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OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSENA PERSPECTIVA DO PROFESSOR PDE
Artigos
Versão Online ISBN 978-85-8015-080-3Cadernos PDE
I
_________________ ¹Professora da Rede Pública Estadual de Ensino do Paraná. E-mail de contato: [email protected] ²Orientadora PDE da Universidade Estadual de Londrina UEL. E-mail de contato: [email protected]
PSICOMOTRICIDADE E APRENDIZAGEM: Por uma intervenção com crianças em idade pré-escolar com necessidades
educacionais especiais.
TASSI, Sílvia Regina Candêo Fontanini¹ BATISTA, Cleide Vitor Mussini²
RESUMO
O presente artigo tem como objetivo auxiliar o professor do pré-escolar quanto ao levantamento de dados sobre a motricidade da criança e de como intervir com maior eficácia nas estruturas motoras e intelectuais das crianças. Trata-se, então, de um Projeto de Intervenção Pedagógica que será desenvolvido com crianças do pré-escolar com necessidades educacionais especiais, como trabalho final do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE 2014), no Estado do Paraná. Os problemas da pesquisa são: Como a Educação Infantil - estimulação precoce e estimulação essencial pode favorecer o desenvolvimento motor tendo em vista seus desdobramentos? No que pode o desenvolvimento psicomotor contribuir para as aprendizagens posteriores? Como sensibilizar os profissionais da importância do desenvolvimento psicomotor? A alternativa metodológica adotada consiste na pesquisa-ação. A proposta de intervenção pedagógica foi desenvolvida com turma do pré-escolar da manhã da Escola José Antonio Menegazzo – Educação Infantil e Ensino Fundamental na modalidade Educação Especial envolvendo professores que atuam na formação destas crianças. As estratégias de ação aconteceram dentro e fora de sala de aula e as intervenções psicomotoras referentes a esse estudo foram realizadas num total de 32 horas, organizadas em duas sessões semanais com duração de 50 minutos cada com um grupo de oito crianças em fase pré-escolar. É importante que o professor esteja atento as etapas de desenvolvimento da criança, conheça o desenvolvimento motor e suas fases e se coloque como um facilitador da aprendizagem, pois a psicomotricidade é fundamental no contexto escolar, principalmente nas aquisições básicas para os aprendizados escolares.
Palavras-chave: Psicomotricidade. Intervenção. Crianças. Brincadeiras. Jogos.
1 INTRODUÇÃO
A Educação Psicomotora é uma educação global que, além de permitir o
desenvolvimento no campo intelectual, afetivo, social e motor da criança dá-lhe
segurança organizando suas relações com os diferentes meios em que deve evoluir.
Associa-se a estimulação do desenvolvimento psicomotor o despertar da criatividade
contribuindo para a formação integral ocasionando o desenvolvimento de suas
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possibilidades levando o indivíduo à tomada de consciência de seu corpo por meio
do movimento.
A psicomotricidade tem como objetivo o estudo do desenvolvimento
humano, levando em consideração os aspectos cognitivos, emocionais e motores,
portanto reúne as áreas pedagógicas e da saúde. Envolve assim, toda a ação
realizada pelo indivíduo, ou seja, é a integração entre o psiquismo e a motricidade.
Assim, se a psicomotricidade fosse utilizada como um recurso pedagógico, várias
adversidades não ocorreriam no processo de aprendizagem. Muitas vezes rotulamos
nossas crianças como indisciplinadas, desatentas, desmotivadas, incapazes de
executar atividades mais complexas e não nos atentamos que muitas das
dificuldades estão atreladas as atividades motoras que deixaram de ser
desenvolvidas durante a Educação Infantil.
É importante que o professor esteja atento as etapas do desenvolvimento
da criança e conheça o desenvolvimento motor e suas fases e se coloque como um
mediador da aprendizagem propondo atividades psicomotoras fundamentais
fazendo com que as crianças utilizem o corpo como meio para explorar, brincar,
imaginar, criar, sentir, aprender etc; ajudando a tornar indivíduos críticos, autônomos
e criativos. Quanto mais vivências e experiências forem possibilitadas às crianças
por meio de brincadeiras e jogos, maior e melhor será a conduta psicomotora.
Correr, brincar e pular podem ser atividades determinantes para o sucesso escolar
uma vez que as atividades psicomotoras promovem e facilitam o acompanhamento
da aprendizagem e, ainda, contribuem para o convívio social das crianças
propiciando uma vida mais saudável e produtiva.
