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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOS DA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE 2009 Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4 Cadernos PDE VOLUME I

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O PROFESSOR PDE E OS DESAFIOSDA ESCOLA PÚBLICA PARANAENSE

2009

Versão Online ISBN 978-85-8015-054-4Cadernos PDE

VOLU

ME I

1

SECRETARIA DE ESTADO DA EDUCAÇÃO DO PARANÁ - SEEDPROGRAMA DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL- PDE

FACULDADE ESTADUAL DE FILOSOFIA, CIÊNCIAS E LETRASDE PARANAGUÁ – FAFIPAR

PROFESSORA IRMA SANCHES VALERA DOS SANTOS

ARTIGO CIENTÍFICO

A DIMENSÃO SOCIAL DOS CONTEÚDOS ESCOLARES E A

PRÁTICA DOS PROFESSORES

PARANAGUÁ 2011

2

IRMA SANCHES VALERA DOS SANTOS

A DIMENSÃO SOCIAL DOS CONTEÚDOS ESCOLARES E A

PRÁTICA DOS PROFESSORES

Artigo Científico apresentado como requisito obrigatório para o Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE e Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Paranaguá – Pr. para conclusão do curso.

Orientador: Prof. Ms Sydnei Roberto Kempa

PARANAGUÁ2011

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A DIMENSÃO SOCIAL DOS CONTEÚDOS ESCOLARES E A PRÁTICA DOS PROFESSORES

Irma Sanches Valera dos Santos1

Orientador: Sydnei Roberto Kempa2

RESUMO

O presente artigo tem como objetivo salientar a necessidade de um aprofundamento teórico por parte dos professores e pedagogos e contribuir com as reflexões acerca da prática pedagógica mediadora, seus efeitos no processo de aprendizagem e na qualidade de ensino, focando uma prática Pedagógica Histórico-Crítica. Abordar-se-á aspectos relacionados à função social da escola hoje, bem como, um pequeno histórico da pedagogia, a partir do seu surgimento como ciência da educação, observando como as pedagogias se formularam e como a pedagogia tradicional e a escola nova surgiram, chegando a Pedagogia Histórico Crítica, como forma de conhecer e fundamentar a teoria adotada pela SEED do Paraná que enfatiza que a escola pública deve propiciar ao educando os saberes universais acumulados pela humanidade e ainda que o ajude fazer uso prático desse conhecimento e interagir com ele. Comentar-se-á sobre o conceito de “dialética” e sua importância para a compreensão da realidade.

Palavras chaves: Prática Pedagógica; Conteúdos Escolares; Processo Ensino-Aprendizagem.

ABSTRACT

This article aims to highlight the need of a theoretical examination by teachers and educators and contribute to reflections on the pedagogical practice, its effects on the learning process and the quality of education, focusing on a Historical-Critical Pedagogical practice. It will address aspects related to the social function of school today, as well as a brief history of Traditional Pedagogy, from its emergence as a science of education, observing how the pedagogies were formulated and how the Traditional Pedagogy and New School emerged, reaching Historical Critical Pedagogy as a way to get to know and support the theory adopted by the SEED of Parana, which emphasizes that public schools must offer the student the universal knowledge accumulated by humanity and also to help make practical use of this knowledge and interact with it. Comments will be done on the concept of "dialectics" and its importance for the understanding of reality.

1Professora Pedagoga da Rede Pública do Estado do Paraná, habilitada em Orientação Educacional. Pós-Graduada em Educ. Especial. Profª. do Programa de Desenvolvimento Educacional (PDE 2009)

2 Professor Assistente da Universidade Estadual do Paraná/Campus FAFIPAR-Paranaguá. Mestre em Educação pela UEM e doutorando pela PUC/SP em Educação: Currículo.

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Keywords: Educational Practice; Educational Contents; Learning Process.INTRODUÇÃO

O cenário da educação brasileira nas últimas décadas tem sido

caracterizado por profundas transformações; busca adaptar-se as novas situações e

exigências do ser humano e os avanços na universalização do ensino.

Refletir o contexto social é uma necessidade cada vez mais presente no

ambiente escolar e exige que professores, pedagogos e todos envolvidos com a

comunidade educativa, tenham clareza de qual é a função da escola e repensem

suas práticas de acordo com as novas exigências. É importante que se compreenda

que a prática deve estar fundamentada em uma filosofia ou teoria que poderá

concorrer para manutenção ou transformação social. E essa dimensão social da

educação precisa ser discutida cotidianamente, pois a educação é entendida como

processo de formação humana e exige muito estudo para se obter embasamento

consistente da fundamentação teórica com a finalidade de propor alternativas

eficazes, que atendam às necessidades educacionais da escola onde se atua e

atinja o objetivo de buscar a melhoria da qualidade do ensino.

Ao buscar suprir a necessidade de práticas didáticas que auxiliem o aluno,

efetivamente, a entender o conteúdo, através da pesquisa científica, pautada em

diversos autores, objetiva-se chegar às conclusões pertinentes do “como”, do “por

que” e do “para quem” destina-se a escola pública dos dias atuais.

Considera-se que quando o professor está pautado numa corrente teórica,

viabiliza a prática mediadora que permitirá a transposição do senso comum em

saberes historicamente construído.

Este artigo tem como objetivo, propor uma contribuição à prática pedagógica

escolar, considerando seus efeitos no processo de aprendizagem e, estimular a

reflexão e a busca de diálogo permanente com a realidade, considerando-a em sua

totalidade

Será dada ênfase à Pedagogia Histórico-Crítica com a intenção de se obter

um maior conhecimento ao que ela propõe, a viabilidade da sua prática pelos

professores e também como forma de conhecer e fundamentar a teoria adotada pela

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SEED do Paraná, além de um pequeno histórico da pedagogia, a partir do seu

surgimento como ciência da educação.

