memórias de um sargento de milícias - fuvest
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Memórias de um Sargento de MilíciasMANUEL ANTÔNIO DE ALMEIDA – 1852-3
AutorRio de Janeiro, 1831-1861
Infância pobre – órfão de pai
Belas Artes
Medicina
Revisor (se mata!)
Redator no Correio Mercantil (Machadão tipógrafo)
Diretor da Tipografia Nacional
Candidato a Deputado - naufrágio
Contexto MUNDIAL
Revolução Industrial
Independência dos EUA
Revolução Francesa
Liberalismo
Alteração social: ideal de vida aristocrático superado pelo burguês
Ideal artístico: idem
DELACROIX, A LIBERDADE GUIANDO O POVO
Artes Plásticas: NaturezaARCADISMO – WATTEAU, EMBARQUE PARA CÍTARA
ROMANTISMO – FRIEDRICH, CASAL CONTEMPLANDO A LUA
Razão e sensibilidadeVERSAILLES TURNER, TEMPESTADE
BRASIL
1822: Independência do Brasil
Necessidade de manter a unidade territorial
1836: Suspiros poéticos e saudades, Gonçalves de Magalhães
1838: IHGB " ... amalgamação muito difícil será a liga de tanto metal heterogêneo, como brancos, mulatos, pretos livres e escravos, índios etc. etc. etc., em um corpo sólido e político"
José Bonifácio, 1813.
E Deus fala “Um elemento importante nos anos de 1820 e 1830 foi o desejo de autonomia literária, tornado mais vivo depois da Independência. Então, o Romantismo apareceu aos poucos como caminho favorável à expressão própria da nação recém-fundada, pois fornecia concepções e modelos que permitiam afirmar o particularismo, e portanto a identidade, em oposição à Metrópole, identificada com a tradição clássica. Assim surgiu algo novo: a noção de que no Brasil havia uma produção literária com características próprias, que agora seria definida e descrita como justificativa da reivindicação de autonomia espiritual.”
(Antonio Candido, O Romantismo no Brasil)
‘bora pro livro?
- Folhetim
- Pseudônimo “Um brasileiro”
- pouca atenção na época◦José Veríssimo (final XIX)◦Mário de Andrade (início XX): ATENÇÃO, PESSOAL GV!
RESUMOFilho do capitão do Exército Real desvirgina Mariazinha ($)
↓
Leonardo Pataca & Maria da Hortaliça
Beliscão e Pisadela ↓ (7 meses)
Leonardinho Pataca (filho)
Batizado ↓ (7 anos)
Maria da Hortaliça + Marinheiro
Pontapé ↓ Procissão Barbeiro (planos)
Barbeiro (planos)
↓
(9 anos) escola e Igreja (ordem X desordem)
↓
Leonardo Pai: namoro / festas / cigana / magia negra - Vidigal
↓
moço: malandro carioca
Dona Maria ↓
Luizinha e José Manuel ($)
Morte do barbeiro($) ↓
Leonardinho vai morar com o pai ($)
Chiquinha ↓
Leonardinho vai morar com Tomás da Sé e Vidinha
Vidinha e Leonardinho ↓ Primos
Leonardinho preso por Vidigal
Fuga ↓
Madrinha: Leonardinho no Serviço Real
↓
Leonardinho e mulher de “Toma-Largura”
Surra / prisão ↓ Toma-largura e Vidinha
Leonardinho soldado
Ajuda bicheiro ↓
Leonardinho preso
Leonardinho, já interessado por Luisinha, é preso
Intervenção das mulheres ↓
Leonardinho solto
Luisinha e José Manuel ↓ Morte de José Manuel
Sargento de milícias
↓
Casamento
Carta do pai ($ barbeiro) ↓
Mortes
Tempo e lugarERA NO TEMPO DO REI
Brasil no tempo do Rei
Debret
Tempo
- Predomínio de tempo cronológico
- Ocorrências de Flashback
Rupturas
Quem conduz o tempo da narrativa?
TEMPO DA ENUNCIAÇÃO - quando a história é contada
Período pós-joanino, meados do XIX
QUE TAL UM PARALELINHO BÁSICO COM OUTRAS OBRAS?
TEMPO DO ENUNCIADO - quando a história se passou
“ERA no tempo do rei”
Período joanino
PersonagensPLANAS
ALEGORIAS DA ‘ARRAIA MIÚDA’
“Era a comadre uma mulher baixa, excessivamente gorda, bonachona, ingênua ou tola até um certo ponto, e finória até outro; vivia do ofício de parteira, que adotara por curiosidade, e benzia de quebranto; todos a conheciam por muito beata e pela mais desabrida papa-missas da cidade.”
