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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O PAPEL DO GESTOR DE RH NO PROCESSO DE
INSERÇÃO DOS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA NO
MERCADO DE TRABALHO
Por: Leila Navarro de Santana
Orientador
Prof. Ms Mary Sue
Rio de Janeiro
2004
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
POS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU”
PROJETO A VEZ DO MESTRE
O PAPEL DO GESTOR DE RH NO PROCESSO DE
INSERÇÃO DOS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA NO
MERCADO DE TRABALHO
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como condição prévia para a
conclusão do Curso de Pós-Graduação “latu
sensu” em Gestão de Recursos Humanos.
Por:. Leila Navarro de Santana
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AGRADECIMENTOS
. . . aos amigos, parentes, colegas de turma, aos amigos especiais que me ensinaram e inspiraram, profissionais do IBDD, Roberto Pinto e João Carlos.
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DEDICATÓRIA
Dedico ao meu pai Edison, a minha mãe Tarcisa, minha tia Rosângela e ao meu lindo amor Antonio Luiz.
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RESUMO
Este estudo pretende apresentar o problema da inserção dos portadores de deficiência no mercado de trabalho. Para tanto, será feito um breve histórico de como a deficiência foi encarada da pré-história até a contemporaneidade. Terá também um enfoque na construção social acerca dos preconceitos e estigmas e suas conseqüências na construção da identidade dos portadores de deficiências. Para mostrar então, articulações acerca da importância da sociedade e das empresas na melhoria, aumento e realização efetiva das contratações, logo, inclusão dos portadores de deficiências no mercado de trabalho.
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METODOLOGIA Para a realização da monografia foi utilizadas pesquisas
bibliográficas, leituras de periódicos e observação do objeto de estudo.
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SUMÁRIO INTRODUÇAO 08
CAPÍTULO I - Uma Breve História sobre a Deficiência 09
CAPÍTULO II – Preconceito e Estigma 18
CAPÍTULO III – Empresa e sua Responsabilidade Social 23
CONCLUSÃO 31
BIBLIOGRAFIA 33
ANEXOS 34
FOLHA DE AVALIAÇÃO 35
ÍNDICE 36
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INTRODUÇÃO
No decorrer da história, os povos rejeitaram, estigmatizaram,
discriminaram e até exploraram os portadores de deficiência, os escondiam,
atribuíam às deformidades sentido divino ou pecaminoso. Assim sendo as
deficiências tem raízes no social e no sentido que as pessoas lhe oferecem.
Neste sentido o problema da dificuldade da inserção dos portadores de
deficiência no mercado de trabalho, é aqui visto como responsabilidade da sociedade,
das empresas e sua área de recursos humanos e das políticas públicas. Todos estão
envolvidos diretamente no processo. A falta de esclarecimento, preconceitos e
ausência de vontade de respeitar e viver o diferente, produz a estigmatização e o
isolamento os portadores de deficiência. Estas atitudes dificultam, a construção de
uma identidade independente, capaz e de igualdade na diferença.
Estudos mostram que a maioria dos portadores de deficiência querem
e podem trabalhar, porém, pouquíssimos conseguem um trabalho formal, com
vínculo e menos ainda permanecem neles.
O sistema de cotas é precário e não consegue deixar de estar apenas
no papel, suas falhas são utilizadas como justificativa de não contratação pelos
empregadores. Estes, carecem de esclarecimento acerca das potencialidades os
portadores de deficiência.
A baixa escolaridade dos portadores de deficiência dificulta a inserção
no mercado de trabalho, sendo então, de crucial importância o apoio de instituição de
qualificação profissional neste processo e a atenção das empresas, estimuladas pela
área de recursos humanos, para auxiliar e aumentar o número de contratações desses
talentos.
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1. UMA BREVE HISTÓRIA SOBRE A DEFICIÊNCIA
A ocorrência de deficiências está presente desde os primeiros dias do
homem sobre a terra. Este dado pode ser verificado através de desenhos em cavernas
com representações de corpos mutilados e também através do estudo dos ossos pré-
históricos que indicam a existência de patologias incapacitantes.
O cotidiano dos habitantes do período primitivo era marcado por lutas
a fim de defender suas cavernas e obter alimentos através das caças, com isso o
homem estava sujeito a situações que colocavam sua integridade física em risco,
ocasionando amputações, fraturas mal solidificadas, queimaduras, cegueira, surdez,
problemas ortopédicos, etc.
Os feridos eram socorridos pelo grupo e caso não viessem a falecer,
poderia ficar com seqüelas, que o tornava limitado para as atividades principais: caça
ou guerra.
Imagina-se que os homens vítimas de alguma seqüela sobreviviam,
(não eram eliminados) por terem alguma utilidade em outras atividades ou por
superstições, uma vez que, foram encontradas representações em paredes, vasos ou
ruínas de pessoas com deformidades.
1.1 Males Incapacitantes nas Culturas Antigas
Segundo os médicos do Antigo Egito, as doenças, os problemas
mentais graves e as deficiências físicas eram provocadas por demônios, maus
espíritos ou por pecados cometidos em vidas anteriores e que deviam ser pagos. Em
decorrência destas crenças eles não podiam sofrer atitudes de isolamento ou
eliminação, a menos por intervenções dos deuses, ou por poderes divinos que eram
passados aos médicos-sacerdotes, que utilizavam exorcismos, encantamentos,
poções, pomadas ou até intervenções cirúrgicas.
Estudos verificaram a existência de diversas formas de deficiências no
Antigo Egito. Apesar deste povo ter sido considerado o mais saudável da
antiguidade, por sua dieta e clima ensolarado, pode ser comprovado através de
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exames em múmias a incidência de várias doenças e uma delas era uma infecção nos
olhos podendo levar à cegueira. Tal era a gravidade do problema que o Egito foi
conhecido por muito tempo como a “Terra dos Cegos”. Outras lesões que podiam
tornar o homem limitado, foram descobertas através de estudos paleontológicos no
Egito Antigo:
• Artrite Crônica;
• Espondelite Deformante
• Mal de Pott
• Pé Vaso Eqüino
• Hidrocefalia
• Gota
• Esteosarcoma
• Fraturas
• Amputações
1.2 Penalidades Mutiladoras do Egito Antigo
Dentre outras penalidades por crimes, a mutilação foi aplicada durante
muitos séculos na civilização egípcia. Na maioria dos casos a mutilação atingia os
membros ou outra parte do corpo com os quais o condenado havia cometido seu
crime. O condenado carregava até a morte uma forte marca que divulgava o castigo
no intuito de impedir que outros agissem contra a lei.
