educação teológica indígena - vox.pdf

29
UMA ANÁLISE DO DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO DA EDUCAÇÃO TEOLÓGICA INDÍGENA NO PROTESTANTISMO BRASILEIRO Paulo Oliveira 1 RESUMO O presente artigo apresenta a história de aproximadamente três décadas, que diz respeito a dois Institutos Bíblicos e um Centro de Treinamento Bíblico. O Instituto Bíblico Reverendo Felipe Landes e Cades Barnéia, no estado do Mato Grosso do Sul, localizados nas cidades de Dourados e A- quidauana, e o Centro de Treinamento Ami, no estado do Mato Grosso, localizado na Chapa- da dos Guimarães. Essas instituições estão voltadas para o preparo de líderes evangélicos indígenas e possuem indígenas em sua liderança e no quadro de docentes. A história apresentada nessa pesquisa começa em 1978. O caminho percorrido por estas escolas é o mesmo que os nossos Seminários e Faculdades Teológicas no Brasil, voltados para não indígenas. Expõe os principais componentes dessas instituições teológicas, sistematizando uma série de informações nesse aspecto. Analisa os principais componentes tais como: objetivos, currículos, corpo discente e docente, levantando questões pertinentes a cada um desses tópicos. E finaliza apresentando cinco sugestões, em formas de passos, a fim de ser mais prático, na busca de uma educação teológica relevante. Reconhece a necessidade de estudos futuros que abarquem outros aspectos não trabalhos aqui. Palavras-chaves:. ABSTRACT The present article, this thesis presents the history of approximately three decades concerning two Biblical Institutes and one Bible Training Center. Respectively, the Biblical Institute Reverend Felipe Landes and Cades Barnéia located in the state of Mato Grosso do Sul in the cities of Dourados and Aquidauana, and the Ami Training Center in the state of Mato Grosso located in the Guimarães Plateau. These institutions aim at preparing evangelical indigenous leaders, and have indigenous leaders and docents. The history presented in this research begins in 1978. The path followed by these schools is the same as the one followed by our Seminars and Theological Colleges in Brazil, which aim at non-indigenous people. This paper presents the main components of these theological institutions, systematizing a series of information related to this aspect. This research also analyses the institution’s main components, such as, goals, curriculums and docent body, raising questions pertinent to each of these topics. To conclude, the paper gives five suggestions divided into steps, to make it more practical, for the search of a relevant theological education. The need for further studies, which include other aspects not developed here, is recognized. Keywords: . 1 Paulo César Duarte de Oliveira é brasileiro, natural de Garanhuns – Pernambuco, casado com Quézia Mosti de Oliveira, pai do Jônatas e da Miriam. Bacharel em Teologia e Master of Divinity com especialização em Igreja, Cultura e Sociedade pela Faculdade Teológica Sul Americana, Londrina, PR. Doutorando em Teologia com ênfase em missiologia pelo Programa de Doctorado Latino Americano – PRODOLA – da Universidad Evangélica de Las Américas, San José, Costa Rica. Missionário da Associação Lingüística Evangélica Missionária – ALEM. Como missionário fez parte da equipe que traduziu o Novo Testamento na língua Tembé. E-mail: [email protected].

Upload: paulo-duarte-de-oliveira

Post on 17-Aug-2015

25 views

Category:

Documents


6 download

TRANSCRIPT

UMA ANLISE DO DESENVOLVIMENTO HISTRICO DA EDUCAO TEOLGICA INDGENA NO PROTESTANTISMO BRASILEIRO Paulo Oliveira1 RESUMO Opresenteartigoapresentaahistriadeaproximadamentetrsdcadas,quedizrespeitoadois InstitutosBblicoseumCentrodeTreinamentoBblico.OInstitutoBblicoReverendoFelipeLandeseCades Barnia, no estado do Mato Grosso do Sul, localizados nas cidades de Dourados e A- quidauana, e o Centro de Treinamento Ami, no estado do Mato Grosso, localizado na Chapa- da dos Guimares. Essas instituies esto voltadas para o preparo de lderes evanglicos indgenas e possuem indgenas em sua liderana e no quadro de docentes.Ahistriaapresentadanessapesquisacomeaem1978.Ocaminhopercorridoporestasescolaso mesmoqueosnossosSeminrioseFaculdadesTeolgicasnoBrasil,voltadosparanoindgenas.Expeos principaiscomponentesdessasinstituiesteolgicas,sistematizandoumasriedeinformaesnesseaspecto. Analisaosprincipaiscomponentestaiscomo:objetivos,currculos,corpodiscenteedocente,levantando questes pertinentes a cada um desses tpicos. E finaliza apresentando cinco sugestes, em formas de passos, a fimdesermaisprtico,nabuscadeumaeducaoteolgicarelevante.Reconheceanecessidadedeestudos futuros que abarquem outros aspectos no trabalhos aqui. Palavras-chaves:. ABSTRACT Thepresentarticle,thisthesispresentsthehistoryofapproximatelythreedecadesconcerningtwo BiblicalInstitutesandoneBibleTrainingCenter.Respectively,theBiblicalInstituteReverendFelipeLandes and Cades Barnia located in the state of Mato Grosso do Sul in the cities of Dourados and Aquidauana, and the AmiTrainingCenterinthestateofMatoGrossolocatedintheGuimaresPlateau.Theseinstitutionsaimat preparing evangelical indigenous leaders, and have indigenous leaders and docents. The history presented in this research begins in 1978. The path followed by these schools is the same as the one followed by our Seminars and TheologicalCollegesinBrazil,whichaimatnon-indigenouspeople.Thispaperpresentsthemaincomponents ofthesetheologicalinstitutions,systematizingaseriesofinformationrelatedtothisaspect.Thisresearchalso analysestheinstitutionsmaincomponents,suchas,goals,curriculumsanddocentbody,raisingquestions pertinenttoeachofthesetopics.Toconclude,thepapergivesfivesuggestionsdividedintosteps,tomakeit morepractical,forthesearchofarelevanttheologicaleducation.Theneedforfurtherstudies,whichinclude other aspects not developed here, is recognized. Keywords: . 1 Paulo Csar Duarte de Oliveira brasileiro, natural de Garanhuns Pernambuco, casado com Quzia Mosti de Oliveira, pai do Jnatas e da Miriam. Bacharel em Teologia e Master of Divinity com especializao em Igreja, CulturaeSociedadepelaFaculdadeTeolgicaSulAmericana,Londrina,PR.DoutorandoemTeologiacom nfaseemmissiologiapeloProgramadeDoctoradoLatinoAmericanoPRODOLAdaUniversidad EvanglicadeLasAmricas,SanJos,CostaRica.MissionriodaAssociaoLingsticaEvanglica Missionria ALEM. Como missionrio fez parte da equipe que traduziu o Novo Testamento na lngua Temb. E-mail: [email protected] INTRODUO Apartirdadcadade70,inmerasinstituiesteolgicascomeamasurgirnoBrasil.Entreelas merece destaque as conhecidas como institutos bblicos. Em alguns casos, os institutos bblicos surgiram com o propsito de preparar evangelistas para evangelizao de no-indgenas e de indgenas em reas rurais. Portanto, esteensaiomonogrficofocalizarsuaatenoeminstitutosbblicosqueforamestruturadosapartirde1978, comafinalidadedeformarlderesevanglicosindgenasquepudessemdarcontinuidadegrandecomisso estabelecida por Jesus. Devido ao carter espontneo e as improvisaes como se criaram estes institutos, que em alguns casos levamonomedodiretoroufundador.2Noexisteexplicitamenteumafundamentaoteolgica,umaviso pedaggica, nem procedimentos administrativos e critrios de seleo da populao alvo. Isto faz com que, em temposatuais,sequeiraacharumparadigmaqueguieosprocessosdaeducaoteolgicadosindgenasno Brasil,enosedisponhadetaiselementos.Emalgunscasosnohregistrosdesuahistria.Onicoaspecto claro,noqualcoincidemtodos:Oobjetivodeeducarindgenasteologicamenteparaqueevangelizeme preparem a outros indgenas. Otemadesteartigo:Umaanlisedodesenvolvimentohistricodaeducaoteolgicaindgenano protestantismo brasileiro, ainda que parea abrangente, compreende um estudo dos principais componentes dos InstitutosBblicosReverendoFelipeLandeseCadesBarniaedoCentrodeTreinamentoAmi.Osdois primeirosficamlocalizadosnoestadodoMatoGrossodoSul,nascidadedeDouradoseAquidauana, respectivamente; o terceiro, localiza-se na Chapada dos Guimares, estado do Mato Grosso. Oautorpartedealgumashipteses.Ahiptesecentralseresumedaseguintemaneira:dianteda necessidadedeformarevangelistasindgenas,foramcriadasinstituiesdeeducaoteolgicadeformamuito improvisada,precria,comcontingentesdocentesemsuagrandemaioriabrasileiroseestrangeirosno-indgenas, com docentes indgenas em nmero muito reduzido, ausncia de bibliotecas, aulas improvisadas, entre outras limitaes. Se esses elementos se optimizam, a educao teolgica, alem de preparar lderes indgenas, ir contribuircomaconstruodopensamentoteolgicodesdeacosmovisoindgena;gerarumaproduo teolgica e os graus de eficcia sero reais. Ashiptesessubsidiriassoaquelasquenosfalamdomelhoramentodecadaelementoemparticular paraalcanarotodo.Exemplodistoseriaaconstruodeumcurrculoapropriadoarealidadeindgena,a provisodeummaterialbibliogrficoadequado,aformaodeumafaculdadededocentesprofissionais,entre outros, a educao teolgica indgena alcanaria os nveis eficazes para uma verdadeira transformao dos povos indgenas em processo de desenvolvimento.O primeiro captulo se ocupar da histria, ainda que resumida, de trs instituies: Institutos Bblicos ReverendoFelipeLandes,CadesBarniaedoCentrodeTreinamentoAmi,descrevendoalgunsdosseus 2 O Instituto Bblico Reverendo Felipe Landes um exemplo do personalismo neste processo de criar institutos bblicos. 3 principais componentes estruturais. Ver-se- um pouco da histria dessas instituies, quando foram fundadas e outras particularidades.Osegundocaptulo,tratardosprincipaiscomponentesdestasinstituies,taiscomo:osobjetivos iniciais, o plano curricular, o corpo discente e o corpo docente. Neste captulo se ver, por exemplo, quais foram os objetivos iniciais e quais os objetivos hoje. Ser abordado tambm o corpo discente e docente, considerando dentre outras coisas a sua origem. No terceiro captulo, se far uma reviso e anlise dos principais componentes apresentados no captulo II.Neste captulo abordaremos a relao currculo, corpo discente e docente. Oquartoeltimocaptulo,serapresentadadeformadidtica,algumassugestescomoobjetivode ajudarnodesenvolvimentodeumaeducaoteolgicacontextualmenterelevanteparaoslderesindgenasno sculo XXI.Nas consideraes finais, ser apresentada as implicaes deste tema no cumprimento da missio Dei. I. EDUCAO TEOLGICA INDGENA: UMA PERSPECTIVA HISTRICA 1. Um breve histrico Desde1978atosdiasatuais,vriasescolasbblicassurgiramnocenriobrasileirocomointuitode prepararlideranaindgenaevanglica.NositedoConselhoNacionaldePastoreseLderesEvanglicos Indgenas(CONPLEI)3possvelencontraronomedealgumasdessasinstituiesdeensinoteolgico.O presente trabalho destacar, numa viso panormica, apenas trs delas: os institutos bblicos Rev. Felipe Landes, Cades Barnia e o Centro de Treinamento Ami. Os dois primeiros localizados no Mato Grosso do Sul e o ltimo no Mato Grosso. Aeducaoteolgicaindgenaresultadodotrabalhodeorganizaesmissionriasqueatuamjunto aospovosindgenas.NocasodosinstitutosbblicosReverendoFelipeLandes,CadesBarniaedoCentrode TreinamentoAmi,pelomenosquatroorganizaesSouthAmericanIndianMission-SAIM,Misso EvanglicaUnida-MEU,UniodasIgrejasEvanglicasdaAmricadoSul-UNIEDASeMissoCaiu ajudaramemsuaestruturao.ComexceodaMEU,quetemdesenvolvidoeducaoteolgicaemPorto Velho,noestadodeRondnia,percorrendovriasaldeias,essasorganizaescontinuamenvolvidascomos referidos institutos. 