deficiência visual
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A DEFICIÊNCIA VISUAL
Objetivos Gerais
Este trabalho tem como objetivo conceituar a deficiência visual, bem como demonstrar seu
processo histórico na humanidade e estatísticas sociais que envolvem a sociedade atualmente.
Também é de suma importância a informação sobre o processo de ensino aprendizagem no
âmbito escolar, suas particularidades e cuidados necessários para que a criança deficiente visual
tenha as mesmas condições de desenvolvimento que uma criança vidente.
Além disso, abordaremos a legislação para deficientes, especificamente a lei que resguarda os
deficientes visuais.
O que é deficiência visual?
Os termos déficit visual visão subnormal, baixa visão, visão residual e outros, referem-se a
uma redução da acuidade visual central ou a uma perda subtotal do campo visual, devida a um
processo patológico ocular ou cerebral (Faye, 1972).
Assim, a criança com déficit visual é entendida como aquela que sofre de uma alteração
permanente nos olhos ou nas vias de condução do impulso visual. Isto causa uma diminuição da
capacidade de visão que constitui um obstáculo para o seu desenvolvimento normal, necessitando
por isso de uma atenção particular para as suas necessidades especiais.
A OMS considera que existe deficiência visual quando a acuidade Visual de ambos os olhos,
com correção, é igual a 0,3. A maioria dos países considera cegueira quando a acuidade visual, com
correção, é igual ou inferior a 0,1, ou se existe uma redução do campo visual inferior a dez graus.
Abaixo deste nível, muitos «cegos» possuem resíduos visuais que lhes permitem, por exemplo, ler e
escrever, geralmente com tinta.
Para situar o leitor, estabeleceremos dentro da deficiência visual dois grandes grupos,
atendendo a definições funcionais. Um deles, aquele que engloba indivíduos com deficiência visual,
de visão subnormal, de baixa visão, com amblíope (embora não na sua definição oftalmológica), etc.,
compreende as pessoas que, apesar de uma redução considerável da sua capacidade visual, possuem
resíduos que possibilitam ler e escrever com tinta, de forma habitual e, inclusive, obter êxito total em
determinadas tarefas da vida. O segundo, o que engloba os cegos ou invisuais, compreende as
pessoas que não têm nenhum resíduo visual ou que, tendo-o, apenas lhe possibilita orientar-se em
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direção à luz, perceber volumes, cores e ler grandes títulos, mas não permite o uso habitual da
leitura/escrita, mesmo a negro.
Caracterização
É considerado cego aquele que apresenta desde ausência total de visão até a perda da
percepção luminosa. Na medicina duas escalas oftalmológicas estabelecem a existência de dois
grupamentos de deficientes visuais: acuidade visual (ou seja, aquilo que se enxerga a determinada
distância) e campo visual (a amplitude da área alcançada pela visão).
O termo cegueira não significa, necessariamente, total incapacidade para ver. Na verdade, sob
cegueira poderemos encontrar pessoas com vários graus de visão residual. Engloba prejuízos dessa
aptidão a níveis incapacitantes para o exercício de tarefas rotineiras.
Uma pessoa é considerada cega se corresponde a um dos critérios seguintes: a visão corrigida
do melhor dos seus olhos é de 20/200 ou menos, isto é, se ela pode ver a 20 pés (6 metros) o que uma
pessoa de visão normal pode ver a 200 pés (60 metros), ou se o diâmetro mais largo do seu campo
visual subentende um arco não maior de 20 graus, ainda que sua acuidade visual nesse estreito
campo possa ser superior a 20/200. Esse campo visual restrito é muitas vezes chamado "visão em
túnel" ou "em ponta de alfinete", e a essas definições chamam alguns "cegueira legal" ou "cegueira
econômica". Nesse contexto, caracteriza-se como indivíduo com visão subnormal aquele que possui
acuidade visual de 6/60 e 18/60 (escala métrica) e/ou um campo visual entre 20 e 50º.
Pedagogicamente, delimita-se como cego aquele que, mesmo possuindo visão subnormal,
necessita de instrução em Braille (sistema de escrita por pontos em relevo) e como possuidor de
visão subnormal aquele que lê tipos impressos ampliados ou com o auxílio de potentes recursos
ópticos.
