principal responsável pela crise, so- bram em outras áreas...

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ta e nove mil e seiscentos e quarenta e oito reais), quase o mesmo valor gas- to na compra de utensílios domésticos para equipar a sua nova sede. Pior pa- ra a aviação regional, que não viu um centavo sequer ser aplicado na suple- mentação tarifária do setor, de um to- tal de R$ 671.529,00 (Seiscentos e se- tenta e um mil e quinhentos e vinte e nove reais) previstos em 2006. Para administrar a atual situação caótica da aviação brasileira, a ANAC conta com um quadro fun- cional de 1.755 cargos efetivos. A dotação orçamentária para salários é de R$ 1.290.245,08 (Hum milhão, duzentos e noventa mil e duzentos e quarenta e cinco reais e oito centa- vos). Mas a incorporação de benefí- cios como abonos, gratificações por exercício de cargos e funções, por tempo de serviço — a ANAC com- pletou um ano em março último — e pessoal requisitado de outros ór- gãos, elevaram os seus gastos para mais de R$ 8.000.000,00 (Oito mi- lhões de reais). Apesar dos vultosos gas- tos com viagens e diárias, funcionários da ANAC também recebiam cerca de 1.400 passagens gratuitas por mês. O acordo de passes livres entre as empre- sas aéreas e o órgão regulador existia há mais de cinco anos. Porém, na épo- ca do DAC (Departamento de Aviação Civil), órgão antecessor da ANAC, o número de passagens solicitadas não ultrapassava 600 por mês. A crescente necessidade de passagens por parte do corpo funcional da ANAC é agravada pelo fato de o órgão, na prática, não ter sido totalmente transferido para Brasí- lia (DF) como previsto no seu projeto de criação. Os diretores da agência são assíduos freqüentadores dos aviões com destino ao Rio de Janeiro onde despa- cham duas a três vezes por semana na sede do antigo DAC, na Rua Santa Lu- zia, 651, no centro do Rio, com direi- to a carro, motorista e secretárias. A ANAC ocupa salas do 2º ao 11º andar do edifício Santos Dumont. Investimentos minguados A emissão de passagens gratuitas por parte das companhias aéreas para a autoridade encarregada de fiscalizá- las é questionada por vários parlamen- tares. Para eles, a atitude da agência compromete sua independência. “Que legitimidade tem uma agência regula- dora que recebe benesses das entida- des que precisa regular?”, questionam esses parlamentares. O senador César Borges (PFL-BA) é um dos que não vêem com bons olhos a aplicação dos recursos da agência. Para ele, além da má aplicação do orçamento, o proble- ma da ANAC é igual ao das outras agências reguladoras que têm seus car- gos preenchidos por indicações parti- dárias. “A ANAC não disse ainda a que veio; tem se mostrado inoperan- te, não era isso que se esperava dela”, afirmou. Objeto do desejo dos parti- dos no rateio de cargos do governo, as diretorias das agências reguladoras têm sido constituídas por pessoas que não são oriundas do setor. Na opinião do deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) isso levou a ANAC ao momento de- licado ao qual se encontra. Gabeira atribuiu ao empreguismo e ao apare- lhamento petista a inoperância da ANAC. “A idéia de se ter uma agên- cia reguladora é boa, mas é preciso ter projetos, orçamento e uso adequado desse dinheiro”, observou o deputado. Nos bastidores, a crítica velada que se faz é que boa parte do pessoal técnico especializado está sendo substituído por funcionários com indicação polí- tica, que pouco entendem de aviação, especialmente nos altos escalões da agência. Os recursos que fazem falta à proteção ao vôo, cujo contingencia- mento de verbas é apontado como o principal responsável pela crise, so- bram em outras áreas administradas pela agência reguladora. Ao se insta- lar em Brasília, a ANAC adquiriu no ano passado um mobiliário no valor de R$ 1,9 milhão (Hum milhão e nove- centos mil reais) para ornar a sua se- de na Capital Federal. Segundo levantamento do site “Con- tas Abertas”, com base no SIAFI (Sis- tema Integrado de Administração Fi- nanceira do Governo Federal), a ANAC comprou entre os meses de ju- lho e dezembro do ano passado 50 es- tações de trabalho, 258 mesas, 503 poltronas, 58 armários, 37 arquivos, 17 longarinas e 15 sofanetes. Entre as aquisições constam, por exemplo, seis poltronas giratórias no valor unitário de R$ 4.430,00 (Quatro mil, quatro- centos e trinta reais) e 155 mesas de 1,5 x 1,50 metro no valor de R$ 3.930,00 (Três mil, novecentos e trinta reais) ca- da. Ainda de acordo com o “Contas Abertas”, o orçamento da ANAC dis- ponibilizou R$ 60.829,88 (Sessenta mil, oitocentos e vinte e nove reais e oi- tenta e oito centavos) para a compra de aparelhos e utensílios domésticos. En- tre os equipamentos adquiridos cons- tam fornos elétricos, câmera digital, cama box solteiro, torradeiras, refrige- radores, microondas (com tecla pipo- ca), televisão de 21 polegadas com fun- ção game e DVD player karaokê. O SIAFI registrou ainda que da dotação de R$ 2.285.977,00 autorizada para o apoio a aeroclubes e escolas de aviação Aero Magazine 41 Estacionamento da sede da ANAC: veículos da VASP dividem espaço com carros oficiais 155_Avi_civil_v1 27.03.07 06:49 PM Page 41

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ta e nove mil e seiscentos e quarenta eoito reais), quase o mesmo valor gas-to na compra de utensílios domésticospara equipar a sua nova sede. Pior pa-ra a aviação regional, que não viu umcentavo sequer ser aplicado na suple-mentação tarifária do setor, de um to-tal de R$ 671.529,00 (Seiscentos e se-tenta e um mil e quinhentos e vinte enove reais) previstos em 2006.

