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RESUMO HISTÓRICO
A República Centro Africana (RCA) foi uma colônia de pouca importância para a França, com reflexos negativos para sua es-truturação como Estado sobera-no.2 Desde sua independência em 1960, a RCA passou por inúme-ros regimes autocráticos e trocas de poder de maneira violenta. A França manteve sua influência sobre o país por meio de ajuda, mas também se envolvendo poli-ticamente, uma vez que nenhum governo assumiu sem a aprovação ou a interferência francesa.3
O primeiro Presidente da Repú-blica Centro Africana foi David Dacko, deposto por Jean Bédel-Bokassa em 1966. Foi durante o período em que Bokassa esteve no governo que o pouco de in-fraestrutura e das instituições do
Estado foi criado. O Presidente se autonomeou vitalício e Impera-dor da África Central, recebendo apoio internacional, pois servia como forte aliado para os países ocidentais no período da Guerra Fria. Além disso, políticos fran-ceses e funcionários públicos de alto nível recebiam recompensas advindas dos recursos naturais do país. Bokassa manteve-se no po-der até 1979, quando os abusos praticados pelo seu governo ge-raram diversos protestos, sendo substituído por David Dacko após uma intervenção francesa. Os problemas no país se mantiveram e o cargo de Presidente foi sendo trocado, principalmente por meio de golpes.4
Em 2003, um novo golpe instalou o governo de Bozizé, que possuía o apoio dos países vizinhos e da França.5 Bozizé ficou conhecido
por eleições fraudulentas, corrup-ção, despotismo e por não deixar o país estável.6
Durante o seu governo a insegu-rança aumentou. Os Zaraguinas (assaltantes de estrada), respon-sabilizados por vários problemas no país, formaram o grupo que ajudou Bozizé a tomar o poder (chamado de “libertadores”), sen-do a maioria advinda do Chade, e se tornaram uma nova fonte de instabilidade. Em 2004, confli-tos entre antigos “libertadores” e militares das Forças Armadas co-meçaram a ocorrer e negociações foram feitas com a ajuda do embai-xador do Chade. Em 2005, houve o aumento das rebeliões ao norte, principalmente nas áreas rurais, e as forças de segurança da RCA fo-ram acusadas de várias violações de direitos humanos. Em 2006, inúmeros ataques realizados pe-
O CONFLITO NA REPÚBLICA CENTRO AFRICANALigia Maria Caldeira Leite de Campos
Jéssica Tauane dos Santos
Nathália Gasparini Andrade Vieira
Yasmin Virgínia Rustichelli da Silva1
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los rebeldes geraram reações das forças do governo. Cidades foram tomadas pelos insurgentes e re-conquistadas pelas Forças Arma-das com a ajuda da França. Em 2007, novos ataques foram se-guidos de enorme repressão por parte do governo, gerando seve-ras críticas, inclusive de ONGs como a Human Rights Watch e a Anistia Internacional. Em 2008, foram celebrados o “acordo global
de paz” e o “diálogo político inclu-sivo” com os movimentos rebeldes mais ativos.7 Alguns militantes fo-ram admitidos no governo, dimi-nuindo o conflito, mas os grupos continuaram a atuar no território centroafricano.8
CONFLITO ATUAL
Em 2012, Bozizé realizou prisões arbitrárias em razão de uma pos-
sível conspiração que levaria a um golpe de Estado.9
Nesse mesmo ano nasceu a coali-zão rebelde Séléka, composta por muçulmanos do nordeste do país, tendo como líder Michel Djoto-dia. O seu surgimento tem relação com questões étnicas, regionais, frustrações com o governo de Bo-zizé, devido à corrupção e sua in-capacidade de desenvolver o país além da capital Bangui. Ademais, os comerciantes de diamantes também não estavam satisfeitos com a situação que se apresen-tava, o que pode ter colaborado para que financiassem os Séléka.10 A deposição do Presidente era um dos objetivos do grupo, ainda que não demonstrasse saber o que se-ria feito caso tivesse sucesso.11 O número de membros foi crescen-do devido a busca por lucros ou acesso a terras férteis. Nas áreas de atuação o grupo passou a con-trolar alfândegas e concessões de exploração de recursos naturais como diamantes, madeira e cam-pos de petróleo.12
