grou branco

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Associaªo de Artes Marciais Yang Portugal Boletim n” 8 - Abril 2005 YMAA Portugal boletim As Razes do Grou Branco de Shaolin

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Page 1: Grou Branco

A s s o c i a ç ã o d e A r t e s M a r c i a i s Y a n g P o r t u g a l B o l e t i m n º 8 - A b r i l 2 0 0 5

YMAAPortugalboletim

As Raízes doGrou Branco de Shaolin

Page 2: Grou Branco

n º 8 - A b r i l 2 0 0 5

b o l e t i m Y M A A P o r t u g a lna capa : Dr. Yang Jw ing -M ing em vá r ias pos tu ras

do Grou Branco .

D i r e c t o rVí to r Casque i ro

E d i t o rJo rge R ibe i ro

L a y o u t e P r o d u ç ã oJo rge R ibe i ro e R ica rdo Guer re i ro

Tr a d u ç ã oEdgar Perd igão , Hugo de A lme ida

e Pedro Rodr igues

F o t o g r a f i a e D i g i t a l i z a ç ã oJo rge R ibe i ro , Pau lo Segadães ,

R ica rdo Guer re i ro e R ica rdo Rodr igues

R e v i s ã oAna Gama

C o n t r i b u i ç ã o d e Te x t o sAlmada * R ica rdo Carva lhosa

Amadora * Edgar Perd igão , Hugo A lme ida ePedro Rodr igues

Cor ro ios * R icardo Guer re i ro

L i sboa * C laud ia Cad ima

A g r a d e c i m e n t o sDrª I sabe l Sampa io do Cen t ro de Acupunc tu ra

Isabe l e L iu

I m p r e s s ã oCent ros de Cóp ia A rco I r i s (Apo lo 70 )

A p o i o sCâmara Mun ic ipa l da Amadora

Cen t ro de Acupunc tu ra I sabe l e L iuCen t ros de Cóp ias A rco - I r i s

O bo le t im YMAA é pub l i cado semes t ra lmen te .A pub l i cação es tá também d ispon íve l na i n te rne tno s i t e com o ende reço www.ymaapo r tuga l . com

Y M A A N e w s Ve r s ã o O r i g i n a lDi rec to r Dr. Yang , Jw ing -M ing

Ed i to r e Layou t Dan Wood

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Abril2 e 3 - Seminário de Primavera - Dr. Yang - Almada

VIII Campeonato Regional Sul - FPAMC - Lisboa23 a 25 - II Acampamento AAMYP - Odemira

MaioXIII Campeonato Nacional - FPAMC

Junho5 - V Estágio de Competição - Almada

Julho3 - IX Estágio Nacional AAMYP - Almada

Agosto5 a 14 - VI Summer Camp - Costa da Caparica

19 a 2 - Summer Camp - Califórnia - EUA

Setembro11 - VI Estágio de Competição - Almada

Outubro25 a 31 Seminário de Outono - Dr. Yang - Almada

NovembroV Taça de Portugal - FPAMC

DezembroIII Gala YMAA - Festival Kung Fu - Amadora

Agenda

- Sumário -- Sumário -- Sumário -- Sumário -- Sumário -

2 Prefácio

3 Notícias e Eventos

4 Cartas e Pontos de Vista

5 Taiwan, Professores e Treino - II Parte

9 As Raízes do Grou Branco de Shaolin

16 Item de Estudo

17 O Qigong das 4 Estações - Verão

Page 3: Grou Branco

boletim AAMYP Abril 20052

A amizade é construída sob a égide de uma confiança mútua. Uma vez perdida essa confiança, a relação será abalada ou completamente destruída. É

costume dizer-se que são necessários vários anos paraconstruir uma relação sólida e de confiança, mas poderábastar apenas uma noite para a destruir por completo.

Uma vez ferida ou mesmo destruída, essa relação,poderá necessitar de vários anos para se restabelecer.Todos nós temos vários amigos, mas a questão é saber oquão real são as relações que com eles temos. Será que arelação apenas existe por causa de benefícios mútuos? Seráa relação um meio para nos ajudar a alcançar e a realizaras nossas ambições? Se estas são as causas, uma vezdesaparecido o propósito que lhe deu origem também aamizade desaparecerá.

Confiança mútua é o padrão pelo qual podemos julgara profundidade da amizade. Quando pela primeira vez nostornamos �conhecidos� de um novo amigo, quão aberto,quão de confiança e quão sinceros são os sentimentos quepartilhamos?

É difícil encontrar bons amigos nos quais valha realmentea pena confiar e quando isso acontece, é uma dádiva quedevemos manter a todo o custo.

A amizade não se constrói no interesse mútuo. A amizadedeve ser entendida como uma oportunidade para partilhara vida e a espiritualidade.

Na cultura chinesa crê-se que numa vida inteira,poderemos encontrar apenas um ou dois amigos, noverdadeiro sentido da palavra e quando tal acontece avida torna-se magnifica. Os bons amigos irão dizer-tequando fizeres algo errado ou estúpido, mesmo que paraisso tenham que por a amizade em perigo. Bons amigosnunca irão hesitar em partilhar os louros e as lições de vidaque forem colhendo ao longo das suas vivências. Nunca teirão trair em prol da sua própria glória ou dignidade. A

amizade verdadeira é estabelecida pelo cuidado ecompreensão mútua.

Mesmo quando pensamos ter encontrado verdadeiraamizade, devemos ter em atenção uma coisa muitoimportante: as pessoas mudam, umas vezes devido a novosambientes, outras devido a novas formas de pensar. Nestescasos, novas ideias ou sonhos irão nascer substituindooutros mais antigos.

Muitas vezes e para nos protegermos, devemosaprender como nos ajustar às novas situações. As nossasideias e padrões de amizade estão constantemente a mudar.Assim, manter uma amizade de confiança verdadeira porum longo período de tempo, não é uma tarefa nada fácil erequer muita dedicação.

Na minha opinião devemos apreciar sempre as amizadesque temos e enquanto as temos. Devemos estar semprepreocupados com os sentimentos e a situação dos outros.Mesmo quando a relação muda, e enfraquece, ossentimentos de uma amizade verdadeira irão continuar eperdurar pelos tempos.

Foreword do YMAA News de Março de 2000Traduzido por Hugo de Almeida

Dr. Yang, Jwing-Ming Prefácio

Page 4: Grou Branco

boletim AAMYP Abril 20053

II Festival de Kung FuNo passado dia 12 de Dezembro realizou-se a 2ª edição

do Festival de KungFu, um evento organizado pela Associaçãode Artes Marciais Yang Portugal (AAMYP). Assim, pelo 2ºano consecutivo o Teatro D. João V, na Damaia, recebeumais uma grande demonstração de Artes Marciais Chinesas.

Durante quase duas horas foi possível ver um pouco doque se faz nesta modalidade em Portugal, contando assimcom a participação de atletas da AAMYP e da AssociaçãoPortuguesa de Kung Fu Xuan Wu (APKFXW).

Os preparativos iniciaram-se cedo, tendo os atletascomparecido no recinto às 10h para um ensaio geral. Todosos participantes tiveram assim a oportunidade de se ambientarao cenário e de adaptarem as suas rotinas à área dedemonstração, de forma a assegurar uma actuação livre depercalços. Durante este período procedeu-se ainda àpreparação da sala e ao escalonamento das actuações.Seguiu-se a pausa para almoço e descanso, após a qual teriainício o grande evento.

Pelas 15h30 e após acomodadas as várias dezenas deespectadores que afluiram ao D. João V, iniciou-se então oespectáculo. As actuações sucediam-se no palco. Os atletasda AAMYP demonstraram vários elementos dos estilos PunhoLongo, Grou Branco e Taijiquan, sendo de particular nota assequências a dois apresentadas por Pedro Rodrigues e VítorCasqueiro, os dois representantes da AAMYP com maiorgraduação no nosso país. Também os alunos da APKFXWnos presentearam com excelentes demonstrações, não só dassuas rotinas Tradicionais mas também na àrea do WushuModerno. Esta modalidade, assim como o SanShou (combatedesportivo, demonstrado por elementos da AAMYP), gozano momento de um grande aumento de popularidade dada aforte probabilidade de ser aprovada como ModalidadeOlímpica para os Jogos de 2008, em Pequim.

Uma vez mais e avaliando pela resposta do público e atletasem partes iguais, o evento foi um êxito. No entanto, na opiniãodo autor, sempre que se conseguir reunir semelhante grupode pessoas com paixão pelas Artes, praticantes ou não, oêxito estará sempre assegurado � resta-nos portanto aguardarpelos próximos Festivais e dar o nosso melhor para que possamcontinuar a crescer, sempre.Ricardo Carvalhosa

Seminário Internacional de Treino deJovens

Realizou-se no fim-de-semana de 6 e 7 deNovembro de 2004, na Torre do Tombo, mais umSeminário Internacional sobre Treino de Jovens com omote �Num desporto com valores, preparar ofuturo� que reuniu vários especialistas nacionais eestrangeiros. Como habitual, a Associação de ArtesMarciais Yang Portugal (AAMYP) foi representadapor quatro membros. Integrado no programa �Jovensno desporto - Um pódio para todos� e realizado peloInstituto do Desporto de Portugal (IDP), temconquistado importância desportiva entre crianças ejovens.

O seminário decorreu num ambiente sereno, no qualos oradores expuseram as suas recentes pesquisas eteorias relacionadas com o tema em questão. Foifornecido material de apoio a todas as apresentaçõespara um melhor acompanhamento e compreensão dosassuntos discutidos.

As sessões embora sobre o mesmo tema, focaramdiferentes aspectos. Desde a preocupação peloplaneamento e realização dos programas de treino,passando pela motivação e o papel do treinador naaprendizagem e respeito pelos valores no desporto, atéàs influências negativas do treino de carga excessivae aos benefícios do treino coordenativo em idadesprecoces. Todas as sessões se interrelacionaram.

O pontos altos do seminário foram protagonizados,na minha opinião, por dois dos oradores: o Prof. JurgenWeinec e o Prof. Jim MacClements, ambos com umvasto currículo na matéria e demonstrando com aprofundidade das suas apresentações a razão pela qualsão internacionalmente conhecidos.

Weinec presenteou-nos com fabulosas apresentaçõesrepletas de vídeos com os exemplos práticos da aplicação dassuas pesquisas, enquanto que MacClements, um verdadeiroteórico, realizou duas excelentes apresentações num estilo queem muito me fez lembrar o Mestre Yang.

No exterior do auditório estavam à disposição bancadascom a mais recente literatura sobre desporto e um agradávelbuffet onde os participantes puderam dividir as suas atenções.

