coletivo sÓ 11ª

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13 de outubro, a partir das 22h00 concerto de música experimental Patife Band http://www.myspace.com/patifeband Eden Carrasco (Chile) http://www.myspace.com/edencio Meretrio http://www.myspace.com/meretrio Pig Soul http://www.myspace.com/pigsoul Moria Duo http://www.myspace.com/saunoflex jornal coletivo sÓ 11ª edição, Agosto/Setembro http://coletivoso.net

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A história do CCPC - Fundação - Jazz - Sound Systens Patife Band - uma crítica desmiolada - parcerias

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13 de outubro, a partir das 22h00concerto de música experimental

Patife Bandhttp://www.myspace.com/patifeband

Eden Carrasco (Chile) http://www.myspace.com/edencio

Meretrio http://www.myspace.com/meretrio

Pig Soul http://www.myspace.com/pigsoul

Moria Duo http://www.myspace.com/saunoflex

jornal coletivo sÓ11ª edição, Agosto/Setembro

http://coletivoso.net

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A associação Centro Cultural Popular Consolação apresenta projetos na área de produção e valorização cultural, músicas, artes plásticas, audiovisual e jornalismo impresso. Tais áreas estão amparadas em uma rede de grupos autônomos, que através de liberdade garantida somente pela condição de independência pode se entrelaçar, alinhar-se em rede.

Buscamos entender a cidade de São Paulo. Pela localização privilegiada dos novos espaços do CCPC, tende-mos a uma maior interatividade com o centro. Como isso acontece? O Centro Cultural tem um perfil que difere de uma simples casa noturna ou bar - o seu histórico apresenta iniciativas e esforços de cunho social e economia solidária.

EXPEDIENTEedição, reportagem e diagramação - Lucas Rodrigues de Campos

ilustrações e capa - Chuck Dedo Amarelorevisão de texto - Tatiane Klein

colaborações Pietro Ferrari e Cauã Ogushi

[email protected]@coletivoso.com.br

3000 cópiasblog http://so0jornal.wordpress.comversão digital http://www.issuu.com/jornalcoletivosohttp://coletivoso.net

Em março de 2008, o projeto editorial da publicação impressa Coletivo sÓ foi reto-mado por André Mainardi, Lucas Rodrigues de Campos e Chuck Dedo Amarelo, passando por alterações fundamen-tais que garantiram sua continuidade e permanência. O Coletivo sÓ tomou a forma de um jornal tabloide, em preto e branco – diminuindo consideravelmente os custos de impressão. Entre maio de 2008 e novembro de 2009, foram impressas oito edições.

A primeira iniciativa editorial do Coletivo foi registrar, de maneira inédita, a carreira do grupo paulistano Som Nosso de Cada Dia, que retomou suas atividades participando da Virada Cultural de 2008, com show no palco do Teatro Municipal. No show seguinte, no Centro Cultural São Paulo ocorreu o lançamento do segundo número da publicação Coletivo sÓ, a primeira em papel jornal, iniciando um trabalho de conservação da memória, e recuperação de histórias fundamentais da produção musical na cidade de São Paulo sob a perspectiva de uma produção cultural esquecida pela grandes massas.

Consolidada uma cena de cultura independente, com bandas se apresentando regularmente e com uma mídia im-pressa a registrar periodicamente esses acontecimentos, o Coletivo sÓ acorda uma parceria com o Centro Cultural Popular Consolação, (CCPC), e imprime mais três jornais no espaço de três meses, realizando junto ao lançamento as festas Udigrudi. A parceria com a casa é retomada agora para anunciar a transição da casa, que agora funciona na rua General Jardim, 269, e o Concerto de Música Experimental.

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Irmão caçula do regente Arrigo, Paulo “Patife” Barnabé esteve na orquestra Sabor de Veneno. Quando o rock, no retrovisor, se afastava dos ouvidos mais pujantes, Paulo foi arranjador e baterista do grupo que tri-turou o rock enquanto processo estético estagnado, e, para evitar o enterro de um cadáver retrô, visto só em reflexão, pas-saram a encenar a canção, interpretá-la com oralidade e comunicação visual; tor-nando a música um ambiente vasculhável. Penetrável como quadrinhos, que trazem histórias controlados pelas mãos.

Com o irmão e outros intérpretes talentosos, Paulo tramou os gritos cruzados da parain-fernal Lira Paulistana com técnicas de seria-lismo e dodecafonia. É a narrativa de ruas, testemunhas da sórdida convivência entre a castidade pós-64 e a euforia tropicalista. Mo-tivo crítico num enclave que destrambelhou num porão, num sótão onde a repressão pas-sava longe. Desciam escadas pra cair gostoso com a cara no chão, desbocados, farejando sangue quente, de produções quentes. A van-guarda paulistana foi uma resposta pertinente ao momento de abertura política vivido num Brasil que tolerou a ditadura e sua distensão lenta. Resistência ao achaque da censura que perdurou por duas décadas.

Bando de artistas, trupe desbocada traça-da no bico dos sopristas e na garganta das coristas. O esgoto paulistano sendo visto e os bichos expostos em autópsia, hora da cirurgia. A orquestra troca os bisturis por metais e (d)enuncia a queda.

