MaquiavelMaquiavel, retratado por Santi di , retratado por Santi di Tito. (Museu Palazzo Vecchio, Tito. (Museu Palazzo Vecchio, Florença)Florença)

NICOLAU MAQUIAVELNICOLAU MAQUIAVEL O filósofo viveu entre O filósofo viveu entre 1469 a 1527. Natural de 1469 a 1527. Natural de Florença, na época um Florença, na época um Estado separado da Itália, Estado separado da Itália, Maquiavel desenvolveu Maquiavel desenvolveu diversos aspectos relevantes diversos aspectos relevantes acerca da política.acerca da política. Uma das tantas Uma das tantas fascinações do autor consiste fascinações do autor consiste em compreender como em compreender como ocorre a conquista, a ocorre a conquista, a manutenção e a perda do manutenção e a perda do poder. poder.

VIDA E OBRA DE NICOLAU MAQUIAVEL.VIDA E OBRA DE NICOLAU MAQUIAVEL.

1469:1469: nascimento de Maquiavel, em 04 de maio. nascimento de Maquiavel, em 04 de maio. 1498:1498: é nomeado chanceler e, mais tarde, é nomeado chanceler e, mais tarde,

secretário das Relações Exteriores de Florença. secretário das Relações Exteriores de Florença. Essas funções não detiam tanto poder, apenas Essas funções não detiam tanto poder, apenas tratavam de representações e redações de textos tratavam de representações e redações de textos oficiais.oficiais.

1502-1503:1502-1503: Maquiavel passa cinco meses como Maquiavel passa cinco meses como embaixador junto a César Borgia, filho do papa embaixador junto a César Borgia, filho do papa Alexandre VI, cuja política enérgica e sem Alexandre VI, cuja política enérgica e sem escrúpulos o encheu de admiração.escrúpulos o encheu de admiração.

1512:1512: ocorre um golpe no qual a república é ocorre um golpe no qual a república é dissoluída e Lourenço de Médici assume o trono.dissoluída e Lourenço de Médici assume o trono.

1513-1516:1513-1516: exilado e preso, Maquiavel escreve exilado e preso, Maquiavel escreve O O PríncipePríncipe. Nele, analisa a política de forma . Nele, analisa a política de forma estratégica.estratégica.

Ainda no exílio, Maquiavel escreve Ainda no exílio, Maquiavel escreve A arte A arte da guerrada guerra, tratando da extinção das forças , tratando da extinção das forças armadas permanentes, por ameaçarem a armadas permanentes, por ameaçarem a república, e a criação de milícias populares. república, e a criação de milícias populares. Também é nesse período que o filósofo redigiu Também é nesse período que o filósofo redigiu Comentários sobre os primeiros dez livros de Comentários sobre os primeiros dez livros de Tito LívioTito Lívio. Este livro aborda a ascensão e o . Este livro aborda a ascensão e o declínio da organização político-militar romana declínio da organização político-militar romana comparada à época de Maquiavel.comparada à época de Maquiavel.

1520:1520: Maquiavel tornou-se historiador oficial da Maquiavel tornou-se historiador oficial da república e começou a escrever as república e começou a escrever as Histórias de Histórias de FlorençaFlorença, consagrada como primeira obra da , consagrada como primeira obra da historiografia moderna.historiografia moderna.

Somente Somente em fins do em fins do século XIX século XIX é que a é que a Itália Itália consegue a consegue a unificaçãounificação..

Desde os tempos de Desde os tempos de Maquiavel, a Itália consistia Maquiavel, a Itália consistia em um aglomerado de em um aglomerado de pequenos reinos ou pequenos reinos ou repúblicas isoladas que, repúblicas isoladas que, após tantos problemas, se após tantos problemas, se organiza tardiamente como organiza tardiamente como um Estado moderno.um Estado moderno.

Ponte Vecchio sobre o rio Arno, em FlorençaPonte Vecchio sobre o rio Arno, em Florença..

