estratégias de crescimento de igreja, nuno
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Estratégias de Crescimento de Igreja
ECLESIOLOGIA
Prof. Paulo Gomes
Nuno André da Silva Ameixa Ferreira
2013 / 2014
Índice
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TES326 - ECLESIOLOGIA
INTRODUÇÃO.........................................................................................................................................3I. LOUVOR, ADORAÇÃO E LITURGIA CONTEXTUALIZADOS................................................................4
A. Uma espiritualidade contagiante...............................................................................................4
B. Culto reconhecido como inspirador...........................................................................................6
II. PROFUNDIDADE DO DISCÍPULADO.................................................................................................8A. Interesse genuíno nas pessoas...................................................................................................8
B. Mantendo os fundamentos da vida cristã................................................................................10
III. PLANEAMENTO ESTRATÉGICO DAS ACTIVIDADES........................................................................13A. Definir uma visão......................................................................................................................13
B. Actividades Orientadas para as necessidades..........................................................................14
CONCLUSÃO.........................................................................................................................................16BIBLIOGRAFIA.......................................................................................................................................17
INTRODUÇÃO
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TES326 - ECLESIOLOGIA
No âmbito da disciplina de “Eclesiologia”, elaborei uma monografia sobre um dos
temas abordados sucintamente em sala de aula que cativou a minha atenção,
nomeadamente, ‘estratégias de crescimento de igreja’.
A pesquisa de informação efectuada sobre o tema debruçou-se primeiramente na
necessidade de contextualização das práticas litúrgicas da igreja, que deu origem ao
primeiro tópico do trabalho. O segundo tópico diz respeito ao discipulado na igreja que é, a
meu ver, umas das maiores lacunas da igreja contemporânea. O terceiro e último tópico é o
resultado da minha leitura sobre a importância do planeamento estratégico das actividades,
tema que despertou a minha atenção durante a leitura do livro: “Descubra onde você está”
(que trata da causa do crescimento da Willow Creek Church – EUA).
Desta forma, o trabalho indica um plano de acção que envolve 3 estratégicas de
crescimento distintas, ou seja, três medidas que podem impulsionar o crescimento da igreja.
I. LOUVOR, ADORAÇÃO E LITURGIA CONTEXTUALIZADOS
“Ora, como recebestes Cristo Jesus, o Senhor, assim andai nele, nele radicados, e
edificados, e confirmados na fé, tal como fostes instruídos, crescendo em acções de graças.
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TES326 - ECLESIOLOGIA
Cuidado que ninguém vos venha a enredar com sua filosofia e vãs subtilezas, conforme a
tradição dos homens, conforme os rudimentos do mundo e não segundo Cristo.”1
A. Uma espiritualidade contagiante
A imagem de marca de uma igreja deve ser definida pela expressão da sua
espiritualidade. Uma espiritualidade bíblica e não mística, contagiante e activa.Uma
espiritualidade tão real que é difícil ficar indiferente. Uma espiritualidade genuína, não
fabricada, onde a manifestação do poder de Deus é real.
No cristianismo não há como fazer ‘bluff’. Deus é omnisciente, Ele conhece o nosso
interior. Ele sabe as motivações do nosso coração. Não há como O enganar. Não temos nada
a esconder de Deus. Mesmo embelezando o palavreado Ele não se vai deixar impressionar.
Não são as orações ‘arrumadinhas’ nem os testemunhos ‘fáceis’ que vão mover o coração de
Deus. Muitos irmãos na fé sentem-se enclausurados na sua realidade de igreja porque são
forçados a cumprir regras de ‘etiqueta’. Outros sentem-se esgotados com a quantidade de
actividades que são coagidos a participar. Muitos não conseguem viver mais a paz e alegria
que sentiam quando encontraram Jesus porque recebem um evangelho pouco nutrido.
Muitos vivem a espiritualidade de uma forma circunstancial e obrigam-se a representar um
papel de santidade nos cultos. Outros simplesmente correspondem a um desempenho
público no exercício da fé que não condiz com a sua devoção pessoal.
Como resultado muitos crentes desiludiram-se com a igreja e outros foram sofrendo
ao longo do tempo uma erosão na sua espiritualidade que causou o naufrágio da fé. Pessoas
que depois de muitos anos a viver dentro do sistema sentem-se defraudadas e desiludidas.