Leonardinho - Protagonista da história;
- Malandro, sorte, plano. “(...) o malandro, como o pícaro, é espécie de um gênero mais amplo de aventureiro astucioso, comum a todos os folclores. Leonardo pratica a astúcia pela astúcia (mesmo quando ela tem por finalidade safá-lo de uma enrascada), manifestando um amor pelo jogo-em-si que o afasta do pragmatismo dos pícaros, cuja malandragem visa quase sempre ao proveito ou a um problema concreto, lesando frequentemente terceiros na sua solução.” Antonio Candido
Pícaro: ardiloso, sagaz, esperto; ridículo, burlesco. Lit.; teatro: Personagem central da trama picaresca, cuja principal característica é viver de ardis e expedientes para tirar proveito das classes mais privilegiadas. (Caldas Aulete)
Leonardo Pataca - Pai de Leonardo, oficial de justiça.
“Tratava-se de uma cigana; o Leonardo a vira pouco tempo depois da fuga da Maria, e das cinzas ainda quentes de um amor mal pago nascera outro que também não foi a este respeito melhor aquinhoado; mas o homem era romântico, como se diz hoje, e babão, como se dizia naquele tempo; não podia passar sem uma paixãozinha.”
Maria das Hortaliças - Mãe de Leonardinho, camponesa;
- Danadinha, abandona o filho.
Compadre / Padrinho - Barbeiro, responsável pela “criação” de Leonardinho;
- Apesar de seus planos, não coloca limites no garoto.
Comadre / Madrinha - Ingênua, religiosa, parteira;
- Fofoqueira.
Major Vidigal - Representante da ordem. OU NÃO!
“O major recebeu-as de rodaque de chita e tamancos, não tendo a princípio suposto o quilate da visita; apenas porém reconheceu as três, correu apressado à camarinha vizinha, e envergou o mais depressa que pôde a farda; como o tempo urgia, e era uma incivilidade deixar sós as senhoras, não completou o uniforme, e voltou de novo à sala de farda, calças de enfiar, tamancos e um lenço de Alcobaça sobre o ombro, segundo o seu uso. A comadre, ao vê-lo assim, apesar da aflição em que se achava, mal pôde conter uma risada que lhe veio aos lábios.”
Dona Maria - Tia de Luisinha
- Rica (a única do livro), viciada em questões judiciais.
Luisinha - Par romântico de Leonardinho
- Feia e sem graça, de início; depois de ficar viúva (nada como um romance romântico!), torna-se mais interessante para o protagonista.
Vidinha - Jovem mulata que encanta Leonardinho.
- INDISPENSÁVEL traçar um paralelo com Rita Baiana, a mulata fogosa do romance realista-naturalista O Cortiço.
Maria Regalada - A antiga paixão de Major Vidigal
- Responsável por desencadear a desordem na vida dele.
Tipos
Ciganos
Mestre de Cerimônias
CONCLUSÃO - camadas populares
- perfil caricato
- descrição
COMPORTAMENTOS, HÁBITOS E COSTUMES EM VISÃO CARNAVALIZADORA
ROMANCE DE COSTUMES
Foco Narrativo3ª PESSOA ONISCIENTE
“Como o velho tenente-coronel conhecia a comadre e o Leonardo, e porque se interessava por ele, o leitor saberá mais para diante.”
IRONIA “Quanto ao moral, se os sinais físicos não falham, quem olhasse para a cara do Sr. José Manuel assinava-lhe logo um lugar distinto na família dos velhacos de quilate.”
POSTURA ANTIRROMÂNTICA “Tratava-se de uma cigana; o Leonardo a vira pouco tempo depois da fuga da Maria, e das cinzas ainda quentes de um amor mal pago nascera outro que também não foi a este respeito melhor aquinhoado; mas o homem era romântico, como se diz hoje, e babão, como se dizia naquele tempo; não podia passar sem uma paixãozinha.”
ROMANCE DE COSTUMES
ROMANCE MEMORALISTA
VALORIZAÇÃO DA LINGUAGEM COLOQUIAL
LINGUAGEM
Jornalística;Coloquial;Registro histórico.
- É o que lhe digo: a saloiazinha era da pele do tinhoso!
- E parecia uma santinha...e o Leonardo o que lhe fez?
- Ora, desancou-a de murros (...)
AUTORIA- Pseudônimo
- Brás Cubas
Dois breves paralelos
Ganchos para fidelizar o leitor: folhetim
“Dadas estas explicações, voltemos a dar conta do resto da cena que deixamos suspensa.”
