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Ficha Técnica Edição Escola Secundária de Sampaio Centro de Recursos Educativos Redacção e colaboração Idalina Costa Isabel Gouveia Eurico Gonçalves Sara Figueira (12º D) Grafismo e Paginação Luís Varela Contactos Tel: 212688160 (Ext. 308) Fax: 21 268 81 79 http://becresampaio.wordpress.com O Surrealismo é um movimento de intervenção poética, que aspira à libertação total do homem, de acordo com as suas mais profundas aspirações, convicções e inquietações interiores. Ao assumir a Arte como um meio de expressão livre e criativa, o Surrealismo exalta a imaginação sem fronteiras que, segundo Baudelaire, permanece a "rainha das faculdades", à qual André Breton se referiu nos seguintes termos: "Querida imaginação, o que eu mais aprecio em ti é que tu não perdoas" ou, como diz Mário Cesariny, "Só a imaginação transforma; a imaginação transtorna". Dalila D'Alte Rodrigues no catálogo da exposição de Eurico Gonçalves no Palácio Galveias Edição nº 22 Abril/Maio de 2010 Dia M undial do S orriso Dia M undial do S orriso ································ ································ ············· ············· 2 2 Eurico Gonçalves Eurico Gonçalves ································ ································ ···················· ···················· 4 4 Eurico Gonçalves na BE Eurico Gonçalves na BE ································ ································ ············ ············ 6 6 Palavr as do A rtista Palavr as do A rtista ································ ································ ················· ················· 7 7

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Ficha Técnica

Edição Escola Secundária de Sampaio Centro de Recursos Educativos

Redacção e colaboração

Idalina Costa Isabel Gouveia

Eurico Gonçalves Sara Figueira (12º D)

Grafismo e Paginação

Luís Varela

Contactos Tel: 212688160 (Ext. 308)

Fax: 21 268 81 79

http://becresampaio.wordpress.com

O Surrealismo é um m o v i m e n t o d e intervenção poética, q ue as p i r a à libertação total do

homem, de acordo com as suas mais profundas aspirações, conv icções e inquie tações interiores. Ao assumir a Arte como um meio de expressão livre e criativa, o Surrealismo exalta a imaginação sem fronteiras que, segundo Baudelaire, permanece a "rainha das faculdades", à qual André Breton se referiu nos seguintes te rmos: "Querida imaginação, o que eu mais aprecio em ti é que tu não perdoas" ou, como diz Mário Cesariny, "S ó a imaginação trans f orm a; só a imaginação transtorna".

Dalila D'Alte Rodrigues no catálogo da exposição de Eurico Gonçalves no Palácio Galveias

Edição nº 22 Abril/Maio de 2010

Dia Mundial do SorrisoDia Mundial do Sorriso · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · ·· · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · ·· · · · · · · · · · · · · 22

Eurico GonçalvesEurico Gonçalves · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · ·· · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · ·· · · · · · · · · · · · · · · · · · · · 44

Eurico Gonçalves na BEEurico Gonçalves na BE · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · ·· · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · ·· · · · · · · · · · · · 66

Palavras do A rtistaPalavras do A rtista · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · ·· · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · · ·· · · · · · · · · · · · · · · · · 77

Ele há “dias mundiais ou internacionais” para tudo o que é raro, minoritário, desfavorecido ou em riscos de extinção. Então, e o sorriso? Num país de gente sisuda e carrancuda, nunca é demais assinalar a importância do sorriso. Aproveitando o facto de 29 de Abril ser o “Dia Mundial do Sorriso”, aqui temos este número especial da nossa nota informativa. E ao sorriso associamos o surrealismo representado aqui por Eurico Gonçalves, um dos últimos pintores surrealistas vivos, que esteve na nossa escola de manhã e à tarde. O pintor apresentou a sua obra e orientou um “workshop”, dirigido sobretudo aos alunos de Artes, associando a palavra à pintura. Além do texto de uma aluna do 12º ano sobre o sorriso e a sua importância, encontrarás, neste número, um texto assinado pelo próprio Eurico Gonçalves, informações sobre o artista que nos honrou com a sua presença no dia 29 de Abril, o tal “Dia Mundial do Sorriso” e imagens do encontro e dos trabalhos realizados pelos alunos das turmas de Artes do 10º, 11º e 12º anos.

