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O MMM no Paraná e a professora Henrieta Dyminski Arruda
Marytta Rennó Masseli1
GD5 – História da Matemática e Cultura
O presente artigo apresentará um recorte de uma pesquisa de mestrado em andamento que tem como objetivo
destacar as contribuições da professora Henrieta Dyminsi Arruda no grupo paranaense NEDEM - Núcleo de
Estudo e Difusão do Ensino da Matemática e proceder à organização e guarda de seu acervo. Tal grupo se
dedicou, entre as décadas de 60 e 70, à difusão da Matemática Moderna no Estado do Paraná. O recorte a ser
apresentado trata de uma revisão feita em teses e dissertações defendidas até o momento e que abordavam
especificamente o NESDEM, e a importância da professora Henrieta Dyminsi Arruda, como protagonista do
Movimento da Matemática Moderna na cidade de Curitiba. Essa importância é destacada por meio de sua
atuação como integrante do NEDEM, autora de livros para o ensino primário, coordenadora da Rede
Municipal de Curitiba e assessora pedagógica no Instituto de educação. Com vistas a compreensão do papel
da professora Henrieta Dyminsi Arruda optamos pela utilização da história oral em sua vertente metodológica
para a coleta de depoimentos, além disso, faremos uma pesquisa documental no material fornecido pela
professora organizando o acervo, catalogando e disponibilizando-o digitalmente para consulta.
Palavras-chave: Educação Matemática, Movimento Matemática Moderna, Núcleo de Estudo e Difusão do
Ensino da Matemática
1 . Introdução
O presente artigo apresentará um recorte de uma pesquisa de mestrado em andamento que
tem como objetivo destacar as contribuições da professora Henrieta Dyminsi Arruda no
grupo paranaense NEDEM - Núcleo de Estudo e Difusão do Ensino da Matemática e
proceder à organização e guarda de seu acervo. Tal grupo se dedicou, entre as décadas de
60 e 70, à difusão do Movimento Matemática Moderna (MMM) no Estado do Paraná. Com
vistas a situar o leitor acerca de tal Movimento e localizar a pertença do NEDEM dentre
os vários grupos brasileiros primeiramente teceremos considerações históricas sobre o
MMM e discorremos brevemente sobre as características de determinados grupos.
Segundo Soares (2001, p.67) os primeiros indícios do Movimento da Matemática Moderna
(MMM) estão relacionados às reuniões de professores de Matemática, principalmente em
Congressos, onde ocorriam apresentações e trocas de experiências, sugerindo também
atividades para a compreensão da Matemática.
Temos como marco do nascimento desse movimento o I Congresso Nacional de Ensino da
Matemática no Curso Secundário, na Bahia em 1955, onde podemos encontrar registros de
1Universidade Federal do Paraná, email: [email protected], orientador: Dr. Emerson Rolkouski
propostas de um ensino da Matemática preocupado com as aplicações e com as conexões
desta disciplina com outras ciências, e também registros de discussões como a necessidade
do aumento da carga horária semanal para o ginásio e secundário. Já em 1957, o II
Congresso Nacional de Ensino da Matemática, conta com a presença de Osvaldo Sangiorgi
e Ubiratan D’Ambrósio que, mesmo discretamente, começam a falar sobre Matemática
Moderna, não apenas no ensino secundário, mas também no ensino primário.
Com isso a discussão sobre o ensino da Matemática está presente em diversos estados
brasileiros, sendo criado em São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro e Paraná,
grupos de discussões e estudo de como a Matemática deveria ser ensinada.
Em São Paulo, temos o GEEM, Grupo de Estudos de Ensino de Matemática, fundado em
1961, pelo professor Osvaldo Sangiorgi que efetiva a divulgação do MMM no Brasil,
publicando então, em 1962 no IV Congresso Nacional, um trabalho sobre a Matemática
Moderna no ensino Secundário.
No Rio Grande do Sul, o GEEMPA, Grupo de Estudos sobre o Ensino da Matemática do
Porto Alegre, fundado em 1970, coordenado pela professora Esther Pillar Grossi que tinha
a preocupação, também com ensino da Matemática, pesquisando aperfeiçoamento de
métodos, técnicas, conteúdos, publicação de materiais e formação de professores. George
Papy e Zoltan Dienes tiveram grande influência nos trabalhos do GEEMPA, sendo que este
último esteve no Rio Grande do Sul, ministrando curso para professores no ano de 1972.
