errantes da madrugada 15

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Mark Morgan, um veterano de guerra, juntamente com Ned Zeppelin e seu grupo de foras-da-lei – os Titãs do Condado de Heep –, roubam, matam e espalham o terror por todo o Oeste. Seus delitos e atos imorais mudarão vidas, fazendo o índio Pantera lutar por sua tribo, por suas terras, e para que os últimos descendentes dos Hekopyta'ỹva Ko'ẽmbota se protejam da selvageria dos homens brancos, enquanto Diego Santana, um “não tão correto” pai de família, fará sua jornada até se tornar um lendário caçador de recompensas. Acompanhe este sangrento e nada amigável mundo imaginário onde a fronteira dos Estados Unidos e do México surge recheada de cidades e de estados fictícios, inspirados em grandes músicos e inesquecíveis bandas. Onde Velho-Oeste, lobisomens e o mais puro rock and roll se misturam como nunca antes se misturaram. Bem-vindo ao mundo dos Errantes da Madrugada.

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São Paulo — 2015

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Copyright © 2015 by Editora Baraúna SE Ltda.

Capa [email protected]

Diagramação Jacilene Moraes

Revisão Rafael Silvestre

CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO-NA-FONTESINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ ________________________________________________________________N385e

Neto, Rubens Errantes da madrugada : velho-oeste, lobisomens e rock & roll / Rubens Neto. - 1. ed. - São Paulo : Baraúna, 2014.

ISBN 978-85-437-0186-8

1. Ficção brasileira. I. Título.

14-17440 CDD: 869.93 CDU: 821.134.3(81)-3________________________________________________________________04/11/2014 04/11/2014

Impresso no BrasilPrinted in Brazil

DIREITOS CEDIDOS PARA ESTAEDIÇÃO À EDITORA BARAÚNA www.EditoraBarauna.com.br

Rua da Quitanda, 139 — 3º andarCEP 01012-010 — Centro — São Paulo — SPTel.: 11 3167.4261www.EditoraBarauna.com.br

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Agradecimentos

Agradeço a Deus, a toda a minha família na Terra (incluem-se aqui o Sukata e o Stallone), a toda a minha família no Céu, e à fonte eterna de minha inspiração: minha esposa, Fernanda. Agradeço nova-mente a todos pela paciência e carinho que me rodearam todos estes anos. Amo vocês do fundo do meu coração.

À parte isso, dedico esta obra a todos os amantes, aficcionados, entusiastas, fãs, músicos, artistas, bandas ou devotos do mais puro rock and roll, mundo afora.

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Nota do Autor

Sempre olhei desconfiado para autores que criavam mundos in-teiros com sua imaginação... Na verdade, julgava-os um tanto exage-rados, criando lugares, geografia, países, lendas, guerras etc,. e colo-cando tudo isso num mapa para que pudéssemos nos situar. A todo momento, dizia para mim mesmo: “desta água não beberei”, sempre que virava as folhas para olhar o desenho no apêndice. Mas, como o mundo dá voltas, acontece que literalmente me afoguei em um dilú-vio de proporções bíblicas desta “água”...

Minha terceira obra é uma verdadeira hipocrisia da minha parte, tentando criar um mundo vasto, complexo e único, onde (acho que) consegui misturar — à minha maneira, é claro –, assuntos de que gosto muito, quais sejam: Velho-Oeste, Lobisomens e Rock And Roll. Ou seja, não é uma mera coincidência o fato de que o subtítulo do presente livro seja exatamente esse. Ah, já ia me esquecendo: esta tam-bém é minha primeira tentativa em criar uma trilogia, então, podem esperar por mais dois volumes depois desse!

Assim, uma vez mais, fiz algo que me agradasse o suficiente para compartilhar com o mundo. Novamente, são vidas fictícias que con-segui alcançar somente pelas palavras. Espero que gostem, pois para mim é indescritível a sensação de mais um livro pronto. Divirtam-se, lembrando-se sempre de que a trilha sonora, da primeira à última página, já está praticamente definida!

Rubens Neto.

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Em seu passado, ele matou mais homens do que o Inferno tem de almas.

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Prólogo“Acabei de matar um homem. Pus a arma contra a sua cabeça; puxei meu gatilho e agora ele está morto.”

Bohemian Rhapsody, Queen.

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12 de dezembro de 1879, às 23:00 horas.Condado de Floyd, em Nightwish, EUA. O inevitável agora.

O garrano cambaleava em razão do frio. Era um bicho velho e teimoso, com pelugem malhada e gasta pelos anos. Suas patas surra-das fincavam-se até a metade na neve espessa, que ganhava os arredo-res de cidade. Mark batia com as esporas na barriga do animal, que nem sequer alterava o seu ritmo lento, mesmo com a dor do metal pontiagudo contra a sua carne. O relinchar do cavalo era um resmun-go natural, conforme os flocos gelados desciam do céu escuro.

