mecanismo de redução de energia assegurada
DESCRIPTION
MRATRANSCRIPT
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Dedico esta dissertao minha querida esposa Isabel e a meus filhos Samuel e Joo Vtor,
as trs pessoas mais importantes na minha vida.
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AGRADECIMENTOS
minha querida esposa e meus queridos e amados filhos, pela compreenso e pelo apoio durante este perodo e por terem me possibilitado chegar at aqui.
minha me que, independente de entender a complexidade de se elaborar um texto de dissertao, sempre est orando e torcendo por mim e para meu sucesso. Ao meu pai que, ausente fisicamente, mas presente espiritualmente, me deixou como exemplos a dedicao, o respeito, a moral, a honra e a importncia do saber dedicado ao bem.
professora Maria Helena, pela atenciosa orientao neste mestrado e tambm pelo apoio que j vem desde o CESEP.
CEMIG, representada no gerente Carlos Aloysio, pelo incentivo ao meu desenvolvimento profissional, possibilitando a oportunidade de cursar o CESEP e o mestrado.
Aos colegas da CEMIG, especialmente Ricardo Aquino e Luiz Carlos Sperandio, pelo apoio para a concluso de mais esta importante etapa da minha vida.
Serei sempre grato a todos vocs, por tudo.
Muito obrigado.
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A maneira mais fcil e mais segura de vivermos honradamente, consiste em sermos, na realidade, o que parecemos ser. Scrates
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RESUMO
A presente dissertao foi desenvolvida com o objetivo de estudar a
Resoluo Normativa ANEEL 688/2003 que regulamenta a aplicao do
Mecanismo de Reduo de Energia Assegurada MRA pela Agncia Nacional
de Energia Eltrica para incentivar a disponibilidade das instalaes de
gerao integrantes do Sistema Interligado Nacional.
Este trabalho busca avaliar o impacto do MRA no planejamento e na
organizao da Engenharia de Manuteno da Gerao e propor
procedimentos para otimizao da manuteno do sistema relativo ao MRA. O
texto contm explicaes sobre os principais itens da norma e exemplos de
clculo do Mecanismo de Reduo de Energia Assegurada para as principais
Funes da Gerao. Ao final, proposto um estudo a ser elaborado
juntamente com a concessionria de gerao para avaliao dos resultados
para esta concessionria e para o sistema eltrico depois de iniciada a
apurao das indisponibilidades pelo Operador Nacional do Sistema Eltrico
ONS, quando haver um nmero de dados suficientes para anlise.
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v
ABSTRACT
The current master thesis was developed with the objective of studying the
resolution guidelines 688/2003 which regulates the application of Insured
Energy Reduction Mechanism - MRA as the mechanism used by the Brazilian
Electricity Regulatory Agency to encourage the availability of generation
facilities members of National Interconnected System.
This work intends to evaluate the impact of MRA in the planning and
organization of the Maintenance Engineering of Generation and to propose
procedure for betterment of system maintenance relatives the MRA. The text
contains explanatory notes on the main commands of the standard and
practical examples of calculating the Insured Energy Reduction Mechanism to
the main functions of generation. At the end, is proposed a study together with
the concessionaire of generation for evaluation of the results for this
concessionaire and the electrical system after the obtainment of unavailability
initiated by the National Electric System Operator - ONS, when there will be a
sufficient data number for analysis.
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vi
SUMRIO
1 INTRODUO ............................................................................................ 1
2 SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL REESTRUTURAO, OPERAO E COMERCIALIZAO ................................................................ 6
2.1 Introduo ............................................................................................ 6
2.2 Reestruturao do Setor Eltrico Brasileiro ......................................... 6
2.3 A Operao do Sistema Interligado Nacional .................................... 13
2.3.1 Evoluo e Estrutura Operacional .............................................. 13
2.3.2 Planejamento timo da Operao .............................................. 16
2.4 Comercializao de Energia no SIN .................................................. 20
2.4.1 Introduo ................................................................................... 20
2.4.2 Ambientes de Comercializao de Energia ................................ 21
2.4.3 Cmara de Comercializao de Energia Eltrica (CCEE) .......... 26
2.5 Consideraes Finais ......................................................................... 27
3 ENGENHARIA DE MANUTENO .......................................................... 29
3.1 Introduo .......................................................................................... 29
3.2 Evoluo da Manuteno ................................................................... 29
3.3 Tipos de Manuteno ......................................................................... 33
3.3.1 Manuteno Corretiva ................................................................. 34
3.3.2 Manuteno Preventiva .............................................................. 34
3.3.3 Manuteno Preditiva. ................................................................ 35
3.3.4 Manuteno Detectiva. ............................................................... 36
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vii
3.3.5 Engenharia de Manuteno. ....................................................... 37
3.4 Objetivos da Manuteno no Contexto Atual ..................................... 37
3.5 Manuteno como Funo Estratgica .............................................. 40
3.5.1 Gesto da Manuteno ............................................................... 40
3.5.2 Manuteno Estratgica ............................................................. 40
3.6 Consideraes Finais ......................................................................... 42
4 O MECANISMO DE REDUO DE ENERGIA ASSEGURADA MRA ... 434.1 Introduo .......................................................................................... 43
4.2 Conceitos e Definies Relevantes.................................................... 44
4.2.1 Energia Assegurada ................................................................... 44
4.2.2 Mecanismo de Realocao de Energia (MRE) ........................... 45
4.2.3 Preo de Liquidao das Diferenas (PLD) ................................ 46
4.2.4 Custo Marginal de Operao (CMO) .......................................... 47
4.2.5 Tarifa de Energia de Otimizao (TEO) ...................................... 47
4.3 O Sistema SAMUG ............................................................................ 47
4.4 Funo Gerao ................................................................................ 56
4.5 MRA - Equacionamento ..................................................................... 58
4.5.1 Exemplo de Aplicao do MRA Caso Real .............................. 68
4.6 Consideraes Finais ......................................................................... 69
5 RECOMENDAES DE MELHORIAS NO PLANEJAMENTO E
ORGANIZAO DA ENGENHARIA DE MANUTENO COM O MRA .......... 70
5.1 Introduo .......................................................................................... 70
5.2 Impacto do MRA no Planejamento da Expanso ............................... 70
5.3 Impacto do MRA na Operao do Sistema ........................................ 72
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viii
5.4 Impacto do MRA na Manuteno dos Equipamentos do Sistema ..... 73
5.4.1 Recomendaes Gerais ............................................................. 73
5.4.2 Manuteno Preditiva dos Principais Equipamentos da Funo
Gerao .................................................................................................... 75
5.4.3 Demais Propostas de Melhorias na Operao, Manuteno e
Expanso do Sistema .................................................................................. 93
5.5 Concluses ........................................................................................ 97
6 CONCLUSES E PROPOSTAS DE CONTINUIDADE ............................ 99
Referncias Bibliogrficas .............................................................................. 101
Apndice ........................................................................................................ 103
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ix
NDICE DE FIGURAS E TABELAS Figura 2.1 Nova estrutura institucional do SEB ............................................... 9
Figura 2.2 Hierarquia operacional entre os centros de operao do ONS e os
centros de operao dos agentes ............................................................. 15
Figura 2.3 Consequncias operativas de um sistema hidrotrmico .............. 17
Figura 2.4 Funes Custo Imediato (FCI) e Custo Futuro (FCF) ................. 18
Figura 2.5 Ponto timo para uso da gua ..................................................... 19
Figura 2.6 Viso geral da comercializao de energia ................................. 22
Figura 3.1 Tipos de manuteno .................................................................. 33
Figura 3.2 Resultados x tipos de manuteno ............................................. 37
Figura 3.3 Desenvolvimento da manuteno ............................................... 38
Figura 3.4 Ruptura para alcance de benchmark .......................................... 39
Figura 3.5 Viso estratgica da manuteno ................................................ 41
Figura 4.1 Exemplo de tela do sistema SAMUG ........................................... 48
Figura 4.2 Planilha de registro de mudanas de estados operativos ............ 54
Figura 4.3 Fluxograma tpico para classificao das mudanas de estados
operativos de unidades geradoras ............................................................ 55
Figura 4.4 Tela do sistema HDOM ................................................................ 56
Figura 4.5 Conceito de conjunto gerador e ativos de conexo ..................... 58
Figura 4.6 Disponibilidade de referncia x potncia da UG........................... 62
Figura 4.7 Exemplo de reduo energia assegurada considerando FID=0,91
.................................................................................................................. 64
Figura 4.8 Histrico de disponibilidade da usina ABC ................................... 66
Figura 4.9 FID de uma usina hidreltrica caso real .................................... 69
Figura 5.1 Taxa de falha por equipamento anos 2008 e 2009 ................... 77
Figura 5.2 Tempo mdio de reparo da funo por equipamento anos 2008
e 2009 ....................................................................................................... 78
Figura 5.3 Quantidade de falhas por equipamento anos 2008 e 2009 ....... 80
Figura 5.4 Arranjo tpico de monitoramento de unidade geradora hidrulica 81
Figura 5.5 Oscilaes no mancal de escora ano 2001 ............................... 86
Figura 5.6 Oscilaes no mancal de escora ano 2010 ............................... 86
Figura 5.7 Oscilaes no mancal guia da turbina ano 2001 ....................... 87
