estudo da morbidade e da mortalidade perinatal em … · 2005. 9. 26. · laurenti, r. et al....

12
ESTUDO DA MORBIDADE E DA MORTALIDADE PERINATAL EM MATERNIDADES. I Descrição do Projeto e Resultados Gerais* Ruy Laurenti** Cassia Maria Buchalla*** Moacyr Lobo Costa Jr.**** LAURENTI, R. et al. Estudo da morbidade e da mortalidade perinatal em maternidades. I-Descrição do projeto e resultados gerais. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 18: 436-47,1984. RESUMO: É descrito estudo sobre morbidade e mortalidade ocorridas no período perina- tal por meio da coleta de dados referentes ao evento, ao produto e à mãe. O estudo foi feito, de maneira coordenada e padronizada, em nove maternidades, sendo sete no Estado de São Paulo, uma no Rio de Janeiro e outra em Florianópolis, SC, o que possibilitou a coleta de dados referentes à 13.130 eventos, dos quais 12.782 eram nascidos vivos; 217 nascidos mortos e 131 abortos. Esta apresentação é a primeira de uma série e que visou descrever detalhada- mente o projeto, bem como apresentar alguns resultados globais, sendo que resultados mais específicos serão apresentados futuramente. Dentre os resultados globais chama a atenção a alta mortalidade perinatal, a alta percentagem de cesária e o baixo peso nos casos de nascidos mortos ser, aproximadamente, cinco vezes mais forte que o baixo peso ao nascer nos casos de nascidos vivos. UNITERMOS: Mortalidade perinatal. Morbidade. Maternidades. INTRODUÇÃO O período perinatal é aquele que se inicia na idade gestacional na qual o feto atinge o peso de 1000g (equivalente a 28 semanas de gestação), até o final completo do sétimo dia (168 h) de vida 7 . As mortes de um produto da concepção, neste período, são chamadas "mortes perinatais", compreendendo portan- to a soma das perdas fetais a partir da 28. a semana de gestação (perdas fetais tardias ou nascidos mortos) com as mortes de crianças ocorridas nos primeiros sete dias de vida (mortes neonatais precoces). Ainda que o período perinatal represente menos que 0,5% da duração média da vida humana, em muitos países, atualmente, o número de mortes durante esse período excede aquele observado nos 30 anos subse- qüentes 12 . Compreende-se, portanto, a im- portância de se conhecer o que ocorre, do ponto de vista de morbidade e mortalidade nesse período, visto que esse conhecimento permitirá identificar fatores e causas, possi- bilitando dessa maneira atuar sobre os mes- mos visando sua redução. * Projeto desenvolvido no Centro da Organização Mundial da Saúde para a Classificação de Doenças em Português (Centro brasileiro de Classificação de Doenças), da FSP-USP, com auxílio financeiro da FAPESP (Projeto n. o 81/0342-6), da Organização Panamericana da Saúde, e do DES (Develop- ment of Epidemiological and Health Statistical Services) da Organização Mundial da Saúde. ** Do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da Universidadede São Paulo e do Centro Brasileiro de Classificação de Doenças da Faculdade de Saúde Pública da USP - Av. Dr. Arnaldo, 715 - 01255 - São Paulo, SP - Brasil. *** Do Centro Brasileiro de Classificação de Doenças da FSP/USP - São Paulo, SP - Brasil. **** Do Departamento de Epidemiologia da FSP/USP - São Paulo, SP - Brasil.

Upload: others

Post on 21-Nov-2020

3 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: ESTUDO DA MORBIDADE E DA MORTALIDADE PERINATAL EM … · 2005. 9. 26. · LAURENTI, R. et al. Estudo da morbidade e da mortalidade perinatal em maternidades. I-Descrição do projeto

ESTUDO DA MORBIDADE E DA MORTALIDADEPERINATAL EM MATERNIDADES.

I — Descrição do Projeto e Resultados Gerais*

Ruy Laurenti**Cassia Maria Buchalla***Moacyr Lobo Costa Jr.****

LAURENTI, R. et al. Estudo da morbidade e da mortalidade perinatal em maternidades.I-Descrição do projeto e resultados gerais. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 18: 436-47,1984.

RESUMO: É descrito estudo sobre morbidade e mortalidade ocorridas no período perina-tal por meio da coleta de dados referentes ao evento, ao produto e à mãe. O estudo foi feito,de maneira coordenada e padronizada, em nove maternidades, sendo sete no Estado de SãoPaulo, uma no Rio de Janeiro e outra em Florianópolis, SC, o que possibilitou a coleta dedados referentes à 13.130 eventos, dos quais 12.782 eram nascidos vivos; 217 nascidos mortose 131 abortos. Esta apresentação é a primeira de uma série e que visou descrever detalhada-mente o projeto, bem como apresentar alguns resultados globais, sendo que resultados maisespecíficos serão apresentados futuramente. Dentre os resultados globais chama a atenção aalta mortalidade perinatal, a alta percentagem de cesária e o baixo peso nos casos de nascidosmortos ser, aproximadamente, cinco vezes mais forte que o baixo peso ao nascer nos casosde nascidos vivos.