1.3 Discriminação para com os Hebreus
Entre os antigos hebreus, as doenças crônicas, a deficiência física ou
mental e deformações, estavam relacionadas a um certo grau de pecado.
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Na passagem bíblica (Lev.21:16-24) há a ordem de
Moisés aos sacerdotes:
Disse mais o Senhor a Moisés: Fala a Arão, dizendo: Ninguém dos teus descendentes, nas suas gerações, em quem houver algum defeito se chegará para oferecer o pão do seu Deus.
Pois nenhum homem em quem haver defeito se chegará: como homem cego, ou coxo, ou de rosto mutilado, ou desproporcionada, ou homem que tiver o pé quebrado ou mão quebrada, ou corcovado, ou anão, ou que tiver ferida no olho, ou sarna, ou impinges, ou que tiver testículo quebrado.
Nenhum homem da descendência de Arão, o sacerdote, em quem houver algum defeito se chegará para oferecer as ofertas queimadas do Senhor; ele tem defeito; não se chegará para oferecer o pão do seu Deus.
Comerá o pão do seu Deus, tanto do santíssimo quanto do santo.
Porém até ao véu não entrará, nem se chegará ao altar, porque tem defeito, para que profane os meus santuários, porque eu sou o Senhor, que o santifico.
Assim falou Moisés a Arão, aos filhos deste e a todos os filhos de Israel. (Levinítico 21:16-24)
1.3.1 Código de Hamurabi
Integrando o acervo do Museu Louvre, em Paris, está o original
código de Hamurabi. São 3.600 linhas escritas. Sua primeira parte refere-se a
propriedades e a segunda a pessoas. Estes pontos indicam ordens de punições nele
contidas.
Eu, Hamurabi, chefe designado pelos deuses, Rei dos Reis, que conquistei as cidades do Eufrates, introduzi a verdade e eqüidade por todo o país e dei prosperidade ao povo. De hoje em diante” . . . . . . “Se alguém apagar a marca de ferro em brasa de um escravo, terá seus dedos cortados” . . . . . .”Se um médico operar um patrício com faca de bronze e causou-lhe a morte, ou abriu-se a órbita do olho e causou-lhe a destruição terá sua mão cortada” . . . . . . “Se um escravo disser ao seu dono: “Tu não és meu Senhor”, seu senhor provará que o é e cortará sua
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orelha” . . . . . .”Se um homem bater em seu pai, terá as mãos cortadas” . . . . . . “ Um olho por um olho, um dente por um dente. Trata-se de justiça sem piedade. Se um homem tira um olho de um patrício, também seu olho será tirado; se ele quebrou o osso de um patrício, seu braço será quebrado. As classes inferiores da sociedade também merecem compensações. Se ele tirou o olho ou quebrou o osso de um plebeu, ele deverá pagar uma miná de prata; se foi de um escravo, pagará metade do preço . . . (Silva, 1987, p. 77-78)
1.4 A Deficiência entre os Gregos
As deficiências ocorriam devido aos acidentes e ferimentos
conseqüentes das guerras, prisioneiros de guerra com deficiências físicas, punições
e castigos contra crimes, deficiências congênitas ou adquiridas por doenças ou
acidentes da vida civil e laboral por falta de proteção.
Apesar de existir entre o povo grego a posição de que a criança
defeituosa de nascença não deveria sobreviver e sim ser eliminada pelos pais, como
na tentativa de Hera, mulher de Zeus de matar Hefesto (o deus grego do fogo, das
artes manuais, da metalurgia e das indústrias) portador de deficiência física nas
pernas, as pessoas acometidas de algum defeito físico ou sensorial eram
encorajadas a aprender e desempenhar tarefas úteis e poderem ser valorizados por
suas competências: Hefesto, era um valorizado artesão/ourives.
1.5 A Grécia e sua Incipiente Lei que Assistia os Deficientes
Sólon (640 a 558 a.C.) grande estadista, criou uma lei que favorecia
as pessoas acidentadas e vítimas de ferimentos graves e mutilações nas batalhas
que Atenas freqüentemente se envolvia. Tal determinação previa vantagens de
diversas naturezas, especialmente relacionadas ao sustento. Lei de Sólon “soldados
feridos gravemente e os mutilados em combate serão alimentados pelo estado”.
Não tardou para aparecer pessoas que tentavam se enquadrar nessas
vantagens, obrigando, Atenas a iniciar uma espécie de perícia, verificada na
afirmação de Aristóteles (384 a 322 a.C.) aos membros do Conselho Ateniense, em
seu trabalho relativo à Constituição de Atenas:
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O Conselho passará agora a examinar o problema dos deficientes. Existe de fato, uma lei que estabelece que o ateniense cujos bens não ultrapassam três minás e cujo corpo esteja mutilado ao ponto de não lhe permitir qualquer trabalho, seja examinado pelo Conselho e que seja concedido a cada um deles, às expensas do Estado, dois óbulos por dia para a sua alimentação. E existe um tesoureiro dos deficientes, designado para tal. (apud Silva p.99).
Este benefício não era totalmente de caráter paternalista, além de se
verificar a impossibilidade para o trabalho, referia-se a um direito por servir à
Pátria.
Aristóteles com sua atenção voltada para o problema de forma mais
abrangente contribuiu para que o beneficio fosse aos poucos estendidos para os
portadores de deficiência ou de incapacidade para o trabalho independente do que
havia causado. Eventualmente o benefício se estendia aos pobres.
1.6 Políticas de Prevenção
Hipócrates (460 a 377 a.C.), experiente médico, utilizava a
“ginástica terapêutica” – também antecessora da fisioterapia. Pioneiro na tarefa de
separar a superstição e o misticismo da realidade dos fatos em medicina. Sua vasta
experiência contribuiu para o uso de medidas preventivas a defeitos físicos em
crianças pequenas.
Na obra “Politics” de Aristóteles, o filósofo faz a afirmação taxativa
de que as crianças em idade tenra deveriam usar aparelhos mecânicos que
fortificavam os membros a fim de prevenir defeitos neles, em decorrência de
acidentes, brincadeiras ou quedas.