O jorro da Sabor de Veneno foi seminal: Félix Wágner (Divina Increnca), Bocatto (Metalurgia) Regina Porto, Neuza Pinheiro, Tetê Espíndola, Itamar Assumpção. Paulo Patife acompanhou todos na apresentação da peça musical Clara Crocodilo, herança artística que auxilia o ouvinte a distinguir uma experiência musical da música forjada como massa sem sal.

Paulo apresenta seu trabalho de com-posição junto com a Patife Band. São duas dezenas públicas de canções torpes, des-crições cômicas da desgraça da vida, re-lato visual interpretado por música e sons - compostas pelo paranaense da Londrina dos festivais abertos. Compostas também pelo paranaense residente em São Pau-lo, enclubado nas redondezas, o enclave pequeno-burguês de “pulso criativo”, eixo Cidade Universitária-Vila Madalena, com os primeiros povos provos migrando e povo-ando o bairro de tradições boemias durante as décadas de 70 e 80.

No lado Universitário destaque para os nomes que passaram por FAU, ECA, CRUSP. É de lá, da série de prédios enfileirados, a transpiração punk anarquista operária, princípios da autogestão, ocupação popular das moradias estudantis e cena categorica-mente crítica, senhor, sem terno e gravata, da história. Talvez todos excomungados pela linha de montagem de talentos, mas compadecidos da Via Crucis do Operário.

A Patife Band é banda de (con)fusão. Uns trinta anos depois as canções tem hoje mais Sabor de Veneno, gotejante lá de cima. Hoje, sacadas invencionistas permitem lembran-ças e devaneios que esbarram em Moth-ers of Invention. São os Patifes da Invenção daquela cena que apenas começou entre o fim de 70 e o começo de 80. Três décadas

de flashes organizados pela história, não a mesma repetida na boca de metidos críti-cos, uma obra condensada e talvez pronta, regida por baquetas e com esmero, respeito à canção – música feita por quem mantém distância correta da pretensão e do co-modismo. Paulo Barnabé fica de frente para o público e atrás de uma bateria, acompa-nhado por músicos convidados a passear e explorar o ambiente sonoro que vai desde dum pique funk a um jazz espacial digno dos espiritualistas do gênero como Sun Ra, Art Ensemble of Chicago, e qualquer nome denso e sedimentado da seara Avant-Gard.

Patife Band e Sabor de Veneno reinven-taram as deliciosas sujeiras dum mundo desbocado, boca do lixo “Na Boca do Bode” [o livro com este nome, de Fábio Henriques Giorgio, narra os anos de protagonismo cultural da cidade de Londrina, quando ela abrigou festivais onde bailavam Itamar e Arrigo, em 1973]. Não é exagero dizer que a novidade musical desvirginada em Lon-drina e gozada em São Paulo manchou e transformou o panorama da música popular brasileira através da veste, travestida, meia vermelha e marginal, com navalha disfar-çada na cinta. São delações compromet-edoras da estirpe de um Pornógrafo, ou de um Bandido da Luz Vermelha, filmes res-pectivamente de João Calegaro e Rogério Sganzerla. Os dois, mais Ozualdo Candeias representam como diretores o cinema mar-ginal, fusão da narrativa oral com frases frases refrão, compondo a película como canto. 1973, Na Boca do Bode, Teatro Fila-délfia em Londrina, os Irmãos Barnabé mais Itamar Assumpção participavam da corruptelala musical que São Paulo arro-gou, A Vanguarda Paulistana.

Uma lembrançaem dois dos filmes funda-mentais do movimento marginal são feitas referencias à cultura do quadrinho, em o Pornógrafo de João Calegaro, e em A Mu-lher de Todos, de Sganzerla.

Rock em oposiçãoRock em oposiçãoA PatifariaA Patifaria

"Agora ,

é importante e

urgente

que se conheça o tra-balho da Patife Band, do Paulo Barnabé, irmão do Arrigo, que mesmo sem ter uma ampla discogra-fia, apenas dois LPs lan-çados em 20 anos, é o mais bem acabado exem-plo da contundência es-tética do irmão mais co-nhecido. Segundo Arrigo, Paulinho, como é chama-do, foi mentor do tipo de som que fez, nos anos 80, uma fusão entre a música popular urbana e a música erudita contem-porânea. Em tempo, Pau-lo também foi parceiro de Itamar Assumpção desde Londrina, e integrante da primeira formação da banda Isca de Polícia."

trecho do livro Na Boca do Bode, de Fábio Hen-

riques Giorgios

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“Revolucionários que não esperam, dinos-sauros não estacionados, reciclados. Tenta-remos reportar a você as histórias que cons-truíram a nostalgia, que não negamos existir, mas que alicerçaram cabeças e formas de pensar o mundo. Buscamos a compreensão da “mocidade do nosso temporal”. Perten-cemos a um não-tempo real. Acreditamos ainda construir e contribuir com “um novo amanhecer”.

[Trecho do editorial da primeira edição em jornal]

A partir da necessidade de agrupar inicia-

tivas musicais e culturais, surgidas na Zona Norte de São Paulo em 2005, um grupo de artistas, entre eles o grupo musical Soul Bar-beccue, organizou os seguintes eventos:

- 1° Mercado das Pulgas - Soul Barbeccue

- Lê Rock Bar - 16/04/2005. - 2° Mercado das Pulgas - Soul Barbeccue,

Latuya e Neno Miranda - V2 - 17/06/2005. - Lançamento do Single de Clara Celo-

fane, participação de Zé Brasil e Sílvia Hel-ena e Amarilis Gibelli - V2 - 12/08/2005.

