introdução à economia troster e monchón cap 3

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~ ·MAKRON Books CAPíTULO &5 o CONCEITO DE SISTEMA ECONÔMICO Com este capítulo, iniciamos o estudo dos sistemas econômicos. Ele analisa as diferentes questões que devem ser respondidas pelo sistema econômico. As três perguntas fundamen- tais são: •O que produzir? • Para quem? • Como produzir? 3.1 CONCEITO DE SISTEMA ECONÔMICO De um ponto de vista global, no Brasil a economia funciona de uma forma diferente da economia de outros países, como os EUA, Rússia ou Etiópia. A forma de comprar e vender determinados bens, os impostos que se tem de pagar, o tipo de maquinaria utilizada pelas empresas, e muitas outras coisas são diferentes. Podemos, também, dizer que, salvo as diferenças, nossa economia se parece mais com a de uns países (por exemplo, Argentina) do que com a de outros (por exemplo, Cuba). Essas diferenças ou semelhanças no funcionamento global da economia são explicadas pelos economistas, que utilizam o conceito de sistema econômico. Sistema econômico é o conjunto de relações técnicas, básicas e institu- cionais que caracterizam a organização econômica de uma sociedade. 38

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Economy & Finance


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Page 1: Introdução à economia troster e monchón cap 3

~·MAKRON

Books CAPíTULO &5

o CONCEITO DE SISTEMAECONÔMICO

Com este capítulo, iniciamos o estudo dos sistemas econômicos. Ele analisa as diferentesquestões que devem ser respondidas pelo sistema econômico. As três perguntas fundamen-tais são:

• O que produzir? • Para quem?• Como produzir?

3.1 CONCEITO DE SISTEMA ECONÔMICO

De um ponto de vista global, no Brasil a economia funciona de uma forma diferente daeconomia de outros países, como os EUA, Rússia ou Etiópia. A forma de comprar evender determinados bens, os impostos que se tem de pagar, o tipo de maquinariautilizada pelas empresas, e muitas outras coisas são diferentes. Podemos, também, dizerque, salvo as diferenças, nossa economia se parece mais com a de uns países (porexemplo, Argentina) do que com a de outros (por exemplo, Cuba).

Essas diferenças ou semelhanças no funcionamento global da economia sãoexplicadas pelos economistas, que utilizam o conceito de sistema econômico.

• Sistema econômico é o conjunto de relações técnicas, básicas e institu-cionais que caracterizam a organização econômica de uma sociedade.

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Capo 3 O conceito de sistema econômico 39

Essas relações condicionam o sentido geral das decisões fundamentaisque se tomam em toda a sociedade e os ramos predominantes de suaatividade.

Todo sistema econômico deve tratar de responder às três perguntas seguintes:

Que bens e serviços produzir e em que quantidade? Deve-se escolherentre mais estradas ou mais hospitais ou deve-se produzir mais alimentosou mais bens de capital (Figura 3.1).

Como produzir tais bens e serviços? Toda sociedade deve determinarquem vai ser responsável pela produção, que meios e técnicas serão empre-gados e quais serão os métodos e organização seguidos no processo produ-tivo.

Para quem produzir, ou seja, quem consumirá os bens e serviços pro-duzidos? Como vai se distribuir o total da produção nacional entre osdiferentes indivíduos e famílias.

1 2 3 4 5 6Canhões (milhares de unidades)

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Figura 3.1 o que produzir: canhões ou manteiga?

A curva ou fronteira de possibilidades de produção (ver Figura 1.1) mostra acombinação de dois bens, "canhões" e "manteiga", que podem ser produzidosem uma economia, dadas as limitações dos fatores produtivos (terra, trabalho ecapital). Os diferentes sistemas econômicos dispõem de mecanismos diferentespara escolher a opção considerada mais oportuna, porém sempre dentro doslimites que fixam a fronteira de possibilidades de produção.

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40 Introdução à Economia Capo 3

Para responder às perguntas anteriores, existem basicamente dois mecanismosou sistemas: o sistema de mercado e o sistema de planificação central. Em qualquercaso, deve-se salientar que o sistema econômico define o compasso do desenvolvimentoe da sociedade em seu conjunto. Seria um erro pensar que as comunidades escolhemum dos sistemas e os adotam de uma vez por todas. A opção por um sistema ou outro éfruto de todo um processo histórico, sendo, portanto, complexa a análise dos fatores quedeterminam a escolha de um sistema econômico por uma comunidade.

3.2 OS SISTEMAS ECONÔMICOS E AS TROCAS

Além da produção e do consumo, existe outra atividade que é comum em qualquer sis-tema econômico e que tem grande importância: as trocas. A forma de adoção das trocasé diferente em cada sistema. Elas são colocadas no sistema ao longo do tempo, porém alógica econômica que as gera é algo comum. Um indivíduo ilhado deve obter, por simesmo, tudo o que necessita; seu consumo estará restrito ao que existe ao seu alcanceou ao que pode ser transformado por seus próprios meios.