Uma escola inclusiva deve propiciar que o aluno vença suas limitações,
desenvolvendo suas habilidades tornando-o livre para aprender e para viver e, por
meio da psicomotricidade se pode buscar formas para despertar na criança suas
potencialidades desenvolvendo habilidades e autonomia. Convém ressaltar que as
APAEs estão sempre em busca de alternativas, atividades e programas para o
desenvolvimento das crianças, jovens e adultos e consideram a psicomotricidade
como um importante elemento educativo indispensável para estimular, readaptar e
complementar as funções prejudicadas. Um valioso instrumento que, quando bem
conduzido, age eficazmente no aprimoramento da área motora, cognitiva, mental,
emocional e afetiva considerando o desenvolvimento das atividades e sua
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importância antes da fase de alfabetização que deverão integrar funções mais
complexas como a leitura e a escrita.
Partindo desta premissa, os problemas da pesquisa são: Como a
Educação Infantil - estimulação precoce e estimulação essencial - pode favorecer o
desenvolvimento motor tendo em vista seus desdobramentos? No que pode o
desenvolvimento psicomotor contribuir para as aprendizagens posteriores? Como
sensibilizar os profissionais da importância do desenvolvimento psicomotor?
Desta forma, acreditando na aquisição ou aperfeiçoamento das
habilidades básicas por meio da estimulação das funções psicomotoras necessárias
ao aprendizado posterior bem como a importância do profissional envolvido na
formação da criança foi que se elaborou o projeto de intervenção pedagógica:
“Psicomotricidade e aprendizagem: Por uma intervenção com crianças em
idade pré-escolar com necessidades educacionais especiais”.
Trata-se, então, de um Projeto de Intervenção Pedagógica, que será
desenvolvido com crianças do pré-escolar com necessidades educacionais
especiais tendo como objetivo auxiliar o professor do pré-escolar quanto ao
levantamento de dados sobre a motricidade da criança e de como intervir com maior
eficácia nas estruturas motoras e intelectuais das crianças.
Assim, este artigo está organizado da seguinte forma: a sessão 2 aponta
para a influência da Educação Infantil – estimulação essencial e pré-escolar quanto
ao favorecimento do desenvolvimento motor; a sessão 3 trata da contribuição do
desenvolvimento psicomotor nas aprendizagens posteriores; a sessão 4 aponta para
a importância dos profissionais da Educação Infantil no desenvolvimento motor da
criança e, por final, apresenta nas considerações finais a aplicação do projeto de
intervenção pedagógica na Escola José Antonio Menegazzo -Educação Infantil e
Ensino Fundamental na Modalidade Educação Especial, localizada no município de
Apucarana.
2 A Educação Infantil - estimulação essencial – pré-escolar no favorecimento
do desenvolvimento motor
Durante os primeiros anos de vida a maturação e todo processo
neuromotor ocupará um espaço considerável. O desenvolvimento mental infantil tem
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uma profunda relação com o desenvolvimento motor, permitindo assim, que a
criança seja capaz de controlar seu próprio corpo, sendo, desta forma, ideal que a
criança possa integrar cada um de seus processos antes de incorporar um novo.
De Meur & Staes (1991) relata que alguns fatores como de ordem
psicológica ou afetiva, neonatal, debilidade intelectual, estado físico, oportunidade
para desenvolver o controle muscular e incentivo para promover o desenvolvimento
colaboram para a falta de habilidade da criança. A estimulação precoce, por meio da
família, escola e de todos os adultos que cuidam da criança durante seu
desenvolvimento é de suma importância, pois incentiva a cadeia muscular a adquirir
destreza e reflexos, no entanto, temos que levar em consideração o
amadurecimento das estruturas neurais dos ossos, tendões e tecidos corpóreos que
juntos desencadeiam a coordenação motora. Não devemos exigir que façam
movimentos prematuros, pois ignorar a necessidade, pular esta etapa, ou ainda
apressar os processos de aprendizagem pode desencadear efeitos desfavoráveis.
Na fase da Educação Infantil, o corpo é o veículo pelo qual a criança
passará a integrar as informações, consequentemente passará a construir a
linguagem que é a base para a alfabetização. Gonçalves (2009, p. 30) menciona
que, “à medida que se colocam maneiras diferentes e novas para executar o
movimento anteriormente conhecido, a criança se vê desorganizada e todo um
sistema cerebral é ativado [...]”.
Todos nós executamos movimentos reflexos, involuntários, inconscientes
que somente cabe a nós mesmos sentir e modificar o próprio movimento em função
da situação. Sendo assim, é importante proporcionar a criança diversas vivências
onde ela possa buscar novas situações ou soluções, colocando assim, o cérebro em
funcionamento em busca de um resultado desejado, contribuindo não apenas para o
desenvolvimento cognitivo, mas também para sua organização motora, sua
autonomia e criatividade.
