internamento em hospital de...
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INTERNAMENTO EM HOSPITAL DE DIAAmélia Aleixo & Inês Coelho
HOSPITAL DE DIA - HISTÓRIA
Movimento de desinstitucionalização
Crescimento na Europa durante os anos 40 e 50
Grande expansão, pico nos anos 70
1920’s USRR
1933 Moscovo – URSS, Dzhagarov
1946 Montreal – Canadá, Allan Memorial Institute Redução do tempo de internamento
1948 Yale, EUA, Menninger Clinic
Redução do tempo de internamento para redução de custos
Terapia ocupacional
HOSPITAL DE DIA - HISTÓRIA
“O tratamento deve incluir todo o envolvimento social do doente e todas as suas relações sociais.
[O doente] deve ser tratado não só como uma pessoas mas também como parte de uma comunidade”
Bierer, Lancet, 1959
Surge como:
• Alternativa para doentes agudos, oferecendo cuidados holísticos
• Continuidade de cuidados
• Ênfase no aspecto social e em grupos terapêuticos
• Trabalho na progressiva readaptação à vida na comunidade
• Manutenção das ligações com a família.
HOSPITAL DE DIA - PRINCÍPIOS
Programa de “internamento parcial” Estruturas de funcionamento diário que oferecem cuidados psiquiátricos multidisciplinares
Integração de tratamento farmacológico, psicoterapêutico e socioterapêutico num serviçomultidimensional que inclui intervenção na crise
Características dos doentes como principal determinante do tipo de programas de tratamento
HOSPITAL DE DIA - PRINCÍPIOS
PRINCÍPIOS SUGERIDOS PARA TRATAMENTO DE AGUDOS:
Doentes devem realmente precisar de intervenção na crise
Numero definido de vagas, sem lista de espera
Equipa multidisciplinar
Boa comunicação entre o hospital de dia e estruturas comunitárias
De 2ª a 6ª (fins-de-semana opcionais), de manhã à tarde
Tratamento baseado em actividades de grupo
Intervenções individuais disponíveis (biológica, psicológica e social)
Instalações separadas do internamento de agudos
Critérios de exclusão
Benefício em multipatologia dentro dos doentes em internamento
HOSPITAL DE DIA - OBJECTIVOS
Doente em crise:
Fase aguda da doença
Continuação de tratamento iniciado em internamento de agudos
Dificuldade na estabilização em contexto de ambulatório
Resistência a tratamento
HOSPITAL DE DIA - EQUIPA MULTIDISCIPLINAR
Psiquiatras
Psicólogos
Enfermeiras especializadas
Terapeutas ocupacionais
Assistente social
Dançaterapeuta
Farmacêutica
HOSPITAL DE DIA – PARA QUEM?
(Lopes et Curral, 2012; Marshall et al., 2001)
Tipologia
Unidade de Agudos
Unidade de Transição
Unidade “Centro de
Dia”
Unidade de Reabilitação
Orientação
Psicodinâmica
Comportamental
Socio terapêutica
HOSPITAL DE DIA – ABORDAGEM MULTIDISCIPLINAR
Avaliação diária por equipa multidisciplinar
Diferentes abordagens para uma mesma finalidade
Apoio ao doente em diferentes vertentes
Estimulação de Capacidades
• Cognitivas (p.e. planeamento, pensamento abstracto)
• Emocionais
• Competências sociais (com pares e técnicos)
• Resolução de problemas sociais (p.e. finanças, trabalho…)
• Criativas
• Actividades da vida diária
• Expressão corporal (p.e. dança, relaxamento…)
Monitorização mais próxima
HOSPITAL DE DIA- PERCURSO
Diferentes etapas da doença (p.e. Perturbações afectivas)
Avaliação completa – rastreio, exames complementares, referenciação
a especialidades (Neurologia, Endocrinologia, Medicina Interna, etc)
Avaliação da adesão terapêutica
Resposta à terapêutica
Efeitos adversos (peso, perímetro abdominal, parâmetros metabólicos
e hemodinâmicos)
Adaptação(Integração)
Avaliação (Observação)
Terapia(Intervenção)
ConsolidaçãoPreparação
da altaAlta
1-2 semanas 2-6 semanas 3-9 semanas 2-6 semanas 1-2 semanas3-9 semanas
Informação de admissão
Referenciação
Atribuição de Terapeuta de Referência
História Clínica / Personalidade / Escalas Específicas / Avaliação Neuropsicológica / Diagnóstico Temporário
Informação de alta
Cuidados de Ambulatório
Referenciação a programas específicos
Avaliação inicial, intermédia e final:
SCL90R
BPRS
MCDTs
Auto-avaliação
PIT
Diagnóstico