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x
Figura 5.8 Oscilaes no mancal guia da turbina ano 2010 ....................... 87
Figura 5.9 Grfico de altura de pulso fase C .............................................. 89
Figura 5.10 Grfico de anlise de fase do pulso fase C ............................. 89
Figura 5.11 Grfico da evoluo das medies histricas das variveis do
processo fase C ..................................................................................... 90
Figura 5.12 Imagens trmicas de conexes de sada do gerador ................. 92
Figura 5.13 Imagens trmicas de conexes de sada do gerador aps
correo .................................................................................................... 93
Tabela 2.1 Atividades no segmento de energia eltrica .................................. 9
Tabela 2.2 Atribuies da ANEEL,MAE e ONS no Sistema Eltrico Brasileiro
.................................................................................................................. 10
Tabela 2.3 Sntese das mudanas dos modelos ........................................... 12
Tabela 2.4 Resumo dos tipos de leilo ......................................................... 23
Tabela 2.5 Caractersticas do fornecimento de energia eltrica mercados
cativo e livre .............................................................................................. 25
Tabela 3.1 Evoluo da manuteno ............................................................ 32
Tabela 4.1 Cdigos para classificao de eventos ....................................... 50
Tabela 4.2 Origens das indisponibilidades - A .............................................. 51
Tabela 4.3 Origens das indisponibilidades - B .............................................. 52
Tabela 4.4 Origens das indisponibilidades - C .............................................. 53
Tabela 4.5 Origens das indisponibilidades - D .............................................. 54
Tabela 4.6 Tabela (parcial) anexa carta [ONS-05] .................................. 61
Tabela 4.7 Impacto financeiro da usina ABC ano de 2008 ......................... 65
Tabela 5.1 Taxa de falhas por equipamento ................................................. 77
Tabela 5.2 Tempo mdio de reparo da funo por equipamento (horas) ..... 78
Tabela 5.3 Quantidade de falhas por equipamento ....................................... 79
Tabela A.1 Estados operativos: cdigo e descrio .................................... 103
Tabela A.2 Condio operativa: cdigo e descrio ................................... 104
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xi
SIGLAS
ABRAGE: Associao Brasileira das Empresas Geradoras de Energia Eltrica ACR: Ambiente de Contratao Regulada ACL: Ambiente de Contratao Livre ANA: Agncia Nacional de guas ANATEL: Agncia Nacional de Telecomunicaes ANEEL: Agncia Nacional de Energia Eltrica ANP: Agncia Nacional do Petrleo CCEAR: Contratos de Comercializao de Energia Eltrica no Ambiente Regulado
CCEAL: Contratos de Compra de Energia no Ambiente Livre CCEE: Cmara de Comercializao de Energia Eltrica CMO: Custo Marginal de Operao CNOS: Centro Nacional de Operao do Sistema CNPE: Conselho Nacional de Poltica Energtica COG: Centro de Operao da Gerao COR: Centro de Operao Regional COS: Centro de Operao do Sistema COSR: Centro de Operao dos Sistemas Regionais COT: Centro de Operao da Transmisso DNAEE: Departamento Nacional de guas e Energia Eltrica EPE: Empresa de Pesquisa Energtica FCF: Funo Custo Futuro FCI: Funo Custo Imediato FG: Funo de Gerao GCH: Grande Central Hidreltrica GCOI: Grupo Coordenador da Operao Interligada LRC: Lightning Research Center MAE: Mercado Atacadista de Energia MCT: Ministrio da Cincia e Tecnologia MF: Ministrio da Fazenda
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xii
MICT: Ministrio da Indstria, do Comrcio e do Turismo MMA: Ministrio do Meio Ambiente MME: Ministrio de Minas e Energia MPO: Ministrio do Planejamento MRA: Mecanismo de Reduo de Energia Assegurada MRE: Mecanismo de Realocao de Energia ONS: Operador Nacional do Sistema PLD: Preo de Liquidao das Diferenas PROCON: rgo de Proteo ao Consumidor PPGEE: Programa de Ps-Graduao em Engenharia Eltrica RESEB: Reestruturao do Setor Eltrico Brasileiro SAE: Secretaria de Assuntos Estratgicos SAMUG: Sistema de Apurao de Mudanas de Estados Operativos de Unidades Geradoras, Usinas e Interligaes Internacionais SEB: Setor Eltrico Brasileiro SEN: Secretaria de Energia SGI: Sistema de Gerenciamento de Intervenes SIN: Sistema Interligado Nacional TEO: Tarifa de Energia de Otimizao UG: Unidade Geradora
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Captulo 1 Introduo 1
1 INTRODUO O Mecanismo de Reduo de Energia Assegurada (MRA) tem como
objetivo estabelecer as disposies relativas qualidade do servio pblico de
gerao de energia eltrica, associada disponibilidade das instalaes de
gerao integrantes do Sistema Interligado Nacional (SIN).
Para as empresas geradoras de energia, existe o mecanismo que
possibilita a comercializao de energia considerando o risco hidrolgico,
denominado Mecanismo de Realocao de Energia (MRE). Esse mecanismo
permite a comercializao de energia at o limite da energia assegurada
estabelecida pelo Ministrio de Minas e Energia (MME). Tal energia calculada
considerando critrios de segurana no suprimento do sistema eltrico. Para se
ter uma ideia global da energia assegurada, a mesma corresponde em torno de
60% da capacidade instalada, podendo chegar a at 90% em alguns casos. No
caso da usina gerar menos que a energia assegurada que foi vendida, a
mesma poder adquiri-la de outros geradores participantes do MRE a um custo
reduzido, se comparado ao custo do mercado. No caso de gerar mais que a
assegurada, poder vend-la a outros participantes do MRE ao mesmo preo,
mitigando assim o risco hidrolgico entre todos os participantes. Para
verificao da disponibilidade das usinas e a utilizao do MRE, existe o MRA.
A incluso do MRA penaliza financeiramente as concessionrias de
gerao com perda de receita quando houver a indisponibilidade de suas
instalaes ou houver restries operativas para o Operador Nacional do
Sistema (ONS). Tal mecanismo visa incentivar a adoo de gestes com o
intuito de maximizar a disponibilidade destas instalaes. Desta forma, haver
reduo dos impactos indesejveis na operao do sistema eltrico, tais como
a ocorrncia de blecautes ou mesmo a ocorrncia de contingncias simples.
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Captulo 1 Introduo 2
As condies que podem gerar a perda de receita ocorrem quando as
origens das indisponibilidades so de responsabilidade do empreendimento de
gerao e quando afetam diretamente o clculo da disponibilidade, aplicando-
se aos principais equipamentos de uma usina, tais como:
turbinas e equipamentos associados produo de potncia mecnica da unidade geradora;
gerador e equipamentos associados produo de potncia eltrica; transformador elevador de tenso e equipamentos associados; equipamentos ou sistemas eletromecnicos associados aos servios
auxiliares, sistemas de superviso e controle e outros no associados
diretamente unidade de produo de potncia mecnica, ao gerador,
transformador elevador e ao ativo de conexo;
restrio eltrica imposta por ativos de conexo de uso exclusivo do empreendimento de gerao;
origens no caracterizadas por equipamentos ou sistemas eletromecnicos, mas de responsabilidade do empreendimento de gerao, tais como:
controle durante perodo de piracema, desligamentos ou restries visando
possibilitar interveno em outras unidades geradoras, dentre outras;
restries em unidades geradoras termeltricas associadas ao fornecimento de combustvel, tais como alteraes em sua qualidade e volume.
A matriz de energia eltrica brasileira predominantemente hidrulica e
representa mais de 68% da capacidade de gerao instalada em todo o
territrio nacional. So 163 usinas hidreltricas que, juntas, tm uma potncia
outorgada de cerca de 75 milhes de kW. A termeletricidade a segunda maior
fonte de gerao, sendo 1282 usinas termeltricas, com potncia outorgada de
mais de 27 milhes de kW [ABRAMAN-09].
Mais de 95% das usinas que produzem energia eltrica no Brasil, sejam
elas hidreltricas, termeltricas ou nucleares, esto interligadas ao SIN,
considerado um dos sistemas mais robustos e eficientes do mundo. Quando
uma unidade fica incapacitada de produzir, outras, que fazem parte do sistema,
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Captulo 1 Introduo 3
compensam a falta de energia. Atualmente, apenas 3,4% da produo de
eletricidade do pas encontram-se fora do SIN, em pequenos sistemas isolados
localizados, principalmente, na regio amaznica.
Tendo em vista que a matriz de energia eltrica brasileira
predominantemente hidrulica, o contexto deste trabalho dedicado
especificamente ao estudo do impacto do MRA em Grandes Centrais
Hidreltricas (GCH) que apresentam as maiores potncias instaladas e onde o
impacto da penalizao mais significativo. importante relatar que existem
resolues da Agncia Nacional de Energia Eltrica (ANEEL) que geram
impactos nas energias asseguradas de Pequenas Centrais Hidreltricas (PCH)
e usinas trmicas cujos estudos no fazem parte deste trabalho.
Para efeito informativo, a potncia instalada que determina se a usina
de grande ou mdio porte ou uma PCH. A ANEEL adota trs classificaes:
Centrais Geradoras Hidreltricas (com at 1 MW de potncia instalada),
Pequenas Centrais Hidreltricas (entre 1,1 MW e 30 MW de potncia instalada)
e Usina Hidreltrica de Energia (UHE, com mais de 30 MW). O termo GCH
tambm bastante utilizado pelas empresas geradoras de energia e equivale
classificao da ANEEL para UHE.
O MRA aplicvel s GCH regulamentado pela Resoluo Normativa n
688 de 24 de dezembro de 2003 [ANEEL-03] publicada no Dirio Oficial da
Unio no dia 26 de dezembro de 2003. Por meio desta resoluo, a ANEEL
vem incentivar a disponibilidade das instalaes de gerao do SIN
incorporando incentivo eficincia de usinas participantes do MRE.
Considerando o contexto delineado acima, pode-se identificar os objetivos
desta dissertao. O primeiro objetivo do trabalho analisar a resoluo
[ANEEL-03] e mostrar, atravs de exemplos e clculos de MRA, os valores
envolvidos, exemplificados por indisponibilidades programadas e foradas,
principalmente em geradores e transformadores elevadores integrantes da
concesso de gerao da Companhia Energtica de Minas Gerais (CEMIG).
Este texto utiliza linguagem tcnica e exemplos prticos para auxiliar os
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Captulo 1 Introduo 4
profissionais da rea a terem o melhor entendimento do MRA, pois a resoluo
[ANEEL-03] possui uma linguagem especfica com os seus captulos, incisos,
artigos, pargrafos, "caput", etc.
O segundo objetivo interpretar os mecanismos estabelecidos atravs da
formatao de um texto objetivo e sequencial. O terceiro objetivo apresentar
uma anlise dos impactos na manuteno do sistema e o quarto propor
recomendaes para a melhoria na manuteno do sistema no novo ambiente
do SIN com o MRA.
A metodologia de desenvolvimento utilizada para alcanar os objetivos do
trabalho incluiu a anlise da documentao disponibilizada pela ANEEL
relativas resoluo [ANEEL-03], o estudo na legislao que reformulou o
setor eltrico brasileiro, a pesquisa das alteraes e dos impactos que
ocorreram na manuteno do sistema e a proposio de procedimentos para a
melhoria da manuteno deste sistema.