Diante disto, podemos afirmar que a aprendizagem inclui sempre o corpo,
porque inclui o poder agir associado ao poder sentir, o prazer em pegar um objeto,
de lançá-lo, deslocá-lo, pois a participação do corpo no processo de aprendizagem
se dá pela ação e pela representação. Fonseca (2008) postula que a motricidade
entendida nos seus vários fatores psicomotores (tonicidade, equilíbrio, lateralização,
estruturação espacial-temporal, organização práxica) fornece indicadores funcionais
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sobre a integridade dos substratos neurológicos e dos processos psicológicos
envolvidos na sua regulação e execução. “É a partir do ato que o homem estrutura
seu pensamento, integrando e integrando-se em um envolvimento social, isto é se
transforma em um ser único e integrado” (FONSECA, 2008, p.39).
Certamente na Educação Infantil, se deve propiciar atividades adequadas
ao bom desenvolvimento psicomotor da criança e muitas vezes a formação inicial do
professor não o qualifica suficientemente para a fundamentação psicomotora que
são fundamentais para o processo de aprendizagem. Consequentemente, muitas
das dificuldades que a criança apresenta poderiam ser sanadas na própria escola ou
até evitadas se houvesse um olhar atento dos professores quanto ao
desenvolvimento psicomotor.
Portanto, a psicomotricidade é de grande importância no contexto escolar,
pois tem uma relação intima entre o desenvolvimento psicomotor e as aquisições
básicas para os aprendizados escolares possibilitando que a criança compreenda
seu corpo e as maneiras de se expressar por meio dele, localizando-se no tempo e
no espaço. Muitas vezes os insucessos com nossas crianças ao desempenhar
atividades mais complexas podem estar relacionados às práticas psicomotoras como
equilíbrio, lateralidade e esquema corporal que foram pouco desenvolvidas na
Educação Infantil afetando os processos superiores de atividade mental como a
linguagem, leitura e escrita podendo levar ao fracasso escolar com problemas de
aprendizagem.
Sendo assim, é importantíssimo compreender que as práticas corporais
servem como um instrumento de desenvolvimento de pré-requisitos para a prática
da leitura e escrita, assim como exercícios grafomotores que envolvem estudos de
como ela constrói o traço, no entanto, a primeira fase é totalmente corporal
determinante para a pré-escrita.
O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (BRASIL,
1998, v. 3, p.15) deixa claro que as instituições de Educação Infantil devem
favorecer um ambiente físico e social onde as crianças se sintam protegidas e
acolhidas para que possam se arriscar e, assim, vencer os desafios e que um
ambiente rico e desafiador favorece a ampliação de conhecimentos a cerca de si
mesmas, dos outros e do meio em que vivem. Nesse sentido, é na Educação Infantil
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que a criança irá aliar os movimentos à educação, pois é brincando que ela forma
conceitos e organiza seu esquema corporal baseada em suas próprias experiências.
Gonçalves (2009, p.15) conclui que “[...] a psicomotricidade constitui um
meio auxiliar na estruturação do desenvolvimento das crianças, ligando às
experiências motoras, cognitivas, e sócio-afetivas indispensáveis a formação do
sujeito”. Complementa dizendo que pode atuar como um trabalho preventivo
adequado normalizando algumas lacunas deixadas durante o processo maturacional
das crianças equilibrando déficits que foram atribuídos à privação de movimento e
da experiência lúdico-espacial.
3 A contribuição do desenvolvimento motor nas aprendizagens posteriores
É fundamental que a criança tenha conhecimento adequado de seu corpo
e, é por meio das percepções e interiorização das sensações experimentadas,
aliados ao desenvolvimento cognitivo construído a partir da relação com o meio, que
isso se concretiza. A psicomotricidade ajuda a criança a desenvolver outros
aspectos importantes como a atenção, a percepção de espaço, a compreensão do
próprio corpo, a própria comunicação além dos fatores emocionais importantes para
crianças de 0 na 6 anos.
De Meur & Staes (1991, p. 32) registra que, “excetuando-se os casos
referentes a problemas motores ou intelectuais, todas as perturbações na definição
do esquema corporal são de origem afetiva”. Sendo assim, o esquema corporal é
um elemento básico e fundamental para a formação da personalidade da criança
que se desenvolverá devido a uma progressiva tomada de consciência de seu
corpo, de seu ser, suas possibilidades de agir e transformar o que existe em volta.
