dominaÇÃo carismÁtica: um estudo sobre a lideranÇa...

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1 DOMINAÇÃO CARISMÁTICA: UM ESTUDO SOBRE A LIDERANÇA DE HITLER NA ASCENSÃO DO NAZISMO. CHARISMATIC DOMINATION: A STUDY OF HITLER’S LEADERSHIP IN THE RISE OF NAZISM. HEITOR SOUTO MAIOR 1 , MAINARA BELO 2 , THIAGO PEDROSA 3 Centro Universitário ASCES-UNITA E-mail: [email protected] [email protected] [email protected] Resumo: Neste artigo propomos, por meio da perspectiva teórica de dominação carismática, apresentar os debates em torno do conceito trazido por Max Weber, para que assim, possamos entender o perfil de Adolf Hitler, com a finalidade de entender o nazismo, perante a ótica proposta, utilizando de uma revisão bibliográfica como base histórica e teórica. Diante disto buscamos analisar o perfil de Hitler no período da ascensão do Nazismo por meio da dominação carismática teorizada por Weber.. Na presente análise conectamos o conceito de dominação carismática de Weber juntamente ao crescimento do movimento nazista e, assim, concluímos que Hitler foi um líder carismático durante a ascensão do nazismo culminando no crescimento da ideologia pensada por ele. Palavras-chave: Hitler; Carisma; Nazismo; Liderança; Weber. Abstract: In this article we propose, through the theoretical perspective of charismatic domination, to present the debates around the concept brought by Max Weber, so that we can understand the profile of Adolf Hitler, with the purpose of understanding Nazism, from the proposed perspective, using a bibliographic review as historical and theoretical basis. Following this, we seek to analyze the profile of Hitler in the period of the rise of Nazism through the charismatic domination theorized by Weber. In the present analysis we connect Weber's concept of charismatic domination together with the increase of the Nazi movement and thus conclude that Hitler was a charismatic leader during the rise of Nazism culminating in the growth of the ideology he thought of. Keywords: Hitler; Charisma; Nazism; Leadership; Weber. 1 Graduando em Relações Internacionais pelo Centro Universitário ASCES UNITA. Contato: [email protected], (81) 999272880. Endereço residencial: Av. Ceará, 291, bairro Universitário, Caruaru - PE. 2 Graduanda em Relações Internacionais pelo Centro Universitário ASCES UNITA. Contato: [email protected], (81) 993491264. Endereço residencial: Segunda Travessa São Roque, 28, térreo, bairro Centro, Caruaru - PE. 3 Graduando em Relações Internacionais pelo Centro Universitário ASCES UNITA. Contato: [email protected]. (81) 991672411. Endereço residencial: Rua José Martins, SN, bloco 1, apt. 202, bairro Vila Andorinha, Caruaru - PE.

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DOMINAÇÃO CARISMÁTICA: UM ESTUDO SOBRE A LIDERANÇA DE

HITLER NA ASCENSÃO DO NAZISMO.

CHARISMATIC DOMINATION: A STUDY OF HITLER’S LEADERSHIP IN THE RISE

OF NAZISM.

HEITOR SOUTO MAIOR1, MAINARA BELO 2, THIAGO PEDROSA3

Centro Universitário ASCES-UNITA

E-mail:

[email protected]

[email protected]

[email protected]

Resumo: Neste artigo propomos, por meio da perspectiva teórica de dominação carismática, apresentar os

debates em torno do conceito trazido por Max Weber, para que assim, possamos entender o perfil de Adolf

Hitler, com a finalidade de entender o nazismo, perante a ótica proposta, utilizando de uma revisão bibliográfica

como base histórica e teórica. Diante disto buscamos analisar o perfil de Hitler no período da ascensão do

Nazismo por meio da dominação carismática teorizada por Weber.. Na presente análise conectamos o conceito

de dominação carismática de Weber juntamente ao crescimento do movimento nazista e, assim, concluímos

que Hitler foi um líder carismático durante a ascensão do nazismo culminando no crescimento da ideologia

pensada por ele.

Palavras-chave: Hitler; Carisma; Nazismo; Liderança; Weber.

Abstract: In this article we propose, through the theoretical perspective of charismatic domination, to present

the debates around the concept brought by Max Weber, so that we can understand the profile of Adolf Hitler,

with the purpose of understanding Nazism, from the proposed perspective, using a bibliographic review as

historical and theoretical basis. Following this, we seek to analyze the profile of Hitler in the period of the rise

of Nazism through the charismatic domination theorized by Weber. In the present analysis we connect Weber's

concept of charismatic domination together with the increase of the Nazi movement and thus conclude that

Hitler was a charismatic leader during the rise of Nazism culminating in the growth of the ideology he thought

of.

Keywords: Hitler; Charisma; Nazism; Leadership; Weber.

1 Graduando em Relações Internacionais pelo Centro Universitário ASCES UNITA. Contato:

[email protected], (81) 999272880. Endereço residencial: Av. Ceará, 291, bairro Universitário, Caruaru

- PE.

2 Graduanda em Relações Internacionais pelo Centro Universitário ASCES UNITA. Contato:

[email protected], (81) 993491264. Endereço residencial: Segunda Travessa São Roque, 28, térreo,

bairro Centro, Caruaru - PE.

3 Graduando em Relações Internacionais pelo Centro Universitário ASCES UNITA. Contato:

[email protected]. (81) 991672411. Endereço residencial: Rua José Martins, SN, bloco 1, apt. 202, bairro

Vila Andorinha, Caruaru - PE.

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INTRODUÇÃO

O carisma se trata de uma palavra de origem grega que tem como significado uma

graça. Aquilo que é um dom divino. Porém, contemporaneamente, não é visto como um

presente divino, e sim como um instrumento que pode ser desenvolvido pelo indivíduo

(REES, 2012).

Weber é um dos mais importantes autores que produziu conhecimento acerca do

carisma, trazendo uma abordagem macro para as dominações provindas do carisma. Para

Weber, é importante valorizar a dominação carismática para compreender os fenômenos que

levam um indivíduo a se tornar líder. Portanto, para o autor, para que o carisma seja exercido,

é um ponto crucial, o relacionamento. As relações entre indivíduo carismático – líder – e

seus seguidores, representadas como relações de poder, evidenciam a existência do carisma.

O resultado de uma sociedade liderada por um líder carismático pode ser um movimento

revolucionário, pelo fato das ideias expostas pelo líder serem tomadas como uma inovação

social e verídica (FILHO, 2014).

Nosso objetivo foi analisar o perfil de Hitler como líder carismático, na intenção de

identificar fatores em sua personalidade que puderam influenciar o surgimento de um

movimento autocrático como o Nazismo. Nesse sentido, analisamos como sua personalidade

guiou e liderou esse movimento, por meio dos estudos com diferentes perspectivas sobre

carisma e sobre os fatores que desembocaram no surgimento do Nazismo como movimento.

A questão norteadora da pesquisa foi: teria sido o carisma de Hitler o fator principal

de sua ascensão política, no período do 3º Reich, para, de forma autoritária, controlar a

população? Como questões que embasam a problemática central do trabalho, buscaremos

responder: de acordo com a perspectiva de Weber sobre carisma, Hitler se encaixa no perfil

de líder carismático? O crescimento do movimento Nazista tem como fator principal o

carisma do seu criador?