BREVE HISTÓRICO DA PEDAGOGIA A PARTIR DO SEU SURGIMENTO COMO

CIÊNCIA DA EDUCAÇÃO

O século XVIII, caracterizado pela industrialização crescente, em função da

nova divisão social do trabalho e maneira de interpretar o mundo é influenciado pelo

“Iluminismo", que enfatiza a idéia de progresso e perfeccionismo, postulando o

conhecimento racional como meio de superação de preconceitos e ideologias

tradicionais. De acordo com Böhn (2010, p. 71), um dos pensadores de destaque

neste período é John Locke que tinha como objetivo transferir para a educação

prática, os resultados do Empirismo e muito contribuiu com sua fundamentação e

justificação filosóficas e ainda marcou época com o seu trabalho "Ensaio sobre o

Entendimento Humano."

O Empirismo origina-se do grego “empeiria” que quer dizer experiência. O

Empirismo caracteriza-se por um método científico o qual postula que as teorias

científicas devem ser baseadas na observação empírica do mundo, isto é, utilizando-

se de experimentações.

A pedagogia realista, (do latim res "coisa") segundo ARANHA (2007, p.155)

“significa privilegiar a experiência, as coisas do mundo e dar atenção aos problemas

da época”, que caracterizou o século XVII e sofreu grande influência do empirismo,

contrariando a educação antiga de cunho excessivamente formal com grande ênfase

na retórica, encaminhou-se para o rigor das ciências da natureza, valorizou o estudo

de contabilidade, escrituração comercial, entre outros quando foi necessária mão de

obra especializada para o trabalho nas indústrias tendendo a superar a arte literária

e estética próprias do humanismo renascentista.

A pedagogia como ciência da educação surge no século XIX, em momento

conturbado em que o Estado procurava satisfazer as necessidades do proletariado,

oferecendo escola gratuita para os pobres enquanto os ricos ainda procuravam as

escolas tradicionais religiosas.

O final do século XIX, caracterizou-se por um período em que a burguesia

oferece certa abertura política permitindo aos trabalhadores direitos à greve,

constituição de sindicatos e organização de partidos. (HEIJMANS, 2006)

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De acordo com Aranha (2007), as idéias pedagógicas do século XIX,

refletiram o momento filosófico, científico e cultural. Os filósofos que influenciaram as

idéias pedagógicas desse século foram: “Augusto Comte,e o positivismo” que na

educação desenvolveu a idéia de progresso imbuído da concepção cientificista.

”Hegel, e o idealismo”, desenvolvido pelo romantismo alemão direcionava para a

formação humana buscando o desenvolvimento integral do ser humano e “Marx e

Engels” o materialismo, entre outros, que fundamentaram essas correntes

pedagógicas.

O socialismo, influenciado pelo materialismo, divulgou idéias libertárias

tendo em vista uma reação à exploração do capitalismo do século XIX.

Dentro das correntes citadas, pedagogos como, Pestalozzi, Herbart, Froebel

se destacaram com contribuições ao desenvolvimento da Pedagogia como ciência.

Pestalozzi desenvolveu o método que enfatizava a participação ativa dos

alunos, despertando a compreensão do mais simples para o mais complexo, do

conhecido para o desconhecido, do concreto para o abstrato. Sua influência

estendeu-se a educadores como Froebel, Herbart, entre outros.

Pode-se dizer que Herbart foi o mais rigoroso em termos metodológicos,

trazendo grande contribuição à pedagogia como ciência. Para ele, a conduta

pedagógica deve propor três procedimentos básicos: o governo, a instrução e a

disciplina. (ARANHA, 2006, p.211). cita que:

Herbart desenvolveu uma pedagogia social e ética com finalidade de formar caráter moral por meio do esclarecimento da vontade, que se alcança pela instrução". Para ele segundo a autora "a educação moral (formação da vontade) não se separa da instrução (esclarecimento Intelectual).

Herbart criou o sistema denominado “instrução educativa” constituído de

passos formais que deveriam ser seguidos durante a apresentação de cada lição.

Inicialmente envolvia a apresentação dos elementos essenciais de cada assunto,

posteriormente associação de idéias, sistematização e por última aplicação. Seu

método teve influência universal, inclusive no Brasil de maneira preponderante,

ocorrendo até os dias de hoje o exercício do método tradicional.

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As maiores críticas ao método tradicional referem-se a descontextualização

com a realidade, falta de integração entre teoria e prática, erudição, verbalismo,

mecanicismo e apelo para a memorização em detrimento da reflexão e senso crítico.

O início e meados do século XX foram marcados pelo movimento da “Escola

Ativa” denominada também “Escola Nova”, tendo como grande propulsor o filósofo e

pedagogo americano John Dewey (1859-1952). Este defendeu a participação ativa

no ato de aprender ou seja, o aprender fazendo, considerando o aspecto psicológico

da educação primordial, visando o desenvolvimento da autonomia e atendimento às

necessidades individuais. Não se preocupou muito com questões relacionadas à

desigualdade social.

Outros adeptos da “Escola Ativa” século XX, que colaboraram com o

desenvolvimento da pedagogia como ciência foram Maria Montessori, Claparède,

Piaget, entre outros. No Brasil um dos seus grandes propulsores Anísio Teixeira se

destacou no Movimento dos Pioneiros de 1930. Outro teórico que influenciou e ainda

influencia a Escola Ativa no Brasil, é Jean Piaget. A metodologia calcada na proposta

de Piaget teve grande divulgação na década de 1970, em escolas brasileiras,

propondo material adequado exigindo um investimento maior em laboratórios e salas

ambientes.