Gonçalves (2009, p.48) define lateralidade como “tradução de uma
assimetria funcional que incide na prevalência motora de um lado do corpo”. A
autora ainda registra que ao perceber seu corpo e seu eixo corporal e seus dois
lados, a criança consegue transpor esse conhecimento para além de seu corpo, isto
é, para a linguagem oral e, finalmente, a linguagem escrita, então perceberá que um
“p” é diferente de um “q” ou “d”.
Similarmente, todas as noções espaciais básicas como as de em cima-
embaixo, por cima-embaixo, frente-trás, antes-depois, e outras, estão
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estruturalmente dependentes da noção de lateralidade, da mesma forma que ao
dominar a lateralidade, a criança aprenderá o gesto gráfico, a reprodução de formas
de escrita e, o encadeamento de modelos gráficos como base necessária para à
aprendizagem da escrita.
Consequentemente, por meio do espaço e das relações espaciais nos
situamos no meio em que vivemos, fazemos observações, estabelecemos relações
entre as coisas, comparando-as, combinando-as. Coste (1978) afirma que, toda a
nossa percepção do mundo é uma percepção espacial, na qual o corpo é o termo de
referência. A escrita, por exemplo, depende da manipulação das relações espaciais
entre os objetos e esta relação é mantida por meio do desenvolvimento de uma
“estrutura” do espaço.
Em se tratando da estrutura corporal, Fonseca (1995, p.209) relata que,
”por meio da estruturação temporal a criança tem consciência da sua ação, o seu
passado conhecido e atualizado, o presente experimentado e o futuro desconhecido
é antecipado”. Desta forma, palavra escrita necessita orientação no papel utilizando
as linhas e o espaço próprio a ela e a palavra falada emitir palavras de forma
ordenada e sucessiva, obedecendo um certo ritmo, uma atrás da outra em um
determinado tempo.
Bueno (1988, p.52) complementa, “somente por meio de uma
coordenação dinâmica adequada a criança consegue estabelecer relações de ação
e movimento que serão o carro-chefe da educação de sua motricidade”. Como
resultado, é por meio da movimentação e da experimentação que a criança vai se
adaptando e buscando, cada vez mais, um equilíbrio mais harmonioso,
consequentemente vai se conscientizando das suas posturas e de seu corpo.
Fonseca (2008) define ainda coordenação global como coordenação geral do corpo
e da motricidade e interação, precisão e harmonia dos padrões posturais e
locomotores onde participam os grandes músculos.
É fato que, ao chegar a idade escolar, a criança já deveria possuir uma
certa coordenação global do movimento e o professor da Educação Infantil deve
observar caso a criança apresente dificuldades em relação a postura e controle
corporal, por exemplo, se apresenta cansaço ou deficiência na realização do
movimento, precisa corrigir as posturas inadequadas a fim de adquirir uma
coordenação mais satisfatória.
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Já a coordenação motora fina, segundo Fonseca (2008, p.565) “[...] ilustra
a coordenação fina da mão e dos dedos em tarefas que implicam funções corticais
superiores, envolvendo destrezas como o construir, o manusear, o recepcionar e o
projetar de objetos, assim como o desenhar, o escrever [...].” Portanto, a
coordenação motora fina diz respeito à habilidade e destreza manual e, para atingir
uma coordenação motora fina é necessário que haja também um controle ocular, ou
seja, a visão associada acompanhando os gestos da mão. Esta ação é denominada
de coordenação óculo-manual ou visomotora, refere-se, então, em movimentos
baseados na percepção visual.
Em relação a discriminação visual, Fonseca (2008) considera como sendo
a diferenciação de figuras, de letras, de formas, de números etc, produzindo
classificações e categorizações; e define percepção visual como a capacidade de
perceber, interpretar e integrar o que os olhos veem, cita como exemplo, processar
significados a partir de símbolos visuais, como na leitura e na escrita.
Como resultado da discriminação visual pobre, ocorre desordem da
movimentação do olho o que faz com que a criança não consiga mantê-lo na mesma
direção quando lê e como consequência ao ler pulam frases ou leem novamente a
mesma linha sem perceber; pode apresentar confusão de letras como d e b, f e t, h
e b etc, também apresentar supressão de letras e deformações em letras
aglutinadas tornando a leitura lenta, cópia com muitos erros e disortografia,
demonstrando assim, falta de controle ocular.
Le Boulch (1987, p. 88) postula,”[...] a criança deve ser capaz de
identificar os sons e ter compreendido a significação da passagem do som ao sinal
gráfico”. Desta forma, a decodificação se concretiza quando acontece o significado
ao som que ouve. Uma criança que apresenta falha na discriminação auditiva está
propensa a confundir algumas letras pelo som como p por b (pombo-bombo), j por
ch (tijolo-ticholo), d por t (dado-tato), g por c (gato-cato), j por x (janela-xanela) etc.
