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• TEMA • Semana dos Seminários | pág. 257 Promover os “lugares vocacionais” Entrevista ao Reitor do Seminário e a seminaristas | Irmã Maria de Lurdes Capelo ANO XIV • NÚMERO 42 • SETEMBRO / DEZEMBRO • 2006 • Carta Pastoral apresentada no Dia da Diocese | pág. 219 Assembleia marca início do ano pastoral documentos pastorais • notícias • serviços e movimentos • tema • reflexões • docu

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• TEMA • Semana dos Seminários | pág. 257

Promover os “lugares vocacionais”Entrevista ao Reitor do Seminário e a seminaristas | Irmã Maria de Lurdes Capelo

ANO XIV • NÚMERO 42 • SETEMBRO / DEZEMBRO • 2006

• Carta Pastoral apresentada no Dia da Diocese | pág. 219

Assembleia marca iníciodo ano pastoral

documentos pastorais • notícias • serviços e movimentos • tema • reflexões • docume

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Leiria-FátimaÓrgão Oficial da Diocese

ANO XIV • NÚMERO 42 • SETEMBRO / DEZEMBRO • 2006

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| Luís Inácio João

| Luís Miguel Ferraz

| Henrique Dias da Silva

| Belmira de Sousa, Jorge Guarda, Luciano Cristino,Manuel Melquíades, Saul Gomes

| Luís Miguel Ferraz

| Diocese Leiria-Fátima / Gabinete de Apoio aos Serviços Pastorais

| Seminário Diocesano de Leiria • 2414-011 LeiriaTel.: 244832760 • Fax: 244821102Correio Elec.: [email protected]

| Quadrimestral

| 330 exemplares

| 4 euros (avulso) • 12 euros (assinatura anual)

| Gráfica de Leiria

| 64587/93

Director

Chefe de Redacção

Administrador

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Impressão

Depósito Legal

Ficha Técnica

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Índice

EditorialCoesão europeia e solidariedade humana 165

Documentos PastoraisCarta Pastoral • Descobrir a beleza e a alegria da vocação cristã 169A beleza e a alegria da vocação de especial consagração 181Arte Sacra em Fátima 192Fátima no coração da História 194Abertura da Peregrinação Aniversária 196Reconduzir para o centro do culto a verdadeira adoração de Deus 198Em Ti cantamos a Beleza da Misericórdia do Pai 201Carta aos Jovens: Itinerário Vocacional 205O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas! 206“Vinde benditos de meu Pai”: A apoteose da Misericórdia 207Comunicação ao Conselho Presbiteral da Diocese de Leiria-Fátima 210Comunicado do Conselho Presbiteral da Diocese de Leiria-Fátima 216Louvor e memória no final de um ano 217

Em DestaqueCarta Pastoral apresentada no Dia da Diocese • Assembleia marca início do ano pastoral 219Entrevista ao padre Jorge Guarda, vigário-geral da Diocese 221

NotíciasFaleceu o padre Luís Lopes Perdigão 224Faleceu o padre José Carreira Júnior 224D. António Marto promove múltiplos encontros 225Dia Mundial de Oração pela Vida Humana 226Exposição “Sou o Anjo da Paz” 226Congresso “Figuras do Anjo revisitadas” 227Concurso para crianças - 90 anos das aparições 227Irmã Lúcia vai ter museu 228Novos estatutos do Santuário de Fátima 228Bodas de prata das Servas de Nossa Senhora de Fátima 228Jornadas vicariais das Colmeias 229

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Índice

Vigília missionária diocesana 229Bispo preside a vigílias vocacionais vicariais 230Bispos do centro debatem futuro das paróquias 232CAES promoveu “Bênção do Caloiro” 233Jornadas Vicariais de Leiria 233Jornada Diocesana Pastoral Familiar 235Marcelo Cavalcante instituído acólito 235Grupo Vocacional Santo Agostinho 236Encontro das comunidades neocatecumenais 236Assembleia Diocesana da Sociedade de S. Vicente de Paulo 237Cáritas entrega mais três casas 237Milhões de estrelas em noite de Natal 238

Serviços e movimentosA vocação do catequista 239

Entrevista ao padre José Henrique, director do SDECIASDECIA propõe reuniões para catequistas

“O escutismo é lugar privilegiado para descobrir a vocação” 244O Escutismo Católico PortuguêsEntrevista a Margarida Marques, chefe regional do CNE de Leiria

Como Leiria acolhe os estrangeiros... 249Organismos que apoiam movimentos migratóriosEntrevista a Olga Ferreira, técnica da AMIGrante

Propostas de formação no CFC 252Comissão Diocesana Justiça e Paz 253Centros de Preparação para o Matrimónio 254MEC – programação e formação 254Movimento dos Convívios Fraternos 255

TemaSemana dos Seminários • Promover os “lugares vocacionais” 257

Entrevista ao padre Armindo Janeiro, reitor do Seminário DiocesanoSeminaristas em discurso directo

Irmã Maria de Lurdes Capelo 267“Como não hei-de estar feliz, se é o Senhor a minha herança?”

Índice Geral - 2006 269

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Editorial

Coesão europeia e solidariedade humanaA Comissão Europeia decretou que 2007 será o Ano Europeu para a Igualdade

de Oportunidades para Todos. A iniciativa, em si mesma louvável, não deixa de equivaler, desde logo, à coragem de um reconhecimento, pelo menos implícito, da existência de exclusão e discriminação também na Europa.

Os objectivos específicos, segundo o programa, assentam em quatro pontos que podem sintetizar-se assim: sensibilizar a opinião pública; Debater os meios para aumentar a participação; celebrar e facilitar a diversidade considerada como trunfo da União Europeia; lutar por uma sociedade mais coesa. Apontam-se como aspectos especialmente susceptíveis de discriminação: o sexo, a raça ou origem étnica, a re-ligião ou as convicções, a deficiência, a idade e a orientação sexual. Devem ser alvo de especial cuidado o emprego, a habitação, o acesso a bens e serviços, e a educação. Tudo para maior igualdade de oportunidades na vida económica, social, política e cultural.

A proposta é endereçada aos países membros, depois do Ano da mobilidade dos trabalhadores, em 2006, e antes do Ano do diálogo inter-cultural, em 2008. É pois um projecto integrado, que se deseja continuado. Se, em política, uma iniciativa é boa quando visa o bem comum, e indiscutível se corresponde a uma verdadeira necessidade, a desigualdade de oportunidades imposta por alguém, mesmo que maioria, colide efectivamente com a natureza desse “bem” e com o seu carácter que, sendo “comum”, não pode ser contra ninguém, mesmo se minoria. Costuma dizer-se das campanhas temporárias em geral e pode dizer-se também desta, peca por não ser permanente, mas, se não mais, ficará o valor pedagógico de um alerta para o que se advoga.

Estamos em presença de uma causa que subsistirá, por força da sua própria na-tureza, mesmo depois de solucionados os casos de descriminação. No caminho para a igualdade de oportunidades, a perfeição será sempre e apenas tendencial, num es-forço de equilíbrio saudavelmente interminável entre a igualdade de oportunidades para todos e o respeito pela diferença de cada um, numa dialéctica que estes dois princípios indissociáveis mantêm entre si, dentro de limites dificilmente balizáveis. Sabiamente, a Comissão Europeia coloca entre o necessário e urgente, a afirmação do pressuposto essencial da diversidade, classificada como o trunfo da Europa. Em síntese, a qualidade e também o carácter permanente da luta pelo direito à igualdade

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Editorial

de oportunidades ligam-se ao entendimento da extensão do seu âmbito para além da erradicação sempre urgente dos desrespeitos mais evidentes: na igualdade de opor-tunidades inclui-se a oportunidade da afirmação das diferenças reais e legítimas, obrigando à permanente gestão dos dois princípios referidos.

Entre os aspectos fundamentais da vida das sociedades humanas há dois aspectos fundamentais: o dever de todos e cada um responderem, solidariamente, por cada um e por todos; e, a garantir e ordenar esta responsabilidade solidária, a necessidade de cada instância tudo fazer, a seu nível, e na medida das suas capacidades e atribuições, para não impedir (sentido negativo) e sobretudo permitir e ajudar (sentido positivo) as demais instâncias a fazerem o que compete também a elas, ou a elas somente.

- A União Europeia tem por base a solidariedade exercida segundo a regra basilar da subsidiariedade. É justo reconhecer que, do Tratado de Roma aos nossos dias, ela se constituiu determinante na afirmação dessa regra tão facilmente esquecida ou ignorada, nomeadamente pelo Estados membros. Na sua actuação, de outro modo impossível, a Comissão Europeia tornou-se fundamental para a advertência da im-portância da subsidiariedade e sua aplicação em todas as nações, no relacionamento das instâncias institucionais, desde o topo até à base da pirâmide organizacional. Por seu lado, os Estados, na nova circunstância de uma instância superior europeia, sentiram de outra forma as vantagens da subsidiariedade: delegando e reconhecendo competências e capacidades à União, sem serem ultrapassados nem dispensados das suas, passaram a dispor de apoios valiosos, de outro modo impossíveis, e são advertidos para o carácter subsidiário da sua posição dentro das respectivas nações e suas instituições.

Não obstante, está-se ainda longe da meta almejada, sobretudo ao nível dos Esta-dos, mas também da União. O Estado português continua renitente em tratar as ins-tâncias suas inferiores do mesmo modo que exige ser tratado pela Europa. Nomea-damente, não abre mão dum controlo exagerado em sectores que percebe utilizáveis para gestão da sua influência, mas que, efectivamente, só são da sua competência de modo subsidiário, como garante ou suplente nesses mesmos sectores. Péssimo sintoma, a sociedade civil, excluindo normalmente as instituições económicas e por circunstâncias bem específicas, e incluindo a instituição basilar da família, em vez de pedir contas por esta usurpação, aquieta-se comodistamente.

Quanto à União Europeia, que preza tanto a subsidiariedade, ela vem demons-trando dificuldade crescente em respeitar e aplicar o princípio da subsidiariedade, de modo especial em matérias do âmbito cultural e ético. Sabendo-se que as nações se constituem e subsistem, antes de mais, graças a uma consciência colectiva cimenta-da nos valores das respectivas culturas, onde a pessoa e a família são as instâncias prioritárias, nem a Comissão nem o Parlamento europeus se podem arrogar o direito de pressionar nem as consciências colectivas, nem, muito menos, as consciências

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individuais, sem abusarem das suas competências meramente subsidiárias e sem fla-grante desrespeito do direito à diferença e à liberdade de expressão. Contrariamente, a União Europeia tudo deve fazer para que não faltem meios às instâncias nacionais para preservarem a sua “alma” cuja originalidade enriquece também a Europa unida na diversidade. Péssimo sintoma, a cidadania europeia ainda não integrou esta di-mensão e parece insensível a este abuso.

- É focando especialmente a solidariedade de todos com todos, que sobressai a excelência da proclamação do direito à igualdade de oportunidades. Mas como igno-rar a lacuna de tal proclamação se limitar à míope perspectiva do espaço geográfico europeu? Por motivos humanitários a que se juntam os históricos e os decorrentes da sua posição politica, cultural e económica, a Europa tem o grave dever de se assumir na solidariedade universal, nomeadamente com os mais pobres. Sem isto, evocar o substancial acervo comunitário da igualdade e da não-descriminação não é apenas ilusório mas provocatório. Os cidadãos europeus deveriam exigir à Comissão e de-mais órgãos da União o cumprimento deste dever que, nas actuais circunstâncias, se reveste de crucial importância: o anúncio de um crescimento económico mundial mais elevado nos países pobres que nos países ricos, não pode encobrir a previsão de que a África será excepção à regra, de que o referido crescimento nos países pobres se concentrará num número cada vez mais reduzido de beneficiados, em detrimento dos mais pobres cujos número e situação não cessarão de se agravar, e, por último, de que os países mais ricos vão confirmar a tendência para concentrarem cada vez mais riqueza nas mãos de um grupo cada vez mais reduzido.

Em absoluto, há mesmo necessidade de um Ano da igualdade de oportunidades para todos, europeu e mundial, que não descrimine a oportunidade da afirmação das diferenças fundamentais e seja servido por uma política justa e subsidiária, na pers-pectiva de uma humanidade sempre mais solidária.

Luís Inácio JoãoDirector

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Documentos Pastorais

Documentos Pastorais

Carta Pastoral

Descobrir a beleza e a alegriada vocação cristã

Caríssimos diocesanos, irmãos e irmãs no Senhor:

Antes de mais quero renovar a saudação fraterna e afectuosa que vos dirigi na minha tomada de posse, particularmente aos doentes, aos jovens e às crianças: “O Deus da esperança vos encha de toda a alegria e paz na fé” (Rom 15, 13). Agrade-ço, mais uma vez, o caloroso acolhimento com que me recebestes e que continuo a experimentar nas visitas às paróquias, como também as muitas cartas recebidas, testemunhos sinceros da vossa simpatia e amizade. A todos e a cada um, o meu muito obrigado!

Na primeira saudação que vos fiz chegar aquando da minha nomeação, apresen-tei-me a vós com o lema do meu ministério “servidor da vossa alegria”. Esta colabo-ração na vossa alegria – que é a alegria do Evangelho – leva-me a escrever-vos esta Carta Pastoral para vos ajudar a contemplar, com os olhos cheios de deslumbramen-to e o coração cheio de gratidão, a beleza e a alegria da vocação cristã. A razão da carta é o início do Ano Pastoral 2006-2007 que é dedicado à Pastoral das Vocações na Igreja, com acento particular nas vocações ao sacerdócio, sob o lema bíblico: “Não fostes vós... fui Eu que vos escolhi” (Jo 15, 16).

O tema situa-se na continuidade do ano transacto dedicado ao acolhimento, a partir da frase de Jesus à Samaritana: “Se conhecesses o dom de Deus...” (Jo 4, 10). Esta palavra de Jesus é um convite a ir mais além de nós mesmos, a encontrar o melhor de nós próprios, acolhendo o dom de Deus que é Jesus Cristo e a vida nova e bela que Ele nos oferece. Trata-se pois de cada um procurar compreender-se a si mesmo, à sua vida e ao seu projecto de vida à luz de Jesus Cristo: a que me chama o Senhor? Qual é o dom da minha vocação dentro do grande projecto da salvação de Deus para os homens? Quando se perde isto do horizonte surge a crise de vocações à vida matrimonial, ao sacerdócio e à vida religiosa que hoje sentimos de modo preocupante.

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1. Novo contexto vocacional hoje

A crise das vocações ao sacerdócio ou à vida religiosa não pode ser compreen-dida de um modo isolado do contexto cultural da nossa época, nem do contexto da vivência da fé nas nossas comunidades.

É antes de mais uma crise cultural. Hoje sente-se a falta de uma “cultura voca-cional” que se reflecte em vários âmbitos: crise da vocação ao matrimónio, à vida política, à vida sindical, à vida associativa. Isto é derivado da cultura reinante da in-certeza e da confusão causada pelo relativismo e pelo vazio de ideais, de valores, de referências e modelos fortes. Acresce ainda a cultura da distracção, cada vez mais invasiva e evasiva, que perde de vista e até sufoca as interrogações sérias acerca do sentido da vida. Mais, sofre-se hoje de uma orfandade educativa nas famílias e nos centros de educação. Quantos abortos vocacionais – que impedem o desabrochar da semente da vocação – por causa do vazio educativo!

Todo este clima suscita e alimenta a cultura da indecisão: os jovens têm receio e medo de fazer opções e assumir compromissos fortes, exigentes e duradoiros. Basta pensar na actual crise da opção matrimonial que, a meu ver, não é menos grave do que a crise das vocações ao sacerdócio ou de consagração. É dramático tudo isto que leva um jovem a privar-se de uma das realidades mais belas da vida: formar uma família com um vínculo de amor uno, fiel e para sempre.

Esta crise cultural repercute-se também na Igreja. Em tempos de cristandade, a vocação, tal como a fé, despertava e transmitia-se como que por osmose ou contágio do ambiente cristão das famílias e da figura e do estatuto social do padre. Hoje, num mundo em constante mudança e pluralista, a vocação, tal como a fé, requer uma interpelação clara por parte da comunidade cristã e uma opção consciente e madura da parte dos destinatários.

Acontece, porém, que nas nossas comunidades cristãs reina uma amnésia voca-cional. A maior parte dos nossos cristãos pensa que a questão das vocações não lhes diz respeito; é assunto do bispo e dos padres.

A crise vocacional é, em última análise, crise de vivência e interpretação banal da fé, privada de toda a beleza, frescura, encanto, paixão, alegria e entusiasmo por Jesus Cristo e pelo evangelho, privada do sentido de responsabilidade e de doação a Deus e aos outros.

Esta reflexão serve para compreender o contexto da crise vocacional. Mas não ajuda a solucioná-la dizer que acontece o mesmo na vida política e sindical, nem ficar nas lamentações acerca do nosso mundo. A crise representa um desafio em or-dem a assumir com novo ardor a pastoral vocacional e a encontrar novos caminhos. O que aqui está em jogo é, sobretudo, uma experiência de fé que leve a descobrir a novidade e a beleza do encontro com Jesus Cristo.

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2. A beleza da vocação cristã

2.1. “E Deus viu que tudo era muito belo” (Gen 1,31): Toda a vida é vocação

Quando contemplamos a nossa vida à luz da fé no mistério da Criação, tomamos consciência de que “não somos o produto do acaso irracional e sem sentido da evo-lução. Cada um de nós é fruto dum pensamento de Deus. Cada um de nós é querido, cada um é amado, cada um é necessário.” (Bento XVI) O amor criador de Deus é o início de cada vocação. Ele cria-nos com dons, talentos e capacidades que somos chamados a desenvolver para a nossa realização pessoal e para o aperfeiçoamento do mundo. Chama-nos a colaborar com Ele no projecto criador e salvador, para tornar o mundo bom e belo.

A vida humana não é pois um acaso nem um destino cego. É uma obra-prima do amor criador de Deus e traz inscrito dentro, em si mesma, um chamamento ao amor. Não é uma aventura solitária, mas diálogo, dom de Deus que se torna tarefa e missão para nós. Não vivemos ao acaso nem por acaso. O homem não está só no mundo: nem no princípio, nem no meio, nem no fim da vida e da história. Deus é o seu com-panheiro de caminho e este caminho abre à vida verdadeira e plena, boa, bela e feliz. Cada dia é-nos dado para responder à nossa vocação de criaturas de Deus, como um modo de conceber e projectar a nossa vida. Em cada pessoa há um dom original de Deus que espera ser descoberto, desenvolvido para dar frutos. A busca do sentido da vida é um eco da “vocação” de Deus.

2.2. “Fala, Senhor; o teu servo escuta” (1Sam 3,10): A vocação como diálogo

Mas Deus chama o homem não só à vida e ao seu desenvolvimento; chama-o também, de novo e sempre, na sua história a colaborar com Ele numa história de sal-vação e não de perdição, de graça e não de desgraça, formando um povo que acolhe o dom da salvação. O povo de Deus – outrora Israel, hoje a Igreja – é um povo de chamados à fé e à salvação, a responder e corresponder à Palavra do Senhor.

A história de Deus com os homens é uma história de vocações. Através da sua Palavra, Deus chama e envia alguns (patriarcas, profetas…) a realizar determinada missão. Uma amostra exemplar é a vocação de Abraão, a quem Deus chamou para dar início à história particular da salvação, formando um povo, e a confiar somente na Palavra, acolhida na fé e na esperança. Quando Deus chama, espera uma respos-ta. Isto é claro na vocação de Samuel (1Sam 3), que responde com a sua disponibi-lidade pronta: “Eis-me aqui. Fala, Senhor, que o teu servo escuta”. Assim a história de cada homem, embora nos apareça como uma pequena história, é sempre parte integrante e inconfundível duma grande história da salvação, que vem de longe e leva longe e que tem o seu momento culminante em Jesus Cristo.

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2.3. “Vinde e vede” (Jo 1,39): A vocação como encontro com Cristo

De facto, em Jesus, Filho de Deus feito homem, o Deus vivo, no excesso do Seu amor, entra em pessoa na nossa história, vem ao nosso encontro, aproxima-se de nós, torna-se nosso amigo, partilha connosco o mistério do Seu amor, para que tenhamos vida em abundância, vida verdadeira, nova e eterna. Jesus traz-nos a Boa-Nova de que somos amados por Deus como filhos; e dá-nos o Espírito Santo no qual podemos acolher Deus como Pai e os outros como irmãos. O Filho é enviado pelo Pai para chamar os homens a esta comunhão divina e fraterna. O convite de Deus chega até aos homens nas palavras, nos gestos, nos sinais de salvação de Jesus. Não é uma fórmula ou uma doutrina que nos salva, mas a Pessoa viva de Jesus.

Por isso, não existe uma passagem do Evangelho, um diálogo ou encontro que não tenha um significado vocacional: um convite – chamamento de Jesus a segui-Lo, que põe o homem diante da interrogação fundamental: que quero fazer da minha vida? Qual o meu caminho?

É verdadeiramente iluminante a narração da vocação dos primeiros discípulos de Jesus no Evangelho segundo S. João 1, 35-39. O amor divino é o acontecimento de um encontro que muda a vida, a experiência de uma hora inesquecível que revive, de novo e sempre, no coração de quem aceita entregar-se a este amor em Jesus.

Quando João Baptista indica Jesus como o “Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” – isto é, como Salvador do mundo –, os dois (João e André) não hesi-taram em segui-l’O, sem dizer nada. E Jesus faz-lhes uma única pergunta: “Que procurais?” Pode parecer uma pergunta banal, mas ela vai ao fundo da pessoa, como quem diz: o que vos move? Que anseios estão no interior do vosso coração? De que andais à procura na vida? Que vos interessa acima de tudo? E que esperais de Mim? É pois uma pergunta cheia de sentido, um convite a olhar-se dentro, a advertir o que há de mais profundo em nós.

Por sua vez, eles respondem com outra pergunta: “onde moras?” que exprime o desejo de ficar com Ele. Morando juntos, convivemos, compreendemo-nos, partilha-mos algo em comum, sentimo-nos da família. Eles compreenderam pois que seguir Jesus é encontrar a verdadeira morada da própria vida. A resposta do Mestre é um convite a confiar e a fazer uma experiência de vida com Ele: “vinde e vede”. E assim fizeram. É tão grande a impressão daquele encontro que vai marcar para sempre a sua vida, que S. João recorda a hora precisa, típico da memória de um grande amor: “era a hora décima” que, para os hebreus, significava a hora das grandes decisões da vida. A vocação é o encontro com Alguém, não com alguma coisa; é a recor-dação de uma hora que muda a vida quando se aceita estar com Ele e viver d’Ele, reconhecendo-O como “meu Senhor e meu Deus”. “O encontro com Jesus abre um novo horizonte e imprime um rumo decisivo à vida” (Bento XVI), dá origem a uma existência nova na comunhão com Cristo.