Para cumprir seus objetivos, esta dissertao est organizada em seis
captulos, incluindo esta introduo.
O captulo 2 tem por objetivo apresentar um histrico da reformulao do
setor eltrico brasileiro que ocorreu a partir do ano de 1995 e a atual
composio do SIN de acordo com as regras estabelecidas pela ANEEL.
A engenharia de manuteno como funo estratgica, os tipos de
manuteno, o planejamento, organizao e a qualidade da manuteno e as
exigncias no contexto atual so apresentados no captulo 3.
O captulo 4 apresenta o mecanismo estabelecido pela [ANEEL-03],
conceitos bsicos, funes de gerao e as regras para a aplicao do MRA.
Exemplos de clculo do MRA, utilizando dados reais pertencentes concesso
de gerao da CEMIG, so includos.
No captulo 5 so detalhadas propostas de melhoria na manuteno do
sistema em relao ao setor eltrico frente ao MRA. Com o desenvolvimento e
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Captulo 1 Introduo 5
aplicao destas propostas espera-se uma reduo das penalidades
financeiras nas receitas das geradoras devido aplicao do MRA e
manuteno de uma operao segura do SIN.
No captulo 6 so apresentadas as concluses e propostas de
continuidade do trabalho. Por fim, apresentam-se as Referncias Bibliogrficas
utilizadas para a elaborao do texto e um Apndice contendo informaes
relacionadas ao registro de mudanas de estados operativos de conjuntos
geradores, usinas e interligaes internacionais.
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Captulo 2 Sistema Interligado Nacional - Reestruturao, Operao e Comercializao 6
2 SISTEMA INTERLIGADO NACIONAL REESTRUTURAO, OPERAO E COMERCIALIZAO
2.1 Introduo
Para um melhor entendimento da aplicao do Mecanismo de
Reduo de Energia Assegurada no contexto da gerao de energia
eltrica, necessrio conhecer importantes questes relativas ao SIN.
Destacam-se a operao hierrquica e estruturada do sistema, o
planejamento timo da operao e a criao de ambientes de
comercializao de energia.
Com a reestruturao do setor eltrico brasileiro a partir da dcada de
90, a atividade de gerao de energia passa a ser um segmento inserido
em um ambiente competitivo, no regulado economicamente, e com livre
acesso ao sistema de transmisso. Neste contexto est includo o MRA
que visa incentivar a disponibilidade das instalaes de gerao
integrantes do SIN.
Na viso delineada acima, este captulo apresenta a nova estrutura do
setor eltrico nacional, identificando os diversos agentes setoriais e suas
responsabilidades de regulao, planejamento e aspectos comerciais.
Tambm abordada a estrutura operativa do SIN e a comercializao de
energia na gerao, temas relevantes para o estudo do MRA.
2.2 Reestruturao do Setor Eltrico Brasileiro
O modelo institucional do setor de energia eltrica passou por duas
grandes mudanas desde a dcada de 90. A primeira envolveu a
privatizao das companhias operadoras e teve incio com a Lei n 9.427,
de dezembro de 1996, que instituiu a Agncia Nacional de Energia Eltrica
(ANEEL) e determinou que a explorao dos potenciais hidrulicos fosse
concedida por meio de concorrncia ou leilo, em que o maior valor
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Captulo 2 Sistema Interligado Nacional - Reestruturao, Operao e Comercializao 7
oferecido pela outorga (Uso do Bem Pblico) determinaria o vencedor. A
segunda ocorreu em 2004, com a introduo do Novo Modelo do Setor
Eltrico, que teve como objetivos principais:
garantir a segurana do suprimento de energia eltrica, condio bsica para o desenvolvimento econmico sustentvel;
promover a modicidade tarifria, fator essencial para o atendimento da funo social da energia e que concorre para a melhoria da
competitividade da economia;
promover a insero social, em particular pelos programas de universalizao de atendimento (como o Luz para Todos);
assegurar a estabilidade do marco regulatrio, com vistas atratividade dos investimentos na expanso do sistema.
Uma das principais alteraes promovidas em 2004 foi a substituio
do critrio utilizado para concesso de novos empreendimentos de
gerao. Passou a vencer os leiles o investidor que oferecesse o menor
preo para a venda da produo das futuras usinas. Alm disso, o novo
modelo instituiu dois ambientes para a celebrao de contratos de compra
e venda de energia: o Ambiente de Contratao Regulada (ACR), exclusivo
para geradoras e distribuidoras, e o Ambiente de Contratao Livre (ACL),
do qual participam geradoras, comercializadoras, importadores,
exportadores e consumidores livres.
A reforma exigiu a ciso das companhias em geradoras,
transmissoras e distribuidoras. Os segmentos de distribuio e transmisso
continuaram totalmente regulamentados e considerados monoplios
naturais, mas os segmentos de gerao e comercializao passaram a ser
atividades abertas competio.
O novo modelo setorial foi resultado de um conjunto de
recomendaes apresentadas no projeto de Reestruturao do Setor
Eltrico Brasileiro - RESEB, desenvolvido pelo consrcio liderado pela
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Captulo 2 Sistema Interligado Nacional - Reestruturao, Operao e Comercializao 8
consultoria internacional [Coopers & Lybrand-97]. O consrcio que j havia
participado do processo de reforma na Inglaterra foi contratado pelo
Governo Federal em 1996 e atuou at 1998 na reorganizao da indstria
de energia eltrica, com a participao de tcnicos da Eletrobrs (Centrais
Eltricas Brasileiras S.A.) e da Secretaria Nacional de Energia do Ministrio
de Minas e Energia.
A reestruturao considerou alguns princpios bsicos como o
atendimento demanda, a racionalizao da oferta e da demanda de
energia eltrica, a busca de competitividade no setor eltrico, a capacidade
de investimento com participao privada, o estabelecimento de regras
estveis, a qualidade e o preo justo aos consumidores e o respeito ao
meio ambiente.
A reformulao da legislao vigente foi necessria naquela poca
para atendimento a esses princpios, com a consequente criao do rgo
regulador e fiscalizador a ANEEL. Foi criado tambm o Mercado Atacadista de Energia (MAE), rgo posteriormente extinto e substitudo
atualmente pela Cmara de Comercializao de Energia Eltrica (CCEE).
Nesse modelo do setor eltrico, um novo conceito para a concesso
de servio pblico de gerao foi implementado, sendo necessria a
criao do ONS (Operador Nacional do Sistema) para promover a
operao integrada e coordenada do conjunto de instalaes de
propriedade das concessionrias de gerao. O segmento de gerao
passa a ser um ambiente competitivo, no regulado economicamente, com
garantia de livre acesso ao sistema de transmisso e fiscalizado pela
ANEEL.
O modelo procurava instaurar a competio na gerao e na
comercializao e garantir o livre acesso na transmisso e distribuio. A
tabela 2.1 descreve as atividades no segmento de energia eltrica no setor
eltrico brasileiro (SEB).
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Captulo 2 Sistema Interligado Nacional - Reestruturao, Operao e Comercializao 9
Tabela 2.1 - Atividades no segmento de energia eltrica
Gerao Produo de eletricidade atravs de hidreltricas, termeltricas ou fontes alternativas.
Transmisso
A rede bsica de transmisso engloba o transporte de energia em nveis de tenso de 230 kV ou superior, transportando eletricidade dos geradores para os sistemas de distribuio de tenso inferior.
Distribuio Transporte de energia eltrica do ponto de sada do sistema de transmisso (em redes com tenso inferiores a 230 kV) at o consumidor final.
ComercializaoCompra no atacado de energia gerada ou de servios de transmisso e distribuio, que sero revendidos aos consumidores finais ou concessionrias.
Para dar prosseguimento execuo das mudanas estruturais e
especficas do setor, foram constitudos agentes setoriais com a
responsabilidade da regulao, planejamento e aspectos comerciais,
configurando uma nova estrutura institucional do SEB, conforme a figura
2.1 [CEMIG-08].
Figura 2.1 Nova estrutura institucional do SEB
-
Captulo 2 Sistema Interligado Nacional - Reestruturao, Operao e Comercializao 10
A tabela 2.2 apresenta um resumo das atribuies dos principais
agentes criados com a reforma do SEB na dcada de 1990 [MME-10].
Tabela 2.2 - Atribuies da ANEEL, MAE e ONS no Sistema Eltrico
Brasileiro
ANEEL
Atribuies: regular e fiscalizar a gerao, transmisso, distribuio e a comercializao de energia eltrica; mediar os conflitos de interesses entre os agentes do setor eltrico e entre estes e os consumidores; conceder, permitir e autorizar instalaes e servios de energia; garantir tarifas justas; zelar pela qualidade do servio; exigir investimentos; estimular a competio entre os operadores e assegurar a universalizao dos servios.
MAE
Ambiente onde ocorriam as transaes de compra e venda de energia eltrica, institudo pelo Acordo de Mercado estabelecido nos termos regulados pela ANEEL. Atribuies: apurar e liquidar as diferenas entre os valores de energia contratada pelos diversos agentes e os montantes produzidos e consumidos. O MAE era o responsvel pela contabilizao e a liquidao das diferenas contratuais da energia eltrica no mercado de curto prazo do SEB.
ONS
Atribuies: operar o Sistema Interligado Nacional - SIN e administrar a rede bsica de transmisso de energia. A sua misso institucional assegurar aos usurios do SIN a continuidade, a qualidade e a economicidade do suprimento de energia eltrica.
No modelo do setor eltrico anterior havia empresas verticalizadas,
basicamente estatais, e a energia era um monoplio, isto , no havia
competio, todos os consumidores eram cativos1, e o mercado
completamente regulado. Com o passar dos anos, o setor comeou a
apresentar sinais de estagnao tendo em vista que os investimentos na
expanso reduziram significativamente. Era necessrio tomar medidas 1 Consumidor cativo: consumidor que s pode comprar energia eltrica da concessionria ou permissionria que detm a concesso do servio de distribuio de energia eltrica para a localidade na qual se encontra instalado ficando submetido tarifa e condies de fornecimento estabelecidas pela ANEEL.
