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PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE E ERRADICAO DA BRUCELOSE E DA TUBERCULOSE ANIMAL (PNCEBT)

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PRESIDENTE DA REPBLICA

Luiz Incio Lula da SilvaMINISTRO DA AGRICULTURA, PECURIA E ABASTECIMENTO

Roberto RodriguesSECRETRIO EXECUTIVO

Lus Carlos Guedes PintoSECRETRIO DE DEFESA AGROPECURIA

Gabriel Alves MacielDIRETOR DO DEPARTAMENTO DE SADE ANIMAL

Jorge Caetano JuniorCOORDENADOR GERAL DE COMBATE S DOENAS

Jamil Gomes de SouzaCHEFE DA DIVISO DE BRUCELOSE E TUBERCULOSE

Jos Ricardo Lbo

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Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE E ERRADICAO DA BRUCELOSE E DA TUBERCULOSE ANIMAL (PNCEBT)Manual Tcnico

Braslia - 20063

AUTORES

Andrey Pereira Lage Eliana Roxo Ernst Eckehardt Muller Fernando Padilla Poester Joo Crisostomo Mauad Cavallro Jos Soares Ferreira Neto Pedro Moacyr Pinto Coelho Mota Vitor Salvador Pico GonalvesORGANIZAO

Vera Cecilia Ferreira de Figueiredo Jos Ricardo Lbo Vitor Salvador Pico GonalvesREVISO BIBLIOGRFICA

Neuza Arantes SilvaREVISO DE TEXTO

Attilio BrunacciAGRADECIMENTOS

Carlos Eduardo Tedesco Silva SFA-MS/MAPA Maria Carmen de Rezende Costa SFA-MG/MAPA Maria do Carmo Pessa Silva SEAB/PR Orasil Romeu Bandini SFA-MS/MAPA

Catalogao na Fonte Biblioteca Nacional de Agricultura - BINAGRI permitida a reproduo parcial ou total desta obra, desde que citada a fonte. Brasil. Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento. Programa Nacional de Controle e Erradicao da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT) / organizadores, Vera Cecilia Ferreira de Figueiredo, Jos Ricardo Lbo, Vitor Salvador Pico Gonalves. - Braslia : MAPA/SDA/DSA, 2006. 188 p. ISBN 85-99851-01-2 1. Doena animal - Brucelose - Controle 2. Doena Animal - Tuberculose - Controle I. Lage, Andrey Pereira. II. Roxo, Eliana. III. Muller, Ernst Eckehardt. IV. Poester, Fernando Padilla. V. Cavallro, Joo Crisostomo Mauad. VI. Ferreira Neto, Jos Soares. VII. Mota, Pedro Moacyr Pinto Coelho. VIII. Gonalves, Vitor Salvador Pico. IX. Secretaria de Defesa Agropecuria. X. Departamento de Sade Animal. XI. Ttulo. AGRIS 4110; L73 CDU 639.1.091

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Apresentao

O Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento, ao instituir o Programa Nacional de Controle e Erradicao da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT), reconheceu essas doenas como destacados problemas de sade animal e de sade pblica no Brasil. So zoonoses causadoras de considerveis prejuzos econmicos e sociais, em virtude do impacto que produzem na produtividade dos rebanhos e dos riscos que acarretam sade humana. Um pas com um servio oficial de defesa sanitria animal bem estruturado deve ser capaz de atuar com eficcia no controle e na erradicao dessas doenas. Sendo detentor do maior rebanho comercial de bovinos do mundo, o Brasil precisa colocar no mercado produtos de origem animal de qualidade e baixo risco sanitrio para consumidores internos e externos cada vez mais exigentes. Aps ampla discusso com os vrios segmentos envolvidos, o grupo de trabalho responsvel pela elaborao do PNCEBT concebeu um programa com estratgias e objetivos muito claros, calcado em padres internacionais e que envolve, na sua execuo, instituies de ensino e pesquisa em medicina veterinria e grande nmero de mdicos veterinrios que atuam no setor privado. Com isso, o servio oficial de defesa sanitria animal pode concentrar suas aes no estabelecimento das polticas pblicas de sade animal e nas atividades de fiscalizao e de certificao. Nada obstante isso, de essencial importncia a participao dos pecuaristas e da agroindstria, beneficirios primeiros da maior eficincia produtiva dos rebanhos e da certificao de propriedades livres e monitoradas para brucelose e tuberculose, pois tero a possibilidade de ofertar produtos com diferencial de qualidade e maior valor agregado. Jorge Caetano JuniorDiretor do Departamento de Sade Animal5

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Prefcio

O Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MAPA) iniciou, no ano 2000, o processo de elaborao de uma proposta de programa para o controle da brucelose e da tuberculose animal. O assunto era tema de discusso recorrente em eventos tcnicos e cientficos, em fruns especializados, em teses de ps-graduao, ou, simplesmente, nas conversas entre veterinrios e produtores pecurios. Aes de saneamento de rebanhos, ou mesmo programas locais implementados por cooperativas, eram conhecidos. As autoridades sanitrias do Rio Grande do Sul, na dcada de 60, e de Minas Gerais, trs dcadas mais tarde, haviam iniciado programas sistemticos de vacinao contra a brucelose bovina. O prprio MAPA publicou legislao de controle da brucelose em 1976, porm sem que isso fosse seguido de implementao de um programa especfico. Apesar de todos os esforos, as aes que visavam combater estas enfermidades careciam de padronizao, de princpios metodolgicos claramente definidos com abordagem populacional, e, sobretudo, no constituam um esforo organizado e estruturado que configurasse um programa sanitrio. Assim, tornava-se necessrio repensar a estratgia de combate a estas zoonoses para construir as bases de um programa sanitrio adequado situao epidemiolgica, s caractersticas do setor pecurio brasileiro e infra-estrutura de servios veterinrios disponvel. Para elaborar a proposta de programa, o MAPA instituiu um grupo de trabalho multidisciplinar, cuja misso durou seis meses. Durante esse perodo, foram realizadas reunies com representantes do servio de defesa sanitria, dos produtores, do setor agroindustrial, das associaes de classe e, ainda, com pesquisadores e acadmicos. Chegou-se, por fim, a uma proposta baseada em algumas idiaschave, que abriam caminho para uma nova abordagem do problema.7

Em primeiro lugar, ficou claro que no seria possvel, nem desejvel, comear as aes de controle com medidas caractersticas de fases avanadas de erradicao. O exemplo principal desse equvoco era a tendncia de exigir a realizao de testes diagnsticos em todas as situaes de trnsito de animais, inclusive para a participao em qualquer tipo de evento ou aglomerao. Tal exigncia levaria a realizar vrios milhes de testes de brucelose e tuberculose todos os anos, sem controle de qualidade e sem resultar em saneamento dos focos existentes. O combate a doenas crnicas de tipo endmico no pode depender apenas da preveno da disseminao do agente infeccioso, uma vez que este pode manter-se em equilbrio, e por muito tempo, em rebanhos infectados. Ou seja, ou se eliminam as fontes de infeco, fazendo o saneamento dos focos, ou a incidncia de enfermidade permanecer inalterada. necessrio ressaltar que os animais reagentes aos testes diagnsticos devem ser eliminados, o que requer algum controle dos mdicos veterinrios privados e oficiais sobre o destino dos animais. Para atingir o objetivo de eliminao progressiva de focos, optou-se por um programa voluntrio de certificao de rebanhos livres, garantindo-se a isonomia deste conceito. A adeso dos produtores ao programa depender dos estmulos e restries aos quais forem expostos. Se os programas de qualidade do leite e da carne forem incorporando o controle da brucelose e da tuberculose, exigindo que os produtos sejam procedentes de propriedades livres, a preocupao com a sade animal e a sade pblica ser entendida como parte do processo de produo, mais do que como uma imposio do servio de defesa sanitria, aplicando o princpio da segurana dos alimentos do campo mesa. A defesa sanitria estar fazendo apenas uma parte do combate a essas zoonoses, assumindo a tarefa de certificao sanitria junto ao produtor. O envolvimento de toda a cadeia produtiva, e do consumidor, que vai determinar a eficcia de implementao do programa de certificao de propriedades livres.8

Para envolver as grandes propriedades de produo de carne existentes no Brasil, elaboraram-se medidas adaptadas s condies de manejo e ao tamanho desses rebanhos, as quais justificam a criao do programa de propriedades monitoradas. Esses rebanhos estaro sujeitos a um sistema de monitoramento permanente que visa prevenir a introduo do agente infeccioso e garantir baixos nveis de risco de manuteno de situaes endmicas. A vacinao de bezerras contra a brucelose foi considerada prioritria em razo de a prevalncia ser alta em quase todo o pas. Com essa medida espera-se reduzir significativamente a prevalncia e a incidncia da brucelose em um prazo de 10 anos. Os exemplos de sucesso em Minas Gerais e no Rio Grande do Sul so motivo para acreditar no acerto dessa estratgia. O PNCEBT tambm um programa aberto a inovaes, como a introduo de novas vacinas ou testes de diagnstico. Essa caracterstica importante para garantir que os produtores e os mdicos veterinrios tenham acesso constante a mtodos de boa eficcia e de custo baixo. Finalmente, o PNCEBT envolve os mdicos veterinrios, as universidades e centros de pesquisa como parte ativa de todo o processo. Esta uma soluo nova no Brasil, baseada na idia de que a grande capacidade tcnica instalada das instituies de ensino e pesquisa e a disponibilidade de servios veterinrios existentes no Pas podem e devem dar uma contribuio importante a todas as fases de um programa de sade animal. Acreditamos que as estratgias e normas seguidas pelo PNCEBT so adequadas e podem transformar o combate brucelose e tuberculose em um esforo organizado de todos os setores ligados produo pecuria e promoo da sade pblica. A partir de agora ser necessrio monitorar o andamento e o impacto das medidas propostas. S o tempo mostrar os erros e os acertos e tornar mais evidentes as necessidades de corrigir ou de reforar o rumo seguido. Comit Cientfico Consultivo do PNCEBT9

