firedman_ metodologia da economia positiva friedman

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EDJ(;OES MUL11PUC Vol. 1, N! 3, Fevereiro,1981 John Neville Keynes, em seu adminivel The Scope and Method of Political Economy, distingue "uma ciencia positiva ... ( , ) corpo sistematizado de conheci- mentos relatlvos ao que e, de uma ciencia normativa, ou reguladora, ... ( , ) corpo sistematizado de conhecimentos em que se analisam criterios acerca do que devia ser e de uma arte ... ( , ) sistema de regras para a consecuyll'o de urn determinado objetivo"; observa que "a confusll'o entre elas e comum e tern sido a fonte de nume- rosos erros serios" e lembra a importancia de "reconhecer uma ciencia positiva au- tonoma da economia politic a" . ( 1) o presente artigo volta-se principalmente para certos problemas de carater metodol6gico, manifestos quando se constr6i a "cic~nciapositiva autonoma" recla- mada por Keynes, e focaliza, em particular, a questll'o de como proceder a fim de decidir se uma hip6tese ou uma teoria deve ser aceita, ainda que provisoriamente, como parte do "corpo sistematizado de conhecimentos relativos ao que e". Toda- via, a confusll'o deplorada por Keynes ainda se manifesta com frequencia e impede notar que a econornia pode ser - e em parte IS - uma ciencia positiva, de modo que Acrescentei, no presente artigo, sem alusoes espec{ficas, a maior parte de meu breve "Co- mentario", que apareceu em Survey of Contemporary Economics, Vol. II ·(B.F. Haley, organi- zador) (Chicago, Richard D. Irwin, Inc., 1952), pp. 455-57 . . Agrade~o, pois muito me ajudaram, os comentarlos e cr{ticas feitos por Dorothy S. Brady, Arthur F. Burns e George J. Stigler. (1) (tondles, Macmillan & Co., 1891), pp. 34-35 e 46. Original: "The Methodology of Positive Economics" Reprinted from Essays in Positive Economics by Milton Friedman by permission of The University of Chicago Press. Copyright 1953 by the University of Chicago. Tradu~o: Leonidas Hegenberg.

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  • EDJ(;OES MUL11PUCVol. 1,N! 3, Fevereiro,1981

    John Neville Keynes, em seu adminivel The Scope and Method of PoliticalEconomy, distingue "uma ciencia positiva ... ( , ) corpo sistematizado de conheci-mentos relatlvos ao que e, de uma ciencia normativa, ou reguladora, ... ( , ) corposistematizado de conhecimentos em que se analisam criterios acerca do que deviaser e de uma arte ... ( , ) sistema de regras para a consecuyll'o de urn determinadoobjetivo"; observa que "a confusll'o entre elas e comum e tern sido a fonte de nume-rosos erros serios" e lembra a importancia de "reconhecer uma ciencia positiva au-tonoma da economia politic a" . ( 1 )

    o presente artigo volta-se principalmente para certos problemas de caratermetodol6gico, manifestos quando se constr6i a "cic~nciapositiva autonoma" recla-mada por Keynes, e focaliza, em particular, a questll'o de como proceder a fim dedecidir se uma hip6tese ou uma teoria deve ser aceita, ainda que provisoriamente,como parte do "corpo sistematizado de conhecimentos relativos ao que e". Toda-via, a confusll'o deplorada por Keynes ainda se manifesta com frequencia e impedenotar que a econornia pode ser - e em parte IS - uma ciencia positiva, de modo que

    Acrescentei, no presente artigo, sem alusoes espec{ficas, a maior parte de meu breve "Co-mentario", que apareceu em Survey of Contemporary Economics, Vol. II (B.F. Haley, organi-zador) (Chicago, Richard D. Irwin, Inc., 1952), pp. 455-57 .

    . Agrade~o, pois muito me ajudaram, os comentarlos e cr{ticas feitos por Dorothy S.Brady, Arthur F. Burns e George J. Stigler.(1)(tondles, Macmillan & Co., 1891), pp. 34-35 e 46.

    Original: "The Methodology of Positive Economics"Reprinted from Essays in Positive Economics by Milton Friedman by permission ofThe University of Chicago Press. Copyright 1953 by the University of Chicago.

    Tradu~o: Leonidas Hegenberg.

  • parece oportuno prefaciar 0 artigo, juntando-lhe algumas observa~{'les a prop6sitoda rela~ao que vige entre econornia positiva e econornia normativa.

    I - A RELA

  • pode vir a ser uma ciencia "objetiva", exatamente como qualquer das ciencias fisi-cas. 0 fato de a economia considerat interrela~aes entre seres human os e de 0 pes-quisador ser ele mesmo (de modo muito mais claro do que acontece nas ciencias flsicas), parte do assunto investigado, geram, como e obvio, dificuldades especiais,quando se cogita de alcan~ar objetividade; entretanto, esses fatos tamMm dll'o, aoscientistas sociais, certas classes de dados que nll'o estll'o ao dispor dos estudiososque se voltam para as ciencias fisicas. Nem urn nertl outro desses dois itens, porem,permite, no meu entender, que se fa~a uma distin~ao basica entre os dois grupos deciencias. ( 1 )

    A economia normativa e a arte da economia, por sua vez, nlio podem ser in-dependentes da economia positiva. Qualquer concluslio rela'tiva a diretrizes apoia-se,obrigatoriamente, em uma previslio em tomo das conseqiiencias de proceder-se deuma forma e nlio de outra, previslio essa que precisa assentar-se - explicita ou im-plicitamente - na economia positiva. Nao existe, e claro, uma rela~ao um-a-umentre as conclusaes relativas a diretriJ:es a seguir e as conclusaes da economia positi-va; se uma tal rela~lio biunivoca existisse,nlio have ria lugar para uma ciencia norma-tiva autonoma. Duas pessoas podem concordar a respeito das conseqiiencias de umalegisla~ll'o especifica qualquer. Contudo, uma dessas pessoas pode achar que taisconseqiiencias slio desejaveis, inclinando-se, pois, a aceitar a lei, ao passo que a ou-tra,julgando inaceitaveis aquelas conseqiiencias, pode deliberar opor-se a ela.

    Atrevo,me a dizer, entretanto, que, presentemente, no mundo ocidentale, demodo especifico, nos Estados Unidos da America, as divergencias, entre cidadll'osimparciais, sobre as diretrizes economicas, derivam muito mais das diferen~as nasprevisoes relativas as consequencias economicas de uma a~lio - diferen~as que serll'oeliminadas pelo processo da economia positiva - do que de uma fundamental diver-sific~ao dos valores. basicos - diversifica~ao em tomo da qual os homens, em Ulti-ma analise, so podem lutar. Exemplo claro e nao destituido de importancia eo dalegisla~ll'o a pro,posito dos sallirios rninimos. Sob a ampla quantidade de argumentosem favor e contra essa legisla~ao esta a ideia geral de flxar urn "salario vital" paratodos - segundo a terminologia ambigua que freqiientemente se usa ao discutir aquestll'o. As diversas opiniaes assentam-se largamente em uma diferen~a, explicita

    (1)A intera~ao entre 0 observador e 0 processo observado, que e tao marcante caracter{stica dasciencias sociais, possui, a par de urn paralelo obvio, nas ciencias fisicas, uma contraparte maissutil no principio da indetermina~ao, que resulta da intera~ao entre 0 processo de mensura~o eo fenomeno que se procura medir. Esses dois elementos possuem, ainda, uma contraparte na16gica, a saber, 0 teorema de Codel, segundo 0 qual e impossivel construir uma logica abrangen-te e auto""luficiente. Esta em aberto a questao de saber se todos os tIes elementos podem servistos como formula~es diversas de urn principio de generalidade ainda maior.

  • ou impli~ita, no que conceme as previsGes.relativas a eficacia desse particular modode alcan~ar 0 objetivo desejado. Quem apoia a lei acredita (preve) que os sahiriosminimos legais diminuem a pobreza pois elevam os vencimentos de pessoas que re-cebem menos do que 0 sahirio minima, assim como os vencimentos de algumas pes-soas que recebem mais do que esse minimo, sem provocar aumento do mlmero depessoas desempr~gadas ou com empregos piores do que os empregos que teriam sema lei. Quem se op~e a lei acredita (Preve) que os salarios minimos legais aumentam apobreza pois elevam 0 mlmero de pessoas desempregadas ou com empregos piores eisso contrabalan~a, e muito, qualquer efeito favoravel que a lei poderia ter sobre ossahirios de pessoas que viessem a manter seus empregos. Acordo quanta as conse-qiiencias economicas de uma lei nao precisa, obrigatoriamente, corresponder acompleto acordo a respeito da sua desejabilidade, pois e perfeitamente possivelhaver diferen~as remanescentes no que conceme as suas conseqiiencias politicas ousociais. Todavia, existindo acordo em tomo dos objetivos, ter-se-a dado urn largopasso em dire~ao ao consenso.

    Diferen~as intimamente associadas, na analise positiva, esta'o nos alicerces deconcep~~es divergentes a proposito do papel e da posi~ao dos sindicatos e a prop6-sito da desejabilidade dos con troles qiretos de pre~os e sallirios e das tarifas. Dife-rentes previsoes acerca da importancia das assim chamadas "economias de escala"explicam, amplamente, as concep~oes divergentes a respeito da desejabilidade ou danecessidade de haver pormenorizada regulamenta~ao govemamental da industria ede haver preferencia pelo socialismo em vez da a~l[o das empresas privadas. Essalista poderia ser indefinidamente prolongada. ( 1 ) Meu juizo de que as principaisdiferen~as em tomo de praticas economicas, no mundo ocidental, SaDdesse genero,e, naturalmente, ele mesmo, urn enunciado "positivo", a ser aceito OU rejeitado combase na evidencia empirica.

    ( 1 )Exemplo de maior complexidade e 0 das diretrizes de estabiliza\(ao. A urn primeiro olhar, con-cep~oes divergentes a respeito desse problema parecem refletir diferen~as nos objetivos colima-dos. Acredito, porem, que essa prirneira impressao e desnorteadora e que, fundamentalmente, asconcep~oes divergentes refletem, principalmente, jUlzos diversificados a propOsito da fonte deflutua~oes, na atividade economica, e do efeito de uma a~o alternativa, contraciclica. Paraexaminar uma importante considera~o que explica boa parte da controversia, ver "The Effectsof a Full-Employment Policy on Economic Stabilitiy. A Formal Analysis", infra, pp. 117 -32.Urn summo da atual posi~o das concep~oes dos profissionais que examinam 0 assunto se en-contra em "The Problem of Economic Instability", relatorio de subcomissao do "Committee onPublic Issues':, da American Economic Association, American Economic Review, XI (setembrode 1950),501-38.N.T.: nesta e em outras notas, quando 0 Autor diz infra, refere-se a trechos que figuram nasdemais partes (II, III e IV) de seu livro ESSAYS IN POSITIVE ECONOMICS (Chicago Press,1953, edi~ao Phoenix, de 1966), cuja parte I, Introdu~ao, pp. 3-43, esta aqui traduzida.

  • Se meu juizo e valida, isso quer dizer que urn consenso acerca de diretrizes"corretas", no campo Economico, depende muito menos do progresso da Econornianormativa, propriamente dita, do que do progresso de uma Economia positiva capazde conduzir a conclusoes que sao e merecem ser amplamente acolhidas. Quer dizer,tambem, que uma razao pondenivel para distinguir riitidamente a Econornia positivada normativa e, justamente, a contribui~ao que por essa via se podera dar ao acordosobrediretrizes.

    o objetivo ultimo de uma ciencia positiva e 0 desenvolvimento de uma "tea-ria" ou de uma "hip6tese" capaz de produzir previs6es vatidas e significativas (ouseja, nao banais) acerca de fenomenos ainda nao observados. Vma tal teoria e, via deregra, uma complexa mistura de dois elementos. Em parte, e uma "linguagem", des-tinada a fomentar "metodos sistematicos e organizados de raciocinio". ( 1 ) Emparte, e urn corpo de hip6teses substantivas, elaboradas com 0 objetivo de collier,por abstra~ao, aspectos essenciais da realidade complexa.