Ao estudar o perfil de Hitler como líder carismático e sua influência sobre grandes

massas, buscamos captar como sua forma de liderar foi usada para implementação de um

governo autoritário que feriu a democracia estabelecida na sua sociedade e trouxe diversas

desvantagens para a população. Dessa forma, esperamos contribuir para o debate acerca de

papel de lideranças carismáticas para o estabelecimento de movimentos autocráticos.

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1. O CONCEITO DE CARISMA EM MAX WEBER

Carisma é uma palavra de origem grega que tem como significado uma graça. Aquilo

que é um dom divino. Porém, contemporaneamente, não é visto como um presente divino,

mas sim como um instrumento que pode ser desenvolvido pelo indivíduo (REES, 2012).

Weber é um dos mais importantes autores que produziu conhecimento acerca do

carisma, trazendo uma abordagem macro para as dominações provindas do carisma. Para

Weber, é importante considerar a dominação carismática para compreender os fenômenos

que levam um indivíduo a se tornar líder. Em sua perspectiva, para que o carisma seja

exercido o relacionamento é um ponto crucial. As relações entre o indivíduo carismático –

líder – e seus seguidores, representadas como relações de poder, evidenciam a existência do

carisma. O resultado de uma sociedade liderada por um líder carismático pode ser um

movimento revolucionário, pelo fato das ideias expostas pelo líder serem tomadas como uma

inovação social e verídica (FILHO, 2014).

A liderança carismática é um conceito de autoridade, e um dos tipos de dominação

que foram teorizados pelo sociólogo alemão Max Weber. Ela envolve um tipo de

organização ou liderança em que o poder se concentra e advém do carisma do líder. O que

remete aos outros dois tipos de autoridade, e conceitos criados por Weber: a autoridade legal

e autoridade tradicional. Cada uma dessas três formulações faz parte da classificação de

autoridade tripartida de Weber (WEBER, 1999).

A dominação legal, também conhecida como autoridade racional-legal, ocorre

quando um indivíduo ou instituição exerce poder em virtude do cargo legal que detém. É a

autoridade que exige obediência ao escritório, e não ao titular do cargo; uma vez que saem

do escritório, sua autoridade racional-legal é perdida. Como característica principal dessa

forma de autoridade têm-se as ditas regras criadas racionalmente. Constituições, documentos

escritos, escritórios estabelecidos e eleições regulares são frequentemente associados a

sistemas políticos legal-racionais modernos (WEBER, 1999).

Já na dominação tradicional, a legitimidade da autoridade vem da tradição ou do

costume; nesse tipo de dominação, os direitos tradicionais de um indivíduo ou grupo

poderoso são aceitos pelo subordinado. O indivíduo dominante poderia ser um líder de clã,

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o mais velho, o chefe de uma família, uma figura patriarcal ou uma elite dominante.

Historicamente, este tem sido o tipo mais comum de governo (WEBER, 1999).

De acordo com Weber (1999), a autoridade carismática origina-se do encanto pessoal

ou da força de uma personalidade individual, o que faz com que a população obedeça o líder

carismático não por uma tradição ou devido a leis, mas sim por acreditarem no indivíduo.

Assim, o poder do líder não importa realmente, contanto que seus seguidores acreditem que

ele exista.

Ao se pesquisar sobre o conceito de dominação, é possível perceber o constante

debate e preocupação de autores e estudiosos ao falar sobre dominação e poder. Ambos os

conceitos podem se misturar, e serem facilmente confundidos entre si, por isso, é importante

que, tracemos, e identifiquemos uma linha diante de ambos conceitos, por mais tênue que

seja. Uma forma mais simplista de explicar esses conceitos, é que a dominação não é

imposta, acontece de forma espontânea e natural; é uma vontade exteriorizada pelo indivíduo

perante o dominante, e acontece de maneira ‘voluntária’, e inquestionável; diferente do poder

(BARRETO, 2014).

Isso acontece devido às figuras carismáticas, e, como elas se constituem. Esses

líderes, e/ou chefes surgem em momentos específicos da história. É possível traçar uma

correlação entre como estava a situação socioeconômica do Estado, ou da sociedade civil

em questão da análise, e o simbolismo que essas figuras carregam ao partir de períodos

críticos, e essenciais para a sobrevivência humana (EBERTZ 1987; SCHLUCHTER, 1988

apud BACH, 2011). Essas personalidades são figuras que espelham a crença, a esperança.

Figuras essas que vêm em forma da representação do desespero humano daquele momento

vivido, como messias para sua busca de salvação, e resolução de problemas. A saída de todas

as dificuldades.

Como será o caso apresentado no presente artigo, onde será falado sobre Adolf Hitler,

em sua ascensão para o 3º Reich, e forte liderança durante a disseminação em massa da

filosofia Nazista na Alemanha Imperial. É também tido como ciente o fator determinante

para o nascimento de um desses símbolos mergulhados em dominação carismática. Como

dito em (Schluchter, 1988 apud Bach, 2011), a conversão não surge de forma lenta, mas,

sim, advém de uma transformação extrema diante dos ideais expressos pelo sujeito

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carismático; tal qual, a vivência de Hitler durante a Primeira Guerra, e suas consequências

aplicadas por outras nações, que serão tratadas mais à frente no presente trabalho.

O conceito de carisma é usado de modo inteiramente isento valorativamente. Sabe-

se que o “dom do carisma” era também aplicado aos xamãs, numa era mais arcaica, e aos

profetas numa era mais contemporânea e que são situações que se repetem sendo o carisma

religioso como a forma mais pura. O carisma se revela como não burocrático mas algo que

conhece suas determinações e seus limites, conforme conclui Weber:

O portador do carisma assume as tarefas que considera adequadas e exige

obediência e adesão em virtude de sua missão. Se as encontra, ou não, depende do

êxito. Se aqueles aos quais ele se sente enviado não reconhecem sua missão, sua

exigência fracassa. Se o reconhecem, é o senhor deles enquanto sabe manter seu

reconhecimento mediante "provas". Mas, neste caso, não deduz seu "direito" da

vontade deles, à maneira de uma eleição; ao contrário, o reconhecimento do

carismaticamente qualificado é o dever daqueles aos quais se dirige sua missão

(WEBER, 1999, p. 324).

Segundo Weber (1999) o carisma é, de forma natural, singular e determinado por

fatores internos, assim sendo, a missão carismática sempre se dirige a um grupo de pessoas

que geralmente compartilham da mesma etnia, do mesmo viés político, profissional ou

outros limites inerentes aos locais aos quais essas pessoas estão inseridas. O carisma também

rompe com a burocracia que emana da economia monetária, pois apesar de estar inserido

nesse mundo acaba não vivendo dele e por não ser o carisma uma regra ele rejeita a chamada

economia patrimonial, conforme Weber:

Em sua forma "pura", o carisma jamais é para seus portadores uma fonte de ganhos

privados, no sentido da exploração econômica realizada como troca de certas

prestações e contraprestações, nem na forma de uma remuneração de serviços, e

ele também não conhece nenhuma ordem tributária para satisfazer as necessidades

objetivas de sua missão (WEBER, 1999, p. 325).