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SumrioPROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE E ERRADICAO DA BRUCELOSE E DA TUBERCULOSE ANIMAL (PNCEBT) ....................... 15 Apresentao do Programa ............................................................... 15 Breve Diagnstico da Situao Atual ...................................................... 15 Objetivos Especficos do Programa ......................................................... 17 Estratgias ......................................................................................... 17 Propostas Tcnicas .............................................................................. 18 Vacinao contra Brucelose ............................................................ 18 Certificao de Propriedades Livres de Brucelose e Tuberculose ........... 19 Certificao de Propriedades Monitoradas para Brucelose e Tuberculose ............................................................. 20 Controle do Trnsito de Animais ................................................. 21 Habilitao e Capacitao de Mdicos Veterinrios ..................... 21 Diagnstico e Apoio Laboratorial ....................................................... 22 Brucelose ................................................................................... 22 Tuberculose ............................................................................... 23 Participao do Servio Veterinrio Oficial ............................................... 24 BRUCELOSE BOVINA (Brucella abortus) .............................................. 25 Definio .......................................................................................... 25 Etiologia ........................................................................................... 25 Epidemiologia ................................................................................... 26 Situao no Brasil ...................................................................... 26 Perdas Econmicas ..................................................................... 27 Resistncia ................................................................................. 28 Mecanismos de Transmisso .............................................................. 29 Patogenia ......................................................................................... 31 Sinais Clnicos e Leses ...................................................................... 32 Resposta Imune contra a Brucelose na Infeco e na Vacinao .......... 33 Diagnstico ...................................................................................... 36 Mtodos Diretos ........................................................................ 36 Mtodos Indiretos ou Sorolgicos .............................................. 3611

Testes de Triagem .................................................................. 38 Teste de Soroaglutinao com Antgeno Acidificado Tamponado (AAT) ....................................... 38 Teste do Anel em Leite (TAL) .......................................... 39 Testes Confirmatrios .......................................................... 39 Teste do 2-Mercaptoetanol (2-ME) ................................ 39 Teste de Soroaglutinao em Tubos (SAT) ...................... 40 Fixao de Complemento (FC) ....................................... 40 Novos Mtodos de Diagnstico ........................................... 41 Teste de Elisa Indireto (I-Elisa) ........................................ 41 Teste de Elisa Competitivo (C-Elisa) ................................ 41 Teste de Polarizao de Fluorescncia (FPA) .................... 42 Controle da Brucelose ....................................................................... 42 Vacinas contra Brucelose ................................................................... 43 Vacina B19 ................................................................................ 44 Vacina no Indutora de Anticorpos Aglutinantes ......................... 45 Doena no Ser Humano .................................................................... 45 Bibliografia ........................................................................................ 47 TUBERCULOSE BOVINA (Mycobacterium bovis) .............................. 51 Definio ........................................................................................... 51 Etiologia ............................................................................................ 51 Epidemiologia .................................................................................... 52 Distribuio ................................................................................ 52 Importncia Econmica ................................................................. 53 Mecanismos de Transmisso ................................................................. 53 Patogenia .......................................................................................... 55 Diagnstico ........................................................................................ 57 Diagnstico Clnico ...................................................................... 58 Diagnstico Anatomopatolgico .................................................... 58 Diagnstico Bacteriolgico ............................................................ 59 Diagnstico Alrgico-cutneo ........................................................ 60 Tuberculinas ......................................................................... 61 Mecanismos da Reao Alrgica Tuberculina ........................... 6112

Equipamentos para os Testes de Tuberculinizao ..................... 63 Mtodos de Turberculinizao ................................................ 64 Cuidados na Tuberculinizao de Rebanhos .............................. 64 Novos Mtodos de Diagnstico da Tuberculose Bovina ...................... 65 Controle da Tuberculose ...................................................................... 66 Tuberculose Humana de Origem Bovina .................................................. 68 Bibliografia ........................................................................................ 68 PROPRIEDADES DOS TESTES DE DIAGNSTICO E IMPLICAES NO DELINEAMENTO DE ESTRATGIAS SANITRIAS .................................... 73 O Caso dos Programas de Controle da Brucelose e da Tuberculose ...... 73 Concluso .......................................................................................... 79 Bibliografia ........................................................................................ 79 COLHEITA DE MATERIAL PARA EXAME LABORATORIAL ........................ 81 Exame Direto (bacteriolgico) ................................................................ 81 Tuberculose ................................................................................ 82 Brucelose .................................................................................... 83 Exame Histopatolgico ........................................................................ 84 Exame Indireto (sorolgico) .................................................................. 84 Identificao e Encaminhamento do Material de Necropsia ........................ 87 Preenchimento do Formulrio de Encaminhamento de Amostra para Diagnstico ................................................................ 88 PROTOCOLO PARA DIAGNSTICO DA BRUCELOSE ............................... 91 Diagnstico Sorolgico ..................................................................... 91 Antgenos .................................................................................. 91 Identificao dos Animais .......................................................... 91 Testes ........................................................................................ 91 Teste do Antgeno Acidificado Tamponado (AAT) ................. 91 Teste do Anel em Leite (TAL) ................................................ 93 Teste do 2-Mercaptoetanol (2-ME) ...................................... 96

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PROTOCOLO PARA DIAGNSTICO DA TUBERCULOSE ...................... 103 Diagnstico Alrgico ......................................................................... 103 Tuberculinas .............................................................................. 103 Equipamentos ........................................................................... 103 Identificao dos Animais ........................................................... 103 Testes ....................................................................................... 104 Teste Cervical Simples (TCS) ................................................... 104 Teste Cervical Comparativo (TCC) ........................................... 106 Teste da Prega Caudal (TPC) .................................................. 109 ELIMINAO DE ANIMAIS ................................................................ 111 MTODOS DE DESINFECO .......................................................... 113 Bibliografia ...................................................................................... 115 PERGUNTAS E RESPOSTAS SOBRE NORMAS E PROCEDIMENTOS .... 117 Vacina contra Brucelose ..................................................................... 117 Cadastramento de Mdicos Veterinrios ............................................... 119 Habilitao de Mdicos Veterinrios ..................................................... 120 Antgenos para Brucelose e Turbeculinas .............................................. 121 Diagnstico de Brucelose ................................................................... 122 Diagnstico de Tuberculose ................................................................ 125 Destino dos Animais Reagentes Positivos .............................................. 128 Trnsito Interestadual e Aglomeraes de Bovinos e Bubalinos (Feiras e Exposies) ........................................................ 129 Certificao de Estabelecimento de Criao Livre de Brucelose e Tuberculose ................................................................... 130 Certificao de Estabelecimento de Criao Monitorado para Brucelose e Tuberculose .............................................................. 134 LEGISLAO PNCEBT ....................................................................... 141 ENDEREOS DAS SUPERINTENDNCIAS FEDERAIS DE AGRICULTURA, PECURIA E ABASTECIMENTO SFAs/MAPA ..... 181

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Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE E ERRADICAO DA BRUCELOSE E DA TUBERCULOSE ANIMAL (PNCEBT)

Apresentao do ProgramaO Programa Nacional de Controle e Erradicao da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT) foi institudo em 2001 pelo Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento (MAPA) com o objetivo de diminuir o impacto negativo dessas zoonoses na sade humana e animal, alm de promover a competitividade da pecuria nacional. O PNCEBT introduziu a vacinao obrigatria contra a brucelose bovina e bubalina em todo o territrio nacional e definiu uma estratgia de certificao de propriedades livres ou monitoradas.

Breve Diagnstico da Situao AtualA brucelose, causada por Brucella abortus, e a tuberculose, ocasionada por Mycobacterium bovis, esto disseminadas por todo o territrio nacional; a sua prevalncia e distribuio regional, porm, no esto bem caracterizadas. Sabe-se que a brucelose atinge tanto o gado de corte como o gado de leite, enquanto a tuberculose um problema mais srio para os produtores de leite. Ambas as enfermidades afetam a populao de bubalinos. O ltimo diagnstico de situao da brucelose bovina em nvel nacional foi realizado em 1975, tendo sido estimada a porcentagem de animais soropositivos em 4% na Regio Sul, 7,5% na Regio Sudeste, 6,8% na Regio Centro-Oeste, 2,5% na Regio Nordeste e 4,1% na Regio Norte. Posteriormente, outros levantamentos sorolgicos por amostragem, realizados em alguns15

Estados, revelaram pequenas alteraes na prevalncia de brucelose: no Rio Grande do Sul, a prevalncia passou de 2,0% em 1975, para 0,3% em 1986, aps uma campanha de vacinao bem sucedida; em Santa Catarina, passou de 0,2% em 1975, para 0,6% em 1996; no Mato Grosso do Sul, a prevalncia estimada em 1998 foi de 6,3%, idntica ao valor encontrado em 1975 para o territrio mato-grossense; em Minas Gerais, passou de 7,6% em 1975, para 6,7% em 1980; no Paran, a prevalncia estimada em 1975 foi de 9,6%, passando para 4,6% de bovinos soropositivos em 1989. Os dados de notificaes oficiais indicam que a prevalncia de animais soropositivos se manteve entre 4% e 5% no perodo de 1988 a 1998. Entre 1989 e 1998, os dados de notificaes oficiais de tuberculose bovina indicam uma prevalncia mdia nacional de 1,3% de animais infectados. Um levantamento realizado em 1999, no Tringulo Mineiro e nas regies do centro e sul de Minas Gerais, envolvendo aproximadamente 1.600 propriedades e 23.000 animais, estimou a prevalncia aparente de animais infectados em 0,8%. No mesmo estudo, foram detectadas 5% de propriedades com animais reagentes, sendo importante destacar que esse valor subiu a 15% no universo de propriedades produtoras de leite com algum grau de mecanizao da ordenha e de tecnificao da produo. A partir da instituio do Programa em 2001, um inqurito soroepidemiolgico para a brucelose est sendo realizado em nvel nacional, com critrios padronizados e encontra-se em fase adiantada. Os critrios para a realizao de estudo de prevalncia da tuberculose no Pas esto sendo estabelecidos. Antes do lanamento do PNCEBT, o controle da brucelose estava regulamentado pela Portaria Ministerial nO 23/76, que no vinha obtendo a eficcia desejada. O mesmo aplica-se ao problema da tuberculose, cujas normas e procedimentos de controle s com este Programa passaram a estar regulamentados em nvel nacional. importante destacar a iniciativa da Associao Brasileira de Buiatria que, em 1999, organizou grupos de discusso sobre o16

controle da tuberculose bovina no Brasil e culminou no encaminhamento de uma proposta de ao ao MAPA em dezembro desse mesmo ano. Quanto brucelose e tuberculose dos sunos, o controle feito de acordo com as normas de certificao de granjas de reprodutores sudeos da Secretaria de Defesa Agropecuria/MAPA, que estabelecem procedimentos de diagnstico e controle na populao de matrizes. A brucelose ovina e caprina de importncia epidemiolgica, causada por Brucella melitensis, no foi diagnosticada no Brasil at o presente momento. A epididimite ovina, provocada por Brucella ovis, no considerada nas medidas propostas neste Programa, pois trata-se de doena com caractersticas prprias, pelo que ser considerada no mbito de programas de controle de doenas dos ovinos. No existem dados sobre tuberculose ovina e caprina no Brasil que justifiquem a implantao de medidas especficas visando o controle sistemtico da doena em pequenos ruminantes.