Alimentam feridas que dificilmente voltam a sarar e escondem-se atrás de utopias difíceis de
combater.
O problema é complexo e abrange muitas variáveis mas dentro diversas realidades que
enumerei em cima, salta-me à vista um denominador comum: incapacidade de auto-
avaliação. É fácil apontar o dedo aos outros. Mais fácil ainda é fugir à responsabilidade. E a
falta de capacidade que as pessoas têm de se auto-avaliar tem destruído a felicidade de
muitos relacionamentos e inclusive de instituições sagradas como a família e a igreja.
Na base duma espiritualidade contagiante está uma auto-avaliação constante que
abrange três temas centrais no evangelho:
1 Bíblia Sagrada; Versão JFAlmeida Revista e Actualizada - Colossenses 2:6-8
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I. Arrependimento: Muitos crentes remetem a sua noção de arrependimento para o
‘evento’ da sua conversão. O cartãozinho com nome, data e João 3:16 carimbam a
conversão e ‘certificam’ a validade da sua salvação. Mas a Bíblia ensina-nos que o
arrependimento é contínuo e não momentâneo. O arrependimento diário é uma
cultura pessoal que se desenvolve à medida que a pessoa ganha estatura de fé. Todos
os dias há necessidade duma reflexão profunda sobre as suas acções, intenções e
motivações. E quando há sinceridade no nosso coração também há mudança de
atitude. A ‘manutenção’ da salvação depende do exercício do arrependimento!
II. Gratidão: A noção que nós temos da Graça de Deus é medida pelo nível da nossa
gratidão a Ele. Se eu não consigo reconhecer a extensão da Graça de Deus sobre os
meus relacionamentos, trabalho, família, igreja, saúde, bens materiais, etc.,também
não consigo reconhecer o senhorio de Deus sobre a minha vida e agradecer-lhe
devidamente. A vida eterna (ou vida em abundância) que Deus nos dá é uma realidade
que se desenrola desde o presente até ao futuro (eternidade). Não é algo que se
espera depois da morte, mas algo que experimentamos hoje com repercussões em
todos os aspectos da nossa vida diária. Quando ganhamos consciência disso,
percebemos que temos muito para agradecer e pouco do que nos queixar ou
lamentar.
III. Obediência : Cumprir regras é importante mas não é o suficiente para obedecer a
Deus. A verdadeira obediência obriga ao exercício da fé. O povo de Israel recebeu a
promessa da terra prometida mas não exerceu fé! Números 14: 5 – 25 relata a história
dos 12 espias que Moisés enviou à terra prometida. Só Josué e Caleb obedeceram a
Deus, porque tiveram fé! Todos cumpriram as ordens de Moisés mas apenas 2 tiveram
fé e por isso foram obedientes. Isso mostra que a desobediência é mais do que a
rejeição consciente dos mandamentos de Deus. É incredulidade! Isto é o suficiente
para afirmar que a verdadeira obediência existe quando tentamos agradar a Deus com
todo nosso coração. Deus procura crentes fiéis e não ‘meninos bem comportados’.
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Para a igreja desenvolver uma espiritualidade contagiante é necessário que cada um
dos seus membros entenda que é responsável pelo ‘ambiente’ espiritual da igreja, e que tem
um papel fundamental a desempenhar pela vida colectiva da comunidade. A liberdade de
expressão, a sinceridade na adoração e a transparência na comunhão é responsabilidade de
todos.
B. Culto reconhecido como inspirador
Muitas igrejas nas últimas décadas têm rejeitado qualquer influência de tradições,
usos e costumes na liturgia, na tentativa de encontrar uma fórmula mágica e inovadora que
produza bons resultados de crescimento em pouco tempo. Na verdade as igrejas que
nascem num contexto pós-moderno ganham resistência a qualquer organização litúrgica.