Passavam pelo pórtico, de madeira simples e violentada pelo tempo. Com tintas descascadas e velhas, anunciavam sem orgulho o nome do lugar. Floyd. A “Cidade Rosada”, como chamavam. Tinha esse nome pela terra arroxeada que os primeiros colonos acharam, mas que sumiu nos dois primeiros anos de cultivo. O nome, pelo menos, ficou. Os colonos, não.

Depois de muitos minutos gelados, Mark já via as luzes do sallo-on, de longe, com as lamparinas lutando para permanecerem acesas contra aqueles ventos frisantes de inverno. Realmente parecia ser a única coisa ainda aberta em quilômetros naquela hora da noite. Avan-çavam sem qualquer velocidade por ruas recheadas de lodo congelado.

Mesmo com a pouca claridade, notava os detalhes das paredes, portas e em alguns dos telhados. Tons rosados e descascados domi-navam a arquitetura, talvez como uma homenagem ao batismo da cidade. Nome estranho. Cidade mais estranha ainda, pensava.

A dupla continuava, no passado ritmado, sem pressa. Como se tivesse destino certo, o bicho malhado parava com o seu trotar lento exatamente na frente da casa de jogos e diversões. Mark descia com certa dificuldade do animal reclamão, auxiliado pelas rédeas. Com passadas sofridas, amarrava-o embaixo de um estábulo vizinho, do outro lado da rua.

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Dando uma última boa olhada para a sua montaria, já aninhada contra o frio, Mark atravessava aquela passagem de terra batida e neve grudenta. Suas botas de couro escuro pisavam com passos mancos, pouco acostumados, mesmo depois de tanto tempo. O sobretudo ne-gro, que abrangia grande parte de seu corpo, lhe ajudava bem contra a baixa temperatura.

Chegava à calçada alta, esforçando-se para subir dois degraus com a perna direita, problemática e vagarosa. Nunca imaginava que, com trinta e poucos anos, estaria parecendo um velho moribundo. Franzia a testa, pensando nisso. Postava-se à porta do salloon. Olhava a placa rosada, pintada há muitos anos atrás. “Teatro dos Sonhos”, dizia. O nome lhe importava tanto quanto a cidade.

Os sons de piano e de carteado ecoavam pelos vidros maltratados do lugar, entoando a diversão de todos lá dentro. Provenientes do andar de cima, gemidos, falas e vozes femininas chegavam aos seus ouvidos, quase sumidos pelo uivar da noite. Mas nada daquilo era o seu objetivo. Nada daquilo...

Ele fitava a maçaneta, de ferro escuro. Ia com a mão para abri-la. Estava tremendo. Não era o frio que lhe deixava assim. Era o nervosismo. O ódio... Principalmente quando sentia falta dos dois dedos. O indica-dor e o dedo médio eram apenas lembranças rasgadas, antigas. Olhava o anelar, portando tristemente sua aliança, acompanhado dos outros dois. Sentia seu pingente, batendo contra o peito, por dentro da camisa. O dólar de prata furado, trespassado pelo cordão, que levava no pescoço, era seu lembrete diário. Ora, segundo após segundo o recordava...

Controlava-se no que podia para não chorar. Mas não conse-guia... Mesmo depois de oito anos, as pequenas lágrimas desciam por suas bochechas, hidratando sem sentido as cicatrizes no seu rosto. Eles iriam pagar... Cada um deles iria pagar..., rangia os dentes quase dizendo os pensamentos em voz alta.

Chacoalhava a cabeça tentando se livrar da raiva iminente e da neve em seu chapéu preto. Ajeitava o longo lenço marrom que lhe co-bria a face até o nariz, vendo os vapores que escapavam com seu respirar.

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E, com a mão faltante de dedos, virava a maçaneta.A porta abria-se com pouca vontade, rangendo como uma velha

rabugenta. No momento em que seus pés o colocavam lá dentro, uma onda de calor lhe acariciava a pele, proporcionada pela lareira vívida e quente. Ninguém parecia se importar com sua presença, dispersos em seus afazeres libidinosos, gananciosos ou viciantes.

Mark fitava o amplo salão por completo. Suas paredes eram de madeira vergonhosamente pintada de rosa, decoradas aqui e ali com cabeças empalhadas de dois veados e um urso. Uma escada munida de mulheres cortava o local pelo lado direito, subindo até o andar das diversões mais “adultas”. Um piano tocava sem parar, embalado por um músico um tanto alegre, em um dos cantos. Três ou quatro mesas redondas espalhavam-se pelo resto do local, recheadas de bê-bados e de prostitutas.

No fundo ele via uma mesa de cartas. O feltro verde era velho e desgastado, cercado por cigarros, bebidas e cinco jogadores. Quatro deles, pela postura e pelas vestes, definitivamente alugavam suas ar-mas por dinheiro. Mas era o quinto, em especial, que lhe chamava a atenção. Imediatamente.

