o trabalho com a oralidade variedades tânia e lúcia corrigidoformatado

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----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- VEREDAS ON-LINE TEMÁTICA 1/2012, P. 59-74 PPG LINGUÍSTICA/UFJF JUIZ DE FORA - ISSN: 1982-2243 59 Linguística Aplicada das Profissões VOLUME 16 nº 1 - 2012 ---------------------------------------------------------------------------------------------------------------- O trabalho com a oralidade/variedades linguísticas no ensino de Língua Portuguesa Lucia Furtado de Mendonça Cyranka 1 Tânia Guedes Magalhães 2 RESUMO: O objetivo deste artigo é apresentar reflexões sobre o trabalho escolar com a língua materna, mais especificamente sobre dois tópicos centrais: a modalidade oral (MARCUSCHI, 2001; SCHNEUWLY E DOLZ, 2004), e a variação linguística (BORTONI-RICARDO, 2004). Primeiramente, apresentamos as questões teóricas referentes aos temas, para, em seguida, apresentar resultados de pesquisa desenvolvidas no âmbito do GRUPO FALE/UFJF, que tem priorizado a metodologia de pesquisa-ação. Os resultados mostram que é possível realizar um trabalho de desenvolvimento de competências para o uso da língua portuguesa. Verificou-se também a importância de se integrar, na pesquisa, a formação continuada dos professores com intervenções numa perspectiva interacionista de linguagem. Palavras-chave: ensino de língua portuguesa; oralidade; variação linguística. Introdução A gramática normativa direcionou, ao longo de muitos anos, as aulas de Língua Portuguesa (LP) no Ensino Fundamental e Médio. No decorrer de mais de três décadas, discutimos e questionamos a validade desse ensino exclusivamente metalinguístico. Contudo, 1 Dra. em Letras pela UFF, professora da Faculdade de Educação (UFJF). [email protected] 2 Dra. Em Letras pela UFF, professora da Faculdade de Educação (UFJF). [email protected]

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O Trabalho Com a Oralidade Variedades Corrigido formatado

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    Lingustica Aplicada das Profisses

    VOLUME 16 n 1 - 2012

    ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------

    O trabalho com a oralidade/variedades lingusticas no ensino de Lngua Portuguesa

    Lucia Furtado de Mendona Cyranka1

    Tnia Guedes Magalhes2

    RESUMO: O objetivo deste artigo apresentar reflexes sobre o trabalho escolar com a lngua materna, mais

    especificamente sobre dois tpicos centrais: a modalidade oral (MARCUSCHI, 2001; SCHNEUWLY E DOLZ,

    2004), e a variao lingustica (BORTONI-RICARDO, 2004). Primeiramente, apresentamos as questes tericas

    referentes aos temas, para, em seguida, apresentar resultados de pesquisa desenvolvidas no mbito do GRUPO

    FALE/UFJF, que tem priorizado a metodologia de pesquisa-ao. Os resultados mostram que possvel realizar

    um trabalho de desenvolvimento de competncias para o uso da lngua portuguesa. Verificou-se tambm a

    importncia de se integrar, na pesquisa, a formao continuada dos professores com intervenes numa

    perspectiva interacionista de linguagem.

    Palavras-chave: ensino de lngua portuguesa; oralidade; variao lingustica.

    Introduo

    A gramtica normativa direcionou, ao longo de muitos anos, as aulas de Lngua

    Portuguesa (LP) no Ensino Fundamental e Mdio. No decorrer de mais de trs dcadas,

    discutimos e questionamos a validade desse ensino exclusivamente metalingustico. Contudo,

    1 Dra. em Letras pela UFF, professora da Faculdade de Educao (UFJF). [email protected]

    2 Dra. Em Letras pela UFF, professora da Faculdade de Educao (UFJF). [email protected]

  • ----------------------------------------------------------------------------------------------------------------- VEREDAS ON-LINE TEMTICA 1/2012, P. 59-74 PPG LINGUSTICA/UFJF JUIZ DE FORA - ISSN: 1982-2243

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    ainda hoje, aps tantos anos de debate e da formulao de diretrizes, precisamos abordar, mais

    uma vez, o Ensino de LP. Percebemos, durante a realizao de atividades de pesquisa e

    extenso em escolas pblicas diversas, que o tema ainda de extrema relevncia. Ademais,

    duas dimenses pouco trabalhadas na escola so as prticas de oralidade e a

    educao sociolingustica, das quais trataremos no presente artigo.

    Definimos, preliminarmente, como sujeito alvo de nossa reflexo, o aluno falante da

    LP. Nesse caso, ensinar a lngua pressupe um trabalho de desenvolvimento de competncias. O ponto de partida , portanto, a conscincia de que esse aluno domina

    suficientemente a gramtica implcita da lngua, isto , conhece e utiliza, competentemente, as

    estruturas fontico/fonolgicas, morfossintticas e semntico/pragmticas que o tornam capaz

    de produzir sequncias lingusticas reconhecidas como sendo da LP. E, mais que isso, revela o

    domnio de recursos discursivos indispensveis para propor e manter relaes nas redes

    sociais de que participa, de acordo com suas vivncias, sua idade cronolgica, suas

    experincias, enfim. Nesse caso, a tarefa da escola comea muito alm do que normalmente se

    considera. A ela cabe promover aes que levem o aluno a ampliar capacidades para sua

    participao eficiente nas prticas de letramento requeridas pela sociedade.

    Comecemos nossas reflexes, pela questo do tratamento da oralidade na escola.

    1. Oralidade e ensino de Lngua Portuguesa

    Aps alguns anos de reflexo sobre metodologias para o Ensino de Lnguas, em que se

    pretendeu desestabilizar a predominncia da metalinguagem com um fim em si mesma, os

    professores tm nos questionado sobre o que trabalhar, ento. Para responder a essa pergunta, assumimos uma concepo de lngua como interao (BAKHTIN, 2006;

    TRAVAGLIA, 2000), concepo essa que permite mostrar sociedade a existncia de uma

    pluralidade de discursos e, desse modo, trazer o texto, oral ou escrito, para o centro de todo o

    processo de ensino de LP. Assim, defendemos que um ensino de base normativa, com a

    norma culta como nica variedade permitida, deveria ser substitudo por um ensino de base discursiva, cujo foco ser a reflexo sobre o uso da lngua.