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Captulo 2 Sistema Interligado Nacional - Reestruturao, Operao e Comercializao 11
visando o aumento da oferta de energia e a revitalizao do setor eltrico.
Assim, o Governo Federal publicou a Lei n 8.631/93, que extinguiu a
equalizao tarifria vigente e criou os contratos de suprimento entre
geradores e distribuidores, visando estancar as dificuldades financeiras das
empresas na poca, sendo esta ao considerada como marco inicial da
reforma do Setor Eltrico Brasileiro.
A promulgao da Lei n 9.074/95 trouxe estmulos participao da
iniciativa privada no setor de gerao de energia eltrica com a criao da
figura do Produtor Independente de Energia (PIE), sendo estabelecida a
possibilidade de uma empresa privada produzir e comercializar energia
eltrica, atividade que antes era prerrogativa exclusiva de concessionrias
estatais de gerao. A referida lei tambm estabelece os primeiros passos
rumo competio na comercializao de energia eltrica, com a criao
do conceito de consumidor livre2, consumidor que, atendendo a requisitos
estabelecidos na legislao vigente, tem liberdade de escolha de seu
fornecedor de energia eltrica. Desta forma, o mercado, que era totalmente
regulado, possuindo apenas consumidores cativos, passou a considerar
tambm a possibilidade de consumidores livres, que passaram a negociar
livremente as clusulas contratuais para o fornecimento de energia eltrica.
Em 2001, o setor eltrico sofreu uma grave crise de abastecimento
que culminou em um plano de racionamento de energia eltrica. Este
acontecimento gerou uma srie de questionamentos sobre os rumos que o
setor eltrico estava trilhando. Visando a adequar o modelo em
implantao, foi institudo em 2002 o Comit de Revitalizao do Modelo
do Setor Eltrico, cujo trabalho resultou em um conjunto de propostas de
alteraes.
Durante os anos de 2003 e 2004, o Governo Federal lanou as bases
de um novo modelo para o setor, sustentado pelas Leis n 10.847 e 10.848,
2 Consumidor livre: aquele que exerce opo de compra de energia eltrica.
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Captulo 2 Sistema Interligado Nacional - Reestruturao, Operao e Comercializao 12
de 15 de maro de 2004, e pelo Decreto n 5.163, de 30 de julho do mesmo
ano.
Uma sntese das principais mudanas entre os modelos pr-existentes
e o modelo atual do mercado de energia eltrica apresentada na tabela
2.3 retirada de [CCEE-10].
Tabela 2.3 Sntese das mudanas dos modelos
Modelo Antigo (at 1995) Modelo de Livre Mercado
(1995 a 2003) Novo Modelo (2004)
Financiamento atravs de recursos pblicos
Financiamento atravs de recursos pblicos e privados
Financiamento atravs de recursos pblicos e privados
Empresas verticalizadas
Empresas divididas por atividade: gerao, transmisso, distribuio e comercializao
Empresas divididas por atividade: gerao, transmisso, distribuio,
comercializao, importao e exportao
Empresas predominantemente Estatais
Abertura e nfase na privatizao das Empresas
Convivncia entre Empresas Estatais e Privadas
Monoplios - Competio inexistente
Competio na gerao e comercializao
Competio na gerao e comercializao
Consumidores Cativos Consumidores Livres e
Cativos Consumidores Livres e Cativos
Tarifas reguladas em todos os segmentos
Preos livremente negociados na gerao e comercializao
No ambiente livre: Preos livremente negociados na gerao e
comercializao. No ambiente regulado: leilo e licitao pela menor
tarifa
Mercado Regulado Mercado Livre Convivncia entre Mercados Livre e
Regulado
Planejamento Determinativo - Grupo Coordenador do
Planejamento dos Sistemas Eltricos (GCPS)
Planejamento Indicativo pelo Conselho Nacional de Poltica Energtica (CNPE)
Planejamento pela Empresa de Pesquisa Energtica (EPE)
Contratao: 100% do Mercado
Contratao : 85% do mercado (at agosto/2003)
e 95% mercado (at dez./2004)
Contratao: 100% do mercado + reserva
Sobras/dficits do balano energtico rateados entre
compradores
Sobras/dficits do balano energtico liquidados no MAE
Sobras/dficits do balano energtico liquidados na CCEE. Mecanismo de Compensao de Sobras e Dficits
(MCSD) para as Distribuidoras
Em termos institucionais, o novo modelo criou as seguintes
instituies:
Empresa de Pesquisa Energtica (EPE): responsvel pelo planejamento do setor eltrico em longo prazo.
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Captulo 2 Sistema Interligado Nacional - Reestruturao, Operao e Comercializao 13
Comit de Monitoramento do Setor Eltrico (CMSE): responsvel pela avaliao permanente da segurana do suprimento de energia eltrica.
Cmara de Comercializao de Energia Eltrica (CCEE): responsvel pela continuidade s atividades do MAE, relativas comercializao de
energia eltrica no sistema interligado.
Em relao comercializao de energia, foram institudos dois
ambientes para celebrao de contratos de compra e venda de energia, o
Ambiente de Contratao Regulada (ACR), do qual participam agentes de
gerao e de distribuio de energia eltrica, e o Ambiente de Contratao
Livre (ACL), do qual participam agentes de gerao, comercializao,
importadores e exportadores de energia e consumidores livres.
2.3 A Operao do Sistema Interligado Nacional
2.3.1 Evoluo e Estrutura Operacional
At o ano de 1995, o controle da operao do sistema eltrico
nacional era feito pelo GCOI (Grupo Coordenador da Operao
Interligada). O Brasil possua dois subsistemas separados:
Subsistema Sul / Sudeste / Centro-Oeste Subsistema Norte / Nordeste
O GCOI tinha a finalidade de assegurar a otimizao e a continuidade
do suprimento de energia eltrica aos sistemas distribuidores, por meio do
uso racional das instalaes de gerao e transmisso, harmonizando os
interesses tcnicos e comerciais dos diferentes agentes envolvidos na
produo, transmisso e distribuio, alm de procurar maximizar a
qualidade, confiabilidade e a economicidade dos servios para os
consumidores.
As empresas estatais que atuavam no setor cooperavam
tecnicamente como membros nestes grupos e definiam as regras para a
operao e o planejamento do sistema eltrico de potncia. Os centros de
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Captulo 2 Sistema Interligado Nacional - Reestruturao, Operao e Comercializao 14
operao destas empresas eram responsveis pela coordenao de suas
instalaes e pela operao do sistema eltrico em tempo real, agindo com
autonomia em situaes normais ou de contingncias para garantir a
segurana das redes, de acordo com as diretrizes estabelecidas.
A partir do ano de 1995, o Governo Federal abre o setor iniciativa
privada, retirando do Estado a atribuio de coordenar a operao do SIN e
cria o ONS que fica responsvel pela coordenao e controle da operao
das instalaes de gerao (com capacidade igual ou maior que 50 MW) e
transmisso de energia eltrica (nvel de tenso igual ou superior a 230 kV)
no SIN, sob a fiscalizao e regulao da ANEEL. O objetivo principal
deste rgo otimizar a utilizao dos recursos de gerao e garantir a
confiabilidade e continuidade no uso da rede de transmisso [ONS-10].
O ONS possui cinco centros prprios de operao para executar suas
atividades de superviso do SIN e a figura 2.2, adaptada de [ONS-10],
ilustra, genericamente, as possveis formas de implementao da
hierarquia operacional entre os centros de operao do ONS e os centros
de operao dos agentes.
O relacionamento com os diversos agentes ocorre nos centros de
operao. Os centros de operao podem ser especficos para gerao Centro de Operao de Gerao (COG), ou transmisso Centro de Operao da Transmisso (COT). Em muitos casos, porm, um s centro
desempenha ambas as atividades, dando origem a um Centro de
Operao de Sistema (COS). Algumas instalaes so tambm
denominadas Centro de Operao Regional (COR), por operarem estaes
de reas mais restritas, com influncia predominantemente regional. O
Posto ou Centro de Operao com Telecomando de Instalaes (POT)
uma instalao com recurso de telecomando de equipamentos e de
componentes necessrios operao remota de um conjunto de
instalaes definidas pelo agente.
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Captulo 2 Sistema Interligado Nacional - Reestruturao, Operao e Comercializao 15
Figura 2.2 Hierarquia operacional entre os centros de operao do ONS e
os centros de operao dos agentes
Conforme indicado na figura 2.2, a operao do SIN atribuio do
ONS, enquanto cada proprietrio responsvel apenas por cuidar de suas
instalaes.
Quando o ONS foi criado, em 1998, algumas concessionrias foram
contratadas pelo Operador como prestadoras de servios, para coordenar,
supervisionar e controlar a Rede de Operao de reas especficas. Devido
exigncia legal da ANEEL [ANEEL-10], o ONS iniciou, h alguns anos,
um processo gradativo de descontratao dos servios destas empresas e
passou a assumir estas funes nos prprios centros do Operador.
A funo bsica dos COS coordenar e executar, em tempo real,
aes de superviso e controle sobre equipamentos dos sistemas de
gerao e transmisso, de forma a garantir confiabilidade, qualidade,
rapidez e segurana operativas. Estes objetivos so alcanados com a
realizao de vrios processos:
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Captulo 2 Sistema Interligado Nacional - Reestruturao, Operao e Comercializao 16
controle da gerao e dos nveis de reservatrios das usinas hidreltricas;
controle dos nveis de tenso dos barramentos para mant-los dentro de faixas pr-estabelecidas;
controle do carregamento e limites operativos de linhas de transmisso, transformadores, unidades geradoras e equipamentos de controle de
tenso;
liberao coordenada de equipamentos para intervenes, com ou sem desligamentos ou restries operativas;
restabelecimento do sistema aps perturbaes parciais ou totais (blecautes).
A necessidade de fornecimento de energia e de operao das
instalaes ininterruptamente traz a exigncia de que os COS operem 24
horas por dia.