- A Vez do Kabelo Crescer - V2 11/11/2005 - Soul Barbeccue, Perez Band, Hollowood Saints e O Bicho Falante.

- O Lugar é Aqui - Soul Barbeccue e Pou-cas Trancas - Instituto Jovem, participação de Zé Brasil e Sílvia Helena, e Jaques Gers-gorin - 11/03/2006.

- O Bicho Falante e Soul Barbeccue - V2 - 13/04/2006.

Com relevante sucesso de público e movi-

mentação de músicos, cineastas, poetas, pintores, artesãos de rua e até mesmo ven-

Em outubro de 2006, o Coletivo viu a cessão da atividade editorial, dada a falta de incentivos financeiros para sua continui-dade. Porém a iniciativa continua através de shows que possibilitassem o surgimen-to e inserção de novas bandas no cenário independente.

Houve então uma parceria com o Movi-mento "70 de novo” - que contou com o apoio do Coletivo, atuante através dos músicos André Mainardi e Camila Antonelli – marcante pela participação de músicos como César de Mercês (O Terço), Gérson Conrad (Secos e Molhados) e Diógenes Burani (O Bando, Moto Perpétuo, Walter Franco) teve também a participação de Percy Weiss (Made in Brazil e Patrulha do Espaço), Amador Bueno, (Jazzco), Ricardo Corte Real (Blues 4 Fun), Rodolfo Braga (Joelho de Porco e Terreno Baldio) e Edu Viola (Hair). Além dos músicos, o radialista Jaques Gersgorin, notório por apresentar o programa Kaleidoscópio em meados da década de 70, a organizadora do Festival Águas Claras de 1975, Amarilis Gibelli, a fotógrafa Grace Lagoa, ( Rolling Stone Bra-sil, Revista Música, Jornal da Música), os jornalistas Nico Pereira de Queirós e Joel Macedo (Rolling Stone Brasil e Revista da Música) o ator cineasta Paulo César Pereio e o cartunista Chico Caruso também esti-veram envolvidos com o movimento em suas celebrações mensais.

dedores de livros e discos usados durante a realização desses eventos multimídia, tomou corpo a formação de uma nova cena cultural. Para a permanência dessa trajetória, que começava a ser traçada, atentou-se para o fato de que a produção de um veículo de mídia independente seria interessante.

Tal veículo deveria dar conta de registrar acontecimentos contemporâneos relaciona-dos à tradição musical brasileira, especial-mente a tradição de influência paulistana. Em maio de 2006, Leonardo Aquiles, André Mai-nardi e Camila Antonelli concebem a Revista sÓ, material impresso de divulgação e reflexão contra-cultural. Ela visava a formação de uma cena musical frente à falência do mercado musical. O material, uma revista de 24 pági-nas e capa em papel couché brilhante, teve in-spiração no revolucionário fanzine sessentista Oz (publicado em Sydney e Londres), e nas publicações do movimento libertário Provos (Holanda).

Primeira edição em revista O lançamento da Revista sÓ, no V2 – extinto

pólo de cultura underground da Zona Norte de São Paulo –, contou com apresentações das bandas Soul Barbeccue (Santana) e Massa-hara (Moóca). Essa edição em revista do Cole-tivo sÓ (já esgotada), deu atenção especial ao grupo Apokalypsis, banda de rock progressivo destacada na década de 70.

A partir daí, sucederam-se eventos que de-senvolveriam os conceitos do Coletivo sÓ: le-var e integrar às novas gerações o trabalho de artistas que, por diferentes motivos ficaram e ficam afastados dos holofotes midiáticos.

- Celebrações do movimento 70 de novo no Saracura Barteatro Off Cena - 03/2006 à 07/2007.

- Soul Barbeccue no Saracura Barteatro Off Cena, participação de Zé Brasil e Ger-son Conrad – 16/09/2006.

- O Rock da Garoa (referência e hom-enagem ao festival setentista realizado na FGV) - Soul Barbeccue e Apokalypsis – 30/09/2006.

- O Rock da Cantareira I - Soul Barbec-cue e Mud Shark - V2 – 21/04/2007.

- Mud Shark e Soul Barbeccue - Fo-finho Rock Club – 20/05/2007.

- Soul Barbeccue e Kalango Louco com a participação de Expresso Monofônico e Os Baratas Organolóides – 15/09/2007.

- Soul Barbeccue e Zé Brasil e Sil-via Helena no Teatro Studio Piollin - 21/09/2007.

- Soul Barbeccue, Kalango Louco e Expresso Monofônico no FFLCH/USP-22/10/2007.

- Rock da Cantareira II - Vila Teodoro - Soul Barbeccue e Cosmo Drah - 15/03/2008.