Saviani (2006) diz que a “Escola Nova” não conseguiu alterar

significativamente o panorama educacional no Brasil, principalmente pela implicação

em gastos mais elevados do que aqueles exigidos pela Escola Tradicional. Deste

modo organizaram-se escolas experimentais ou como núcleos raros, muito bem

equipados restritos a pequenos grupos de elite.

O início do século XX foi marcado por diferentes tendências em que o

movimento operário ganhava força e manifestava anseios de emancipação social e

política. De acordo com Heijimans (2006), Karl Marx propôs para a classe

trabalhadora uma concepção pedagógica que visasse a união entre ensino e

trabalho, opondo-se à tendência humanista predominante. Suas idéias influenciaram

a “Escola do Trabalho” a qual visava atender os interesses da classe trabalhadora.

Nesse cenário do século XX, de acordo com Heijmans (2006) Gramsci

reflete sobre a idéia de atividade como princípio pedagógico, considerando a

liberdade de expressão como um princípio de exercício da cidadania, ampliação dos

direitos políticos conquistados e fortalecimento da sociedade civil. Preocupa-se em

formar o cidadão político que dominasse elementos conceituais, que soubesse

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pensar, expressar-se, lutar por seus direitos, ser dirigente. Considerou a educação

fundamental na formação desse cidadão. Sugeriu a Escola Unitária em que se

propusesse educação geral formadora de conceitos mais amplos e uma formação

específica direcionada ao mundo do trabalho. Defendeu também uma escola única

isto é igualitária, sem diferenciação para ricos e pobres.

De acordo com Kuiava (2009) é possível se trabalhar os princípios

educativos de Gramsci na atualidade, sendo necessário para isto, pensar de

maneira clara em uma concepção pedagógica, refletir sobre o verdadeiro papel da

educação, da escola e o contexto social em que está inserida.

Deve-se primeiro pensar a educação como um processo social, que se determina historicamente na correlação de forças sociais onde a educação é determinada e determinante. É preciso perceber quais forças sociais e políticas concretas determinam a estruturação de uma determinada escola e suas práticas educacionais. Em outras palavras, é preciso analisar a relação entre entrelaçamento entre processo educacional e classes sociais, entre educação e dominação social. (KUIAVA, 2009, p.1)

A escola unitária de Gramsci bem como a pedagogia histórico-crítica

proposta por Dermeval Saviani, vêm ao encontro a uma perspectiva dialética de

ensino, ambas partem da realidade social, visando a transformação.

A educação e a escola do século XXI, marcadas pela revolução tecnológica,

pelas automatizações, inseridas em uma nova sociedade que desponta com milhões

de informações por minuto, onde as distâncias se encurtam através das

telecomunicações e dos recursos da Internet exigem um constante repensar sobre

as práticas pedagógicas.

Com todo o desenvolvimento tecnológico alcançado ainda existe grande

desigualdade social, alto índice analfabetismo e reclama-se da baixa qualidade do

ensino, constatando-se enfim, que os problemas sociais e educacionais ultrapassam

os muros da escola. Para além das Pedagogias da Escola Tradicional, da Escola

Nova e da Escola do Trabalho, consideradas não críticas por não compreenderem o

ser humano em suas múltiplas relações com a realidade, sendo por tanto, parte de

um todo contraditório o qual interfere em seu modo de ser e existir, busca-se as

Pedagogias Críticas que fundamentadas no método dialético, oferecem alternativas

de se pensar educação contextualizada com a realidade de maneira crítica e

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transformadora. Enquadra-se nesta perspectiva, a "Pedagogia de Paulo Freire", a

“Pedagogia Histórico-Cultural de Vygotsky”, a Escola Unitária proposta por Gramsci

e a Pedagogia Histórico-Crítica proposta por Dermeval Saviani, entre outras.

Considerar a prática pedagógica enfatizando o método dialético justifica-se

por um modo de pensar e ensinar a pensar a realidade, considerando-a em sua

diversidade, complexidade e contradições, propondo a partir de um constante

repensar sobre as práticas existentes, mudanças e alternativas de superação.

Desde os tempos primitivos o homem educa, deixando para as novas

gerações, maneiras de existir e sobreviver. Cada momento, cada época, tem o seu

próprio modo de ser, que contém vestígios do passado e promessas do futuro.

A Pedagogia como ciência da educação tem uma longa trajetória,

enfatizando as tendências de cada momento histórico. Atualmente não se pode

pensar na prática educativa sem considerar os aspectos sociais, cuja dimensão

necessita ser discutida cotidianamente, pois educação é entendida como processo

de formação humana, sendo condição de existência.

A PEDAGOGIA HISTÓRICO-CRÍTICA NO ATUAL CONTEXTO BRASILEIRO

A Pedagogia Histórico-Crítica surge no cenário brasileiro como expressão

alternativa, de superação das concepções pedagógicas, desvinculadas ou

descontextualizadas da realidade social imediata e ampla, sem uma perspectiva

crítica. Dermeval Saviani (2003) propõe a importância de um melhor e maior acesso

aos conteúdos através de uma educação de qualidade às classes trabalhadoras e

enfatiza que o objetivo é oferecer uma educação de qualidade, que permita ao aluno

partir de suas experiências sincréticas (de senso-comum) às de nível sintético.