2.3.2 Planejamento timo da Operao
O objetivo do planejamento da operao a escolha de unidades
geradoras e os montantes de energia que cada um destes geradores deve
produzir para suprir a demanda de energia no menor custo total possvel. O
custo de operao de cada unidade geradora depende do combustvel
utilizado para produo de energia. As usinas trmicas tm um custo
explcito de operao dado pelo custo do combustvel utilizado (carvo,
leo, etc.). As usinas hidreltricas utilizam a gua para produo de
energia. Nos custos citados devem ser includos os custos de penalizao
pelo no atendimento demanda de energia. importante salientar que a
gua armazenada nos reservatrios no grtis e possui um valor
relacionado ao custo de oportunidade de atender demanda futura.
No planejamento da operao energtica em grandes sistemas
hidrotrmicos, como o caso do Brasil, existe uma relao entre a deciso
tomada em determinado instante e sua consequncia futura. Por exemplo,
tomada a deciso de utilizar gua dos reservatrios, para gerao de
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Captulo 2 Sistema Interligado Nacional - Reestruturao, Operao e Comercializao 17
energia hidreltrica para atendimento demanda do mercado hoje, e, no
futuro, ocorrer uma seca, poder ser necessrio utilizar gerao trmica de
custo elevado, podendo at interromper o fornecimento de energia levando,
em casos extremos, ao racionamento. Por outro lado, se a deciso fazer
uso mais intensivo de gerao trmica com o objetivo de conservar
elevados os nveis dos reservatrios e um perodo de condio hidrolgica
favorvel vier a acontecer, no futuro pode ocorrer o vertimento da gua dos
reservatrios, o que representa um desperdcio de energia e aumento
desnecessrio do custo de operao.
Pode-se concluir que o problema do planejamento da operao
energtica de um sistema hidrotrmico acoplado no tempo e tambm
estocstico devido incerteza a respeito das afluncias futuras no
momento em que a deciso tomada. A figura 2.3 [CEMIG-08] ilustra as
consequncias operativas do processo de deciso de operao energtica
de um sistema hidrotrmico.
Figura 2.3 Consequncias operativas de um sistema hidrotrmico
Na tomada de deciso da operao de um sistema hidrotrmico deve-
se comparar o custo de gerao de energia usando a gua hoje versus o
custo de armazenar esta gua para us-la no futuro. O benefcio do uso
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Captulo 2 Sistema Interligado Nacional - Reestruturao, Operao e Comercializao 18
imediato da gua pode ser representado pela funo chamada Funo
Custo Imediato (FCI) e o benefcio de armazen-la no presente para seu
uso futuro pode ser representado pela funo chamada Funo Custo
Futuro (FCF). A palavra futuro significa que esto sendo considerados
todos os estgios futuros at o final do horizonte do planejamento. A figura
2.4 [CEMIG-08] mostra as duas funes citadas.
Figura 2.4 Funes Custo Imediato (FCI) e Custo Futuro (FCF)
Analisando o grfico, nota-se que a FCI aumenta com o volume final
armazenado nos reservatrios. Isto ocorre porque a deciso de economizar
gua no presente est relacionada a um maior gasto com gerao trmica
para atendimento demanda. Assim, a FCI est associada ao gasto com
gerao trmica no estgio atual. A FCF diminui com o volume final
armazenado nos reservatrios. Isto ocorre porque a deciso de economizar
gua no presente est relacionada a um menor gasto com gerao trmica
no futuro. Assim a FCF est associada ao valor esperado do gasto com
gerao trmica e possveis dficits no futuro para atendimento
demanda.
A figura 2.5 [CEMIG-08] apresenta o custo total de gerao que a
somatria do valor de gerao hoje mais o valor esperado do custo de
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Captulo 2 Sistema Interligado Nacional - Reestruturao, Operao e Comercializao 19
gerao futura. Assim, o ponto timo do uso da gua armazenada nos
reservatrios aquele que minimiza a funo custo total de gerao.
Figura 2.5 Ponto timo para uso da gua
O longo horizonte de planejamento da operao e a estocasticidade
das afluncias fazem com que o problema de planejamento da operao
energtica de um sistema hidrotrmico seja de grande porte e de difcil
soluo. Visando facilitar a soluo do problema, este dividido em etapas
de longo, mdio e curto prazos. Para isto, o ONS utiliza modelos
computacionais desenvolvidos pelo Centro de Pesquisas de Energia
Eltrica (CEPEL), denominados Newave, Decomp e Dessem.
O modelo NEWAVE utilizado para o planejamento da operao energtica de longo
prazo. Ele define, para cada ms do horizonte de planejamento da operao (5 anos),
a alocao tima dos recursos hdricos e trmicos de forma a minimizar o valor
esperado do custo de operao ao longo de todo o horizonte do planejamento. O
modelo simula um grande nmero de sries hidrolgicas (afluncias aos reservatrios)
em paralelo, calculando ndices probabilsticos de desempenho do sistema para cada
ms da simulao. Dentre os resultados obtidos nos estudos desta etapa esto os
totais mensais de gerao trmica e hidrulica.
O modelo DECOMP utilizado para o planejamento de mdio prazo. Determina as
metas de gerao de cada usina de um sistema hidrotrmico, sujeito a afluncias
estocsticas, de forma a minimizar o valor esperado do custo de operao ao longo do
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Captulo 2 Sistema Interligado Nacional - Reestruturao, Operao e Comercializao 20
perodo de planejamento de um ano, com discretizao semanal para o primeiro ms e
mensal para os demais meses. A incerteza acerca das afluncias aos diversos
aproveitamentos do sistema representada atravs de cenrios hidrolgicos.
O modelo DESSEM utilizado no planejamento de curto prazo. Este modelo trabalha
com horizonte de uma a duas semanas, sendo os dois primeiros dias discretizados de
30 minutos em 30 minutos, e os demais dias com discretizao horria. A fim de que o
despacho fornecido pelo DESSEM esteja bastante prximo do despacho que
efetivamente ser colocado em prtica, o modelo considera em sua formulao a
dinmica das unidades termeltricas, bem como uma representao detalhada das
funes de produo das unidades hidreltricas.
2.4 Comercializao de Energia no SIN
2.4.1 Introduo
A remunerao de uma geradora depende do modelo de despacho de
gerao e formao do preo da energia, e do modelo de comercializao
de energia adotados no pas onde realizado o investimento.
Basicamente, existem duas vertentes quanto aos modelos de
despacho de gerao e formao do preo da energia: Loose Pool e Tight
Pool.
O Brasil adota o modelo Tight Pool onde existe uma entidade
(operador independente do sistema) que define o despacho de gerao de
forma centralizada com o objetivo de minimizar o custo de operao do
sistema. O preo da energia definido com base no custo marginal de
operao (CMO), que reflete o acrscimo no custo de operao do sistema
devido ao aumento marginal da demanda.
J no modelo Loose Pool, as geradoras ofertam as quantidades de
energia e respectivos preos pelos quais esto dispostas a ger-la. Com
base nestas ofertas, montada a curva de oferta de energia do sistema.
Por outro lado, os consumidores fazem propostas de preos para diversos
patamares de consumo, a partir das quais montada a curva de demanda
de energia do sistema. A interseo das curvas de oferta e de demanda do
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Captulo 2 Sistema Interligado Nacional - Reestruturao, Operao e Comercializao 21
sistema define o preo da energia e os geradores a serem despachados,
que so aqueles cujos preos ofertados so menores ou iguais ao preo da
energia.
A utilizao do Tight Pool no Brasil justificada por alguns fatores:
presena de mltiplos proprietrios de diferentes usinas hidreltricas em uma mesma cascata;
complexos vnculos hidrulicos entre usinas hidreltricas; pouca presena termeltrica nos sistemas interligados.
2.4.2 Ambientes de Comercializao de Energia
O modelo vigente do setor eltrico prev que a comercializao de
energia eltrica pode ser realizada em dois ambientes de mercado:
Ambiente de Contratao Regulada (ACR) Ambiente de Contratao Livre (ACL)
A contratao no ACR formalizada atravs de contratos bilaterais
regulados denominados Contratos de Comercializao de Energia Eltrica
no Ambiente Regulado (CCEAR), celebrados entre agentes vendedores3 e
distribuidores que participam dos leiles de compra e venda de energia
eltrica.
No ACL h a livre negociao entre os agentes geradores,
comercializadores, consumidores livres/especiais, importadores e
exportadores de energia sendo os acordos pactuados atravs de contratos
de compra de energia no ambiente livre (CCEAL).
Uma viso geral da comercializao de energia apresentada na
figura 2.6, retirada de [CCEE-10].
3 Agente Vendedor - Agente de Gerao, Agente de Comercializao ou Agente de Importao, que seja habilitado em documento especfico para este fim.
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Captulo 2 Sistema Interligado Nacional - Reestruturao, Operao e Comercializao 22
Figura 2.6 Viso geral da comercializao de energia
Os agentes de gerao podem vender energia eltrica nos dois
ambientes e os contratos so registrados na CCEE.
2.4.2.1 Ambiente de Contratao Regulada
O suprimento de energia eltrica no ACR feito por meio de licitao
na modalidade de leiles. A regulao das licitaes para contratao
regulada de energia eltrica e a realizao do leilo diretamente ou por
intermdio da CCEE de responsabilidade da ANEEL.
A definio dos vencedores de um leilo pelo critrio de menor
tarifa, isto , os vencedores do leilo sero aqueles que ofertarem energia
eltrica pelo menor preo por Mega-Watt hora para atendimento da
demanda prevista pelas distribuidoras.
Os CCEAR so, assim, celebrados entre os vencedores e as
distribuidoras que declararam necessidade de compra para o ano de incio
de suprimento da energia contratada no leilo.
Um resumo dos tipos de leilo apresentado na tabela 2.4, adaptada
de [CEMIG-10].
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Captulo 2 Sistema Interligado Nacional - Reestruturao, Operao e Comercializao 23
Tabela 2.4 Resumo dos tipos de leilo
(*) ano zero = ano vigente
Alm dos leiles de energia nova (A-5, A-3) e energia existente (A-1),
h leiles de ajuste e leiles de reserva. Os leiles de ajuste objetivam
complementar a carga de energia necessria ao atendimento do mercado
consumidor das concessionrias de distribuio, at o limite de 1% desta
carga.
A contratao de energia de reserva, viabilizada por meio dos leiles
de energia de reserva, destinada a aumentar a segurana no
fornecimento de energia eltrica ao SIN, proveniente de usinas
especialmente contratadas para este fim.