Alguns Cegos Famosos
Existem muitas pessoas cegas que se tornaram famosas, graças a suas atividades pessoais e
profissionais, à sua arte, as suas obras literárias, o seu canto e em muitas outras áreas. Seria tarefa
impossível relacionar todas elas. Mas o Centro de Referências FASTER deseja destacar uma figura
brasileira que tem dado muito de si para a causa das pessoas cegas:
DORINA NOWILL (Líder no Campo da Cegueira)
Dorina é seu nome. Pelo ano de 1936, com apenas 17 anos de idade, tomava chá com
algumas colegas de escola, quando sentiu o impacto de uma "cortinade sangue" descendo pelos seus
olhos. Determinada que era não desistiu de estudar e, apesar das muitas dificuldades, acabou
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formando-se como professora primária. Segundo suas próprias palavras, "nessa época os livros em
Braille eram raríssimos, tanto que fui à primeira aluna cega a matricular-se em curso para estudantes
de visão normal. Formei-me professora e através de uma bolsa de estudos especializei-me nos EUA".
Em 1946, cercada de amigos e pessoas interessadas, organizou a Fundação para o Livro do
Cego no Brasil - hoje conhecida como Fundação Dorina Nowill para Cegos, com o objetivo principal
de produzir e distribuir gratuitamente livros em Braille. Para tanto, recebeu também o apoio do
governo e a ajuda financeira e técnica da American Foundation for the Overseas Blind.
Hoje a Fundação Dorina Nowill para Cegos dispõe de moderna imprensa Braille, que
distribui livros para cerca de 800 escolas, para entidades de atendimento e para três mil cegos
individuais. Livros em Braille são doados também a muitas bibliotecas municipais.
Além desse trabalho de valor incalculável para o ensino das pessoas cegas, a Fundação
mantém um projeto chamado Livro Falado, onde voluntários gravam livros em fitas cassete e em
CDs. Casada, mãe de cinco filhos, avó de 12 netos, Dorina Nowill tem vencido barreiras incontáveis.
Ocupou importantes cargos em organizações internacionais de cegos. Foi inclusive Presidente do
Conselho Mundial para o Bem-Estar dos Cegos, hoje União Mundial dos Cegos.
Um dia Dorina recebeu de Érico Veríssimo uma carta em que dizia: "Dorina, sua vida é um romance
que eu gostaria de ter escrito. Criaturas como você - com seu espírito e sua coragem - constituem um
enorme crédito para a raça humana".
Ray Charles
Ray Charles Robinson, considerado um dos maiores gênios da música afro-americana, nasceu
em Albany no dia 23 de Setembro de 1930, foi um pianista, cantor de música soul e um dos
principais responsáveis pela introdução do ritmo gospel nas músicas de R&B.
Ray Charles, não era cego de nascença, a sua visão começou a deteriorar-se a partir dos 5
anos de idade, até aos 7 anos, onde a perdeu completamente. Charles nunca soube ao certo a causa
do seu problema, apesar de que há fontes que sugerem que a sua cegueira foi fruto de um glaucoma,
outras adiantam que Ray começou a perder a visão devido a uma infecção causada pela água com
sabão, que não foi devidamente tratada e evoluiu.
Ele freqüentou a Escola para Cegos e Surdos de St Augustine, na Flórida. Enquanto lá esteve,
aprendeu a escrever música e a tocar vários instrumentos musicais, onde desenvolveu o seu dom,
pelo qual ainda hoje é conhecido e relembrado. Na escola apenas aprendeu música clássica, mas
queria tocar aquela música que na altura ouvia no rádio, jazz e blues. Depois da morte dos seus pais,
Ray não voltou à escola, mudando-se para Jacksonville, onde durante um ano tocou com outras
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bandas no Ritz Theatre, ganhando 4$ por noite. Mudou-se então para Orlando e depois para Tampa,
onde começou a tocar com uma banda chamada de “Flórida Playboys”, foi nessa altura que começou
a ganhar a sua reputação de tocar com óculos de sol.
A História da Deficiência
A história da deficiência visual na humanidade é comum a todos os tipos de deficiência.
Sendo que os conceitos foram evoluindo conforme as crenças, valores culturais, concepções de
homem e transformações sociais que ocorreram nos diferentes momentos históricos. Na antiguidade,
as pessoas com deficiência mental, física e sensorial eram apresentadas como aleijados, mal
constituídas, débeis, anormais ou deformadas. Percebemos então, como degeneração da raça
humana, que essas pessoas eram abandonadas ou eliminadas.
Já na Idade Média, com o apogeu do cristianismo, as pessoas deficientes passam a ser alvo de
proteção, caridade e compaixão ao mesmo tempo em que se justifica a deficiência pela angústia dos
pecados ou como passaporte indispensável no reino dos céus. Surgem assim, as primeiras
instituições asilares ou confinamentos (conventos, hospícios) tinham a missão de dar assistência e
proteção às pessoas deficientes.