    Vista como linguagem, a teoria naQ"possui conteudo substantivo; e urn con-junto de tautologias. Sua fun~ao e a de servir como sistema de arquivamento paraorganizar material empirico e simplificar a compreensao desse material; os criteriospelos quais sera julgada sao os que se mostram adequados para avaliar urn sistema dearquivamento. Estao as categorias definidas de modo claro e preciso? Sao elasexaustivas? Sabemos onde colocar cada qual dos itens individuais ou M certa ambi-guidade? Esta 0 sistema de Htulos e subtitulos projetado de tal maneira que setoma facil encontrar urn desejado item ou e preciso "ca~a-lo", correndo de urn ladopara outro? Os itens que desejariamos considerar conjuntamente acham-se arquiva-dos uns ao lado dos outros? 0 sistema de armazenamento contoma as elaboradasreferencias cruzadas?

    As respostas dadas a tais perguntas dependem, em parte, de considera~eses 16-gicas; e, em parte, de considera~oes factuais. Somente os canones da 16gica formalpodem revelar se uma linguagem especifica e completa e coercnte,ou seja, se asproposi~eses da linguagem sao "certas" ou "erradas". Somente a evidencia factual,por seu tumo, pode revelar se as categorias do "sistema analitico de arquivamento"possuem urna contraparte emp~rica significativa, ou seja, se elas sao uteis para a

    (l)A frase f"male do artigo "The Present Position of Economics" (1885), de Alfred Marshall, queaparece no livro organizado por A.C. Pigou, MEMORIALS OF ALFRED MARSHALL (Lon-dres: Macmillan Co, 1925), p. 164. Ver, ainda, "The Marshallian Demand Curve", infra, pp.56-57,90-91.

  • analise de particulares classes de problemas concretos. ( 1 ) 0 exemplo simples da"oferta" e da "procura" ilustra tanto esse ultimo ponto, quanta a lista precedentede questoes anal6gicas. Vistas como elementos da linguagem da teoria economica,oferta e procura sao as duas principais categorias em que se distribuem os fatoresque afetam os pre~os relativos dos produtos ou os fatores de produ~[o. A utilidadeda dicotomia depen de da "generaliza~[o empirica segundo a qual urna enumera~[odas for~as que influem sobre a demanda, em qualquer problema, e das for~as queafetam a oferta, conduz a duas listas que tern poucos itens em comum." ( 2 ) Ora,essa generaliza~ao e legitima para mere ados como 0mercado final para urn hem deconsumo. Em tal mercado hli clara e precisa diferen~a entre as unidades economic aspassiveis de se verem contempladas como relativas a demanda do produto e as pas-siveis de se verem contempladas como relativas a oferta desse produto. Raramentepaira duvida sobre se urn fator especifico deve ser classificado como fator que, deurn lado, afeta a oferta ou como fator que, de outro lado, afeta a demanda; e rara-mente hli necessidade de considerar efeitos cruzados (referencias cruzadas) entre asduas categorias. Em tais casos, 0 simples e mesmo 6bvio arquivamento dos fatoresrelevantes sob os titulos "oferta" e "demanda" representa grande simplific~[o doproblema e se tom a maneira efetiva de contomar falacias que, de outra forma, ten-deriam a manifestar-se. Mas a generaliza~ao nao e sempre legitima. Nll'o vale, porexemplo, para as flutua~oes diarias dos pre~os, em urn mercado primacialmenteespeculativo. Pode urn boato a respeito de aumento de imposto sobre'lucros exces-sivos, por exemplo, ser visto como fator que opera primordialmente na oferta dea~oes das empresas, no mercado do dia? Ou sera visto como fator que opera na pro-cura? Quase todos os fatores, alias, podem ser colocados sob 0 titulo "oferta" ou,com justificativa similar, sob 0 titulo "procura". Os conceitos, porem, ainda s[opassive is de usa e nao se mostram inteiramente despropositados; ainda s[o "certos",embora, e claro, menos uteis do que 0 seriam no primeiro exemplo - porque lhesfalta, agora, uma contraparte empirica significativa.

    Vista como corpo de hip6teses substantivas, a teoria sera julgada pelo seupoder preditivo, relativamente a classe de fenomenos que ela pretende "explicar".Tao-somente a evidencia factual podera mostrar se a teoria e "certa" ou "errada",isto e, se ela sera provisoriamente "aceita" ~omo valida ou "rejeitada". 0 unicoteste relevante para a validade de uma hip6tese - ponto em que me deterei maislongamente abaixo - e a compara~ao das suas previs

  • tese e rejeitada quando suas previsoes sao contraditadas ("com freqiiencia" ou maisassiduamente do que as previsoes oriundas de hip6tese altemativa). E aceita quandosuas previsoes nao sao contraditadas e tanto maior confian~a desperta quanta maioro numero de oportunidades em que poderia ter-se visto contraditada. A evidenciafactual jamais "prova" uma hip6tese; pode, apenas, deixar de refutli-Ia e e isso,jus-tamente, 0 que se entende ao dizer, de maneira urn tanto inexata, que uma hip6tesefoi "confirmada" pela experiencia.

    A fim de evitar confusoes, cabe notar, explicitamente, que as "previsoes"pelas quais se submete a teste a validade de uma hip6tese nao precisam dizer respei-to a fen6menos que ainda nao ocorreram, ou seja, nao precisam ser vaticinios aproposito de eventos futuros. Podem dizer respeito a fen6menos ja ocorridos, massem que observa~oes ace rea deles tivessem sido registradas, ou a fen6menos desco-nhecidos para a pessoa que faz as previsoes. Exemplificando,.uma hip6tese podeimplicar que tal ou qual evento - face a certas outras circunstancias - deve terocorrido em 1906. Se uma pesquisa de registros hist6ricos revel a que 0 even to ocor-reu, de fato, a previsao esta confirmada; se revela, ao contrario, que 0 evento naoocorreu, a previsao esta contraditada.

    A validade de uma hipotese, no sentido agora elucidado, n[o e, por si mesma,urn criterio suficiente para a escolha de uma dentre varias hip6teses viaveis. 0 nu-mero de fatos observados e invariavelmente finito, ao passo que 0 numero de hip6-teses po!>siveise infmito. Se ha uma hip6tese compativel com a evidencia disponi-vel, entao havera sempre urn numero infinito de hip6teses igualmente compativeiscom essa evidencia. ( 1 ) Imagine-se, para exemplificar, que urn imposto de consu-mo de urn artigo acarrete aumento de pre~o desse mesmo artigo - e que 0 aumentoseja igual ao imposto. Isso e compativel com as condi~oes competitivas, uma curvaestavel de demanda e uma curva estavel e horizontal de oferta. Mas tambem e com-pativel com as condi~oes competitivas e uma curva de oferta de declividade positivaou negativa, com 0 exigi do deslocamento de compensa~ao efetuado seja na curva dedemanda, seja na curva de oferta. Tambem e compativel com as condi~oes monopo-listicas, os custos marginais constantes e uma curva estavel de demanda, com a con-figura~[o especifica requerida para produzir esse resultado. E assim por diante,indefinidamente. Novas evidencias, com as quais a hip6tese devera mostrar-se com-pativel, poderao, e certo, eliminar algumas das possibilidades; mas nao poderaoelimina-Ias todas e delimitar uma unica possibilidade, capaz de revelar-se compati-

    ( 1 )A restri"ao e necessaria porque a "evidencia" pode mostrar-se internamente contradit6ria, demodo a inexistir hip6tese compativel com ela. Vcr, ainda, "Lange on Price Flexibility andEmployment", infra, pp. 282-83.

  • vel com a evidencia finita. A escolha de uma das hip6teses possiveis - todasigualmente compativeis com a evidencia disponivel - M de ~r, ate certoponto, arbitrana, embora se reconhe~a, em geral, que entre as considera~ijesrelevantes a ter em conta estejam os crit6rios de "simplicidade" (e de "fe-cundidade" - n~ijes que, todavia, desafiam caracteriz~lI'o completanlente obje-tiva. Diz-se que uma teoria e .tanto mais "simples" quanto menor 0 numero deconhecimentos iniciais que requer para pennitir previs~es, num dado campo defenomenos; diz-se que e mais "fecunda" se as previs~s resultantes slI'omais pre-cisas, se a area em que a teoria permite as previsijese mais ampla e se 0 numero delinhas de investiga~lfo sugeridas e maior.)A completude 16gica e a .coerencia16gica slfo relevantes, mas desempenham papel subsidiano, assegurando que ahip6tese afirma 0 que se pretende seja por ela afirmado e 0 afirme de maneiraanaIoga para todos os seus usuarios. Completude e coerencia atuam, aqui, exata-mente como atuam, nas computa~ijes estatisticas, as verifiC~ijes de acuidadearitmetica.

    Infelizmente, porem, e raro podermos submeter a teste as previ~s particula-res, nas ciencias sociais, valendo-nos de experimentos especificamente prOjetadoscom 0 fito de eliminar as influencias pertubadoras consideradas de maior importan-cia. Em geral, precisamos confiar na evidencia recolhida em "experimentos" que,simplesmente, ocorrem. A dificuldade de realizar os chamados "experimentos con-trolados" nao corresponde, no meu entender, a uma distin~ao que se devaestabele-cer entre ciencias sociais e ciencias fisicas; com efeito, nao so a dificuldade e co-mum as duas areas (cogite-se da Astronomia, por exemplo) como, a par disso, urnapresurnivel diferen~a entre experimentos controladOs e experiencias nlfo-controla-das e, quando muito, uma diferen~a de grau. Nenhurn experimento pode ser com-pletamente controlado e qualquer experiencia e parcialmente controlada - no sen-tido de que algumas influencias pertubadoras se mantem relativamente constantesna experiencia.

    A evidencia oferecida pela experiencia e abundante e, muitas vezes, tlio con-cludente como 0 seria a evidencia recolhida por meio de experimentos planejados.Segue-seque a impossibilidade de realizar experimentos nao e obstaculo fundamen-tal para submeter a teste uma hipotese, empregando, para isso, 0 exito de suas pre-visoes. Todavia, essa evidencia fornecida pela experiencia e bem mais dificil de in-terpretar do que a recolhida em experimentos, porque sempre se mostra indireta eincompleta e, em geral, se revela complexa. A coleta dessa evidencia e, via de regra,muito ardua e sua interpret~ao exige anaIises sutis e cadeias de complicados racio-cinios, que poucas vezes sao efetivamente convincentes. A Econornia se nega a evi-dencia dramatica e direta do experimento "crucial", 0 que gera entraves para 0adequado teste de hipoteses; isso, porem, e menos importante do que 0 obstaculo ,.

  • posto a tentativa de alcan~ar nipido e amplo consenso a respeito das conc1us~es jus-tificadas pela evidencia acessivel. Assim, torna-se lento e difici1 0 processo de elimi-n~ll'o de hipoteses malogradas, que raramente desaparecem e sempre voltam a sercontempladas.

    Ha, e certo, muita varia~ll'o no que concerne a esses temas. Qcasionalmente, aexperiencia nos fomece evidencias tll'o diretas, dramaticas e convincentes quanto asque nos poderiam ser apresentadas pelos experimentos controlados. 0 exemplomais obviamente importante seria, talvez, 0 da evidencia que a infl~ll'o nos da arespeito da hipotese de que urn apreciavel aumento da quantidade de moeda, em'urn periodo relativamente breve, corresponde a urn substancial aumento dos pre~osdos generos. Aevidencia, nesse cas~ e dramatica e a cadeia de raciocinio exigidapara interpreta-la e relativamente breve. Sem embargo, apesar dos numerosos casosde aumento substancial dos pre~os, de sua correspondencia urn-a~urn com 0aurnento das quantias de moeda e da ampla varia~ll'o de outras circunstancias quepossam parecer relevantes, cada nova experiencia da infla~ao levanta controversiascalorosas (nll'o apenas junto aos leigos, cumpre frisar), afirmando-se ou que 0 au-mento da quantidade de moeda e efeito acidental de uma eleva~ll'o de pre~os, decor-rente de outros fatores, ou que esse aurnento do estoque de moeda nll'o passa defortUito e desnecessano fenomeno, concomitante ao do aumento de pre~os.