Objetivos Especficos do Programa Reduzir a prevalncia e a incidncia de novos focos de brucelose e de tuberculose. Criar um nmero significativo de propriedades certificadas como livres de brucelose e tuberculose ou monitoradas para brucelose e tuberculose, e que ofeream ao consumidor produtos de baixo risco sanitrio.

EstratgiasA estratgia deste programa consiste em um conjunto de medidas sanitrias compulsrias, associadas a aes de adeso voluntria. As medidas compulsrias tm eficcia comprovada e permitem obter uma importante reduo da prevalncia e da17

incidncia das duas doenas a custos reduzidos. Trata-se da vacinao de bezerras contra a brucelose e do controle do trnsito de animais destinados reproduo. importante ressaltar que a prioridade neste Programa a vacinao contra a brucelose. As aes de adeso voluntria dizem respeito certificao de propriedades livres e de propriedades monitoradas, que nada mais so do que um instrumento que os produtores e o setor agroindustrial utilizaro para agregar valor aos seus produtos. Assim sendo, este no um programa apenas do governo federal e dos governos estaduais; um projeto que dever envolver o setor produtivo e suas comunidades, o setor industrial e os consumidores, no esquecendo os mdicos veterinrios que atuam no setor privado. Em outras palavras, o setor pblico dever atuar como agente certificador dentro de um processo que envolve diretamente toda a cadeia produtiva. Para garantir a qualidade tcnica das aes do Programa, foi elaborada uma srie de medidas que visam: capacitar mdicos veterinrios e laboratrios, tanto oficiais como privados; padronizar os mtodos de diagnstico utilizados; permitir as aes de fiscalizao e monitoramento que cabem ao servio oficial de defesa sanitria animal; melhorar a integrao desse servio de defesa sanitria com o servio oficial de inspeo de produtos de origem animal.

Propostas Tcnicas Vacinao contra BruceloseEstabeleceu-se um prazo at dezembro de 2003 para cada Estado implantar em todo o seu territrio a obrigatoriedade de vacinao de bezerras contra a brucelose. A vacinao s poder ser realizada sob a responsabilidade de mdicos veterinrios; estes devero estar cadastrados no servio oficial de defesa sanitria animal de seu Estado de atuao. Em regies onde houver carncia de veterin18

rios privados, ou nos casos em que eles no atendam plenamente s necessidades do Programa, o servio oficial de defesa sanitria animal poder executar ou supervisionar as atividades de vacinao. Esperase que, at dezembro de 2010, ao menos 80% da populao de fmeas adultas tenham sido vacinadas entre 3 e 8 meses de idade. Quando essa meta for atingida, a prevalncia de brucelose dever situar-se em nveis que permitam passar fase de erradicao. O PNCEBT tambm autoriza a vacinao de fmeas com idade superior a oito meses, desde que sejam utilizadas vacinas que no interfiram com os testes de diagnstico e atendam aos critrios estabelecidos em norma especfica.

Certificao de Propriedades Livres de Brucelose e TuberculoseOs procedimentos de certificao de propriedades livres de brucelose e de tuberculose obedecem aos princpios tcnicos estabelecidos pela Organizao Mundial de Sade Animal (OIE) e, portanto, acreditados e aceitos internacionalmente. A sua aplicao foi ajustada realidade dos sistemas de produo brasileiros e s necessidades do PNCEBT. A adeso ao processo de certificao voluntria e seria extremamente positiva a implementao de mecanismos de incentivo e de compensao. Tais iniciativas devero ser desenvolvidas em colaborao com todos os atores da cadeia produtiva, principalmente a indstria. O saneamento das propriedades que entram em processo de certificao deve ser realizado testando todos os animais e sacrificando os reagentes positivos. Os testes em todo o rebanho sero repetidos at a obteno de trs testes sem um nico animal reagente positivo, ao longo de um perodo mnimo de nove meses. Uma vez terminado o saneamento, a propriedade obtm o certificado de livre dessas doenas, cuja manuteno depende do cumprimento de todas as regras e normas sanitrias estabelecidas. As propriedades certificadas ficam obrigadas a repetir os testes anualmente. importante destacar a exigncia de dois testes19

negativos para o ingresso de animais na propriedade, se eles no forem provenientes de outra propriedade livre. Os testes de diagnstico para brucelose so realizados exclusivamente em fmeas de idade igual ou superior a 24 meses, desde que vacinadas entre 3 e 8 meses; em machos e fmeas no vacinadas, realizam-se a partir dos 8 meses de idade. Sero submetidos a testes de diagnstico para tuberculose todos os animais com idade igual ou superior a 6 semanas. As atividades de saneamento para a certificao de propriedades livres ou monitoradas sero desenvolvidas por mdicos veterinrios privados habilitados, depois de aprovados em curso de treinamento reconhecido pelo MAPA. O servio oficial de defesa sanitria animal dever monitorar e fiscalizar essas atividades.

Certificao de Propriedades Monitoradas para Brucelose e TuberculoseExiste uma dificuldade de aplicao das normas tcnicas estabelecidas para propriedades livres em estabelecimentos de criao extensiva e com muitos animais, como caracterstico da pecuria de corte no Brasil. Por esse motivo, criou-se a certificao de propriedade monitorada para brucelose e tuberculose, tambm de adeso voluntria. Nelas, os testes de diagnstico so realizados por amostragem, seguindo procedimentos estabelecidos no Regulamento do PNCEBT. Se no forem detectados animais reagentes positivos, a propriedade receber o certificado de monitorada para brucelose e tuberculose. Se forem encontrados animais reagentes positivos, os animais no includos na amostragem sero submetidos a testes de diagnstico, e todos os animais reagentes positivos sero sacrificados ou destrudos. Somente aps essa etapa a propriedade receber o certificado de monitorada para brucelose e tuberculose. Em propriedades monitoradas, os testes sero realizados apenas em fmeas com mais de 24 meses e em machos reprodutores, com periodicidade anual para brucelose e a cada dois anos para tuberculose (aps obtidos dois testes anuais de20

rebanho para tuberculose, com resultados negativos). S podero ingressar na propriedade animais com dois testes negativos ou provenientes de propriedades de condio sanitria igual ou superior. semelhana das propriedades livres, as propriedades monitoradas so obrigadas a ter superviso tcnica de mdico veterinrio habilitado. O certificado de propriedade monitorada para brucelose e tuberculose ser atribudo exclusivamente a fazendas de gado de corte. O MAPA entende que esta uma forma eficaz de diminuir a prevalncia de tais enfermidades em propriedades com grande nmero de animais e de criao extensiva, enquanto garante o reconhecimento oficial de um trabalho sistemtico de vigilncia e saneamento. Para as indstrias exportadoras de carne, muito importante poder dar garantias aos mercados consumidores de que o seu produto provm de propriedades de criao onde o controle dessas doenas feito de forma sistemtica, aplicando-se princpios de gesto de risco.

Controle do Trnsito de Animais Destinados Reproduo, e Normas Sanitrias para a Participao em Exposies, Feiras, Leiles e em outras Aglomeraes de AnimaisO PNCEBT estabelece exigncias de diagnstico para efeito de trnsito interestadual de animais destinados reproduo. Animais que participam de exposies tambm devem ser submetidos a teste de diagnstico, ou ser provenientes de propriedade livre. A emisso de Guia de Trnsito Animal (GTA) ser tambm condicionada comprovao da vacinao das fmeas da propriedade contra a brucelose, qualquer que seja a finalidade do trnsito animal.

Habilitao e Capacitao de Mdicos VeterinriosO PNCEBT envolve um grande nmero de aes sanitrias profilticas e de diagnstico a campo. Assim sendo, torna-se necessrio habilitar mdicos veterinrios do setor privado para21

atuarem junto ao PNCEBT, sob superviso do MAPA e das Secretarias de Agricultura dos Estados. A vacinao contra brucelose dever ser realizada sob responsabilidade de mdicos veterinrios. Por tratar-se de vacina viva atenuada, sua compra s poder ser efetuada mediante a apresentao da receita emitida por mdico veterinrio. Esses profissionais ficaro obrigatoriamente cadastrados no servio veterinrio oficial de seu Estado de atuao. Para executar as atividades de diagnstico a campo e participar do programa de certificao de propriedades livres ou monitoradas, o MAPA s habilitar mdicos veterinrios que tenham sido aprovados em curso de treinamento em mtodos de diagnstico e controle de brucelose e tuberculose, previamente reconhecido por esse Ministrio. Esses cursos so ministrados em instituies de ensino ou pesquisa de todo o Pas com o objetivo de atualizar os conhecimentos dos profissionais que vo atuar no Programa e, sobretudo, de padronizar as aes sanitrias. Os instrutores desses cursos sero habilitados por meio da participao em seminrios de referncia do Programa Nacional, organizados pelo MAPA e oferecidos regularmente. A capacitao dos profissionais do setor privado e a sua participao neste Programa Nacional representam um desafio e uma oportunidade para a classe mdico-veterinria demonstrar sua capacidade de contribuir para a soluo de importantes problemas de sade pblica e de sade animal, a partir da integrao do servio veterinrio oficial com o setor privado e da constante melhoria do padro de servios oferecidos aos pecuaristas.