No início de janeiro de 2013, de-pois de três dias de negociações, o governo da RCA assinou um acordo de paz com os rebeldes.13 Contudo, a coalizão liderada pelo grupo Séléka conseguiu depor o presidente François Bozizé na-quele mesmo ano, assumindo seu líder Michel Djotodia. Entretan-to, o país estava numa situação econômica difícil e o Djotodia não tinha recursos para manter a aliança que acabou se dissol-vendo. Como consequência, a maioria dos membros da aliança, muitos deles estrangeiros, não teve outra opção senão permane-cer na RCA. Como conservaram suas armas, passaram a saquear a
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população local. As comunida-des de maioria cristã formaram então milícias, chamadas de An-ti-Balaka, para enfrentar o grupo rebelde de maioria muçulmana.14 Nesse quadro, civis também aca-baram se envolvendo no conflito. O país mergulhou no caos em meio a ataques das milícias cristãs contra o grupo rebelde. Comuni-dades muçulmanas e cristãs, que anteriormente conviviam pacifi-camente, começaram a lutar en-tre si e dezenas de milhares de pessoas se refugiaram em igrejas e mesquitas temendo ataques.15 As áreas mais atingidas foram o no-roeste e a capital Bangui, regiões com maior diversidade étnica e onde se encontra o poder do país. Assassinatos, tortura e destruição de casas e locais de cultos passa-ram a ser relatados.16
A situação no país fez com que o Conselho de Segurança da ONU (CSNU) por meio da Resolução 2127, de 5 de dezembro de 2013, aprovasse por unanimidade a criação da missão de paz da União Africana, batizada de Mission In-ternationale de Soutien à la Cen-trafrique sous Conduite Africaine (MISCA). A França, então, ini-ciou a Operação Sangaris, envian-do 1.600 militares para atuarem junto com a MISCA. A Resolução estabeleceu um mandato de 12 meses e autorizou o uso de “to-das as medidas necessárias” para reestabelecer a ordem.17 As tropas francesas e africanas lutaram lado a lado para cessar os confrontos entre os grupos, mas a violência continuou e no início de janeiro de 2014 já se havia contabilizado cerca de mil mortos.18
O Presidente passou a ser extre-
mamente pressionado interna-cionalmente para renunciar ao seu mandato, que terminaria em 2016.19 Em 10 de janeiro de 2014, Michel Djotodia e o Primeiro-Mi-nistro Nicolas Tiangaye anuncia-ram suas renúncias durante uma cúpula de dois dias da Comuni-dade Econômica dos Estados da África Central (CEEAC), ocorrida no Chade.20
Com isso, iniciou-se um processo de identificação de líderes que pu-dessem restaurar a ordem depois de meses de violência inter-reli-giosa. Catherine Samba-Panza foi eleita Presidente interina da Re-pública Centro-Africana por um Conselho Nacional de transição, comprometendo-se a trazer paz e unidade ao país.21 Poucos dias após sua posse, o CSNU autorizou o envio de uma força da União Europeia à RCA para reforçar as tropas francesas e africanas que estavam tentando conter a vio-lência sectária, entendendo que o conflito poderia se transformar em genocídio.22
Assim, em 10 de abril de 2014, foi autorizado o estabelecimento de uma operação de paz multidi-mensional, a Multidimensional Integrated Stabilization Mission in the Central African Republic (MINUSCA), para proteger civis, conduzir o processo de transição, facilitar a assistência humanitá-ria, proteger e promover os direi-tos humanos, apoiar a justiça e o Estado de direito, e realizar o pro-cesso de desarmamento, desmo-bilização, reintegração e repatria-ção de ex-combatentes na RCA.23
Durante os meses seguintes, em-bora a presença das tropas france-sas e africanas tenha conseguido diminuir a violência, os confron-tos entre os grupos Anti-Balaka e Séléka continuaram acontecendo, bem como a violência contra as populações civis, tanto muçulma-nas quanto cristãs. Com o confli-to, a população muçulmana dimi-nuiu drasticamente, pois grande parte fugiu para o Chade, Ca-marões ou para a República De-mocrática do Congo. O governo
Campo de Desalojados de Kabo