1.7 Roma – Deficiências e o Direito Humano
A garantia ou a negação dos direitos era determinado nos primeiros
dias de vida, segundo a vitalidade da criança. Deformações de nascença consistia
na incapacidade do direito.
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Encontrava-se registrado em obras de Sêneca ( 4 a.C a 65 d.C) que
os recém-nascidos com deformidades físicas eram mortos por afogamento. Os
romanos justificavam a eliminação dos recém-nascidos deformados pela
necessidade de acabar com tudo que é prejudicial, inútil, doente ou insalubre.
O direito daquele homem romano se estabelece com o corte do
cordão umbilical, o extermínio era exercitado antes deste ato quando, segundo eles,
ainda não era sujeito de direito.
No entanto o infanticídio legal não era praticado com regularidade.
Os bebês eram abandonados às margens do rio Tibre e as pessoas empobrecidas se
apossavam destas crianças a fim de utilizá-las para a obtenção de mais esmola.
A esmola chegou a ser um negócio muito rendoso em Roma antiga. Na verdade foi tão rendoso que houve épocas em que foram realizados raptos de crianças patrícias muito novas, para serem mutiladas ou deformadas a fim de se tornarem pedintes nos templos, nas praças e nas ruas de Roma e das outras importantes cidades do vasto Império Romano. Certamente foi por motivos dessa natureza que durante a decadência do Império, os patrícios que ocasionalmente tinham filhos defeituosos, sabedores dessas histórias, passaram a usar das prerrogativas dadas pelo instituto do “pátria potestas” para eliminar a vida desses recém-nascidos, não correndo eles mais o risco de se tornarem mendigos e de terem seus corpos deformados.(Silva, 1987, p. 130).
1.8 O Cristianismo
Com o nascimento da Igreja Cristã, nos conteúdos, balizavam as
atitudes frente aos desfavorecidos. A doutrina se preocupava com a caridade,
valorização da pobreza, humildade, sentimento fraternal, de forma incondicional.
A criação dos primeiros hospitais cristãos demonstrava a prioridade
que a Igreja Cristã dava às atividades voltadas a assistência das pessoas pobres e
marginalizadas. A igreja colocava a hospitalidade como a virtude mais importantes
dos bispos.
Nos primeiros tempos da Igreja Cristã houve um significativo impulso ao sentimento fraternal entre os
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cristão, não importando em nada a situação social ou nacionalidade, fosse ela romana, grega, egípcia, franca, hebréia ou de qualquer outra natureza. A minoria foi aos poucos adquirindo mais e mais adeptos para transformar em pouco mais de três séculos maioria absoluta, principalmente na Europa e no Oriente Médio.
E houve, com a implantação e solidificação do Cristianismo, um novo e mais justo posicionamento quanto ao ser humano em geral, ressaltando a importância devida a cada criatura como um ser individual e criado por Deus, com um destino imortal – o que, sem dúvida, muito beneficiou os escravos e todos os grupos de pessoas sempre colocadas de lado e menosprezadas na sociedade romana, tais como os portadores de deficiências físicas, antes consideradas como meros pecadores ou pagadores de malefícios feitos em vidas passadas, inúteis, possuídos por maus espíritos, ou simplesmente como seres que, em muitos casos, deveriam continuar sendo eliminados ao nascer, segundo as leis e costumes que Roma recomendavam há séculos. (ibdi, p. 154)
1.9 Idade Média
Durante os anos 500 até o final do século X a Igreja Cristã
vigorava e com seu conservadorismo e segurança, cujos manteve a cultura
clássica, ameaçada pelo estado de ignorância da Europa e de muitos pontos do
Oriente Médio, bem como atitudes de povos invasores e contrários aos
ensinamentos deixados pelos grandes pensadores gregos e romanos.
1.9.1 O Castigo da Mutilação
A mutilação como castigo era um costume bastante comum em
quase todas as culturas até o século VII d. C, todos se apropriavam de tal direito
e assim puniam criados, escravos, empregados com a mutilação de parte do seu
corpo, de modo que todos pudessem ver, envergonhando o infrator e
intimidando possíveis novos infratores.
Durante os primeiro séculos da Idade Média no ano de 666, o
Concílio de Mérida, em Portugal tenta encerrar este tipo de punição pelo menos
em relação aos bispos e sacerdotes.
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1.9.2 O Destino dos Deficientes na Idade Média
Em decorrência de todo o mistério e crendices que circundavam o
nascimento de crianças deformadas, a maioria delas eram separadas das demais.
Com o tempo estas pessoas foram sendo aceitas com uma espécie de bobo da
corte nos castelos por serem consideradas como divertidas, traziam sorte e
afastavam demônios. Podiam por vezes participar dos segredos dos senhores e
devido a servil obediência cumprir ordens criminosas.
1.10 O Renascimento
Entre os séculos XV e XVII, surge uma série de questionamentos
e tentativas de explicar e conceber o mundo que se contrapunham ao naturalismo
inerente às concepções tradicionais e religiosas.
A dúvida pairava sobre a mente dos homens. A popularização da
cultura através das poesias, pinturas, música e arquitetura, provocava a paixão
pela vida proibida e pecaminosa.
Esse importantíssimo movimento marca na história da
humanidade o renascimento do valor do homem – o Humanismo. A partir deste
espírito esclarecedor incipiente, pelo menos no campo das idéias, o homem se
sentia menos preso, mais potencializado, livre das crenças de que seu sacrifício,
pobreza e bondade lhe garantiria o paraíso.
Essa renovadora concepção de homem atingia também os mais
pobres e marginalizados. O portador de deficiência começava a vislumbrar uma
nova etapa. Sua penosa história na era das trevas, ignorância e superstições até o
fim da idade Média, parecia estar se modificando para um esclarecimento,
valorização e mudança.
Todo este movimento em direção a humanização incentivou
mudanças positivas, conquistas por parte daqueles que sofriam de alguma
deficiência ou doença. No que tange a medicina, tanto a evolução desta ciência,
quanto o aprimoramento da ortopedia como especialidade, como também, não se
pode deixar de citar a construção de hospitais e a alteração de sua funcionalidade
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– antes como abrigo de doentes – para o tratamento e cura dos pacientes. A
preocupação com a educação dos surdos e dos cegos que ganha efeitos nos
séculos XVII e XVIII.