    Uma das dificuldades da escola atual, na formao de um cidado que interage por

    meio da linguagem, est na seleo de contedos e na sistematizao do conhecimento

    adotando-se essa concepo, uma vez que essa escolha implica seleo, hierarquizao e

    primazia de temas, alm de requerer conhecimento. Contudo, a polmica no pode impedir

    que faamos anlises, tomemos decises e escolhamos efetivamente o que consideramos

    fundamental para os alunos: contedos mninos pensados em termos de desenvolvimento de

    capacidades, habilidades e aes voltadas linguagem. A partir da perspectiva interacionista,

    reforamos os pressupostos que defendem um ensino de LP voltado a pensar levando em conta uma sociedade cheia de contradies na relao entre os sujeitos, na ao dos sujeitos, na participao dos sujeitos.

    Em decorrncia disso, tornou-se comum o pressuposto de que se deve adotar a

    oralidade como objeto de ensino, embora haja dvidas sobre como abord-la. Em virtude das

    exigncias de uso da modalidade oral no s do contexto escolar, como tambm das diversas

    instncias sociais, considera-se necessrio expandir, ou talvez implantar, atividades que

    contribuam para a ampliao da proficincia oral do aluno. As prticas de oralidade na escola

    so, contudo, quase inexistentes (MARCUSCHI, 2003; MAGALHES, 2005/2006). O que

    vemos so atividades que apenas usam a modalidade falada, como conversas com colegas,

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    discusses em grupo e correo de exerccios feita oralmente para outros focos que no o estudo e a sistematizao de conhecimento sobre os gneros orais e o continuum oralidade-

    letramento.

    Conceber oralidade como prtica social na modalidade falada da lngua significa, para

    o ensino, usar os gneros textuais orais, selecionados a partir das reflexes do corpo docente,

    contemplando, de fato, uma proposta de prtica social e discursiva. Em se tratando de

    propostas pedaggicas, o ensino sistematizado da oralidade envolve a interao com textos

    por meio de escuta, produo oral e anlise lingustica (ou reflexo lingustica). Com base

    nelas, so construdos conhecimentos e conceitos sobre a linguagem, sobre os papis sociais

    envolvidos na interao, sobre as relaes entre fala e escrita, bem como a insero do aluno

    em atividades de oralidade letrada3. A lngua falada est em foco, tanto no uso quanto na

    reflexo e no apenas sendo usada para outros fins.

    Produzir textos na modalidade falada significa que os alunos devem ser orientados

    tanto para a preparao prvia quanto para o uso (BRASIL/MEC, 1998). Essa preparao

    prvia abarca uma excelente oportunidade de reflexo sobre a situao de comunicao, o

    pblico-alvo, a estrutura de participao dos interagentes e as especificidades do gnero,

    incluindo elaborao de quaisquer suportes (cartazes, esquemas, slides, etc). O uso privilegia

    situaes reais de interlocuo (gneros por natureza orais) adequados aos projetos escolares.

    Desse modo, os alunos precisam ler/ouvir textos de referncia, por meio de atividades que

    proporcionem um conhecimento da situao de comunicao, o que pode ser feito com

    atividades de escuta, que descreveremos abaixo. Na produo de textos orais, o aluno aprende

    a considerar os papis assumidos pelos participantes, o que leva escolha de uma variedade

    lingustica adequada situao. Alm disso, devem ser evidenciadas as atividades de

    monitoramento do prprio texto oral, considerando possveis efeitos de sentido produzidos

    pela utilizao de elementos no verbais, dos suportes e considerando as possibilidades de

    modificaes e recondues no decorrer da fala.

    Para a compreenso de textos na modalidade escrita, propomos a leitura; numa

    perspectiva do continuum oralidade/letramento, na oralidade, propomos a recepo ou a

    escuta de textos4. A escuta proporciona aos alunos presenciar (ou assistir a vdeos de)

    situaes reais de interlocuo. Atravs dela, o aluno, ouvindo ou participando ativamente

    com interferncias, previamente orientado pelo professor, faz anotaes para apreenso do

    tema e toma conhecimento da estrutura de participao dos eventos lingusticos em questo.

    A escuta, ao vivo ou gravada, de autoria dos alunos ou no, relevante para o processo de

    aprendizagem, pois as gravaes conferem anlise um verdadeiro entendimento da relao

    fala-escrita, uma vez que se pode transcrever os dados, voltar a trechos que no tenham sido

    bem compreendidos, dar nfase a trechos que mostrem caractersticas tpicas da fala, entre

    outros. Defendemos, na linha dos autores citados e dos PCN, que haja momentos exclusivos

    para o tratamento da escuta na escola, em que a oralidade, no seu aspecto social, o foco do

    aprendizado. Na escuta, apresentamos aos alunos um gnero textual oral (como o seminrio, a

    3 Kato (1986) afirma que a lngua falada culta consequncia do letramento, motivo pelo qual, indiretamente,

    funo da escola desenvolver no aluno o domnio da linguagem falada institucionalmente aceita; assim,

    oralidade letrada refere-se s situaes orais pblicas de uso socialmente requerido em espaos pblicos e

    formais de comunicao. 4 No queremos, com esse termo, significar passividade. Pelo contrrio, estamos de acordo com os pressupostos

    de leitura como interao autor/leitor/texto para a plena compreenso, conforme Kleiman (2000) e Koch (2006);

    sendo assim, entendemos a escuta, termo proposto pelos PCN de LP (1998), como atividade de compreenso e

    reflexo a partir do contato direto com textos da modalidade falada, permitida quando o aluno assiste a vdeos de

    notcias, reportagens, debates, ou est presente em seminrios, palestras e mesas-redondas.

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    palestra, a entrevista, o debate, a mesa-redonda entre outros) como um modelo a ser apreendido, j que eles produziro o seu prprio em seguida, fazendo-se as adaptaes

    necessrias ao projeto escolar. Logo depois, assim como fazemos na escrita, podemos avaliar,

    aps uma produo, se o gnero oral realizado realmente contemplou os aspectos discursivos

    esperados.

    As atividades de anlise lingustica5 (AL) esto intimamente relacionadas s de escuta.