Maquiavel se preocupa com a instabilidade Maquiavel se preocupa com a instabilidade política que a Itália vivia. Estando dividida em política que a Itália vivia. Estando dividida em principados e repúblicas onde cada um possuía sua principados e repúblicas onde cada um possuía sua própria milícia, seja ela formada por mercenários própria milícia, seja ela formada por mercenários ou ou condottiericondottieri (comandantes contratados para (comandantes contratados para conduzirem o exército), observava-se nas pessoas conduzirem o exército), observava-se nas pessoas um receio muito forte.um receio muito forte. ““Como é meu intento escrever coisa útil Como é meu intento escrever coisa útil para os que se interessarem, pareceu-me mais para os que se interessarem, pareceu-me mais conveniente procurar a verdade efetiva das coisas, conveniente procurar a verdade efetiva das coisas, do que pelo que delas possa imaginar. E muita do que pelo que delas possa imaginar. E muita gente imaginou repúblicas e principados que gente imaginou repúblicas e principados que nunca se viram nem jamais foram reconhecidos nunca se viram nem jamais foram reconhecidos como verdadeiros.”como verdadeiros.”

Coluna Trajana, RomaColuna Trajana, Roma.

O PríncipeO Príncipe. Escrito em 1513 e dedicado a Lorenço de Escrito em 1513 e dedicado a Lorenço de Médici, este livro provocou inúmeras Médici, este livro provocou inúmeras interpretações e controvérsias. À primeira vista, interpretações e controvérsias. À primeira vista, esta obra parece defender o absolutismo e o mais esta obra parece defender o absolutismo e o mais completo imoralismo. completo imoralismo. “É necessário a um “É necessário a um príncipe, para se manter, que aprenda a poder ser príncipe, para se manter, que aprenda a poder ser mau e que se valha ou deixe valer-se disso mau e que se valha ou deixe valer-se disso segundo a necessidade.”segundo a necessidade.” A leitura apressada de A leitura apressada de O PríncipeO Príncipe levou à levou à criação do mito do maquiavelismo, que atravessou criação do mito do maquiavelismo, que atravessou séculos. Na linguagem comum, maquiavélico é o séculos. Na linguagem comum, maquiavélico é o indivíduo sem escrúpulos, traiçoeiro, astucioso que, indivíduo sem escrúpulos, traiçoeiro, astucioso que, para atingir seus fins, usa de mentira e má fé, para atingir seus fins, usa de mentira e má fé, enganando aos demais com sutileza.enganando aos demais com sutileza.

Cícero discursandoCícero discursando. Cesare . Cesare Maccari. Palácio Madama, Maccari. Palácio Madama, Roma.Roma.

Cuidado com interpretações simplistas! Cuidado com interpretações simplistas! Maquiavel trouxe inovações à filosofia Maquiavel trouxe inovações à filosofia política. Quanto ao príncipe (líder), o poder deve política. Quanto ao príncipe (líder), o poder deve ser conquistado e mantido, e para tanto, justifica-se ser conquistado e mantido, e para tanto, justifica-se o poder absoluto. Posteriormente, ao alcançar-se a o poder absoluto. Posteriormente, ao alcançar-se a estabilidade, é possível e desejável a instalação do estabilidade, é possível e desejável a instalação do governo republicano.governo republicano.

Lembre-se!Lembre-se! A república é a forma de governo A república é a forma de governo em que o poder é exercido por um chefe de Estado em que o poder é exercido por um chefe de Estado eleito, (de forma direta ou indireta), para cumprir eleito, (de forma direta ou indireta), para cumprir um mandato por tempo predeterminado. um mandato por tempo predeterminado.

GuerraGuerra, de Lasar Segall. , de Lasar Segall. Museu de Arte de São Paulo.Museu de Arte de São Paulo.

