Aberta Bolsa Escolae outros) - ou coordenadas por entidades como o Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem Aspraacuteticas de avaliaccedilatildeo se apresentam aos alunos como destituiacutedas de sentido Para os professoresessas praacuteticas representam mais uma etapa do processo sendo orientadas pela mesma loacutegica doplanejamento e das atividades contidas no livro didaacutetico Os principais atores sociais (alunos eprofessores) satildeo enfraquecidos no exerciacutecio do poder como sujeitos incapacitados de produzir aarticulaccedilatildeo entre praacuteticas e seus efeitos

Ilustraccedilatildeo de capa do livro O berccedilod a d es i g u a l d a d e de CristovamBuarque com fotos de SebastiatildeoSalgado

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lt Paulo Freiregt ao trabalhar o tema da autonomia no livroPedagogia da Aut onom ia (1996) estabelece a relaccedilatildeo entre oexerciacutecio da liberdade por parte do aluno e da autoridade peloeducador Aponta como fundamental para a construccedilatildeo da autonomiaa praacutetica da responsabilidade Segundo esse educador o educandoque exercita sua liberdade ficaraacute tatildeo mais livre quanto mais eticamentevaacute assumindo a responsabilidade de suas accedilotildees (p 104) mas essaautonomia somente se constitui quando desaparece a relaccedilatildeo dedependecircncia Continuando com o pensamento de Freire ele afirmaque

No fundo o essencial nas relaccedilotildees entre educador eeducando entre autoridade e liberdade entre pais matildeesfilhos filhas eacute a reinvenccedilatildeo do ser humano no aprendizadoda autonomia (FREIRE 1996 p 105)

O pensamento e a accedilatildeo autocircnomos natildeo se datildeo sem que sejamexplicitados os lugares de poder Por isso Paulo Freire fala da reinvenccedilatildeodo ser humano e mais do que isso da reinvenccedilatildeo das relaccedilotildees pedagoacutegicasque deveriam trocar a dependecircncia pela responsabilidade

2 O m odelo educat ivo dest itui os hom ens de sua condiccedilatildeo deprodutores do conhecim ento

A concepccedilatildeo de sujeito a-histoacuterico estaacute presente no contextoescolar onde o conhecimento eacute dado como objetivo e assumido comoverdade absoluta a ser aprendida A organizaccedilatildeo do saber hierarquicamentedisciplinado como nos mostrou Juacutelia Varella na aula anterior (Aula 3Unidade I) elimina a concepccedilatildeo de sujeito como produtor de conhecimentoOs processos de p e d a g o g i z a ccedilatilde o d o s co n h e ci m e n t o s e dedisciplinam ento interno dos saberes estatildeo presentes nas praacuteticaseducacionais atuais fazendo com que tanto alunos quanto professoressejam concebidos como meros coadjuvantes

Trata-se de um treino para o bom comportamento social valorizando o lugar do expectador daquele que natildeo interfere no andamentoda aula e que deve seguir agrave risca o que eacute ditado pelo planejamentomuitas vezes elaborado pelos especialistas da educaccedilatildeo A ausecircncia deuma implicaccedilatildeo dos alunos no processo de aprendizagem eacute consequumlecircnciadesse modelo de escola que somente legitima o conhecimento que eacuteproduzido fora de seu cotidiano A sala de aula eacute assim desumanizada edestituiacuteda de vida proacutepria O mesmo processo eacute vivido pelos educadoresque aprendem no exerciacutecio profissional a praticar e valorizar a obediecircncia

Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

Fo n t e Charge deClaudius Cecconpublicada no livroCu i d a d o Esco l a (p64)

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

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5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I246

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I254

DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I256

Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I258

Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 17: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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Associada agrave escola nova a psicologia continuou fornecendo os subsiacutedios cientiacuteficos para oconhecimento das possibilidades individuais e das dificuldades escolares natildeo mais identificadascomo efeito da hereditariedade e da raccedila mas da organizaccedilatildeo e dos haacutebitos familiares e doambiente soacutecio-cultural Manteacutem-se a utilizaccedilatildeo dos instrumentos de avaliaccedilatildeo psicoloacutegica cadavez mais associada agrave pesquisa sobre o fracasso escolar e centrada no aluno e nos processos deaprendizagem

Na deacutecada de 1950 amplia-se para aleacutem do aluno o campo de pesquisa educacional praticadaprincipalmente nos institutos ligados ao governo que tinham em seus quadros o psicoacutelogoLourenccedilo Filho um dos precursores do escolanovismo A escola reafirmava sua posiccedilatildeo comoelemento fundamental no desenvolvimento da sociedade e era defendida enquanto prioridade nademocratizaccedilatildeo da educaccedilatildeo e das chances oferecidas aos sujeitos

O periacuteodo de 1960 ateacute meados da deacutecada de 1970 tem como o eixo principal a Teoria doCapital Humano Em estudo sobre essa teoria e sua influecircncia no modelo educacional brasileiroGaudecircncio Frigotto em seu livro A produtividade da escola improdutiva afirma que

Do ponto de vista macroeconocircmico o investimento no fator humano passa asignificar um dos determinantes baacutesicos para o aumento da produtividade eelemento de superaccedilatildeo do atraso econocircmico Do ponto de vistamicroeconocircmico constitui-se no fator explicativo das diferenccedilas individuais deprodutividade e renda e consequumlentemente de mobilidade social (FRIGOTTO1984 p 172)

Comungando com os interesses do ltregime militargt vigentenesse periacuteodo a psicologia voltou-se ainda mais para a avaliaccedilatildeodas capacidades e habilidades psiacutequicas associadas ao investimentoindividual e ao rendimento escolar

Nos proacuteximos anos (a partir de 1970) a Teoria da CarecircnciaCultural de origem norte-americana iria influenciar a pesquisa sobreo fracasso escolar colaborando com a construccedilatildeo de um discursoque mantinha a linha de causalidade que culpava o aluno por seuinsucesso na escola Um dos aspectos principais dessa teoria eacute aafirmaccedilatildeo de que a escola eacute inadequada agraves caracteriacutesticas psiacutequicasda crianccedila pobre Esta teoria parte da existecircncia de um supostodeacuteficit considerado natural na populaccedilatildeo pobre o qual impede queas crianccedilas aproveitem as oportunidades oferecidas pela sociedadeA desigualdade social produto da sociedade cindida em classes e obaixo desempenho na escola e no trabalho satildeo ltnaturalizadosgtcom a participaccedilatildeo ativa dos elementos cientiacuteficos emprestados pelapsicologia

Eacute a partir do final dessa deacutecada de 1970 e de modo maispotente na deacutecada de 1980 que comeccedilam a ser construiacutedos outrosespaccedilos de reflexatildeo e de praacuteticas que significaratildeo a abertura denovos caminhos tanto na educaccedilatildeo quanto na psicologia Inaugura-se uma possibilidade de anaacutelise criacutetica do sistema educacionalapontando relaccedilotildees com a estrutura soacutecio-econocircmica vigente que

Alguns ditos popularesservem para esteprocesso fazendo comuma afirmaccedilatildeo sejacompreendida comon a t u r a l inquestionaacutevel

Q u e m t r a b a l h asem pre alcanccedila

O trabalho enobreceo hom em

A cada um segundosuas possibilidades

Ouccedila a muacutesica M e uca r o a m i g o composta por ChicoBuarque de Holandadurante seu exiacutelio naFranccedila Para issouti l ize ocd-rom doAprendente

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alavancam uma criacutetica da psicologia sobre si mesma Satildeo os novos tempos do fim da ditaduramilitar e da democratizaccedilatildeo no Brasil

Eacute a partir de meados da deacutecada de 1980 que a pesquisa em psicologia comeccedila a tentarromper com as alianccedilas que a constituiacuteram como base do discurso eugecircnico higienista e nosuacuteltimos anos pelo menos preconceituoso

No campo da pesquisa ressaltam-se os trabalhos de MariaHelena Sousa Patto que afirma o compromisso ideoloacutegico da psicologiacom os ideais das classes dominantes montando teorias que servissempara explicar as desigualdades sociais (1984) inaugurando um campode criacutetica importante para as posteriores investigaccedilotildees teoacutericas eintervenccedilotildees educacionais Em estudo posterior Patto nos permiteavanccedilar na compreensatildeo do fracasso escolar como uma produccedilatildeosocial e natildeo como decorrecircncia de problemas individuais proacuteprios dapobreza inaugurando uma forte criacutetica agrave lt Teoria da CarecircnciaCultural (1990)gt

Mesmo anunciando esse caminho de construccedilatildeo de umapsicologia criacutetica e baseada em compromissos sociais eacute importanteque se tenha claro que ainda vigoram nas escolas e na sociedadevaacuterias afirmaccedilotildees que se assentam nos trilhos da Teoria da CarecircnciaCultural Essas ideacuteias penetram com muita facilidade no cotidiano daescola e nos debates do senso comum uma vez que coincidem com anecessidade de predomiacutenio dos princiacutepios da sociedade capitalistapor meio de um discurso hegemocircnico

Por isso CUIDADO Sinal Vermelho Na proacutexima Unidadevoltaremos a esses caminhos e agraves proposiccedilotildees e intervenccedilotildees praacuteticasda psicologia daiacute decorrentes Esse procedimento pode contribuirpara que vocecirc nosso aprendente venha a diferenciar praacuteticas ediscursos e reconhecer a que visatildeo de homem de mundo e desociedade estatildeo servindo

Antes poreacutem de dar esse passo em nossa trilha iremos analisar os processos de construccedilatildeodo conhecimento enquanto marcados pelo exerciacutecio do poder que se efetivam no cotidianoescolar trazendo a disciplina como questatildeo teoacuterica e sua gecircnese como objeto de estudo

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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A Teoria da CarecircnciaCultural fois u f i c i e n t e m e n t einvestigada por MariaHelena Sousa Pattoprincipalmente em trecircspublicaccedilotildees Psicologiae I d eo l o g i a u m ai n t r o d u ccedilatildeo c r iacutet i ca agravep s i co l o g i a esco l a r(1984) A produccedilatildeo dof r acasso esco l a r histoacuter ias de subm issatildeoe rebeldia (1990) e notexto Para um a criacutet icada razatildeo psicom eacutet r icapublicado no l ivroMutaccedilotildees do cativeiro(2000 p 5)

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AULA 3 CONHECI MENTO SABER E PODER UM OLHAR SOBRE A I NFAcircNCI AESCOLARIZADA

Ateacute esta etapa de nosso caminho estudamos a construccedilatildeo das teorias psicoloacutegicas e ahistoacuteria da articulaccedilatildeo entre a psicologia a medicina e a pedagogia no Brasil constituindoalianccedilas em nome de uma abordagem cientiacutefica dos problemas educacionais

A partir de agora promoveremos outro tipo de investigaccedilatildeo para que seja possiacutevel umamaior compreensatildeo do cotidiano escolar com base na anaacutelise das praacuteticas educativas e dasrelaccedilotildees sociais que se estabelecem entre alunos profissionais e comunidades

Nosso ponto de partida seratildeo os estudos de Philippe Ariegraves publicados no livro Histoacuteriasocial da infacircncia e da fam iacutelia que demonstram o surgimento das instituiccedilotildees educativas namodernidade caracterizadas por dar sentido a uma infacircncia que passa a ser vista como naturalmentefraacutegil A educaccedilatildeo impositiva moralizante e disciplinadora se justifica pela necessidade de formaros sujeitos que a sociedade comeccedila a conceber como corpos que necessitam de cuidados porquesatildeo deacutebeis e fracos Ariegraves parte da ideacuteia de que esse sentimento de infacircncia tem origem com aemergecircncia da sociedade burguesa e eacute fortalecido pela accedilatildeo dos jesuiacutetas

Para melhor compreender os efeitos da educaccedilatildeo na constituiccedilatildeo dessa infacircncia podemosrecorrer ao filoacutesofo francecircs Michel Foucault quando ele aponta em seu livro Microfiacutesica do Poder(1979) que a disciplina eacute uma teacutecnica de exerciacutecio de poder que foi natildeo inteiramente inventadamas elaborada em seus princiacutepios fundamentais durante o seacuteculo XVIII (p 105) O autor nosentido de melhor esclarecer a origem da disciplina nas sociedades ocidentais afirma que essa eacuteuma arte de distribuiccedilatildeo dos homens no espaccedilo baseada na individualizaccedilatildeo dos corpos (p

105) A disciplina que se exerce sobre cada corpo isoladamente eacute uma praacutetica que permite aclassificaccedilatildeo dos sujeitos observados e controlados A vigilacircncia deve ser permanente para que adisciplina seja conseguida

Foucault ressalta a importacircncia das praacuteticas de exame (provas avaliaccedilotildees) e de penalizaccedilatildeoou castigo como formas de fazer com que os sujeitos internalizem o poder Quanto mais a morale a disciplina forem sentidas como necessaacuterias agrave existecircncia humana mais sucesso teraacute o processode disciplinamento e controle social A citaccedilatildeo a seguir sintetiza a anaacutelise de Foucault sobre essetema

Escola s n a h ist oacuter ia da h um a nida de

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A disciplina eacute o conjunto de teacutecnicas pelas quais os sistemas de poder vatildeo terpor alvo e resultado os indiviacuteduos em sua singularidade Eacute o poder deindividualizaccedilatildeo que tem o exame como instrumento fundamental O exame eacutea vigilacircncia permanente classificatoacuteria que permite distribuir os indiviacuteduosjulgaacute-los medi-los localizaacute-los e por conseguinte utilizaacute-los ao maacuteximo(FOUCAULT 1979 p107)

Retomando as contribuiccedilotildees de Philippe Ariegraves vimos que a modernidade instaura umaseparaccedilatildeo entre o mundo dos adultos e das crianccedilas e para tanto organiza novas formas eespaccedilos de educaccedilatildeo Os coleacutegios (educaccedilatildeo em preacutedios fechados) o mobiliaacuterio (bancos escolaresbirocirc etc) a separaccedilatildeo em classes (inicialmente por conhecimento e mais recentemente poridades e ainda por localizaccedilatildeo na estrutura social) satildeo intervenccedilotildees protagonizadas desde oSeacuteculo XV ateacute os dias de hoje com o objetivo de instruir e moralizar a sociedade

A ideacuteia de que a infacircncia eacute uma produccedilatildeo social natildeo eacute mais novidade para noacutes Temosdebatido durante nosso percurso que o sentimento que hoje temos com relaccedilatildeo agrave infacircnciaapareceu no momento em que a famiacutelia burguesa se distinguiu como elemento central da sociedadecom a preocupaccedilatildeo de formar homens honrados e moralmente constituiacutedos A sociedade maisespecificamente a igreja catoacutelica comeccedila a valorizar a propriedade de bens centrada nas matildeosde nuacutecleos familiares A famiacutelia volta-se para si mesma resguardando seus membros exigindoassim uma educaccedilatildeo rigorosa dos herdeiros

A partir dessas colocaccedilotildees sobre uma disciplina (escolar) que eacute exigida para que a sociedadeexerccedila controle sobre os homens podemos ainda aceitar a ideacuteia de que os conhecimentossaberes ministrados nos coleacutegios foram igualmente objetos de disciplinarizaccedilatildeo isto eacute de umaintervenccedilatildeo para que servissem aos interesses da reforma moral cristatilde e depois laica (SeacuteculoXVIII)

Juacutelia Varella no texto intitulado O estatuto do saber pedagoacutegico (publicado em O sujeitoda Educaccedilatildeo 4 ed 2000) identifica na passagem do Renascimento para a Modernidade umapedagogizaccedilatildeo dos conhecimentos que significa um novo ordenamento dos saberes de acordocom os interesses moralizantes e disciplinadores que emanam da igreja catoacutelica e dos coleacutegiosjesuiacutetas Conforme demonstra essa autora

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O olhar invisiacutevel podeser representado peloPanopticon de Benthanque permite ver tudosem ser visto produzindono aluno a disciplina pelomedo do exame e docastigo

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Para levar adiante seu projeto de formaccedilatildeo de bons cristatildeos os mestresjesuiacutetas natildeo apenas reforccedilaram o estatuto conferido agrave infacircncia com a opccedilatildeode educaacute-la em espaccedilos fechados nos coleacutegios mas sentiram tambeacutem anecessidade de controlar os saberes que iam transmitir e de organizar essessaberes de tal forma que se adequassem agraves supostas capacidades infantis(VARELLA 2000 apud SILVA 1994 p 88)

Os mestres jesuiacutetas se converteram em autoridades maacuteximas exercendo um poder sobreseus alunos retirando toda a possibilidade vivenciada na Idade Meacutedia de autonomia no estudoForam desenvolvidas estrateacutegias e teacutecnicas que tinham como objetivo dirigir ao conhecimento omesmo sentido moralizante que vinha sendo dado agrave formaccedilatildeo dos alunos A disciplina e a ordemnas salas de aula passaram a ser elementos necessaacuterios nesse processo de penalizaccedilatildeo emoralizaccedilatildeo

Em segundo lugar Juacutelia Varella reconhece a existecircncia de um processo que se daacute no interiorda produccedilatildeo do conhecimento o disciplinamento interno dos saberes eliminando o que eraconsiderado como saberes inuacuteteis segundo as normas de moralizaccedilatildeo e reordenando umacomunicaccedilatildeo entre esses retirando-lhes a forccedila e a intensidade Nesse processo eacute importanteque se promova ainda uma classificaccedilatildeo e hierarquizaccedilatildeo entre os saberes promovendo umacentralizaccedilatildeo de cima para baixo As fronteiras entre a histoacuteria a geografia e a sociologia foramtraccediladas por exemplo pela humanidade assim como a orientaccedilatildeo no processo de ensino-aprendizagem do que deve ser ensinado primeiro e qual saber eacute mais nobre isto eacute que deveocupar o topo de todos os conhecimentos

Os processos que foram aos poucos se instaurando apartir do Seacuteculo XVI produziram censura e controle e mais doque isso devido agraves divisotildees impostas que delimitavam as aacutereasde saberes (conhecimentos) buscavam eliminar a ideacuteia dohomem universal acentuando a possibilidade de tornar doacuteceisos corpos (os sujeitos) mediante essa praacutetica disciplinar impostana produccedilatildeo dos saberes Se anteriormente na Idade Meacutedia oaluno detinha um poder sobre o que queria aprender e ondebuscar o conhecimento na era da modernidade essapossibilidade passa a ser inexistente O aluno perde o poder sobre seus caminhos passando a sercompreendido como um mero elemento de transmissatildeo de conhecimento Natildeo mais pode escolhero que deve ser aprendido tampouco o ritmo desse aprendizado ou o que fazer do conhecimentoadquirido A grade de disciplinas hoje tatildeo naturalmente absorvida por todos noacutes em qualquercurso eacute uma produccedilatildeo social e serve a esses interesses de tornar doacutecil o corpo a ser disciplinadoAprendemos esse ordenamento dos saberes e passamos a respeitaacute-los como se fossemincontestaacuteveis naturais e acima de tudo necessaacuterios

Michel Foucault jaacute citado anteriormente reconhece nesse processo a emergecircncia dasociedade disciplinar que funciona confinando aprisionando os homens agraves escolas agraves prisotildeesagraves igrejas aos hospitais agraves faacutebricas etc

Os processos descritos acima por Juacutelia Varella podem ser reconhecidos ateacute hoje nas praacuteticasescolares Poreacutem com a intervenccedilatildeo das miacutedias e dos novos equipamentos sociais jaacute se pode

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identificar um controle que natildeo mais iraacute somente confinar isolar os estudantes nas escolas osloucos nos asilos e os empregados nas faacutebricas para que sejam produtivos

Trata-se da emergecircncia da sociedade de controle que atua de forma contiacutenua Entramem accedilatildeo a TV os microcomputadores e os celulares que permitem conhecer e conectar o mundoa partir de um uacutenico lugar Satildeo maacutequinas que iratildeo estruturar a vida organizando uma subjetividadedo consumo e da informaccedilatildeo Mas como relacionar esse processo aos domiacutenios da escola

Aqui lanccedilaremos matildeo de outro escritor francecircs Feacutelix Guattari (1985) que no estudo Ascreches e a iniciaccedilatildeo publicado no livro intitulado Revoluccedilotildees Moleculares mostra-nos osefeitos do processo de iniciaccedilatildeo das crianccedilas agrave loacutegica capitalista O autor se refere agrave produccedilatildeode modos de viver pensar e sentir que estariam em consonacircncia com os mais novos modos deproduccedilatildeo material na sociedade capitalista industrial Denomina como aparelhos de semiotizaccedilatildeoos viacutedeo-games CD-rom etc Esses aparelhos passam a dar o sentido dos modos de existecircncia

Guattari (1985) indica que as crianccedilas estatildeo sendo iniciadas cada vez mais cedo nossistemas de representaccedilatildeo e nos valores do capitalismo que produzem uma modelagem adequadaaos coacutedigos utilizados em nosso cotidiano Aponta como importante o fato de que se mobilizamno processo de formaccedilatildeo da crianccedila esquemas de aprendizagem que permitem traduzir oconjunto de coacutedigos ou semioacuteticas dominantes Por fim chama a atenccedilatildeo para a necessidade deanalisarmos o funcionamento da creche e o efeito da educaccedilatildeo infantil na constituiccedilatildeo dessecorpo que eacute modelado para atuar produtivamente de acordo com os ideais da sociedade capitalista

A sua grande contribuiccedilatildeo eacute indicar no espaccedilo da educaccedilatildeo uma perspectiva de que acrianccedila venha a aprender o que eacute a sociedade o que satildeo seus instrumentos (GUATTARI 1985p 54) para poder interferir de forma autocircnoma e criativa no mundo Aprender os coacutedigos e osmodos de funcionamento da sociedade na qual estaacute inserida pode ser importante para que acrianccedila tenha a possibilidade de desenvolver formas singulares de estar no mundo

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegico(a)s a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE II

UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA DO COTIDIANO ESCOLAR

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 4 DOS COLEacuteGI OS DA MODERNI DADE AgraveS ESCOLAS ATUAI S UMAANAacuteLI SE CRIacute TI CA DAS PRAacuteTI CAS COTI DI ANAS

Seguindo a linha de anaacutelise de nosso percurso iremosneste momento buscar os fios que nos permitem compreenderalguns elementos do cotidiano escolar como um espaccedilodisciplinar e controlador das subjetividades O estudo da origemdas praacuteticas educativas a partir dos coleacutegios do Seacuteculo XVIIIforneceu-nos os elementos que seratildeo aqui utilizados paraexercitarmos uma investigaccedilatildeo criacutetica da escola na atualidadeEsse exerciacutecio de reflexatildeo eacute fundamental para que possamosabrir novas portas e inventar outras praacuteticas da psicologia naescola

Com o objetivo de melhor sistematizar nosso trabalho deanaacutelise dividiremos a explanaccedilatildeo em seis itens a saber

1 As praacutet icas cot idianas conspiram cont ra a produccedilatildeoda autonomia e da autogestatildeo

Como jaacute estudamos anteriormente o poder de decisatildeofoi retirado do aluno quando da organizaccedilatildeo dos coleacutegios apartir do Seacuteculo XVIII sendo produzida uma ideacuteia de infacircnciafragilizada e portanto sem possibilidades de exercitar suaautonomia Eacute naturalizada uma concepccedilatildeo de aluno como umcorpo vazio a ser preenchido e modelado

As atividades nas escolas e na vida contemporacircnea passam a ser geridas por outrem -pelo supervisor pelo livro didaacutetico pelos programas governamentais (Escola Aberta Bolsa Escolae outros) - ou coordenadas por entidades como o Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem Aspraacuteticas de avaliaccedilatildeo se apresentam aos alunos como destituiacutedas de sentido Para os professoresessas praacuteticas representam mais uma etapa do processo sendo orientadas pela mesma loacutegica doplanejamento e das atividades contidas no livro didaacutetico Os principais atores sociais (alunos eprofessores) satildeo enfraquecidos no exerciacutecio do poder como sujeitos incapacitados de produzir aarticulaccedilatildeo entre praacuteticas e seus efeitos

Ilustraccedilatildeo de capa do livro O berccedilod a d es i g u a l d a d e de CristovamBuarque com fotos de SebastiatildeoSalgado

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lt Paulo Freiregt ao trabalhar o tema da autonomia no livroPedagogia da Aut onom ia (1996) estabelece a relaccedilatildeo entre oexerciacutecio da liberdade por parte do aluno e da autoridade peloeducador Aponta como fundamental para a construccedilatildeo da autonomiaa praacutetica da responsabilidade Segundo esse educador o educandoque exercita sua liberdade ficaraacute tatildeo mais livre quanto mais eticamentevaacute assumindo a responsabilidade de suas accedilotildees (p 104) mas essaautonomia somente se constitui quando desaparece a relaccedilatildeo dedependecircncia Continuando com o pensamento de Freire ele afirmaque

No fundo o essencial nas relaccedilotildees entre educador eeducando entre autoridade e liberdade entre pais matildeesfilhos filhas eacute a reinvenccedilatildeo do ser humano no aprendizadoda autonomia (FREIRE 1996 p 105)

O pensamento e a accedilatildeo autocircnomos natildeo se datildeo sem que sejamexplicitados os lugares de poder Por isso Paulo Freire fala da reinvenccedilatildeodo ser humano e mais do que isso da reinvenccedilatildeo das relaccedilotildees pedagoacutegicasque deveriam trocar a dependecircncia pela responsabilidade

2 O m odelo educat ivo dest itui os hom ens de sua condiccedilatildeo deprodutores do conhecim ento

A concepccedilatildeo de sujeito a-histoacuterico estaacute presente no contextoescolar onde o conhecimento eacute dado como objetivo e assumido comoverdade absoluta a ser aprendida A organizaccedilatildeo do saber hierarquicamentedisciplinado como nos mostrou Juacutelia Varella na aula anterior (Aula 3Unidade I) elimina a concepccedilatildeo de sujeito como produtor de conhecimentoOs processos de p e d a g o g i z a ccedilatilde o d o s co n h e ci m e n t o s e dedisciplinam ento interno dos saberes estatildeo presentes nas praacuteticaseducacionais atuais fazendo com que tanto alunos quanto professoressejam concebidos como meros coadjuvantes

Trata-se de um treino para o bom comportamento social valorizando o lugar do expectador daquele que natildeo interfere no andamentoda aula e que deve seguir agrave risca o que eacute ditado pelo planejamentomuitas vezes elaborado pelos especialistas da educaccedilatildeo A ausecircncia deuma implicaccedilatildeo dos alunos no processo de aprendizagem eacute consequumlecircnciadesse modelo de escola que somente legitima o conhecimento que eacuteproduzido fora de seu cotidiano A sala de aula eacute assim desumanizada edestituiacuteda de vida proacutepria O mesmo processo eacute vivido pelos educadoresque aprendem no exerciacutecio profissional a praticar e valorizar a obediecircncia

Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

Fo n t e Charge deClaudius Cecconpublicada no livroCu i d a d o Esco l a (p64)

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I236

5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I246

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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Aula 4 Aula 5 Aula 6

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I258

Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 18: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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alavancam uma criacutetica da psicologia sobre si mesma Satildeo os novos tempos do fim da ditaduramilitar e da democratizaccedilatildeo no Brasil

Eacute a partir de meados da deacutecada de 1980 que a pesquisa em psicologia comeccedila a tentarromper com as alianccedilas que a constituiacuteram como base do discurso eugecircnico higienista e nosuacuteltimos anos pelo menos preconceituoso

No campo da pesquisa ressaltam-se os trabalhos de MariaHelena Sousa Patto que afirma o compromisso ideoloacutegico da psicologiacom os ideais das classes dominantes montando teorias que servissempara explicar as desigualdades sociais (1984) inaugurando um campode criacutetica importante para as posteriores investigaccedilotildees teoacutericas eintervenccedilotildees educacionais Em estudo posterior Patto nos permiteavanccedilar na compreensatildeo do fracasso escolar como uma produccedilatildeosocial e natildeo como decorrecircncia de problemas individuais proacuteprios dapobreza inaugurando uma forte criacutetica agrave lt Teoria da CarecircnciaCultural (1990)gt

Mesmo anunciando esse caminho de construccedilatildeo de umapsicologia criacutetica e baseada em compromissos sociais eacute importanteque se tenha claro que ainda vigoram nas escolas e na sociedadevaacuterias afirmaccedilotildees que se assentam nos trilhos da Teoria da CarecircnciaCultural Essas ideacuteias penetram com muita facilidade no cotidiano daescola e nos debates do senso comum uma vez que coincidem com anecessidade de predomiacutenio dos princiacutepios da sociedade capitalistapor meio de um discurso hegemocircnico

Por isso CUIDADO Sinal Vermelho Na proacutexima Unidadevoltaremos a esses caminhos e agraves proposiccedilotildees e intervenccedilotildees praacuteticasda psicologia daiacute decorrentes Esse procedimento pode contribuirpara que vocecirc nosso aprendente venha a diferenciar praacuteticas ediscursos e reconhecer a que visatildeo de homem de mundo e desociedade estatildeo servindo

Antes poreacutem de dar esse passo em nossa trilha iremos analisar os processos de construccedilatildeodo conhecimento enquanto marcados pelo exerciacutecio do poder que se efetivam no cotidianoescolar trazendo a disciplina como questatildeo teoacuterica e sua gecircnese como objeto de estudo

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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A Teoria da CarecircnciaCultural fois u f i c i e n t e m e n t einvestigada por MariaHelena Sousa Pattoprincipalmente em trecircspublicaccedilotildees Psicologiae I d eo l o g i a u m ai n t r o d u ccedilatildeo c r iacutet i ca agravep s i co l o g i a esco l a r(1984) A produccedilatildeo dof r acasso esco l a r histoacuter ias de subm issatildeoe rebeldia (1990) e notexto Para um a criacutet icada razatildeo psicom eacutet r icapublicado no l ivroMutaccedilotildees do cativeiro(2000 p 5)

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AULA 3 CONHECI MENTO SABER E PODER UM OLHAR SOBRE A I NFAcircNCI AESCOLARIZADA

Ateacute esta etapa de nosso caminho estudamos a construccedilatildeo das teorias psicoloacutegicas e ahistoacuteria da articulaccedilatildeo entre a psicologia a medicina e a pedagogia no Brasil constituindoalianccedilas em nome de uma abordagem cientiacutefica dos problemas educacionais

A partir de agora promoveremos outro tipo de investigaccedilatildeo para que seja possiacutevel umamaior compreensatildeo do cotidiano escolar com base na anaacutelise das praacuteticas educativas e dasrelaccedilotildees sociais que se estabelecem entre alunos profissionais e comunidades

Nosso ponto de partida seratildeo os estudos de Philippe Ariegraves publicados no livro Histoacuteriasocial da infacircncia e da fam iacutelia que demonstram o surgimento das instituiccedilotildees educativas namodernidade caracterizadas por dar sentido a uma infacircncia que passa a ser vista como naturalmentefraacutegil A educaccedilatildeo impositiva moralizante e disciplinadora se justifica pela necessidade de formaros sujeitos que a sociedade comeccedila a conceber como corpos que necessitam de cuidados porquesatildeo deacutebeis e fracos Ariegraves parte da ideacuteia de que esse sentimento de infacircncia tem origem com aemergecircncia da sociedade burguesa e eacute fortalecido pela accedilatildeo dos jesuiacutetas

Para melhor compreender os efeitos da educaccedilatildeo na constituiccedilatildeo dessa infacircncia podemosrecorrer ao filoacutesofo francecircs Michel Foucault quando ele aponta em seu livro Microfiacutesica do Poder(1979) que a disciplina eacute uma teacutecnica de exerciacutecio de poder que foi natildeo inteiramente inventadamas elaborada em seus princiacutepios fundamentais durante o seacuteculo XVIII (p 105) O autor nosentido de melhor esclarecer a origem da disciplina nas sociedades ocidentais afirma que essa eacuteuma arte de distribuiccedilatildeo dos homens no espaccedilo baseada na individualizaccedilatildeo dos corpos (p

105) A disciplina que se exerce sobre cada corpo isoladamente eacute uma praacutetica que permite aclassificaccedilatildeo dos sujeitos observados e controlados A vigilacircncia deve ser permanente para que adisciplina seja conseguida

Foucault ressalta a importacircncia das praacuteticas de exame (provas avaliaccedilotildees) e de penalizaccedilatildeoou castigo como formas de fazer com que os sujeitos internalizem o poder Quanto mais a morale a disciplina forem sentidas como necessaacuterias agrave existecircncia humana mais sucesso teraacute o processode disciplinamento e controle social A citaccedilatildeo a seguir sintetiza a anaacutelise de Foucault sobre essetema

Escola s n a h ist oacuter ia da h um a nida de

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A disciplina eacute o conjunto de teacutecnicas pelas quais os sistemas de poder vatildeo terpor alvo e resultado os indiviacuteduos em sua singularidade Eacute o poder deindividualizaccedilatildeo que tem o exame como instrumento fundamental O exame eacutea vigilacircncia permanente classificatoacuteria que permite distribuir os indiviacuteduosjulgaacute-los medi-los localizaacute-los e por conseguinte utilizaacute-los ao maacuteximo(FOUCAULT 1979 p107)

Retomando as contribuiccedilotildees de Philippe Ariegraves vimos que a modernidade instaura umaseparaccedilatildeo entre o mundo dos adultos e das crianccedilas e para tanto organiza novas formas eespaccedilos de educaccedilatildeo Os coleacutegios (educaccedilatildeo em preacutedios fechados) o mobiliaacuterio (bancos escolaresbirocirc etc) a separaccedilatildeo em classes (inicialmente por conhecimento e mais recentemente poridades e ainda por localizaccedilatildeo na estrutura social) satildeo intervenccedilotildees protagonizadas desde oSeacuteculo XV ateacute os dias de hoje com o objetivo de instruir e moralizar a sociedade

A ideacuteia de que a infacircncia eacute uma produccedilatildeo social natildeo eacute mais novidade para noacutes Temosdebatido durante nosso percurso que o sentimento que hoje temos com relaccedilatildeo agrave infacircnciaapareceu no momento em que a famiacutelia burguesa se distinguiu como elemento central da sociedadecom a preocupaccedilatildeo de formar homens honrados e moralmente constituiacutedos A sociedade maisespecificamente a igreja catoacutelica comeccedila a valorizar a propriedade de bens centrada nas matildeosde nuacutecleos familiares A famiacutelia volta-se para si mesma resguardando seus membros exigindoassim uma educaccedilatildeo rigorosa dos herdeiros

A partir dessas colocaccedilotildees sobre uma disciplina (escolar) que eacute exigida para que a sociedadeexerccedila controle sobre os homens podemos ainda aceitar a ideacuteia de que os conhecimentossaberes ministrados nos coleacutegios foram igualmente objetos de disciplinarizaccedilatildeo isto eacute de umaintervenccedilatildeo para que servissem aos interesses da reforma moral cristatilde e depois laica (SeacuteculoXVIII)

Juacutelia Varella no texto intitulado O estatuto do saber pedagoacutegico (publicado em O sujeitoda Educaccedilatildeo 4 ed 2000) identifica na passagem do Renascimento para a Modernidade umapedagogizaccedilatildeo dos conhecimentos que significa um novo ordenamento dos saberes de acordocom os interesses moralizantes e disciplinadores que emanam da igreja catoacutelica e dos coleacutegiosjesuiacutetas Conforme demonstra essa autora

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O olhar invisiacutevel podeser representado peloPanopticon de Benthanque permite ver tudosem ser visto produzindono aluno a disciplina pelomedo do exame e docastigo

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Para levar adiante seu projeto de formaccedilatildeo de bons cristatildeos os mestresjesuiacutetas natildeo apenas reforccedilaram o estatuto conferido agrave infacircncia com a opccedilatildeode educaacute-la em espaccedilos fechados nos coleacutegios mas sentiram tambeacutem anecessidade de controlar os saberes que iam transmitir e de organizar essessaberes de tal forma que se adequassem agraves supostas capacidades infantis(VARELLA 2000 apud SILVA 1994 p 88)

Os mestres jesuiacutetas se converteram em autoridades maacuteximas exercendo um poder sobreseus alunos retirando toda a possibilidade vivenciada na Idade Meacutedia de autonomia no estudoForam desenvolvidas estrateacutegias e teacutecnicas que tinham como objetivo dirigir ao conhecimento omesmo sentido moralizante que vinha sendo dado agrave formaccedilatildeo dos alunos A disciplina e a ordemnas salas de aula passaram a ser elementos necessaacuterios nesse processo de penalizaccedilatildeo emoralizaccedilatildeo

Em segundo lugar Juacutelia Varella reconhece a existecircncia de um processo que se daacute no interiorda produccedilatildeo do conhecimento o disciplinamento interno dos saberes eliminando o que eraconsiderado como saberes inuacuteteis segundo as normas de moralizaccedilatildeo e reordenando umacomunicaccedilatildeo entre esses retirando-lhes a forccedila e a intensidade Nesse processo eacute importanteque se promova ainda uma classificaccedilatildeo e hierarquizaccedilatildeo entre os saberes promovendo umacentralizaccedilatildeo de cima para baixo As fronteiras entre a histoacuteria a geografia e a sociologia foramtraccediladas por exemplo pela humanidade assim como a orientaccedilatildeo no processo de ensino-aprendizagem do que deve ser ensinado primeiro e qual saber eacute mais nobre isto eacute que deveocupar o topo de todos os conhecimentos

Os processos que foram aos poucos se instaurando apartir do Seacuteculo XVI produziram censura e controle e mais doque isso devido agraves divisotildees impostas que delimitavam as aacutereasde saberes (conhecimentos) buscavam eliminar a ideacuteia dohomem universal acentuando a possibilidade de tornar doacuteceisos corpos (os sujeitos) mediante essa praacutetica disciplinar impostana produccedilatildeo dos saberes Se anteriormente na Idade Meacutedia oaluno detinha um poder sobre o que queria aprender e ondebuscar o conhecimento na era da modernidade essapossibilidade passa a ser inexistente O aluno perde o poder sobre seus caminhos passando a sercompreendido como um mero elemento de transmissatildeo de conhecimento Natildeo mais pode escolhero que deve ser aprendido tampouco o ritmo desse aprendizado ou o que fazer do conhecimentoadquirido A grade de disciplinas hoje tatildeo naturalmente absorvida por todos noacutes em qualquercurso eacute uma produccedilatildeo social e serve a esses interesses de tornar doacutecil o corpo a ser disciplinadoAprendemos esse ordenamento dos saberes e passamos a respeitaacute-los como se fossemincontestaacuteveis naturais e acima de tudo necessaacuterios

Michel Foucault jaacute citado anteriormente reconhece nesse processo a emergecircncia dasociedade disciplinar que funciona confinando aprisionando os homens agraves escolas agraves prisotildeesagraves igrejas aos hospitais agraves faacutebricas etc

Os processos descritos acima por Juacutelia Varella podem ser reconhecidos ateacute hoje nas praacuteticasescolares Poreacutem com a intervenccedilatildeo das miacutedias e dos novos equipamentos sociais jaacute se pode

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identificar um controle que natildeo mais iraacute somente confinar isolar os estudantes nas escolas osloucos nos asilos e os empregados nas faacutebricas para que sejam produtivos

Trata-se da emergecircncia da sociedade de controle que atua de forma contiacutenua Entramem accedilatildeo a TV os microcomputadores e os celulares que permitem conhecer e conectar o mundoa partir de um uacutenico lugar Satildeo maacutequinas que iratildeo estruturar a vida organizando uma subjetividadedo consumo e da informaccedilatildeo Mas como relacionar esse processo aos domiacutenios da escola

Aqui lanccedilaremos matildeo de outro escritor francecircs Feacutelix Guattari (1985) que no estudo Ascreches e a iniciaccedilatildeo publicado no livro intitulado Revoluccedilotildees Moleculares mostra-nos osefeitos do processo de iniciaccedilatildeo das crianccedilas agrave loacutegica capitalista O autor se refere agrave produccedilatildeode modos de viver pensar e sentir que estariam em consonacircncia com os mais novos modos deproduccedilatildeo material na sociedade capitalista industrial Denomina como aparelhos de semiotizaccedilatildeoos viacutedeo-games CD-rom etc Esses aparelhos passam a dar o sentido dos modos de existecircncia

Guattari (1985) indica que as crianccedilas estatildeo sendo iniciadas cada vez mais cedo nossistemas de representaccedilatildeo e nos valores do capitalismo que produzem uma modelagem adequadaaos coacutedigos utilizados em nosso cotidiano Aponta como importante o fato de que se mobilizamno processo de formaccedilatildeo da crianccedila esquemas de aprendizagem que permitem traduzir oconjunto de coacutedigos ou semioacuteticas dominantes Por fim chama a atenccedilatildeo para a necessidade deanalisarmos o funcionamento da creche e o efeito da educaccedilatildeo infantil na constituiccedilatildeo dessecorpo que eacute modelado para atuar produtivamente de acordo com os ideais da sociedade capitalista

A sua grande contribuiccedilatildeo eacute indicar no espaccedilo da educaccedilatildeo uma perspectiva de que acrianccedila venha a aprender o que eacute a sociedade o que satildeo seus instrumentos (GUATTARI 1985p 54) para poder interferir de forma autocircnoma e criativa no mundo Aprender os coacutedigos e osmodos de funcionamento da sociedade na qual estaacute inserida pode ser importante para que acrianccedila tenha a possibilidade de desenvolver formas singulares de estar no mundo

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegico(a)s a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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UNIDADE II

UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA DO COTIDIANO ESCOLAR

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 4 DOS COLEacuteGI OS DA MODERNI DADE AgraveS ESCOLAS ATUAI S UMAANAacuteLI SE CRIacute TI CA DAS PRAacuteTI CAS COTI DI ANAS

Seguindo a linha de anaacutelise de nosso percurso iremosneste momento buscar os fios que nos permitem compreenderalguns elementos do cotidiano escolar como um espaccedilodisciplinar e controlador das subjetividades O estudo da origemdas praacuteticas educativas a partir dos coleacutegios do Seacuteculo XVIIIforneceu-nos os elementos que seratildeo aqui utilizados paraexercitarmos uma investigaccedilatildeo criacutetica da escola na atualidadeEsse exerciacutecio de reflexatildeo eacute fundamental para que possamosabrir novas portas e inventar outras praacuteticas da psicologia naescola

Com o objetivo de melhor sistematizar nosso trabalho deanaacutelise dividiremos a explanaccedilatildeo em seis itens a saber

1 As praacutet icas cot idianas conspiram cont ra a produccedilatildeoda autonomia e da autogestatildeo

Como jaacute estudamos anteriormente o poder de decisatildeofoi retirado do aluno quando da organizaccedilatildeo dos coleacutegios apartir do Seacuteculo XVIII sendo produzida uma ideacuteia de infacircnciafragilizada e portanto sem possibilidades de exercitar suaautonomia Eacute naturalizada uma concepccedilatildeo de aluno como umcorpo vazio a ser preenchido e modelado

As atividades nas escolas e na vida contemporacircnea passam a ser geridas por outrem -pelo supervisor pelo livro didaacutetico pelos programas governamentais (Escola Aberta Bolsa Escolae outros) - ou coordenadas por entidades como o Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem Aspraacuteticas de avaliaccedilatildeo se apresentam aos alunos como destituiacutedas de sentido Para os professoresessas praacuteticas representam mais uma etapa do processo sendo orientadas pela mesma loacutegica doplanejamento e das atividades contidas no livro didaacutetico Os principais atores sociais (alunos eprofessores) satildeo enfraquecidos no exerciacutecio do poder como sujeitos incapacitados de produzir aarticulaccedilatildeo entre praacuteticas e seus efeitos