2. Instituto Bblico Reverendo Felipe Landes Em1978,exatamentequandoaMissoCaiucompletavaseus50anosdeexistnciaeministrio servindoapopulaoindgenaKaiwemDourados,maisumsonhodoRev.OrlandoedadonaLoidese concretizava:organizou-seoInstitutoBblicoRev.FelipeLandes,emDourados,noMatoGrossodoSul.E, 3 Ver o site http://www.conplei.org para maiores informaes. 4 conforme as palavras do Rev. Gordon, dona Loide sempre afirmava: Temos que ter evangelistas ndios, temos que ter um instituto bblico.4 UmdosprimeirosdiretoresdesseinstitutobblicofoiopastordaIgrejaFiladlfia,5emDourados,e durantequatroanosforamformadostrsindgenas:osr.Guilherme,osr.Xistoeosr.Adalberto.Em1984, quando o Rev. Gordon chegou para ajudar no instituto bblico, convite de dona Loide, ele teve em sua primeira turmaoitoalunosno-indgenas.Ento,conversandocomadireodaMisso,eledisse:Novimaquipara fazer um instituto bblico para brancos. Ou vocs arrumam ndios ou vou embora. E, segundo o Rev. Gordon, uma campanha foi feita nas aldeias e conseguimos dezoito alunos indgenas.6 Algumtempodepois,adireodaMissoCaiunomeouoRev.Gordoncomodiretordoinstituto bblico.Edoisoutrsanosdepois,comeouaterumaseqnciadediretoresbrasileiros,comexceode Mabel(Irlandesa).Algunsdessesdiretoresforam:Mizael,Heitor,[...]Rev.Gerson(oltimonoindgenaa desempenharessepapel).Em2005foinomeadoumindgenacomodiretordoFelipeLandes:JaysondeSouza Morais (Tato).7 Atualmente, as aulas desse instituto vo de tera at sexta-feira. O curso tem durao de dois anos, no qual ao final o aluno recebe um diploma de evangelista. 3. Instituto Bblico Cades Barnia Em 1980, sob a inspirao da South America Indian Mission (SAIM), e parceria com a Unio das Igrejas Evanglicas da Amrica do Sul (UNIEDAS) e com a Misso Evanglica Unida (MEU), nasce o Instituto Bblico CadesBarnia,quesignificalugardedeciso.Atualmente,esseinstitutobblicoconhecidonaregiode Anastcio como Instituto Bblico gua Azul. Essa instituio nasceu com o propsito de preparar biblica e teologicamente lderes evanglicos indgenas paraoexercciodoministriocristo,sejanaigrejalocal,naMissoUNIEDAS,noprprioIBCBouainda plantando igrejas em outras comunidades indgenas. Um aspecto dessa instituio que merece ser mencionado que a mesma dirigida por indgenas da etnia Terena. Defato,somenteem1981asaulastiveramincionoCadesBarnia.Aprimeiraturmaformadaera compostadedezoitoavintealunos,entreTerenas,Guaranisealgunsnoindgenasdaregio.Desdeento, esseinstitutovemsendouminstrumentoparaacapacitaoteolgicadosprpriosindgenas.E,conforme afirmaopastorJosiasTerena,maisdenoveetniasjestudaramnoInstitutoBblicoCadesBarnia.Tivemos aqui Nambiquara, Gavio, Suru, Bakairi, Kadiwu, Guarani, Pariri, Xavante e Terena. Os alunos que concluem o curso acabam atendendo as necessidades das igrejas locais, ou vo desenvolver ministrio em outras aldeias. OcursooferecidopeloCadesBarniaocursomdioemmissesetemaduraodetrsanos, divididos em dois semestres por ano. Sendo as aulas oferecidas de tera-feira at o sbado pela manh. 4 Rev. Orlando e Dona Loide foram lderes da Misso Caiu por mais de 40 anos. No incio do ministrio, o Rev. Orlando foi o diretor e dona Loide vice-diretora; mais tarde, ela foi tambm administradora e chefe do hospital. Ver: TUCKER, Ruth A. ... E at aos confins da terra Uma Histria Biogrfica das Misses Crists. Trad. Neyde Siqueira. So Paulo: Sociedade Religiosa Edies Vida Nova, 1986, p.521-524. 5Nohinformaoquantoaonomedesteprimeirodiretor.Noperododapesquisa,aspessoascomquem conversamos no lembravam o seu nome e boa parte da documentao desse instituto bblico havia sido perdido. 6Trew,GordonStanley.Entrevistarealizadaem12dejaneirode2006noInstitutoBblicoReverendoFelipe Landes Dourados Mato Grosso do Sul. 7 Idem5 4. Centro de Treinamento Ami Os missionrios da South America Indian Mission (SAIM), ainda quando estavam no Mato Grosso do Sul,jpensavamnaorganizaodeumcentrodetreinamentoqueoferecesseumcursobblicodepreparo transcultural, no estado do Mato Grosso, com o objetivo de alcanar a populao indgena desta regio. Sendoassim,em1994umgrupodepessoas,dentreelas:DanieleJuliaSnyder,Pr.PauloeEdina, ReginaldoSandro,CelsoeAldecire,porfim,Doracir,dirigiram-separaaChapadadosGuimares.Lhavia umapropriedadecompradadesde1980queestavadisposiodeigrejasfundadaspelaSAIMemCuiab. Comoestareanoestavasendoutilizadapelasigrejas,essesmissionrioscomearamospreparativosparao funcionamento do Centro de Treinamento. Assim,emmarode1995,naChapadadosGuimares,MatoGrosso,organizadooCentrode TreinamentoAmi.OnomeAmifoiextradodolivrodeOsias,noAntigoTestamento,eumvocbulode origem hebraica que significa meu povo. Aprimeiraturmaeracompostadealunosindgenaseno-indgenas.Mas,comonosoutrosInstitutos Bblicos vistos at aqui, o seu objetivo era principalmente o preparo de lderes evanglicos indgenas. OAmiofereceocursobblicodepreparotransculturalcomduraodetrsanos,sendooanoletivo divididoemquatrobimestres,ondecadabimestrestemduraodeseissemanas,tendo,entreumbimestree outro, um perodo prtico em rea indgena. Alm do curso bblico, oferecido um supletivo de no mximo dois anos, mas a maioria dos alunos conclui em um ano. Segundo um dos diretores do Ami, Muitos vo passar pelo supletivo para aprender a ler e escrever em portugus.8 II. EDUCAO TEOLGICA INDGENA: DESCRIO DOS PRINCIPAIS COMPONENTES 1. Os objetivos iniciais dos Institutos Bblicos De acordo com depoimentos de lderes desses institutos bblicos, pode-se constatar que tais instituies nasceramcomoobjetivodeprepararlderes(mo-de-obra)autctonesparaoministrionaigrejaemergentee paraaexpansodoevangelhoentreospovosindgenas.Umexemplodissopercebidonaafirmaoque encontramosemdocumentodoInstitutoBblicoReverendoFelipeLandes,daMissoCaiu,quediz:O Instituto bblico foi fundado com o objetivo de formar evangelistas ndios para auxiliar nos trabalhos existentes e paraaberturadenovoscamposemaldeiasondeoingressodenoindgenaproibidoouinvivel(grifo nosso).9 E ainda no portal geral da Igreja Presbiteriana do Brasil, encontramos a seguinte afirmao: A Misso Evanglica Caiu, ainda mantm um Instituto Bblico para formao de obreiros indgenas, com o intuito de que 8 Terena, Henrique. Entrevista realizada em 2 fevereiro de 2006 no Centro de Treinamento Ami Chapada dos Guimares Mato Grosso.9 Folder do Instituto Bblico Rev. Felipe Landes. 6 o prprio ndio cumpra a misso da evangelizao entre o seu povo.10 Tal viso permanece ainda hoje: preparar os prprios indgenas para a tarefa da evangelizao. QuantoaoInstitutoBblicoCadesBarnia,osobjetivosforamosmesmospreconizadopelaMisso Caiu.OpastorJosiasTerena,membrodaMissoUNIEDASeatualdiretordodessainstituio,afirma:O objetivo principal do Instituto Bblico Cades Barnia sempre foi preparar o ndio para o trabalho missionrio e nosso objetivo ainda hoje preparar o ndio para evangelizar o prprio ndio. Alm disso, acrescenta: nossos ex-alunos,queagorasomissionrios,tmtrabalhadoemsuaprpriacomunidadeouemoutra,eisso gratificante. AtrajetriadoInstitutoBblicoAmi,nodiferemuitodoquevimosataquiemrelaoaosoutros. Desde o incio, o alvo principal era o de fazer discpulos. A educao e o atendimento das necessidades na rea de sade para as tribos nessa regio era um forma de fazer isso. O alcance das tribos com o evangelho sempre foi nosso primeiro alvo. O curso bblico e as atividades na parte da tarde s uma forma de alcanar o alvo de fazer discpulos. A esperana que os alunos que saiam daqui faam discpulos em suas aldeias fortalecendo as igrejas onde eles estiverem. EmoutrodocumentosedizqueoCentrodeTreinamentoAmifoifundadovisandoopreparode obreirosindgenasetodosaquelesquerecebemochamadoespecficoparaotrabalhotranscultural(grifo nosso).11 O que se observa nessas trs instituies de ensino teolgico, seja preparando evangelistas, missionrios ou discpulos, a preocupao com o preparo de lderes indgenas que possam atender as necessidades da igreja local e ao mesmo tempo contribuir com a expanso do evangelho. A viso comum encontrada no discurso oral ou escrito dos dois desses institutos bblicos a de preparar vocacionados para o ministrio.12 J no Ami no h tantorigor.Umavezqueseuobjetivoformardiscpulos,oalunoaceitomesmoquenosejaconvertido.O pastorHenriqueTerenaafirma:Onossoalvofazerdiscpulos.Muitosalunosquechegamaquinoso convertidos e muitos deles tomam aqui a deciso de seguir a Jesus.13 2. O plano curricular Comoosinstitutosbblicosmencionadosataquiforamfundadospororganizaesmissionrias estrangeirasenacionais14comavisiodeformarlideranaautctoneparaaigrejalocaleparaotrabalho missionriojuntoaospovosindgenasdoBrasil,ocurrculoadotadoinicialmenteacabousendobasicamenteo que j existia em nossos institutos bblicos ou seminrios no indgenas, com pouca ou nenhuma adaptao. No entanto,omesmoveioapassargradativamentepormudanasnosanosseguintes.Vriasquestesnareado currculopodemserlevantadas.Porm,umaquestofundamentalqueserressaltadanesseponto:quem determina ou elabora o currculo? 10 Site da Igreja Presbiteriana do Brasil, http://www.ipb.org/portal/caiua extrado s 20:00do dia 10 de janeiro de 2006 11 Folder de divulgao do Instituto Bblico Ami. 12 Refiro-me ao Instituto Bblico Rev. Felipe Landes e ao Cades Barnia, uma vez que a terceira instituio em apreo um centro de treinamento. 13 Entrevista com Henrique Dias Terena, professor, membro da diretoria do Ami e atual presidente do Conselho Nacional de Pastores e Lderes Evanglicos Indgenas (CONPLEI), concedida em 07/06/06. 14Aorganizaonacional,nessecaso,aMissoCaiu,que,mesmotendosidoorganizadapormissionrios estrangeiros, foi dirigida a partir de 1943 por missionrios brasileiros e no h dvida sobre sua nacionalizao. 