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0 KARINE CRUZ DE AQUINO EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO MÉDIO: CONTRIBUIÇÕES A PARTIR DO CONTEÚDO GINÁSTICA UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA CORUMBÁ - MS 2014

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KARINE CRUZ DE AQUINO

EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO MÉDIO: CONTRIBUIÇÕES A PARTIR DO CONTEÚDO GINÁSTICA

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA

CORUMBÁ - MS 2014

1

KARINE CRUZ DE AQUINO

EDUCAÇÃO FÍSICA NO ENSINO MÉDIO: CONTRIBUIÇÕES A PARTIR DO CONTEÚDO GINÁSTICA

A monografia apresentada como requisito

parcial para conclusão do Curso de Educação

Física para obtenção do Título de Licenciado

em Educação Física.

Orientadora: Prof. Me. Hellen Jaqueline

Marques.

CORUMBÁ-MS

2014

Dedico este trabalho à Deus,

ao meu pai José Batista de Aquino

e a minha mãe Lourdinéia Cruz de Aquino,

por toda confiança e investimento

que sempre tiveram em mim.

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por ter me capacitado e me dado forças para não desistir nos

momentos de grandes lutas. Por estar comigo em todos os momentos, e me proporcionar esta

vitória.

Agradeço a meus pais/família, pelo apoio quando mais precisei. Sempre investindo e

torcendo pela minha vitória.

À minha orientadora, Hellen Jaqueline Marques, que teve toda paciência e me deu

forças para continuar na batalha. Agradeço a Deus por capacitá-la, por me auxiliar durante

estes quatro anos de curso.

Aos professores que estiveram nestes quatro anos nos capacitando e orientando com

todo o carinho.

Aos amigos e amigas que sempre estiveram comigo, intercedendo e incentivando. Sou

grata a Deus pela vida de todos. Em especial à Carol e o Leonardo que sempre estiveram

comigo e acreditaram nesta vitória. Simplesmente Obrigada!

Agradeço a Deus pela vida de cada um!

RESUMO

O objetivo deste trabalho é investigar/debater a cerca das contribuições da Ginástica para a

formação humana, na Educação Física no Ensino Médio. Sendo assim, torna-se necessário

refletir sobre o desenvolvimento da Ginástica na sociedade no decorrer do tempo; sobre a

função da Educação Física escolar na formação humana; e apontar possibilidades educativas

do conteúdo Ginástica reforçando suas principais características nas aulas de Educação Física

no Ensino Médio. O trabalho se caracteriza por uma pesquisa bibliográfica de cunho

qualitativo, utilizando como referencial alguns autores relacionados à área, sendo Soares

(2005), Coletivo de Autores (1992), Ayoub (2007), Souza (1997), entre outros. Ao utilizarem

a abordagem pedagógica numa perspectiva crítica, contribuem para a valorização da vida

humana possibilitando à compreensão dos significados advindos das práticas corporais.

Palavras-chave: Educação Física; Ginástica; Ensino Médio.

ABSTRACT

The objective of this work is to investigate / discuss about the contributions of Gymnastics for

human training in Physical Education in High School. Therefore, it is necessary to reflect on

the development of society Gymnastics over time; about the role of school physical education

in human development; and point out the educational possibilities Gymnastics strengthening

its main features content in physical education classes in high school. The work is

characterized by a qualitative research bibliographic, using as reference some authors related

to the area, and Soares (2005), Group of Authors (1992), Ayoub (2007), Souza (1997), among

others. By using the pedagogical approach critically contribute to the enhancement of human

life, making possible the realization of meanings arising from bodily practices.

Key-words: Physical Education; Gymnastics; High School.

SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO............................................................................................................. 11

2. O DESENVOLVIMENTO DA GINÁSTICA............................................................. 14

2.1 História da Ginástica..........................................................................................14

2.2 Constituição da Ginástica enquanto Conteúdo da Educação Física.................. 16

2.3 A Prática da Ginástica na Sociedade................................................................. 19

3. A EDUCAÇÃO FÍSICA E A GINÁSTICA NO ENSINO MÉDIO.......................... 23

3.1 Função da Educação física no processo de formação humana.......................... 23

3.2 Caracterização do Ensino Médio....................................................................... 25

3.3 Objetivos da Educação Física no Ensino Médio a partir do Referencial Curricular

de Mato Grosso do Sul........................................................................................................ 28

3.4 Importância da Ginástica no Ensino Médio....................................................... 31

CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................34

REFERÊNCIAS............................................................................................................... 36

11

1. INTRODUÇÃO

O tema principal deste trabalho é a discussão sobre a importância da Ginástica como

conteúdo nas escolas para alunos do Ensino Médio. Diante da carência deste conteúdo nas

aulas de educação física, é que se faz necessária uma reflexão a respeito do seu acesso, ensino

e aprendizagem. Além de ser um conteúdo que proporciona diversos benefícios em termos

físicos e psicológicos, também contribui para o desenvolvimento social do indivíduo.

O modelo tradicional de ensino da Ginástica, de acordo com Soares (2005, p. 18)

originalmente representava a constituição de um modelo de educação do corpo, esta

concepção visa atingir “uma educação que privilegie a retidão corporal, que mantenha os

corpos aprumados, retos [...] que os mantenha em verticalidade”. Isso contribuía para a

aquisição de um padrão específico de corpo a ser difundido pela sociedade, que de certa

forma se estendeu até os dias atuais. Entretanto, podemos destacar que ao longo do tempo a

sociedade foi se modificando e esse modelo de educação do corpo foi se manifestando de

diferentes formas, passando a oferecer valiosas experiências corporais aos seus praticantes

(BRASILEIRO e MARCASSA, 2008). É com base nas transformações que ocorreram com o

ensino da Ginástica que pretendemos superar a visão restrita direcionada à sua utilização,

buscando assim, uma nova compreensão de educação do corpo.

Segundo Brasileiro e Marcassa (2008, p. 202) quando tratada no ambiente escolar, a

Ginástica aparece, “de forma limitada, muitas vezes reproduzindo técnicas e movimentos

estereotipados, sem reflexão ou conexão alguma com os sentidos e valores a ela inerentes.”

Destacamos também, outro possível problema relacionado ao ensino da Ginástica, que

consiste na falta de conhecimento dos professores sobre o conteúdo, pois, muitas vezes não se

encontram aptos para desenvolvê-lo em suas aulas. Isso contribui para a exclusão da Ginástica

na educação física escolar, restringindo seu conteúdo ao esporte.

Neste sentido, podemos destacar outros conteúdos que compõem a educação física

escolar e que também, em alguns casos, não se encontram presentes nas aulas, como as

danças, as ginásticas, as lutas, os esportes, os jogos e as brincadeiras, e é objetivo desta

disciplina tratá-los de maneira aprofundada proporcionando determinadas relações, já que,

segundo Soares et al (1992, p. 62) “[...] expressam um sentido/significado onde se

interpenetram, dialeticamente, a intencionalidade/objetivos do homem e as

intenções/objetivos da sociedade”.

12

A Ginástica é um conteúdo que pode promover experiências corporais, sendo assim,

segundo Ayoub (2007) é necessário reconhecê-la como conteúdo da educação física escolar, a

autora ressalta que os professores:

Precisam urgentemente assumir a sua responsabilidade de ampliar e ultrapassar essa idéia restritiva e equivocada de educação física escolar e compreender que a ginástica, assim como outras formas de expressão da cultura corporal, necessita ser estudada em profundidade para que o profissional da educação física consiga enfrentar os desafios que se colocam para a nossa área na atualidade (AYOUB, 2007, p. 85).

Diante desse pensamento, precisamos nos comprometer em buscar possibilidades de

aplicação para tal conteúdo, novas práticas pedagógicas que chamem a atenção para esse tema

específico da cultura corporal1. Para isso, segundo Soares et al (1992), é essencial que esse

conteúdo seja organizado, sistematizado e distribuído de acordo com o tempo necessário para

que seja compreendido.

