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""~E'NO '''ON(U,()(;U 'O S(}ftUA't'ONEM'CO 'I:M MI)LIIJI;,~ ('OM PAI~ALlSIA CElUmRAL: II:JI'Jf:J'J'()~1\ SOJIIU; CONscrI1N- 'IA FÜNOLÓGICA, LEITURA EM VOZ AI:"A, ESCIUTA SOB DITADO, MEMÓRIAS FONOLÓGICAS OE T'~ABALHO A LONGO PRAZO Fernando C. Capovilla, Alessandra G. S. Capovillu Instituto de Psicologia, Universidade de São Pau/o Pesquisas recentes têm demonstrado consistentemente que habilidades de processamento fonológico são essenciais à aquisição de leitura e escrita (McGuinness, McGuinness & Donohue, 1995; Torgensen, Wagner & Rashotte, 1994). Aprender a ler num sistema alfabético pressupõe a capacidade de analisar a estrutura fonêmica da fala e as habilidades de memória fonológica que permi- tem reter e obter acesso às representações dos aspectos fonológicos da Iingua. ~em. Processamento jonológico refere-se às operações de processamento de informação baseadas na estrutura fonológica da linguagem oral, e envolve a percepção e as memórias de trabalho e de longo prazo, quando relacionadas a uuncrial fonológico. Tem sido demonstrado que o treino de habilidades fOl1ológicas, como a de manipular sílabas e fonernas, auxilia a aquisição da linguagem escrita (Warrick, Rubin & Rowe-Walsh, 1993; Byme & Fielding- Barnsley, 1991, Sundberg, 1996). Evidências da eficácia de treino fonológico sobre desenvolvimento de leitura e escrita também foram obtidas em relação ao português brasileiro (CapovilIa & Capovilla, 1997b). É essencial desenvolver instrumentos que permitam avaliar tais habilidades de processamento fonológico e desenvolver procedimentos de intervenção para prover treino preventivo e/ou remediativo a indivíduos com dificuldades em ;onsciêneia fonológica. O presente estudo replicou, em uma mulher portadora de paralisia cerebral, um procedimento que se mostrou eficaz para o treinamento de crianças brasileiras com atrasos fonológicos (Capovil1a & Capovilla, 1998b). Ele envolve treinamento direto de habilidades fonológicas nos níveis supra- Ionémico e fonêmico, e instrução explícita acerca das correspondências grafo- ronêmicas do português. Ele também buscou avaliar o impacto desse treino Iouotogíco sobre as habilidades fonológicas, de leitura e de escrita. O estudo stá em pleno andamento, e os resultados aqui relatados referem-se apenas aos 'feitos do treino suprafonêmico. _ Método participante Participou uma mulher (CB), com paralisia cerebral e 30 anos de idade. Está atualmente cursando a oitava série do primeiro grau numa escola normal e .~38 , iprescnlu queixa de dificuldades de leitura c escrita. Devido às dificuldades meteras, suu escrita é muito lenta e laboriosa, e apresenta muitos erros. Seu desempenho na prova de escrita sob ditado de itens psicolingüísticos variados, conforme critérios de erro especificados (Capovilla, Capovilla & Silveira, sub- metido) revelou uma taxa 0,89 erro por palavra. Na leitura em voz alta, CB comete uma série de erros de articulação. Na prova de leitura em voz alta CronoFonos (Capovilla, Macedo et aI., 1997), a partir de critérios de erro espe- cificados (Capovilla, CapovilIa & Silveira, submetido), CB cometeu uma taxa de 2,13 erros por palavra. Apresentou os seguintes tipos de erro na leitura em voz alta: redução do !RI; elisão da consoante final de palavra e sílaba (lsl e Ir/); elisão da nasal palatal (1]); redução de encontros consonantais; semivocalização do rAIe do /r/; plosivização de fricativas (v-b) (z-d) (3-d); sonorização pré- vocálica (p-b) (t-d) (k-g) (f-v); substituição glotal (S -d) (s-d) (f-b); e elisão de líquidas (r-O) (l-O). Seu desempenho numa primeira aplicação da Prova de Consciência Fonológica (Capovilla & Capovilla, 1998a) foi de 30 em 40 pon- tos, equivalente ao desempenho médio de uma criança de sete anos. Equipamento • Escala de Maturidade Mental Colúmbia: Esse teste (Burgemeister, Blum & Lorge, 1959) avalia a aptidão geral para o raciocínio. A tarefa é observar pranchas com três a cinco figuras cada uma e escolher aquela que é dife- rente das demais (i.e., que não combina com as demais). De modo a ser capaz de apontar a figura que não combina com as demais, deve-se desco- brir a regra ou princípio subjacente à organização do conjunto de figuras em cada prancha. Neste estudo, os resultados do teste foram usados na forma de estanino, que é uma pontuação estandardizada variando numa escala de 1 a 9 pontos, com média de 5 para cada grupo. O estanino é calculado a partir da idade e da freqüência de acertos no teste, e foi usado como covariante nas análises de covariância. Teste de escrita sob ditado: O teste de escrita sob ditado consistia numa lista de 72 itens psicolingüísticos (a partir de Pinheiro, 1994). Na lista encontravam-se controladas variáveis psicolingüísticas tais como o com- primento do item, sua freqüência de ocorrência, sua lexicalidade ea regularidade das correspondências grafofonêmicas envolvidas. Assim, dos 72 itens, havia 24 palavras de alta freqüência, 24 palavras de baixa freqüência e 24 pseudopalavras. Havia também 24 itens regulares, 24 regra e 24 irregulares. Finalmente, havia 36 itens bissílabos e 36 tris- sílabos. • Prova de leitura em voz alta - software CronoFonos: CronoFonos (Capovilla, Macedo et aI., 1997) é um teste computadorizado delineado 339