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2.4. “É belo estarmos aqui” (Mat 17,4): A vocação como vida bela em Cristo

A vida em comunhão com Cristo é uma experiência de beleza a saborear e a tes-temunhar, tal como nos é dado contemplar no mistério da Transfiguração de Jesus, no monte Tabor. É um episódio misterioso, um acontecimento de revelação em que o Filho de Deus vivo deixa transparecer a profundidade da Sua vida divina, do Seu Amor eterno, da Sua bondade que irradia em forma de luz tão intensa que transfi-gura o Seu rosto – expressão da pessoa – e as Suas vestes, símbolo de tudo o que é quotidiano e se desgasta. Uma experiência tão maravilhosa que extasia os discípulos e leva Pedro a exclamar: “Senhor, como é belo estarmos aqui”: é belo estar contigo, contemplar a beleza do Teu rosto, pertencer a Ti, dedicarmo-nos a Ti!

E depois escutam a voz do Pai que ilumina este acontecimento: “Este é o meu Filho muito amado: escutai-O”. É o chamamento do Pai a seguir Jesus: recebei-O, acolhei-O, ponde n’Ele toda a confiança, fazei d’Ele o centro da vida, deixai-vos transfigurar por Ele.

A Igreja vê na Transfiguração de Jesus o próprio caminho de transformação da existência humana. Para o cristão, é sinal e apelo da transformação baptismal: um convite a dar nova figura, novo rosto, nova beleza à vida com Cristo que nos é comu-nicada no Baptismo. O Baptismo é pois o início de todo o caminho cristão para ser filhos de Deus como Jesus. Por isso dizemos que a primeira e fundamental vocação comum a todos os cristãos é a baptismal. Nela somos chamados à santidade que é a expressão da beleza espiritual e moral da nossa vida com Cristo. Ser cristão é um modo belo de viver a vida!

2.5. “Fui eu que vos escolhi” (Jo 15, 16): A vocação como eleição de amor

Há ainda uma palavra muito bela de Jesus, em que Ele desvela o segredo e o sen-tido mais profundo e último da vocação cristã: “não fostes vós que Me escolhestes; fui Eu que vos escolhi a vós e vos constituí para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça”. Esta frase é pronunciada num contexto em que Jesus como que entoa uma cantata ao Amor infinito do Pai dado a conhecer e partilhado pelos discípulos. E assim coloca o chamamento dos discípulos no coração do mistério, isto é, no desígnio do Amor eterno de Deus, que nos precede e acompanha, ao qual responde-mos pela aceitação da fé. Sem negar a opção pessoal dos discípulos, sublinha-se o primado da iniciativa de Cristo, reconhecido como Senhor da nossa vida. Na origem da vocação cristã está a iniciativa da Sua graça, do Seu amor, da Sua misericórdia, da Sua atracção. Há um Amor que está antes da nossa resposta. A vocação aparece então como um dom, uma eleição de Amor.

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Documentos Pastorais

Esta eleição não é só para eles, mas para a missão: “para que deis fruto”, para que através da irradiação da fé e do amor os homens tenham a vida eterna. Através da comunidade dos discípulos, o Filho de Deus continuará a revelar-Se e a comunicar-Se ao longo da história. A nossa vocação tem como horizonte o mundo inteiro. O chamamento do Senhor é pessoal e apostólico.

3. Vocação e vocações na Igreja

Tudo o que foi dito refere-se à vocação comum a todos os cristãos. O nosso ser com Cristo pelo Baptismo insere-nos na comunhão de vida íntima com Deus e na comunhão de irmãos que é a Igreja. No Baptismo está pois a origem da vocação comum de todos os fiéis cristãos. Todos somos chamados a viver a nossa existência humana em comunhão com Cristo: a crescer na relação filial com Deus, no amor fraterno, na vida nova segundo o Espírito de santidade, a participar na edificação da Igreja, a anunciar e testemunhar o Evangelho no mundo. É uma vocação em ordem a realizar uma vida boa, bela e feliz com Cristo e com os outros para o mundo.

3.1. Variedade de dons e chamamentosA vocação cristã, porém, especifica-se numa multiforme variedade. Todos os

baptizados são alcançados pela luz da Transfiguração, pela beleza da vida nova, todos igualmente chamados a seguir o mesmo Cristo; mas cada um, de um modo próprio, segundo os dons e os apelos de Deus nas diversas situações.

O Espírito Santo alimenta a vida e a missão da Igreja com dons, carismas e mi-nistérios diversos e complementares, que se configuram numa grande variedade de vocações. Podemos sintetizá-las em três tipos: a vocação à vida laical, ao ministério ordenado e à vida consagrada. Estas “podem-se considerar paradigmáticas, uma vez que todas as vocações particulares, sob um aspecto ou outro, se inspiram ou conduzem àquelas… Todos na Igreja somos consagrados no Baptismo e na Confirmação; mas o ministério ordenado e a vida consagrada supõem, cada qual, uma vocação distinta e uma forma específica de consagração, com vista a uma missão particular” (VC 31).

Assim, a vocação dos fiéis leigos é caracterizada pelo seu compromisso cristão no mundo: na vida matrimonial, na família, no trabalho, na economia, na política, na educação…; a dos ministros ordenados (bispos, padres e diáconos) distingue-se pelo ministério de representar Cristo, Pastor que guia o Seu povo; a dos consagrados consis-te na entrega total, de alma, coração e sentimentos, a Jesus Cristo, pelo caminho da po-breza, da virgindade e da obediência como testemunho profético e serviço ao Reino de Deus no mundo e à esperança do mundo novo, em que quem reina é o Deus – Amor.

As diversas vocações são comparáveis a raios da única luz da Beleza de Cristo que resplandece no rosto da Igreja e fazem dela um jardim embelezado com as mais diversas flores.

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Cada vocação nasce num contexto preciso e concreto: a Igreja, mãe e berço de vocações. Não existem vocações de primeira ou segunda categoria. Todas vêm de Deus e têm um único objectivo: anunciar o reino de Deus na história, tornar visível e testemunhar o mistério de Cristo Salvador. Numa palavra, na comunidade cristã há muitas vocações, mas uma única missão.

3.2. Necessidade urgente de sacerdotes e consagradosTodas as vocações colaboram na edificação da Igreja, Corpo de Cristo, e na obra

de salvação. Mas hoje sente-se uma necessidade urgente de ministros ordenados e de fiéis de vida consagrada. Os sacerdotes, na continuidade do ministério dos Após-tolos, servem, em nome de Cristo Pastor, a fé, o amor e a esperança de todos os fiéis e das comunidades cristãs, através do anúncio da Palavra de Deus, da celebração da Eucaristia e dos outros sacramentos, e da orientação da comunidade na comunhão fraterna.

Os fiéis de vida consagrada, movidos pelo Espírito Santo, tendem à perfeição da caridade seguindo radicalmente a Cristo mediante os chamados “conselhos evangé-licos”, dando testemunho daquele Amor único que é Deus e do serviço aos irmãos em variadas expressões. São uma riqueza inestimável para a vitalidade da Igreja!

A atenção prioritária, na actual situação da nossa diocese, vai sobretudo para o ministério ordenado. Ele é a garantia permanente da presença sacramental de Cristo nos diversos tempos e lugares, sobretudo através da Eucaristia. É pois fundamental e indispensável para a vida da Igreja, da sua edificação e do seu crescimento!

Neste contexto, não há dúvida de que deve ser reservada hoje uma singular e específica atenção às vocações sacerdotais. Trata-se de “um problema vital para o futuro da fé cristã”, como dizia João Paulo II. Sem vocações ao sacerdócio será mais difícil o serviço ao Evangelho e não será possível uma renovada evangelização da nossa Igreja e do nosso território.

4. Novo ardor da pastoral vocacional: da alegria de ser chamado à coragem de chamar

O problema vocacional põe-se, em primeiro lugar, a cada fiel cristão: a exigência de discernir a vocação específica que Deus nos reserva na tarefa de anunciar o Evan-gelho, de colaborar na edificação da Igreja de Cristo e na transformação do mundo. Isto significa não só saber o que Deus quer de nós, mas também o compromisso de fazer o que Ele nos pede. É uma responsabilidade pessoal que recebe aquele que é chamado: manter sempre viva, grata e alegre a consciência da própria vocação e dar uma resposta livre, generosa e cheia de amor a Deus que chama: “Eis-me aqui; envia-me!” (Is 6, 8).

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Mas o problema vocacional diz também respeito a toda a vida e acção pastoral da Igreja, chamada a suscitar, discernir, acompanhar e apoiar todas as vocações na sua variedade e complementaridade. As vocações na Igreja surgem dum apelo que vem de Deus, mas que se realiza normalmente através da mediação humana, com uma pedagogia e metodologia próprias.

Por isso, “é necessário estruturar uma vasta e capilar pastoral das vocações, que envolva as paróquias, os centros educativos, as famílias, suscitando uma reflexão mais atenta sobre os valores essenciais da vida, cuja síntese decisiva está na resposta que cada um é convidado a dar ao chamamento de Deus, especialmente quando este pede total doação de si mesmo e das própria energias à causa do Reino de Deus” (NMI 46).

Resulta pois que a pastoral vocacional não é um aspecto isolado, sectorial. Está vinculada à pastoral global da comunidade cristã e, particularmente, à pastoral juve-nil e familiar. Trata-se duma pastoral transversal e refere-se a todas as vocações.

Neste momento, quero indicar apenas alguns caminhos que me parecem elemen-tares e de fácil concretização.

4.1. A comunidade cristã, casa e escola vocacionalSuscitar vocações é uma responsabilidade de todo o povo de Deus e de cada

comunidade cristã. Na Exortação Apostólica “Dar-vos-ei Pastores”, João Paulo II insiste especialmente neste ponto de que devemos começar a preparar nas paróquias um terreno fértil para que a acção de Deus se desenvolva e o Seu apelo possa ser ou-vido e seguido. Para que estes primeiros passos possam ter possibilidades de sucesso é preciso estar convicto de que todos os membros da Igreja, sem excepção, têm a graça e a responsabilidade do cuidado pelas vocações” (nº 41).

Toda a comunidade cristã normal deve ser, pois, por natureza, “casa e escola vocacional” que faz despertar e crescer, de modo normal, as vocações normais a partir da fé vivida e testemunhada como apelo. A casa evoca o ambiente vivencial; a escola evoca a aprendizagem, a formação. Assim, o clima de fé, oração, comunhão, alegria, maturidade espiritual, caridade e testemunho faz da comunidade o terreno propício não só ao desabrochar de vocações, mas também à criação duma cultura vocacional.

Em ordem à consciencialização das comunidades e à sua maior corresponsa-bilidade nesta tarefa, peço ao Secretariado Diocesano da Coordenação Pastoral a elaboração de algumas catequeses que poderão ser feitas quer nas paróquias, quer a nível de vigararia, durante a Quaresma.

Mas, como num jogo em equipa, há que ter animadores. Por isso, em cada pa-róquia ou vigararia será desejável a criação de um “Grupo de Animadores Vocacio-nais”. É um ministério novo que se vai configurando dentro da comunidade, ao qual se confia o mandato da animação vocacional.

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4.2. Acompanhamento vocacional em cada idadeÉ preciso animar e acompanhar vocacionalmente cada idade, desde o começo da

iniciação cristã até aos anos da juventude madura, através de vários itinerários. Em primeiro lugar, os itinerários da fé. Os caminhos da pastoral vocacional são, antes de mais, os do crescimento da fé e dos seus dinamismos. Como nos adverte João Paulo II “o convite de Jesus, “vinde e vede” (Jo 1, 39) permanece, ainda hoje, a regra de ouro da pastoral vocacional. Trata-se de apresentar o fascínio da Pessoa do Senhor Jesus e a beleza do dom de si à causa do Evangelho” (VC 64). Neste aspecto há que investir energias precisas no itinerário da catequese oferecendo uma leitura vocacional da vida. Também a idade do crisma poderia ser, precisamente, a “idade da vocação” para a descoberta e o testemunho do dom recebido e das diversas vo-cações, proporcionando aos crismandos o encontro com homens e mulheres crentes que vivem com coragem e alegria a sua vocação.

Neste percurso de animação e acompanhamento inserem-se, eficazmente, os itinerários vocacionais específicos para grupos de jovens, rapazes e raparigas, que querem fazer uma reflexão séria e pessoal em ordem ao discernimento da sua opção e projecto de vida. Trata-se dum caminho programado para um ano, com um encon-tro mensal de um dia ou fim-de-semana de reflexão, oração e partilha.

Temos ainda o “pré-seminário” ou “seminário em família”, como itinerário vo-cacional específico de acompanhamento, orientação e discernimento para os que se propõem entrar para o Seminário Maior em ordem ao sacerdócio.

Menciono ainda os retiros ou exercícios espirituais que são momentos especiais de graça para que a fé seja personalizada, interiorizada e vivida como apelo, chama-mento de Deus.

Em todos estes percursos é de fundamental importância a chamada direcção ou orientação espiritual. É uma forma privilegiada de acompanhamento personalizado e de discernimento vocacional. De facto, cada pessoa e cada vocação é única, tem uma história singular e problemas e interrogações próprias, que ela precisa de con-frontar com alguém adulto na fé, para um discernimento sério e maduro.

Como podemos ver – e é já um dado adquirido – uma escolha vocacional não amadurece, em regra, através de experiências episódicas de fé, mas através de um mais ou menos longo e paciente caminho espiritual.

4.3. Testemunho vocacional contagianteHoje, o povo cristão é mais sensível às testemunhas do que aos mestres. O que

atrai os jovens não é o estatuto ou papel social de uma determinada vocação. Eles são cativados pelo fascínio do testemunho. Seguem e escolhem o que é significativo para a sua existência pessoal. Têm um sexto sentido para reconhecer as pessoas que são ponto de referência para uma vida de fé e doação, que dão testemunho da beleza de uma vida que se realiza, de modo alegre e feliz, segundo o projecto de Deus.

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Uma comunidade de testemunhas é o ambiente necessário para a fecundidade vocacional. Todo o adulto na fé sentirá a alegria de ser chamado e, por sua vez, a coragem de chamar com o testemunho de vida, a palavra e a interpelação directa.

As famílias cristãs são chamadas a testemunhar o amor na abertura às necessida-des da Igreja e do mundo, a promover um clima de fé e a oferecer o ambiente próprio para uma saudável educação humana, afectiva e cristã, em que os jovens aprendam a usar a liberdade e a projectar a vida segundo o coração de Deus.

De modo particular, os padres e os religiosos são chamados a deixar transparecer, na sua vida pessoal e comunitária e na sua missão, a beleza e a alegria do sacerdócio e da vida consagrada. Nenhum jovem poderá, de facto, sentir um chamamento, se os seus olhos não puderem ver ao vivo na pessoa, na vida e no ministério dos padres a alegria contagiante de alguém que é feliz.

Neste sentido é de aproveitar a celebração de ordenações, profissões de religio-sos e respectivos aniversários jubilares como ocasiões preciosas de evangelização e proposta vocacional, envolvendo os jovens na preparação e na celebração.

4.4. Grande Oração pelas VocaçõesSabemos pela fé que toda a vocação é dom de Deus como aliás toda a vida e vi-

talidade da Igreja. Por isso devemos implorar também este dom. É um compromisso que se deve estender a todo o povo de Deus e ser assumido por cada comunidade. Por este caminho passa o processo misterioso de toda a vocação apostólica. A voca-ção nasce da invocação, isto é, da oração.

A oração, se inserida num caminho de fé, abre os corações a Deus, põe-nos à escuta e torna-os disponíveis a qualquer solicitação da graça. Feita a nível comuni-tário, cria o ambiente propício para qualquer semente que o Senhor aí queira semear. Assim, a cultura da oração gera também uma cultura vocacional.

Faço pois um sentido apelo a toda a Diocese e a todas as comunidades e movi-mentos para dar vida a uma “Grande Oração pelas Vocações”: uma oração vivida com intensa confiança e perseverança, capaz de envolver pessoalmente todos os membros do povo de Deus e a realizar com oportunas modalidades comunitárias, de modo programado e calendarizado ao longo do ano e não episódico ou pontual.

Neste aspecto existem algumas propostas concretas: a quinta-feira vocacional, em cada mês, com celebração da Eucaristia ou uma hora de adoração eucarística, a inclusão de uma prece pelas vocações em todas as celebrações comunitárias, fomen-tar grupos de oração pelas vocações. Além disso, podem promover-se tempos fortes de oração no Dia Mundial das Vocações, no Dia do Seminário, na semana vocacional paroquial.

Em cada vigararia haverá uma vigília de oração pelas vocações que espero seja preparada por uma equipa de padres e leigos e bem participada pelos fiéis.

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4.5. Serviços de apoio e dinamizaçãoSendo a pastoral vocacional algo que diz respeito a todo o povo de Deus, são

todavia necessários serviços de apoio e animação como o Secretariado Diocesano da Pastoral Vocacional, que ao longo deste ano nos propomos reactivar. É um organis-mo de comunhão e instrumento ao serviço da pastoral vocacional na Diocese. Nele devem estar representadas todas as vocações desde os esposos aos consagrados. Compete-lhe promover itinerários vocacionais específicos e coordenar as iniciativas de pastoral vocacional existentes na Diocese; formar os animadores vocacionais e cuidar que no povo de Deus se crie uma cultura vocacional; participar na elaboração do programa pastoral diocesano e colaborar particularmente com a pastoral familiar e juvenil.

Quero aqui recordar que todos os sectores da pastoral diocesana são chamados a terem presente a dimensão vocacional. Peço pois a colaboração cordial de todos em espírito de comunhão.

5. A vós jovens: levantai-vos e não tenhais medo!

A vós, jovens, reservo uma palavra amiga de encorajamento. Sei como é difícil a um jovem orientar-se e orientar a própria vida em sentido diverso e melhor, segundo o projecto de Deus, neste mundo que se assemelha a uma grande feira em que são oferecidos os mais variados projectos e modelos, cada qual na embalagem mais se-dutora. Quero dizer-vos, por experiência própria, que em Jesus Cristo encontramos tudo o que torna a vida verdadeira, digna, livre, nobre, grande e bela. Não vos dei-xeis cair na indiferença, na superficialidade e na mediocridade de vida.

Procurai dar à vossa vida um projecto belo. Se, no mais íntimo, sentirdes o chamamento do Senhor ao sacerdócio ou à vida religiosa, sede generosos, não o re-cuseis! Cultivai os anseios próprios da vossa idade, mas não fecheis o coração aos apelos de Deus. E se vos assaltar o temor, ouvi a palavra de encorajamento de Cristo aos apóstolos após a contemplação da Transfiguração e que faço minha: “levantai-vos e não tenhais medo”!

Com palavras de João Paulo II quero expressar a minha confiança em vós: “O terceiro milénio aguarda a contribuição de uma multidão de jovens consagrados, para que o mundo se torne mais sereno e capaz de acolher Deus e, n’Ele, todos os Seus filhos e filhas” (VC 106).

Ouso mesmo oferecer-vos uma breve oração:

Senhor Jesus,Torna-me atento e vigilanteNo discernimento da vontade do Pai,

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Para que eu possa em tudo realizar a vocaçãoCom que Ele, desde sempre, me quis e amou.Na hora da dúvida e da provação Dá-me a certeza de não estar sóMas de saber e querer-Te próximo,Para viver contigo a minha oferta,Seguindo-Te humilde e confiadamente No serviço da Tua Igreja e do mundo.

Para terminar, quero fazer um pedido premente a todos, irmãos e irmãs na fé des-ta Igreja de Leiria – Fátima: acolhei esta carta como impulso para uma meditação so-bre a vocação cristã, para uma mais intensa corresponsabilidade de todos os cristãos na promoção das vocações, sobretudo sacerdotais; fazei tudo o que seja possível, em particular através da oração, para que este Ano Pastoral dedicado às vocações dê muitos frutos. Seria a melhor e mais bela prenda que me poderiam oferecer neste primeiro ano como vosso bispo.

Mesmo nos momentos difíceis da história, o Espírito Santo trabalha e encora-ja-nos a semear com confiança, sobretudo no coração das novas gerações. É uma certeza da fé.

Contemplando Maria, a cheia de graça, a mulher do “sim” a Deus, compreende-remos e ajudaremos a compreender a beleza de uma existência entregue ao projecto de Deus. Com Ela seremos capazes de fazer opções vocacionais para que esta beleza se torne vida e irradie para o mundo.

Saúda-vos afectuosamente,

† António Marto, Bispo de Leiria-Fátima8 de Setembro de 2006, Festa da Natividade de Nossa Senhora

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A beleza e a alegria da vocaçãode especial consagração*

Antes de mais, quero saudar-vos a todos e a todas, a cada um e a cada uma em particular, com todo o afecto e no amor de Jesus Cristo.

Quis este encontro convosco. Gostaria até que tivesse acontecido pouco tempo depois de eu ter chegado, mas compreendeis que as solicitações de um bispo, que entra de novo numa diocese, são imensas. Já pude fazer essa experiência em Viseu. Agora, aqui em Fátima, são multiplicadas. Com o tempo que aqui levo, poderia dizer-vos que, em virtude da dimensão internacional de Fátima, esta diocese é uma espécie de mini-Vaticano, onde chegam correspondência, solicitações e audiências de todo o mundo. Portanto, o bispo não tem mãos a medir e não é capaz de chegar a toda a parte. Tem que aceitar as suas limitações.

Houve vários pedidos de comunidades para apresentarem cumprimentos ao bispo. Eu pensei: se vou receber cumprimentos de todas as comunidades, não tenho tempo para mais nada. Então, disse ao Chefe de gabinete que era melhor fazermos um encontro com todos os religiosos e religiosas da Diocese, tal como fiz também com o clero diocesano. Eis pois a razão deste encontro: corresponder a um desejo íntimo do bispo de se poder encontrar com todos os consagrados e consagradas em ordem a um conhecimento pessoal, a um colóquio íntimo e familiar de quem vos abre também o seu coração de bispo e de pastor, em que tendes igualmente o vosso lugar próprio e insubstituível, e ao qual também estais confiados.