Este conhecimento é essencial para se trabalhar em qualquer nível educacional,

principalmente no ensino médio. A escolha deste nível de ensino se dá pelo grau de

maturidade em que o aluno se encontra, e, por ser o quarto ciclo de escolarização que é

definido conforme Soares et al (1992, p. 35) como “o ciclo de aprofundamento da

sistematização do conhecimento”. Neste ciclo “o aluno começa a perceber, compreender e

explicar que há propriedades comuns e regulares nos objetos” (SOARES et al, 1992, p.35).

De acordo com os autores, a partir deste ciclo, o aluno pode alcançar condições para

posteriormente produzir conhecimento, e o professor é capaz de oferecer uma base

fundamental para o desenvolvimento de um pensamento crítico. Para isso, torna-se necessário

pensar a função da educação física escolar no processo de formação humana.

Este trabalho pretende contribuir para a busca de um melhor tratamento da Ginástica,

quando presente, no meio escolar, incentivando os professores a ampliar seus conhecimentos

a respeito deste conteúdo, e buscando superar possíveis visões restritivas que se tem em

relação à Ginástica, já que a mesma abrange diversas possibilidades de práticas corporais.

Pretende-se chamar a atenção para a utilização deste conteúdo nas aulas de educação física, de

forma que supere a atenção dada excessivamente ao esporte no Ensino Médio.

1 Soares et al (1992).

13

Através desta reflexão, podemos questionar quais as contribuições da Ginástica com

base na perspectiva Crítico-superadora para a formação humana, por meio da Educação física

no Ensino Médio.

Este questionamento fundamenta a elaboração do objetivo geral deste trabalho, que

pretende investigar/debater a cerca das contribuições da Ginástica na perspectiva Crítico-

superadora para a formação humana, na Educação Física no Ensino Médio. Sendo assim,

torna-se necessário refletir sobre o desenvolvimento da Ginástica na sociedade no decorrer do

tempo; sobre a função da Educação Física escolar para a formação humana; e apontar

possibilidades educativas do conteúdo Ginástica reforçando suas principais características nas

aulas de Educação Física no Ensino Médio.

O trabalho se caracteriza por uma pesquisa bibliográfica de cunho qualitativo, a qual

“consiste em analisar e interpretar contextualizadamente os escritos contidos em livros,

jornais, revista, periódicos, monografias, dissertações, teses, etc. sobre um mesmo assunto”

(MARQUES et al, 2006, p. 51).

Para o desenvolvimento desta pesquisa dividimos o trabalho em três seções. Na

primeira seção apresentamos a introdução do trabalho. A segunda seção indica o

desenvolvimento da Ginástica na sociedade e na Educação Física, refletindo sobre seus

objetivos nos diferentes contextos. Na terceira seção discutiremos sobre a função da Educação

Física para formação humana e para o Ensino Médio, seguindo das contribuições da Ginástica

para este nível de ensino. E por fim, apresentamos as considerações finais.

.

14

2. O DESENVOLVIMENTO DA GINÁSTICA

Neste capítulo apresentaremos a evolução da Ginástica ao longo do tempo, refletindo

sobre os objetivos que levaram à sua utilização durante períodos que marcaram sua prática na

sociedade, assim como atualmente. Dessa forma, analisar sua organização no ambiente

escolar identificando as condições que contribuíram para o seu afastamento deste contexto.

Consideramos estas reflexões importantes para que seja possível compreender o papel

que a Ginástica tem assumido desde seu surgimento até os dias atuais, considerando ser uma

prática que contribuiu com a história da Educação Física. Precisamos observar em quais

contextos a Ginástica se encontra atualmente, como é tratada e o acesso a sua prática.

2.1 História da Ginástica

A palavra Ginástica vem do grego, e segundo o dicionário significa “Arte ou ato de

exercitar o corpo, para fortificá-lo ou dar-lhe agilidade” (BRANDL apud FERREIRA, 2001,

p. 375). De acordo com Soares (2005), essa compreensão estava relacionada à idéia de saúde,

beleza e força. Dessa forma, Feliciano (2011) ressalta que na Grécia, a Ginástica foi essencial

diante do equilíbrio que se buscava em relação às aptidões físicas e intelectuais, e assim, se

tornou “um elemento fundamental para a Educação Física dos gregos que a conceberam como

uma forma de busca por corpos e mentes sãos” (FELICIANO, 2011, p. 16).

O desenvolvimento da Ginástica na sociedade, conforme Cesário (2001), inicialmente

compreendida por movimentos naturais advindos da luta pela sobrevivência, foi apresentando

transformações ao longo do tempo e, por estar conectada aos interesses da sociedade em que

se encontrava, acabou por “incorporar os ideais político-ideológicos da classe dominante,

restringindo-se [...] a práticas corporais sistematizadas e fragmentadas” (CESÁRIO, 2001,

p.54). Diante das reflexões, podemos considerar que durante o século XIX:

O corpo reto e o porte rígido comparecem nas introduções dos estudos sobre a ginástica [...] estes estudos, carregados de descrições detalhadas de exercícios físicos que podem moldar e adestrar o corpo, imprimindo-lhe este porte, reivindicam com insistência seus vínculos com a ciência e se julgam capazes de instaurar uma ordem coletiva. Com estes indícios, a ginástica assegura, neste momento, o seu lugar na sociedade burguesa (SOARES, 2005, p. 18).

15

Soares (2005) ressalta ainda que neste período a Ginástica organizou-se em uma

pedagogia do gesto e da vontade, contribuindo para a constituição de um modelo de educação

no corpo, e a ciência aparece, neste momento, para auxiliar o processo de ensino do corpo

educado. Com essa finalidade, a Ginástica recebe atenção e assim “afirma-se como forma

específica de treinamento do corpo e da vontade deste homem novo que se desejou criar ao

longo de todo o século XIX” (SOARES, 2005, p. 29). Podemos destacar que:

O ensino da ginástica integrava-se [...] à busca tanto de eficácia militar quanto de eficácia no trabalho.Os corpos cujas qualidades e destrezas físicas eram determinantes para a sobrevivência do indivíduo e da ordem social que se afirmava, deviam ser formados para funções sociais definidas. A sociedade necessitava de soldados, operários e mães (Soares, 2005, p. 76).

Dessa forma, por meio da utilização de uma abordagem científica, a Ginástica

contribuía com a ideia de utilidade dos gestos, onde sua prática deveria possibilitar um

aproveitamento no dia a dia e não ser considerada um desperdício de tempo e energia

(SOARES, 2005). A Ginástica nessa visão é anunciada “como atividade humana capaz de

controlar, experimentar, comparar e generalizar as ações de indivíduos, grupos e classes”

(SOARES, 2005, p. 23).

Contudo, observamos que as atividades desenvolvidas no mundo do circo neste

momento foram negadas, já que se contrapunham ao princípio de utilidade regido pela

Ginástica científica (SOARES, 2005). Ayoub (2007) destaca que ao rejeitar esse universo

baseado no entretenimento, que as atividades circenses proporcionavam, a Ginástica se

distanciava ainda mais de seus aspectos lúdicos e artísticos característicos de sua origem.

Neste sentido, Cesário e Pereira (2014, p. 03) consideram que “rompeu-se com um conjunto

de exercitações, que consideravam os divertimentos carregados de ludicidade, transformando

os objetivos das práticas corporais populares”. A burguesia desejava interromper a ideia que o

circo expressava, já que:

[...] libertavam o espontâneo que fora aprisionado pelo saber científico, faziam renascer formas esquecidas da inteireza humana. Exibiam o que se desejava ocultar e despertavam imagens adormecidas no coração dos homens. Eram dissonantes à sociedade que se afirmava no século XIX (SOARES, 2005, p. 28).