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DITADO, MEMÓRIAS FONOLÓGICAS OE T'~ABALHOA LONGO PRAZO

Fernando C. Capovilla, Alessandra G. S. CapovilluInstituto de Psicologia, Universidade de São Pau/o

Pesquisas recentes têm demonstrado consistentemente que habilidades deprocessamento fonológico são essenciais à aquisição de leitura e escrita(McGuinness, McGuinness & Donohue, 1995; Torgensen, Wagner & Rashotte,1994). Aprender a ler num sistema alfabético pressupõe a capacidade de analisara estrutura fonêmica da fala e as habilidades de memória fonológica que permi-tem reter e obter acesso às representações dos aspectos fonológicos da Iingua.~em. Processamento jonológico refere-se às operações de processamento deinformação baseadas na estrutura fonológica da linguagem oral, e envolve apercepção e as memórias de trabalho e de longo prazo, quando relacionadas auuncrial fonológico. Tem sido demonstrado que o treino de habilidadesfOl1ológicas, como a de manipular sílabas e fonernas, auxilia a aquisição dalinguagem escrita (Warrick, Rubin & Rowe-Walsh, 1993; Byme & Fielding-Barnsley, 1991, Sundberg, 1996). Evidências da eficácia de treino fonológicosobre desenvolvimento de leitura e escrita também foram obtidas em relação aoportuguês brasileiro (CapovilIa & Capovilla, 1997b).

É essencial desenvolver instrumentos que permitam avaliar tais habilidadesde processamento fonológico e desenvolver procedimentos de intervenção paraprover treino preventivo e/ou remediativo a indivíduos com dificuldades em;onsciêneia fonológica. O presente estudo replicou, em uma mulher portadora

de paralisia cerebral, um procedimento que se mostrou eficaz para o treinamentode crianças brasileiras com atrasos fonológicos (Capovil1a & Capovilla, 1998b).Ele envolve treinamento direto de habilidades fonológicas nos níveis supra-Ionémico e fonêmico, e instrução explícita acerca das correspondências grafo-ronêmicas do português. Ele também buscou avaliar o impacto desse treinoIouotogíco sobre as habilidades fonológicas, de leitura e de escrita. O estudostá em pleno andamento, e os resultados aqui relatados referem-se apenas aos

'feitos do treino suprafonêmico. _

Método participante

Participou uma mulher (CB), com paralisia cerebral e 30 anos de idade.Está atualmente cursando a oitava série do primeiro grau numa escola normal e