E as idéias democráticas?E as idéias democráticas? Aparecem quase Aparecem quase que escondidas no capítulo IX de que escondidas no capítulo IX de O PríncipeO Príncipe, , quando Maquiavel discorre sobre a necessidade de quando Maquiavel discorre sobre a necessidade de o governante ter o apoio do povo, sempre melhor o governante ter o apoio do povo, sempre melhor do que o apoio dos grandes, que podem ser do que o apoio dos grandes, que podem ser traiçoeiros. O filósofo mostra a idéia de consenso, traiçoeiros. O filósofo mostra a idéia de consenso, que irá ganhar importância mais tarde. que irá ganhar importância mais tarde.

A ação do príncipe A ação do príncipe a) a) virtùvirtù: (virtude no sentido grego de força, valor : (virtude no sentido grego de força, valor

qualidade e virilidade) Os príncipes de qualidade e virilidade) Os príncipes de virtùvirtù são são governantes especiais, capaz de realizar grandes governantes especiais, capaz de realizar grandes obras e provocar mudanças na história. obras e provocar mudanças na história.

b) b) fortunafortuna: (ocasião, acaso) Para agir bem, o : (ocasião, acaso) Para agir bem, o príncipe não deve deixar escapar a fortuna, isto é, a príncipe não deve deixar escapar a fortuna, isto é, a ocasião oportuna.ocasião oportuna.

Passeata do movimento Passeata do movimento Diretas já!Diretas já! Rio de Janeiro. 1984.Rio de Janeiro. 1984.

Segundo Maquiavel, de nada adiantaria o Segundo Maquiavel, de nada adiantaria o príncipe ser virtuoso, se não soubesse ser príncipe ser virtuoso, se não soubesse ser precavido ou ousado e aguardar a ocasião precavido ou ousado e aguardar a ocasião propícia, aproveitando o acaso e a sorte das propícia, aproveitando o acaso e a sorte das circunstâncias, como observador atento do curso circunstâncias, como observador atento do curso da história.da história. A fortuna de pouco serve sem a A fortuna de pouco serve sem a virtùvirtù, pois , pois pode se transformar em mero oportunismo. pode se transformar em mero oportunismo. Quando o príncipe é virtuoso, não se trata de ser Quando o príncipe é virtuoso, não se trata de ser bom e justo conforme os preceitos da moral cristã, bom e justo conforme os preceitos da moral cristã, mas sim daquele que tem a capacidade de mas sim daquele que tem a capacidade de perceber o jogo de forças da política, para então perceber o jogo de forças da política, para então agir a fim de conquistar e manter o poder.agir a fim de conquistar e manter o poder.

Marco Aurélio Antonino (121-180 d.C. O Marco Aurélio Antonino (121-180 d.C. O imperador romano se destacou pela imperador romano se destacou pela organização política e incentivo à cultura.organização política e incentivo à cultura.

A estrutura geral de A estrutura geral de O PríncipeO Príncipe..I- Espécies de principados.I- Espécies de principados.II- Principados hereditários.II- Principados hereditários.III- Principados mistos.III- Principados mistos.IV- Ocupação do reino de Dario por Alexandre.IV- Ocupação do reino de Dario por Alexandre.V- Principados e cidades que possuíam leis V- Principados e cidades que possuíam leis próprias antes da conquista.próprias antes da conquista.VI- Principados conquistados com as armas e VI- Principados conquistados com as armas e qualidades pessoais.qualidades pessoais.VII- Principados conquistados com as armas e as VII- Principados conquistados com as armas e as virtudes de outrem.virtudes de outrem.VIII- Conquista com malvadez.VIII- Conquista com malvadez.IX- Principado civil.IX- Principado civil.

Alexandre, o grande. Alexandre, o grande. Mosaico. Museu de Nápoles.Mosaico. Museu de Nápoles.