Mas será que é necessário romper com o passado para construir o futuro? Segundo Rubem
Amorese “a chave da questão está na palavra discernimento. Mais do que nunca, na história
da igreja, precisamos de sabedoria. Devemos buscá-la em Deus, humilde e diligentemente.”2
A tradição deve ser encarada como a conservação e a transmissão dos ensinos bíblicos
ao longo de várias gerações. “Não existe nenhum mal na tradição quando ela serve de
referência, identifica as nossas raízes e nos dá uma identidade”3 O problema existe quando a
tradição é apenas um reflexo das preferências litúrgicas do ministério da igreja (muitas vezes
impostas de forma austera) ou de costumes culturais (que faziam sentido há 40 anos atrás).
Quando isto acontece enchemos as Igrejas de religião, de hábitos e de costumes vividos
numa dimensão espiritual que muitas vezes é irreal e pouco autêntica.
O grande desafio que se coloca está na nossa capacidade de criar pontes entre
gerações e mentalidades diferentes, promovendo o equilíbrio. Para isso é necessário fazer o
‘ponto da situação’ da igreja, i.é discernir em que pólo de atracão se dirige a igreja
(Ortodoxia inflexível ou a liberdade permissiva)4. O nível de atracção a cada um destes pólos
pode ser medido pelas práticas litúrgicas (louvor, adoração, etc.). Por exemplo: se, por um
lado, há igrejas que continuam com o mesmo “estilo” de louvor e adoração de há 40 anos –
pela imposição dos ‘guardiões da são doutrina’, por outro lado, há igrejas que tem uma
forma de adoração tão contemplativa e virada para o transcendente que se torna alienada
da realidade. O equilíbrio não nasce no meio-termo. O equilíbrio existe quando conseguimos
2AMORESE, Rubem. 2004.Louvor, Adoração e Liturgia. p.173PAES, Carlito. 2003.Igrejas que prevalecem. p.1204 É o que Christian Schwarz chama de ‘paradigma institucionalista’ e ‘paradigma espiritualista’ respectivamente
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discernir a vontade de Deus para a igreja de HOJE independentemente das ‘modas’ do
momento. O pastor Carlito Paes diz que “é preciso, de facto, avaliar e distinguir com muita
seriedade o que são os princípios da vontade de Deus, do que é produto exclusivo da nossa
vontade ou cultura local”5 e continua afirmando que “construir uma igreja onde tudo é
permitido é fácil, principalmente quando a liberdade é regra. Construir uma igreja onde a
ortodoxia e o fundamentalismo ditam as regras também é fácil. Estes dois sistemas são
muito perigosos mas têm sido usados com frequência por muitas igrejas, talvez porque o
caminho do equilíbrio seja difícil.”6
A vontade de Deus para a igreja de HOJE passa pela adaptação estratégica das práticas
litúrgicas. Uma adaptação que esteja enquadrada no contexto actual e que respeite a
realidade de cada igreja. Neste sentido é impossível pegar num modelo de que foi aplicado
com sucesso na Coreia do Sul e esperar que tenha os mesmos resultados em Portugal. Em
cada caso é necessária uma adaptação gradual que respeite o enquadramento local e que
permita aproximar gerações e mentalidades num mesmo propósito: alcançar os perdidos e
glorificar a Deus. É uma área bastante sensível na maioria das igrejas e as medidas que
adoptamos para produzir efeitos a curto-prazo podem prejudicar o crescimento da igreja a
longo-prazo. Christian Schwarz que se inspira nos processos biológicos de crescimento (da
natureza) para criar princípios de desenvolvimento sustentável para a igreja afirma que “o
ser humano é incapaz de ter o quadro completo dos efeitos complexos de uma decisão
específica sobre uma variedade de áreas”.7 O que parece ser funcional no presente pode no
futuro revelar-se contraproducente.