UNITERMOS: Mortalidade perinatal. Morbidade. Maternidades.

INTRODUÇÃO

O período perinatal é aquele que se iniciana idade gestacional na qual o feto atinge opeso de 1000g (equivalente a 28 semanas degestação), até o final completo do sétimo dia(168 h) de vida7. As mortes de um produtoda concepção, neste período, são chamadas"mortes perinatais", compreendendo portan-to a soma das perdas fetais a partir da 28.a

semana de gestação (perdas fetais tardias ounascidos mortos) com as mortes de criançasocorridas nos primeiros sete dias de vida(mortes neonatais precoces).

Ainda que o período perinatal representemenos que 0,5% da duração média da vidahumana, em muitos países, atualmente, onúmero de mortes durante esse períodoexcede aquele observado nos 30 anos subse-qüentes12. Compreende-se, portanto, a im-portância de se conhecer o que ocorre, doponto de vista de morbidade e mortalidadenesse período, visto que esse conhecimentopermitirá identificar fatores e causas, possi-bilitando dessa maneira atuar sobre os mes-mos visando sua redução.

* Projeto desenvolvido no Centro da Organização Mundial da Saúde para a Classificação de Doençasem Português (Centro brasileiro de Classificação de Doenças), da FSP-USP, com auxílio financeiroda FAPESP (Projeto n.o 81/0342-6), da Organização Panamericana da Saúde, e do DES (Develop-ment of Epidemiological and Health Statistical Services) da Organização Mundial da Saúde.

** Do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo edo Centro Brasileiro de Classificação de Doenças da Faculdade de Saúde Pública da USP - Av. Dr.Arnaldo, 715 - 01255 - São Paulo, SP - Brasil.

*** Do Centro Brasileiro de Classificação de Doenças da FSP/USP - São Paulo, SP - Brasil.**** Do Departamento de Epidemiologia da FSP/USP - São Paulo, SP - Brasil.

Page 2: ESTUDO DA MORBIDADE E DA MORTALIDADE PERINATAL EM … · 2005. 9. 26. · LAURENTI, R. et al. Estudo da morbidade e da mortalidade perinatal em maternidades. I-Descrição do projeto

A mortalidade perinatal tem grande im-portância principalmente naquelas áreas on-de a mortalidade infantil atingiu os menoresvalores, onde pode-se considerá-la como umresíduo. De fato, à medida que se foi conse-guindo reduzir a mortalidade infantil, as mor-tes nesse período foram se concentrando nassemanas mais próximas do nascimento, sen-do que quando ela atinge valores inferioresa 15 por mil nascidos vivos (NV), a quasetotalidade das mortes são neonatais preco-ces, isto é, ocorrem na primeira semana devida.

A mortalidade infantil tem sido estudadaexaustivamente em todos os países e, pode-se dizer, muito se sabe a seu respeito: sua

evolução, as causas básicas e associadas maisfreqüentes, assim como os fatores ambien-tais, biológicos, sociais e outros que a influ-enciam. Baseando-se nesses conhecimentoshouve a possibilidade, por meio de ações, dereduzi-la a níveis bem baixos.

Em países como o Brasil, onde ainda éalta a mortalidade infantil, também o é amortalidade perinatal, ainda que sua impor-tância relativa não seja como nas áreas ondea mortalidade infantil é baixa.

Poucos estudos têm sido feitos, entre nós,referentes às mortes no período perinatal;o seu conhecimento seria importante em ter-mos de sua redução e representaria, poroutro lado, uma contribuição importantepara a redução da própria mortalidade in-fantil como um todo. Muitos problemas quesurgem nesse período vão contribuir, forte-mente, para a morbidade e mortalidade nosprimeiros meses de vida.

O estudo da mortalidade perinatal, pelamaneira clássica e tradicional de se analisarrotineiramente mortalidade, isto é, pelosatestados de óbito, não é de todo satisfató-rio por algumas razões como, entre outras,freqüentemente existir sub-registro dos óbi-tos fetais, o que prejudicaria a mensuraçãocorreta das taxas e o conhecimento das cau-sas de morte não ser muito fidedigno. Defato, quanto à este último aspecto, o concei-to de uma causa única, a causa básica, nãose aplica muito bem no período perinatal,visto que dois indivíduos estão envolvidos

(mãe e feto) e também porque algumas causasou circunstâncias não necessariamente atri-buíveis, quer à mãe, quer à criança, podemcontribuir para uma morte perinatal. Émuito difícil incluir todas essas informaçõesno "Atestado de Óbito" adotado internacio-nalmente, mesmo porque ele não prevê apossibilidade de se registrar informaçõesimportantes como, por exemplo, tipo departo, assistência pré-natal, condições de nas-cimento, além de outras.

