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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6 Cadernos PDE OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE NA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE Artigos

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Versão On-line ISBN 978-85-8015-076-6Cadernos PDE

OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE

Artigos

A CONTRIBUIÇÃO DOS INSTRUMENTOS PEDAGÓGICOS NO DESENVOLVIMENTO DAS FUNÇÕES PSICOLÓGICAS SUPERIORES E NA APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA EM DEFICIENTES INTELECTUAIS.

CASALE, Sueli Aparecida1

SILVA, Rosane Gumiero Dias da2

RESUMO

O artigo apresenta os resultados da prática pedagógica sobre o desenvolvimento das funções psicológicas superiores e na aprendizagem da matemática em deficientes intelectuais. Por meio de jogos utilizando o Material Dourado, Cartaz Lugar Valor e Ábaco, entre outros, procuramos desenvolver a aprendizagem do Sistema de Numeração Decimal com alunos do Ensino Fundamental da Escola Novos Caminhos, Educação Infantil e Ensino Fundamental – Modalidade: Educação Especial de Fênix, Paraná. O projeto desenvolvido pautou-se na teoria de Vigotsky sobre aprendizagem e desenvolvimento educacional e o conceito de mediação e das funções psicológicas superiores para auxiliar o aluno a entender a matemática. Pelos resultados obtidos consideramos que o trabalho contribuiu para a melhoria do desenvolvimento das funções psicológicas superiores (memória, atenção) e favoreceu a aprendizagem dos conceitos de matemática, levando os alunos a entenderem e utilizarem o Sistema de Numeração Decimal.

Palavras – chave: Funções psicológicas superiores; Ensino e aprendizagem de Matemática; Deficiente intelectual.

1. INTRODUÇÃO

Compete à Instituição Educacional ações pedagógicas que possam

promover o desenvolvimento físico, cognitivo, afetivo, moral e social dos alunos

com necessidades especiais, integrando-os na sociedade como membros

ativos, sendo vistos como sujeitos eficientes, capazes e produtivos e

principalmente, aptos para aprender.

A deficiência intelectual sempre se constituiu um impasse para o ensino

na escola comum e para a definição do seu atendimento especializado, pela

complexidade do seu conceito e pela grande quantidade e variedades de

abordagens do mesmo.1 Professora da Rede Pública do Estado do Paraná.2 Professora Doutora da Universidade Estadual de Maringá (UEM).

A dificuldade em se detectar com clareza os diagnósticos de deficiência

intelectual tem levado a uma série de definições e revisões do seu conceito. A

medida do coeficiente de inteligência (QI) foi utilizada durante muitos anos

como parâmetro de definição dos casos. O próprio CID 10 (Código

Internacional de Doenças, desenvolvida pela Organização Mundial de Saúde),

ao especificar o Retardo Mental (F70-79) propõe uma definição ainda baseada

no coeficiente de inteligência, classificando-o entre leve, moderado e profundo,

conforme o comprometimento. Também inclui vários outros sintomas de

manifestações dessa deficiência como a “dificuldade do aprendizado e

comprometimento do comportamento”, o que coincide com outros diagnósticos

e de áreas diferentes (BRASIL, 2006).

De acordo com tal deficiência e muitas outras existentes, e diante do

paradigma da inclusão, desenvolvemos a prática pedagógica pensando na

educação dos alunos com necessidades especiais, tendo como meta principal

satisfazer as necessidades específicas de aprendizagem do educando,

incentivando- o a desenvolver seu potencial, a partir de sua realidade

particular. Tivemos como objetivo principal do nosso trabalho aprimorar por

meio de técnicas pedagógicas o desenvolvimento das funções matemáticas e

das funções psicológicas superiores no deficiente intelectual. Isto requereu

uma maior sensibilidade e pensamento crítico a respeito de nossa prática

pedagógica. E para que realmente acontecesse um trabalho que contribuísse

para a melhoria do aprendizado do aluno com necessidades especiais,

buscamos práticas pedagógicas que atendessem a diversidade humana, pois

este momento exigia de nós conhecimentos além daqueles do curso de

formação acadêmica.