Diagnstico e Apoio LaboratorialA eficcia de um programa nacional de combate a qualquer doena depende, em parte, da qualidade e da padronizao dos procedimentos de diagnstico utilizados. Os testes para diagnstico indireto reconhecidos como oficiais so:22

Brucelose1) o teste do antgeno acidificado tamponado, que muito sensvel e de fcil execuo, o teste de triagem realizado por mdicos veterinrios habilitados, por laboratrios credenciados ou por laboratrios oficiais credenciados; 2) os animais que reagirem ao teste de triagem podero ser submetidos a um teste confirmatrio, o 2-Mercaptoetanol, que mais especfico, e executado por laboratrios credenciados ou por laboratrios oficiais credenciados; 3) o teste de fixao de complemento, ou outro que o substitua, realizado em laboratrios oficiais credenciados para efeito de trnsito internacional, como teste confirmatrio em animais reagentes ao teste de triagem, ou para diagnstico de casos inconclusivos ao teste do 2-Mercaptoetanol; 4) o teste do anel em leite poder ser utilizado para monitoramento da condio sanitria de propriedades livres ou como ferramenta de diagnstico em sistemas de vigilncia epidemiolgica; pode ser executado por mdicos veterinrios habilitados, por laboratrios credenciados ou por laboratrios oficiais credenciados.

Tuberculose1) o teste cervical simples a prova de rotina em gado de leite devido sua boa sensibilidade; 2) o teste da prega ano-caudal pode ser utilizado como prova de triagem, porm, exclusivamente em gado de corte; 3) o teste cervical comparativo a prova confirmatria para animais reagentes ao teste da prega ano-caudal ou ao teste cervical simples; todavia, tambm pode ser empregado como nica prova diagnstica em rebanhos com histrico de reaes inespecficas. Os testes acima mencionados colocam o diagnstico de brucelose e de tuberculose no Brasil em sintonia com os padres internacionais, e, em particular, com as recomendaes do Cdigo23

Zoossanitrio Internacional da OIE. Entretanto, o MAPA pretende atualizar os mtodos de diagnstico medida que novos e melhores testes forem surgindo.

Participao do Servio Veterinrio OficialA credibilidade das atividades propostas neste Programa, principalmente a certificao de propriedades, est diretamente associada s aes de monitoramento e fiscalizao do servio veterinrio oficial. Uma vez que este no vai executar as aes sanitrias, o seu papel de rgo certificador de qualidade ser garantido atuando em pontos crticos do processo. Por exemplo, o servio oficial poder, em qualquer momento, realizar diagnsticos por amostragem em propriedades certificadas e far um acompanhamento direto dos testes finais que conferem o certificado de propriedade livre. Um ponto fundamental a integrao do servio de inspeo de produtos de origem animal neste Programa, em virtude do seu papel tanto na proteo ao consumidor como na vigilncia epidemiolgica. Com tal objetivo, ser estabelecido um fluxo sistemtico de informaes nosolgicas entre o servio de inspeo e o servio de defesa sanitria animal. Finalmente, deve ser ressaltada a necessidade de integrar o controle da brucelose e tuberculose nos programas de educao sanitria.

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Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

BRUCELOSE BOVINA (Brucella abortus)

DefinioA brucelose uma doena infecto-contagiosa provocada por bactrias do gnero Brucella. Produz infeco caracterstica nos animais, podendo infectar o homem. Sendo uma zoonose de distribuio universal, acarreta problemas sanitrios importantes e prejuzos econmicos vultosos. As principais manifestaes nos animais como abortos, nascimentos prematuros, esterilidade e baixa produo de leite contribuem para uma considervel baixa na produo de alimentos. No homem, a sua manifestao clnica responsvel por incapacidade parcial ou total para o trabalho. Tendo em vista ser o presente manual parte integrante do Programa Nacional de Controle e Erradicao da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT) em bovinos e bubalinos, os conceitos emitidos a seguir sero dirigidos a essas duas espcies animais.

EtiologiaDentro do gnero Brucella, so descritas seis espcies independentes, cada uma com seu hospedeiro preferencial: Brucella abortus (bovinos e bubalinos), Brucella melitensis (caprinos e ovinos), Brucella suis (sunos), Brucella ovis (ovinos), Brucella canis (ces) e Brucella neotomae (rato do deserto). Duas novas espcies, recentemente isoladas de mamferos marinhos esto sendo estudadas. As trs espcies principais, tambm denominadas clssicas, so subdivididas em biovariedades ou biovares: B. abortus 7 biovares; B. melitensis 3 biovares; B. suis 5 biovares.25

As bactrias do gnero Brucella so parasitas intracelulares facultativos, com morfologia de cocobacilos Gram-negativos, imveis; podem apresentar-se em cultivos primrios com morfologia colonial lisa ou rugosa (rugosa estrita ou mucide). Essa morfologia est diretamente associada composio bioqumica do lipopolissacardeo da parede celular, e para algumas espcies tem relao com a virulncia. B. abortus, B. melitensis e B. suis normalmente apresentam uma morfologia de colnia do tipo lisa; quando evoluem para formas rugosas ou mucides, deixam de ser patognicas. J as espcies B. ovis e B. canis apresentam uma morfologia de colnia permanentemente do tipo rugosa ou mucide. Embora os bovinos e bubalinos sejam suscetveis B. suis e B. melitensis, inequivocamente a espcie mais importante a B. abortus, responsvel pela grande maioria das infeces.

Epidemiologia Situao no BrasilEstudos mostram que a brucelose bovina parece estar disseminada por todo o territrio brasileiro, com maior ou menor prevalncia dependendo da regio estudada. Em 1975, foram verificadas as seguintes prevalncias em animais, por regies: Sul, 4%; Sudeste, 7,5%; Centro-Oeste, 6,8%; Nordeste, 2,5% e Norte, 4,1%. Posteriormente, alguns Estados realizaram estudos sorolgicos por amostragem, os quais no evidenciaram grandes alteraes em relao aos ndices nacionais verificados em 1975. No Rio Grande do Sul, a prevalncia decresceu de 2%, em 1975, para 0,3%, em 1986. Em Santa Catarina, passou de 0,2%, em 1975, para 0,6%, em 1996. No Mato Grosso do Sul, a prevalncia estimada em 1998 foi de 6,3%, semelhante de 1975 no antigo Estado do Mato Grosso. Em Minas Gerais, passou de 7,6%, em 1975, para 6,7%, em 1980. No Paran, a prevalncia estimada em 1975 foi de 9,6%, passando para 4,6% em 1989.26

Os dados oficiais, publicados no Boletim de Defesa Sanitria Animal, mostram que a prevalncia de animais positivos no Brasil manteve-se entre 4% e 5% no perodo entre 1988 e 1998. Apesar dos poucos estudos realizados visando identificao das biovariedades de Brucella isoladas de bovdeos no Brasil, j foram identificadas B. abortus biovares 1, 2 e 3 e B. suis biovar 1. Alm dessas espcies, de igual modo j foram identificadas B. canis e B. ovis infectando animais domsticos. At o presente momento, a B. melitensis, principal agente etiolgico da brucelose caprina, no foi identificada no Brasil.

Perdas EconmicasNos bovinos e bubalinos, a brucelose acomete, de modo especial, o trato reprodutivo, gerando perdas diretas devido, principalmente, a abortos, baixos ndices reprodutivos, aumento do intervalo entre partos, diminuio da produo de leite, morte de bezerros e interrupo de linhagens genticas. As propriedades onde a doena est presente tm o valor comercial de seus animais depreciado; as regies onde a doena endmica encontram-se em posio desvantajosa na disputa de novos mercados. Estimativas mostram ser a brucelose responsvel pela diminuio de 25% na produo de leite e de carne e pela reduo de 15% na produo de bezerros. Mostram ainda que, em cada cinco vacas infectadas, uma aborta ou torna-se permanentemente estril. Dentro das perdas indiretas, deve-se salientar as que resultam em infeces humanas. Na maioria das vezes, quando a enfermidade no tratada na fase aguda, o curso crnico da doena no homem produz perdas econmicas de vulto. Essas perdas esto relacionadas com os custos do diagnstico e tratamento, muitas vezes requerendo internaes prolongadas. Alm disso, no deve ser esquecido o custo do perodo decorrente da ausncia ao trabalho. No Brasil, no existem estudos concretos sobre os prejuzos econmicos ocasionados pela brucelose bovina ou bubalina.27

Nos Estados Unidos, estimou-se, em 1983, que as perdas por brucelose bovina foram da ordem de 32 milhes de dlares, apesar do programa americano ter-se iniciado h mais de 40 anos.

ResistnciaAs bactrias do gnero Brucella, apesar de permanecerem no ambiente, no se multiplicam nele; elas so medianamente sensveis aos fatores ambientais. Entretanto, a resistncia diminui quando aumentam a temperatura e a luz solar direta ou diminui a umidade. A pasteurizao um mtodo eficiente de destruio de Brucella sp, assim como as radiaes ionizantes. A sobrevivncia de Brucella sp em esterco lquido inversamente proporcional temperatura dele, pois pode sobreviver nesse material por 8 meses a 15C, enquanto que s resiste por 4 horas se a temperatura do material for de 45 50C. O Quadro 1 mostra o tempo de resistncia de Brucella sp em algumas condies ambientais.Quadro 1 Resistncia de Brucella sp em algumas condies ambientais

Condio ambiental Luz solar direta Solo Fezes Dejetos gua esgoto altas temperaturas potvel poluda seco mido a baixas temperaturas

Tempo de sobrevivncia 4 5 horas 4 dias 65 dias 151 185 dias 120 dias 8 240/700 dias 4 horas 2 dias 5 114 dias 30 150 dias 180 dias 200 dias

Feto sombra Exsudato uterino28

Adaptado de Wray (1975), OMS (1986) e Crawford et al. (1990).

