como ampliar a difusão da produção nas línguas ibero-americanas

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Como ampliar a difusão da produção nas línguas ibero- americanas Nelson Zagalo, Universidade do Minho Blog: http://virtual-illusion.blogspot.com Home: http://nelsonzagalo.googlepages.com II Fórum Integrado de Comunicação Ibero-americana ISMAI, Maia, 28 Maio 2013 Universidade do Minho

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Comunicação apresentada no II Fórum da Confibercom, decorrido no ISMAI, Maia, Portugal. 28 de Maio de 2012. Link: http://confibercom.org/ii-forumdifusao-cientifica/

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Page 1: Como ampliar a difusão da produção nas línguas ibero-americanas

Como ampliar a difusão da produção nas línguas ibero-americanas

Nelson Zagalo, Universidade do Minho

Blog: http://virtual-illusion.blogspot.comHome: http://nelsonzagalo.googlepages.com

II Fórum Integrado de Comunicação Ibero-americana

ISMAI, Maia, 28 Maio 2013

Universidade do Minho

Page 2: Como ampliar a difusão da produção nas línguas ibero-americanas

Uma perspectiva da comunicação tecnológica sobre como ampliar a

difusão da produção nas línguas ibero-americanas.

1 – Do latim ao Inglês

2 – Vantagens da Língua-franca

3 – Desvantagens da Língua-franca

4 – Porque se impõe na Ciência: Impact Factor

5 – Porque se impõe na Ciência: Motores de Busca

6 – O que já foi feito

7 - Conteúdo científico aberto: Uma não organicidade

8 – O que ainda pode ser feito

Page 3: Como ampliar a difusão da produção nas línguas ibero-americanas

Do Latim ao Inglês

Em 2012, o Politecnico di Milano anuncia que todos os seus cursos passarão a ser ministrados em Inglês a partir de 2014.

O Reitor Giovanni Azzoni diz, “a escolha é entre o isolamento ou a competição como uma universidade global.”

O declínio do Latim surge a partir do movimento Protestante que procura afastar-se da cultura Católica. Depois por volta de 1700 o Francês assume destaque na diplomacia por Louis XIV. O Latim passaria a ser visto como uma mera língua académica, não adaptada ao mundo ao real.

O Francês nunca chega a assumir completamente o lugar do neo-latim, porque se passa a valorizar a língua de cada país, no sentido de se conseguir levar o conhecimento a todas as pessoas, em vez de a um grupo restrito que compreende a língua.

A Renascença trouxe consigo a reforma humanista, e com ela o “neo latim”, dirigido à ciência, criando-se novas palavras para se poder trabalhar conceitos além do léxico eclesiástico. O neo-latim foi utilizado intensamente em toda a Europa Ocidental, e colónias, de 1500 a 1700, terminando por volta de 1900.

O latim foi a primeira língua-franca da Ciência. Servia também a Educação, com as Universidades da Europa Ocidental a exigirem proficiência em Latim para se pode ser admitido como estudante. Era usado ainda a nível diplomático.

Page 4: Como ampliar a difusão da produção nas línguas ibero-americanas

Vantagens da língua-franca

Língua-franca é um sistema de comunicação. Como tal depende das pessoas, e não da língua em si. As línguas-francas surgem de modo orgânico, não se planeiam (Esperanto).

Nunca houve uma língua franca tão amplamente difundida e utilizada como o inglês. Esta ultrapassou largamente o espectro do Grego, Arábico, Latin e do Francês. Não se trata apenas de uma substituição, mas antes de uma total canibalização do discurso interlíngua.

O Inglês é no séc. XXI fundamental no plano internacional nos domínios da Ciência, Educação e Tecnologia, assim como nos Negócios, na Diplomacia, no Entretenimento, na Aviação, entre muitas outras atividades.

Vantagens:

Globalização das ideiasTransparência das ideiasVelocidade do fluxo de ideiasAumento de produtividade

Page 5: Como ampliar a difusão da produção nas línguas ibero-americanas

Desvantagens da língua-franca

Qualquer língua-franca corre o risco da homogeneização do pensamento humano. A língua molda o ser humano.

O conhecimento que é produzido ao nível das elites, não chega às pessoas. Mesmo à camada letrada de cada país - médicos, advogados, professores ou jornalistas – que por obrigação profissional precisa de dominar muito bem a sua própria língua.

A língua-franca impede o desenvolvimento das outras línguas, uma vez que deixa de existir transmissão de novas ideias e novas descobertas entre línguas, conduzindo à estagnação das línguas diferentes.

A língua-franca tende para a uniformização pela eliminação da diferença. Por isso a UE tem investido tanto dinheiro na manutenção de dialectos europeus.

Desvantagens:

Hermetismo de ideias nas elites.Criatividade diminuída pela homogeneização.Estagnação da diversidade linguística.Opressão da diferença.

Page 6: Como ampliar a difusão da produção nas línguas ibero-americanas

Porque se impõe o Inglês na Ciência? Impact Factor

Temos um problema internacional na ciência que passa pela aferição da qualidade da ciência que se faz através de métricas que foram criadas para analisar o valor de informação documental.