Portanto, como professores buscamos conhecimentos sobre este

assunto que é de primordial importância para a prática pedagógica, pois

precisamos nos capacitar a cada dia, diante das mudanças ocorridas, e,

principalmente, é fundamental colocarmos em prática os conhecimentos

adquiridos. Por isso apresentamos os resultados do projeto desenvolvido, o

qual, por meio de jogos com o Material Dourado(Maria Montessori, 1870-1956)

o Cartaz de Pregas (Cartaz Lugar Valor) e o Ábaco (primeira máquina de

calcular da humanidade), objetivamos desenvolver a aprendizagem do Sistema

de Numeração Decimal. Acreditamos que este trabalho contribuiu para a

aprendizagem em matemática dos alunos com necessidades educativas

especiais.

2. EVOLUÇÃO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL

Ao longo de séculos podemos perceber as grandes dificuldades que a

sociedade possui na condução das diferenças existentes entre as pessoas e no

modo como as relações se dão entre elas, principalmente quando há uma

deficiência em questão, independente da cultura dessa sociedade, de seu nível

social e econômico e sua etnia. O que muda é apenas a forma de visualização

da deficiência e o modo como será conduzida no decorrer dos tempos.

A evolução da história da educação especial passou por fases, a

primeira delas foi o extermínio, seguido da exclusão, integração e inclusão.

(Aranha, 2000).

Na fase do extermínio, como o próprio nome já diz, as pessoas com

deficiência eram exterminadas da sociedade, o direito mais precioso do ser

humano, a vida, não lhe era conferido, pois portadores de necessidades

especiais eram mortos quando nasciam ou ficavam isolados em lugares

secretos (Silva, 1986).

A iniciação religiosa cristã na Idade Média modificou a forma de

enxergar e tratar os deficientes, pois eles passaram a serem vistos como filhos

de Deus e merecedores de atenção. Com isso os deficientes eram acolhidos

nas igrejas, considerados então como doentes, pessoas sem capacidade e

inválidas (Aranha, 2001).

Nessa época o sacrifício de pessoas deficientes não era mais permitido,

no entanto eram submetidas a caridade dos outros, dependiam da boa vontade

do próximo sem o cuidado de que mereciam.

A igreja, assumindo o papel de acolhedora de pessoas com

necessidades especiais, enfrentou dentro e fora dela muitas posições

contrárias as suas ações (Aranha, 2001).

Conforme Aranha (2000) foi então que, a partir do século XII, a

humanidade passou por um período muito triste e nebuloso, onde houve

intensas perseguições, torturas e extermínio, dos comumente denominados

“hereges”, os portadores de deficiência.

Nos séculos XVI e XVII houve muitos avanços no campo da medicina,

apesar disso os deficientes continuaram sendo tratados como um problema

para a sociedade. Instalavam-se em asilos, hospitais psiquiátricos e outras

instituições, essa situação perdurou por muitos anos (Aranha, 2000).

As crianças não tinham livre acesso às escolas comuns, por esse motivo

famílias de crianças e adolescentes deficientes se uniram para a realização de

um objetivo comum, a criação de escolas especiais, onde estas crianças e

jovens pudessem ter direito a uma educação escolar, respeitando-se as

limitações de cada um. Essa fase da história da educação especial ficou

conhecida como segregação institucional (Aranha, 2000).

Esta fase começou a se desestruturar quando deu início os movimentos

a favor da inserção dessas crianças e adolescentes em ambientes mais

favoráveis a sua integração na sociedade, enviando-os às escolas comuns e

classes especiais. Este novo período ficou conhecido como integração

(Aranha, 2000).

Nesta fase, havia duas formas de atendimento aos portadores de

deficiências: as classes especiais, que funcionavam no interior das escolas

comuns destinadas a atender os alunos menos prejudicados, com a pretensão

de que estes alunos alcançassem um nível educacional compatível aos demais

alunos das escolas regulares; e as escolas especiais para o acolhimento das

crianças e jovens com deficiências mais severas.