    A reflexo sobre a linguagem permite que faamos consideraes sobre contextos de

    produo, relacionando-os s variedades e a outros conceitos lingusticos to necessrios

    competncia discursiva dos alunos. Diversos autores (BRASIL/MEC, 1998; RAMOS, 1999;

    MARCUSCHI, 2001; FVERO et al, 2005) afirmam que a abertura da escola para a

    modalidade oral possibilita colocar fala e escrita no mesmo status de importncia, fato que

    contribui para que se minimize o ponto de vista de que a escrita superior fala. Em relao

    s variedades, analisar produes orais de variedades no prestigiadas socialmente constitui o

    momento propcio para comear a diminuir a ideia de que a fala correta a que se aproxima da escrita. O ensino centralizado em erro e acerto, dessa forma, perde sentido, ganhando espao a noo de adequao. Ademais, a reflexo abrange uma conscientizao para o

    respeito s variedades menos prestigiadas em nossa sociedade, como veremos na seo 3

    deste artigo.

    A anlise lingustica do texto oral comporta reflexo sobre a linguagem pelo caminho

    inverso do realizado h tantos anos no ensino: que tratemos do discurso/texto para alcanar os

    outros nveis de anlise lingustica (semntico, sinttico, morfolgico e fontico/fonolgico).

    Isso permite explicar os efeitos de sentido produzidos em funo da interlocuo, avaliar a

    adequao das produes ao contexto e reconhecer as intenes dos interlocutores. Como fala

    e escrita no dia a dia seguem padres diferentes, precisamos refletir sobre a escolha lexical,

    sobre a organizao sinttica do discurso oral, sobre coeso e coerncia, que proporcionam

    consolidar conhecimentos sobre a dinmica e a heterogeneidade da linguagem. No podemos

    esquecer de analisar, na oralidade, a significao produzida por elementos prosdicos (como o

    ritmo, a entonao, as pausas, as hesitaes, as repeties, os alongamentos) e por elementos

    no-verbais6 (como os gestos, as expresses faciais, o riso, o olhar, os movimentos corporais

    que acompanham a fala), que tm papel fundamental na interao face a face.

    Alinhados a esse embasamento, propusemos a pesquisa Gneros orais no ensino fundamental e mdio: teoria e prtica

    7 que buscou investigar que conceitos esto envolvidos no trabalho com a oralidade necessrios formao do professor e que procedimentos podem

    ser realizados na escola, de forma a contribuir com o desenvolvimento da oralidade dos

    alunos de Ensino Fundamental e Mdio. Na seo seguinte, trataremos de relatar parte dessa

    experincia.

    1.1. Na escola, a oralidade como objeto de ensino

    5 Na anlise lingustica, sugerimos, conforme Marcuschi (2001), as atividades de retextualizao, que permitem,

    na passagem do oral ao escrito e vice-versa, apreender conhecimentos sobre o continuum oralidade-escrita a

    partir das transformaes realizadas. No trataremos, contudo, neste artigo, desse tema. 6 ou paralingusticos (cf. MARCUSCHI, 1986).

    7 Pesquisa-ao desenvolvida em 2007/2008 no Colgio de Aplicao Joo XXIII (UFJF), quando uma das

    autoras, Profa. Tnia G. Magalhes, era professora do Colgio em questo.

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    A pesquisa citada pretendeu buscar novas metodologias para o desenvolvimento da

    oralidade letrada dos alunos, elencando os gneros orais adequados aos segmentos em questo

    por meio de sequncias didticas8 e atividades diversas com gneros orais em sala de aula,

    que proporcionaram o contato, a produo, a anlise e a apreenso de conceitos e prticas

    discursivas na modalidade oral. Relataremos, neste artigo, apenas as atividades destinadas ao

    Ensino Mdio.

    Utilizamos como metodologia, numa perspectiva qualitativa, a pesquisa-ao

    (KEMMIS & MC. TAGGART, 1988). Ela se caracteriza por a) ser desenvolvida pelo prprio

    professor/pesquisador e no por um pesquisador externo, que apenas observa, descreve e

    compreende o fenmeno; b) ser colaborativa, pois o professor/pesquisador est inserido no

    contexto a ser pesquisado; c) ter objetivos de mudanas, pois h uma interveno na realidade.

    Utilizamos, como instrumento de coleta de dados, observao, gravao em vdeo e udio e

    notas de campo. Para esses autores, a motivao inicial para desenvolver esse tipo de pesquisa

    mudar o sistema, facilitado pela participao do professor em todo o processo, refletindo

    criticamente sobre sua ao e aprimorando sua prtica.

    A partir da constatao de que pouco se desenvolvem prticas de oralidade em sala de

    aula, tanto porque o livro didtico pouco estimula esse trabalho, quanto porque os professores

    no a enfatizam, percebemos que, no Colgio de Aplicao, a situao no era diferente: um

    claro privilgio de atividades de escrita. Nas sries iniciais, isso se d porque o perodo em

    que se consolida o processo de aquisio do cdigo escrito, e no Ensino Mdio, porque a

    escola se volta aos programas de vestibular.

    Para inserir o trabalho com a oralidade no currculo, propusemos um Mdulo9

    denominado Falar e ouvir: ampliando suas potencialidades comunicativas. O Mdulo tinha a carga horria de 50 minutos semanais (uma aula por semana) durante um trimestre

    10

    (aproximadamente 14 aulas de 50 minutos). Nessas aulas, fizemos realmente um ensino de

    oralidade, desenvolvendo as atividades que enfocavam a preparao prvia, a produo oral, a

    escuta e a avaliao da produo, bem como a anlise lingustica da modalidade falada. Vale

    destacar que os estudantes escolhiam os Mdulos que queriam cursar (a partir de uma grande

    oferta de temas nas mais diversas reas do conhecimento), j que eles faziam parte da carga

    horria curricular. Alm disso, os Mdulos envolviam alunos do 1 ao 3 anos do EM, uma

    vez que eles no eram definidos por srie e, sim, por interesse.

    Para facilitar a anlise de nossos dados, elencamos, abaixo, algumas categorias.

    a) Observao na escola e levantamento (por questionrio) dos gneros mais recorrentes

    Nessa etapa, observamos raras abordagens com a oralidade em todo o corpo docente.