De acordo com Feliciano (2011, p. 16) podemos observar que a Ginástica “está

presente em todos os períodos históricos, sendo que os seus sentidos e significados vêm sendo

construídos historicamente de acordo com a cultura e a sociedade que está inserida.” Sendo

assim, para desenvolver a visão de Ginástica até aqui compreendida pela ciência, fez-se

16

necessária sua sistematização, e isso se deu a partir de um movimento que contribuiu para a

consolidação da Ginástica como parte da educação dos indivíduos (SOARES, 2005).

2.2 Constituição da Ginástica enquanto conteúdo da Educação Física

A prática da Ginástica, originalmente segundo Ayoub (apud LANGLADE e

LANGLADE, 1986), envolvia atividades como: corridas, saltos, lançamentos, lutas e outros.

Podemos perceber que a Ginástica reunia diferentes práticas corporais, e que estas foram

evoluindo até apresentarem suas características específicas atuais. A Ginástica, na concepção

grega “representava as experiências educativas, utilitárias, militares, atléticas, médicas e

lúdicas de uma dada comunidade” (CESÁRIO e PEREIRA, 2014, p. 02). A partir deste

conceito, a Ginástica começou a ser sistematizada a fim de atender aos interesses da burguesia

com objetivos que visavam exclusivamente à formação física, para que dessa forma pudessem

obter melhoria na produção do trabalho. Neste período, a Ginástica é reconhecida pela

burguesia que, conforme Soares (2005, p. 18) “a deseja transformada e, assim, devolvida à

população como conjunto de preceitos e normas de bem viver”. Surge, então, o Movimento

Ginástico Europeu que contribuiu para a sistematização da Ginástica, já que se encontrava

baseado em princípios de ordem e disciplina para atender os anseios da classe dominante.

O Movimento Ginástico Europeu é segundo Soares (2005, p. 20), “o conjunto,

sistematizado pela ciência e pela técnica, do que ocorreu em diferentes países ao longo de

todo o século XIX, especialmente na Alemanha, Suécia, Inglaterra e França”. Embasada

nesses aspectos científicos e técnicos, e através de práticas sistematizadas, a Ginástica

desenvolvia atividades físicas que visavam à promoção da saúde e a retidão corporal, essa

prática auxiliava na determinação de um perfil moral a ser disseminado na sociedade

(PERDOMO, 2011).

Conforme Ayoub (2007) apesar de apresentarem objetivos semelhantes, as escolas

compreendiam os exercícios de diversas formas, em bases anatômicas, fisiológicas, científicas

ou técnicas. Sendo assim, as principais escolas responsáveis pelo desenvolvimento dos

métodos ginásticos foram: a Escola Alemã, Sueca e Francesa, entretanto, “apenas a Escola

Inglesa [...] não se ateve ao desenvolvimento da ginástica, dedicando-se mais diretamente aos

jogos e às atividades atléticas” (AYOUB, 2007, p.35).

Nesse processo de sistematização fundamentada na educação do físico, através das

escolas ginásticas européias, surge a utilização da Ginástica no contexto escolar através da

Escola Alemã (PERDOMO, 2011). Segundo Oro (1995, p. 60) “pode-se dizer que ocorreu a

17

disciplinarização curricular da Ginástica, o que está na origem da concepção da Educação

Física como disciplina curricular”, dessa forma, podemos considerar que a Ginástica foi

fundamental para a constituição da Educação Física no ambiente escolar.

Com base no plano educativo proposto pela Escola Alemã, a fim de alcançar os

objetivos determinados pela burguesia:

[...] os exercícios físicos atingiram as escolas de forma alienante, o controle das práticas corporais não se distinguiam das realizadas em quartéis e os métodos Ginásticos também eram utilizados através de exercícios calistênicos. Estes buscavam o desenvolvimento das qualidades físicas, sem considerar que essas práticas prejudicassem a integridade física do aluno (FELICIANO, 2011, p. 16-17).

Percebemos que durante este período, uma das formas de incluir a Educação Física nas

escolas foi por meio da utilização dos exercícios ginásticos, pois os mesmos tinham como

objetivo a educação física e moral dos sujeitos (AYOUB, 2007). Este conceito de Ginástica

onde se destacava apenas o aspecto da aptidão física, se estendeu até os dias atuais levando

alguns professores a desenvolverem este conteúdo de forma restritiva e tecnicista. Através

dessa visão, a Ginástica era o principal conteúdo a ser desenvolvido nas aulas, porém, com o

passar do tempo a Educação Física passou a ter outro representante: o esporte.

Com a educação física desportiva, o esporte passa a ter grande atenção e as aulas de

educação física se resumem restritamente a este conteúdo. Conforme Ayoub (apud SOARES;

TAFFAREL e ESCOBAR, 1992, p. 216) “[...] a educação física desportiva generalizada

normatiza o esporte como o conteúdo preponderante a ser veiculado pela educação física no

universo escolar”. Sendo assim, atualmente a Ginástica e outros temas da cultura corporal tem

sido negligenciados na educação física escolar, e apesar das mudanças que a Ginástica sofreu

ao longo do tempo possibilitando novas formas de tratamento no meio escolar, podemos

encontrar alguns fatores que contribuem para essa exclusão, dentre eles, a ausência de

conhecimento do professor sobre os conteúdos, restringindo o tratamento da Ginástica a

exercícios de aquecimento.

Outra dificuldade encontrada para o trato com a Ginástica é a falta de estrutura ideal

para seu desenvolvimento, o que pode desestimular o ensino da Ginástica por parte do

professor, porém, com a existência desse material o foco pode ser a esportivização (SOARES

et al., 1992). Nesse processo de esportivização da cultura corporal, Cesário e Pereira (2014)

afirmam que a Ginástica, quando presente nas aulas de Educação Física, apresenta

características associadas à tendência esportiva, favorecendo a técnica e reforçando seu

18

aspecto utilitário. Dessa forma, não é possível desenvolvê-la de forma significativa para a

formação humana, pois podemos observar que o problema está diretamente relacionado à

forma de organização do conteúdo, assim como a falta de aprofundamento do mesmo.

Segundo Soares et al (1992, p. 77), devemos destacar que com ou sem o uso de

aparelhos a Ginástica proporciona grandes experiências corporais aos alunos, por isso torna-se

fundamental sua inclusão na educação física escolar. A respeito disso, Feliciano (2011),

ressalta que as Diretrizes Curriculares Nacionais não consideram necessários para a realização

das aulas a utilização dos materiais específicos, uma vez que, podem se apropriar de materiais

alternativos que poderão suprir tal necessidade, sendo assim, observamos que esses fatores

não devem interferir na prática pedagógica.

Diante destas considerações, observamos que o desenvolvimento da Ginástica como

conteúdo foi marcado por práticas que reforçavam seu caráter higiênico e moral e, assim

como no passado:

A ginástica contemporânea ainda permanece fortemente vinculada à conquista da saúde, orientando-se por uma visão limitada que restringe a compreensão de saúde a um corpo estritamente biológico, individual, a um ser humano a-histórico, descontextualizado da sociedade na qual está inserido. Somam-se a isso as influências do processo de esportivização da cultura corporal que também a afetam (AYOUB, 2007, p. 38).

Neste sentido, Ayoub (2007, p. 85) afirma que “a ginástica [...] necessita ser estudada

em profundidade para que o profissional de educação física consiga enfrentar os desafios que

se colocam para a nossa área na atualidade”, considerando que alguns cursos de formação de

professores podem auxiliar para superar essas visões restritivas sobre Ginástica, contribuindo

para um melhor tratamento deste conteúdo no ambiente escolar. Para isso, Soares et al (1992)

ressalta que a organização do conteúdo deve estar conectada ao objetivo de promover a leitura

da realidade, sendo assim, torna-se necessário “analisar a origem do conteúdo e conhecer o

que determinou a necessidade de seu ensino” (SOARES et al, 1992, p. 63-64).