O século XV foi de horror para os deficientes e seus familiares, pois a Igreja de forma radical
impõe a sentença de morte por meio de apedrejamento, castração ou fogueira aos pecadores e
possuídos por espíritos malignos, entre eles os deficientes e bruxos.
A partir do século XVII, a sorte dos deficientes começa mudar, com as grandes navegações e
descobertas de outros continentes, que contribuíram para o desenvolvimento da ciência, da
tecnologia, da medicina e da educação. Assim, no século XVII, médicos e pedagogos começam a
planejar a educação de pessoas com deficiência, desafiando os conceitos vigentes na época,
acreditando nas possibilidades desses indivíduos até então considerados ineducáveis.
No século XIX, surgiu a idéia de capitalismo mercantil e de divisão social do trabalho, onde o
ensino especial criou o modelo de paradigma da institucionalização do indivíduo com vínculo
permanente, passando a pensar nessas pessoas, com certa atenção, pois são segregadas ou separadas
das demais pessoas tidas como normais. Surgem então, instituições especiais para abrigar tais
pessoas, que precisavam segundo o entendimento da época, ser educadas fora do contexto social,
pois a sociedade se encontrava extremamente distante de aceitar essas pessoas em seus padrões de
humanidade. A idéia de segregação perdurou até meados do século XX, quando ocorrem grandes
discussões referentes à definição de respeito aos direitos humanos.
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Nesta mesma época prolifera na Europa e nos Estados Unidos, escola com a mesma proposta
educacional, sendo que um novo sistema com caracteres em relevo para escrita e leitura de cegos é
desenvolvido por Louis Braille. Assim, o processo de ensino-aprendizagem das pessoas cegas
deslancha, possibilitando-lhes maior participação social.
O século XX caracterizou-se pelo início da obrigatoriedade e expansão da escolarização
básica, detectando-se que numerosos alunos, sobretudo os que apresentavam deficiências, tinham
dificuldades em seguir o ritmo normal da classe e conseguir um rendimento igual ao restante das
crianças de sua idade. É então que se aplica a divisão do trabalho à educação e nascem espaços
diferentes para educar, com diversos segmentos da sociedade como educação, esporte e lazer, numa
prática denominada Integração.
Devido à luta de movimentos sociais, os deficientes visuais começam a ser incluídos na
sociedade. A humanidade vivencia um período de conscientização das diferenças, entretanto, mesmo
com tantas políticas públicas de inclusão a população que tem problemas visuais tem dificuldade de
ser inserida nesse contexto. Isso porque o processo de urbanização dos grandes e pequenos centros,
não é idealizado com o objetivo de reduzir as diferenças existentes.
Ao longo da história da humanidade, observa-se que muitas condições sociais têm sido
consideradas como deficientes, refletindo, normalmente este fato um julgamento social, que vai
requintando e sofisticando a medida que as sociedades vão se desenvolvendo tecnologicamente e
cientificamente, em função de valores, crenças e atitudes.
Causas da deficiência visual
As causas da deficiência visual podem ser congênitas, adquiridas, infecciosas, nutriciionais
ou traumáticas freqüentes são:
Durante a gravidez:
Toxoplasmose;
Catarata congênita;
Glaucoma congênito;
Albinismo.
Fatores durante o nascimento:
Prematuridade;
Icterícia.
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Fatores após o nascimento:
Catarata congênita (de nascença) ou adquirida;
Glaucoma congênito ou adquirido;
Acidentes;
Oxigenoterapia (não controlada);
Senilidade;
Desnutrição;
Alterações retinianas relacionadas à hipertensão arterial ou diabetes.
Segundo estudo desenvolvido entre 1996 e 1997 com três instituições, duas de Salvador e uma de
São Paulo, totalizando 174 crianças cegas, foi constatado que o glaucoma, a retinopatia da
prematuridade e a rubéola foram as causas previníveis ou tratáveis mais freqüentes da cegueira.
Outro aspecto fortemente relacionado à cegueira cauda por doenças está relacionado ao fator
econômico e ao acesso às melhores condições de vida: Enquanto nos países desenvolvido o que mais
causa a cegueira é a questão hereditária. Já nos países em desenvolvimento são as questões das
doenças que poderão ocasionar a cegueira.
Diante destes dados pode-se afirmar que a ação preventiva do sistema de saúde é fundamental para
que a cegueira secundariamente.
Curiosidades ou características da existência da Deficiência Visual
Cerca de 20% das crianças do ensino fundamental apresentam algum tipo de problema visual.