Como sabeis, acabei de publicar uma Carta Pastoral que se intitula “Descobrir a beleza e a alegria da vocação cristã”, uma vez que o Ano Pastoral da Diocese é dedicado à promoção das vocações.

Não vou agora fazer o resumo da carta, mas é só para vos dizer que ao pergun-tar-me o que vos havia de dizer, me lembrei: vou falar aos consagrados da beleza e da alegria da vocação de especial consagração na Vida Religiosa ou nos Institutos Seculares. É uma aplicação concreta da Carta Pastoral. Embora a gente não possa dizer tudo - só o essencial - o resto desenvolve-se depois ao longo do ano. É melhor que as pessoas fiquem com apetite do que com congestão.

Escolhi então este tema: Descobrir a beleza e a alegria da vocação de especial consagração e, naturalmente, tomei como ponto de partida para esta minha medita-ção o tema do Sínodo sobre a Vida Consagrada e a sua missão na Igreja e no mundo. Fui lá respigar aqueles pontos, que, no meu modo de ver, mais ajudarão a descobrir esta beleza e esta alegria da vocação de especial consagração. É natural que vós já conheçais esta Exortação Apostólica, mas sabeis bem que depois, cada um, quando a lê, tem chaves de leitura própria e faz a sua reflexão. Também tem uma maneira

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própria de a dizer... Portanto, eu sou capaz de vos dizer aquilo que vós já sabeis, mas talvez à minha maneira e com uma chave de leitura que é a chave da beleza e da alegria.

Não basta a gente andar a lamentar-se do mundo e das fealdades do mesmo. Não basta sequer andar a planear programas de intervenção e de prevenção, se não hou-ver algo que fascine, que atraia, que faça exclamar: é belo! … Seguir Jesus é belo; amar a Igreja é belo; servir os irmãos, dedicar-se em serviço aos irmãos é belo! Se não houver esta beleza e esta alegria de viver uma vocação feliz, tanto faz que haja muitos programas, muitas exortações e muitas pregações, que não levam a nada. Por isso é que eu escolhi esta chave de leitura.

As grandes linhas daExortação Apostólica sobre a Vida Consagrada

1. Confessio Trinitatis: nas fontes cristológico-trinitárias da vida consagrada

Então, seguindo aqui o esquema da Exortação Apostólica sobre a Vida Con-sagrada, começamos por ver esta vida de especial consagração, à luz do Mistério de Deus de onde ela vem, ao qual está sempre referida e para onde ela caminha. E, como diz o texto, que acho muito belo, “A vida consagrada é antes de mais confessio Trinitatis” - uma proclamação de vida, encarnada, do Mistério do Amor Trinitário. É a parte mais propriamente teológica. Nela, a vida consagrada aparece como testemu-nho vivo, encarnado desse Amor único e absoluto que é Deus Trinitário. O amor do Pai, que escolhe, com o Seu olhar de eleição, alguns e algumas para Si; que convida a seguir o Filho Jesus Cristo deixando tudo, que é o seguimento radical de Jesus; que, no Espírito Santo, confia uma missão particular na Igreja, através dos diferentes carismas.

A perspectiva trinitária permite-nos compreender e descrever a vida consagrada em termos de consagração, é entrega de todo o coração, sem reservas, a Deus. Sig-nifica seguimento radical: seguir Jesus, deixando tudo. O centro não está em deixar tudo, está no encontrar o tesouro da Sua vida. Só encontrando um tesouro é que a gente deixa tudo. Se começarmos por apresentar o deixar tudo… Deixar tudo para quê?... O importante é o tesouro do Evangelho, que é Cristo. Então, sim, quando a gente encontra um tesouro, é capaz de deixar tudo o resto, em termos de missão e de santidade.

Portanto, estais a ver o aspecto teocêntrico da vida consagrada, que vem de Deus, que anuncia o mistério da beleza de Deus, da beleza do amor de Deus, e que está constantemente referida a Deus. Neste contexto teologal, compreende-se então o

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significado profundo dos conselhos evangélicos, no seu fundamento de celebração grata, alegre, reconhecida, do primado de Deus, da sua graça, do Deus de Jesus Cristo, que anunciou as Bem-Aventuranças, e no Espírito Santo que nos santifica e chama à santidade. Por isso, meus caros amigos e amigas, irmãos e irmãs, os consa-grados e consagradas são chamados, antes de mais, a serem homens e mulheres da contemplação do mistério de Deus, do Deus Santo, com a consciência de que esta santidade é a melhor contribuição que os cristãos podem dar para a renovação do mundo e dos homens. Santidade é a expressão da beleza espiritual e moral como dom de Deus para nós. Por isso, os consagrados são chamados a levar no seu cora-ção, nos seus olhos e nos seus lábios, esta beleza de Deus- -Amor Trinitário. Sem isto, todo o resto fica vazio de sentido.

2. Signum fraternitatis: sinal de comunhão na Igreja

Em segundo lugar, e derivado daqui, a vida consagrada é-nos apresentada como signum fraternitatis (sinal da comunhão fraterna na Igreja). A confissão de fé da Trindade Santa é a confissão de fé em Deus. É viver à sua imagem e semelhança, por conseguinte, na comunhão que Ele mesmo cria entre nós, derramando o seu Espírito nos nossos corações, no coração de todos os baptizados.

Portanto, a vida consagrada, na sua dimensão comunitária, implica uma reali-zação quotidiana da fraternidade. Ela deve ser um sinal forte e eloquente de toda a fraternidade da Igreja. Temos que ter um sentido muito grande da fraternidade da Igreja, desta comunhão fraterna de todos. Costumo usar sempre esta expressão de S. Agostinho: “Para vós sou Bispo; convosco sou irmão”. O irmão está sempre antes de ser bispo. É um irmão que para o vosso serviço foi constituído bispo, mas que primeiro é irmão. Este é o sentido. Mas é Cristo que nos faz irmãos de toda a Igreja. Simplesmente, a dimensão comunitária da vida consagrada tem que traduzir, tem que tornar visível e eloquente, de uma maneira forte e bela, esta dimensão da fraternidade. A vida fraterna dos consagrados é sinal e motor daquela vida fraterna que constitui a Igreja como mistério de comunhão.

3. Servitium caritatis: epifania do amor de Deus no mundo

O terceiro aspecto deriva destes dois: a vida consagrada, como servitium cari-tatis, quer dizer epifania, serviço epifânico, que manifesta o amor de Deus pelos homens no meio do mundo. Então, a vida consagrada, vivida a partir do Amor Trini-tário e em comunhão fraterna, mostra que o amor de Deus alimenta, motiva e sustém o amor de Deus pelos homens, e faz dos consagrados um instrumento para tornar este mundo mais belo com a beleza do Espírito, para que o mundo apareça sempre mais como um “ambiente divino” que participa da beleza de Deus, quer dizer, da beleza do amor que salva, que renova, que transforma, que reúne, que irmana, um

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ambiente divino a suscitar, mesmo partindo dos nossos limites, das nossas contradi-ções e também dos limites e contradições do mundo. É no meio deste mundo, que não é paraíso, é aqui que a gente é chamada a construir esta dimensão. Daqui nasce então o impulso evangelizador, a força profética da vida consagrada no serviço da caridade, nas diversas formas de serviço que pode revestir.

4. O perfume da vida consagrada: a unção de Betânia

E depois, a Exortação Apostólica conclui, reafirmando a actualidade da vida con-sagrada, e serve-se dum ícone, duma imagem muito bela da Bíblia, chamada unção de Betânia – a unção de Cristo com o perfume, por Maria de Betânia. O nº 104 come-ça por interrogar o porquê desta vida consagrada. Não é um “desperdício” de ener-gias tanta gente na vida consagrada quando há tanto que fazer no meio do mundo? E depois responde: “Sempre existiram interrogações semelhantes, como o demonstra eloquentemente o episódio evangélico da unção de Betânia. Maria, tomando uma libra de perfume de nardo puro, de alto preço, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com os cabelos e a casa encheu-se com o cheiro do perfume». A Judas, que, tomando como pretexto as necessidades dos pobres, se lamentava por tão grande desperdício, Jesus respondeu: “Deixa-a fazer”. E então, comenta o Papa João Paulo II, “o perfu-me de alto preço, derramado como puro acto de amor e, por conseguinte, fora de qualquer consideração utilitarista, é sinal de uma superabundância de gratuidade, como a que transparece numa vida gasta a amar e a servir o Senhor, a dedicar-se à sua Pessoa e ao seu Corpo Místico”.

Portanto, o perfume precioso não serve funcionalmente para isto ou para aquilo, não está em função de alguma coisa, não procura desempenhar uma função utili-tarista; é, antes de mais, um puro acto de amor, sinal de uma superabundância de gratuidade. É como se a Exortação quisesse dizer no final: Para que serve então a vocação consagrada? E responde: É uma efusão gratuita de amor por Jesus e pelo Seu Corpo Místico. E depois acrescenta: mas é desta vida derramada sem reservas, que se difunde um perfume que enche toda a Casa de Deus.

A Igreja é adornada e enriquecida hoje, não menos que outrora, pela presença da vida consagrada, pelo perfume desta vida consagrada. Quer dizer que a Igreja não pode prescindir desta vida consagrada.

Resumindo: a vida consagrada é contemplada então na sua origem trinitária, de onde vem, e que é a fonte de onde promana, em cada dia, na realização comuni-tária, comunhão fraterna onde se espelha este mistério da Trindade na sua expansão evangelizadora, e participa em profundidade do Mistério da Igreja. Portanto, é uma expressão que¬ não é única, mas uma expressão também específica, sui generis, do mistério da Igreja, pondo em relevo a sua dimensão teocêntrica, onde o seu único Senhor é Deus - Pai, Filho e Espírito Santo - o único Senhor da vida, a quem dedicou todo o seu coração sem reserva.

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A Beleza da Vida Consagrada:o ícone da Transfiguração

Vamos então agora especificar melhor o ponto concreto da beleza da vida consa-grada. Sabem que há um ícone bíblico, uma figura bíblica, que domina todo o texto da Exortação Apostólica sobre a vida consagrada e que ocupa o lugar central para exprimir a beleza da vida consagrada, que é o ícone da Transfiguração de Jesus no Monte Tabor.

Se repararam, não se quis dizer que a vida consagrada é importante: quis-se di-zer que é bela, porque esta qualificação de beleza contém tudo o resto e exprime a atracção que a vida consagrada deverá exercer se quiser continuar a existir na Igreja. Vejam bem: não se diz que é importante, diz-se que é bela. Nesta beleza está tudo o resto. O tema da beleza duma vida transfigurada pelos conselhos evangélicos entra nesta perspectiva de transfiguração duma vida consagrada e, por conseguinte, da sua beleza.

Vamos apresentar, por exemplo, o nº 15. “Esta luz atinge todos os seus filhos, todos igualmente chamados a seguir Cristo, repondo n’Ele o sentido último da sua própria vida, podendo dizer como o Apóstolo: “Para mim, viver é Cristo”. Mas uma singular experiência dessa luz, que dimana do Verbo encarnado, é feita, sem dúvida, pelos que são chamados à vida consagrada. Na verdade, a profissão dos conselhos evangélicos coloca-os como sinal e profecia para a comunidade dos irmãos e para o mundo. Por isso, não podem deixar de encontrar neles um eco particular, as palavras extasiadas de S. Pedro: “Senhor, é bom estarmos aqui!”. Como quem diz: “Como é bom e belo estarmos contigo, dedicarmo-nos a Ti, concentrarmos a nossa existência exclusivamente em Ti. De facto, quem recebeu a graça desta especial comunhão de amor com Cristo, sente-se de certa forma arrebatado pela Sua beleza. Ele é o mais belo entre os filhos do homem”, o Incomparavelmente Belo.

E depois, no nº 19, podemos ainda ver como “com profunda intuição, os Padres da Igreja qualificaram este caminho espiritual da vida consagrada como filocalia, ou seja, amor pela beleza divina, que é irradiação da Bondade de Deus… Daí, a apari-ção de múltiplas formas de vida consagrada, através das quais a Igreja é embelezada com a variedade dos dons dos seus filhos… e fica enriquecida de todos os meios para cumprir a sua missão no mundo”.

Há uma vocação cristã que depois se especifica numa múltipla variedade de vocações, e entre essa variedade de vocações, há a vocação à vida consagrada, e dentro desta, há diferentes expressões desta consagração especial. Todas elas são como raios da única beleza de Cristo. E, o nº 20, fala da relação entre os conselhos evangélicos e a SSª Trindade. “A primeira tarefa da vida consagrada é tornar visíveis as maravilhas que Deus realiza na frágil humanidade das pessoas chamadas… Na medida em que a pessoa consagrada se deixa conduzir pelo Espírito até aos cumes

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da perfeição, pode exclamar como Simeão, o novo teólogo: ‘Contemplo a beleza da vossa graça, vejo o seu brilho, irradio a sua luz; fico cativado pelo seu inefável esplendor; acabo arrebatado, longe de mim, sempre que penso no meu próprio ser; vejo como era e no que me tornei. Ó Maravilha! Presto toda a minha atenção, fico cheio de respeito por mim mesmo, de reverência e de temor, como se estivesse dian-te de Vós mesmo; não sei o que fazer, porque a timidez se apoderou de mim; não sei onde sentar-me, de onde me aproximar, onde repousar estes membros que Vos pertencem; em que iniciativa, em que obra empregá-las, estas encantadoras mara-vilhas divinas”. Deste modo, a vida consagrada torna-se um dos rastos concretos que a Trindade deixa na história, para que os homens possam sentir o encanto e a nostalgia da beleza divina”.

Estais a ver... não estou a inventar termos... Está aqui tudo: o encanto da beleza divina.

Indicações práticas

Ora bem, isto foi assim uma espécie de contemplação. Agora vamos aterrar no uso prático desta contemplação.

1. Em relação à comunidade diocesana

A carta contém indicações práticas, e, antes de mais, também para o bispo. Por isso, vou começar pelo nº 49. “O Bispo é pai e pastor da Igreja particular intei¬ra. Compete-lhe reconhecer e respeitar, promover e coordenar os vários carismas. Na sua caridade pastoral, portanto, acolherá o carisma da vida con¬sagrada como graça, que não diz respeito apenas a um Instituto mas reverte em favor de toda a Igreja. Procurará, pois, apoiar e ajudar as pessoas consagradas, para que, em comunhão com a Igreja, se abram a perspectivas espirituais e pastorais que correspondam às exigên-cias do nosso tempo, na fidelidade à inspiração fundadora”. Portanto, ao Bispo e a todos os sacerdotes, é pedido acolher este carisma da vida consagrada como graça para o bem da Igreja. Apoiar e ajudar as pessoas consagradas mediante o ministério da ajuda e da orientação dadas às vocações, mediante o ministério da pregação, do anúncio, da celebração dos Sacramentos, da Eucaristia, da Reconciliação e da Di-recção Espiritual, etc.

Ainda o nº 49 refere a relação das pessoas consagradas à Igreja, pois há uma reciprocidade entre elas. “Por sua vez, as pessoas de vida consagrada não deixarão de oferecer generosamente a sua colaboração à Igreja particular, segundo as próprias forças e no respeito pelo seu carisma, em plena comunhão com o Bispo no âmbito da evangelização, da catequese, da vida das paróquias”. Estais a ver: é uma ajuda recíproca.

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2. Em relação a cada consagrado e a cada comunidade

Estes foram os aspectos mais institucionais, mais comunitários. Agora, em re-lação a cada um dos consagrados, dentro do âmbito de vida da Igreja local, sugiro quatro indicações tiradas daqui, para a vossa meditação pessoal.

2.1. Um primeiro estímulo dado para a vossa vida de consagrados, é evocado no nº 93: um compromisso decidido de vida espiritual. Diz o texto: “Uma das preocu-pações muitas vezes manifestada no Sínodo foi a de uma vida consagrada, que se alimente nas fontes de uma espiritualidade sólida e profunda. Trata-se de uma exi-gência própria, inscrita na própria essência da vida consagrada, uma vez que, como qualquer outro baptizado, e até por motivos ainda mais prementes, quem professa os conselhos evangélicos é obrigado a tender com todas as suas forças à perfeição da caridade”. Portanto, esta é uma exigência fundamental, e a mais importante: “tender à santidade. Eis o programa de cada vida consagrada, na perspectiva no-meadamente da sua renovação às portas do terceiro milénio”.

A vida espiritual deve estar no primeiro lugar do programa das famílias consa-gradas, dos Institutos e de cada comunidade em particular. Eis então a pergunta que deveis fazer-vos, e também uma primeira resposta à interrogação que muitas vezes se levanta. Qual é então o vosso papel de consagrados? Perguntai-vos, antes de mais: Somos uma verdadeira escola de espiritualidade evangélica? Porque o texto diz: A vida espiritual deve ocupar o primeiro lugar no programa das famílias de vida consagrada, de tal modo que cada Instituto e cada comunidade se apresentem como escolas de verdadeira espiritualidade evangélica. Então, a pergunta é: Somos uma verdadeira escola de espiritualidade evangélica? Desta opção prioritária, desenvol-vida no compromisso pessoal e comunitário, depende a fecundidade apostólica, a generosidade no amor pelos pobres, a própria atracção vocacional sobre as novas ge-rações. Por isso mesmo, antes de nos interrogarmos sobre as formas de actualização de novos apostolados, de novas estratégias em relação às novas vocações - tudo isso é importante - mas antes de nos interrogarmos sobre isso e de planear e programar, a questão fundamental é sempre a mesma: Somos uma verdadeira casa e escola de espiritualidade? A casa refere-se ao ambiente vivencial, ao ambiente familiar onde vivemos todos os dias; a escola evoca o aspecto de aprendizagem, de formação per-manente. Portanto, que isto fique gravado na memória e no coração de cada um e de cada uma de vós que me ouvis, e da vossa comunidade.

Primeiro princípio prioritário: antes de tudo somos uma verdadeira casa-escola de espiritualidade evangélica, ou não? “É precisamente esta qualidade espiritual da vida consagrada que pode interpelar as pessoas do nosso tempo, também elas se-quiosas de valores infinitos, transformando-se assim num testemunho fascinante”.

O compromisso pela qualidade espiritual da vida consagrada é recomendado também em relação ao tema da escassez de vocações. “As novas situações de penú-

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ria hão-de ser enfrentadas com a serenidade de quem sabe que a cada um é pedido não tanto o êxito, como sobretudo o compromisso da fidelidade. O que se deve absolutamente evitar é a verdadeira derrota da vida consagrada, que não está no declínio numérico mas no desfalecimento da adesão espiritual ao Senhor e à própria vocação e missão”(n.63). O que se deve absolutamente evitar é a verdadeira derrota da vida consagrada, que não está no declínio numérico, mas no desfalecimento, no esmorecimento da adesão espiritual ao Senhor e à própria fidelidade. São palavras muito fortes para as comunidades que correm o risco de cair na paralisia, no desâni-mo, no desfalecimento, pela diminuição das vocações. Convido-vos, pois, a meditar o nº 63 - pois eu só li um bocadinho - para daí tirardes força e coragem para a acção quotidiana.

A insistência sobre a qualidade da dedicação espiritual retorna no nº 64, onde diz: O convite de Jesus, “Vinde ver”, permanece ainda hoje a regra de ouro da pastoral vocacional. (Ouvi bem a regra de ouro: O convite de Jesus, “Vinde ver”, permanece ainda hoje a regra de ouro da pastoral vocacional). Esta visa apresentar, seguindo o exemplo dos fundadores e fundadoras, o fascínio da pessoa do Senhor Jesus e a beleza do dom total de si à causa do Evangelho”. É o ideal de seguir Jesus.

2.2. O segundo estímulo concreto, que deriva desta Exortação Apostólica, é a escuta da Palavra de Deus, onde diz: “A Palavra de Deus é fonte de toda a vida es-piritual cristã. A cada comunidade religiosa pede-se, segundo as diversas possibili-dades, que se façam promotoras de escola de oração, de espiritualidade e de leitura orante da Bíblia”(n. 94). Isto vem a propósito do dia de hoje, festa de S. Jerónimo, pai na fé e pai na Palavra de Deus. Não sei se repararam nas leituras próprias do dia; as suas orações são toda uma celebração da Palavra de Deus, em que se pede ao Senhor o dom de saborear, de gostar da Palavra de Deus, de se alimentar dela. E, por conseguinte, o próprio S. Jerónimo diz também, na leitura do Livro das Horas: “A ignorância das Escrituras, é a ignorância de Cristo”. São coisas muito fortes. Eu te-nho pena que a nossa Santa Igreja ainda não tenha conseguido, na sua pastoral evan-gelizadora, levar o livro da Palavra a todo o povo simples e humilde de Deus, para ele ser capaz de uma leitura orante e familiar da Palavra do Senhor. Não se trata de cursos de exegese, trata-se de uma leitura muito simples, que se chama leitura orante de quem escuta a Palavra, de quem escuta a voz do Pai que lhe fala, ali e agora. Claro que, quando a gente recebe uma carta de alguém muito amigo, a gente lê uma vez, lê duas vezes e três vezes e, de cada vez que lê, descobre sempre um aspecto novo. E depois, como é que ela ilumina a nossa vida e a vida da nossa comunidade? … E depois, a partilha… Mas, para isso, exige um coração capaz de partilhar.

Eu estava a introduzir isto mesmo em Viseu nas visitas Pastorais. A primeira ocorreu na Vigararia de Oliveira de Frades. Eu vi as maravilhas da graça que o Se-nhor realizou. Não foi o Bispo que realizou essas maravilhas, foi o Senhor. A gente simples e humilde que aderiu à Palavra de Deus, em grupos, que andou de porta em

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porta no bairros da Paróquia, nos lugares, a bater de porta em porta, a convidar as pessoas para se reunirem em grupos... Os animadores de cada grupo eram formados, tinham preparação. Eu pensei comigo: Olha, nós, Padres e Bispos, andarmos a bater de porta em porta… Fazíamos isso? É o fazias!... Mas o Povo de Deus, as pessoas simples e humildes, homens e mulheres... “ Sr. Bispo, olhe, andamos de porta em porta, juntámos 23 casais, nem sequer nos conhecíamos, mal dávamos os bons dias quando passávamos uns pelos outros. Depois, estabeleceu-se entre nós uma grande amizade. Foi uma maravilha, porque depois partilhávamos o que o Senhor nos di-zia”. E então ficavam muito admirados, como a mesma Palavra a um dizia uma coisa e a outro dizia outra. É porque o Senhor ilumina a situação concreta de cada um. E estas coisas não se contradizem; enriquecem-se uns aos outros. Ora bem, eu gostava de vos pedir, meus irmãos e minhas irmãs, que sejais os primeiros orantes desta Pa-lavra e introduzais nas vossas comunidades este método da leitura orante e familiar da Bíblia, e possais depois, um dia também, quando vos pedir, contagiar as comuni-dades cristãs, levando-as também a fazer esta leitura orante e familiar da Bíblia.