Para estarmos em sintonia com os desafios da educação física escolar na atualidade, não podemos simplesmente retomar os Métodos Ginásticos Europeus sem a devida crítica aos seus princípios e finalidades. Precisamos, sim, superar preconceitos e caminhar com os nossos alunos rumo à compreensão dos significados que têm sido conferidos à ginástica ao longo da história, para que eles próprios possam encontrar outros significados (AYOUB, 2007, p. 86).

19

Consideramos ainda, assim como propõe Soares et al (1992), a necessidade de

aprofundar e sistematizar o conhecimento, e refletir que através desta organização não se

torna necessário desconsiderar os aspectos técnicos, mas é preciso tratá-los de maneira que

não sejam utilizados como único fundamento para a aprendizagem.

2.3 A Prática da Ginástica na Sociedade

Durante muito tempo, a Ginástica foi desenvolvida com objetivos exclusivos de

formação física, contudo, apesar de sofrer transformações que colaboraram para uma melhor

atuação nos diferentes contextos, ainda apresenta características relacionadas aos aspectos

restritivos fundamentados na educação do corpo.

Atualmente, a mídia tem contribuído para uma maior divulgação da Ginástica com

fins à promoção da saúde, bem como a aquisição de um corpo dito “ideal”. Porém, segundo

Brandl (1999) precisamos considerar que há outros interesses envolvidos, como a imposição

de modelos de corpos, interesses comerciais, e outros. Do mesmo modo, podemos destacar

que em algumas áreas de atuação da Ginástica, como a Ginástica Laboral, sua utilização ainda

se encontra baseada nas necessidades do mundo do trabalho onde a prática objetiva

principalmente a melhora na produtividade e a solução de problemas, por exemplo,

relacionados ao stress, acentuando o aspecto utilitário desta modalidade (BRANDL, 1999).

Diante desta situação, ressaltamos que:

[...] a Ginástica tem conquistado eficiência, técnica e perfeição. O desenvolvimento da ciência e tecnologia contribui significativamente para que, a cada dia, novas manifestações ou tipos de Ginástica apareçam na sociedade para atender às necessidades de se manter o corpo esbelto, perfeito, saudável, e em conformidade com as necessidades de consumo da sociedade capitalista. Assim, novas tendências, métodos e técnicas são criadas e desenvolvidas com esses objetivos (CESÁRIO, 2001, p. 73).

A partir desta reflexão, podemos observar que a Ginástica pode ser tratada em

diferentes contextos e com diversas finalidades/objetivos, por esse motivo é importante

considerar que a existência dessas áreas contribui para a ampliação das possibilidades de

utilização da Ginástica (SOUZA, 1997). Estes campos de atuação, segundo Cesário e Pereira

(2007), são divididos em: escolares, que podem ser desenvolvida em todos os níveis de

ensino; e, não escolares, nos quais se encontram os clubes, academias, praças, empresas, entre

outros.

20

Considerando esses espaços, podemos relacionar à classificação feita por Souza

(1997), que organizou os diferentes tipos de Ginástica em cinco grupos, sendo:

1) Ginásticas de Condicionamento Físico: reúne as modalidades que objetivam a aquisição

ou manutenção da condição física do indivíduo e/ou atleta.

Alguns exemplos de modalidades que constituem esse grupo são: Ginásticas Localizadas;

Aeróbicas; Musculação; Step; entre outros.

2) Ginásticas de Competição: modalidades competitivas, ou seja, esportivas.

Este grupo é constituído pelas modalidades: Ginástica Artística; Rítmica Desportiva;

Acrobática; Aeróbica; Roda Ginástica; Trampolim Acrobático; Tumbling; Mini-

trampolim; e outros.

3) Ginásticas Fisioterápicas: são utilizadas na prevenção ou tratamento de doenças.

Fazem parte deste grupo: a Reeducação Postural Global; a Cinesioterapia; Isostrechting; e

outros.

4) Ginásticas de Conscientização Corporal: utilização das técnicas alternativas ou ginásticas

suaves que buscam solucionar problemas físicos e posturais.

Constituem este grupo: a Anti-Ginástica; Eutonia; Feldenkrais; Bioenergética, e outros.

5) Ginásticas de Demonstração: representada pela Ginástica Geral, sua característica é a não-

competitividade, buscando a integração social. Esta modalidade teve seu nome alterado e

atualmente é conhecida como Ginástica Para Todos (GPT).

Podemos perceber segundo Brandl (1999), que apenas a Ginástica de Demonstração

aponta finalidades educativas. Porém, a autora defende a importância de se considerar que “a

Ginástica, enquanto movimento educativo [...] poderá reunir todas as formas de Ginástica,

desde que sejam feitas adaptações próprias aos objetivos escolares e às características de cada

faixa etária” (BRANDL, 1999, p. 41).

Sendo assim, as classificações apresentadas podem servir de base para utilização nas

aulas de Educação Física, possibilitando aos alunos conhecimentos sobre as diferentes áreas

de atuação da Ginástica. No entanto, é necessário destacar que “a intervenção da Ginástica,

em qualquer contexto ou campo de atuação, deve estar conectada a uma concepção ampla e

complexa da atividade humana, com sentidos e significados atribuídos pelos que dela se

valem” (Cesário e Pereira, 2014, p. 05), para que dessa forma não seja desenvolvida de forma

reducionista e fragmentada.

Neste momento podemos destacar a Federação Internacional de Ginástica (FIG), por

apresentar, segundo Souza (1997) uma característica única e importante ao se organizar a

partir da Ginástica competitiva e não competitiva.

21

A Federação Internacional de Ginástica “é um órgão que tem como objetivo orientar,

regulamentar, controlar, difundir e promover eventos na área da Ginástica” (SOUZA, 1997, p.

29). Nesse sentido, Ayoub (2007), ressalta que a FIG originalmente foi responsável por

organizar competições internacionais de Ginástica, essas atividades tiveram início no começo

do século XX. Ainda segundo a autora (AYOUB, 2007) após a proposta de um Festival

Internacional de Ginástica, o que resultou no surgimento da Gymnaestrada, a Ginástica não

competitiva teve grande destaque e passou a ser desenvolvida exclusivamente nestes eventos.

A presença da Ginástica Geral como um comitê específico dentro da estrutura da FIG a partir de 1984, vem demonstrar a importância deste fenômeno de massa que envolve um incontável número de praticantes em todo o mundo, ultrapassando em larga escala o total de atletas das modalidades competitivas dirigidas pela mesma federação (SOUZA, 1997, p. 32).

O interesse voltado para esta modalidade levou ao surgimento do Comitê Técnico de

Ginástica Geral (CTGG) da FIG, que almejava promover a Ginástica Geral nos diferentes

países possibilitando sua integração de forma mais flexível (AYOUB, 2007). No Brasil, a

Ginástica Geral teve seu desenvolvimento no ano de 1980, nesta época o Departamento de

Ginástica Geral na Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) foi oficializado, contribuindo

para a divulgação da Ginástica Geral, agora Ginástica Para Todos, em nosso país (AYOUB,

2007).

Contudo, Souza (1997) considera que apesar de seu avanço nos últimos tempos, a

Ginástica Para Todos não apresenta uma política de desenvolvimento oferecida pela CBG,

sendo assim, é necessário que seja melhor organizada pela sua instituição responsável, assim

como pelas Universidades, pois podem promover encontros que auxiliem na capacitação de

professores “para que a Ginástica Geral seja desenvolvida de maneira adequada nas escolas,

clubes e centros comunitários” (SOUZA, 1997, p. 63). Estas organizações institucionais,

como a FIG e a CBG, podem ser compreendidas no contexto escolar na medida em que

possibilitam uma relação entre diferentes modalidades ginásticas, e contribuam para ampliar a

visão restritiva normalmente direcionada à Ginástica.