Os professores podem colaborar, observando, em seus alunos, comportamentos que possam indicar
dificuldades visuais e aplicando testes de avaliação da visão;
A criança cega ou com baixa visão deve freqüentar classe comum, pois raciocina como
qualquer criança. O uso do óculos é importante para que a criança não perca a visão no futuro, por
isso devemos observar quando a criança:
Reclama de dor de cabeça ou lacrimejando durante ou após esforço visual (na escola, TV,
leitura);
Aperta ou arregala os olhos para ver melhor;
Aproxima-se da TV ou do livro para ler;
Evita brincadeiras ao ar livre;
Apresenta desinteresse na leitura;
Irritações constantes nos olhos;
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Pisca muito;
Aproximação do papel junto ao rosto quando escrevem ou lêem;
Movimenta a cabeça de maneira descompensada para ler ou escreve, como se procurasse um
melhor ângulo para enxergar;
Modificações físicas na área dos olhos (pupilas brancas, vesguice, etc.);
Dificuldade em realizar atividades que exijam coordenação olho/mão (voso-motora);
Evita, com freqüência, brincadeiras ao ar livre, interferindo nos aspectos sócio-interacionais;
Apresenta desinteresse em atividades gráficas.
Estatísticas sobre a Deficiência Visual - Segundo Censo Demográfico 2000-IBGE
Mais de 314 milhões de pessoas em todo o mundo sofrem de deficiências visuais, sendo 46
milhões delas cegas.
No Brasil, 80% das pessoas portadoras de deficiência visual possuem baixo poder aquisitivo.
O Censo 2000 contabilizou 148 mil cegos no Brasil, 57 mil apenas no Nordeste. A Bahia,
com 15,4 mil pessoas, é o segundo estado brasileiro com maior número de deficientes
visuais. Perde apenas para São Paulo, onde vivem 23,9 mil cegos.
No Brasil, a falta de dados estatísticos e confiáveis dificulta a avaliação real da extensão dos
problemas visuais da nossa população
As implicações da deficiência visual no processo de desenvolvimento e aprendizagem
Crianças com deficiência visual, que desde os primeiros meses de vida tiverem a
oportunidade de participarem de programas que as auxiliem no processo de sociabilização, que não
foram superprotegidas e que vivenciaram suas ações pedagógicas, terão um desenvolvimento
praticamente semelhante ao das demais crianças. Assim, para que elas não apresentem defasagens
importantes no processo de desenvolvimento e aprendizagem e sigam evoluindo suas habilidades e
competências como os demais alunos da pré-escola, é primordial compreender o que a deficiência
visual tem de características nesse nível de desenvolvimento.
A construção da linguagem é determinada pela maturação biológica do ser humano e da
qualidade da mediação das relações e interações com o meio em que vive. Para Piaget, a linguagem é
a construção do sistema de significação, que depende da possibilidade que a criança tem de interagir
com pessoas e objetos, além de agir, de perceber e coordenar suas ações no tempo-espaço,
compreendendo sua causalidade e, principalmente, a qualidade da interação e solicitação do meio.
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São as experiências significativas, contextualizadas, vividas e internalizadas pela criança que
formam a imagem mental. A linguagem surge quando a criança representa por imagem aquilo que
vivenciou, organizou e estruturou no período sensório-motor.
A criança que enxerga realiza essa diferenciação pela observação visual, estabelecendo
relações automáticas entre o que ouve e vê. A criança com deficiência visual necessita tocar o que
ouve, agir e fazer coisas junto, compreender como as pessoas agem, para poder identificar, perceber
e assim poder imitar. Assim, necessita de pessoas disponíveis em casa e na escola para, inicialmente,
dar sentido a suas percepções e ações.
Ortega (1994) diz que a criança com deficiência visual tem prejuízo em relação à linguagem
pré-verbal em situações que a linguagem visual e a linguagem corporal são elementos determinantes
da comunicação. Assim, com relação à imitação verbal e respostas às indicações verbais, as crianças
com deficiência visual não se diferenciam das crianças videntes.
Como a visão é um sentido integrador primário, sua ausência não oferece uma percepção e
informação globalizada, responsável pela função de síntese na organização das experiências e na
formação das imagens. Assim, Fraiberg (1982) afirma que a criança cega internaliza posteriormente
o pronome “eu”, visto que a auto-referência está ligada a dificuldade de diferenciar-se de terceiros
para a formação da auto-imagem e auto-representação.