    Uma conseqiiencia da dificuldade que cerca 0 teste de hipoteses economic assubstantivas tern sido a fuga para 0 terreno das analises puramente formais e tauto-logicas. ( 1 ) Como ja foi obseIVado, as tautologias ocupam urn importante lugar na .Economia e em outras ciencias, pois sll'Qparte de uma linguagem especializada,ouseja, constituem urn "sistema analitico de armazenamento". A par disso, a logica e amatematica, tambem tautologicas, sao recursos essenciais para a verifica~ll'o da cor-re~ll'o dos raciocinios, para a descoberta das implica~oes das hipoteses e para a anali-se de hipoteses supostamente diferentes - com 0 fito de saber se,afmal, nll'o passamde hipoteses equivalentes ou se sll'o realmente diversas, com a correspondente de-termina~ll'o das diferen~as.

    Mas a teoria economica deve ser mais do que uma estrutura de tautologias -se pretende predizer as conseqiiencias de nossas a~oes, sem limitar-se a descrever taisconseqiiencias, ou seja, se pretende ser mais do que matematica disfar~ada. ( 2 ) Autilidade das tautologias depende, em Ultima instancia, como ja se ressaltou acima,

    (1)Ver 0 mesmo artigo, nota anterior, passim.(2 )Ver, tambem, Milton Friedman e L. J. Savage, "The Expected Utility Hypothesis and theMeasurability of Utility", Journal of Political Economy, LX (Dezembro, 1952),463-94, esp.pp.565-67.

  • da aceitabilidade de hip6teses substantivas, capazes de sugerir as particulares catego-rias em que se distribuem os refratarios fenomenos empiricos.

    Efeito mais serio, provocado pela dificuldade de submeter a teste as hip6teseseconomicas atraves de suas previsoes, e 0 deela facilitar 0 surgimento de mal:-enten-didos acerca do papel da evidencia empirica no trabalho te6rico. A evidencia empi-rica e vital em duas fases diversas, embora intimamente associadas: na fase de elabo-ra~ao das hip6teses e na do teste de sua validade. Ampla e abrilhgente evidenciaacerca dos fenomenos de uma hip6tese tratara de generalizar e "explicar", alem depossuir uma importancia 6bvia, como veicu10 para formul~li'o de novaship6teses, eindispensavel para assegurar que a hip6tese explica 0 que pretende expIicar - OUseja, para garantir que suas implica~ijes, no que conceme aiais fenomenos, nfo este-jam de antemao contraditadas pela experiencia anterior. ( 1) Supondo que a hip6-

    (1)Nos Ultimos anos, alguns economistas, partic~ente os do grupo lig~do a "Cowles Commi-ssion for Research in Economics", da Universidade de Chicago; enfatizaram a divisiO dessepasso (de sele~ao de hip6tese compatlvel com a evidencia conhecida) em duas fases: em primei-ro lugar, a sele~o de um conjunto de hip6teses admisslveis, retiradas da classe de todas as hip6-teses posslveis (0 que corresponde a escolha de urn "modelo", de acordo coma terminologiaadotada); e, em segundo lugar, a escolha de UJila hip6tese, dentre as admisSlveis (a escolha deurna "estrutura"). Essa reparti~o pode ser heuristicamente valiosa em alguns tipos de trabalho,especialmente quando se trata de aperfei~ar 0 uso sistematico de teorias e de evidencias esta-tisticas ja existentes. De urn 3ngulo metodol6gico, porem, temos urna divisiio inteiramente arbi-trana do processo de sel~o de uma especlfica hip6tese, divisi'o que esta em pe de igualdadecom Wrlas outras divis5es igualmente convenientes para este ou aquele prop6sito ou que satis-fazem certas necessidades psicol6gicas dos investigadores.Uma conse~iienci8 dessa particular divisiio foi a de que deu origem ao chamado problema "daidentifica~o". Como se observou acima, se uma hip6tese e compativel com a evidencia existen-te, M um nlimero inimito de hip6teses que tambem se mostrariio compattveis com a mesmaevidencia. Embora, contudo, isso valha para a classe de hip6teses, como um todo, pode naovaler para a subclasse obtida pela primeira das duas fases acima descritas - a da escolha do"modelo". :e posslvel que a evidencia a empregar com 0 fito de selecionar a hip6tese f'mal (par-Undo da subclasse) seja compatlvel com umad;1s hip6teses (da subclasse), caso em que 0 mode-10 esta "identificado"i de outra forma, diz-se que omodelo "nao foiidentificado". Depreende--se dessa maneira de descrever 0 conceito de "identifica!llio" que estamos diante de urn casoespecial do problema geral de escolha de hip6teses igualmente compattveis com a evidencia -urn problema que sera resolvido por meio de a1gum principio arbitrano como, digamos, 0 danavalha de Ocam. A consider~ao de duas lases, na sele~o de urna hip6tese, faz com que esseproblema geral se manifeste duplamente, em cada qual dessasfases, dando-lhe uma conf'JgUIll~oespecial. Embora a classe de todas as hip6teses permane~, invariavelmente, nao identificada, asubclasse do "modelo" talvez possa ser identificada, de modo que se apresenta a questao deconhecei as condi~es a que 0 "modelo" deve satisfazer para ver-se identificado. Conql1anto aconsidera~o das duas fases seja muito litil, em alguns contextos; ela gera 0perigo de haver doiscriterios diferentes, inadvertidamente empregados para realizar 0 mesmo tipo de e:scolha de

  • tese e compativel com a evidencia existente, os testes ulteriores dessa hip6tese en-volver[o deduzir, tomandoa como premissa, fatos novos, passiveis de observ~li'o,mas n[o previamente conhecidos, e comparar tais fatos deduzidos com evidenciaempirica 'adicional. Para que urn tal teste se mostre relevante, os fatos deduzidosdevem dizer respeito a classe de fenomenos que a hip6tese procura explanar; a pardisso, eles devem estar suficientemente hem defmidos de modo a possibilitar que.aobserva~[opossa revelar-lhesa falsidade.

    As duas fases (de elabora~ao de hip6teses e de teste de sua validade) relacio-namse por duas vias diversas. Em primeiro lugar, os fatos particulares consideradosem cada fase, s[o, em parte, urna acidental consequencia da maneira de coligirdados e dos conhecimentos de l:ada investigador. Os fatos que servir[g para subme-ter a teste a hip6tese, por meio de suas implic~l>es, poderiam, perfeitamente, situar-se no material bruto empregado para formular a hip6tese - e reciprocamente.Em segundo lugar, 0 processo jamais tern inicio na estaca zero; a chamada "faseinicial" envolve'~sempre, compar~ao da observa~ao com as implica~l>esde urnprevio conjunto de hipoteses. Contradi~l>esque ai se apresentam sli'ourn estimulopara a elabora~ao de novas hip6teses ou para a revisao das mais antigas. Segue-seque as duas fases,metodologicamente distintas, andam, em verdade, lado a lado.

    Mal-entendidos a prop6sito desse processo aparentemente simples devem-seafrase "classe de fenomenos que a hip6tese pretende explicar". A dificuldade, nasciencias sociais, de obter evidencia novapara essa classe de fenonenos e de avaliarsua adequ~ao (com respeito as implica~()esda hip6tese) toma tentadora a ideia deque outra evidencia, de acesso mais direto,se mostre igualmente relevante para avalidade da hip6tese. Toma, em outras palavras, tentadora a ideia de que as hip6te-ses admitem nli'o apenas "implica~t'5es",mas, ainda, "pressupostos" e de que aadequa~li'odestes a "realidade" e urn teste de validade da hip6tese, que difere doteste pelas impIica~()esou a ele se adiciona. Essa conce~ao, amplamente advogada,e fundamentalmente erronea e causa de nurnerosos danos. Longe de fomecer meiomais flicitpara joeirar as hip6teses, separando as vaIidasdas nli'o-vaIidas,a conce~aoapenas obscurece a questli'o,provoca 0 surgimento de mal-entendidos em tome dosignificado da evidencia empirica para a teoria economica, desvia boa parte do

    hip6teses, cada qual deles utilizado numa das fases em que se desdobra 0 passo generico desele~o.A respeito desse enfoque metodo16gico geral, discutido na presente nota, ver Tryvge Haavelmo,"The Probability Approach in Econometrics", Econometrica, Vol. XII (1944), Suplemento;Jacob Marschak, "Economic Structure, Path, Policy, and Predication", American EconomicReview, XXXVII (Maio, 1947), 81-84;e "Statistic8l1nference in Economics: An Introduc-tion", em T.C. Koopmans (organizador), STATISTICAL INFERENCE IN DYNAMIC ECO-NOMIC MODELS.

  • esfor~o intelectual dos que desejam0 desenvolvimento de uma Economia positiva ebloqueia urn consenso quanta as hipoteses preliminares que devam figurar nessadisciplina.

    Na medida em que se possa dizer existirem "pressupostos" de uma teoria e namedida em que seu "realismo" seja passivel de julgamento, independentemente davalidade de previsoos,a rela~aoentre a importincia de urna teoria e 0 "realismo" deseus "pressupostos" e praticamente 0 oposto do que sugerea conce~lo sob critica.Hip6teses verdadeiramente importantes tern "pressupostos" que nlo passam deextravagantes e nlo-acuradas represent~oos descritivas da realidade. Via de regra,quanta mais significativauma teoria, tanto mais nao-realistas (neste sentido) os seuspressupostos. ( 1 ) A razao e simples.Vma hipotese e importante quando "explica"muito com base em pouco, ou seja, quando esta em condi~6es de delimitar, porabs~lo, partindo da massa de circunstancias complexas e pormenorizadas quecercam 0 fenomeno a explicar, uma classe de elementos comuns e fundamentais,formulando previS6esvli.lidascujo alicerce e, just~ente, apenas essa classe de elementos cruciais. Consequentemente, para que seja importante, uma hip6tese deveser descritivamente falsa em seus pressupostos. Ignora e deixa de explanar vliriascircunstancias presentes, cuja irrelevancia para 0 fenomenoem tela decorre dopr6prio exito da teoria.

    A ~un de apresentar esse ponto de maneira menos paradoxal, notese que apergunta relevante a fazer, ao cogitar dos "pressupostos" de uma teoria, nlo dizrespeito ao seu "realismo" descritivo fja que os pressupostos jamais sao descritivamente "realistas"), mas ao fato de se mostrarem ou nlo aproxima~6es suficientemente boas, tendo em conta os objetivos colimados. E essa pergunta sOpoderli.serrespondida verificando se a teoria "funciona", ou seja, se conduz a previs6eSbastante acuradas. Os dois testes, supostamente independentes, reduzemse, portanto, aurn teste unico.

    A teoria da competi~ilomonopolista e imperfeita e urn exemplo do descasocom que 880 tratadas essas proposi~oos, na teoria economica. 0 desenvolvimentodesse tipo de anlilise foi explicitamente estimulado - e a aceita~ao e a aprova~aoque recebeu tambem 880 amplamente explicadas - pelo fato de acreditarse que ospressupostos da "concorrencia perfeita" ou do "monop6lio perfeito", subjacentes,segundo se diz, a teoria economica neoclli.ssica,nos oferecern uma falsa imagem darealidade. Essa cren~a assentavase, por sua vez, quase inteiramente, na inocuidadedescritiva dos pressupostos, diretamente percebida, em vez de assentar-se em

    (1)Nao vale, e claro, a reciproca dessa proposi~o: pressupostos nao-realistas (neste sentido) naogarantem que a teoria seja significativa.

  • qualquer reconhecida contradi~'o em previs~s deduzidas da teoria econoIDlcaneocllissica. Exemplo ainda mais claro do ponto em tela, embora muito menosimportante, 6 fomecido pela prolixa discuss'oem tomo da anaIisemarginal, publi-cada, ha alguns anos, na American Economic Review. Os artigos, de defensores oude oponentes, olvidam 0 que me parece a clara quest'oprincipal - a concordanciadas implica~~s da analise marginal com a experiencia - e debatem pontos irrele-vantes, procurando saber se os homens de neg6cios chegam as suas decis~s consul-tando programas, ou cuevasou fun~~s multivariadas que exibam custo marginal ereceita marginal. ( 1) Espero que esses dois exemplos (e outros que eles prontamen-te sugerem) se prestem para justificar a id6ia de fazer-se,aqui, uma discuss'oamplados principios metodol6gicos pertinentes - uma discuss'oque, de outra forma,poderia parecer descabida.