Pensando no contexto escolar, de acordo com Ayoub (2007) atualmente a Ginástica é

um conteúdo que, em determinadas instituições, não se encontra presente nas aulas de

educação física, porém, seu desenvolvimento se torna necessário uma vez que contribui para a

formação humana, no sentido em que “permite ao aluno a interpretação subjetiva das

atividades ginásticas, através de um espaço amplo de liberdade para vivenciar as próprias

22

ações corporais” (SOARES et al, 1992, p. 77). Ao se tratar de um tema da cultura corporal,

destacamos que através da apreensão da “expressão corporal enquanto linguagem que será

mediado o processo de sociabilização das crianças e jovens na busca da apreensão e atuação

autônoma e crítica na realidade, através do conhecimento sistematizado, ampliado,

aprofundado” (SOARES et al, 1992, p. 103). Neste contexto, consideramos que a Ginástica

caracteriza-se como conteúdo fundamental da Educação Física que pode contribuir para o

alcance de tal finalidade.

23

3. A EDUCAÇÃO FÍSICA E A GINÁSTICA NO ENSINO MÉDIO

Nesta seção, discutiremos à cerca da função da Educação Física no processo de

formação humana, assim como seus objetivos para o Ensino Médio. Para que possamos

compreender a importância da Ginástica como conteúdo no Ensino Médio, é necessário

primeiramente refletir sobre qual o papel da Educação Física para contribuir na formação

integral dos indivíduos, e diante de que perspectiva tem apresentado os conteúdos que lhe são

inerentes. Precisamos compreender a finalidade do Ensino Médio, para organizar o conteúdo

de acordo com as reais necessidades dos alunos.

3.1 Função da Educação Física no processo de formação humana

Uma das perspectivas da Educação Física escolar, que segundo Reis et al (2013) se

tornou uma característica marcante de seu ensino nesse contexto, tem como objetivo único o

desenvolvimento da aptidão física através de técnicas para se alcançar elevados níveis de

rendimento, assim sendo, contribui para atender aos interesses da classe dominante,

sustentando a sociedade capitalista. Diante disso, essa perspectiva pretende “adaptar o homem

à sociedade, alienando-o da sua condição de sujeito histórico, capaz de interferir na

transformação da mesma” (SOARES et al, 1992, p. 36).

Essa perspectiva apoia-se nos fundamentos sociológicos, filosóficos, antropológicos, psicológicos e, enfaticamente, nos biológicos para educar o homem forte, ágil, apto, empreendedor, que disputa uma situação social privilegiada na sociedade competitiva de livre concorrência: a capitalista (SOARES et al, 1992, p. 36).

Compreendemos neste trabalho a perspectiva defendida pelos autores (1992), que com

base na abordagem proposta pela Pedagogia histórico-crítica, pretende contribuir para uma

formação que visa a atuação na realidade social de forma autônoma, através da socialização

dos conhecimentos sistematizados. Sendo assim, o trabalho pedagógico deve proporcionar aos

alunos aquilo que se tornou essencial para a compreensão do mundo, ou seja, o conhecimento

científico, filosófico e artístico (MARTINS, 2013). Ao se tratar dessa abordagem, os autores

ainda consideram que:

Para a Pedagogia histórico-crítica, é preciso educar para contribuir com o desafiador e difícil processo de valorização da vida humana, e não das

24

coisas, e construção da emancipação. Sua perspectiva é oferecer aos educadores do campo crítico uma alternativa teórica e metodológica para a construção da mudança, valorizando a instituição escolar em um espaço rico e dinâmico de ensino-aprendizagem repleto de sentidos e significados para os que precisam romper com a dominação e exploração de classes (MARTINS, 2013, p. 43).

A concepção representada por Soares et al (1992), se diferencia da concepção de

aptidão física, pois tem como objeto de estudo a cultura corporal e está relacionada ao

conhecimento historicamente produzido, nesse sentido, a Educação Física tem como

conteúdos: jogo, esporte, ginástica, dança, lutas. Essa perspectiva contribui no sentido de

refletir sobre valores determinados por ambas as classes e, principalmente destacar “a

liberdade de expressão dos movimentos – emancipação -, negando a dominação e submissão

do homem pelo homem” (SOARES et al, 1992, p. 40). É neste sentido, que essa concepção

baseada na reflexão sobre cultura corporal apresenta aspectos diferentes da pedagogia

tradicional e tecnicista, já que são desenvolvidas sem considerar nenhuma possibilidade de

compreensão dos significados existentes nas relações entre conhecimento, trabalho e vida

(MARTINS, 2013).

Na perspectiva Crítico-superadora, ao lidar com os conteúdos, a Educação Física

precisa explorar as práticas corporais e, dessa forma, de acordo com Soares et al (1992, p. 38)

“desenvolver uma reflexão pedagógica sobre o acervo de formas de representação do mundo

que o homem tem produzido no decorrer da história, exteriorizadas pela expressão corporal:

jogos, danças, lutas, exercícios ginásticos, [...]”. Pretende-se transmitir ao aluno a idéia de que

as atividades corporais foram e ainda são construídas historicamente, já que “a produção

humana é histórica, inesgotável e provisória” (SOARES et al, 1992, p. 40). Destacamos ainda,

que nessa concepção que tem a cultura corporal como objeto de discussão, ressalta que:

[...] a expressão corporal é uma linguagem, um conhecimento universal, patrimônio da humanidade que igualmente precisa ser transmitido e assimilado pelos alunos na escola. A sua ausência impede que o homem e a realidade sejam entendidos dentro de uma visão de totalidade (SOARES et al, 1992, p. 42).

Contudo, podemos perceber a ausência de determinados conteúdos nas aulas de

educação física, inclusive a Ginástica, como aponta Feliciano (2011). Sendo assim, estes

conhecimentos considerados na perspectiva Crítico-superadora precisam ser tratados, já que

“sua presença na escola justifica-se por socializar um saber que não é transmitido pelas

25

demais disciplinas, mas que se constitui como elemento essencial à formação humana e à

leitura crítica da realidade” (REIS et al, 2013, p. 16-17).

Neste sentido, segundo Soares et al (1992), é importante considerar a proposta de

reflexão sobre as relações existentes entre os temas da cultura corporal e determinados

problemas sócio-políticos como, por exemplo, saúde pública e preconceitos sociais, este

tratamento possibilita aos alunos a interpretação e explicação da realidade social baseada em

seus interesses. Ressalta ainda que “o aprofundamento sobre a realidade através da

problematização de conteúdos desperta no aluno curiosidade e motivação, o que pode

incentivar uma atitude científica” (SOARES et al, 1992, p. 63).

Ao compreender esses aspectos, Ayoub (2007, p.85), indica que é função da educação

física escolar “proporcionar um conhecimento aprofundado acerca dos diferentes temas da

cultura corporal” e contribuir para a compreensão dos significados advindos de tais

conteúdos. É importante ressaltar que precisamos levar em consideração os aspectos técnicos,

de maneira que não sejam abordados exclusivamente, mas que possam contribuir para a

apreensão do conhecimento em sua totalidade, sempre no sentido de propiciar conhecimentos

mais amplos e profundos (SOARES et al, 1992).

Diante das considerações, podemos perceber os diferentes conteúdos que a Educação

Física abrange no contexto escolar e a importância de serem abordados nesse ambiente, dentre

estes conteúdos ressaltamos a Ginástica, por ser uma área que contribuiu historicamente para

um amplo desenvolvimento de práticas corporais. Neste sentido, destacamos que a Ginástica:

[...] configura-se nos currículos atuais como conteúdo estruturante da Educação Física, e seu ensino é de total valia para a educação dos alunos, uma vez que proporciona a capacidade de gerar o conhecimento do corpo através das diferentes formas de movimentos, como também a capacidade de expressão corporal, por meio da possibilidade de criação e recriação da própria ação (PERDOMO, 2011, p. 39).