Ilustraccedilatildeo de capa do livro O berccedilod a d es i g u a l d a d e de CristovamBuarque com fotos de SebastiatildeoSalgado

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lt Paulo Freiregt ao trabalhar o tema da autonomia no livroPedagogia da Aut onom ia (1996) estabelece a relaccedilatildeo entre oexerciacutecio da liberdade por parte do aluno e da autoridade peloeducador Aponta como fundamental para a construccedilatildeo da autonomiaa praacutetica da responsabilidade Segundo esse educador o educandoque exercita sua liberdade ficaraacute tatildeo mais livre quanto mais eticamentevaacute assumindo a responsabilidade de suas accedilotildees (p 104) mas essaautonomia somente se constitui quando desaparece a relaccedilatildeo dedependecircncia Continuando com o pensamento de Freire ele afirmaque

No fundo o essencial nas relaccedilotildees entre educador eeducando entre autoridade e liberdade entre pais matildeesfilhos filhas eacute a reinvenccedilatildeo do ser humano no aprendizadoda autonomia (FREIRE 1996 p 105)

O pensamento e a accedilatildeo autocircnomos natildeo se datildeo sem que sejamexplicitados os lugares de poder Por isso Paulo Freire fala da reinvenccedilatildeodo ser humano e mais do que isso da reinvenccedilatildeo das relaccedilotildees pedagoacutegicasque deveriam trocar a dependecircncia pela responsabilidade

2 O m odelo educat ivo dest itui os hom ens de sua condiccedilatildeo deprodutores do conhecim ento

A concepccedilatildeo de sujeito a-histoacuterico estaacute presente no contextoescolar onde o conhecimento eacute dado como objetivo e assumido comoverdade absoluta a ser aprendida A organizaccedilatildeo do saber hierarquicamentedisciplinado como nos mostrou Juacutelia Varella na aula anterior (Aula 3Unidade I) elimina a concepccedilatildeo de sujeito como produtor de conhecimentoOs processos de p e d a g o g i z a ccedilatilde o d o s co n h e ci m e n t o s e dedisciplinam ento interno dos saberes estatildeo presentes nas praacuteticaseducacionais atuais fazendo com que tanto alunos quanto professoressejam concebidos como meros coadjuvantes

Trata-se de um treino para o bom comportamento social valorizando o lugar do expectador daquele que natildeo interfere no andamentoda aula e que deve seguir agrave risca o que eacute ditado pelo planejamentomuitas vezes elaborado pelos especialistas da educaccedilatildeo A ausecircncia deuma implicaccedilatildeo dos alunos no processo de aprendizagem eacute consequumlecircnciadesse modelo de escola que somente legitima o conhecimento que eacuteproduzido fora de seu cotidiano A sala de aula eacute assim desumanizada edestituiacuteda de vida proacutepria O mesmo processo eacute vivido pelos educadoresque aprendem no exerciacutecio profissional a praticar e valorizar a obediecircncia

Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

Fo n t e Charge deClaudius Cecconpublicada no livroCu i d a d o Esco l a (p64)

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

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5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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Aula 4 Aula 5 Aula 6

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I238

AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I240

A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I242

que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I244

frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I248

Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I250

3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 19: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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AULA 3 CONHECI MENTO SABER E PODER UM OLHAR SOBRE A I NFAcircNCI AESCOLARIZADA

Ateacute esta etapa de nosso caminho estudamos a construccedilatildeo das teorias psicoloacutegicas e ahistoacuteria da articulaccedilatildeo entre a psicologia a medicina e a pedagogia no Brasil constituindoalianccedilas em nome de uma abordagem cientiacutefica dos problemas educacionais

A partir de agora promoveremos outro tipo de investigaccedilatildeo para que seja possiacutevel umamaior compreensatildeo do cotidiano escolar com base na anaacutelise das praacuteticas educativas e dasrelaccedilotildees sociais que se estabelecem entre alunos profissionais e comunidades

Nosso ponto de partida seratildeo os estudos de Philippe Ariegraves publicados no livro Histoacuteriasocial da infacircncia e da fam iacutelia que demonstram o surgimento das instituiccedilotildees educativas namodernidade caracterizadas por dar sentido a uma infacircncia que passa a ser vista como naturalmentefraacutegil A educaccedilatildeo impositiva moralizante e disciplinadora se justifica pela necessidade de formaros sujeitos que a sociedade comeccedila a conceber como corpos que necessitam de cuidados porquesatildeo deacutebeis e fracos Ariegraves parte da ideacuteia de que esse sentimento de infacircncia tem origem com aemergecircncia da sociedade burguesa e eacute fortalecido pela accedilatildeo dos jesuiacutetas

Para melhor compreender os efeitos da educaccedilatildeo na constituiccedilatildeo dessa infacircncia podemosrecorrer ao filoacutesofo francecircs Michel Foucault quando ele aponta em seu livro Microfiacutesica do Poder(1979) que a disciplina eacute uma teacutecnica de exerciacutecio de poder que foi natildeo inteiramente inventadamas elaborada em seus princiacutepios fundamentais durante o seacuteculo XVIII (p 105) O autor nosentido de melhor esclarecer a origem da disciplina nas sociedades ocidentais afirma que essa eacuteuma arte de distribuiccedilatildeo dos homens no espaccedilo baseada na individualizaccedilatildeo dos corpos (p

105) A disciplina que se exerce sobre cada corpo isoladamente eacute uma praacutetica que permite aclassificaccedilatildeo dos sujeitos observados e controlados A vigilacircncia deve ser permanente para que adisciplina seja conseguida

Foucault ressalta a importacircncia das praacuteticas de exame (provas avaliaccedilotildees) e de penalizaccedilatildeoou castigo como formas de fazer com que os sujeitos internalizem o poder Quanto mais a morale a disciplina forem sentidas como necessaacuterias agrave existecircncia humana mais sucesso teraacute o processode disciplinamento e controle social A citaccedilatildeo a seguir sintetiza a anaacutelise de Foucault sobre essetema

Escola s n a h ist oacuter ia da h um a nida de

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A disciplina eacute o conjunto de teacutecnicas pelas quais os sistemas de poder vatildeo terpor alvo e resultado os indiviacuteduos em sua singularidade Eacute o poder deindividualizaccedilatildeo que tem o exame como instrumento fundamental O exame eacutea vigilacircncia permanente classificatoacuteria que permite distribuir os indiviacuteduosjulgaacute-los medi-los localizaacute-los e por conseguinte utilizaacute-los ao maacuteximo(FOUCAULT 1979 p107)

Retomando as contribuiccedilotildees de Philippe Ariegraves vimos que a modernidade instaura umaseparaccedilatildeo entre o mundo dos adultos e das crianccedilas e para tanto organiza novas formas eespaccedilos de educaccedilatildeo Os coleacutegios (educaccedilatildeo em preacutedios fechados) o mobiliaacuterio (bancos escolaresbirocirc etc) a separaccedilatildeo em classes (inicialmente por conhecimento e mais recentemente poridades e ainda por localizaccedilatildeo na estrutura social) satildeo intervenccedilotildees protagonizadas desde oSeacuteculo XV ateacute os dias de hoje com o objetivo de instruir e moralizar a sociedade

A ideacuteia de que a infacircncia eacute uma produccedilatildeo social natildeo eacute mais novidade para noacutes Temosdebatido durante nosso percurso que o sentimento que hoje temos com relaccedilatildeo agrave infacircnciaapareceu no momento em que a famiacutelia burguesa se distinguiu como elemento central da sociedadecom a preocupaccedilatildeo de formar homens honrados e moralmente constituiacutedos A sociedade maisespecificamente a igreja catoacutelica comeccedila a valorizar a propriedade de bens centrada nas matildeosde nuacutecleos familiares A famiacutelia volta-se para si mesma resguardando seus membros exigindoassim uma educaccedilatildeo rigorosa dos herdeiros

A partir dessas colocaccedilotildees sobre uma disciplina (escolar) que eacute exigida para que a sociedadeexerccedila controle sobre os homens podemos ainda aceitar a ideacuteia de que os conhecimentossaberes ministrados nos coleacutegios foram igualmente objetos de disciplinarizaccedilatildeo isto eacute de umaintervenccedilatildeo para que servissem aos interesses da reforma moral cristatilde e depois laica (SeacuteculoXVIII)

Juacutelia Varella no texto intitulado O estatuto do saber pedagoacutegico (publicado em O sujeitoda Educaccedilatildeo 4 ed 2000) identifica na passagem do Renascimento para a Modernidade umapedagogizaccedilatildeo dos conhecimentos que significa um novo ordenamento dos saberes de acordocom os interesses moralizantes e disciplinadores que emanam da igreja catoacutelica e dos coleacutegiosjesuiacutetas Conforme demonstra essa autora

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Aula 1 Aula 2 Aula 3

O olhar invisiacutevel podeser representado peloPanopticon de Benthanque permite ver tudosem ser visto produzindono aluno a disciplina pelomedo do exame e docastigo

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Para levar adiante seu projeto de formaccedilatildeo de bons cristatildeos os mestresjesuiacutetas natildeo apenas reforccedilaram o estatuto conferido agrave infacircncia com a opccedilatildeode educaacute-la em espaccedilos fechados nos coleacutegios mas sentiram tambeacutem anecessidade de controlar os saberes que iam transmitir e de organizar essessaberes de tal forma que se adequassem agraves supostas capacidades infantis(VARELLA 2000 apud SILVA 1994 p 88)

Os mestres jesuiacutetas se converteram em autoridades maacuteximas exercendo um poder sobreseus alunos retirando toda a possibilidade vivenciada na Idade Meacutedia de autonomia no estudoForam desenvolvidas estrateacutegias e teacutecnicas que tinham como objetivo dirigir ao conhecimento omesmo sentido moralizante que vinha sendo dado agrave formaccedilatildeo dos alunos A disciplina e a ordemnas salas de aula passaram a ser elementos necessaacuterios nesse processo de penalizaccedilatildeo emoralizaccedilatildeo

Em segundo lugar Juacutelia Varella reconhece a existecircncia de um processo que se daacute no interiorda produccedilatildeo do conhecimento o disciplinamento interno dos saberes eliminando o que eraconsiderado como saberes inuacuteteis segundo as normas de moralizaccedilatildeo e reordenando umacomunicaccedilatildeo entre esses retirando-lhes a forccedila e a intensidade Nesse processo eacute importanteque se promova ainda uma classificaccedilatildeo e hierarquizaccedilatildeo entre os saberes promovendo umacentralizaccedilatildeo de cima para baixo As fronteiras entre a histoacuteria a geografia e a sociologia foramtraccediladas por exemplo pela humanidade assim como a orientaccedilatildeo no processo de ensino-aprendizagem do que deve ser ensinado primeiro e qual saber eacute mais nobre isto eacute que deveocupar o topo de todos os conhecimentos

Os processos que foram aos poucos se instaurando apartir do Seacuteculo XVI produziram censura e controle e mais doque isso devido agraves divisotildees impostas que delimitavam as aacutereasde saberes (conhecimentos) buscavam eliminar a ideacuteia dohomem universal acentuando a possibilidade de tornar doacuteceisos corpos (os sujeitos) mediante essa praacutetica disciplinar impostana produccedilatildeo dos saberes Se anteriormente na Idade Meacutedia oaluno detinha um poder sobre o que queria aprender e ondebuscar o conhecimento na era da modernidade essapossibilidade passa a ser inexistente O aluno perde o poder sobre seus caminhos passando a sercompreendido como um mero elemento de transmissatildeo de conhecimento Natildeo mais pode escolhero que deve ser aprendido tampouco o ritmo desse aprendizado ou o que fazer do conhecimentoadquirido A grade de disciplinas hoje tatildeo naturalmente absorvida por todos noacutes em qualquercurso eacute uma produccedilatildeo social e serve a esses interesses de tornar doacutecil o corpo a ser disciplinadoAprendemos esse ordenamento dos saberes e passamos a respeitaacute-los como se fossemincontestaacuteveis naturais e acima de tudo necessaacuterios

Michel Foucault jaacute citado anteriormente reconhece nesse processo a emergecircncia dasociedade disciplinar que funciona confinando aprisionando os homens agraves escolas agraves prisotildeesagraves igrejas aos hospitais agraves faacutebricas etc

Os processos descritos acima por Juacutelia Varella podem ser reconhecidos ateacute hoje nas praacuteticasescolares Poreacutem com a intervenccedilatildeo das miacutedias e dos novos equipamentos sociais jaacute se pode

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identificar um controle que natildeo mais iraacute somente confinar isolar os estudantes nas escolas osloucos nos asilos e os empregados nas faacutebricas para que sejam produtivos

Trata-se da emergecircncia da sociedade de controle que atua de forma contiacutenua Entramem accedilatildeo a TV os microcomputadores e os celulares que permitem conhecer e conectar o mundoa partir de um uacutenico lugar Satildeo maacutequinas que iratildeo estruturar a vida organizando uma subjetividadedo consumo e da informaccedilatildeo Mas como relacionar esse processo aos domiacutenios da escola

Aqui lanccedilaremos matildeo de outro escritor francecircs Feacutelix Guattari (1985) que no estudo Ascreches e a iniciaccedilatildeo publicado no livro intitulado Revoluccedilotildees Moleculares mostra-nos osefeitos do processo de iniciaccedilatildeo das crianccedilas agrave loacutegica capitalista O autor se refere agrave produccedilatildeode modos de viver pensar e sentir que estariam em consonacircncia com os mais novos modos deproduccedilatildeo material na sociedade capitalista industrial Denomina como aparelhos de semiotizaccedilatildeoos viacutedeo-games CD-rom etc Esses aparelhos passam a dar o sentido dos modos de existecircncia

Guattari (1985) indica que as crianccedilas estatildeo sendo iniciadas cada vez mais cedo nossistemas de representaccedilatildeo e nos valores do capitalismo que produzem uma modelagem adequadaaos coacutedigos utilizados em nosso cotidiano Aponta como importante o fato de que se mobilizamno processo de formaccedilatildeo da crianccedila esquemas de aprendizagem que permitem traduzir oconjunto de coacutedigos ou semioacuteticas dominantes Por fim chama a atenccedilatildeo para a necessidade deanalisarmos o funcionamento da creche e o efeito da educaccedilatildeo infantil na constituiccedilatildeo dessecorpo que eacute modelado para atuar produtivamente de acordo com os ideais da sociedade capitalista

A sua grande contribuiccedilatildeo eacute indicar no espaccedilo da educaccedilatildeo uma perspectiva de que acrianccedila venha a aprender o que eacute a sociedade o que satildeo seus instrumentos (GUATTARI 1985p 54) para poder interferir de forma autocircnoma e criativa no mundo Aprender os coacutedigos e osmodos de funcionamento da sociedade na qual estaacute inserida pode ser importante para que acrianccedila tenha a possibilidade de desenvolver formas singulares de estar no mundo

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegico(a)s a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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UNIDADE II

UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA DO COTIDIANO ESCOLAR

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 4 DOS COLEacuteGI OS DA MODERNI DADE AgraveS ESCOLAS ATUAI S UMAANAacuteLI SE CRIacute TI CA DAS PRAacuteTI CAS COTI DI ANAS

Seguindo a linha de anaacutelise de nosso percurso iremosneste momento buscar os fios que nos permitem compreenderalguns elementos do cotidiano escolar como um espaccedilodisciplinar e controlador das subjetividades O estudo da origemdas praacuteticas educativas a partir dos coleacutegios do Seacuteculo XVIIIforneceu-nos os elementos que seratildeo aqui utilizados paraexercitarmos uma investigaccedilatildeo criacutetica da escola na atualidadeEsse exerciacutecio de reflexatildeo eacute fundamental para que possamosabrir novas portas e inventar outras praacuteticas da psicologia naescola

Com o objetivo de melhor sistematizar nosso trabalho deanaacutelise dividiremos a explanaccedilatildeo em seis itens a saber

1 As praacutet icas cot idianas conspiram cont ra a produccedilatildeoda autonomia e da autogestatildeo

Como jaacute estudamos anteriormente o poder de decisatildeofoi retirado do aluno quando da organizaccedilatildeo dos coleacutegios apartir do Seacuteculo XVIII sendo produzida uma ideacuteia de infacircnciafragilizada e portanto sem possibilidades de exercitar suaautonomia Eacute naturalizada uma concepccedilatildeo de aluno como umcorpo vazio a ser preenchido e modelado

As atividades nas escolas e na vida contemporacircnea passam a ser geridas por outrem -pelo supervisor pelo livro didaacutetico pelos programas governamentais (Escola Aberta Bolsa Escolae outros) - ou coordenadas por entidades como o Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem Aspraacuteticas de avaliaccedilatildeo se apresentam aos alunos como destituiacutedas de sentido Para os professoresessas praacuteticas representam mais uma etapa do processo sendo orientadas pela mesma loacutegica doplanejamento e das atividades contidas no livro didaacutetico Os principais atores sociais (alunos eprofessores) satildeo enfraquecidos no exerciacutecio do poder como sujeitos incapacitados de produzir aarticulaccedilatildeo entre praacuteticas e seus efeitos

Ilustraccedilatildeo de capa do livro O berccedilod a d es i g u a l d a d e de CristovamBuarque com fotos de SebastiatildeoSalgado

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lt Paulo Freiregt ao trabalhar o tema da autonomia no livroPedagogia da Aut onom ia (1996) estabelece a relaccedilatildeo entre oexerciacutecio da liberdade por parte do aluno e da autoridade peloeducador Aponta como fundamental para a construccedilatildeo da autonomiaa praacutetica da responsabilidade Segundo esse educador o educandoque exercita sua liberdade ficaraacute tatildeo mais livre quanto mais eticamentevaacute assumindo a responsabilidade de suas accedilotildees (p 104) mas essaautonomia somente se constitui quando desaparece a relaccedilatildeo dedependecircncia Continuando com o pensamento de Freire ele afirmaque

No fundo o essencial nas relaccedilotildees entre educador eeducando entre autoridade e liberdade entre pais matildeesfilhos filhas eacute a reinvenccedilatildeo do ser humano no aprendizadoda autonomia (FREIRE 1996 p 105)

O pensamento e a accedilatildeo autocircnomos natildeo se datildeo sem que sejamexplicitados os lugares de poder Por isso Paulo Freire fala da reinvenccedilatildeodo ser humano e mais do que isso da reinvenccedilatildeo das relaccedilotildees pedagoacutegicasque deveriam trocar a dependecircncia pela responsabilidade

2 O m odelo educat ivo dest itui os hom ens de sua condiccedilatildeo deprodutores do conhecim ento

A concepccedilatildeo de sujeito a-histoacuterico estaacute presente no contextoescolar onde o conhecimento eacute dado como objetivo e assumido comoverdade absoluta a ser aprendida A organizaccedilatildeo do saber hierarquicamentedisciplinado como nos mostrou Juacutelia Varella na aula anterior (Aula 3Unidade I) elimina a concepccedilatildeo de sujeito como produtor de conhecimentoOs processos de p e d a g o g i z a ccedilatilde o d o s co n h e ci m e n t o s e dedisciplinam ento interno dos saberes estatildeo presentes nas praacuteticaseducacionais atuais fazendo com que tanto alunos quanto professoressejam concebidos como meros coadjuvantes

Trata-se de um treino para o bom comportamento social valorizando o lugar do expectador daquele que natildeo interfere no andamentoda aula e que deve seguir agrave risca o que eacute ditado pelo planejamentomuitas vezes elaborado pelos especialistas da educaccedilatildeo A ausecircncia deuma implicaccedilatildeo dos alunos no processo de aprendizagem eacute consequumlecircnciadesse modelo de escola que somente legitima o conhecimento que eacuteproduzido fora de seu cotidiano A sala de aula eacute assim desumanizada edestituiacuteda de vida proacutepria O mesmo processo eacute vivido pelos educadoresque aprendem no exerciacutecio profissional a praticar e valorizar a obediecircncia

Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

Fo n t e Charge deClaudius Cecconpublicada no livroCu i d a d o Esco l a (p64)

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

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5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 20: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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A disciplina eacute o conjunto de teacutecnicas pelas quais os sistemas de poder vatildeo terpor alvo e resultado os indiviacuteduos em sua singularidade Eacute o poder deindividualizaccedilatildeo que tem o exame como instrumento fundamental O exame eacutea vigilacircncia permanente classificatoacuteria que permite distribuir os indiviacuteduosjulgaacute-los medi-los localizaacute-los e por conseguinte utilizaacute-los ao maacuteximo(FOUCAULT 1979 p107)

Retomando as contribuiccedilotildees de Philippe Ariegraves vimos que a modernidade instaura umaseparaccedilatildeo entre o mundo dos adultos e das crianccedilas e para tanto organiza novas formas eespaccedilos de educaccedilatildeo Os coleacutegios (educaccedilatildeo em preacutedios fechados) o mobiliaacuterio (bancos escolaresbirocirc etc) a separaccedilatildeo em classes (inicialmente por conhecimento e mais recentemente poridades e ainda por localizaccedilatildeo na estrutura social) satildeo intervenccedilotildees protagonizadas desde oSeacuteculo XV ateacute os dias de hoje com o objetivo de instruir e moralizar a sociedade

A ideacuteia de que a infacircncia eacute uma produccedilatildeo social natildeo eacute mais novidade para noacutes Temosdebatido durante nosso percurso que o sentimento que hoje temos com relaccedilatildeo agrave infacircnciaapareceu no momento em que a famiacutelia burguesa se distinguiu como elemento central da sociedadecom a preocupaccedilatildeo de formar homens honrados e moralmente constituiacutedos A sociedade maisespecificamente a igreja catoacutelica comeccedila a valorizar a propriedade de bens centrada nas matildeosde nuacutecleos familiares A famiacutelia volta-se para si mesma resguardando seus membros exigindoassim uma educaccedilatildeo rigorosa dos herdeiros