    (1)Ver R. A. Lester, "Shortcomings of Marginal Analysis for Wage Employment Problems",American Economic Review, XXXVI (Mar~o, 1946),62-82; Fritz Machlup, "Marginal Analysisand Empirical Research", American Economic Review, XXXVI (Setembro, 1946), 519-54;R. A. Lester, "Marginalism, Minimum Wages, and Labor Markets", American Economic Review,XXXVII (Mar~o, 1947), 135-48; Fritz Machlup, "Rejoider to an Antimarginalist", AmericanEconomic Review, XXXVII (Mar~o, 1947), 148-54; G. J. Stigler, "Professor Lester and theMarginalist", American Economic Review, XXXVII (Mar~o, 1947), 154-57; H. M. Oliver, Jr.,"Marginal Theory and Business Behavior", American Economic Review, XXXVII (Junho,1947), 375-83; R. A. Gordon, "Short-Period Price Determination in Theory and Practice",American Economic Review, XXXVIII (Junho, 1948), 265-88.Cabe notar que Lester, alem de referir-5e a MOS assuntos que se relacionam a validade dos"pressupostos", na teoria marginal, tambem se,refere i evidencia que diz respeito a conformi-dade da experiencia com as implica~es da teoria. Cita, alias, como exemplos em qqe lalta essaconformidade, 0 modo pelo qual 0 emprego reagiu, na Alemanha, ao plano Papen e, nos Esta-dos Unidos da America, as altera~es havidas na legisla~ao a respeito dos saIarios m{nimos.Contudo, 0 bteve comentarlo de Stigler eo unico, dentre os demais artigos, em que hli alusao atal evidencia. Cumpre notar, ainda, que nao deve ser ignorada a completa e cuidadosa exposi~ode Machlup, relativa a estrutura 16gica e ao significado da teoria marginal, porque 0 artigo deLester, ao debater 0 tema, estli sensivelmente prejudicado por v3ri.osmal-entendidos que quasechegam a ocultar a evidencia ali apresentada, relevante para 0 assunto examinado. Entretanto,Machlup, enfatizando a estrutura 16gica, chega perigosamente perto do ponto de apresentar ateoria como se fosse mera tautologia ...;.embora esteja claro, em MOS pontos, que ele tern COilS-ciencia do perigo e estli ansioso por evitli-Io. Os artigos de Oliver e de Gordon sao extremados,concentrando-5e exclusivamente na questao da conformidade do comportamento de homens deneg6cios com os "pressupostos" da teoria.

  • III - PODE UMA HIPOTESE SUBMETER-SE ATESTE PEW REALISMO DE SEUS PRESSUPOSTOS?

    Principiemos com urn exemplo fisico simples, 0 da lei da queda dos corpos.Aceita-se a hipotes de acordo com a qual a acelera~ao g, de urn corpo que cai novacuo, e constante, na Terra, com valor aproximado de trinta e dois pes por segun-do (ou seja, 9,8 metros po~ segundo), e independe da forma do corpo, da maneirapela qual tomba,. etc. Isso acarreta cf\le a distancia percorrida por urn corpo, emqueda livre, em qualquer intervalo especificado de tempo, sera dada pela formulas = ( 1/2 ) gt2, on de sea distancia percorrida (em pes ou em metros) e t e 0tempo (em segundos). Aplicar a formula ao caso de uma esfera compacta, deixadacair do telhado de urn edificio, equivale a dizer que a esfera se comporta como seestivesse caindo no vacuo. Submeter a teste a hipotese por meio de pressupostossignificaria, presumivelmente, medir a pressao real do ar para decidir se seu valoresta ou nfo pr6ximo de zero. Ao nivel do mar, a pressao do ar e de aproximada-mente 15 libras por centimetro quadrado (ou seja, de 6,75 kgf por cm2). Estariaesse numero suficientemente proximo de zero para que a diferen~a fosse julgadadestituida de importancia? Aparentemente sim, pois 0 tempo real que a esfera s6li-da leva para atingir 0 solo esta bem proximo do tempo indicado pel a formula. Ima-gine-se, porem, que em vez da esfera compacta se lance, do alto do edificio, umapena. A f6rmula conduz, entao, a resultados exageradamente inacurados. Assim,aquele numero (15, no caso de libras, ou 6,75, no caso dos kgf) e significativamentediferente de zero para apena, mas nao para a esfera compacta. Suponha-se que aformula se veja aplicada a uma esfera deixada cair de urn aviao, a trinta mil pes (ouseja, a quase dez mil metros) de altitude. A pressao do ar, nessa altura, e decidida-mente menor do que 6,75 kgf por centimetro quadrado. Sem embargo, 0 temporeal de queda, de dez para sete mil metros de altitude (quando a pressao do ar aindae muito menor do que a pressao ao nivel do mar), difere consideravelmente dotempo dado pela f6rmula - muito mais apreciavelmente do que 0 tempo gasto pelaesfera em sua queda do alto do edificio para 0 solo. De acordo com a f6rmula, avelocidade da esfera deveria ser gt e deveria, pois, crescer continuadamente. Naverdade, porem, uma esfera deixada caii de dez mil metros de altura atinge a suavelocidade maxima bem antes de chegar ao solo. 0 mesmo acontece com respeito aoutras conseqtiencias da formula.

    A questao inicial - a de saber se quinze esta ou nao suficientemente pr6ximode zero para que a diferen~a possa ver-se desprezada - e, portanto, uma questaomeio tola. Quinze libras por centimetro quadrado equiparam-se a 2.160 libras porpe quadrado ou a 0.0075 toneladas por polegada quadrada. Nao dispomos de meiosque autorizem considerar tais numeros "pequenos" ou "grandes", se nos falta urn

  • padnlo exterior de comparayao. E 0 unico padrao relevante de comparayao e a pres-sac do ar, relativamente a qual a f6rmula "funciona" ou nao, em urn dado conjuntode circunstancias. Isso, porem, levanta a mesma questao, em urn segundo nivel. Quesignificaria "funciona ou nao"? Ainda que pudessemos eliminar os erros de mensu-rayao, 0 tempo de queda, efetivamente medido, dificilmente (ou nunca) se igualariaao tempo fornecido pel a f6rmula. Quao grande deveria ser a diferenya entre essesdois valores para ver-se justificada a afir~ao de que "a teoria nao funciona"? Pararesponder a esta pergunta ha dois importantes padroes exteriores de comparayao.Urn deles seria a acuidade passivel de ser alcanyada por uma teoria altemativa,igualmente aceitavel, com a qual a teoria em pauta fosse confrontada. 0 outropadrao manifesta-se quando existe uma teoria que sabidamente conduz a previsoesmais satisfatorias, mas com maior custo. Os ganhos decorrentes da maior acuidade(e que dependem dos objetivos perseguidos) precisam, nesse caso, ver-se compara-dos com os mais elevados custos de sua obtenyao.

    o exemplo ilustra, a urn tempo, a impossibilidade de submeter a teste umateoria pel os seus pressupostos e a ambiguidade do conceito de "pressupostos deuma teoria". A formula s = (1/2) 9t2 vale para corpos que caem no vacuo e sederiva da analise do comportamento de corpos que caem no vacuo. Cabe dizer,entao, que, em variada gama de circunstancias, os corpos que tombam na atmosferareal se comportam como se estivessem caindo no vacuo. Em linguagem muito usadana Economia, isso traduzir-se-ia, de imediato em: a formula pressupoe 0 vacuo. Mase claro que assim nao acontece. 0 que ela verdadeiramente assevera e isto: emmuitos casos, a existencia da pressao atmosferica, a forma do corpo, 0 nome dapessoa que 0 deixa cair, 0 tipo de mecanismo pelo qual se provoca a sua queda evariadas outras circunstancias presentes deixam de ter efeito apreciavel sobre adistancia que 0 corpo, em sua queda, percorre durante urn especificado intervalo detempo. A hip6tese pode ser facilmente refraseada, de maneira a omitir qualqueralusao ao vacuo: em ampla gama de condiyoes, a distancia percorrida por urn corpo,em queda livre, num especificado intervalo de tempo, e dado pel a f6rmulas = (1/2) 9t2. Deixando de lade a historia dessa formula e a teoria fisica a qual seacha associada, tern sentido afirmar que ela pressupoe 0 vacuo? Ate onde me e dadosaber, ha varios outros conjuntos de circunstancias que poderiam conduzir a mesmaf6rmula. Ela e acolhida porque funciona e nao porque vivamos em urn vacuo apro-ximado - seja qual for 0 significado disso.

    o problema importante, em conexao com a hip6tese, e 0 de especificar ascircunstiincias em que a f6rmula funciona; mais precisamente, e 0 de indicar amagnitude geral dos erros que se apresentam em suas previsoes, sob variadas condi-yoes. Em verdade - como esta implicito no refraseamento da hip6tese, linhas acima- nao se tern essa indicay30 da magnitude dos erros, de urn lado, e a propria hipo-

  • tese, de outro lado, como coisas diversas. A indica9ao e parte essencial da hip6tese,uma parte que tendeni a sofrer revisoes e a ampliar-se, na medida em que a expe-riencia vier a acumular-se.

    No caso especifico da queda dos corpos, ha uma teoria mais geral, emboraainda incompleta, esb09ada em fun9ao de tentativas de explicar os erros da teoriasimples. Essa teoria geral permite avaliar a influencia de alguns fatores de pertuba-9ao e dela se deduz, como caso particular, a teoria simplificada. Entretanto, naoconvem usar sempre a teoria generalizada, pois a acuidade adicional que permitenao justifica, via de regra, 0 custo adicional de seu emprego. Permanece, pois, comoquestao importante, a de saber em que condi90es a teoria simples funciona "sufi-cientemente bem". A pressao do ar e uma - e somente uma - das variaveis quedefinem tais condi90es; ao lado de outras, sao, tambem, relevantes a forma docorpo e a velocidade atingida. Vma das maneiras de interpretar essas variaveis -diversas da pressao do ar - consiste em encara-Ias como fatores que determinam see significativo ou nao urn particular afastamento com_respeito ao "pressuposto" dovacuo. Exemplificando, pode-se dizer que a diferen9a de formas dos corpos torn a asquinze libras por polegada quadrada significativamente distantes de zero, no caso dapena, mas nao significativamente distantes de zero, no caso da esfera compacta,deixada cair de moderada altura. Esse enunciado, porem, deve ser nitidamente dis-tinguido de outro, muito diverso, segundo 0 qual a teoria nao vige, no caso da pena,porque seus pressupostos sao falsos. A rela9ao relevante e exatamente a oposta: ospressupostos sao falsos, no caso da pena, porque a teoria nao funciona. Este pontodeve ser enfatizado pois os "pressupostos" sao usados, de maneira perfeitamentecorreta, a fim de especificar as circunstancias em que a teoria nao vige, mas nao,como erroneamente se admite, com freqiiencia, a fim de determinar aquelas cir-cunstancias - 0 que tern sido, importante fonte de cren9a em que uma teoria possaver-se submetida a testes pelos seus pressupostos.

    Consideremos, agora, outro exemplo, concebido com 0 fito de apresentar-secomo ancilogo de muitas hip6teses que surgem em ciencias sociais. Cogitemos dadensidade das folhas em uma arvore. Sugiro, como hip6tese, que as folhas se posi-cionam como se cada qual delas procurasse, deliberadamente, maximizar a quanti-dade de luz solar que recebe, tendo em conta 0 posicionamento de folhas vizinhas;como se cada qual delas conhecesse as leis fisicas responsaveis pela quantidade deluz incidente em varios pontos e pudesse mover-se rapida ou instantaneamente deurn ponto dado para qualquer outro ponto nao ocupado. ( 1 ) Ora, algumas das

    (1)Embora esteexemplo tenha origem independente, e similar a urn exemplo usado por Armen A.Alchian, em "Uncertainty, Evolution, and Economic Theory", Journal of Political Economy,LVIII ( Junho, 1950), pp. 211-21. Boa poro da discussao subsequente, embora tambemtenha origem independente, acompanha as linhas da discussao de Alchian.