Análise mais profunda das causas demorte, relacionando-as com fatores mater-nos, fetais e outros, seria possível por meiode um acompanhamento de nascimentosocorridos durante um determinado períodoem maternidades. É importante salientar queesse procedimento permitiria também conhe-cer a morbidade e, desta maneira, a letalida-de por diferentes causas no período perina-tal.

Com base neste tipo de estudo foi realiza-do o presente trabalho, em nove maternida-des, com coleta de informações de 13.130nascimentos. Esta apresentação constitui aprimeira de uma série e tem como objetivodescrever detalhadamente a metodologia eapresentar alguns resultados gerais do mate-rial coletado bem como algumas caracterís-ticas da mortalidade perinatal sem, entretan-to, fazer análise profunda do comportamen-to de algumas variáveis, o que será feito empublicações que se seguirão à esta.

MATERIAL E MÉTODOS

Ainda que o ideal fosse analisar a morbi-dade e a mortalidade perinatal para a popu-lação de uma área geográfica definida, ten-do-se em vista que o que se pretendia era oestudo de algumas variáveis (maternas, fetaise outras) e suas influências, optou-se por es-tudar os nascimentos ocorridos em váriasmaternidades mesmo que estas não perten-cessem à uma mesma área. Assim sendo, osresultados analisarão a influência de diferen-tes variáveis na morbidade e mortalidadeperinatal, não representando, contudo, ascaracterísticas para toda a população dasáreas onde se realizou o estudo. A população

Page 3: ESTUDO DA MORBIDADE E DA MORTALIDADE PERINATAL EM … · 2005. 9. 26. · LAURENTI, R. et al. Estudo da morbidade e da mortalidade perinatal em maternidades. I-Descrição do projeto

de estudo é representada pelo total de nasci-dos vivos e mortos de um conjunto de novematernidades.

Escolha das Maternidades: Os responsáveispela pesquisa entraram em contacto comobstetras, pediatras neonatologistas e patolo-gistas, expondo o que se pretendia realizar.

As condições para a participação no estu-do foram: o interesse do corpo clínico e apossibilidade de participação em reuniõespara discussão do projeto assim como deseu andamento; existência de um coordena-dor em cada serviço participante; a utilizaçãofutura dos dados, em cada uma das materni-dades, para análise de seus resultados, inclu-sive do registro dos dados, e principalmenteo aproveitamento por alunos de pós-gradua-ção ou outros, para elaboração e divulgaçãode trabalhos.

Em cada uma das maternidades foi indi-cado um coordenador e foram selecionadosalunos do curso médico ou residentes paraa coleta de dados. Em dois serviços a coorde-nação foi feita por enfermeira.

Das consultas feitas com vários grupos foipossível a seleção de nove maternidades ouhospitais gerais com leitos maternidade, asaber:- Hospital das Clínicas da Faculdade deMedicina da Universidade de São Paulo— Hospital das Clínicas da Faculdade deMedicina de Ribeirão Preto da Universidadede São Paulo- Hospital Maternidade São Vicente dePaula de Jundiaí- Associação Hospitalar de Cotia- Hospital Maternidade Carmela Dutra deFlorianópolis- Maternidade Gota de Leite de Araraquara- Hospital Municipal de Santo André- Hospital das Clínicas da Faculdade deMedicina de Marília- Instituto Fernandes Figueira da FundaçãoOswaldo Cruz do Rio de Janeiro

Período de Estudo: Após os preparativos ini-ciais e o pré-teste, foi possível começar o tra-balho de campo com a coleta dos dados apartir de 1.o de agosto de 1981 e término em

31 de julho de 1982. Coletaram-se dadosde todos os nascimentos (vivos ou perdasfetais) ocorridos nesse período; decidiu-seque mesmo aqueles casos cujos nascimentosaconteceram em trânsito para o hospital,da mesma maneira os ocorridos no domicí-lio, porém com internação imediata nas ma-ternidades, fariam parte da casuística.

Por diversos motivos duas maternidadesnão puderam completar os 12 meses deobservação, tendo sido coletados dadospara apenas os seis meses iniciais (Hospitaldas Clínicas da Faculdade de Medicina deRibeirão Preto e Hospital e MaternidadeCarmela Dutra, de Florianópolis).