Ações culturais e parcerias

ainda sÓ - para o conhecimento coletivo

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papel que imprimimÒs, o jornal coletivo sÓ

http://coletivoso.net

Frente à carência de publicações musicais especializadas, o jornal Coletivo sÓ desenvolve uma linha editorial que busca preencher essa lacuna através da produção de um material jor-nalístico impresso. O objetivo do jornal é difundir produções musicais e culturais

da e na cidade de São Paulo. Ao traçar esse caminho, a pub-licação relata experiências culturais que estiveram, em sua maioria, à margem dos processos historicamente massifican-tes da indústria cultural. O que inspira o jornal é a necessi-dade de exposição da riqueza de trabalhos culturais que não sucumbiram ao tempo. Dessa forma, o Coletivo sÓ trabalha para impedir o sepultamento de parte relevante da história da cidade de São Paulo.Outro foco é a busca por conteúdo e projeto gráfico diferen-

ciados. Há um cuidado em pensar as pautas, o que resulta em um trabalho dedicado aos gêneros da reportagem e do artigo, com atenção também a entrevistas. O projeto grá-fico é apoiado em ilustrações feitas exclusivamente para o jornal. Remetendo aos padrões gráficos de publicações clássicas no jornalismo musical brasileiro, como a Rol-ling Stone Brasil e o Jornal de Música e Som, o coletivo Só estampa suas capas com o trabalho autoral de um artista [ver exemplos desse trabalho na edição espe-cial sobre Eduardo Araújo].O esforço combinado entre esse tipo de arte gráfica

e o jornalismo que beira o literário – pouco afeito aos conteúdos simplesmente noticiosos – visa levar à re-flexão sobre os processos decorrentes da formação da indústria cultural. Ciente de sua participação nessas redes ampliadas de reprodução cultural, o Coletivo atua como sujeito crítico, levando a cabo máximas como as do “jornalismo independente” e do “jorna-lismo underground” [Vide as ideias trabalhadas no editorial na quinta edição – jornal maio de 2009]. Além do caráter de salvaguarda da memória e da consequente produção de um acervo de caráter midiático – como aconteceu com o enfoque dado ao Lira Paulistana (matérias publicadas em maio e julho de 2008) –, o jornal repercute também no-vas expressões musicais, tais como o grupo de improviso ori-undo da Escola de Comunicações e Artes da USP, Banda do Canil; a banda chilena de jazz Akineton Retard, que realizou apresentações na cidade de São Paulo e gravou disco ao vivo com músicas gravadas no Centro Cultural São Paulo; e o Movimento Psicodália, da região sul do país.As edições de setembro, outubro e novembro de 2009 foram publicadas em parceria com o Centro Cultural Popular

da Consolação (CCPC), apoiador do projeto durantes esses meses e que retoma o caminho a partir desta edição. Tal parceria, que consite na publicação de materiais sobre o CCPC no jornal e na cessão de espaços no centro ao Coletivo sÓ, permitiu que a publicação ampliasse seus objetivos. Grupos musicais independentes de São Paulo tiveram a possibilidade de apresentar seus trabalhos em um palco, atenuando a carência de mecanismos que garantam uma carreira profis-sional e segura para esses artistas.

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“Quem viveu a noite do bairro Butantã nos últimos 10 anos, ouviu falar da concentra-ção de loucos presentes num jardim, de alta voltagem sonora. O nome remete ao quarto álbum dos Mutantes - no Jardim Elétrico comemorava-se a criação e o desbunde. Negão e Igor iniciaram a parada quando vi-viam na mundrugagem plena da Faculdade de Filosofia Letras e Ciências Humanas da USP”. Em 2004 Tiago Barbosa recebia por e-mail, lá da Bahia, notícias do bar Jardim Elétrico. No primeiro dia paulistano, depois de passar um ano baiano, Tiago foi conhe-cer o bar fundado pelos parceiros Igor e Emerson. Concluiu que o espaço precisava de maior organização. Tiago foi convidado e, segundo ele mesmo, cometeu a insanidade de aceitar a gerência do pico. Passadas “várias dificuldades, gerir um espaço é bem difícil e lidar com a cultura, algo tão nobre, sem apoio do estado é complicado”, Tiago passou a bola e a experiência da gerência para Jaime Soares, que ficou a frente da gestão do Jardim até a mudança - o equi-pamento de cultura alternativo migrava para as bandas do centro, na virada dos anos 2006 e 2007.

O espaço cultural Jardim Elétrico exis-tiu na Eiras Garcia próximo ao portão 3 da Universidade de São Paulo. Todas as noites varavam com música ao vivo - o coração da coisa - , esporadicamente, aos sába-dos e domingos, atividades culturais do bairro instalavam-se no Jardim - o organ-ismo da coisa; Eram movimentos ligados

ao nordeste, especialmente ao Ma-ranhão, representado pelo Morro do Querosene e as saudoções ao Boi. Cada vez mais ficava relevante a ne-cessidade de oferecer ao público não só do bar, mas especialmente do bair-ro, novas oficinas e cursos. Na época Jaime trabalhava junto à Acepusp - Cursinho Popular dos Estudantes da USP -, que tinha sede na Consolação.

A limitação do espaço do Jardim foi crucial para as transforma-ções de uma célula que pretendia mutar-se de bar para um equipa-mento cultural que aderisse a ob-jetivos claros, como a transforma-ção via produção coletiva e cultural.

A Acepusp foi vizinha de um restau-rante. Quando o comércio faliu bas-tou inventar uma porta e dar de cara com o espaço que veio a tornar-se o

Centro Cultural Popular ConsolaçãoEm entrevista radiofônica cedida a

Uirá Vital, Jaime conta como as coi-sas se desenrolaram: “Conseguimos uma invasão, porque a parede era germinada, e depois de alguns me-ses fizemos um acordo com o pro-prietário bancando o IPTU do prédio e daí forma-se a associação com for-malidade jurídica e CNPJ, que pos-sibilitou galgar outros andares de

2005: O Espaço Cultural Jardim Elétrico na ativa. Nesse ano ocorrem shows com Lanny Gordin e oficinas junto dos moradores do Morro do Querosene, como a Jamquerô

CCPC

CCPC

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integração cultural, social e política.” O CCPC surgiu da demanda de vári-

os grupos por um espaço. Era ur-gente uma casa para expressar dife-rentes realidades culturais, sociais e políticas.