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de Samba-Panza não conseguiu avançar muito e pouco progresso ocorreu na desmobilização e rea-bilitação dos combatentes, assim como nas tentativas de mediação entre as comunidades.24
SITUAÇÃO ATUAL
No início de 2015, milhares de pessoas encontravam-se deslo-cadas internamente devido aos combates em oito áreas do país, sendo que a maioria delas se abri-gou nas florestas. Dois milhões e setecentas mil pessoas permane-ciam em situação de emergência.25 O CSNU condenou o retorno da violência no país e atentou para a necessidade urgente de responsa-bilizar os autores de atos violentos. Também demonstrou a preocupa-ção com as violações aos direitos humanos durante o conflito.26
O Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) estimava que o total de refugiados chegava a 451 mil e os deslocados internos a 442 mil, o que para uma população de cerca de 4,5 milhões de habitantes, represen-tava um número expressivo.27
A partir de março de 2015, a mis-são de paz começou a focar nas eleições e na segurança durante o processo.28 O CSNU autorizou o envio de mais 750 militares e 280 policiais ao país, pois a con-juntura continuava sendo consi-derada uma ameaça à segurança internacional.29
Desde maio, a situação foi to-mando novos rumos. Ocorreu o Fórum de Bangui, um evento que procurou reestabelecer a paz e contou com a participação de representantes do governo, par-lamento, partidos políticos, so-
ciedade civil, grupos religiosos e comunitários e dos grupos arma-dos.30 Foi estabelecido um Pacto Republicano para Paz, Reconci-liação Nacional e Reconstrução, o qual recebeu aprovação e elo-gios do Secretário-Geral da ONU, Ban Ki-moon.31 O acordo envol-veu dez grupos armados rivais e o Ministério da Defesa na RCA, visando tanto o desarmamento das milícias quanto processos aos envolvidos em crimes de guerra cometidos durante os dois anos de conflito. Ficou decidido que os acusados de genocídio, crimes de guerra e crimes contra a humani-dade não teriam anistia. O Pacto abarcou também a libertação de crianças utilizadas pelos grupos como escravas sexuais e trabalha-doras braçais. Iniciou-se o proces-so de Desarmamento, Desmobili-zação, Reinserção e Repatriação (DDRR) que incluía a absorção de parte dos membros dos grupos no exército do país. Com isso, as for-ças militares da França e da União Europeia iniciavam sua retirada e
previa-se que as eleições seriam realizadas ainda em 2015.32
As eleições foram marcadas para 18 de outubro e seriam organiza-das pela autoridade de transição que estava no poder. Também para aquele mesmo mês estava previsto um referendo sobre a nova Constituição.33
No entanto, colaborando para a complexidade da RCA, a MINUS-CA passou a sofrer alegações e denúncias de casos de estupro por parte de seus membros. Os escân-dalos resultaram na demissão de Babacar Gaye, chefe da Missão.34
Apesar de certa expectativa sobre a paz no país, em 20 de agosto, vá-rias pessoas morreram e ficaram feridas em confrontos inter-reli-giosos, após um jovem muçulma-no ser morto por milicianos Anti-Balaka, o que gerou reações dos ex-rebeldes Séléka e de jovens muçulmanos.35 Dentre os vários casos de violência relatados po-
Soldados do Burundi se deslocando para a República Centro Africana
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dem ser destacados: ataque a um comboio do Programa Mundial de Alimentos; ataques com gra-nadas e tiros contra a MINUSCA, além de tentativa de queimar seus veículos; e uma ação que feriu um trabalhador da Cruz Vermelha e matou e feriu outros civis.36
A violência manteve-se constante especialmente na capital Bangui. A nova onda de violência iniciada em setembro já havia causado a morte de pelo menos 40 pessoas, fazendo com que 40.000 pessoas fugissem e que casas, lojas e escri-tórios humanitários fossem des-truídos, o que levou ao adiamen-to das eleições parlamentares e presidencial para 13 de dezembro daquele ano. 37