Variáveis Estudadas: Foram coletados dadosreferentes às seguintes variáveis:

a) em relação ao parto:- hora, dia, mês— local (no próprio hospital, em outro

hospital, na residência, etc)- tipo (normal, cesariana, etc) e a indi-

cação quando existente.- tipo de nascimento (único ou múltiplo)- data da alta ou do óbito

b) em relação à mãe:- idade— estado marital- duração da gestação- n.o de gestações anteriores com a ca-

racterística dos produtos (nascido vi-vo, nascido morto ou aborto)

- assistência pré-natal por trimestre- diagnósticos maternos existentes (in-

cluindo sintomas e sinais se fossem osúnicos existentes) durante a presentegestação

- hábito de fumar

c) em relação ao produto:— sexo- comprimento- apgar no 1.o, 5.o e 10.o minutos- diagnósticos (incluindo sintomas e si-

nais, se fossem os únicos existentes).

Page 4: ESTUDO DA MORBIDADE E DA MORTALIDADE PERINATAL EM … · 2005. 9. 26. · LAURENTI, R. et al. Estudo da morbidade e da mortalidade perinatal em maternidades. I-Descrição do projeto

Instrumento: Para a coleta dos dados utili-zou-se um questionário pré-codificado*. Oseu preenchimento foi feito por estudantesde medicina, médicos residentes ou enfer-meiras, previamente treinados. A coleta erafeita por consulta aos prontuários (da mãe eda criança), entrevista à mãe quando neces-sário, e para algumas variáveis, em casos dedúvidas, entrevista com os médicos.

Todas as mortes perinatais ocorridas du-rante o estudo tiveram uma cópia do ates-tado de óbito anexado ao questionário, vi-sando a análise da qualidade da declaraçãode causa de morte, não só do ponto de vistade seu preenchimento propriamente dito,mas também quanto aos dados nela conti-dos. No caso de ter havido autópsia, os lau-dos eram consultados para complementaçãodas informações sobre as patologias existen-tes.

O instrumento definitivo, foi elaboradoapós um pré-teste de seis meses, realizado emduas das maternidades participantes, atingin-do um total de 1.529 casos. A realização dopré-teste permitiu não somente avaliar o ins-trumento fazendo-se as modificações neces-sárias, como também foi importante paraestabelecer uma operacionalização de todoo trabalho: envio dos questionários, recepçãoapós o preenchimento, revisão, codificação,teste de consistência, e outras.

Equipe: A coordenação central ficou a cargodo "Centro da OMS Para Classificação deDoenças em Português (Centro Brasileiro deClassificação de Doenças), do Departamentode Epidemiologia da Faculdade de SaúdePública da USP.

Em cada maternidade existia um coorde-nador responsável, sendo que em duas delasessa coordenação foi efetuada por duas pes-soas. Havia em cada local de um a três cole-tadores de dados (entrevistadores) os quaisforam treinados pela equipe central.

Operacionalização: Mensalmente cada coor-denador local recebia quantidade suficientede questionários, os quais, parceladamente,eram distribuídos aos coletadores de dados.

Após serem preenchidos, os questionárioseram revisados pelo coordenador local e,caso necessário, retornavam ao entrevistador.

Quinzenalmente ou mensalmente o coor-denador local enviava os questionários preen-chidos à equipe central, onde eram numera-dos seqüencialmente com uma identificaçãoprópria para cada local. A seguir eram revis-tos, sendo que quando necessário retorna-vam ao coordenador local para correções,complementação de informações ou elucida-ção de dúvidas (inclusive quanto à grafia eabreviações). Em seguida era feita a codifi-cação em duas etapas: primeiro as informa-ções gerais e segundo a parte médica, isto é,os diagnósticos (doenças, sintomas e sinais)do produto da gestação e da mãe, sendoutilizada a 9.a Revisão da Classificação In-ternacional de Doenças7.

Uma vez codificado, os questionárioseram encaminhados ao Centro de Compu-tação Eletrônica da USP. Periodicamenteeram elaboradas listagens de algumas variá-veis pré-selecionadas bem como tabelas sim-ples com a finalidade de testar a consistên-cia dos dados. Quando era detectada algumainconsistência, o questionário era revisto efeita a correção.

RESULTADOS E COMENTÁRIOS

A metodologia adotada, isto é, um estudocoordenado com coleta de dados feita demaneira padronizada permitiu obter infor-mações sobre variáveis importantes e que di-ficilmente seriam obtidas pelos registros tra-dicionais (prontuários médicos e atestadosde óbito). Por outro lado, a maneira comofoi realizado, com a colaboração de váriosserviços, possibilitou a obtenção de valiosasinformações a custo reduzido, visto que,com exceção dos entrevistadores, todos os

* Os interessados poderão obter cópia do questionário, diretamente com os autores.

Page 5: ESTUDO DA MORBIDADE E DA MORTALIDADE PERINATAL EM … · 2005. 9. 26. · LAURENTI, R. et al. Estudo da morbidade e da mortalidade perinatal em maternidades. I-Descrição do projeto

outros participantes trabalharam voluntaria-mente.