A partir dessas colocaccedilotildees sobre uma disciplina (escolar) que eacute exigida para que a sociedadeexerccedila controle sobre os homens podemos ainda aceitar a ideacuteia de que os conhecimentossaberes ministrados nos coleacutegios foram igualmente objetos de disciplinarizaccedilatildeo isto eacute de umaintervenccedilatildeo para que servissem aos interesses da reforma moral cristatilde e depois laica (SeacuteculoXVIII)

Juacutelia Varella no texto intitulado O estatuto do saber pedagoacutegico (publicado em O sujeitoda Educaccedilatildeo 4 ed 2000) identifica na passagem do Renascimento para a Modernidade umapedagogizaccedilatildeo dos conhecimentos que significa um novo ordenamento dos saberes de acordocom os interesses moralizantes e disciplinadores que emanam da igreja catoacutelica e dos coleacutegiosjesuiacutetas Conforme demonstra essa autora

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O olhar invisiacutevel podeser representado peloPanopticon de Benthanque permite ver tudosem ser visto produzindono aluno a disciplina pelomedo do exame e docastigo

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Para levar adiante seu projeto de formaccedilatildeo de bons cristatildeos os mestresjesuiacutetas natildeo apenas reforccedilaram o estatuto conferido agrave infacircncia com a opccedilatildeode educaacute-la em espaccedilos fechados nos coleacutegios mas sentiram tambeacutem anecessidade de controlar os saberes que iam transmitir e de organizar essessaberes de tal forma que se adequassem agraves supostas capacidades infantis(VARELLA 2000 apud SILVA 1994 p 88)

Os mestres jesuiacutetas se converteram em autoridades maacuteximas exercendo um poder sobreseus alunos retirando toda a possibilidade vivenciada na Idade Meacutedia de autonomia no estudoForam desenvolvidas estrateacutegias e teacutecnicas que tinham como objetivo dirigir ao conhecimento omesmo sentido moralizante que vinha sendo dado agrave formaccedilatildeo dos alunos A disciplina e a ordemnas salas de aula passaram a ser elementos necessaacuterios nesse processo de penalizaccedilatildeo emoralizaccedilatildeo

Em segundo lugar Juacutelia Varella reconhece a existecircncia de um processo que se daacute no interiorda produccedilatildeo do conhecimento o disciplinamento interno dos saberes eliminando o que eraconsiderado como saberes inuacuteteis segundo as normas de moralizaccedilatildeo e reordenando umacomunicaccedilatildeo entre esses retirando-lhes a forccedila e a intensidade Nesse processo eacute importanteque se promova ainda uma classificaccedilatildeo e hierarquizaccedilatildeo entre os saberes promovendo umacentralizaccedilatildeo de cima para baixo As fronteiras entre a histoacuteria a geografia e a sociologia foramtraccediladas por exemplo pela humanidade assim como a orientaccedilatildeo no processo de ensino-aprendizagem do que deve ser ensinado primeiro e qual saber eacute mais nobre isto eacute que deveocupar o topo de todos os conhecimentos

Os processos que foram aos poucos se instaurando apartir do Seacuteculo XVI produziram censura e controle e mais doque isso devido agraves divisotildees impostas que delimitavam as aacutereasde saberes (conhecimentos) buscavam eliminar a ideacuteia dohomem universal acentuando a possibilidade de tornar doacuteceisos corpos (os sujeitos) mediante essa praacutetica disciplinar impostana produccedilatildeo dos saberes Se anteriormente na Idade Meacutedia oaluno detinha um poder sobre o que queria aprender e ondebuscar o conhecimento na era da modernidade essapossibilidade passa a ser inexistente O aluno perde o poder sobre seus caminhos passando a sercompreendido como um mero elemento de transmissatildeo de conhecimento Natildeo mais pode escolhero que deve ser aprendido tampouco o ritmo desse aprendizado ou o que fazer do conhecimentoadquirido A grade de disciplinas hoje tatildeo naturalmente absorvida por todos noacutes em qualquercurso eacute uma produccedilatildeo social e serve a esses interesses de tornar doacutecil o corpo a ser disciplinadoAprendemos esse ordenamento dos saberes e passamos a respeitaacute-los como se fossemincontestaacuteveis naturais e acima de tudo necessaacuterios

Michel Foucault jaacute citado anteriormente reconhece nesse processo a emergecircncia dasociedade disciplinar que funciona confinando aprisionando os homens agraves escolas agraves prisotildeesagraves igrejas aos hospitais agraves faacutebricas etc

Os processos descritos acima por Juacutelia Varella podem ser reconhecidos ateacute hoje nas praacuteticasescolares Poreacutem com a intervenccedilatildeo das miacutedias e dos novos equipamentos sociais jaacute se pode

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identificar um controle que natildeo mais iraacute somente confinar isolar os estudantes nas escolas osloucos nos asilos e os empregados nas faacutebricas para que sejam produtivos

Trata-se da emergecircncia da sociedade de controle que atua de forma contiacutenua Entramem accedilatildeo a TV os microcomputadores e os celulares que permitem conhecer e conectar o mundoa partir de um uacutenico lugar Satildeo maacutequinas que iratildeo estruturar a vida organizando uma subjetividadedo consumo e da informaccedilatildeo Mas como relacionar esse processo aos domiacutenios da escola

Aqui lanccedilaremos matildeo de outro escritor francecircs Feacutelix Guattari (1985) que no estudo Ascreches e a iniciaccedilatildeo publicado no livro intitulado Revoluccedilotildees Moleculares mostra-nos osefeitos do processo de iniciaccedilatildeo das crianccedilas agrave loacutegica capitalista O autor se refere agrave produccedilatildeode modos de viver pensar e sentir que estariam em consonacircncia com os mais novos modos deproduccedilatildeo material na sociedade capitalista industrial Denomina como aparelhos de semiotizaccedilatildeoos viacutedeo-games CD-rom etc Esses aparelhos passam a dar o sentido dos modos de existecircncia

Guattari (1985) indica que as crianccedilas estatildeo sendo iniciadas cada vez mais cedo nossistemas de representaccedilatildeo e nos valores do capitalismo que produzem uma modelagem adequadaaos coacutedigos utilizados em nosso cotidiano Aponta como importante o fato de que se mobilizamno processo de formaccedilatildeo da crianccedila esquemas de aprendizagem que permitem traduzir oconjunto de coacutedigos ou semioacuteticas dominantes Por fim chama a atenccedilatildeo para a necessidade deanalisarmos o funcionamento da creche e o efeito da educaccedilatildeo infantil na constituiccedilatildeo dessecorpo que eacute modelado para atuar produtivamente de acordo com os ideais da sociedade capitalista

A sua grande contribuiccedilatildeo eacute indicar no espaccedilo da educaccedilatildeo uma perspectiva de que acrianccedila venha a aprender o que eacute a sociedade o que satildeo seus instrumentos (GUATTARI 1985p 54) para poder interferir de forma autocircnoma e criativa no mundo Aprender os coacutedigos e osmodos de funcionamento da sociedade na qual estaacute inserida pode ser importante para que acrianccedila tenha a possibilidade de desenvolver formas singulares de estar no mundo

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegico(a)s a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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UNIDADE II

UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA DO COTIDIANO ESCOLAR

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 4 DOS COLEacuteGI OS DA MODERNI DADE AgraveS ESCOLAS ATUAI S UMAANAacuteLI SE CRIacute TI CA DAS PRAacuteTI CAS COTI DI ANAS

Seguindo a linha de anaacutelise de nosso percurso iremosneste momento buscar os fios que nos permitem compreenderalguns elementos do cotidiano escolar como um espaccedilodisciplinar e controlador das subjetividades O estudo da origemdas praacuteticas educativas a partir dos coleacutegios do Seacuteculo XVIIIforneceu-nos os elementos que seratildeo aqui utilizados paraexercitarmos uma investigaccedilatildeo criacutetica da escola na atualidadeEsse exerciacutecio de reflexatildeo eacute fundamental para que possamosabrir novas portas e inventar outras praacuteticas da psicologia naescola

Com o objetivo de melhor sistematizar nosso trabalho deanaacutelise dividiremos a explanaccedilatildeo em seis itens a saber

1 As praacutet icas cot idianas conspiram cont ra a produccedilatildeoda autonomia e da autogestatildeo

Como jaacute estudamos anteriormente o poder de decisatildeofoi retirado do aluno quando da organizaccedilatildeo dos coleacutegios apartir do Seacuteculo XVIII sendo produzida uma ideacuteia de infacircnciafragilizada e portanto sem possibilidades de exercitar suaautonomia Eacute naturalizada uma concepccedilatildeo de aluno como umcorpo vazio a ser preenchido e modelado

As atividades nas escolas e na vida contemporacircnea passam a ser geridas por outrem -pelo supervisor pelo livro didaacutetico pelos programas governamentais (Escola Aberta Bolsa Escolae outros) - ou coordenadas por entidades como o Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem Aspraacuteticas de avaliaccedilatildeo se apresentam aos alunos como destituiacutedas de sentido Para os professoresessas praacuteticas representam mais uma etapa do processo sendo orientadas pela mesma loacutegica doplanejamento e das atividades contidas no livro didaacutetico Os principais atores sociais (alunos eprofessores) satildeo enfraquecidos no exerciacutecio do poder como sujeitos incapacitados de produzir aarticulaccedilatildeo entre praacuteticas e seus efeitos

Ilustraccedilatildeo de capa do livro O berccedilod a d es i g u a l d a d e de CristovamBuarque com fotos de SebastiatildeoSalgado

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lt Paulo Freiregt ao trabalhar o tema da autonomia no livroPedagogia da Aut onom ia (1996) estabelece a relaccedilatildeo entre oexerciacutecio da liberdade por parte do aluno e da autoridade peloeducador Aponta como fundamental para a construccedilatildeo da autonomiaa praacutetica da responsabilidade Segundo esse educador o educandoque exercita sua liberdade ficaraacute tatildeo mais livre quanto mais eticamentevaacute assumindo a responsabilidade de suas accedilotildees (p 104) mas essaautonomia somente se constitui quando desaparece a relaccedilatildeo dedependecircncia Continuando com o pensamento de Freire ele afirmaque

No fundo o essencial nas relaccedilotildees entre educador eeducando entre autoridade e liberdade entre pais matildeesfilhos filhas eacute a reinvenccedilatildeo do ser humano no aprendizadoda autonomia (FREIRE 1996 p 105)

O pensamento e a accedilatildeo autocircnomos natildeo se datildeo sem que sejamexplicitados os lugares de poder Por isso Paulo Freire fala da reinvenccedilatildeodo ser humano e mais do que isso da reinvenccedilatildeo das relaccedilotildees pedagoacutegicasque deveriam trocar a dependecircncia pela responsabilidade

2 O m odelo educat ivo dest itui os hom ens de sua condiccedilatildeo deprodutores do conhecim ento

A concepccedilatildeo de sujeito a-histoacuterico estaacute presente no contextoescolar onde o conhecimento eacute dado como objetivo e assumido comoverdade absoluta a ser aprendida A organizaccedilatildeo do saber hierarquicamentedisciplinado como nos mostrou Juacutelia Varella na aula anterior (Aula 3Unidade I) elimina a concepccedilatildeo de sujeito como produtor de conhecimentoOs processos de p e d a g o g i z a ccedilatilde o d o s co n h e ci m e n t o s e dedisciplinam ento interno dos saberes estatildeo presentes nas praacuteticaseducacionais atuais fazendo com que tanto alunos quanto professoressejam concebidos como meros coadjuvantes

Trata-se de um treino para o bom comportamento social valorizando o lugar do expectador daquele que natildeo interfere no andamentoda aula e que deve seguir agrave risca o que eacute ditado pelo planejamentomuitas vezes elaborado pelos especialistas da educaccedilatildeo A ausecircncia deuma implicaccedilatildeo dos alunos no processo de aprendizagem eacute consequumlecircnciadesse modelo de escola que somente legitima o conhecimento que eacuteproduzido fora de seu cotidiano A sala de aula eacute assim desumanizada edestituiacuteda de vida proacutepria O mesmo processo eacute vivido pelos educadoresque aprendem no exerciacutecio profissional a praticar e valorizar a obediecircncia

Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

Fo n t e Charge deClaudius Cecconpublicada no livroCu i d a d o Esco l a (p64)

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I236

5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I242

que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I244

frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I246

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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Aula 4 Aula 5 Aula 6

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 21: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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Para levar adiante seu projeto de formaccedilatildeo de bons cristatildeos os mestresjesuiacutetas natildeo apenas reforccedilaram o estatuto conferido agrave infacircncia com a opccedilatildeode educaacute-la em espaccedilos fechados nos coleacutegios mas sentiram tambeacutem anecessidade de controlar os saberes que iam transmitir e de organizar essessaberes de tal forma que se adequassem agraves supostas capacidades infantis(VARELLA 2000 apud SILVA 1994 p 88)

Os mestres jesuiacutetas se converteram em autoridades maacuteximas exercendo um poder sobreseus alunos retirando toda a possibilidade vivenciada na Idade Meacutedia de autonomia no estudoForam desenvolvidas estrateacutegias e teacutecnicas que tinham como objetivo dirigir ao conhecimento omesmo sentido moralizante que vinha sendo dado agrave formaccedilatildeo dos alunos A disciplina e a ordemnas salas de aula passaram a ser elementos necessaacuterios nesse processo de penalizaccedilatildeo emoralizaccedilatildeo

Em segundo lugar Juacutelia Varella reconhece a existecircncia de um processo que se daacute no interiorda produccedilatildeo do conhecimento o disciplinamento interno dos saberes eliminando o que eraconsiderado como saberes inuacuteteis segundo as normas de moralizaccedilatildeo e reordenando umacomunicaccedilatildeo entre esses retirando-lhes a forccedila e a intensidade Nesse processo eacute importanteque se promova ainda uma classificaccedilatildeo e hierarquizaccedilatildeo entre os saberes promovendo umacentralizaccedilatildeo de cima para baixo As fronteiras entre a histoacuteria a geografia e a sociologia foramtraccediladas por exemplo pela humanidade assim como a orientaccedilatildeo no processo de ensino-aprendizagem do que deve ser ensinado primeiro e qual saber eacute mais nobre isto eacute que deveocupar o topo de todos os conhecimentos

Os processos que foram aos poucos se instaurando apartir do Seacuteculo XVI produziram censura e controle e mais doque isso devido agraves divisotildees impostas que delimitavam as aacutereasde saberes (conhecimentos) buscavam eliminar a ideacuteia dohomem universal acentuando a possibilidade de tornar doacuteceisos corpos (os sujeitos) mediante essa praacutetica disciplinar impostana produccedilatildeo dos saberes Se anteriormente na Idade Meacutedia oaluno detinha um poder sobre o que queria aprender e ondebuscar o conhecimento na era da modernidade essapossibilidade passa a ser inexistente O aluno perde o poder sobre seus caminhos passando a sercompreendido como um mero elemento de transmissatildeo de conhecimento Natildeo mais pode escolhero que deve ser aprendido tampouco o ritmo desse aprendizado ou o que fazer do conhecimentoadquirido A grade de disciplinas hoje tatildeo naturalmente absorvida por todos noacutes em qualquercurso eacute uma produccedilatildeo social e serve a esses interesses de tornar doacutecil o corpo a ser disciplinadoAprendemos esse ordenamento dos saberes e passamos a respeitaacute-los como se fossemincontestaacuteveis naturais e acima de tudo necessaacuterios

Michel Foucault jaacute citado anteriormente reconhece nesse processo a emergecircncia dasociedade disciplinar que funciona confinando aprisionando os homens agraves escolas agraves prisotildeesagraves igrejas aos hospitais agraves faacutebricas etc

Os processos descritos acima por Juacutelia Varella podem ser reconhecidos ateacute hoje nas praacuteticasescolares Poreacutem com a intervenccedilatildeo das miacutedias e dos novos equipamentos sociais jaacute se pode

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identificar um controle que natildeo mais iraacute somente confinar isolar os estudantes nas escolas osloucos nos asilos e os empregados nas faacutebricas para que sejam produtivos

Trata-se da emergecircncia da sociedade de controle que atua de forma contiacutenua Entramem accedilatildeo a TV os microcomputadores e os celulares que permitem conhecer e conectar o mundoa partir de um uacutenico lugar Satildeo maacutequinas que iratildeo estruturar a vida organizando uma subjetividadedo consumo e da informaccedilatildeo Mas como relacionar esse processo aos domiacutenios da escola

Aqui lanccedilaremos matildeo de outro escritor francecircs Feacutelix Guattari (1985) que no estudo Ascreches e a iniciaccedilatildeo publicado no livro intitulado Revoluccedilotildees Moleculares mostra-nos osefeitos do processo de iniciaccedilatildeo das crianccedilas agrave loacutegica capitalista O autor se refere agrave produccedilatildeode modos de viver pensar e sentir que estariam em consonacircncia com os mais novos modos deproduccedilatildeo material na sociedade capitalista industrial Denomina como aparelhos de semiotizaccedilatildeoos viacutedeo-games CD-rom etc Esses aparelhos passam a dar o sentido dos modos de existecircncia

Guattari (1985) indica que as crianccedilas estatildeo sendo iniciadas cada vez mais cedo nossistemas de representaccedilatildeo e nos valores do capitalismo que produzem uma modelagem adequadaaos coacutedigos utilizados em nosso cotidiano Aponta como importante o fato de que se mobilizamno processo de formaccedilatildeo da crianccedila esquemas de aprendizagem que permitem traduzir oconjunto de coacutedigos ou semioacuteticas dominantes Por fim chama a atenccedilatildeo para a necessidade deanalisarmos o funcionamento da creche e o efeito da educaccedilatildeo infantil na constituiccedilatildeo dessecorpo que eacute modelado para atuar produtivamente de acordo com os ideais da sociedade capitalista

A sua grande contribuiccedilatildeo eacute indicar no espaccedilo da educaccedilatildeo uma perspectiva de que acrianccedila venha a aprender o que eacute a sociedade o que satildeo seus instrumentos (GUATTARI 1985p 54) para poder interferir de forma autocircnoma e criativa no mundo Aprender os coacutedigos e osmodos de funcionamento da sociedade na qual estaacute inserida pode ser importante para que acrianccedila tenha a possibilidade de desenvolver formas singulares de estar no mundo

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegico(a)s a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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UNIDADE II

UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA DO COTIDIANO ESCOLAR

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 4 DOS COLEacuteGI OS DA MODERNI DADE AgraveS ESCOLAS ATUAI S UMAANAacuteLI SE CRIacute TI CA DAS PRAacuteTI CAS COTI DI ANAS

Seguindo a linha de anaacutelise de nosso percurso iremosneste momento buscar os fios que nos permitem compreenderalguns elementos do cotidiano escolar como um espaccedilodisciplinar e controlador das subjetividades O estudo da origemdas praacuteticas educativas a partir dos coleacutegios do Seacuteculo XVIIIforneceu-nos os elementos que seratildeo aqui utilizados paraexercitarmos uma investigaccedilatildeo criacutetica da escola na atualidadeEsse exerciacutecio de reflexatildeo eacute fundamental para que possamosabrir novas portas e inventar outras praacuteticas da psicologia naescola

Com o objetivo de melhor sistematizar nosso trabalho deanaacutelise dividiremos a explanaccedilatildeo em seis itens a saber

1 As praacutet icas cot idianas conspiram cont ra a produccedilatildeoda autonomia e da autogestatildeo

Como jaacute estudamos anteriormente o poder de decisatildeofoi retirado do aluno quando da organizaccedilatildeo dos coleacutegios apartir do Seacuteculo XVIII sendo produzida uma ideacuteia de infacircnciafragilizada e portanto sem possibilidades de exercitar suaautonomia Eacute naturalizada uma concepccedilatildeo de aluno como umcorpo vazio a ser preenchido e modelado

As atividades nas escolas e na vida contemporacircnea passam a ser geridas por outrem -pelo supervisor pelo livro didaacutetico pelos programas governamentais (Escola Aberta Bolsa Escolae outros) - ou coordenadas por entidades como o Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem Aspraacuteticas de avaliaccedilatildeo se apresentam aos alunos como destituiacutedas de sentido Para os professoresessas praacuteticas representam mais uma etapa do processo sendo orientadas pela mesma loacutegica doplanejamento e das atividades contidas no livro didaacutetico Os principais atores sociais (alunos eprofessores) satildeo enfraquecidos no exerciacutecio do poder como sujeitos incapacitados de produzir aarticulaccedilatildeo entre praacuteticas e seus efeitos

Ilustraccedilatildeo de capa do livro O berccedilod a d es i g u a l d a d e de CristovamBuarque com fotos de SebastiatildeoSalgado

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lt Paulo Freiregt ao trabalhar o tema da autonomia no livroPedagogia da Aut onom ia (1996) estabelece a relaccedilatildeo entre oexerciacutecio da liberdade por parte do aluno e da autoridade peloeducador Aponta como fundamental para a construccedilatildeo da autonomiaa praacutetica da responsabilidade Segundo esse educador o educandoque exercita sua liberdade ficaraacute tatildeo mais livre quanto mais eticamentevaacute assumindo a responsabilidade de suas accedilotildees (p 104) mas essaautonomia somente se constitui quando desaparece a relaccedilatildeo dedependecircncia Continuando com o pensamento de Freire ele afirmaque

No fundo o essencial nas relaccedilotildees entre educador eeducando entre autoridade e liberdade entre pais matildeesfilhos filhas eacute a reinvenccedilatildeo do ser humano no aprendizadoda autonomia (FREIRE 1996 p 105)

O pensamento e a accedilatildeo autocircnomos natildeo se datildeo sem que sejamexplicitados os lugares de poder Por isso Paulo Freire fala da reinvenccedilatildeodo ser humano e mais do que isso da reinvenccedilatildeo das relaccedilotildees pedagoacutegicasque deveriam trocar a dependecircncia pela responsabilidade