4 A importância dos profissionais da Educação Infantil para o desenvolvimento
psicomotor
Os profissionais que lidam com a formação da criança na escola devem
saber desvendar os diferentes processos da aprendizagem e ficar a par das
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dificuldades e fraquezas de como cada criança aprende considerando, desta forma
suas necessidades atuando de maneira efetiva nos problemas de aprendizagem
atuando como um facilitador na construção da aprendizagem.
Bagatini (1984, p.158) menciona que “o professor deverá ter antes de
tudo muita paciência para com as crianças, visando num primeiro momento
despertar sua atenção e prender seu interesse”. Ressalta que o aprendizado é
motivo de alegria e satisfação e que o professor deve perceber todo o potencial que
ela possui para o benefício dela própria.
O Referencial de Educação Infantil (1998) afirma que “compreender,
conhecer e reconhecer o jeito particular das crianças de serem e estarem no mundo
é o grande desafio da Educação Infantil e de seus profissionais”. Neste contexto, o
professor por meio da Educação Infantil, tem um papel fundamental na construção
da aprendizagem. É importante compreender como as atividades favorecem o
desenvolvimento e que quanto mais cedo as intervenções forem feitas maiores
serão as possibilidades de reparar ou compensar conexões cerebrais e seu
funcionamento.
A base da psicomotricidade é de que primeiro vem a ação e depois o
pensamento, desta forma a ação precede o pensamento para que depois o
pensamento regule a ação, por isso é fundamental que o professor de Educação
Infantil esteja preparado para aplicar os conceitos de psicomotricidade.
Essencialmente, o professor deve ser um modelo para a criança por meio
de suas expressões e posturas corporais, precisam vivenciar as questões, brincar
junto com as crianças, pois seu corpo é um veículo expressivo. O conhecimento
sobre jogos e brincadeiras e a reflexão sobre os tipos de movimentos são condições
importantes para auxiliar as crianças a desenvolver uma motricidade harmoniosa; ao
mesmo tempo pode organizar o ambiente com materiais que propiciem as
descobertas, assim como organizar atividades que exijam o aperfeiçoamento das
capacidades motoras, mas sem perder a ludicidade, levando-as a atividades
adequadas, interessantes e respeitando a realidade e as características individuais
da criança.
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5 A intervenção psicomotora com as crianças em idade pré escolar
Muitas pesquisas e estudiosos confirmam que crianças com alguma
necessidade especial, mental ou física, apresentam um desenvolvimento motor ou
cognitivo abaixo do esperado, mas que pode vir a normalizar ou até superar durante
seu desenvolvimento, no entanto há limites no que diz respeito a crianças com
deficiências mais severas. Fonseca (2008) esclarece que não se deve iniciar uma
aprendizagem antes de uma maturidade neurológica mínima, isso traria resultados
negativos, assim como não se deve conduzir uma aprendizagem isolada de um
contexto relacional e afetivo.
Obviamente, para que ocorra a aprendizagem da criança é necessário
que se construa condições ambientais, emocionais e interacionais favoráveis para
seu desenvolvimento de modo a envolver a criança em condições emocionais
positivas, caso contrário poderá comprometer seu sistema motor, circulatórios,
respiratório e endócrino podendo apresentar insuficiências funcionais e fisiológicas.
Portanto, é importante saber como e quando intervir; proporcionar um
ambiente seguro e estimulante onde errar é o que menos importa mas, tentar acertar
sentindo prazer é o que vai mover a criança para a realização da descoberta
possibilitando reconhecer suas potencialidades. De acordo com Fonseca (1995,
p.319), o primeiro passo é fazer a identificação/diagnóstico que visa detectar as
características do potencial de aprendizagem da criança; depois o perfil individual; a
formulação de objetivos; traçar um plano levando em consideração a individualidade;
implementar as atividades e por fim a avaliação.
Assim, esta proposta de intervenção pedagógica foi desenvolvida com
turma do pré-escolar da manhã da Escola José Antonio Menegazzo – Educação
Infantil e Ensino Fundamental na modalidade Educação Especial envolvendo
professores que atuam na formação destas crianças.