Para chegar a esse objetivo o autor estrutura cinco momentos que serão

determinantes para a metodologia da Pedagogia Histórico-Crítica: o primeiro

momento é a prática social, que é comum a professor e alunos, apesar de ser

vivenciada por ambos de forma diferenciada, pois o professor tem visão sintética da

prática social, ainda que na forma de síntese precária e os alunos têm visão

sincrética; o segundo momento é a problematização, onde se busca responder qual

é a necessidade de se aprender os conteúdos escolares que foram relacionados, o

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ato de detectar questões que precisam ser resolvidas no âmbito da prática social e

como a educação poderá encaminhar às devidas soluções; o terceiro momento é a

instrumentalização, que são recursos, ações usadas pelo professor através de

conteúdos de qualidade e significativos, entendida como aproximação dos

instrumentos teóricos e práticos necessários ao equacionamento dos problemas

detectados na prática social; o quarto momento é a catarse, momento em que o

aluno faz uma elaboração mental do conteúdo e chega até as novas práticas sociais

refletidas e contextualizadas, através das quais possa entender seu meio sócio-

cultural e agir nele para transformando-se, poder transformá-lo, é o ponto culminante

do processo pedagógico, quando ocorre a efetiva incorporação cultural por parte dos

alunos; o quinto momento é prática, quando se atinge o objetivo, ou seja, que os

alunos estejam no nível sintético, que é a prática social no ponto de chegada. Onde

Saviani (2008, p.132) considera que: "Ao mesmo tempo em que os alunos

ascendem ao nível sintético em que se encontrava o professor no ponto de partida,

reduz-se a precariedade da síntese do professor, cuja compreensão se torna cada

vez mais orgânica."

É na década de 80 que concepção Pedagógica Histórico-Crítica desponta

como proposta contra-hegemônica e se consolida como pedagogia crítica.

A Pedagogia Histórico-Crítica compreende a educação como o ato de produzir direta e intencionalmente em cada indivíduo singular a humanidade que é produzida histórica e coletivamente pelo conjunto dos homens. Está empenhada em por em ação, métodos de ensino eficazes. Situa-se para além dos métodos tradicionais e novos, visando superar por incorporação as contribuições dessas duas tendências pedagógicas. Nessa perspectiva, seus métodos estimularão a atividade iniciativa dos alunos sem abrir mão da iniciativa do professor, favorecerão o diálogo dos alunos entre si e com o professor, sem deixar de valorizar o diálogo com a cultura acumulada historicamente, levarão em conta os interesses dos os ritmos de aprendizagem e o desenvolvimento psicológico, sem perder de vista a sistematização lógica dos conhecimentos, sua ordenação e gradação para efeitos do processo de transmissão assimilação dos conteúdos cognitivos (SAVIANI, 2008, p.129).

Pedagogia Histórico-Crítica, segundo Saviani,(2008) procura ir além das

Pedagogias da essência (Escola Tradicional) e da existência, (Escola Nova) de

forma dialética. Ela busca superar a crença na autonomia ou na dependência

absoluta da educação em face das condições sociais vigentes. Isto é, educação e

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sociedade estão interligadas, ou seja, embora a escola trabalhe com o

conhecimento sistematizado, este deverá estar vinculado à realidade social, na qual

está inserida, ocorrendo assim a integração entre teoria e prática.

(...) a escola tem uma função de especificidade educativa, propriamente pedagógica, ligada à questão do conhecimento; é preciso, pois, resgatar a importância da escola e reorganizar o trabalho educativo, levando em conta o problema do saber sistematizado, a partir do qual se define a especificidade da educação escolar (SAVIANI, 2008, p.98).

A intenção com esse trabalho é que por meio da reflexão pedagógica

comprometida com um ensino de qualidade e com a transformação social,

desencadeiem mudanças, possibilitando que o aluno eleve o seu grau de

consciência se apropriando dos conhecimentos cientificamente produzidos e

acumulados pela humanidade bem como destacar a especificidade da escola e sua

importância para o desenvolvimento cultural, tendo o professor como detentor do

conhecimento, e, portanto responsável pelo processo ensino-aprendizagem. Essa

concepção deixa clara a necessidade de restabelecer a função social da escola que

é a transmissão do conhecimento sistematizado, onde o aluno conta com a relação

do professor, buscando resgatar a importância do trabalho pedagógico e da

especificidade deste trabalho, não permitindo o espontaneísmo.

A EDUCAÇÃO E A ESCOLA NO SÉCULO XXI

A educação e a escola do século XXI, marcadas pela revolução tecnológica,

pelas automatizações, inseridas em uma nova sociedade que desponta com milhões

de informações por minuto, onde as distâncias se encurtam através das

telecomunicações e dos recursos da Internet exigem um constante repensar sobre

as práticas pedagógicas.

Com todo o desenvolvimento tecnológico alcançado ainda existe grande

desigualdade social, alto índice analfabetismo e reclama-se da baixa qualidade do

ensino, constatando-se enfim, que os problemas sociais e educacionais ultrapassam

os muros da escola. Para além das Pedagogias da Escola Tradicional, da Escola

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Nova e da Escola do Trabalho, consideradas não críticas por não compreenderem o

ser humano em suas múltiplas relações com a realidade, sendo por tanto, parte de

um todo contraditório o qual interfere em seu modo de ser e existir, busca-se as

Pedagogias Críticas que fundamentadas no método dialético, oferecem alternativas

de se pensar educação contextualizada com a realidade de maneira crítica e

transformadora. Enquadra-se nesta perspectiva, a "Pedagogia de Paulo Freire", a

“Pedagogia Histórico-Cultural de Vygotsky”, a Escola Unitária proposta por Gramsci

e a Pedagogia Histórico-crítica proposta por Dermeval Saviani, entre outras.

Considerar a prática pedagógica enfatizando o método dialético justifica-se

por um modo de pensar e ensinar a pensar a realidade, considerando-a em sua

diversidade, complexidade e contradições, propondo a partir de um constante

repensar sobre as práticas existentes, mudanças e alternativas de superação.