2 O m odelo educat ivo dest itui os hom ens de sua condiccedilatildeo deprodutores do conhecim ento

A concepccedilatildeo de sujeito a-histoacuterico estaacute presente no contextoescolar onde o conhecimento eacute dado como objetivo e assumido comoverdade absoluta a ser aprendida A organizaccedilatildeo do saber hierarquicamentedisciplinado como nos mostrou Juacutelia Varella na aula anterior (Aula 3Unidade I) elimina a concepccedilatildeo de sujeito como produtor de conhecimentoOs processos de p e d a g o g i z a ccedilatilde o d o s co n h e ci m e n t o s e dedisciplinam ento interno dos saberes estatildeo presentes nas praacuteticaseducacionais atuais fazendo com que tanto alunos quanto professoressejam concebidos como meros coadjuvantes

Trata-se de um treino para o bom comportamento social valorizando o lugar do expectador daquele que natildeo interfere no andamentoda aula e que deve seguir agrave risca o que eacute ditado pelo planejamentomuitas vezes elaborado pelos especialistas da educaccedilatildeo A ausecircncia deuma implicaccedilatildeo dos alunos no processo de aprendizagem eacute consequumlecircnciadesse modelo de escola que somente legitima o conhecimento que eacuteproduzido fora de seu cotidiano A sala de aula eacute assim desumanizada edestituiacuteda de vida proacutepria O mesmo processo eacute vivido pelos educadoresque aprendem no exerciacutecio profissional a praticar e valorizar a obediecircncia

Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

Fo n t e Charge deClaudius Cecconpublicada no livroCu i d a d o Esco l a (p64)

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

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5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I240

A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I252

AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 22: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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identificar um controle que natildeo mais iraacute somente confinar isolar os estudantes nas escolas osloucos nos asilos e os empregados nas faacutebricas para que sejam produtivos

Trata-se da emergecircncia da sociedade de controle que atua de forma contiacutenua Entramem accedilatildeo a TV os microcomputadores e os celulares que permitem conhecer e conectar o mundoa partir de um uacutenico lugar Satildeo maacutequinas que iratildeo estruturar a vida organizando uma subjetividadedo consumo e da informaccedilatildeo Mas como relacionar esse processo aos domiacutenios da escola

Aqui lanccedilaremos matildeo de outro escritor francecircs Feacutelix Guattari (1985) que no estudo Ascreches e a iniciaccedilatildeo publicado no livro intitulado Revoluccedilotildees Moleculares mostra-nos osefeitos do processo de iniciaccedilatildeo das crianccedilas agrave loacutegica capitalista O autor se refere agrave produccedilatildeode modos de viver pensar e sentir que estariam em consonacircncia com os mais novos modos deproduccedilatildeo material na sociedade capitalista industrial Denomina como aparelhos de semiotizaccedilatildeoos viacutedeo-games CD-rom etc Esses aparelhos passam a dar o sentido dos modos de existecircncia

Guattari (1985) indica que as crianccedilas estatildeo sendo iniciadas cada vez mais cedo nossistemas de representaccedilatildeo e nos valores do capitalismo que produzem uma modelagem adequadaaos coacutedigos utilizados em nosso cotidiano Aponta como importante o fato de que se mobilizamno processo de formaccedilatildeo da crianccedila esquemas de aprendizagem que permitem traduzir oconjunto de coacutedigos ou semioacuteticas dominantes Por fim chama a atenccedilatildeo para a necessidade deanalisarmos o funcionamento da creche e o efeito da educaccedilatildeo infantil na constituiccedilatildeo dessecorpo que eacute modelado para atuar produtivamente de acordo com os ideais da sociedade capitalista

A sua grande contribuiccedilatildeo eacute indicar no espaccedilo da educaccedilatildeo uma perspectiva de que acrianccedila venha a aprender o que eacute a sociedade o que satildeo seus instrumentos (GUATTARI 1985p 54) para poder interferir de forma autocircnoma e criativa no mundo Aprender os coacutedigos e osmodos de funcionamento da sociedade na qual estaacute inserida pode ser importante para que acrianccedila tenha a possibilidade de desenvolver formas singulares de estar no mundo

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegico(a)s a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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UNIDADE II

UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA DO COTIDIANO ESCOLAR

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 4 DOS COLEacuteGI OS DA MODERNI DADE AgraveS ESCOLAS ATUAI S UMAANAacuteLI SE CRIacute TI CA DAS PRAacuteTI CAS COTI DI ANAS

Seguindo a linha de anaacutelise de nosso percurso iremosneste momento buscar os fios que nos permitem compreenderalguns elementos do cotidiano escolar como um espaccedilodisciplinar e controlador das subjetividades O estudo da origemdas praacuteticas educativas a partir dos coleacutegios do Seacuteculo XVIIIforneceu-nos os elementos que seratildeo aqui utilizados paraexercitarmos uma investigaccedilatildeo criacutetica da escola na atualidadeEsse exerciacutecio de reflexatildeo eacute fundamental para que possamosabrir novas portas e inventar outras praacuteticas da psicologia naescola

Com o objetivo de melhor sistematizar nosso trabalho deanaacutelise dividiremos a explanaccedilatildeo em seis itens a saber

1 As praacutet icas cot idianas conspiram cont ra a produccedilatildeoda autonomia e da autogestatildeo

Como jaacute estudamos anteriormente o poder de decisatildeofoi retirado do aluno quando da organizaccedilatildeo dos coleacutegios apartir do Seacuteculo XVIII sendo produzida uma ideacuteia de infacircnciafragilizada e portanto sem possibilidades de exercitar suaautonomia Eacute naturalizada uma concepccedilatildeo de aluno como umcorpo vazio a ser preenchido e modelado

As atividades nas escolas e na vida contemporacircnea passam a ser geridas por outrem -pelo supervisor pelo livro didaacutetico pelos programas governamentais (Escola Aberta Bolsa Escolae outros) - ou coordenadas por entidades como o Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem Aspraacuteticas de avaliaccedilatildeo se apresentam aos alunos como destituiacutedas de sentido Para os professoresessas praacuteticas representam mais uma etapa do processo sendo orientadas pela mesma loacutegica doplanejamento e das atividades contidas no livro didaacutetico Os principais atores sociais (alunos eprofessores) satildeo enfraquecidos no exerciacutecio do poder como sujeitos incapacitados de produzir aarticulaccedilatildeo entre praacuteticas e seus efeitos

Ilustraccedilatildeo de capa do livro O berccedilod a d es i g u a l d a d e de CristovamBuarque com fotos de SebastiatildeoSalgado

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lt Paulo Freiregt ao trabalhar o tema da autonomia no livroPedagogia da Aut onom ia (1996) estabelece a relaccedilatildeo entre oexerciacutecio da liberdade por parte do aluno e da autoridade peloeducador Aponta como fundamental para a construccedilatildeo da autonomiaa praacutetica da responsabilidade Segundo esse educador o educandoque exercita sua liberdade ficaraacute tatildeo mais livre quanto mais eticamentevaacute assumindo a responsabilidade de suas accedilotildees (p 104) mas essaautonomia somente se constitui quando desaparece a relaccedilatildeo dedependecircncia Continuando com o pensamento de Freire ele afirmaque

No fundo o essencial nas relaccedilotildees entre educador eeducando entre autoridade e liberdade entre pais matildeesfilhos filhas eacute a reinvenccedilatildeo do ser humano no aprendizadoda autonomia (FREIRE 1996 p 105)

O pensamento e a accedilatildeo autocircnomos natildeo se datildeo sem que sejamexplicitados os lugares de poder Por isso Paulo Freire fala da reinvenccedilatildeodo ser humano e mais do que isso da reinvenccedilatildeo das relaccedilotildees pedagoacutegicasque deveriam trocar a dependecircncia pela responsabilidade

2 O m odelo educat ivo dest itui os hom ens de sua condiccedilatildeo deprodutores do conhecim ento

A concepccedilatildeo de sujeito a-histoacuterico estaacute presente no contextoescolar onde o conhecimento eacute dado como objetivo e assumido comoverdade absoluta a ser aprendida A organizaccedilatildeo do saber hierarquicamentedisciplinado como nos mostrou Juacutelia Varella na aula anterior (Aula 3Unidade I) elimina a concepccedilatildeo de sujeito como produtor de conhecimentoOs processos de p e d a g o g i z a ccedilatilde o d o s co n h e ci m e n t o s e dedisciplinam ento interno dos saberes estatildeo presentes nas praacuteticaseducacionais atuais fazendo com que tanto alunos quanto professoressejam concebidos como meros coadjuvantes

Trata-se de um treino para o bom comportamento social valorizando o lugar do expectador daquele que natildeo interfere no andamentoda aula e que deve seguir agrave risca o que eacute ditado pelo planejamentomuitas vezes elaborado pelos especialistas da educaccedilatildeo A ausecircncia deuma implicaccedilatildeo dos alunos no processo de aprendizagem eacute consequumlecircnciadesse modelo de escola que somente legitima o conhecimento que eacuteproduzido fora de seu cotidiano A sala de aula eacute assim desumanizada edestituiacuteda de vida proacutepria O mesmo processo eacute vivido pelos educadoresque aprendem no exerciacutecio profissional a praticar e valorizar a obediecircncia

Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

Fo n t e Charge deClaudius Cecconpublicada no livroCu i d a d o Esco l a (p64)

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

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5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I238

AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I240

A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I242

que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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Aula 4 Aula 5 Aula 6

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I244

frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I246

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I248

Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I258

Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 23: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegico(a)s a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

DESAFIOS

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Aula 1 Aula 2 Aula 3

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UNIDADE II

UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA DO COTIDIANO ESCOLAR

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 4 DOS COLEacuteGI OS DA MODERNI DADE AgraveS ESCOLAS ATUAI S UMAANAacuteLI SE CRIacute TI CA DAS PRAacuteTI CAS COTI DI ANAS

Seguindo a linha de anaacutelise de nosso percurso iremosneste momento buscar os fios que nos permitem compreenderalguns elementos do cotidiano escolar como um espaccedilodisciplinar e controlador das subjetividades O estudo da origemdas praacuteticas educativas a partir dos coleacutegios do Seacuteculo XVIIIforneceu-nos os elementos que seratildeo aqui utilizados paraexercitarmos uma investigaccedilatildeo criacutetica da escola na atualidadeEsse exerciacutecio de reflexatildeo eacute fundamental para que possamosabrir novas portas e inventar outras praacuteticas da psicologia naescola

Com o objetivo de melhor sistematizar nosso trabalho deanaacutelise dividiremos a explanaccedilatildeo em seis itens a saber

1 As praacutet icas cot idianas conspiram cont ra a produccedilatildeoda autonomia e da autogestatildeo

Como jaacute estudamos anteriormente o poder de decisatildeofoi retirado do aluno quando da organizaccedilatildeo dos coleacutegios apartir do Seacuteculo XVIII sendo produzida uma ideacuteia de infacircnciafragilizada e portanto sem possibilidades de exercitar suaautonomia Eacute naturalizada uma concepccedilatildeo de aluno como umcorpo vazio a ser preenchido e modelado

As atividades nas escolas e na vida contemporacircnea passam a ser geridas por outrem -pelo supervisor pelo livro didaacutetico pelos programas governamentais (Escola Aberta Bolsa Escolae outros) - ou coordenadas por entidades como o Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem Aspraacuteticas de avaliaccedilatildeo se apresentam aos alunos como destituiacutedas de sentido Para os professoresessas praacuteticas representam mais uma etapa do processo sendo orientadas pela mesma loacutegica doplanejamento e das atividades contidas no livro didaacutetico Os principais atores sociais (alunos eprofessores) satildeo enfraquecidos no exerciacutecio do poder como sujeitos incapacitados de produzir aarticulaccedilatildeo entre praacuteticas e seus efeitos

Ilustraccedilatildeo de capa do livro O berccedilod a d es i g u a l d a d e de CristovamBuarque com fotos de SebastiatildeoSalgado

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lt Paulo Freiregt ao trabalhar o tema da autonomia no livroPedagogia da Aut onom ia (1996) estabelece a relaccedilatildeo entre oexerciacutecio da liberdade por parte do aluno e da autoridade peloeducador Aponta como fundamental para a construccedilatildeo da autonomiaa praacutetica da responsabilidade Segundo esse educador o educandoque exercita sua liberdade ficaraacute tatildeo mais livre quanto mais eticamentevaacute assumindo a responsabilidade de suas accedilotildees (p 104) mas essaautonomia somente se constitui quando desaparece a relaccedilatildeo dedependecircncia Continuando com o pensamento de Freire ele afirmaque

No fundo o essencial nas relaccedilotildees entre educador eeducando entre autoridade e liberdade entre pais matildeesfilhos filhas eacute a reinvenccedilatildeo do ser humano no aprendizadoda autonomia (FREIRE 1996 p 105)

O pensamento e a accedilatildeo autocircnomos natildeo se datildeo sem que sejamexplicitados os lugares de poder Por isso Paulo Freire fala da reinvenccedilatildeodo ser humano e mais do que isso da reinvenccedilatildeo das relaccedilotildees pedagoacutegicasque deveriam trocar a dependecircncia pela responsabilidade

2 O m odelo educat ivo dest itui os hom ens de sua condiccedilatildeo deprodutores do conhecim ento

A concepccedilatildeo de sujeito a-histoacuterico estaacute presente no contextoescolar onde o conhecimento eacute dado como objetivo e assumido comoverdade absoluta a ser aprendida A organizaccedilatildeo do saber hierarquicamentedisciplinado como nos mostrou Juacutelia Varella na aula anterior (Aula 3Unidade I) elimina a concepccedilatildeo de sujeito como produtor de conhecimentoOs processos de p e d a g o g i z a ccedilatilde o d o s co n h e ci m e n t o s e dedisciplinam ento interno dos saberes estatildeo presentes nas praacuteticaseducacionais atuais fazendo com que tanto alunos quanto professoressejam concebidos como meros coadjuvantes

Trata-se de um treino para o bom comportamento social valorizando o lugar do expectador daquele que natildeo interfere no andamentoda aula e que deve seguir agrave risca o que eacute ditado pelo planejamentomuitas vezes elaborado pelos especialistas da educaccedilatildeo A ausecircncia deuma implicaccedilatildeo dos alunos no processo de aprendizagem eacute consequumlecircnciadesse modelo de escola que somente legitima o conhecimento que eacuteproduzido fora de seu cotidiano A sala de aula eacute assim desumanizada edestituiacuteda de vida proacutepria O mesmo processo eacute vivido pelos educadoresque aprendem no exerciacutecio profissional a praticar e valorizar a obediecircncia

Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

Fo n t e Charge deClaudius Cecconpublicada no livroCu i d a d o Esco l a (p64)

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

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5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I246

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I254

DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I256

Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 24: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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UNIDADE II

UMA ABORDAGEM CRIacuteTICA DO COTIDIANO ESCOLAR

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 4 DOS COLEacuteGI OS DA MODERNI DADE AgraveS ESCOLAS ATUAI S UMAANAacuteLI SE CRIacute TI CA DAS PRAacuteTI CAS COTI DI ANAS

Seguindo a linha de anaacutelise de nosso percurso iremosneste momento buscar os fios que nos permitem compreenderalguns elementos do cotidiano escolar como um espaccedilodisciplinar e controlador das subjetividades O estudo da origemdas praacuteticas educativas a partir dos coleacutegios do Seacuteculo XVIIIforneceu-nos os elementos que seratildeo aqui utilizados paraexercitarmos uma investigaccedilatildeo criacutetica da escola na atualidadeEsse exerciacutecio de reflexatildeo eacute fundamental para que possamosabrir novas portas e inventar outras praacuteticas da psicologia naescola

Com o objetivo de melhor sistematizar nosso trabalho deanaacutelise dividiremos a explanaccedilatildeo em seis itens a saber

1 As praacutet icas cot idianas conspiram cont ra a produccedilatildeoda autonomia e da autogestatildeo

Como jaacute estudamos anteriormente o poder de decisatildeofoi retirado do aluno quando da organizaccedilatildeo dos coleacutegios apartir do Seacuteculo XVIII sendo produzida uma ideacuteia de infacircnciafragilizada e portanto sem possibilidades de exercitar suaautonomia Eacute naturalizada uma concepccedilatildeo de aluno como umcorpo vazio a ser preenchido e modelado

As atividades nas escolas e na vida contemporacircnea passam a ser geridas por outrem -pelo supervisor pelo livro didaacutetico pelos programas governamentais (Escola Aberta Bolsa Escolae outros) - ou coordenadas por entidades como o Programa de Aceleraccedilatildeo da Aprendizagem Aspraacuteticas de avaliaccedilatildeo se apresentam aos alunos como destituiacutedas de sentido Para os professoresessas praacuteticas representam mais uma etapa do processo sendo orientadas pela mesma loacutegica doplanejamento e das atividades contidas no livro didaacutetico Os principais atores sociais (alunos eprofessores) satildeo enfraquecidos no exerciacutecio do poder como sujeitos incapacitados de produzir aarticulaccedilatildeo entre praacuteticas e seus efeitos

Ilustraccedilatildeo de capa do livro O berccedilod a d es i g u a l d a d e de CristovamBuarque com fotos de SebastiatildeoSalgado

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lt Paulo Freiregt ao trabalhar o tema da autonomia no livroPedagogia da Aut onom ia (1996) estabelece a relaccedilatildeo entre oexerciacutecio da liberdade por parte do aluno e da autoridade peloeducador Aponta como fundamental para a construccedilatildeo da autonomiaa praacutetica da responsabilidade Segundo esse educador o educandoque exercita sua liberdade ficaraacute tatildeo mais livre quanto mais eticamentevaacute assumindo a responsabilidade de suas accedilotildees (p 104) mas essaautonomia somente se constitui quando desaparece a relaccedilatildeo dedependecircncia Continuando com o pensamento de Freire ele afirmaque

No fundo o essencial nas relaccedilotildees entre educador eeducando entre autoridade e liberdade entre pais matildeesfilhos filhas eacute a reinvenccedilatildeo do ser humano no aprendizadoda autonomia (FREIRE 1996 p 105)

O pensamento e a accedilatildeo autocircnomos natildeo se datildeo sem que sejamexplicitados os lugares de poder Por isso Paulo Freire fala da reinvenccedilatildeodo ser humano e mais do que isso da reinvenccedilatildeo das relaccedilotildees pedagoacutegicasque deveriam trocar a dependecircncia pela responsabilidade

2 O m odelo educat ivo dest itui os hom ens de sua condiccedilatildeo deprodutores do conhecim ento

A concepccedilatildeo de sujeito a-histoacuterico estaacute presente no contextoescolar onde o conhecimento eacute dado como objetivo e assumido comoverdade absoluta a ser aprendida A organizaccedilatildeo do saber hierarquicamentedisciplinado como nos mostrou Juacutelia Varella na aula anterior (Aula 3Unidade I) elimina a concepccedilatildeo de sujeito como produtor de conhecimentoOs processos de p e d a g o g i z a ccedilatilde o d o s co n h e ci m e n t o s e dedisciplinam ento interno dos saberes estatildeo presentes nas praacuteticaseducacionais atuais fazendo com que tanto alunos quanto professoressejam concebidos como meros coadjuvantes

Trata-se de um treino para o bom comportamento social valorizando o lugar do expectador daquele que natildeo interfere no andamentoda aula e que deve seguir agrave risca o que eacute ditado pelo planejamentomuitas vezes elaborado pelos especialistas da educaccedilatildeo A ausecircncia deuma implicaccedilatildeo dos alunos no processo de aprendizagem eacute consequumlecircnciadesse modelo de escola que somente legitima o conhecimento que eacuteproduzido fora de seu cotidiano A sala de aula eacute assim desumanizada edestituiacuteda de vida proacutepria O mesmo processo eacute vivido pelos educadoresque aprendem no exerciacutecio profissional a praticar e valorizar a obediecircncia

Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

Fo n t e Charge deClaudius Cecconpublicada no livroCu i d a d o Esco l a (p64)

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

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5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 25: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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lt Paulo Freiregt ao trabalhar o tema da autonomia no livroPedagogia da Aut onom ia (1996) estabelece a relaccedilatildeo entre oexerciacutecio da liberdade por parte do aluno e da autoridade peloeducador Aponta como fundamental para a construccedilatildeo da autonomiaa praacutetica da responsabilidade Segundo esse educador o educandoque exercita sua liberdade ficaraacute tatildeo mais livre quanto mais eticamentevaacute assumindo a responsabilidade de suas accedilotildees (p 104) mas essaautonomia somente se constitui quando desaparece a relaccedilatildeo dedependecircncia Continuando com o pensamento de Freire ele afirmaque

No fundo o essencial nas relaccedilotildees entre educador eeducando entre autoridade e liberdade entre pais matildeesfilhos filhas eacute a reinvenccedilatildeo do ser humano no aprendizadoda autonomia (FREIRE 1996 p 105)

O pensamento e a accedilatildeo autocircnomos natildeo se datildeo sem que sejamexplicitados os lugares de poder Por isso Paulo Freire fala da reinvenccedilatildeodo ser humano e mais do que isso da reinvenccedilatildeo das relaccedilotildees pedagoacutegicasque deveriam trocar a dependecircncia pela responsabilidade

2 O m odelo educat ivo dest itui os hom ens de sua condiccedilatildeo deprodutores do conhecim ento

A concepccedilatildeo de sujeito a-histoacuterico estaacute presente no contextoescolar onde o conhecimento eacute dado como objetivo e assumido comoverdade absoluta a ser aprendida A organizaccedilatildeo do saber hierarquicamentedisciplinado como nos mostrou Juacutelia Varella na aula anterior (Aula 3Unidade I) elimina a concepccedilatildeo de sujeito como produtor de conhecimentoOs processos de p e d a g o g i z a ccedilatilde o d o s co n h e ci m e n t o s e dedisciplinam ento interno dos saberes estatildeo presentes nas praacuteticaseducacionais atuais fazendo com que tanto alunos quanto professoressejam concebidos como meros coadjuvantes