Mecanismos de TransmissoNo animal infectado, as localizaes de maior freqncia do agente so: linfonodos, bao, fgado, aparelho reprodutor masculino, tero e bere. As vias de eliminao so representadas pelos fluidos e anexos fetais eliminados no parto ou no abortamento e durante todo o puerprio , leite e smen. A principal fonte de infeco representada pela vaca prenhe, que elimina grandes quantidades do agente por ocasio do aborto ou parto e em todo o perodo puerperal (at, aproximadamente, 30 dias aps o parto), contaminando pastagens, gua, alimentos e fmites. Essas bactrias podem permanecer viveis no meio ambiente por longos perodos, dependendo das condies de umidade, temperatura e sombreamento, ampliando de forma significativa a chance de o agente entrar em contato e infectar um novo indivduo suscetvel. A porta de entrada mais importante o trato digestivo, sendo que a infeco se inicia quando um animal suscetvel ingere gua e alimentos contaminados ou pelo hbito de lamber as crias recmnascidas. Uma vaca pode adquirir a doena apenas por cheirar fetos abortados, pois a bactria tambm pode entrar pelas mucosas do nariz e dos olhos. O tempo transcorrido entre a exposio ao agente infeccioso e o aparecimento dos sintomas visveis o que se define como perodo de incubao. No caso da brucelose, esse perodo pode ser de poucas semanas e at mesmo de meses ou anos. Considerando-se o momento em que ocorre a infeco, o perodo de incubao inversamente proporcional ao tempo de gestao, ou seja, quanto mais adiantada a gestao, menor ser o perodo de incubao. A transmisso pelo coito parece no ser de grande importncia entre bovinos e bubalinos. Na monta natural, o smen depositado na vagina, onde h defesas inespecficas que dificultam o processo de infeco.29

Entretanto, um touro infectado no pode ser utilizado como doador de smen; isso porque, na inseminao artificial, o smen introduzido diretamente no tero, permitindo infeco da fmea com pequenas quantidades do agente, sendo por isso importante via de transmisso e eficiente forma de difuso da enfermidade nos plantis. A transferncia de embries realizada segundo os protocolos internacionalmente preconizados de lavagem e tratamento para a reduo da transmisso de agentes infecciosos , no apresenta risco de transmisso de brucelose entre doadoras infectadas e receptoras livres da doena. Fmeas nascidas de vacas bruclicas podem infectar-se no tero, durante ou logo aps o parto. Quando infectadas, essas fmeas em geral abortam na primeira prenhez, e s apresentam resultados positivos para os testes sorolgicos no decorrer da gestao. Esse fenmeno ocorre em freqncia baixa, porm, apesar de no impedir o avano dos programas de controle e erradicao, invariavelmente acarreta considervel retardo na obteno de bons resultados deles. Vrias espcies domsticas ou silvestres so suscetveis infeco por B. abortus, entretanto, so consideradas como hospedeiros finais da infeco, pois no transmitem o agente novamente aos bovinos. Entre aquelas espcies em condies de ter alguma importncia na epidemiologia da brucelose bovina, podem ser citados: os eqdeos, que podem apresentar leses articulares abertas, principalmente de cernelha; os ces, que podem abortar pela infeco; e os saprfagos, pela possibilidade de levar restos de placenta ou feto de um lugar para outro. A principal forma de entrada da brucelose em uma propriedade a introduo de animais infectados. Quanto maior a freqncia de introduo de animais, maior o risco de entrada da doena no rebanho. Por essa razo, deve-se evitar introduzir animais cuja condio sanitria desconhecida. O ideal que esses animais procedam de rebanhos livres ou, ento, que sejam30

submetidos rotina diagnstica que lhes garanta a condio de no infectados.

PatogeniaA B. abortus geralmente entra no organismo do hospedeiro pela mucosa oral ou nasal. Aps a penetrao na mucosa, as bactrias se multiplicam e so fagocitadas. Em geral, quando ocorre a entrada pela via digestiva, as tonsilas so um dos principais pontos de multiplicao do agente. Uma das caractersticas da infeco por Brucella sp o fato de a bactria poder resistir aos mecanismos de destruio das clulas fagocitrias e sobreviver dentro de macrfagos por longos perodos. Essa localizao intracelular um dos mecanismos de evaso do sistema imune, porque protege as brucelas da ao do complemento e de anticorpos especficos. Aps a multiplicao no stio de entrada, a B. abortus transportada, livre ou dentro de macrfagos, para os linfonodos regionais, nos quais pode permanecer por meses. Se a bactria no for destruda ou no se tornar localizada, h disseminao para vrios rgos por via linftica ou hematgena. As localizaes preferenciais so: linfonodos, bao, fgado, aparelho reprodutor masculino, bere e tero. Eventualmente, pode instalar-se nas articulaes mais exigidas, dando origem a leses denominadas higromas, que podem supurar. Devido ao seu tropismo por algumas substncias, como o eritritol, grande parte das brucelas se localiza nos testculos e no tero gestante. A infeco do tero gestante ocorre por via hematgena. As brucelas multiplicam-se inicialmente no trofoblasto do placentoma, infectando tambm as clulas adjacentes, levando a uma reao inflamatria da placenta. Alm disso, h infeco do feto, de igual modo por via hematgena. As leses placentrias raramente atingem todos os placentomas; em geral, apenas parte deles afetada. Tais leses31

inflamatrio-necrticas de placentomas, que impedem a passagem de nutrientes e oxignio da me para o feto, assim como provocam a infeco macia do feto por B. abortus, so as responsveis pelo aborto. Com o desenvolvimento de imunidade celular aps o primeiro aborto, h uma diminuio do nmero e do tamanho das leses de placentomas nas gestaes subseqentes. Com isso, o aborto torna-se infreqente, aparecendo outras manifestaes da doena, como, por exemplo, a reteno de placenta, a natimortalidade ou o nascimento de bezerros fracos.

Sinais Clnicos e LesesA brucelose pode manifestar-se de maneira distinta conforme o hospedeiro. Nos bovinos e bubalinos, a principal manifestao clnica o aborto, que ocorre em torno do stimo ms de gestao. Aps a infeco, o aborto quase sempre acontece na primeira gestao, mas, em decorrncia do desenvolvimento da imunidade celular, pouco freqente na segunda gestao aps a infeco, e muito raro nas subseqentes. Os animais infectados apresentam uma placentite necrtica, sendo comum a reteno de placenta. Aps o primeiro aborto, so mais freqentes a presena de natimortos e o nascimento de bezerros fracos. O feto geralmente abortado 24 a 72 horas depois de sua morte, sendo comum sua autlise. No h nenhuma leso patognomnica da brucelose no feto abortado, mas, com freqncia, observa-se broncopneumonia supurativa. Nos rebanhos com infeco crnica, os abortos concentram-se nas fmeas primparas e nos animais sadios recentemente introduzidos. Nos machos existe uma fase inflamatria aguda, seguida de cronificao, freqentemente assintomtica. As bactrias podem instalar-se nos testculos, epiddimos e vesculas seminais. Um dos possveis sinais a orquite uni ou bilateral, transitria ou permanente,32

com aumento ou diminuio do volume dos testculos. Em outros casos, o testculo pode apresentar um aspecto amolecido e cheio de pus. Leses articulares tambm podem ser observadas.

Resposta Imune contra a Brucelose na Infeco e na VacinaoAs bactrias do gnero Brucella so parasitas intracelulares facultativos, com capacidade de se multiplicar e sobreviver dentro de macrfagos. Em razo dessa habilidade, a proteo contra a infeco e a eliminao da bactria do organismo hospedeiro dependem primariamente da resposta imune mediada por clulas. Tal resposta d-se pela interao de clulas fagocitrias neutrfilos e macrfagos e de clulas especficas, linfcitos T auxiliares e citotxicos. Apesar de existirem metodologias para se medir a intensidade dessa resposta imune celular, essas tcnicas, por serem complexas e de difcil execuo, no so utilizadas na rotina de diagnstico da infeco por Brucella sp. Alm da resposta imune celular, anticorpos especficos (imunidade humoral) contra a cadeia O tambm so produzidos durante a infeco. Os anticorpos dirigidos contra o lipopolissacardeo (LPS) de Brucella sp tm sido bastante estudados, de modo especial por serem detectados com facilidade em provas sorolgicas. A maioria das imunoglobulinas presentes no soro de bovinos e bubalinos da classe G (IgG1 e IgG2), seguidas das classes M (IgM) e A (IgA). A resposta humoral de bovinos infectados por B. abortus ou vacinados com B19, caracteriza-se pela sntese dos quatro isotipos principais de imunoglobulinas. A resposta sorolgica ps-infeco ou vacinao produz-se a partir da primeira semana, aparecendo, em primeiro lugar, o isotipo IgM e, logo aps, o IgG1. As respostas de IgG2 e IgA aparecem mais tarde, aumentam gradativamente, mas permanecem em nveis baixos (Figura 1). A observao por perodos prolongados da resposta humoral em animais infectados33

demonstra que h um leve decrscimo dos nveis de IgM, enquanto que os de IgG1 permanecem altos, inalterados. A IgG2 e IgA permanecem em nveis mais baixos e estveis (Figura 2). A observao por perodo prolongado em animais vacinados com B19, quando vacinados at 8 meses, demonstra que o nvel de anticorpos decresce rapidamente, atingindo ttulos inferiores a 25 UI depois de 12 meses (Figura 3). Por outro lado, se a vacinao for realizada acima de 8 meses de idade, os ttulos vacinais tendem a permanecer elevados por mais tempo, podendo gerar reaes falsopositivas nos testes indiretos de diagnstico.Figura 1 Resposta dos principais isotipos de anticorpos em bovinos infectados com amostra patognica de Brucella abortus ou vacinados com B19

Fonte: Adaptado de Nielsen et al., 1996.

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Figura 2 Resposta a longo termo dos principais isotipos de anticorpos em bovinos infectados com amostra patognica de Brucella abortus

Fonte: Adaptado de Nielsen et al., 1996.

Figura 3 Resposta a longo termo dos principais isotipos de anticorpos em bovinos vacinados com a amostra B19 de Brucella abortus

Fonte: Adaptado de Nielsen et al., 1996.

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DiagnsticoO diagnstico da brucelose pode ser feito pela identificao do agente por mtodos diretos, ou pela deteco de anticorpos contra B. abortus por mtodos indiretos.

Mtodos DiretosOs mtodos diretos incluem o isolamento e a identificao do agente, imunohistoqumica, e mtodos de deteco de cidos nucleicos, principalmente a reao da polimerase em cadeia (PCR). O isolamento e a identificao da B. abortus a partir de material de aborto (feto, contedo estomacal de feto, placenta) ou de secrees apresentam resultados muito bons se a colheita e o transporte da amostra forem bem realizados e se a amostra for processada em laboratrios capacitados e com experincia. Entretanto, devido ao risco de contaminao humana durante o processamento da amostra, poucos so os laboratrios que realizam o exame. A imunohistoqumica pode ser procedida em material de aborto aps a fixao em formol e permite tanto a identificao do agente como a visualizao de aspectos microscpicos do tecido examinado. A PCR detecta um segmento de DNA especfico da B. abortus em material de aborto, em secrees e excrees. uma tcnica bastante sensvel e especfica, mas requer equipamentos sofisticados e pessoal treinado.