.~38

,

iprescnlu queixa de dificuldades de leitura c escrita. Devido às dificuldadesmeteras, suu escrita é muito lenta e laboriosa, e apresenta muitos erros. Seudesempenho na prova de escrita sob ditado de itens psicolingüísticos variados,conforme critérios de erro especificados (Capovilla, Capovilla & Silveira, sub-metido) revelou uma taxa dé 0,89 erro por palavra. Na leitura em voz alta, CBcomete uma série de erros de articulação. Na prova de leitura em voz altaCronoFonos (Capovilla, Macedo et aI., 1997), a partir de critérios de erro espe-cificados (Capovilla, CapovilIa & Silveira, submetido), CB cometeu uma taxade 2,13 erros por palavra. Apresentou os seguintes tipos de erro na leitura emvoz alta: redução do !RI; elisão da consoante final de palavra e sílaba (lsl e Ir/);elisão da nasal palatal (1]); redução de encontros consonantais; semivocalizaçãodo rAIe do /r/; plosivização de fricativas (v-b) (z-d) (3-d); sonorização pré-vocálica (p-b) (t-d) (k-g) (f-v); substituição glotal (S -d) (s-d) (f-b); e elisão delíquidas (r-O) (l-O). Seu desempenho numa primeira aplicação da Prova deConsciência Fonológica (Capovilla & Capovilla, 1998a) foi de 30 em 40 pon-tos, equivalente ao desempenho médio de uma criança de sete anos.

Equipamento

• Escala de Maturidade Mental Colúmbia: Esse teste (Burgemeister, Blum& Lorge, 1959) avalia a aptidão geral para o raciocínio. A tarefa é observarpranchas com três a cinco figuras cada uma e escolher aquela que é dife-rente das demais (i.e., que não combina com as demais). De modo a sercapaz de apontar a figura que não combina com as demais, deve-se desco-brir a regra ou princípio subjacente à organização do conjunto de figurasem cada prancha. Neste estudo, os resultados do teste foram usados naforma de estanino, que é uma pontuação estandardizada variando numaescala de 1 a 9 pontos, com média de 5 para cada grupo. O estanino écalculado a partir da idade e da freqüência de acertos no teste, e foi usadocomo covariante nas análises de covariância.

• Teste de escrita sob ditado: O teste de escrita sob ditado consistia numalista de 72 itens psicolingüísticos (a partir de Pinheiro, 1994). Na listaencontravam-se controladas variáveis psicolingüísticas tais como o com-primento do item, sua freqüência de ocorrência, sua lexicalidade e aregularidade das correspondências grafofonêmicas envolvidas. Assim, dos72 itens, havia 24 palavras de alta freqüência, 24 palavras de baixafreqüência e 24 pseudopalavras. Havia também 24 itens regulares, 24regra e 24 irregulares. Finalmente, havia 36 itens bissílabos e 36 tris-sílabos.

• Prova de leitura em voz alta - software CronoFonos: CronoFonos(Capovilla, Macedo et aI., 1997) é um teste computadorizado delineado

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para avaliar habilidades de leitura em voz uhu. E t')t(1l'UI(IVt'lem computudores pessoais equipados com sistemas opcraciouuls WI"dows 3./1 e V.• ,Apresenta itens escritos isolados para a leitura em voz alta. Os itens upurecem com uma resolução de tela de 640 x 480, em uma fonte tipo Timr;New Roman, tamanho 72, em letras pretas sobre um fundo branco contoutro fundo azul. CronoFonos registra alguns importantes parâmetros temporais da pronúncia, tais como o tempo de reação, a duração e os padrde segmentação. Os padrões de segmentação variam dependendo da estratégia ou rota usada para a leitura. Quando a rota fonológica é usada,pronúncia é construída segmento a segmento, e conseqüentemente U