7 NocasodoInstitutoBblicoRev.FelipeLandes,agradecurricularadotadafoiadoInstitutoBblico EduardoLane(IBEL),comopossvelobservarnaspalavrasdoRev.Benjamimquandoafirma:inicialmente elefoiestruturado,seguindoomodelodoInstitutoBblicoEduardoLane(IBEL),depois,comopassardo tempo, esta estrutura foi se adaptando, especialmente a grade curricular.15 Nos primeiros anos, diz o Rev. Gordon: O nvel das disciplinas era muito alto, a cada ano ns procuramos baixaronveldasdisciplinasparaqueosalunospudessemabsolver.Noprecisamudarocurrculo,talvezo professor devesse modificar o contedo ao nvel dos alunos. O currculo est dando o bsico para o evangelista sair preparado para servir a igreja.16 Em relao ainda ao currculo, o Rev. Matoso acrescenta: O currculo definido pelo conselho diretor que oapresentaaAssembliadaMissoCaiuparaaprovaoouno.OInstitutoBblicotememsuagrade curricular17de37disciplinas,distribudasnumperododequatrosemestres,podendo,assim,serconcludaem dois anos. Tabela 1 Disciplinas do 1. Ano do Instituto Bblico Rev. Felipe Landes 1. Semestre2. Semestre DoutrinaDoutrina Panorama do VTPanorama do VT Educao CristEducao Crist PortugusPortugus MsicaHomiltica Sade e NutrioLevtico e Hebreus HermenuticaHistria da Igreja Histria da IgrejaTabernculo Evangelismo e DiscipuladoLivros Poticos Prticas Manuais Tabela 2 Disciplinas do 2. Ano do Institutot Bblico Rev. Felipe Landes 1. Semestre2. Semestre DoutrinaDoutrina Panorama do NTPanorama do NT Educao CristEducao Crist PortugusPortugus Harmonia dos EvangelhosMsica Evangelismo e DiscipuladoPrtica de Evangelismo e Discipulado Seitas e HeresiasVida Crsit e Aconselhamento MissesAdministrao Eclesistica 15Bernardes,BenjaminBenetido.Entrevistarealizadanodia09dejaneirode2006noInstitutoBblico Reverendo Felipes Landes Dourados - Mato Grosso do Sul 16Trew,GordonStanley.Entrevistarealizadaem12dejaneirode2006noInstitutoBblicoReverendoFelipe Landes Dourados Mato Grosso do Sul 17 A grade curricular apresentada se encontra no documento com o ttulo Regimento Interno e Grade Curricular doInstituto.ConformeoRev.Matoso,jfoifeitaumapropostaparamudanadealgumasdisciplinas (22/02/2006). 8 HomilticaMisses Indgenas NoCadesBarnia,ocurrculofoielaboradopelamissoindgenaUNIEDASeoutrosmissionriosque atuavam naquela regio. E desde o incio de suas aulas em 1981 at hoje, tem sido mantido o mesmo currculo, compoucasmudanas.OpastorJosiasTerenaafirmaque:Desdeoinciomantemosomesmocurrculo,tem alguma mudana, mas no muita coisa, s vezes queremos atualizar um pouco.18 A grade curricular apresenta 50 disciplinas distribudas sistematicamente em seis semestres, ou seja, pode ser concluda em trs anos. Tabela 3 Disciplinas do 1. Ano do Instituto Bblico Cades Barnia 1. Semestre2. Semestre Viso Geral da BbliaDoutrina Homem/pecado/salvao Doutrina da BbliaEvangelho de Joo Orientao CristLar Cristo Gnesis/xodoNmeros/Deuteronmio/Josu udio VisualMetdos de Estudo I SinticosAntropologia /Missiologia Preveno/DoenasPrimeiros Socorros CoralMsica/Regncia Tabela 4 Disciplinas do 2. Ano do Instituto Bblico Cades Barnia 1. Semestre2. Semestre Doutrina Deus/Cristo/Esprito SantoDoutrina da Igreja Juzes/Rute/Samuel/ReisEsdras/ Neemias/ Ester Atos dos ApstolosRomanos/Tiago EvangelismoEfsios/Colossenses Joo/Pedro/JudasHistria do Cristianismo Pedagogia CristHomiltica I Mtodos de Estudo IIGuerra Espiritual Introduo a traduoPrimeiros Socorros CoralCoral Tabela 5 Disciplinas do 3. Ano do Instituto Bblico Cades Barnia 1. Semestre2. Semestre Doutrina das ltimas CoisasProfetas Menores Isaas/JeremiasI, II Tessalonicenses/ II Timteo I Timteo/TitoI, II Corntios Daniel/ApocalipseLevticos/Hebreus Liderana CristMisses 18Terena,Josias.Entrevistarealizadaem06defevereirode2006noInstitutoBblicoCadesBarnia Aquidauna Mato Grosso do Sul9 Bblia e Cultura IndgenaAconselhamento Pastoral Doutrina dos AnjosPrincpio de Ensino CoralDoutrina Escatologia NoAmi,aexperincianofoidiferente.OcurrculofoielaboradopormissionriosdaSAIMcoma participao ativa dos professores do Ami, tanto brasileiros como indgenas. E vrias adaptaes j foram feitas parachegaraatualgradecurricular.19AatualpropostacurricularqueoAmioferececompostade51 disciplinas, que podem ser concludas dentro de um perodo de trs anos, distribudas em seis semestres, sendo cadasemestreconstitudodedoisbimestrescomduraodeseissemanascada.Ealmdasdisciplinas oferecidasemsaladeaula,osalunosdoAmidesenvolvemtarefasnasreasde:carpintaria,oficina, horticultura, enfermagem, construo e datilografia. Tabela 6 Disciplinas do 1. Ano do Centro de Treinamento Ami 1. Semestre2. Semestre Portugus IPortugus II A BbliaViso da Bblia Lar CristoMateus e os Evangelhos Orientao CristNmeros a Josu udio VisualEvangelho de Joo Preveno/DoenasMtodos de Estudo Corpo Humano/NutrioGuerra Espiritual Gnesis/xodoPrimeiros Socorros Msica Tabela 7 Disciplinas do 2. Ano do Centro de Treinamento Ami 1. Semestre2. Semestre Portugus IIIPortugus IV Juzes/2ReisHomem/pecado/salvao Introduo a TraduoHomiltica I AtosHistria Crist Mtodos de Estudar a BbliaRomanos/Tiago I Joo a JudasEfsios a Colossenses Pr-EvangelismoEsdras a EsterAnatomia/Fisiologia/PatologiaAnatomia/Fisiologia/Patologia 2 Orao Tabela 8 Disciplinas do 3. Ano do Centro de Treinamento Ami 1. Semestre2. Semestre 19 Terena, Henrique. Entrevista realizada em 2 fevereiro de 2006 no Centro de Treinamento Ami Chapada dos Guimares Mato Grosso.10 Portugus VPortugus VI Doutrina Deus/Cristo/Esprito SantoIgreja e Misses I Timteo/TitoAconselhamento Pastoral FarmacologiaProfetas Menores Liderana CristIsaas/Jeremias AntropologiaLevticos/Hebreus I, II CorntiosPrincpio de Ensino Livros PoticosI, II Tessalonicenses/Escatologia Daniel/Apocalipse possvel constatar os seguintes grupos de disciplinas em comum nas trs grades curriculares: doutrinrias, analticas (estudo de livros e epstolas), histricas e prticas. 3. O corpo discente Qual a origem dos alunos? Como so selecionados? Como so sustentados? Qual o percentual dos que retornamparaasaldeias?Emquelnguaosalunosestudam?Essassoalgumasquestesrelevantesque trataremos agora, procurando respond-las. Segundooslderesdessesinstitutosbblicos,osalunosprocedemdediferentesaldeias.Mas,vale ressaltar que essas instituies j receberam e formaram alunos no-indgenas. NoInstitutoBblicoRev.FelipeLandes,basicamenteosalunosrepresentaramquatroetnias:Terena, Guarani, Kaiw e Xavante. No Cades Barnia, o pastor Josias Terena garante que desde o incio j passaram o noveetnias:Nambiquara,Gavio,Suru,Bakairi,Kadiwu,Guarani,Pariri,XavanteeTerena.NoCentrode TreinamentoAmi,houveumnmerobemmaiordeetniasestudandoapalavradeDeus,foramcercade25 povos representados, sendo uma mdia de 12 a 15 por ano. Algumas das etnias que j passaram por essa escola bblicaso:Jarawara,Kaapor,Tikuna,Aikan,Tupari,Parintintin,Suru,Parecis,Guajajara,Paumari, Nambiquara, Bakairi, Mamaind, Karitiana, Xavante, Terena.20 Os critrios de seleo do aluno so basicamente os mesmos: ser indicado pela igreja local, por missionrio ouconselho,preencherumformulriodematrculaeumaavaliaojuntoaoconselhodiretordoinstituto.De acordo com o Rev. Benjamim: Em cada aldeia onde h vocacionado para fazer o instituto e depois atuar como missionrio, ele passa por uma avaliao da igreja local ou conselho, para saber se a pessoa est apta, e se realmente aquilo que ela quer. Depois preciso preencher vrios requisitos do instituto bblico e isso feito atravs de uma avaliao com oconselhodiretordoinstituto,queformadopelodiretor,coordenadorapedaggica,umrepresentantedos professores e um representante dos alunos.21 20 Lake, Ken. Relatrio pessoal referente aos anos 2003/2004 e 2004/2005. Citado com permisso. Este material foiacessadonodia02defevereirode2006noCentrodeTreinamentoAmiChapadadosGuimaresMato Grosso. 21Bernardes,BenjaminBenedito.Entrevistarealizadanodia09dejaneirode2006noInstitutoBblico Reverendo Felipes Landes Dourados - Mato Grosso do Sul. 11 NaspalavrasdopastorJosiasTerena,acartadeapresentaotrazinformaoquantoaparticipaoativa do(a) candidato(a) em sua igreja local e tambm informa se ele(a) um vocacionado(a) ou no. No nosso caso Terena, o candidato vem com uma carta de informao assinada pelo pastor de sua igrejalocal.NocasodosXavantes,elesprecisamtrazerumacartaassinadapelocacique,missionrioou pastor da igreja local. A carta serve para trazer uma informao se ele est sendo um membro ativo em sua igreja e se ele tem essa vocao para ser um missionrio.22 Em relao aos alunos que pretendem ingressar no curso bblico do Ami, a carta de recomendao pode ser da igreja, se j existe igreja na aldeia, do(a) missionrio(a) que trabalha com o povo, da prpria comunidade ou mesmodospais,queassumemaresponsabilidadepeloenviodocandidato.Snyderdeclara:Nsrequeremos umacartadopastoroudacomunidade.Senohouverigrejapodesercarta:dacomunidadeoudo(a) missionrio(a).Eaindafoideclaradoqueosmissionriosnormalmenteindicam.svezestempastorou algum da aldeia que indica. Mas alguns simplesmente chegam.23 Oqueseobservaemrelaoaosustentodosalunosdessesinstitutosquesuasigrejasououtrasigrejas colaboram financeiramente de alguma maneira para sua manuteno. SegundooRev.Benjamim,daMissoKaiw:AMissotemlevantadojuntoaigrejasemantenedoreso sustento dos alunos, de tal maneira que o prprio aluno no se sinta impedido de vir por causa do sustento. Ao ser aceito um aluno, ns o apresentamos a uma ou mais igrejas para que seja adotado como filho da igreja, para estar orando por ele e o sustentando financeiramente.24 Em relao ao sustento dos alunos no Cades Barnia, o pastor Josias Terena afirma: OIBCBestipulouumvalormensal,mas,infelizmente,nossosalunosquevmdasaldeiasno tmcondiesdepagarsuasmensalidades.NscobramosR$80,00poralunossolteiroseR$150,00por alunos casados. Mas, infelizmente, eles no tm condies. O que temos feito, ento, que a prpria igreja da qual ele membro que o mantm aqui com suas contribuies de gnero alimentcio.25 No Ami, o aluno ensinado a ter responsabilidade quanto ao seu sustento e, portanto, quando deixa de pagar algumas mensalidades, ele retorna para aldeia a fim de levantar o que necessrio para sua manuteno. A mensalidadenoAmidemeiosalriomnimoporpessoa.Aescoladumdescontoseosustentovierda aldeia, mas, todos tm que pagar. E ainda em um documento, encontramos a seguinte afirmao em relao mensalidade:podeserpagaporelemesmoemdinheiro,emgnerosalimentciosouemtrabalhoalmdo horrio de servio da escola26. Em cada uma dessas escolas bblicas, exigido do aluno um perodo prtico, ou seja, um tempo de estgio. Quanto a esse tempo de estgio, o Rev. Benjamim afirma: 22 Terena, Josias. Entrevista Terena, Josias. Entrevista realizada em 06 de fevereiro de 2006 no Instituto Bblico Cades Barnia Aquidauna Mato Grosso do Sul. 23Snyder,Daniel.Entrevistarealizadaem2fevereirode2006noCentrodeTreinamentoAmiChapadados Guimares Mato Grosso.24Bernardes,BenjaminBenedito.Entrevistarealizadanodia09dejaneirode2006noInstitutoBblico Reverendo Felipes Landes Dourados - Mato Grosso do Sul. 25 Terena, Josias. Entrevista Terena, Josias. Entrevista realizada em 06 de fevereiro de 2006 no Instituto Bblico Cades Barnia Aquidauna Mato Grosso do Sul.26Snyder,Daniel.Entrevistarealizadaem2fevereirode2006noCentrodeTreinamentoAmiChapadados Guimares Mato Grosso. 