Como atingir cada contexto socio-cultural proporcionando a verdadeira

aprendizagem é um caminho determinado pelo próprio contexto. Desde os tempos

primitivos o homem educa, deixando para as novas gerações, maneiras de existir e

sobreviver. Cada momento, cada época, tem o seu próprio modo de ser, que contém

vestígios do passado e promessas do futuro.

A Pedagogia como ciência da educação tem uma longa trajetória,

enfatizando as tendências de cada momento histórico. Atualmente não se pode

pensar na prática educativa, sem considerar os aspectos sociais, cuja dimensão

necessita ser discutida cotidianamente, pois educação é entendida como processo

de formação humana, sendo condição de existência. A escola nesse contexto é de

grande importância como instituição formadora, onde se aprende regras sociais e

onde a prática pedagógica se converte em espaço de socialização dos saberes.

CONCEPÇÃO DIALÉTICA DE ENSINO

A palavra dialética é de origem grega cujo significado se aproxima de

diálogo. Desde a antiguidade, filósofos como Heráclito de Éfeso, Platão, Aristóteles,

entre outros, se utilizaram da dialética como método de pensar e interpretar a

realidade. Sendo Lao Tsé considerado o autor, sete séculos antes de Cristo,

tomando como fundamento o princípio contradição. (GADOTTI, 2001).

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Heráclito de Éfeso, filósofo pré-socrático está também, entre os seus

fundadores, ao conceber que tudo está em movimento,, em permanente mudança

como as águas de um rio. Entre seus escritos pode-se ressaltar um dos fragmentos

mais famosos (535-463 a C): "Tudo muda tão rapidamente, que não é possível

banhar-se duas vezes no mesmo rio: na segunda vez o rio não será o mesmo e nós

mesmos já teremos mudado".

Suas palavras permanecem vivas até hoje expressando de maneira bastante

interessante uma das características da própria dialética, a contradição.

Platão concebia a dialética como um método de ascensão à razão,

promovendo a educação, racional. O conhecimento deveria ser fruto da reflexão

coletiva, de discussão, perguntas, respostas, havendo divergências e convergências

de idéias que caminhariam para uma síntese coletiva. Para Aristóteles no em tanto,

a dialética não era considerado um método para se chegar à verdade, mas sim para

se chegar à lógica do provável, através da discussão, opinião e da crítica.

(GADOTTI, 2001).

Na Idade Média a dialética predomina como método, arte, ficando bem

próxima da retórica, visando discernir situações contraditórias. Na modernidade

assume um modo de pensar a realidade, em permanente transformação.

Gadotti, (2001) distingue Marx como o primeiro pesquisador a adotar de

forma sistemática o método, caracterizando-o como uma forma de estudar

concretamente os fatos, analisando-os metodicamente em seus mínimos detalhes,

considerando o seu movimento e reencontrando a unidade.

Cada objeto de análise requer uma maneira específica de abordagem determinada pelo próprio objeto; cada período histórico possui suas próprias leis. Por isso a análise que se faz em filosofia não se empregará automaticamente a todas as outras ciências. A análise detalhada de uma coisa ou fenômeno evidenciará as leis particulares que regem o início o desenvolvimento e o término de cada coisa ou fenômeno. (GADOTTI, 2001, p.32)

O método constitui-se de elementos como, tese, antítese e síntese que

possibilitam a compreensão e a interpretação de determinado fenômeno ou fato. A

tese consiste em uma afirmação, ou suposição afirmativa sobre algo. A antítese é a

negação da tese, uma oposição ou contradição. Enquanto que a síntese é o embate

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ou um diálogo, entre tese e antítese, cujo resultado é uma nova situação ou ponto

de vista. Sob este enfoque, não existe resposta pronta, nem soluções eternas. Tudo

está em movimento, a sociedade, a natureza e também as mentalidades dos alunos,

que apresentam em grande maioria resistência ao ambiente de sala de aula,

causando inúmeros problemas que interferem na aprendizagem individual e coletiva.

São os conflitos que geram um novo modo de pensar impulsionando mudanças.

Pensar dialeticamente é pensar na totalidade concreta.

Kosik (2002) questiona a categoria totalidade. Diz que na filosofia

materialista, a categoria totalidade concreta é uma resposta à pergunta: o que é a

realidade?

A dialética da totalidade concreta não é um método que pretenda ingenuamente conhecer todos os aspectos da realidade, sem exceções e oferecer um quadro “total” da realidade, na infinidade dos seus aspectos e propriedades; é uma teoria da realidade e do conhecimento que dela se tem como realidade. A totalidade concreta não é um método para captar e exaurir todos os aspectos, caracteres, propriedades relações e processos da realidade; é a teoria da realidade como totalidade concreta. (KOSIK, 2002, p.44.

Sob este ponto de vista percebe-se que a totalidade é um todo que possui

organização própria, contraditória e mutável, cujo princípio epistemológico de

estudo, análise, investigação, compreensão, avaliação se aplica a qualquer

disciplina, o princípio é o mesmo.

Cury, (1992) destaca as categorias da dialética inseridas no contexto da

práxis que auxiliam na compreensão da totalidade, tais como: categoria da

contradição que é a essência da metodologia dialética, fator fundamental do

desenvolvimento; categoria da totalidade que busca uma síntese explicativa da

realidade num contexto amplo evitando uma visão fragmentada; categoria da

mediação que justifica a necessidade de interação dos homens entre si e com o

mundo. No caso da educação, a mediação torna-se básica como veiculadora das

idéias e ações organizativas do processo educacional; categoria da reprodução,

necessária para autoconservação social, mantendo na sociedade suas relações

básicas; categoria da hegemonia que contém a idéia do consenso, propulsora das

relações de produção. As idéias hegemônicas ou preponderantes quando penetram

15

no contexto social convertem-se em forças materiais, ou seja são resultantes da

produção humana.