No que se refere às classes especiais, tornaram-se verdadeiros

ambientes de discriminação na escola e sociedade, pois aluno que não se

encaixava dentro dos parâmetros curriculares estabelecidos eram

encaminhados a estas classes deixando de propiciar oportunidades de

crescimento escolar aos alunos a ela pertencente.

Com todo esse trabalho desenvolvido e tendo em vista as várias etapas

pela qual a história da educação especial percorreu, vemos ainda muitos

comportamentos discriminatórios, tanto da escola como da sociedade, no

entanto a partir do século XX e início do século XXI a educação especial sofreu

muitos avanços relevantes, estabelecendo-se o direito do alunado especial em

ser diferente e participar ativamente da sociedade de acordo com suas

potencialidades e limitações. Esta fase é chamada de inclusão.

O atendimento educacional especializado decorre de uma nova visão da

Educação Especial, sustentada legalmente e é uma das condições para o

sucesso da inclusão escolar dos alunos com deficiência. Esse atendimento

existe para que os alunos possam aprender o que é diferente do currículo do

ensino comum e que é necessário para que possam ultrapassar as barreiras

impostas pela deficiência. (BRASIL, 2006).

A escola (especial e comum) ao desenvolver o atendimento educacional

especializado deve oferecer todas as oportunidades possíveis para que nos

espaços educacionais em que ele acontece, o aluno seja incentivado a se

expressar, pesquisar, inventar hipóteses e reinventar o conhecimento sob a

mediação do professor para que possa amadurecer suas funções psicológicas

superiores.

Facchi e Tuleski (2006) ao tratarem sobre a mediação no processo de

desenvolvimento das funções psicológicas superiores enfatizam que

O uso de mediadores culturais possibilita para todas as pessoas, com ou sem deficiência, o desenvolvimento dos processos psicológicos internos e da habilidade de organizar funcionalmente o próprio comportamento. Partindo da concepção de deficiência, esta teoria possibilita verificar a importância da ação pedagógica – a mediação, o papel do professor e a organização do ensino – no contexto da educação especial. (p.7).

A mediação é o momento em que o professor intervém na zona de

desenvolvimento próximo do educando, alterando os conhecimentos

espontâneos, iniciando-se o processo de sistematização do conhecimento e

conduzindo a um maior desenvolvimento psicológico.

3. AS CONTRIBUIÇÕES DA ESCOLA DE VYGOTSKY PARA APRENDIZAGEM E DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL

Vygotski (1989,1997) realizou análises orientadas para o campo da deficiência, denominadas de Defectologia, na qual propunha a formulação de um modelo de compreensão dos processos humanos valendo-se da discussão sobre as

implicações dos aspectos sócio-culturais na constituição do sujeito com deficiência (DAINÊZ, 2009, p.29).

Conforme as proposições de Vygotsky podemos compreender que “O

caminho do desenvolvimento da criança deficiente está nas relações sociais,

na cooperação de outros seres humanos, sendo que o social é o lugar em que

podemos agir no sentido de combater a deficiência”(DAINÊZ, 2009, p. 37).

Observamos com isso que a pessoa com necessidades educativas especiais

só poderá superar suas dificuldades em sua relação com o outro.

o desenvolvimento do deficiente mental não difere do desenvolvimento das demais crianças. Apesar de o fator biológico não ser descartado, por possuir relevância para o desenvolvimento físico e cognitivo do sujeito (...) o biológico constitui a base inicial do desenvolvimento das capacidades psíquicas, tais como a atenção, a percepção, a memória, o raciocínio. E este desenvolvimento só é efetivado por meio da interação com o meio social, com outro ser humano (BONDENZAN e GOULART, 2008, p.3).

Vygotsky analisou o homem em seu contexto sociocultural, para poder

compreender sua contribuição enquanto sujeito. A perspectiva histórico-cultural

de Vygotsky tem como pressuposto que o desenvolvimento das Funções

Psicológicas Superiores é um processo extremamente pessoal e, ao mesmo

tempo, um processo profundamente social, estando intimamente ligadas ao

contexto sociocultural em que a pessoa está inserida. Vygotsky (2002)

esclarece que as Funções Psicológicas Superiores são características do ser

humano. Quando a criança nasce ela possui funções psicológicas básicas – ou

elementares (memorização e repetição).