12 Aqui, por est perto da aldeia, ns temos, todo final de semana, atividades nos trabalhos locais.Nstemosumaaldeiaonde,hquatroanos,elesmesmos(osalunos)abriramumtrabalho.Elesvono domingo pela manh e retornam tarde. E h os meses de frias. Alm disso, em julho eles tm quinze dias de estgios supervisionados e no final do ano mais um ms de estgio. So um ms e meio de estgio, alm dos finais de semana.27 (grifo nosso).No Cades Barnia, diz o pastor Josias Terena: Ns oferecemos num semestre trs ministrios onde os alunos vo colocar em prtica o que eles tm aprendido. A prpria escola j oferece um treinamento prtico para os alunos [...], nas igrejas indgenas daregio.[...]Comonstemosessetrabalhoemoutrastribos,otempodequinzeavintedias.Quando temosatividadeaquiemnossaregiodetrsdias,geralmenteumfinaldesemana,sexta,sbadoe domingo. Julho frias onde os alunos podem retornar para suas aldeias.28 OsAlunosnoAmitambmdesenvolvemumperododeestgio.Oministrioepartedatardeso reasemqueoalunopodepremprticaaquiloqueestaprendendoemsaladeaula.29Nosmesesdefrias tambm um tempo propcio para o aluno desenvolver o que aprendeu na escola bblica, colocando em prtica no convvio em sua aldeia e sua igreja. Umoutropontocrucialemrelaoaosalunos,dizrespeitoaopercentualdeformandosqueno retornam para aldeia ao concluir o curso. Esse percentual baixo, entre cerca de 10% no Instituto Bblico Rev. Felipe Landes e aproximadamente 5% no Centro de Treinamento Ami. J no Instituto Bblico Cades Barnia, o pastorJosiasTerenanoinformouopercentualdosquenoretornam,massuaafirmaoindicaquemaisda metade dos alunos formados esto no ministrio, seja na aldeia ou no: Eu acredito que deve ter 60% que hoje sopastoresemissionrios.Porquehoje,inclusive,nossadiretoriadaMissoIndgenaUNIEDASemaisa diretoriadoIBCBforamex-alunosdaquidoIBCBequehojeestoexercendofunoimportantedentroda Misso, dentro da obra de Deus.30 Porm,aindaqueospercentuaisdosqueretornamparasuasaldeiassejaalto,issonosignificaque estejam desenvolvendo algum ministrio na igreja local, principalmente como pastor ou qualquer outro cargo de liderana,pois,emalgunscasos,osalunosnoestonaidadeapropriadaparaexerceremautoridadesobreos mais velhos. E,porfim,valeressaltarquegeralmentealgunsalunoschegamaoinstitutobblicosemnenhum conhecimentodalnguaportuguesa,nosentidodelereescrever,mesmopossuindocertograudebilingismo oral. Por esta razo, muitos precisam primeiro aprender a ler e a escrever em portugus e isso pode durar de um adoisanos,dependendodograudedificuldadequeoalunoencontranoaprendizadodalngua.Depoisde superada esta etapa que o aluno pode ingressar no curso bblico. Arealidadediferenteentreosinstitutosbblicosquantoaoprocessodeensino-aprendizagem desenvolver-se em lngua portuguesa. No Instituto Bblico Rev. Felipe Landes, diz o Rev. Benjamim: No nosso 27Bernardes,BenjaminBenedito.Entrevistarealizadanodia09dejaneirode2006noInstitutoBblico Reverendo Felipes Landes Dourados - Mato Grosso do Sul.28 Terena, Josias. Entrevista Terena, Josias. Entrevista realizada em 06 de fevereiro de 2006 no Instituto Bblico Cades Barnia Aquidauna Mato Grosso do Sul. 29 Terena, Henrique. Entrevista realizada em 2 fevereiro de 2006 no Centro de Treinamento Ami Chapada dos Guimares Mato Grosso.30 Terena, Josias. Entrevista Terena, Josias. Entrevista realizada em 06 de fevereiro de 2006 no Instituto Bblico Cades Barnia Aquidauna Mato Grosso do Sul.13 casoaqui,70%sobilngese,portanto,noapresentamproblemascomrelaoaisso(lnguaportuguesa observao nossa). Ns percebemos que o homem s vezes bilnge, mas, a esposa tem dificuldade.31 NocontextodoCadesBarnia,opastorJosiasTerenaafirma:ParansTerenas,notemostidoessa dificuldade, mas, para os que vm de outras etnias, de outras tribos, j tem a dificuldade. Os Xavantes enfrentam uma dificuldade maior, porque falam muito pouco e lem pouco portugus.32 NoCentrodeTreinamentoAmi,comojmencionadoanteriormente,oferecidoumsupletivopara atenderaessanecessidadedoaluno.Estecursotemduraodeumadoisanos,pormmuitosconseguem concluir dentro do perodo de um ano. 4. O corpo docente Quem so os professores(as)? Em que reas so preparados(as)? E qual o desafio em relao ao corpo docente?Aquestoqueenvolveadocnciateolgica,aindahoje,umassuntonapautadasagendasdas instituies de ensino teolgico no Brasil. Essa temtica no deixa de ser relevante em relao s instituies que constituem o universo desta pesquisa. Osprofessoresquecompeoquadrodedocentesdessasinstituies,queabordamosataqui,so estrangeiros de vrias nacionalidades, brasileiros no-indgenas e indgenas. Normalmente, esses professores so osmissionriosquepertencemsorganizaesmissionriasquefundaramoinstitutobblicoouocentrode treinamento.Tambmpodemserpastoresouprofessoresdeseminriosdaregioprximaaessasescolas,ou ainda lderes e pastores indgenas. O Rev. Benjamim (Felipe Landes) considera como desafio da educao teolgica indgena o preparo de docentes indgenas. E em relao a isso, ele afirma: Em nosso caso, ns estamos distantes de termos professores capacitados para ministrar, porque a visoquesetemdabblia[...]aquiloquefoidadonoinstitutobblico[...].Nsprecisamospreparar melhor os professores indgenas. uma caminhada que vai demorar um bom tempo, mas um desafio.33 Ocorpodocentedesseinstitutobblicosemprefoiformadopormissionrios(as)epastores,tanto estrangeiros como brasileiros. O pastor Josias Terena (Cades Barnia) tambm aponta como desafio da educao teolgica indgena a formaodeprofessoresindgenas:Afaltadeprofessorespara[...]opovoindgena,[...]essatemsidouma grande dificuldade que temos tido aqui. O que ns queremos aperfeioar o ensino teolgico do povo indgena, para ser nosso prprio professor aqui no instituto.34 31Bernardes,BenjaminBenedito.Entrevistarealizadanodia09dejaneirode2006noInstitutoBblico Reverendo Felipes Landes Dourados - Mato Grosso do Sul32 Terena, Josias. Entrevista Terena, Josias. Entrevista realizada em 06 de fevereiro de 2006 no Instituto Bblico Cades Barnia Aquidauna Mato Grosso do Sul.33Bernardes,BenjaminBenedito.Entrevistarealizadanodia09dejaneirode2006noInstitutoBblico Reverendo Felipes Landes Dourados - Mato Grosso do Sul34 Terena, Josias. Entrevista Terena, Josias. Entrevista realizada em 06 de fevereiro de 2006 no Instituto Bblico Cades Barnia Aquidauna Mato Grosso do Sul.14 NoCadesBarnia,hoitoprofessores,dosquaisquatrosondiosTerenaeosdemaissono-indgenaspastoreseprofessoresdeseminriosdaregio.DeacordocomopastorJosiasTerena,esses professores:Tmformaonareateolgica,sobacharisemteologiaemsuagrandemaioria.Masalguns tm formao na rea de educao, sade e etc.35 NocontextodoAmi,ocorpodocentecompostodevinteprofessores,sendodezestrangeiros,cinco brasileirosno-indgenaseseisindgenas.Aformaodamaioriadessesprofessorescompreendeasseguintes reas de formao: Bacharel em Teologia, Mestrado em Missiologia, Doutorado em Ministrio e Pedagogia. Weidt aponta para a importncia de um corpo docente diversificado, tanto em relao origem cultural quanto ao nvel acadmico. Ele afirma: Minha sugesto para os cursos de treinamento de lderes ento que diversos professores de diversasculturasenveisacadmicoscontribuamnoensino.Creioqueumcorpodocenteformadode professores indgenas, brasileiros e estrangeiros tem a maior chance de passar o contedo de uma forma integral.36 III. EDUCAO TEOLGICA INDGENA: REVISO DOS PRINCIPAIS COMPONENTES 1. Revisando os objetivos iniciais Em pesquisa realizada por Martins sobre os principais componentes de algumas instituies teolgicas protestantes no Brasil, pertencentes aos Presbiterianos, Metodistas, Batistas e Luteranos, ele afirma: Analisando osdocumentoshistricos,pode-seconstatarquequasetodasasinstituiesteolgicaspertencentesaos protestantesnasceramcomoobjetivodeprepararmo-de-obraparamanutenodaestruturaeclesisticade cada confisso.37 Aexpressoemdestaqueacimaapontaparaformao,viaderegra,depastoresepastoras,que normalmente se enquadram entre os vocacionados para o ministrio ordenado e que atenderiam as demandas das igrejas locais e da denominao. Por um longo perodo, essas instituies teolgicas mantiveram esse preparo de mo de obra direcionada s pessoas vocacionadas. AhistriaserepetequandoobservamososobjetivosiniciaisdosinstitutosbblicosReverendoFelipe Landes,CadesBarniaedoCentrodeTreinamentoAmi.Resumindo,pode-sedizerqueoobjetivoprincipal dessasinstituiesprepararlderes(modeobra)autctonesparaatenderademandadaigrejaevanglica indgena. E em alguns momentos do discurso oral ou escrito dessas instituies, observa-se que o preparo dessa mo de obra direcionado a vocacionados, ou seja, queles que so chamados para o ministrio. Vale mencionar 35 Terena, Josias. Entrevista Terena, Josias. Entrevista realizada em 06 de fevereiro de 2006 no Instituto Bblico Cades Barnia Aquidauna Mato Grosso do Sul.36 WEIDT, Friedrich Manfred. O povo Guarani-Mby no Sul do Brasil: Contextualizao e Prxis Evanglica. DissertaodoDoutoradoemMinistriodaFaculdadeTeolgicaSulAmericanaLondrina.Londrina(material no publicado), p. 148. 37MARTINS,Edson.Art.Instituioteolgica:umavisodosseusprincipaiscomponentes.In:KHOL, Manfred & BARRO, Antonio Carlos. Educao Teolgica Transformadora. Londrina: Descoberta, 2004, p. 45. 