Com o aumento da insegurança, em novembro Samba-Panza acu-sou as forças de paz da ONU de não conseguirem encerrar a vio-lência e pediu para que a Missão devolvesse as armas que haviam sido confiscadas do Exército, para que ele pudesse ajudar na ma-
nutenção da paz.38 Nesse mesmo mês, o Papa realizou uma visita no país, o que exigiu a ida de 300 capacetes azuis da missão da ONU na Costa do Marfim para auxiliar a MINUSCA.39
No dia 30 de dezembro de 2015 se iniciaram as eleições e o referen-do para a nova Constituição com a segurança garantida pelos mili-tares das Nações Unidas.40
Em janeiro de 2016, quando já eram esperados os resultados das votações, o Tribunal Constitucio-nal da RCA anunciou que o pri-meiro turno das legislativas havia sido anulado devido a várias ir-regularidades. Entretanto, para a Presidência a eleição foi mantida e confirmou-se que os candidatos que iriam competir no segundo turno seriam os ex-primeiros mi-nistros Anicet Georges Dologuélé e Faustin Archange Touadéra.41 Em seus discursos, Touadéra pro-meteu lutar contra a corrupção, enquanto Dologuélé focou no de-senvolvimento econômico, atrain-
do investidores para a exploração de ouro, diamantes e urânio.42
Finalmente, em 14 de fevereiro, foram realizadas as eleições le-gislativas em seu primeiro turno e as presidenciais em seu segundo sem qualquer problema com a se-gurança prestada pela MINUSCA, soldados da força francesa Sanga-ris e equipes de segurança local.43
O resultado da primeira fase das legislativas foi anunciado, sendo 21 candidatos eleitos por maioria absoluta, incluindo três mulheres. A MINUSCA continua sua ação para a segurança, incluindo a reti-rada de barricadas ilegais de ex-Sé-lékas e a captura de armas. Muitos ex-combatentes entregaram seus uniformes e armas. A prevenção e conscientização sobre assédio e abuso sexual se mantêm.44
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os governos na RCA foram todos compostos por cristãos desde a in-dependência do país. O líder Sé-léka Djotodia foi o primeiro mu-çulmano no controle do Estado. Ou seja, historicamente não hou-ve participação dos muçulmanos, resultando num sentimento de negligência, discriminação e au-sência de exercício de cidadania. Por estarem ao norte, próximos ao Chade e ao Sudão (de onde muitos eram originários), são chamados de estrangeiros pela maioria não-muçulmana. Por outro lado, a localização das co-munidades muçulmanas próxi-mas às fronteiras e o contato com estrangeiros permitiram que controlassem parte do comércio em muitas áreas, gerando preo-cupações dos não-muçulmanos em relação aos preços.45
Rebelião Séleka em Março de 2013
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2 BOAS, Morten. The Central African Republic – a history of a collapse foretold? Policy Brief, v. 1, n. 1. Oslo: Norwegian Peacebuilding Resource Centre, Jan. 2014, p.1-3.
3 BERG, Patrick. A Crisis-Complex, Not Complex Crises: Conflict Dynamics in the Sudan, Chad, and Central African Republic Tri-Border Area. IPG, v. 4, n. 4, Berlim: Internationale Politik und Gesellschaft, , Jan. 2008, p.72-86.
4 BOAS, op. cit.
5 BERG, op. cit.
6 BOAS, op. cit.
7 MEHLER, Andreas. The Production of Insecurity by African Security Forces: Insights from Liberia and the Central African Republic, Giga Research Programme: Violence and Security, v. 114, n. 114, Hamburgo: German Institute of Global And Area Studies, Nov. 2009, p.1-29.
8 ALT, Pedro Felipe da Silva. Séléka, Anti-Balaka e a intervenção francesa: o que significam os eventos dos últimos meses na República Centro-Africana? Conjuntura Africana, Porto Alegre, v. 1, n. 1, p.1-5, 10 jun. 2014.
9 Idem.
10 ARIEFF, Alexis. Crisis in the Central African Republic. Washington: Congressional Research Service, 2014.
11 BOAS, op. cit.
12 ARIEFF, op. cit.
13 DABANY, Jean Rovys. Central African Republic signs peace deal with rebels. Reuters, 11 Jan. 2013. Disponível em: <reuters.com/article/2013/01/11/us-car-rebels-idUSBRE90A0NR20130111>. Acesso em: 25 jul. 2015.
14 BOAS, op. cit.
15 CENTRAL African Republic: Operation Sangaris. Africa Research Bulletin: National Security. United Kingdom, Dec. 2013, p. 19957-19959.