Assim sendo, um líder carismático não necessita de bens materiais, já que seu

carisma faz com que este possua patrocinadores e obtenha destes doações, o que não quer

dizer que um líder carismático não possua bens, ainda que essa não seria a regra. Por vezes,

o portador do carisma pode se sentir sem força, o que demonstra o fracasso de sua missão e

é algo que deve ser exposto publicamente porque o carisma trabalha com provas concretas

daquilo que, segundo Weber, foi dado por Deus para que o fizesse, de forma que fosse

necessário comprovar com atos a sua missão. Embora o carisma não ignore os poderes

burocráticos, entende-se que a dominação carismática genuína não reconhece jurisdições

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formais ou contratos, suas leis viriam diretamente da graça celestial, por isso, o carisma seria

algo revolucionário, já que rompe com normas tradicionais e racionais. Weber conclui:

O poder do carisma, ao contrário, fundamenta-se na fé em revelações e heróis, na

convicção emocional da importância e do valor de uma manifestação de natureza

religiosa, ética, artística, científica, política ou de outra qualquer, no heroísmo da

ascese, da guerra da sabedoria judicial, do dom mágico ou de outro tipo. Esta fé

revoluciona os homens "de dentro para fora" e procura transformar as coisas e as

ordens segundo seu querer revolucionário (WEBER, 1999, p. 327).

Observadas essas questões, segundo Max Weber o comunismo é um portador

histórico do carisma dado que este também rejeita a “posse” do que é material e é sustentado

pelo “amor” que se tem aos seus líderes conduzindo seus discípulos a uma entrega quase

incondicional, deixando-os alheios ao mundo, isto é, aos bens e propriedade o que

conservaria o comunismo e garantiria a natureza pura do carisma.

Weber também traz perspectivas quanto ao pós estabelecimento de um governo com

um líder carismático, vinculada à percepção de que é de extrema importância que o chefe

continue a fazer atividades, ou feitos históricos para efetuar com que seus seguidores

continuem fiéis às suas crenças, e para que prove para os mesmos, que “se por muito tempo

não há provas do carisma, se o agraciado carismático parece abandonado por seu Deus ou

sua força mágica ou heróica, se lhe falha o sucesso de modo permanente e, sobretudo, se sua

liderança não traz nenhum bem-estar aos dominados, então há a possibilidade de desvanecer

sua autoridade carismática” (WEBER, 1991, p. 159 apud BACH 2011, p. 59).

A dominação carismática é instável, principalmente quando seus dominados e

discípulos tentam transformá-la em verdade única, que transita entre épocas e é incorporada

normalmente à vida cotidiana. Quando a dominação carismática é incorporada ao cotidiano,

os discípulos se tornam autoridades burocráticas como funcionários do Estado, de partidos,

empregados em geral e os carismaticamente dominados tornam-se uma espécie de súditos

assumindo a função de “soldados treinados” ou cidadãos fiéis às leis, tornando o carisma um

dogma, um conteúdo de tradições composto por regras, o que seria, segundo Weber, o

extremo oposto do carisma puro.

Observa-se, a partir disso, a forma como pode um líder carismático cair, deixando

seus discípulos à espera de um sucessor que, talvez, pode não vir de forma natural e/ou

espontânea, tendo a ser escolhido de forma democrática e é nesse ponto que se compreende

que a democracia não é alheia ao carisma mas é um conceito burocrático quando incorporada

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o plebiscito, para a escolha de um novo líder, rompendo com o chamado por Weber de

“carisma puro” voltando-se à tradição das normas e pondo em cheque a questão de que os

dominados podem escolher seu líder sem um processo eleitoral o que confere os governos

autoritários, por exemplo.

Frente ao desenvolvimento, o destino do carisma como conceito weberiano, é recuar

apesar de que toda grande crise pode fazer nascer um líder carismático conforme observado

por Weber: “Se o estado de guerra se torna crônico e o desenvolvimento técnico da condução

da guerra exige o exercício e recrutamento sistemático dos guerreiros, o líder militar

transforma-se em rei” (WEBER, 1999, p. 343).

Nesse ponto, o conceito de hereditariedade do carisma também não pode ser

descartado, num período de crise dado que caso não se levante outro líder “a casa agraciada

se levanta poderosamente por cima de todas as demais” (WEBER, 1999, p. 344) e os

discípulos passam a ouvir e seguir a partir deste acontecimento distanciando-se do que é

patrimonial e burocrático.

O carisma é representado por dois vieses que o definem, que são os princípios da

legitimidade e o organizacional. O caráter carismático e o poder heróico, que é, comumente,

abordado pelos estudiosos da dominação carismática, está situado no âmbito da legitimidade

(WEBER, 2013 apud SELL, 2018). Submetida à dominação carismática há a obediência

daqueles que veneram aquela instituição que apresenta caráter carismático. A confiança no

heroísmo e validade daquele que exerce uma dominação carismática, vem sempre junto ao

exercício do carisma (WEBER, 2013 apud SELL, 2018).

O carisma pode ser reconhecido tanto no viés social quanto político. A análise de

Weber acerca do carisma contempla planos de caráter micro, meso e macro, que

correspondem às relações sociais, organização social e estruturas sociais. Nas relações

sociais o carisma contempla a relação indivíduo para indivíduo, sendo criado um vínculo de

poder e sujeição daquele que exerce um caráter carismático sobre aquele que é o seu

submetido; na organização social o carisma se revela na fundação de comunidades por meio

do exercício do carisma; e na estrutura social o carisma é institucionalizado.

A dominação carismática pode ser identificada pelas seis características que a

compõem que são: i) um indivíduo com qualidades específicas e reconhecidas por seus

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adeptos por meio de provas, ii) o dever de reconhecer suas pretensões de legitimidade

(autoridade carismática), iii) necessidade de comprovação, iv) organização social de caráter

comunitário-emocional, v) alheamento de preocupações econômicas e vi) caráter

revolucionário. Estes não podem ser separados do carácter carismático, pois eles que

constituem a forma de dominação.

No que se refere à revolução o carisma é visto de duas formas: o caráter carismático

da revolução e o nível revolucionário do carisma. O carisma traz consigo uma revolução

interior que é elucidada por Weber que diz: “é o poder revolucionário e criador da história”

(WEBER, 2013, pp. 468, 481-484, 491 e 737 apud SELL, 2018, p. 11) . Na visão de Weber,

o carisma revolucionário é um fenômeno de consciência, no qual a mudança ocorre por meio

de fatores internos e conscientes: “a revolução carismática é sempre uma metanóia, uma

conversão” (WEBER, 2005, p. 482 apud SELL, 2018. p. 11). Weber usa o conceito de

metanóia para explicar os fenômenos sociais e revolucionários, crendo que a mudança ocorre

primeiro no indivíduo, que, com seu caráter carismático, influenciou os demais para seguir

aquilo que era do seu desejo: “revoluciona os homens de dentro para fora e procura

transformar as coisas e os homens segundo seu querer revolucionário” (WEBER, 2005, p.

481 apud SELL, 2018. p. 11).

Para Weber não há revolução sem a referência do revolucionário. Aquele que teve a

ideia, instigou os demais, tornou-os seus liderados e os influenciou a tomar decisões de

acordo com a sua linha de pensamento.