Através da abordagem Crítico-superadora, embasada na perspectiva sobre cultura

corporal, devemos considerar que para tornar possível ao aluno a apreensão desses

conhecimentos específicos, se torna essencial que os conteúdos sejam bem organizados e

sistematizados para que dessa forma possam contribuir para a formação humana de acordo

com as finalidades apresentadas por tal concepção (SOARES et al, 1992).

3.2 Caracterização do Ensino Médio

26

No que diz respeito à educação básica, a Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional, Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996 aponta como finalidade “desenvolver o

educando, assegurar-lhe a formação indispensável para o exercício da cidadania e fornecer-

lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores” (RAMOS, 2004, p. 37). A Lei

de Diretrizes e Bases da Educação Nacional visa o favorecimento da Educação Básica como

consolidação na etapa final, tendo o Ensino Médio como preparação para o ensino superior e

formação de caráter técnico-profissional.

De acordo com o parágrafo 2º do artigo 36 da lei, especificamente nos artigos 39 a 41

o tratamento da educação profissional se dá “como prática educativa a que todos os cidadãos

podem ter acesso, devendo integrar-se às diferentes formas de educação, de trabalho, à ciência

e à tecnologia” (RAMOS, 2004, p. 38). Ainda segundo a autora, no decorrer do tempo o

ensino médio encontrava-se centrado no mercado de trabalho, para que as pessoas pudessem

empregar-se assim que alcançasse sua conclusão, ou ainda a conclusão do ensino superior.

Contudo, ressalta que não houve muitas mudanças nessa área, pois o ensino médio continua

hoje, preparando jovens para o trabalho.

Considerando a desestrutura relacionada aos empregos e a flexibilidade das relações e

direitos sociais, Ramos (2004, p. 39) ressalta que “não seria possível preparar para o mercado

de trabalho, dada a sua instabilidade, dever-se-ia preparar para a ‘vida’ [...] de modo que as

pessoas pudessem se adaptar facilmente às incertezas do mundo contemporâneo”. Ao destacar

a falta de uma perspectiva centrada na pessoa humana, a LDB propõe no artigo 22 sua

disposição:

Isso implica retirar o foco do projeto educacional do mercado de trabalho, seja ele estável ou instável, e colocá-lo sobre os sujeitos. Não sujeitos abstratos e isolados, mas sujeitos singulares cujo projeto de vida se constrói pelas múltiplas relações sociais, na perspectiva da emancipação humana, que só pode ocorrer à medida que os projetos individuais entram em coerência com um projeto social coletivamente construído (RAMOS, 2004, p. 39).

Contudo, podemos destacar de acordo com a autora que, a lei conservou para o ensino

médio a preparação dos estudantes para o exercício de profissões técnicas, pelo que diz o

parágrafo 2º do artigo 36 de 20 a 40. Isso nos leva a reflexão de que se torna necessário que o

ensino médio redefina sua identidade e possibilite uma formação que compreenda as

necessidades socioculturais e econômicas dos indivíduos (RAMOS, 2004).

27

As Diretrizes Curriculares Nacionais apresentam enquanto base para formação a

compreensão de trabalho e cidadania, sendo que a abordagem em relação ao trabalho se dá

num duplo sentido, ontológico e histórico:

Pelo primeiro sentido, o trabalho é princípio educativo à medida que proporciona a compreensão do processo histórico de produção científica e tecnológica, como conhecimentos desenvolvidos e apropriados socialmente para a transformação das condições naturais da vida e a ampliação das capacidades, das potencialidades e dos sentidos humanos. [...] Pelo segundo sentido, o trabalho é princípio educativo na medida em que coloca exigências específicas para o processo educacional, visando à participação direta dos membros da sociedade no trabalho socialmente produtivo (BRASIL, 2011, p. 21).

Contudo, conforme indica Ramos (2004, p. 41), nesta reflexão a forma de abordagem

apresenta certa oscilação entre “trabalho como princípio e trabalho como contexto; trabalho

como mediação e trabalho como fim”. É importante considerar, segundo Santos, Marques e

Paniago (2013, p. 77) que os documentos destacam o trabalho na perspectiva capitalista,

sendo assim, “o que se percebe é a idéia de que a educação escolar deve ter como objetivo

central a formação do indivíduo voltada para o mercado de trabalho”. Os autores ainda

consideram que a perspectiva de cidadania está intencionada na ampliação da exploração da

força de trabalho, já que envolve a aceitação dos determinantes capitalistas.

De acordo com Ramos (2004), a organização do ensino médio é compreendida em um

projeto unitário, a fim de superar a relação de concorrência com a educação profissional,

compreendendo o trabalho em suas diferentes perspectivas e contribuir para a formação

integral dos alunos.

Nisso se assenta a proposição para a organização da relação entre ensino médio e educação profissional, de uma base unitária e de possibilidades diversas de formações específicas, de modo que, respeitadas as normas do sistema de ensino, as instituições poderão acrescentar ao mínimo exigido para o ensino médio – carga horária destinada à formação específica para o exercício de profissões técnicas – o desenvolvimento de atividades relacionadas à ciência e a cultura, visando atender às necessidades e às características sociais, culturais, econômicas e intelectuais dos estudantes (RAMOS, 2004, p. 48).

Diante destas considerações, a autora (2004, p. 51) aponta para a necessidade de uma

nova organização, através de perspectivas que estruturem o projeto unitário para o ensino

médio onde “o trabalho, a ciência e a cultura são os princípios estruturantes e devem ser

resgatados como meio para a compreensão e a transformação do mundo atual”.

28

Devemos ainda nos atentar, no que diz respeito ao conhecimento científico, pois

conforme as Diretrizes Curriculares Nacionais a influência da tecnologia contribui para a

divulgação de informações, porém, é essencial compreender a diferença entre esses conceitos,

sendo assim, “o fato dessas novas tecnologias se aproximarem da escola, onde os alunos, às

vezes, chegam com muitas informações, reforça o papel dos professores no tocante às formas

de sistematização dos conteúdos e de estabelecimento de valores” (BRASIL, 2011, p. 21).

Atualmente, segundo Krawczyk (2004) as condições relacionadas ao ensino médio

abrangem diversas questões e se torna essencial refletirmos sobre elas, já que apresentam

características que precisam ser transformadas, como:

[...] aspectos estruturais que ainda não foram resolvidos, a precariedade desse grau de ensino público no Brasil, condicionamentos mais amplos que dizem respeito às transformações que ocorrem em outros âmbitos políticos, sociais e econômicos, diretrizes e ações compartilhadas com a política de gestão do ensino fundamental e tendências em construção a partir de novas diretrizes para a expansão e a melhoria desse nível de ensino (Krawczyk, 2004, p. 115).

Diante destes problemas, a autora considera que as principais preocupações são a

privatização e/ou exclusão do ensino médio, e a reforma político-educacional que afeta o

trabalho profissional (KRAWCZYK, 2004).

3.3 Objetivos da Educação Física no Ensino Médio a partir do Referencial Curricular de

Mato Grosso do Sul

Sobre o processo de formação no Ensino Médio, podemos destacar conforme Santos,

Marques e Paniago (2013, p. 70) que algumas propostas de ensino neste nível pretendem

atingir “uma educação que privilegie a formação e qualificação de trabalhadores que possam

responder adequadamente às demandas do mercado de trabalho”. Entretanto, com base no

Referencial Curricular da Rede Estadual de Ensino de Mato Grosso do Sul para o Ensino

Médio, observamos algumas alterações em suas propostas que foram reelaboradas em 2012,

ao ser apresentado considera que:

A educação neste Estado vem passando por grandes transformações nos últimos anos. Para acompanhá-las, a Secretaria de Estado de Educação de Mato Grosso do Sul procura adequar suas ações para que as escolas garantam aos nossos estudantes uma formação condizente com as exigências deste início de década e produzam cidadãos críticos e participativos que

29

dominem a técnica e sejam inovadores (MATO GROSSO DO SUL, 2012, s/p).