No Rio de Janeiro, destacam-se o Grupo de Estudos do Ensino de Matemática do Estado
de Guanabara (GEMEG), foi fundado em 1970 e tinha como coordenador, Arago Backx,
fundado e o Grupo de Estudos e Pesquisas em Educação Matemática (GEPEMG), fundado
em 1976 tendo como coordenadora a professora Maria Laura Leite Lopes.
No estado do Paraná, este movimento é difundido pelo Núcleo de Estudos e Difusão do
Ensino da Matemática (NEDEM) cujos encontros aconteciam no Colégio Estadual do
Paraná, e com data de fundação o ano de 1962. Esse grupo era coordenado pelo professor
Osny Antônio Dacol, e tinha como princípio a prática pedagógica nos ensinos ginasiais e
primários.
A formação do grupo no Paraná foi motivada por um curso ofertado pelo professor
Osvaldo Sangiorgi aos professores,. Naquele momento, o referido professor proferiu a
palestra intitulada "A Divulgação da Matemática Moderna através dos Diversos Grupos de
Estudos", e que, segundo Krul (2006) influenciou consideravelmente na formação de um
grupo de estudos no estado do Paraná.
O NEDEM tinha como objetivo não só o estudo de conteúdos matemáticos, mas também a
formação de docentes no ensino desses conteúdos. Krull (2006, p. 70) colabora afirmando
que “[...] os guias pedagógicos eram manuais que apresentavam os conteúdos de
aprendizagem e as orientações para o ensino desses conteúdos”.
Os encontros dos professores aconteciam no Colégio Estadual do Paraná de acordo com
uma dinâmica denominada de Complexos Escolares,
[...] nós tínhamos um Complexo Escolar, no Colégio Estadual do Paraná... E, ali,
a lei 'cinco meia nove dois' de 1971, permitia que se construíssem complexos
escolares... Ou seja, uma escola maior dando orientação pedagógico-didática
para outras menores.
Ai, nós pegamos o Colégio Tiradentes […] não, não era colégio, era Escola
Tiradentes; a escola “Professor Brandão”; lá no Jardim Social, a “Amâncio
Moro”, terceira, no Cemitério Municipal, “Dona Carola”, a quarta; a quinta era a
“Aline Pichet”; a sexta era a “Xavier da Silva”... Lá longe. Lá longe, porque daí
todo mundo tinha interesse...E a “Zacarias”. (SEARA, 2005, p. 20)2
As discussões ocorridas nesses encontros culminaram no lançamento de manuais didáticos
que corresponderiam mais adiante nos livros “Ensino moderno da matemática”, que
tinham como preocupação a metodologia do ensino da Matemática. Segundo Krull (2006,
p. 74) esses manuais eram lançados "mostrando que a modernização da prática pedagógica
era uma ação fundamental que poderia resultar positivamente do desenvolvimento da
inteligência dos alunos, lhes oportunizando o domínio de conhecimento mais elaborados".
Uma característica citada nas teses e dissertações lidas quanto à formação dos integrantes é
a diversidade, pois participavam do grupo professores de diversos estabelecimentos de
ensino, médicos e psicólogos que estavam interessados nessa modernização no ensino da
matemática. No início, os participantes estavam interessados no ensino da Matemática no
Ginásio, mais tarde contemplaram também o ensino primário. Nas teses e dissertações
mencionadas acima, que pesquisam o MMM e o NEDEM, encontramos como
participantes do segmento do ensino primário as professoras Clélia Tavares Martins,
Esther Holzman, Gliquéria Yaremtchuk e Henrieta Dyminsli Arruda.
2 Transcriação de SEARA, H. F. Não É Difícil Ensinar Matemática. 2005. 552f. Dissertação (Mestrado em
Ensino da Matemática) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005.