16 ARIEFF, op. cit.
1 Ligia Maria Caldeira Leite de Campos, Jéssica Tauane dos Santos, Nathália Gasparini Andrade Vieira e Yasmin Virgínia Rustichelli da Silva Discentes do Curso de Relações Internacionais e membros do Grupo de Estudos e Pesquisa sobre Conflitos Internacionais (GEPCI) e do Observatório de Conflitos Internacionais (OCI).
Percebe-se então que as questões religiosas não foram a origem da hostilidade. O conflito teve rela-ção com a luta por poder, acesso a recursos, identidade nacional e controle do comércio, mas aca-bou sendo expresso na religião e nas diferenças étnicas. Exemplo disso é que os líderes religiosos do país foram os que buscaram as negociações e os acordos de paz. Outras causas podem ser destaca-das como a busca pela proteção da comunidade, ambições políticas e intenções criminosas.46
Desta forma, não se pode consi-derar o conflito como algo resul-tante de questões puramente re-ligiosas, mas também econômicas e políticas. A religião é um fator que influenciou no conflito origi-nariamente político, fazendo com que este tomasse novos rumos e acabasse por envolver civis. Logo, as rivalidades já existentes entre muçulmanos e cristãos foram po-tencializadas ao serem relaciona-das às questões políticas.
Por fim, uma questão a ser le-
vantada sobre o atual quadro da RCA é se a paz está realmente próxima.
As eleições estão sendo concluí-das, o plebiscito da nova Consti-tuição foi realizado e está próxi-mo do fim o período de transição. Entretanto, considerando as anu-lações e adiamentos constantes das eleições, ataques recentes envolvendo vítimas, o constante auxílio de forças externas para a manutenção da paz, os relatórios apresentando abusos contra os di-reitos humanos, a divisão religio-sa e a necessidade de um abran-gente processo de desarmamento e desmilitarização da população, a paz estável e duradoura parece es-tar ainda distante. Segundo Boas, é fundamental que se estabeleça um equilíbrio e a lei e a ordem sejam restabelecidas para todos e não para um grupo específico.47
A religião não deve ser tomada como base para a reestruturação da RCA, mas sim todos devem ser tratados de mesma maneira, ter os mesmos direitos e partici-parem da mesma forma da políti-ca, para assim se tentar criar uma unidade no país. Dessa forma, as eleições e a constituição de um novo governo é apenas o início de um longo processo.
Prédio saqueado e queimado na capital Bangui após a cidade ter sido tomada pelos rebeldes Séleka
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Série Conflitos Internacionais é editada pelo Observatório de Conflitos Internacionais da Faculdade de Filosofia e Ciências (FFC) da Universidade Estadual Paulista Julio de Mesquita Filho (UNESP) - Campus de Marília – SP
Editor: Prof. Dr. Sérgio L. C. AguilarLayout: Paula Schwambach MoizesISSN: 2359-5809Comentários para: [email protected]ível em: www.marilia.unesp.br/#oci
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17 NAKO, Madjiasra; IRISH, John. Central African leader faces pressure to quit at Thursday summit. Reuters, 09 Jan. 2014. Disponível em: <reuters.com/article/2014/01/09/us-centralafrican-idUSBREA0719S20140109>. Acesso em: 20 jul. 2015.
18 NAKO, Madjiasra; NGOUPANA, Paul-marin. Celebrations in Central African Republic as leader resigns. Reuters, 10 Jan. 2014. Disponível em: <reuters.com/article/2014/01/10/us-centralafrican-djotodia-idUSBREA090GT20140110>. Acesso em: 20 jul. 2015.
19 Idem.
20 SMITH, David. Central African Republic’s ‘Mother Courage’ fights to bring peace where the men have failed. The Guardian, 25 Jan. 2014. Disponível em: <theguardian.com/world/2014/jan/25/catherine-samba-panza-central-african-republic>. Acesso em: 24 jul. 2015.
21 CENTRAL African Republic: UN Security Council approves EU force intervention. The Guardian, 29 jan. 2014. Disponível em: <theguardian.com/world/2014/jan/29/central-african-republic-security-council-eu-force>. Acesso em: 26 jul. 2015.
22 BOZONNET, Charlotte. UN high commissioner raises fears about Central African Republic. The Guardian, 01 Apr. 2014. Disponível em: <theguardian.com/world/2014/apr/01/central-african-republic-ngo-political-concerns>. Acesso em: 26 jul. 2015.