Pais e educadores devem atentar-se para a forma de comunicação e expressão das crianças
com deficiência visual que utilizam o corpo, como se este falasse. Para isso, utilizam a agitação de
braços, cabeça, tronco, pés e mãos. Esses movimentos podem ser utilizados até mais tarde, mesmo
após a criança ter o domínio sobre a linguagem verbal.
A forma como a criança explora, manipula, tateia, faz o rastreamento tátil dos objetos,
comunica seu interesse, atenção, prazer, forma de discriminação, compreensão e significado dos
objetos, movimenta o corpo e as mãos precisa ser contextualizada pela interação, pela comunicação e
pelo brincar. O brincar é muito importante nessa fase. Wallon (1989) diz que o brincar, o brinquedo e
a brincadeira é primordial para a organização psíquica e para o desenvolvimento cognitivo das
crianças, pois o cérebro se forma na ação contínua mediante a atividade lúdica do bebê ou da criança,
de acordo com o meio em que vive. Assim, a criança com deficiência visual precisa estar também em
contato com o lúdico e sempre com o auxílio, no sentido de estimulação do professor, dos pais e dos
colegas. Isso a ajudará a ter movimentos com segurança e independência.
As crianças com deficiência visual, algumas vezes, fazem uso do verbalismo em sua forma de
comunicação, ou seja, utilizam de palavras abstratas, termos rebuscados que não possuem sentido ou
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conceito real. Isto porque a criança pode confundir o contexto de uma determinada palavra com
relação ao seu significado. Exemplo: saber que mora numa casa e a confundir com uma loja por
causa das paredes. Para evitar o verbalismo, é importante que a criança seja informada
constantemente sobre onde está, o que há ao seu redor, estimular que peça ajuda e faça perguntas.
Assim, a criança com deficiência visual deve explorar o meio, utilizando de todos os seus
sentidos de forma integrada, elaborar significados, atribuir sentidos e estar sempre em movimento.
Precisa coordenar seu esquema sensório-motor, rastreando tatilmente e integrando os demais
sentidos.
As informações táteis são fornecidas pela mão, por toda a pele, pela vibração e a preensão do
meio. O desenvolvimento tátil-cinestésico faz com que a criança mantenha se antene para diferenciar
diferentes objetos e reconhecê-los. Ele permite com que ela perceba as relações do corpo e posição
no espaço, movendo-se com segurança e equilíbrio. Através desse movimento, há também a
formação da imagem corporal, onde a criança com deficiência visual terá a oportunidade de conhecer
seu próprio corpo e o do outro, tocando-se e sendo tocada. Isso a auxiliará a diferenciar-se, formar a
consciência de si e do outro no mundo, além da formação de conceitos e construção de seu
conhecimento como um todo. A formação de conceitos envolve a capacidade de perceber,
discriminar e observar semelhanças e diferenças, reconhecer o nome e a função. Ela se dá através,
não apenas do movimento tátil, mas também com o conjunto inteiro de sensações (audição, olfato,
paladar e tato).
A audição é o canal que desempenha um papel importantíssimo na comunicação,
aprendizagem, aquisição de conhecimento e participação social. Porém, não quer dizer que a criança
com deficiência visual desenvolva mais o sentido auditivo do que as outras crianças. Na verdade, ele
é o sentido de apoio das pessoas cegas, pois a soma de diferentes sons auxilia a decodificação do
ambiente, a orientação no espaço e atuação independente. É essencial que a sala de aula não tenha
ruídos e sons desnecessários para que a criança não se confunda no processo de aprendizagem.
O olfato e o paladar são receptores e tradutores dos estímulos de natureza química. O
primeiro tem a função de antecipar, sinalizar e orientar a pessoa deficiente visual no ambiente.
Algumas crianças com deficiência visual podem ter dificuldades com relação ao tônus muscular
baixo e equilíbrio. Isso pode prejudicar o planejamento da ação motora. Os professores e os pais
devem estimulá-las a realizar atividades físicas que ativam o labirinto e fortaleçam a musculatura,
como subir, correr, pular, escorregar, dar cambalhotas, escalar, etc. Porque, elas preferem brincar
passivamente e sentadas.
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É importante salientar que o planejamento escolar deve considerar a estrutura física – que não
deve contar riscos e sim ser desafiadora, conter diversos tipos de elementos, objetos, materiais e
situações novas para que a criança consiga assimilar e relacionar os conceitos mediante sua própria
experiência, adquirindo e organizando suas noções de tempo e espaço, experiências sensoriais e
percepção de sons para que ela possa adquirir autonomia. A criança, além de saber onde está e como
está rodeada, também necessita viver a ação do seu próprio corpo com todos os sentidos de forma
integrada para poder formar seus conceitos.