Nesta primeira apresentação serão expos-tos apenas os resultados gerais, sempre deforma global para as nove maternidades esomente sob o aspecto descritivo, não en-trando ainda em análise estatística de variá-veis específicas, o que será feito nos traba-lhos que se seguirão.

Na apresentação dos resultados apenasidentificaremos as maternidades, com o nú-

mero de nascimentos segundo o tipo de pro-duto e os coeficientes de mortalidade peri-natal e seus componentes em cada um dosserviços participantes. Nos demais resultadosessa identificação não se fará e nos casos emque as diferenças resultantes levarem à umacomparação, esta se fará através da denomi-nação da maternidade como "A", "B" ou"C", e assim sucessivamente.

Foram coletados dados de 13.130 even-tos, nascidos vivos (NV), nascidos mortos

(NM) e aborto, dos quais 12.782 foram NVe o restante perdas fetais, das quais 217 NM(ou perdas fetais tardias) e 131 abortos (per-das fetais precoces e intermediárias), como sevê na Tabela 1.

Para a análise do material serão excluídosos abortos, assim sendo, quando em traba-lhos futuros forem apresentados outros re-sultados como as patologias ou intercorrên-cias do produto da gestação ou mesmo ma-ternas, essa classe não estará incluída.

Na Tabela 2 estão os resultados obtidospara cada um dos hospitais que participaramdo estudo, mostrando o que ocorreu quantoao produto da gestação: NV com alta bem*;NV com morte neonatal precoce; NV comóbito após o período neonatal precoce; NMe os abortos.

A participação de cada hospital no totaldos casos variou de 20,7% (Maternidade Car-mela Dutra de Florianópolis) a 5,1% (Hospi-tal das Clínicas de Marília).

O total de 241 mortes neonatais precocese 217 nascidos mortos levou à um Coeficien-te de Mortalidade Perinatal (CMP) de 35,2%oNV e NM, sendo a natimortalidade de16,7%o NV e NM e a mortalidade neonatalprecoce de 18,8%o NV.

A mortalidade perinatal global de 35,2%oNV e NM representa uma média dos valoresverificados nos nove locais, sendo que nes-ses o menor valor observado foi de 19,1%oNV e NM e o maior de 58,5%o NV e NM.

Ainda que esta taxa de 35,2%o NV e NMnão esteja representando uma área geografi-camente definida, é interessante comparar

* Chamamos de NV com alta bem aqueles que tiveram alta em boas condições.

Page 6: ESTUDO DA MORBIDADE E DA MORTALIDADE PERINATAL EM … · 2005. 9. 26. · LAURENTI, R. et al. Estudo da morbidade e da mortalidade perinatal em maternidades. I-Descrição do projeto
Page 7: ESTUDO DA MORBIDADE E DA MORTALIDADE PERINATAL EM … · 2005. 9. 26. · LAURENTI, R. et al. Estudo da morbidade e da mortalidade perinatal em maternidades. I-Descrição do projeto

esse coeficiente com o que se observa emSão Paulo e em outros países. No municí-pio de São Paulo, em 1940, a mortalidadeperinatal era de 71,2%o NV e NM, declinan-do para 54,7%o, em 1950; 42,8%o NV eNM, em 1960, sendo que a seguir se elevouaté 45,2%o, em 1970, e voltou a declinar atévalores próximos a 40%o NV e NM, no finalda década de 706. Em 1982, o CMP noMunicípio de São Paulo foi de 28,8%o NVe NM.

A observação de uma série histórica longapara a Inglaterra e Gales, por exemplo, mos-tra que o CMP vem decrescendo do final dadécada de 20, que era em torno de 60-62%oNV e NM para 57,7%o (1940), 37,7%o(1950) e no início da década de 70 esse valorestava em torno de 20%o NV e NM6. Paraesse mesmo país, em 1976, o CMP foi de17,9%o NV e NM5.

Em um conjunto de países "desenvolvi-dos", o CMP, no final da década de 70, va-riou de 10,7%o NV e NM (Suécia)a 22,6%o NV e NM (Itália). Entre esses va-lores verificou-se o seguinte: Finlândia12,0%o; Dinamarca 12,7%o; Holanda 14,5%o;Japão 14,8%o; Alemanha Oriental 17,2%o;Inglaterra e Gales 17,9%o; Luxemburgo18,1%o; Bélgica 18,2%o; França 18,3%o;Escócia 18,5%o; Irlanda 20,0%o e Irlan-da do Norte 22,5%o NV e NM5.

Como se verifica, a média observada nasnove maternidades foi bastante superior aoverificado em países desenvolvidos e mes-mo superior ao observado no Estado e, nomunicípio de São Paulo: 30,7%o e 28,8%oNV e NM respectivamente, para 1981. Éevidente que a comparação pode ser discu-tível, visto que algumas das maternidadesonde o estudo foi realizado são hospitais uni-

versitários os quais, na maioria das vezes,atraem ou concentram gestantes de altorisco.