Trata-se de um treino para o bom comportamento social valorizando o lugar do expectador daquele que natildeo interfere no andamentoda aula e que deve seguir agrave risca o que eacute ditado pelo planejamentomuitas vezes elaborado pelos especialistas da educaccedilatildeo A ausecircncia deuma implicaccedilatildeo dos alunos no processo de aprendizagem eacute consequumlecircnciadesse modelo de escola que somente legitima o conhecimento que eacuteproduzido fora de seu cotidiano A sala de aula eacute assim desumanizada edestituiacuteda de vida proacutepria O mesmo processo eacute vivido pelos educadoresque aprendem no exerciacutecio profissional a praticar e valorizar a obediecircncia

Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

Fo n t e Charge deClaudius Cecconpublicada no livroCu i d a d o Esco l a (p64)

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

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5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I240

A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I250

3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I252

AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I258

Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 26: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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Para escapar dessa armadilha eacute necessaacuterio que professores e alunos se coloquem no lugarde agentes sociais e exercitem o poder de produzir novas relaccedilotildees entre si trazendo para a salade aula o interesse pela mudanccedila que somente se daraacute quando esta for um espaccedilo detransformaccedilotildees e natildeo de repeticcedilotildees

3 As praacutet icas na escola satildeo com pet it ivas e indiv idualizantes obst ruindo o m ovim entocriacutet ico da produccedilatildeo e do pensam ento

Na escola persistem as praacuteticas dirigidas aos sujeitosisoladamente Satildeo colocados problemas a ser resolvidosindividualmente utilizando-se conhecimentos jaacute aprendidosO cotidiano escolar eacute marcado pelo aprendizado em etapase pela avaliaccedilatildeo cumulativa Eacute a possibilidade do exame edas provas que parecem sentenccedilas de morte que impulsionao aluno agrave competitividade e ao individualismo

Quando apontamos para a necessidade de criar ummovimento criacutetico do pensamento referimo-nos agrave invenccedilatildeode possibilidades o que requer um estado de aprender aaprender de interferir de quebrar a rigidez do conhecimentopronto Por meio da produccedilatildeo coletiva da cooperaccedilatildeo eacute queo conhecimento se coloca agrave disposiccedilatildeo do questionamento Eacuteesse processo que promove a problematizaccedilatildeo e a constituiccedilatildeodos sujeitos criacuteticos a partir de interrogaccedilotildees e natildeo decertezas e finitudes

4 A escola expele o novo o imprevisiacutevel o muacuteltiplo a diferenccedila em nome da ordem

Como vimos apontando no estudo da constituiccedilatildeo da escola o aprendizado da ordem e dasregras de funcionamento da sociedade vem se dando cada vez mais cedo afetando a crianccedila naidade mais tenra As praacuteticas presentes na escola que impotildee a repeticcedilatildeo (do desenho da professorado texto a ser copiado) induzem agrave produccedilatildeo de um sujeito destituiacutedo de senso criacutetico oureflexivo Sua utilizaccedilatildeo tem como argumento o treino de habilidades no entanto mais do queisso expele do cotidiano a possibilidade da surpresa que o imprevisto e o novo promovem

O cotidiano da escola recusa a novidade Na praacutetica educativa que inclui leituras coacutepiasditados os procedimentos satildeo assumidos como reveladores do que jaacute se encontra desenvolvidoou latente no indiviacuteduo Na visatildeo de mundo que eacute legitimada na escola tudo jaacute se encontrapronto basta somente ser conhecido aprendido A impossibilidade de trabalhar com o que natildeoestaacute previsto no livro e natildeo pertence ao campo de conhecimento do professor faz parte daestrateacutegia de disciplinamento do saber e da docilizaccedilatildeo dos corpos de alunos aprendizes daordem e da disciplina O novo que natildeo eacute contemplado nos exerciacutecios da cartilha eacute apontado comocomportamento inadequado divergente improacuteprio

A multiplicidade de respostas a uma mesma formulaccedilatildeo estaacute igualmente fora do cotidianodessa escola objeto de nossa criacutetica Portanto abrir caminhos para o muacuteltiplo significa assumircomo positivo o enfrentamento de conflitos que depende agraves vezes de invenccedilatildeo e de risco

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I236

5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I238

AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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Aula 4 Aula 5 Aula 6

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I250

3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I252

AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 27: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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5 O t rabalho docente eacute ext rem am ente burocrat izado e sem pressa

Ao estudarmos na Unidade I (Aula 3) a emergecircncia das sociedades de controle afirmamosque hoje se produzem praacuteticas sociais que definem modos de existecircncia mediante o uso deequipamentos de comunicaccedilatildeo como as TVs os microcomputadores etc Esses equipamentosatuam controlando subjetividades a partir de dois fatores o tempo (para fabricar objetosexperimentar sentimentos executar tarefas) e o espaccedilo dado que se pode permanecer fisicamenteparado e chegar aos lugares mais longiacutenquos atraveacutes da internet e ser por meio desse mesmomecanismo fixado em um lugar seja ele um espaccedilo fiacutesico ou a proacutepria rede de informatizaccedilatildeo

Esses mecanismos permitem uma experimentaccedilatildeo acelerada do consumo e do descarte dasinformaccedilotildees a qual eacute realizada pelos sujeitos isoladamente Chama ainda a atenccedilatildeo a possibilidadede descarte dos proacuteprios sujeitos que escapam da zona de acesso os excluiacutedos da era dainformaccedilatildeo

A escola atualmente natildeo sabe como lidar com essa novidade porque como apontamosacima encontra-se presa agrave loacutegica da repeticcedilatildeo e articulada aos interesses dos estados-naccedilatildeode orientar classificar e manter o instituiacutedo A escola parece assim programada para um mundoque natildeo mais responde porque parece natildeo mais existir

O que vemos na escola eacute uma sequumlecircncia de atividadesburocraticamente organizadas executadas com o intuito de preservaro antigo Ao jogar sua acircncora no passado a escola caminha comlentidatildeo As atividades satildeo repetitivas e o cotidiano escolarenfadonho e produtor de sofrimento porque conspira contra a vidaCaminhando sem pressa a escola submete legiotildees de crianccedilas ejovens a tarefas escolares sem sentido como coacutepias retiradas doquadro de giz de exerciacutecios que deveratildeo ser feitos em casa equemsabe corrigidos no dia seguinte Nas escolas puacuteblicas ainda seexige das crianccedilas que reproduzam os exerciacutecios nos cadernos porqueos livros didaacuteticos deveratildeo ser devolvidos agrave escola para seremnovamente utilizados no ano seguinte por outro aluno ou pelo mesmocaso repita a seacuterie

A atividade sem pressa acaba eliminando aqueles que natildeo se adaptam ficando agrave disposiccedilatildeodos diagnoacutesticos de hiperatividade e do processo de exclusatildeo social como veremos nas duasaulas seguintes Por isso a escola articulada agraves questotildees da vida contemporacircnea tem que abrirportas de diaacutelogo de conexatildeo de questionamentos ao tempo e agrave hora dos acontecimentos

6 A desumanizaccedilatildeo e o tecnicismo satildeo marcas do cotidiano escolar

A escola de nossos dias sofre as consequumlecircncias do taylorismo educacional e do investimentono capital humano ou seja no quanto cada um vale no mercado de potencialidades humanasque marcaram a educaccedilatildeo brasileira Os princiacutepios da eficiecircncia e da eficaacutecia como formas decontabilizar os resultados do processo educacional em associaccedilatildeo com os elementos que definiriama carecircncia cultural de parte da populaccedilatildeo escolar resultaram na desumanizaccedilatildeo da vida escolar

Fot o d e Se b a st iatilde o Sa lga d o

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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Aula 4 Aula 5 Aula 6

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I240

A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I250

3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I252

AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 28: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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Resumindo-se ao seu aspecto teacutecnico a relaccedilatildeo professor-aluno perdeu vivacidadeeliminando um componente importante do processo de produccedilatildeo do conhecimento a atividadehumana A formaccedilatildeo tecnicista do professor e sua submissatildeo a procedimentos construiacutedos semsua participaccedilatildeo foram produzindo um magisteacuterio sem cor sem autoria

Paulo Freire na contramatildeo dessa visatildeo de escola afirma

O que importa na formaccedilatildeo docente natildeo eacute a repeticcedilatildeo mecacircnica do gesto este ou

aquele mas a compreensatildeo do valor dos sentimentos das emoccedilotildees do desejo da

inseguranccedila a ser superada pela seguranccedila do medo que ao ser educado vai gerando

coragem (FREIRE 1998 p 51)

Concordando com Freire acreditamos que a formaccedilatildeo docente pode deslocar o professordesse lugar desumanizado repetitivo e sem cor Para isso eacute necessaacuterio investimento no novo ecoragem para enfrentar o risco que a atividade educativa requer

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I240

A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I250

3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I252

AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I254

DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I256

Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I258

Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 29: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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AULA 5 EXCLUSAtildeO SOCI AL E EDUCACcedilAtildeO ANOTACcedilOtildeES SOBRE O FRACASSOESCOLAR

No iniacutecio de nosso percurso quando estudamos a histoacuteria da psicologia ressaltamos que aconstruccedilatildeo de teacutecnicas de avaliaccedilatildeo de habilidades humanas (testes psicoloacutegicos) e sua utilizaccedilatildeoprincipalmente na escola deram-se no sentido de se construir um discurso que pudesse fornecerexplicaccedilotildees sobre o baixo desempenho escolar e social da populaccedilatildeo pobre Vimos que naprimeira metade do Seacuteculo XX a psicologia se desenvolveu afirmando que o fracasso das classesempobrecidas na escola se dava por deficiecircncias individuais e que posteriormente a partir dadeacutecada de 1960 a justificativa para o baixo desempenho construiacuteda com o auxiacutelio da psicologiaapontava como fatores determinantes o ambiente e os modos de vida das famiacutelias pobres Osdiscursos que fundamentam tais abordagens tendem a transformar desigualdades sociais emdesigualdades escolares que iratildeo por conseguinte justificar as desigualdades sociais

Conforme apontamos na Aula 2 da Unidade I na deacutecada de 1980 inaugura-se um novocaminho de pesquisa da psicologia e da educaccedilatildeo no Brasil Rompe-se a hegemonia do pensamentoque a todo custo buscava relacionar a posiccedilatildeo social dos homens na sociedade (renda escolaridadee trabalho) com as caracteriacutesticas individuais (inteligecircncia esforccedilo pessoal e inserccedilatildeo cultural)colocando um veacuteu sobre as relaccedilotildees de classe que satildeo o alicerce do sistema capitalista deproduccedilatildeo As investigaccedilotildees que florescem a partir de entatildeo seguindo uma abordagem criacuteticairatildeo afirmar que o fracasso escolar eacute uma produccedilatildeo social isto eacute o resultado da loacutegica deorganizaccedilatildeo da sociedade de classes que precisa a todo o momento inventar formas de semanter como tal

Verificamos que a pesquisa em psicologia organizada nesse vieacutes criacutetico aponta a escolacomo produtora de exclusatildeo social decorrentes de mecanismos que fazem com que um enorme

Favela da Rocinha RJ Pra ia de I panem a RJ

Marcas da desigualdade social

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I240

A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 30: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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contingente de alunos fracasse Esses mecanismos seratildeo analisados a seguir no sentido de fazercom que vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia possa compreender melhor como se constituihoje a ltpsicologia educacionalgt e quais as novas demandas dasociedade para esse campo do conhecimento humano Nesseprocesso natildeo nos deteremos na anaacutelise das estatiacutesticas de rendimentoou dos dados numeacutericos frequumlentemente utilizados para demonstraras caracteriacutesticas de nosso sistema escolar Indicaremos somentealguns elementos que nos permitiratildeo compreender a funccedilatildeo social daescola

Olhando a escola em sua face excludente

As organizaccedilotildees educacionais brasileiras destinadas ao ensinofundamental estatildeo concentradas na rede puacuteblica ofertando 826das matriacuteculas ficando somente 174 a cargo das escolasparticulares Esse aspecto do sistema educativo jaacute indica nossoprincipal caminho de anaacutelise Na Paraiacuteba em 2007 as matriacuteculas nasescolas puacuteblicas de 1a a 4a seacuterie somaram 43403 em um total de49515 alunos (876) enquanto que de 5a a 8a seacuterie a escolapuacuteblica ficou responsaacutevel por 39786 alunos (8804 ) em um totalde 45188 crianccedilas e adolescentes Outro dado importante eacute a taxade matriacutecula de 97 da populaccedilatildeo entre 7 e 14 anos nesse niacutevel doensino demonstrando uma perspectiva de inclusatildeo inegaacutevel

No entanto essa universalizaccedilatildeo do ensino natildeo tem sido acompanhada de uma melhoria naqualidade das escolas e do processo de escolarizaccedilatildeo nem aberto uma perspectiva de progressatildeoda populaccedilatildeo pobre para outros niacuteveis do sistema como o ensino meacutedio e o superior Auniversalizaccedilatildeo do ensino que permitiria a inclusatildeo da crianccedila pobre na escola puacuteblica precisaser seguida da universalizaccedilatildeo da permanecircncia do aluno na escola

Conforme colocamos na aula anterior a falta de sentido da atividade escolar dentre outrosaspectos faz com que os alunos abandonem a escola engrossando as estatiacutesticas de insucessoconforme pode ser analisado nos quadros do Censo Escolar 2007 encontrados no site do INEP

Para ter acesso a esses eoutros dados sobre aeducaccedilatildeo acesse o sitedo INEP

wwwwineporgbr

O trabalho que invade a alegria da infacircncia

Antes de prosseguir oestudo desta aula vocecircaprendente busque nabiblioteca de seu poacutelo olivro Psicologia escolar em busca de novos rumose proceda agrave leitura docapiacutetulo 2 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I244

frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 31: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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A evasatildeo e a repetecircncia continuam sendo fenocircmenos vivenciados especialmente nas escolaspuacuteblicas desencadeando grande distorccedilatildeo entre a seacuterie que o aluno estaacute cursando e a idadecerta para frequumlentaacute-la Esse fenocircmeno eacute conhecido como distorccedilatildeo seacuterieidade

Ainda segundo uma anaacutelise criacutetica da escola o maudesempenho dos alunos pobres expresso nas avaliaccedilotildeesnacionais do ensino fundamental e do ensino meacutedio podeestar associado a alguns fatores ligados agrave proacutepria loacutegicade funcionamento do sistema educacional como asprecaacuterias condiccedilotildees de infra-estrutura das escolas (faltade material diversificado bibliotecas inoperantes preacutediosinadequados e sem conservaccedilatildeo) baixa cobertura daeducaccedilatildeo infantil que prepararia a crianccedila para a inserccedilatildeono processo escolar e pouca atratividade da carreira domagisteacuterio caracterizada pela baixa remuneraccedilatildeo pelafalta de prestiacutegio junto agrave populaccedilatildeo e pelas peacutessimascondiccedilotildees de trabalho

Diversos pesquisadores tecircm identificado no processo atual de expansatildeo do ensino umadegradaccedilatildeo na escolarizaccedilatildeo das classes populares criando-se uma nova relaccedilatildeo entre a formade certificaccedilatildeo ( qualidade do diploma) e de alocaccedilatildeo na estrutura de classes Isso significa que

Escola Municipal Nova HolandaRJ Coleacutegio AngloRJ

Segundo a CNTE na pesquisa Retratoda Escola 3 de 2003 173 dosprofessores do ensino fundamentalrecebem um salaacuterio no valor deR$75000 a R$100000 enquantopara 196 o salaacuterio estaacute entreR$50000 e R$70000 e os demaisrecebem salaacuterios abaixo de $50000Essa pesquisa apresenta a situaccedilatildeodo professor de ensino fundamentalno Brasil e pode ser acessada pelosite wwwcnteorgbr

Sala de aula em Santareacutem - Paraacute

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 32: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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manter a populaccedilatildeo pobre na escola natildeo implica conceder-lhe a possibilidade de ascensatildeo socialuma vez que o certificado ou diploma da escola puacuteblica tem um baixo valor social que eacuteatualizado ao ingressar no mercado de trabalho quando a esse sujeito eacute garantida apenas umafunccedilatildeo igualmente desvalorizada Nesse sentido a pesquisadora Helena Altmann afirma que

a democratizaccedilatildeo do ensino no Brasil tambeacutem estaacute produzindo seus excluiacutedosdo interior Natildeo apenas excluiacutedos do interior da escola mas tambeacutem excluiacutedosdo interior da vida social O acesso agrave educaccedilatildeo baacutesica talvez consigadesenvolver capacidades baacutesicas para satisfazer agrave demanda do mercado portrabalhadores flexiacuteveis que possam facilmente adquirir novas habilidades Issotalvez os inclua em determinados setores do mercado de trabalho de modo agarantir um maior controle e estabilidade social No entanto parece que natildeoestamos indo aleacutem de incluir novos excluiacutedos no interior da vida social(ALTMANN 2002 p 89)

O processo aqui anunciado e vivido de maneira especial pela populaccedilatildeo pobre nessaescola igualmente pobre circunscreve o aluno em uma loacutegica de fracassos O que eacute concedidopelo poder hegemocircnico eacute mais uma oportunidade de ser demonstrado que mesmo comoportunidades de escolarizaccedilatildeo a populaccedilatildeo pobre continua sua saga de fracassos Como lembraPablo Gentili (2001 p 37) em seu texto publicado no livro Educar na esperanccedila em tempos dedesencanto que todos tenham acesso agrave escola natildeo significa que todos tenham acesso aomesmo tipo de escolarizaccedilatildeo

Nos processos nacionais de avaliaccedilatildeo as condiccedilotildees de escolarizaccedilatildeo ficam fora de anaacuteliseO que eacute investigado eacute o rendimento do aluno sendo aberta mais uma porta para a culpabilizaccedilatildeodessa parcela da populaccedilatildeo pelas mazelas impostas pela situaccedilatildeo de um sistema de ensino quearticulado com os interesses dos grupos economicamente dominantes faz da escola uma aliadaA eficaacutecia da escola eacute vigiada pelos programas nacionais e regionais aprisionando todos osatores a um cotidiano sem sentido

Aleacutem dos processos mais gerais de avaliaccedilatildeo promove-se um olhar cotidiano sobre ascrianccedilas que respondem de formas diversas a essa falta de sentido das tarefas escolares Astemaacuteticas destituiacutedas de vida e que natildeo respondem aos anseios e agraves curiosidades dos alunos astarefas enfadonhas e repetitivas a imposiccedilatildeo de regras de comportamento concebidas peloprofessor ou pela organizaccedilatildeo escolar e uma expectativa de que o aluno se submeta agraves praacuteticasimpostas montam um quadro vivido particularmente nas escolas puacuteblicas

Aqui vocecirc aprendente deve recordar os aspectosmencionados na aula anterior para podermos prosseguir A partir destemomento de nosso percurso analisaremos as respostas que ascrianccedilas os adolescentes e os jovens vecircm dando agraves praacuteticasescolares convencionais ou melhor de que forma se comportamnessas escolas

A indisciplina e a indiferenccedila satildeo formas frequumlentes de estar naescola A indisciplina traduzida como inquietude ou violecircncia naescola muitas vezes constitui-se como questionamento das normasinstituiacutedas como busca por parte do alunado de um espaccedilo paraexercer o poder de escolha de opiniatildeo de produccedilatildeo de conhecimentos

Nesse momento caroaprendente vamos aindaobservar de forma maisatenta a infacircnciaRecomendamos que vocecircassista agrave vide-aula Umolhar sobre a infacircncia Diri ja-se ao PMAP esolicite-o ao(agrave)m e d i a d o r ( a )pedagoacutegico(a)

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I252

AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 33: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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que lhe foi usurpado O cala a boca menino a ameaccedila das avaliaccedilotildees e da repetecircncia adesvalorizaccedilatildeo e a humilhaccedilatildeo satildeo naturalizados como praacuteticas proacuteprias da autoridade do professore necessaacuterias a uma boa educaccedilatildeo A apatia e a indiferenccedila diante da lentidatildeo e da falta desentido das tarefas e praacuteticas da escola satildeo igualmente associadas a problemas que devem serindividualmente tratados Satildeo compreendidas como um problema do aluno e de sua famiacutelia e natildeocomo uma produccedilatildeo das relaccedilotildees sociais que se estabelecem no cotidiano escolar

Mantendo a mesma loacutegica da culpabilizaccedilatildeo e da individualizaccedilatildeo e retomando o princiacutepio daaccedilatildeo moralizante a escola aciona mecanismos que lhe permitem manter-se fora de suspeita Asdificuldades de aprendizagem e de comportamento satildeo traduzidas em queixas escolares e osalunos encaminhados aos consultoacuterios de meacutedicos e psicoacutelogos Os diagnoacutesticos e laudos meacutedicose psicoloacutegicos os tratamentos psicopedagoacutegicos ou medicamentosos devem ser analisadoscuidadosamente porque podem estar se tornando os principais aliados do processo de exclusatildeoque inclui crianccedilas pobres na escola pela via da universalizaccedilatildeo do ensino a qual se manteacutempresa agrave loacutegica da carecircncia cultural Na proacutexima aula deter-nos-emos nesse assunto avanccedilandona construccedilatildeo de uma abordagem criacutetica sobre a psicologia educacional

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio que

seraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

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frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I248

Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I250

3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I256

Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I258

Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 34: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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AULA 6 MEDICALIZACcedilAtildeO DA INFAcircNCIA A DIFERENCcedilA NEGADA NO COTIDIANOESCOLAR

Nas aulas anteriores (1 e 2 da Unidade II) apresentamos a organizaccedilatildeo escolar em especial

a escola brasileira sob um olhar criacutetico analisando sua funccedilatildeo em uma sociedade marcada peladesigualdade e pela injusticcedila social Ao final indicamos que as dificuldades de aprendizagempodem ser analisadas como uma expressatildeo do efeito dos mecanismos excludentes e da falta desintonia das escolas principalmente as da rede puacuteblica com as questotildees de nosso tempo e comas possibilidades e necessidades da populaccedilatildeo empobrecida que muitas vezes busca nessaescola formas de expressatildeo