15 que no Ami, na prtica, no h tanta exigncia quanto a ser vocacionado, uma vez que seu propsito principal formardiscpulosdeJesus,porestarazoaceitamalunosmesmoquenosejamconvertidos.Oproblemaaqui reside na finalidade ltima da educao teolgica, ou seja, qual o seu objetivo? Preparar apenas vocacionados ou preparar o povo de Deus? OresultadodeumapesquisarealizadapelaFraternidadeTeolgicaLatinoamericana,emQuito, Equador,em1985,concluiuque:OobjetivodaeducaoteolgicaacapacitaodopovodeDeusparao serviodoReino.38Estaafirmaotrazgrandesimplicaesparaodesenvolvimentodeumprogramade educao teolgica, porque quebra um paradigma de longos anos. CabeaquiumdestaquespalavrasdeDanielSchipaniaoafirmarque:Aeducaoteolgicadeveestar inspirada por um paradigma eclsio-comunitrio antes que por um paradigma clerical.39 AsustentaodeumparadigmaclericalcomeoudesdequandoaIgrejaCatlicaRomanapassoua conceberoministriocristodeformafundamentalmenteclerical.40Comessaconcepodeministrio,o ministriodaIgreja,oconjuntodeatividadesquevisaocumprimentodesuamissopassaaser,literalmente, monoplio do clero.41 E da surge a distino entre o clero e leigo. ComosReformadores,surgeumdiscursoradicalmentediferente,quepassaaserconhecidocoma formulaooudesenvolvimentodadoutrinadosacerdciouniversaldetodososcrentes,queresgataa compreensoneotestamentriodequecadacrenteumsacerdotedeDeusparaomundo,nohavendo,nesse sentido, distino entre clero e leigo na prxis eclesial. Contudo, no se pode deixar de considerar que, mesmo os herdeiros da Reforma, mantiveram um certo status ao clero. De acordo com Marques, j naquele momento havia esseprivilegiamento.Eleafirma:Nasigrejasprotestantesdaquelapoca[...]existiaumagrandeseparaoe destaque para o clero.42 Essadistinoentrecleroelaicatopassouaseralimentadapelasinstituiesteolgicasaolongodos anos da histria do cristianismo, ao centralizar seus esforos na formao exclusivamente dos vocacionados para o ministrio cristo ordenado, ou seja, o clero. Essa viso permanece ainda em alguns seminrios, faculdades e institutos bblicos no Brasil. Entretanto,muitasinstituiesteolgicascontemporneas,emnossopas,tmentendidooministrio cristocomoresponsabilidadenosdosministrosordenados,masdetodopovodeDeus,incluindoosno ordenados.Issocoerentecomoparadigmaeclsio-comunitrioqueprocuraeliminaroperigoouoriscoda profissionalizao e da concepo individualista de ministrio ou mesmo o dualismo entre clrigos e leigos. Quandosedizqueoobjetivodaeducaoteolgicaprepararhomensemulheresparaserviono Reino,nosepretendecomissomenosprezaraquelesquesovocacionadosporDeusparaoministrio ordenado.Oqueseobjetivaabrirasportasdasinstituiesteolgicasparaopreparodoleigotambm, promovendoopapeldono-ordenadonaaoeclesial.Eissorequerdasinstituiesteolgicasmudanas 38PADILLA,C.Ren.Nuevasalternativasdeeducacinteolgicas.GrandRapids:NuevaCreacion,1986,p. 119. 39SCHIPANI,DanielS.TeologiadelMinistrioEducativo:perspectivasLatinoamericanas.Grand Rapids/Buenos Aires: Nueva Creacion, 1993, p. 228. 40LOPES,CsarMarques.Art.Mobilizandoaigrejalocalparaumamissointegraltransformadora.In: KHOL,ManfredWaldemar&BARRO,AntonioCarlos.MissoIntegralTransformadora.Londrina: Descoberta, 2005. p. 143. 41 Op. cit., p. 143. 42 Op. cit., p. 144. 16 significativas. Como, por exemplo, a diversificao nos cursos para que atendam as necessidades ministeriais das igrejas. Sustentar um paradigma clerical em detrimento de um paradigma eclesio-comunitrio, ou sustentar a idiadeministriocomofundamentalmenteclericalaoinvsdeumaresponsabilidadeconjuntadeclrigose leigos, no apontaria isso para uma relao de poder implcita na educao teolgica? Parece que sim. 2. Revisando os currculos Em palestra proferida no 5o. Congresso Nacional do CONPLEI (Porto Velho, setembro de 2006), Jnio Souza, usando idias de Jean Piaget, assevera que por trs do exerccio de ensino, h dois conceitos subjacentes: o ensino enquanto mtodo de construo do conhecimento e o ensino enquanto resultado ou produto do processo de construo de conhecimento. A, conclui, dizendo: De acordo com o primeiro conceito, ensinar implica em construo de conhecimento; de acordo comosegundo,ensinarimplicaemrepassaridiasprontaseacabadas.Emtermosgerais,nosna educaoteolgica,hnecessidadedesuperaraestruturaeducacionalqueoferececonhecimentocomo contedopronto,previamenteconstrudo.Essetipodeprticadeeducaogeradependncia.E dependncia implica em fragilidade espiritual. O dependente no sabe buscar respostas junto a Deus, espera sempre que algum lhe indique o caminho.43 A questo de repasse de idias prontas versus construo de conhecimento tem a ver com a elaborao curricular.NotpicoOPlanoCurricular,apresentadonocaptuloII,percebeu-seque,nodiscursoescritoou oral de alguns lderes das instituies pesquisadas, o currculo est relacionado a disciplinas, a contedos, carga horria, sala de aula; foi transplantado e adaptado de outra instituio teolgica; e definido e estabelecido por um grupo de pessoas, como, por exemplo, um conselho diretor, que analisa e aprova ou analisa e encaminha para uma instncia maior para ser aprovado ou no. Diante disso, algumas questes precisam ser consideradas aqui: O que currculo? O que ele abrange? O que est explcito e implcito nele? O que deve orientar um currculo e sua elaborao? A seguir, refletiremos sobre essas indagaes com o propsito de responder a essas questes. Conforme Menegolla e SantAnna, o currculo no : ...simplesmente a relao e distribuio das disciplinas com suas respectivas cargas horrias. No tambmonmerodehoras-aulaedosdiasletivos.Elenoseconstituiapenasporumaseriaode estudos,quechamamosdebasecurricular[...]ouumalistagemdeconhecimentosecontedosdas diferentesdisciplinasparaseremestudadosdeformasistemtica,nasaladeaula.[...]nodeveser concebidoapenascomorelaodecontedosouconhecimentosdelimitadosouisolados.[...]noum planopadronizado,ondeestorelacionadosalgunsprincpiosenormasparaofuncionamentodaescola, comosefosseummanualdeinstruesparapoderacionarumamquina.[...]Ocurrculonoalgo restrito somente ao mbito da escola ou da sala de aula.44 E de acordo com Silva, em seu livro Documentos de Identidade: 43SOUZA,IsaacCostade.Conplei,umMovimentodaTerceiraOndaMissionria.manuscrito.Braslia: ALEM-SIL, 2006. Notas pessoais, (citado com permisso). 2006, p. 844MENEGOLLA,Maximiliano&SANTANNA,IlzaSoares.PorQuePlanejar?ComoPlanejar?Currculo-rea-aula. Petrpolis: Vozes, 1993, p. 213s. 17 Depoisdasteoriascrticaseps-crticasdeeducao,torna-seimpossvelpensarcurrculo simplesmente atravs de conceitos tcnicos como os de ensino ou de categorias psicolgicas como as de aprendizagem e desenvolvimento ou ainda de imagens estticas como as de grade curricular e listagem de contedos.45 Aquestocrucialparatodaequalquerteoriadocurrculo,semdvidaalguma,saberqual conhecimentodeveserensinado.Aperguntachaveento:Oqueensinar?Essaperguntanaturalmenteindica escolha, seleo. Faz-nos pensar tambm em quem e com quais critrios se executa essa seleo. Silva torna isso mais claro, quando afirma que: O currculo sempre o resultado de uma seleo: de um universo mais amplo de conhecimentos e saberes seleciona-se aquela parte que vai constituir, precisamente, o currculo.46 Nas palavras de Apple, em relao ao currculo, temos: Ocurrculonuncaapenasumconjuntoneutrodeconhecimentos...Elesemprepartedeuma tradioseletiva,resultadodaseleodealgum,davisodealgumgrupoacercadoqueseja conhecimentolegtimo.produtodastenses,conflitoseconcesses,polticaseeconmicasque organizam e desorganizam um povo.47 A respeito dessa seleo e especificamente em relao ao currculo de nossos seminrios, Rega afirma: ...saibamosouno,estejamosconscientesouno,osistemaeducacionaldecadaseminrioprodutodeum conjuntodeforasqueomodelam.Portantonadadeingenuidadenesteponto.48Emoutraspalavras,um currculo no neutro! Essa escolha ou seleo aponta para uma relao de poder. Nasteoriasdecurrculo,observa-setambmumainterrelaoentreduasquestesimportantes:Oque ensinar?Eoqueosalunosealunasdevemserousetornar?ParaSilva,emtodaconcepodecurrculo,o conhecimento a ser transmitido est estreitamente interrelacionado com o tipo de ser humano que se quer formar, podendoatasegundaquestoprecederprimeira.Eleafirma:Afinal,umcurrculobuscaprecisamente modificar as pessoas que vo seguir aquele currculo.49 E ainda acrescenta: No fundo das teorias do currculo est, pois, uma questo de identidade ou de subjetividade. Sequisermosrecorreretimologiadapalavracurrculo,quevemdolatimcurriculum,pistade corrida, podemos dizer que no curso dessa corrida que o currculo acabamos por nos tornar o que somos. Nasdiscussescotidianas,quandopensamosemcurrculopensamosapenasemconhecimento, esquecendo-nosdequeoconhecimentoqueconstituiocurrculoestinextrincavelmente,centralmente, vitalmente,envolvidonaquiloquesomos,naquiloquenostornamos:nanossaidentidade,nanossa subjetividade.50 Deacordocomesteautor,ocurrculo,almdeserumaquestodeconhecimento,tambmuma questo de identidade e envolve ainda uma relao de poder. Ele afirma: 45SILVA,TomazTadeuda.DocumentosdeIdentidade:umaintroduosteoriasdocurrculo.2.ed.Belo Horizonte: Autntica, 2004, p. 147. 46 Tomaz Tadeu da SILVA, op. cit., p. 15. 47 APPLE, Michael W. Art. A poltica do conhecimento oficial: faz sentido a idia de currculo nacional? In: AntonioFlvioMOREIRA&TomazTadeudaSILVA(Orgs.).Currculo,CulturaeSociedade.SoPaulo: Cortez, 1995, p. 59. 48REGA,LourenoStelio.Art.Revendoparadigmasparaaformaoteolgicaeministerial.In:KHOL, Manfred&BARRO,AntonioCarlos.EducaoTeolgicaTransformadora.Londrina:Descoberta,2004,p. 103. 49 Tomaz Tadeu da SILVA, op. cit., p. 15. 50 Tomaz Tadeu da SILVA, op. cit., p. 15. 18 Da perspectiva ps-estruturalista, podemos dizer que currculo tambm uma questo de poder e que as teorias de currculo, na medida em que buscam dizer o que o currculo deve ser, no podem deixar deestarenvolvidasemquestesdepoder.[...]Privilegiarumtipodeconhecimentoumaoperaode poder. [...] As teorias do currculo esto situadasnum campo epistemolgico social. [...] precisamente a questodopoderquevaisepararasteoriastradicionaisdasteoriascrticaseps-crticasdocurrculo.As teoriastradicionaispretendemserapenasisso,teoriasneutras,cientficas,desinteressadas.Asteorias crticaseps-crticas,emcontraste,argumentamquenenhumateorianeutra,cientficaedesinteressada, mas que est, inevitavelmente, implicada em relaes de poder.51 Sendo que no currculo encontra-se esta interrelao entre saber, identidade e poder, deve-se considerar o perigo de que a educao teolgica reprima a criatividade e a crtica. Quantoaestarelaodepoder,Regaexpressaumapreocupaopertinenteemrelaoaoriscodese transformar a educao teolgica num instrumento de dominao ideolgica. Ele diz: Outropontoalvodepreocupaoquandopensamosnaeducaoteolgicacomoum sistemadeinduoemanutenodehegemonia,demodoatransform-lanumaaoadestradorae domesticadoradosespritos....Noseriaumaeducaoreprodutivistadesconsiderandooalunocomo sujeito histrico e participante da construo social?52 Essas afirmaes mostram que no estamos isentos deste tipo de relao, seja em nossos programas de educao teolgica, seja no nvel de instituto bblico ou seminrio. Emrelaoaoquedeveorientarumcurrculoesuaelaborao,omesmoRega53afirma:Essatarefa demanda um conjunto de medidas integradas e simetrizadas que devero seguir procedimentos prprios.54 Este autorentendesernecessrioantesdeseelaborarumcurrculo,definirqualseromodeloeducacionaladotado pelainstituioeestabelecerumadeclaraodevaloreseobjetivoseducacionais.Eleaindadeixaclaroque existemduasalternativasqueorientamosistemaeducacionaldeumamaneiraemgeral:porcontedosepor objetivoseducacionaisevalores.EemrelaosinstituiesteolgicasdoBrasil,afirma:Osistema educacionaldosseminriosevanglicosnoBrasilgeralmenteumsistemaorientadoporcontedos (conteudista) em vez de ser orientado por objetivos educacionais.55 Segundoesteautor,umsistemaorientadoporcontedossegue:umcurrculoecontedoemprestadoou impostodefora.56oqueaindaocorreemvriasinstituiesteolgicas.Eemrelaoaumsistema educacionaldirecionadoporobjetivoseducacionaisevalorescristos,elediz:Osobjetivosindicamonde devemos chegar, que fins devemos atingir; os valores indicam nossas prioridades e o que valorizamos.57 Finalmente,arespeitodocurrculopode-sedizerqueatualmenteoqueseconstataemmuitas instituies teolgicas, e aqui inclumos os institutos bblicos alvos desta pesquisa, uma preocupao por uma renovaonapropostacurricular.Equantoaisso,Martinsafirma:Aconclusoaquetmchegadooslderes 51 Tomaz Tadeu da SILVA, op. cit., p. 16. 