    O gnero textual mais desenvolvido na escola o seminrio. Dos 18 professores que

    responderam ao questionrio, 100% trabalham com apresentao de trabalho ou seminrio,

    sem, contudo, dar orientaes para isso (em geral, os docentes dividem os temas entre os

    alunos e marcam a data para apresentao; em seguida, afirmam que o seminrio deve ser

    8 Cf. Schneuwly e Dolz (2004).

    9 Os Mdulos de Desenvolvimento de Competncias (MDC) fizeram parte de um Projeto de Reforma Curricular

    do Ensino Mdio do Colgio de Aplicao Joo XXIII (UFJF). Tal reforma comeou a ser discutida em 1999 e

    foi implantada em 2003. Tinha a proposta de flexibilizao da antiga grade curricular, de modo que pudessem

    ser construdos espaos de prticas sustentadas numa abordagem mais integrada dos contedos, prticas mais

    participativas, um novo modelo de avaliao e o envolvimento mais estreito com a atividade de pesquisa e

    reflexo. 10

    O Colgio de Aplicao Joo XXIII, diferentemente de muitas escolas, distribui sua carga horria anual em

    trs trimestre letivos.

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    formal, utilizar linguagem culta e se for necessrio, usar suportes; na avaliao, analisam se os

    alunos usaram linguagem adequada e se o contedo foi bem transmitido).

    Alm disso, identificamos dois trabalhos realizados com a oralidade nas sries iniciais:

    a leitura dramatizada11

    e a contao de histrias, que privilegiam produes orais menos

    comuns.

    Nos questionrios, como j era esperado, os professores relatam como atividades de

    oralidade a leitura de textos, a correo de exerccios oralmente o que, para ns, no se configura como prtica de oralidade, conforme defende Marcuschi (1997), e as discusses em grupo ou conversar com colegas, que so atividades na modalidade oral, mas no a enfocam como objeto de ensino.

    b) Aplicao de questionrio aos alunos do Mdulo

    Inicialmente, investigamos as crenas dos alunos sobre a fala e os consultamos sobre

    quais gneros gostariam de aprender, adequados formao escolar. Nessa etapa, percebemos

    o quanto de lacuna a escola apresenta na formao lingustica dos alunos, pois est centrada

    na perspectiva da dicotomia, considerando fala e escrita como duas lnguas diferentes, na superioridade da escrita e na falta de significado da aprendizagem da oralidade.

    c) Desenvolvimento de atividades de oralidade

    Cientes das crenas e desejos dos alunos e aliados aos pressupostos tericos que

    elencamos durante a realizao da pesquisa, desenvolvemos diversas atividades que

    enfocavam o ensino de oralidade. Inicialmente, procedemos a uma apresentao individual:

    nesta atividade, os alunos, sem preparao alguma, apresentam-se para os colegas, falando

    sobre si mesmos, sua famlia e seu convvio social; falam sobre a vida escolar e profissional; a

    apresentao filmada. Em seguida, assistimos tais apresentaes para ressaltar

    caractersticas da oralidade: tom de voz, entonao, velocidade da fala, ausncia de

    planejamento e ausncia de uso de suportes criando dificuldades na fala improvisada,

    expresso corporal e facial como construtoras de significados na interao. Alm disso,

    tratamos, com os adolescentes, da aceitao da prpria imagem, uma vez que, na fala pblica,

    ela fica em evidncia, o que conflita com a timidez de muitos e a crtica tpica dessa faixa

    etria.

    Durante as aulas seguintes, fizemos exerccios relativos oratria, em que eram

    dados exerccios de respirao, dico, postura, de velocidade da fala e de entonao, bem

    como de expresso corporal e facial como constitutivas da significao. Fizemos tambm

    atividades de leitura oral para apresentao ao pblico, de forma que os alunos ficassem

    conscientes da necessidade de uma boa entonao, das nfases, da pontuao adequada para a

    plena compreenso da leitura por uma plateia. Nesses exerccios, em que enfocamos as

    atividades prosdicas, os alunos puderam aliar seus conhecimentos gramaticais (como o uso

    de vrgulas e pontuao na escrita) aos de oralidade, percebendo como uma leitura oral feita

    de forma adequada, com as necessrias pausas e entonao, produz sentido para o ouvinte.

    Os alunos escolheram conhecer e aperfeioar os gneros textuais orais seminrio,

    mesa-redonda, debate e palestra. Para tanto, realizamos atividades de preparao prvia,

    produo do texto, escuta e anlise da lngua.

    11

    Um relato sobre as atividades prosdicas como a leitura dramatizada encontra-se em

    http://www.editoraufjf.com.br/revista/index.php/revistainstrumento/article/viewFile/1186/964

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    Propusemos, para a escuta, uma palestra sobre Variao Lingustica em que os alunos

    tiveram a oportunidade de receber um renomado professor da UFJF12

    . Antes da palestra, eles

    pesquisaram sobre o tema em questo, leram uma pequena biografia do professor e

    elaboraram possveis perguntas, sob orientao da professora do Mdulo, para serem

    propostas no momento da palestra. Tratamos da importncia de conhecer o tema, do

    comportamento adequado, da formalidade do gnero e da interveno dos alunos nesse evento

    que, em geral, feita ao final. No momento de escuta da palestra, os alunos portaram-se como combinado, fazendo suas perguntas ao final, usando, para isso, a variedade adequada. A

    recepo dos alunos ao professor e ao tema tratado foi extremamente proveitosa.

    Na mesa-redonda, que tratou de temas relativos s profisses universitrias (j que os

    alunos estavam no EM e, em breve, fariam vestibular) procedemos da mesma forma:

    preparao com pesquisa aos temas escolhidos (no caso, profisses), seleo de convidados,

    elaborao de perguntas. Durante a escuta da mesa-redonda, os alunos fizeram perguntas aos

    convidados, utilizaram variedades adequadas e entenderam a estrutura de participao do

    evento. Nas aulas seguintes, procedemos a uma avaliao dessa atividade, examinando se os

    alunos portaram-se de forma adequada e se fizeram intervenes e colaboraes apropriadas.

    Nesse sentido, entenderam que ouvir uma palestra ou uma mesa-redonda requer certa preparao, ao contrrio do que feito, em geral, nas escolas.