Portanto, as mudanças que realizamos na liturgia da igreja têm que estar
harmonizadas com a visão e com a identidade da igreja. Quando transformamos o modo de
funcionamento da igreja para algo que rompe abruptamente com as referências espirituais
dos crentes estamos a contribuir para a morte espiritual do povo de Deus. Por outro lado
não podemos deixar que a força dos velhos hábitos roube o futuro da igreja. Existem igrejas
que outrora já tiveram centenas de membros e que hoje tem poucas dezenas porque
idolatraram usos e costumes. Deixaram que as tradições dos homens apagassem a vitalidade
da igreja.É por isso que hoje chamar uma Igreja de “tradicional” é o mesmo que dizer que a
sua vivência e dinâmica está distante da realidade social e cultural que a envolve. Uma igreja
5PAES, Carlito. 2003.Igrejas que prevalecem. p. 436Ibid. p. 437SCHWARZ, Christian A. 2001.Mudança de Paradigma na Igreja.p.224
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onde o culto é reconhecido como inspirador é uma igreja que tem a liturgia adaptada à
realidade dos seus membros e enquadrada no meio envolvente em que está inserida.8
II. PROFUNDIDADE DO DISCIPULADO
“Mas, seguindo a verdade em amor, cresçamos em tudo naquele que é a cabeça,
Cristo, de quem todo o corpo, bem ajustado e consolidado pelo auxílio de toda junta,
segundo a justa cooperação de cada parte, efectua o seu próprio aumento para a edificação
de si mesmo em amor.”9
A. Interesse genuíno nas pessoas
Grande parte do desenvolvimento sustentável de uma igreja vem pelo investimento no
discipulado. Mark Dever no seu livro Nove marcas de uma igreja saudável afirma: “Viver
como um Cristão significa estar comprometido com os outros. Implica fazer parte de uma
comunidade centralizada em Jesus Cristo.”10 A base dodiscipulado está precisamente nessa
visão, i.é, uma comunidade (sentido de família), uma igreja (espiritualidade activa), uma
convicção (Evangelho de Jesus Cristo)!
É interessante notar que quando Jesus disse: “Ide, portanto, fazei discípulos de todas
as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a
guardar todas as coisas que vos tenho ordenado…”11o discipulado vem primeiro lugar no
plano de acção estabelecido. A ênfase do versículo está precisamente na colocação: ‘Ide e
fazei discípulos’. E deve ser essa a prioridade da igreja.
Para fazer discípulos é preciso desenvolver relacionamentos saudáveis com as pessoas,
o que exige proximidade e confiança. Algo que se constrói com o tempo, depois de muito
investimento e sacrifício. Então basicamente se a visão da igreja não contempla o
discipulado, tudo o que a igreja desenvolve é mero entretenimento.
Para fazer discípulos é necessário caminhar lado a lado com as pessoas, ouvi-las e
envolvermo-nos com as necessidades delas. É uma tarefa difícil que exige trabalho árduo,
8Segundo D'ARAÚJO FILHO, Caio Fábio. 1997.Igreja: Crescimento Integral. - uma das razões que estão na base do enorme crescimento da igreja evangélica do Brasil no séc XX “veio da proximidade litúrgica das manifestações de fé, em relação à realidade Brasileira.” p. 819 Bíblia Sagrada; Versão JFAlmeida Revista e Actualizada – Efésios 4: 15-1610DEVER, Mark. 2007.Nove marcas de uma igreja saudável.p.23011 Bíblia Sagrada; Versão JFAlmeida Revista e Actualizada – Mateus 28: 19-20
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muitas vezes ingrato e sobremaneira desgastante. Vivemos numa época em que os líderes
procuram protagonismo e a visibilidade do seu trabalho. Mas os lideres que se destacam
pela eloquência, pela capacidade empreendedora e pela projecção do seu carisma nem
sempre são bons na arte de fazer discípulos. O líder que entende a importância do
discipulado geralmente destaca-se por fazer aquilo que mais ninguém faz, ou seja: é aquele
que serve quando mais ninguém serve, é o que ama quando mais ninguém ama, é o que
honra quando mais ninguém honra, é o que ajuda quando mais ninguém ajuda, é o que ora
quando mais ninguém ora, etc.. Coisas que muitas vezes não têm retorno imediato nem
projecção pública. Portanto, aquilo que distingue um bom líder é a sua disponibilidade de
amor e o seu interesse genuíno nas pessoas!