Vygotsky (1998) enfatiza que a educação escolarizada e o professor têm

um papel singular no desenvolvimento do indivíduo. Além disso, na

apropriação do conhecimento temos três momentos, que de forma bem

sucinta podem ser assim apresentados:

a) nível de desenvolvimento potencial, ou seja , caracteriza aquilo que o sujeito é capaz de fazer a partir de seu instrumental biológico;b) zona de desenvolvimento proximal, o que o sujeito é capaz de realizar com a ajuda alheia, para posteriormente fazer sozinho;

c) nível de desenvolvimento real, caracterizada por aquilo que o sujeito passa a fazer com autonomia em sua vida cotidiana (Vygotsky, 1998, p. 112).

O deficiente intelectual ao chegar á escola também possui

conhecimentos cotidianos que precisam ser superados pelos conhecimentos

científicos, e Vigotski (2002) esclarece que ocorre, então, uma colaboração

original entre professor e aluno, a qual promove o amadurecimento das

funções psicológicas superiores. Essa colaboração é o momento central do

processo educativo, pois é o momento em que o professor intervém na zona de

desenvolvimento próximo do educando, alterando os conhecimentos

espontâneos mediante a apropriação de conhecimentos científicos

transformados em conteúdos curriculares e assim provocando um maior

desenvolvimento psicológico.

4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

A prática pedagógica com o tema Matemática na Educação Especial e

título “A contribuição dos instrumentos pedagógicos no desenvolvimento das

funções psicológicas superiores e na aprendizagem da matemática em

deficientes intelectuais” foi desenvolvida com 08 alunos do Ensino

Fundamental da Escola Novos Caminhos, Educação Infantil e Ensino

Fundamental – Modalidade: Educação Especial de Fênix, Paraná.

Propusemos um trabalho pedagógico com jogos utilizando o Material

Dourado, Cartaz Lugar Valor e Ábaco para o ensino do Sistema de Numeração

Decimal.

Inicialmente apresentamos a proposta para a direção, professores e

comissão da escola por meio da utilização de data show. Consideramos esta

apresentação muito importante, pois, conforme os comentários dos envolvidos

o trabalho estava em consonância com o Projeto Político Pedagógico da

Escola e vinha trazer uma grande contribuição para o processo ensino-

aprendizagem dos alunos.

Ao iniciar as atividades com os alunos também dissemos a eles que

iriam participar de um projeto e que os resultados seriam divulgados na

internet. Os alunos ficaram entusiasmados e demonstraram, imediatamente,

uma visível satisfação em participar do trabalho.

Iniciamos a implementação do projeto com um questionamento aos

alunos sobre a história dos números. Todos os alunos disseram que os

números sempre existiram. Três alunos afirmaram que as pessoas contavam

falando os números e os outros nada responderam. Dissemos a eles que os

números tinham uma história e que eles iriam conhecê-la. Apresentamos então

um vídeo que tratava como surgiram os números.

Após o vídeo, que foi exibido duas vezes a pedido dos alunos, voltamos

a conversar sobre o assunto e todos compreenderam, pois o vídeo era

bastante esclarecedor e com uma linguagem simples e acessível. O vídeo

falava dos diferentes sistemas de contagem que as pessoas desenvolveram.

Propusemos a eles um jogo “Contando de diferentes maneiras” para que

compreendessem como isto ocorria. Os alunos utilizaram no jogo

agrupamentos e trocas nas diferentes bases e na base 10. No início houve um

pouco de dificuldades para que compreendessem as regras do jogo.

Repetimos cinco vezes o mesmo jogo e ao final estavam jogando com muita

facilidade. Diante deste resultado consideramos como apontam Alves e

Bianchin.Vale considerar que o jogo como instrumento de aprendizagem é um recurso de extremo interesse aos educadores, uma vez que sua importância está diretamente ligada ao desenvolvimento do ser humano em uma perspectiva social, criativa, afetiva, histórica e cultural ( 2010, p. 283).