Desta forma, as estratégias de ação aconteceram dentro e fora de sala de
aula e as intervenções psicomotoras referentes a esse estudo foram realizadas num
total de 32 horas, organizadas em duas sessões semanais com duração de 50
minutos cada com um grupo de oito crianças em fase pré-escolar onde as principais
queixas relativas ao desenvolvimento psicomotor do grupo são: 1) Movimentos
lentos, pouca destreza e atraso nos níveis de desenvolvimento motor e maturidade
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em geral; 2) Falta de concentração e baixo nível de atenção; 3) Dificuldade na
assimilação e aquisição de conteúdo; 4) Vocabulário restrito e atraso na linguagem;
5) Interesse passageiro por materiais gráficos; 6) Marcha com certa desordem; 7)
Insegurança, ansiedade e pouca iniciativa; 8) Pouca preensão palmar, dificuldades
com recortes, pinturas, encaixes.
O objetivo desta intervenção foi estimular a criança por meio de
atividades de forma lúdica, compreendendo as necessidades de cada uma, levando
em consideração os fatores desencadeadores de sua condição, proporcionando o
aprimoramento e qualidade dos gestos e tomada de consciência de seu esquema e
eixo corporal tendo em vista as áreas da motricidade fina e global, esquema
corporal, equilíbrio, organização temporal e espacial, a lateralidade e a percepção
visual e auditiva.
Desta forma, foram realizadas intervenções dentro de fora de sala com o
intuito de promover vivências corporais, pois acreditamos que a criança atua no
mundo por meio de seus movimentos e para isto dispõe de suas capacidades
afetivas, intelectuais e motoras, estabelecendo esta relação conforme sua tonicidade
que é construída diariamente de acordo com as limitações e estimulações que lhe
são impostas pelo meio na qual está inserida e pelas pessoas que a cercam. Nesse
contexto o movimento vai se tornando coordenado e complexo resultando em fonte
de aprendizagem, propiciando a aquisição de experiências que levará a criança a
desenvolver os aspectos de planejamento, organização, reflexão e vivência se
convertendo por complexidade em finalidades e objetivos e estabelecendo um
roteiro educativo de maturação global.
Foram desenvolvidas atividades lúdicas motoras mais amplas e fora de
sala de aula. Foram elas: pé de pau e de lata(Figura 1); equilíbrio (Figura 2); pneu
(Figura 3); cavalinho de pau (Figura 4); vai e vem (Figura 5) etc. Bem como
atividades lúdicas motoras mais específicas dentro de sala de aula e, também fora
da mesma, tais como quebra cabeça do corpo; atividades lúdicas que envolvem a
coordenação motora grossa e fina como pintura, massinha, desenho etc.
Estas atividades propostas são planejadas e têm objetivos, pois
consideramos que a educação psicomotora deve ser considerada como uma
educação de base na pré-escola. Ela condiciona todos os aprendizados pré-
escolares; leva a criança a tomar consciência de seu corpo, da lateralidade, a
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situação no espaço, a dominar seu tempo, a adquirir habilidades de coordenação de
seus gestos e movimentos.
Figura 1 Pé de pau e de lata.
Fonte: Arquivo da autora.
Figura 2 Equilíbrio. Figura 3 Pneus.
Fonte: Arquivo da autora.
Os jogos e exercícios corporais como vemos, nas Figuras 1, 2 e 3,
propiciados de uma maneira integradora e harmoniosa contribuem para que a
criança adquira a coordenação psicomotora, a conscientização e domínio do corpo,
ajustamento dos gestos e movimentos, apropriação do esquema corporal, aumento
das discriminações perceptivas, integração de espaço e noção de tempo pessoal.
Desse modo a criança será capaz de assumir a sua corporeidade dentro de uma
realidade que lhe permita a livre expressão, evitando-se com isso dificuldades
referentes ao seu processo de evolução.
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Figura 4 Cavalo de pau. Figura 5 Vai e Vem
Fonte: Arquivo da autora.
Esta corporeidade se trata da vivência do corpo na relação com o outro e
com o mundo, como vemos nas Figuras 4 e 5. Ou seja, é o corpo vivenciado e em
movimento no tempo e no espaço. Para a construção da corporeidade é
imprescindível que a criança tenha estímulos que favoreçam a apropriação das
funções básicas da psicomotricidade que são: esquema corporal, imagem corporal,
tonicidade, equilíbrio, lateralidade, coordenação motora ou praxia global etc.
Na Figura 6, por exemplo, vemos que por intermédio do esquema
corporal a criança será capaz de identificar e localizar as diferentes partes de seu
corpo, proporcionando-lhe a noção de “ter”, tomando consciência de seu ser e de
suas possibilidades de agir e transformar o mundo que a cerca.
Figura 6 Quebra cabeça corpo humano.
Fonte: Arquivo da autora.