Toda revolução carismática é, em primeiro lugar, uma revolução interior dos

indivíduos e, a partir deles, uma revolução da ordem social. Afinal, o que seria

uma revolução sem os revolucionários? Esse raciocínio, presente nos textos

antigos de Economia e sociedade, em nada mudou na fase madura de Weber

(SELL, 2018, p.12).

Uma vez que a carisma pôde ser explicado e entendido é que podemos teorizar o

nazismo bem como iniciarmos a construção da resposta para os nosso objetivos de pesquisa.

Contudo, para conectarmos a teoria weberiana e a figura de Hitler dentro do nazismo se faz

necessário entendermos como se encontrava a Alemanha, de forma política e econômica,

para que compreendamos a ascensão do Führer4 e como suas ideias foram aceitas de tão

4 Palavra em alemão que significa “líder”.

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bom grado. Assim, a parte seguinte, que trata do contexto histórico, apresentará como a

Alemanha chegou ao ponto de necessitar de um “salvador” e a chegada de Hitler ao poder.

2. ASCENSÃO DO NAZISMO NA ALEMANHA

A Alemanha passou por momentos gloriosos como o império estabelecido por

Bismarck no século XIX e a época de glória no período que antecedeu a Primeira Guerra

Mundial com conquistas territoriais, econômicas e políticas, e, logo depois da Primeira

Guerra se encontrava diante das amarras do Tratado de Versalhes. Alfred Rosenberg (1978)

escreve sobre a importância do passado mítico para uma reviravolta na história da Alemanha.

O jornalista alemão acreditava que o passado glorioso de uma nação poderia servir de

referência para a geração presente reformular a história (STANLEY, 2018). De acordo com

Rosenberg “A compreensão e o respeito por nosso próprio passado mitológico e nossa

própria história serão a primeira condição para ancorar mais firmemente a próxima geração

no solo da pátria original da Europa” (ROSENBERG, 1978 apud STANLEY, 2018, p. 8).

Antes da Primeira Guerra Mundial e da ascensão do movimento nazista, a Alemanha

passou por momentos em séculos distintos que a colocou em posição de poder sobre os

demais países ocidentais e orientais. No século XIX a política alemã orientada por Otto von

Bismarck trouxe para a Alemanha uma revolução política conservadora que marcou a

geração alemã até as décadas atuais. O rude e violento Bismarck não se submetia a nenhuma

amarra moral no tocante à aplicação de leis e ações na Alemanha (EVANS, 2010).

“A arte do possível” idealizada por Bismarck era a forma de gerenciar o Estado na

busca de entender o que ocorria no cenário internacional na intenção de tirar o máximo de

vantagem para si de maneira inconsequente. Após inúmeros desdobramentos políticos como

o fim, dado por Napoleão em 1806, do Sacro Império Romano da Nação Germânica

instituído por Carlos Magno no ano de 800 – conhecido como o “Reich” – os países de

origem germânicas passaram a ter uma independência cada vez maior, assim tornando o

sonho alemão de reunificação mais distante. Após o enfraquecimento da França de Napoleão

após a derrota de Waterloo no ano de 1815 , foi levantada pelos intelectuais alemães a

hipótese de reunificação dos territórios germânicos em um só Estado, porém a Áustria e

Prússia resistiram à mudança e não se submeteram à reformulada constituição apresentada

no ano de 1848, resultando na prisão dos líderes dessa revolução. Todavia não demorou

muito para que a vitória da unificação fosse conquistada. Em 1862 Bismarck foi nomeado

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líder do Estado alemão e não demorou muito para que ele buscasse o seu propósito para o

Estado: a unificação (EVANS, 2010).

No intuito de conseguir a administração de alguns países vizinhos a Alemanha de

Bismarck travou batalhas com Estados vizinhos com vitória e à Prússia saindo derrotado.

Então Bismarck tomou a iniciativa de criar a Confederação Germânica do Norte, sem os

austríacos e alguns dos seus aliados, resultando no interesse dos liberais prussianos em

adentrar neste grupo que apresentava a ideia do restabelecimento de um Estado-Nação

germânico. Então foi levantada a ideia de “Segundo Reich”. Não mais àquele marcado pela

derrota pelos franceses, mas pela vitória. O modelo de governo que era uma visão de Deus

na terra. O equivocamente, adorado Reich com sua ideia de “Um povo, um líder, um Reich”

que viera se tornar slogan Nazista no terceiro Reich (EVANS, 2010). O recomeço da busca

do terceiro Reich e a criação do Partido Nazista se deu após o enfraquecimento da República

de Weimar que resultou no embate entre comunistas e nazistas, direita contra esquerda.

É difícil falarmos sobre a Segunda Guerra Mundial, e também, pouco provável, que

se discuta acerca de, sem entrar em rápidos e importantes acontecimentos entre o período

pré, e pós a Primeira Grande Guerra (1914-1918).

O ínterim referente à Primeira Guerra Mundial, é sempre relacionado ao assassinato

do arquiduque, Franz Ferdinand, o sucessor do trono monárquico da Bósnia; por Gavrilo

Princip, um estudante bósnio ufanista; esse delito, que fora planejado pelo grupo terrorista

sérvio “Mão Negra”. Após o atentado, a Áustria enxergou um momento oportuno para

invadir a Sérvia, mas, estava sujeita a participação ativa alemã, levando em consideração

que os líderes tinham ciência de que atacando a Sérvia, a Rússia iria intervir (SARAIVA,

2008).

Sendo assim, foi o que aconteceu. Após a Áustria obter confirmação e apoio da

Alemanha, a guerra é declarada à Sérvia, e posteriormente, a Rússia, rejeitando a intimação

alemã, responde. Era o início de um episódio jamais visto, e vivido no mundo ocidental.

Com o apoio de todos os setores da sociedade, com o pensamento de que seria breve, e

gloriosa (ARARIPE, 2006).

Com isso, dá-se início ao que seria a Primeira Guerra Mundial, essa que, alcançaria

proporções de fato, mundiais, em 1917. Até então, limitava-se entre as consequências dos

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atos de Otto von Bismarck, como a criação da Liga dos Três Imperadores, e a reformulação

de uma aliança defensiva entre Alemanha e Áustria, que eventualmente, após a ingressão

da Itália, tornaria-se a Tríplice Aliança. E, gerada por acordos entre os Estados europeus, a

Tríplice Entente, que ‘nasce’ advinda da participação diplomática ativa da França, com o

Tratado de Aliança Franco-Russo, e a Entente Cordiale (ARARIPE, 2006).

O fato é que também o europeu comum já desfrutava de melhores condições de

vida e tinha esperanças de dias ainda melhores, trazidos pela Revolução Industrial

e pelas transformações sociais. Mas havia acontecimentos a apontar em sentido

contrário e que deram lugar ao atentado de Sarajevo, o estopim da guerra

(ARARIPE, 2006 p.320).

Além disso, a Grande Guerra foi responsável por diversos avanços tanto

tecnológicos, quanto para a indústria bélica; como o motor a explosão e motor elétrico,

armamentos automáticos e mais leves, gases de combate, lança chamas e tanques

(ARARIPE, 2006).