Vale lembrar que, as influências do progresso técnico e científico
desta época, não alterava a vida de todos, apenas as pessoas que dispunham de
recursos, podiam realmente ter um acesso efetivo aos tratamentos
especializados. A grande maioria dos pobres continuava sua luta por alimentação
e sobrevivência através da mendicância.
1.11 Revolução Intelectual e suas Responsabilidades
Como já comentado anteriormente o Humanismo, ou seja, este
movimento racional das idéias, rompeu com os pensamentos relacionados com
superstições, crendices e sobrenatural. Como conseqüência disto, a sociedade
começa a entender os problemas de forma não naturalista e, inevitavelmente
começa a reconhecer sua responsabilidade para com os marginalizados e com os
portadores de deficiências. Inicia-se um olhar sobre a minoria diferenciado
daquele caritativo, voluntário e assistencialista. Conclui-se então, que eram
necessárias organizações destinadas não apenas à proteção, mas principalmente
ao estudo dos problemas e dificuldades, tratamentos e alternativas. Nascia a
idéia de reabilitação. Começava a se defender a idéia de que os portadores de
deficiências físicas deveriam receber cuidados médicos e serviços especiais de
forma que pudesse ser garantido, na medida do possível uma vida digna e de
acordo com suas aspirações. Fica evidente neste pensamento a influência da
filosofia humanista aliada ao progresso da medicina.
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2. ESTIGMA E PRECONCEITO
Diante da presença de infinitas diferenças individuais, elegemos certos
atributos como aceitáveis e não aceitáveis, mesmo que ambos sejam indesejáveis.
Ora, o que se evidencia com isso é que, de acordo com a expectativa normativa, de
acordo com o que valorizamos, classificamos como apreciativo ou depreciativo e que
estigmatizará o indivíduo, posicionando-o em um lócus de incluído ou excluído.
Logo, o atributo não fala por si, a categoria de valor é estabelecida de acordo com a
linguagem das relações, de acordo com o que se aprecia ou não em determinado
lugar, momento histórico ou grupo.“Um estigma é, então, na realidade, um tipo
especial de relação entre atributo e estereotipo” (Goffman, pág13).
Em decorrência deste estigma imputado ao indivíduo diferente, ele
pode se comportar e oferecer respostas diversas:
- Tentando compensar sua diferença, dedicando um esforço individual na
execução de atividades que sua deficiência não impediria. Colocando-se em
uma posição de intelectual, super produtivo, altamente concentrado,
responsável, etc.
- Poderá também se apoiar na deficiência para obter ganhos secundários, ou
seja, utilizar seu atributo de exclusão para justificar suas insatisfações com a
vida, com as pessoas, relacionamentos, e até se proteger de responsabilidades
sociais.
- O estigmatizado pode também perceber as privações que sofreu como uma
graça divina, na crença de que o sofrimento pode ensinar e dignificar.
2.1 Insegurança
O contato de pessoas estigmatizadas com os ditos normais, na maioria
das vezes é envolta de tensões. A simples previsão de tais contatos poderá levar os
normais a esquematizar a vida de forma a evitá-los. Para os estigmatizados isto será
horrível.
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Quando ocorre este encontro, especialmente quando tentam manter
uma conversação, ocorre uma das cenas fundamentais, pois, fatalmente ambos os
lados enfrentarão diretamente as causas e efeitos do estigma. “O indivíduo
estigmatizado pode descobrir que se sente inseguro em relação à maneira como os
normais o identificarão e o receberão” (ibid, p.23).
Nestes contatos os portadores de diferenças têm diversos sentimentos.
Podem achar que estão sempre em exibição, sendo avaliados a cada fala ou ato. Ao
mesmo tempo em que, erros ou enganos incidentais, podem ser interpretados por
eles, como uma expressão direta de seu atributo diferencial. Estas situações podem
fazer com que o estigmatizado sinta que, estar entre os normais o expõe muito a
invasões e assuntos indiscretos. Este desagrado em se expor pode ser aumentado por
estranhos que se sentem livres para travar conversas inconvenientes e cruéis.
A questão que se coloca não é a da manipulação da tensão gerada
durante os contatos sociais e, sim, da manipulação de informação sobre o seu defeito.
Exibir ou não, contar ou não, mentir ou não?
2.2 O Corpo Incorpora
A informação social divulga a informação sobre o indivíduo, sobre
suas características, calcificando-as em categorias. Estas informações não levam em
consideração os estados de espírito, sentimentos ou intenções que também o compõe.
Essa informação, assim como signo ou o sinal que faz o papel de
transmiti-la, é reflexiva e corporificada, ou seja, é transmitida pela própria pessoa a
quem se refere, através de expressão corporal na presença imediata daqueles que a
recebem. Boa parte dos signos que transmitem a informação, podem ser acessíveis de
forma repetitiva, buscados e absorvidos no quotidiano, esses signos podem receber o
nome de símbolos.
A informação coletiva divulgada por qualquer símbolo particular pode
confirmar aquilo que outros signos nos dizem sobre o sujeito, completando a imagem
que se tem dele, de forma redundante e segura.
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Símbolos de estigma são especialmente para despertar a atenção de
uma degradante discrepância de identidade, com uma redução conseqüente no valor
do indivíduo.
Estar com alguém é chegar em algum lugar em sua companhia,
caminhar com ele na rua, sentar-se em sua mesa. A questão é que, em certas
circunstancias, a identidade social daqueles com quem o indivíduo está acompanhado
pode ser usada como fonte de informação sobre a identidade social de quem o
acompanha. Supõe-se que acompanhar um portador de deficiência, por exemplo, seja
penoso, que se está fazendo para ajudar, ou se está por pena. Transmite-se a imagem
de que seu acompanhante é uma pessoa muito boa, pois, que fardo! Isso tem como
conseqüência, o afastamento de várias pessoas em relação aos portadores de
deficiência, principalmente ao que de refere a namoro.
2.3 Se Esconder da Visibilidade
A visibilidade de um estigma particular é levantada pela questão do
encobrimento. Até que ponto o estigma está adaptado para fornecer, para comunicar
que um indivíduo o possui. O que pode ser dito sobre a identidade social de um
indivíduo em sua rotina diária e por todas as pessoas que ele encontra, será de grande
importância para ele. Os resultados de um encontro em público serão ínfimas em
contatos particular e familiares, mas em cada contato haverá algumas conseqüências
que, tomadas em conjunto, podem ser enormes.