Os leiles de energia eltrica existente tm por objetivo a venda de
energia eltrica proveniente de empreendimentos existentes para
atendimento s necessidades de mercado das distribuidoras.
Os leiles de energia eltrica nova tm por objetivo o atendimento s
necessidades de mercado das distribuidoras mediante a venda de energia
eltrica proveniente de novos empreendimentos.
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Captulo 2 Sistema Interligado Nacional - Reestruturao, Operao e Comercializao 24
2.4.2.2 Ambiente de Contratao Livre (ACL)
No ACL, participam agentes de gerao, comercializadores,
importadores e exportadores de energia eltrica, alm dos consumidores
livres e especiais. Neste ambiente, h liberdade para se estabelecerem
volumes de compra e venda de energia e seus respectivos preos, sendo
as transaes pactuadas atravs de Compra de Energia no Ambiente Livre.
Os consumidores livres que realizam a compra de energia atravs de
contratos no ACL esto sujeitos ao pagamento de todos os encargos, taxas
e contribuies setoriais previstas na legislao. Conforme descrito no
pargrafo 2 do art. 49 do decreto n 5.163/04, estes consumidores podem
manter parte da aquisio de sua energia de forma regulada junto
concessionria de distribuio, constituindo assim um consumidor
parcialmente livre.
Caso o consumidor livre queira retornar condio de cativo, este
deve informar a sua deciso concessionria de distribuio local com um
prazo mnimo de 5 anos, sendo que este prazo pode ser reduzido mediante
acordo entre as partes.
No caso de consumidor especial, que optou por adquirir parte ou a
totalidade do respectivo consumo de energia por meio da comercializao
de energia incentivada, este poder voltar a ser atendido plenamente pela
respectiva concessionria ou permissionria de distribuio.
Para isto, o consumidor deve manifestar formalmente esta opo com
antecedncia de 180 dias em relao data do incio do fornecimento,
sendo que este prazo pode ser reduzido a critrio da concessionria ou
permissionria de distribuio como disposto no 1, art. 5, da resoluo
ANEEL n 247/06.
Dentro dos ambientes de contratao de energia eltrica, h os
mercados cativo e livre. No mercado cativo, o consumidor totalmente
passivo. A energia fornecida exclusivamente pela distribuidora local, com
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Captulo 2 Sistema Interligado Nacional - Reestruturao, Operao e Comercializao 25
o preo e as demais condies de fornecimento regulados pela ANEEL. As
distribuidoras, por sua vez, tambm s podem comprar energia para
atender aos seus clientes no ACR.
No mercado livre, a energia tratada como uma commodity, passvel
de comercializao. O consumidor livre pode comprar montantes de
energia de comercializadores e/ou geradores com condies (preo, prazo,
etc.) pactuadas entre as partes.
Os servios de transporte e contratao da energia so
desvinculados. O transporte pago concessionria de distribuio ou de
transmisso onde o consumidor livre esteja conectado, atravs de tarifas
reguladas pela ANEEL. A concessionria local totalmente responsvel
pela continuidade e qualidade do fornecimento de energia eltrica ao
consumidor livre. Este mercado no aberto a todos consumidores.
A tabela 2.5, adaptada de [CEMIG-10], mostra as principais
caractersticas do fornecimento de energia eltrica nos dois mercados.
Tabela 2.5 Caractersticas do fornecimento de energia eltrica
mercados cativo e livre
Os requisitos para que um cliente possa atuar no mercado livre so:
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Captulo 2 Sistema Interligado Nacional - Reestruturao, Operao e Comercializao 26
Clientes Livres: - Para clientes ligados at 07/1995: tenso maior ou igual a 69 kV (A1,
A2, A3), com carga maior que 3,0 MW.
- Para clientes ligados aps 07/1995: qualquer tenso, com carga
maior que 3,0 MW.
Clientes Especiais: So aqueles do grupamento composto de unidades consumidoras com
fornecimento em tenso igual ou superior a 2,3 kV ou ainda atendidas
em tenso inferior a 2,3 kV a partir de sistema subterrneo de
distribuio e que podem ser atendidos por fontes alternativas (elicas,
biomassa, PCH e solar). Devem ter carga acima de 500 kW.
Normalmente os clientes livres so clientes corporativos (empresas e
indstrias).
2.4.3 Cmara de Comercializao de Energia Eltrica (CCEE)
Em 2004, foi criada a CCEE como sucessora do MAE e
regulamentada pelo Decreto n 5.177/04 sendo uma organizao civil, de
direito privado, sem fins lucrativos congregando agentes das categorias de
Gerao, Distribuio e Comercializao de energia eltrica.
A CCEE tem por finalidade viabilizar a comercializao de energia
eltrica no SIN nos Ambientes de Contratao Regulada e Livre, alm de
efetuar a contabilizao e a liquidao financeira das operaes realizadas
no mercado de curto prazo.
Os procedimentos de Comercializao que regulam as atividades
realizadas na CCEE so aprovados pela ANEEL.
Os agentes da CCEE dividem-se nas categorias de Gerao, de
Distribuio e de Comercializao. A Categoria de Gerao composta
pelos agentes geradores de servio pblico, dos agentes produtores
independentes e dos agentes autoprodutores.
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Captulo 2 Sistema Interligado Nacional - Reestruturao, Operao e Comercializao 27
A entidade tem como principais responsabilidades, dentre outras:
promover leiles de compra e venda de energia eltrica, por delegao da ANEEL;
manter o registro de todos os contratos celebrados no mbito do ACR e do ACL, incluindo os respectivos montantes de potncia e energia, e
suas alteraes;
promover a medio e o registro de dados relativos s operaes de compra e venda e outros dados inerentes aos servios de energia
eltrica;
apurar o Preo de Liquidao das Diferenas (PLD) por submercado; efetuar a Contabilizao dos montantes de energia eltrica
comercializados e a Liquidao Financeira dos valores decorrentes das
operaes de compra e venda de energia eltrica realizadas no
Mercado de Curto Prazo;
apurar o descumprimento de limites de contratao de energia eltrica e outras infraes e, quando for o caso, por delegao da ANEEL, nos
termos da Conveno, aplicar as respectivas penalidades;
apurar os montantes e promover as aes necessrias para a realizao do depsito, da custdia e da execuo das garantias
financeiras relativas s Liquidaes Financeiras do Mercado de Curto
Prazo, nos termos da Conveno;
efetuar a liquidao financeira dos montantes de energia eltrica contratados nos Leiles de Energia de Reserva;
apurar valor da parcela varivel dos CCEAR por disponibilidade; recolher as penalidades aplicadas.
2.5 Consideraes Finais
Diante das mudanas do setor eltrico, a ANEEL passou a utilizar, a
partir de 2003, o MRA como instrumento para incentivar a disponibilidade
das instalaes de gerao do SIN incorporando incentivo eficincia das
usinas participantes do MRE (Mecanismo de Realocao de Energia).
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Captulo 2 Sistema Interligado Nacional - Reestruturao, Operao e Comercializao 28
Basicamente, o mecanismo tem o intuito de incentivar a adoo de
gestes na Expanso, Operao e Manuteno do sistema eltrico para
maximizar a disponibilidade da chamada Funo Gerao (FG), reduzindo
os impactos indesejveis na operao e manuteno do mesmo, tais como
a ocorrncia de desligamentos simples ou de grandes propores.
A utilizao do MRA vem ao encontro dos princpios da
reestruturao, trazendo um novo cenrio para o setor eltrico, onde se
esperam vrios avanos. Entretanto, para que os avanos esperados
sejam obtidos, modificaes e ajustes significativos precisam ser feitos nos
procedimentos atualmente adotados pelas empresas em diversas de suas
atividades. Com este novo mecanismo tornam-se necessrias alteraes
na gesto dos ativos das geradoras, na manuteno das FG e nos
procedimentos de manuteno e operao, dentre outras.
Tal situao enfatiza ainda mais a relevncia desta dissertao, cujos
desenvolvimentos visam propor procedimentos mais adequados s novas
condies impostas pelo MRA. Antes de apresentar as propostas,
importante destacar a engenharia de manuteno como funo estratgica
neste novo contexto e conceituar o Mecanismo de Reduo de Energia
Assegurada de forma mais detalhada, segundo a regulamentao nacional
vigente. Estes assuntos constituem os temas dos dois prximos captulos.
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Captulo 3 Engenharia de Manuteno 29
3 ENGENHARIA DE MANUTENO 3.1 Introduo
O objetivo desta dissertao propor melhorias no planejamento e
organizao da engenharia de manuteno no contexto do MRA. Sendo assim,
importante descrever a atividade de manuteno, em especial, a engenharia
de manuteno.
Este captulo aborda a importncia da manuteno como funo
estratgica das organizaes. A viso presente e de futuro que a
manuteno deixe de ser apenas eficiente para ser eficaz. Um fator importante
que o planejamento da manuteno passe a ser uma ferramenta relevante
contribuindo diretamente para o bom desempenho operacional das
organizaes.
A importncia da engenharia de manuteno tem crescido nos ltimos
anos devido complexidade dos novos projetos, onde se verifica o aumento do
nmero e diversidade dos equipamentos a serem mantidos, tornando-se uma
atividade estratgica com viso no planejamento e buscando contribuir para a
excelncia empresarial.
Inicialmente, o texto apresenta a evoluo da manuteno ao longo dos
anos. Tambm so abordados os tipos de manuteno, com destaque para a
manuteno preditiva e a busca pela manuteno tipo classe mundial.
3.2 Evoluo da Manuteno
Nos ltimos anos, a atividade de manuteno tem passado por diversas
mudanas. Estas decorrem de diversos fatores, tais como:
1. projetos cada vez mais complexos;
2. novas tcnicas de manuteno;
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Captulo 3 Engenharia de Manuteno 30
3. aumento significativo do nmero e diversidade dos itens fsicos (instalaes
e equipamentos) que tm que ser mantidos;
4. novos enfoques sobre a organizao da manuteno e suas
responsabilidades.
A engenharia de manuteno tem reagido rapidamente a estas mudanas
e passa pela conscientizao crescente de quanto uma falha no equipamento
afeta a segurana e o meio ambiente, o entendimento da relao entre
manuteno e qualidade do produto e a busca pela maior disponibilidade do
produto com reduo de custos.