Cada sujeito geralmente possui habilidades e recursos diferentes dos demais edeseja consumir bens diversificados. Por isso, a tendência natural é colocar-se em con-tato entre si para trocar aquilo que se possui em abundância pelo que não se tem e bene-ficiar-se mutuamente pelo intercâmbio.

O intercâmbio é vantajoso porque ambas as partes "saem ganhando", já quepodem especializar-se na obtenção de uns poucos bens, aumentando sua eficiência, istoé, obtendo mais por unidade de esforço. O intercâmbio faz possível a especialização e adivisão de trabalho, e esta contribui para a eficiência, entendida como a obtenção domaior volume de produção possível com a menor quantidade de recursos.

A divisão de trabalho em várias fases permite:

a) a especialização;

b) maior capacidade de cada operário; e

c) a introdução de ferramentas e maquinarias específicas.

Todos esses fatores favorecem o aumento da produção por pessoa.

Um exemplo famoso na literatura econômica e que evidencia as vantagens dadivisão de trabalho é o apresentado por A. Smith (1776) (ver pág. 61) em sua obra A Ri-queza das Nações. Esse exemplo se refere à descrição da fabricação de alfinetes. A.

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Cap.3 O conceito de sistema econômico 41

Smith argumenta que um trabalhador não especializado na fabricação de alfinetes, etrabalhando de forma isolada, dificilmente poderia fabricar mais de 20 alfinetes por dia._-a prática, os operários que fabricavam alfinetes eram especialistas, pois na produçãode alfinetes, há diferentes operações. Uma pessoa preparava o fio metálico, outra endi-reitava-o, outra cortava-o, uma quarta afiava-o ... O resultado era que dez pessoaspodiam fabricar mais de 48.000 alfinetes ao dia, de forma que cada trabalhador produ-zia 4.800 alfinetes.

Esses incrementos na produção, por trabalhador, não se faz porque cada indi-víduo está particularmente adaptado à atividade que desempenha, e sim porque a divi-ão de trabalho permite a especialização dos trabalhadores e a introdução de maquinariaingular.

A especialização e a divisão do trabalho precisam de um sistema em que osindivíduos possam vender os seus excedentes e adquirir o que necessitam. A forma maisprimitiva de intercâmbio é a troca. Por meio dela, cada indivíduo pode trocar um bempor outro.

3.2.1 A TROCA

A troca significa uma transação em que dois indivíduos permutam bens entre si (Esque-ma 3.1). Eles se desfazem do produto que possuem em excesso e adquirem os produtosde que necessitam.

Suponhamos o caso de um agricultor: o normal é ele possuir mais produtosagrícolas. Para variar sua alimentação, provavelmente desejará adquirir carne. Para que seproduza um intercâmbio, o agricultor deverá encontrar um criador que esteja disposto aaceitar uma certa quantidade de produtos agrícolas em troca de uma parte de sua criação.

IAgr,cultor:

Esquema 3.1 O escambo.

No escambo, as trocas são realizadas sem dinheiro. Um agricultor que desejacarne tem de encontrar um criador que esteja disposto a desfazer-se de seugado em troca de trigo.

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TEXTO DE APOIOA troca: do boi à eletrônica

sa na de sua mesa cabeceira. Pelo telefonedo avião, liga para Washington, pagando aconta com cartão de crédito. Obtém, dessaforma, uma informação e um recibo da co-brança, em dólares.

Entre ambos os episódios transcorre-ram 3.000 anos, porém esse largo períodoentre o boi e a eletrônica, no fundo, já haviacomeçado antes. Iniciou-se com a troca demercadorias, continuou com o pagamento oua entrega em espécies - animais em troca deuma armadura - e acaba com a anotação ele-trônica em conta corrente - dólares por ser-viço telefônico. A troca de mercadorias e odinheiro eletrônico, quase imaterial (só étangível o comprovante de papel), cumprema mesma função: são a contrapartida daaquisição de um bem ou serviço; servempara pagar.

Estamos diante da muralha de Tróia, numensolarado meio-dia do século XII antes deCristo. Do batalhão de ataque sai Diomédes,o líder de Argos. Surge da cidade sitiada ochefe lício Glauco. Em meio ao silêncio, de-safiam-se mutuamente para um duelo. Pormeio de longos discursos, descobrem anti-gos vínculos familiares que os obrigam, he-reditariamente, a dispensar hospitalidademútua. O incidente sangrento previsto acabaem ritual de amizade; os dois guerreiros tro-cam suas armaduras como futebolistas deuma sociedade pós-industrial. A armadurade Diomédes feita em bronze, como informaHomero quatro séculos depois, custou novebois, e a de seu adversário, de ouro, cem.

Mudando de cena. Estamos num vôotransoceânico que saiu de Tóquio, em 1997.Um viajante japonês esqueceu alguma coi-

A troca realizada dessa forma tem sérios inconvenientes. Por um lado, levariamuito tempo, já que exige que cada indivíduo encontre alguém disposto a adquirir pre-cisamente o que ele pretende trocar; ou seja, a troca requer uma coincidência de neces-sidades. Outro inconveniente da troca deriva da indivisibilidade de alguns bens. Quandoenvolvem muitos participantes, as trocas tornam-se muito complexas e as limitaçõesbásicas das trocas - coincidência de necessidades e indivisibilidade - fazem com queela seja praticamente inviável.