23 UN. Mandated to protect civilians and support transition processes in the Central African Republic. Disponível em: <un.org/en/peacekeeping/missions/minusca/>. Acesso em: 22 jul. 2015.
24 SMITH, David. Christian militias take bloody revenge on Muslims in Central African Republic. The Guardian, 10 Mar. 2014. Disponível em: <theguardian.com/world/2014/mar/10/central-african-republic-christian-militias-revenge>. Acesso em: 28 jul. 2015.
25 GRAYLEY, Mônica Villela. Conflitos intensificam-se na República Centro-Africana, alerta Ocha. 2015. Disponível em: <unmultimedia.org/radio/portuguese/2015/01/conflitos-intensificam-se-na-republica-centro-africana-alerta-ocha/#.VfdK-_lVikp>. Acesso em: 29 jul. 2015.
26 GELBERT, Laura. Conselho de Segurança renova sanções contra República Centro-Africana. 2015. Disponível em: <unmultimedia.org/radio/portuguese/2015/01/conselho-de-seguranca-renova-sancoes-contra-republica-centro-africana/#.VfdLxvlVikp>. Acesso em: 25 ago. 2015.
27 EDGARD JÚNIOR. Acnur alerta que 30 mil fugiram da violência na República Centro-Africana. 2015. Disponível em: <unmultimedia.org/radio/portuguese/2015/02/acnur-alerta-que-30-mil-fugiram-da-violencia-na-republica-centro-africana/#.VfdMVflVikp>. Acesso em: 26 jul. 2015.
28 LETRA, Leda. Segundo relatora, grupos armados continuam a aterrorizar centro-africanos. 2015. Disponível em: <unmultimedia.org/radio/portuguese/2015/03/segundo-relatora-grupos-armados-continuam-a-aterrorizar-centro-africanos/#.VfdM4vlVikp>. Acesso em: 29 jul. 2015.
29 LETRA, Leda. Autorizado o aumento do contingente militar e policial da Minusca. 2015. Disponível em: <unmultimedia.org/radio/portuguese/2015/03/autorizado-o-aumento-do-contingente-militar-e-policial-da-minusca/#.VfdNaPlVikp>. Acesso em: 29 jul. 2015.
30 GUEVANE, Eleutério. Grupos armados concordam em libertar crianças centro-africanas. 2015. Disponível em: <unmultimedia.org/radio/portuguese/2015/05/grupos-armados-concordam-em-libertar-criancas-centro-africanas/#.Vdy9o_ZViko>. Acesso em: 26 jul. 2015.
31 LETRA, Leda. Ban saúda adoção de tratado de paz na República Centro-Africana. 2015. Disponível em: <unmultimedia.org/radio/portuguese/2015/05/ban-sauda-adocao-de-tratado-de-paz-na-republica-centro-africana/#.Vdy9r_ZViko>. Acesso em: 25 jul. 2015.
32 LAMBA, Sebastien. Central African Republic militias agree to disarmament deal. 2015. Disponível em: <af.reuters.com/article/topNews/idAFKBN0NW0O420150511?sp=true>. Acesso em: 15 jul. 2015.
33 DEMBASSA-KETTE, Crispin. República Centro-Africana anuncia eleições para 18 de outubro. Reuters, 2015. Disponível em: <br.reuters.com/article/worldNews/idBRKBN0OY 31K20150618>. Acesso em: 17 jul. 2015.
34 REPÚBLICA Centroafricana: novo chefe da Minusca. 2015. Disponível em: <portugues.rfi.fr/africa/20150819-republica-cenroafricana-novo-chefe-da-minusca>. Acesso em: 25 ago. 2015. UN. SECRETARY-GENERAL Appoints Parfait Onanga-Anyanga of Gabon Acting Special Representative in Central African Republic. 2015. Disponível em: <un.org/press/en/2015/sga1587.doc.htm>. Acesso em: 20 ago. 2015. ONU revela novas alegações de abuso sexual por capacetes-azuis na República Centro-Africana. 2015. Disponível em: <nacoesunidas.org/onu-revela-novas-alegacoes-de-abuso-sexual-por-capacetes-azuis-na-republica-centro-africana/>. Acesso em: 26 ago. 2015.