A informação repetitiva disponível socialmente sobre o estigmatizado
é a base sobre a qual ele deve decidir qual será o plano de ação a desenvolver e
aplicar quanto ao estigma que possui.
A visibilidade de um estigma deve ser diferençada de sua “possibilidade de ser conhecido”. Quando um estigma de um indivíduo é muito visível, o simples fato de que entre em contato com os outros levará o seu estigma a ser conhecido. Mas se outras pessoas conhecem ou não o estigma de um indivíduo depende de um outro fator além de sua visibilidade corrente, ou seja, de que elas conheçam, ou não, previamente o indivíduo estigmatizado – e esse conhecimento pode estar baseado em mexericos
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sobre ele ou num contato anterior com ele durante o qual o estigma mostrou-se visível. (ibdi, p. 59).
Não é uma tarefa fácil encarar todas as expectativas que o outro tem
sobre o sujeito. Lidar com o olhar categorizante, estigmatizante, requer muita
maturidade, autoconhecimento e principalmente auto-estima. As pessoas ditas
normais se sentem desconfortadas no contato com os portadores de deficiência, pois,
carregam consigo um profundo desconhecimento, por isso lançam um olhar
estigmatizado, reduzido, opressivo e que faz o portador de deficiência sentir-se
envergonhado de sua posição. Os seres humanos tendem a assumir atitudes
preconceituosas quando não conhecem as características das pessoas com que
interagem. Como o que aparece em primeiro lugar são as limitações, ou o que se
procura ver primeiro, as pessoas tendem a formar uma atitude negativa, e estender
essa atitude para toda a personalidade dos portadores de deficiência, o que é claro,
não tem o menor fundamento. Tais atitudes dificultam os encontros entre diferenças,
criam uma aura desnecessária, imputando ao indivíduo valores pejorativos, impondo
a ele que se esconda por vergonha de não satisfazer o que o outro espera.
Quando a sociedade pratica generalizações infundadas, gera-se um
conjunto de situações sociais que afeta a vida dos portadores de deficiência. De uma
certa maneira, a limitação se agrava. Muitos deles são vistos aos olhos dos
observadores como doentes, incapazes, quando, do seu lado, eles cultivam com ardor
a firme noção de que são absolutamente capazes ou não, de trazer felicidade ou não,
de errar ou não, como todos os seres humanos.
2.4 De quem é a Estética?
Assim como o trabalho, e a beleza, a forma física também sempre
foram muito valorizadas. Modernamente, tais atributos são ainda mais importantes,
pela maioria dos grupos sociais, como indicadores de sucesso. Nesse contesto, a
deformidade, as limitações e os defeitos são vistos como empecilhos do sucesso.
A supervalorização desses atributos, é claro, afeta a vida de grande
parte dos portadores de deficiência.
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As deformações causam uma certa repulsa para quem observa pela
primeira vez. As reações iniciais das pessoas têm uma grande importância no
relacionamento social que se segue.
As relações humanas costumam ser formadas, em grande parte, pela
primeira impressão. E, nesse caso, chamam mais atenção as deformidades do que os
valores, sentimentos, emoções. Logo, as deformidades vêm antes das pessoas, para
quem não sabe percebê-las. Assim é composta a visão desumana e estereotipada das
pessoas. Assim é que se coloca na sociedade a cruel imposição de quem pode e quem
não pode, quem é bonito e quem não é, quem se quer do lado ou no grupo ou não, ou
seja exclusão a partir dos valores impostos e suas conseqüentes dicotomias.
3. A Empresa e sua Responsabilidade Social
Durante longo período, os portadores de deficiência física foram
encarados como necessitados do atendimento assistencialista, de entidades
filantrópicas. Suas limitações eram vistas como um problema individual, e que pouco
poderiam ser aliviadas através de uma efetiva participação da sociedade.
Por preconceito, indiferença, superstição e medo, muitas pessoas
evitavam o contato social e o relacionamento profissional com portadores de
deficiência. Ainda hoje, devido à persistência de desinformação e inadequação das
condições de arquitetura, transporte e comunicação, muitas pessoas produtivas
continuam sem condições de competir no mercado de trabalho.
A verdade é que a maioria dos portadores de deficiência apresenta limitações superáveis mediante pequenas acomodações no local de trabalho, na arquitetura e nos meios de transporte. Apesar disso, a maioria continua com menos chance de trabalhar; quando trabalham, ganham menos e apresentam uma enorme insegurança no emprego.(Stoddard e outros, 1998).
Este fenômeno mundial tem diversas causas. De um lado, a falta de
qualificação. De outro, a falta de esclarecimento. E, sobre tudo, a falta de estímulos
que facilitam a sua contratação.
Os profissionais que têm obtido bons resultados na colocação de
portadores de deficiência no mercado de trabalho afirmam que, para tanto, são
necessários três tipos de ações. Em primeiro lugar, a preparação dos candidatos. Em
segundo lugar, o esclarecimento dos empregadores. Em terceiro lugar, o ajuste da
comunidade.
3.1 Ocupação dos Deficientes no Mercado de Trabalho
Uma grande parcela dos portadores de deficiência não faz parte da
força de trabalho. Dentre eles se incluem os que têm limitações muito severas, os
afastados temporariamente, os aposentados por razão de deficiência, os muito idosos
e os desalentados.
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Dentre os que faz parte da força de trabalho, apenas uma parcela
trabalha de maneira regular e contínua. Os demais nunca trabalharam ou entram em
episódios repetidos de desocupação. Essas observações valem para a maior parte dos
países do mundo e, em especial, para o Brasil, onde as políticas públicas que cuidam
da inserção e retenção no mercado de trabalho são muito insipientes.
O número de portadores de deficiência é bem expressivo. A ONU
estima que 15% da população mundial apresenta algum tipo de limitação: leves,
moderadas e severas. Isto significa quase 700 milhões de pessoas.
Os portadores de deficiência se concentram nos países mais pobres.
As deficiências, no mundo, decorrem de guerras, violência e acidentes de transito;
famílias carentes e com muitos filhos; analfabetismo e falta de informações; falta de
conhecimento sobre a deficiência; programas inadequados; canalização de recursos
para serviços altamente especializados e irrelevantes para as necessidades da maioria
dos portadores de deficiência.
Mais de 400 milhões de portadores de deficiência vivem em zonas
que não dispõem dos serviços necessários para ajudá-los a superar as limitações.