  • mais 6bvias implicayoos dessa hip6tese mostram-se perfeitamente compativeiscom a experiencia. Exemplificativamente (considerando, e claro, 0 que ocorrenos Estados Unidos da America), a densidade das folhas e maior no lado suIdo que no lado norte das arvores, embora isso nlio ocorra ou ocorra demodo menos patente, como a hip6tese implica, em en costas de m~mtes,voltadas para 0 norte, ou quando 0 lado suI das arvores, por alguma razlio,esteja na sombra. Deve a hip6tese tornar-se inaceitavel porque, ate ondesabemos, as folhas nlio "deliberam" nem exibem comportamento consciente,nlio freqiientaram escolas para aprender as relevantes leis cientificas ou as tecnicasmatematicas necessarias para a determinaylio de posiyoes "6timas" e n[o s[ocapazes de mover-se de urn ponto para outro? Nenhuma dessas form as de contra-ditar a hip6tese e vitalmente relevante; os fen6menos envolvidos n[o se acham na"classe de fen6menos que a hip6tese pretende explanar". A hipotese n[o afirma queas folhas fayam tudo aquilo que foi men cion ado acima; limita-se a asseverar que adensidade se apresenta como se as folhas fizessem 0 que foi dito. Em que pese aaparente falsidade dos seus "pressupostos", a hipotese e muito plausivel, dado 0acordo entre suas implica~oes e 0 observado. Tendemos a "explicar" a sua validadecom base em que a luz solar contribui para 0 desenvolvimento das folhas e que, porconseguinte, elas se acumulam ou se mantem, em maior numero, nos locais em queha mais sol. Assim, 0 resultado decorrente de adaptay[o puramente passiva ascircunstiincias exteriores coincide com 0 resultado que decorreria de acomoday[odeliberada a tais circunstiincias. A hip6tese altemativa e mais atraente do que aconcebida, mas n[o porque seus "pressupostos" seja:t;l "realistas" e sim porque ela eparte de uma teoria de maior generalidade, aplicavel a uma variedade maior defen6menos, de que 0 posicionamento de folhas, numa arvore, e apenas urn casoparticular, teoria que admite maior numero de implicayoes passiveis de se veremrefutadas e que n[o foi contraditada, em ampla gama de condi~oes. Aevidencia direta para 0 crescimento das folhas esta, pois, refor~ada pelaevidencia indireta que deflui de outros fen6menos a que essa teoria geral seaplica.

    A hipotese concebida so e presumivelmente valida (ou seja: conduz aprevisoes "suficientemente" acuradas, relativas a densidade das folhas) parauma classe restrita de circunstiincias. Niio sei quais seriam estas circunstiinciase nem como defini-Ias. Parece 6bvio, entretanto, que os "pressupostos" dateoria, neste exemplo, nlio tern qualquer papel na sua determinay[o. 0 tipoda arvore, as caracteristicas do solo, etc., sao as variaveis que, provavelmente,definirlio 0 iimbito de validade da teoria - validade que nao dependera dacapacidade matematica das folhas, nem da possibilidade de elas se moverem de urnpara outro ponto.

  • Savage e eu discutimos, em outro local, (1 ) urn exemplo similar, porem rela-tivo ao comportamento humano. Consideremos 0 problema de determinar (prever)os pontos feitos por urn eximio jogador de bilhar. Nlio parece descabido supor. queexcelentes previsOes seriam obtidas a partir da hipotese de que 0 jogador executa astacadas como se conhecesse as complicadas formulas matematicas pelas quais fica-riam fixadas as trajetorias otimas, fosse capaz, de relance, de fazer estimativas acu-radas sobre os angulos e demais elementos que descrevem as posi~lles relativas dasbolas, estivesse apto, usando as formulas, a realizar caIculos em fra~lles de segundos;e como se pudesse fazer com que as bolas se movessem ao longo das trajetorias indi-cadas pelas formulas: A confian~a que depositamos em tal hipotese nao provem dacren~a em que jogadores de bilhar, ainda que eximios, possam atravessar ou atraves-sem, de fato, as fases do processo descrito; provem, ao contrario, da cren~a em queas pessoas, se nao atingissem, de alguma forma, os mesmos resultados praticos,deixariam de ser eximios jogadores de bilhar.

    Urn pequeno passo nos leva do afirmado nos exemplos ao que se afirma nahipotese da Economia segundo a qual, em ampla gama de circunstancias, as firmas(individualmente consideradas), atuam como se estivessem tratando, racionalmente,de maximizar seus esperados rendimentos (ou "lucros", segundo a terminologiausual, urn tanto desnorteadora) ( 2 ) e tivessem cabal conhecimento dos dados

    (1)Milton Friedman e L. J. Savage, "The Utility Analysis of Choices Involving Risk", Journal ofPolitical Economy, LVI (Agosto, 1948), p. 298. Reimpresso no livro READINGS IN PRICETHEORY, organizado pela American Economic Association (Chicago, Richard D. Irwin, Inc.,1952),pp.57-96.(2 )Parece apropriado 0 usa do termo "lucros" para aludir Ii diferenlia entre resultados reOOse "es-perados", entre recebimentos ex post e ex ante. Como sublinha Alehian (op. cit., p. 212),acompanhando Tintner, os "lucros" sao frutos de incerteza e nao podem, portanto, ver-se, demodo deliberado, antecipadamente maximizados. Face Ii incerteza, os indivlduos e as frrmasescolhem uma dentre varias antecipadas distribuiliOes de probabilidade, relativas aos recebimen-tos ou rendas. 0 conteudo especifico de uma teoria da escolha de uma de tais distribuil(c5esdepende de criterios que permitam hierarquiza-las. Uma hip6tese e a de que devam ser hierar-quizadas segundo a expectativa matematica da utilidade que a elas se associa (cf. Friedman eSavage, "The Expected-Utility Hypothesis and the Measurability of Utility",\op. cit.). Casoespecial dessa hip6tese, ou alternativa para ela, hierarquiza as distribuil(c5es de probabilidadessegundo a expectativa matematica das rendas em dinheiro associadas a elas. Esta ultima alterna-tiva e, possivelmente, mais facil de apliCar (e moos freqiientemente aplicada) ao caso de f'rrmasdo que ao caso de indivlduos. 0 termo "rendas esperadas" sera entendido de modo suficiente-mente amplo para poder abranger qualquer dessas opl(c5es.Os temas a que se faz referencia na presente nota nilo silo fundamentOOs, cogitando-se das ques-toes metodologicas em tela, de modo que se vem contornados, em geral, nas discussOes subs-seqiientes.

  • indispensaveis para aIcanyar hito nessa empreitada; como se - dito de outromodo - conhecessem as relevantes funyoes de demanda e de custo, calculassemcustos marginais e rendimentos marginais associados a todas as opyoes possiveis,relativas as ayoes a tomar, e considerassem cada qual dessas linhas de ac;ao, prolon-gando-as ate fazer com que os custos marginais se identificassem aos rendimentosmarginais. Ora, e claro que os homens de negocios nao resolvem, na realidade, Iite-ralmente falando 0 sistema de equayoes em que 0 economista-matematico conden-sa aquela hipotese - exatamente como as folhas e os jogadores de bilhar tamoomnao executam complicados caIculos matematicos, ou os corpos em queda nao deci-dem criar 0 vacuo. Se perguntarrnos ao jogador de bilhar como escolhe 0 ponto dabola em que da a tacada, ele podera responder que "simplesmente da uma calculada", embora nao deixe de apertar um pe de coelho, para ter sorte. 0 homem denegocios podera dizer, por sua vez, que fixa preyos em termos de custos medios,permitindo, e claro, alguns desvios, quando 0 mercado 0 exige. A resposta do joga-dor e tao "esclarecedora" quanta a do homem de negocios e nenhuma das afirrnayoes se constitui em teste relevante para a hipotese correlata.

    A confianya que possamos ter na hipotese da maximizayao dos rendimentosjustificase por evidencia de genero bem diverso. Essa evidencia e, pelo menos, emparte, semelhante it que se utiliza para apoiar a hipotese do jogador de bilhar: se 0comportamento dos homens de negocios nao se assemelhasse, de algum modo, a urncomportamento compativel com a maximizayao dos rendimentos, parece improva-vel que esses homens viessem a ficar por tempo longo no ramo dos negocios. Supo-nhamos haver um determinante imediato aparente para 0 comportamento negocia-dor - 0 habito, 0 acaso ou qualquer outro fator. Sempre que esse determinanteconduz a um comportamento compativel com a maximizayao bem informada eracional dos rendimentos, os negocios prosperam e propiciam recursos para haverexpansao; caso contrario, os negocios tendem a produzir perda 'de recursos e sopoderao manter-se com auxilio de reservas provenientes de fora. 0 processo de"selec;ao natural" ajuda-nos, pois, a validar a hipotese; em outras palavras, admitidaa seleyao natural, a aceitayao da hipotese pode assentar-se, largamente, na ideia deque ela sumaria, apropriadamente, as condiyoes de sobrevivencia.

    Evidencia de maior importancia, em favor da hipotese da maximizayao dosrendimentos, provem da experiencia colhida em numerosas aplicayoes da hipotese aproblemas especificos - e a reiterada verificayao de que suas implicay5es deixaramde se ver contraditadas. Dificlmente se documentara uma tal evidencia, que se achaespalhada em numerosos memorandos, artigos e monografias cuja preocupayaoprincipal nao era a de submeter aquela hipotese a teste mas a de resolver especfficosproblemas concretos. Ainda assim, a hipotese tern, a sustenta-Ia, um testemunhoindireto e muito forte: 0 seu continuado emprego e a constante acolhida que mere-

  • ceu, por muitos anos - a que se associa a inexistencia de qualquer teoria rival cae-rente, nao auto-contraditoria, capaz de ver-se desenvolvida e tambem amplamenteaceita. A evidencia em favor de uma hipotese resulta, sempre, de falhas nas tentati-vas feitas no sentido de contradita-Ia; essa evidencia acumula-se enquanto a hipotesee utilizada e, por sua propria natureza, nao pode ser facilmente documentada demaneira abrangente. rende, pois, a tornar-se parte da tradiyao e do fold ore de ilmaciencia, revelada atraves da tenacidade com que as hipoteses sao defendidas e naoatraves de listas explicitas de casos em que deixaram de ver-se contraditadas.

    Ate aqui, nossas condusoes relativas ao significado dos "pressupostos" 'deuma teoria foram quase todos negativos: vimos que uma teoria n[o pode ser subme-tida a teste pelo "realismo" de seus "pressupostos" e que 0 proprio conceito de"pressuposto" de uma teoria esta cercado de ambigiiidades. Se isso resurnisse tudo,seria dificil explicar 0 amplo uso desse conceito e a tendencia que todos temos defalar dos pressupostos de uma teoria, e de compara-Ios com os pressupostos deteorias alternativas. Ha muita fumaya presente para que inexista 0 fogo.