segmentação é elevada. Neste caso, há uma pequena diferença entre onúmero de sílabas do item escrito e o número de segmentos de sua pronún-cia. Por sua vez, quando a rota lexical é usada, a pronúncia é recuperadacomo um todo a partir do léxico, e consequentemente a segmentaçãobaixa. Neste caso, há uma diferença maior entre o número de sílabas doitem escrito e o número de segmentos na pronúncia. A eficácia dCronoFonos em analisar os padrões de segmentação de modo a documen-tar a evolução dos processos fonológicos e lexicais durante a aquisição daleitura já foi demonstrada (Capovilla, Capovilla & Macedo, submetido).Neste estudo, o software CronoFonos foi programado para apresentar umalista de 90 itens psicolingüísticos (a partir de Pinheiro, 1994). Os itensvariavam em termos de sua lexicalidade, da regularidade das correspon-dências grafofonêmicas envolvidas, de sua freqüência de ocorrência noportuguês brasileiro, e de seu comprimento. Em termos de lexicalidadehavia duas categorias: os itens podiam ser ou palavras ou pseudopalavras.Em termos de comprimento, havia dois níveis: os itens podiam ser ou biou trissílabos. Em termos de freqüência de ocorrência no português brasi-leiro, havia duas categorias: a palavra era de alta ou de baixa freqüência.Finalmente, em termos da regularidade das correspondências grafo-fonêmicas (Lernle, 1991), havia duas categorias: as relações grafofonêmicasenvolvidas nos itens podiam ser regulares, irregulares, ou podiam envolver

.regras de posição. Um dado item era denominado regular quando tanto apronúncia em voz alta quanto a escrita sob ditado podiam ser feitas demodo correto e com maior facilidade simplesmente aplicando regras decorrespondência grafema-fonema. Um dado item era denominado regraquando, para poder pronunciá-Io e escrevê-Io corretamente, o leitor tinhaque considerar não apenas regras de correspondência grafofonêmica comotambém regras de posição. Ou seja, nos itens regra, o modo como umgrafema era pronunciado e o modo como um fonema era escrito dependiada posição que ele ocupava no item em relação a outros grafemas oufonemas. Finalmente, um dado item era chamado irregular quando, demodo a poder pronunciá-Io e escrevê-Io de modo correto, nem o conheci-mento das regras de correspondência grafofonêmicas nem o conhecimento

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das rllgras til' posição cru suficiente. Em vcz disso, dada a natureza excep-cional das corrcspondôncias grafofonêmicas do item irregular, para sercapaz. de pronunciâ-lo e escrevê-Io com correção, o leitor precisava recor-rer a um léxico (quer externo sob a forma de dicionário, quer interno na

forma do léxico méntal).Para fins de análises estatísticas, o delineamento foi rearranjado de modoa conter três variáveis: regularidade grafofonêmica (itens regulares, regrae irregulares), lexicalidade-freqüência de ocorrência (palavras de alta fre-qüência, palavras de baixa freqüência, pseudopalavras), e comprimento(itens bissílabos, trissílabos). Dos 90 itens da lista, havia 30 regulares, 30regra e 30 irregulares. Havia também 30 palavras de alta freqüência, 30palavras de baixa freqüência e 30 pseudopalavras. Finalmente, havia 45

itens bissílabos e 45 trissílabos.• Prova de consciência fonológica: A prova de consciência jonológica ou

PCF (Capovilla & Capovilla, 1998a) foi baseada no teste Sound Linkage(Hatcher, 1994) e nas provas de Manipulação Silábica e Fonêmica (Capovilla& Capovilla, 1996, 1997a). Ela foi elaborada para avaliar as habilidades demanipular os sons da fala. A PCF é composta de dez subtestes, cada umcomposto de dois itens de treino e de quatro itens de teste. A PCF avaliadez habilidades na seguinte ordem: síntese silábica, síntese fonêmica, jul-gamento de rima, julgamento de aliteração, segmentação silábica, seg-mentação fonêmica, manipulação silábica, manipulação fonêmica, transpo-sição silábica e transposição fonêrnica, Os escores da PCF correspondemà freqüência de respostas corretas, e varia de zero a 40 pontos.