Quanto mais desenvolvido o país, menor o grau de dependência dos
portadores de deficiência. A difusão mais ampla dos equipamentos de apoio, a
arquitetura adequada, transporte acessível, o esclarecimento das pessoas, facilita suas
vidas e diminui a dependência a outras pessoas.
3.1.1 Educação, Necessidade para a Inserção
Os portadores de deficiência sofrem restrições em termos
educacionais, o que dificulta a sua inserção no mercado de trabalho. A proporção
dos que se educam adequadamente é pequena. Este problema, é claro, compromete
seriamente as chances de as pessoas ingressarem e permanecerem no mercado de
trabalho. A baixa escolaridade afeta a conquista de um emprego para qualquer
pessoa. No caso dos portadores de deficiência, o problema se agrava, devido ao
conjunto de fatores limitadores, como, o descaso da sociedade e as inadequações
arquitetônicas e de transporte.
25
Seria de fundamental importância para a atenuação do problema da
baixa qualificação dos portadores de deficiência, que cursassem escolas regulares,
pois a inclusão com as demais crianças estimulam os portadores de deficiência. A
desqualificação dos docentes, corrobora para o entrave do acesso ao ensino.
Professores mal preparados tendem a criar uma reação de temor, agravando a
condição de medo dos portadores de deficiência.
No que tange à profissionalização, o quadro é igualmente preocupante. Em 1998, o Programa Nacional para Pessoas Portadores de Deficiência coordenado pelo Ministério do Trabalho e Emprego, como parte do PLANFOR, investiu cerca de R$ 4 milhões (US$ 3,3 milhões ao câmbio da época) para treinar apenas 21 mil portadores de deficiência em cursos de massagista, artesanato, marcenaria, auxiliar de cozinha, fotografai, estética, telemarketing, rádio chamadas, informática para cegos, fabricação de cadeiras de rodas, bengalas e outros equipamentos, minhocultura, olaria, panificação, jardinagem, reciclagem de papel, etc. (Pastore, 2000,p. 77-78)
Vale lembrar que, apenas educação não garante inserção no mercado
de trabalho. Porém, ajuda na empregabilidade, o desemprego atinge muito mais os
de escolaridade baixa. Nos períodos de economia difícil, a recessão e excesso de
oferta de mão-de-obra, as empresas têm oportunidade de selecionar pessoas com
mais qualificação. Nos períodos de retomada do crescimento, as mudanças
tecnológicas passam a exigir mais competência. Nos dois casos a educação é
condição sine qua non, mas sem a conscientização de que os portadores de
deficiência são pessoas capazes de trabalhar, assim como qualquer outro que tenha
um ambiente preparado e com condições para desempenhar a tarefa, o problema
persistirá. Esta conscientização depende da sociedade como um todo, dos
empresários e das pessoas envolvidas com área de recursos humanos da empresa,
uma vez que, é responsável pela seleção de pessoas, podendo assim mostrar a
importância de tais contratações para a direção da empresa e para o corpo funcional
de toda a organização, afim de que todos se preparem para receber e incluir outros
funcionários, com limitações e qualificações como qualquer um.
26
3.2 Tecnologia, Emprega ou Desemprega?
O desenvolvimento tecnológico pode ter conseqüências positivas e
negativas para o emprego. Seu resultado dependerá do ambiente em que ela
acontecer. Quando seus benefícios são apropriados por poucos, o que acontece em
regimes monopolistas que enfrentam leis trabalhistas rígidas, o seu efeito é
destrutivo, quando muitos têm proveito, o regime é flexível, a economia é estável e
não excludente, o impacto é construtivo.
Logo, para que se avalie o efeito final das tecnologias, não basta
somente examinar a queda da oferta de emprego decorrentes dela. É necessário
investigar os efeitos do deslocamento de mão-de-obra e criação de atividades e
postos de trabalho em outros setores.
A educação está diretamente relacionada com a facilitação da
readaptação da mão-de-obra ao desenvolvimento e implantação de novas tecnologias
e aos empregos.
A implantação de novas tecnologias exige mais qualificação, e é claro
que esta demanda também atinge os portadores de deficiência. As novas tecnologias
exigem mão-de-obra preparada, capaz de transferir conhecimentos de uma área para
outra, sobretudo qualificados. Essa é a tendência geral do mercado de trabalho.
Essa exigência do mercado de trabalho pode ser compreendida pela
pressão que as empresas recebem ao adotar novas tecnologias e novas formas de
trabalhar para poder vencer a feroz competição que emerge na economia globalizada.
Nunca a educação foi tão crucial para as pessoas conseguirem um emprego e,
sobretudo, para continuarem nele.
Este quadro mostra como é especialmente complexo para as pessoas
que, além de baixa escolaridade, é portadora de alguma limitação física, mental ou
sensória. A superação dessas dificuldades vai levar algum tempo, e demandará um
grande esforço por parte da sociedade/empresa, não só para educar melhor, mas
também, para assumir sua responsabilidade social em relação os portadores de
deficiência.
27
3.3 Sistema de Cotas
O sistema de cotas é adotado por vários países desenvolvidos e nestes
nota-se uma forte inclinação de mudança na sua filosofia.
O objetivo do sistema de cotas é garantir aos portadores de deficiência
uma oportunidade de construir suas vidas de forma mais próxima da vida dos que
não são portadores. Isso envolve inúmeras atividades como: educação, treinamento,
vontade de empregá-los, tolerância às diferenças, adaptações, etc.
A integração dos portadores de deficiência no trabalho depende da
capacidade e da boa vontade de um grande número de evolvidos que têm de investir
tempo, dinheiro, esforço e compreensão. Como afirma Pastore (2000), medidas
tópicas e isoladas estão longe de conseguir mobilizar a enorme sinergia que se faz
necessária nesse complexo desafio.
3.3.1 Flexibilidade às Cotas
A marca das mudanças nesse processo é a flexibilidade, buscando
criar condições para que cada um colabore dentro da sua realidade. Cotas isoladas,
que se aplicam a todas as empresas, sem exceções e sem estímulos, estão deixando
de ter importância. Assim as cotas mais articuladas entram no lugar dos sistemas de
cotas anteriores.
Processos de recrutamento e seleção muito rígidos, podem
estigmatizar os portadores de deficiência, por isso vêm sendo gradualmente
substituído por sistema baseados no voluntarismo e na educação. Aliado a estas
mudanças e mais importante é prover condições de trabalho que se adaptem às
necessidades dos portadores de deficiência como, por exemplo, o tempo parcial,
flexibilidade de horários, trabalho por telefone, internet e outros.