Muitas igrejas não desenvolvem o discipulado porque isso acarreta um enorme
sacrifício de recursos: tempo, energia e dinheiro. Optam por um evangelho mais soft e
amistoso, não muito intrusivo e de preferência o mais confortável para os crentes. Como
resultado muitos cristãos crescem como “meninos de rua” sem referências espirituais e sem
identidade. Seguem os seus próprios ideais (que chamam de cristianismo) e vivem a fé como
lhes parece mais adequado. Quando isso acontece é difícil fazer o desmame dos velhos
hábitos. Discipulado implica dependência, prestação de contas, renúncia e sacrifício. Coisas
que não se coadunam com a filosofia de vida do séc. XXI. Para recuperar a prática do
discipulado numa realidade como esta é preciso que em primeiro lugar as pessoas percebam
que há um interesse genuíno na vida delas (não nas suas carteiras).
Walter Henrichsen, autor do livro Discípulos são feitos, não nascem prontos, aponta 3
formas de demonstrar este tipo de interesse12:
1. Envolva as pessoas no seu ambiente familiar;
2. Envolva as pessoas no calor e no companheirismo da igreja;
3. Envolva as pessoas nas suas tarefas diárias.
Coisas simples mas práticas, que provocam uma reflexão da nossa parte. A verdade é
que o discipulado tem um preço a pagar. Jesus dedicou mais de 3 anos da sua vida a ensinar
os seus discípulos. Esteve com eles 24h por dia, 7 dias por semana. Amou-os até ao fim! Será
que quando Ele proferiu a grande comissão estava a exigir o mesmo de nós? … O mínimo
12HENRICHSEN, Walter. 2004.Díscipulos são feitos, não nascem prontos.p.80,81, adaptado
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que podemos fazer é demonstrar um interesse genuíno pelas pessoas que estão ao nosso
cuidado.
Alguém disse: “pessoas precisam de pessoas para serem pessoas”. Há um nível de
intensidade no discipulado que só se consegue atingir através da interacção humana como já
foi dito. Volto a dizer que as pessoas precisam de referências e exemplos a seguir. Ler livros
não chega. Participar em seminários não é suficiente. É no calor do relacionamento que os
novos convertidos encontram amor e aceitação e são introduzidos à nova vida que
receberam em Cristo. É no companheirismo e na irmandade do discipulado que muitos
crentes são estimulados a crescer e amadurecer espiritualmente. O apóstolo Paulo disse:
“Sede meus imitadores, como também eu sou de Cristo.”13Para transmitir os fundamentos
da vida cristã é importante que as pessoas tenham modelos de vida nos quais se possam
inspirar.
B. Mantendo os fundamentos da vida cristã
Durante a jornada de fé o crente deve alinhar a sua vivência diária com os principais
fundamentos da vida cristã: a fé; a convicção; a perspectiva; e o fruto14.Uma das parábolas
mais conhecidas de Jesus é a parábola do semeador que demonstra exactamente o quão
importante é o desenvolvimento destas áreas: “E de muitas coisas lhes falou por parábolas e
dizia: Eis que o semeador saiu a semear. E, ao semear, uma parte caiu à beira do caminho, e,
vindo as aves, a comeram. Outra parte caiu em solo rochoso, onde a terra era pouca, e logo
nasceu, visto não ser profunda a terra. Saindo, porém, o sol, a queimou; e, porque não tinha
raiz, secou-se. Outra caiu entre os espinhos, e os espinhos cresceram e a sufocaram. Outra,
enfim, caiu em boa terra e deu fruto: a cem, a sessenta e a trinta por um. Quem tem ouvidos
para ouvir, ouça.”15
Um olhar atento sobre a parábola mostra que somos chamados a:
1. Gerar fé
“A todos os que ouvem a palavra do reino e não a compreendem, vem o maligno e
arrebata o que lhes foi semeado no coração. Este é o que foi semeado à beira do caminho.”16
13Bíblia Sagrada; Versão JFAlmeida Revista e Actualizada - 1 Coríntios 11:114 Segundo HENRICHSEN, Walter 2004.15 Bíblia Sagrada; Versão JFAlmeida Revista e Actualizada - Mateus 13:3-916Bíblia Sagrada; Versão JFAlmeida Revista e Actualizada - Mateus 13:19
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Fé é acreditar e agir de acordo com a Palavra de Deus. Mais importante que encher o
calendário anual com actividades que mantenham os crentes entretidos é preciso ensinar,
formar e discipular pessoas que entendam a palavra de Deus. Precisamos de recuperar o
ensino sério das escrituras na igreja. A Bíblia não é um livro de auto-ajuda e os crentes não
são salvos através da confissão positiva. Rick Warren escreveu: “O supremo objectivo de
Deus para a sua vida na terra não é o conforto, mas o desenvolvimento do seu carácter. Ele
quer que você cresça espiritualmente e se torne semelhante a Cristo.”17. Ao anestesiar as
pessoas com o excesso de actividades na igreja estamos a desvirtuar o processo de formação
espiritual. A visão da bíblia não é FAZER para ser, mas SER para fazer. As pessoas podem
estar uma vida inteira na igreja e NÃO COMPREENDEREM o propósito das suas vidas.