Nesta interessante experiência tive a oportunidade deconhecer novos conceitos e rever outros com diferentes pontosde vista. Pude observar noutra perspectiva todo o meupercurso como desportista e analisar muitos dos erros quecometi, bem como, a competência para o ensino de muitosdos treinadores que tive. Na tentativa de melhorar as minhascapacidades, tanto de atleta como de treinador, decidi investiralgum dinheiro em literatura sobre este tema.

Embora que os temas abordados neste seminário sedirigissem aos desportos mais conhecidos, vi muitos dosconceitos terem uma excelente aplicação nas Artes Marciais.A autodisciplina, o respeito pelos outros, o papel do treinador,entre outros, são pequenos exemplos desta estreita ligaçãoque promove uma vida saudável e nos leva aos limites doconhecimento.

Agradeço assim à nossa Associação o investimento quetem vido a efectuar na formação dos seus atletas. Estou certoque para o ano, com o mesmo rigor, nos faremos representarnovamente.Ricardo Guerreiro

Canto Sup. Esq. - Quatro Intervinientes (Treino de Jovens)Canto Sup. Dir. - Bancada de Livros (Treino de Jovens)

Canto Inf. Esq. - Grupo com Diversas Posições (II Festival de Kung Fu)Canto Inf. Dir. - Forma de Punho contra Bastão (II Festival de Kung Fu)

NOTÍCIAS

E

EVENTOS

Page 5: Grou Branco

boletim AAMYP Abril 20054

Aprender a Não Ser �Alguém�, é Aprender a Ser �NósPróprios�

Um dia fui ver um combate de Taekwondo. Entre crianças.Fiquei muito impressionada. Não foi o desempenho deles queme causou este sentimento. Não foi a técnica que aqueles seresainda pequenos já tinham indubitavelmente desenvolvido...não era a destreza que apresentavam.

Fiquei impressionada com o olhar de ódio que já traziamdentro deles. Com os nervos que ainda não sabiam disfarçar.A inocência que não podiam esconder. Atrás deles, com umaimpaciência que transpirava pela pele, os seus instrutores, emais afastados ainda, no meio das bancadas e para quemtivesse um olhar mais atento, distinguiam-se claramente osprogenitores daqueles que se preparavam para derrubar oinimigo.

No fundo, a sensação com que também fiquei, foi que eramos adultos, sobretudo, que deviam estar ali, mas como nãoera para a idade deles, ou como, por alguma razão nãopuderam enveredar por aquele caminho, tentavam que aquelascrianças desempenhassem os seus sonhos perdidos.

Quando levei o meu filho pela primeira vez a conhecer asua nova escola, era ele ainda muito pequenino, a directora,muito orgulhosa pela política desenvolvida no seu colégio,disse logo que �aqui, no meu estabelecimento, as criançasaprendem a entrar neste mundo competitivo�.

Ao longo dos anos vão incutindo aos estudantes umsentimento de culpa quando são derrotados e uma recompensapsicológica de forma a inferiorizarem os outros quando sãoos melhores. Quando se parte do princípio que o importante éensinar às gerações vindouras a ser o primeiro em tudo, oque vai acontecer então nas alturas em que não se consegueultrapassar os outros? Para haver alguém melhor do que osoutros é necessário que existam dois pólos: o alguém e osoutros. Porque sem os outros, o alguém não existe. E tem dehaver sempre um inferior para haver um superior...

No Taiji, não enveredei pelo lado competitivo e no entanto,compreendo perfeitamente e conheço, através de outrosdesportos, de outras artes marciais e não marciais, aadrenalina, o nervo, a satisfação de vencer, de demonstrarque somos capazes. Mas demonstrar a quem? Pergunto-me

eu... A quem se torna premente demonstrar que conseguimos,que somos capazes, que estamos à altura do que nos éproposto? Aos outros, ou a nós próprios?

A minha questão prende-se com um factor que consideromuito importante na vida e que ao fim e ao cabo são poucosos que sabem ensinar isso, que sabem passar esses valorestão importantes a quem está a crescer, a quem está a aprender:o mais importante somos nós próprios. Quando chega omomento de percebermos que estamos a demonstrarprecisamente a nós, temos uma batalha ganha, a maior detodas elas, a mais importante. A partir daí, a competição temrazão de ser, pois sabemos ter espírito competitivo. Sabemosganhar, perder, apoiar os outros, ser equipa, tudo aquilo quese perde quando pensamos apenas em vencer, nada mais.

Felizmente, na família que somos na YMAA, existe espaçopara todos. Além disso, tive a felicidade de encontrar umprofessor que sabe ensinar, com uma paciência santa, aquiloque cada um dos seus alunos precisa de aprender, no momentocerto, sem forçar e sem nunca se impôr. E fazendo eu aulasem dois lugares completamente diferentes, com o meu queridoprofessor Pedro Rodrigues, posso afirmar isso com toda acerteza. Como um verdadeiro mestre, vai oferecendo a suasabedoria a quem quiser absorvê-la, sem menosprezarninguém e sabendo incutir nos outros que não é pelo facto donosso companheiro do lado saber menos que é mau, nem épelo companheiro do outro lado saber mais que tem o direitode se sentir superior.

Para mim, a aprendizagem do Taiji foi fazendo parte domeu dia-a-dia. Não apenas os movimentos, não apenas asformas, ataques ou defesas. Saber que há um mundo porexplorar dentro de cada um de nós faz parte da vida. O Taijifaz parte da vida de quem quer ser saudável física eemocionalmente. Em cada momento podemos aplicar aquiloque aprendemos. Em cada segundo que passa, em cadasituação que se depara à nossa frente.

Felizmente, é-nos ensinado que, mesmo não ganhando�prestígio�, estamos a ganhar alguma coisa, qualquer que sejaela. Que pena que todos os professores que existem no mundonão aprendam uma coisa tão simples como esta para a poderemtransmitir...Claudia Cadima

cartas e pontos de vista

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boletim AAMYP Abril 20055

Agora que nos forneceu alguma informação fascinantesobre a sua relação com a família, com os estudos ecom o trabalho, gostaria de me focar no seu estudo dasartes marciais. O que fez com que se interessasse porelas? Por favor, conte-nos alguns detalhes sobre o seuprimeiro professor. Lembra-se como foi o primeirocontacto com ele?

Desde pequeno que me sinto atraído pelas demonstraçõesde rua de artes marciais feitas por artistas de toda a China. Aisto juntou-se o desejo de infância de me tornar num super--homem, causado pelos filmes de artes marciais. Não apenaspor isso, mas também porque nasci numa família pobre esempre que as pessoas se riam das minhas roupas, eu lutavacom elas. Não tive sapatos até entrar no liceu e usei sempreroupas cheias de remendos e buracos por todo o lado quehaviam pertencido ao meu irmão. No entanto, o factordeterminante que me levou a aprender artes marciais prende--se com a intenção de provar a mim mesmo que não precisavade ter medo ou de ser cobarde.

Durante os anos 60 a situação dos adolescentesamericanos não era diferente. A guerra do Vietname estavano ar e toda a gente tinha medo de ser recrutada. Em Taiwan,esta situação era pior, pois devido à guerra, a esperança docontra-ataque de Jiang Kaishek à China Continental cresciaoutra vez. Todos os adolescentes tinham medo de ir para aguerra, mas ao mesmo tempo não podiam mostrarem-secobardes. Sob esta espécie de desequilíbrio emocional,aprender artes marciais, pode fazer com que uma pessoa sesinta mais forte e confiante.

Em todo o caso, o problema não era só político. Não erafácil encontrar um professor de artes marciais que nosaceitasse como alunos. Quase nenhum artista marcialensinava os seus alunos a troco de dinheiro. O dinheiro nãoentrava na relação professor - aluno. Um professor ensinava

Taiwan, Professores e TreinoTaiwan, Professores e TreinoTaiwan, Professores e TreinoTaiwan, Professores e TreinoTaiwan, Professores e TreinoUma entrevista com Dr. Yang, Jwingming por Michael A. Demarco

Traduzido por Edgar Perdigão

Dr. Yang aos16 anos de idade

- 2ª Parte -

porque gostava de ensinar e um aluno aprendia porquegostava de aprender. Por exemplo: eu aprendi através de trêsmestres sem pagar um único cêntimo. Por isto mesmo, umprofessor não aceitava um aluno assim tão facilmente.Escolhiam apenas alunos dedicados e sinceros. Se eles nãogostassem de nós, expulsavam-nos pura e simplesmente, semrazão alguma. Os mestres tinham autoridade absoluta parafazer isso.

Não era a mesma coisa que hoje em dia. Qualquer umpode arranjar um professor desde que esteja disposto a pagar--lhe. O treino serve de divertimento e é um negócio. A relaçãoprofessor - aluno é muito superficial. A moralidade marcialnão é enfatizada a sério. Os alunos escolhem um professor eo professor implora-lhes que treinem. Para mim, isto é muitoestranho, o mundo virou-se de pernas para o ar. Por isto, aqualidade do ensino diminuiu significativamente. O coraçãopara aprender e ensinar não está lá. O aluno vai aprenderapenas aquilo por que pagou. Como é um negócio, existemmuitos professores não qualificados que estudaram dez estilosdiferentes em apenas três anos. Eu só me consigo rir quandopenso nisso. Eu fui tão burro que demorei mais de 41 anospara compreender apenas três estilos e ainda acho que estãomuito superficiais.

Fui apresentado ao meu mestre de Grou Branco pelo meucolega de escola, Sr. Chen Nianxiong. Eu não sabia que elejá praticara Gong Fu com este mestre por alguns anos. Comoeu gostava de lutar, um dia ele perguntou-me se eu gostariade aprender a lutar como deve ser e de aprender com umverdadeiro mestre de artes marciais. Naturalmente, fiqueimuito feliz e excitado com esta proposta.

Nessa tarde, logo depois das aulas, ele levou-me aGuqifeng, o cume de uma montanha localizada depois domeu liceu. Quando chegámos, o meu mestre estava atrabalhar nos campos de arroz. Nós aproximámo-nos delecuidadosamente no caminho estreito do campo de arroz. Omeu coração batia fortemente, estava excitado e preocupadopor poder não ser aceite. O Sr. Chen apresentou-me,contando-lhe do meu pedido para ser um dos seus alunos.Ele olhou para mim e sorriu. Disse a Chen :"Trá-lo para treinarmais logo à noite"- aquele foi o dia mais feliz da minha vida.