As discussões e controvérsias acerca das cotas tendem a continuar. Os
empregadores, em sua maioria se opõem ao sistema. As entidades de apoio os
portadores de deficiência acreditam que é a melhor forma de ajudá-los. Porém,
pesquisas mostram que, em todos os países onde há cotas, o sistema vem perdendo a
sua localização central no interior das redes de apoio aos portadores de deficiência.
28
Este sistema tem pouca eficiência quando o empregador não quer ou
não pode admitir portadores de deficiência. As mais variadas desculpas são
utilizadas para justificar a impossibilidade destas contratações. Elas elevam os
requisitos de qualificação para o preenchimento da vaga em aberto, alegam falta de
preparo dos candidatos portadores de deficiência, etc.
Além disso a empresa pode estar com o quadro de pessoal completo, e
assim sendo não terá necessidade de mais funcionários, tendo que demitir
empregados já admitidos para contratar um portador de deficiência. Esta situação
causaria um grande conflito entre os empregados da empresa e os candidatos aos
postos de trabalho.
Enfim, o sistema de cotas só auxilia no aumento do número de
contratações os portadores de deficiência, quando é flexível.
3.4 Como as Empresas Podem Ampliar as Oportunidades de Trabalho?
O sistema de cotas obriga as empresas no Brasil com mais de 100
funcionários admitir em seu quadro de pessoal de 2% a 5% de portadores de
deficiência qualificados.
Para o cumprimento das imposições do sistema de cotas, o mercado
brasileiro teria que contratar um número de os portadores de deficiência, bem acima
da oferta atual, quando se leva em consideração a qualificação dos mesmos. Então
como se pode abrir espaço para os portadores de deficiência no mercado de trabalho,
diante dos impedimentos alegados?
A inserção e retenção os portadores de deficiência no mercado de
trabalho, como já foi explanado, depende de outras providências: preparar o
portador, educar e conscientizar o empregador, adequar o ambiente, preparar os
funcionários existentes na empresa. Para o empregador, a primeira e mais importante
previdência é a de se conscientizar que, mais do que o cumprimento de uma lei, a
facilitação da entrada dos portadores de deficiência no mercado de trabalho faz parte
de sua responsabilidade social, o gerente de recursos humanos tem papel crucial
neste processo.
29
Os portadores de deficiências que vivem em nossa sociedade têm de
receber apoio para contribuir produtivamente à economia do país e construir suas
carreiras.
O problema da educação novamente será focado, pois, merece grande
consideração, uma vez que, é muito cômodo para as empresas justificarem a não-
contratação pela não existência de pessoas devidamente qualificadas para o
preenchimento da vagas.
Na realidade as empresas devem sair deste local de justificativa e
começar a enfrentar de forma efetiva e participativa na solução do problema da baixa
qualificação os portadores de deficiência. Para tanto as empresas deverão que se
envolver com programas de qualificação e treinamento dos futuros candidatos. Sem
esse envolvimento, a dificuldade no recrutamento persistirá e as empresas serão
autuadas.
A contratação os portadores de deficiência está obrigando as empresas
brasileiras a implantar e desenvolver políticas internas em quatro áreas:
• Superação das Apreensões
Separar os conceitos dos preconceitos. De nada adianta o
cumprimento da lei, se os diretores, chefes, gerentes e os demais funcionários não
entenderem, a importância e os porquês das contratações. Caso contrário, eles
acabarão recrutando a contra gosto, e marginalizando os contratados. Recomenda-se
que o assunto seja amplamente debatido com as áreas repensáveis da empresa,
expondo francamente suas concepções para que possam ser trabalhadas e corrigidas,
papel fundamental da área de recursos humanos.
• Encontrar Trabalho Certo para as Pessoas Certas
O recrutamento e seleção de pessoas com necessidades especiais,
deve ser muito bem planejado. Deve-se descrever bem o cargo que a pessoa irá
exercer, identificar as atividades que irá desempenhar para que nem o funcionário
nem a empresa sejam prejudicados. Tanto o cargo quanto a pessoa devem estar
preparados para um receber o outro.
30
A preparação dos funcionários de um modo geral é fundamental.
Recomenda-se locar os portadores de deficiência junto com pessoas que possam
auxiliá-las na fase inicial. Como por exemplo, mulheres, pessoas mais esclarecidas,
calmas, menos ansiosas, tolerantes.
• Preparação do Ambiente de Trabalho
Essa preparação refere-se a providencias físicas, educacionais e
sociais. Uma vez a contratação efetuada, a empresa deve fazer as modificações
arquitetônicas, aquisição e instalação de novos equipamentos, adaptação dos atuais,
planejamento para emergências, orientação espacial do ambiente, sinalização,
iluminação, horários flexíveis bem como a conscientização dos colegas, a fim de
facilitar a inclusão.
• Recrutamento e Retenção
Tanto o recrutamento como a retenção são tarefas difíceis, mas há
alguns procedimentos que podem auxiliar no recrutamento, por exemplo:
Organizações especialistas em identificar pessoas qualificadas e de qualificá-las.
Escolas onde é possível encontrar possíveis portadores de deficiências qualificados.
O processo de recrutamento tem que ser bem honesto e transparente.
O candidato não pode ser iludido. O setor de recrutamento deve explicar que tem
uma vaga aberta, explicando qual a atividade a ser desempenhada, expondo
claramente as exigências da função. As informações e resultados finais positivos ou
negativos devem ser passadas a todos sem discriminação.
A retenção do candidato selecionado é tão delicada quanto o
recrutamento. Toda as mudanças devem ser aplicadas, a empresa precisa se
organizar para absorver este talento. O ajustamento não pára e envolve uma atenção
permanente aos obstáculos que impedem a produtividade deste novo talento.
Nos primeiros meses o aprendizado e reaprendizado é para todos. A
empresa e os colegas de trabalho devem estar preparados e motivados a ampliar os
limites de tolerância para com as pessoas com diferenças, no caso, os portadores de
deficiência.
31
CONCLUSÃO
Percebe-se a partir deste estudo que, a questão da inclusão do portador
de deficiência sempre existiu em quanto problemática complexa no decorrer de toda
a história da humanidade. Faz-se uma breve viajem pela história das principais
civilizações desde os primórdios e verificou-se as explicações, fundamentadas em
superstições a fim de justificar preconceitos que se arrastam até os dias de hoje.