Nesta aula iremos analisar como as dificuldades de aprendizagem associadas acomportamentos inadequados ao ambiente escolar traduzem-se em problemas escolares Asideacuteias que circulam no ambiente escolar satildeo as de que se trata de crianccedilas faltosas anormaisagitadas e desatentas gerando queixas escolares que aderem ao corpo das crianccedilas num mistode preconceito e de dificuldades para lidar com a diferenccedila As crianccedilas e as queixas que recaemsobre seu comportamento seguem rumo aos consultoacuterios de especialistas ou simplesmenteficam agrave deriva na escola agrave mercecirc dos olhares preconceituosos e pouco esperanccedilosos que satildeo aelas dirigidos O que se passa na escola capaz de produzir no aluno comportamentos de resistecircnciade indisciplina e de desatenccedilatildeo como jaacute analisado em nossa primeira aula desta unidade eacutecolocado fora da cena A proacutepria designaccedilatildeo de dificuldade de aprendizagem jaacute indica a existecircnciade um problema a ser associado ao aprendente e natildeo algo que se passa na relaccedilatildeo entre oprofessor e os alunos mediada pelo processo de aquisiccedilatildeoproduccedilatildeo do conhecimento

A professora da Faculdade de Ciecircncias Meacutedicas da UNICANPMaria Aparecida Affonso Moyseacutes com base nos resultados de vaacuteriaspesquisas (2001) afirma que existe na verdade um grande mitoque se ramifica e se dissemina em vaacuterias direccedilotildees a crenccedila de quequestotildees de sauacutede satildeo responsaacuteveis pelo menos em parte pelofracasso escolar Essa pesquisadora aponta ainda que a escola temproblemas no seu cotidiano que devem ser atribuiacutedos agrave impossibilidadede se perceber como cada crianccedila eacute e como lidar com as diferentesformas de existir Ela refere que os estigmas produzidos acabam seconfirmando quando os pais passam a desconfiar que seu filho defato tem problemas quando os colegas comeccedilam a associar qualquererro ou comportamento estranho a uma possiacutevel doenccedila e quandoa professora deixa de lado o doente acreditando que nada podeser feito

Nesse contexto crescem os diagnoacutesticos de distuacuterbios e transtornos psiquiaacutetricos sendocomum a referecircncia a uma siacutendrome conhecida como Transtorno de Deacuteficit de AtenccedilatildeoHiperatividade (TDAH)

Essa siacutendrome vem sendo descrita pela medicina desde meados do Seacuteculo XIX Atualmenteaparece nos manuais de psiquiatria (Manual Diagnoacutestico e Estatiacutestico dos Transtornos Mentais DSM IV 4ordf Ediccedilatildeo de 1994) e eacute descrita no Coacutedigo Internacional das Doenccedilas (CID-10) de1993 segundo o qual trata-se de transtornos hipercineacuteticos As crianccedilas hipercineacuteticas satildeo

Antes de prosseguir como estudo desta aulavocecirc aprendentebusque na biblioteca deseu poacutelo o l ivroPsicologia escolar embusca de novos rum os eproceda agrave leitura docapiacutetulo 1 Faccedila umasiacutentese criacutetica dessecapiacutetulo e poste-a no AVA- Moodle

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I244

frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I250

3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 35: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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frequumlentemente imprudentes e impulsivas sujeitas a acidentes eincorrem em problemas disciplinares mais por infraccedilotildees natildeopremeditadas de regras do que por desafio deliberado

De acordo com o DSM-IV (apud KAPLAN 2003) as crianccedilascom TDAH apresentam sintomas de desatenccedilatildeo hiperatividade ouimpulsividade A relaccedilatildeo de sintomas abaixo foi extraiacuteda do manualde psiquiatria referido anteriormente

Os sintomas que caracterizam a desatenccedilatildeo satildeofrequumlentemente deixa de prestar atenccedilatildeo a detalhesou comete erros por descuido em atividadesescolares de trabalho ou outras com frequumlecircncia temdificuldades para manter a atenccedilatildeo em tarefas ouatividades luacutedicas com frequumlecircncia parece natildeoescutar quando lhe dirigem a palavra com frequumlecircncianatildeo segue instruccedilotildees e natildeo termina seus deveresescolares tarefas domeacutesticas ou deveresprofissionais (natildeo devido a comportamento deoposiccedilatildeo ou incapacidade de compreenderinstruccedilotildees) com frequumlecircncia tem dificuldade para organizar tarefas e atividadescom frequumlecircncia evita antipatiza ou reluta a envolver-se em tarefas que exijamesforccedilo mental constante (como tarefas escolares ou deveres de casa) comfrequumlecircncia perde coisas necessaacuterias para tarefas ou atividades (por ex brinquedostarefas escolares laacutepis livros ou outros materiais) eacute facilmente distraiacutedo porestiacutemulos alheios agrave tarefa com frequumlecircncia apresenta esquecimento em atividadesdiaacuterias

Os sintomas da hiperatividade satildeo frequumlentemente agita as matildeos ou os peacutes ou seremexe na cadeira frequumlentemente abandona sua cadeira em sala de aula ou outrassituaccedilotildees nas quais se espera que permaneccedila sentado frequumlentemente corre ouescala em demasia em situaccedilotildees nas quais isto eacute inapropriado (em adolescentes eadultos pode estar limitado a sensaccedilotildees subjetivas de inquietaccedilatildeo) com frequumlecircnciatem dificuldade para brincar ou se envolver silenciosamente em atividades de lazerestaacute frequumlentemente a mil ou muitas vezes age como se estivesse a todo vapor frequumlentemente fala em demasia

Os sintomas da impulsividade satildeo frequumlentemente daacute respostas precipitadas antesde as perguntas terem sido completadas com frequumlecircncia tem dificuldade paraaguardar sua vez frequumlentemente interrompe ou se mete em assuntos de outros

(por ex intromete-se em conversas ou brincadeiras)

Eacute importante sinalizar que satildeo inuacutemeras as lacunas que podem ser apontadas no procedimentodiagnoacutestico sendo que a principal delas eacute a ausecircncia de qualquer teste laboratorial ou examemais especiacutefico que comprove sua existecircncia A cliacutenica principal procedimento indicado pelomanual baseia-se nos relatos dos pais que por sua vez estatildeo fundamentados na queixa formuladapela escola Raramente o comportamento descrito eacute observado ou analisado na escola peloprofissional meacutedico ou psicoacutelogo antes que o diagnoacutestico seja concluiacutedo

Para maiores detalhessobre este assuntoconsultar o textoHiperatividade e sofrimentoesco l a r a d i f e r en ccedilanegada no cotidiano escolarde Patriacutecia Alvarenga eAcircngela Fernandespublicado na iacutentegra nosAnais da ConferecircnciaInternacional EducaccedilatildeoGlobalizaccedilatildeo e Cidadania(UFPB em 2008)Consultar o sitewwwsocieduca-interorg

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I250

3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I252

AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I258

Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 36: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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Vaacuterios medicamentos tecircm sido usados no tratamento do TDAHcontudo percebe-se uma predominacircncia em torno dos

psicoestimulantes em especial da ltRitalinagt

Segundo mateacuteria apresentada pela Revista Nova Escola (2007)esse tipo de medicamento tem um efeito no ceacuterebro muito parecidocom o causado pela cocaiacutena pois aumenta em demasia a atividade

cerebral produzindo um estado de alerta e intensa concentraccedilatildeo

De acordo com Susan Andrews (2007) o uso crocircnico dessespsicoestimulantes causa os mesmos sintomas de abstinecircncia dacocaiacutena como depressatildeo distuacuterbios do sono ansiedade fadigaraiva agitaccedilatildeo psicomotora confusatildeo mental e acircnsia por drogasApoacutes o aumento da atividade cerebral a produccedilatildeo dosneurotransmissores cai e a sensaccedilatildeo de bem-estar vai embora Apartir dessa afirmaccedilatildeo conclui-se que os efeitos podem ser severoscomo a dependecircncia

Como toda droga a Ritalina tambeacutem tem seus efeitos colaterais e entre muitos delespodemos descrever como principais a reduccedilatildeo de apetite insocircnia cefaleacuteia dores abdominaispele opaca e prostraccedilatildeo (BENCINI 2007) Irritabilidade e melancolia tambeacutem satildeo efeitos aleacutem dasupressatildeo do crescimento (ANDREWS 2007)

Com base em todos os efeitos e consequumlecircncias do TDAH haacute muitos questionamentos emtorno dos criteacuterios diagnoacutesticos e do uso indiscriminado de medicamentos O meacutedico Dr Bencini(2007) questiona o encaminhamento aos consultoacuterios meacutedicos cada vez mais frequumlentes decrianccedilas com dificuldades de aprendizagem expondo que as consequumlecircncias satildeo muitas a exemplodo uso abusivo de remeacutedios devido agrave concepccedilatildeo de que a crianccedila que natildeo aprende eacute doente

Segundo a psicoacuteloga Susan Andrews (apud SEGATTO PADILLA amp FRUTUOSO 2006) asdrogas psicoestimulantes vistas como o tratamento mais adequado a males como os das desordensneurobioloacutegicas dentre elas o TDAH acabam por deixar a causa essencial natildeo tratada e criam

mais problemas posteriormente

Para o meacutedico norte-americano Bob Jacobs

Fica claro porque a TDAH se tomou uma epidemia Quando umacrianccedila eacute medicada todos ficam felizes A companhia farmacecircuticatem mais uma venda alguns meacutedicos mais um paciente os paissatildeo isentados e a escola se livra de um problema comportamentalTodos estatildeo felizes exceto a crianccedila E a crianccedila natildeo tem vozNatildeo tem voz para se queixar dos efeitos colaterais que podemsurgir da droga da obediecircncia (apud ANDREWS 2006 p 4)

De acordo com pesquisareal izada pela RevistaVeja em 2004 em tornode um milhatildeo de caixasde Ritalina medicaccedilatildeousada para atenuar ossintomas do TDAH foramvendidas Segundo aRevista Nova Escola(2007) que expotildee umamateacuteria intituladaCo m p r i m i d o s e me x ce sso a venda daRitalina tem aumentado acada dia Em 2000 emtorno de 71 mil caixas dadroga foram vendidas em2004 731 mil e em 2005779 mil caixas Aperspectiva eacute de que nosanos subsequumlentes aquantidade das vendasaumente

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I246

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

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Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 37: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

Diante de tais riscos torna-se fundamental o debate sobre ocotidiano na escola e as formas de se lidar com comportamentos quediferem da norma e que muitas vezes podem estar indicando anecessidade de mudanccedilas que permitiriam retirar das mochilas escolareso remeacutedio que impede a livre criaccedilatildeo e expansatildeo da vida

A vocecirc aprendente do Curso de Pedagogia fica o alerta Diantede comportamentos difiacuteceis de ser trabalhados em sala de aula recuseo faacutecil caminho de culpabilizaccedilatildeo da crianccedila de sua famiacutelia e de seusmodos de vida

Na proacutexima unidade iremos trabalhar mais especificamenteaspectos da atuaccedilatildeo da psicologia na educaccedilatildeo em uma versatildeo criacuteticaressaltando a importacircncia de implementar praacuteticas pautadas no respeitoagrave diferenccedila e que produzam a autonomia e auxiliem professores e crianccedilas

a verem circunscrito o campo de accedilatildeo de cada um desses atores sociais

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 4 Aula 5 Aula 6

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I248

Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I250

3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I256

Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I258

Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 38: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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UNIDADE III

OUTRAS ARTICULACcedilOtildeES PARA UMA NOVA MONTAGEM DA

PSICOLOGIA EDUCACIONAL

Filosofia da Educaccedilatildeo

AULA 7 PSI COLOGI A E PRODUCcedilAtildeO DA AUTONOMI A

Caro aprendente com base nas criacuteticas e ponderaccedilotildees veiculadas nas duas unidadesanteriores iremos montar esta etapa de nosso percurso Nossa perspectiva eacute de apontar para aconstruccedilatildeo de uma accedilatildeo da psicologia educacional que tenha como base a reflexatildeo histoacuterico-social dos caminhos e articulaccedilotildees jaacute realizados entre a psicologia a pedagogia e a medicina

Na Unidade II mostramos como a diferenccedila entre os sujeitos seus modos de viver pensare sentir satildeo negados na escola atraveacutes de diversas praacuteticas A singularidade eacute impedida e ficavalendo a coacutepia a repeticcedilatildeo O que se espera da escola eacute uma subjetividade em seacuterie como osprodutos que saem de uma faacutebrica A accedilatildeo da psicologia que se exerce nesse projeto de sociedadeexcludente estaacute baseada nos fundamentos da avaliaccedilatildeo da psicometria e da modelagem dossujeitos culpabilizados quando o sucesso natildeo eacute conseguido

Outra psicologia criacutetica exercida com o compromisso detransformar a sociedade deve priorizar a expressatildeo da diferenccedila eda diversidade Na montagem dessa proposta o tema central eacute o

exerciacutecio da ltautonomiagt

Nesta aula trataremos desse tema articulando-o com outroselementos para valorizar aspectos da praacutetica da psicologia na escolaPara facilitar sua compreensatildeo dividiremos a exposiccedilatildeo em trecircs itensabordados a seguir

1 Autonom ia e form accedilatildeo

Vimos anteriormente que a escola se constitui mediantepraacuteticas que colocam seus principais atores sociais (professores ealunos) em situaccedilatildeo de dependecircncia com relaccedilatildeo a outrem Natildeo raras vezes a praacutetica deprofissionais supervisores aprisiona e impede o professor de planejar e avaliar os resultados desua atuaccedilatildeo Assumir-se como gerenciador de seu proacuteprio trabalho requer do docente autoria eresponsabilidade porquanto a formaccedilatildeo do professor deve conter a reflexatildeo sobre o sujeito quese deseja formar um processo pelo qual ele eacute levado a romper com a praacutetica desenvolvida demaneira burocraacutetica impessoal e destituiacuteda de prazer Aqui chamo agrave atenccedilatildeo para a necessidadede que o professor se empenhe na reflexatildeo sobre si mesmo buscando estabelecer um novodiaacutelogo com o discurso do outro

Para acompanhar essaexposiccedilatildeo indicamos aleitura do texto de IraMaria Maciel A questatildeod a f o r m a ccedilatilde o t ecendoca m i n h o s p a r a aconstruccedilatildeo da autonomiaapresentado na Parte Ido l ivro Psi co l o g i a eEd u caccedilatildeo novoscaminhos para aformaccedilatildeo

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I248

Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I256

Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I258

Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I248

Com o estudo desse tema estamos nos comprometendo com a construccedilatildeo de um sujeitoque ainda natildeo existe com inserccedilatildeo histoacuterico-social Como nos diz Ira Maciel quando se assumea perspectiva de estar contribuindo para o surgimento de um novo ser se estaacute implicado com odesenho e a construccedilatildeo de um projeto para o ser humano e com a configuraccedilatildeo da qualidadepara o mundo social (MACIEL 2001 p 16)

Isso implica um projeto de existecircncia para si e para o outro Ainda segundo Maciel (2001)a construccedilatildeo de um ambiente favoraacutevel ao desenvolvimento da autonomia requer do professor acompreensatildeo de sua histoacuteria pessoal e social e tambeacutem o cuidado de produzir no aluno essamesma curiosidade epistemoloacutegica sobre si O resgate que o professor deve fazer de suas formasde estar no mundo por meio da reflexatildeo criacutetica eacute a etapa inicial sobre a qual se alicerccedila e se

edifica a accedilatildeo autocircnoma

Um processo de formaccedilatildeo de professores comprometido com a transformaccedilatildeo dos homensem seres autocircnomos - ou autogeridos - depende desse exerciacutecio de anaacutelise Deve mobilizar emcada professor a sistematizaccedilatildeo dos processos histoacuterico-sociais que o constituiacuteram enquantoprofissional fazendo a anaacutelise dos caminhos que o levaram a assumir certas opccedilotildees teoacuterico-metodoloacutegicas Esse procedimento deve ser considerado desde o iniacutecio como postura engajadana transformaccedilatildeo envolvendo e sensibilizando cada agente para uma nova praacutetica socializadora

A accedilatildeo criacutetica dirigida agraves teacutecnicas de planejamento e de avaliaccedilatildeo idealizadas sem aparticipaccedilatildeo ativa do professor eacute uma etapa importante no processo formador A valorizaccedilatildeo decada passo eacute um caminho para a constituiccedilatildeo do sujeito autocircnomo e deve conduzir o professor eo aluno ao lugar de autoria da atividade educativa A reflexatildeo sobre o acerto e o erro faz osujeito seguir em frente analisando os passos percorridos e deve ser considerada como elementofundamental na construccedilatildeo da autonomia Sua valorizaccedilatildeo natildeo eacute uma opccedilatildeo teacutecnica e simpoliacutetica porque marca a relaccedilatildeo entre professor aluno e produccedilatildeo do conhecimento

A psicologia volta-se assim para a construccedilatildeo desse sujeito A accedilatildeo deve desenvolvernos professores e alunos a perspectiva de reconhecimento e superaccedilatildeo de limites a partir de sua

proacutepria potencializaccedilatildeo ou fortalecimento deve desenvolver no professoreducador a capacidade

de se ver e de ver o outro o aluno principalmente como totalidade aberta como sujeito do

Essas satildeo imagens da Escola da Ponte em Portugal que muito nos tem ensinado sobre novas formas degerir a escola A experiecircncia foi contada por Rubem Alves no livro A escola que sem pre sonhei semim aginar que pudesse ex ist ir Ed Papirus Campinas 2005

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I250

3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I252

AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I254

DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I256

Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I258

Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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conhecimento e deve instigar a descoberta mediante anaacutelise coletiva dos caminhos possiacuteveis edos impedimentos institucionais como veremos na sequumlecircncia da exposiccedilatildeo

2 Autonom ia e praacutet ica de invest igaccedilatildeo

No desenvolvimento da autonomia os outros sujeitos o coletivo a sociedade satildeocompreendidos como agentes de um processo de autoconstruccedilatildeo No entanto esse movimentonatildeo se confunde com o autoconhecimento processo de recolhimento em si e para si

Quando falamos de uma accedilatildeo autocircnoma referimo-nos a uma accedilatildeo no mundo com outrossujeitos Eacute o processo de transformaccedilatildeo de superaccedilatildeo de limites de construccedilatildeo de novoscaminhos que permitiraacute esse conhecimento Apontamos a necessidade de ultrapassar a dicotomiaindiviacuteduomeio Os sujeitos devem ser vistos como uma produccedilatildeo social e poliacutetica o que significapensaacute-los como produtores de sua accedilatildeo no mundo e da accedilatildeo de outros homens A autonomia agravequal nos referimos desde o iniacutecio natildeo pode ser pensada fora dessa perspectiva

A valorizaccedilatildeo do cotidiano e de nossa accedilatildeo nos coloca diante da possibilidade de pensar aeducaccedilatildeo como um espaccedilo de produccedilatildeo de cidadatildeos E para que eles se sintam como sujeitosque intervecircm no mundo eacute necessaacuterio que a autonomia seja exercida imponha mudanccedilas epromova reflexotildees e intervenccedilotildees

O sujeito autocircnomo eacute investigativo e assume oproduto de sua investigaccedilatildeo como conhecimentoproduzido capaz de favorecer a elaboraccedilatildeo de novosprocessos e estrateacutegias O professor uma vezcomprometido com a produccedilatildeo da autonomia deverefletir sobre sua relaccedilatildeo com os coletivos aos quaispertence Na escola a equipe de professores adireccedilatildeo e sua sala de aula satildeo a referecircncia maisproacutexima Conhecer como funcionam como seconstituem o que falam de si como exercem podereacute apoderar-se desse coletivo pertencendo a ele Eacutetransformaacute-lo construindo novas realidades Comonos diz Marisa Vorraber Costa

Pesquisar eacute uma atividade que corresponde a um desejo de produzir saberconhecimentos e quem sabe conhece governa Conhecer natildeo eacute descobriralgo que existe de uma determinada forma em um determinado lugar do realConhecer eacute descrever nomear relatar desde uma posiccedilatildeo que eacute temporalespacial e hieraacuterquica O que chamamos de realidade eacute o resultado desseprocesso A realidade ou as realidades satildeo assim construiacutedas produzidasna e pela linguagem (COSTA 1999 p 248)

A sala de aula constituiacuteda como campo de produccedilatildeoda autonomia deve privilegiar as narrativas de vida asperguntas e as lacunas de conhecimento como elementospara a construccedilatildeo de novas estrateacutegias e procedimentosFazer falar para se produzirem os discursos contra-hegemocircnicos legitimando novas formas de ser agir e pensar

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I250

3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 41: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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3 Autonom ia e indisciplina

Este uacuteltimo tema nos ajudaraacute a compreender como o controledo agir do sentir e do pensar usualmente acionados na escola pelaadoccedilatildeo de praacuteticas repressivas e punitivas conspirando contra aexpressatildeo livre e autocircnoma repercute no cotidiano escolar

Os distuacuterbios de comportamento tecircm assumido na escolaenorme importacircncia e os problemas de aprendizagem passam a servistos como sua consequumlecircncia A indisciplina e a violecircncia tecircm sidoos principais motivos das queixas escolares que recaem sobre ossujeitos individualmente Marisa Rocha analisa a indisciplina desseponto de vista e indica

A indisciplina situada longe das praacuteticas coletivas deixa de ser entendida comoefeito dos conflitos do processo ficando aprisionada na existecircncia individualDistante da esfera puacuteblica a indisciplina se circunscreve no domiacutenio do iacutentimosendo psicologizada (ROCHA 2001 p 219)