Tomaremos a professora Henrieta Dyminski Arruda como personagem principal de nossa
pesquisa, pois é citada como uma importante integrante do NEDEM e no munícipio de
Curitiba, é citada como coordenadora de Matemática da Rede Municipal e na assessoria
pedagógica do Instituto Estadual do Paraná. Tal importância é destacada por Krull (2006):
Entretanto, a inserção da Matemática Moderna na Rede Municipal de Ensino de
Curitiba (RMEC) foi reforçada, em 1970, pela adoção dos livros do Núcleo de
estudos e Difusão do Ensino de Matemática (NEDEM); permitindo, assim, a
disseminação das ideias do Movimento da Matemática Moderna (MMM) em
suas unidades escolares. Em, 1970, ainda foi criada a Coordenação de
Matemática da RMEC, cuja finalidade era orientar as práticas pedagógicas da
disciplina […]
As atividades da referida coordenação iniciaram sob os cuidados de Henrieta
Dimynski Arruda, professora integrante do Núcleo de Estudos e Difusão do
Ensino de Matemática (NEDEM); por meio de sua dedicação à formação dos
professores da Rede Municipal de Ensino de Curitiba (RMEC) […]
( p.123)
Tais afirmações são recorrentes nas teses e dissertações de: Seara (2005), Ferreira (2006),
Simonete (2009), Dobrowolski (2011), Soares (2014), motivo pelo qual decidimos pelo
aprofundamento em sua contribuição. A seguir iremos descrever o NEDEM, e a
importância desse grupo na difusão da Matemática Moderna no estado do Paraná,
reservando para outra sessão o papel da professora Henrieta Dyminski Arruda.
2 . O Núcleo de Estudos e Difusão do Ensino da Matemática
Conforme já mencionamos o NEDEM foi um grupo de estudos formado por professores,
psicólogos, médicos que estudavam o ensino moderno da Matemática no Paraná.
O professor Osny Dacol, era o coordenador de Matemática do Colégio Estadual do Paraná
e professor da Universidade Federal do Paraná (UFPR), e tinha grande interesse no ensino
"dessa" Matemática. Sendo assim, a partir de uma palestra proferida pelo professor
Osvaldo Sangiorgi do NEDEM, o professor Osny, conscientiza e motiva um grupo de
professores a fazer pesquisa sobre o MMM.
Os encontros eram normalmente semanais e tinham discussões como, por exemplo, o
cálculo vetorial no ensino da Geometria Plana do ginásio. Nas teses e dissertações
encontramos alguns conteúdos considerados novidades e motivavam os estudos no grupo,
como, por exemplo, o uso de expoente fracionário ou a inserção de símbolos de
equivalência explicados pela lógica. Sendo assim, segundo Seara (2005, p. 16) “Nós
começamos a verificar todos os conteúdos que tinham esses assuntos e, em conjunto,
começamos a estudar. Cada uma particularidade de cada assunto, para as séries ginasiais”3.
Outra característica da dinâmica dos encontros desse grupo era como algumas discussões
eram fomentadas. O professor Osny, trocava ideias com professores de outras áreas de
conhecimento, como a filosofia, por exemplo, e em seguida traduzia essas discussões em
linguagem matemática para serem levadas ao grupo do NEDEM. O grupo analisava e
discutia, colocando as opiniões a favor ou contra a abordagem dada nos conteúdos. Sendo
encaminhados para as escolas e testados pelos professores.
O professor que coordenava o grupo era professor universitário, então ele
trocava idéias com um professor da Federal, que dava aula de ‘Lógica
Simbólica’, sobre Raciocínio Lógico; trocava idéia com outro, o
Professor Ivo Zanlorenzi, que era professor de Filosofia.
Então, ele traduzia aquilo tudo para linguagem matemática – ele era um
estudioso da teoria da Matemática aplicada na prática – e passava para o
grupo.
Primeiro ele fazia, depois mostrava para o grupo todo: ‘A idéia é essa, o
que vocês acham?’ Ai cada um dava a sua opinião, a gente imprimia o
assunto, levava, testava, voltava e, no final, a gente publicava.4
(SEARA, 2005, p.18)
Essa dinâmica resultou na produção de livros que foram distribuídos na cidade de Curitiba,
com o intuito de divulgar o ensino da Matemática Moderna.