    Na metodologia, tal como na ciencia positiva, os enunciados negativos s[oformulados, em geral, com maior confianya do que os enunciados afirmativos. Ex-plica-se, pois, porque tenho menos confianya em minhas proximas observayoes,relativas ao significado e ao papel dos "pressupostos", do que nas observayoes pre-cedentes. Ate on de me e dado ver, os "pressupostos de uma teoria" desempenhamtres papeis positivos diversos, embora relacionados: a) sao, freqiientemente, modoeconomico de descrever ou de apresentar uma teoria; b) facilitam, algumas vezes, 0teste indireto da hipotese e de suas impliayoes; e c) slfo, algumas vezes, como senotou acima, urn meio conveniente de especificar as condiyoes sob as quais se espe-ra seja valida a teoria. Os dois primeiros itens requerem discuss[o mais pormeno-rizada.

    o exemplo das folhas ilustra 0 primeiro papel dos pressupostos. Em vez dedizer que as folhas tendem a maximizar a luz solar recebida, poderiamos formularuma hipotese equivalente, destituida de pressupostos aparentes, sob a forma de limalista de regras que perrnitissem predizer a densidade das folhas: se uma arvore estaem urn plano, sem que outras arvores ou outros objetos impeyam a chegada dosraios solares, entao a densidade das folhas tendera a ter tais e quais peculiaridades;se uma arvore se acha na encosta de urn morro, cercada por diversas outras arvores

  • similares, entao ... ; e assim por diante. Esta e, claramente, uma forma bem menosecon6mica de apresentayao da hipotese do que 0 enunciado simples segundo 0 qualas folhas tendem a maximizar os raios solares que cad a qual delas recebe. Este Ulti-mo enunciado e, na verdade, simples sumario das regras que comp
  • momenta de aplic~[o das regras. Cada ocorrencia tern tray os tipicos proprios, n[oabrangidos pelas regras explicitadas. A capacidade de 60pesar esses tra~os para saberse devem ser desprezados aU n[o e saber se afetam ou n[o a forma de associarfenomenos obsemiveis a certas entidades do modelo, e algo que nao se ensina -algo que so se aprende pela experiencia e mediante contato com a "correta" atmos-fera cientifica, mas nunca adotando procedimentos rotineiros. Neste ponto e que 0"amador" se separa do "profissional", em qualquer ciencia; e por ele passa a linhadivis6ria, muito fina, que separa 0 "vigarista'" do cientista.

    Urn exemplo simples servini, talvez, para esclarecer a quest[o. A GeometriaEuclidiana e urn modelo abstrato, logicamente compl~to e coerente. Suas entidadess[o definidas de maneira precisa: uma reta nao e uma figura cujo comprimento e"muito" maior do que a largura ou aespessura; e uma figura geometrica de exten-s[o zero e largura zero. Uma figura que tambem e, obviamente, "n[o-realista". Naoha, na "realidade", coisas como os pontos, as retas ou as superficies de Euclides.Apliquemos esse modelo abstrato a Urn sinal deixado, no quadro negro, pelo giz. 0sinal identifica-se a uma curva euclidiana, a uma superficie euclidiana ou a urn soli-do euclidiano? Sera apropriadamente equiparado a uma'linha ~ 0 empregamos pararepresentar, digamos, uma curva de demanda. Mas podera ser assim entendido se 0empregarmos para colorir urn mapa, ao delimitar paises, porque jamais chegariamosa cobrir de cores as regioes se 0 sinal fosse visto como curva. Para esse fim, e precisoequiparar 0 sinal a uma superficie. Essa maneira de encara-Io, todavia, esta afastadadas cogitayoes do fabricante de giz; de fato, isso acarretaria que 0 giz n[o chegaria aser usado porque, para esse novo fim, 0 sinal deve ser identificado a urn volume.Neste exemplo simples, os juizos emitidos despertam acordo generalizado. Entre-tanto, e claro que tais juizos - em que pese a viavel formulaya'o de considerayoesamplas que os norteiam - nunca chegam II atingir cabal abrangencia para dar contade cada caso possivel. Esta-lhes vedado 0 carater de coerencia e autosuficiencia quee tipico da Geometria Euclidiana.

    Discorrendo a respeito dos "pressupostos cruciais" de uma teoria, procura-mbS, segundo penso, enunciar os elementos-chaves do modelo abstrato. Ha, via deregra, muitos modos diversos de descrever completamente 0 modelo - varios con-juntos de "postulados" que tanto implicam quanta s[o implicados pelo modelo,contemplado como urn todo. Os modos s[o logicamente equivalentes: elementosque vemos como axiomas ou postulados de urn modelo, em uma perspectiva,podem surgir como teoremas, em outra perspectiva - e reciprocamente. Os especi-ficos "pressupostos" chamados "cruciais" s[o selecionados com base em convenien-cias, tendo em conta questoes como a da simplicidade ou da economia, na descriy[odo modelo, da plausibilidade intuitiva e da capacida'de de sugerir mesmo que t[o--somente por implicayao) algumas considerayoes que se mostrem relevantes para

  • Quando se formula uma hipotese, parece obvia, em geral, a tare fa de separar,nessa formulayao, os enunciados que correspondem aos pressupostos dos enuncia-dos que aludem as implicayoes. Entretanto, nao e facil distinguir, de modo rigoroso,esses dais tipos de enunciados, pais a distinyao, segundo penso, nao e urn trayo dahipotese, como tal, mas da maneira de emprega-Ia. Se assim acontece, a facilidadede classificayao dos enunciados deve refletir ausencia de ambigtiidade no alvo que ahipotese deve atingir. A possibilidade de haver troca de axiomas por tearemas - evice-versa - num modelo abstrato, acarreta a possibilidade de troca de "pressupos-tos" por "implicayoes" - e vice-versa - em hipoteses substantivas associadas aomodelo. Nao significa isso que qualquer implicaylto possa ver-se intercambiada comqualquer pressuposto; significa, apenas, que pode haver mais de urn conjunto deenunciados de que os demais decorram.

    Exemplificando, considere-se uma proposiyao particular, na teoria do com-portamento oligopolista. Se admitirmos que ( a) os empresarios procuram maximi-zar seus rendimentos por quaisquer vias, inclusive par meio de aquisiyao ou de am-pliayao do poder monopolista, isso acarretara que ( b ) as empresarios, quando ademanda por urn "produto" e geograficamente instavel, os custos de transporte saoapreciaveis, os acordos quanta a prey as slto ilegais e 0 numero de produtores doreferido artigo e relativamente pequeno, tenderlto a fixar sistemas de prey os deponto-de-referencia. ( 1 ) A afirmaylto ( a ) e vista como pressuposto e ( b ) comoimplicayao, pois, aceitamos que a analise tern par objetivo a previsao do comporta-menta do mercado. 0 pressuposto sera considerado aceitavel se concluirmos que ascondiyoes especificadas em ( b ) se associam, em geral, ao apreyamento de ponto-de--referencia e reciprocamente. Alteremos 0 objetivo; ele e 0 de identificar aquelescasos em que vale a pena instaurar urn processo judicial assentado na lei anti-truste,de Sherman, pela qual se prOlbe "ajuste fraudulento para atentado ao livre comer-cio". Se admitirmos, entlto, que ( c ) 0 apreyamento de ponto-de-referencia e artifi-cio deliberado, com 0 proposito de facilitar a coluslto, nas condiytks indicadasem ( b ), isso acarretara que ( d ) os empresarios que participam de uma tatica deapreyamento de ponto-de-referencia estarao ligados a urn "ajuste fraudulento paraaten-tado ao livre comercio". 0 que era urn pressuposto, na verslto anterior, passa a

    (1)Ver George J. Stigler, "A Theory of Delivered Price Systems", American Economic Review,XXXIX (Dezembro, 1949), 1143-57.

  • ser uma implica9li'0, nesta segunda versli'o - e reciprocamente. 0 pressuposto ( c )sera dado como valido se concluirmos que, tendo os empresarios adotado urn siste-ma de apre9amento do ponto-de-referencia, existe, comumente, evidencia adicional- sob a forma de cartas, memorandos, ou coisa anaIoga - de que estamos diante doque as cortes de justi9a encarariam como "ajuste fraudulento para atentado ao livrecomercio"

    Imaginemos que a hip6tese funciona, tendo em vista 0 primeiro objetivo, ouseja,o da previsao do comportamento do mercado. Nao deflui dai, claramente, queela funciona quando se tern em vista 0 segundo objetivo, ou seja, 0 de prever seexiste ou deixa de existir evidencia da presen9a de urn "ajuste fraudulento paraatentado ao livre comercio" a justificar uma a9ao judicial. Reciprocamente, se ahip6tese funciona com respeito ao segundo objetivo, nao deflui, dai que ha defuncionar com respeito ao primeiro. T6davia, faltandoevidencia adicional, 0 exitoda hip6tese em urn caso - explicando uma classe de fen6menos - toma maior aconfian9a que nela depositamos ao cogitar de outro caso - explicando outra classede fen6menos. E dificil, todavia, dosar esse au~ento de confian9a, pois ele dependede qUaDintimamente julguemos estarem relacionadas as duas classes de fen6menoso que, por sua vez, depende, em intricada maneira, de tipos anaIogos de evidenciaindireta - ou seja, de experiencia que possamos ter, em outras areas, de como umadada teoria esta em condi90es de explicar fen6menos que, em certo sentido, semostram "similarmente diversos".

    Apresentando 0 mesmo ponto em"perspectiva mais geral, 0 que denominamospressupostos de uma hip6tese presta-se para dar-nos alguma evidencia indireta rela-tiva a aceitabilidade da hip6tese, na medida em que os pressupostos possam ver-se,eles mesmos, considerados como implica9t'5es da hip6tese (de modo que seu acordocom a fealidade seja uma forma de nao contraditar algumas implica90es) ou namedida em que os pressupostos lembrem outras implica9t'5es da mesma hipotese,susceptiveis de observa9ao causal empirica. ( 1 ) A razao que toma indireta essaevidencia e a seguinte: os pressupostos ou as implica9t'5es correspondentes referem--se, via de regra, a uma classe de fen6menos que difere da classe que a hipotese pre-tende explanar; em verdade, como se deixou indicado acima, ai esta 0 principalcriterio de que lan9amos mao ao decidir quais os enunciados que consideraremos"pressupostos" e quais os que consideraremos "implica90es". 0 peso associado aessa evidencia indireta depende de qUaD irltimamente julguemos estarem relaciona-das as duas classes de fenomenos.

    (1)Ver Friedman e Savage, "The Expected-Utility Hypothesis and the Measurability of Utility",op. cit., pp. 466-67, em que se acha outro exemplo especial desse tipo de teste.

  • Outro modo pelo qual os "pressupostos" facilitam 0 teste indireto de umadada hip6tese resuIta do fato deles trazerem a ton a a similaridade que ela possamanter com outras hip6teses, tornando, assim, relevante para a validade da hip6teseem tela a evidencia que corrobora as demais. Exemplicativamente, suponhamos teruma hip6tese relativa a uma particular classe de comportamentos. Ela pode serformulada, como de habito, sem fazer alusoes a "pressupostos". Imaginemos podermostrar que ela, a par disso, equivale a urn conjunto de outros pressupostos, no qualse inclua a ideia de que os homens agem em defesa de seus pr6prios interesses. Ahip6tese ganha, assim, plausibilidade indireta, em virtude do exito (em outras clas-ses de fenomenos) de novas hip6teses em que aquela ideia esteja presente. Na piordas situayoes, 0 procedimento aqui adotado n[o e totalmente destituido de prece-dentes ou destituido de exito, relativamente a todas as demais formas de uso daship6teses. Com efeito, enunciar os pressupostos de modo a explicar uma relayaoentre hip6teses superficialmente diversas e dar urn passo no sentido da formulayaode hip6teses de maior generalidade.

    Esse genero de evidencia indireta, relativa a hip6teses correlatas, explica, emboa medida, os variados graus de confianya que pessoas de formayDes diferentesassoci am a uma particular hipotese. Consideremos, por exemplo, a hip6tese de quea amplitude de discriminayao racial ou religiosa, na oferta de empregos, numa espe-cifica area ou numa especifica industria, associa-se intimamente ao grau de mono-p6lio, na area ou na industria em pauta; de que, sendo a industria competitiva, adiscriminayao somente sera significativa se a raya ou a religiao dos empregadosafetar a disposiyao de outros empregadores (dispostos a aceitar esses empregados)ou a aceitabilidade do produto fjunto a consumidores), mostrando-se, porem,nao-correlacionada aos preconceitos dos pr6prios empregadores. ( 1 ) Essa hip6tesetende a ser muito mais aceitavel para os economistas do que para os soci6logos.Cabe dizer que ela "presume", entre empregadores, nas industrias competitivas, 0simples desejo dos beneffcios pecunhlrios; esse "pressuposto" atua de maneiraadequada em uma ampla gama de hip6teses economicas que dizem respeito a vanosfenomenos de massa de que trata a Economia. Ha de parecer razoavel, aos econo-mistas, que tamoom aqui 0 pressuposto poSsa atuar adequadamente. De outro lado,as hip6teses a que 0 soci610go se habituou possuem urn tipo muito diferente demodelo, ou de mundo-ideal, em que 0 simples desejQ de beneficios pecuniariosdesempenha papel bem menos importante. A evidencia indireta acessivel ao

    (1)Tratamento rigoroso dessa hip6tese precisaria, e claro, especificar como entender "amplitude dadiscriminal;iio racial ou religiosa" e "grau de monopcSlio". Para os presentes objetivos, porem, esuficiente a forrnulal;iio mais ou menos vaga, encontrada no texto.