Mtodos Indiretos ou SorolgicosO conhecimento da dinmica das imunoglobulinas nos diferentes estgios da resposta imune tem orientado o desenvolvimento de inmeros testes sorolgicos. Esses testes visam demonstrar a presena de anticorpos contra Brucella sp em vrios fluidos corporais, como soro sanguneo, leite, muco vaginal e smen. Um teste sorolgico perfeito deveria detectar infeco nos estgios36

iniciais da doena, antes da ocorrncia do aborto, e deveria discriminar anticorpos de vacinao e de infeco; da mesma maneira, no deveria apresentar reaes falso-positivas ou falsonegativas. Ainda no existe tal teste para o diagnstico da brucelose. Acrescente-se que nenhuma doena conta com um recurso diagnstico com esse desempenho. As reaes falso-positivas so decorrentes de dois fatores distintos. Primeiro, a reao pode ocorrer devido presena de anticorpos no especficos presentes nas infeces por outras bactrias, como Yersinia enterocolitica O:9, Salmonella sp, Escherichia coli O:157, ou Pseudomonas sp. Segundo, podem decorrer como resultado da vacinao com B19 aps a idade recomendada. A resposta sorolgica infeco por Brucella sp influenciada por muitos fatores, os quais refletem no desempenho das diferentes provas sorolgicas. Destacam-se, entre esses fatores, o longo e varivel perodo de incubao da doena, durante o qual a sorologia pode ser negativa, a condio vacinal dos animais, a natureza do desafio, a variao individual de resposta vacinao e infeco e o estgio da gestao no momento da infeco. A melhor estratgia que tem sido validada por vrios pases que conseguiram avanos significativos no combate brucelose costuma ser a combinao de testes, utilizados em srie. Essa estratgia tem como base a escolha de um teste de triagem de fcil execuo, barato e de boa sensibilidade, seguido de um teste confirmatrio, a ser realizado apenas nos soros que resultarem positivos no teste anterior, geralmente mais elaborado, porm com melhor especificidade que o teste de triagem. Esse teste confirmatrio tem que ter tambm boa sensibilidade. A quantidade de testes indiretos disponveis para o diagnstico de brucelose bastante ampla; cada pas, segundo suas disponibilidades e caractersticas, deve escolher aqueles que melhor se adaptem sua estratgia. Em geral, os testes sorolgicos so classificados segundo o antgeno utilizado na reao. Nos testes37

de aglutinao (lenta, com antgeno acidificado, do anel em leite, de Coombs), de fixao do complemento ou imunofluorescncia indireta, o antgeno representado por clulas inteiras de B. abortus. Nos testes de imunodifuso em gel (dupla ou radial), Elisa (indireto e competitivo), hemlise indireta e Western blot, o antgeno representado pelo lipopolissacardeo da parede celular da B. abortus semipurificado. A escolha dos mtodos sorolgicos precisa levar em considerao o custo, o tamanho e as caractersticas da populao sob vigilncia, a situao epidemiolgica da doena, a sensibilidade e a especificidade dos testes, bem como a utilizao de vacinas. No Brasil, o PNCEBT definiu como oficiais os seguintes testes: Antgeno Acidificado Tamponado (AAT), Anel em Leite (TAL), 2Mercaptoetanol (2-ME) e Fixao de Complemento (FC). Os dois primeiros como testes de triagem; os dois ltimos como confirmatrios. Clulas inteiras da amostra de B. abortus 1119-3 so utilizadas na preparao dos antgenos. Testes de Triagem Teste de Soroaglutinao com Antgeno Acidificado Tamponado (AAT) preparado com o antgeno na concentrao de 8%, tamponado em pH cido (3,65) e corado com o Rosa de Bengala. o teste de triagem do rebanho. A maioria dos soros de animais bacteriologicamente positivos apresenta reao a essa prova. Como podem ocorrer alguns poucos casos de reaes falso-positivas em decorrncia da utilizao da vacina B19, sugere-se a confirmao por meio de testes de maior especificidade para se evitar o sacrifcio de animais no infectados. uma prova qualitativa, pois no indica o ttulo de anticorpos do soro testado. A leitura revela a presena ou a ausncia de IgG1. Nas provas clssicas de aglutinao, reagem tanto anticorpos IgM como IgG, enquanto que, nessa prova, reagem somente os isotipos da classe IgG1. O pH acidificado da mistura38

soro-antgeno inibe a aglutinao do antgeno pelas IgM. O AAT detecta com maior precocidade as infeces recentes, sendo, nesse aspecto, superior prova lenta em tubos. Teste do Anel em Leite (TAL) Foi idealizado para ser aplicado em misturas de leite de vrios animais, uma vez que a baixa concentrao celular do antgeno (4%) torna-o bastante sensvel. Empregam-se mais comumente antgenos corados com hematoxilina, que d a cor azul caracterstica reao positiva. Se existirem anticorpos no leite, eles se combinaro com as B. abortus do antgeno, formando uma malha de complexo antgeno-anticorpo que, por sua vez, ser arrastada pelos glbulos de gordura, fazendo com que se forme um anel azulado na camada de creme do leite (reao positiva). No havendo anticorpos presentes, o anel de creme ter a colorao branca, e a coluna de leite permanecer azulada (reao negativa). uma prova de grande valor no s para se detectar rebanhos infectados, como tambm para se monitorar rebanhos leiteiros livres de brucelose. Tal prova tem limitaes, pois poder apresentar resultados falso-positivos em presena de leites cidos, ou provenientes de animais portadores de mamites ou, ainda, de animais em incio de lactao (colostro). Testes Confirmatrios Teste do 2-Mercaptoetanol (2-ME) uma prova quantitativa seletiva que detecta somente a presena de IgG no soro, que a imunoglobulina indicativa de infeco crnica. Deve ser executada sempre em paralelo com a prova lenta em tubos. Baseia-se no fato de os anticorpos da classe IgM, com configurao pentamrica, degradarem-se em subunidades pela ao de compostos que contenham radicais tiol. Essas subunidades no do origem a complexos suficientemente grandes para provocar aglutinao. Desse modo, soros com predomnio de IgM apresentam reaes negativas nessa prova e39

reaes positivas na prova lenta. A interpretao dos resultados dada pela diferena entre os ttulos dos soros sem tratamento (prova lenta), frente ao soro tratado com 2-ME. Os resultados positivos na prova lenta e negativos no 2-ME devem ser interpretados como reaes inespecficas ou como devido a anticorpos residuais de vacinao com B19. Resultados positivos em ambas as provas indicam a presena de IgG, que so as aglutininas relacionadas com infeco, devendo os animais ser considerados infectados. Teste de Soroaglutinao em Tubos (SAT) Tambm chamada de prova lenta porque a leitura dos resultados feita em 48 horas , a prova sorolgica mais antiga e ainda hoje bastante empregada. utilizada em associao com o teste do 2-Mercaptoetanol para confirmar resultados positivos em provas de rotina. uma prova padronizada frente a um soro padro internacional, sendo o resultado expresso em unidades internacionais. A prova permite identificar uma alta proporo de animais infectados, porm, costuma apresentar resultados falso-negativos, no caso de infeco crnica e, em algumas situaes, podem aparecer ttulos significativos em animais no infectados por B. abortus como decorrncia de reaes cruzadas com outras bactrias. Em animais vacinados com B19 acima de 8 meses, uma proporo importante deles pode apresentar ttulos de anticorpos para essa prova por um longo tempo, ou permanentemente. Fixao de Complemento (FC) Este teste tem sido empregado em diversos pases que conseguiram erradicar a brucelose ou esto em fase de erradic-la. o teste de referncia recomendado pela Organizao Mundial de Sade Animal (OIE) para o trnsito internacional de animais. Na brucelose bovina, apesar de a FC detectar tanto IgG1 como IgM, o isotipo IgG1 muito mais efetivo como fixador do complemento.40

Animais infectados permanecem positivos por perodos mais longos e com ttulos de anticorpos fixadores de complemento mais elevados do que os detectados nas provas de aglutinao. Em animais vacinados acima de 8 meses de idade, os anticorpos que fixam complemento desaparecem mais rapidamente do que os aglutinantes. um teste trabalhoso e complexo, que exige pessoal treinado e laboratrio bem equipado.

Novos Mtodos de DiagnsticoTeste de Elisa Indireto (I-Elisa) Existem vrios protocolos de I-Elisa que tm apresentado bons resultados. Emprega-se como antgeno o lipopolissacardeo de B. abortus imobilizado em placas de 96 poos. Como conjugado, utiliza-se um anticorpo monoclonal anti-IgG1 bovina conjugado com a peroxidase. Agentes quelantes (EDTA/EGTA) so utilizados para minimizar reaes no especficas. O teste possui alta sensibilidade; entretanto, sua especificidade assemelha-se quela do AAT. Teste de Elisa Competitivo (C-Elisa) Neste teste, utiliza-se tambm como antgeno imobilizado na fase slida o lipopolissacardeo (LPS) de B. abortus. No momento da prova, o soro a testar misturado com um anticorpo monoclonal especfico contra a cadeia O de B. abortus. Um conjugado peroxidase-anti-IgG utilizado para detectar o anticorpo monoclonal ligado ao antgeno imobilizado na fase slida do teste. Quanto maior a quantidade de anticorpos anticadeia O de Brucella sp no soro testado, maior a competio com o anticorpo monoclonal especfico e menor a quantidade de cor desenvolvida. Por comparao com um controle, possvel determinar a quantidade relativa de anticorpos anti-Brucella no soro teste. um teste muito sensvel e especfico, e recomendado pela Organizao Mundial de Sade Animal (OIE) como teste confirmatrio para o diagnstico de brucelose, assim como a FC. Seu custo elevado.41

Teste de Polarizao de Fluorescncia (FPA) O antgeno utilizado no teste preparado com o polissacardeo O, tambm denominado cadeia O, de B. abortus, conjugado com o isotiocianato de fluorescena. A prova se fundamenta na comparao de velocidades dos movimentos aleatrios das molculas em soluo. O tamanho molecular o principal fator que influencia a velocidade de rotao de uma molcula, sendo inversamente proporcional a ela. Havendo anticorpos no soro, haver a formao dos complexos anticorpo-antgenoconjugado, cuja velocidade de rotao ser inferior do antgenoconjugado isolado. Determina-se a velocidade de rotao das molculas com o auxlio de um equipamento de iluminao por luz polarizada. Por meio da utilizao de controles e de soro pr-titulado, possvel calcular a quantidade de anticorpos presente no soro testado. O teste concludo em poucos minutos; pode ser realizado em soro e leite e tem-se mostrado muito promissor para o diagnstico de brucelose tambm em outras espcies.