O NEDEM teve grande importância na divulgação do MMM, e trabalhava com a linha
francesa, e com a psicologia de Piaget, a Lógica de Bertrand Russel e as ideias de Dienes,
estudavam o pensamento da criança, dando a Matemática uma estrutura para ter um
'corpo'. Segundo fulanos em seara (2005):
Porque a Matemática tinha noção de Corpo, não sei se você já ouviu falar? É, a
noção de Corpo... Tinha Anel... Tinha que ter uma Estrutura para ter um Corpo.
Então, aquele professor que dava aula na Federal, pegou a Análise Matemática,
onde se dava Estrutura de Corpo, e transformou numa linguagem simples
fazendo essa associação entre uma Estrutura Mental e uma Estrutura
Matemática.
A gente fazia uma correlação através dos Conjuntos, entendeu? Fazia assim:
Linguagem...No outro lado tinha Símbolos, né?! Daí, tinha Relação... Função. E
a outra era […] a Estrutura Mental. É só ver como que é uma Estrutura Mental e
dentro dessa Estrutura Mental pegar a correspondência em Matemática. 5
(SEARA, 2005, p. 23 e 24)
E com isso a partir das discussões do NEDEM em relação ao ensino da matemática
começa a substituir, em Curitiba, o conhecido ensino elementar pelo Ensino Moderno da
3 Transcriação de SEARA, H. F. Não É Difícil Ensinar Matemática. 2005. 552f. Dissertação (Mestrado em
Ensino da Matemática) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005. 4 Idem ao 3.
5 Idem ao 3.
Matemática.
A difusão desse movimento aconteceu entre as décadas de 1960 e 1980, havendo uma
redução à força do MMM, iniciando com algumas críticas ao uso excessivo de simbolismo
e a Teoria dos Conjuntos, bem como a falta de preparo por parte dos professores do ensino
primário.
Para o próximo tópico reservamos espaço, para apresentar o papel da professora Henrieta
no NEDEM, procurando dar evidência à sua trajetória nesse grupo e colocando em
evidência as produções desta professora.
3 . O papel de Henrieta no NEDEM
A professora Henrieta fez parte do NEDEM estudando o ensino da Matemática no ensino
primário, e divulgou esse movimento na rede municipal de Curitiba, com cursos para
professores e na rede estadual, e na rede estadual, fez parte da produção de livros desse
grupo de estudo.
Seara (2005) retrata a constituição do NEDEM no estado, citando a professora Henrieta
como integrante do grupo Primário desde o início do grupo, bem como autora da
elaboração dos materiais desse mesmo grupo.
A professora Henrieta além de professora de matemática da Escola Tiradentes no ensino
primário, fez parte da fundação de uma escola chamada 'Jean Piaget' e que atendia crianças
do ensino primário. Sendo assim tinha uma visão global e não apenas da disciplina, onde
usava os livros do NEDEM de primeira a quarta série do primário em sua prática escolar.
Um ponto que merece destaque é que a professora inicia a sua participação no grupo por se
incomodar com a sua maneira de ensinar a Matemática e com o objetivo de aprender a usar
o material concreto no ensino da Matemática.
A Henrieta era Normalista, com regência de Classe e ela achava, assim, que não
sabia ensinar Matemática. Era alfabetizadora e tudo... trabalhou dezessete anos
como alfabetizadora, mas, sempre que ia ensinar Matemática, ela dizia que não
ficava satisfeita com a aula que dava. Então, ela se interessou em ir porque
queria dar umas aulas interessantes, né? E aprender a usar material concreto.6
(SEARA, 2005, p. 44)
Os encontros do NEDEM no segmento do primário aconteciam na casa da professora, onde
6 Transcriação de SEARA, H. F. Não É Difícil Ensinar Matemática. 2005. 552f. Dissertação (Mestrado em
Ensino da Matemática) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005.
a mesma cedia sua residência para que os estudos e as reuniões acontecessem aos sábados
a tarde durante duas horas.
Nesses encontros, as integrantes do ensino primário estudavam livros que eram trazidos
dos EUA e de outros países, bem como os livros do NEDEM de quinta a oitava série e
livros de exercícios que não eram de matemática moderna, mas de uma matemática
atraente. Segundo Seara (2005, p.45) “não tinha muita bibliografia! Mas, tinha muitos
livros que eram, assim... Livros de exercícios [...] de Matemática que eram usados noutros
países... Não eram bem de Matemática Moderna, mas era de uma Matemática mais
interessante de ser dada, sabe?!”7. E a partir desses estudos percebiam algumas vantagens
no uso do material concreto no ensino da Matemática.