Passaram então a organizar-se os primeiros grupos para efetivar a cons-trução do CCPC. “Organizar reunião aberta a todos que quisessem partici-par da empreitada, foi uma loucura... literalmente... porque um dos grupos ligados era da luta antimanicomial. Eles organizavam aqui o Bar Saci. Era gente oriunda do Bar Tantã e outros bares que trabalharam com seres humanos catalogados como loucos pelo estado, mas tão normais quanto qualquer outro trabalhador, morado-res de rua. Havia também a presença do IVOZ, ligado ao hip hop, ajudando na montagem da estrutura”.

Tiago recebe novo convite, o que mudaria a sua relação com o traba-lho e a realização cultural. Chamado por Jaime para tocar a montagem de uma sala acústica, Tiago não sai mais dali, passando a habitar o meio/sótão do CCPC ao mesmo tempo em que exercia o papel burocrático de presi-dente da Associação Cultural, legal-mente montada. Com a palavra Tiago Barbosa, o funcionário do mês vitalí-cio relembra os divisores de água do CCPC: “A reunião era incrível, 12 cor-

denadores, tarefa: desenvolver a sustentabi-lidade do espaço. Graças à atuação do Jaime com parcerias e articulações, surge o projeto Espetáculo (patrocinado pela prefeitura) - so-norização, iluminação e cenografia no CCPC. Esse foi um momento áureo, onde os grupos foram colocados em cheque enquanto o de-senvolvimento do trabalho, estruturação do espaço físico e da prestação de serviços.”

Com o fim do projeto, houve a debandada dos grupos que viviam no entorno do CCPC. Havia nesse momento eventos de sextas e sábados, tocados pelos coletivos de cultura reggae, Reggaematic Control e You and Me and on a Jambore, com públicos estrondo-sos, chegando a 400 pessoas. Mas somente festas regulares dariam conta de equilibrar as contas da casa, que passou a ser além de centro de ações culturais, uma legítima casa da música.

Solitários e com muito trabalho a fazer Tia-go e o técnico de som Bodão, remanescen-tes da primeira era do CCPC decidem: “Va-mos encarar? Vamos!”. “Levando o Bodão até o ponto, eu escutei um jazz maravilhoso, no Ibotirama”, logo Tiago recebia o baterista Jonatas Sansão que de pronto aceitou as-sumir as segundas com jazz. O pessoal do Reggaematic aparece com projeto de dub às terças e desde setembro de 2008 os eventos passam a ser diários.

julho, 2007: festa de pré-in-auguração do Centro Cul-tural Popular Consolação

julho, 2008: re-estrutu-ração, as semanas pas-sam a ser cheias com jazz

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Ocupe a cidade

Um mês atrás. O amor pela cons-trução civil e pelo gene paternal des-crito através de lembranças sigilo-sas em ato noturno. “Cara, você gosta mesmo daqui. Sabe que vai ser de-molido e mesmo assim investe es-forço na manutenção da casa” - já são duas da manhã e o cara não desiste de ver aquele espaço útil, mesmo com a certeza de que virará entulho. A porta que precisa de reparo é vizinha do pe-daço de parede que ressoa em tom de réquiem “Ocupe a Cidade”, mensagem grafada e erguida até o dia 15, escritório do Centro Cultural Popular Consolação.

A marca de stencil não estava afixada apenas através de tinta na parede, mas também estampada nos rostos dos que trabalharam durante três anos nessa ocupação, mantendo picos de música que chegaram a durar de domingo a domingo, um rolo compressor cultural, com muito espaço e tempo leve. Agre-gamos à cidade de São Paulo. O direito de festejar é de todos, e por mais que o tema não tenha sido tratado como ob-jetivo durante reuniões, hoje, bem no fundo, parece ser isso o mais impor-tante. É no momento de festejo que o homem insiste em ser feliz,

Hoje, um dia após mais uma apre-sentação de Paulo Barnabé e sua Patife Band, o CCPC ainda vive de forma vigo-rosa os últimos dias no assentamen-to da Consolação. Vendido, o prédio alugado para a associação capitaneada por Tiago Barbosa, será demolido e dará lugar a uma concessionária. Seria bom ver as falanges de som dos Sound System erguerem-se com objetivo de evitar essa demolição, mas o volume dos sounds prega a paz, e o alarde, com volume máximo é pra anunciar a mudança.

A rede

Em julho de 2009, o jornal coletivo sÓ chegou às mãos de Cinthia, que fazia as honras da casa no começo de noite, sexta-feira - ainda em pauta a morte de Michael Jackson, homenageado pela casa naquele dia. Cinthia recep-cionou o jornal com atenção e, após escutar meia dúzias de frases, dirigiu-se rapidamente, e com boa vontade, a uma sala detrás do guitarrista e de sua guitarra que saltavam da parede [o pai-nel ilustrava Lanny Gordin e sinalizava que aquele ambiente não era um meio qualquer]. A espera foi pouca e com resultado chocante. Despretensiosa-mente, o coletivo sÓ marcava reunião pra discutir um projeto de jornal:”O Tia-go disse que quer marcar uma reunião. Ele disse que é isso que ele quer. Ele quer fazer um jornal pro CCPC”.