Controle da BruceloseO controle da brucelose apoia-se basicamente em aes de vacinao massal de fmeas e diagnstico e sacrifcio dos animais positivos. So tambm muito importantes as medidas complementares, que visam diminuir a dose de desafio caso ocorra a exposio bem como importante o controle de trnsito para os animais de reproduo. Programas de desinfeco e utilizao de piquetes de pario so iniciativas simples que trazem como resultado a diminuio da quantidade de brucelas vivas presentes no ambiente. Isso representa diminuir a dose de desafio, o que, por sua vez, significa aumentar os ndices de proteo da vacina e diminuir a chance de a bactria infectar um novo suscetvel. Com uma cobertura vacinal ao redor de 80% ou seja, quando cerca de 80% das fmeas em idade de procriar de uma42

populao estiverem vacinadas , a freqncia de animais infectados ser bastante baixa. Portanto, uma reduo importante da prevalncia pode ser obtida utilizando apenas um bom programa de vacinao. Por essa razo, a vacinao deve ser priorizada nas fases iniciais do programa, quando as prevalncias so elevadas. A eliminao das fontes de infeco, feita por meio de uma rotina de testes diagnsticos com sacrifcio dos positivos, a base das aes que visam criar propriedades livres da doena. Em resumo, inicialmente deve-se baixar a prevalncia com um bom programa de vacinao e, paulatinamente, ir aumentando as aes de diagnstico para a obteno de propriedades livres. Em regies onde a freqncia da doena muito baixa, a implantao de eficientes sistemas de vigilncia, adaptados realidade local, pode ser de grande valia na descoberta de focos de brucelose. Assim sendo, os mtodos de controle da brucelose so bastante simples. O mais importante conhecer muito bem tanto a epidemiologia da doena, quanto a populao em que as aes devero ser desenvolvidas, e escolher a melhor estratgia para implement-las.

Vacinas contra BruceloseDesde a identificao do agente etiolgico da brucelose, vrios pesquisadores tm procurado desenvolver vacinas que sejam protetoras e que no interfiram no diagnstico da doena. Em decorrncia desses estudos, vem sendo desenvolvido um grande nmero de vacinas vivas atenuadas, mortas, de subunidades, recombinantes e de DNA. Muitas dessas vacinas mostraram-se pouco protetoras, como as vacinas mortas, ou ainda esto em fases de testes, como as vacinas de subunidades, recombinantes e de DNA. As vacinas vivas atenuadas so aquelas que efetivamente foram e ainda so utilizadas nos programas de controle da43

brucelose. Duas delas, recomendadas pela Organizao Mundial de Sade Animal (OIE), so as mais empregadas: a B19 e a vacina no indutora de anticorpos aglutinantes (amostra RB51). Ambas so boas indutoras de imunidade celular.

Vacina B19A vacina B19 uma amostra de B. abortus lisa, que foi isolada do leite de uma vaca Jersey em 1923. Depois de acidentalmente esquecida por mais de um ano temperatura ambiente, a amostra perdeu a virulncia e desde a dcada de 1930 tem sido utilizada como vacina. Essa vacina foi empregada em vrios pases que erradicaram a doena como, por exemplo, Austrlia, Canad, Dinamarca, Inglaterra, Holanda, Sucia, entre outros. Foi tambm a vacina utilizada no programa de controle nos EUA at a primeira metade da dcada de 1990. No Brasil, a vacina obrigatria para bezerras com idade entre 3 e 8 meses. A B19 atenuada para fmeas jovens; pode, entretanto, causar orquite nos machos e provocar aborto se administrada durante a gestao. Pode ainda infectar o homem, e dar origem doena. Portanto, no se recomenda a vacinao de machos ou fmeas gestantes com a amostra B19. Durante a vacinao, devem ser adotadas certas precaues quanto proteo individual (uso de culos de proteo, luvas, etc.) e quanto ao descarte de seringas e frascos de vacinas. Por ser uma amostra lisa de B. abortus, a B19 induz a formao de anticorpos especficos contra o LPS liso e pode interferir no diagnstico sorolgico da brucelose. A persistncia desses anticorpos est relacionada com a idade de vacinao. Se as fmeas forem vacinadas com idade superior a 8 meses, h grande probabilidade de produo de anticorpos que perdurem e interfiram no diagnstico da doena aps os 24 meses de idade. Quando a vacinao ocorre at os 8 meses de idade, tais anticorpos desaparecem rapidamente, e os animais acima de 24 meses so totalmente negativos nas provas sorolgicas.44

Vacina no Indutora de Anticorpos Aglutinantes (amostra RB51)A vacina elaborada com uma amostra de B. abortus rugosa atenuada, originada da amostra lisa virulenta 2308 que sofreu passagens sucessivas em meio contendo concentraes subinibitrias de rifampicina. Ela possui caractersticas de proteo semelhantes s da B19, porm, por ser uma amostra rugosa, no induz a formao de anticorpos anti-LPS liso e no interfere no diagnstico sorolgico da doena. Atualmente, a vacina no indutora de anticorpos aglutinantes (amostra RB51) a vacina oficial do programa de controle de brucelose dos EUA, do Mxico e do Chile. Tambm est aprovada em outros pases onde vem sendo utilizada. No Brasil, ser empregada para a vacinao estratgica de fmeas adultas. Por ser uma vacina viva, o seu manuseio exige as mesmas precaues da B19, j referidas.

Doena no Ser HumanoA brucelose humana uma doena importante, mas de difcil diagnstico porque apresenta sintomatologia inespecfica. A transmisso da doena ocorre pelo contato do agente com mucosas ou solues de continuidade da pele. O grande risco para a sade pblica decorre da ingesto de leite cru ou de produtos lcteos no submetidos a tratamento trmico (queijo fresco, iogurte, creme, etc.), oriundos de animais infectados. A carne crua com restos de tecido linftico e o sangue de animais infectados podem conter microorganismos viveis e, portanto, de igual modo representam risco para a populao humana consumidora. A brucelose uma zoonose que apresenta um forte componente de carter ocupacional: tratadores e veterinrios, por fora de suas atividades, freqentemente manipulam anexos placentrios, fluidos fetais e carcaas de animais, expondo-se ao risco de infeco quando esses materiais provm de animais45

infectados. O manuseio da vacina B19, que patognica para o homem, tambm pe em risco algumas classes de profissionais. Magarefes, trabalhadores da indstria de laticnios e donas-decasa, pelo contato com carne ou leite contaminados, so igualmente indivduos sujeitos a um maior risco de infeco. Laboratoristas, por manipularem grandes massas bacterianas na produo de vacinas e antgenos, ou mesmo na rotina de diagnstico direto, podem infectar-se por meio de solues de continuidade da pele ou pelo contato com mucosas, sobretudo a conjuntiva e a mucosa respiratria (a inalao uma eficiente forma de infeco). No ser humano, os quadros clnicos mais graves so provocados pela B. melitensis, decrescendo em gravidade quando a doena decorrente da infeco por B. suis e, assim, sucessivamente para a B. abortus e B. canis. O perodo de incubao no ser humano pode variar de uma a trs semanas at vrios meses. A doena produzida pela B. abortus agente mais difundido no nosso meio e responsvel pelo real problema da brucelose bovina no pas , na grande maioria das vezes caracterizada por sintomas inespecficos, presentes nos processos bacterianos generalizados nos quais se destacam a febre, a sudorese noturna, e as dores musculares e articulares. A enfermidade tanto pode manifestar-se de forma branda, com evoluo para a cura espontnea, quanto grave e prolongada, acompanhada por toxemia. Seu curso pode ser dividido em duas fases, sendo a febre intermitente recorrente uma caracterstica marcante. Na fase aguda prevalecem a febre, a debilidade, a cefalia, as dores musculares e articulares, a sudorese noturna intensa, os calafrios e prostrao. O quadro agudo pode evoluir para toxemia, trombocitopenia, endocardite e outras complicaes, podendo levar morte. Geralmente confundida com gripe recorrente, sendo observadas fadiga, cefalia, dores musculares e sudorese. Algumas das complicaes mais freqentes so tromboflebite, espondilite e artrite perifrica.46

Em geral, o tratamento feito pela administrao de uma associao de antibiticos por seis semanas. As drogas mais utilizadas so tetraciclinas, doxiciclina e rifampicina. Convm salientar que em caso de infeco acidental com a amostra RB51, o uso da rifampicina no indicado.

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Ministrio da Agricultura, Pecuria e Abastecimento

TUBERCULOSE BOVINA (Mycobacterium bovis)

DefinioA tuberculose causada pelo Mycobacterium bovis uma zoonose de evoluo crnica que acomete principalmente bovinos e bubalinos. Caracteriza-se pelo desenvolvimento progressivo de leses nodulares denominadas tubrculos, que podem localizar-se em qualquer rgo ou tecido. Tendo em vista ser o presente manual parte integrante do Programa Nacional de Controle e Erradicao da Brucelose e da Tuberculose Animal (PNCEBT) em bovinos e bubalinos, os conceitos emitidos a seguir sero dirigidos a essas duas espcies animais.