2. Gerar Convicção
“O que foi semeado em solo rochoso, esse é o que ouve a palavra e a recebe logo, com
alegria; mas não tem raiz em si mesmo, sendo, antes, de pouca duração; em lhe chegando a
angústia ou a perseguição por causa da palavra, logo se escandaliza.”18
Alguém que ouve a palavra mas “não tem raiz em si mesmo”. Assim é o crente que
não tem fundamentos. Não tem convicção. Não são constantes na fé. Então quando chega a
altura da prova, não resiste à pressão das circunstâncias e acaba por desistir da fé. Nós
somos chamados a ser facilitadores deste processo que é “ganhar convicção”. Porque são as
convicções que promovem o crescimento. Convicção não é apenas acreditar… é ter plena
certeza. A única maneira de chegar a este nível de fé é pelas experiencias pessoais com
Deus. A forma de estimular é promovermos nas igrejas a devoção pessoal a Deus. Antes do
nosso cristianismo ganhar expressão colectiva é importante que seja orientado por uma
devoção pessoal a Deus. “vem e segue-me” é um chamado individual que requer uma
resposta diária. É estritamente necessário que as pessoas entendam que devem procurar o
seu próprio alimento todos os dias. Oração, adoração, confissão, acções de graças e súplicas,
leitura e meditação na palavra devem constituir a refeição diária de cada crente.19
3. Gerar Perspectiva
“O que foi semeado entre os espinhos é o que ouve a palavra, porém os cuidados do
mundo e a fascinação das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera.”20
17WARREN, Rick. 2002.Uma Vida com Propósitos.p.15018Bíblia Sagrada; Versão JFAlmeida Revista e Actualizada - Mateus 13:20-2119HENRICHSEN, Walter. 2004.Díscipulos são feitos, não nascem prontos.p.76 a 7920Bíblia Sagrada; Versão JFAlmeida Revista e Actualizada - Mateus 13:22
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Alguém que ouve a palavra mas os “cuidados do mundo” a sufocam. O que são estes
cuidados? São os apelos constantes do mundo que fazem vacilar as nossas convicções! Hoje
em dia, com o nível de qualidade de vida que o mundo moderno atingiu, é fácil a pessoa
distrair-se com questões secundárias. “Como escreveu David Goetz: ‘muitas das coisas boas
da vida acabam por se tornar tóxicas, provocando uma deformação espiritual em nós.’”21 As
pessoas facilmente cometem o erro de achar que são suficientemente boas por darem uma
parte do seu dinheiro, do seu tempo e da sua energia em prol da igreja. Fazem-no sem
qualquer tipo de restrições desde que não implique mudança no seu estilo de vida.
É verdade que todos nós crescemos a idealizar um estilo de vida normal, confortável e
seguro que nos ajudasse a realizar os nossos sonhos. É perfeitamente normal e lícito desejar
viver com boas condições financeiras. Mas o perigo de estar focado numa vida de sucesso
material é deixar de investir na nossa eternidade! Jesus disse: onde está o vosso tesouro ai
também estará o vosso coração! “A perspectiva correcta de vida não é a sedução do início
mas a garantia do fim.”22
4. Gerar Fruto
“Mas o que foi semeado em boa terra é o que ouve a palavra e a compreende; este
frutifica e produz a cem, a sessenta e a trinta por um.”23
Quando a fé a convicção e a perspectiva estão alinhadas o fruto é apenas uma
consequência natural. É o resultado normal de uma espiritualidade REAL! Isto mostra que o
“FAZER” é apenas consequência do “SER” como foi dito em cima. Portanto preocupemo-nos
em pregar A BÍBLIA às pessoas e em viver a nossa vida de acordo com a palavra de Deus.