Naquele final de tarde, eu era o décimo nono do grupo. OMestre Cheng já tinha ensinado alguns grupos anterioresàquele. Eu era o mais novo daquela geração. Como tal, duranteas sessões de treino eu tinha que servir toalhas e água aomestre, bem como a todos os meus colegas. Nos primeirosseis meses o que aprendi foram algumas bases de GrouBranco e algumas sequências. Ocasionalmente, um dos meuscolegas mais velhos aproximava-se de mim para me corrigire dar-me uns chutos aqui e ali. Os alunos mais novos ficavam

Grão-Mestre Li a ensinar forma de doishomens punho ao Dr. Yang nos anos 70

Page 7: Grou Branco

boletim AAMYP Abril 20056

extremamente contentes e apreciativos quando alguémprestava atenção ao que estavam a fazer.

Numa noite enquanto treinava, quase um ano depois,comecei a sentir dores provenientes da úlcera. Tinha esteproblema desde os nove anos de idade. Pálido, sentei-me numcanto e o mestre aproximou-se fazendo algumas perguntas.Depois, utilizou os dedos para tocar na zona do meu pulso.Disse-me que eu tinha um problema nos órgãos internos.Perguntei-lhe como poderia resolver este problema antigo eele disse: � Ouvi dizer que a prática do Taijiquan pode ajudar--te a relaxar os órgãos internos e curar esse problema.� Aquilosignificava que ele estava a sugerir que procurasse um mestrede Taijiquan e aprendesse com ele. Significava também queo mestre me estava a dar permissão para aprender com outroprofessor. Os alunos do presente devem compreender que,tradicionalmente, aprender com outro mestre sem oconsentimento do mestre original é considerado traição.

O meu mestre de Grou Branco, o Sr. Cheng Gingsao,nasceu a 15 de Novembro de 1911 e faleceu a 3 de Maio de1976. Era o segundo filho do sexo masculino da família Chen.Mediante um acordo entre o seu pai e a sua avó foi adoptadopela família Cheng para transportar o apelido Cheng depoisde nascer. Assim sendo, e apesar do seu pai ser perito emTaizuquan e noutros estilos que desconheço, o meu mestrenunca teve oportunidade de aprender com o seu pai. Énecessário compreender que, para proteger o secretismo deum estilo de artes marciais, um mestre não passava ossegredos da sua arte a outras pessoas que não pertencessemà sua família. Mesmo assim, mais tarde, o meu mestreaprendeu Taizuquan com o seu irmão, ainda que com poucaprofundidade, disse.

Quando o Grão-Mestre tinha 15 anos de idade encontrouo Grão-Mestre Jin Shaofeng a viver como eremita num localmontanhoso e profundo. Naquela época foi aceite como onono aluno. O Grão-Mestre Jin viveu na China continental.A sua especialidade era o Grou Branco do Sul. Tambémconhecia o Punho dos Cinco Antepassados (Wuzuquan) queincluía os estilos do Grou Branco (Baihequan), Taizuquan,Dazuquan, Luohanquan e o estilo Macaco (Houquan).

Song Taizu foi o primeiro imperador da dinastia Song(960-1279) e foi creditado como o criador do estilo Taizuquan.Os estilos Dazuquan e Luohanquan pertenciam às artesmarciais Budistas originárias no Templo de Shaolin.

O estilo Macaco foi passando de geração em geração etornou-se popular na província de Fujan. Os criadores deDazuquan, Luohanquan e do estilo Macaco sãodesconhecidos. Sabe-se que ambos foram passados atravésdos mosteiros Budistas durante a dinastia Tang (618-907) eque o estilo Macaco foi criado há muito tempo atrás. Muitossuspeitam que derivou dos Qigong medicinal �Desporto dosCinco Animais�.

A especialização do meu mestre era mais elevada nosestilos Palma de Borboleta (Hudiezhang) e nas 18 Mãos deLuohan (Shibaluohanshou). Estes dois estilos internos/externos de artes marciais eram os níveis mais elevados detreino em Dazunquan e Luohanquan.

O Mestre Cheng treinou com o Mestre Jin Shaofengdurante 23 anos. Após a morte do seu mestre, ele e trêscolegas de treino ficaram perto da campa para a proteger emanter limpa durante três anos, separando-se em seguida.Quando comecei a treinar com o Mestre Cheng ele já tinha50 anos de idade (1950). Eu era um dos alunos do terceiro

grupo que ensinou. O mestre era eremita e iletrado. Contudo,a sua compreensão do sentido da vida veio de uma das mentesmais brilhantes que alguma vez vi.

Existem algumas histórias entre o Mestre Cheng e a minhapessoa. Uma tarde fui visita-lo e perguntei-lhe porque doisdos meus colegas aplicavam um mesmo movimento de formasdiferentes. Ele olhou para mim e perguntou: �Pequeno Yang!Quanto é um mais um?� Sem hesitação respondi: �Dois�.Ele riu-se para mim, abanou a cabeça e disse: �Não! PequenoYang, não é dois�.

Estava confuso e pensei que ele estava a brincar comigo.Ele continuou:� O teu pai e a tua mãe são dois. Depois docasamento têm cinco filhos. Agora já não são dois mas simsete. As artes são vivas e criativas. Se as tratares como mortassão duas, mas se as tornares vivas podem ser muitas. Esta éa filosofia do desenvolvimento das artes marciais. Agora tenhocinquenta anos, quando tiveres a mesma idade que eu, se atua compreensão das artes marciais for igual à minha, entãoeu falhei-te e tu falhaste-me.�

Através desta história podemos concluir que a mentalidadedas artes marciais é criativa. Se depois de aprender todas astécnicas do seu professor nunca aprendesse a criar, o grandemúsico Beethoven não se teria tornado quem se tornou. Omesmo acontece com Picasso. Se ele não soubesse sercriativo, depois de aprender as técnicas de pintura com o seuprofessor, nunca se teria tornado um artista de renome. Destaforma podemos ver que as artes estão vivas e não mortas.Mesmo assim, se não aprendermos técnicas suficientes e nãoatingirmos um nível profundo de compreensão, quandocomeçarmos a criar, teremos perdido o caminho correcto e aarte será defeituosa. Na sociedade das artes marciais diz-seque: �O professor leva-nos à porta; a cultivação dependede cada um de nós.�

Para além disso, quando aprendemos uma arte devemoscompreender que a mentalidade da aprendizagem é sentir eganhar a sua essência. Só aprenderemos a raiz se o nossocoração atingir a essência. Com essa raiz seremos capazesde crescer e de nos tornarmos criativos.

O Mestre Cheng também me contou outra história. Erauma vez um rapaz que tinha ido ter com um velho homem elhe perguntou: �Honrável senhor, ouvi dizer que era capaz detransformar pedra em ouro. É verdade?� �Sim, rapaz. Talcomo os outros pretendes um pouco de ouro? Deixa-me

Na frente, Grão-Mestre Cheng, Gin-Gsao com os seus doisfilhos. Atrás, Dr. Yang (à direita) e o seu colega de treinoChen, Ming-Shou, 1965

Page 8: Grou Branco

boletim AAMYP Abril 20057

transformar um bocado para ti�. O rapaz respondeu: �Não,não! Eu não quero um bocado de ouro. Gostaria de aprendero truque.�

O que pensam desta pequena história? Quandoaprendemos alguma coisa, se não ganharmos a essência daaprendizagem, vamos manter-nos à superfície, apenas asegurar os ramos e as flores. No entanto, se formos capazesde sentir as artes profundamente, então, seremos capazes decriar. Sentir profundamente permite-nos ponderar e finalmentecompreender a situação. Sem este sentimento profundo oque vemos estará apenas à superfície. Este sentimento é achave para compreender a teoria da arte.

O meu mestre de Grou Branco contou-me outra históriaquando tinha 17 anos. Era uma vez um bambu que tinhaacabado de nascer da terra. Olhou para o céu, sorriu e dissepara si: �Alguém me disse que este céu era bastante alto eque era impossível de atingir. Não acredito que seja verdade.�O bambu sentia-se jovem e forte. Acreditava que secontinuasse a crescer, um dia, atingiria o céu. Então continuoua crescer e a crescer. Tinham-se passado dez anos e depoismais vinte anos. Finalmente, apercebeu-se que algo se estavaa passar, estava a começar a curvar-se. Quanto mais crescia,mais se curvava. O meu professor pediu-me que nuncaesquecesse que �quanto mais alto o bambu cresce, maisse dobra.�

Finalmente, existe uma outra história que afectou bastantea minha vida. Um dia fui visitar o Mestre Cheng depois dasaulas. Encontrei-o sentado em frente à sua casa a tocar huqin(um tipo de guitarra chinesa), o seu instrumento musicalfavorito. Aproximei-me e fiz-lhe uma pergunta. Contei-lheque me sentia frustrado porque a minha aprendizagem eramuito lenta e a minha compreensão era muito superficialcomparada com a dos meus colegas. Ele olhou para mimcom uma cara bondosa e disse: �Porque olhas à tua volta sea razão porque gostas de arar é porque tu queres arar? Nãoqueres saber se as pessoas olham para ti ou não. Tambémnão te preocupas se és mais rápido ou mais lento que osoutros. Quando aprendes artes marciais é a mesma coisa.Baixa simplesmente a cabeça e continua a cavar. Não olhesà tua volta. Se olhares e vires que estás à frente, então, estarásorgulhoso e satisfeito contigo mesmo. Se estás atrás, então,ficarás deprimido. Por isso baixa a cabeça e continua atrabalhar. Um dia, quando estiveres cansado e descansares,vais reparar que deixaste os outros tão atrás de ti que nemsequer serás capaz de os ver�. Eu não compreendi totalmenteestas palavras até ter sentido o que ele disse, anos mais tarde,quando vim para os EUA.

Através destas histórias podemos ver que tipo de pessoaera o Grão-Mestre Cheng. Agora regressemos à história daminha aprendizagem. Uma semana depois do Mestre Chengme dizer para praticar Taijiquan, descobri que havia umprofessor de Inglês/Taiji no Liceu Provincial, perto da minhaescola. Decidi ir ter com ele e implorar-lhe que me aceitassecomo aluno. Uma manhã levantei-me cedo e dirigi-me à salade reuniões do seu liceu. Vi-o a ensinar Taijiquan a cincoalunos. Mantive-me afastado e observei-os por algum tempo.Quando tive oportunidade aproximei-me do Sr. Gao e fiz-lheuma vénia. Contei-lhe que tinha um problema com os meusórgãos internos e que gostaria de aprender Taijiquan para ocurar.

O Sr. Gao Tao tinha 29 anos de idade naquela altura.Aprendeu Taijiquan com o seu pai desde os seis anos. Veiopara o Taiwan com Jiang Kaishek. Não sabia e não tinha

perguntado sobre a origem do estilo. Só sabia que aquele queaprendíamos era do estilo Yang. Não tinha ideia da linhagem.Na realidade também não queria saber pois o meu objectivoprincipal era recuperar a saúde e, naqueles tempos, era rudeperguntar ao professor quais eram os seus antecedentes.Todos os professores eram muito rigorosos. Para o Sr. Gaoisto era especialmente verdade.