Metalinguagem
Ironia
VIAGENS NA MINHA TERRA
MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS
Romance de costumes
Registro linguístico: estruturas frasais semelhantes às empregadas no reinado de D. João VI, portanto antiquadas quando da publicação (Segundo Reinado);
Estrutura narrativa: capítulo abre com o geral (cenário da época) e alcança o particular (enredo).
Cap. 8 – O Pátio dos Bichos
“Ainda hoje existe no saguão do paço imperial, que no tempo em que se passou esta história se chamava palácio del-rei, uma saleta ou quarto que os gaiatos e o povo com eles denominavam o Pátio dos Bichos. (...) O rei, que percebia o negócio, desatava a rir e o mandava embora. (...) Vamos fazer o leitor tomar conhecimento com um desses ativos militares, que entra também na nossa história. (...) Assim, um dia que uma mulher de mantilha o foi procurar, e se pôs com ele a conversar por algum tempo e particular, passavam uns e outros e escarravam junto da porta, ou deixavam escapar uma ou outra chalaça análoga. (...) A mulher de mantilha é nossa conhecida.” (Intercede junto ao tenente-coronel pelo meirinho).
CRÍTICA ESPECIALIZADA
ANTONIO CANDIDODIALÉTICA DA MALANDRAGEM
- Ordem e desordem
“(...) pai, mãe e filho são três nódulos de relações, positivas e negativas, sendo que os dois primeiros constituem uma espécie de prefiguração do destino do terceiro. A vida de Leonardo Filho será igualmente uma oscilação entre os dois hemisférios, com maior variedade de situações.”
“Se analisarmos o sistema de relações em que está envolvido, veremos primeiro a atuação dos que procuram encaminhá-lo para a ordem.” (herói)
Narrador: “(...) equivalência entre o universo da ordem e da desordem [...] acabam igualmente nivelados ante um leitor incapaz de julgar, porque o autor retirou qualquer escala necessária para isso.”
Luisinha X Vidinha: ordem X desordem. “(...) não podemos deixar de fazer uma extrapolação. Dada a estrutura daquela sociedade, se Luisinha pode vir a ser uma esposa fiel e caseira, o mais provável é que Leonardo siga a norma dos maridos e, descendo alegremente do hemisfério da ordem, refaça a descida pelos círculos da desordem, onde o espera aquela Vidinha ou outra equivalente, para juntos formarem um casal suplementar, que se desfará em favor de novos arranjos, segundo os costumes da família brasileira tradicional.”
“Suprimindo o escravo, Manuel Antônio suprimiu quase totalmente o trabalho; suprimindo as classes dirigentes, suprimiu os controles do mundo. Ficou o ar de jogo [...] que se traduz na dança dos personagens entre lícito e ilícito, sem que possamos dizer afinal o que é um e o que é outro, porque todos acabam circulando de um para o outro com uma naturalidade que lembra o modo de formação das famílias [...] do século XIX.”
Romance Romântico EXCÊNTRICOEXCÊNTRICO POIS◦Não envolve personagens da
classe dominante;◦Personagem central não é herói
nem vilão;◦Cenas não idealizadas;◦Ausência de moralismo ou
maniqueísmo;◦Humor;◦Estilo coloquial, direto e oral.
PORÉM...
- Época;- Volta ao passado histórico;- Situações criadas artificialmente;- Casamento por amor;- Final feliz.
EDU TERUKI OTSUKATRETAS E RIXAS DO POVO
- impulsos agressivos, rivalidades e conflitos, sem perder o humor
- crítica implícita ao momento de entrada de produtos europeus
- modo de viver da classe média
- hostilidade entre pessoas da mesma classe social: necessidade de humilhação
- esse é o motivo de ser um romance atual
“Se Leonardo consegue ascender socialmente, passando de zé-ninguém a herdeiro de fortunas e sargento de milícias, isso ocorre simplesmente como decorrência dos vários arranjos e trocas de favores que pautam as condutas e as relações dos pobres com os poderosos, e não como resultado do esforço do protagonista. Essas relações são mostradas como resultado da organização social particular do Brasil. O narrador observa: “Já naquele tempo (e dizem que é defeito nosso), o empenho, o compadresco eram uma mola real de todo o movimento social”.
Bibliografia ALMEIDA, Manuel Antonio. Memórias de um sargento de milícias
CANDIDO, Antonio. “Dialética da malandragem”, in: O discurso e a cidade.
OTSUKA, Edu Teruki. “Tretas e rixas do povo”. http://www.revistadehistoria.com.br/secao/leituras/tretas-e-rixas-do-povo-1