Com essa dinâmica, as professoras Gliquéria e Esther, em conjunto com a professora
Henrieta, envolviam os alunos de “Didática da Matemática” do Instituto de Educação do
Paraná, na observação das aulas do ensino primário colocando-os frente à prática que
tinham como teoria nas aulas do Instituto.
O envolvimento dessas professoras em mostrar o como usar os livros elaborados por elas, é
citado em diversas dissertações e segundo Seara:
Tudo era feito, assim, graciosamente. Faziam ‘por amor à arte’, né?! Elas iam
treinar os professores para trabalhar os livros. Mas primeiro, com material
concreto! Para depois... O livro era assim, quase como uma verificação da
aprendizagem, uma fixação! O livro não era de ensinar, o livro fixava a
aprendizagem e avaliava o que você ensinou.
(SEARA, 2005, p. 46)
Assim, constatamos nas leituras que a construção dos livros do primário surgiram a partir
desses materiais e que a formação dos professores aconteciam após as aplicações desses
materiais, enfocando primeiro o material concreto.
Um ponto importante de observação é que a data de publicação dos livros do primário é de
1980, onde destacamos em todas as leituras que, mesmo depois da extinção do NEDEM, a
professora Henrieta continua utilizando os livros e os materiais desse grupo para preparar
cursos para professores da rede estadual e municipal de ensino.
Na dissertação de Seara (2005), essa prática é afirmada na menção a professora como
7 Transcriação de SEARA, H. F. Não É Difícil Ensinar Matemática. 2005. 552f. Dissertação (Mestrado em
Ensino da Matemática) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005.
autora da apostila idealizada pela professora Clélia com o objetivo de apresentar o cálculo
graduado, mas que foi aplicado, elaborado efetivamente pela professora Henrieta para a
prefeitura de Curitiba na qual a mesma trabalhava como coordenadora, divulgando tudo o
que ela tinha aprendido no NEDEM.
Esse material de cálculo graduado retratava os passos das operações, onde segundo Seara
(2005, p.72) ‘[...] as crianças aprendiam a chegar nessas divisões ‘cabeludas’ sem usar
calculadora, ou seja, bastava seguir os passos apresentados, chegando até o cálculo
graduado de números decimais’8.
Mas além dessa sistematização do passo a passo, tinha-se a preocupação da conceituação,
partindo do material concreto.
A professora Henrieta fazia material concreto para trabalhar com os alunos, para
passar o conceito. Tinham casinhas de cachorro, ossinhos e cachorro de
tamanhos diferentes, tinha barquinho. Elas trabalhavam a Conservação do
Número: ‘Não importa se está espalhado ou junto, a quantidade não altera’...
Trabalhava Seriação, Ordenação, Classificação, Correspondência um a um...
[...]
O importante é a conceituação. Se tiver uma boa conceituação...9
(SEARA, 2005, p. 73).
A professora Henrieta estava sempre envolvida, elaborando material e atuando como
docente em cursos de formação de professores, levantando questionamentos sobre a
importância da conceituação e do uso de materiais concretos.
O trabalho desenvolvido com a Matemática Moderna, por ação das professoras
do NEDEM, se estendeu a outros espaços além de escolas da rede estadual de
ensino. A professora Henrieta elaborou, em maio de 1974, a apostila intitulada
‘Matemática Moderna na Escola Fundamental, no período em que exercia a
Assessoria Pedagógica nos cursos de Aperfeiçoamento no Instituto de Educação
e atuava como Coordenadora de Matemática na prefeitura Municipal de Curitiba.
O documento apresentava a formação de conceitos com jogos por meio da
utilização dos blocos lógicos e orientava o uso dos jogos em três fases:
Preliminar, Atividades Estruturadas e Atividades práticas. Os jogos se
fundamentavam em Dienes, apresentavam uma escala de graduação
considerando os quatro atributos dos Blocos Lógicos: grandeza, espessura, cor e
forma. Com esse material, a criança era incentivada a descobrir os conceitos
lógicos nas relações estabelecidas entre as peças dos Blocos Lógicos.