    No seminrio e no debate, em que os alunos participaram ativamente como

    produtores do texto oral, procedemos preparao prvia como coleta de material, diviso de

    grupos, estudo dos temas escolhidos, treinamento da fala (voltando aos exerccios de leitura

    oral, de entonao da voz, exerccios de dico, questes de postura e manuseio de suportes

    diversos). No caso do debate, assistimos a um da rede MTV (sobre aborto), em que Lobo, o

    mediador, no realiza seu papel e, por isso, o debate ocorre de forma to desorganizada que os

    participantes no se entendem, ou seja, o debate perde seu objetivo. Nessa atividade, fizemos

    um longo exerccio de anlise das vrias partes do debate, da participao dos convidados, das

    caractersticas da fala e da argumentao. Em seguida, os alunos realizaram um seminrio e

    participaram de um debate em que foram filmados, para, nas aulas seguintes, haver escuta dos

    eventos e se proceder s devidas anlises (se as questes de prosdia foram adequadas, se os

    suportes usados contriburam com a apresentao, se a participao dos alunos foi bem

    distribuda em termos de tempo planejado para cada fala, se cumpriram o objetivo

    comunicativo dos gneros seminrio e debate, etc). Na avaliao, a professora comenta

    pequenos deslizes que foram cometidos nas apresentaes, para que, nas outras produes

    orais, no sejam cometidos novamente.

    d) Avaliao dos resultados com os professores do Colgio: na avaliao que fizemos da

    pesquisa, solicitamos aos professores de diversas disciplinas dos alunos matriculados no

    Mdulo Falar e ouvir: ampliando suas potencialidades comunicativas que avaliassem os alunos em seus seminrios (em disciplinas como Biologia, Histria, Geografia e Literatura).

    Os professores perceberam um desempenho melhor dos alunos que cursaram o Mdulo, em

    comparao com outros alunos da sala, avaliando os seguintes critrios: uso de recursos

    audiovisuais pertinentes e bem elaborados, entrega de roteiro impresso para os ouvintes,

    diviso adequada do tempo entre os integrantes do seminrio e, principalmente, adequao ao

    gnero seminrio, em que o aluno domina um tema, torna-se especialista nele e o expe a

    12

    Contamos, no Colgio Joo XXIII, com a presena do saudoso Prof. Dr. Mario Roberto L. Zgari, falecido em

    15/05/10 , professor e pesquisador da UFJF desde 1965. O professor contribuiu com a formao de vrias

    geraes da atual Faculdade de Letras da UFJF.

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    uma plateia. Alm disso, houve uso de linguagem apropriada ao gnero, domnio da oratria

    com adequada entonao, utilizao do espao da sala e expresso corporal e facial adequada.

    Alunos que no participaram desse Mdulo, em contrapartida, fizeram leitura em voz alta de

    trechos recortados, divididos entre colegas, o que configuraria como uma oralizao da

    escrita, como geralmente se v na apresentao de seminrios.

    e) Avaliao dos resultados com os alunos do mdulo: notamos, de forma geral, uma

    excelente aceitao de todas as atividades do Mdulo e satisfatrios resultados obtidos com as

    atividades propostas. A totalidade dos alunos colocou em prtica os recursos prosdicos

    ensinados, monitorando a prpria fala, adequando a linguagem a uma situao mais formal de

    uso, pouco comum na fase em que se encontram. Alm disso, demonstraram, no seminrio e

    no debate, bastante domnio dos temas, uma vez que houve, na preparao prvia, pesquisa de

    material, seleo de trechos e treinamento para a produo. Mesmo os que leram trechos,

    tomaram o cuidado de distribuir o olhar para a plateia e fazer as devidas nfases e entonaes,

    a fim de que houvesse compreenso. Todos utilizaram recursos audiovisuais adequados, o que

    deixou as apresentaes mais interessantes e claras. Quanto aos alunos ouvintes, mostraram

    respeito e interesse pelas produes orais. Foi perceptvel a timidez de alguns, mas nada que

    atrapalhasse o andamento de qualquer atividade.

    Nessa pesquisa, pudemos entender, assim, que o ensino da oralidade se reflete em

    todas as esferas de saber do aluno, contribuindo para a ampliao de sua competncia

    discursiva. Desse modo, reforamos a defesa de uma abertura da escola para o ensino da

    oralidade, adotando a perspectiva de lngua como um feixe de variedades, que promover

    melhor compreenso e aceitao das diferenas dialetais, que passamos a abordar.

    2. Educao sociolingustica

    Do ponto de vista da educao sociolingustica, a questo crucial consiste em se

    introduzir, no trabalho escolar com lngua portuguesa, o princpio da heterogeneidade

    lingustica e suas consequncias. Nesse caso, a variao passa a ser vista como fenmeno

    natural e legtimo, o que determina a construo de crenas positivas, no aluno e no professor,

    relativamente competncia dos falantes nativos. Correo e erro adquirem significado

    diferente do tradicionalmente praticado na escola. O investimento do professor se dar a partir

    do que o aluno j sabe, isto , orientar seu trabalho na formao do leitor maduro e

    competente nas prticas de letramento ampliadas na direo das multimodalidades utilizadas

    na sociedade moderna. Nesse sentido, assim se expressa Rojo (2009, p. 107): Um dos objetivos principais da escola justamente possibilitar que seus alunos possam participar das

    vrias prticas sociais que se utilizam da leitura e da escrita (letramentos) na vida da cidade,

    de maneira tica, crtica e democrtica. Infelizmente, porm, podemos dizer que tal objetivo permanece, frequentemente ainda

    inalcanado na escola brasileira. Isso porque h que se desconstruir, preliminarmente, uma

    srie de preconceitos fundados numa concepo equivocada de lngua como fenmeno

    estvel; de lngua padro como modelo fundado na ideologia do melhor, do socialmente

    reconhecido como legtimo, cristalizado no exemplo modelar a ser seguido, ainda que esse

    modelo tenha se constitudo noutros contextos scio-histricos, cuja prevalncia na contemporaneidade no faz mais sentido.

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    O ponto de partida parece ser o reconhecimento de que, como adverte Bakhtin (2006),

    conforme j foi discutido no item 2 deste artigo, a linguagem um produto da atividade

    humana coletiva e que, portanto, no se desvincula do contedo ideolgico dos grupos sociais

    que a utilizam. Desse modo, fica ela sujeita s alteraes determinadas pelos falantes que a

    utilizam, todos eles, como lembrado acima, sujeitos s determinaes da scio-histria.