Depois de ter olhado para mim durante um tempoperguntou:�Queres mesmo aprender Taijiquan?��Sim, Mestre.� Respondi.�Tens que estar aqui todas as manhãs às seis e meia. Nãopodes faltar um único dia, caso contrário, serás expulso.��Sim, Mestre.� Respondi.

De seguida pediu-me para ficar parado. Colocou ambasas mãos no meu peito e fez-me saltar uns cinco metros. Pediuque me aproximasse outra vez dele e disse: �Agora conheceso poder do Taijiquan. Por isso, obedece!�

Comecei por fazer duros exercícios diários que nãocostumava fazer com o meu mestre de Grou Branco.Surpreendentemente, seis meses mais tarde a minha úlceracomeçou a diminuir e em pouco tempo desapareceu. Astécnicas simples de respiração e os movimentos de colunaresolveram o problema que me atormentava há quase seteanos.

Continuei a treinar com ele até ter quase 19 anos. Foiquando tive que me mudar para Taipei por causa da faculdade.Treinei com ele um total de 2 anos e meio. Foi quando memudei para os EUA em 1974 que me apercebi que a razão daminha boa fundação e compreensão das artes marciais sedevia ao treino com o Sr. Gao. O que mais me surpreendeuquando me mudei para Taipei e comparei o Sr. Gao a outrosinstrutores de Taijiquan, foi o facto de este dar grandeimportância ao movimento do corpo e às aplicações marciais,aspectos ignorados pelos outros instrutores, ainda que,frequentemente discutidos nos clássicos de Taijiquan.

Só comecei a cavar mais fundo na teoria e a procurar aessência e o significado de cada movimento em 1975 quandoa Universidade de Purdue me pediu para dar aulas deTaijiquan para o Departamento de Teatro. Aí comecei adar-me conta que o que tinha aprendido com o Mestre Gaoera uma fundação preciosa que não conseguiria encontrarnoutras fontes. Para começar a explicar a teoria do Taijiquanaos meus alunos comecei a coleccionar documentos antigos.Estudei-os, ponderei-os, experimentei-os com eles. Em poucosanos comecei a tocar na essência crucial da prática do

Grão-Mestre Cheng a executar a forma de DuploBastão Curto (Shuang Jian), 1965

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boletim AAMYP Abril 20058

Taijiquan. Para agregar estas ideias minuciosamente, decidicompilar a minha compreensão em forma de livro. Foifantástico reparar que, depois do livro estar completo, a minhacompreensão do Taijiquan tinha atingido um nível maiselevado. O título do livro era Advanced Yang Style Tai ChiChuan, Vol. I (título actual: Tai Chi Theory and MartialPower). Para compreender o que tinha aprendido com oMestre Gao e juntar a teoria à prática escrevi um livro sobreas aplicações do Taijiquan. Como tal, o segundo livro foipublicado como Advanced Yang Style Tai Chi Chuan, Vol.2(título actual: Tai Chi Chuan Martial Applications). Paraalém das minhas expectativas, estes dois livros trouxeram--me reconhecimento pela sociedade de Taijiquan Ocidental.A partir desse momento, continuei a pesquisar, estudar, ensinare praticar. Para meu agrado a minha compreensão doTaijiquan foi capaz de atingir um nível mais profundo. Estenovo desafio é especialmente excitante pois a minhacompreensão do Qigong Chinês está a tornar-se maisprofunda. Pelo que sei, o Qigong Chinês é a fundação interiorde todas as artes marciais Chinesas, especialmente dasinternas.

No primeiro ano em que fui para Taipei para estudar Físicana Universidade de Tamkang, conheci um novo colega, o Sr.Nelson Tsou. Em alguns meses descobri que ele estava aaprender Punho Longo de Shaolin com o Mestre LiLaoching. Os estilos de Punho Longo focam-se no combateda longa distância e as aplicações de chutos são muitoenfatizadas. O Grou Branco especializa-se em técnicas demãos e no combate de curta distância. Quando o Sr. Tsoudescobriu que eu tinha aprendido Grou Branco do Suldecidimos testarmo-nos um ao outro. Como tal, fomos parauma sala de aula e afastámos as mesas e as cadeiras paraque pudéssemos combater. Alguns rounds depois, apercebi--me de que era muito difícil aproximar-me dele pois ele sabiamanter-se a uma distância segura. No entanto, ele tambémdescobriu que quando me conseguia colocar na curta distância,ele tinha dificuldade em defender os meus ataques.

Após alguns combates, pedi-lhe que me ensinasse PunhoLongo. Contudo, ele sugeriu que fundássemos um Clube deGongfu e convidássemos o Mestre Li para ser o nossosupervisor e professor. Em poucos meses criou-se o TamkangGuoshu Club. Comecei a aprender Punho Longo com oMestre Li. Lembro-me que quando comecei a treinar, o nossogrupo era composto por 105 alunos. No entanto, depois deterem treinado algumas vezes com o Mestre Li, este grupoencolheu para 20 em poucos meses. Quando me formei, quatroanos depois, existiam apenas quatro pessoas do meu grupoque tinham sobrevivido ao treino.

Alguns anos mais tarde, fui aceite na UniversidadeNacional de Taiwan, para fazer um Mestrado em Física.Continuei a estudar com o Mestre Li no Liceu de Jianquoonde ele ensinava e tornei-me seu assistente. Em apenas umano fui convidado para ensinar artes marciais no Liceu deBangiao, num subúrbio de Taipei. Três anos mais tarde obtiveo meu Mestrado e fui recrutado para ensinar Física naAcademia Júnior da Força Aérea Chinesa. Depois de terservido um ano, voltei à Universidade de Tamkang paraensinar Física e continuei os meus estudos com o Mestre Liaté 8 de Agosto de 1974, dia em que fui para os EUA parafazer o meu Doutoramento.

O Mestre Li nasceu a 5 de Julho de 1926 na cidade deQingdao (província de Shandong), onde cresceu. Maistarde, quando a 2ª Guerra Mundial começou, foi recrutado

pelo exército. Lá, aprendeu Punho Longo de Shaolin(Changquan) com Han Quingtang, estilo do Louva-a-Deuscom Fu Jiabin e Sun Bin Quan com Gao Fangxian. OGrão-Mestre Han pertenceu à primeira geração dos famososprofessores do Instituto Central de GuoShu em Nanking.Quando o partido de Jiang Kaishek se retirou para o Taiwan,ele foi convidado para ensinar artes marciais Chinesas naAcademia de Polícia Central. O Grão-Mestre Han era muitoconhecido devido às suas técnicas de trancar articulações(Qin Na).

Chegou a aprender Taizuquan juntamente com o GrouBranco? Esse estilo não é muito conhecido. Podia falar--nos um pouco dele?

O Grão-Mestre Cheng não chegou a aprender muitoTaizuquan com o seu pai. No entanto, acredito que ele tenhaaprendido esse estilo com o Grão-Mestre Jin Shaofeng. OGrão-Mestre Jin também sabia o Punho dos CincoAntepassados, o qual já mencionei e que era constituído porGrou Branco (Baihe), Taizuquan, Dazuquan, Luohanquane estilo do Macaco (Houquan). Esta conclusão advém doconhecimento de que o Grão-Mestre Jin também sabia Palmade Borboleta (Hu Die Zhang) e as Dezoito Mãos de LuoHan (Shi Ba Luo Han Shou). Estes dois estilos pertencemao Dazunquan e às mãos de Luo Han. Infelizmente, nãotinha atingido o nível de perícia para compreender esses doisestilos. Também aprendi um pouco de Garra do Tigre(Huzhua) com ele. Não sabia qual era a sua origem. Defacto, o estilo Garra do Tigre era um estilo popular efrequentemente praticado em muitos estilos do Sul.

Teve a sorte de aprender o Grou Branco de Shaolin, oestilo Yang de Taijiquan e os sistemas de Punho Longode Shaolin. Como é que os vê quando olha para trás? Épossível misturá-los no seu treino ou existemdiferenças dramáticas na teoria e na prática?

O Grou Branco deu-me uma fundação forte deconhecimento de ambos os estilos internos e externos, suavese duros. Isto porque o Grou Branco é um estilo �Suave-Duro�que cobre a teoria e a prática dos estilos internos e externos.De facto, é graças ao meu antecedente de Grou Branco queconsigo compreender claramente a teoria do Taijiquan. Istoacontece simplesmente porque o Dao (teoria) se mantém omesmo, independentemente do estilo. A única diferença é aforma de a manifestar. Aprecio realmente os antecedentesda minha aprendizagem de Grou Branco. Sem este estilo,

Grão-Mestre Li a ensinar Qi Mei Jian o Mestre Yang nos anos 70

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Os Punhos das Cinco Formas ou o Padrão dos CincoAnimais (Wuxing Quan, )

A data exacta da criação do estilo do Grou Branco não éclara. Uma lenda diz que já se praticava os Punhos das CincoFormas (Wuxing Quan, ) quando Da Mo se retiroupara o Templo de Shaolin (527-536 d.C.). Essas formasincluíam o Dragão (Long, ), o Tigre (Hu, ), a Pantera(Bao, ), a Cobra (She, ) e o Grou (He, ). Se esta lendafor correcta, então a história do Grou Branco deve-se teriniciado durante este período.

No entanto, no livro �Registo Histórico do Templo deShaolin� (Shaolin Si Zhi, ), é mencionado que,durante a dinastia Song (960-1278 d.C.), um monge deShaolin chamado Qiu Yeu Chan Shi ( ), compilouas técnicas dos Punhos das Cinco Formas e escreveu umlivro: �A Essência dos Punhos das Cinco Formas�( ).O nome de Qiu Yue Chan Shi é Bai Yu Feng( ) e veio do Condado de Taiyuan, Província de Shangxi( ). Mais tarde entrou para o Templo de Shaolin etornou-se monge. A partir destes registos podemos verificarque os Punhos das Cinco Formas já existiam e eram praticadosno Templo de Shaolin há bastante tempo.