Além disso a segunda parte do versículo mostra claramente que a quantidade dos resultados
não é o mais importante. Portanto devemos canalizar as nossas energias a influenciar
pessoas que vivam uma fé saudável, tendo ou não a igreja cheia!
III. PLANEAMENTO ESTRATÉGICO DAS ACTIVIDADES
Segundo Bill Hybels (fundador e pastor presidente da Igreja Willow Creek nos EUA)
quando os líderes medem o crescimento da igreja a partir de números (expl. quantas
conversões?, quantos baptismos?, quantos estão envolvidos nas actividades da igreja? etc.)
perdem a visão do verdadeiro crescimento. É verdade que ‘é mas fácil contar cabeças do que 21CHAN, Francis. 2009.Louco Amor. p.6322FONTES, Carlos – aula de discípulado; ano lectivo 2010/2011 MEIBAD23Bíblia Sagrada; Versão JFAlmeida Revista e Actualizada - Mateus 13:23
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medir mudanças de coração’ mas o grande objectivo da igreja é o crescimento espiritual
(qualidade + número ou número com qualidade) e por isso o resultado que vemos nas
igrejas a médio/longo-prazo depende do tipo de trabalho que é feito no presente.
O livro “Descubra onde você está” (que trata da causa do crescimento da Willow creek
Church) orienta os leitores a pensar de forma estratégia e a actuar de forma planeada a
partir das seguintes perguntas24:
1. “Onde estamos?” (Ajuda a definir a realidade em que a igreja se encontra);
2. “O que vemos?” (Uma visão clara para o futuro);
3. “Como lá chegar?” (Definir metas, estabelecer prioridades, criar um plano de acção).
Os tópicos apresentados em baixo são o resultado da minha leitura sobre a
importância do planeamento estratégico das actividades que é um dos temas focados no
livro.
A. Definir uma visão
Uma igreja que não tem uma visão definida é uma igreja que anda como um barco à
deriva, sem rumo certo e que trabalha apenas para sobreviver. A liderança, que em primeiro
lugar pertence ao pastor e ao ministério da igreja, deve preocupar-se em receber de Deus a
direcçãopara a igreja.
Estabelecer uma visão para a igreja obriga-nos a olhar para o futuro e a perceber que
tipo de igreja queremos ter nos próximos anos. De facto, a igreja em geral rege a sua
existência de acordo com os princípios bíblicos que constituem os propósitos pré-definidos
por Deus para o funcionamento igreja. Mas cada igreja está dentro de um meio envolvente
muito próprio com características únicas. É importante perceber como Deus quer usar a
igreja dentro desse enquadramento específico.
Ter disponibilidade para servir é essencial mas para ser produtivo no ministério é
preciso trabalhar de baixo duma visão. Também é verdade que mais importante no
ministério é o carácter e a sinceridade de coração mas para progredir no ministério é preciso
ter um rumo a seguir.
Todas as descobertas sobre o futuro da igreja vão-se aprofundar à medida que
reflectimos e analisamos as informações disponíveis no presente para o efeito. Para isso
precisamos ver para além da conjuntura actual. Definir a visão da igreja é como colocar a
24HAWKINS, Greg L. e PARKINSON, Cally. 2008.Descubra: onde você está? p. 21
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‘morada’ no GPS. Depois é só seguir as indicações correctas até chegarmos ao destino.
Quando sabemos exactamente onde queremos ir é mais fácil lá chegar. Quando não temos
um destino certo somos capazes de andar perdidos, às voltas no mesmo sítio, sem perceber
o que estamos a fazer de errado.
“Visão é, em última análise, o que Deus dá e coloca na nossa mente e no nosso
coração. É uma expectativa apaixonante do futuro pela qual estaremos dispostos até mesmo
a morrer.”25
Este ‘modos’ de funcionamento não são apenas técnicas de gestão empresarial. Na
Bíblia encontramos vários homens que fizeram grandes feitos a partir de uma visão dada por
Deus. Como por exemplo: Neemias que reconstruiu os muros de Jerusalém; Moisés que
tirou o povo de Israel do Egipto; João Batista que pregava o evangelho do arrependimento;
etc. Todos eles trabalharam em prol de uma visão que nasceu muitas vezes pela consciência
da necessidade.