O CMP observado em cada um dos novelocais variou também devido à este fato e po-de-se notar que os maiores valores deste coe-ficiente foram os dos hospitais universitários,embora em dois deles essa taxa fosse baixa.

Em relação ao CMP por sexo (Tabela 3),os resultados obtidos seguem as caracterís-ticas já conhecidas, isto é, uma mortalidademaior no sexo masculino, tanto na natimor-talidade quanto na mortalidade neonatal pre-coce, seus componentes.

Outra importante variável é o peso ao nas-

cer. Os nascidos vivos tiveram uma distribui-ção do peso ao nascer (Tabela 4) onde veri-fica-se que a classe de maior freqüência é a3.000 - 3.500g (38,2%), sendo que 62,9%tiveram peso igual ou maior de 3.000g. Apercentagem de recém-nascido de baixo pe-so, aqui considerando ,até 2.499g, atingiu11,1% do total de nascidos vivos. Esse valorpode ser considerado alto quando compara-do à população de nascidos vivos de áreas de-senvolvidas que tem sido em torno de 5%.Assim, segundo a Organização Mundial daSaúde (OMS)4, dos nascimentos no Japão,em 1979, apenas 5,1% foram de recém-nas-cidos de baixo peso; na China 6%, enquan-

Page 8: ESTUDO DA MORBIDADE E DA MORTALIDADE PERINATAL EM … · 2005. 9. 26. · LAURENTI, R. et al. Estudo da morbidade e da mortalidade perinatal em maternidades. I-Descrição do projeto

to de toda a Ásia, 20%. Já na África há maishomogeneidade e esta cifra fica ao redor de15%. No Canadá a percentagem de recém-nascido de baixo peso é de 6,4% e nos Esta-

dos Unidos é de 7,4%. A URSS tem, aindasegundo a OMS, uma taxa de 8% de recém-nascido com peso menor ou igual a 2.500g

e a América Latina tem uma média de 11%,e a taxa estimada de recém-nascido de baixopeso no Brasil, em 1979, ainda na mesmapublicação, foi de 8,7%, porém esse valor foibaseado em sete estudos (Sto. André, SãoPaulo, Belo Horizonte, Campinas, Ribeirão

Preto e Porto Alegre) sendo difícil aceitarcomo estimativa para o país como um todo,principalmente porque o peso do RN é de-terminado por uma série de fatores. Assim,em um estudo realizado no município deSão Paulo, constatou-se que a incidência debaixo peso ao nascer, em maternidades pri-vadas, era de 8,88% enquanto que nas públi-cas era de 12,11%, em 19768.

Quanto ao peso ao nascer dos NM (Tabela5) verifica-se que, diferentemente dos NV,houve maior percentagem de baixo peso(52,0%) e apenas 35,0% tiveram peso igual

Page 9: ESTUDO DA MORBIDADE E DA MORTALIDADE PERINATAL EM … · 2005. 9. 26. · LAURENTI, R. et al. Estudo da morbidade e da mortalidade perinatal em maternidades. I-Descrição do projeto

ou maior que 3.000g, sendo que a maior fre-qüência observada foi aquela de peso inferiora 1.500g.

Do total de nascimentos vivos ou mortos,60,7% foram partos normais e 30,2% por ce-sárea; os restantes 9,1% foram de outros ti-pos, aqui incluídos os por fórceps (baixo,médio e alto), manipulação sem instrumen-to, extração à vácuo e outras. É digno deatenção a elevada proporção de cesáreas, po-rém, é preciso salientar que parcela significa-tiva delas não tiveram sua indicação justifica-da por um motivo materno ou fetal, maissim como cesárea eletiva. Ao comentar as-pectos da mortalidade perinatal e a freqüên-cia de cesárea, há citação de O'Driscoll ePoley10 de que a freqüência deste tipo departo era de 5%, tendo aumentado nasúltimas décadas a 15%, valor esse ainda bas-tante inferior ao presente resultado.

A respeito da mortalidade perinatal se-gundo o tipo de nascimento, único ou múl-tiplo (Tabela 6), verificou-se que os gemela-res tiveram uma mortalidade maior em re-lação aos NV não gemelares, sendo que aproporção de óbitos do segundo gêmeofoi quase o dobro em relação do primeirogêmeo, fato este observado em outros

estudos3 9. No total de nascimentos estuda-dos houve apenas um caso de parto trigeme-lar, sendo que os três recém-nascidos foram aóbito no período perinatal. Em 49 casosnão foi possível estabelecer o tipo de nasci-mento, muitos deles diziam respeito a par-tos extra-hospitalares e que foram admiti-dos no berçário não tendo sido anotada es-sa informação. Em outros casos foi verifica-do, no final do estudo, que por um enganonão estava preenchido esse item; tendo-se emvista o pequeno número de casos, julgou-sedesnecessário tentar recuperar a informa-ção e, portanto, não haveria inconveniênciaem dispensá-los. Esse fato também ocorreucom outras variáveis, como será visto emanálises futuras, porém sempre em um núme-ro pequeno de casos. A mortalidade perina-tal para esses "ignorados" foi superior àquelados nascimentos simples, 61,2%o contra32,7%o NV e NM. É preciso destacar aindaque esse valor elevado pode ser uma decor-rência tão somente do pequeno número decasos, onde variações mínimas do númerode óbitos perinatais pode elevar bastante ocoeficiente.