Estilo do Grou BrancoEstilo do Grou BrancoEstilo do Grou BrancoEstilo do Grou BrancoEstilo do Grou Branco

Na China antiga, a maioria das artes marciais nuncaconservou formalmente os seus registos históricos.Em vez disso, a história de cada estilo era transmitida

oralmente de geração em geração. Por sua veztornou-se num conto depois de ser transmitidanesse formato durante muitos anos(ocasionalmente acrescentaram-se novoscontos). Os registos históricos mais precisosencontram-se, em muitos casos, nos romances deartes marciais escritos naquela época, uma vez quese baseiam nos costumes e acontecimentoscontemporâneos da mesma. Por exemplo: osromances �Drama Histórico de Shaolin� (Shaolin YenYi, ) de Shao Yu-Sheng e �Qiang Long Visita oSul do Rio� (Qian Long Xia Jiang Nan, ) deum autor desconhecido, foram escritos durante a dinastiaQing acerca de duzentos anos. Nestes romances, aspersonagens e a história são baseadas em pessoas e factosreais. Está claro que se tomaram algumas liberdades com averdade, mas como os romances iam ser lidos pelo públicoda altura, estes tinham que ser bastante factuais. Devido aeste e a outros romances do género, pode determinar-se, comalguma precisão, a origem histórica da maioria das artesmarciais.

Este é o caso da história do estilo do Grou Branco. Àexcepção da informação valiosa que pode ser obtida no livro�Registo Histórico do Templo de Shaolin� (Shaolin Si Zhi,

), a maioria da informação é vaga. Como tal, podem

Por Dr. Yang Jwing-Ming - Traduzido por Pedro Rodriguestratar este registo histórico como um conto ou como históriainformal. Na verdade, ninguém tem a certeza do seu grau deexactidão. A história aqui descrita é baseada no RegistoHistórico do Templo de Shaolin� (Shaolin Si Zhi, ),em romances antigos, especialmente do �Drama Históricode Shaolin� (Shaolin Yen Yi, ), no �GrandeDicionário do Wushu Chinês� (Zhong Guo Wushu Da CiTian, ), no �Zhong Guo Wushu� (Zhong Guo

Wushu Shi Yong Da Quan, ), emalgumas fontes casuais e na transmissão oral do

meu mestre de Grou Branco.É conhecido que o Templo de Shaolin foi

construído no ano 495 d.C., na MontanhaShaoShi, Condado Deng Feng, (Deng FengXian, ) Província de Henan, (HenanSheng, ), pela ordem do imperador Wei

Xiao Wen ( ) (471-500 d.C.). O imperadorconstruiu o Templo para um Budista chamado Ba Tuo

( ) com a finalidade de pregar e venerar a Buda. É sabidoque nessa altura os monges não praticavam artes marciais .Em 527 d.C., durante o reinado do imperador Liang Wu( ) (502-557 d.C.), um Budista chamado Da Mo ( ),cujo último nome era Sardili ( ), também conhecidocomo Bodhidarma, príncipe duma tribo Indiana, foi convidadopelo imperador Liang para pregar o Budismo. Quando oimperador mostrou o seu desagrado pela filosofia Budista deDa Mo, este retirou-se para o Templo de Shaolin. Em retirono Templo, escreveu dois clássicos de Qigong: �O Clássicoda Mudança dos Músculos/Tendões� (Yi Jin Jing, ) e� O Clássico da Lavagem do Cérebro/Medula� (Xi Sui Jing,

). Da Mo morreu em 539 d.C.

Postura da Yao Gu (Abanar o Tambor) (Forma dePunho � Garra de Tigre e Grou Branco)

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O Estilo do Grou Branco do Sul (Nan Bai He Quan,)

Diz-se que este estilo foi criado por uma senhora chamadaFang, Qi Niang ( ), durante o início do período QingKanxi ( ,1662-1723 d.C.). De acordo com o livro:�Teses do Punho do Grou Branco� (Bai He Quan Lun,

), existiu em Lishui, Província de Zhejiang( ) no período Qing Kanxi, um artista marcialchamado Fang, Zhen Dong ( ), também chamado deFang, Zhang Guang ( ) que ensinou artes marciais àsua filha Fang, Qi Niang. Ela costumava ir para um rio pertode sua casa onde observava os grous a caçar, a brincar naágua, a saltar, a sacudirem-se a gritar, a pousar, a dormir, etc.A partir destas observações, ela combinou o que haviaaprendido dos movimentos dos Grous com o estilo do seu pai,criando assim o estilo do Grou Branco do Sul. De acordocom o livro: �Registo do Condado Yongchun: Número 24, AsHabilidades Locais� (Yongchun Xian Zhi, 24 Juan, Fang jiZhuan, ), o estilo do Grou foitransmitido a Zheng Li ( ) no Condado de YongChun porFang, Qi Niang. Desde então, a sua pratica espalhou-se deforma popular no Sudeste da China, especialmente em Fuzhou( ), Yongchun ( ), Fuqing ( ), Changle ( ) ePutian ( ) da Província de Fuzhou ( ).

Alastrou-se igualmente para a Província de Taiwan( )e para o Sudeste da Ásia.

Na minha opinião pessoal, Fang, Qi Niang utilizou a suaherança pessoal que deveria conter algumas bases do Groucomo ponto de partida e combinou-a com movimentos dosGrous por ela interpretados, criando assim um novo estilo. Aminha convicção assenta no facto de Os Punhos das CincoFormas de Shaolin serem populares e amplamente praticadosnesta altura, e o Grou era um deles.

Hoje em dia, depois de tantos anos de desenvolvimento etransmissão, conta-se a existência de quatro estilos comunsdo estilo Grou Branco. Esses quatro estilos são: Zhong HeQuan (Punho do Grou Ancestral, ), Shi He Quan(Punho do Grou que Come, ), Fei He Quan (Punho doGrou Voador, ) e Ming He Quan (Punho do Grou queGrita, ).

Muitos destes estilos usam a sequência básica San Zhan( ) no início dos seus programas de treino. Internamente,todos se debruçam "como afundar o Qi no Baixo Dan Tian","como fortalecer o Qi no baixo Dan Tian" e "como aplicar oQi no Jin". Externamente, é típico dar-se ênfase à posturado corpo: cabeça direita, percoço firme, costas arqueadas,ombros descontraídos, cintura e ancas relaxadas ecoordenação nos movimentos do anûs. Este critério ésemelhante ao do Taijiquan. O estilo do Grou Branco é entãoclassificado de estilo suave-duro, é suave como o Taijiquane tem um Jin tão forte como o do Tigre. Além disso, todos osestilos do Grou Branco focalizam o treino da raiz e do trabalhode pés baseando-se na teoria das cinco fases (metal, madeira,água, fogo e terra).

Mesmo que a teoria de base seja partilhada por todos osestilos, cada um deles tem o seu ênfase especial e metodologiaprópria de treino. O Grou Ancestral (Zhong He Quan, )

também chamado de Grou que Dorme (Su He Quan, )ou Grou que Treme (Zhan He Quan, ), é especialistana emissão do Jin (força marcial a qual resulta damanifestação da força muscular apoiada pelo Qi). É chamadoestilo Ancestral porque se acredita que carrega osensinamentos do antecessor do estilo original. Também échamado de Grou que Dorme porque imita a calma e aquietude do Grou. Quando a oportunidade e o timing certoaparecem, ataca repentinamente. Como tal, dá ênfase àdefesa como ataque. Finalmente é chamado de Grou queTreme porque imita a força do abanar ou sacudir do grou(Zhan Dou Jin, ). Depois de uma chuvada os Grouspodem ser vistos a sacudir a água das penas com ummovimento rápido. O Grou que Grita (Ming He Quan,

) é especialista em usar a palma para atacar, costumagritar enquanto combate. Este estilo usa as palmas como asasas do Grou e os sons que emitem à noite e de manhã cedo.Acredita-se que o choro dos grous pode ser ouvido aquilómetros de distância porque o seu Qi no Dan Tian é muitoforte. O estilo do Grou que Grita dá ênfase ao acumular doQi no Dan Tian.

O Grou que Come (Shi He Quan, ) é especialistaem atacar com o bico. Os seus movimentos são ágeis e leves.A velocidade é crucial para executar uma técnica comsucesso. Por último, o Grou Voador (Fei He Quan, )que imita os saltos e o voo do grou usando, simultaneamente,as asas para atacar o oponente. Os sons também são usadoscom frequência neste estilo.

Cai Tui (Pontapé em Passo) na Forma Bai He(Punho Grou Branco)

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Teorias de Treino nos Estilos do Grou Branco do Sul

As teorias de treino são a raíz de todos os estilos. Asacções são técnicas que derivam da compreensão dessasteorias. Se treinarem contrariando estes princípios, as técnicasque executam não poderão ser consideradas do Grou Branco.

O Grou Branco é considerado um estilo suave - duro, logoo iniciado começa pela parte dura e vai entrando gradualmentena parte suave do treino. Isto significa que o treino começapelo lado externo (físico) e entra lentamente no lado interno(maior ênfase na cultivação do Qi). Existem algumas razõespara que o treino seja programado desta forma.

1. É mais fácil para um iniciado ser duro do que suave. Istosignifica que é mais fácil, para um iniciado, usar a forçamuscular e adopta-la de imediato para lutar. Antigamente eranecessário aprender a lutar o mais rápido possível.Normalmente, três anos de treino eram o suficiente paraconstruir boas técnicas musculares para a defesa.

2. A teoria para cultivar o Qi é difícil de se entender para uminiciado. Não apenas isso, como o cultivo do Qi é um segredoimportante para a manifestação do Jin, o mestre só ensinaráo seu aluno se este o tiver seguido durante muito tempo e lhetiver ganho a sua confiança.

3. A manifestação do Jin duro é mais fácil do que a do suave.Novamente isto está relacionado com a cultivação do Qi.Outra razão assenta no facto de ser mais fácil lesionar osligamentos nas articulações quando o Jin se executa suave.Normalmente, no treino do Jin duro, existem menos problemascom lesões nas articulações.

4. As sequências baseadas nos Jin suaves são muito maisdifíceis de executar. Por exemplo, o sucesso de manifestar oJin de enroscar, Jin de controlar, Jin de guiar, Jin de colar eo Jin de aderir depende do um alto nível de compreensão ecapacidade de executar o Jin de ouvir (sentir com a pele outacto) e o Jin de compreender. Para se atingir o mais altonível destes Jins, o corpo tem de estar muito relaxado,permitindo assim ao Qi circular suave e livremente no corpo.Esta parte do treino é em tudo semelhante ao Taijiquan( ).

Tendo por base as razões acima descritas, podem concluirque, normalmente, quando um mestre ensina um aluno

iniciado, ele começará pelo Qigong Duro do Grou ( ),o que ajudará a fortalecer a estrutura física das suas pernas,braços, dedos e acima de tudo, do seu dorso (incluindo a colunae o peito). A partir do treino do Qigong Duro do Grou, oiniciado será capaz de construir uma base firme para executaras técnicas duras que dependem da força muscular.Naturalmente, serão ensinadas algumas das sequências ourotinas duras de treino do Grou Branco, como por exemploSan Zhan ou Jiao Zhan.