A Grande Guerra foi travada no ambiente resultante do salto tecnológico da

Revolução Industrial que, da Grã-Bretanha, se irradiou pela Europa continental e

pelos Estados Unidos, e os meios e os processos de combate de 1914-18 refletem

necessariamente esse fato. Tais reflexos são tantos e tão profundos que somente

é possível citar alguns. A estrada de ferro e a telegrafia sem fio (TFS), presentes

na Guerra de Secessão e na Guerra Franco-Prussiana, são extensivamente

utilizadas na Grande Guerra, permitindo transportar, controlar e abastecer grandes

massas de homens e de materiais (ARARIPE, 2006 p.326).

A grande conclusão, da Primeira Guerra Mundial, se dá após a entrada dos Estados

Unidos, em 1917, e o pedido de cessar-fogo da Turquia, Áustria-Hungria e Bulgária, em

1918, seguido pelo assentimento da Alemanha ao cessar-fogo, saindo como derrotada; e as

consequências disso são devastadoras.

No Tratado de Versalhes, a Alemanha era colocada como principal culpada pela

irrupção da Grande Guerra, e isso leva à “Guerra Mundial dos documentos”

(SCHWERTFEGER; HILDEBRAND, 1989 apud SARAIVA) em, p. 124, sendo essa, a

tentativa extrema dos Estados em culpabilizar-se entre si. Uma guerra pela diplomacia, e

travada pelas Relações Exteriores, onde Alemanha tentaria mostrar que não foi o Estado

responsável, e sim, a Rússia, e apenas agiu para defender-se, e os demais Estados europeus

elaboraram documentos similares, como a Inglaterra, Iugoslávia, Áustria, e a própria Rússia

(SARAIVA, 2007). Como relatado em Saraiva, o historiador francês, Renouvin e,

Kantororowicz:

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[Herman] Kantororowicz argumenta que todos os Estados colocaram, em julho de

1914, a paz em perigo, mas sem desejar uma guerra mundial. A responsabilidade

das potências da Tríplice Aliança teria sido maior do que a das outras, umas vez

que a Áustria-Hungria teria iniciado deliberadamente a guerra contra a sérvia, e a

Alemanha estava disposta a arriscar uma guerra continental contra a Rússia. A

interpretação de [Pierre] Renouvin, a Alemanha aceitou a possibilidade de uma

guerra local para mudar a situação nos Bálcãs (SARAIVA, 2008 p. 124).

Após a catástrofe causada pela guerra, dava-se início ao que esperava ser um período

próspero no Sistema Internacional; com a criação da Liga das Nações, com o intuito de

buscar caminhos mais diplomáticos, por negociações ao invés da guerra como resposta a

qual o presidente norte americano Woodrow Wilson esteve por trás, assim como os “Catorze

Pontos de Wilson”, que iria ditar como seria à política exterior a partir daquele momento em

diante (ARARIPE, 2008).

A questão é que, Georges Clemenceau tinha planos distintos do idealizador norte

americano; o francês, que havia lutado na guerra Franco-Prussiana, a qual a França sai como

derrotada, “O Tigre”; que traz sentimentos de revanchismo, inflados pelo ardor nacionalista,

e a repulsa contra a Alemanha, tido como inimiga (ARARIPE, 2008).

“O Tigre” considerava a Alemanha o “inimigo hereditário, responsável pela guerra”.

Devia ser definitivamente neutralizada, colocada em situação de nunca mais constituir

ameaça para a França. Responsáveis pelo conflito, os alemães deveriam pagar pesadas

reparações da guerra. A França teve de volta a Alsácia-Lorena e ganhou da Alemanha as

colônias do Togo e de Camarões, na África. Mas a guerra devastou-lhe o território e

rebaixou-a à categoria de potência de segunda classe (ARARIPE, 2008).

Com o fim da Primeira Guerra Mundial em 1918, com a Alemanha destruída

economicamente refletindo no fechamento e paralisação de fábricas, e politicamente no

quesito de segurança, com as ruas cheias de soldados e civis estimulados pela revolução.

Este era o cenário na Alemanha após o país desistir de derrotar a aliança formada pela França,

Grã-Bretanha, Itália e EUA (TOTA, 2009).

Mesmo com a paralisação econômica e a tomada das ruas alemãs pelos exércitos

adversários, o país ainda teve o seu território diminuído após o Tratado de Versalhes em

1919 com a separação entre dezenas de províncias.

O mapa da Europa havia mudado. Pelos acordos firmados em 1919, surgiram

novos países: Polônia, Tchecoslováquia, Áustria, Hungria, países bálticos. Mas o

centro determinante da política européia era realmente a Alemanha. Com a criação

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da Tchecoslováquia, por exemplo, a Alemanha perdeu parte de seu território e

mais de 3 milhões de habitantes. O mesmo se deu com a Polônia, que se formou

dividindo o território alemão pelo famoso “corredor polonês”. Os países vitoriosos

encontraram-se e firmaram o célebre Tratado de Versalhes, que foi imposto à

Alemanha. Pelo tratado, a Alemanha foi considerada a grande responsável pela

guerra (TOTA, 2009, p.357).

No entanto, a Alemanha continuava insatisfeita ainda que aparentasse que após a

Primeira Guerra Mundial haveria paz. Mesmo com muitos tratados assinados, ratificações e

alianças de paz haviam tensões e um ambiente de conflito entre a Alemanha e alguns países

que foi aflorada em meados da década de 1920 (TOTA, 2009).

Ainda que a Alemanha estivesse sendo submetida ao Tratado de Versalhes sofrendo

inúmeras limitações, estas barreiras que amarravam o País não durariam por muito tempo.

Stalin, articulista da União Soviética liderada por Trotski, interpretava que o Tratado de

Versalhes significava um alívio nas tensões na Europa pelo fato de acreditar que a Alemanha

não se submeteria às medidas exigidas a Alemanha pelo tratado. Pelo fato da URSS ser

afastada do centro europeu e a Alemanha ter perdido créditos com os países do continente,

os países podiam ser caracterizados como marginalizados, fator que influenciou no

firmamento de acordos secretos entre os dois países na intenção de armar e treinar unidades

do exército alemão no território soviético, já que a Alemanha tinha perdido a direito de

rearmamento pelo Tratado de Versalhes (TOTA, 2009).

Em paralelo a isso, temos a ascensão do Partido Nacional Socialista dos

Trabalhadores Alemães. Fundado em Munique o então Partido era um dos pequenos partidos

nacionalistas que nasceram no período em que a Alemanha se via devastada e a procura de

algo ou alguém que pudesse tirá-la de tal situação. Neste mesmo período, Hitler encontrava-

se na Alemanha quando era um jovem cabo. O livro Mein Kampf, que conta a vida de Hitler,

mostra como, apesar de ter nascido na Áustria e vivido em Linz e Viena, ele era profundo

admirador do império alemão e por isso, acabou se alistando para o exército da Alemanha

servindo na linha da frente na Primeira Guerra Mundial.

Não obstante, o livro mostra como Hitler desenvolve o anti-semitismo e os ideais de

pureza de raça além de mostrá-lo como um dos insatisfeitos com o Tratado de Versalhes. A

partir da disseminação do livro, Hitler conquista seguidores de seus ideais e logo se torna

líder do então partido saindo do exército para se dedicar exclusivamente à vida política e é

justo nesse momento em que, liderados por Hitler, é realizada uma revolta em oposição ao

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Tratado de Versalhes, algo que acaba levando-o a prisão onde teria escrito Mein Kampf

(PEROSA, 2009).