    A Sociolingustica aponta nessa direo evidenciando as relaes entre lngua e

    sociedade. Nesse caso, todas as estruturas lingusticas utilizadas por falantes, sejam elas quais

    forem, sejam eles quem forem, so legtimas e como tal devem ser reconhecidas. Perini (2010,

    p. 21), discutindo essa questo assegura ser legtima toda e qualquer ocorrncia lingustica em

    uso: Para ns, certo aquilo que ocorre na lngua. Labov (2008), em suas pesquisas sobre o tratamento dado ao [r] em posio ps-

    voclica pelos vendedores das lojas de Nova York, concluiu haver estreita relao entre o

    padro scio-econmico do falante e suas escolhas lingusticas. No Brasil, dentre inmeras outras estruturas, a ausncia sistemtica de concordncia de nmero nos sintagmas nominais

    constitui um esteretipo que se correlaciona com o nvel scio-econmico do falante.13

    A variao e a mudana so, portanto, dois fenmenos que devem subsidiar o trabalho

    com a linguagem na escola. As atividades didticas que, pelo menos, no inclurem esse

    pressuposto so, no mnimo, ingnuas e improdutivas quanto ao desenvolvimento de

    competncias de uso da lngua.

    Temos que reconhecer, no entanto, que esta no uma tradio, tanto na escola

    brasileira, quanto na de outros pases, justamente porque a reflexo sociolingustica e todas as

    consequncias derivadas da lingustica da enunciao, olhadas na dimenso da histria da

    Lingustica e sua influncia no trabalho escolar com a lngua, so relativamente recentes. Da

    a necessidade de se investir nessa rea, construindo, num trabalho conjunto com os

    professores que atuam no Ensino Fundamental, principalmente, mas tambm no Ensino

    Mdio, uma reflexo fundamentada nesses princpios, de modo que favorea a construo de

    metodologia eficaz para se promover uma educao lingustica capaz de realizar a importante

    tarefa de formar alunos que conquistem sua autonomia nas prticas de letramento da

    sociedade moderna.

    Nesse caso, as atividades escolares devem estar centradas, prioritariamente, na

    formao do leitor e do escritor maduros, que sabem recorrer teoria gramatical como apoio

    seleo de estruturas e recursos discursivos para tornar sua expresso lingustica mais

    eficiente e produtiva na sua interao com o leitor ou interlocutor. Ou ainda, para ser capaz de

    interagir com o texto, buscando reconhecer os efeitos de sentido que por ali transitam. Nesse

    sentido, afirma Possenti (200l, p. 9): O verdadeiro problema da escola no acertar a forma gramatical. O verdadeiro problema que de cidadania, de insero de circulao pelos discursos. O que se poderia dizer que esse um problema de leitura e de escrita.

    Ensinar a ler e a escrever deve ser um processo integrado a um saber lingustico

    anterior, isto , um processo que no pode desconhecer a competncia lingustica que o aluno

    j adquiriu ao longo de sua vida, centrado nas experincias vividas na sua rede social. Nela

    veicula, obrigatoriamente, uma ideologia, um certo conjunto de ideias e de crenas que do

    unidade quele determinado grupo. A lngua est impregnada dessa cultura e, desse modo,

    carrega e revela essas experincias ao longo do processo histrico em que ela se constitui,

    alterando-se, enriquecendo-se, peculiarizando-se, segundo as dimenses sociais em que

    utilizada.

    13

    Sobre indicadores, marcadores e esteretipos, v. Labov, 1972.

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    As variedades lingusticas, ou diferenas dialetais, so o resultado dessa complexa e

    diferenciada constituio e vo sendo marcadas e reconhecidas a partir de determinado

    critrio de valorizao/desvalorizao dos grupos sociais que as utilizam. Nas sociedades em

    que as diferenas econmicas esto na base da constituio desses grupos, como o caso do

    Brasil, o valor positivo atribudo s variedades lingusticas diretamente proporcional a essas

    diferenas. Bortoni-Ricardo (2005, p. 131) esclarece:

    No Brasil, a variao est ligada estratificao social e dicotomia rural-

    urbano. Pode-se dizer que o principal fator de variao lingustica no Brasil

    a secular m distribuio de bens materiais e o consequente acesso restrito da

    populao pobre aos bens da cultura dominante. Diferentemente de outros

    pases, como os Estados Unidos, por exemplo, a variao lingustica no

    um ndice sociossimblico de etnicidade, exceto nas comunidades bilingues,

    sejam as de colonizao europeia ou asitica, sejam as das naes indgenas.

    Na escola pblica brasileira, principalmente, cujos alunos, em geral, pertencem a

    comunidades de falantes de variedades lingusticas menos valorizadas, porque seu grupo

    social tambm o , esse deve ser um importante pressuposto do planejamento dos professores.

    Isso para que no ocorra que suas aulas no incluam aqueles para quem foram planejadas, do

    que pode resultar um trabalho no vazio, que no promova o desenvolvimento de competncias

    de uso das outras variedades ainda desconhecidas de seus alunos.

    2.1. Os desafios da sala de aula

    Isso posto, passemos a refletir sobre o que possvel fazer para se superar a tradio

    paralisante do trabalho com a linguagem na escola, do ponto de vista da ausncia de uma

    pedagogia da variao lingustica para o desenvolvimento de competncias.

    Em importante obra elaborada sobre as relaes entre lngua, cultura e sociedade,

    Hanks (2008, p. 36) utiliza dois conceitos de Bourdieu (1985), que retomaremos aqui. O

    primeiro deles o de habitus, assim explicitado:

    Em princpio, o habitus diz respeito reproduo, na medida em que ele

    explica as regularidades imanentes prtica. O habitus explica a

    regularidade tendo como parmetro a incorporao (embedding) do

    agente ao mundo social e o fato de os atores serem socialmente

    constitudos por orientaes e formas de ao relativamente estveis. [...]

    Atravs do habitus, o social fica impresso no individual, no apenas nos

    usos mentais, mas, sobretudo, nos usos corporais.

    A constituio do habitus est ligada, explica o autor, cotidianeidade do falante nas

    suas prticas sociais, o que acaba influenciando sua linguagem, seu modo de falar, os gestos

    que acompanham sua expresso lingustica e seu empenho na comunicao. Pode-se deduzir

    que o habitus se corporifica de maneira automtica, sem apoio em regras ou explicitaes,

    mas vai se automatizando, como esquemas incorporados.