Toda uma estrutura física deve ser revista pela escola: a adaptação de rampas, banheiros,
corrimão e iluminação e contrastes que sigam as normas técnicas universais de acessibilidade. No
parquinho devem ser eliminados os obstáculos aéreos, brinquedos de estrutura dura ou cortante que
possam machucar a criança em movimento.
Faz-se necessária também, a sinalização do ambiente por diferenciação de piso, comunicação
verbal para sinalizações em parque, ambiente aberto, elevadores e comunicação braile em portas e
corredores. Por isso, seu tempo de aprendizado é maior que o de uma criança vidente, afinal a
prioridade é a experiência, a investigação, a relação entre os brinquedos e as brincadeiras, os jogos
corporais e pedagógicos, além da organização de atividades diárias e a leitura de histórias infantis.
Na educação infantil, a criança terá acesso ao espaço lúdico de literatura e arte. É importante
a permanência da criança com deficiência visual na escola porque ela precisa interagir com as
demais crianças a fim de observar como elas assimilam o real. Jogos como os de construção,
elaboração de materiais com argila, massinha, pintura e desenhos em relevo permitirão que a criança
deficiente visual perceba, compreenda, aprecie e utilize novas linguagens representativas.
Até mesmo o jogo de cores é importante para o conhecimento da criança com deficiência
visual, pois, embora ela não as visualize, precisará ter ciência do que são cores para poder agradar
alguém de acordo com a preferência dessa pessoa, por exemplo.
A criança com deficiência visual interessa-se por brincadeiras de faz de conta que são, muitas
vezes, distintas de crianças que não possuem esse tipo de deficiência. Para ela, não é interessante o
estímulo usado através do visual. Por isso, é necessário cuidado e atenção na escola de jogos
simbólicos. Elas gostam de brincadeiras de dublagens de voz, adivinhações de sons ou de objetos
através do tato, atividades mais passivas que permitam o controle da ação, etc.
O jogo simbólico pode iniciar-se por atividades físicas que a auxiliarão muito em sua
montagem de mundo: comer, dormir, ser mamãe, ser papai, cuidar da filhinha, fazer carinhos. Para
depois evoluir para brincadeiras mais elaboradas, de acordo com a interação que essa criança tenha
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com o meio em que vive. Lembrando que o jogo simbólico é essencial para o desenvolvimento
cognitivo e afetivo de todas as crianças. Na criança com deficiência visual, ele poderá ativar a
organização das percepções e emoções, exercitar seu pensamento pré-lógico, comunicar-nos sua
compreensão do meio, seus sentimentos, desejos, fantasias e aprender a lidar com suas emoções e
afeto.
Louis Braille, um jovem cego, tornou possível o acesso à leitura por um sistema universal de
leitura tátil e escrita, chamado de braile. Esse sistema foi inventado por ele na França em 1825. Sua
inspiração foi num sistema de comunicação de mensagens escritas durante à noite nos acampamentos
de guerra, o qual possuía uma combinação de doze pontos denominado de comunicação Barbier.
Braille reduziu seu sistema para seis pontos em relevo, colocados verticalmente no espaço em
duas colunas de três pontos, onde os seis pontos formam sessenta e três combinações diferentes, que
representam as letras do alfabeto, as vogais acentuadas, os sinais de pontuação, os numerais, os
símbolos matemáticos, químicos e as notas musicais.
A leitura do braile é feita da esquerda para a direita, com o movimento contínuo das mãos e a
habilidade tátil desenvolvida na ponta dos dedos, com leve pressão. Algumas crianças, inicialmente,
utilizam de sua lateralidade para a leitura, através da polpa do indicador da mão direita ou esquerda,
conforme sua preferência. Algumas pessoas utilizam as duas mãos para leitura, outras o dedo médio
ou anular, substituindo o indicador.
Na escrita, o primeiro instrumento utilizado por pessoas com deficiência visual é a reglete e o
punção (espécie de lápis) para escrever o braile. Esse material tem a desvantagem de ser muito lento
em virtude da perfuração de cada ponto e de exigir ótima coordenação motora, que uma criança
ainda pequena naturalmente não dispõe.
A forma mais rápida, prática e fácil é a máquina de datilografia braile, que é constituída
basicamente por seis teclas: três teclas do lado direito e três do lado esquerdo.O toque simultâneo das
teclas produz a combinação dos pontos em relevo, correspondendo ao símbolo elaborado.