Na generalidade dos casos, depois de alguns anos a treinaras sequências de Qigong Duro do Grou, o praticante passarágradualmente para o Qigong Suave do Grou ( ). Apartir do treino do Qigong Suave do Grou o praticanteconstruirá a força e a resistência dos seus ligamentos.Aprenderá também como acumular o Qi no Baixo Dan Tian( ) e como guia-lo para os membros com a mente. Aeste nível, o Jin executado, será suave como um chicote.

Na sociedade das artes marciais chinesas sabe-se quequando um aluno pratica o lado duro do Qigong marcial, e oaplica ao treino duro das artes marciais durante algum tempo,este deve começar o treino do Qigong Suave, afim de evitaro problema da "Dispersão de Energia" (San Gong, ). Ossintomas mais comuns da dispersão de energia são a rápidadegeneração do dorso causada pelo excesso de treino nacontracção do corpo físico, dores nas articulações, hipertensãoarterial, assim como, são comuns lesões na zona lombar dacoluna vertebral. O mesmo acontece no treino do GrouBranco do Sul. É devido a este facto que o aluno, depois deter praticado mais de três anos o lado duro, irá lenta egradualmente entrar no lado suave do treino. O objectivo finaldo treino do Grou Branco é a manifestação dos Jin Suave eDuro de forma mais eficaz e eficiente. Isto significa quequando for necessário ser-se suave, ele será. Quando fornecessário ser-se duro, ele será. Além disso, muitos dos Jindo Grou Branco começam por ser manifestados suavementepara guiar o Qi para os braços e, acabam por se tornar durosmomentos antes de atingirem o adversário, de modo a protegeros ligamentos das articulações.

Se entenderam a teoria básica acima descrita, entãoestarão no caminho certo do treino.

Postura da Sha Shou Jian �Bastão da Mão Mortífera�

Grou da Manchuria - Espécie que inspirou a criaçãodo estilo do Grou Branco

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Características do Estilo do Grou Branco

O Grou é um animal fraco sem muito poder físico parausar numa luta. No entanto, quando necessário, podedefender-se eficientemente. Um Grou ao defender-sedepende apenas de três coisas: da habilidade de saltitar, dacapacidade de partir objectos com as asas e da agressividadedo bico. O saltitar é usado para evitar um ataque, mas tambémpara se aproximar de um adversário, para atacar. Quando oGrou usa as asas para atacar pode gerar força suficientepara partir um ramo grosso. O segredo para tal força é avelocidade. Lembrem-se que até mesmo a água que é mole,quando projectada a extrema velocidade, pode ser usada comoum bisturi em intervenções cirúrgicas. Por último, a velocidadecom que um Grou pode bicar é muito importante quando usadaem áreas vitais. Esta é também uma capacidade desobrevivência, uma vez que o Grou usa o seu bico para pescar.Tendo isto como base, podemos resumir algumascaracterísticas do estilo do Grou:

1. As mãos são mais importantes que as pernas. Quando umGrou usa o bico ou as asas para lutar, tem de o fazer comestabilidade, diminuindo a sua habilidade de chutar. Como tal,tanto na defesa como no ataque, as mãos são usadas com oformato de asas ou bicos, enquanto que as pernas são menosimportantes e são usadas em coordenação com as técnicasde mãos. O segredo para defender e atacar eficazmente,baseia-se na velocidade e precisão das mãos.

2. A defesa é usada como ataque. Como o Grou é um animalfraco sem a vantagem da força, tem que usar a defesa comoataque. Tem de ser calmo, quieto e imóvel, mas também temque estar em alerta e preparado para atacar. Quando aoportunidade e o timing certo aparecem, o ataque é executado

num piscar de olhos. A estratégia do Grou é então proteger--se e esperar a oportunidade para atacar.

3. Lutar na curta e média distância. Como o Grou usa a defesacomo ataque, tem de ser especialista na curta e médiadistância. Quando o adversário vem da longa distância paraa média distância, o artista marcial do estilo Grou deve saltarpara a curta distância, atacando assim com as mãos emcoordenação com um número limitado de técnicas de pernas.Depois do ataque, o artista marcial do estilo Grou recuarápara trás, evitando assim de ser agarrado. Uma vez que oGrou é um animal fraco, se for agarrado não terá hipótesesde escapar. Para preencher esta falha, os artistas marciaisdo estilo do Grou especializaram-se nas técnicas Qin Na(Agarrar e Controlar, ) para se defenderem caso sejamagarrados.

4. A velocidade é mais importante do que a força. Emborase considere importante a força de um ataque, não o é tantoquanto a velocidade no treino do Grou. Para tornar as técnicaseficientes, terão de ser capazes de sair e entrar, rapidamente,atacando com as mãos ou com as pernas. Para aumentar aefectividade é dado ênfase á precisão dos ataques nas áreasvitais.

Em suma, o treino do Grou foca-se em manter a distânciacorrecta, saltando ou movendo e, na velocidade e precisãodos ataques a áreas vitais.

Kong Shou Dui Gun (Punho Contra Bastão) (Forma Dois Homens Armas - Grou Branco)

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nunca teria tido a compreensão nem a experiência suficientespara compreender os outros estilos.

O Punho Longo proporciona-me um bom conceito,estratégia e técnicas de luta de longa distância. Isto é o quefalta no Grou Branco. Acredito que é devido ao meuantecedente de Punho Longo que o meu treino e compreensãose tornaram mais completos. No que diz respeito àmanifestação da força, consigo introduzir facilmente o ladomais duro do Grou Branco na teoria do Punho Longo e aplicar.

Também consigo aplicar a teoria e a prática no Taijiquan,devido à minha compreensão do lado mais suave do GrouBranco. De facto, escrevi um livro de Taijiquan que vai saireste ano e que se chama: �Dr. Yang�s Taijiquan Theory.� Afundação teórica encontrada neste livro é uma mistura daminha compreensão e experiência com o Grou Branco e como Taijiquan. Quando as pessoas lêem este livro, cedopercebem que o Dao das artes marciais é o mesmo.

Por vezes diz-se que os vários estilos das artes marciaissão como línguas separadas. Se começarmos com uma,afectaremos o modo como aprendemos e praticamos aoutra. Se fizermos isso com as línguas, é natural que osotaque fique diferente. Isto também é verdade nasartes marciais. No final, incorporamos aquilo queestudamos. Pela sua experiência, qual a arte que senteser a central?

Tal como mencionei anteriormente, como aprendi GrouBranco por volta dos treze anos, mais tempo do que qualqueroutro dos dois estilos, esse é o centro das minhas artesmarciais. Agora que comecei a aplicar no Taijiquan a teoriado Qigong que compreendo cada vez mais, apercebi-me que,actualmente, o centro das minhas artes marciais está,gradualmente, a mudar-se para o Qigong.

Quais as razões para o seu estudo das artes marciais?Continua a aprender por si mesmo ou com outrosprofessores?

A minha razão antiga foi explicitada anteriormente.Presentemente, a razão ou o significado do estudo écompreender a própria arte. Comecei a compreender aquiloque o meu mestre de Grou Branco me disse: �O que aprendesnão são artes marciais mas sim um modo de vida�. É tãoverdade! Este é o meu sentimento agora.

Ocasionalmente, para ter o sabor e o sentimento dos seusestilos, aprendo alguma coisa com outros mestres. Não é minhaintenção mestrar outro estilo. Prefiro passar o resto da minha

vida a tentar alcançar uma compreensão mais profunda destasartes e atingir uma qualidade melhor de treino, especialmenteno Taijiquan. A razão é a minha idade (56 anos). Já não éfácil agir como um rapaz novo. Continuo a minhaaprendizagem através do estudo de documentos antigos eatravés do ensino. Sinceramente, os alunos são, muitas dasvezes, os meus melhores professores. A partir do ensinoaprendi muito.

Existe uma grande variedade de técnicas que estãoincluídas nos sistemas que ensina: mãos vazias eutilização de armas, por exemplo. Qual é o aspectodestas artes de luta que acha mais agradável no seutreino actual? Porque é que é tão agradável?

Em mãos vazias, gosto do Taijiquan porque meprovidencia um estado de espírito calmo e pacífico e porquea sua essência é muito profunda. É mais difícil e estimulantemanifestar a teoria na prática.

Quanto às armas, gosto da espada e da lança. A espada éconsiderada a rainha das armas curtas e a lança a rainha dasarmas longas. A razão é simples: para mestrar estas armas, énecessário mestrar muitas outras antes. Sem a experiênciadas outras armas aquilo que se manifesta na espada e nalança será muito superficial. A teoria da utilização destas duasarmas é muito difícil de compreender e manifestar o seuespírito é ainda mais complicado.

Durante o ensino, quais são os aspectos do treino quepensa serem importantes para um aluno se concentrarenquanto aprende?

A parte mais importante do treino é aquela que comportaos exercícios básicos. Estes exercícios são a fundação detodas as habilidades que vão ser desenvolvidas no futuro. Seuma pessoa tem uma raiz firme nesses exercícios, amanifestação futura da arte será profunda. Estes exercíciosestabelecem uma boa qualidade na arte. Os exercícios maisimportantes são: o enraizamento, o movimento do corpo, amanifestação da força e o sentido do inimigo.

Muitos artistas marciais focam-se demasiado nas formase ignoram o mais importante que é a essência da arte: osignificado de cada movimento. Isto significa toda a essênciado estilo. Para compreender essa essência, um aluno devedebruçar-se sobre as aplicações de cada movimento e devemestrar as técnicas antes de poderem ser utilizadas numcombate real. Sem isso, as demonstrações das formas serãovazias e sem significado. Para além do mais, sem conheceras aplicações marciais da arte, o espírito e a moral para ademonstrar, terão desaparecido. Como tal, um aluno develevar tempo. Aprender devagar e focar-se na qualidade eaplicação de cada movimento. Deve praticar até que todasas aplicações se tornem reflexos naturais, para que estaspossam ser utilizadas, sem que se pense nelas.

Finalmente, para aqueles alunos que se querem tornarartistas marciais competentes, devem estudar a teoria dasartes marciais durante muito tempo. A teoria é como um mapade uma cidade. Com este mapa a pessoa é capaz de se guiarem direcção ao objectivo. Sem ele, será aluno para sempre.Por isto, mantenham-se humildes e mantenham uma boaatitude de aprendizagem. O meu mestre de Grou Brancodisse: �Quanto mais alto o bambu cresce, mais baixo sedobra.� Se o estudo e a prática da arte têm um limite, então,não é uma arte eterna.

Grão-Mestre Li a ensinar Dr. Yang nos anos 70

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boletim AAMYP Abril 200514

Depois de muitos anos de ensino, incluindo semináriosdados pelo mundo fora, quais as suas observações emrelação ao carácter dos alunos? Como lida com avariedade de alunos?