Segundo Santos, Marques e Paniago (2013) a redefinição dos Referenciais

Curriculares de MS tem como finalidade se ajustar às novas exigências do mundo

globalizado, e assim fornecer uma formação num sentido amplo e flexível. Contudo, em

conjunto com as normas nacionais, o Referencial Curricular tem como base a preparação para

o trabalho e o exercício da cidadania, neste sentido, como já destacamos anteriormente de

acordo com os autores (2013), são perspectivas compreendidas no sistema capitalista que

contribuem para uma formação que atenda às suas exigências.

Dessa forma, consideramos que a utilização dos conteúdos se dará no sentido de

contribuir para o alcance desta finalidade, baseada em perspectivas restritas que visam apenas

o desenvolvimento de determinadas habilidades/competências, sem apresentar condições

suficientes para promover uma reflexão crítica a cerca das relações sociais e econômicas

existentes. Isso nos leva a refletir que ao longo do tempo se manteve essa organização do

ensino médio voltada para o mercado de trabalho.

Os documentos, ao apresentarem as áreas de conhecimento e os componentes que farão parte do currículo escolar, não discutem uma abordagem histórica ou mesmo uma proposta teórico-metodológica acerca de cada disciplina. Não há uma reflexão sobre o lugar de cada uma no currículo, suas características e importância no trajeto formativo dos alunos. (SANTOS, MARQUES e PANIAGO, 2013, p. 87)

Ao se tratar da Educação Física os Referenciais Curriculares, segundo Santos,

Marques e Paniago (2013) utilizam a abordagem baseada na perspectiva da cultura corporal

de movimento, porém, destacam que também há referências sobre o conceito de cultura

corporal, tornando-se necessário diferenciá-las já que a primeira apresenta aspectos

específicos de cada dimensão (cultura, movimento, educação física), e a segunda é

compreendida na perspectiva materialista-histórico-dialética. Os autores (2013, p.87), diante

da análise dos documentos, consideram que “além de estarem fragilizados pela falta de uma

fundamentação teórico-metodológica consistente, desenvolvem uma fraca e incoerente

argumentação quanto à perspectiva teórica adotada para a Educação Física”, isso faz com que

os conteúdos sejam selecionados sem a apresentação de uma justificativa impedindo assim a

compreensão dos objetivos.

Percebemos, conforme apontam Santos, Marques e Paniago (2013), que na

organização dos conteúdos o conhecimento específico à cerca da Ginástica é negado no

30

ensino médio, sendo esta perspectiva contraditória já que os blocos de ensino se reúnem em:

conhecimentos sobre o corpo, o corpo e suas relações e atividade física.

Quando os documentos em análise propõem ao final de cada conteúdo possíveis competências/habilidades, evidenciam-se, nesta perspectiva, objetivos que buscam desenvolver determinados comportamentos e valores nos alunos. As competências/habilidades propostas reforçam as análises realizadas e que apontam como meta para a educação em nosso país, mais especificamente, no estado de Mato Grosso do Sul, a adaptação dos sujeitos às condições sociais dadas e às demandas do mercado de trabalho (SANTOS, MARQUES e PANIAGO, 2013, p. 88).

Diante das reflexões podemos destacar a necessidade de uma nova organização que

venha superar essa perspectiva de educação apresentada pelos Referenciais Curriculares de

MS, pois oferecem uma formação direcionada ao trabalho, e também “cujos problemas

privilegiados são aqueles pertencentes ao cotidiano, devendo ser resolvidos por meio de

soluções pontuais e contextuais, sem reflexões históricas dos motivos pelos quais os

problemas se originaram e ainda permanecem” (SANTOS, MARQUES e PANIAGO, 2013,

p. 91). Sendo assim, essa nova organização visa contribuir para o processo de ensino-

aprendizagem de qualidade, definindo a abordagem pedagógica através de uma perspectiva

crítica, e assim, compreendendo uma metodologia baseada em objetivos que visem à

formação dos alunos em sua totalidade.

Podemos considerar para este processo, a perspectiva histórico crítica já que se opõe

ao papel que a Educação Física tem assumido no decorrer do tempo, “o de educar os

indivíduos em conformidade com as necessidades do modo capitalista de produção da

existência humana” (REIS et al, 2013, p. 57), no que diz respeito à função da escola e

Educação Física, a metodologia crítico-superadora foi capaz de ultrapassar e assumir o papel

da perspectiva anterior, contribuindo para uma formação baseada nos interesses e

necessidades da classe trabalhadora.

Em relação ao conhecimento a ser tratado, ressaltamos que “a escola do trabalhador,

quando se esvazia de cientificidade, de conhecimento científico, da reflexão crítica, cria a

impossibilidade de conhecer e compreender a realidade em sua totalidade” (SANTOS,

MARQUES e PANIAGO, 2013, p. 91). Dessa forma, a Pedagogia Histórico crítica se

constitui como teoria fundamental da Educação Física, visto que propõe a apreensão do

conhecimento sistematizado por meio dos conteúdos da cultura corporal para intervir na

realidade de forma crítica e autônoma.

31

A Pedagogia histórico-crítica procura oferecer aos educadores críticos uma teoria educacional alternativa de caráter contra-hegemônico. A perspectiva é afirmar que os alunos da classe trabalhadora precisam ser educados para assumirem as condições subjetivas necessárias à direção do processo histórico, tendo em vista a emancipação humana (MARTINS, 2013, p. 40).

A Educação Física no Ensino Médio não deve manter seu ensino voltado diretamente

aos interesses capitalistas, de adaptação dos sujeitos às suas condições, e sim possibilitar aos

alunos a compreensão de todas as relações possíveis envolvidas no trato com o conhecimento,

na busca dos sentidos e significados na sua realidade.

3.4 Importância da Ginástica no Ensino Médio

Segundo Soares et al (1992, p. 65) “as formas de expressão corporal dos alunos

refletem os condicionantes impostos pelas relações de poder com as classes dominantes no

âmbito de sua vida particular, de seu trabalho e de seu lazer”. Sendo assim, ao tratar os

conteúdos da Educação Física precisamos levar em consideração esta condição e oferecer aos

alunos a compreensão crítica sobre o significado de suas práticas corporais, para que possam

vivenciar as diferentes formas de manifestação corporal. Este processo de ensino precisa ser

compreendido especialmente no Ensino Médio, já que determina a etapa final do ensino

básico que pretende integrar os alunos ao mundo do trabalho, envolvendo os interesses

capitalistas.

A Ginástica é caracterizada como um conteúdo fundamental a ser tratada neste nível

de ensino, já que é um “movimento culturalmente construído que possibilita o expressar-se se

relacionando com o mundo” (FELICIANO, 2011, p. 12), capaz de superar os aspectos

restritivos e tecnicistas da perspectiva baseada na aptidão física. Por ser um conhecimento, em

algumas instituições, ausente no ambiente escolar, torna-se necessário que seja reconhecida

como conteúdo da educação física, pois ressaltamos que:

Sua prática é necessária na medida em que a tradição histórica do mundo ginástico é uma oferta de ações com significado cultural para os praticantes, onde as novas formas de exercitação em confronto com as tradicionais possibilitam uma prática corporal que permite aos alunos darem sentido próprio às suas exercitações ginásticas (SOARES et al, 1992, p. 77).

Dessa forma, consideramos que o desenvolvimento da Ginástica nas aulas deve

proporcionar aos alunos uma nova reflexão sobre a realidade social, utilizando-se de amplas

referências para que permitam ultrapassar o senso comum (SOARES, 1992). Nesse processo

32

de leitura da realidade, destacamos ainda que a apreensão do conhecimento da Ginástica

significa:

[...] portanto, estudar, vivenciar, conhecer, compreender, perceber, confrontar, interpretar, problematizar, compartilhar, apreender as inúmeras interpretações da ginástica para, com base nesse aprendizado, buscar novos significados e criar novas possibilidades de expressão gímnica (AYOUB, 2007, p. 87).