52 Loureno S. REGA, op. cit., p. 104. 53Rega,entendequeantesmesmodeseestabelecerosobjetivoseducacionaiseosvaloresquedirecionaroo sistema educacional, deve-se decidir qual ser o modelo educacional adotado pela instituio. Este autor tambm apresenta dois tipos de currculos Entrpicos e Sinrgicos. 54 Loureno S. REGA, op. cit., p. 103. 55 Loureno S. REGA, op. cit., p. 103. 56 Loureno S. REGA, op. cit., p. 126. 57 Loureno S. REGA, op. cit., p. 126. 19 das instituies que o currculo no pode ser uma mera cpia estrangeira, nem inflexvel ou imutvel. Ele deve mudar medida que muda a realidade em que a instituio vive.58 3. Revisando o corpo discente A partir da descrio feita no incio desta pesquisa acerca do corpo discente, constatamos que os alunos: procedemdevriasetnias;sosustentadosporsuasigrejaslocaisouadotadosesustentadosporoutrasigrejas evanglicas;cumpremumperododeestgio;exige-sedelesquesejamchamadosouvocacionadosparao ministrio;quesaibamlereescrevernalnguaportuguesacasonosaibam,oferecidoaosalunosa oportunidade de aprender antes de ingressar no curso bblico; os alunos, em muitos casos, possuem algum grau de bilingismo oral e; finalmente, observa-se que o nmero dos que retornam para aldeia e que esto envolvidos no ministrio (mesmo fora da aldeia) maior do que os que desistem, no retornam ou no esto no ministrio. Entretanto,diantedestequadrooutrasquestessurgemedevemserconsideradasagora.Aquestoda vocao para o ministrio j tratamos acima e no necessrio abordarmos novamente aqui. Assim, refletiremos acercadotreinamentoformalforadaaldeiaesuasimplicaes,bemcomoacercadaquestolingsticaeda cosmoviso. Emrelaoaotreinamentobblicoeteolgicoformal,observa-sequenamaioriadasvezesomesmo realizadoforadaaldeia.Eumdosgrandesproblemasapontadonessaformadetreinamento,pelomissionrio Dooley,aotratarsobreAformaodelderes,foiquestodasdescontinuidadesqueoalunoenfrentaao retornar para o seu contexto ao trmino do curso. Algumas dessas descontinuidades so: Descontinuidade de lngua e cultura. Se ensinamos em portugus, seria razovel esperar que os alunosconsigamadaptaroensinoparasuaprprialngua?Porqueotrabalhodetraduocustoso;e,se tivercoisasparaadaptarparaoutraculturaexemplosilustrativos,mtodos,aplicaesespecficas,etc fica bem mais custoso ainda. Porque a nossa mente tende a reter material na forma que ouvimos, na forma que estvamos ento. bem difcil traduzir ou adaptar. Descontinuidade de lugar e rotina. O treinamento se acostuma com um certo lugar; depois do treinamento, o mero fato de ir para outro lugar para por tudo em prtica, constitui uma descontinuidade. Se o treinamento foi num curso fora da aldeia, depois do curso voc sai de uma sala de aula e se encontra numa casa indgena. A sua rotina muda tambm: em vez de estudar, vocdesafiadoaprascoisasemprtica,etemquetrabalharoutravezparaganharseupo.Aquela rotinagostosadecursonoexistemais.Descontinuidadesocial.Treinamentojuntocomoutraspessoas forma um grupo de apoio mtuo (a turma), mas terminando o treinamento, a turma como grupo se desfaz. Oprofetacheganasuaprpriaterra,semseuscompanheirosdotreinamento,eficasozinhonomeiodas pessoasindiferentesouathostis.Oscompanheirosdeaulajficamlonge.Descontinuidadede motivao.Osmotivospelosquaisumadeterminadapessoaingressanumprogramadetreinamentoso vrios, e geralmente mistos: querer saber, querer comer. A motivao exigida para servir de lder na igreja pode ser bem outra. A motivao que foi suficiente para o treinamento, no serve mais. Quando uma pessoa terminaumtreinamentointensivoourealizadonumperododetempoextenso,deixaatrsascoisas pertencentes a ele, e, devido as descontinuidades, ela pode bem sentir um choque desorientador, semelhante ao choque cultural.59 58 Edson MARTINS, op. cit., p. 53. 59DOOLEY,RobertA.Aformaodelderes:Questesemodelos.PalestraproferidanoFrumdaAMTB (AssociaodeMissesTransculturaisBrasileiras)entreosdias22e26deabrilde2004,p.2(citadocom permisso). 20 Numquestionrioenviadoavriosmissionrios60quetrabalhamcomatraduodaBbliaparapovos indgenas, ao serem perguntados sobre as vantagens e desvantagens de um curso teolgico fora da aldeia e sobre ousodalnguaportuguesanoprocessodeensino-aprendizagem,algumasquestesforamdestacadas.Porm, apenasduasseromencionadas:adificuldadedetransmitir,emsuaprprialnguaparaoseuprpriopovo,os conceitosbblicoseteolgicosaprendidosemlnguaportuguesa;eatendnciadediminuiraimportnciada lnguamaternanaespiritualidadeevidadaigreja.Essasdificuldadeslingsticasestorelacionadasaquestes nas reas da semntica, morfologia, gramtica, fontica e fonologia. Murphy afirma: Para o indgena que fala seu prprio idioma, se o ensino lhe for ministrado na lngua nacional, provvelqueelenoconsigatrabalharasidiasnasualnguamaternae,porconseguinte,serimpossvel paraeleacomunicaodoquelhefoiensinado,dosnovosconceitos,quandovoltasaldeias,noseu idioma de origem.61 AsquesteslevantadasporDooleysobredescontinuidadesetambmaspreocupaesdestacaspelos vrios missionrio(a)-tradutores(as) acima devem ser consideradas quando se est desenvolvendo um programa de educao teolgica para indgenas, porque so cruciais na vida e na misso da igreja no contexto indgena. Porm,valemencionaraindaquemuitosindgenaspreferemestudaremlnguaportuguesa,porque achamqueoportugustrazmaisprestgioerespeitoeissoserelacionaaumaquestosociolingsticaque mereceateno.KathieDooley,concernenteaisso,afirma:Muitasvezesapessoaquechegaescolabblica no tem interesse espiritual, mas est procurando qualquer curso que pode render em termos de posio, lucro ou honra, ou est procurando amigos beneficientes, ou est atrs de meios de aculturar na sociedade maior.62 No estaria esta postura relacionada a uma relao de poder? Outroaspectoaserconsideradoemrelaoaocorpodiscente,equeestrelacionadoigualmenteao corpo docente, a questo da cosmoviso. Nos institutos bblicos indgenas, observa-se uma diversidade cultural emrelaoaocorpodiscenteentresietambmentreodiscenteeodocente.Essapluralidadeculturalaponta para um conflito de cosmovises e para as suas implicaes prticas para educao teolgica. A cosmoviso63 a interpretao que um povo faz da realidade ao seu redor e do papel do ser humano dentrodestarealidade.64Assimsendo,acosmovisoapenasfazsentidodentrodeumacomunidadeque compartilha as mesmas idias. Para membros externos, ela parece completamente arbitrria, por que se encontra nonveldoinconsciente.Murphy,aoescreversobreConflitodecosmovisesnoensino:educaoescolar indgena,deixaclaroque:acosmovisogeracrenas;crenasgeramvaloresesoosvaloresquegeramo comportamento.65 60Osmissionriosqueresponderamaoquestionrioforam:RoberteKathieDooley(GuaraniMby);Bill Bontkes (Surui RO); Helena Pease (Tenharim); Bete Muriel Ekdahl (Terena); Meinke Salzer (Paumari), Alan Vogel (Jarawara) e Davi Ebehart (Mamaind). 61MURPHY,IsabelI.Art.Conflitosdecosmovisonoensino:educaoescolarindgena.In:Revista Capacitando para Misses Transculturais. So Paulo. Editor APMB, n 9, 2001, p. 59 62 Kathie DOOLEY, Questionrio (citado com permisso). 63 Frances Popovich afirma que a cosmoviso inclui: Idias de causa e efeito, um mapa cognitivo complexo, um sistemadecomunicaoverbaleno-verbal,categorias,axiomas,crenas,regrasevalores,asopeseas expectativas dos comportamentos e a interpretao das experincias dos membros da sociedade. 64 POPOVICH, Frances B. Antropologia. (Apostila elaborada para uso no curso de Lingstica e Missiologia da Associao Lingstica Evanglica Missionria) Braslia, 2005, p. 62. 65 Isabel MURPHY, op. cit., p. 62. 21 Comessebreveresumoacercadoqueumacosmoviso,pode-seperceberograndedesafioquea diferena de cosmoviso traz para o campo educacional. No contexto dos institutos bblicos Reverendo Felipe Landes, Cades Barnia e Centro de Treinamento Ami, encontramos um corpo docente que em sua grande maioria compartilha de uma cosmoviso ocidental (de origemgrega)econseqentementeumavisodemundodicotomista,queseparaoespiritualdonatural,o sagradodosecular;eumcorpodiscentequecompartilhadeumacosmoviso,quemesmocomas particularidades de cada etnia, so basicamente sobrenaturalistas, ou seja, no h separao entre o espiritual e o natural. Essadivergnciaentreacosmovisodoeducadoredoeducandoacabainfluenciandonoprogramade educaoteolgica.Naprtica,pode-seconstatarqueatendncianomundoocidental,edoeducadorde cosmovisoocidental,comearoensinoteolgicorespondendoaperguntasabstratasacercadocarterde Deus,suaonipotncia,oniscinciaetc.Emoutraspalavrasatendnciadesseeducadorfocalizarnoaspecto filosfico. Mas geralmente, afirma Ebehart: ...essas no so as primeiras perguntas que as culturas indgenas querem fazer. Eles querem saber sobre o poder de Deus contra os espritos, querem saber se Deus tem respostas e se preocupa com a doena, comascrianasquemorrem,comafaltadecomida[...],emfim,queremrespostassperguntasqueeles mesmos esto fazendo (notas pessoais).66 Ou seja, a preocupao indgena primeiramente com as questes do dia-a-dia. Ainda dentro do aspecto da cosmoviso, Murphy chama nossa ateno, dizendo: No sistema indgena, o aprendiz busca o conhecimento, por isso necessrio reconhecer que a imposio de conceitos dificilmente acatada tranqilamente por no deix-lo exercer a capacidade de pensar e praticar o pensamento lgico, tirando suas prprias concluses.67 Resumindo, pode-se afirmar que necessrio considerar o modo em que os povos indgenas ensinam e aprendem. 