Quanto propusemos outra atividade demonstraram descontentamento,

pois queriam continuar com o mesmo jogo, para o qual conseguiram

desenvolver estratégias para a resolução dos problemas que se apresentavam

no jogo, como a contagem usando os dedos da mão em que para cada

pedrinha transportada corresponderia a um dedo levantado. Só poderia ser

usado o número de dedos equivalente aos agrupamentos da contagem.

Quando completavam quatro dedos, o próximo aluno levantava um dedo,

indicando a contagem de um agrupamento de quatro unidades. O primeiro

aluno reiniciava a contagem novamente. Quando o segundo levantava os

quatro dedos, o terceiro aluno entrava em ação levantando um dedo, indicando

a contagem de um agrupamento maior, equivalente a quatro agrupamentos de

quatro unidades.

A atividade seguinte tratava da elaboração de listagem com imagens

com utilização e classificação de números conforme a função exercida

(número de casa, telefone, camisa de futebol (identificação); 1 kg de feijão, 10

alunos, 50 reais (quantificação); 1º lugar, 2º lugar (fila),campeonato de futebol

(ordenação e classificação). Os alunos não demonstraram muito interesse

nesta atividade mas a realizaram com bastante facilidade.

Em outra ação trabalhamos, novamente com jogo. Apresentamos aos

alunos o cartaz de pregas e o jogo do SND com canudos coloridos com o

objetivo de construir o significado do Sistema de Numeração Decimal.

Figura I

Cartaz de pregas -Arquivo pessoal

Dividimos a turma em 5 grupos. Um dos alunos representava o bancário,

que administrava os canudos e observava se tudo estava correndo bem, ele

também registrava o resultado de cada aluno no cartaz de pregas. O bancário

distribuía canudos brancos, aleatoriamente, para os colegas de equipe. Cada

aluno contava os seus canudos brancos e a cada 10 brancos trocava por um

azul, a cada dez azuis trocava por um amarelo, a cada dez amarelos trocava

por um vermelho. Cada grupo disputava entre si e ao encerrar, o bancário

anotava o número de canudos de cada participante do grupo no cartaz de

pregas. Colocava-se este resultado no cartaz maior que estava afixado em

local visível da sala para se verificar a equipe vencedora. Após os jogos

convidamos um aluno para fazer a contagem dos canudos com as devidas

trocas.

Regra: O aluno nunca poderia ter dez unidades de cada cor de canudo citado.

Cada ponto do dado equivalia a uma unidade. Como a regra é nunca dez, para

dez canudos brancos, substituía-se por um canudo azul (que corresponderia a

dezena).

Para resultados inferiores a 10, cada aluno ia acumulando os canudos

brancos até chegar a dez para então poder substituir. Quem chegasse em 10

canudos azuis primeiro, trocava por um amarelo que corresponderia a 100

brancos, quem chegasse a 10 canudos amarelos trocaria por um vermelho que

corresponderia a unidade de milhar.

Observamos que a grande vantagem de se trabalhar com este jogo é

que ele remete ao conceito de adição de um modo mais real onde a “continha”

não é só uma forma de solução aprendida (ou decorada) de lidar com a

representação numérica. Ao substituir o tradicional “vai um” pelas trocas os

alunos chegaram aos resultados de modo fácil e lúdico. Neste jogo os canudos

representavam algo em um contexto com sentido real e significativo.

Prosseguimos com o trabalho do Sistema de Numeração Decimal agora

com o jogo “Nunca Dez com ábaco de pinos”. Tínhamos como objetivo a

compreensão e uso pelos alunos do valor posicional dos números explorando

contagem no Sistema de Numeração Decimal.