Estava mais bem vestido, mais bem tratado. Suas costeletas loi-ras estavam maiores e mais destacadas no seu rosto franzino. Vestia um terno preto, impecavelmente costurado e aparentemente carís-simo. Na cabeça, um pequeno chapéu escuro, redondo e moder-no. Na aba do paletó era possível perceber a corrente dourada que terminava num relógio exclusivo, de extremo bom gosto. O mesmo mijo de cavalo de sempre, mas em outra garrafa, Mark pensava. O infeliz não estava sozinho. O quarteto mercenário, jogando com ele, era o seu aparente novo bando. Nenhum deles parecia perceber sua presença, entretidos no pôquer.

Mark continha seus lábios para não gritar o nome dele. Cerrava os dentes, mordendo parte da boca, tentando conter o ódio, mas, mesmo assim, a fala saía involuntariamente, ainda que sussurrada para si mesmo.

— Johnny...

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Mas ainda não era hora. Ainda não, pensava. Tente saborear o mo-mento... Ele fechava os olhos, refrescando como podia aquela vontade. Angariava o ar com os pulmões, que vinha com o odor fétido de um piso que não era limpo havia meses. Seus olhos, surrados pela viagem e pela vida, vislumbravam o bar, longo e vistoso. Rumava para lá, com seus passos lentos e coxos.

Chegava ao balcão, passando por um homem completamente embriagado, que tentava se manter em pé. O barman já se direciona-va para atendê-lo, sem qualquer distinção, caminhando pelo pequeno espaço que separavam os consumidores, colocando um pano ligeira-mente sujo sobre o ombro. Ele encarava Mark, sem grandes altera-ções, como se já tivesse visto de tudo naquele emprego.

— O que vai ser? — o lenço posando como máscara não o incomodava, pelo visto. Colocava sua mão direita sobre a madeira manchada, como descanso. Abaixava o pano que lhe cobria o rosto até o pescoço, para que pudesse falar sem grandes problemas. O olhar do barman se alterava completamente, ao visualizar os feri-mentos cicatrizados permeando todo o semblante daquele homem misterioso. Mesmo depois de anos, Mark ainda estava se acostu-mando com aquelas reações... Suspirava, indignado, mas ainda as-sim, pedia a bebida.

—Uísque. — a voz que saía era rouca, mas imperativa. O bar-man hesitava, momentaneamente, mas acatava o pedido. Não respon-dia nada, no entanto. Era como se quisesse manter o mínimo contato com aquele cliente deformado. Ele simplesmente se virava para uma das prateleiras, pegando um copo limpo. Enquanto o homem desros-queava a garrafa, Mark continuava ali, na mesma posição. De costas para todos, voltado inteiramente ao bar.

Recebia do atendente o copo, que prontamente segurava com a mão esquerda, faltante de dedos. Mais uma vez o homem que lhe servia se impressionava com as deformidades presentes, arregalando os olhos. Engolia seco enquanto derramava o líquido amarelado no copo, até quase transbordá-lo.

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Um bêbado, ao lado dos dois, parecia voltar à consciência no instante em que ouvia o uísque batendo contra o vidro. Como abutre quanto à carniça, ele imediatamente se virava, intrometido. Por al-guns segundos encarava o forasteiro com olhos vermelhos e remelen-tos. Até que finalmente falava, com voz torta e embargada.

— Mas você é o cara mais feio que já vi em toda a minha vida... — ele dizia, fitando o semblante de Mark, inédito para sua embriaguez.

— (...). — o viajante não se dava ao trabalho de responder, mos-trando um nítido desdém. Cobria o rosto com a mão livre, em razão da baforada fedida que saía junto das palavras. Mas o bêbado conti-nuava, chegando cada vez mais perto.

— Me dá uma dose de uísque também, Mike... — a fala saía re-cheada do vai – e vem típico, de uma boca repleta de dentes careados e tortos. Mark, no entanto, não via isso, pois em nenhum momento se dava ao trabalho de colocar-se de frente ao cambaleante homem.

— Além de estar bêbado, está sem dinheiro, senhor LaBrie. — o barman respondia como se estivesse feliz por ter se livrado de qual-quer tipo de contato com o forasteiro, distanciando-se alguma coisa. — Mostre as moedas que eu lhe servirei o que quiser. — o bêbado enru-gava a testa, visivelmente nervoso.

Com movimentos lerdos e descontrolados, puxava uma arma sabe-se lá de onde. Batia com força o cabo de uma pistola enferrujada no balcão, arranhando a madeira propositalmente. Olhos encharca-dos em álcool fitavam tanto o barman quanto Mark, que ainda per-manecia de frente para o bar, segurando a sua bebida.

— Você tem coragem de servir o homem mais feio que já andou por essa Terra, mas não tem coragem de me servir? — ele gritava da forma tipicamente embriagada, remexendo o cano cravejado de fer-rugem para cima e para baixo, na direção de Mark. Alguns habitu-és chegavam a conferir o bar, mas percebiam imediatamente que era apenas ladainha de bêbado. O barman, por outro lado, tentava contê-lo no que podia.