  • soci6logo, no que concerne a essa hip6tese, e muito menos favoravel para ela do quea evidencia indireta acessivel ao economista. 0 soci610go, por conseguinte, con tem-pIa a hip6tese com maior suspei~iIo.

    E certo que a evidencia do economista e a do soci61ogo niIo se mostram con-cludentes. 0 teste decisivo e 0 da atua~lro da hip6tese junto aos fenomenos que elapretende explanar. E possivel, entretanto, que, antes da realiza~iIo de qualquer testesatisfat6rio desse genero (uma realiza~lro que talvez nlro possa ocorrer em futuroproximo), ~guma avalia~iIo da hipotese venha a tornar-se indispensavel. Em talcaso, a avalia~[o tera de assentar-se na evidencia inadequada ja recolhida. A pardisso, mesmo quando aquele teste pode ser realizado, 0 "brackground" dos cientis-tas nlro e irrelevante para as conclusOes que eles obtem. Em ciencia nunca existecerteza e 0 peso da evidencia, pro ou contra uma hipotese, jamais se avalia de ma-neira totalmente "objetiva". 0 economista sera mais tolerante do que 0 soci610go,ao julgar 0 acordo das implica~~es da hip6tese com a experiencia, e tendera, pois, aacolher a hipotese, ainda que provisoriamente, com base em menor numero de casosde "conformidade".

    v - ALGUMAS IMPLICA(:OES DE INTERESSEPARA AS QUESTOES ECONOMIC AS

    As questeses metodologicas abstratas que discutem tern reflexos diretos sobrea perene critica dirigida cpntra a teoria economica "ortodoxa", tida como "niIo-rea-lista" e sobre as tentativas de reformul~iIo dessa teoria, feitas com 0 objetivo decontornar aquela critica. A Edonomia e uma ciencia "desoladora" porque admiteser 0 homem egoista e avido por dinheiro, urn "inflamado calculador de prazeres ede dores que flutua, como se fOra homogeneo globulo desejoso de felicidade, sob 0impulso de estimulos que 0 empurram de urn lado para outro mas 0 deixam in-tacto". ( 1 ) A Economia assenta-se em Psicologia ultrapassada e precisa ver-se re-construida, pondo-se em consonancia com as novas descobertas psicol6gicas. Admi-te que 0 homem ou, pelo menos, 0 homem de neg6cios, esta "em constante estadode 'alerta', preparado para alterar pre~os ou regras de pre~o sempre que sua intui-~iIo... identifica varia~iIo das condi~~s de oferta e de procura"; ( 2 ) admite que osmercados s[o perfeitos, a competi~iIo e pura e as mercadorias, 0 trabalho e 0 capitals[o homogeneos.

    (1)Thorstein Veblen,. "Why Is Economics Not an Evolutionary Science?" (1898), reimpresso emTHE PLACE OF SCIENCE IN MODERN CIVILIZA nON (New York, 1919), p. 73.(2 )Oliver, op. cit., p. 381.

  • Como ja vnnos, as criticas desse tipo sli'o mais ou menos inocuas, excetoquando se vejam suplementadas por evidencia de que outra hipotese, diferente dateoria criticada em pelo menos urn desses aspectos, conduz a previsoes melhores, emurn ambito n[o menor de fenomenos. Tais suplementarroes, porem, nli'o aparecemnas criticas - que se assentam, quase inteiramente, em discrepancias supostamentepercebidas de modo direto, entre os "pressupostos" e 0 "mundo real". Exemploclaro e dado pelas-recentes critic as dirigidas contra a hipotese da maximizarrli'o dosrendimentos, assentada no fato de que os homens de negocios n[o agem e nempodem agir como a teoria "presume" que 0 farram. A evidencia aduzida em apoiodesta afirmarr[o e, de habito, colhida nas respostas oferecidas pelos homens denegocios, quando lhes sli'o feitas perguntas acerca dos fatares que afetam as suasdecisoes (urn procedimento de teste das teorias economic as perfeitamente compara-vel ao teste das teorias sobre longevidade que se resumisse em indagar, aos octoge-nanos, de que modo explicariam as suas vidas longas), ou colhida em estudos descri-tivos referentes as atividades decisorias de firmas individuais. ( 1 ) Pouca ou nenhu-ma evidencia se fomece, relativa a conformidade do comportamento real dos ho-mens de negocios, no mercado (0 que fazem, em vez do que dizem fazer), com asimplicarroes da hipotese criticada, de urn lado, e com as implicarroes de uma hipote-se alternativa, de outro lado.

    Uma teoria ou os seus "pressupostos" n[o podem ser cabalmente "realistas",no sentido descritivo imediato, que tli'o freqiientemente se atribui ao termo. Umateoria completamente "realist a" do mercado do trigo teria de incluir nao apenas ascondirroes diretamente subjacentes a oferta e a demanda de trigo, como, ainda,

    ( 1)Ver H. D. Henderson, "The Significance of the Rate of Interest", Oxford Economic Papers,n? 1 (Outubro, 1938), 'pp. 1-13; J. E. M{:ade e P. W. S. Andrews, "Summary of Replies toQuestions on Effects of Interest Rates", mesmo local, pp. 14-31; R. F. Harrod, "Price andCost in Entrepe~urs' Policy", mesmo periodico, n?2 (Maio, 1939), pp. 1-11; e R. 1. Hall eC. J. Hitch, "Price Theory and Business Behavior", mesmo local, pp 12-45. Ver, ainda, Lester,"Shortcomings of Marginal Analysis for Wage-Employment Problems", op. cit.; Gordon, op. cit.Ever, eniun, Fritz Machlup, "Marginal Analysis and Empirical Research", op. ciC, particular-mente Sec. II,onde se encontrarn cr{ticas pormenorizadas ao metodo dos questiomirios.Nao pretendo insinuar que sejam imiteis, para todos os objetivos da Economia, os estudos, combase em questionarios, das motiva\;oes ou das cren\;as a respeito de for\;as que afetam 0 compor-tarnento de homens de negocios ou de outras pessoas. Tais estudos podem ser extremamentevaliosos, sugerindo linhas de pesquisa para a analise das divergencias entre resultados esperados eobservados, ou seja, para a e1abora\;ao de novas hipoteses ou a revisao de hipoteses antigas.Entretanto, seja qual for 0 interesse de que se revistam, nesse prisma, os citados estudos meJfarecem completarnente imiteis como forma de submeter a teste a validade de hipoteses eco-nomicas. Ver, a prop6sito, meu comentario em torno do artig'o de Albert G. Hart, "Liquidityand Uncertainty", American Economic Review, XXXIX (Maio, 1949), 198-99.

  • indica
  • as discrepiincias entre comportamento previsto e comportamento real. Ate os maisexagerados advogados dos pressupostos realistas saD obrigados, necessariamente, arejeitar seus pr6prios criterios e a aceitar 0 teste de predi
  • nada mais faz do que negar 0 estagio preliminar de conhecimento, 0 unico em con-di~oes de dar sentido a atividade cientifica. Vma tal declara~[o se assemelha aoenunciado, muito justificadamente ridicularizado por John Stuart Mill, segundo 0qual "afortunadamente, nada mais existe, nas leis relativas ao valor, que os atuais(l848) e futuros pensadores devam esclarecer; a teoria esta completa." ( 1 )

    A confus[o entre acuidade descritiva e relevancia analftica n[o conduziuapenas as criticas mal fundamentadas, dirigidas contra as teorias econornicas; tam-bem levou a mal-entendidos em tomo de tais teorias e a uma orienta~[o erronea dosesfor~os feitos no senti do de escoima-Ias de presumidos defeitos. Os "tipos ideais",no modelo abstrato desenvolvido por teorizadores, na Econornia, tern sido vistos,estritamente, como categorias descritivas que se tenciona estejam em corresponden-cia direta e cabal com entidades do mundo real, independentemente do objetivoque leva ao uso do modelo. As discrepancias 6bvias conduziram a tentativas neces-sariamente mal sucedidas de elaborar teorias com base em categorias que pretendemser completamente descritivas.

    Essa tendencia tern sua mais clara ilustra~[o, possivelmente, na interpreta~!'odada aos conceitos de "concorrencia perfeita" e de "monop6lio" e no desenvolvi-mento da teoria da concorrencia "monopolista", ou "imperfeita". Marshall, segun-do se afirma, adrnitiu a "concorrencia perfeita"; e possivel que tal coisa tenha exis-tido algum dia. Mas ja nlio existe, de modo que e preciso abandonar as suas teorias.o leitor procurara longa e arduamente - e, segundo minhas previ~s: sem exito -se quiser achar, nos escritos de Marshall, qualquer pressuposto explicito acerca daconcorrencia perfeita ou qualquer afirma~lio em que se registre ser 0 mundo, emsentido descritivo, composto por firmas isoladas envolvidas em uma concorrenciaperfeita. Ao contrario, 0 que se encontra nos escritos de Marshall e isto: "Em umaextremidade estlio os mercados mundiais, em que a concorrencia atua diretamente,vinda de todas as partes do globo; em outra est[o os mercados insulados, para osquais a concorrencia vinda de longe esta fora de cogita~oes, embora a concorrenciaindireta e transmitida possa fazer-se sentida mesmo ai; de permeio, entre as duasextremidades, estao quase todos os mercados que os econornistas e os homens deneg6cios tern de estudar." ( 2 I Marshall encarou 0 mundo como ele e; pensou emconstruir urn "mecanismo" para analisa-Io, mas n[o em uma reprodu~[o fotograficado mundo.

    Analisando 0 mundo como ele e,Marshall formulou a hip6tese de que, para a(1)PRINCIPLES OF POLITICAL ECONOMY (Ashley, organizador; Longmans, Green & Co.,1929), p. 346.( 2 )PRINCIPLES, p. 329; ver, tambem, pp. 35, 100,.341,347,375 e 546.

  • resoluy1i'ode numerosos problemas, as firmas podiani ser agrupadas em "indus trias" ,de tal modo que as similaridades das firmas de urn mesmo grupo superassem, emimportancia, as diferenyas que entre etas pudessem existir. Os problemas em tela s1i'oaqueles em que 0 elemento notorio a considerar e 0 de as firmas de urn grupo severem analogamente afetadas por urn dado estimulo; ha, digamos, uma alteray1i'ocomum na demanda pelos artigos que as firmas produzem ou no fornecimentodesses artigos. Todavia, a tatica n1i'o se 'aplica a todos os problemas, ja que, emmuitos casos, 0 eleme1\lto importante a considerar e, justamente, 0 dos efeitos dife-renciadores que demanda e oferta pod em ter sobre firmas particulares.

    o modelo abstrato associado a essa hipotese de Marshall con tern dois tipos"ideais" de firmas: firmas competitivas atomizadas, agrupadas em industrias, efirmas monopolistas. Vma firma se diz competitiva quando a curva de demandaconcernente a sua produy1i'o e infinitamente elastica, relativamente ao seu propriopreyo, para algum preyo e toda a produy1i'o, tendo em conta os pre.yos cobrados portodas as demais firmas; a firma pertence a uma "industria" definida como urn grupode firmas que fabricam urn unico "produto". Urn "produto" e defmido como cole-y1i'ode unidades que, aos olhos do consumidor, n1i'ose distinguem umas das outras,de modo que a elasticidade da demanda, no que concerne a produyao de uma firma,com respeito ao preyo de outra firma da mesma industria, se toma infinita, paraalgum preyo e certas produyoes. Vma firma se diz monopolista quando a curva dedemanda, concernente a sua produyao, n1i'oe infinitamente elastica, para urn dadopreyo, relativamente a todas as produyoes. ( 1 ) Se a firma e monopolista, elapropria e uma industria. ( 2 )

    Como sempre, a hipotese, no seu todo, consiste n1i'o apenas desse modeloabstrato e de seus tipos ideias, mas tambem de urn conjunto de regras, quase sempreimplicitas, sugeridas por exemplificay[o, que permita identificar firmas reais a urnou outro de tais tipos ideais e permita classificar as firmas, para situa-Ias em indus-trias. Os tipos ideais n1i'otern a pretensao de ser descritivos; s[o concebidos a fim deisolar os' trayos que se nrostrem relevantes para a resoluyao de urn particular pro-blema. Ainda que pudessemos fazer estimativas diretas e acuradas da curva de de-marida para urn produto da firma, n[o nos seria permitido dizer, de imediato, que

    (1)Esse tipo ideal pode ser dividido em dois: a firma oligopolista, se a curva de demanda para 0produto e infmitamente elastica, a urn dado pre~, para alguns, mas mlo todos os produtos; e afirma propriamente monopolista, se a curva de demanda mlo e infinitamente elastica em qual-quer de seus pontos, exceto, possivelmente, no ponto que corresponda a uma produ~ao nula.(2 )Para 0 adepto do oligopolismo caracterizado na precedente nota, uma industria sera definidacomo grupo de f"rrmasque produzem urn mesmo produto.