Figura 2

Ábaco de Pinos –Arquivo pessoal

Para este jogo formamos dois grupos. Um integrante do primeiro grupo

jogava os dados e somava-se o resultado. O valor obtido era representado no

ábaco, colocando-se argolas no primeiro pino (pino das unidades), da direita

para a esquerda. Em seguida, o próximo grupo lançava os dados e

representava no seu ábaco a soma dos valores dos dados. No momento em

que eram acumuladas 10 argolas no pino da unidade, o grupo retirava estas 10

argolas e trocava por 1 argola e colocava no pino subseqüente.

O jogo continuava com o lançamento dos dados pelos grupos e

marcando pontos, colocando argolas no primeiro pino da esquerda para direita

(pino das unidades) até que novamente aglomeravam 10 argolas que eram

retiradas e substituídas por 1 argola que era novamente colocada no pino

imediatamente posterior (pino das dezenas). O grupo que conseguia 10 argolas

no pino das dezenas vencia o jogo tendo em vista que as retirava colocando

uma argola no pino das centenas.

Prosseguimos trabalhando com outro jogo envolvendo o SND, agora

utilizando o Material Dourado. Neste jogo formamos dois grupos de quatro

alunos . Explicamos a eles as regras do jogo, isto é, o grupo é quem decidia

quem iria iniciar o jogo. Faziam isto por sorteio de nomes. Cada aluno, na sua

vez de jogar, lançava o(s) dado(s) e retirava a quantidade de cubinhos ou

quadradinhos conforme a quantidade que saísse no dado. Quando o jogador

conseguira mais do que dez cubinhos ou quadradinhos, deveria trocá-los por

uma barra ou tira. Quando o jogador conseguir dez tiras, deveria trocá-las por

uma placa. Vencia o jogador que conseguisse primeiro dez placas ou um

número de placas, antecipadamente, combinado. Depois fizemos uma variação

do mesmo jogo. Na variação s alunos combinaram um tempo determinado para

jogar e ganhava quem tivesse obtido maior número de barras ou tiras e

cubinhos ou quadradinhos.

Acreditamos que o desenvolvimento do projeto, por meio de jogos,

contribuiu para o desenvolvimento da aprendizagem do SND. Para Kishimoto

(2003), a construção do conhecimento por um aluno com deficiência intelectual

é mais complexa, portanto, os profissionais da área educacional devem

valorizar a prática lúdica, entendendo que o jogo pode ser um grande aliado no

ato de ensinar de forma vivencial, pois desde os primeiros anos de vida, os

jogos e as brincadeiras são nossos mediadores na relação com o mundo.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com o objetivo de aprimorar por meio de técnicas pedagógicas o

desenvolvimento das funções matemáticas e das funções psicológicas

superiores no deficiente intelectual, na implementação do projeto na escola

consideramos que aplicamos instrumentos pedagógicos que favoreceram ao

deficiente intelectual a aprendizagem da matemática e o desenvolvimento das

funções psicológicas superiores.

No decorrer das atividades na Escola Novos Caminhos, Educação

Infantil e Ensino Fundamental – Modalidade: Educação Especial percebemos

que os alunos com deficiência intelectual obtiveram melhorias consideráveis

na aprendizagem dos conceitos de matemática.

Consideramos, assim, que o trabalho, mediante a utilização de jogos,

com Material Dourado, Cartaz de Pregas e Ábaco, despertou o interesse dos

educandos e melhorou as funções psicológicas superiores (memória, atenção)

favorecendo a aprendizagem dos conceitos de matemática, levando-os a

entenderem e utilizarem o Sistema de Numeração Decimal.

Ao compreenderem que deveriam pensar os números como grupos de dez, os

alunos passaram a jogar de forma automática, ágil, realizando as trocas

necessárias com autonomia e clareza do que estavam realizando. No entanto

precisamos considerar que o trabalho surtiu resultados satisfatórios por terem

sido pensados e planejados a partir do conhecimento que tínhamos sobre a

turma de alunos, pois os jogos devem ser escolhidos e preparados pelo

professor com objetivos bem delineados e devem ser trabalhados de forma

mais permanente no contexto escolar.

REFERÊNCIAS

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__________________________Pensamento e Linguagem São Paulo: Edição eletrônica: Ed Ridendo Ca