• Teste de conhecimento de letras: No teste de conhecimento de letras, osoftware CronoFonos apresentava as 23 letras do alfabeto português, umaa uma, em ordem aleatória. A tarefa do sujeito era nomeá-Ias em voz alta.As letras apareciam escritas em maiúsculas, fonte Times New Roman ta-manho 72. O software registrava as respostas do sujeito para análises ul-teriores. O escore no teste consistia na freqüência total de letras nomeadas

corretamente .• Teste de memória fonológica de longo prazo (nomeação seqüencial rápi-

da de cores): No presente estudo, a memória fonológica de longo prazo foiavaliada por meio de um teste de nomeação de cores. Há uma série demodos de avaliar a memória fonológica de longo prazo. Contudo, a nome-ação de conteúdos verbais é a mais freqüentemente usada. Os conteúdosverbais incluem os números, as letras e as cores, dentre outros. Há doistipos de nomeação: na nomeação isolada, apenas um elemento por vez éapresentado para nomeação; já na nomeação seqüencial, são apresentadosvários elementos simultaneamente, de modo que o examinando tem quenomeá-los em seqüência. Este estudo empregou a tarefa de nomeaçãoseqüencial de cores em vez da tarefa de nomeação isolada. A escolha por

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;slu larefa foi bu,~euua nu bibliografia que IIIONII'1lI/IH' Il,~ hubllldudes lileitura estão fortemente corrclacionadae CO/l1 ti IIOlllllllyllo seqllel1cial. 1'01

exemplo, após comparar uma série de larefas de IIOIllCUção, Torgcse 11,

Wagner e Rashotte (1994) concluíram que as habilidades de leitura eSlll0mais fortemente correlacionadas com a nomeação seqüencial do que COma nomeação isolada.

No teste de memória fonológica de longo prazo foi usada uma tarefa dnomeação seqüencial rápida de cores. A tarefa foi baseada na bibliografiu(McGuiness, McGuiness & Donohue, 1995) e consistia em um treino e umteste. No treino, o software CronoFonos apresentava uma matriz 3x6 composta de 18 quadrados coloridos. Os quadrados eram apresentados contraum fundo cinza, e suas cores eram branco, preto, verde, vermelho, amareloe azul. Cada cor aparecia três vezes em ordem aleatória. A tarefa do sujeitoera nomear as cores em voz alta tão rápido quanto possível. Durante otreino de nomeação, o sujeito aprendia a natureza da tarefa; por exemplo,de que, ao nomear, devia proceder da esquerda para a direita e de cima parabaixo. Depois do treino de nomeação era conduzido o teste propriamentedito. Nele o software CronoFonos apresentava uma nova matriz 3x6, con-sistindo dos mesmos 18 quadrados distribuídos numa ordem diferente.Teste de memória/onológica de trabalho (o subteste de dígitos do WAIS):A memória fonológica de trabalho pode ser avaliada por meio de tarefasque requeiram a retenção de conteúdos verbais sem significado durantecurtos períodos de tempo. Em geral, tais testes são implementados usandotarefas de repetição de dígitos, letras ou pseudopalavras. Neste estudo foiusado o subteste de dígitos do Wechsler Adult lntelligence Scale (WAIS).Ele requeria a repetição de seqüências de dígitos nas ordens direta e inver-sa. A aplicação do teste ocorreu de acordo com os procedimentos padro-nizados (Wechsler, 1984).

Procedimento

CB foi submetida a um treino de consciência fonológica, que consistenuma adaptação de um treino empregado com sucesso em pré-escolares e esco-lares de primeiro grau (CapovilJa & Capovilla, 1998b). Na primeira parte doestudo, já concluída, CB foi submetida ao treino em nível suprafonêmico. Numasegunda parte CB será submetida ao treino no nível fonêmico. O procedimentoexperimental consiste em cinco fases: a) pré-teste: avaliação de consciênciafonológica (10 habilidades: julgamento de rima e aliteração; síntese, segmentação,manipulação e transposição de sílabas e fonemas), de leitura, ditado, conheci-mento de letras, memórias fonológica de trabalho (subteste de números doWAIS) e de longo prazo (nomeação rápida de cores), e inteligência (Escala deMaturidade Mental Colúmbia); b) treino de habilidades suprafonêmicas: treino

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íc consciôucin do rllHas, alitl'l"IIvl'les, pnluvrn« l' Sflllhlls; c) tt'sle I: UpIiCW;110 dasmesmas provas do pré-tcstc; ti) treino de hahilldades [anêmicas: treino de cons-ciência fonêrnica c treino de correspondências grafcmas-fonernas; e) teste 2:aplicação das mesmas provas do pré-teste e do teste l. O presente estudo relata

s resultados do pré-teste, do treino suprafonêmico e do teste 1.