3.2.2 AS TROCAS E O DINHEIRO

As limitações desaparecem quando as trocas são realizadas com a intervenção do di-nheiro (veja Seção 14.2).

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Capo 3 O conceito de sistema econômico 43

• Dinheiro é todo meio de pagamento aceito que pode ser permutado porbens e serviços, além de ser utilizado para saldar dívidas.

Com o aparecimento do dinheiro, as trocas tomaram-se mais fáceis e efi-cientes, pois não era mais necessária a coincidência de necessidades. O criador, porexemplo, pode trocar suas rezes por dinheiro e o mesmo pode fazer o agricultor. Ambossatisfarão suas necessidades sem se preocupar se alguém deseja precisamente aquiloque eles pretendem trocar (Esquema 3.2). O dinheiro faz com que desapareça a estreitarelação bilateral entre os participantes no mercado e, também, elimina os problemasderivados da indivisibilidade.

Trigo)

CriadorNecessita vendercame e comprar

trigo

AgricultorNecessita vendertrigo e comprar

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Fluxo monetário

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Li:

Ferreiro'Necessita venderarado e comprar

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____ Fluxo de bensFluxo monetário

Esquema 3.2 Intercâmbio com dinheiro,

o dinheiro tomou possível a realização de transações multilaterais entre muitosparticipantes. No exemplo considerado, o agricultor recebe um arado doferreiro, mesmo que este não necessite de trigo.

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44 Introdução à Economia Cap.3

Resumo

Conceitos básicos

Entende-se por sistema econômico oconjunto de relações básicas, técnicas einstitucionais que caracterizam a organi-zação econômica de uma sociedade. Essasrelações condicionam o sentido geral dasdecisões fundamentais tomadas em toda asociedade e os ramos predominantes de suaatividade. Os sistemas econômicos estãoevoluindo com o tempo, fazendo-se cadavez mais complexos.

• Todo sistema econômico deve tratar dedar resposta a três perguntas: o queproduzir? como produzir? e paraquem produzir? Para responder a

Sistema econômico.

Sistema (ou economia) de mercado.

Sistema (ou economia) de planificaçãocentral.

essas perguntas, existem basicamentedois mecanismos de sistemas: o de eco-nomia de mercado e o de planifica-ção centralizada.

• As trocas existem porque trazem vanta-gem para os seus participantes. Possibi-litam a divisão de trabalho e dela derivama especialização e a possibilidade de em-pregar maquinarias. Ambos feitos propor-cionam aumento da produção por pessoa.Quando se introduz o dinheiro, o inter-câmbio toma-se muito mais fácil erápido.

Troca.

Especialização.

Divisão de trabalho.

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Questões

1. Quais são as perguntas a que todo sis-tema econômico deve responder?

2. O que se entende por troca?

3. Que efeitos tem sobre a produção porpessoa a divisão de trabalho? Por quê?

4. Seria possível a especialização semtrocas?

S. O que se entende por dinheiro?

6. Quais são os inconvenientes da troca?

7. A troca permite transações multilate-rais?

8. Que vantagem traz o dinheiro às trocas?

9. As figurinhas poderiam ser utilizadascomo dinheiro em um colégio?

NOTA SOBRE O PENSAMENTO ECONÔMICOA escola físíocrata

significa liberdade para a atividade mercan-til e comércio exterior livre.

Para os fisiocratas, a agricultura era oúnico setor genuinamente produtivo da eco-nomia capaz de gerar excedentes, dos quaisdependiam todos os outros setores. Por isso,preconizavam a melhora dos sistemas decultivo, para aumentar a produtividade daagricultura. Dessa forma, aumentaria a pro-porção destinada aos proprietários de terra, oque posteriormente faria aumentar a deman-da de produtos dos artesãos e a riqueza danação. Para os fisiocratas, a riqueza de umanação dependia de sua capacidade de pro-dução e não de suas reservas de ouro e prata.Começam aqui os estudos sobre forças reaisque permitem o desenvolvimento eco-nômico.

Os primeiros intentos de sistematização daciência econômica se devem aos fisiocratas.Os fisiocratas elaboraram uma doutrina na-tural da vida econômica. Preocuparam-seespecialmente com a circulação ou distri-buição do produto social.

Os fisiocratas argumentavam que oprincipal direito do homem consiste em des-frutar dos resultados de seu trabalho, sempreque tal direito possa harmonizar-se com odos demais. Daí a idéia de que os governosnão devem interferir nos assuntos econômi-cos mais do que o imprescindível para prote-ger a vida e a propriedade e para manter aliberdade de contratação.

Nesse sentido, atribui-se ao francês Vin-cent de Fournay (1712-1759) a famosa fra-se laisse; [aire, laisse: passer, que