Crianças com baixa visão não necessitam de adaptações significativas no currículo, mas
precisam que os conteúdos sejam tratados de forma que elas possam participar ativamente de todas
as atividades e tarefas desenvolvidas pelos demais alunos. No geral, o professor deve saber o que
essa criança consegue ver, de que distância, qual o tamanho de letras, figuras, o tipo de contraste que
facilite sua visualização e discriminação do material.
Ao elaborar estratégias de adaptação dos objetivos, da atividade e do material de forma que
sirva para todos, o professor estará naturalmente incluindo o aluno de baixa visão no processo
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pedagógico. Pode ser por meio do jogo de amarelinha, com o traçado mais largo e com bastante
contraste, por exemplo. Até mesmo as crianças cegas poderão jogá-lo, desde que as bordas sejam em
relevo e haja dado sonoro. Jogos com bolas de alto contraste e guizo também darão condições de
igualdade às crianças.
Os livros também podem ser facilmente adaptados. Para crianças com baixa visão, os livros
disponíveis no mercado que contenham qualidade de contraste podem ser utilizados, além de lupas
de mesa ou de copo para compreensão das letras e pesquisa dos detalhes. Livros sensoriais também
são excelentes para uma fácil interpretação e visualização, além de estimular as sensações. Eles
podem ser confeccionados em casa também com sucatas, tintas plásticas, grãos, areia, pedrinhas, etc.
Para a criança deficiente, além dos exemplos citados acima referente aos livros sensoriais, é
de extrema importância que o professor ou quem estiver lendo o livro para a criança, descreva a
imagem para que o aluno possa estabelecer relações a partir das suas próprias experiências.
Como as crianças com deficiência visual tem menos oportunidade que as outras crianças de
desenvolverem naturalmente as noções de quantidade, número e geometria, precisam de mais
oportunidades para explorar materiais concretos.
O sorobã é um instrumento atualmente muito usado no Japão, Rússia e China em todo âmbito
escolar. No Brasil seu uso limitou-se na linha de educação escolar. Quando ele é adaptado aos alunos
com deficiência visual, contém cinco pontas por eixo e borracha compressora para que as contas
fiquem fixas, condicionando uma fácil leitura.
Outros recursos mais utilizados são os jogos de percurso, trilha, dama, dados, dominós,
bingos, que são adaptados. Os jogos e materiais destinados a construções, seriações, classificações,
estabelecimentos de relações, levantamento de hipóteses e raciocínio lógico como: blocos lógicos,
material dourado, cuisinaire, tangram, ábaco e outros adaptados para crianças cegas poderão ser
utilizados com sucesso por todas as crianças.
Uma grande desvantagem que a cegueira acarreta com relação às crianças videntes, é a
inacessibilidade de um ambiente alfabetizador, que contém imagens, símbolos, letras e números. A
criança vidente, desde que nasce, possui contato com esse mundo. Por isso, precisa, o mais cedo
possível, ter acesso a esse mundo para despertar sua curiosidade tátil. Para isso, precisam de
condições facilitadoras como: seus brinquedos, objetos de uso pessoal e pertences devem ser
etiquetados com símbolos em relevo e em braile. Na escola, os murais, os quadros de avisos, os
calendários, as agendas devem também estar em relevo e em braile.
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O controle do ambiente, organização e orientação do espaço possuem relação direta com o
processo de desenvolvimento e aprendizagem que a grande limitação da deficiência visual impõe. As
crianças necessitam de auxílio, pontos de referência, definições, descrições e orientações para poder
moverem-se com autonomia no espaço.
Uma educação consistente, qualitativa e uma aprendizagem significativa devem considerar a
importância da integração sensorial e, somente por esse caminho próprio, é que a criança cega
poderá conhecer o mundo, elaborar noções e conceitos e, principalmente, obter o desenvolvimento
da autonomia e independência.
Aspectos legais em defesa da pessoa cega enquanto cidadã
Na constituição federal do Brasil de 1988, foram criadas varias normas de proteção as
pessoas portadoras de deficiência, citaremos algumas delas:
- Proibição de qualquer discriminação referente a emprego ou salário.
- Se criou um percentual de vagas de empregos públicos direcionado especificamente aos
portadores de deficiência..
- A habilitação e reabilitação das pessoas portadoras de deficiência e a promoção de sua
integração a vida comunitária.
- A igualdade de condições para o acesso e permanência na escola.
- A igualdade de condições para o acesso e permanência na escola.
- Ao atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente
na rede regular de ensino.