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S empre fui grande apreciadora de um sentido de humor bem aguçado e, por conseguinte, de uma gargalhada e um

sorriso agradável. Quem nunca deu por si a olhar embasbacado para uma fotografia que continha um sorriso ofuscante? Quantos sorrisos capazes de melhorar o nosso dia nos são dirigidos num mês? Considero que não é atribuída ao sorriso a importância a que tem direito. Que parar e pensar racionalmente na sua importância é algo que muito poucos fizeram. Vejamos, a maioria das pessoas define o sorriso como sendo uma forma de expressar a nossa alegria, mas será só isso? Algo que é t ido como tão precioso como o sorriso servirá apenas para isso? Já alguma vez alguém se perguntou sobre o que é realmente o sorriso? O sorriso existe há muitos séculos. Inicialmente, os primatas mostravam os dentes em tom de desafio, mas, se o fizessem ao mesmo tempo que emitiam uns sons estranhos, a mensagem deixava de ser agressiva e passava a ser um

convite para brincar – ou algo parecido com isso. Está cientificamente provado que, quando sorrimos, fazemos menos esforços, utilizamos menos músculos e não nos desgastamos tanto do que quando estamos “amuados”, portanto, pode sorrir a toda a hora, é bastante saudável.

“Impressão do encontro com um dos últimos pintores surrealistas vivos”

Professores e alunos da Escola Secundária de Sampaio – Sesimbra,

Antes de mais, agradeço o número significativo (mais de cinquenta) de alunos e professores do Ensino Secundário

que participaram com interesse na sessão teórico-prática de quatro horas (das 10 às 12 h e das 14.30 às 16.30 h), na Escola

Secundária de Sampaio, em Sesimbra, a convite da professora Isabel Gouveia, sobre Surrealismo, tema que

ilustrei com imagens projectadas e que motivou a experimentação de técnicas que estimulam a criatividade

da inesgotável imaginação de muitas obras surrealistas. Na prática, gostei muito das decalcomanias, trabalhos

individuais, que me surpreenderam pelo seu grau de sensibilidade e poder sugestivo da informal mancha

simétrica e policromática. Apreciei as colagens metafóricas surrealistas, trabalhos de grupo, que jogam com a livre

associação de imagens e palavras. Gostei menos dos

cadavre-exquis, desenhos colectivos, que exploram o acaso e, no âmbito da expressão livre inteiramente assumida, não

abdicam da consequente sensibilidade gráfica. É, aliás, aí que começa o desbloqueio da mente, designadamente no

cadavre-exquis verbal de perguntas e respostas, onde todas as respostas são válidas para qualquer pergunta e todas as

perguntas são válidas para qualquer resposta. «Só se é inteiramente livre, perante o Acaso»- Novalis.

É aí que começa o desbloqueio da mente e a poesia Verbal e Visual.

Nas três técnicas experimentadas, «a imaginação permanece a rainha das faculdades» -Baudelaire. «Só a

imaginação transforma; só a imaginação transtorna» -Mário Cesariny.

«Querida imaginação: o que eu mais aprecio em ti é que tu não perdoas» -André Breton.

O Surrealismo procura atingir o ponto do espírito onde o alto e o baixo, o interior e o exterior, o sonho e a realidade

deixam de ser percebidos contraditoriamente. É na fusão dos contrários que o Surrealismo atinge a afirmação plena

ou o Satori Zen.

As minhas melhores saudações para os professores e alunos da Escola Secundária de Sampaio onde fui bem recebido e

ouvido com muito interesse sobre um tema que me fascina desde a juventude.”

Eurico Gonçalves, 2010

No dia 29 de Abril, tal como tinha sido prometido, contámos com a presença do pintor Eurico Gonçalves na BE da nossa escola. De manhã, houve uma palestra muito ilustrada (ia dizer iluminada...) sobre as correntes e acontecimentos que deram origem ao Surrealismo, obras e artistas emblemáticos e casos notáveis de escritores-artistas como, por exemplo, António Maria Lisboa, Álvaro Lapa, Fernando Pessoa e Alberto Caeiro (que é Zen!!!!) Eurico Gonçalves falou do seu próprio percurso e do facto de a escola, por vezes, apenas ensinar os alunos a reproduzir e copiar. À tarde, houve uma oficina prática onde se experimentaram três técnicas para estimular a criatividade: a decalcomania, explorada pelos alunos do 12º ano, o cadavre-exquis, pelos alunos do 10º e o cartaz de associação entre texto e imagem resultante do acaso, do imprevisto, pelos alunos do 11º. Em breve, serão expostos, nas vitrinas da BE, os trabalhos realizados pelos alunos nesta oficina.