HOSPITAL DE DIA - PERCURSO
Entrevistas mais longas e mais frequentes,
incluindo outros técnicos e membros da família
HOSPITAL DE DIA – CUIDADOS NO PÓS-ALTA
Hospital
de Dia
Cuidados de
ambulatório
Equipa
Domiciliária
Grupos
Psicoterapêuticos
Grupo pós-alta
Grupo de Famílias
EQUIPA MULTIDISCIPLINAR - REUNIÕES CLÍNICAS
Periódicas, com discussão de todos os casos clínicos
Terapeuta de Referência: revisão da evolução do caso
Outros membros da equipa de saúde mental: informação acerca dos utentes nas suas
actividades, ficam a par do trabalho dos colegas
Cada membro da equipa participa activamente no processo de tomada de decisão
Coordenada por um membro da Equipa, geralmente psiquiatra
EQUIPA MULTIDISCIPLINAR - DESAFIOS
Interligação entre a equipa
Resolução de conflitos
Estabilidade da equipa
Burnout
Liderança
Ênfase a diferentes aspectos do modelo bio-psico-social
Consenso
EQUIPA MULTIDISCIPLINAR - CONCLUSÃO
Modelo de trabalho “user friendly”
Vantagens para todos os membros
Utentes
Continuidade de cuidados
Abordagem holística
Contacto com diferentes profissionais
Técnicos
Divisão do trabalho
Apoio mútuo
Complementariedade entre técnicos
HOSPITAL DE DIA - EVIDÊNCIA
Poucos estudos e problemas metodológicos, difícil organizar estudos
Estudos tendem a focar-se em organização e factores económicos
Efectividade depende da rede de cuidados medicos e apoio social
Estudos controlados multicêntricos são muito dispendiosos e depedentes da política
HOSPITAL DE DIA –DIFERENÇAS PARA INTERNAMENTO DE AGUDOS
Dos estudos realizados….
Evidência custo-benefício é o achado mais consistente
Custos representam 20-40% do tratamento convencional
Alternativa menos restritiva para o doente
23% internamentos em agudos poderiam ser em Hospital de Dia
Integração em hospital de dia produz resultados clínicos semelhantes a internamento de agudos
Maior efectividade no aspecto social
Maior evidência pa ideação suicida
Taxa de reinternamentos muito semelhante
HOSPITAL DE DIA –DIFERENÇAS PARA INTERNAMENTO DE AGUDOS
MAIOR SATISFAÇÃO!
Redução da sobrecarga na
família
Doentes e famílias mais
satisfeitos
Melhoria do funcionamento
social
Subjectivamente maior
qualidade de vida
Com a aprendizagem
Com o ambiente
Com o tratamento
E PORQUÊ?
Factores Inespecíficos
Ambiente protegido
Socialização
Preservação da vida
familiar e social
Menor estigmaExercício físico
/ Higiene
Entreajuda
Cronoterapia
Factores Específicos
Supervisão
Tratamento Farmacológico
Colaboraçãocom o
tratamento
Técnico de Referência
Psicoterapia
Psicoeducação
Estimulação
E PORQUÊ?
CASO CLÍNICO
Identificação:
R.R., Sexo feminino, 22A
Estudante de Psicologia na Univ. Aveiro, a frequentar estágio profissional em Coimbra
Vive numa residência de estudantes
Antecedentes Pessoais:
Gravidez gemelar não planeada nem desejada, vigilância a partir dos 5 meses
Sem outros antecedentes não psiquiátricos relevantes
Antecedentes Familiares:
Pais separados há 4 anos, mãe e irmã vivem em Bruxelas e pai na região de Lisboa
Suicídio do tio materno por episódio depressivo
Nega história de outra doença mental na família
Hábitos:
Consumo regular de canabinóides "para relaxar" (sic ) desde a entrada na faculdade
CASO CLÍNICO
2009
Quadro com 1 semana de evolução compatível com surto psicótico
“Ideação delirante paranóide, referindo que os telemóveis eram vigiados, que ouviam as suas conversas, discurso por vezes vago e perseverante, grande instabilidade
emocional, inquietação psicomotora e insónia total”
Internamento (5dias) no CHBV seguido de integração em HOSPITAL DE DIA durante um mês
Remissão da sintomatologia sob Aripiprazol 15mg, após ter realizado outros antipsicóticos com reacções adversas "tremor, alguma rigidez, dificuldade
em falar“
Recuperação do nível prévio de funcionalidade, iniciou curso superior, inicia uso regular de canabinóides
Acompanhamento regular em Consulta Psiquiatria –> estabilização clínica
2012
Suspende medicação sem intercorrências ou recorrência de sintomatologia