O Impact Factor é uma dessas métricas mais reconhecidas internacionalmente, e uma das que não foi desenhada para avaliar o valor da ciência, o valor dos artigos, e menos ainda o valor dos cientistas, como veio recentemente admitir publicamente* Bruce Alberts, Editor Chefe, da Science (2013).

Neste sentido, as atuais métricas de avaliação da ciência que se produz no mundo, limitam-se a avaliar um único factor, a Quantidade. Mais publicações, mais citações, mais projetos, mais... não melhor.

Assim e para cumprir com estes parâmetros os cientistas são obrigados a produzir o seu trabalho numa língua estrangeira e a publicar em jornais listados por um índice artificial, que lhes garanta o valorização perante as instituições que constantemente os avaliam.

Não se trata aqui de garantir o valor da ciência, de fazer crescer o pensamento e potenciar descoberta, mas antes de justificar o seu valor. Muitos destes cientistas obtém mais feedback ao seu trabalho quando em conferências nacionais, ou de nicho, do que publicando em revistas científicas.

* http://www.sciencemag.org/content/340/6134/787.full

Page 7: Como ampliar a difusão da produção nas línguas ibero-americanas

Porque se impõe o inglês na Ciência? Motores de busca

O problema da utilização de métricas e índices alarga-se a todos os domínios dos Sistemas de Informação. No caso específico aqui em análise, os índices são responsáveis pela destruição do valor da ciência produzida em outras línguas que não o inglês. Basta fazer a pesquisa por autores consagrados Franceses que há 40 anos eram líderes do pensamento em várias áreas para se perceber como desapareceram.

O problema é que os autores não despareceram por causa das suas ideias, mas antes porque os indexes automáticos/matemáticos assim o ordenam. As buscas na ciência sendo realizadas ao nível do inglês criam redundâncias de acessos na informação em inglês, passando o motor de busca a preterir o resto da informação em outras línguas.

Se a língua franca é já por si um catalizador da homogeneidade, os sistemas de pesquisa incrementam ainda mais essa homogeneidade.

Page 8: Como ampliar a difusão da produção nas línguas ibero-americanas

O que já foi feito

Editora de revistas cientificas abertas, em português, espanhol, e inglês. É uma iniciativa brasileira da FAPESP e CNPq. Mais 900 revistas ibero-americanas, grátis, de acesso universal aos textos completos.

Indice de revistas cientificas ibero-americanas. Iniciativa mexicana da Universidad Nacional Autónoma de México.

Repositório de artigos avulso em língua portuguesa dedicado às Ciências da Comunicação. Iniciativa portuguesa da Universidade da Covilhã.

Tudo público e com conteúdos abertos.

Page 9: Como ampliar a difusão da produção nas línguas ibero-americanas

Conteúdo científico aberto: Uma não organicidade

“A Comunidade científica Portuguesa – alguns dos recursos utilizados para a obtenção da visibilidade científica”, Cláudia Bomfá e Lídia Silva, Universidade de Aveiro – Portugal, 8ª LUSOCOM

Ferramentas de Marketing e de

Promoção com vista ao incremento da

visibilidade.Difícil de fazer com o

financiamento tipo (público) da produção em conteúdo aberto.

Como saber que conhecimento foi produzido, que a

informação existe?

Diagrama original*

Page 10: Como ampliar a difusão da produção nas línguas ibero-americanas

O que ainda pode ser feito

Métricas1 - A primeira prioridade deve ir para a luta contra o uso do Impact Factor na avaliação da ciência e dos investigadores. Será impossível preservar qualquer outra língua na ciência, que não o inglês caso as atuais políticas se mantenham.

Plataformas2 - Melhorar todo o design de comunicação e design de interacção das três plataformas - LatinIndex, Scielo e BOCC. Criando plataformas mais apelativas esteticamente, e mais funcionais em termos interativos.

3 - Criar uma política de verdadeiro incentivo ao uso do português e espanhol nas três plataformas, e nas que se venham a criar. É fundamental reconhecer o valor da língua, a começar pelas instituições. Exemplo: A Scielo conta neste momento com 40% da sua produção em Inglês.

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O que ainda pode ser feito

Facilitismo do Inglês vs. Estigmas culturais

4 - Incentivar, a pesquisa por artigos em português e espanhol, explicando o valor da preservação da ciência nas nossas línguas.

5 - Incentivar, a referenciação do que se faz dentro das duas línguas, retirando a carga negativa de que apenas se referencia a língua mais fácil.

6 - Incentivar, a referenciação dos colegas do mesmo país e da mesma língua, retirando a carga negativa de que apenas se referenciam os mais próximos.

Mas...

Tudo isto não quer dizer que possamos, nem devamos, rejeitar o Inglês por completo, porque é ele que permite a criação de laços mais alargados. É ele que permite que a nossa própria cultura de investigação cresça, através da troca de ideias com outras línguas.

Page 12: Como ampliar a difusão da produção nas línguas ibero-americanas

Como ampliar a difusão da produção nas línguas ibero-americanas

ISMAI, Maia, 28 Maio 2013

Nelson Zagalo, Universidade do Minho

Blog: http://virtual-illusion.blogspot.com

Home: http://nelsonzagalo.googlepages.com

II Fórum Integrado de Comunicação Ibero-americana