O mercado de trabalho reflete toda uma atitude alimentada no passar
de todos esses anos. Para os portadores de deficiência a maioria das portam se
fecham, eles devem se esconder, pois, não há lugar para “incapazes” para o amor,
para o convívio social, principalmente no trabalho onde o lema é a produtividade, ou
seja, trabalhar mais, cada vez mais rápido, produzindo cada vez mais, com cada vez
menos custo.
O desafio é grande para todos, para os portadores de deficiência é
importante entender e ser capaz de aceitar as suas características. A realização
humana na depende apenas de estatura beleza ou forma física mas, sobretudo, com
fundamento na inteligência, respeito e competência. Esse é o desafia da sociedade
contemporânea, enxergar as pessoas em sua totalidade e não apenas como portadora
de uma determinada limitação que, na maioria das vezes, desaparecem mediante a
menor ação social, de boa vontade e de tolerância.
No mundo do trabalho a exclusão das pessoas com necessidades
especiais são mais evidentes. Eles podem até estar preparados para o trabalho, mas,
mesmo assim é comum serem rejeitados por serem os portadores de limitações,
mesmo não afetando o desempenho no trabalho, mas por simples preconceito e
desconforto ao compartilhar o mesmo espaço. os portadores de deficiência são vistos
como doentes. As pessoas que os cercam tendem a ver suas vidas de modo trágico.
os portadores de deficiência devem demonstrar que isso é falso, por mais difícil que
seja suas vidas, dispõem de energia, vida e vontade para superar as limitações
quando a sociedade ajuda a oportunizar.
Os avanços da medicina e da ciência psicológica não bastam para
remover os impedimentos e problemas das deficiências, pois grande parte deles é
32
produto social. A sociedade que não provê os devidos ajustamentos acaba
aprisionando os portadores de deficiência dentro seu mundo próprio.
A conscientização da sociedade, o esclarecimento das pessoas, o
esforço das instituições sociais e empresariais são fundamentais para a redução dos
preconceitos a garantir uma inclusão os portadores de deficiência na vida social e no
trabalho. Aos os portadores de deficiência cabem ações para auxiliar a reduzir
também estes preconceitos, tarefa nada fácil para quem vive em um mundo onde
tudo o que é jovem, belo e vigoroso é que é bom, valoroso e tem utilidade.
O Brasil está despreparado quanto às políticas sociais são
desarticuladas em relação os portadores de deficiência. As leis são modernas e
compreensivas, mas não conseguem fazer com saia do papel, não funcionam
efetivamente. A caminhada do país é árdua para passar das leis para políticas
estimuladoras.
As políticas de apoio os portadores de deficiência necessitam
considerar que o importante nas ações deve ser o seu humano que tem limitações
superáveis. Para tanto, não basta baixar decretos ou leis. É preciso negociação entre
as partes envolvidas neste sistema. Os problemas dos os portadores de deficiência
será resolvido com criatividade no campo das políticas públicas, mentalidade
empresarial. Possuir uma alteração física não pode ser objeto de descriminação ou de
maior importância. A limitação é comum a todos e deve ser encarada. Por isso
encarar os preconceitos deverá vir mais do campo social do que do individual. A
deficiência é mais um problema social do que individual, uma vez que, a sociedade
cria barreiras que tornam as pessoas deficientes.
33
BIBLIOGRAFIA
SILVA, Otto Marques. A epopéia ignorada – a pessoa deficiente na história d ontem
e de hoje. São Paulo, CEDAS, 1986.
AQUINO, Júlio Groppa. Diferença e Preconceito. São Paulo, Sumus, 1998
GOFFMAN, Erving. Estigma: notas sobre a manipulação da identidade deteriorada.
Rio de janeiro: Zahar, 1982.
PASTORE, José. Oportunidade de trabalho para portadores de deficiência. São
Paulo: LTr, 2000.
34
ANEXOS
35
FOLHA DE AVALIAÇÃO
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATU SENSU” PROJETO A VEZ DO MESTRE
O PAPEL DO GESTOR DE RH NO PROCESSO DE
INSERÇÃO DOS PORTADORES DE DEFICIÊNCIA NO
MERCADO DE TRABALHO
Por: Leila Navarro de Santana Orientador: Prof. Ms. Mary Sue Assinatura do avaliador: Conceito:
36
ÍNDICE
FOLHA DE ROSTO 02
AGRADECIMENTOS 03
DEDICATÓRIA 04
RESUMO 05
METODOLOGIA 06
SUMÁRIO 07
INTRODUÇÃO
CAPÍTULO I
UMA BREVE HISTÓRIA SOBRE A DEFICIENCIA 09
1.1 – Males Incapacitantes na Culturas Antigas 09
1.2 – Penalidades Muliladoras do Egito Antigo 10
1.3 – Discriminação para com os Hebreus 10
1.3.1 – Código de Hamurabi 11
1.4 – A Deficiência entre os Gregos 12
1.5 – A Grécia e sua Incipiente Lei que Assistia os Deficientes 12
1.6 – Políticas de Prevenção 13
1.7 – Roma – Deficiência e o Direito Humano 13
1.8 – O Cristianismo 14
1.9 – Idade Média 15
1.9.1 – O Castigo da Mutilação 15
1.9.2 – O Destino dos Deficientes na Idade Média 16
1.10 – O Renascimento 16
1.11 – Revolução Intelectual e suas Responsabilidades 17
CAPÍTULO II
ESTIGMA E PRECONCEITO 18
37
2.1 – Insegurança 18
2.2 – O corpo Incorpora 19
2.3 – Se Esconder da Visibilidade 20
2.4 - De quem é a Estética 21
CAPÍTULO III
A EMPRESA E SUA RESPONSABILIDADE SOCIAL 23
3.1 - Ocupação dos Deficientes no Mercado de Trabalho 23
3.1.1 – Educação, Necessidade para a Inserção 24
3.2 - Tecnologia, Emprega ou Desemprega? 26
3.3 – Sistema de Cotas 27
3.3.1 – Flexibilidade às Cotas 27
3.4 – Como as Empresas podem Ampliar as Oportunidades de Trabalho? 29
CONCLUSÃO 31
BIBLIOGRAFIA 33
ANEXOS 34
FOLHA DE AVALIAÇÃO 35
ÍNDICE 36