Quando saído da prisão, Hitler inicia aquilo que seria mais tarde conhecida como

campanha Nazista, pela qual defendia que a Alemanha poderia se reerguer e tornar-se uma

nação soberana. Assim, o nazismo se caracteriza como sendo um movimento que pregava

fortemente a concepção de nacionalismo, que perpetuava o ódio aos judeus, negros e

homossexuais e a tudo que pudesse desvirtuar aquilo que era conhecido como raça pura

alemã (FAUSTO, 1998). Em termos políticos, o nazismo poderia ser caracterizado como um

partido de direita conservador, sendo o mais distante possível de uma ideologia de esquerda

e até do liberalismo pelo fato do líder, Hitler, acreditar que o judaísmo se enquadrava em

tais ideologias. O partido foi idealizado por Hitler por volta de 1920 , no intuito de reinstalar

na Alemanha um regime autoritário para reconquistar, violentamente, o território amplo e a

reunificação das províncias germânicas (EVANS, 2010).

Após inúmeros entraves eleitorais o nazismo ascendeu quando Hitler foi nomeado

chanceler pelo então governante Paul Von Hindenburg. O partido Nazista passou a ter apoio

social daqueles que apostaram no governo de direita para o restabelecimento da economia

alemã e o retorno do poder ao Estado. Não demorou para que Hitler expusesse o seu poderio

militar nas ruas, ao caminhar com os milhares de soldados pelas ruas germânicas no intuito

de atrair fiéis cada vez mais (EVANS, 2010).

Via-se no movimento uma forma de retomar a Alemanha vitoriosa e triunfante que

voltaria a dar orgulho aos seus cidadãos e justo nesse momento, Hitler encontraria uma

brecha para consolidar suas ideias de superioridade e, posteriormente, genocidas. É neste

ponto que a propaganda do Partido Nazista foi fundamental para angariar seguidores e

“conquistar” os cidadãos alemães. Como forma de ficar mais próximo do que o povo queria

ouvir, Hitler em muito imitou a propaganda comunista que era considerada pelo próprio

como eficiente ainda que a considerasse falsa e mentirosa embora, na própria propaganda

nazista houvesse muitas falácias (Lenharo, 1986, apud PEROSA, 2019, p. 821).

É notável o esforço nazista para se apresentar como uma vítima impotente dos

ataques de seus inimigos e que forçosamente e bravamente continuava na luta em nome da

causa suprema do nacional-socialismo e da nação alemã. A agressividade e as artimanhas da

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propaganda nazistas são múltiplas e patentes, afinal os nazistas não tinham nenhum pudor

em mentir para atingirem seus objetivos (LENHARO, 1986).

Hitler usou de inúmeras estratégias para atrair o maior número de pessoas possível

para segui-lo. Duas das estratégias foram a inclusão do termo “socialista” no nome do seu

partido – usada para distinguir dos demais partidos e ideologias da época - para atrair o apoio

dos trabalhadores alemães – público que o líder confiava a reestruturação do Estado – e o

uso do vermelho em toda comunicação visual do partido pelo fato de ser uma cor viva e de

fácil notoriedade (EVANS, 2010). É observado por alguns autores que o uso o termo

“socialista” no partido de Hitler não evidencia que o líder fosse socialista, pelo contrário,

afirmam que Hitler nunca foi socialista, porém um autoritário usando do sistema capitalista

como um apoio para o Estado por meio da orientação econômica sujeita aos interesses do

Estado. Ainda que o termo “Nacionalismo” acompanhasse o “socialismo” no nome do

partido, Hitler era de extrema direita e chamava tudo ligado a esquerda de marxismo. Porém,

a identificação “socialista” no nome do partido atraía cada vez mais seguidores para o seu

movimento, sendo esse o intuito do líder do Terceiro Reich: enfraquecer o marxismo

(EVANS, 2010).

Para o objetivo de alcançar cada vez mais pessoas, Hitler usou os comícios que fazia

para expressar sua oratória e alcançar o povo alemão através das suas frustrações. Em adição,

Hitler e seu partido nazista se usava de desfiles, estandartes que podiam ser vistos facilmente

a noite e até mesmo filmes chamando a atenção do povo além de fazer grandes divulgações

de onde e quando seus comícios ocorreriam. Dessa forma, a propaganda alcançava as classes

mais baixas como também as mais altas, apelando até para o lado psicológico do povo

alemão, de forma que pudessem ver em Hitler alguém que poderia tornar seus anseios reais

não importava a que classe pertencesse , conforme dito por Edson José Perosa Junior:

Os nazistas astutamente souberam captar esses dispositivos e, através da

propaganda, apelavam para as frustrações, desesperanças e medos de muitos

alemães. Para entender o sucesso da propaganda nazista e do partido nazista é

preciso compreender o estado psicológico em que se encontravam os alemães

daquele período e como os nazistas souberam manipulá-los (PEROSA, 2009, p.

824).

Não obstante, questões como patriarcalismo também cabem ser citadas para entender

o pensamento nazista e como este se comportava dado que, tal conceito se enquadra nas

características de uma nação fascista. O líder de pensamento fascista busca restabelecer a

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figura da família de cultura patriarcal no modelo governamental de uma nação. Assim como

o líder de uma família era o homem, e nele se concentrava toda a autoridade do lar, o líder

fascista tende a buscar a concentração de poder em sua figura. A ideia de patriarcalismo

concentra a provisão no líder fascista, criando na nação a ideia de necessidade de

representatividade daquele líder (STANLEY, 2018).

Assim, com a liderança de Hitler, a Alemanha passou sair da paralisação que ocorreu,

a partir do ano de 1919, pós Guerra, o início de um processo de mobilização no intuito de

reconstruir a Alemanha e retomar o poder que detinha. Sendo liderado por apenas um

governante, Hitler, a Alemanha recebeu grande apoio das indústrias, esse fator foi de suma

importância para que o país reagisse, juntamente com o rearmamento (TOTA, 2009). Foi

pela ideia de restabelecimento alemão, que Hitler ganhou apoio dessas indústrias fato que

possibilitou algumas mudanças econômicas e estruturais no país como a estabilização da

moeda, paralisação nas taxas de desemprego e construção de obras civis. A doutrina do

partido era desprezar o marxismo em qualquer ideia apresentada. Hitler defendia a

independência de empresas para contrariar a forma comunitária dos meios de produção

defendida pelo marxismo como também defendiam a conquista e o crescimento

independente contrariando a coletivização marxista que buscava a unificação de classes

(SOUSA, 2015). As novas políticas trazidas por Adolf Hitler eram atraentes para os

conglomerados industriais e não demorou muito para que o país se tornasse uma potência

militar por meio do patrocínio das grandes indústrias alemãs. Ainda que, para Hitler, os

alemães fossem uma raça superior comparada aos demais, que buscasse um lugar exclusivo

para que os germânicos se acomodarem e o preparo para a Guerra tivesse aumentando

gradativamente, o discurso que Hitler pregava como líder alemão era a priorização da busca

pela paz na Europa.