(PORTELA, 2009, p. 112)
Na tese de Soares (2014) também encontramos a professora Henrieta citada como:
8 Transcriação de SEARA, H. F. Não É Difícil Ensinar Matemática. 2005. 552f. Dissertação (Mestrado em
Ensino da Matemática) – Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005. 9 Idem ao 9.
Ativa componente do NEDEM, e Coordenadora de Matemática da Rede
Municipal de Educação de Curitiba RMEC, a professora Henrieta Arruda (2005),
declara que:
O ensino correto da Matemática, quando feito de maneira correta, deve
começar com a experimentação de material concreto. Por isso, primeiro, eram
propostas situações de brincadeira e jogo para os alunos; depois, sim, eram
trabalhadas as representações escritas das coisas; era fundamental que os
professores compreendessem o modo de pensar de seus alunos, respeitando cada
uma das fases do desenvolvimento cognitivo de uma criança. (itálico do autor)
(SOARES, 2014, p. 133)
Para a professora Maria Helena Juri Reston Pinto, em entrevista concedida à Soares, 2014
a professora Henrieta, tinha um papel efetivo na divulgação do MMM em Curitiba, sendo
considerada colaboradora nos documentos oficiais da Secretaria de Educação do Município
de Curitiba.
Sendo assim acreditamos que a professora Henrieta tem muito a contribuir com o ‘resgate’
da história da formação de docentes no período do MMM em Curitiba. E para isso,
entramos em contato com a professora, que se mostrou solicita em narrar a história vivida
por ela no período do MMM. Além disso, se mostrou disposta a nos fornecer seu acervo
para a devida guarda, catalogação e disponibilização.
Continuaremos a nossa busca por documentos, livros, notícias, entre outros documentos
que enriqueçam o suporte da estruturação da entrevista, e que possam em conjunto com a
história oral, ampliar o entendimento do papel da professora no NEDEM.
Já no próximo tópico, tomamos o cuidado de elucidar a história oral com sua vertente e
como a mesma nos ajudará a alcançar os primeiros objetivos dessa pesquisa que procura
elucidar as contribuições da professora no NEDEM.
4 . História Oral
Essa pesquisa tem cunho qualitativo com o uso da história oral temática em sua vertente
metodológica. Dessa maneira se faz necessário situar o leitor frente a alguns pressupostos
do uso de tal metodologia que vem sendo amplamente discutida no âmbito do GHOEM -
Grupo de Pesquisas em História Oral e Educação Matemática.
Segundo Garnica (sem ano, p.4) “temos concebido a História Oral como metodologia de
pesquisa que envolve a criação de fontes a partir da oralidade e compromente-se com
análises coerentes com sua fundamentação”.
A professora Henrieta foi professora no período do MMM, integrante do grupo NEDEM e
tinha como prática difundir esse movimento nas escolas, formando professores e
participando da escrita de livros voltados para o ensino primário desse mesmo período. E
com isso justificamos a captação das entrevistas com essa professora, sendo um dos
objetivos dessa pesquisa a compreensão desse movimento.
Nossa pesquisa tem como objetivo destacar as contribuições da professora Henrieta
Dyminsi Arruda no grupo paranaense NEDEM - Núcleo de Estudo e Difusão do Ensino da
Matemática e proceder à organização e guarda de seu acervo. Com isso, esperamos ampliar
a compreensão sobre o papel do NEDEM na Matemática Moderna Paranaense, unindo-se
aos esforços de pesquisadores que se dedicam a estudos da MMM de maneira geral.
Observarmos então, que nos valeremos tanto de fontes orais como de documentos. Para
GARNICA (2003):
... as narrações não devem ser tomadas como cantoras substitutas que só surgem
à cena na ausência das prima-donas (as fontes ditas primárias), mas obviamente
não se pode descartar a existência de registros escritos que esclarecem faces do
depoimento e auxiliam – em muitos – no detalhamento de ocorrências
fundamentais para a composição do cenário.
(GARNICA, 2003, p. 47)
Com vistas a ampliar nossas compreensões buscaremos também documentos no Colégio
Estadual do Paraná, onde em visitaremos o setor de memória como esperança encontrar os
registros completos da existência e funcionamento do NEDEM, como por exemplo, livros
atas, ou rascunhos de reuniões, ou ainda anotações feitas pelos integrantes, mas sempre
tendo como direção o ensino primário e a formação dos professores pelo NEDEM e pelos
integrantes desse grupo, no caso a professora Henrieta.