Tais categorias se completam e se auxiliam na proposta de investigação da

realidade sob a perspectiva dialética.

Kosik (2002) destaca que o processo dialético proposto por Marx, consiste

inicialmente no método de investigação e posteriormente no método de exposição.

O método de investigação envolve três etapas. A primeira consiste na

apropriação da matéria em seus mínimos detalhes; a segunda em análise do

desenvolvimento do fenômeno; a terceira, investigação da coerência interna, das

várias formas de desenvolvimento.

A fase de exposição é resultado da investigação e da apropriação crítico-

científico da matéria.

Marx distingue o início da investigação e o início da exposição como

distintos. O primeiro é arbitrário e o segundo é conseqüente e necessário ao

desenvolvimento científico, já que a exposição contém a estrutura de toda a obra.

Wachowicz (1989, p.41) ao abordar a educação na lógica dialética, escreve

que:

Para o estudo no âmbito da didática, entendemos que o objeto do método de conhecimento é a educação. O método dialético tendo por objeto a educação deve explicitar essa matéria, buscar suas determinações e expor a estrutura teórica obtida pela contextualização e pela crítica em uma síntese concreta (pensada) de múltiplas determinações, complexa como todo concreto pensado.(...) No contexto geral da pedagogia, entendemos que a didática, ao ser posta pelo método dialético, vai tratar do ensino enquanto apropriação do saber, enquanto ação-trabalho que se passa em uma realidade específica que é, na grande maioria de suas expressões, a sala de aula. (...) cada aluno deve apropriar-se de uma prática social na qual está vivendo, prática que é uma realidade a partir da qual serão buscados os conteúdos, como instrumentos culturais necessários para sua apropriação como saber.

Quando atuamos o papel de educador estamos assumindo a

responsabilidade de influenciar pessoas. Usar estratégias que possibilitem o nosso

próprio desenvolvimento e o das pessoas com as quais nos relacionamos pode nos

levar a conquistar a grande missão de tornarmos um agente da evolução. E essas

novas formas de se pensar exigem que se mudem os antigos esquemas de

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compreensão de si mesmo e do mundo. É o momento de transformação onde o todo

é mais do que a soma as partes, estamos em incessante transformação. Portanto, o

professor ao pensar a sua prática pedagógica deve ter como objetivo oferecer ao

aluno oportunidades onde possam levantar suas dúvidas, dizer o que sabem assim

como privilegiar a contradição. O que caracteriza um processo dialético de trabalho

pedagógico.

OS CAMINHOS DA PESQUISA

O trabalho iniciou-se com a criação de um grupo de seis professores que

atuam com disciplinas curriculares do ensino fundamental e ensino médio no

Colégio Estadual Sertãozinho. O colégio oferece 23 turmas de 5ª a 8ª séries do

ensino fundamental, 14 turmas de 1ª a 3ª séries do ensino médio, 01 sala de

CAEDV, 01 sala de Recursos, 02 salas de Apoio, totalizando 1195 alunos. A maior

parte dos nossos alunos são filhos de pais com pouca escolaridade, com renda

familiar em média de um a três salários mínimos, o que nos leva a crer que esse é

um dos motivos da pouco interesse pelos estudos.

Para esse trabalho foi utilizado a pesquisa-ação, que possui uma dimensão

crítica e dialética e segundo Gandin (2004, p. 93): “é um processo que acentua a

participação, quando se busca o conhecimento e a transformação da realidade.”

Já David Tripp (2005, p.447, 448) faz a seguinte definição: “Pesquisa – ação

é uma forma de investigação que utiliza técnicas de pesquisa consagrada para

informar a ação que se decide tomar para melhorar a prática... a pesquisa - ação

sempre começa a partir de algum tipo de problema e muitas vezes se aplica o termo

“problematizar”.

David Tripp ( 2005) ainda coloca que: “A pesquisa-ação implica em tomar

consciência dos princípios que nos conduzem em nosso trabalho: temos de ter

clareza a respeito, tanto do que estamos fazendo, quanto do porquê o estamos

fazendo”. (NcNiff, 2002 apud David Tripp, 2005 p. 449 )

A pesquisa-ação é um processo que o professor pode utilizar-se para

investigar a própria prática com a intenção de aperfeiçoá-la e então aprimorar seu

desempenho.

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Há necessidade de que seja feito uma reflexão sobre a finalidade do

trabalho a ser realizado, onde o desafio, como diz Abdalla (2005, p.385): “Será

mostrar os meios de se tornarem capazes de responder com maior competência aos

problemas vivenciados, para, de forma interativa e coerente, experimentar soluções

no caminho de diretrizes para uma ação mais transformadora”.

Para desenvolver o presente trabalho foi feito um levantamento dos

problemas e dificuldades encontrados na prática pedagógica dos seis professores

participantes do e de outros que atuam no mesmo colégio, através da aplicação de

questionário para professores e alunos, visando perceber como a práxis está

acontecendo. Foram utilizados nesta pesquisa recursos como: questionários mistos,

observações, entrevistas, estudo e discussão de textos sobre o tema abordado.

Segundo M. L. Aranha (1996, p.52) "A educação não pode ser considerada

apenas um simples veículo transmissor, mas também um instrumento de crítica dos

valores herdados e dos novos valores que estão sendo propostos".

Trabalhar os conteúdos contextualizando-os, apropriando-os

interdisciplinarmente, são os novos desafios propostos e que exigem uma prática

pedagógica fundamentada na perspectiva dialética como a proposta pela Pedagogia

Histórico-Crítica.