Passamos à terceira indicação, sem esquecer isto: “A ignorância da Escrituras é a ignorância de Cristo”. Como é que, de facto, podemos conhecer Jesus Cristo sem essa Palavra?

2.3. A terceira indicação concreta é exprimir a alegria da vida fraterna em co-munidade. “A vida fraterna, concebida como vida partilhada no amor é sinal elo-quente da comunhão eclesial” (nº 42). Por outras palavras: viver a vida fraterna em comunidade é um vosso modo próprio de ser, na Igreja. Para as pessoas consagradas, tornadas num só coração e numa só alma por este amor derramado nos corações pelo Espírito Santo, torna-se uma exigência interior o colocar tudo em comum: bens materiais e experiências espirituais, talentos e inspirações, como também ideais apostólicos e o serviço caritativo. Pôr tudo em comum. E isto tudo (quero dizer isto tudo), não são só os bens materiais: é tudo. E depois, é bonito, porque cita S. Basílio que diz: Na vida comunitária, a energia do Espírito que existe numa pessoa, passa ao mesmo tempo para todos. Nela não só se usufrui do dom próprio, mas este é multiplicado quando se participa aos outros, e goza-se tanto do fruto do dom alheio como do próprio. Na vida da comunidade, também se deve tornar de algum modo palpável que a comunhão fraterna, antes de ser instrumento para uma determinada missão, é espaço teologal onde se pode experimentar a presença mística do Senhor Ressuscitado”

Portanto, creio que as comunidades religiosas ou de consagrados devem exa-minar-se seriamente sobre a alegria de uma vida fraterna. Oiçam bem: cada comu-nidade deve examinar-se sobre a alegria de uma vida fraterna. Se a vida fraterna não é um momento, um espaço de alegria… para que serve? E também sobre o pôr tudo em comum precisamente para compreender como circulam os bens materiais e espirituais dentro da comunidade, como os membros da comunidade se aceitam, se

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amam, mesmo na diferença, valorizam os seus dons reciprocamente, para descobrir se nos fechamos na auto-suficiência de cada um de nós, nos nossos caprichos, na auto comiseração para chamar a atenção dos outros sobre nós... Nós temos modos subtis, diabólicos, de que às vezes nem tomamos consciência, para perverter a vida de comunidade. Ninguém está isento: nem bispos nem religiosos. Todos somos hu-manos. Devemos estar conscientes da fragilidade da nossa humanidade e, por isso, devemos examinar-nos diante de Deus. É um ponto sobre o qual devemos confessar que estamos sempre em falta, sempre em dívida uns com os outros. “Não devais nada a ninguém, senão o amor”, diz S. Paulo aos Romanos.

Convido-vos, pois, a examinar-vos; não com amargura, não com complexos de culpabilidade, não como quem quer encontrar um bode expiatório nos outros e volta a culpa sempre para os outros, mas com humildade, com sinceridade, com caridade, com acolhimento, com a correcção fraterna, com benevolência do querer fazer bem, com a misericórdia do Senhor, que d’Ele recebemos em primeiro lugar.

2.4. A quarta indicação é a ascese libertadora, purificadora e santificadora.Nós sabemos hoje que falar da ascese não tem audiência, não está na moda, nem

fora da Igreja nem muito dentro dela. Mas a este propósito desejaria ler-vos uma pas-sagem relativa à luta de Jacob, porque exprime, através de um ícone bíblico, a beleza desta verdade muito esquecida: “O caminho que conduz à santidade comporta, pois, a adopção do combate espiritual. A luta espiritual é um dado exigente, ao qual hoje nem sempre se dedica a necessária atenção. Muitas vezes a tradição viu representado este combate espiritual na luta de Jacob com o Mistério de Deus” (n. 38). Quem não sente esta luta dentro de si, luta que ele enfrenta para ter acesso à sua bênção e à sua visão? Eu acho-lhe muita graça, porque há ali um combate entre Jacob e o Anjo do Senhor, o seu Anjo. Jacob lutou, foi vencido, acabou por confessar a sua derrota diante de Deus, mas conseguiu o que queria: recebeu a bênção do Senhor, a visão do Senhor, quer dizer, o reconhecimento do Senhor. Mas foi depois dessa luta em que saiu ferido e derrotado, que venceu, como quem diz: Venceste-me, Senhor, mas deste-me a Tua bênção. E era isso o que ele queria.

“Neste episódio dos primórdios da História Bíblica, as pessoas consagradas po-dem ler o símbolo do empenhamento ascético de que têm necessidade para dilatar o coração e abri-lo ao acolhimento do Senhor e dos irmãos”. Há, vejam bem, a ascese libertadora daquilo que nos impede de dilatar o coração à medida do coração de Deus, do coração do Pai, e abri-lo ao acolhimento do Senhor e dos irmãos. Por isso, é uma ascese libertadora da nossa liberdade de filhos de Deus. É uma experiência de purgatório. O purgatório não é só uma realidade para além da morte. Em primeiro lugar, o purgatório é um dom, é uma graça de Deus. É uma graça purificadora de Deus e, portanto, é uma experiência de todos os dias. Quanta purificação é necessária para a gente viver, conviver uns com os outros, para a gente servir, para a gente estar disponível. É uma experiência de purificação que tem duas faces da mesma moeda: a

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dor e a alegria. A experiência da dor, porque a ascese purificadora implica uma expe-riência de dor, mas, ao mesmo tempo, implica também uma experiência de alegria. São os paradoxos da vida cristã. A alegria da gente se sentir libertada. Custa? Pois custa, mas depois sentimos a alegria do Senhor que nos libertou, do Seu afecto.

Enfim…dentro desta perspectiva deveis compreender a regra comunitária de cada comunidade e não estar sempre com preconceitos contra a regra da comuni-dade. Se não há uma regra comunitária para os seus membros, a vida comunitária é um caos: não há comunhão, não há riqueza; cada um, facilmente, fica entregue aos seus caprichos. A regra de vida é fonte de fraternidade, fonte de ascese libertadora, purificadora, santificadora e, por isso também, fonte de alegria. Mostrai que é belo viver segundo uma Regra! Cada um devia ter também a sua regra particular, pessoal, para além da comunitária.

Foram estas as sugestões concretas da Exortação Apostólica cuja leitura me ins-pirou. E para terminar, aqui em Fátima, nada mais belo do que uma oração a Nossa Senhora, que vem também no próprio texto da Exortação:

Oração

A Vós, Mãe, que quereis a renovação espiritual e apostólica dos vossos filhos e filhas na resposta de amor e dedicação total a Cristo, dirigimos confiantes a nossa oração. Vós que fizestes a vontade do Pai, pronta na obediência, corajosa na pobre-za, acolhedora na virgindade fecunda, alcançai do vosso divino Filho, que quantos receberam o dom de O seguir na vida consagrada saibam testemunhá-Lo com uma existência transfigurada, caminhando jubilosamente, com todos os outros irmãos e irmãs, para a Pátria celeste e para a Luz que não conhece ocaso.

Nós Vo-lo pedimos, para que, em todos e em tudo, seja glorificado, bendito e amado o Supremo Senhor de todas as coisas, que é Pai, Filho e Espírito Santo.

Ámen! Aleluia!

† António Marto, Bispo de Leiria-FátimaFátima, 30 de Setembro de 2006

*Meditação no encontro com os Consagrados da Diocese

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Arte Sacra em Fátima*Fátima: peregrinação às fontes da Beleza

Neste tempo de desencanto e de pensamento efémero, numa cultura niilista, do vazio de verdades e valores universais, de suspeita em relação aos grandes horizon-tes de sentido, mas fascinados pela estética, a beleza é seguramente uma porta pela qual muitos podem entrar e descobrir a beleza da fé, a beleza da sua existência e da sua história a partir da fé.

A “via da beleza” adquire uma capacidade nova para falar aos olhos e ao coração do homem, para o abrir ao mistério da sua interioridade e para lhe anunciar a alegria e a beleza da salvação. Não estamos a falar aqui, naturalmente, da beleza exterior, sedutora e efémera, mas antes, daquela beleza “tão antiga e tão nova” que Santo Agostinho confessa como objecto do seu amor purificado pela conversão, ao excla-mar: “Tarde te amei, ó Beleza sempre antiga e sempre nova, tarde te amei!” Para ele, a beleza não é qualquer coisa, mas alguém, o Tu amado, a Beleza de Deus que transparece no rosto de Cristo: a Beleza do Amor que se dá, nos redime e transfigura, nos revela o olhar do Pai que, de modo permanente, nos cria e nos torna belos. Como diz São Bernardo: “Deus ama-nos, não porque somos bons e belos; mas somos bons e belos porque Deus nos ama”.

Um raio desta Beleza divina resplandeceu para o mundo, em Fátima, através de Maria, a toda bela, a “Senhora mais brilhante que o sol” e da sua mensagem de Graça e Misericórdia para a humanidade que ansiava por erguer-se do abismo. Em Fátima, Ela continua a introduzir os peregrinos na contemplação da Beleza do rosto de Cristo com o seu apelo à conversão dos corações. “A beleza deve conjugar-se com a bon-dade e santidade de vida, de modo a fazer resplandecer no mundo o rosto luminoso de Deus bom, admirável e justo” (João Paulo II).

Peregrinar a Fátima é peregrinar às fontes da Beleza através da Palavra, da Eu-caristia, da Reconciliação, da Oração, do recolhimento interior, do colóquio íntimo com a Mãe e da própria arte.

A Arte Sacra, epifania da Beleza de Deus“Para transmitir a mensagem que lhe foi confiada, a Igreja tem necessidade da

arte. Deve tornar perceptível e, ainda mais, na medida do possível, tornar fascinante o mundo do espírito, do invisível, de Deus. Por isso tem que transpor para formas significativas aquilo que, em si mesmo, é inefável. Ora a arte tem uma capacidade muito própria de captar os diversos aspectos da mensagem, traduzindo-os em cores, formas, sons que estimulam a intuição de quem os vê ou escuta. E isto, sem privar a mensagem do seu valor transcendente e do seu carácter de mistério”.

Esta citação da Carta aos Artistas, de João Paulo II, em 1999 (n. 12), mostra-nos o sentido da arte sacra. Trata-se de anunciar a beleza de Deus e do Seu mistério, a histó-

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ria de Deus com os homens também com a arte, de modo que o mistério toque o cora-ção, mova os sentidos e os sentimentos, se estabeleça uma ligação entre o céu e a terra e assim o homem todo - corpo, alma e sentimento – possa entrar em comunhão com o mistério através da via da beleza. A arte sacra é chamada a ser uma epifania da Beleza de Deus no tempo dos homens. Como gostava de dizer Paulo VI, as obras de arte sacra são testemunhos do “transitus Dei”, isto é, da passagem de Deus pelo mundo.

“ Arte sacra em Fátima. Uma peregrinação estética”Neste contexto, quero saudar, de alma e coração, o feliz momento de sair à luz

a obra “Arte sacra em Fátima. Uma peregrinação estética”, fruto do trabalho de aturada pesquisa do Dr. Marco Daniel Duarte, licenciado em História, variante de História da Arte, pela Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra.

A obra é, como diz o autor, um autêntico “mostruário”, onde nos oferece em exposição 177 obras de arte - para muitos desconhecidas -, em fotografia de quali-dade, incluindo arquitectura, pintura, vitral, escultura, mobiliário e alfaias, azulejo, mosaico, cerâmica e estuque. Cada obra é apresentada através de um pequeno texto, estilisticamente enquadrada e integrada na obra do respectivo autor. Com isso, pro-porciona-se também ao leitor o conhecimento de mais de meia centena de verdadei-ros criadores de arte, representados em Fátima.

Este estudo resgata Fátima da ideia, infelizmente tão divulgada, de que é um deserto artístico. Em palavras do próprio autor: “Será, mais que um guia, um per-curso intelectual, destinado aos que mais quiserem saber sobre cada uma das obras que integra este estudo e aos que quiserem descobrir muitas das criações artísticas que, por estarem distantes dos olhares de quem passa, não se encontram acessíveis, mesmo aos estudiosos”.

Para além do valor científico da obra, solidamente fundado, encontramos nela uma “contemplação” da melhor arte sacra em Fátima que é, simultaneamente, uma peregrinação interior pela via da beleza, uma experiência do estético e do sagrado, que se insere perfeitamente na “grande peregrinação” característica de Fátima. Como não proporcionar aos peregrinos esta experiência? De ora em diante, não se conhece-rá bem o património cultural e espiritual de Fátima sem o contributo desta obra.

Com a minha palavra de abertura quis apenas oferecer aos leitores um horizonte para poderem saborear o manancial de beleza e riqueza que a obra encerra e pro-porciona. E como bispo de Leiria-Fátima quero deixar aqui expressos ao Dr. Marco Daniel e à Fundação Arca da Aliança, que empreendeu a iniciativa, apoiou a investi-gação e edita o livro, os mais vivos parabéns e o testemunho da minha gratidão por este serviço à fé e à cultura. Bem-haja!

† António Marto, Bispo de Leiria-FátimaSetembro de 2006

* Discurso na apresentação da obra “Arte sacra em Fátima. Uma peregrinação estética”

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Fátima no coração da História*Paul Claudel, o célebre escritor francês convertido à fé católica, traduziu, de

forma sintética, o significado histórico das aparições de Nossa Senhora em Fátima, numa frase: “Fátima é o maior acontecimento religioso da primeira metade do século XX, uma explosão transbordante do sobrenatural neste mundo prisioneiro da maté-ria”. Talvez só hoje, à distância do tempo, estamos em condições de compreender a verdade e todo o alcance desta afirmação.

As aparições da Virgem Maria em Fátima foram preparadas pelas aparições do Anjo em 1916; tiveram o seu momento central na mensagem aos três videntes des-de Maio a Outubro de 1917; e foram seguidos de posteriores aparições e visões à vidente Lúcia, de carácter complementar e interpretativo, em 1925 e 1929. Desde o início atraíram o interesse particular de muitos fiéis até ao reconhecimento oficial pela Igreja.

De singular relevo é a relação particular da Mensagem aos acontecimentos his-tóricos e a sua correspondência à situação e às ansiedades da vida da fé e da vida eclesial no mundo moderno: o anúncio da misericórdia de Deus sobre um mundo perturbado e ameaçado pela catástrofe da guerra e de ideologias totalitárias e ateias, a universalidade da acção salvífica de Deus e o chamamento à conversão do coração a Deus e à participação reparadora do pecado do mundo por parte dos crentes.

Todos estes motivos iluminam o eco positivo que a Mensagem foi alcançando na consciência dos fiéis com o decurso do tempo. De não menor consideração é tam-bém a referência e a orientação da Mensagem à história universal, incluindo a sorte da Rússia e da perseguição à Igreja, mesmo na pessoa do Santo Padre. Tudo isto deu uma particular actualidade às promessas contidas na Mensagem.

O apelo de Maria ecoou em Fátima como um grito de amor e de dor de Deus pela humanidade “que anseia por erguer-se do abismo”, oferecendo-lhe a Sua Misericór-dia como limite e superação do mal devastador. Este apelo é como uma fonte de luz que projecta os seus raios em todos os âmbitos da vida cristã e da história do século XX. Traz a este tempo a palavra certa, precisa sobre a paz, a reconciliação, a força da redenção para renovar a face do mundo.

Por isso, este apelo reveste um carácter profético. Um olhar sobre os profetas mostra-nos como a sua missão estava ligada a acontecimentos históricos da sua pró-pria época vistos à luz da Palavra de Deus.

Quem melhor captou e traduziu este aspecto da Mensagem foi o saudoso Papa João Paulo II, numa memorável página de uma carta dirigida ao Bispo de Leiria-Fá-tima em 1997, por ocasião do 80º aniversário das aparições: “Às portas do Terceiro Milénio, observando os sinais dos tempos neste século XX, Fátima conta-se certa-mente entre os maiores, até porque anuncia na sua mensagem muitos dos sinais su-cessivos e convida a viver os seus apelos; sinais como as duas guerras mundiais, mas

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também grandes assembleias de nações e povos sob o signo do dialogo e da paz; a opressão e as convulsões vividas por diversos países e povos, mas também a voz e a vez dadas a populações e gentes que entretanto se levantaram na arena internacional; as crises, as deserções e tantos sofrimentos dos membros da Igreja, mas também um renovado e intenso sentido de solidariedade e de recíproca dependência no Corpo Místico de Cristo, que se vai consolidando em todos os baptizados...; o afastamento e abandono de Deus por parte de indivíduos e sociedades, mas também uma irrupção do Espírito de Verdade nos corações e nas comunidades tendo-se chegado à imo-lação e ao martírio para salvar a “imagem e semelhança de Deus no homem” (Gn 1,27), para salvar o homem do homem.

De entre estes e outros sinais dos tempos, como dizia, sobressai Fátima, que nos ajuda a ver a mão de Deus, guia providente e Pai paciente e compassivo também deste século XX”.

Saúdo a amostra “Fátima no coração da história” agora apresentada em portu-guês por ocasião do 90º aniversário das aparições. Ela é, seguramente, um guia que através da imagem e do texto ajuda a compreender a Mensagem e a sua relação com os grandes acontecimentos do século XX. É também um convite a contemplar Ma-ria, com o seu Imaculado Coração, como Mãe da Esperança para o século XXI.

† António Marto, Bispo de Leiria-FátimaSetembro de 2006

*Apresentação do livro “Fátima no Coração da História” - Centro Cultural de Lisboa Pedro Hispano

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Abertura da Peregrinação Aniversária

1. Dos mais variados ângulos do país e do mundo, percorrendo as mais variadas estradas, peregrinamos até este santuário, conduzidos pela mão materna de Maria, ao encontro com Cristo.

O peregrinar mostra-nos que o nosso seguimento de Jesus acontece nas estradas da própria história e na partilha das alegrias e das esperanças dos homens de hoje, na vontade de percorrer as estradas do mundo e da vida com a força secreta da fé, da esperança e do amor de Cristo, cabeça e meta da nossa peregrinação e de uma nova humanidade. “Vinde a mim vós todos que andais cansados e oprimidos e eu vos aliviarei e encontrareis conforto para as vossas almas” (Mt 11).

A peregrinação deste mês de Outubro convida-nos a vir restaurar a nossa vida e o nosso coração no Mistério da Misericórdia aqui proclamado por Maria, Mãe da Misericórdia. Por isso, com esta peregrinação abrimos o ano da Misericórdia, para comemorar o 90º aniversário das aparições de Nossa Senhora. Ela mesma nos convida a fazer experiência da beleza do mistério da Misericórdia de Deus: a ternura do Pai que dá vida, torna-se misericórdia que perdoa, acolhimento que resgata, protecção que defende, fonte que regenera a nossa vida espiritual.

2. Peregrinar a Fátima é peregrinar às fontes regeneradoras da vida. A vida espiritual assemelha-se a uma vida de músico: é preciso fazer as notas inspirar o próprio corpo, é preciso libertar o espírito, trabalhar a escuta, exercitar-se na arte do silêncio sem o qual nenhuma nota se pode revelar.

Para compor, dia após dia, a sinfonia ou a pequena música da nossa existência, precisamos de trabalhar o nosso “ouvido interior”, o do nosso coração. Ser cristão é crer que esta voz interior, esta palavra vinda do mais profundo de nós mesmos, é palavra de Deus em nós e para nós.

Confessemos que o nosso horizonte está por vezes cheio de preocupações materiais ou afectivas que nos é difícil ouvir o que quer que seja. A peregrinação espiritual começa inevitavelmente por um esforço de despojamento interior, por parar, ousar fazer silêncio interior, “perder tempo” para ouvir os murmúrios inefáveis de Deus em nós e deixar que a Sua misericórdia desça ao mais profundo de nós para nos renovar, dar-nos uma frescura nova da fé e da vida espiritual.

Peçamos a Nossa Senhora esta graça para podermos cantar com Ela o Magnificat da Misericórdia e fazer com que a nossa vida se transforme num canto ao Amor misericordioso que redime o mundo!

Senhora, Mãe de Misericórdia, Nossa Celeste PadroeiraOlha para nós peregrinos

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Na grande luta da históriaE acompanha-nos com a tua intercessão.Acompanha o Papa Bento XVI no seu ministérioE particularmente na sua peregrinação à Turquia.Faz-nos sentir sempre o amor do Eterno Pai,Conforta os nossos corações na fé E enche-os da esperança que não desilude. Ámen!

† António Marto, Bispo de Leiria-FátimaSantuário de Fátima, 12 de Outubro de 2006

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Reconduzir para o centro do cultoa verdadeira adoração de Deus

Meus irmãos na graça do sacerdócio ministerial,Minhas irmãs e meus irmãos na graça da fé e do baptismo em Cristo SenhorCelebramos nesta Eucaristia o aniversário da dedicação desta Basílica de Nossa

Senhora do Rosário, enquanto templo consagrado ao Senhor para Ele celebrar con-nosco o mistério da Sua presença querida e do Seu amor oferecido; e enquanto Casa da Mãe, à qual acorrem os peregrinos trazidos pela mão materna de Maria, para o encontro com o Seu Filho Jesus Cristo.

“Os mercadores do templo”A passagem do Evangelho de hoje, que acabámos de ouvir, faz parte da peregri-

nação de Jesus ao Templo de Jerusalém e, por isso, convida-nos a fazer, juntamente com Cristo, uma pequena peregrinação espiritual ao templo.

Jesus entrou no Templo de Jerusalém e aí fez um gesto insólito e desconcertante: expulsou os mercadores do Templo.

Que quis dizer Jesus com este gesto? É um gesto simbólico e profético. Os “mer-cadores do Templo” aparecem aqui como uma metáfora, uma imagem de uma vida em que as relações são fundadas no interesse. Naquele interesse do “dou para que tu me dês”, do “dar para receber em troca” e, por conseguinte, compreendeis que esta atitude e esta mentalidade tornam difícil uma relação de verdadeira comunhão entre as pessoas.