Observados todos esses pontos e uma vez que se pôde entender e contextualizar a

história alemã com ênfase na parte da história em que a Alemanha viveu o nazismo e

buscando contemplar os objetivos desta pesquisa, a seção seguinte trará uma análise acerca

do tema proposto no presente artigo. Dessa forma, a luz da contextualização histórica

realizada até então e da teoria Weberiana sobre Carisma, buscaremos compreender se Hitler

foi um líder carismático e como pôde contribuir para a ascensão do nazismo.

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3. RELAÇÃO ENTRE O CARISMA WEBERIANO E A LIDERANÇA DE HITLER

Podemos analisar também, que, a dominação trazida por Hitler, não trata-se de uma

dominação legal, ela não advém apenas de leis e regras, onde os que o seguem o fazem

apenas por sua posição hierárquica e seu poder como chefe de Estado, sua dominação vem

antes de se tornar o líder, antes de assumir esse posto, Adolf Hitler já possuía “o dom divino”,

e graças à isso, que se torna o führer, fazendo com que a sociedade seguisse e aceitasse suas

vontades exercidas, pelo fator de as pessoas, possivelmente, enxergavam sua figura como

abençoado por essa graça celestial, da qual, se faz necessário ter fé no indivíduo carismático,

não necessariamente uma fé religiosa, ou na entidade religiosa da qual concede tais poderes,

mas sim no indivíduo em si, de que ele será capaz de realizar tudo que está sendo prometido,

e que ele irá fazer a Alemanha se reerguer.

Em seus discursos, Hitler sempre propunha que a identidade nacional poderia acabar

com o que ele chamou de “aberrações do espírito humano” em clara referência a tudo de que

não fosse de raça pura, e que, através desse nacionalismo, relações amigas com potências

estrangeiras poderiam ser criadas e que isso independeria dos interesses desses Estados dado

que, era de interesse comum a queda do comunismo, o que geraria apoio do restante do

mundo trazendo consequências políticas e econômicas de proporções inimagináveis para a

então conhecida como Europa Ocidental. Pode-se perceber o poder psicológico de tal

discurso sob uma população que se via com o orgulho ferido e em meio ao caos de um pós

guerra; um discurso que colocava a Alemanha como centro e pregava a união, pelo menos

de tudo que era por Hitler considerado puramente alemão, elevando-a ao status de uma

potência para a qual o mundo olharia com bons olhos como sendo um Estado resoluto e que

se erguia cada vez mais. Dar ao povo uma perspectiva de que a Alemanha poderia sair de

seus problemas e levantar-se como um grande leão fez com que a fé no Führer só

aumentasse.

Outro ponto relevante, se ainda analisarmos os fatores psicológicos que levaram Hitler

ao cume do poder, é o que se pode chamar de “do povo para o povo”. Quando identificamos

na parte de sua história que este era apenas um soldado que lutou na frente da guerra pode-

se concluir que: se saído do povo então como consequência ele entenderia o povo, fator que

pode ser explicado por Vladimir Safatle:

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Uma das características fundamentais da propaganda fascista personalizada é o

conceito de ‘pequeno grande homem’, uma pessoa que sugere, ao mesmo tempo,

onipotência e a ideia de que ele é apenas mais um do povo, um simples, rude e

vigoroso americano, não influenciado por riquezas materiais ou espirituais. [...] o

líder pode adivinhar as necessidades e vontades psicológicas desses suscetíveis à

sua propaganda porque ele se assemelha a eles psicologicamente, e deles se

distingue pela capacidade de expressar sem inibição o que está latente neles, isto

ao invés de encarnar uma superioridade intrínseca (SAFATLE, 2019, p. 50).

Dessa forma, Hitler baseava seus discursos utilizando-se de mecanismos psicológicos,

falando o que o povo queria e precisava ouvir, e se reafirmava quanto à suas ações, fazendo

com que as utilizasse como ferramenta para convencer as pessoas de sua capacidade, para

convertê-las de que, aquilo era capaz apenas graças à seus feitos, que acreditassem nele por

meio dessa fé, que é fundamental para que as pessoas o tenham como “O herói”, “um

messias”, que irá resolver todos os problemas dos quais a Alemanha se encontrava no pós

guerra como: os altos índices de fome, miséria, hiperinflação, fechamento de fábricas além

das inúmeras barreiras que amarravam e limitavam a Alemanha com o Tratado de Versalhes,

já citado no presente artigo, por ser um dos fatores viriam a trazer ascensão de Hitler, dado

que este apareceu com mais força quando integrou movimentos de insatisfeitos com o tratado

gerando sua prisão e depois seu surgimento na política partidária como líder do Partido

Nacional dos Trabalhadores Alemães.

Com isso, acreditava-se que, a salvação viria pelo Führer, e por apenas ele dado que,

se pôde observar através dessa pesquisa que períodos de crises acabam fazendo com que

pessoas “surjam” mostrando soluções que, para a sociedade civil, são aceitáveis e eficazes

fazendo com que se crie um simbolismo sob essas figuras no que diz respeito aos problemas

que podem acontecer em um Estado principalmente falando-se de maneira econômica. Este

poder para resolutividade fez com que Hitler se tornasse o símbolo daquilo que se chamava

de revolução que, segundo Weber (1999), diz que não há revolução sem o indivíduo, a

sociedade tem que se mexer, e para que isso aconteça, há que ter uma faísca, aos indivíduos

aos quais se referencia.

A partir disso, vemos como o carisma de Hitler casa perfeitamente com o conceito de

carisma apresentado por Weber. A sociedade alemã não se via como súditos de Hitler ou

seguidores de suas regras mas, como revolucionários seguidores de um homem que

transformaria o Estado em que viviam em grande, soberano, superior sendo discípulos fiéis

aos ideais e não a um conjunto de regras proposto, o que não os torna autoridades burocratas

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do Estado e insere no cotidiano alemão um carisma movido ao amor o que é caracterizado

como sendo carisma puro (WEBER, 1999).

Assim, como dito por Weber (1999), essa crença no indivíduo é tão pura e é tida como

“amor”, devido à uma admiração, e idolatria tão exacerbada, seja ao indivíduo ou por suas

ações, que faz com que a sociedade se devote em uma entrega total, essa que, faz com que

os sigam, fazendo com que a nação fizesse suas vontades, e o obedecia, pois acreditaria que

com isso o Estado iria se reerguer, por esse único caminho.

Segundo a análise (EBERTZ 1987; SCHLUCHTER , 1988 apud BACH, 2011) acerca

do carisma e o surgimento de figuras carismáticas, um fator crucial para a constituição do

líder carismático é o contexto no qual o líder surge. De acordo com este argumento,

conseguimos analisar que o contexto no surgimento de Hitler o beneficiou para a

constituição do seu carisma. Hitler surgiu num contexto, pós Primeira Grande Guerra onde

o cenário socioeconômico do seu Estado era de reconstrução. Criado por alguns dos países

da Europa, a razão pela qual o Tratado foi proposto foi a atribuição de grande parte do

desastre da Primeira Grande Guerra à Alemanha, ou seja: A Alemanha foi a culpada pela

ocorrência daquela Guerra. A Alemanha estava sujeita às barreiras estipuladas pelo Tratado

de Versalhes ao país o qual estava “controlado” pelo Tratado, limitando-o de avançar em

qualquer setor que representasse algum risco de crescimento territorial, econômico, militar

e tecnológico.