Outro aspecto importante para ser anali-sado é o que diz respeito às patologias exis-

Page 10: ESTUDO DA MORBIDADE E DA MORTALIDADE PERINATAL EM … · 2005. 9. 26. · LAURENTI, R. et al. Estudo da morbidade e da mortalidade perinatal em maternidades. I-Descrição do projeto

tentes no produto da gestação, quer tenhasido um nascido vivo quer nascido morto.Será apresentado apenas a existência de diag-nósticos, sem entrar em especificação quantoàs patologias, o que será feito, em profundi-dade, futuramente, visto ser um dos prin-cipais objetivos do estudo.

Do total de casos de NV e NM estudados- 12.999 - em 65,6% não havia nenhumdiagnóstico anotado, 21,5% tiveram apenasum diagnóstico; 8,2% dois; 2,9% três e 1,7%quatro diagnósticos informados. Merecemenção o fato de em 65,6% dos casos nãohaver nenhum diagnóstico, isto é, seriam NVbem, sem patologias; como se verifica naTabela 1, 95,4% dos eventos eram NV comalta bem. A comparação mostra que é impor-

tante estudar a morbidade, isto é, a freqüên-cia das doenças que não levaram a óbito peri-natal.

Quanto às patologias maternas, no ques-tionário se inqueria a existência ou não dehipertensão arterial, pré-eclâmpsia e eclâmp-sia, diabetes mellitus, cardiopatia reumáticae outras cardiopatias, cujas freqüências estãona Tabela 7. Chama a atenção a existência de15,3% de parturientes hipertensas, todavianão se pode inferir como um valor represen-tativo para a população de gestantes, vistoque a maioria dos hospitais, por serem deensino, geralmente concentram gestações dealto risco.

A pré-eclâmpsia (4,5%) e a eclâmpsia(0,5%) também tiveram valores maiores que

as freqüências citadas na literatura, onde assíndromes hipertensivas (hipertensão arte-rial, pré-eclâmpsia e eclâmpsia) se apresen-tam com uma incidência em torno de 10%dos partos1,11. Também a eclâmpsia, nesteestudo, apresentou uma freqüência muitomaior que a esperada: um caso a cada 1.000a 1.500 partos11, sendo que no material es-tudado verificou-se ser em torno de 5 casospara mil partos.

No questionário havia também a possibili-dade de registrar qualquer outra patologia

existente, inclusive sintomas e sinais, mesmosem caracterizar um diagnóstico. Em 36,4%dos casos havia algum tipo de informação,variando desde uma patologia bem definidacomo por exemplo sífilis, lupus eritematosoou outras, até sinais, como edema de mem-bros inferiores, ou sintomas como "fraque-za" e outras. Não houve referência a nenhumdiagnóstico em 61,0% dos casos e em 2,6%esse item foi considerado ignorado.

Quanto às mortes maternas, foi verificadaa ocorrência de 10 casos, tendo duas delas

Page 11: ESTUDO DA MORBIDADE E DA MORTALIDADE PERINATAL EM … · 2005. 9. 26. · LAURENTI, R. et al. Estudo da morbidade e da mortalidade perinatal em maternidades. I-Descrição do projeto

causas não ligadas à gravidez, parto ou puer-pério, isto é, foram mortes maternas por

"causas não relacionadas". Os 8 casos demorte por causas maternas levaram a umcoeficiente de 6,3 por 10.000 NV, o quepode ser considerado alto quando compara-do com outros locais. A mortalidade mater-na para a Suécia em 1979 foi de 0,10 paracada 10.000 NV, na Dinamarca 0,12; Finlân-dia 0,35; França (1978) 1,55; Espanha(l978) 1,30 por 10.000 NV2.

O coeficiente encontrado no estudo é altotambém se comparado aos encontrados nomunicípio de São Paulo (3,8 por 10.000NV) e para o Estado de São Paulo (4,7 por10.000 NV), ambos para o ano de 1982.

As considerações feitas acima quanto aofato de ter participado no estudo apenas ser-viços que concentram gestações de alto ris-co, devem ser levadas em conta ao se analisaresse coeficiente.