Observando esses comportamentos de outro acircngulo podemos indagar O que esses sujeitosinquietos estatildeo querendo dizer sobre a escola Ou ainda o que a disciplina escolar estaacuteemudecendo Partimos da ideacuteia de que estamos diante de uma impossibilidade de fazer a falacircular A accedilatildeo do aluno pode significar uma busca de sentido para o processo de escolarizaccedilatildeoou uma completa recusa diante dos novos modos de existecircncia impostos pelas praacuteticas escolaresinvestidas da necessidade de controle social

A diferenccedila entre os alunos condiccedilatildeo de existecircncia soacutecio-histoacuterica natildeo eacute vista como tal esim como obstaacuteculo para o trabalho do professor Ao se confrontar com esse obstaacuteculo eletende a atualizar a loacutegica institucional que faz dele mero agente de reproduccedilatildeo A indisciplina doaluno pode estar demonstrando o tipo de processo formador e de trabalho ao qual o professorestaacute submetido

Utilizaremos como base otexto de Marisa Lopes daRocha Educaccedilatildeo e sauacutedecolet iv izaccedilatildeo das accedilotildees eg est atildeo p a r t i c i p a t i v a publicado no l ivroPsicologia e Educaccedilatildeonovos caminhos para aformaccedilatildeo existente nabiblioteca de seu PMAP

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Examine a diferenccedila entreessas duas imagens eresponda Com o passard e u m a b r i g a en t r ecr ianccedilas em um a escola agraveuma brincadeira

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I254

DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 42: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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A formaccedilatildeo baseada na produccedilatildeo da autonomia tanto do professor quanto do aluno como

vem sendo demonstrado nesta aula deve afetar todos os segmentos colocando em anaacutelise o

exerciacutecio do poder e a loacutegica de accedilatildeo sobre o conhecimento vigente em cada espaccedilo escolar

Concordo com Marisa Lopes da Rocha ao afirmar

Assim a problematizaccedilatildeo coletiva das questotildees que aprofundam o porque o para quecirc o como das situaccedilotildees para aleacutem da individualizaccedilatildeo epsicologizaccedilatildeo dos acontecimentos reenvia-as agrave sua complexidade queenvolve as relaccedilotildees com a escola com os modos de organizaccedilatildeo do processopoliacutetico-pedagoacutegico com as formas de expressatildeo de cada segmento podendolevar agrave construccedilatildeo de praacuteticas mais satisfatoacuterias e agrave melhor qualidade de vidana escola (ROCHA 2001 p 225)

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I258

Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 43: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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AULA 8 ESCOLA COMO I NSTI TUI CcedilAtildeO UM CAMPO DE RELACcedilOtildeES EMMOVIMENTO

Nesta aula farei algumas consideraccedilotildees sobre a accedilatildeo da psicologia e das possibilidades demudanccedila no espaccedilo escolar de modo a auxiliar na compreensatildeo das forccedilas que se encontrampresentes no cotidiano Refiro-me agraves formas diferentes de ser pensar e estar no mundo quelutam para ser hegemocircnicas dominando os demais discursos e praacuteticas

Nesse movimento satildeo naturalizados os lugares de poder que apresentam como legiacutetimosos procedimentos utilizados no cotidiano

Aqui apresento algumas ferramentas teoacutericas que ajudaratildeo a delimitar as possibilidadesde nossa accedilatildeo e a compreender os entraves ou obstaacuteculos institucionais que aparecem quandoanunciamos o caminho da mudanccedila ou da transformaccedilatildeo

O principal teoacuterico que nos inspiraraacute eacute lt Reneacute Louraugt socioacutelogo francecircs que aponta que as organizaccedilotildees se constituemcomo um campo de luta entre forccedilas instituiacutedas e instituintes Esseimportante formulador da Anaacutelise Institucional trabalha com a noccedilatildeode instituiccedilatildeo como um conjunto de praacuteticas sociais que se apresentamem cada organizaccedilatildeo escolar de forma particular

As praacuteticas normalizadoras lutam para se manter na escola eos procedimentos mais presentes satildeo os planejamentos e os processosavaliativos Essas forccedilas instituiacutedas se apresentam nas regras nagrade curricular nos horaacuterios das tarefas na definiccedilatildeo dos locais nadelimitaccedilatildeo das atividades e em um sem-nuacutemero de impedimentosque a burocracia cria para que as mensagens natildeo circulem e aspessoas natildeo inventem novas possibilidades que transgridam o caminhojaacute traccedilado Essa forccedila estaacute em constante movimento No entanto eacutedura em seus princiacutepios no sentido de se manter intocaacutevel As forccedilasinstituiacutedas se fazem presentes a partir dos lugares legitimados depoder O diretor frente aos professores e aos funcionaacuterios o professordiante de alunos e de seus familiares Para se fazer forte ela temque convencer seu oponente de sua fraqueza e fragilidade

No filme Sociedade dosPoetas Mortos os alunosreal izam encontrosfurtivos em uma cavernaproacutexima agrave escola ondecantam e recitam poesias

Leituras indicadas

ALTOEacute Sonia (Org) ReneacuteLo u r a u Analista emtempo integral SatildeoPaulo Ed Hucitec 2004

ARDOINO JaquesLOURAU Reneacute A sp e d a g o g i a sInstitucionais Ed Rima2003

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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As forccedilas instituintes que se apresentam atraveacutes do questionamento dos lugares e praacuteticas

instituiacutedas tambeacutem se fazem presentes nesse jogo (

Como jaacute nos referimos nas duas aulas anteriores sua accedilatildeo depende de sua potecircncia e daforma como consegue interferir nas regras instituiacutedas Essas forccedilas adquirem caracteriacutesticasespeciacuteficas de acordo com a histoacuteria da organizaccedilatildeo e com os processos por meio dos quaisprovocam a institucionalizaccedilatildeo da praacutexis pedagoacutegica Cada organizaccedilatildeo constroacutei sua histoacuteriaque apesar de manter semelhanccedilas com outras organizaccedilotildees pertencentes ao mesmo sistemaatualizam essas forccedilas de maneira singular

Como na brincadeira cabo de guerra elas (instituiacutedo e instituinte) lutam constantementemas no cotidiano escolar nem sempre se tornam visiacuteveis A invisibilidade eacute a principal arma doinstituiacutedo Para melhor compreensatildeo desse jogo lembremo-nos do discurso que a ciecircncia apresentapara explicar o fracasso da populaccedilatildeo empobrecida na escola Culpabiliza-se a crianccedila ocultandoa loacutegica excludente da sociedade capitalista Ocultam-se tambeacutem os possiacuteveis efeitos dadependecircncia com relaccedilatildeo ao professor que domina a organizaccedilatildeo da rotina da alienaccedilatildeo promovidapelos conteuacutedos escolares das praacuteticas competitivas da inexistecircncia de espaccedilos de inventividadeda lentidatildeo presente na escola puacuteblica A organizaccedilatildeo de uma escola pobre para os pobres e deuma escola rica para os ricos parece natural Acaba-se acreditando que a populaccedilatildeo pobre natildeosabe o que fazer com a informaccedilatildeo escolarizada O discurso preconceituoso eacute pois uma dasformas de ocultamento

Para desmontar esse discurso eacute necessaacuterio que se transforme a relaccedilatildeo da escola com apopulaccedilatildeo empobrecida E para que a escola assuma outro significado social eacute fundamental quefiquem visiacuteveis seus processos de funcionamento Transformando-se a escola seraacute possiacutevel verde que material ela eacute constituiacuteda As forccedilas instituintes assumem um papel importante quandoprovocam o olhar sobre os mecanismos de funcionamento da escola e sobre seus efeitos quandoinvestigam a escola por dentro

Essa tarefa parte da certeza de que todas as praacuteticas (escolares) satildeo praacuteticas sociais eportanto trata-se de invenccedilatildeo dos homens Aiacute ficam algumas perguntas Por que natildeo organizarpraacuteticas que desmontem o discurso hegemocircnico Por que natildeo interferir na loacutegica de produccedilatildeo deconhecimento e universalizar o saber que eacute produzido por toda a humanidade Por que natildeodesempenhar dentro da escola funccedilotildees libertadoras que faccedilam o professor sair do lugar desubserviente para um discurso preconceituoso constituindo-se como sujeito da praacutetica docentePor que natildeo desprezar os esquemas classificatoacuterios e hieraacuterquicos do conhecimento e ensaiarnovas formas de pensamento Por que natildeo romper com a faacutecil classificaccedilatildeo dos alunos a partirdo erro confrontando-se com a cultura da repetecircncia Esses satildeo alguns questionamentos queindicam um caminho instituinte Portanto trilhar esse caminho exige que se afaste o obstaacuteculo ese venccedila o medo do novo

E jaacute que o discurso hegemocircnico eacute produzido socialmente atraveacutes das praacuteticas cotidianasnas quais muitos de noacutes somos os principais atores por que natildeo incrementar outras praacuteticasCom o mesmo laacutepis de cor e papel eacute possiacutevel fazer duas atividades que produziratildeo sujeitosdiferentes Podemos organizar uma atividade em que a crianccedila deva colorir o coelhinho da Paacutescoadesenhado pela professora bem bonitinho com longas orelhas e um belo laccedilo no pescoccedilo De

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modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I256

Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

257

No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I258

Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 45: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I254

DESAFIO

modo diverso podemos sugerir agrave crianccedila que faccedila um desenho em que possa demonstrar o que eacute

a Paacutescoa para ela

Os resultados da primeira atividade podem deixar a professora muito feliz pela beleza dostrabalhos que exporaacute no mural de sua sala Jaacute os resultados da segunda poderatildeo retratar aesteacutetica de cada crianccedila e trazer conteuacutedos particulares Dependendo da idade podem sergaratujas desarrumadas ou coelhos caminhando ou brincando ou ainda podem retratar umsentimento de tristeza por natildeo ter a perspectiva de ganhar um lindo ovo de Paacutescoa que ocoelhinho poderia trazer O segundo mural da professora refletiraacute as particularidades de sua salade aula Falaraacute da vida de cada aluno e teraacute a boniteza da expressatildeo dos alunos e de umprofessor aberto a essa produccedilatildeo A segunda atividade tem a potecircncia de criar em cada ator umanova possibilidade diante da educaccedilatildeo Pode significar uma perspectiva instituinte e se tornarterreno feacutertil para ver respondidas as questotildees formuladas anteriormente

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 46: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

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AULA 9 PSICOLOGIA E EDUCACcedilAtildeO NOVAS ARTI CULACcedilOtildeES E ALGUMASPROPOSTAS

Nossas reflexotildees sobre a constituiccedilatildeo histoacuterica da psicologia educacional empreendidasateacute agora trouxeram agrave luz a alianccedila com a medicina e a pedagogia evidenciando a existecircncia deum compromisso com o discurso cientificista O estudo da construccedilatildeo histoacuterica da escola e dapsicologia educacional valorizada na Unidade I foi o elemento de sustentaccedilatildeo das anaacutelises eargumentaccedilotildees posteriores realizadas na Unidade II as quais trouxeram uma formulaccedilatildeo criacuteticasobre as explicaccedilotildees para o fracasso das populaccedilotildees empobrecidas na escola e sobre a articulaccedilatildeodessas explicaccedilotildees com um discurso preconceituoso e com uma praacutetica excludente caracteriacutesticaprincipal do sistema educacional brasileiro

Apontando para a construccedilatildeo de uma nova psicologia algumas propostas

Nesta etapa de nosso percurso aponto um conjunto de propostas que hoje vecircm norteandoa accedilatildeoinvestigaccedilatildeo de vaacuterios pesquisadores e psicoacutelogos educacionais Essas propostas estatildeoinspiradas na expectativa de contribuir para que a escola cumpra sua funccedilatildeo de socializaccedilatildeo dosaber e de formaccedilatildeo criacutetica Vejamo-las

1 Atuaccedilatildeo em projetos de form accedilatildeo de professores

Como vimos na aula anterior a formaccedilatildeo dos professores tem sido organizada nas escolascom uma caracteriacutestica tecnicista e burocratizada Mesmo que trazendo questotildees maiscontemporacircneas natildeo consegue intervir na loacutegica de reproduccedilatildeo do modelo escolar vigente emuma sociedade dualizada como a nossa

A organizaccedilatildeo de um projeto de formaccedilatildeo comprometido socialmente com a transformaccedilatildeodas relaccedilotildees do professor com seu trabalho deve ser norteada pela experiecircncia de constituiccedilatildeode si como sujeito autocircnomo Para que essa experiecircncia aponte para a construccedilatildeo da autonomiaeacute necessaacuteria a accedilatildeo de todos os atores sociais em um movimento de mudanccedila Nessa perspectivaos enunciados abaixo se constituem como elementos essenciais dessa montagem Portanto umprocesso de formaccedilatildeo organizado no sentido de promover outra vivecircncia profissional deveinicialmente

Partir da anaacutelise de implicaccedilotildees com a tarefa docente reconstruindo a histoacuteria sociale poliacutetica de inserccedilatildeo de cada professor nesse campo de atuaccedilatildeo

Tomar como base o trabalho concreto aquele desenvolvido cotidianamente peloprofessor com suas interrogaccedilotildees e incertezas

Sensibilizar o professor para o diaacutelogo com o outro articulando essa reflexatildeo sobre sicom a anaacutelise sobre as relaccedilotildees que vecircm sendo viabilizadas pela accedilatildeo de seu trabalho

Auxiliar cada professor a identificar suas possibilidades incentivando a superaccedilatildeo

permanente de obstaacuteculos

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Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I258

Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I256

Possibilitar valendo-se da reflexatildeo coletiva a apreensatildeo das marcas que o trabalhodocente produz em cada um e no conjunto de profissionais

Assim realizado esse processo deve constituir o grupo ao qual o professor se refere e devetornar a equipe potente para se lanccedilar nas tarefas de aprimoramento profissional enquantoinstrumento da construccedilatildeo da autonomia como tarefa cotidiana A elaboraccedilatildeo de projetos poliacutetico-pedagoacutegicos e a revisatildeo do significado dos temas transversais por exemplo decorrem dasproduccedilotildees de uma equipe que pretende ser autora dos procedimentos educacionais rompendocom o lugar antes designado de executora de planejamentos A contribuiccedilatildeo da psicologia seraacutea de promover situaccedilotildees que permitam ao professor essa investigaccedilatildeo de si O grupo eacute umaestrateacutegia indispensaacutevel porque potencializa a investigaccedilatildeo da diversidade marca principal daexistecircncia humana abrindo para cada sujeito envolvido um novo caminho

2 Prom occedilatildeo de accedilotildees de invest igaccedilatildeo e intervenccedilatildeo inst itucional

Um processo de formaccedilatildeo de professores orientado de acordo com as diretrizes enunciadasacima tem como principal argumento a produccedilatildeo do conhecimento Estamos apontando aqui anecessidade de incrementar praacuteticas em que os professores sejam concebidos como investigadoresde si capazes de investigar as tramas institucionais e propor intervenccedilotildees que promovam novosconhecimentos Estamos diante de uma proposiccedilatildeo que deve assumir o profissional docentecomo um sujeito do conhecimento e natildeo como um depositaacuterio passivo de saberes

Usualmente ouvimos a referecircncia agrave necessidade de reciclagem dos professores comouma clara intenccedilatildeo de reordenar o educador mantendo-se a loacutegica de subalternidade

A psicologia criacutetica como a estamos formulando desde o iniacutecio de nosso percurso deve elamesma contrapor-se aos modelos psicomeacutetricos e carregados de preconceito promovendo novosconhecimentos na gestatildeo do cotidiano escolar

A possibilidade de transformaccedilatildeo impotildee a investigaccedilatildeo dos limites institucionais que devemser reconhecidos como obstaacuteculos a ser transpostos e natildeo como impedimentos permanentescomo tecircm se constituiacutedo ateacute o momento Cabe ao professor investigativo impor mudanccedilas paraque se possa conhecer como e de que satildeo feitas nossas organizaccedilotildees educacionais

3 I nvest igaccedilatildeo sobre a vivecircncia das cr ianccedilas e suas histoacuter ias de escolar izaccedilatildeo

O professor investigativo que se volta para si e para seu processo de constituiccedilatildeo comoprofissional deve dirigir seu olhar ao aluno inserindo-o no mesmo movimento

Retomando os debates que realizamos sobre a produccedilatildeo do fracasso escolar eacute faacutecilcompreender que a entrada das crianccedilas na escola pode produzir sentimentos de estranhezadesconfianccedila medo e desconforto No iniacutecio do periacuteodo de escolarizaccedilatildeo eacute imposta uma seacuterie deregras e formas de ser pensar e agir ateacute o momento desconhecidas Vimos ainda em nossopercurso que muitos processos compreendidos pelos especialistas como dificuldade deaprendizagem satildeo na verdade atos de recusa agraves imposiccedilotildees da escola medidos como sefossem problemas individuais

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

Aula 7 Aula 8 Aula 9

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I258

Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

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No livro A casa da Madrinha tivemos contato com algumas estrateacutegias voltadas pararesgatar os modos de vida de uma turma de crianccedilas em uma escola no Rio de Janeiro

A possibilidade de valorizar aspectos da sua vivecircncia estava dada nodia-a-dia quando a professora com sua maleta fazia propostasque aos poucos iam sendo compreendidas e viabilizadas

O professor investigativo percorre a vida da crianccedila suasinterrogaccedilotildees suas certezas como se fosse material precioso Eacuteaquele que daacute substacircncia ao seu trabalho e exercita a praacutetica deolhar o outro

Nesse contexto assim constituiacutedo o psicoacutelogo continua seucaminho construindo estrateacutegias que permitam tornar visiacuteveis ashistoacuterias de escolarizaccedilatildeo das crianccedilas Suas frustraccedilotildees as marcasdeixadas pelas praacuteticas preconceituosas os efeitos do sofrimentoescolar constituiratildeo seu campo de atuaccedilatildeo A proximidade com osalunos poderaacute se dar pela via de atividades de expressatildeo artiacutesticade construccedilatildeo de formas de participaccedilatildeo institucional ou por meio daconstruccedilatildeo de projetos coletivos A principal preocupaccedilatildeo deve ser a de tornar cada crianccedila uminvestigador de sua histoacuteria para que possa se aceitar como um importante elemento de integraccedilatildeodos saberes que a humanidade acumulou passando a se interessar pelo conhecimento e pelaescola

Quando os novos sujeitos montam uma nova cena na escola

Situado como profissional que produz saber e experimentando esse lugar como sujeito oprofessor se transforma ao transformar a praacutetica da repeticcedilatildeo em exerciacutecio de autoria de novasformas de ser O diaacutelogo proposto pelo professor investigador deve ter como intenccedilatildeo produzir noaluno a mesma motivaccedilatildeo pela investigaccedilatildeo que o movimentou em direccedilatildeo agrave existecircncia do aluno

A curiosidade a capacidade criacutetica a vontade de ser mais satildeo ingredientes de uma praacuteticapedagoacutegica interessada na produccedilatildeo da autonomia Podemos afirmar caro aprendente que oconhecimento eacute produto e produtor das novas relaccedilotildees passiacuteveis de se constituiacuterem nesseprocesso

Estamos diante de uma cena escolar onde o que se produz natildeo seraacute o aluno incapacitadode aprender sendo marcado com o estigma do fracasso nem o professor submetido a umplanejamento elaborado a sua revelia e colocado fora do campo de questionamentos pelos podereshierarquicamente constituiacutedos

Nessa cena a psicologia tambeacutem se afirma com potecircncia de transformaccedilatildeo revecirc suahistoacuteria de preconceitos e estigmatizaccedilotildees em nome da ciecircncia e se compromete com ofortalecimento dos poderes instituintes produzindo saberes e novas formas de estar no mundo ede enfrentar o sofrimento humano

Finalizando nosso percurso caro aprendente gostaria de convidaacute-lo para selarmos umcompromisso

Fot o de Seba st iatilde o Sa lga do

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Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial

Page 49: Profa. Dra. Ângela Maria Dias Fernandes.s1da3be60931063ab.jimcontent.com/download/version... · unidade, o foco se coloca sobre a produção do fracasso escolar e iremos assumir,

Trilhas do Aprendente Vol 2 - Psicologia Educacional I258

Sabedores dos processos que envolvem a praacutetica pedagoacutegica e de que essa praacutetica eacute umaproduccedilatildeo histoacuterica estaremos iniciando um novo caminho

Em seu trajeto profissional muitas vezes seraacute encantado pelas explicaccedilotildees faacuteceis Desconfie

Outras vezes seraacute convidado a exercer seu poder de especialista e moldar o caminho deoutros Resista

Poderaacute ainda ser chamado a trabalhar em conjunto a investigar a si e ao outro e a criarnovos caminhos em que a liberdade de expressatildeo e de criaccedilatildeo seja respeitada Natildeo hesiteExperimente

Cada um a seu jeito pode ser um importante agente social de uma causa que a pedagogiae a psicologia vecircm tomando para si Trata-se de escrever uma nova histoacuteria estabelecer novasarticulaccedilotildees entre saberes fortalecer espaccedilos de resistecircncia exercendo o poder de estabelecerem si e no outro uma curiosidade pelo humano e suas incansaacuteveis produccedilotildees

1) Apoacutes o estudo do texto faccedila um breve resumo que lhe auxiliaraacute a responder ao desafio queseraacute postado no Moodle no periacuteodo de realizaccedilatildeo desta aula

DESAFIO

UNIDADE IIUNIDADE I UNIDADE III

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AtenccedilatildeoDurante a realizaccedilatildeo dos desafios propostos vocecircaprendente deveraacute interagir com o(a)smediadores(as) pedagoacutegicos a distacircncia dePsicologia Educacional I por meio do AVA - Moodle- para dirimir duacutevidas e receber orientaccedilotildees Setiver dificuldades para acessar o AVAltwwweadufpbbrgt consulte o(a) mediador(a)pedagoacutegico(a) presencial no Poacutelo Municipal de ApoioPresencial