A manuteno passa a ser sinnimo de inovao, buscando mudanas
significativas de procedimentos e aes que redundem em resultados para a
organizao. Os principais desafios so realizar mais com menos recursos,
encontrar solues criativas para problemas existentes e reduzir custos da
prpria manuteno. Tudo isto sinnimo de eficincia operacional.
A evoluo da manuteno pode ser dividida em 4 geraes. A primeira
gerao abrange o perodo antes da Segunda Guerra Mundial, quando a
indstria era pouco mecanizada e os equipamentos superdimensionados. A
manuteno era predominantemente corretiva.
A segunda gerao vai desde a Segunda Guerra Mundial at os anos 60.
H um aumento na mecanizao e uma maior complexidade das instalaes
industriais. A necessidade de maior disponibilidade com confiabilidade visando
maior produtividade resultou no conceito de manuteno preditiva. O custo da
manuteno comeou a se elevar em relao aos operacionais. Este fato leva
ao aparecimento de sistemas de planejamento e controle da manuteno que
hoje fazem parte da manuteno moderna.
A terceira gerao vem a partir da dcada de 70 onde h uma acelerao
no processo de mudana nas indstrias com crescimento da automao e da
mecanizao e a tendncia mundial quanto adoo de padres de exigncias
nas reas de segurana e meio ambiente. O conceito de manuteno preditiva
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Captulo 3 Engenharia de Manuteno 31
reforado e torna-se mais evidente a interao entre as fases de projeto,
fabricao, instalao e manuteno. Conforme enfatizado, destas fases, a de
maior interesse para este trabalho a de manuteno. Nesta fase, seu objetivo
garantir a funo dos equipamentos e sistemas durante sua operao sem
degenerao do desempenho. So detectadas as deficincias geradas no
projeto. No existindo a correta interao entre as fases, haver srias
dificuldades de desempenho das atividades de manuteno.
Na quarta gerao, as trs maiores justificativas da existncia da
engenharia de manuteno dentro da estrutura organizacional passam a ser a
garantia da disponibilidade, da confiabilidade e da manutenabilidade. A
Manuteno Baseada na Confiabilidade (MBC) e a prtica da anlise de falhas
so metodologias consolidadas que buscam a minimizao das falhas e a
melhoria da performance dos equipamentos. Cada vez mais, as prticas da
manuteno preditiva e do monitoramento da condio do equipamento so
utilizadas.
A tabela 3.1, retirada de [Kardec-09] resume a evoluo da manuteno
ao longo dos anos, desde a primeira at a quarta gerao.
Percebe-se a importncia da manuteno se tornar uma funo
estratgica com nfase no planejamento. O novo papel da manuteno o
grande desafio dos novos tempos e, para as organizaes, fundamental
visualizar o negcio de forma sistmica com mudana de paradigmas e
conceitos para se alcanar as grandes inovaes.
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Captulo 3 Engenharia de Manuteno 32
Tabela 3.1 Evoluo da manuteno
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Captulo 3 Engenharia de Manuteno 33
3.3 Tipos de Manuteno
A figura 3.1, [Kardec-09], apresenta os principais tipos de manuteno:
1. Corretiva no planejada
2. Corretiva planejada
3. Preventiva
4. Preditiva
5. Detectiva
6. Engenharia de manuteno
Figura 3.1 Tipos de manuteno
As setas da figura 3.1, saindo do bloco da Preditiva e Detectiva em
direo ao bloco da Corretiva Planejada, significam que as boas prticas de
manuteno preditiva e detectiva podem levar a uma manuteno corretiva
planejada, que permite uma menor indisponibilidade operacional do ativo.
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Captulo 3 Engenharia de Manuteno 34
3.3.1 Manuteno Corretiva: atua para corrigir uma falha ou um desempenho menor do que o esperado. Sendo assim, sua ao
principal corrigir ou restaurar as condies de funcionamento do
equipamento ou sistema. Este tipo de manuteno pode ser dividido em
duas classes:
Manuteno corretiva no planejada: caracterizada pela correo da falha de forma aleatria. No h tempo para a preparao do
servio. Implica altos custos com perda de produo e da qualidade
e acarreta elevados custos indiretos de manuteno. Outro
agravante que quebras aleatrias podem ter consequncias
graves para os equipamentos envolvidos, podendo significar danos
maiores do que o previsto.
Manuteno corretiva planejada: caracterizada pela correo da falha, por deciso tcnico-gerencial, atuando em funo de
monitoramento preditivo ou de operao at a quebra. O
planejamento dos servios a serem realizados tem que ser feito de
forma antecipada, para se minimizar a indisponibilidade do
equipamento ou sistema.
3.3.2 Manuteno Preventiva: atua de forma a reduzir ou evitar uma falha ou queda no desempenho, obedecendo a um plano baseado em intervalos
definidos de tempo. Como o prprio nome sugere, este tipo de
manuteno procura prevenir e evitar a ocorrncia de falhas. Alguns
fatores devem ser levados em considerao para a prtica deste tipo de
manuteno:
quando no for possvel a preditiva; quando h riscos ao meio ambiente; quando esto envolvidos aspectos referentes segurana de
pessoal e operacional;
por necessidade de se atuar em equipamentos crticos de difcil liberao operacional.
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Captulo 3 Engenharia de Manuteno 35
3.3.3 Manuteno Preditiva: caracterizada por atuao com base em modificao de parmetro de condio ou desempenho, cujo
acompanhamento obedece a uma sistemtica. A preditiva a primeira
grande quebra de paradigma na manuteno. Seu objetivo prevenir
falhas nos equipamentos ou sistemas atravs do monitoramento de
parmetros chaves, obtendo-se assim, uma operao contnua do
equipamento ou sistema pelo maior tempo possvel. A preditiva d
nfase disponibilidade pois realiza as medies e verificaes com o
equipamento em operao. Somente quando a degradao se aproxima
ou o limite estabelecido atingido, toma-se a deciso pela interveno.
Como o prprio nome sugere, este tipo de manuteno prediz as
condies dos equipamentos e, a partir da deciso de interveno,
aplica-se uma manuteno corretiva planejada.
As condies bsicas para se adotar a manuteno preditiva so:
o equipamento ou sistema deve permitir algum tipo de monitoramento;
o equipamento ou sistema deve merecer este tipo de ao tendo em vista os custos envolvidos;
estabelecimento de um programa sistemtico de acompanhamento, anlise e diagnstico.
Quanto aos custos envolvidos, o primeiro aspecto de que o
acompanhamento peridico, por meio de instrumentos e anlises, no
apresente custo elevado e a evoluo da tecnologia na rea de
microeletrnica tende a reduzi-lo ainda mais. J a instalao do
monitoramento contnuo on-line, este apresenta custo inicial
relativamente alto, porm com boa relao custo / benefcio (de 1 para
5).
Outro aspecto importante a necessidade de treinamento da equipe
responsvel pela anlise e interpretao dos resultados das medies,
de forma a se garantir qualidade na formulao dos diagnsticos.
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Captulo 3 Engenharia de Manuteno 36
3.3.4 Manuteno Detectiva: caracterizada pela atuao em sistemas de proteo buscando detectar falhas ocultas ou no perceptveis ao
pessoal de operao e manuteno. A identificao deste tipo de falha
fundamental para se garantir a confiabilidade.
cada vez maior a utilizao de sistemas digitais no controle e
superviso de processos nas plantas industriais. So os chamados
SDCD (Sistemas Digitais de Controle Distribudo).
Os sistemas de trip ou shut-down garantem a segurana de um
processo quando este sai de sua faixa segura de operao. Estes
sistemas so independentes dos SDCD e so a ltima linha entre a
integridade e a falha. Os seus componentes (incluindo o sistema de
proteo) tambm apresentam falhas que podem acarretar dois
problemas:
No atuao do sistema de trip no passa despercebida. Em algumas situaes, no caso de alta vibrao em mquinas rotativas, pode-se
deixar de atuar tendo-se um acompanhamento paralelo e contnuo
pela equipe de manuteno. Entretanto, h casos onde as
consequncias em no se parar a mquina podem ser desastrosas,
como em altas temperaturas no mancal, quando a evoluo pode ser
muito alta.
Atuao indevida do sistema de trip resulta na parada do equipamento com perda de produo. A dificuldade maior aps a
ocorrncia passa pelo entendimento e interpretao dos eventos de
parada quando a equipe de manuteno realiza diversas verificaes
visando a correta identificao das causas da falha. O correto no
liberar a mquina ou uma unidade para operao comercial sem que
as causas do trip sejam identificadas, confirmadas e corrigidas.
Finalmente, fica evidente a importncia do domnio da situao. Na
manuteno detectiva, os especialistas fazem verificaes no
equipamento ou sistema sem retir-lo de operao. A meta detectar
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Captulo 3 Engenharia de Manuteno 37
falhas ocultas e, de preferncia, corrigi-las mantendo-se o equipamento
ou sistema em funcionamento.
3.3.5 Engenharia de Manuteno: Sua prtica representa mudana cultural e significa alcanar benchmarks, aplicar tcnicas modernas de
monitoramento e nivelar a manuteno com a de primeiro mundo.
A figura 3.2, retirada de [Kardec-09], mostra a evoluo na melhoria dos
resultados medida que se utilizam as melhores tcnicas.
Figura 3.2 Resultados x tipos de manuteno
3.4 Objetivos da Manuteno no Contexto Atual
Considerando o exposto nos itens anteriores, e tendo como meta alcanar
a Manuteno de Classe Mundial, podem ser implementadas as melhores
prticas. Dentre elas destacam-se:
reviso das prticas de manuteno dando nfase manuteno preditiva, detectiva e de engenharia de manuteno;
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Captulo 3 Engenharia de Manuteno 38
organizao e trabalho com equipes multidisciplinares; utilizao de sistemas informatizados de gerenciamento de manuteno; realizao de programas de capacitao e reciclagem; trabalho integrado com outras reas da empresa: suprimentos, operao e
outras;
implementao de manuteno produtiva total; utilizao de tcnicas modernas para anlise de falhas buscando melhorias; adoo de manuteno baseada na confiabilidade; implementao de novas polticas de estoques de sobressalentes e peas
reservas;
elaborao de procedimentos e instrues de trabalhos de manuteno de forma a preservar a memria da empresa e garantir a realizao dos
servios de forma padronizada;
incluso necessria na estrutura organizacional da manuteno de uma equipe de engenharia de manuteno para realizao de trabalhos de
anlise de falhas, elaborao e anlise crtica dos planos de manuteno,
etc.