Nós, homens, somos capazes de perverter as realidades mais belas por causa dos nossos próprios interesses. E às vezes, transferimos para Deus, para a nossa relação com Deus, este esquema das nossas relações humanas. Às vezes, reduzimos a fé a um conjunto de prestações, como quem paga taxas a Deus, com uma série de práti-cas ou obrigações que Ele teria imposto sobre os ombros destes pobres mortais. É esta relação falseada com Deus que Jesus põe em causa e purifica quando entra no Templo e expulsa os mercadores, porque, quando assim acontece, damos mais aten-ção às coisas da casa, do que ao Senhor da casa, que é o próprio Deus.

A primazia da adoração de DeusÉ neste contexto que Jesus diz: “Destruí este Templo, que Eu em três dias o

levantarei”. Referia-se ao Seu corpo, quer dizer, à Sua pessoa, ao mistério da Sua morte e ressurreição, em que Deus se torna presente no meio de nós. Com isto, Jesus quer reconduzir ao centro do templo, ao centro da nossa vida e ao centro do mundo, a verdadeira adoração de Deus, a primazia da adoração de Deus. Não de um Deus

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qualquer, porventura arquitecto do mundo, ou reduzido a uma energia divina ou energia cósmica, mas o Deus pessoal, o Deus amor que nos revelou o Seu rosto em Jesus. Na pessoa, na palavra, nos gestos de Jesus é o próprio Deus que nos revela o mistério da sua intimidade, que o partilha connosco, que nos dá uma vida nova, que nos abre caminhos de salvação. Então compreendeis que o novo templo, o novo lugar do encontro com Deus, de Deus com os homens, de nós com Deus, é Jesus Cristo, vivo e ressuscitado. Não são as coisas que nos salvam; é a pessoa viva e res-suscitada de Cristo que nos salva, na comunhão com Ele. E compreendeis também que a verdade da nossa fé, não está numa quantidade de práticas, mas está numa relação verdadeira e verdadeiramente filial com Deus. Por isso, Jesus chama ao Tem-plo a Casa do Pai. E se Deus é Pai, não O honramos em primeiro lugar com a oferta das nossas coisas; honramo-Lo acolhendo-O. Adorar a Deus quer dizer reconhecer Deus como Deus, acolhê-Lo no coração e na vida, deixar que Ele seja Deus em nós e connosco. E aqui está a beleza, o encanto da nossa fé. É Deus que nos torna belos, com a beleza do Seu amor.

O templo do nosso coração

Mas, para além deste templo novo que é Jesus Cristo, lugar do encontro com Deus, existe também um outro templo onde Deus quer morar e habitar. Jesus diz: “Aquele que Me ama, Meu Pai o amará e viremos a Ele e faremos nele a nossa morada”. Qual é esse templo? É o nosso coração, que passa a ser não só lugar de presença mas de morada íntima e permanente de tal modo que Deus se torna íntimo a nós, mais íntimo a nós do que nós mesmos. E por isso, quando deixamos entrar Jesus no templo do nosso coração, da nossa consciência, Ele chega lá e faz como fez no Templo de Jerusalém: expulsa “os mercadores” que habitam no nosso coração, quer dizer, os nossos interesses mesquinhos, as nossas invejas, as nossas rivalidades, os nossos rancores, os nossos ressentimentos, as nossas indiferenças, as nossas ân-sias de domínio dos outros, tudo aquilo que é contrário à beleza de Deus. Assim, o Senhor purifica o nosso coração, santifica-o!

Santidade popularEsta purificação do coração, foi o pedido que Nossa Senhora veio fazer aqui

em Fátima quando pede a conversão. A conversão é, antes de mais, a conversão do nosso coração a Deus. E Ele, habitando-o, santifica-o, enche-o com a beleza da Sua santidade. Por isso, Nossa Senhora, ao mandar erguer aqui uma capela, que depois com o tempo deu origem também a uma basílica, foi para deixar aqui um sinal e uma memória deste Seu apelo à conversão, quer dizer, à santidade. E convocando aqui multidões como Ela convoca, o apelo é à santidade popular: santidade católica, san-tidade universal, santidade de povo, quer dizer, acessível a todos, possível a todos, às crianças, aos jovens, aos adultos, aos solteiros, aos casados, aos viúvos. A todos é possível ser santo, porque a santidade é, antes de mais, trabalho de Deus em nós. Por

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isso, a melhor oferta que podemos fazer ao Senhor, não são propriamente as coisas; é a oferta de um coração acolhedor, à semelhança do Coração Imaculado de Maria; é oferta de um coração disponível, à semelhança do Coração Imaculado, disponível, de Maria, Sua Mãe, que Lhe disse “sim” numa entrega total.

É belo ou não é belo ser santo à semelhança da Mãe que aqui nos convoca para o encontro com o Filho?

Maria, Mãe de Jesus e nossa Mãe, ajuda todos nós peregrinos a ter um coração acolhedor do mistério do Deus Santo e do Seu amor eterno. Ajuda-nos, como Tu, a deixar-nos abraçar pelo Pai com os dois braços do Seu amor, que são o Filho Jesus Cristo e o Seu Espírito de amor e de santidade. E que todos os que aqui vêm visitar-Te, Senhora, à Tua basílica, sob a Tua protecção possam aqui fazer a mais bela experiência do amor eterno e santo de Deus. Que saiam daqui reconfortados na sua fé, na sua esperança e que todos possam dizer com a alegria no coração: “Aqui, sinto-me em casa, sinto-me espiritualmente em casa: na casa do Pai, na casa da Mãe, na casa de todos os irmãos.” Ámen! Aleluia!

† António Marto, Bispo de Leiria-FátimaFátima, 12 de Outubro de 2006 - Aniversário da Dedicação da Basílica

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Em Ti cantamos aBeleza da Misericórdia do Pai

Diante da tua imagem de Nossa Senhora de Fátima, ó Virgem Mãe, como pere-grino entre os peregrinos que hoje aqui acorreram em multidão, em seu nome e em nome pessoal, saúdo-Te afectuosamente com o conhecido hino:

Ave, Maria, mulher admirável, honra do povo!Em Ti cantamos a grandeza do Pai!Humilde serva, formosa Senhora,Ditosa Mãe, na dor e na paz.Em Ti cantamos a grandeza do Pai!Nesta minha saudação de amor à Virgem, quero envolver num grande e afectuo-

so abraço todos vós que estais a viver com a vossa presença este momento de graça. Saúdo com fraterno afecto os meus irmãos bispos e sacerdotes concelebrantes, parti-cularmente os bispos dos países de língua portuguesa que se reuniram em Fátima.

Ao presidir hoje, pela primeira vez, a uma peregrinação do dia 13, na minha mis-são de Bispo de Leiria-Fátima, vem-me à memória a cena dum vitral da ábside duma pequena igreja de Bénodet, na Bretanha (França): a Virgem com o menino aparece a um bispo ornado com as insígnias: o báculo, a mitra e as vestes episcopais. E Maria, de pé, por cima dum altar, estende-lhe o menino Jesus.

Pouco importa o acontecimento que motivou esta representação. O que interessa é a simbólica da mensagem. Parece que Maria está a dizer-nos: “Atenção! Não sou eu a mais importante nem tu, bispo, com as tuas insígnias episcopais: é o meu Filho! Como eu, com o sopro do Espírito, continuai a propô-lo ao mundo de hoje. Sede simples, verdadeiros e humildes para não chamardes a atenção sobre vós, mas sobre Jesus e a Sua mensagem. Proponde a Palavra de Deus, proponde os sacramentos da graça, conduzi à Fonte da Vida que é Cristo, Revelador do Pai e Redentor do homem e do mundo, ajudai a humanidade a descobrir e a contemplar a Beleza do Seu rosto e da Sua misericórdia e a deixar-se embelezar por ela.”

Que missão mais bela poderia a Mãe de Jesus assinalar à Igreja hoje, a este san-tuário de Fátima, “catedral espiritual do mundo”, e ao seu humilde bispo, Ela cuja grandeza está na humildade e no seu serviço ao Filho e à humanidade?

Contemplar a Beleza da Divina MisericórdiaHoje, com esta celebração eucarística, damos início ao Ano da Misericórdia para

comemorar essa extraordinária manifestação da misericórdia através de Maria, aqui na Cova da Iria, há noventa anos.

Por isso quero convidar-vos a contemplar juntamente comigo, com os olhos

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cheios de deslumbramento e o coração cheio de gratidão, a beleza do mistério da misericórdia.

A liturgia de hoje, desde os cânticos até às orações e às leituras, é toda ela como que uma cantata, como uma grande variação sobre a bondade e a misericórdia de Deus, que tem o seu vértice na exclamação comovida de S. Paulo: “Deus é rico de misericórdia pelo imenso amor com que nos amou, precisamente a nós que estáva-mos mortos pelas nossas faltas”. Aqui S. Paulo oferece-nos a palavra-chave para compreendermos que a história da salvação - da nossa salvação - é uma epopeia da misericórdia divina.

Mas particularmente significativa e iluminante é a página do Evangelho em que S. João visualiza o rosto concreto desta misericórdia no encontro da mulher adúltera com Cristo. Esta cena é uma pérola evangélica de incomparável beleza, de como-vente ternura e profundidade doutrinal que Santo Agostinho sintetiza numa frase lapidar: “Relicti sunt duo: misera et misericordia”! Ficaram só os dois: a miséria humana e a misericórdia!

A pobre pecadora aparece em toda a miséria da sua culpa: não só perdeu publi-camente a honra, mas está prestes a perder a vida. Jesus manifesta-se como a miseri-córdia incarnada e pronuncia um juízo de absolvição: “Nem eu te condeno. Vai e não voltes a pecar”. Tu vales mais, infinitamente mais, do que o teu pecado.

A dramaticidade da cena é dada pelo confronto entre o abismo da miséria hu-mana e o abismo ainda maior do Amor que Deus tem por nós. Estamos diante das dimensões inenarráveis e indizíveis deste Amor, que S. Ambrósio comenta de modo admirável: “Não tenhas medo de que o Pai não te acolha; na realidade, Ele não se alegra com que os vivos se percam. Tu tremes por tê-lo ofendido; mas Ele restitui-te a tua beleza”.

De facto, Jesus restituiu à adúltera a beleza perdida: salvou-a como mulher, na sua dignidade de pessoa, na sua humanidade, na sua feminilidade, na verdade do seu amor, na sua relação a Deus. Ela é, de ora em diante, um texto vivo e eloquente da misericórdia de Deus. Eis pois a beleza do Amor misericordioso que nela se espelha: o Amor que perdoa, cura as feridas, resgata, enche de graça e ternura, cumula de dons, rejuvenesce, defende com justiça os oprimidos, arranca ao poder do pecado e da morte, relança no caminho de uma vida nova.

Repensar a nossa história à luz da MisericórdiaNa figura desta mulher do evangelho podemos ler os dramas da vida de cada um

e da humanidade. Ela é imagem de uma humanidade que experimenta tremendas desilusões e gritos de desespero porque não consegue ser verdadeiramente humana; que se apercebe dos gérmenes de violência, ódio, crueldade e morte que traz consi-go, mas que clama e espera por redenção. Quando desespera, está perdida; quando perde os horizontes de esperança, fecha-se, envelhece, morre, suicida-se.

Cristo deu e dá ao mundo uma outra beleza: a da misericórdia, a do Amor que

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salva. Por isso, François Mauriac pôde dizer: “sobre o pecado e sobre o mal do mundo resplandece sempre a luz do Amor de Deus”.

Que seria o nosso mundo sem a realidade da misericórdia? Uma terra donde fosse excluída a misericórdia poderia porventura ser legalmente justa, mas depressa se tornaria irrespirável e os homens tremeriam de frio.

Ressoa hoje aqui, com o sabor de testamento, o último apelo de João Paulo II que não chegou a pronunciar por ter morrido na véspera da celebração do domingo da Divina Misericórdia: “À humanidade que, por vezes, parece perdida e dominada pelo poder do mal, do egoísmo e do medo, o Senhor ressuscitado oferece em dom o Seu amor que perdoa, reconcilia e abre o ânimo à esperança. É o Amor que converte os corações e dá a paz. Quanta necessidade tem o mundo de acolher a misericórdia divina” (L’Osservatore Romano 04/04/05).

O amor rico em misericórdia é o verdadeiro rosto de Deus “o Pai das misericór-dias e Deus de toda a consolação” (2 Cor 1,3). Se acreditarmos no Seu Amor e no Seu perdão regenerador a nossa conversão será profundamente sincera e não fruto do medo de um Deus justiceiro.

Maria, Mãe e Rainha da MisericórdiaAo Pai das misericórdias faz eco a Mãe da misericórdia. Um grande teólogo,

U. von Balthasar, afirma que se o olhar de numerosos cristãos parece hoje crispado, inumano e por vezes feroz, é porque negligenciaram na sua vida a presença da Mãe do Salvador, que proclama que a misericórdia de Deus se estende de geração em geração (cf. Lc 1,50). É à luz do mistério da misericórdia que devemos procurar compreender a extraordinária mensagem que daqui de Fátima começou a ressoar por todo o mundo desde aquele dia 13 de Maio de 1917.

Aqui, Maria, a Mãe do Salvador, proclamou mais uma vez a misericórdia divina, fazendo sentir o grito da sua grande dor e do seu grande amor pela humanidade “que anseia por erguer-se do abismo” em que caiu. “É a dor da Mãe que a faz falar; está em jogo a sorte dos filhos” (João Paulo II). Fê-lo com uma mensagem impres-sionante de advertência, para que a humanidade e a Igreja tomassem consciência da dimensão infernal da loucura do mal e do pecado na história com o seu poder aniquilador; mas ao mesmo tempo, com uma mensagem de consolação e de espe-rança naquele Amor misericordioso que é sempre maior que o nosso coração, mais forte que os nossos males e de que se fez eco o seu coração terno e materno, o seu Imaculado Coração. Só a distância do tempo nos permitiu captar a profundidade e a relevância histórica e profética da mensagem.

Ela continua a dar-nos ânimo no início do milénio: Abri o vosso coração a Cristo! Não tenhais medo! Não tenhais vergonha do Evangelho! A fidelidade e a misericórdia de Deus são mais fortes que toda a fatalidade e todo o pecado! Con-vertei-vos, convertei o vosso coração.

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Ao Teu coração materno, Senhora, queremos hoje confiar os nossos anseios e as nossas inquietações e as do nosso mundo, com a invocação que aqui fez ressoar o Papa João Paulo II: monstra Te esse Matrem, mostra que és nossa Mãe, Mãe de misericórdia!

Mãe das crianças: como o foste de Jesus menino, ajudando-as a crescer em idade, sabedoria e graça;

Mãe dos jovens: que pelo testemunho da beleza da tua humanidade e da tua fé possam descobrir o encanto e a beleza da vida com Cristo;

Mãe dos lares e das famílias, a quem chamas a redescobrir a beleza do seu amor. Faz que ele se torne mais forte que toda a fraqueza e toda a crise;

Mãe dos doentes e dos idosos: pela constante protecção nos seus sofrimentos e na solidão, sê para eles Consoladora dos aflitos;

Monstra Te esse Matrem, mostra que és nossa Mãe!Mãe da nossa fé: que nos dás a conhecer Jesus, bendito fruto do teu ventre, e nos

convidas a acolhê-Lo com a alegria e a prontidão do teu “sim”;Mãe da Igreja, humanamente limitada e pobre, santa e pecadora, mas empenhada

como Tu em abandonar-se à acção do Espírito que a santifica, renova e embeleza, para que deixe transparecer a beleza do rosto de Cristo no mundo;

Monstra Te esse Matrem, mostra que és nossa Mãe!Mãe do nosso mundo, da grande família humana;Mãe dos pobres, que recordas ao Pai na oração do Magnificat, dos humilhados e

ofendidos na sua dignidade, dos que não encontram trabalho, nem casa, nem pão… Que vejam reconhecida a sua dignidade;

Mãe dos povos, no início deste milénio, tão ameaçados por divisões e confron-tos, por ódios, rancores, vinganças e terrorismos. Caminha com os povos para o diálogo das culturas e das religiões, para a solidariedade e para o amor;

Mãe, particularmente, dos povos do Médio Oriente, do povo querido de Timor e do povo do Darfur, tão martirizados pela violência e pela guerra. Sê para eles Mãe do perpétuo socorro e Rainha da paz!

Monstra Te esse Matrem, mostra que és nossa Mãe!Sim, continua a mostrar-te Mãe para todos, porque o nosso mundo tem necessi-

dade de Ti, Mãe da divina misericórdia, Mãe da consolação, da esperança e da paz! Vela por nós, filhos teus,Mãe de Jesus, nosso Bem,Tu podes, és Mãe de Deus, Tu deves, és nossa Mãe!

† António Marto, Bispo de Leiria-FátimaSantuário de Fátima, 13 de Outubro de 2006

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Carta aos Jovens: Itinerário Vocacional

Caros amigos jovens das comunidades cristãs:

O vosso irmão bispo resolveu escrever-vos uma carta especialmente dirigida a vós.Talvez fiqueis um pouco surpreendidos. Mas, na sequência do apelo que vos fiz,

“Dai um projecto belo à vossa vida”, na carta pastoral, venho hoje apresentar-vos uma proposta nova: um itinerário vocacional com o nome “Grupo Vocacional Santo Agostinho”.

Não se trata de mais catequese nem de aprender a rezar; nem sequer pretender dar soluções para todas as dúvidas. É antes uma experiência de fé, em grupo, cuja finalidade é: ajudar a buscar a vontade de Deus na própria vida, orientar a liberdade e a escolha do projecto de vida para servir o projecto de Deus no mundo na parte que a cada um diz respeito.

Trata-se duma busca séria e programada de modalidades pessoais através das quais cada um pode projectar e viver a sua vida à luz do Evangelho. Esta busca está aberta a todo o tipo de vocações: como leigos ou sacerdotes ou consagrados(as).

O meio para alcançar esta finalidade é o discernimento espiritual, quer dizer, um exercício de atenção e escuta da Palavra de Deus e do Espírito Santo na história de cada um, em clima de recolhimento e oração.

Creio que poderá ser uma experiência importante para vós neste tempo em que se vive tão apressada e superficialmente. Espero que vos possa proporcionar uma alegre descoberta.

Agradeço-vos profundamente a vossa atenção e envio-vos cordiais saudações. No nome do Senhor Jesus que nos revela os horizontes imensos do desígnio de Deus para cada pessoa, abençoo-vos com fraterno afecto.

† António Marto, Bispo de Leiria-FátimaNovembro de 2006

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O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas!*Como diz Santo Agostinho, “Maria tem mais mérito por ter sido discípula de

Cristo do que por ter sido mãe de Cristo; mais ditosa é Maria por ter sido discípula de Cristo do que por ter sido mãe de Cristo” (In, Ofício de Leitura da memória da Apresentação da Virgem Santa Maria, 2ª leitura). Como primeira discípula, convida-nos a aprender com ela a ser discípulos de seu Filho Jesus, a ouvir, sempre de novo, a sua palavra de mãe: “Fazei tudo o que Ele vos disser”.

Como mãe solícita que é, preocupa-se com a sorte dos seus filhos. Em Fátima, em 1917, tendo bem presente a situação dramática do mundo, faz um apelo premente à conversão dos corações, à mudança de vida.

A mensagem é actual. A nós compete ajustá-la ao mundo de hoje de modo a não a desvirtuar nem lhe fazer perder nada da sua força interpeladora.

O texto da presente publicação retoma uma devoção popular antiquíssima: a con-templação das sete dores de Nossa Senhora que constituem como que a “via crucis” ou “via Matris”, a “via-sacra” de Maria, onde se expressa o mistério da participação da Virgem Mãe na Paixão e Morte do Filho, que Ela acompanhou na fé desde o berço até à cruz. A Mãe dolorosa, em comunhão total com Cristo e com as dores da Hu-manidade, ensina a sofrer com Cristo, a amar, crer e esperar mesmo através da noite da fé e da noite do mundo. Esta devoção mariana encontrará momentos adequados à sua prática, iluminada pelo magistério do Concílio Vaticano II: “concebendo a Cristo, gerando-o, alimentando-o, apresentando-o ao Pai no templo, sofrendo com o seu Filho moribundo na cruz, Maria cooperou, de um modo especial, na obra do Salvador, com a obediência, a fé, a esperança e a caridade ardente para restaurar a vida sobrenatural das almas” (Lumen Gentium, 61).

“Feliz és Tu porque acreditaste”... Que, na Misericórdia do Pai, também cresça-mos na fé, na esperança e na caridade. Que o Espírito Santo faça em nós e por nós ¬– hoje, sempre – maravilhas de graça.

A perspectiva, referente ao Imaculado Coração de Maria, que se apresenta na segunda parte do presente escrito, pode parecer algo inovadora, e a alguns difícil de aceitar. Nasce de rasgos de um grande teólogo suíço, Maurice Zundel, embora muito pouco conhecido entre nós, e do percurso espiritual do padre que se interroga no desejo de compreender melhor a mensagem de Fátima, de a viver e de a divulgar. Ao Padre Manuel Santos José, capelão do Santuário de Fátima, e seus colaboradores um “bem hajam” por este seu contributo.

† António Marto, Bispo de Leiria-FátimaNovembro de 2006,

* Introdução ao livro “Rezar as Dores de Nossa Senhora” (Fundação Maria Mãe da Esperança)

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“Vinde benditos de meu Pai”:A apoteose da Misericórdia

As comemorações dos 90 anos das aparições de Nossa Senhora aqui em Fátima estão marcados pelo Ano da Misericórdia, porque a Graça da Misericórdia constituiu o centro daquela mensagem que Maria veio comunicar ao mundo. Na peregrinação do dia 13 (de Outubro) eu mesmo dei o tom para este ano: descobrir, aprofundar e contemplar a beleza do Mistério da Misericórdia.