A tendência da maioria das pessoas é pensar que o sorriso só serve para demonstrar felicidade. Errado! Na verdade, o sorriso se rve para demonstrar satisfação. Podem parecer sinónimos, mas, se reflectirmos um pouco, concluímos que são diferentes. Por um lado, felicidade é quando nos sentimos “nas nuvens”, quando tudo parece perfeito, já satisfação é referente a alturas em que obtemos algo que queríamos, sem necessitarmos de “ir às nuvens”. É claro que há vários graus de satisfação, podendo o mais alto atingir a felicidade. Assim como há vários graus de satisfação, há vários tipos de sorriso. Uns mais abertos, outros carrancudos, forçados – “amarelos” –, cínicos – que podem ser facilmente detectados, tudo depende da perícia a quem se destina o sorriso ou da eficácia de quem o faz – e uns que exprimem superioridade, vitória, quando alguém “ganha” algo que significa muito, contra alguém com quem não tem muita afinidade, por exemplo. As sensações provocadas pelo sorriso dependem do tipo de sorriso que recebemos: se recebermos um aberto, feliz, sentimo-nos optimamente com o nosso interior e o dia parece que ganha mais luz; os sorrisos carrancudos, mal-humorados que, normalmente, são considerados

“amostras de sorrisos” provocam indiferença ou, nas pessoas mais sensíveis, um aperto de ofensa; normalmente, as pessoas que recebem um sorriso cínico ou se sentem com pena da pessoa que o fez, ou irritação, por ela pensar que os outros se deixam enganar facilmente; se nos for dirigido um sorriso vitorioso ou um do género “vês, eu bem disse”, podemos sentir-nos inferiorizados ou com o orgulho ferido. De qualquer das formas, este artigo é uma pequena reflexão feita por uma rapariga de 18 anos, tendo por base a sua pequena experiência de vida. Mas, mesmo sabendo deste pormenor, sorria bastante e a toda a hora, recorde-se que é saudável e provoca bem-estar ao seu redor.

Sara Figueira, 12º D

la sonrisa de una lágrima, Joan Miró, 1973

Eurico Gonçalves, nasceu em 1932 em Abragão, Penafiel. Pintor e crítico de arte, membro da AICA, aderiu ao surrealismo em 1949. Em 1950/51, escreveu e ilustrou numerosas narrativas de sonhos, textos automáticos e poemas, compilados em quatro cadernos manuscritos, parte deles posteriormente recuperados, numa edição de luxo: aí, palavras, desenhos, colagens e gouaches fundem-se numa só forma de expressão. Em alguns aspectos, a sua p intura aproximava-se já do neo-figurativo. Manifestando-se através do improviso, as suas figuras foram dando lugar a simples sinais gráficos, caligrafias abstractas, executadas fora de qualquer motricidade imposta do exterior, ou seja, uma pintura de sinais derivada do gestualismo, com resultados extremamente depurados. A partir de 1964, iniciou a publicação de artigos de divulgação e estudos sobre a expressão livre da criança, o dadaísmo, o "zen", e a Escrita. Em 1966/67, foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, em Paris, onde trabalhou com o pintor Jean Degottex. Em 1972, prefaciou uma importante exposição de pintura de Henri Michaux, em Lisboa. Neste ano, entrou para os corpos directivos da SNBA, ca rgo que terminaria em 1992. Em 1998, foi distinguido com o Prémio Almada Negreiros, atribuído pela Fundação Cultural Mapfre Vida a pintores portugueses. A sua obra Pintura Escrita, em acrílico e pastel de óleo sobre tela, foi escolhida entre mais de 340 trabalhos concorrentes pelo júri, reunido no Porto. Participou em inúmeras exposições de arte portuguesa e internacional e a sua obra encontra-se representada, nomeadamente, no Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian, no Museu do Chiado, na Culturgest, em Lisboa, no Museu Amadeo de Souza Cardoso, em Amarante, e na Fundação Cupertino de Miranda, em Famalicão.

Foi um dos precursores da “pintura gestual” (pintura de acção) em Portugal, dedicando-se igualmente a outras actividades relacionadas com a docência e a crítica de arte. Pintor, professor/formador e crítico de arte foi coordenador de expressão plástica do Centro Artístico Infantil da Fundação Calouste Gulbenkian, onde orientou cursos de monitores, especialmente dedicados a educadores, professores e estudantes de Belas-Artes. Links:

4 http://www.euricogoncalves.blogspot.com/ 4 http://www.bestartis.pt/detalhe.aspx?ido=3430 4 http://www.youtube.com/watch?v=vKxBpKGpc9c