  • ela e perfeitamente competitiva ou monopolista, segundo a finitude ou nao-finitudeda elasticidade daquela curva. Nenhuma curva de demanda, efetivamente observada,e perfeitamente horizontal, de modo que a elasticidade estimada sempre sera finita.A questao relevante, invariavelmente, e a de saber se a elastieidade toma valores"suficientemente" grandes a ponto de poder ser vista como infinita. Essa questao,entretanto, nao adrnite resposta definitiva com base, apenas, no valor numerico dapropria elasticidade - exatamente como nao podemos dizer, de uma vez por todas,que a pressao atmosferica de quinze libras por polegada quadrada esta "suficiente-mente" proxima de zero a ponto de permitir 0 usa da formula s = (1/2) 9t2.Analogamente, nao nos e dado calcular as elasticidades-cruzadas da demanda para,em seguida, classificar as firmas, distribuindo-as em industrias, segundo a existenciade "substancial hiato nas elasticidades-cruzadas da demanda". Como diz Marshall,"Saber onde tra
  • exemplo. ( 1 )De outro fado, a hip6tese de que as fabric as de cigarros agiriam como se

    fossem perfeitamente concorrentes teria sido urn falso guia para 0 estudo de suasreac;i5esao controle de prec;os, durante a Segunda Guerra Mundial - 0 que se reco-nheceria are mesmo antes do evento. as custos das fabricas de cigarros devem tersubido no periodo da guerra. Em tais condic;oes, competidores perfeitos teriamreduzido a quantidade oferecida para venda a prec;os antigos. Todavia, cabe presu-mir que, mantidos os prec;os antigos, 0 aumento da renda dos consumidores, naepoca do conflito, aumentaria a demanda. Em condic;oes de concorrencia perfeita, aestrita adesao ao prec;o legal acarretaria nao apenas "escassez", (no sentido de que aquantidade solicitada superaria a quantidade oferecida), como, ainda, urn declinioabsoluto do numero de cigarros produzidos. as fatos contraditam essa particularconsequencia: houve, na verdade, ades[o razoavelmente boa aos prec;os maximosdos cigarros e, no en tanto, as quantidades produzidas aumentaram substancialmen-te. A fOflra comum dos custos aumentados agiu, presumivelmente, com menos in-tensidade do que a fore;:ade ruptura, representada pelo desejo, em cada firma, deconservar sua porC;ao do mercado e de manter 0 valor e 0 prestigio do nome de seuproduto - especialmente quando os impostos sobre excesso de lucros desviou, parao govemo, uma grande parte dos gastos com a propaganda. No que conceme a esteproblema especifico, as firmas fabricantes de cigarros n[o poaem ser tratadas comose fossem concorrentes perfeitos.

    a cultivo de trigo e lembrado, frequentemente, para ilustrar a concorrenciaperfeita. Entretanto, assim como e_legitimo, para alguns problemas, cogitar dosprodutores de cigarros como se formassem uma industria perfeitarnente competiti-va, nlfo e legitimo, para outros problemas, cogitar dos produtores de trigo nessestermos. Exemplificlltivamente, n[o e conveniente tratar os produtores de trigocomo se constituissem uma industria perfeitamente competitiva se a quest[o emfoco e ados prec;os diferenciados que os operadores de maquinas da regi[o pagarnpelo trigo.

    As ideias de Marshall mostraram-se muito uteis para a analise de problemasem que urn grupo de firmas e afetado por urn estimulo comum e em que as firmaspodem ser tratadas como se fossem concorrentes perfeitos. Ai esta a fonte domal-entendido que levou a admitir haver Marshall "presumido" a concorrencia per-feita, em algum sentido descritivo. Seria altarnente conveniente dispor de umateoria roais geral do que a p,roposta por Marshall, uma teoria que englobasse, aomesmo tempo, os casos em que tern e os casos em que n[o tern importancia essen-

    ( 1)as trechos citados saodos PRINCIPLES.

  • cial a diferencia9ao de produtos ou a redu9ao de numeros. Vma teoria desse generoperrnitiria a abordagem de problemas hoje fora de nosso alcance e, a par disso,simplificaria a questao de delirnitar 0 ambito de circunstancias sob as quais a teoriasimplificada poderia apresentar-se como aproxima9ao adequada. A fim de que essateoria desempenhe tais fun96es ela deve possuir conteudo e substancia; e deve admi-tir implica90e.s (de substantivo interesse e importancia) passiveis de se verem con-traditadas pela experiencia.

    As ideias de Chamberlin e Robinson, relativas a concorrencia monopolista, ouimperfeita, constituem uma tentativa de elabora91io de uma tal teoria generali-zada. ( 1 ) Infelizmente faltam-Ihes os predicados que poderiam transforma-Ias emuma teoria geral verdadeiramente uti!. A sua contribui91io lirnitou-se, em linhasamplas, ao campo do aperfei90amento da apresenta9[0 da Econornia das firmasindividuais - permitindo a dedu9ao de implica90es, a partir do modelo marshallia-no; 0 refinamento da analise monopolista, efetuada por Marshall; e 0 enriquecimen-to do vocabulario utilizado para descrever a experiencia industrial.

    As falhas da teoria se mostram claras quando ela e aplicada (ou quando serevela incapaz de ser aplicada) aos problemas em que se considera grupos de firmas,ou seja, as "industrias" de Marshal!. A defini

  • como grupo de firmas que tern as mesm~ curvas de custos e de demanda. ( 1 ) Issotamoom n[o tern sentido, logicamente, na medida em que a diferenciay[o de pro-dutos, e essencial, segundo se afirma, e n[o pode ser deixada de lado. Que significa-do poderia ter a afirmay[o de que as curvas de custo e de demanda s[o identicas,

    , tendo em conta uma flibrica de tratores e uma flibrica de grampos? ( 2 ) Se faltasignificado a uma tal afirrnay[o, relativa a tratores e grampos, tamoom falta signifi-cado a uma afirmay[o anaIoga, relativa a duas diferentes marcas de dentifricio - namedida em que se ponha como de fundamental importancia a diferenya entre asduas marcas.

    A teoria da competiy[o monopolista n[o nos dli recursos para analisar umaindustria e, portanto, n[o nos ajuda a determinar urn ponto intermediario, entre afirma, num extremo, e 0 equilIbrio geral, no outro. ( 3 ) Ela e, por conseguinte, in-capaz de prestar auxilio a quem deseja analisar uma serie de importantes problemas,ja que nos coloca num extremo, que e excessivamente estreito para despertar inte-resse, ou no outro, que e exageradamente amplo para permitir a formulay[o degeneralizay~s significativas. ( 4 )

    A Economia, enquanto ciencia positiva, e urn corpo de generalizay(}es, provi-soriamente acolhidas, referentes a fenomenos economicos, passiveis de se veremutilizadas para prever as consequencias de altera~~s das circunstancias. 0 progresso- ampliayli'o desse corpo de generalizayoes; aumento de nossa confianya em suavalidade e aperfeiyoamento da acuidade das previs(}es que permitem - esta obstadon[o s6 pelas limitayoes das capacidades humanas, que entravam todas as tentativasde obter conhecimentos, como, ainda, por vanos 6bices que se mostram particular-

    (1)Op. cit., p. 82.(2)Sempre existe uma transforma~o de quantidades capaz detornar identicas as curvas de custoou as de demanda. Essa transforma~o nao precisa, entretanto, ser linear, caso em que envolveraunidades de tamanhos diferentes, para urn produto, a n{veis diversos de produ\(ao. Nao precisaexistir, obrigatorialnente, uma transforma~o capaz de tornar identicos os dois pares de curvas.(3 )Ver Robert Trifim, MONOPOLISTIC COMPETITION AND GENERAL EQUILIBRIUMTHEORY (Cambridge, Harvard University Press, 1940), esp. pp. 188-89.(4)Cr{tica pormenorizada encontra-se em George J. Stigler, "Monopolistic Competition in Retros-pect" in FIVE LECTURES ON ECONOMIC PROBLEMS (Londres, Macmillan & Co., 1949),pp.12-24.

  • mente importante no caso das ciencias sociais e da Economia, em particular, embo-ra nao atinjam apenas essas areas, Familiariza,
  • contra a teoria econ6mica, acusando-a de falta de realismo. As criticas sao, emgeral, irrelevantes e, conseqiientemente, nao emprestaram exito as sugeridas tentati-vas de reformual9ao da Economia.

    o fato das criticas, em boa parte, se mostraram irrelevantes nao permite con-cluir, e claro, que ,a teoria econ6mica existente mere9a urn elevado grau de confian-9a. As criticas nao tern alcan9ado urn alvo, mas isso nao quer dizer que 0 alvoinexista. Alias, em urn sentido trivial, ele obviamente existe, pois qualquer teoriaassume, obrigatoriamente, uma fei~'To plOvis6ria e esta sempre sujeita a modifica-90es, na medida em que 0 conhecimento avan9a. Para fugir desse lugar-eomurn eindispensavel haver indica9ao especifica do conteudo da "teoria econ6rnica existen-te" e distin9ao clara entre seus diversos ramos, uma vez que certas partes da Eco-nomia merecem mais confian9a do que outras. Adrnitindo que fosse possivel fazeruma avalia9ao ampla do presente estado da Econornia positiva, urn sumario em quese registrasse a evidencia que diz respeito a sua validade e urn julgamento da con-fian9a relativa que cada qual de suas partes tern merecido, isso exigiria, naturalmen-te, urn tratado ou urna serie de tratados - nao urn breve artigo em que se focaliza ametodologia.

    o maximo que aqui se podera oferecer e a express[o superficial de pontos devista pessoais. A teoria dos pre90s relativos que ai esta, projetada para explanar aaloc~ao de recursos, face a objetivos diversos, e a divis[o dosprodutos entre asfontes cooperativas - e que quase atingiu a sua presente forma nos Principles ofEconomics, de Marshall - parece-me extremamente frutifera e merecedora deconfian9a quando se cogita do tip6 de sistema econ6rnico adotado pelas na95es doOcidente. Em que pesem as controversias acaloradas, 0 mesmo se pode dizer dateoria monet::iria est::itica hoje em voga, erigida para explanar 0 nivel estrutural ousecular dos pre90s absolutos, a produ9ao agregada e algumas outras variaveis queinteressam a Economia, como urn to do - urna teoria que teve, como nucleo b::isico,em todas as suas variantes principais, de David Hume ate John Maynard Keynes,passando pela Escola de Cambridge e por Irving Fisher, uma forma da teoria quanti-tativa de moeda. A mais fraca e menos satisfat6ria parte da atual teoria econ6rnica,segundo creio, e a da dinamica monet::iria, preocupada com 0 processo de adapta9ao