Generalizando, os alunos que vivem em países mais pobres,tais como os da Europa de Leste, treinam mais duramente eo seu espírito é também mais elevado que os dos países maisricos. Como tal, é relativamente fácil encontrar um alunodedicado nesses países. No entanto, a situação está a mudarrapidamente desde que têm mais liberdade e mais acessoaos estilos de vida Ocidentais.

Os alunos que vivem em países com uma história maisprofunda e longa parecem aguentar-se mais no treino.Acredito que isto aconteça devido à disciplina tradicional noseu desenvolvimento cultural.

No entanto, o mais importante de tudo é o ambiente deaprendizagem de treino. Se uma escola tem um professorbom e duro, normalmente o aluno vai ser igual. Um professoré um exemplo para os alunos. Não apenas isso, se umprofessor é humilde e continua a aprender de fontes diferentes,normalmente os alunos terão uma mente aberta e estarãodispostos a aceitar novos conhecimentos.

Deseja transmitir algum conselho que gostaria de terrecebido quando começou a treinar aos 15 anos deidade?

Sim. Primeiro deve aprender-se devagar e dar maisimportância à qualidade do que à quantidade. Segundo, sealguém pretende adquirir um nível profundo nas artes marciaisé necessário que as trate como um modo de vida. Se amotivação vier do desejo de nos exibirmos ou de participarem torneios, a arte será superficial. A aparência poderá serboa, mas o sentimento será vazio. Terceiro, não se precipitemem aprender de todas as vezes que encontrarem um professor.Um bom professor pode conduzi-los a um caminho futurocorrecto e um mau professor pode fazê-los criar maus hábitose desviar-vos do caminho correcto de treino. Na China existeum ditado: �Um aluno passará três anos à procura de umprofessor qualificado e um professor demorará três anosa testar um aluno�.

As Publicações

Os anos de ensino do Dr. Yang nos seus próprios estúdiose noutros sítios do mundo deixaram uma marca profunda noestudo e apreciação das artes marciais Chinesas. Outra

influência importante, ainda que em fase de crescimento, é apublicação. É interessante verificar como o seu trabalho temevoluído para esta capacidade profissional e nós discutimosesta parte do seu trabalho, bem como, o seu envolvimentocomo praticante de artes marciais.

Como e porque é que decidiu criar o Centro dePublicações YMAA?

Os meus primeiros quatro livros foram publicados pelaUnique Publications. Antes de os meus livros terem sidoaceites, já tinha tentado outras editoras. A maior parte delasexigia alterações tanto na estrutura como no conteúdo doslivros. Isto acontecia porque as editoras pretendiam publicaros livros do ponto de vista do marketing. No entanto, muitosdos meus livros são profundos, por isso, o mercado é muitoreduzido. Para mim, o mais importante é a promoção da artee não tanto o fazer dinheiro, apesar de, naturalmente,compreender o ponto de vista das editoras.

Em parte, a YMAA foi criada para publicar os meus livrosque continham uma discussão teórica relativamente maisprofunda do que a maior parte dos livros de artes marciaisexistentes no mercado. Devido à escassez de mercado paraestes livros, a YMAA perdeu mais de 700.000 dólares desde1984, quando foi estabelecida. Para podermos sobrevivercomeçámos a publicar alguns livros cujo mercado era maisamplo. Começámos a compreender que, para sobreviver, eranecessário publicar alguns livros que tinham um mercadomaior e que para promover e preservar as artes, tínhamostambém que publicar livros de elevada qualidade.

As razões que me levaram a criar o Centro de PublicaçõesYMAA foram:

1. Preservar a essência das tradições marciais;

2. Para exaltar e promover a qualidade de todas as artesmarciais e da indústria do Qigong;

3. Para conduzir o estudo e a prática das artes marciais paraum campo mais respeitável, para que estas recebessem umamaior aceitação da sociedade, tal como o golfe, o ténis, obasquetebol, etc. Até agora, a maioria das pessoas aindaacredita que as artes marciais servem apenas para lutar. Defacto, a disciplina das artes marciais é superior às dos outrosdesportos;

4. Para traduzir e fazer comentários de documentos antigosexistentes. A maior parte destes documentos está escrita emChinês. Sem tradução destes documentos, a única fonte deaprendizagem é o professor. Com esses documentos, umaluno poderá agarrar a essência das artes mesmo que o seuprofessor não tenha conseguido.

Quando é que decidiu publicar trabalhos de outrosautores?

Na verdade, desde o início que a YMAA tencionavapublicar livros de outros autores cuja qualidade fosse boa ecujo mercado existisse. No entanto, durante os primeiros anosem que o nome YMAA era desconhecido, apenas algunsmanuscritos nos foram enviados para apreciação. Agora émuito mais fácil desde que a YMAA estabeleceu o seu nomee reputação pelo mundo.

Dr. Yang em frente da sepultura do Grão-MestreCheng, Gin-Gsao, 1979.

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Por favor, descreva-nos como começou o seu negócioe o que implicou. Quais foram os prazeres e asdificuldades envolvidas?

Quando comecei a escola da YMAA a 1 de Outubro de1982 não tinha dinheiro nenhum para investir. Quando comeceicom as Publicações YMAA a 1 de Janeiro de 1984, tambémnão tinha muito dinheiro com que brincar. Pedi dinheiroemprestado para publicar os primeiros livros, mais tarde,quando a escola começou a crescer, os lucros eramfrequentemente transferidos para a sobrevivência ecrescimento das Publicações. Assim sendo, as PublicaçõesYMAA têm sido uma grande dívida. Não obstante, nos últimosanos têm-se tornado independentes. Agora estamos à esperado crescimento dos lucros.

As maiores dificuldades envolveram conseguir dinheiropara impedir que as Publicações YMAA terminassem. O quemais custou reporta-se à época em que dois dos nossosdistribuidores declararam falência e se perdeu um total de120.000 dólares, devido a estes incidentes súbitos. Os fluxosde caixa estavam estagnados. A segunda dor de cabeça veioquando foi necessário encontrar a pessoa certa para tomarconta dos aspectos comerciais. Naturalmente, a falta dedinheiro para o marketing tem sido sempre o maior problema.

Por outro lado, o que dá mais prazer é receber inúmerascartas de apreciação, e-mails e chamadas telefónicas queme encorajam a continuar. Para além disto, sempre que umbom livro é introduzido no mercado, ficamos alegres por tersucesso. Evidentemente que aprender pela escrita é o meuprazer pessoal.

Como resultado das minhas publicações também tenhosido convidado para realizar seminários por todo o mundo.As Publicações YMAA têm sido traduzidas para mais de dezlínguas. As escolas da YMAA continuam a crescer até asactuais 56 espalhadas por 16 países diferentes. Estas alegriasestão para além das palavras.

Quais foram os problemas mais difíceis que teve deenfrentar como editor de livros e cassetes? Porexemplo, lidar com a romanização dos termos, editar edistribuir?

No início, incluir caracteres chineses no texto era sempreuma grande dor de cabeça. Não existiam fontes chinesasdisponíveis. Tinha que escreve-las com um pincel chinês etirar-lhes uma fotografia. Depois disso tinha que cortar e colaros caracteres onde eram necessários. Que romanização aser utilizada? A Tradicional ou sistema Pinyin? Agora essesproblemas estão resolvidos. No entanto, a distribuição continuaa ser o maior desafio pois não temos muito capital para investirem marketing. Só posso esperar que as vendas aumentematravés da conversa entre as pessoas. De facto, a boareputação dos produtos da YMAA tem sido o seu maioranúncio.

O que é que lhe passa pela cabeça quando compara osseus primeiros livros com os mais recentes,especialmente no que toca a aspectos de edição edesign?

É claro que existe um sentimento completamente diferentepara cada um. Agora tudo é mais profissional. Antes de 1992era eu que fazia tudo; desde o design da capa até aos cortese colagens, os contactos com a impressão e com a distribuição.É claro que pagava a um editor para corrigir o meu �Chinglês�!No entanto, todos esses produtos eram feitos por um amador-

-eu. Agora tudo é diferente. Temos designers profissionaispara fazer a capa, editores profissionais para editar os livros,um revisor para avaliar os manuscritos utilizados e um bomdistribuidor, a National Book Network, para distribuir osnossos livros. Presentemente os assuntos cobertos variamdesde os meus próprios até aos de outros autores.

O que pretende alcançar com asPublicações YMAA nos próximos dezanos?

Em primeiro lugar, mantermo-nos vivos.Depois, aumentar o número de livrospublicados de oito para trinta por ano. Nãoapenas isso, mas também saltar para aprodução de DVD�s e continuar a introduziras artes orientais ao público em geral. Tambémgostaria de continuar a melhorar a qualidadedos produtos, não só no design e na edição,mas também no conteúdo.

Aqui termina a segunda de duas partes daentrevista ao Dr. Yang, Jwing-Ming no que dizrespeito ao seu estudo das artes marciais ecarreira de publicação. Gostaria de agradecerpessoalmente ao Dr. Yang por partilhar tantainformação e por nos deixar publicarfotografias que nunca foram vistas noutrapublicação. Espero que o conteúdo destaentrevista sirva para aumentar o conhecimentogeral das tradições marciais chinesas, assimcomo oferecer conhecimento da vida de umhomem excepcional que tanto se dedicou nestecampo. O seu trabalho reflecte o conceito de�civil e marcial� (wen wu), simbolizado nologótipo do nosso jornal.

Um agradecimento especial aosrepresentantes da YMAA, David Ripianzi eCarol Shearer-Best pela sua ajuda no processoda entrevista, particularmente com as suasopiniões e ajuda na edição e materiaisilustrativos.

Grão-Mestre Li, Dr. Yang e os seus colegas de treino, 1972

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boletim AAMYP Abril 200516

itens de estudoPor Ricardo Guerreiro

THE ESSENCE OF TAIJIQIGONGTHE INTERNALFOUNDATION OFTAIJIQUANDr. Yang, Jwing-MingYMAA Publication Center176 Páginas.

Este será um valioso manual para os alunos que completaram a forma e querem atingir novosníveis de compreensão e prática. Contém três conjuntos completos de Qigong e mais de 200fotografias e ilustrações, bem como uma discussão mais profunda da teoria de Taiji e Qigong.Prepare-se para praticar o Taijiquan aquecendo os músculos, estimulando a circulação doQi e focando a sua concentração. O Qigong servirá também para aumentar a sua potênciamarcial no Taijiquan.

TAI CHI THEORY ANDMARTIAL POWERADVANCED YANG STYLEDr. Yang, Jwing-MingYMAA Publication Center288 Páginas.