CONCLUSÕES

A metodologia utilizada, com coleta demaneira coordenada e padronizada dos da-dos referentes ao período perinatal, em novematernidades, permitiu obter informaçõesvaliosas e importantes quanto a variáveis que

normalmente não constam em registros ro-tineiros como o atestado de óbito, para oestudo de mortes perinatais.

Nesta primeira publicação, alguns resulta-dos gerais obtidos no estudo foram os se-guintes: do total 13.130 eventos ocorridosnas nove maternidades, 12.782 foram nas-cidos vivos, 217 perdas fetais tardias (nasci-dos mortos) e 131 foram perdas fetais preco-ces e intermediárias (aborto); o coeficientemédio de mortalidade perinatal foi de 35,2%oNV e NM, sendo que o mais baixo valorobservado para uma maternidade foi 19,1%oe o mais alto, 58,5%o NV e NM; a mortali-dade perinatal foi maior no sexo masculinoem relação ao feminino e nos casos de nasci-mentos múltiplos em relação aos nascimen-tos únicos; do total de nascidos vivos, 11,1%tinha baixo peso ao nascer, sendo que, paraos nascidos mortos o valor foi 52,0%; a pro-porção de nascimentos por cesariana foi30,2%; do total dos casos, 65,6% não apre-sentaram nenhuma patologia, isto é, não ha-via referência a nenhum diagnóstico, sendoque em 21,5% havia um diagnóstico referido,em 8,2% havia dois, em 2,9% três e em 1 ,7%quatro; dentre as patologias maternas des-tacou-se a síndrome hipertensiva (hiperten-são arterial, pré-eclâmpsia e eclâmpsia).

LAURENTI, R. et. al. [A study of perinatal morbidity and mortality in maternity-hospitals.]Rev. Saúde públ., S. Paulo, 18: 436-47, 1984.

ABSTRACT: Collecting data on deliveries, newborn and mothers, in maternity-hospitals, isthe best way to conduct research into perinatal morbidity and mortality. The kind of study whichwas carried out in nine Brazilian maternity-hospitals, seven of then situated in cities in theState of S. Paulo, one in Rio de Janeiro and another in Florianópolis, Santa Catarina, is descri-bed. The study called for the collection of data on 13,130 deliveries, of which 12,782 werelive births, 217 still-births and 131 abortions. This is the first of a series of papers; the aims ofthis one are to describe the project and to present some general results; however, more speci-fic results will be presented in the future. The high perinatal mortality rate, the high propor-tion of cesarian sections and the several times greater incidence of low birth-weight in still-births as compared with live births, deserved particular attention.

UNITERMS: Infant mortality. Fetal death. Morbidity. Hospitals, special.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1. DELASCIO, D. & EL-KADRE, D. Hipertensãona gravidez. São Paulo, Sarvier, 1983.

2. DEMOGRAPHIC YEARBOOK: 1981. (UnitedNations). New York, 1983.

Page 12: ESTUDO DA MORBIDADE E DA MORTALIDADE PERINATAL EM … · 2005. 9. 26. · LAURENTI, R. et al. Estudo da morbidade e da mortalidade perinatal em maternidades. I-Descrição do projeto

3. ELLIS, R.F. et al. The Northwestern Universi-ty Multihospital twin study. Acta Genet.med., 28:347-52,1979.

4. The INCIDENCE of low birth weight: a criti-cal review of available information. WldHlth Statist. Quart. 33:197-224, 1980.

5. KIRKE, P. & BRANNICK, T. Perinatal andinfant mortality in Ireland and selectedcountries: present levels and seculartrends. Irish med. J., 74:216-20, 1981.

6. LAURENTI, R. Mortalidade perinatal. SãoPaulo, Centro da OMS para Classificaçãode Doenças em Português, 1980. [mimeo-grafado].

7. MANUAL da Classificação Estatística Interna-cional de Doenças, Lesões e Causas de Óbi-to; 9.a revisão. São Paulo, Centro Brasilei-ro de Classificação de Doenças, 1980.

8. MONTEIRO, C. A. et al. A distribuição de pe-so ao nascer no Município de São Paulo,

Brasil. Rev. Saúde públ., S. Paulo, 14:161-72,1980.

9. NYLANDER, P. P. S. Perinatal mortality intwins. Acta Genet. med., 28:363-8, 1979.

10. ODRISCOLL, K. & POLEY, M. Correlationof decrease in perinatal mortality and in-crease in cesarean section rates. Obstet.Gynec.,61:1-5,1983.

11. PRICHARD, J. A. & MACDONALD, P. C.Williams obstetrics. 16th ed. New York,Appleton Century Crofts, 1980.

12. ROMENSKY A. A. & INGNAT'EVA, R. K.Certificate of cause of perinatal death.Geneva, 1975. (WHO/ICD-9/Rev. Conf.75.21).

Recebido para publicação em 18/07/84.Aprovado para publicação em 04/10/84.