“Vinde benditos de meu Pai”S. João da Cruz escreveu: “No princípio, está o amor e no entardecer da vida

seremos julgados pelo amor”. Esta frase, muito simples e bela, serve para enquadrar as duas leituras da Sagrada Escritura, que acabámos de ouvir, e que são dois monu-mentos literários e espirituais de toda a humanidade. A Primeira carta de S. João, apresenta-nos o princípio, o fundamento do Mistério da Misericórdia; o capítulo 25 do Evangelho de S. Mateus convida-nos a contemplá-lo na sua fase final como festa da apoteose, do coroamento, do triunfo da misericórdia e de todos os misericordio-sos, que poderão ouvir do Pai uma palavra de bem-aventurança: “Vinde benditos de meu Pai. Tomai posse do reino que vos está preparado desde a criação do mundo”. Foi o cântico de abertura da nossa celebração, que deveria fazer vibrar as fibras mais profundas do coração e da alma, porque vem da parte do Senhor.

Estas duas leituras, estas duas páginas das Escrituras, constituem como que um díptico, duas telas de um só quadro, onde podemos contemplar duas facetas: o mis-tério da origem, do fundamento da misericórdia, que enche o nosso coração, a nossa vida, e depois, o coroamento deste mistério na sua plenitude.

“Vede quão grande Amor Deus nos concedeu”O Apóstolo S. João, na sua primeira carta, como que dá o tom musical que depois

nos apresenta ao longo dessa carta em variações diversas. “Vede quão grande amor Deus nos concedeu, de tal modo que podemos chamar-nos filhos de Deus, e somo-lo realmente”. Não se trata de uma mera informação, para satisfazer uma curiosidade, de quem é Deus e quem somos nós. É uma realidade profunda que toca e transforma o nosso ser e a nossa vida.

Se reflectíssemos e acreditássemos, seriamente, nesta verdade, “vede quão grande o amor o Pai nos concedeu de tal modo que podemos chamar-nos filhos, e somo-lo realmente”, nós ficaríamos de cócoras, quer dizer estupefactos, desconcer-tados, deslumbrados, felizes, verdadeiramente felizes, com uma tal declaração de amor. Por detrás desta frase, está uma experiência que o apóstolo viveu e transmite

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apaixonadamente. Compreendemo-la a partir da experiência do baptismo de Jesus. Também agora o Pai diz a cada um de nós, como disse a Jesus: “Tu és o meu filho muito amado”: uma declaração de amor que não é colectiva mas singular, dirigida a cada um em particular. Significa que somos colocados dentro do horizonte luminoso de Deus, partilhando a sua própria vida, a sua intimidade, o seu amor. Isto é um dom: só por dom é que se acede a este mistério. É amor misericordioso, no sentido mais original do termo, quer dizer, amor entranhado, amor de entranhas, como o amor de um pai e de uma mãe, que está entranhado no mais íntimo, no mais profundo do seu ser e, por isso, este amor manifesta-se misericordioso. Quer dizer em concreto:

- Somos envolvidos pelo amor de Deus que quebra, em primeiro lugar, o gelo da nossa solidão e nunca nos deixa sós. Mais ainda, suscita uma atitude de plena confiança filial, que não nos deixa cair no desespero, mesmo quando parece que caímos na fossa.

- É fonte de perdão que não abandona, não rejeita, de tal maneira que, diz o após-tolo, mesmo quando o nosso coração nos acusa a nossa consciência, podemos pensar sempre com confiança: Deus é maior que o meu coração, Deus é sempre maior que o meu pecado.

- E por isso esse amor entranhado, derramado em nós como que em cascata, em catadupa, do coração aberto de Jesus e do coração terno e materno de Maria, torna possível o amor que nos parece impossível, porque desfaz a dureza do nosso cora-ção. Liberta o nosso coração de todo o ódio e de toda a insensibilidade, e por isso torna-nos a nós mesmos misericordiosos para com cada homem e com cada mulher que encontramos no caminho da vida, a fim de que nasça entre nós, na sociedade e no mundo, a cultura da misericórdia.

Não há amor que não partilhe a dorO amor tão desconcertante de Deus, que assume a dor dos seus filhos como

sendo a sua e diz a todos “o que fizeste ao mais pequenino foi a mim que o fizeste”, dá uma dimensão divina ao gesto da misericórdia, e torna-nos solidários próximos, atentos, a todos aqueles que sofrem, aos mais sofredores dentro dos que sofrem. Não há amor que não partilhe a dor.

Queria contar-vos um conto judaico do século XVIII, muito ilustrativo a este propósito.

Um dia, um rabi (um mestre) perguntou a um hebreu “Amas-me?”E este respondeu, com toda a naturalidade, “Claro que te amo!”“Então conhece também a minha dor”, replicou o rabi.“Como posso conhecer a tua dor?”, objectou o outro.“Então não é verdade que me amas, não podes amar se não conheceres a dor do

outro”, disse o rabi.Amor é comunhão profunda, solidariedade não só nas alegrias, mas também nas

lágrimas. Por isso, o teste verdadeiro, a sua prova real está exactamente nas obras

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de misericórdia.O gesto, as atitudes, as obras de misericórdia para com os mais pobres entre os

pobres, os mais abandonados entre os abandonados, aqueles que não parecem amá-veis, os marginalizados, os excluídos, esses com quem Jesus se identifica.

Para ser misericordiosoE, para concretizar como ser misericordioso, termino com uma oração de Santa

Faustina Kowalska, mensageira da Divina Misericórdia:«Senhor, desejo transformar-me toda na Misericórdia e ser o vosso vivo reflexo.

Que o mais grandioso atributo de Deus, a sua insondável misericórdia, possa pene-trar pelo meu coração e através da minha alma, em direcção aos outros.

Ajudai-me Senhor, para que os meus olhos sejam misericordiosos: que não suspeite de ninguém e não julgue segundo as aparências exteriores. Que eu apenas observe aquilo que é belo na alma do próximo e que vá em seu socorro.

Ajudai-me Senhor, para que os meus ouvidos sejam misericordiosos: que eu esteja sempre atenta às necessidades dos outros, e os meus ouvidos não sejam indi-ferentes às dores e aos gemidos do próximo.

Ajuda-me Senhor, para que a minha língua seja misericordiosa: que eu nunca diga mal dos outros, mas tenha para com cada um palavras de consolação e de per-dão.

Ajudai-me Senhor, para que as minhas mãos sejam misericordiosas e cheias de boas obras: que só possa fazer bem ao próximo, reservando-me os trabalhos mais duros e difíceis.

Ajudai-me Senhor, para que os meus pés sejam misericordiosos: que eu esteja sempre pronta a ir ajudar o meu próximo, dominando o próprio cansaço e fadiga. Que o meu verdadeiro descanso seja servir os outros.

Ajudai-me Senhor, para que o meu coração seja misericordioso: que eu sinta todos os sofrimentos dos outros. A ninguém negarei o meu coração. Que eu conviva sinceramente, mesmo com os que sei que hão-de abusar da minha bondade. Que, por mim mesma me encerrarei no misericordiosíssimo Coração de Jesus e guardarei silêncio dos meus próprios sofrimentos.

Ó meu Senhor! Que habite em mim a vossa misericórdia! Ó meu Jesus transfor-mai-me em Vós, já que tudo podeis». Ámen!

† António Marto, Bispo de Leiria-FátimaSantuário de Fátima, vigília de 12 de Novembro de 2006

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Comunicação ao Conselho Presbiteralda Diocese de Leiria-Fátima1. Um povo, um território, uma Igreja a conhecer

Há praticamente meio ano que me encontro entre vós. Como já tive oportuni-dade de vos dizer, o meu primeiro anseio fundamental é o de conhecer esta diocese e, sobretudo, conhecer os seus dinamismos espirituais, segundo a palavra de Jesus referida no evangelho de João: “O bom pastor conhece as suas ovelhas e elas conhe-cem-no” (Jo 10, 14).

É isso que tenho procurado fazer: aproveitar as várias ocasiões para conhecer, para ver, para escutar, para encontrar antes de mais os sacerdotes, os religiosos e as religiosas, os leigos, as paróquias, os secretariados e movimentos, os grupos, a sociedade civil. Trata-se de conhecer um povo, a alma de um povo para avaliar os processos (dinamismos) profundos que o movem; um território preciso com as suas estruturas, a sua história e a sua singularidade; e a comunidade eclesial em todas as suas componentes, tendo em conta a tradição da sua história, do seu caminhar na maturação da fé, as suas necessidades e os seus anseios de renovação, os fermentos novos que germinam.

Este trabalho é lento apesar do suceder intenso e por vezes vertiginoso de en-contros e audiências, não só com os diocesanos mas com gente de todo o país e do mundo, dada a dimensão internacional de Fátima. Por outro lado também é difícil, sobretudo pela enorme quantidade de informações e questões que chegam ao bispo; sendo muitas, falta por vezes o tempo para examiná-las, e coordená-las como gos-taria. Isto gera a fadiga de assimilar rapidamente a necessária quantidade de dados para um juízo e para a acção.

Tudo isto sugere o estilo com que o bispo recém-chegado deve mover-se dentro de toda esta realidade: o estilo de discrição. Quer dizer, a presença e a participação cordial, serena, paciente, pacata e prudente na vida da diocese; um estilo de acolhi-mento que anima espaços de amizade, de comunicação, de compreensão, que quebra os distanciamentos e os preconceitos, que estimula a aproximação e colaboração entre todos; um estilo que suscita o dinamismo do entusiasmo, da alegria do Evan-gelho, da fé e do ministério.

O bispo deve ler e compreender o dinamismo da realidade com os olhos da fé e com os olhos da inteligência e do coração, deve percebê-lo com a afectividade que é o próprio afecto de Cristo pelo homem, o afecto de Deus por cada criatura. E integra tudo no juízo contemplativo da fé pelo qual procura ver as coisas e o que está por trás delas, as pessoas e os dinamismos profundos de bem que estão por detrás das pessoas.

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2. O Bispo, o Presbitério e o Conselho PresbiteralA primeira preocupação e prioridade para o bispo é evidentemente o clero: co-

nhecer este clero nas suas riquezas interiores, na sua dedicação, na sua capacidade de serviço, no seu esforço de adequação aos novos tempos e nas suas fadigas e até debilidades. O nosso clero, dedicado e generoso, está sobrecarregado por grandes fadigas e pelas exigências sempre novas do ministério.

Para esta atenção especial ao clero, para escutar e conhecer melhor os pa-dres - e, por conseguinte, a diocese – tenciono receber pessoalmente cada um, em audiência particular, após o Natal até à Páscoa. Isto deriva de uma constatação e convicção profunda. O bispo por si só e sozinho não significa nada. Além de ser todo ele relativo a Cristo, está sempre unido – segundo a feliz expressão do Vaticano II – a um “presbitério”, isto é, ao conjunto de todos os padres que compõem a dio-cese. Não é uma pessoa isolada que vê, sente, pensa, que tem as suas ideias pessoais mais ou menos fundadas. Ele é a unidade de um grupo de presbíteros e, com eles, em profunda humildade, examina, pensa e age. É todo solidário com esta comunhão sem pôr de parte o seu carisma próprio de discernimento e decisão. Um momento de busca da comunhão de intenções e metas pastorais é, sem dúvida, a semana dedicada à Formação Permanente que, como de costume, realizaremos em dois turnos, de 22 a26 de Janeiro e 29 de Janeiro a 2 de Fevereiro.

Desta comunhão entre o bispo e o presbitério é expressão institucional este Con-selho Presbiteral “cuja missão é ajudar o bispo no governo da diocese... para prover do melhor modo ao bem pastoral da porção do Povo de Deus a ele confiada.”

É um órgão jurídico; mas deve estar animado por uma espiritualidade de comu-nhão e missão. Antes de mais, está ao serviço do diálogo entre o bispo e o presbité-rio e do crescimento da fraternidade entre os diversos sectores do clero da diocese. Além disso, “é também a sede idónea para fazer emergir uma visão de conjunto da situação diocesana e para discernir o que o Espírito Santo suscita através de pessoas ou grupos; para trocar pareceres e experiências; para determinar, enfim, objectivos claros do exercício dos vários ministérios diocesanos, propondo prioridades e suge-rindo métodos” (DMPB 191). Eis a razão por que faz parte da agenda a auscultação do Conselho sobre as principais urgências da Diocese.

Nesta lógica, o Directório Pastoral dos Bispos recomenda: “Com a sua atitude de diálogo sereno e escuta atenta de quanto é expresso pelos membros do Conselho, o Bispo encorajará os sacerdotes a assumir posições construtivas, responsáveis, de longo alcance, tendo a peito somente o bem da diocese. Para além das visões parciais e individuais, o Bispo diocesano procurará promover dentro do Conselho um clima de comunhão, de atenção e de busca comum das melhores soluções. Evitará dar a impressão da inutilidade do organismo e conduzirá as reuniões de modo que todos os conselheiros possam exprimir livremente o seu parecer.” (nº 182)

Peço-vos pois que exprimais a vossa opinião sobre os assuntos em debate, com toda a liberdade, sem a preocupação de agradar ou desagradar ao bispo. Eu estou ha-

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bituado ao diálogo franco, leal e respeitoso. Não fico aborrecido, ferido ou zangado por discordarem de mim. E a vossa liberdade não tira a minha liberdade quando, de-pois de escutar e ponderar “coram Deo”, tiver de decidir o que é necessário, mesmo sabendo que não se pode agradar a todos.

3. A administração económica e o ecónomo diocesanoEm virtude do pedido insistente do Sr. Padre Adelino Ferreira, de ser substituído

no cargo de ecónomo diocesano, é necessário encontrar outra pessoa para o respec-tivo cargo. Quero aqui lembrar quanto diz o Directório para o ministério dos bispos a tal respeito: “A diocese dever ter um ecónomo que deve ser nomeado pelo bispo para um quinquénio, renovável, depois de ter ouvido o Colégio dos Consultores e o Conselho para os assuntos económicos. O ecónomo, que pode ser também um diá-cono ou um leigo, deve possuir uma grande experiência no campo económico-admi-nistrativo e conhecer a legislação canónica e civil relativamente aos bens temporais e os eventuais acordos ou leis civis acerca dos bens eclesiásticos.”

Embora as competências do ecónomo estejam definidas no Regulamento da Administração de bens da Igreja na Diocese de Leiria-Fátima, é todavia oportuno recordar aqui a sua missão em linhas gerais:

- Administrar os bens da diocese, sob a autoridade do bispo e de acordo com o parecer do Conselho para os assuntos económicos;

- Efectuar, com as entradas próprias da diocese, os gastos que legitimamente lhe ordene o bispo;

- Elaborar o orçamento para o Ano Económico depois de recolher os orçamentos dos Secretariados e outras Instituições (can. 1284, 3);

- Prestar contas, no fim do ano, das receitas e despesas, para serem aprovadas pelo Conselho para os assuntos económicos;

- Vigiar diligentemente pela administração dos bens pertencentes às pessoas jurídicas que dependem ou prestem contas ao bispo;

- Analisar e aprovar as contas das paróquias (can. 1287);- Prover à rentabilização dos bens que são pertença da Diocese.Para o cumprimento das funções que lhe são próprias, a Administração econó-

mica da diocese contará com a colaboração do Serviço de Tesouraria e Contabili-dade, do Conselho para os assuntos económicos, dos párocos, da administração das paróquias e outras instituições que prestam contas à diocese (can 1287) e de outros eventuais colaboradores que se julgue necessário.

Como se deduz, o ecónomo diocesano não é um contabilista, mas tem a figura de verdadeiro administrador e gestor dos bens da diocese, que estão ao serviço da comunhão na Igreja e da sua missão no mundo.

Tendo tudo isto em conta, achei conveniente pedir também o parecer dos mem-bros do Conselho presbiteral. Assim peço que cada conselheiro, em votação secreta, me indique dois nomes entre os sacerdotes do nosso presbitério, que julgue mais

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idóneos para o cargo de ecónomo. Será bom, pois, ter em conta as características do seguinte perfil: aceitação e credibilidade entre o clero; espírito de colaboração com o bispo, o conselho económico e os padres; experiência no campo económico-admi-nistrativo; capacidades de administrador e gestor, isto é, de uma visão de conjunto, de traçar planos a médio e longo prazo, de rentabilizar os bens.

Ainda no campo económico, coloca-se também a questão da actualização da re-muneração mensal do clero de acordo com o art. 68 do Estatuto económico do clero: “Sempre que se modificarem as condições económicas gerais que, num determinado momento, justificarem a retribuição estabelecida, esta deverá ser ajustada às novas condições”, o que exige ser ouvido o conselho presbiteral segundo o teor do art. 67.

4. O plano pastoral da Diocese e do Santuário de FátimaO lançamento do plano pastoral para o ano 2006/07 sobre a vocação e as voca-

ções na Igreja foi correspondido com muito interesse pela assembleia diocesana com cerca de 800 participantes que mostraram bom acolhimento e até entusiasmo. A mesma correspondência tenho encontrado nas vigílias de oração a que presidi, com grande participação popular. A própria Carta Pastoral teve uma saída de 8.500 exemplares. Isto mostra que há sensibilidade por parte das comunidades. Espero que esta chama continue viva ao longo do ano.

Para implementar os objectivos que nos propusemos, posso informar que o pré-seminário está activo e a funcionar com 30 candidatos. A partir de Janeiro vamos lançar uma nova iniciativa: um “itinerário vocacional” com a designação de “Grupo vocacional de Santo Agostinho”. Destina-se a jovens de ambos os sexos, dos 17 aos 25 anos, que manifestem intenção recta de fazer uma busca séria e programada em ordem ao discernimento da sua vocação. Funcionará a nível diocesano, em Leiria, como laboratório, para mais tarde se poder estender às vigararias. Peço o interesse de todos os padres em motivar aqueles jovens que lhes parecerem mais idóneos e com mais interesse.

Ainda no âmbito pastoral quero recordar a celebração do nonagésimo aniversá-rio das aparições de Nossa Senhora em Fátima, sob o lema “Ano da Misericórdia”. Embora o Santuário tenha um programa pastoral próprio, creio que a diocese não pode ficar totalmente alheia. Devemos sentir-nos chamados a pôr, de algum modo, em relação o Mistério da Misericórdia com a vitalidade espiritual e apostólica da nossa Igreja, aproveitando para isso as festas litúrgicas da Virgem Maria, as devo-ções marianas como o mês de Maio e a peregrinação diocesana.

A meu ver, o cerne da Mensagem de Fátima está no apelo a reconduzir para o centro da vida cristã e do mundo a adoração de Deus rico de misericórdia, no seu amor entranhado pela humanidade. Frente ao esquecimento, ao abandono, à indi-ferença em relação a Deus, à tentativa da expulsão de Deus das consciências e da sociedade dos homens, Maria apresenta-se como pedagoga e mistagoga que conduz à contemplação da benevolência e da condescendência divinas para com o mundo.

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A conversão a que Nossa Senhora chama com tanta insistência é, antes de mais, teologal: configura-se como acolhimento puro do mistério do Amor Trinitário, disponibilidade, escuta, contemplação, mística, afecto profundo perante o mistério da presença divina, paz… Como poderão as comunidades cristãs tornar-se terreno propício de vocações sem o húmus desta espiritualidade e desta mística primeiras e fundamentais?

5. Visita Pastoral à DioceseNo próximo ano, a partir de Novembro, tenciono dar início à visita pastoral à

diocese, como “sinal da presença do Senhor que visita o Seu povo na paz” (DB 46). Não se trata de uma fiscalização. É antes um “verdadeiro tempo de graça e momento especial para o encontro e o diálogo do bispo com os fiéis” (P. G. 46).

Através da Visita Pastoral é dada ao bispo a oportunidade de desempenhar ple-namente o seu ministério apostólico. À semelhança dos apóstolos que, como Pedro, iam fazer visita a todas as comunidades (cf. Act. 9, 32), também o bispo se faz pere-grino em visita ao santuário vivo do Povo de Deus, com os seguintes objectivos:

- Conhecer de perto e in loco a vida das comunidades, as suas alegrias, as suas dificuldades e os seus desafios;

- Encorajar e consolidar a vitalidade de cada comunidade no encontro renovado com Cristo, na fidelidade à Palavra e à Eucaristia e no serviço da caridade;

- Promover a comunhão eclesial, valorizando o sentido e os órgãos de corres-ponsabilidade

- Suscitar uma oportuna criatividade pastoral face aos desafios de um mundo em constante mudança.

As visitas serão feitas por vigararias para fomentar uma pastoral de conjunto e a vida de comunhão entre as paróquias e entre os párocos. A forma como se realizará a visita será acordada com os vigários.

A visita pastoral é “como que a alma do governo” do bispo para que não se redu-za a sua figura a mero administrador ou crismador. A visita ocupará, naturalmente, diversos domingos ao longo do ano e este é mais um motivo para colocar o problema da reorganização das celebrações do sacramento da confirmação: ou juntando os confirmandos de várias paróquias confiadas ao mesmo pároco, ou de paróquias vizi-nhas, ou mesmo por vigararia onde for possível.

Peço também aos párocos que vão educando as comunidades, em particular os que frequentam a catequese, os seus familiares e os catequistas, no sentido de que, a partir do próximo ano pastoral 2007/08, o normal é que o sacramento da confirma-ção se celebrará só após os dez anos de catequese.

6. A visita “ad limina”Desejo informar-vos de que no próximo ano, de 3 a 12 de Novembro, se realizará

a visita “ad limina apostolorum” dos bispos portugueses. Cada bispo deverá entregar

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o relatório quinquenal até 15 de Abril. Para esse efeito peço a melhor e mais pronta colaboração dos párocos e responsáveis dos secretariados com a secretaria episco-pal em ordem à recolha de dados a partir de Janeiro.

7. Esperança no “Deus semper maior”Para terminar, quero partilhar com todos vós um pensamento, um sentimento,

uma instância muito simples, mas de grande significado para nós e para a nossa missão.

A mensagem que percorre todo o Advento é toda ela de esperança no Deus que vem. É nele (e não nas falíveis e fracas forças humanas) que devemos pôr a nossa esperança. Falamos aqui não só “de” esperança, mas também e antes de mais “com” esperança. Quer dizer, trata-se da esperança como “estilo virtuoso” – como alma, clima interior, espírito profundo – antes ainda que como conteúdo.

A esperança como estilo de vida faz parte essencial e integrante do realismo cristão. Nenhum de nós ignora as dificuldades da vida, da missão, das comunidades, da Igreja e do mundo. Mas graças à presença do Senhor e do Seu Espírito na história de cada tempo, a esperança não abandona nunca a Igreja e a humanidade.