A criação de programas de prevenção e atendimento especializado para portadores de
deficiência física, sensorial ou mental, bem como de integração social do adolescente portador de
deficiência, mediante o treinamento para o trabalho e a convivência, e a facilitação do acesso aos
bens e serviços coletivos, com a eliminação de preconceitos.
Os princípios gerais da constituição federal são disciplinados em diversas leis e decretos
como (ECA) Estatuto da Criança e do Adolescente criado em 1990. A (LDB) que é a Lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional criada em 1996, e o decreto 3298 criado em 1999 onde
regulamenta a lei numero 7853 de 1989, dispondo sobre a política nacional para a Integração da
Pessoa Portadora de Deficiência.
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No que se refere ao aspectos legais à pessoa cega, não há no Brasil uma lei especifica que
trate esta problemática, mas o que se tem é o Decreto lei nº 3.298/99 que engloba todos as diferenças
em um patamar apenas, não levando em consideração as reais especificidades que cada pessoa ou
grupo possa ter.
Segundo a lei nº 3.298/99 em seu artigo 3º considera que:
I. Deficiência – toda perda ou anormalidade de uma estrutura ou função
psicológica, fisiologia ou anatômica que gere incapacidade para o desempenho de atividade,
dentro do padrão considerado normal para o ser humano;
II. Deficiência permanente – aquela que ocorreu ou se estabilizou durante um
período de tempo suficiente para não permitir recuperação ou ter probabilidade de que se
altere, apesar dos novos tramentos;
III. Incapacidade – uma redução efetiva e acentuada da capacidade de integração social,
com necessidade de equipamentos, adaptações, meios u recursos especiais para que a
pessoa portadora de deficiência possa receber ou transmitir informações necessária s
ao seu bem-estar pessoas e ao desempenho de função ou atividade a ser exercida.
Já no âmbito educacional, as normas constantes na seção II do Capítulo VII deste decreto
estabelece que:
O atendimento à criança com deficiência é obrigatório nos cursos regulares de
estabelecimentos públicos e particulares;
O oferecimento de vagas para criança com deficiência deve abranger todas as etapas
do processo de escolarização, desde a educação precoce até o ensino médio, a
educação supletiva e a que visa a formação profissional;
A criança com deficiência deve ter assegurados todos os benefícios recebidos pelos
demais alunos;
Deve ser garantida a inclusão, no sistema educacional, da educação especial, a ser
oferecida preferencialmente na rede regular de ensino para o educando com
necessidades educacionais especiais, dentre eles o aluno com deficiência;
A educação especial deve ser flexível, dinâmica e individualizada, com a adaptação
necessária de currículos, metodologias e procedimentos de avaliação;
O aluno com deficiência deverá ter acesso à habilitação profissional que lhe
proporcione oportunidades de acesso ao mercado de trabalho;
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A educação especial oferecida na rede regular de ensino deverá contar com programas
de apoio multiprofissional.
Como dito anteriormente, o Decreto nº 3.298/99 não trata claramente sobre os diversos grupos de
diferenças, deixando dessa maneira uma lacuna aberta para interpretações que poderão ocasionar
grandes equívocos.
A LDBEN 9.394/96 em seu Capitulo V trata sobre a educação especial (artigos 58,59 e 60), no qual
a educação especial é dever do Estado a partir da educação infantil.
A lei prevê a integração dos alunos com Necessidades Educacionais Especiais (NEE) à rede regular
de ensino, garantida por meio de apoio de serviços especializados, bem como o respeito a ritmos e
habilidades diferentes, por meio de currículos e técnicas para atender às necessidades do aluno.
Ao compara o Decreto nº 3.298/99 e a LDBEN 9.394/96 no que se trata da educação e a inclusão da
pessoa com deficiência, ambas são genéricas e não avançaram no sentido pedagógico e legal no
Âmbito da defesa e garantida dos direitos da pessoa diferente quanto às questões de seus direitos
enquanto cidadão, delegando ações desarticuladas e individuais dos Estados e Munícipios quanto a
garantia ou não ao acesso aos direitos e deverese a necessidade reelaboaração das leis vigentes para
que de fato a inclusão ocorra.
Referências bibliográficas:
BARUERI. Secretária do ensino fundamental – DADE – Departamento de apoio ao
desenvolvimento educacional. Apoio à educação inclusiva. Barueri, 2003.
VYGOTSKY, L. S. A formação social da mente. São Paulo: Martins Fontes, 1989.
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/txt/deficienciavisual.txt
UNICEF - Manual: Aprendendo e ensinando a lidar com deficiências na comunidade
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