35 DEZ morrem em confrontos na República Centro-Africana. O Globo, 2015. Disponível em: <g1.globo.com/mundo/noticia/2015/08/dez-morrem-em-confrontos-na-republica-centro-africana.html>. Acesso em: 25 ago. 2015.
36 EDGARD JÚNIOR. ONU condena ataque na República Centro-Africana. 2015. Disponível em: <unmultimedia.org/radio/portuguese/2015/07/onu-condena-ataque-na-republica-centro-africana/#.VfdPEvlVikp>. Acesso em: 29 jul. 2015. GUEVANE, Eleutério. Polícia da ONU fala de táticas nos ataques na República Centro-Africana. 2015. Disponível em: <unmultimedia.org/radio/portuguese/2015/08/policia-da-onu-fala-de-taticas-nos-ataques-na-republica-centro-africana/#.Vdy8G_ZViko>. Acesso em: 20 ago. 2015. GUEVANE, Eleutério. Ataque na República Centro-Africana fere funcionário da Cruz Vermelha. 2015. Disponível em: <unmultimedia.org/radio/portuguese/2015/08/ataque-na-republica-centro-africana-fere-funcionario-da-cruz-vermelha/#.VfdQIflVikp>. Acesso em: 29 ago. 2015.
37 DEMBASSA-KETTE, Crispin; BIGG, Matthew Mpoke; LAWSON, Hugh. Four wounded in violence in Central African Republic capital. Reuters, 2015. Disponível em: <reuters.com/article/us-centralafrica-violence-idUSKCN0S92E620151015>. Acesso em: 20 out. 2015. CENTRAL African Republic schedules fresh elections after cancelling October poll. The Guardian, 29 Oct. 2015. Disponível em: <theguardian.com/world/2015/oct/29/central-african-republic-announces-fresh-elections>. Acesso em: 03 nov. 2015.
38 AUMENTA a violência entre cristãos e muçulmanos na República Centro-Africana. Euronews, 02 Nov. 2015. Disponível em: <pt.euronews.com/2015/11/02/aumenta-a-violencia-entre-cristaos-e-muculmanos-na-republica-centro-africana/>. Acesso em: 03 nov. 2015. DEMBASSA-KETTE, Crispin. Violence hits Central African Republic ahead of pope’s visit. Disponível em: <reuters.com/article/us-centralafrica-violence-idUSKCN0SR1MJ20151102#uOwjZ1L7fkQfaecO.97>. Acesso em: 03 nov. 2015.
39 PULLELLA, Philip. Relações tensas entre cristãos e muçulmanos marcam viagem do papa à África. Reuters, 2015. Disponível em: <br.reuters.com/article/worldNews/idBRKBN0TC1J520151123>. Acesso em: 01 dez. 2015. e VIAGEM do Papa à África é cercada de medidas de segurança extremas. Disponível em: <g1.globo.com/mundo/noticia/2015/11/viagem-do-papa-africa-e-cerca-da-de-medidas-de-seguranca-extremas.html>. Acesso em: 01 dez. 2015.
40 DEMBASSA-KETTE, Crispin. Central African Republic votes, aiming to end violence. Reuters, 2016 Disponível em: <reuters.com/article/us-centralafrica-election-idUSKBN0UD1AK20151230>. Acesso em: 05 jan. 2016.
41 BARBOSA, Rodrigo. Legislativas anuladas na República Centro-Africana. Euronews, 25 Jan. 2016. Disponível em: <pt.euronews.com/2016/01/25/legislativas-anuladas-na-republica-centro-africana/>. Acesso em: 04 fev. 2016.
42 CENTRO-AFRICANOS votam pela paz e pelo fim do conflito religioso. UOL, 14 fev. 2016. Disponível em: <noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/reuters/2016/02/14/centro-africanos-votam-pela-paz-e-pelo-fim-do-conflito-religioso.htm>. Acesso em: 16 fev. 2016.
43 ONU: Mulheres se sobressaem em eleições na República Centro-Africana. Disponível em: <nacoesunidas.org/onu-mulheres-se-sobressaem-em-eleicoes-na-republica-centro-africana/>. Acesso em: 16 fev. 2016.
44 Idem.
45 ARIEFF, op. cit.
46 Idem.
47 BOAS, op. cit.