    O outro conceito bourdesiano (1985) atualizado por Hanks (p. 43-44) o de campo,

    assim explicado:

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    Tal como definido na teoria da prtica, um campo uma forma de

    organizao social que apresenta dois aspectos centrais: a) uma configurao

    de papis sociais, de posies dos agentes e de estruturas s quais essas

    posies se ajustam; b) o processo histrico no interior do qual estas posies

    so efetivamente assumidas, ocupadas pelos agentes (individuais ou

    coletivos).

    Nos campos, circulam valores como prestgio, reconhecimento e autoridade, mas

    tambm riqueza material e capital. Ao produzirem seu discurso, os falantes vo marcando sua

    posio nos diferentes campos sociais. Quando acima dissemos que a constituio e expresso

    do habitus automtica, sem obedincia a regras, ficou implcita, portanto, sua relao com

    essa noo de campo. Isso significa que, na verdade, como esclarece Hanks (p. 44), [...] os falantes so constitudos pelo campo.

    Podemos esclarecer melhor essa questo, retomando Bakhtin (2006, p. 96), ao

    explicitar a noo de signo correlacionada de sinal. S existe signo relacionado ao contexto

    de produo: [...] para o locutor, a forma lingustica no tem importncia enquanto sinal estvel e sempre igual a si mesmo, mas somente enquanto signo sempre varivel e flexvel.

    Este o ponto de vista do locutor. O campo de que nos fala Bourdieu corresponde, pois, organizao social, requerida por Bakhtin, necessria para que o signo se constitua como tal.

    Por isso mesmo afirma esse ltimo autor que todo signo ideolgico e que sem signo no

    existe ideologia.

    Os conceitos de habitus, campo e signo ideolgico, como se pode deduzir, so muito

    produtivos na reflexo sobre o trabalho com a linguagem na escola. Em primeiro lugar,

    porque tornam evidente o que no tem sido levado em considerao nesse trabalho: o fato de

    que a linguagem produto cultural e reflete, portanto, a realidade do falante, seu lugar social,

    suas experincias como membro de determinado grupo, seja de que categoria for. Em segundo

    lugar, e como consequncia do primeiro, o fato de que a lngua deve ser tratada na escola

    como sujeita a variao, de tal modo que o ensino, partindo desse pressuposto, estabelea,

    como valor a ser alcanado pelo aluno, a competncia de transitar pelas diferentes variedades.

    Como resultado ainda desses conceitos, conforme lembrado acima, a reconstruo do sentido

    de certo e errado em linguagem, substituindo a noo tradicional - que reconhece como certas

    apenas as estruturas utilizadas pelo chamado falante culto - pela de adequao ao contexto de

    produo. Desse modo, considerada a noo de campo explicitada por Bourdieu, no h como

    negar ser a expresso lingustica um produto cultural e, portanto, material criativo que produz

    histria.

    Essas consideraes fortalecem a discusso que se tem construdo, nas universidades

    brasileiras, sobre a urgente necessidade de se corrigirem as distores que vm sendo

    sustentadas pela tradio escolar. Sem dvida, a formao do professor em Sociolingustica

    Educacional uma das condies sine qua non para se chegar a bons resultados. Ele deve ser

    capaz de construir uma pedagogia da variao lingustica (v. FARACO, 2008) que d conta

    dessa inovao.

    Pesquisa-ao/UFJF/FAPEMIG, realizada em salas de aula de uma escola pblica

    municipal de Juiz de Fora, durante os anos de 2009 e 2010, no mbito do grupo de pesquisa

    FALE (Formao de Professor, Alfabetizao, Linguagem e Ensino), do NEEL (Ncleo de

    Estudos de Educao e Linguagens) da Faculdade de Educao da UFJF, possibilitou

    chegarmos a constataes sobre a exequibilidade dessa metodologia.

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    O trabalho, envolvendo professores de portugus de 5, 6 e 7 anos, partiu do

    reconhecimento dos recursos lingusticos dos alunos como expresso de sua realidade, de sua

    rede social, de seu cotidiano, de suas prticas sociais, de seu habitus. O trabalho com esse

    material lingustico adotado como legtimo levou-nos ampliao desse repertrio.

    Os recursos discursivos para expresso de polidez, por exemplo, constituram uma das

    questes trabalhadas. Os prprios alunos foram convidados a pesquisar, no seu grupo social,

    se se usavam essas expresses; em caso positivo, quais eram elas, quais falantes a utilizavam

    e em que situaes. Em seguida, eram analisados os efeitos de sentido obtidos com a

    utilizao de tais recursos.

    A concordncia nominal e a concordncia verbal foram tambm tema de reflexo,

    atravs de anlises contrastivas de estruturas com presena ou ausncia desse processo. As

    anlises eram sempre acompanhadas do reconhecimento dos efeitos de sentido determinados

    por essas escolhas, tendo ficado evidenciada a capacidade de os alunos reconhecerem os

    papis sociais dos falantes usurios de uma ou de outra estrutura. A noo de prestgio ligada

    a esse tipo de variante foi se evidenciando medida que tais atividades escolares com a lngua

    iam sendo realizadas, com a mediao do professor consciente, sensvel a essa pedagogia da

    variao lingustica. Os alunos manifestavam seu reconhecimento da existncia/inexistncia,

    em seus grupos sociais, de certas estruturas morfossintticas que as prticas escolares de

    letramento iam apontando como sendo caractersticas das esferas scio-culturais das quais

    eles no participavam, mas que gozam de prestgio entre os falantes do portugus brasileiro.

    Tambm as variantes fonolgicas iam sendo facilmente reconhecidas como

    estigmatizantes ou no. Tal o caso da vocalizao da palatal lateral [], marca da variedade rural, rejeitada na chamada fala urbana comum (PRETI, 1997).

    Outros itens, tanto no mbito da morfossintaxe, quanto da fontica/fonologia e do

    domnio lexical puderam ser tratados a partir de anlises contrastivas, sempre com remisso

    aos efeitos de sentido e identificao com os papis sociais dos falantes, em consonncia

    com a proposio de Bourdieu sobre a noo de campo, conforme vimos acima.