EtiologiaAs bactrias causadoras da tuberculose pertencem famlia Mycobacteriaceae, gnero Mycobacterium. So bastonetes curtos aerbicos, imveis, no capsulados, no flagelados, apresentando aspecto granular quando corados, medindo de 0,5 a 7,0 m de comprimento por 0,3 m de largura, sendo a lcool-cidoresistncia a sua propriedade mais caracterstica. No entanto, muitas dessas caractersticas, inclusive a tintorial, superpem-se nos gneros Mycobacterium, Nocardia, Rhodococcus e Corynebacterium. Trs espcies de hospedeiros contriburam para a perpetuao da tuberculose atravs dos sculos: o bovino, o homem e as aves em geral. As micobactrias do complexo M. tuberculosis (M. tuberculosis, M. bovis e M. africanum) so as principais causadoras da tuberculose nos mamferos.51

O M. bovis tem um amplo espectro de patogenicidade para as espcies domsticas e silvestres, principalmente bovinos e bubalinos, e pode participar da etiologia da tuberculose humana. A doena humana causada pelo M. bovis tambm denominada tuberculose zoontica. O M. tuberculosis a principal causa de tuberculose no ser humano. Pode infectar bovinos, porm no causa doena progressiva nessa espcie; todavia, ocasionalmente, pode sensibiliz-los ao teste tuberculnico. O M. avium o causador da tuberculose em vrias espcies de aves e integrante do complexo MAIS (M. avium, M. intracellulare e M. scrofulaceum). As micobactrias do complexo MAIS causam leses granulomatosas nos linfonodos do trato gastrointestinal de sunos, a linfadenite granulomatosa, que leva a srias perdas no abate desses animais. No ser humano, a infeco pelas micobactrias do complexo MAIS tem importncia para os indivduos com deficincia imunolgica. As micobactrias do complexo MAIS no so patognicas para os bovinos e bubalinos; entretanto, provocam reaes inespecficas tuberculinizao, dificultando o diagnstico da tuberculose nessas espcies.

Epidemiologia DistribuioOs pases que implantaram programas de controle da tuberculose animal ao longo do sculo passado, com bases em tuberculinizao e sacrifcio dos animais reagentes, conseguiram reduzir consideravelmente a freqncia de animais infectados. Nos dias atuais, a prevalncia da doena maior nos pases em desenvolvimento, e menor nos pases desenvolvidos, onde o controle e a erradicao encontram-se em fase avanada. Alguns pases da Europa j erradicaram a doena; outros esto na etapa final de erradicao, com prevalncias baixas. Na Amrica Latina e Caribe existem reas com prevalncia que ultrapassa 1%. No Brasil,52

dados de notificaes oficiais indicam uma prevalncia mdia nacional de 1,3% de animais reagentes tuberculina no perodo de 1989 a 1998. Em Minas Gerais, um estudo realizado pelo Instituto Mineiro de Agropecuria (IMA) em 1999, envolvendo aproximadamente 1.600 propriedades e 23.000 animais, estimou uma prevalncia de 0,85% de animais reagentes ao teste de tuberculinizao. No mesmo estudo, foram detectados 5% de propriedades com animais reagentes.

Importncia EconmicaNo Brasil, no decorrer dos ltimos anos, verificou-se que o controle da tuberculose bovina no motivou os mdicos veterinrios, os criadores, as autoridades sanitrias e os consumidores de produtos de origem animal. Em parte, isso se deve ao fato de ser uma doena crnica que no apresenta sinais clnicos alarmantes aborto, febre alta, queda abrupta de produo como o caso das doenas de carter agudo. Quando, por alguma razo, o criador alertado para o problema da tuberculose e procura auxlio profissional, a prevalncia no rebanho revela-se alta, de maneira geral. A importncia econmica atribuda doena bovina est baseada nas perdas diretas resultantes da morte de animais, da queda no ganho de peso e diminuio da produo de leite, do descarte precoce e eliminao de animais de alto valor zootcnico e condenao de carcaas no abate. Estima-se que os animais infectados percam de 10% a 25% de sua eficincia produtiva. Existe ainda a perda de prestgio e credibilidade da unidade de criao onde a doena constatada.

Mecanismos de TransmissoA mais significativa fonte de infeco para os rebanhos o bovino ou o bubalino infectados. A principal forma de introduo da tuberculose em um rebanho a aquisio de animais infectados.53

Outras espcies de animais podem assumir papel importante como reservatrio do M. bovis, em condies de introduzir ou reintroduzir a doena em rebanhos bovinos. Em pases desenvolvidos, onde a tuberculose bovina encontra-se em fase final de erradicao ou j erradicada, espcies silvestres assumem importncia como reservatrio do M. bovis para bovinos. Na Europa, verificou-se que o texugo (Meles meles) fez a tuberculose bovina ressurgir em reas de onde j havia sido erradicada. Na Nova Zelndia, um pequeno marsupial silvestre (Trichossurus vulpecula) apontado como um dos principais responsveis pela reinfeco de bovinos pelo M. bovis. Nos EUA, acredita-se que os cervdeos tenham alguma importncia como reservatrio de M. bovis para bovinos. No Brasil, certamente existem espcies silvestres suscetveis ao M. bovis, mas desconhecida a importncia desses animais como reservatrio do agente para bovinos. Eventualmente, o homem com tuberculose causada pelo M. bovis pode ser fonte de infeco para os rebanhos. Em um animal infectado, o M. bovis eliminado pelo ar expirado, pelas fezes e urina, pelo leite e outros fluidos corporais, dependendo dos rgos afetados. A eliminao do M. bovis tem incio antes do aparecimento dos sinais clnicos. A principal porta de entrada do M. bovis a via respiratria; a transmisso, em aproximadamente 90% dos casos, ocorre pela inalao de aerossis contaminados com o microorganismo. O trato digestivo tambm porta de entrada da tuberculose bovina, principalmente em bezerros alimentados com leite proveniente de vacas com mastite tuberculosa e em animais que ingerem gua ou forragens contaminadas. Nesse caso, o complexo primrio localizarse- nos rgos digestivos e linfonodos regionais. Em estbulos, ao abrigo da luz, o M. bovis tem condies de sobreviver por vrios meses. Alguns fatores podem contribuir para que a enfermidade se propague com maior eficincia. Entre eles, destacam-se de modo especial a aglomerao dos animais em estbulos e a inadequao das instalaes zootcnicas. Ambos os54

fatores podem ampliar a sobrevivncia da bactria no ambiente e propiciar o contato estreito e freqente entre os animais infectados e suscetveis. Raramente vacas com tuberculose genital transmitem a doena ao feto pela via transplacentria. Pode ocorrer transmisso sexual nos casos de epididimite e metrite tuberculosa. A infeco cutnea pode ocorrer por contato com objetos contaminados. Porm, esses trs ltimos mecanismos de transmisso so pouco freqentes. A infeco pelo M. bovis se propaga nos animais independentemente do sexo, da raa ou da idade. A introduo e a manuteno da doena em um rebanho so fortemente influenciadas por caractersticas da unidade de criao, entre as quais se destacam o tipo de explorao, o tamanho do rebanho, a densidade populacional e as prticas zootcnicas e sanitrias. Observa-se que a doena mais freqente em rebanhos leiteiros do que em rebanhos de corte. Contudo, quando bovinos de corte e bubalinos so mantidos em confinamento ou submetidos a condies naturais de aglomerao em torno de bebedouros durante a seca ou nas partes mais altas das pastagens durante as enchentes ficam submetidos s mesmas condies de risco. Constituem prticas comuns que podem introduzir a doena no rebanho tanto a alimentao de bezerros com leite de vacas tuberculosas quanto a aquisio de receptoras de embrio sem controle sanitrio.

PatogeniaAproximadamente 90% das infeces pelo M. bovis em bovinos e bubalinos ocorrem pela via respiratria por meio da inalao de aerossis contaminados com o microorganismo. Uma vez atingido o alvolo, o bacilo capturado por macrfagos, sendo o seu destino determinado pelos seguintes fatores: virulncia do microorganismo, carga infectante e resistncia do hospedeiro.55

Na fase seguinte, caso no sejam eliminados, os bacilos multiplicarse-o dentro dos macrfagos at destru-los. Os bacilos liberados pelos macrfagos infectados sero fagocitados por outros macrfagos alveolares ou por moncitos recm-chegados da corrente circulatria, atrados pelos prprios bacilos liberados, ou por fatores quimiotticos produzidos pelo hospedeiro. A terceira fase comea quando cessa essa multiplicao, cerca de 2 a 3 semanas aps a inalao do agente infeccioso, e caracterizada por resposta imune mediada por clulas e reao de hipersensibilidade retardada. Nessa fase, em decorrncia da reao de hipersensibilidade retardada, o hospedeiro destri seus prprios tecidos por meio da necrose de caseificao para conter o crescimento intracelular das micobactrias. Com a mediao dos linfcitos T, ocorre a migrao de novas clulas de defesa, culminando com a formao dos granulomas. Tais granulomas so constitudos por uma parte central, por vezes com rea de necrose de caseificao, circundada por clulas epiteliides, clulas gigantes, linfcitos, macrfagos e uma camada perifrica de fibroblastos. Os bacilos da leso tuberculosa do parnquima pulmonar propagam-se ao linfonodo satlite, no qual desencadeiam a formao de novo granuloma, constituindo, assim, o complexo primrio. As leses pulmonares tm incio na juno bronquoloalveolar com disseminao para os alvolos e linfonodos brnquicos, podendo regredir, persistir estabilizadas ou progredir. A disseminao da infeco para outros rgos pode ocorrer precocemente durante o desenvolvimento da doena, ou numa fase tardia, provavelmente em funo de uma queda na imunidade do animal. A generalizao da infeco pode assumir duas formas: 1) miliar, quando ocorre de maneira abrupta e macia, com entrada de um grande nmero de bacilos na circulao; 2) protrada, mais comum, que se d por via linftica ou sangunea, acometendo o prprio pulmo, linfonodos, fgado, bao, bere, ossos, rins, sistema nervoso central, disseminando-se por, praticamente, todos os tecidos.56

As leses macroscpicas tm, em geral, colorao amarelada em bovinos, e ligeiramente esbranquiadas em bfalos; apresentamse na forma de ndulos de 1 a 3 cm de dimetro, ou mais, que podem ser confluentes, de aspecto purulento ou caseoso, com presena de cpsula fibrosa, podendo apresentar necrose de caseificao no centro da leso ou, ainda, calcificao nos casos mais avanados. Embora possam estar presentes em qualquer tecido do animal, as leses so encontradas com mais freqncia em linfonodos (mediastnicos, retrofarngeos, bronquiais, parotdeos, cervicais, inguinais superficiais e mesentricos), em pulmo e fgado. Sendo uma doena de evoluo muito lenta, os sinais clnicos so pouco freqentes em bovinos e bubalinos. Em estgios avanados, e dependendo da localizao das leses, os bovinos podem apresentar caquexia progressiva, hiperplasia de linfonodos superficiais e/ou prof