É na consciência dos nossos limites, das nossas fadigas e lentidões, dos nossos atrasos e falhanços, e numa imensa confiança no Senhor e no Seu amor que somos chamados a viver a nossa missão neste tempo e a realizar o plano pastoral no hori-zonte da esperança no “Deus semper maior”. Quem tem olhos e coração evangélicos não vê só o negativo; vê e alegra-se com as muitas sementes e os gérmenes e frutos de esperança que já estão em acção em diversos âmbitos das nossas comunidades e esperam ser cultivados com entusiasmo.

A todos desejo agradecer a vossa amizade e a generosa colaboração. Desejo-vos um Natal de Cristo cheio de esperança na doce companhia de Nossa Senhora do Advento, do Deus que vem, Nossa Senhora da esperança!

† António Marto, Bispo de Leiria-FátimaLeiria, 12 de Dezembro de 2006

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Comunicado do Conselho Presbiteral da Diocese de Leiria-Fátima

O Conselho Presbiteral da Diocese de Leiria-Fátima, sob a presidência de D. António Marto, reuniu-se, pela primeira vez, durante a manhã do 12 de Dezembro de 2006, no Seminário Diocesano. É composto por 18 padres diocesanos e 2 reli-giosos.

Depois do canto dos salmos, o presidente saudou os presentes e introduziu os trabalhos com uma comunicação onde falou do seu modo de estar entre nós, definindo-o como discreto; expressou a sua preocupação pelo Clero, dizendo que receberá pessoalmente cada sacerdote entre o Natal e a Páscoa; lembrou, com agra-do, o segundo ano do Projecto Pastoral e anunciou a criação do Grupo vocacional Santo Agostinho para jovens, rapazes e raparigas, dos 17 aos 25 anos; recordou as celebrações do 90º aniversário das Aparições de Fátima e pediu que se pusesse em relação o Mistério da Misericórdia com a vitalidade espiritual e apostólica da nossa Diocese; anunciou, com início em Novembro de 2007, a visita pastoral à Diocese, que considera ser “como que a alma do governo do Bispo”; informou que de 3 a 12 de Novembro de 2007 realizar-se-á a visita ad limina apostolorum dos bispos portugueses” e pediu colaboração na sua preparação; a terminar, convidou todos os presentes a assumir a Esperança como estilo de vida, pois ela faz parte essencial e integrante do realismo cristão.

De seguida, procedeu-se à eleição do secretário e à constituição do secretariado: foi eleito o padre Manuel Armindo Pereira Janeiro e com ele integram o secretariado os padres Nelson José Nunes Araújo e Sérgio Lopes Fernandes.

Depois do intervalo, o Bispo diocesano auscultou o Conselho sobre três assun-tos: pediu, por voto secreto, a indicação de dois padres para o múnus de Ecónomo Diocesano; pôs à consideração dos presentes a actualização da remuneração dos sacerdotes para 2007, tendo sido votadas duas propostas; também para o próximo ano, ouviu o Conselho sobre o destino a dar à renúncia quaresmal.

Por último, os conselheiros pronunciaram-se sobre as “urgências maiores” da Diocese. As intervenções centraram-se na situação do Clero diocesano e na reorga-nização pastoral da Diocese. A próxima reunião do Conselho Presbiteral foi marcada para o dia 27 de Fevereiro de 2007.

O Secretariado12 de Dezembro de 2006

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Louvor e memória no final de um anoChegados ao termo de um ano e prestes a começar um novo, deixemo-nos inspi-

rar pela página evangélica que acabámos de ouvir.Fala-nos dos pastores que “foram sem demora a Belém e encontraram Maria,

José e o Menino deitado numa manjedoira” e partiram como mensageiros da novi-dade de Cristo, glorificando e louvando a Deus.

Fala-nos também de Maria, a Mãe, que “guardava todas estes acontecimentos, meditando-os no seu coração”.

É um texto vivo e actual para nós hoje e nesta hora. Os pastores e Maria prece-dem-nos, interpretam-nos, envolvem-nos e convidam-nos a partilhar os sentimentos do seu coração. O Evangelho dá-nos a graça de fazer nossos o louvor dos pastores e a memória com que Maria guarda e medita os acontecimentos.

Louvor e memória no final de um anoSão precisamente estes sentimentos que devem caracterizar a conclusão deste

ano que passa:- o louvor, que é a expressão mais natural da gratidão ao Senhor por todos os

dons que, na Sua grande bondade e na sua incansável misericórdia, concedeu a cada um de nós, às nossas famílias, aos outros, à Igreja e à humanidade;

- a memória, que consiste em guardar, na nossa mente e no nosso coração, todos esses dons para que eles possam desenvolver todo o potencial que encerram de bem e de fecundidade, não só para hoje mas também para amanhã.

No recolhimento e no silêncio da oração pessoal, cada um de nós poderá encon-trar os motivos particulares para dar graças a Deus e para recordar as ressonâncias em nós suscitadas pelas maravilhas que o Senhor realizou em nosso favor.

O cântico do Te Deum, que entoaremos, quer dar voz comunitária e alegre a este louvor e memória de toda a Igreja e de todos nós.

Com a bênção de Deus iniciamos um novo anoContudo, ao terminar o ano, queremos suscitar e alimentar no nosso coração

outros sentimentos. Não basta reviver o louvor grato dos pastores e a memória me-ditativa de Maria.

É preciso, na consciência da nossa fragilidade, exprimir o nosso arrependimento, implorar a misericórdia de Deus. O Te Deum leva-nos a alimentar estes sentimentos quando nos faz cantar: “Tem piedade de nós, Senhor, tem piedade”, “A tua miseri-córdia esteja sempre connosco”. Imploramos, pois, o dom da Misericórdia para nós, para a Igreja e para toda a humanidade.

Daqui nasce a confiança e o abandono filial em Deus, a esperança na sua ajuda, a certeza do seu Amor terno e fiel, para hoje e para o tempo que há-de vir.

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Documentos Pastorais

É este amor que nos é revelado e comunicado pelo Filho eterno de Deus que se fez homem como nós e para nós, no seio da Virgem Maria.

É este amor que faz palpitar o pequeno – e imenso - coração do Menino de Belém, ícone da condescendência de Deus para com a fragilidade e a fraqueza do homem, ícone da misericórdia salvífica de Deus para com o homem pecador.

No rosto deste Menino resplandece a glória do Pai – o esplendor do Amor do Pai – que quer ilumina o rosto de cada homem e entrar no seu coração. É com esta bênção que o Senhor nos introduz no novo ano, assegurando-nos a sua protecção, a sua paz e a sua alegria.

Retomando as palavras de bênção da primeira leitura, desejo dirigir-me a cada um de vós com estes votos de bênção, graça e paz para o novo ano: “O Senhor te abençoe e te proteja; o Senhor faça brilhar sobre ti o Seu rosto sorridente e te dê a Sua graça; o Senhor dirija para ti o olhar do Seu rosto e te dê a paz”. Ámen! Aleluia!

† António Marto, Bispo de Leiria-FátimaSantuário de Fátima, vigília de 31 de Dezembro de 2006

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Carta Pastoral apresentada no Dia da Diocese

Assembleia marca início do ano pastoralA diocese de Leiria-Fátima realizou a sua Assembleia Diocesana a 1 de Outubro,

no salão do Colégio da Cruz da Areia, Leiria, terminando com a Eucaristia na Sé. Marcaram presença cerca de seis centenas de agentes pastorais, entre Bispo, padres, membros do Conselho Pastoral Diocesano e dos Secretariados e Comissões diocesa-nos, direcções dos Movimentos, Associações e Obras, superiores ou representantes das comunidades religiosas masculinas e femininas, direcções dos Institutos Secu-lares e Novas Comunidades, membros dos conselhos vicariais e paroquiais de pas-toral, catequistas, ministros extraordinários da comunhão e outros fiéis empenhados no apostolado.

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Neste encontro, que se realiza anualmente, pretendeu-se celebrar o Dia da Dioce-se e “fazer experimentar que somos muitos, mas um só corpo, em Cristo”, a marcar o início do novo ano pastoral, o segundo de concretização do Projecto Pastoral Dio-cesano “Testemunhar Cristo, fonte de esperança”, que guiará a diocese até 2011. O tema deste ano é “Não fostes vós... fui Eu que vos escolhi” (Jo 15,16).

Na ocasião, o Bispo diocesano apresentou a Carta Pastoral “Descobrir a beleza e a alegria da vocação cristã”, que dará o tom à caminhada da Igreja diocesana de Leiria-Fátima.

Bispo apresenta Carta Pastoral“A maioria dos cristãos acha que isto é um problema do bispo e dos padres. Mas

é um problema de todas as comunidades cristãs”, afirmou o Bispo da diocese de Leiria-Fátima, D. António Marto, na apresentação da sua Carta Pastoral. Referia-se à questão das vocações, que não são “uma obra de engenharia eclesiástica”, mas antes “obra do amor de Deus”. Actualmente, na Diocese, há apenas quatro alunos na prossecução de estudos teológicos, rumo ao sacerdócio. Ora, “esta crise é um apelo a todo o povo de Deus”, salientou aos agentes pastorais: “Vede o que isto significa daqui a dez anos”.

A carta “não saiu só da cabeça, mas do coração do Bispo. Está aí o coração a falar, num estilo simples”, frisou o prelado, assinalando que “não foi escrita para padres, nem para elites, mas para o povo de Deus, simples e humilde”. Dividido em quatro partes, o documento “não é um tratado, mas procura dar uma visão geral de toda a problemática da vocação e da pastoral das vocações”. Em primeiro lugar, retrata o mundo actual como uma “cultura da distracção e do divertimento e de or-fandade educativa”. Uma cultura que “gera nos jovens medo de tomarem opções e escolherem compromissos duradouros”. Na segunda parte, analisa a “beleza da vo-cação cristã” num “mundo dominado pelo aspecto da técnica” e em que facilmente esquecemos que “trazemos dentro de nós um chamamento para mais e melhor”. A penúltima parte é dedicada à “vocação e vocações na Igreja”, salientando que “todos os baptizados são alcançados pela luz da Transfiguração, pela beleza da vida nova, todos igualmente chamados a seguir o mesmo Cristo; mas cada um, de um modo próprio e segundo os dons e apelos de Deus, nas diversas situações”. “A atenção prioritária, na actual situação da nossa diocese, vai sobretudo para o ministério or-denado”, referiu o Bispo.

Na última parte do documento, D. António Marto dá indicações práticas sobre o rumo que guiará a Diocese neste ano pastoral. O Projecto propõe vigílias de ora-ção nas nove vigararias da Diocese, a que o Bispo presidirá. Além disso, pede-se a oração nas comunidades, não apenas pelas vocações sacerdotais, mas por todas as vocações. “O acompanhamento vocacional deve ter ofertas de qualidade, para cada idade”, defendeu o Pastor, que acrescentou: “A vocação nasce, cresce e desenvol-ve-se a partir da fé, como uma relação de amizade e vida pessoal com Jesus”. No

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campo da catequese, o prelado frisa que “é para tomar a sério e não se deve reduzir a lições”. A aposta na pastoral juvenil deve ser feita no período pós-catequese. E quanto ao Crisma, D. António defende que este sacramento só deve ser ministrado a jovens com mais de dez anos de catequese e, se possível, com mais um ou dois anos de preparação.

O Bispo espera que este documento seja “para meditar e interiorizar em clima de oração e de conversação pastoral”, pelo que “o ano pastoral não deve consistir apenas numa série de iniciativas” a calendarizar, mas, sobretudo, “na grande expe-riência interior a viver”. Aliás, adianta, “as iniciativas exteriores têm sentido como reflexo de experiência interior que toca o coração das pessoas e não passa apenas à flor da pele”. Nesse sentido, realçou a necessidade da qualidade e apelou à criativi-dade nas iniciativas, “porque Deus merece e os nossos irmãos merecem-no”.

D. António Marto espera ainda que a carta pastoral “seja ocasião para revisão de vida, das paróquias, das comunidades e dos movimentos”. Aos agentes pastorais pediu empenho nas tarefas e aos jovens lançou o desafio: “levantai-vos e não tenhais medo”.

Este ano pastoral foi programado por etapas (segundo os tempos litúrgicos). Assim, até ao Natal será um tempo de sensibilização, ou seja, de dar a conhecer a Carta e seus objectivos. O tempo da Quaresma será de formação profunda, devendo ser disponibilizadas algumas catequeses quaresmais. Depois da Páscoa, “é tempo de agir”, tempo de empreender e também de conclusões e balanços.

Entrevista ao padre Jorge Guarda,vigário-geral da Diocese

Qual o objectivo principal desta Assembleia Dioce-sana?

Antes de mais, é congregar os principais respon-sáveis da acção pastoral e quantos colaboram nas comunidades cristãs, para os fazer experimentar que, como Igreja diocesana, “somos muitos, mas um só corpo, em Cristo”. A maior parte de nós vive a sua relação com a Igreja na sua comunidade, paróquia ou movimento. É uma dimensão importante, mas insuficiente. É preciso ter a experiência do corpo eclesial. Juntando-nos em assembleia, na diversidade do que somos, unidos à volta do Bispo, temos

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uma percepção mais ampla e viva da Igreja, tomamos consciência de que formamos uma família grande e de que é o Espírito de Cristo que nos une. Deste modo, cele-bramos também mais sentidamente o Dia da Igreja Diocesana, avivando a comunhão eclesial.

Um outro objectivo, mais específico do começo de um novo ano, é recebermos as orientações comuns para esta caminhada pastoral. Neste sentido, destaca-se a apresentação que o nosso bispo fez da sua primeira carta à Diocese, sobre a pastoral vocacional, bem como dos principais objectivos do ano e das acções fundamentais a realizar. Podemos assim sintonizar melhor uns com os outros, animar-nos e assu-mirmos metas comuns, que cada um realizará conforme os seus talentos e respon-sabilidades.

O Projecto Pastoral propõe uma aposta na pastoral das vocações ao longo do ano. Que actividades estão já a ser pensadas neste âmbito?

A actividade principal a promover é a oração, pois estamos convictos de que é Deus quem oferece à Igreja as vocações e é na relação íntima com Ele que a pessoa, e também a comunidade cristã, recebe o chamamento e a graça para dizer o seu “sim”. Estão programadas nove vigílias de oração, uma em cada mês, realizando-se cada uma delas numa vigararia diferente. Estes momentos de oração visam, por outro lado, despertar os fiéis, as famílias e as comunidades para entrarem no que o nosso Bispo designa a “grande oração vocacional”.

Serão também preparadas algumas catequeses vocacionais, como proposta para que grupos de jovens e de adultos peguem nelas, especialmente durante o tempo da Quaresma, como instrumento para descobrirem a beleza e a alegria da vocação cristã. As catequeses de crianças, adolescentes, jovens e adultos, bem como as cele-brações da fé e outras actividades habituais das comunidades cristãs, que alimentam e reforçam o itinerário pessoal, familiar e comunitário da fé, ajudarão a criar um terreno fértil onde deverão desabrochar novas vocações, como flores variadas no jardim da Igreja.

O Seminário Diocesano, no âmbito do pré-seminário, organiza um encontro mensal para acompanhar os rapazes que se sintam interpelados para a vocação sa-cerdotal e estejam disponíveis para fazer um caminho de aprofundamento e clarifica-ção do apelo que percebem dentro de si. De igual modo, os responsáveis da pastoral ou dos movimentos que trabalham com os adolescentes e os jovens poderão fazer a proposta de um caminho de reflexão àqueles que se mostrem abertos a clarificar a sua vocação pessoal.

Propõe-se, também, a constituição de grupos de animadores vocacionais a nível vicarial e paroquial. Este é um desafio importante, pois designa pessoas que estejam atentas e se tornem capazes de suscitar dinâmica vocacional nas suas comunidades e de serem instrumentos para a interpelação pessoal. O chamamento divino chega à pessoa concreta muitas vezes através das mediações humanas. E o compromisso

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pessoal precisa de ser sustentado pela ajuda de outros. A promoção da catequese, da oração e do chamamento serão desafios constantes.

Menciono apenas algumas actividades. Haverá muitas outras, desenvolvidas nos diferentes níveis da vida da Diocese. É de esperar que paróquias, secretariados, mo-vimentos e grupos assumam as suas iniciativas, como retiros, jornadas e encontros de reflexão, celebrações, acções de formação e outras, todas no mesmo sentido de descobrir e experimentar a alegria de ter sido escolhido por Cristo para a vida nova e bela que Ele oferece a todos os baptizados. Esperamos que as iniciativas se multi-pliquem à volta dos objectivos que são apontados.

Foi, em tempos, responsável pelo sector das vocações e, actualmente, é o vi-gário-geral da Diocese. Tem, por isso, uma visão ampla dos dois sectores. Em seu entender, que lhe parece mais urgente fazer para que a Diocese respire um verdadeiro ambiente vocacional?

No meu entender, o principal empenho é cuidar da experiência de fé das pessoas, da sua formação catequética e espiritual, da sua descoberta do Evangelho como gra-ça de uma nova vida em Cristo e na Igreja. E isto feito em continuidade e não apenas com acções episódicas. É preciso ajudar as pessoas a crescer na vida cristã em ordem à maturidade espiritual. Um outro empenho é o do acompanhamento, especialmente mediante grupos ou comunidades, que possibilitem a vivência da comunhão, da par-tilha e do sentido de fraternidade com outros cristãos. A relação pessoal, a entreajuda e o convite directo para que a pessoa colabore na vida da Igreja, especialmente no que se refere aos adolescentes e jovens, são elementos a não descurar quando se é chamado a colaborar no despertar de vocações na Igreja. Tudo isto precisa de se desenvolver num ambiente e com o suporte da oração, uma oração frequente, pro-longada e intensa. Como diz o nosso Bispo, a vocação nasce da invocação, isto é, da oração. Não há vocação sem uma relação profunda com Cristo e sem um clima comunitário de comunhão com Deus no Espírito Santo.

Na Carta Pastoral de D. António Marto, que tema ou assunto considera mais importante?

Destaco, em primeiro lugar, o tom que ele dá à beleza e à alegria da vocação cris-tã. É importante que os cristãos experimentem o gosto da vida nova que Cristo lhes dá. É sobre essa base que se podem comprometer com Ele, mesmo nas formas mais exigentes, como o ministério ordenado ou a vida consagrada. Depois, sublinho a atenção ao contexto cultural da nosso tempo, que torna difícil assumir e manter com-promissos definitivos, gratuitos e exigentes na vida da Igreja, da família e mesmo da sociedade. Na consideração da vocação cristã à luz da fé, o nosso Bispo situa-a a partir de Deus, envolvendo toda a vida, caracterizando-a como dialogo entre Deus e a pessoa humana, como encontro com Cristo, convivência com Ele e eleição de amor na qual o Senhor toma a iniciativa.

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Há na Carta uma palavra amiga de encorajamento aos jovens e a oferta de uma breve oração, como convite a entrar numa relação íntima e profunda com Cristo, em quem encontrarão tudo o que torna a vida verdadeira, digna, livre, nobre, grande e bela. É nesta relação que pode surgir o chamamento do Senhor a uma opção genero-sa pelo sacerdócio, a vida religiosa ou algum outro projecto belo. Se tal acontecer, o nosso Bispo exorta a ser generoso e a não recusar uma resposta positiva.

O objectivo da Carta é o grande horizonte das diversas vocações e não a finalida-de estreita de suscitar vocações sacerdotais e de consagração. Estas surgem onde a vida cristã é apreciada e desenvolvida em toda a sua riqueza de formas. Finalmente, para ser breve, o enraizar a responsabilidade de cada fiel católico na pastoral voca-cional na “alegria de ser chamado”. É esta experiência que gera a coragem de cha-mar e o impulso a envolver outros na mesma aventura da boa e bela vida cristã.

A Carta constitui um belo apelo e impulso a tomar consciência da beleza da vida cristã e a assumir a responsabilidade de se tornar instrumento para que os chama-mentos divinos cheguem aos seus destinatários e encontrem uma resposta positiva. Está lançado o desafio. Oxalá ele encontre em todos nós, diocesanos, a melhor res-posta com a nossa vida.

Obituário

Faleceu o padre Luís Lopes PerdigãoFaleceu no passado dia 11 de Dezembro o padre Luís Lopes Perdigão, nasci-

do a 16 de Setembro de 1913 e ordenado sacerdote em 11 de Junho de 1936, que se encontrava actualmente ao serviço da diocese de Évora. O funeral realizou-se no dia 12 de Dezembro na paróquia de Caxarias, de onde era natural e onde agora repousam os seus restos mortais.

Faleceu o padre José Carreira JúniorFaleceu no passado dia 17 de Dezembro o padre José Carreira Júnior, vítima

de acidente vascular cerebral. A cerimónia fúnebre realizou-se no Fraião, se-guindo para a Caranguejeira, de onde era natural.

Nascido a 26 de Dezembro de 1926, entrou em 1937 na Congregação do Espírito Santo, concretamente no seminário da Guarda - Gare, por influência do padre António Pereira Rodrigues, seu conterrâneo. Aceitou um ano sabático em 2004, que passou em descanso na sua família natal. Aí o surpreendeu um primeiro AVC. Passou a residir no Fraião, extensão do Lar de S. Tiago, para uma assistência mais cuidada, onde veio a falecer após dois novos ataques.

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NotíciasNotícias

D. António Marto promove múltiplos encontros O Bispo de Leiria-Fátima iniciou uma série de reuniões com os responsáveis dos

diversos organismos diocesanos. O objectivo é conhecer o trabalho, funcionamento e planos de acção dos vários departamentos da Diocese, e incentivar cada um dos organismos, serviços, movimentos, paróquias, etc.

A Diocese tem cerca de 20 departamentos que asseguram o funcionamento dos serviços internos e a acção pastoral. Cerca de 35 movimentos eclesiais têm reconhe-cimento diocesano. Nos quatro primeiros meses à frente da diocese de Leiria-Fáti-ma, D. António Marto tem privilegiado o contacto com os principais responsáveis da igreja diocesana: realizou uma assembleia para o clero, teve um encontro com as comunidades religiosas residentes na diocese, visitou as nove Vigararias e tem recebido os directores dos movimentos diocesanos e muitos dos responsáveis pelas diversas instituições eclesiais.

A primeira visita a cada vigararia da Diocese, numa ronda sem carácter oficial, realizou-se de 11 a 28 de Setembro. O principal objectivo foi conhecer os párocos e as actividades que cada uma desenvolve, e a própria geografia da Diocese.