A lógica do delineamento e as expectativas quanto aos resultados

A comparação entre o teste 1 e o pré-teste fornece o efeito do treino suprafonêmico sobre: 1) as habilidades de consciência fonolôgica em geral (escoregeral na PCF) e separadamente para cada um dos dez subtestes (rima e aliteração,bem como síntese, segmentação, manipulação e transposição silábicas e fonêmicas);2) a habilidade geral de leitura em voz alta (bem como sobre a habilidade deleitura de palavras e de pseudopalavras separadamente); 3) a habilidade geral deescrita sob ditado (bem como sobre a habilidade de escrita de palavras e depseudopalavras separadamente); 4) as habilidades de memâria fonolágica de tra-balho (cf. subteste de números do WAIS) e de longo prazo (cf. avaliada pelaprova de nomeação de cores); 5) habilidade de conhecimento de letras; 6) inte-ligência (cf. avaliada por meio da Escala de Maturidade Mental Colúmbia).

A comparação entre o teste 2 e o teste 1 fornecerá o efeito do treinofonêmico sobre as mesmas habilidades. A comparação entre o teste 2 e o pré-teste fornecerá o efeito geral do treino de consciência fonolôgica sobre as mes-mas habilidades.

O treino de consciência fonológica exercita fundamentalmente a cognição,mais que a motricidade. Exercita as habilidades do sujeito em perceber e discri-minar os sons da fala. Tais habilidades são necessárias para a leitura e a escrita,já que a ortografia alfabética mapeia os sons da fala. O que, no desempenho deleitura e escrita, depender desse aspecto cognitivo será treinado. Mas há umoutro aspecto na leitura em voz alta, o articulatório, que não está sendo treinadosistematicamente neste procedimento. Logo, espera-se que o ganho em leituraem voz alta não seja tão grande quanto o ganho em escrita sob ditado, uma vezque as dificuldades articulatórias de CB devem permanecer.

Se houver um ganho na escrita sob ditado, ele provavelmente será devidoao treino de consciência fonológica, especialmente se for acompanhado de umganho no escore de consciência fonológica. Como a consciência fonêmica émais necessária à leitura e à escrita do que a suprafonêmica, espera-se que otreino fonêmico produza ganhos maiores do que o suprafonêmico. Se houver umganho na leitura, ele poderá ser devido tanto a um ganho em consciênciafonológica como a uma melhora na articulação, que poderia eventualmente ocorrercomo subproduto do treino de consciência fonológica. Porém, tal melhoraarticulatória é improvável, visto que CB faz terapia fonoaudiológica desde ainfância, e seu padrão artriculatório tem se mantido estável nos últimos anos.

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Assim, se houver ganho em leitura, eruboru 11110Sl'.lll pONs!v('1di.'tNlllinur pn'csamente a contribuição relativa de variáveis eognitivus (collsci61ll:iu f()I1(}IÓ~lcu)e articulatórias, a probabilidade maior é de que ele venha ti ser devido a vurlveis cognitivas, especialmente se, ao lado do ganho em leitura, também houverganhos em escrita e no escore geral de consciência fonológica, Dadas as dificuldades articulatórias, não se espera necessariamente um ganho na leitura em VOI.alta, e o treino de consciência fonológica poderá ser considerado eficaz se clfor capaz de aumentar significantemente o escore geral na PCF e diminuisignificantemente a freqüência de erros na escrita sob ditado. Mais propriamcnte, o treino será considerado eficaz se ele for capaz de elevar a habilidadfonológica diretamente treinada (escore PCF); e ele será considerado relevantse, além disso, também for capaz de elevar a habilidade de escrita sob ditado,que não foi diretamente treinada.