Com base na perspectiva crítica a qual sustentamos para o tratamento com o conteúdo

determinado, de acordo com Soares et al (1992), é necessário que o conhecimento seja

organizado e sistematizado, e estejam em harmonia com os objetivos e a metodologia, para

que contribuam com a leitura da realidade. É indispensável que seja distribuído no tempo

adequado, de modo que facilite sua assimilação. Diante destas considerações, destacamos

que:

A elaboração de um programa de ginástica para as diferentes séries exige pensar na evolução que deve ter em sua abordagem, desde as formas espontâneas de solução dos problemas com técnicas rústicas nas primeiras séries, até a execução técnica aprimorada nas últimas séries do ensino fundamental, bem como do ensino médio, onde se atinge a forma esportiva, com e sem aparelhos (SOARES et al, 1992, p. 78).

É importante destacar que a respeito do ensino médio, a Ginástica quando tratada em

seus aspectos esportivos, pretende envolver o conhecimento científico/técnico/artístico numa

compreensão crítica relacionando os significados socialmente conferidos a sua utilização

(SOARES, 1992). Ainda de acordo com os autores, para contribuir com o trabalho

pedagógico, podemos abordar nas aulas determinadas relações e problematizações sobre a

Ginástica e os diferentes temas que a compõe, por exemplo: Ginástica e Saúde, Ginástica e

Mídia, Ginástica e Treinamento, entre outros. Estas propostas contribuem para uma ampla

reflexão a respeito da Ginástica em seus diferentes contextos e relações com determinados

aspectos político-sociais.

Diante das reflexões, destacamos um trabalho pedagógico feito por Pina et al (2013)

baseado na Pedagogia histórico-crítica e que abordou o conteúdo Ginástica utilizando o tema

sobre o processo de disciplinarização dos corpos, o trabalho foi feito com uma turma do

segundo ano do Ensino Médio, no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do

Sudeste de Minas Gerais do Campus Juiz de Fora. Os autores levantaram questões sobre

Ginástica e saúde, relações entre a Ginástica antiga e atual, influências da mídia, diferenças

33

entre Ginástica para estética e para saúde, e outros, e a partir disso proporcionaram reflexão a

respeito das interrogativas por meio de referências sobre as áreas apresentadas. Ao concluir

esse processo foi possível:

Identificar que grande parte dos alunos manifestou uma nova compreensão da relação existente entre a ginástica e a Educação Física nos diferentes momentos da história. A nova maneira de entender o conteúdo mostrou-se mais elaborada, com domínio de conceitos e entendimento de implicações da sociedade na ginástica e da ginástica na sociedade (PINA et al, 2013, p. 161).

Os autores destacaram que ao se apropriar do conhecimento sobre a Ginástica, se torna

possível “aprimorar a atuação na prática social, contribuindo para uma postura crítica frente o

processo de disciplinarização dos corpos” (PINA et al, 2013, p.162). Podemos perceber o

quanto este trabalho contribuiu para a reflexão dos alunos sobre a Ginástica, levando à

ampliação do conhecimento e a leitura da realidade, como propõe Soares et al (1992). Dessa

forma, observamos a importância do conteúdo para a formação dos alunos, não apenas para

este nível de ensino, pois o conhecimento é indispensável para todos.

Considerando a experiência realizada, Pina et al (2013), declaram ainda ser possível

explorar o tema utilizado, assim como com o conteúdo Ginástica, pois “o conhecimento

transmitido se constitui apenas como parte do amplo leque de conhecimentos necessários para

o desenvolvimento de uma leitura crítica da realidade” (PINA et al, 2013, p.168). Sendo

assim, novas problematizações podem ser realizadas, oferecendo aos alunos um conhecimento

aprofundado a cerca do conteúdo Ginástica e dando sentido às suas práticas corporais,

refletindo sobre a importância de sua utilização nos diferentes contextos, especialmente no

ambiente escolar.

34

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao concluirmos o trabalho, podemos compreender que várias foram as transformações

ocorridas ao longo do tempo com relação à Ginástica, na medida em que a sociedade evoluía

sua prática também acompanhava esse progresso, porém, sua base foi tão bem consolidada

aos interesses de quem a dominava e fez com que seu tratamento permanecesse até os dias

atuais aprisionada a uma perspectiva mínima de vida. Suas ações se envolvem na maioria das

vezes baseadas nos princípios rígidos e utilitários, alcançando as finalidades das quais se

originou. Se não tivermos o compromisso de buscar a superação dessa realidade, a utilização

da Ginástica será sempre voltada para um controle social.

Atualmente, ao ser tratada em diferentes contextos e com diversas finalidades, a

Ginástica obteve uma ampla possibilidade de utilização. Isso contribui para superar seu

aspecto tradicional, já que pode envolver todas as formas de Ginástica em um determinado

campo de atuação. Sendo assim, no contexto escolar seu desenvolvimento pode contribuir

para ampliar o conhecimento dos alunos, assim como refletir sobre o sentido de sua prática.

Dessa forma, ressaltamos que a utilização da Ginástica no Ensino Médio não deve

manter sua importância voltada ao mercado de trabalho, onde a prática é baseada na

perspectiva tecnicista visando um alto nível de rendimento, mas deve contribuir para uma

formação crítica por meio da organização e sistematização do conteúdo, proporcionando a

reflexão dos valores determinados pela sociedade e dos significados advindos das práticas

corporais. Esta concepção é baseada na perspectiva Crítico-superadora, a qual defendemos

neste trabalho e acreditamos contribuir significativamente para a formação dos alunos, pois se

opõe aos aspectos restritivos da perspectiva tecnicista.

Podemos destacar algumas possibilidades de tratamento com o conteúdo Ginástica nas

aulas de Educação Física escolar, como Souza (1997) e Ayoub (2007) que utilizam a

Ginástica Geral, agora denominada Ginástica Para Todos (GPT), para resgatar este conteúdo

no ambiente escolar, especialmente por ser uma modalidade que compreende diferentes

manifestações da Ginástica. A GPT também possibilita novas formas de exercitação e

conseqüentemente novos significados sobre estas expressões, para isso, Ayoub (2007) indica

ser necessário romper com as teorias do passado e do presente, e pensar em uma nova

Ginástica na escola.

35

Outra possibilidade é o trabalho feito por Pina et al (2013), citado anteriormente, que

com base no tema disciplinarização dos corpos, desenvolveu problematizações relacionadas à

Ginástica e Saúde, Ginástica e Estética, Ginástica e Mídia, entre outros. Os autores

proporcionaram uma reflexão sobre essas relações e isso contribuiu para o aprofundamento do

conteúdo, este trabalho foi especificamente desenvolvido no Ensino Médio. Diversas relações

sobre a Ginástica podem ser problematizadas nas aulas de Educação Física no Ensino Médio,

pois através da leitura da realidade podemos proporcionar uma visão crítica aos alunos diante

dos aspectos existentes. Precisamos constantemente buscar novas possibilidades de

tratamento com o conteúdo Ginástica, assim como os outros conteúdos da Educação Física

escolar para romper com o foco dado aos esportes, e contribuir para a formação integral dos

alunos.

36

REFERÊNCIAS

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CESÁRIO, M. A organização do conhecimento da ginástica no currículo de formação inicial do profissional de educação física: realidade e possibilidades – Recife, Pernambuco: [s.n.], 2001. Dissertação (Mestrado em Educação) Curso de Mestrado em Educação da Universidade Federal de Pernambuco, Recife.

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FELICIANO, D. A. M. Ginástica na Escola: Uma Experiência de Ensino. 2011. Trabalho de Conclusão de Curso (Licenciatura em Educação Física) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2011.

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