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Buscamos assim, nestas intervenções lúdicas, proporcionar desde
vivências de coordenação motora ou praxia global, ou seja um conjunto de funções
unidas para a representação de atividades globais e mais amplas que se dá por
meio de uma atuação harmônica e econômica do sistema nervoso central dos
músculos, nervos e sentidos, na execução de um movimento, como vemos na
Figura 7.
Figura 7 Crianças brincando de copo na bandeja.
Fonte: Arquivo da autora.
Ainda com relação a Praxia Global desenvolvemos atividades lúdicas tais
como: a coordenação oculomanual que são movimentos manuais agregados a
visão, no qual requer noção de distância e precisão para o lançamento; a
coordenação oculopedal que é a coordenação dos pés associados à visão; a
dismetria que é quando não se consegue executar atividades que exijam a funções
visoespacial e visocinestésica frente a uma determinada distância para atingir um
alvo e a dissociação que é a capacidade de locomover diferentes partes do corpo de
maneiras diferentes para realizar determinada atividade, ou seja, é a independência
motora de vários segmentos corporais.
Também, buscamos proporcionar as crianças atividades lúdicas que
envolvessem a Praxia Fina que é considerada como a capacidade de controlar os
pequenos músculos para a execução de atividades refinadas como: escrita, recorte,
encaixe, colagem, dentre outras, como vemos nas Figuras 8, 9, 10 e 11. A mão é o
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órgão responsável por esta praxia, caso haja perda de suas funções o organismo se
estrutura na busca de outro órgão a fim de corresponder a tais atividades.
Figura 8 Brinquedo. Figura 9 Massinha.
Fonte: Arquivo da autora.
Figura 10 Desenho espontâneo. Figura 11 Pintura.
Fonte: Arquivo da autora.
Enfatizamos que esse desenvolvimento da criança só é possível por meio
do amadurecimento neurológico e os sistemas responsáveis são: - interocepção,
sensações viscerais. - propriocepção, noção dos movimentos e postura realizados
pelo corpo, - exterocepção, informações recebidas pelos estímulos externos por
meio dos sentidos, visão, tato, olfato, gustação e audição. Assim, quanto mais
diversificadas as brincadeiras, os movimentos vivenciados, as experiências corporais
e a qualidade de estímulos recebidos pela criança, melhor será o seu
desenvolvimento do esquema corporal.
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Acreditamos que se a criança não realiza ações com os objetos como
vemos na Figura 13, se não tem possibilidade de ver, tocar, mover-se, provar seu
domínio sobre as coisas, vai encontrar sérias dificuldades no processo de
organização de sua inteligência.
Figura 12 Brinquedos.
Fonte: Arquivo da autora.
Elucidamos, então, que a Educação Infantil é a grande colaboradora
neste processo por se tratar de um período de maior desenvolvimento e as
experiências iniciais serem primordiais, propiciando base para que a criança
desenvolva sua autonomia corporal e maturidade sócio-emocional. Para tanto,
devem ser estimuladas e consideradas as funções básicas da psicomotricidade
visando o desenvolvimento pleno da criança e, os jogos e exercícios corporais
propiciados de uma maneira integradora e harmoniosa contribuem para a aquisição
da coordenação psicomotora, a conscientização e domínio do corpo, ajustamento
dos gestos e movimentos, apropriação do esquema corporal, aumento das
discriminações perceptivas, integração de espaço e noção de tempo pessoal sendo
coadjuvantes neste processo.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
O presente projeto contribuiu para melhorar a relação das crianças
envolvidas com o contexto, estimulando seu desenvolvimento levando em
consideração que as aprendizagens se processam de forma mais lenta e com
características próprias necessitando de algumas estratégias a fim de permitir
desenvolver e explorar seu potencial. Houve a preocupação em organizar
atividades lúdicas com estreita relação com o cotidiano a fim de alterar a estrutura
cognitiva das crianças frente as bases para a aquisição da leitura e escrita, no
entanto, é sabido que os problemas de desenvolvimento motor estão associados
diretamente a um atraso na aquisição e desenvolvimento de padrões motores e a
existência de atrasos no desenvolvimento é uma característica observada em
crianças com dificuldades na aprendizagem.
No entanto, não foram momentos fáceis face às necessidades e
especificidades de cada criança envolvida, levando em conta o desenvolvimento
cognitivo e motor de cada um, porém extremamente gratificante poder participar e
contribuir para a melhora na aprendizagem através de atividades planejadas de
acordo com os objetivos estabelecidos e elaboradas com carinho, responsabilidade
e consciência de forma que se tornassem instigantes, desafiantes e prazerosas a
ponto de presenciar o entusiasmo e o grande esforço por parte de algumas crianças
para a participação e realização das atividades propostas.