Tivemos dois encontros, sendo estes aos sábados para a apresentação do

projeto para professores, membros da equipe pedagógica e direção do colégio, e

dezesseis encontros, nas terças e quintas-feiras, para selecionar, estudar e discutir

materiais didáticos relevantes e atuais, com a finalidade de aprofundar o

conhecimento dos pressupostos da Pedagogia Histórico-Crítica, sua didática e então

elaborar um planejamento que pudéssemos aplicá-los na nossa prática docente.de

acordo com o Método Dialético,. num total de dezoito encontros

Ao terminarmos o estudo teórico, os professores escolheram uma turma

onde iriam desenvolver a prática da didática da Pedagogia Histórico-Crítica, tendo

como material de apoio o modelo de planejamento do Trabalho Docente e Discente

de João Luiz Gasparin em seu livro Uma Didática para Pedagogia Histórico-Crítica,

Campinas: Autores Associados, 2005.

Ficou decidido que o trabalho seria aplicado numa turma do segundo ano

desse colégio, por ser essa turma comum a cinco dos seis professores participantes

do grupo. O grupo conta com uma professora de Física, uma de Química, uma de

Geografia, um professor de Matemática, um de História e um de Português. Todos

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formados em suas áreas e atuando na rede estadual de ensino a pelo menos cinco

anos. Na organização do trabalho pedagógico decidiram que trabalhariam de forma

interdisciplinar onde as disciplinas trabalham sobre um objeto de estudo, nesse caso

“A Termodinâmica” onde se estuda as máquinas térmicas, conteúdo abordado nas

aulas de Física.

Foi necessário adequar os conteúdos desse período, ou seja, uma

reformulação do plano de trabalho docente para atender as necessidades reais

dentro desta nova perspectiva de trabalho pedagógico. E seguindo as cinco etapas

estruturadas por Gasparin (2005), foi desenvolvido um Plano de Trabalho onde o

professor de História abordaria o tema a Revolução Industrial, o professor de

Matemática resolveria os cálculos de rendimentos e potência das máquinas térmicas

junto com os alunos, o professor de Geografia abordaria questões ambientalista,

tratando do tema aquecimento global devido o efeito estufa causado por gases

poluentes na queima de combustíveis utilizados nas máquinas a vapor durante a

revolução industrial até a atualidade, a professora de Química abordaria as reações

químicas dos gases poluentes que destroem a camada de ozônio, o ciclo do

carbono durante a queima dos combustíveis fósseis e o professor de Português

ficaria responsável em acompanhar o relatório redigido pelos alunos, onde constaria

uma síntese do tema visto durante o processo ensino-aprendizagem: 1a etapa, a

Prática Social Inicial onde o aluno tem oportunidade de mostrar o que já sabe sobre

o conteúdo a ser trabalhado e a visão que possui sobre o mesmo Para que isso

ocorra, segundo Gasparin (2005, p. 15): “o educando deve ser desafiado,

mobilizado; deve perceber alguma relação entre o conteúdo e sua vida cotidiana,

sua necessidades, problemas e interesses.” Então verificou-se:o que os alunos já

sabiam sobre máquinas: Carro, moto, velocidade, computador, invenções,

modernidade, evolução, maior produção, destruição, poluição, O que os alunos

desejariam aprender: Como era antes das invenções das máquinas? Quanto tempo

levaríamos para chegar à Curitiba saindo do litoral a pé, de cavalo ou de carroça?

Quais as vantagens e desvantagens das máquinas para o homem? Que mudanças

as máquinas ocasionaram para o homem e, para a natureza? O que levam o homem

as invenções? Os professores relataram ter sido muito interessante esse momento

em suas aulas pois trabalhando interdisciplinarmente, os alunos usavam as

discussões de uma disciplina em outra quando eram questionados a dizerem o que

eles já conheciam sobre o conteúdo.e coerência ao responderem sobre o que

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gostariam de saber. Segundo os professores, os alunos manifestaram interesse,

curiosidade e participaram com entusiasmo nas aulas. 2a etapa, a Problematização

onde se busca responder qual é a necessidade de aprender os conteúdos escolares

que foram relacionados, o ato de detectar questões que precisam ser resolvidas no

âmbito da prática social e como a educação poderá encaminhar às devidas

soluções; segundo Gasparin(2005, p.36): “A problematização é a transição entre a

prática e a teoria, representa o momento do processo em que essa prática social é

posta em questão, analisada, interrogada, levando em consideração o conteúdo a

ser trabalhado e as exigências sociais de aplicação desse conhecimento.”

Cada professor dentro da sua área desenvolveu o estudo buscando

questionamentos, através de pesquisa, com os alunos, conhecimento de vários tipos

de máquinas, saber como funcionam, sua utilidade, os prós e os contras da sua

utilização. O trabalho foi rico e gratificante, proporcionou discussões e ficou evidente

o interesse e a participação dos alunos. 3a etapa, a Instrumentalização que consiste

nos recursos, ações usadas pelo professor para a mediação pedagógica e os alunos

realizam uma comparação mental com a vivência cotidiana que possuem a fim de se

apropriar do novo conhecimento. Gasparin (2005, p.53) afirma que:

“Instrumentalização é o caminho através do qual o conteúdo sistematizado é posto à

disposição dos alunos para que o assimilem e o recriem e, ao incorporá-lo,

transformem-no em instrumento de construção pessoal e profissional.”