Hitler, um austríaco apaixonado pelo império alemão, surgiu diante nesse contexto,

antes como guerrilheiro na Primeira Guerra, e após como um “revolucionário” alemão. Após

a Repercussão do seu livro “Minha Luta” que continha ideias nacionalistas e de

superioridade da raça alemã, Hitler passou a se tornar evidente entre os alemães que

sonhavam com o reerguimento da Alemanha Imperial. De acordo com este contexto,

conseguimos analisar que o carisma de Hitler foi impulsionado pelo contexto o qual ele

estava inserido. Ao explanar os seus ideais em seu livro, Hitler se tornou a ideia do Messias.

Àquele que viria para “salvar” a Alemanha da suposta humilhação de se sujeitar ao Tratado

de Versalhes. Sua visão nacionalista atraiu parte da população alemã que acreditava no

retorno do auge do Estado, quando este não era fragmentado e continha poder político e

econômico.

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O carisma foi posto em Hitler por ele ser àquele que parte dos alemães nacionalistas

confiavam que poderia mudar o cenário do Estado. O Partido Nacional Socialista, fundado

por Hitler passou a ganhar seguidores pelo fato do seu discurso de oposição ao Tratado de

Versalhes e a ideia expansionista para a Alemanha. O partido de Hitler também expressa o

carisma sendo constituído sobre a figura de Hitler. O simbolismo, os valores e significados

expressos através de nomes, formas e objetos, é um fator que constrói a institucionalização

do carisma. O apego aos símbolos e sua representação para as comunidades reforça a

ascensão do líder carismático que são representados por eles.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo deste trabalho foi realizar uma pesquisa teórica sobre o conceito de

dominação carismática com a finalidade de entender o nazismo, suas fundamentações e seus

ideias. Para tal conceituamos o carisma a luz da teoria de Max Weber tendo como suporte

seu livro Economia e Sociedade, fazendo um recorte sobre a teoria carismática, bem como

analisando os debates em torno de tal conceito a fim de contextualizarmos o que o referido

apresentava como sendo Dominação Carismática. Em adição a isso, contextualizamos a

parte histórica do nazismo apresentando o fim da primeira guerra, a situação política e

econômica da Alemanha nesse período, a chegada de Hitler bem como sua ascensão e

surgimento e consolidação dentro do nazismo. Na parte analítica, se pôde conectar a

perspectiva histórica da Alemanha com a teoria de Carisma de Weber para cumprir com

nosso objetivo de compreender Hitler como líder carismático ou não. Fizemos uso da

pesquisa bibliográfica onde analisamos documentos, artigos e livros para construirmos o

trabalho.

O presente artigo possibilitou um entendimento sobre regimes autoritários, como

“nascem” líderes carismáticos bem como um aprofundamento histórico sobre um

movimento que é muito discutido no campo das relações internacionais. Ao estudar Hitler e

o movimento nazista, podemos perceber sua influência sobre a sociedade, principalmente a

sociedade fragilizada, compreendendo como nasceu um regime autoritário que trouxe

inúmeros males para a sociedade. O movimento nazista deixou profundas sequelas sobretudo

nas famílias que perderam seus entes queridos bem como na perpetuação do preconceito e

da segregação que, em alguns casos, tem motivos nazistas, assim como na perpetuação do

movimento por partes de alguns atualmente. O presentes trabalho contribui para o debate

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sobre o papel que desempenham as lideranças carismáticas, o estabelecimento de

movimentos autoritários bem como a importância de conhecer e reconhecer a história para

não repetir seus erros.

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REVISTA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA EM RELAÇÕES INTERNACIONAIS

Diretrizes para Autores

1. Título: em português e inglês

2. Informações sobre o (s) autor (es): Nome completo, última titulação, filiação

institucional, e-mail, número de telefone, endereço residencial completo. Vale lembrar que

essas informações devem ser enviadas na primeira página do arquivo submetido.

3. Resumo: deverá ser descrito o problema abordado, os métodos utilizados e as principais

conclusões, em português e inglês;

4. Palavras-chave: deverão ser no mínimo três e no máximo cinco, em português e inglês;

5. O artigo deverá ser entregue em formato Word ou compatível;

6. Tamanho da folha: A4;

7. Fonte: Times New Roman;

8. Tamanho de fonte do corpo do texto: 12.

9. Tamanho de fonte de resumos, abstract e notas de rodapé: 10;

10. Espaçamento: 1,5 no corpo do texto e simples no resumo e notas de rodapé;

11. Margens: 3,0 cm esquerda e superior; 2,5 direita e inferior;

12. Os artigos não deverão ultrapassar 60 mil caracteres com espaço, já inclusos as

referências.

13. As resenhas deverão se limitar a 15 mil caracteres.

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14. As notas de pesquisa deverão se limitar a 30 mil caracteres com espaço, já inclusos as

referências.

15. Citação direta de até três linhas deve vir no corpo do texto e com aspas

16. Citação direta com mais de três linhas deve vir destacada no corpo do texto com recuo

de 4cm, tamanho de fonte 10 e espaçamento simples.

17. Menções dos autores no corpo do texto devem seguir a seguinte forma: (Autor, Ano)

ou (Autor, Ano: Pg.). Esta última sendo obrigatória para citações diretas;

18. Referências devem vir apenas no final do artigo e em ordem alfabética;

19. As referências devem seguir as seguintes normas (padrão Lua Nova):

Livro de um autor:

GOMES, L. G. F. F. 1998. Novela e sociedade no Brasil. 3. ed. Niterói: Cortez.

STRAUSS, L. 1954. Droit naturel et histoire. Paris: Plon.

Livro de dois autores ou organizadores:

COSTA, P.; ZOLO, D. (orgs.). 2006. O Estado de Direito: história, teoria, crítica. São

Paulo: Martins Fontes.

Livro com mais de três autores:

Bourdieu, P. et al. 1999. The weight of the world. Cambridge: Polity Press.

Capítulo de livro ou artigo de coletânea:

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BASSUL, J. R. 2010. “Estatuto da cidade: a construção de uma lei”. In: CARVALHO, C.

S.; ROSSBACH, A. (orgs.). O estatuto da cidade. São Paulo: Ministério das Cidades/

Aliança das Cidades, 2010, pp. 71-90.

Artigo em periódico:

FERNANDES, E. 2007. “Constructing the ‘right to the city’ in Brazil”. Social & Legal

Studies, v. 16, n. 2, pp. 201-19.

Trabalho apresentado em congresso:

BARREIRA, K. E. Sakalauska; BELANGERO, J. S. 2013. Suprema Corte norte-

americana, Comissão Interamericana de Direitos Humanos e Corte Internacional de Justiça

no caso Medellín. Paper apresentado no IV Encontro Nacional da Associação Brasileira de

Relações Internacionais, Belo Horizonte, 22 a 26 de julho.

Publicação em meio eletrônico:

BRASIL. Ministério da Defesa. 2008. Estratégia nacional de defesa. Disponível em:

<www.defesa.gov.br/projetosweb/estratégia/arquivos/estrategia_defesa_nacional_portugue

s.pdf>. Acesso em: 23 set. 2013.

SANTOS, B. S. 2012. “Oitava carta às esquerdas: as últimas trincheiras”. Carta Maior,

ago. Disponível em:

<http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5737>. Acesso

em: 10 jan. 2013.