A figura 3.3, transcrita de [Kardec-09], destaca a evoluo da manuteno
tendo como objetivo a Classe Mundial.
Figura 3.3 Desenvolvimento da manuteno
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Captulo 3 Engenharia de Manuteno 39
A manuteno no primeiro estgio (REATIVA) significa a prtica da
Manuteno Corretiva no Planejada. Nessa situao os equipamentos
comandam a manuteno e nesta fase no h inovao e nem melhorias.
necessrio controlar a manuteno para que possam ser introduzidas
as melhorias. Assim necessrio, primeiro, CONTROLAR para depois
INOVAR.
Aps estas duas fases pode-se atingir a MANUTENO CLASSE
MUNDIAL.
O segundo fundamento est vinculado necessidade de buscar a
superioridade diante de um cenrio mundial de alta competitividade, onde os
resultados das empresas devem ser cada vez melhores e um dos grandes
objetivos a melhoria contnua.
necessrio promover uma ruptura com os mtodos e com a velocidade
atual e buscar alcanar e ultrapassar o benchmark em um tempo menor.
A figura 3.4, [Kardec-09], ilustra o que foi informado anteriormente.
Figura 3.4 Ruptura para alcance de benchmark
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Captulo 3 Engenharia de Manuteno 40
3.5 Manuteno como Funo Estratgica
3.5.1 Gesto da Manuteno
Gesto significa conduzir ou dirigir. Hoje, o gestor precisa estar apto a
perceber, refletir, decidir e tomar decises em condies totalmente diferentes
daquelas do passado.
Uma viso contempornea da gesto da manuteno considera que essa
funo deve englobar todo o ciclo de vida dos equipamentos, desde a
concepo do projeto at a sua operacionalizao.
A gesto da manuteno deve ser vista como parte da estratgia do
negcio. A qualidade e flexibilidade esto diretamente ligadas confiabilidade
e disponibilidade dos processos, enfatizando assim, a importncia da funo
manuteno. A gesto estratgica da manuteno ocorre se for gerenciada em
um processo de melhoria contnua.
3.5.2 Manuteno Estratgica
Conforme j citado, a viso hoje e de futuro da manuteno deixar de
ser apenas eficiente para se tornar eficaz, isto , no basta reparar o
equipamento e sim manter a funo do equipamento disponvel para a
operao, evitar falha do equipamento e reduzir custos.
A manuteno deve acompanhar e monitorar os indicadores de
Disponibilidade, Confiabilidade, Custos, Qualidade, Segurana e Moral para
que a empresa consiga atender ao mercado de forma competitiva.
A partir do momento em que a manuteno passa a atuar no sentido de
contribuir para o faturamento e lucro da empresa, segurana da instalao e
pessoas e com aes de preservao ambiental, ela se torna uma funo
estratgica. Alm disto, preciso que todas as pessoas tenham conhecimento
desses dados.
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Captulo 3 Engenharia de Manuteno 41
O Planejamento da manuteno passa a ser um fator relevante neste
contexto, isto , a manuteno deve se organizar de forma que as paradas
para manuteno dos equipamentos sejam realizadas de forma planejada e
otimizada.
O desempenho da manuteno como funo estratgica dentro da
organizao afeta, diretamente, o desempenho da empresa. A partir do
entendimento desta mudana de enfoque, fica claro que, para a empresa de
performance mundial, necessria Manuteno Classe Mundial.
A viso estratgica da manuteno resumida na figura 3.5, retirada de
[Kardec-09].
Figura 3.5 Viso estratgica da manuteno
Esta figura procura mostrar que a manuteno visa o aumento da
qualidade no apenas em sua funo, mas tambm focada na qualidade da
operao e das instalaes. Para alcanar a qualidade, a manuteno
preocupa-se com a disponibilidade de seus equipamentos para garantir assim,
um aumento de produo. Alm disso, a estratgia da manuteno visa a
reduo do custo de manuteno a fim de garantir sua contribuio para o
lucro da empresa.
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Captulo 3 Engenharia de Manuteno 42
3.6 Consideraes Finais
Neste captulo, procurou-se enfatizar que o pensar e o agir
estrategicamente so de grande importncia para que a manuteno se integre
eficazmente no processo produtivo das organizaes e contribua para a
excelncia empresarial. A manuteno deve ser proativa frente aos desafios
das empresas num cenrio de economia globalizada e um mercado
competitivo. Neste cenrio, a competitividade a razo da sobrevivncia das
empresas e organizaes e as principais caractersticas que devem ser
trabalhadas so a competncia, criatividade, flexibilidade, velocidade, cultura
da mudana e trabalho em equipe.
importante implementar a cultura de mudanas e conhecer
profundamente o novo papel da manuteno no cenrio atual. Esta nova viso
sistmica do negcio com mudana de paradigmas e conceitos levar a
grandes inovaes.
A aplicao do MRA exige da engenharia de manuteno as melhores
prticas voltadas para a manuteno preventiva e preditiva. A descrio do
processo de manuteno apresentada neste captulo denota a complexidade
desta atividade. Permite tambm perceber que os procedimentos tradicionais
em muitos casos requerem atualizao, mostrando a relevncia do
desenvolvimento desta dissertao.
Antes de apresentar as propostas de melhorias no planejamento e
organizao da engenharia de manuteno frente ao MRA, importante
detalhar tal mecanismo, sendo este o tema do prximo captulo.
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Captulo 4 O Mecanismo de Reduo de Energia Assegurada - MRA 43
4 O MECANISMO DE REDUO DE ENERGIA ASSEGURADA MRA
4.1 Introduo
O Mecanismo de Reduo de Energia Assegurada tratado de forma
detalhada neste captulo, onde so apresentados conceitos importantes e
formulaes bsicas para o seu entendimento.
A anlise dos critrios da cobrana do MRA, a avaliao dos impactos
para as geradoras e a proposio de procedimentos para otimizar os processos
de planejamento, operao e manuteno so muito importantes no novo
cenrio que se apresenta com a aplicao deste mecanismo. Alm desses
temas, este captulo apresenta o sistema que apura as indisponibilidades das
FG e um exemplo real de aplicao do MRA.
Conforme j introduzido no captulo 1, com a entrada em vigor da
resoluo [ANEEL-03] em dezembro de 2003, regulamentado o MRA por
indisponibilidade das usinas participantes do MRE. O MRA visa incentivar a
qualidade do servio de gerao de energia eltrica e tem como objetivo avaliar
se as usinas participantes do MRE cumpriram ou no os requisitos de
disponibilidade estabelecidos. Esta avaliao feita por meio de uma
comparao entre os parmetros verificados de interrupes programadas e
foradas em relao aos parmetros de referncia estabelecidos pela ANEEL
para uma usina.
Caso os parmetros verificados sejam inferiores aos de referncia, haver
uma reduo de energia assegurada, correspondente ao percentual de
diferena entre o verificado e a referncia. Vale ressaltar que a energia
assegurada ser reduzida somente para utilizao no MRE, no impactando na
apurao da garantia fsica da usina.
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Captulo 4 O Mecanismo de Reduo de Energia Assegurada - MRA 44
Alm da aplicao do MRA para as usinas hidreltricas despachadas
centralizadamente pelo ONS, desde o ano de 2007, foi regulamentada sua
aplicao tambm para as usinas hidreltricas no despachadas
centralizadamente. Entretanto, em funo da importncia das GCH para o SIN,
o contexto deste trabalho direcionado para estudo do MRA aplicvel s
grandes usinas.
Antes de detalhar a forma de clculo do MRA aplicvel s GCH,
importante o entendimento de conceitos e definies bsicas que do suporte
s propostas desta dissertao.
4.2 Conceitos e Definies Relevantes
Os conceitos a seguir so importantes para entendimento do tema MRA.
So conceitos fceis de serem interpretados e que facilitaro a compreenso
de como calculado o MRA aplicado s indisponibilidades de unidades
geradoras.
4.2.1 Energia Assegurada
A Energia Assegurada do Sistema corresponde mxima carga que pode
ser suprida a um risco pr-fixado (5%) de no atendimento da mesma, obtida
por meio de simulaes da operao, utilizando sries sintticas de energia
afluente ou conforme outra metodologia aprovada pela ANEEL.
A Energia Assegurada de uma usina corresponde frao a ela alocada
da Energia Assegurada do Sistema. A determinao da Energia Assegurada
independe da sua gerao real e est associada com as condies no longo
prazo que cada usina pode fornecer ao sistema, assumindo um critrio
especfico de risco do no atendimento do mercado (dficit), considerando a
variabilidade hidrolgica qual uma usina est submetida. Esta energia
corresponde em torno de 60% da capacidade instalada, podendo chegar a at
90% em alguns casos.
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Captulo 4 O Mecanismo de Reduo de Energia Assegurada - MRA 45
A Energia Assegurada relativa a cada usina participante do MRE
atribuda pela ANEEL nos Contratos de Concesso e constitui tambm a
quantidade de energia que o gerador pode comercializar (volumes mdios
anuais) em contratos de longo prazo. Estes nveis anuais so sazonalizados
em partes mensais e so ento modulados para cada perodo de apurao.
4.2.2 Mecanismo de Realocao de Energia (MRE)
um mecanismo financeiro de compartilhamento do risco hidrolgico que
est associado otimizao do sistema hidrotrmico realizada atravs de um
despacho centralizado, realizado pelo ONS.
Este mecanismo funciona da seguinte forma. Em primeiro lugar, toda a
gerao das usinas participantes de todo o pas comparada com as energias
asseguradas do sistema eltrico.
Toda a gerao que excede assegurada "transferida", para efeito
apenas de contabilizao, s usinas que tiveram o seu despacho definido pelo
ONS como sendo abaixo do seu nvel assegurado.
Desta forma, o MRE procura garantir a energia assegurada de cada usina
participante, para efeito de contratao bilateral. A ANEEL estabelece que
nenhuma empresa geradora pode vender mais energia que o nvel assegurado.
Esta