Nesse passo os professores utilizaram a exposição do assunto, troca de

idéias com os alunos, leituras de textos, debates, pesquisas e dos seguintes

recursos: filmes, livros.didáticos, TV pen drive, revistas, laboratório de Ciências. Os

alunos faziam pesquisas sobre o conteúdo e durante as aulas eram lidos e

debatidos. Os professores constataram que à medida em que as aulas iam

transcorrendo, que as ligações entre as disciplinas aconteciam e que as estratégias,

método,e recursos planejados proporcionaram uma relação entre o conteúdo

sistematizado e o conteúdo da prática social inicial, que foi satisfatório pois o

conhecimento prévio serviu de base para o conhecimento sistematizado. 4a etapa, a

Cartase momento em que o aluno faz uma elaboração mental do conteúdo e chega

até novas práticas sociais refletidas, que no dizer de Gasparin (2005, p.166): “A

Cartese representa a síntese do aluno, sua nova postura mental; a demonstração do

novo grau de conhecimento a que chegou, expresso pela avaliação espontânea ou

formal.” Para concretizar o trabalho foi proposto pelos professores a construção de

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máquinas térmicas de diferentes tipos. Foram utilizando vídeos relacionados ao

conteúdo, textos escritos, orientações e materiais recicláveis. Os alunos, para

concretização do trabalho, realizaram pesquisas, coleta de materiais recicláveis,

fizeram relatórios, anotações, apresentações e explicações das máquinas

construídas por eles. Diante do resultado do trabalho verificou-se que.os alunos

concluíram que as inovações dos dias atuais foram acontecendo gradualmente no

decorrer do tempo modificando o modo de produção, as relações sociais e a vida

das pessoas, que as invenções são resultado das tentativas de resolver

problemas.envolvendo todas as áreas do conhecimento científico. 5a etapa, a

Prática

Social Final é quando o aluno apresenta uma nova postura prática, mostrando que

de fato se apropriou do conteúdo, relacionando e fazendo um registro escrito do

processo com a síntese do conteúdo. Momento que aluno e professor após o estudo

realizado definiram como usariam os novos conceitos. Esse momento foi

concretizado pelos alunos quando realizaram as apresentações das máquinas

produzidas por eles explicando todas as etapas da confecção, seu funcionamento e

utilidade; também nos momentos de discussões, reflexões, quando relacionaram

assuntos, compararam fatos, analisaram situações da realidade do nosso município,

nosso país. Entre as conclusões, perceberam que as inovações como televisão,

telefone celular, carros potentes, computadores, internet são invenções do nosso

tempo e trouxeram mudanças na vida das pessoas e que essas mudanças não são

perceptíveis, pois são incorporadas naturalmente no dia-a-dia, que é preciso refletir

sobre essas inovações, as conseqüência que elas causam a humanidade.Que o

homem é um ser que atingiu um nível de desenvolvimento que lhe propiciou agir

sobre as condições naturais.produzindo suas condições de existência Os alunos

comprometeram-se em praticar os conhecimentos adquiridos.

Os Professores concluíram que essa metodologia de ensino desenvolve o

processo ensino-aprendizagem, possibilita uma maior interação entre professor e

aluno, o que causa maior interesse dos alunos pelo conteúdo proposto, deixando a

aula mais dinâmica e prazerosa. Destacaram que as dificuldades encontradas como

a falta de tempo para estudo, um horário fixo para planejamento junto com outros

professores da mesma turma, salas numerosas, alunos faltosos e desinteressados,

são possíveis de serem solucionadas e sugeriram que para o próximo ano, já no

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início, durante a semana pedagógica, seja reservado um tempo para discutirem essa

experiência e elaborarem um plano de ação focando essa metodologia.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Este estudo deixou evidente que se faz necessário uma nova forma dos

educadores pensarem a educação onde haja a construção do trabalho em equipe,

diálogo, participação, superações, muito esforço, estudo, experimentação, vontade

de inovar e assumir desafios entre os envolvidos no processo. Ficou claro o quanto

o trabalho educativo exige, em sua prática uma postura aberta para tudo e para

todos. Que com a postura de autocrítica e reconhecimento o professor possibilita a

realização de troca com os seus pares.

O estudo teórico dos pressupostos da Pedagogia Histórico-Crítica foi de

fundamental importância na ação dos professores, observou-se que houve

mudanças de postura na ação desses docentes ao conduzirem o planejamento e os

conteúdos escolares. Compreenderam a importância dos conteúdos escolares

estarem vinculados com a realidade pessoal e social dos alunos e assim exercer

uma função formadora. Ficou constatado que a didática da Pedagogia Histórico-

Crítica é viável, válida e aplicável e contribui significativamente no processo ensino-

aprendizagem, possibilitando uma ação efetiva para que o ensino consiga transpor

as dimensões do espaço escolar, evidenciando assim um método diferenciado de

trabalho.

Os professores envolvidos nesse processo relataram que partindo dos

conhecimentos prévios dos alunos para chegar ao conhecimento científico,

proporciona uma aprendizagem significativa, os alunos mostraram interesse pelo

conteúdo, participando, fazendo e respondendo perguntas, produzindo e expondo

material com qualidade ao grupo o que propiciou a participação de todos, tornando a

aula mais dinâmica e envolvente. Os professores, envolvidos nesse trabalho,

fizeram um acordo para que no próximo ano por em prática a experiência obtida com

esse trabalho. e ainda destacaram que há necessidade de se criar horários de forma

sistemática para que os professores de uma mesma turma possam planejar juntos

de acordo com sua realidade, e definir os conteúdos coletivamente, valorizando os

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conhecimentos sistematizados e saberes escolares. e assim estarem cumprindo

com a função social da escola pública que tem como meta o enfrentamento das

desigualdades sociais, para se chegar a uma sociedade mais justa e humana,

segundo as Diretrizes Curriculares do Estado do Paraná.

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