Nessa busca, também entramos em contato com os demais diretores dos Colégios que
faziam parte do complexo escolar do estadual, com o intuito similar de buscar documentos
que relatam o MMM e a presença do NEDEM na divulgação do ensino da matemática no
ensino primário.
Concomitante a esse processo de busca efetivaremos o diálogo com a professora Henrieta,
tomando como fundamentação a fala do Garnica, (2003):
[...] as entrevistas são, por excelência, o modo de dados. Ultrapassando a ideia
limitada do questionamento e do teste de múltipla escolha, as entrevistas – que
aqui chamaremos de ‘depoimentos dialogados -, são o momento no qual o
pesquisador ouve a narração de algo que pretende compreender e articular, a
partir das compreensões e articulações do depoente. E a narração é o momento
de construção das personagens para o pesquisador tanto quanto o é, na maioria
das vezes, para o próprio depoente.
(GARNICA, 2003, p 23)
5 . Conclusão
Até o momento, avançamos os tópicos traçando um perfil inicial dessa pesquisa, colocando
como meta destacar as contribuições da professora Henrieta Dyminski Arruda no grupo
paranaense NEDEM – Núcleo de Estudos e Difusão do Ensino da Matemática e proceder à
organização e guarda de seu acervo. E com vista a nos auxiliar na compreensão do
depoimento da professora nos valeremos também de documentos escritos do próprio
acervo e de arquivos escolares, sobretudo aqueles existentes no Colégio Estadual do
Paraná e no Instituto de Educação Erasmo Pilotto.
Então entendemos que a retomada do MMM no Paraná se justifica, pois o mesmo teve
grande força, e sendo a protagonista de nossa pesquisa, a professora Henrieta, uma pessoa
influente na elaboração de material de formação de professores e materiais de difusão
desse movimento.
Todo esse acervo hoje ainda se encontra de posse da mesma, precisando ser organizado
para que sejam disponibilizados a todos aqueles que queiram conhecer a história do ensino
da Matemática no primário e a formação de professores do Paraná no período de 1960 a
1980.
Em uma breve e inicial conversa ao telefone, a professora se mostra disposta a contribuir,
tendo como fala em diversos momentos a preocupação de disponibilizar esse material,
tendo essa certeza de que esse material pode, em suas palavras, “contribuir para a melhora
do ensino da Matemática”.
Referências
FERREIRA, A.C.C. Propostas Pedagógicas de Geometria no Movimento Paranaense
de Matemática Moderna. 2006. 190 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Pontifícia
Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2006.
GARNICA, A.V.M. História Oral e História da Educação Matemática: considerações
sobre um método. Disponível em < http://www.apm.pt/files/177852_C32_4dd79e66be182.pdf> Acesso em: 04/out. Sem ano
definido
GARNICA, A.V.M. História Oral e Educação Matemática: de um inventário a uma
regulação. ZETETIKÉ, Campinas, v.11, n.19, p. 9 – 56, Jan/Jun. 2003.
KRUL, L. Memórias da Educação Matemática: introdução de ‘Matemática Moderna’ na
rede municipal de ensino de Curitiba. 2006. 189f. Dissertação (Mestrado em Educação) –
Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2006.
MEIHY J.C.S. e HOLANDA F. História Oral: como fazer, como pensar. 2. Ed. São
Paulo: Contexto, 2014.
PORTELA, M.S. Práticas de Matemática Moderna na Formação de Normalistas no
Instituto de Educação do Paraná na Década de 1970. 2009. 138f. Dissertação (Mestrado
em Educação) – Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2009.
SEARA, H.F. Núcleo de Estudos e Difusão do Ensino da Matemática – NEDEM –
‘Não É Difícil Ensinar Matemática’. 2005. 552f. Dissertação (Mestrado em Educação) –
Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 2005.
SOARES, E.T.P. Zoltan Paul Dienes e o Sistema de Numeração Decimal na Cultura
Escolar Paranaense (1960 – 1989). 2014. 288f. Tese (Doutorado em Educação) –
Pontifícia Universidade Católica do Paraná, Curitiba, 2014.