4. Revisando o corpo docente O que se observa em relao ao corpo docente, como visto nos institutos bblicos em apreo, que em suagrandemaioriasoestrangeirosebrasileirosno-indgenas,havendoumnmeropequenodeprofessores indgenas. Esses docentes so geralmente graduados em teologia, alguns em pedagogia e ainda outros possuem MestradoemMissiologiaeDoutoradoemMinistrio.Constata-setambmqueestarealidaderefletidano material didtico, que por sua vez refletir a cosmoviso ocidental. Jtratamosacercadoconflitodecosmovisoentreocorpodiscenteedocentee,portanto,ser consideradonesseitemapenasaquestodaformaodedocentesindgenas.Eumaperguntaquesurge: Porque,nessasquasetrsdcadasdecaminhadanaeducaoteolgicavoltadaparaopreparoteolgicode indgenas, no houve um preparo para docentes indgenas? Certamente, a resposta no to simples e a questo 66 EBEHART, Davi. Notas pessoais, p. 2 (citado com permisso). 67 Isabel MURPHY, op. cit., p. 59. 22 exigeumareflexomaisprofunda.Contudo,seroapresentadospelomenosdoisfatorespercebidoscomo agravantes no preparo de indgenas para docncia teolgica. Antes,porm,valedizerquefatoincontestvelqueaigrejaemergentenocontextoindgenaprecisa de lderes bem preparados, sejam eles ordenados ou no. Por outro lado, preciso reconhecer que ela necessita igualmente de telogos profissionais que vo servir aos telogos no contexto da igreja local, ajudando a refletir bblica e teologicamente sobre a prxis eclesistica e missiolgica do povo de Deus no contexto indgena. Atualmente, em nossos Seminrios e Faculdades Teolgicas, aqueles que querem se dedicar ao ensino teolgico e que querem fazer da reflexo teolgica o fulcro do seu labor vo certamente se deparar com a falta de sustentotantoparaobtenodopreparoadequadocomoparaosustentopessoalefamiliar.Nodiferente quandosepensanadocnciateolgicaindgena.Osgrandesdesafioscontinuam,dentreoutros,nasreasdo sustento e da formao teolgica adequada para o docente indgena. No seria a formao de docentes indgenas umcaminhoparaaquebradahegemoniadateologiaeeclesiologiaocidentaleoinciodeumacaminhadano desenvolvimento de uma teologia mais contextual? IV. SUGESTES PARA UMA EDUCAO TEOLGICA RELEVANTE NO SCULO XXI 1. Em busca da contextualizao Aeducaoteolgicaindgenaprecisacaminharnadireodaautoctonia,damesmaformaquea educaoteolgicanoBrasil.Epensaremeducaoteolgicaautctone,dizLonguini,significavalorizaro contextual;incorporarosvaloresdanossacultura;proporumarevisonocurrculo;e,sobretudoreveras matriasteolgicasqueteriamumarelaodiretacomasexpressesculturaisdonossopovo(oudopovo indgena), como por exemplo, a liturgia.68 Oquesepdeobservar,aofazerumarevisodosprincipaiscomponentesdasinstituiesteolgicas queconstituemouniversodestapesquisa,quetaiscomponentesapontamparaummodeloeducacional tradicional,quesecaracteriza,nocasodaeducaoteolgica,pelamanutenodostatusquodateologiaeda prxiseclesisticadominante.Umcurrculoecontedosemprestadosouimpostos(mesmoque involuntariamente) de fora, a nfase na formao apenas de vocacionados, prprio de um paradigma clerical, e a ausnciadeumnmeromaiordedocentesindgenasnoestariamcontribuindoparamanutenodateologiae daestruturaeclesisticadominante?Diantedestarealidadeodesafiocaminharrumoacontextualizaoda educao teolgica indgena no contexto religioso brasileiro. O objetivo central deste captulo buscar, na pedagogia freireana69 e na Teologia da Misso Integral,70 subsdios para uma educao teolgica indgena que seja contextualmente relevante. Sendo assim, a seguir sero propostos alguns passos nessa direo. 68Cf.NETO,LuizLonguini.EducaoTeolgicaContextualizada:AnliseeInterpretaodaPresenada ASTE no Brasil. So Paulo. ASTE, 1991. 69 Do pensamento Freireano considero as seguintes idias: o educando no seu contexto como ponto de partida da educao;odilogocomoeixoprincipalnoespaopedaggico;educaoproblematizadoraversuseducao bancria;oplanocurricularcomoumaaoparticipativa.Essasidiaspodemserencontradasnaleiturade 23 2. Passo 1: Analisar o contexto scio-cultural e histrico do(a) educando(a) O pressuposto deste primeiro passo que o ser humano um ser historicamente situado. Essa afirmao indicaqueoserhumanopossuiumahistriareal,concreta,umahistriaqueresultadodesuarelaocomo mundo,consigomesmoecomosoutros.E,aolongodavida,oserhumanovaiformulandorespostasaos desafios que enfrenta e da surge cultura prpria de cada povo. da experincia de vida do(a) educando(a), no e com o mundo referido a fatos concretos que Freire prope que se busque os elementos essenciais do processo deensino-aprendizagem.Emoutraspalavras,nocontextoscio-culturalehistricodo(a)educando(a)que encontramos subsdios para uma educao relevante. Ocontextoscio-culturalehistricodeumdeterminadopovotambmpontocentralnaTeologiada Misso Integral. Na busca por uma misso da igreja que seja bblica e contextual, a Teologia da Misso Integral enfatizaanecessidadedoevangelhoseencarnarnacultura.Eaencarnaocomoaproximaodooutro,diz Samuel Escobar: implica na valorizao da lngua e cultura do outro, [...].71 Naprtica,issoquerdizerqueo(a)educador(a)devedesenvolver,apartirdaconvivnciacomos(as) educandos(as) no seu contexto concreto, uma investigao para conhecer a realidade desses(as) educandos(as) a fim de extrair os temas geradores e depois devolver de forma organiza, sistematizada, os elementos que o povo lhes entregou. Em relao s instituies teolgicas dedicadas ao preparo de liderana evanglica indgena, seria uma anlisedosvriosaspectosculturaisdospovosrepresentadosnainstituio,focalizandoavidaeamissoda igreja naquele contexto. Nessa anlise, poderia-se detectar temas teolgicos e outras questes que dizem respeito prxis eclesistica e ao cotidiano do(a) educando(a), que posteriormente seriam desenvolvidos sistematizados a eles. O propsito desta investigao tambm ajudar o(a) educando(a) na anlise de sua prpria realidade luz da reflexo bblica e teolgica. Possveis contribuies da anlise scio-cultural e histrica so: Possibilidade de conhecer a cosmoviso do(a) educando(a) e conseqentemente de entender as dificuldades decorrentes do conflito de cosmovises; Possibilidadederespeitarosistemadeensino-aprendizagemparticulardecada povo; Possibilidadedeelaborarumprogramaeducacionalrelevanteparaaigreja evanglica indgena; PedagogiadoOprimido(1987),PedagogiadaEsperana(1992),PedagogiadaAutonomia(1996)e conscientizao: teoria e prtica da libertao (2005) e outros textos deste autor.70DateologiadaMissoIntegralconsideroasseguintesidias:arelevnciadocontexto,anaturezadoser humanoearelaoigreja,Reinoemundo.Umdosautoresprincipaisquetrabalhaestasidiasomissilogo Ren Padilla. 71 ESCOBAR, Samuel. Desafios da Igreja na Amrica Latina: histria, estratgia e Teologia de misses, p. 75. 24 Possibilidadedeelaborarummaterialdidticoeumapropostadecurrculo adequado realidade indgena; Possibilidadederefletirbblicaeteologicamentesobretemaspertinentesao contexto indgena; Possibilidadedevalorizarareflexobblicaeteolgicaporpartedosirmose lderes evanglicos indgenas; Possibilidade de contribuir para o desenvolvimento de uma teologia indgena; Possibilidade de ensino-aprendizagem mtuo. Para isso necessrio: Conhecimento na rea de antropologia cultural e um treinamento transcultural; Disponibilidade para pesquisa bibliogrfica e de campo; Umainteraomaiorentreeducadoreseosmissionriosquetrabalhamcomo grupo indgena; Organizar e realizar consultas e seminrios sobre educao teolgica, antropologia e comunicao transcultural, os quais orientem para um trabalho contextualizado; Buscar orientao com educadores, antroplogos e missilogos sobre novos modelos, estratgias e metodologias para o trabalho; Fazer uma auto-avaliao do programa desenvolvido. Os desafios so: Superar as barreiras, geogrficas, culturais, lingsticas e financeiras; Desenvolver novos modelos que valorizem o contexto; Revisar a proposta pedaggica e a grade curricular; Criar novas escolas teolgicas que possam atender a outras regies do pas; Ampliar a proposta para alm de preparar vocacionados, incluir a formao de liderana leiga e a formao de professores(as) indgenas para docncia teolgica. 3. Passo 2: Desenvolver uma educao dialgica e problematizadora possvelafirmarqueacrticaqueFreirefazaeducaobancria,marcadaporumprocessode ensino-aprendizagemquereduzoatodeconhecer,oudesaber,anadamaisqueumatransfernciade conhecimento do(a) professor(a) para o(a) aluno(a), aplica-se, igualmente, a um programa de educao teolgica, comexceodealgumasinstituiesteolgicasquedesenvolvemumprogramadeensinoaprendizagemonde educadores(as) e educandos(as) so sujeitos na construo do conhecimento. 25 Oqueaconteceemalgumasinstituiesteolgicas,muitasvezes,aapresentaodeumprograma educacionalcomposiesimpostas,fixas,invariveisedogmticas,comoaquelequepretendeserdetentor nicodaverdadereveladaporDeusaoshomens.Essarigidez,nosentidodeentenderdeterminadaposio teolgicacomosuperioraqualqueroutra,podeinibiracapacidadecriativaecrticaaserdesenvolvidano(a) educando(a) em relao ao seu contexto e em relao a vida e misso da igreja dentro deste mesmo contexto. Emrelaoaodesenvolvimentodeumaconscinciacrticanos(as)educandos(as),alvodeuma educaodialgicaproblematizadora,deacordocomCarvalho72estaconscinciacrticaextremamente importante na insero do crente (ou da igreja) no mundo como sal e luz do mundo (Mateus 5.13-16). A educao dialgica problematizadora possui as seguintes caractersticas bsicas: Consideraodilogocomoeixocentralnarelaoeducador(a)eeducando(a), bem como em todo processo de ensino-aprendizagem; Considera o dilogo como uma atitude de respeito, de abertura e de amor para com o outro; Considerao(a)educando(a)comosujeitodoatoeducativo,capazdepensare raciocinar criticamente no processo de aquisio do conhecimento; Considera importante a horizontalidade na relao educador(a) e educando(a); Consideraoatodeconhecernocomoumatodiscursivoesimcomouma construo conjunta entre educador(a) e educando(a); Considera importante o carter reflexivo e criativo de todos aqueles que esto envolvidos no ato educativo e, portanto, estimula o exame acurado das coisas e a ao fundada na realidade; Considerarelevanteumaeducaocomo(a)educando(a)enoparao(a) educando(a); Consideraqueo(a)educador(a)noalgumdeforaqueelaboraseus princpios e estratgias a serem aplicadas realidade, mas aquele que empresta seussentidos,seusconhecimentoseinstrumentosparacolaboraona elaborao e sistematizao do conhecimento. Noquedizrespeitosinstituiesvoltadasaoensinobblicoeteolgicodelderesevanglicos indgenas, o desafio, na prtica, consiste no seguinte: 72 Carvalho, Antonio Vieira de. Teologia da Educao Crist. So Paulo: Eclsia. 