Um livro essencial a alunos avançados que completaram a forma, começaram o treino dePushing Hands e que agora querem melhorar e refinar as suas habilidades como praticantesde Taijiquan (Tai Chi Chuan). Este livro foca a essência marcial do Taijiquan, um aspectoignorado pela grande parte dos livros e autores modernos. Explore profundamente o tema dapotência marcial (conhecida como Jin), a teoria geral do Taiji e a aplicação do Qi na forma deTaijiquan.

SHAOLIN LONG FISTKUNG FUBASIC SEQUENCESDr. Yang, Jwing-MingDVD instrutivo.180 minutos.Todas as regiões.

Este DVD de três horas contém as sequências fundamentais do Kung Fu Shaolin do Norteda China. Estas sequências foram treinadas na Associação Jing Wu e no Instituto Centralde Guoshu de Nanjing no início do século XX e podem ajudar o praticante a adquirir umabase sólida do estilo Punho Longo (Chang Quan). Uma óptima referência para o aluno queadquiriu os conhecimentos básicos de posições, movimentação, exercícios de braços (blo-queio e ataque) do Punho Longo e quer agora aprofundar os conhecimentos evoluindo paraas sequências que transportam a linhagem e tradição do estilo. Inclui as sequências LianBu Quan, Gong Li Quan e as doze rotinas Tan Tui bem como aplicações das técnicas eintroduções históricas sobre cada sequência dadas pelo mestre Yang.

Esta obra descreve de modo claro e preciso a maioria dos movimentos de musculação. Cadaexercício é apresentado por meio de desenhos de qualidade excepcional que permitem avisualização dos grupos musculares solicitados. Cada ilustração é acompanhada de umtexto detalhado que permite ao iniciado ou atleta avançado elaborar as suas sessões detreino. Pela sua abordagem anátomo-morfológica e pelo rigor científico das ilustrações,este livro impõe-se tanto para alunos como para professores e médicos como uma obra dereferência.

GUIA DOS MOVIMENTOSDE MUSCULAÇÃOABORDAGEM ANATÓMICAFrédéric Delavier124 Páginas.

TAIJIQUAN, CLASSICALYANG STYLETHE COMPLETE FORM ANDQIGONGDr. Yang, Jwing-MingDVD instrutivo.240 minutos.Todas as regiões.

Criado como complemento do livro do mesmo título, este DVD será tanto para o alunoiniciado como para o de nível médio uma boa ferramenta de estudo. Muito mais que um videoda sequência de Taiji, esta obra disseca de forma simples e fácil de seguir pelo aluno, todo otreino fundamental desde as posições básicas à demonstração e explicação dos Treze Pa-drões (Posturas), bem como os Sets Primário e Sets em Andamento do Taiji Qigong. Numasecção posterior são ensinadas as três partes da sequência tradicional de Taijiquan doestilo Yang da linhagem de Yang, Ban-Hou, com as devidas instruções sobre a respiraçãopara cada postura.

THE BODY ELECTRICELECTROMAGNETISMAND THE FOUNDATIONOF LIFERobert O. Becker, M.D. andGary Selden368 Páginas.

Neste livro, o Dr. Becker, um pioneiro no campo da ciência bioeléctrica, apresenta um fasci-nante olhar sobre o papel que a electricidade poderá ter nos processos regenerativos docorpo, desafiando a visão clássica e tradicional da medicina convencional. Com algumacontroversia, esta é uma obra acerca de pesquisa independente, política, médica e científicae de descobertas inovadoras que oferecem novas possibilidades para combater doenças epotenciar os mecanismos curativos do corpo. Para os praticantes de Medicina TradicionalChinesa ou Qigong em geral, este livro oferece descobertas que poderão pela primeira vezservir como paralelo e explicação científica (na visão e linguagem Ocidental) dos métodostradicionais do Oriente e desta forma facilitar a compreensão e aceitação destes métodospelo Ocidente.

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boletim AAMYP Abril 2005

O Q i g o n g d a s 4O Q i g o n g d a s 4O Q i g o n g d a s 4O Q i g o n g d a s 4O Q i g o n g d a s 4 Por Pedro Rodrigues

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Com a chegada do Verão o ambiente e o clima atingemo extremo Yang. O corpo muda de fraco Yang para extremoYang. Durante este período, as condições que asseguram oestado Yin do orgão coração (O Meridiano Yin Menor doBraço) tornam-se cada vez mais fracas. A excitaçãoemocional como a alegria, pode levar o coração a um estadoYang tornando-se nociva. O Qi Guardião apresenta-se noseu estado mais forte e para libertar o excesso de Qi dosórgãos internos, todos os poros da pele estão bem abertos.Com a prática do Qigong do Verão o maior objectivo émanter o coração no estado Yin correcto. Usar a respiraçãoatravés de profundas inspirações pode acalmar a mente eremover o excesso de Qi do coração para os pulmões.

SonsVerão (Coração � Fogo): HeArmazenar o Qi na medula: Heng

Respiração1 - Respiração Abdominal Normal (inspiração mais longado que a expiração).Inspiração - abdómen expande, ânus para baixoHuiyin (Encontrar o Yin) (Co-1).Expiração - abdómen encolhe, ânus para cimaHuiyin (Encontrar o Yin) (Co-1).

2 - Respiração Embrionária - Guiar o Qi para a Pele e paraa Medula Óssea.

Mente1 - Emoções excitadas e estimuladas.2 - Respiração profunda e Mente calma.3 - Manter a Mente afastada do coração.

Tíantu (Co-22)Shufu (K-27)

Shangzhong (Co-17) Qihu (S-13)

Zhongfu (L-1)Yingchuang (S-16)Ruzhong (S-17)

Rugen (S-18)

Jiuwei (Co-15)

Jianneiling(M-UE-48)

Jubi (PE)

Juze (P-3)

Laogong (P-8)

Massagem com as mãos1 - Massajar o Tóraxa) Massajar as clavículas das extremidades para o centro,Tiantu (Pilar do Céu) (Co-22), inspirar; mão no topo dopeito; expirar, escovar até ao abdómen, dedos em ponta ebater ao longo do externo de cima para baixo.b) Shufu (Mansão Shu) (K-27), Qihu (Porta do Qi) (S-13),Zhongfu (Residência Central) (L-1).c) Shanzhong (Meio do Peito) (Co-17) - massajar emambos os sentidos, inspirar; mãos no centro do peito;expirar; mãos para as extremidades do peito.d) Jiuwei (Rabo de Pombo) (Co-15) - massajar com amão direita no sentido dos ponteiros do relógio, guiar parao lado esquerdo do abdómen; massajar no sentidocontrário dos ponteiros do relógio, guiar para o centro doabdómen.e) Yingchuang (Janela do Peito) (S-16), Ruzhong (Meiodo Peito) (S-17), Rugen (Raiz do Peito) (S-18) - massajarao mesmo tempo.

f) Massajar o peitoral (peito).

2 - Massajar o CoraçãoUsar a mão direita sobre o coração a uma distância depelo menos 5 cm movendo-a em círculos crescentes nosentido contrário dos ponteiros do relógio, depois guiar oQi para o lado direito do abdómen (fígado) até ao fundo.

3 - Massajar o Meridiano do PericárdioJianneiling (M-UE-48), Jubi (PE), Juze (P-3), Laogong(P-8) - massajar com a mão direita no sentido contrárioaos ponteiros do relógio.

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boletim AAMYP Abril 2005

E s t a ç õ e s - V e r ã oE s t a ç õ e s - V e r ã oE s t a ç õ e s - V e r ã oE s t a ç õ e s - V e r ã oE s t a ç õ e s - V e r ã o

Figura 4 - Balouçando os Braços para a Frente e para Trás

Figura 1 - A Grande Roca Estica as Asas

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Figura 3 - O Bébé Pássaro Recebe a Comida

1.1 e 1.2 - Inspirar; braçosrelaxados, mãos ao centro,palmas para fora; expirar;afastar as mãos.

1.3 e 1.4 - Inspirar; mãos àaltura do peito, palmas paradentro e juntas ao peito; ex-pirar; afastar as mãos dopeito.

1.4

3.1 3.2

4.1 4.2

3.1 - Inspirar; levantar os cotovelos ao nível da cabeça, mãosrelaxadas.

3.2 - Expirar; cotovelos descem e relaxam, palmas frente afrente como se segurassem uma pequena bola.

4.1 - Inspirar; um braço na frente, perna oposta com o joelhodobrado e o pé em ponta.

4.2 - Expirar; trocar de braço e perna (simulação do andar)sem tirar a ponta do pé do chão, colocar o peso no pé queestá assente.

1.1 1.2 1.3

2.1 2.2 2.3

Figura 2 - A Grande Roca Arqueia as Asas

2.1 - Inspirar; mãos à altura do peito, palmaspara fora e afastadas do peito.

2.2 e 2.3 - Expirar; descair os braços e mãospara trás das costas, dedos a apontar o maisem frente possível.

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boletim AAMYP Abril 2005

Instrutores Assistentes de Taiji:Carla Feiteira (Cascais)Pedro Graça (Cascais)Pedro Rodrigues (Amadora)Vítor Casqueiro (Amadora)

Instrutores Assistentes deShaolin:Arménio Silva (Almada)Celso Barja (Amadora)Joaquim Barros (Almada)José Martins (Amadora)Pedro Rodrigues (Amadora)Vítor Casqueiro (Amadora)

Directores de Escolas:Pedro Graça (Cascais)Pedro Rodrigues (Amadora / Lisboa)Tony Chee (Almada)

Escolas Oficiais:

YMAA AMADORACentro Comercial BabilóniaRua Elias Garcia, 362-D, Bloco A- 4º2700-377 AmadoraTelefone / Fax: 21 498 98 10Email: [email protected]: www.centro-ginastica-danca.ptDirector: Pedro RodriguesDisciplinas: Shaolin, Taijiquan eSanShou

YMAA CASCAISCentro PARADOXAv. Costa Pinto nº 91 - 1º Esq2750-329 CascaisTelefone: 21 484 30 04/05Email: [email protected]: http://ymaacascais.no.sapo.ptDirector: Pedro GraçaDisciplina: Taijiquan

YMAA LISBOAGinásio Mega Craque Clube FaiaRua Prof. Jesus Bento Caraça,Telheiras - 1600 LisboaTelefone: 21 756 74 40Fax: 21 756 74 43Email: [email protected]: www.craque.comDirector: Pedro RodriguesDisciplina: Taijiquan

Escolas Provisórias:

YMAA ALMADAAIRFA Academia AlmadenseRua Capitão Leitão, 64, 2800-133AlmadaTelefone: 21 272 97 50Email: [email protected]: Tony CheeDisciplina: Shaolin, Taijiquan eSanShou

Qualquer nome ou escola que não cons-tem nesta lista, não é reconhecido comoinstrutor qualificado ou escola YMAA