X- Medir forças em todos os principados.X- Medir forças em todos os principados.XI- Principados eclesiásticos.XI- Principados eclesiásticos.XII- Tipos de milícias e soldados.XII- Tipos de milícias e soldados.XIII- Exércitos auxiliares, mistos e próprios.XIII- Exércitos auxiliares, mistos e próprios.XIV- Deveres do príncipe para com as tropas.XIV- Deveres do príncipe para com as tropas.XV- Qualidades e louvores.XV- Qualidades e louvores.XVI- Generosidade e parcimônia.XVI- Generosidade e parcimônia.XVII- Crueldade e clemência.XVII- Crueldade e clemência.XVIII- A palavra dada.XVIII- A palavra dada.XIX- Como evitar o desprezo e o ódio.XIX- Como evitar o desprezo e o ódio.XX- Utilidade e inutilidade dos recursos utilizados XX- Utilidade e inutilidade dos recursos utilizados pelos príncipes.pelos príncipes.XXI- A ação e a estima do príncipe.XXI- A ação e a estima do príncipe.XXII- Secretários do príncipe.XXII- Secretários do príncipe.

Cavalo de Tróia. Mestre Eneida. Cavalo de Tróia. Mestre Eneida.

XXIII- Como evitar os aduladores.XXIII- Como evitar os aduladores.XXIV- Perdas de Estados.XXIV- Perdas de Estados.XXV- Influência da fortuna nas coisas humanas e XXV- Influência da fortuna nas coisas humanas e resistência.resistência.XXVI- Exortação para retomar a Itália e libertá-la XXVI- Exortação para retomar a Itália e libertá-la dos “bárbaros.”dos “bárbaros.”

A separação entre ética e política.A separação entre ética e política.

Maquiavel faz uma reavaliação das relações Maquiavel faz uma reavaliação das relações entre ética e política. Por um lado, é defendida a entre ética e política. Por um lado, é defendida a moral laica (secular, naturalista, diferente da moral moral laica (secular, naturalista, diferente da moral cristã); por outro, é estabelecida a autonomia da cristã); por outro, é estabelecida a autonomia da política, negando a anterioridade das questões política, negando a anterioridade das questões morais na avaliação da ação política. morais na avaliação da ação política.

A nova ética analisa as ações não mais em A nova ética analisa as ações não mais em função de uma hierarquia de valores, mas em vista função de uma hierarquia de valores, mas em vista das conseqüências, dos resultados e das ações das conseqüências, dos resultados e das ações políticas. Não se trata de amoralismo, mas de uma políticas. Não se trata de amoralismo, mas de uma nova moral centrada nos critérios de avaliação do nova moral centrada nos critérios de avaliação do que é útil à comunidade: se o que define moral é oque é útil à comunidade: se o que define moral é o

bem da comunidade, constitui dever do príncipe bem da comunidade, constitui dever do príncipe manter-se no poder a qualquer custo, por isso, às manter-se no poder a qualquer custo, por isso, às vezes, pode ser legítimo o recurso ao mal – o vezes, pode ser legítimo o recurso ao mal – o emprego da força coercitiva do Estado, a guerra, a emprego da força coercitiva do Estado, a guerra, a prática da espionagem, o uso da violência. prática da espionagem, o uso da violência. Maquiavel, no entanto, distingue entre o príncipe Maquiavel, no entanto, distingue entre o príncipe de de virtùvirtù, que é forçado pela necessidade a usar da , que é forçado pela necessidade a usar da violência visando o bem coletivo, e o tirano, que violência visando o bem coletivo, e o tirano, que age por capricho ou interesse próprio.age por capricho ou interesse próprio. A leitura maquiaveliana sugere a superação A leitura maquiaveliana sugere a superação dos escrúpulos da moral individual, mas não rejeita dos escrúpulos da moral individual, mas não rejeita a moral própria da ação política. Assim, para a moral própria da ação política. Assim, para Maquiavel, a avaliação moral não deve ser feita Maquiavel, a avaliação moral não deve ser feita antes da ação política, segundo normas gerais e antes da ação política, segundo normas gerais e abstratas, mas a partir de uma situação específica e abstratas, mas a partir de uma situação específica e em função de seu resultado.em função de seu resultado.