O resumo da ópera seguiu novamente nosso discurso: amarrar a organização de grupos reorganizados pela possi-bilidade de criação de demandas cult-urais. Grupos que querem convergir os públicos pra fortalecer cada ação, au-mentando os canais de comunicação e diminuindo o isolamento.

Em agosto de 2009, narração de Tiago Barbosa, logo após chegada dos fardos do primeiro jornal conjunto sÓ/CCPC. (aurante festa com a Banda A Mosca na Sopa, madrugada do dia 21 para o 22):

- “Tá na mão... Saía um pedido das

mesas que ficavam na rua de areia em frente ao restaurante em Velha Boipeba Bahia, o Boteco. O pedido pro garçom, ia pra copa e cozinha, em poucos minu-tos Cecília e Gabriel avisavam: Tá na mão! E o prato ia quentinho pra mesa, servido com muita alegria e bom hu-mor. Bom galera, não estamos na Ba-hia e muito menos em Boipeba, mas TÁ NA MÃO! O Jornal Coletivo Só 7º edição, os malucos foram pegar na gráfica 00:40. E vieram pro CCPC em pleno toca Raul com os jornais. Sejam bem vindos à rede! Eu poderia passar o PDF pra vocês, podem pegar aqui no CCPC a 7º Edição do Coletivo Só com o encarte do CCPC que ficou animal. Parabéns às duas teias desta rede, e aos colabora-dores, que foram pegar o jornal e estão juntos conosco agora. Vamo pra cima!”

Na rede o dia não terminava. Quan-do lá em cima fechava uma porta que abria a possibilidade de sono, o últi-mo cliente ia embora dando mais um nó e contrastando com a limpeza que começava. Às duas da tarde mais um nó fechado e a porta voltada para a movimentada rua abria-se revelando a recepção a um novo dia confuso e po-luído. No 1897 havia um canal aber-to que articulava o fôlego da sempre jo-vem ação cultural de São Paulo com a necessidade de novos ares. Ar novo pra circular em meio à amargura de um terreno confuso e poluído por mais uma concessionária.

julho de 2010: Preparação para mais uma síntese. Logo o circo estará montado e com lona dupla - a partir de agosto, os endereços são estes, BordÔ Rosevelt e General Jardim CCPC. Retomada da parceria sÓ/CCPC

antes, julho/agosto de 2009: início da parceria co-letivo sÓ/CCPC. Lançamento da sétima edição, com capa homenageando o grupo Som Imaginário

Jazz

São Paulo viveu e viu durante a déca-da bandas de música instrumental as-sumindo noites improváveis. Além das casas que se arriscam bem ao levar o jazz ao pé da letra como o “nos fundos”, em Pinheiros, e o Berlin que ocupou a vaguidão da terça com música de im-proviso, o Centro Cultural Popular Con-solação consolidou um dos quadros mais imprevísiveis ao compor a agenda noturna de São Paulo com o jazz ao seu modo, finalizado em pizza e residência a músicos talentosos, espaço atingido a partir da parceria entre o CCPC e o quarteto do músico Jonatas Sansão.

O jazz comandado pela Jonatas Jazz Quartet atraiu mais que o olhar dos curiosos que passavam por uma Con-solação diferente: trouxe para o CCPC ouvidos pouco afeitos ou que desco-nheciam a força da música negra. Música instrumental de ponta às se-gundas com Jonatas e direito a di-versas gigs com o guitarrista Michel Leme. 19 de julho e o que se vê às duas da manhã não será visto quando este jornal estiver sendo lido. Não há como deixar de lamentar. Despedir-se de um lar é realmente comovente. Só músicos e diretoria nos fundos do CCPC, a casa com o maior número de sofás antigos da cidade acomoda bem e consola a turma, ainda viva e já gestando o em-brião do que é novo. O jazz há de con-tinuar!

Agora mais uma noite finada lá no CCPC. A porta de correr virada pra rua apresenta mais uma mudança no Cen-tro. Pintados estão nome e número da casa de cultura, uma reforma que pro-jeta o novo espaço do Centro. A porta de correr é item de decoração lá na Gen-eral Jardim, 269.

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dos guetos Ao clube

Às terças, feiras evidencia-se o caráter popular do CCPC. Bastava des-cer a Consolação de ônibus pra notar a movimentação no começo das tar-des. A calçada é tomada por jovens, com destaque paras as tranças rasta. O Dub soa a partir de vinis, é o encontro de DJs especializados na música ja-maicana, é protesto resultante da cel-ebração de valores mais alegres. Pare-des de cai-xas de som são montadas. Nada mais propício para a reunião dos Sounds do que o alojamento no Centro que entalha cultura na cabeça dos que entram ali. É popular porque descen-traliza a agenda normativa com gostos e gêneros distintos. E essa distinção não é o centro. A diversificação não se beneficia das gentilezas centrais.

ccPc e A culturA dos sound systens

A dança é uma mexida de cintura que existe desde o soul, aqui apresentada aos tratos jamaicanos do early reggae, passando pelo ragga com semelhanças sonoras que remetem aos gue-tos do Rio, de Kingston, São Paulo, Londres. Aqui resistiremos.

Os principais agentes do reggae no CCPC são os combos Reggae-matic, You and me on a Jambore, Muamba Sounds e Quilombo Hi-Fi.