Franklin Field disse “Olhar pobre limita a sua visão, e visão pobre limita os seus
feitos.”26
B. Actividades Orientadas para as necessidades
Greg L. Hawkins, um dos cooperadores de Bill Hybels assegura que: “Depois de saber
com certeza o que cativa a mente e o coração das pessoas, a capacidade da igreja de fazer
escolhas estratégicas e eficientes na utilização do tempo e dos recursos aumentará
drasticamente.” E acrescenta ainda “Compreender as necessidades ajuda a identificar
oportunidades para novas iniciativas da igreja e actividades ministeriais destinadas a
catalisar o crescimento.”27
A Igreja Willow Creek elaborou uma pesquisa em 7 igrejas EUA de diferentes regiões e
denominações que mostraa ausência de uma ligação directa entre a participação nas
actividades de igreja e o crescimento espiritual.28 Significa que as actividades na igreja por si
mesmas não asseguram o crescimento espiritual. A pesquisa foi determinante ao
demonstrar que há uma relação linear entre a profundidade do relacionamento com Deus e
o crescimento espiritual. Ao descobrir o que motiva e estimula a profundidade desse
25PAES, Carlito. 2003.Igrejas que prevalecem. p.6026Ibid p.6427HAWKINS, Greg L. e PARKINSON, Cally. 2008.Descubra: onde você está? p. 2928HAWKINS, Greg L. e PARKINSON, Cally. 2008.Descubra: onde você está? p. 36
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relacionamento seria mais fácil para a liderança da igreja conduzir o processo de
crescimento espiritual.
Não é algo novo e até parece uma conclusão bastante óbvia mas na verdade muitas
igrejas têm seguido o caminho da hiperactividade que acaba por substituir na vida dos
crentes o relacionamento pessoal com Deus. Em muitos casos os crentes só exercitam a sua
fé nos cultos e nas outras actividades realizadas pela igreja. E mesmo assim ainda estão
dependentes de estímulos externos para o efeito.
Outro assunto em foco na pesquisa é que há medida que o crente cresce em
maturidade espiritual passa a encarar o seu tempo na igreja mais como uma oportunidade
para servir do que propriamente para receber, i.é, como um local de ‘trabalho’ e não de
‘abastecimento’.A descoberta demonstrou que a dinâmica interna da igreja deve servir
como suporte para o crescimento espiritual do crente e não para sugar a vitalidade da sua
espiritualidade.
Isto já é o suficiente para avaliar o fenómeno recente da igreja actual: crentes
convictos da sua fé, com experiencias com Deus, dizimistas fiéis, servindo activamente na
igreja mas estagnados espiritualmente. Isto porque a devoção à igreja está a tomar o lugar
da devoção pessoal a Deus. Estima-se que 10% dos crentes da igreja servem os restantes
90%, porque afinal de contas alguém tem que pagar o preço para as coisas saírem feitas,
mas à custa do quê?“Uma igreja deixa o activismo que envolvia os seus membros e passa a
desenvolver ministérios que edificam e abençoam” é uma igreja que segue um planeamento
estratégico.29
CONCLUSÃO
A Igreja de hoje, para ser influência onde está inserida, tem que encarar com outros
olhos as mudanças que ocorrem na sociedade. Não podemos estagnar no tempo. Não
podemos fechar os olhos, aguardar que o Senhor venha e esperar que no caminho ninguém
fique para trás. Temos que acompanhar o formato das mudanças, sem no entanto
comprometer o conteúdo espiritual que nos é exigido. Há um legado espiritual a seguir. Há
um caminho a trilhar. Há um caminho a prosseguir. Por isso temos de estar bem convictos
da nossa fé, estabelecer bem os nossos fundamentos (Mateus 7:24-25) e conhecer os
desafios que a sociedade nos apresenta. Não precisamos de negociar os valores e os
29CAMPANHÃ, Josué. 2000.Planejamento Estratégico. p.127
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princípios Bíblicos para chegar à sociedade, precisamos de adoptar estratégias de
crescimento que não comprometam o conteúdo espiritual da existência da igreja.
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