2000. p. 8626 Eliminaracontradioentreeducador(a)comosujeitoeeducando(a)como objeto do ato educativo e conceber o(a) educando(a) tambm como sujeito no processo de construo do conhecimento; Estabelecerumdilogocontnuoemlugardemanterummonlogonos programas de educao teolgica; Desenvolverespaopropcioparainteraes,debateseperguntasque estimulem a viso crtica e a criatividade de todos envolvidos no ato educativo, contribuindo para que a reflexo bblica e teolgica dos indgenas possa, sob a direo do Esprito Santo, ser contextual. Paraisso,necessrioreconheceracapacidadedo(a)educando(a)evalorizaroconhecimentoque ele(a) j adquiriu pela experincia scio-cultural. 4. Passo 3: Conceber o(a) educando(a) como um ser integral Opontodepartidanesseitemavisobblicadoserhumanocomoserintegral,evitandoasua fragmentao.Estavisodo(a)educando(a)comoserintegralapontaparaanecessidadedesepensarnum preparo ou qualificao do lder que compreenda as diversas dimenses de sua vida. Dessaforma,seumainstituioteolgicaemseuprogramafocalizaapenasodesenvolvimento acadmico ou intelectual do(a) educando(a) estar enfatizando apenas um aspecto de sua vida e seu preparo no ser integral. Se o(a) educando(a) um ser integral, no se pode enfatizar somente uma dimenso em detrimento das outras. necessrio entender que no se deve enfatizar apenas um aspecto do indivduo em seu preparo e sim desenvolver um programa que busque a formao integral do(a) aluno(a), propiciando o amadurecimento de vida do ponto de vista intelectual, social, espiritual, pessoal e afetivo. Na prtica, o desafio basicamente o seguinte: Desenvolverumpreparoquepossibilitea(o)educando(a)umrelacionamento saudvel com Deus, com os outros e consigo mesmo(a); Desenvolverno(a)educando(a)acapacidadederefletirepensarbblicae teologicamente; Levaro(a)educando(a)aconheceredesenvolverhabilidadesedonsqueo EspritoSantolhedeuparaoexercciodoministrioeparacapacitaoda igreja no cumprimento de sua misso no mundo. Em outras palavras, na prtica o programa de educao teolgica deve focalizar basicamente trs reas: espiritual, ministerial e intelectual. 27 Paraisso,necessrio:revertodoprojetoeducacionaldainstituio,sejaoestabelecimentodos objetivoseducacionais,sejaoplanejamentodagradecurricular,docontedoprogramtico,docontedodas aulas, enfim, a didtica adotada pelo professor, a viso do aluno etc.73 5. Passo 4: Conceber a misso da igreja como integral Precisamosconsiderarqueaeducaoteolgicaexisteparaserviraigreja.Sendoamissodaigreja holsticaouintegral,umprogramadeeducaoteolgicaquepretendaserrelevantedeveconsideraressa realidade. Assim sendo, a filosofia da educao teolgica, a proposta de grade curricular, o contedo programtico dasdisciplinaseaprxisdainstituioteolgicadevemterumaorientaointegral.Ouseja,tudoetodosna instituio devem apontar para esta viso. Afirmarqueamissodaigrejaintegralquerdizerqueessamissopossuivriasdimenseseno apenasumacomo,porexemplo,adimensoemrelaoaomundo,expressanaevangelizao.Elatempelo menostrsdimenses:umaemrelaoaDeus,outraemrelaoasimesmaeemrelaoaomundo.Eisso apontaparaumadiversidadedeministrioseatividadesquesonecessriasparaqueaigrejacresae desenvolvasuamissodeformaintegral.Algumasdasatividadescontnuasnaigrejalocalso:pregao, adorao,ensino,admoestao,aconselhamento,assistnciasocial,disciplina,servio,administraoetc.Por esta razo, um programa educacional de uma instituio teolgica dever capacitar o(a) aluno(a) de maneira que atenda as necessidades da igreja local no cumprimento de sua misso. Cabe mencionar aqui as palavras de Dieter Brepohl, quando afirma: Essaformaodeveria,noentanto,sercontextualepertinente,conseqnciadeumaprtica ministerialeemrespostaainquietudes,enecessidadesdeformaopercebidasnessemesmoministrio. Deveria ser a busca de uma formao a partir de perguntas formuladas no calor do ministrio, ou a busca de sistematizao de uma experincia ministerial.74 Na prtica, isso quer dizer que: Deve haver uma maior interao entre a instituio teolgica e a igreja local; Deve haver um corpo docente preparado nas mais diversas reas e que tenha, na medida do possvel, experincia num ministrio prtico; Deve haver uma proposta que contemple uma ampla variedade de cursos, como, por exemplo, cursos regulares, cursos seqenciais, ps-graduao latu sensu, mestrado, doutorado etc. Em relao s instituies teolgicas que compreendem o universo desta pesquisa (os institutos bblicos indgenas), necessrio que: Os educadores ou educadoras desenvolvam uma interao com as igrejas nas aldeias para que percebam suas necessidades ministeriais; 73 Loureno S. REGA, op. cit., p. 133. 74 BREPOHL, Dieter. Art. A misso da igreja e a formao de lderes. In: STEURNAGEL, Valdir. A misso da igreja. Belo Horizonte. Misso Editora, 1994, p. 161. 28 Os dirigentes dessas instituies reforcem os cursos que j oferecem e estejam dispostos a ampliar sua oferta de acordo com os desafios pelos quais as igrejas emergentes vo passando. 6. Passo 5: Desenvolver uma educao centralizada no Reino de Deus Barro nos ensina muito sobre a centralidade da educao no Reino quando declara: Oseminrio,comopartedaigreja,caminhaemdireoconsumaodossculos,quandoo reinodeDeusserplenamenteimplantado.Oconhecimentodessefatonosdcoragemparanotornar absolutoaquiloqueapenastemporal,nestecaso,aprpriaeducaoteolgica.Deusnoexcluios seminriosdeseremportadoresdossinaisdoreinoemseuprpriocontexto,ouseja,oespaoondea educao acontece.75 EstadeclaraoapontaparaainstituioteolgicacomoportadoradossinaisdoreinodeDeuse,por esta razo, seu programa educacional deve expressar os princpios e valores deste reino. Umadeeducaoteolgica,dizBarro:GuiadapelosprincpiosdoReinodeDeusdeveser centralizadaaoredordavida,ministrio,morteeressurreiodeCristo.76Estaafirmaochamaatenopara queoprogramaeducacionalenfatize,porexemplo,ocuidadodeJesuscomospobres,osoprimidos,os marginalizadoeosexcludosdasociedade.E,fazendoassim,ainstituioestarinstrumentalizandoseus estudantesparaquandoacircunstnciaouasituaoexigirumatomadadedecisoemfavordosmenos privilegiados da sociedade. AoolharoexemplodeCristo,oquesepercebeumministrioquebuscavarestauraroserhumano indistintamente,restaurandoseudireitodignidade.Eaconstruodessadignidadeestinterrelacionadaa outros valores do Reino de Deus, tais como: autonomia, fraternidade, solidariedade etc. Aeducaoteolgica,emalgunscasos,principalmentequandosetornainstrumentodemanipulao, opresso e manuteno da hegemonia, acaba por violar o outro (prximo) em seus valores e em sua dignidade. Na prtica, o desafio : Deixarquevalorescomodignidade,autonomia,tolerncia,solidariedadee fraternidadepossampermearafilosofia,gradecurricular,contedoprogramticoe toda prtica da instituio teolgica; Evitarumaposturapaternalistaemrelaoaospovosindgenasrepresentadosno corpodiscente,casocontrrio,aoinvsdeadquiriremcertaautonomianoquediz respeitoarefletirembblicaeteologicamenteemrelaoasuaigrejaeaoseu contexto, eles no se sentiro estimulados a uma reflexo prpria. 75 BARRO, Antonio Carlos. Art. Educao Teolgica e os desafios para uma sociedade em transformao. In: KHOL,ManfredWaldemar&BARRO,AntonioCarlos.EducaoTeolgicaTransformadora.Londrina: Descoberta, 2004, p. 171. 76 Op. cit., p. 172. 29 Paraisso,preciso:estudarecompreenderateologiadoreino,pormmaisimportanteaindacrer que os valores do reino de Deus devem ser os valores da nossa educao teolgica....77 REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS -APPLE,MichaelW.Art.Apolticadoconhecimentooficial:fazsentidoaidiadecurrculonacional?In: AntonioFlvioMOREIRA&TomazTadeudaSILVA(Orgs.).Currculo,CulturaeSociedade.SoPaulo: Cortez, 1995. - BARRO, Antonio Carlos. Art. Educao Teolgica e os desafios para uma sociedade em transformao. In: KHOL,ManfredWaldemar&BARRO,AntonioCarlos.EducaoTeolgicaTransformadora.Londrina: Descoberta, 2004. - BBLIA de Estudo de Genebra. So Paulo e Baueri: Editora Cultura Crist e Sociedade Bblica do Brasil, 1999. - BREPOHL, Dieter. Art. A misso da igreja e a formao de lderes. In: STEURNAGEL, Valdir. A misso da igreja. Belo Horizonte. Misso Editora, 1994. - CARVALHO, Antonio Vieira de. Teologia da Educao Crist. So Paulo. Eclsia, 2000. -DOOLEY,RobertA.Aformaodelderes:Questesemodelos.PalestraproferidanoFrumdaAMTB (Associao de Misses Transculturais Brasileiras) entre os dias 22 e 26 de abril de 2004. Citado com permisso. - EBEHART, Davi. Notas pessoais. Citado com permisso. - ESCOBAR, Samuel. Desafios da igreja na Amrica Latina: histria, estratgia e teologia de misses. Viosa: Ultimato, 1997. -HIEBERT,PaulG. OEvangelhoeaDiversidadedasCulturas:umguiadeantropologiamissionria.1.ed. Trad. Maria Alexandra P. Contar Grosso. So Paulo: Edies Vida Nova, 1999. -LOPES,CsarMarques.Art.Mobilizandoaigrejalocalparaumamissointegraltransformadora.In: KHOL,ManfredWaldemar&BARRO,AntonioCarlos.MissoIntegralTransformadora.Londrina: Descoberta, 2005.-MARTINS,Edson.Art.Instituioteolgica:umavisodosseusprincipaiscomponentes.In:KHOL, Manfred & BARRO, Antonio Carlos. Educao Teolgica Transformadora. Londrina: Descoberta, 2004.-MENEGOLLA,Maximiliano&SANTANNA,IlzaSoares.PorQuePlanejar?ComoPlanejar?Currculo-rea-aula. Petrpolis: Vozes, 1993. -MURPHY,IsabelI.Art.Conflitosdecosmovisonoensino:educaoescolarindgena.In:Revista Capacitando para Misses Transculturais. So Paulo. Editor APMB, n 9, 2001, p. 53-63. - NETO, Luiz Longuini. Educao Teolgica Contextualizada: Anlise e Interpretao da Presena da ASTE no Brasil. So Paulo. ASTE, 1991. - PADILLA, C. Ren. Nuevas alternativas de educacin teolgicas. Grand Rapids: Nueva Creacion, 1986. - POPOVICH, Frances B. Antropologia. (Apostila elaborada para uso no curso de Lingstica e Missiologia da Associao Lingstica Evanglica Missionria) Braslia, 2005.-REGA,LourenoStelio.Art.Revendoparadigmasparaaformaoteolgicaeministerial.In:KHOL, Manfred & BARRO, Antonio Carlos. Educao Teolgica Transformadora. Londrina: Descoberta, 2004.-SILVA,TomazTadeuda.DocumentosdeIdentidade:umaintroduosteoriasdocurrculo.2.ed.Belo Horizonte: Autntica, 2004.- SOUZA, Isaac Costa de. Conplei, um Movimento da Terceira Onda Missionria. manuscrito. Braslia: ALEM-SIL, 2006.-SCHIPANI,DanielS.TeologiadelMinistrioEducativo:perspectivasLatinoamericanas.Grand Rapids/Buenos Aires: Nueva Creacion, 1993.-WEIDT,FriedrichManfred.OpovoGuarani-MbynoSuldoBrasil:ContextualizaoePrxisEvanglica. Dissertao do Doutorado em Ministrio da Faculdade Teolgica Sul Americana Londrina, 2004. 77 Loc. cit., p. 172.