Contudo, com a preocupação de que até que ponto estes atrasos ou
perturbações motoras são de natureza transitória ou permanente e se está
relacionado com o processo de maturação, insuficiência de experiências e vivências
motoras ou são oriundos de problemas mais profundos, associados a sentimentos
de frustração e ansiedade que leva a um sentimento de insucesso.
Assim, surge a necessidade de estimular a criança no sentido de ajudá-la
a readquirir confiança em aprimorar a imagem que tem de si própria motivando a
superar as suas dificuldades emocionais e sociais bem como psicomotoras com o
intuito de melhorar sua capacidade de realização aproveitando melhor suas
potencialidades. Desta forma, considerando o perfil psicomotor e cognitivo das
crianças, houve a necessidade de dar mais destaque ao fator noção de corpo frente
ainda a dificuldade de consciência do esquema corporal.
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De um modo geral, também se verificou um nível de competência motora
na realização das habilidades motoras básicas abaixo do esperado para crianças
desta faixa etária por questões relacionadas ao equilíbrio. Apesar do curto período
de tempo para aplicação do projeto, 32 horas, pôde-se constatar uma melhora na
coordenação e equilíbrio, com ênfase no fator espaço-temporal e em movimentos de
preensão e pinça, com ganho qualitativo nas habilidades motoras globais além dos
efeitos psicossociais proporcionados às crianças.
Diante desta postura, percebemos a grande importância da
psicomotricidade no contexto escolar, pois a criança aprende descobrindo o mundo,
experimentando-o. As atividades por meio das brincadeiras, faz de conta, o
desenho, a pintura, a modelagem, darão base para o que virá depois como, por
exemplo, a evolução do traçado gráfico .
É fundamental à criança, que toda experiência passe primeiro pelo corpo,
desta maneira irá “fabricar” o sentido do que aprende, ou seja, a experiência deve
passar primeiro pelo corpo e, sob esta perspectiva, cabe ao professor da educação
infantil a capacidade de analisar as práticas corporais no cotidiano da escola, bem
como estar a par das etapas da criança, das habilidades e fraquezas, de como cada
criança aprende, sendo ela especial ou não, valorizar as práticas corporais
considerando, deste modo como instrumentos de desenvolvimento de pré-requisito
para o aprendizado da leitura e escrita, consequentemente a compreensão do
próprio corpo, a percepção de espaço, a atenção e certamente a própria
comunicação.
Desta forma, o professor da educação infantil deve participar ativamente
para a minimização dos problemas de aprendizagem ficando atento para o melhor
método a ser adotado podendo prevenir muitas consequências negativas, embora
saibamos que o fracasso escolar, seja por qual motivo, é uma questão íntima.
Neste contexto, percebe-se também a necessidade de capacitar, orientar
a família quanto ao trato e as fases do desenvolvimento motor em que a criança se
encontra para poder “alinhar” os trabalhos escola x casa. Muitas foram as situações
em que algumas crianças demonstravam dependência, esperando a mediação para
vestir a camiseta velha nas atividades de pintura, ou ainda grande dificuldade em
calçar e descalçar o tênis, vestir a meia, retirar a blusa em dias quentes, desta
maneira o trabalho do professor poderia ter resultados mais positivos se algumas
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famílias acreditassem e apostassem mais no potencial de suas crianças deixando de
fazer por elas e fazendo para elas.
Sendo assim, é preciso refletir e investir no processo pedagógico e acima
de tudo, apostar no potencial da criança e muitas vezes fazê-la acreditar em sua
própria capacidade.
REFERÊNCIAS BAGATINI,V.F. Educação Física para o Excepcional. Porto Alegre: Sagra, 1984. BRASIL. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil-Ministério da Educação e do Desporto, Secretaria da Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. BUENO, J.M. Psicomotricidade Teoria e Prática-Estimulação, Educação e Reeducação Psicomotora com Atividades Aquáticas. São Paulo: Lovise, 1988. COSTE. J. C. A Psicomotricidade. Rio de Janeiro. Zahar, 1978 FONSECA, V . Manual de Observação Psicomotora. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995. _______. Da filogênese à antogênese da motricidade. Porto Alegre: Artes Médicas, 1988. _______. Desenvolvimento Psicomotor e Aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2008. GONÇALVES, F Do andar ao Escrever. Um caminho psicomotor. São Paulo: Cultural RBL, 2009. LE BOULCH, J. Educação Psicomotora. Porto Alegre: Artes Médicas, 1987 MEUR & STAES. Psicomotricidade: Educação e Reeducação – níveis maternal e infantil. São Paulo: Manole,1991. .