A cultura dos sound systems, aquelas caixas empilhadas que tocam reggae existe é realidade em São Paulo. São inúmeros os grupos

e eles passaram a fazer parte dum mesmo espaço no centro. “O CCPC teve um papel importante na expansão e sedimen-

tação de uma cena sound system em São Paulo. A cena já existia antes do CCPC, mas com a centralização de diver-sas festas de qualidade no mesmo lugar e o mais im-portante, com diversas propostas e estilos diferentes de som e público, ela se sedimentou e criou raízes. O pú-blico do CCPC sempre foi muito receptivo e abraçou as

diferentes vertentes do reggae e as diferentes propostas de cada festa ou sound”. Essas palavras do professor Fepa,

da Muamba Sounds, ajudam a compreender a popula-rização da música reggae tomando de assalto o CCPC, que

viu a casa ficar cheia de populares, que sabiam e conheciam dessa música periférica. Na margem, nessa margem da avenida

reunia-se gente a fim de dançar e curtir o dub entre 18 e 23 horas - a maior festa popular do centro com ingresos a 3, 4 reais (re)surge

com uma média de 300, 400 pessoas, que podem voltar cedo pra ca-sas não tão perto assim do centro, tendo acesso a um ponto de ônibus viscinal da cidade funcionando a ponto de bala.

distinção Essa distinção está presente justa-

mente nos bairros periféricos da ci-dade e do Brasil, como comprovam os grupos Haxixins da Zona Leste e Soul Barbeccue, da Zona Norte. Os cea-renses do Fóssil chegaram através do projeto Conexões Musicais, que trouxe nomes conterrâneos da banda e de peso pra casa como O Sonso, O Jardim das Horas, Monophone, Projeto Noise 3D, além do grupo Malditas Ovelhas de São Carlos e dos mato-grossesnses da Macaco Bong.

Não houve e nem vai existir norma ou conduta comportamental; contrária a isso o CCPC continuará a crer e ver todas as modas e contemplar todos os modos. A contradição é a estamparia do Centro Cutlural Popular Consolação, que migra para a General Jardim. Tudo em uma semana: jazz, dub, samba paulistano, alternativo e até o finado emo - emo que dá lugar aos coloridos, Strike, Restart e Cine, bandas que par-ticiparam do festival patrocinado pelo Clúb Sattva, e residente da casa desde a fundação (matinês de sábado e do-

Agosto de 2010, a continuidade: “O CCPC é importante pra cultura Sound System, não para o reggae. Para o reg-gae a importância é o Sound System. É uma corrente. O Sound System mantém o reggae na sua característica original. Diferente do cenário de bandas que vemos no brasil que alteraram todas as formas de fazer reggae. O reggae nacional não tem como ser ouvido da mesma forma que o reggae ORIGINAL de qualquer parte do mundo, o Brasil ainda está nas fraudas aprendendo a TOCAR reggae, CANTAR reggae, fazer o REGGAE. Exis-tem produtores, quase todos digitais fazendo coisa boa e séria de reggae, vertente digital a qual não é tão fa-vorecida e ouvida por aqui. O importante é parar de surgirem oportunistas, pessoas que julgam-se amantes do reggae, mas são oportunistas que querem forçar/criar um mercado que não existe ainda e acabam enga-nando pessoas que estão começando, e tirando a esperança de muitos que gostariam de começar, fazendo isso em troca de dinheiro. E olha, tem gente aí famosa fazendo isso e todo mundo babando ovo. Aí é que tá a diferença de quem faz por/pela cultura como os que citei e alguns que estão por ganância, cobiça e prazer.”

Marcelo Rodrigues Gregório, Jah kNomohEngenheiro de Som e Produtor Musical

Quilombo Hi-fi

MAnifestA o MAnifesto

mingo).

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O espíritO 1969

Uma das boas histórias que surgem na pesquisa sobre o que é denomina-do como early reggae, skinhead reg-gae - prato principal oferecido pelas paredes de som - é a descoberta do passo mais popular dos que dançam o som jamaicano os passos do homem sobre a lua, inspirados justamente na levada de baixo conhecida como “Moonstomp”, referência à chegada do homem ao satélite que movimenta as marés. Ano de 1969, a contracultura estava na ordem do dia dos jovens ja-maicanos.

No fim do sessenta os conflitos raci-ais e a violência eram a rítmica dum jovem ainda distante das transforma-ções ligadas à religiosidade rastafari, assim eram dados os primeiros pas-sos do reggae, da música jamaicana que atravessou o oceano pra apor-

tar no solo da rainha, a Inglaterra, berço da “primitiva“ “subcultura” mod, caractere do jovem inglês que viveu em meio a transição

entre o pós guerra e o início da política do Wellfare State, o es-tado de bem-estar social. Mi-grações em massa de jovens

jamaicanos passaram a acontecer na mesma linha do tempo - em busca de melhores condições so-ciais os Rude Boys, ja-

maicanos que aderi-ram à violência

como protesto foram a Inglaterra bus-car o que era deles.