    Todo o trabalho esteve associado prtica de leitura e escrita de gneros textuais orais

    ou escritos, como o debate regrado, o jornal falado, a entrevista, a leitura e

    construo/recitao de trovas, de narrativas, etc. Acreditamos que a familiarizao dos

    alunos com gneros pouco conhecidos no seu ambiente familiar e no seu grupo social, amplia

    e altera no apenas sua expresso lingustica mas tambm, como acima visto na referncia de

    Bourdieu, seu modo de falar, os gestos que acompanham sua expresso lingustica e seu empenho na comunicaoe, impressionante, at mesmo seus gestos e movimentos corporais! ! Remetemos, por exemplo, ao que est relatado no item 2.1 deste artigo,

    relativamente s prticas de oralidade desenvolvidas por aqueles alunos. As novas atividades

    de linguagem proporcionadas pela escola, se passarem a fazer parte da cotidianeidade dos

    alunos e das suas vivncias sociais, podem provocar mudanas no seu cotidiano, no seu

    habitus, possibilitando o reconhecimento de sua participao, em outras prticas sociais de

    letramento.

    Portanto, quando a expresso lingustica se amplia e o falante reconhece a utilidade de

    aumentar seus recursos expressivos para, caso lhe interesse, desempenhar papis sociais, antes

    inacessveis, essa mudana passa pela aquisio de novos habitus. Lembramos aqui a

    expresso de Gnerre (1994, p. 6) que j se tornou lapidar: [...] uma variedade lingustica vale o que valem na sociedade os seus falantes, isto , vale como reflexo do poder e da autoridade que eles tm nas relaes econmicas e sociais.

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    Nesse ponto, necessrio fazer uma observao sobre a dificuldade exponencialmente

    maior dos alunos de escolas pblicas, em geral, provenientes de redes sociais cuja variedade

    lingustica se distancia muito mais da variedade culta, do que aquela falada pelos alunos de

    escolas particulares em geral. Estes ltimos, em sua grande maioria so usurios da variedade,

    identificada pelo projeto NURC (PRETI, 1997), como urbana comum, de modo que sofrem,

    por isso mesmo, presses muito menores na escola.

    A desconsiderao dessa realidade , sem dvida, um dos fatores do fracasso escolar,

    ou na melhor das hipteses, dos resultados insuficientes no processo de ampliao de

    competncias desses falantes. O jornal Folha de So Paulo, de 28/08/2011 trouxe resultados

    de pesquisa realizada pelo movimento Todos pela Educao. A avaliao, denominada Prova

    ABC, foi aplicada em 6.000 alunos que concluram o 3 ano do Ensino Fundamental em todas

    as capitais do Pas. A reportagem informa: Mais do que as deficincias substantivas constatadas na pesquisa, o abismo entre os alunos de escolas pblicas e os das particulares o

    que chama a ateno. E acrescenta:

    Nas escolas pagas, das crianas atingiram os resultados esperados em

    matemtica; a porcentagem reduziu-se a 43% entre os alunos da rede pblica.

    Disparidades gritantes tambm se manifestaram nos testes de leitura (79%

    contra 49%) e de escrita (82% contra 53%).

    Se considerarmos que a linguagem perpassa todas as reas de conhecimento

    trabalhadas na escola, fica a grave suspeita de que a ausncia do tratamento adequado da

    dimenso sociolingustica pode ter sido um dos fatores determinantes desses resultados. A

    grande questo consiste na ampliao de competncias, e no na restrio do uso de variantes

    lingusticas. A escola precisa reconhecer, conforme lembramos acima, a legitimidade de

    quaisquer variantes, sendo esse reconhecimento fundamental para a construo de crenas

    positivas dos alunos na sua competncia como falantes. Essas crenas so decisivas na

    construo de atitudes lingusticas propiciadoras da aprendizagem de novos recursos de

    expresso.

    Tornando-se falantes competentes de qualquer variedade lingustica, prestigiada

    socialmente ou no, os alunos tero acesso a todos os campos sociais, segundo a denominao bourdesiana, e a escola estar cumprindo seu papel de promover a formao da

    cidadania participativa na construo da sociedade moderna. O trabalho escolar com a lngua

    portuguesa estar, desse modo, sendo exercido na dimenso responsiva do dilogo

    compreendido na sua acepo plena, conforme ensina Bakhtin.

    Consideraes finais

    Acreditamos no ensino que prope objetivos claros para a aprendizagem da lngua

    portuguesa, assumindo programas dinmicos e sistematizando conhecimento em termos de

    habilidades e aes voltadas ao uso e reflexo. Para que tenhamos uma escola que se

    constitua como espao de saber, de cultura e de cincia, promovendo o aprendizado,

    precisamos repensar as prticas pedaggicas, adotando uma perspectiva de lngua heterognea.

    Nesse sentido, as atividades aqui apresentadas podem conferir ao aluno um

    aprendizado bastante consistente no que tange Educao Lingustica. De fato, o

    desenvolvimento de atividades de reflexo resulta em um melhor desempenho em diversas

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    prticas sociais, inclusive na modalidade escrita, bem como nas regras sociais que regulam as

    cenas comunicativas orais.

    Como consequncia, desejamos que sejam revistos currculos e materiais didticos,

    principalmente os livros didticos que, por diversos fatores, abarcam poucas atividades de

    oralidade. O que agrava esse fato que, em geral, d-se mais nfase s atividades de escrita

    no Ensino Mdio, em funo do vestibular, foco do trabalho nesse segmento, em detrimento

    daquilo que consideramos essencial, como a ampliao progressiva de habilidades de uso e

    reflexo, adquiridas ao longo da vida escolar.

    Nesse sentido, reforamos a idia de que a Escola um lugar que promove o ser

    humano, fazendo-o refletir e agir sobre sua realidade, em vez de apenas aceit-la ou adaptar-

    se a ela.

    ABSTRACT: This paper is aimed at presenting some reflections on the process of mother tongue teaching in the

    school context, by especially focusing on two key aspects: the oral variety (MARCUSCHI, 2001;

    SCHNEUWLY E DOLZ, 2004) and the language variation (BORTONI-RICARDO, 2004). First, the theoretical

    questions regarding these topics are presented and then the results of the research carried out within the group

    entitled GRUPO FALE/UFJF are shown, with a focus on the action research approach. The results show that implementing a set of competences in using the Portuguese Language is possible. The importance of integrating

    research, continued teacher formation and thorough interventions within an interactional framework is also

    pointed out.

    Keywords: portuguese language teaching; oral skills; language variation.

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