Sem antecedentes de história psiquiátrica até aos 16 anos
CASO CLÍNICO
NOVEMBRO 2014 OUTUBRO 2015JUNHO 2015
Pai refere: “Sentia que interpretava os olhares dos outros
como se a estivessem a observar, que à volta do prédio
andava gente atrás dela, muita angústia e medo ”
SU - CHUC "interpretações delirantes, medo de sair de casa,
angústia, anorexia e insónia”
SEGUIMENTO EM CONSULTA
Sintomatologia paranóide residual e episódica
Sem impacto funcional
[provável contexto de consumos de canabinóides]
Acrescenta à terapêutica Risperidona 4mg
Novo agravamento após viagem a Bruxelas com a família
“Começou a tirar fotografias inabituais, muito ansiosa,
perdeu os documentos"
No voo de regresso “muito inquieta, angustiada”, discurso
muito vago e pouco percetível
“Tinha energia a mais, muito contente. Noites sem dormir,
desorganizava o quarto”
Autoagrediu-se "ela tinha as pernas com nódoas negras“
Falava sozinha parecendo estar numa conversa,
verbalizava que estariam a persegui-la
Integração em HOSPITAL DE DIA com melhoria rápida:
Regularização do ciclo sono vigília
Diminuição das interpretações delirantes
Menores níveis de ansiedade e angústia
Medicada à data de alta com Aripiprazol 15mg
CASO CLÍNICO
OUTUBRO 2015 NOVEMBRO 2015
Pouco colaborante
Agitação psicomotora
Desinibição e hiperfamiliaridade
Grita e canta no gabinete
Elação do humor
Discurso com aumento do débito, por vezes
impossível de ser interrompido
Perda da tendência determinante do pensamento
Canabinóides na urina positivos
SERVIÇO DE URGÊNCIA INTERNAMENTO CHPL
Terapêutica:
Ácido Valpróico 1000mg/dia
Aripiprazol 20mg/dia
Zolpidem 10mg SOS se insónia
Analiticamente:
Hipomagnésemia + Hipocalcémia + Hipotiroidismo
(TSH: 6,49; T4L: 0,1)
Reposição de magnésio
Inicio de Levotiroxina 0.025
Melhoria clínica progressiva:
Melhor organização do discurso e do pensamento
Maior adequação comportamental
Humor eutímico, com reactividade afectiva preservada
Crítica parcial para a sua situação clínica
Recuperação em HOSPITAL DE DIA antes de regressar ao seu
trabalho e para maior consciencialização sobre a doença.
CASO CLÍNICO
NOVEMBRO 2015 DEZEMBRO 2015 JANEIRO 2016
Subjectivamente melhorada
"estou mais organizada...consigo fazer as coisas de
manhã... não quero voltar ao que era, até tenho
vergonha...“(sic)
Afrouxamento associativo
Novo controlo analítico:
Valproatémia - 90.5
Bilirrubina - 1.25
Hipotiroidismo
Muito sonolenta e lentificada
Switch de Ácido Valpróico para Lítio
Boa integração em Hospital de Dia Bradicinesia com dificuldade na motricidade fina
Tremor ligeiro
Posição distónica dos MS
Hipomímia
[Interpretado após observação em consulta de Neurologia
como Tremor Essencial agravado por neurolépticos]
Switch de Aripiprazol para Amisssulprida
TC-CE (22.12.2015)
"assimetria nas dimensões dos ventrículos laterais por maiores
dimensões das cavidades do ventrículo lateral esquerdo".
[Interpretação de Neurologia como variação do normal,
sem relevância clinica]
TSH: 7,36 - Aumento dose Levotiroxina 0,050
Clinicamente melhorada:
Sono regularizado
Humor eutímico
Melhor do movimento
Pensamento organizado
Critica parcial
HD: DOENÇA BIPOLAR
Alta encaminhada a:
Consulta Psiquiatria
Consulta de Psicologia
Consulta de Neurologia
Consulta de Endocrinologia
CASO CLÍNICO
Caso ilustrativo de benefícios da integração em Hospital de Dia:
Redução do tempo de internamento
Continuidade de cuidados e recuperação sintomática no pós-alta
Redução do impacto dos sintomas
Vigilância de eventuais efeitos secundários dos psicofármacos ou intercorrências e gestão dos mesmos em tempo útil
Promoção de maior consciencialização e aceitação da doença
Promoção da integração social
Apoio emocional e preparação para o regresso ao trabalho
REFERÊNCIAS
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The Cochrane Librar, (12).
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•Derogatis, L. R. (1975). The SCL-90-R. Baltimore: Clinical Psychometric Research.