Observações quanto ao uso de estatísticas de grupo em caso único

Nesse estudo, os dados são provenientes de caso único. De acordo comKazdin (1984), dados de caso único podem ser analisados por meio de estatís-ticas de grupo, desde que se demonstre ausência de dependência serial nasobservações. Quando há ausência de dependência serial, as n observações de umdado sujeito eqüivalem a uma observação de n sujeitos. Tal demonstração podeser feita por meio do cálculo de autocorrelação em lag I, em que a resposta dosujeito no tempo tn é correlacionada com a resposta do mesmo sujeito no tempot(n+ I)' desde a primeira até a última observação. Caso a autocorrelação resultenão-significante, então fica demonstrada a ausência de dependência serial, o queautoriza o emprego de estatísticas de grupo para as observações de caso únicocomo se estas houvessem sido obtidas como medidas independentes de n sujei-tos. Tal independência serial normalmente ocorre quando as observações suces-sivas de um sujeito são obtidas sob diferentes circunstâncias, num delineamentode tratamentos alternados (Barlow & Hersen, 1984). Tendo este arrazoado emmente, como no presente estudo as observações sucessivas eram obtidas sobdiferentes cruzamentos entre níveis das diversas variáveis, esperar-se-ia quehouvesse independência serial nas observações. Para tanto, foram calculadasautocorrelações com lag 1 de freqüência de erros para cada uma das tarefas(leitura, ditado e PCF), e os coeficientes de significância obtidos foram baixose não-significantes, autorizando assim o uso de estatística de grupo para análisede dados de caso único.

Resultados e discussão preliminares

As avaliações do pré-teste demonstraram que CB possui nível de consciên-cia fonológica típica do final da 1a série do 10 grau. Teste t para medidas repe-

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liuus revelou que, do pró-teste puru o teste I, houve urna diminuição significante(tinto ivefrequêncla de erros na escrita sob ditado (teste t [I. 183] = 5,22; p = 0,024)

mo no número de apresentações solicitadas por CB ao aplicador durante aescrita sob ditado (teste t [1.166) = 31,07; p = 0,000). Tais resultados encontram-se representados na Figura 1 (à esquerda e direita). Foram também conduzidasanálises para verificar o aumento do desempenho de escrita separadamente parapalavras e pseudopalavras. Teste t para medidas repetidas revelou uma diminui-ção significante na freqüência de erros na escrita sob ditado de pseudopalavras(teste t [1.90) = 6,42; p = 0,013), mas não de palavras reais. Tal resultado encontra-se representado na Figura 1 (ao centro).

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Testagem Testagem Testagem

Figura 1. Freqüência de erros na escrita sob ditado como um todo (à esquerda) e somente depseudopalavras (ao centro). Freqüência de apresentações solicitadas (à direita). As três medidasforam tomadas como função da testagem (pré-teste ou testeI), e representam média e erro-padrão.

Portanto, O treino de segmentos suprafonêmicos resultou em aumento nodesempenho de escrita sob ditado total e de pseudopaIavras. Tal resultado eraesperado, visto que o treino de consciência fonológica treina habilidades usadaspara a leitura pela rota fonológica, que, por sua vez, é a rota usada para a leiturade pseudopalavras. Assim, houve melhora significante no desempenho de escritasob ditado, com diminuição na freqüência de erros e no número de apresentaçõesrequeridas por CB, mas não houve diferenças significantes nos desempenhos nasdemais provas. A ausência de efeito da primeira parte do treino sobre a consciênciafonológica pode ter sido devida ao fato de que, nesta primeira fase do estudo, otreino de consciência fonológica restringiu-se apenas ao nível dos segmentossuprafonêmicos. Logo, seria esperada melhora apenas em tarefas que envolvessemesse tipo de segmento. Porém, já no pré-teste foi observado que o desempenho deCB nos subtestes suprafonêmicos da PCF já estava próximo ao teto (23,5 de umtotal de 24). Assim, o presente estudo demonstrou que o treino suprafonêmicopode ser eficaz em aumentar significantemente o desempenho de escrita sob ditadode uma mulher com paralisia cerebral, estendendo assim outros estudos da litera-tura com a mesma população (Sandberg & Hjelmquist, 1996). É esperado que otreino em nível fonêmico venha a produzir resultados ainda mais impressionantes.

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