Para administrar a atual situaçãocaótica da aviação brasileira, aANAC conta com um quadro fun-cional de 1.755 cargos efetivos. Adotação orçamentária para salários éde R$ 1.290.245,08 (Hum milhão,duzentos e noventa mil e duzentos equarenta e cinco reais e oito centa-vos). Mas a incorporação de benefí-cios como abonos, gratificações porexercício de cargos e funções, portempo de serviço — a ANAC com-pletou um ano em março último —e pessoal requisitado de outros ór-gãos, elevaram os seus gastos paramais de R$ 8.000.000,00 (Oito mi-lhões de reais). Apesar dos vultosos gas-tos com viagens e diárias, funcionáriosda ANAC também recebiam cerca de1.400 passagens gratuitas por mês. Oacordo de passes livres entre as empre-sas aéreas e o órgão regulador existiahá mais de cinco anos. Porém, na épo-ca do DAC (Departamento de AviaçãoCivil), órgão antecessor da ANAC, onúmero de passagens solicitadas nãoultrapassava 600 por mês. A crescentenecessidade de passagens por parte docorpo funcional da ANAC é agravadapelo fato de o órgão, na prática, não tersido totalmente transferido para Brasí-lia (DF) como previsto no seu projetode criação. Os diretores da agência sãoassíduos freqüentadores dos aviões comdestino ao Rio de Janeiro onde despa-cham duas a três vezes por semana nasede do antigo DAC, na Rua Santa Lu-zia, 651, no centro do Rio, com direi-to a carro, motorista e secretárias. AANAC ocupa salas do 2º ao 11º andardo edifício Santos Dumont.

Investimentos minguadosA emissão de passagens gratuitas

por parte das companhias aéreas paraa autoridade encarregada de fiscalizá-las é questionada por vários parlamen-tares. Para eles, a atitude da agência

compromete sua independência. “Quelegitimidade tem uma agência regula-dora que recebe benesses das entida-des que precisa regular?”, questionamesses parlamentares. O senador CésarBorges (PFL-BA) é um dos que nãovêem com bons olhos a aplicação dosrecursos da agência. Para ele, além damá aplicação do orçamento, o proble-ma da ANAC é igual ao das outrasagências reguladoras que têm seus car-gos preenchidos por indicações parti-dárias. “A ANAC não disse ainda a

que veio; tem se mostrado inoperan-te, não era isso que se esperava dela”,afirmou. Objeto do desejo dos parti-dos no rateio de cargos do governo, asdiretorias das agências reguladoras têmsido constituídas por pessoas que nãosão oriundas do setor. Na opinião dodeputado Fernando Gabeira (PV-RJ)isso levou a ANAC ao momento de-licado ao qual se encontra. Gabeiraatribuiu ao empreguismo e ao apare-lhamento petista a inoperância daANAC. “A idéia de se ter uma agên-cia reguladora é boa, mas é preciso terprojetos, orçamento e uso adequadodesse dinheiro”, observou o deputado.Nos bastidores, a crítica velada que sefaz é que boa parte do pessoal técnicoespecializado está sendo substituídopor funcionários com indicação polí-tica, que pouco entendem de aviação,especialmente nos altos escalões daagência. Os recursos que fazem falta àproteção ao vôo, cujo contingencia-mento de verbas é apontado como o

principal responsável pela crise, so-bram em outras áreas administradaspela agência reguladora. Ao se insta-lar em Brasília, a ANAC adquiriu noano passado um mobiliário no valor deR$ 1,9 milhão (Hum milhão e nove-centos mil reais) para ornar a sua se-de na Capital Federal.

Segundo levantamento do site “Con-tas Abertas”, com base no SIAFI (Sis-tema Integrado de Administração Fi-nanceira do Governo Federal), aANAC comprou entre os meses de ju-

lho e dezembro do ano passado 50 es-tações de trabalho, 258 mesas, 503poltronas, 58 armários, 37 arquivos, 17longarinas e 15 sofanetes. Entre asaquisições constam, por exemplo, seispoltronas giratórias no valor unitáriode R$ 4.430,00 (Quatro mil, quatro-centos e trinta reais) e 155 mesas de 1,5x 1,50 metro no valor de R$ 3.930,00(Três mil, novecentos e trinta reais) ca-da. Ainda de acordo com o “ContasAbertas”, o orçamento da ANAC dis-ponibilizou R$ 60.829,88 (Sessentamil, oitocentos e vinte e nove reais e oi-tenta e oito centavos) para a compra deaparelhos e utensílios domésticos. En-tre os equipamentos adquiridos cons-tam fornos elétricos, câmera digital,cama box solteiro, torradeiras, refrige-radores, microondas (com tecla pipo-ca), televisão de 21 polegadas com fun-ção game e DVD player karaokê. OSIAFI registrou ainda que da dotaçãode R$ 2.285.977,00 autorizada para oapoio a aeroclubes e escolas de aviação

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