A cultura musical jamaicana vira contra na Inglaterra. Foi a união entre música jamaicana e canções dotadas de crítica social o motor responsável por atrair ouvidos de jovens trabalhadores da classe média inglesa. Mod mais reggae, skinhead reggae, fusão apar-entemente estranha, a cadência astral de Jah, com as catarses apocalípticas da vida capitalista patrocinadas por anfetaminas. As descrições que dão conta do surgimento e da expansão da cultura reggae deixam claro como essa música nasceu no gueto e depois veio a ser escutada na inglaterra dos Mods, jovens que cultivavam as culturas de rua e tinham orgulho de circular num submundo envolto de música e última moda. Mods que eram fanáticos por música negra e gastavam em bares para ouví-las. A adoção do termo skin-head por quem tocava reggae como ganha pão na Inglaterra surge como estratégia comercial, para intensificar a ligação com a moda dos ingleses. e nada tem a ver com a degeneração sombria do termo.

ouça o podcast do combo You and me on a Jambore e saiba mais:

http://youandmeonajamboree

.blogspot.com/

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Pegue um telefone, ligue para a pizzaria e imagine que a atendente trabalha no Cen-tro de Valorização da Vida. Da vida, num flat do Centro, uma garota prepara seus pro-gramas a partir de coquetéis de anfetaprox. Em "Hipóteses para o amor e a verdade", peça dirigida por Rodolfo Garcia Vásquez, e escrita em parceria com Ivam Ca-bral, as cenas surgem como reflexos da vida de qualquer um que esteja acomodado na arquibancada do Teatro dos Satyros. A tela ora encobre o palco, ora recebe projeções.

Coleção de diálogos prosai-cos sobre vícios, depressões e alegrias singelas montam o espetáculo que reforça uma das intenções declara-das dos Satyros: propor um teatro que diminua as distân-cias entre público e palco. A peça é um trabalho com as tensões, a metalinguagem teatral e a forma de agir dra-matugicamente em cada pa-lavra, pronunciada em vida breve. Na peça e na vida, o medo (do amor e da verdade) alivia-se com a voz da aten-dente da pizzaria, com Diase-pan ou com uma boa conver-sa. Se na cidade de São Paulo é a desconfiança que rege o cruzamento dos olhares, a conversa alivia as tensões, relaxa o corpo, intera uma pessoa da outra.

Adão parece um muleque metido em uma vida de praz-eres de que não dá conta. É um malandro insuficiente, deslocado no tempo. Alicia os convidados da peça e ofe-rece-lhes cocaína, "para se divertir a dez reais". É ele o

excêntrico que, para gerar filhos, transfor-ma a puta Madalena em boneca embalada no insulfilme.

Na boca de uma guia turística, centenas dão conta de apresentar alguns números curiosos. Adão, do alto do prédio, aponta para a guia, em algum lugar do centro, e conta elegante moça à Madalena.

Phedra de Córdoba, atriz do espetáculo, descreve o processo da criação das perso-nagens, como as descritas acima. Em uma conversa informal, ela conta que os atores foram reunidos para assistir a entrevistas e depoimentos colhidos por Rodolfo pela ci-dade de São Paulo. Cada um dos atores teve que assimilar os depoimentos e escolher quais deles comporia bem a personagem em hipóteses.

Criar uma personagem é tirá-lo de den-tro de si mesmo e inseri-lo em um círculo social em que a dramaturgia é necessária, diante da triste perspectiva de aceitar a solidão e viver sem a expectativa da morte. As representações na peça, como todo o ro-teiro, são porções de realidade contidas na prosa mais simples, mais descomprometi-da. Prosa que vai sendo esvaziada enquanto experiência cênica, sendo encurralada no tempo e no espaço capitalista.

Talvez seja dessa reflexão a escolha de

Na praça, a vida se encena

Hipóteses para o Amor e a VerdadeQuando: sexta, sábado e domingo, às 21h30; até 25/7Onde: Espaço dos Satyros Um – praça Franklin Roos-evelt, 214, São Paulo, SPQuanto: R$ 30,00; R$ 15,00 (estudantes, classe artística e terceira idade); R$ 5,00 (oficineiros dos Satyros e moradores da praça Roosevelt).Informações: 0/xx/11 3258-6345

ligar o uso do celular e da comunicação rápida, digital, à realização das cenas. É a partir daí que o Satyros expõe a experiên-cia do teatro expandido e oferece uma peça aberta aleatoriamente aos roteiros contidos nos aparelhos de celular - ambientes vir-tuais cada vez mais rebuscados, atendendo desejos a todo momento, dessacralizando a exposição e criando um ambiente onde a participação do público fica evidente.

A personagem de Phedra é uma mãe, que vive em estado vegetativo, sob os cuidados de uma enfermeira. Ela é a primeira a entrar em cena. Causa espanto com a alma gélida, insossa. Phedra de Córdoba transforma-se a ponto de dispor seu corpo ao ledo engano de uma espectadora, que a cutucou cinco vezes até dizer "Nossa, é de verdade!". "Ela ainda tinha unhas compridas. Marcou toda a minha pele", lembra a dama dos Satyros.

Phedra queixa-se orgulhosa desse teatro expandido, que transtorna como a vida. Uma peça em que celulares são permitidos, o toque parece ser tolerável, e os objetos de cena confundem-se com os corpos dos atores. Assim a peça acontece, através des-sas interações bem colocadas num inven-tivo jogo de cena.

CCPCMúsica ao vivoRua General Jardim, 269

2ª Jazz3ª Dub

5ª Samba

Sábados som no volume

máximocom Dance Hall e

Sound Systens

confira o restante da pro-gramação em:

http://www.ccpc.org.br/

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