Seguiu-se a reunião com os membros dos 64 institutos religiosos presentes na Diocese, no dia 30 de Setembro. O prelado sentiu-se “feliz e alegre” por ver à sua frente cerca 400 religiosos e religiosas, que responderam ao seu apelo. Na sua apre-sentação, serviu-se das palavras de Santo Agostinho: “Para vós sou bispo; convosco sou cristão”. Foi “um tempo de conhecimento e colóquio e uma oportunidade para apresentar aos religiosos a perspectiva da Vida Consagrada e do Plano Pastoral”, tendo por base a Exortação Apostólica de João Paulo II sobre a Vida Consagrada e como chave de leitura “a beleza e a alegria da vocação de consagração”. D. António Marto salientou três características da vocação especial de consagração: proclama-ção da Trindade, sinal de comunhão fraterna na Igreja e serviço do amor. “Com isto – alertou – não se diz que a Vida Religiosa seja importante, mas que é bela”. E chamou a atenção para o ícone bíblico da transfiguração de Cristo, à luz do qual o Papa anterior organizou todo o documento final do Sínodo para os Religiosos. Con-cretizando: “A sua luz atinge todos os cristãos; mas uma especial forma é a dos que seguem a Vida Consagrada, cujos conselhos evangélicos são sinal e profecia para o mundo.

No dia 24 de Outubro, reuniu-se com os nove vigários da vara e o vigário-geral. No encontro, analisou-se a possibilidade de celebrações do sacramento do Crisma a nível inter-paroquial, ou seja, com crismandos de várias paróquias a receberem este sacramento numa celebração conjunta, o que proporcionaria celebrações mais ricas e variadas e, em simultâneo, estimularia as paróquias a celebrações comuns. Para sensibilizar as comunidades para esta opção, D. António Marto deverá escrever em breve uma nota pastoral.

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Neste encontro foi anunciada a intenção de o prelado realizar, a partir de Novem-bro de 2007, uma visita pastoral pelas 75 paróquias da Diocese, cujos preparativos estão já a ser iniciados, nomeadamente, com a definição de um programa-tipo. Estas visitas às paróquias poderão durar de 2 dias a uma semana e serão preparadas em três etapas: um tempo de sensibilização e outro de renovação e uma fase de preparação efectiva, com o programa próprio. Trata-se de uma forma de conhecer e estimular as paróquias. “Não se trata de uma visita simbólica, de cortesia, mas de motivação e de trabalho”, afirmou D. António.

Na terceira parte desta reunião houve partilha das actividades desenvolvidas ao longo do ano pastoral, como reflexo da carta pastoral do Bispo. Exemplo concreto: a criação de um Secretariado de Animação Vocacional na vigararia das Colmeias.

Dia Mundial de Oração pela Vida HumanaNo passado dia 8 de Outubro de 2006, o Apostolado Mundial de Fátima promo-

veu, uma vez mais, o Dia Mundial de Oração pela Vida Humana. Foi pedido a todos os católicos que rezassem o terço, e a todas as outras religiões que rezem de acordo com a sua fé durante vinte minutos, numa corrente mundial de oração.

Em paralelo com este acontecimento, realizou-se em Fátima, de 4 a 8 de Outu-bro, o Congresso Internacional de Oração pela Vida, com a participação de D. Karl Josef Romer, secretário do Conselho Pontifício para a Família, D. Serafim Silva, Bispo emérito da diocese de Leiria-Fátima, Isilda Pegado, presidente da Federação Portuguesa pela Vida, padre Luís Kondor, vice-postulador para a Causa da Canoni-zação dos Pastorinhos, monsenhor Vítor Feytor Pinto, membro do Conselho Nacio-nal de Ética para as Ciências da Vida, a irmã Virgínia Beretta, irmã da Santa Gianna Beretta Molla, o professor Américo Lopez Ortiz, presidente do Apostolado Mundial de Fátima, entre outros.

Exposição “Sou o Anjo da Paz” “A figura do Anjo dirige-se sempre a pessoas e situações concretas. Capta tam-

bém os desejos e inquietações, nostalgias profundas que estão no coração e na alma do ser humano”, frisou o bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, na inauguração da exposição “Sou o Anjo da Paz”, a 9 de Outubro, no Museu de Arte Sacra e Et-nologia de Fátima, que estará patente até Abril de 2007. “Para traduzir a linguagem dos Anjos, só a linguagem da beleza”, concretamente a linguagem da arte, afirmou o prelado, referindo que “como pessoas que aceitamos a mensagem de Deus através dos anjos, vamos transportar esta mensagem. Os anjos não vão ficar no museu, vão andar por aí, vão transportar esta mensagem de Deus a toda a humanidade”.

A mostra está dividida em “Anjos mensageiros”, “Anjos protectores” e “Anjos adoradores”, num total de 24 obras de pintura, escultura, vitrais e azulejo, proprieda-

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de da diocese de Leiria-Fátima, do Santuário de Fátima e do Museu de Arte Sacra.Na inauguração, em que participaram D. António Marto, D. Carlos Azevedo,

porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa, Mons. Luciano Guerra, reitor do Santuário, o teólogo João Duque, o vigário geral, padre Jorge Guarda, o superior dos missionários da Consolata, padre Norberto Louro, além de religiosas e religiosos, houve a oportunidade de conhecer um pouco mais sobre a iconografia angélica, na conferência proferida pelo professor Luís Casimiro, da Universidade do Porto.

Congresso “Figuras do Anjo revisitadas”No âmbito da celebração dos 90 anos das Aparições do Anjo e de Nossa Senhora,

o Santuário de Fátima organizou um congresso internacional, de 10 a 12 de Outubro de 2006, com o objectivo de “repensar, em registo das ciências humanas, da arte e da teologia, o possível significado actual da referência a figuras angélicas”. Partiu-se de um debate filosófico, sociológico e artístico sobre as formas contemporâneas da referência aos anjos, para se debaterem as abordagens dessas figuras ao longo da história do cristianismo e se propor uma releitura actualizada da questão, abrindo pistas de recuperação da presença angélica na vida pessoal e cultural, assim como de interpretação, especificamente, do anjo de Fátima.

Concurso para crianças - 90 anos das apariçõesPara celebrar os 90 anos das Aparições do Anjo (2006) e de Nossa Senhora do

Rosário (2007) aos três Pastorinhos de Aljustrel – Lúcia, Francisco e Jacinta – o Santuário de Fátima está a promover um conjunto de iniciativas sob o tema geral Deus é Amor Misericordioso.

Uma vez que os protagonistas das Aparições foram crianças da faixa etária cor-respondente à idade de frequência do 1º ciclo, o Santuário de Fátima, em parceria com o Agrupamento AJEFátima e o Externato S. Domingos de Fátima, decidiu lançar um concurso, de âmbito nacional, para Escolas públicas e privadas, sobre as Aparições de Nossa Senhora do Rosário de Fátima. Refere o regulamento que às crianças é dada liberdade de expressão relacionada com as Aparições de Nossa Senhora em Fátima e que cada criança poderá concorrer apenas com um trabalho, sob a forma de desenho ou de texto manuscrito.

Os trinta melhores trabalhos serão publicados em livro. Destes, serão selecciona-dos os três melhores, que serão publicados também em formato de cartaz e coloca-dos nos locais das Aparições de Nossa Senhora.

No primeiro concurso, intitulado “O Anjo de Fátima”, foram recebidos 1937 de-senhos e textos de 54 estabelecimentos de ensino. Os trabalhos seleccionados foram publicados em livro, oferecido a todas as crianças presentes no dia 10 de Junho de 2006, como lembrança da sua Peregrinação ao Santuário de Fátima.

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Irmã Lúcia vai ter museuO Carmelo de Coimbra vai ter um espaço museológico de homenagem à irmã

Lúcia. O objectivo é dar a conhecer a ligação da vidente de Fátima com o mundo exterior, mesmo durante os muitos anos de clausura com as restantes carmelitas. Cartas, lembranças e alguns objectos da Irmã Lúcia serão expostos neste espaço, cuja data de inauguração se desconhece ainda.

“Pretende-se criar um espaço onde os crentes, os visitantes, possam conhecer todo o espólio da Irmã Lúcia”, informou o cónego João Lavrador, capelão do Car-melo de Santa Teresa. Entre esse espólio contam-se milhares de cartas – recebia centenas por dia – bem como missivas e até utensílios do dia-a-dia. Ficarão disponí-veis para serem apreciados e também como “a prova viva da vivência e relação” da vidente “com o mundo de hoje”, salienta o padre.

Novos estatutos do Santuário de FátimaOs novos estatutos do Santuário de Fátima já foram aprovados pela Congrega-

ção para o Clero e entraram em vigor de imediato. O Santuário de Fátima assume, assim, um carácter nacional e será dirigido por um Conselho Nacional do Santuário de Fátima, constituído pelo presidente da Conferência Episcopal Portuguesa (CEP), os três bispos metropolitas do País (arcebispo primaz de Braga, arcebispo de Évora e patriarca de Lisboa), o bispo de Leiria-Fátima e o reitor do Santuário. Os estatutos definem “o modo como a CEP se articula com o governo directo e a orientação pas-toral e a gestão do Bispo de Leiria-Fátima e do Reitor do Santuário”. Estão definidos dois órgãos de gestão: um Conselho de pastoral e uma Comissão de gestão económi-co-financeira, onde estará incluído um representante da CEP.

Bodas de prata das Servas de Nossa Senhora de FátimaA Congregação das Servas de Nossa Senhora de Fátima celebrou, a 15 de Ou-

tubro, 25 anos de passagem a Direito Pontifício. A esta celebração juntou-se o 83º aniversário da Congregação, o jubileu de 25 e 50 anos da profissão religiosa de 11 irmãs e os votos perpétuos de uma irmã. Simultaneamente, teve lugar a abertura do Capítulo Geral, convocado extraordinariamente para aprovação das Constituições.

Com origem em Portugal (Santarém) no ano de 1923, a Congregação implantou-se desde o começo em várias dioceses e expandiu-se, a partir de 1972, para fora do País, começando por Moçambique. Hoje, está presente também em Angola, Bélgica, Brasil e Luxemburgo.

Congregação deseja assinalar esta data com a fundação de uma nova comunida-de na Guiné Bissau, como sinal da sua abertura à missão universal, o que se prevê que venha a acontecer ao longo do ano de 2007.

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Jornadas vicariais das ColmeiasCerca de 250 pessoas da vigararia das Colmeias participaram nas jornadas vica-

riais que se realizaram a 20 e 21 de Outubro, no Salão Paroquial de Vermoil.“É impossível renovar a pastoral vocacional com corações entristecidos”, afir-

mou o vigário-geral da Diocese, padre Jorge Guarda, durante a conferência “Reno-var o coração, reavivar a pastoral vocacional”. Para renovar a pastoral vocacional é necessário, antes de mais, renovar o coração. “O coração significa a nossa realidade mais íntima e profunda, onde Deus fala e nos toca, onde nasce a sinergia de uma acção com esperança e convicção”. Mais que o desânimo e as lamentações, o vi-gário-geral apelou a uma tomada de consciência: “Não sei se a crise das vocações não reflecte a decadência da vida cristã das nossas comunidades”. Assim, “enquanto a nossa Igreja não acreditar num Cristo vivo, as vocações vão cair cada vez mais”, assinalou. Renovar o coração significa “encontrar a realidade de Jesus Cristo vivo, no meio de nós”. Para tal, o primeiro caminho é a escuta da palavra de Deus (a nível pessoal, em família, em comunidade); depois, a vivência da oração, a “participação activa, consciente e frutuosa na liturgia” e a “experiência do amor gratuito”. “Para reavivar a pastoral vocacional é necessário – frisou também o padre Jorge Guarda – criar um clima propício às vocações nas famílias, nas comunidades e nos grupos”. Depois, é preciso “suscitar ministérios e serviços, e preparar as pessoas para isso”, e ainda “promover a oração”. No entanto, concluiu, “se é verdade que existem menos vocações consagradas, também há muitos leigos a trabalhar nas comunidades”.

“Fé, Liturgia, Catequese e Vocação” foi outro dos temas abordados nestas jorna-das, por D. Augusto César, Bispo emérito de Portalegre/Castelo Branco. “A Escuta e a Transmissão da Palavra: Bíblia e Vocação” foi o tema da conferência de D. Ana-cleto Gonçalves, Bispo Auxiliar de Lisboa. E os trabalhos contaram ainda com a conferência “Leitura crente do mundo juvenil: Pastoral Juvenil e Vocacional”, pelo padre Adérito Barbosa.

No resumo dos trabalhos, o padre Filipe Lopes exortou à leitura, reflexão e parti-lha da carta pastoral de D. António Marto. Apelou ainda à “oração pessoal, familiar e comunitária” pedindo pelas vocações sacerdotais. E apelou a que se realizassem momentos de “oração mensal pelas vocações, a nível paroquial ou vicarial”.

Vigília missionária diocesanaA 21 de Outubro, véspera do Dia Mundial das Missões, realizou-se na Sé de

Leiria uma vigília diocesana, presidida pelo Bispo da Diocese, D. António Marto, e organizada pela vigararia de Leiria em conjunto com os Institutos Missionários Ad gentes. Como assinalou o vigário da vara, padre Joaquim Baptista, o objectivo era “a oração pela causa missionária da Igreja”. Mas a iniciativa, que contou com espe-cial participação dos institutos missionários, visou ainda sensibilizar a comunidade

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cristã, destinando-se por isso a todos os diocesanos. Durante a vigília houve um momento em que se estabeleceu contacto, por telemóvel, com o grupo diocesano missionário que se encontra em Angola, o grupo Ondjoyetu. Pela voz do padre Vítor Mira, foi possível sentir o “testemunho e vivência” do grupo na missão.

Bispo preside a vigílias vocacionais vicariaisMonte Real

A vigararia de Monte Real, recebeu, a 27 de Outubro, a primeira das vigílias de oração vocacional que irão realizar-se ao longo deste ano pastoral e serão presididas pelo Bispo diocesano. Participaram todos os párocos e muitos fiéis leigos, incluindo bastantes jovens e crianças, que encheram por completo a igreja paroquial da vila.

A vigília começou com a projecção de algumas imagens da vida quotidiana e um convite a parar para viver a comunhão com Deus. Seguiram-se cânticos, a Palavra de Deus e a meditação proposta pelo Bispo diocesano. D. António Marto disse sentir-se “confortado pela numerosa presença de fiéis, pois não é apenas o Bispo que confirma e fortalece a fé dos cristãos, também a destes ajuda a do Bispo”. Falou, sobretudo, na “beleza das diferentes vocações existentes na Igreja” e das condições para que elas surjam: “um ambiente favorável nas comunidades cristãs, a disponibilidade pessoal para a escuta e uma relação íntima com Jesus Cristo na oração e noutras expressões da vida cristã”. Sublinhando a atenção especial às vocações ao ministério sacerdotal, pediu que todos “rezem diariamente um mistério do rosário por esta intenção”.

Depois da homilia, houve adoração eucarística, em silêncio, súplicas e uma interpelação aos presentes sobre a sua disponibilidade para viver com amor a pró-pria vocação e ajudar os outros a descobrirem a própria. E antes da bênção com o Santíssimo Sacramento, todos cantaram “Não fostes vós... Fui Eu que vos escolhi”, palavra de Jesus que constitui a referência fundamental para a caminhada da Dio-cese ao longo deste ano. Em ordem à continuação do empenho pessoal, familiar e comunitário na oração pelas vocações, o Senhor Bispo entregou, no final, a lampa-rina, símbolo dessa mesma oração vocacional, a uma representação da vigararia de Ourém, onde se realizaria a próxima vigília.

CaxariasNo dia 17 de Novembro, na igreja de Caxarias, realizou-se a mesma vigília na

vigararia de Ourém. Estiveram presentes, além dos padres das paróquias da vigara-ria, mais de meia centena de jovens acólitos e uma multidão de fiéis que encheu por completo a igreja.

A celebração começou com um cântico de S. Agostinho, enquanto eram projec-tadas imagens da natureza, proporcionando uma agradável ambiente de interioridade espiritual. As leituras da Palavra de Deus focaram especialmente a iniciativa de Deus

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que chama a todos e cada um, e algumas experiências concretas de vocação. D. António afirmou então que “a vocação cristã é caminho com Jesus Cristo que abre à vida verdadeira e plena, bela e feliz”. Explicitou que a vocação comum se concretiza em diferentes formas de viver e servir e exortou os jovens a “darem à sua vida um projecto que seja belo, incluindo nele a vocação ao sacerdócio”.

No final, a lamparina vocacional foi entregue aos representantes da vigararia da Batalha, onde se realizaria a próxima vigília.

Batalha A 15 de Dezembro, foi a vez da vigararia da Batalha celebrar a sua vigília voca-

cional, na igreja do mosteiro de Santa Maria da Vitória. Cerca de quatro centenas de pessoas, vindas de todas as paróquias desta zona pastoral, juntaram-se aos párocos e ao Pastor da Diocese, para pedir a Deus o dom de “corresponder com alegria e solicitude ao projecto que Ele apresenta para a vida de cada um de nós”.

Com o Mosteiro na penumbra, escutou-se uma evocação da criação do mundo como projecto perfeito de Deus, do pecado destruidor do homem e da conversão sempre possível ao plano redentor trazido por Cristo, luz do mundo. Já com a luz a encher o templo, a Palavra de Deus iluminou os corações, com o chamamento divino a cada homem e mulher, a exemplo de Samuel.

“Não num sermão, mas numa conversa amiga” com os presentes, como quis salientar D. António Marto, serviu-se de alguns episódios da sua vida para falar da vocação. Uma jovem de 12 anos perguntava-lhe o que significa Deus ter um projecto para cada um. “Significa que Deus te ama, quer a tua felicidade, te apresenta um caminho produtivo na comunhão da comunidade, no fundo, que vivas sempre em amizade com Ele”, respondeu o Bispo. “Nós não vimos do acaso, nem andamos ao acaso; é o amor de Deus que ilumina os nossos caminhos e lhes dá sentido, e nos transmite a paixão pela vida, que é dom e tarefa. Deus pede-nos para pensarmos a nossa vida em grande, para fazermos dela um projecto grande e belo!”, frisou D. António, e lamentou que, “tantas vezes desperdicemos a vida em coisinhas como ganhar dinheiro e ver telenovelas”.

Neste contexto, é preciso tomar consciência de que “a vocação é feita por Deus a todos, sem excepção” e que “os vários caminhos que nos apresenta são, cada um à sua maneira, belos e grandiosos”. “A família, comunidade de amor, à imagem do amor de Deus, deve dar testemunho da beleza da sua vocação; os padres, cuidadores da beleza moral e espiritual do povo, devem dar testemunho da alegria da doação aos outros e a Deus; os consagrados, religiosos e leigos, nas missões, na acção sócio-caritativa, ou nos conventos de contemplação, devem dar testemunho da beleza da sua entrega aos irmãos e dessa descoberta de Deus como centro da sua vida. É esta diversidade de vocações que faz da Igreja de Jesus Cristo um jardim belo e variado”, afirmou D. António. E lembrou que “nos nossos dias, lançam-se suspeitas sobre cada uma delas, pois muitos dizem não acreditar que é possível um amor fiel e duradouro

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nas famílias, e não conseguem ver na missão do padre ou do consagrado uma res-posta alegre e disponível à vontade de Deus”. Por isso, “é preciso estarmos atentos aos sinais que Ele nos vai dando para alimentar a semente que lançou nos nossos corações, pois Ele serve-Se de mediações humanas que fazem com que cada um seja responsável pela própria vocação e pelas vocações dos que o rodeiam. Foi esse o exemplo de Agostinho de Hipona, que, dos caminhos de pecado da juventude, pela inquietação e pela busca permanentes, encontrou a luz de Cristo e se transformou num dos grandes Santos da Igreja”.

O último apelo do Pastor foi para os jovens: “Não tenhais medo! Dai um projecto belo e grandioso à vossa vida! Dizei sim generosamente! Não fiqueis na vulgaridade e na mediocridade! Não sejais vencidos da vida!”

Como exemplo concreto dessa beleza de todas as vocações, um jovem semina-rista, o Tiago, natural de Aljubarrota, falou do processo de aproximação à vida sa-cerdotal, “uma história simples e sem grande protagonismo, mas muito importante, porque é a minha e cabe-me a mim construí-la. Não tenho certezas absolutas, mas em cada dia procuro ver nos sinais que Deus me oferece, qual o caminho a seguir. Neste momento, no seminário, a caminho do sacerdócio, sinto que é por aqui que devo ir, e sou feliz ao dizer sim”.

Também um jovem casal, Manuela e Malé, com os seus dois filhos, Daniela e Guilherme, testemunhou a vivência do amor em família, como caminho de perma-nente descoberta da vontade de Deus. “Descobrimos juntos o amor que nos une e que quisemos fazer frutificar. Sentimos que Deus nos chamou a constituir uma fa-mília e todos os dias, com os nossos filhos, construímos mais um pouco o nosso lar, numa resposta de fidelidade ao Seu projecto para nós”.

No final, passando o testemunho, a lamparina vocacional foi entregue a um nu-meroso grupo da vigararia dos Milagres, que terá a sua vigília no dia 19 de Janeiro.

Estão, ainda, agendadas as vigílias vicariais de Leiria, a 23 de Fevereiro, da Ma-rinha Grande, a 3 de Março, de Porto de Mós, a 27 de Abril, das Colmeias, a 18 de Maio, e de Fátima, a 15 de Junho.

Bispos do centro debatem futuro das paróquiasOs bispos das 6 dioceses do centro – Aveiro, Coimbra, Guarda, Leiria-Fátima,

Portalegre e Castelo Branco e Viseu – estiveram reunidos, no dia 6 de Novembro, em Viseu, para reflectirem sobre “o essencial do múnus de pároco na situação ac-tual”. “O acolhimento e a caminhada com as pessoas são dois pontos essenciais do múnus do padre”, concluíram os bispos, num debate que derivou também para “as circunstâncias em que vive o pároco e as opções diversas que se põem à missão do pároco” e para a análise de possibilidades como a vivência em equipa, a actividade «in solidum» (dois ou mais padres paroquiarem várias comunidades) e as unidades pastorais. Estas temáticas serão objecto de aprofundamento nas próximas reuniões.

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CAES promoveu “Bênção do Caloiro”Como é hábito de anos passados, realizou-se, no passado dia 7 de Novembro, em

Leiria, a “Bênção dos Caloiros”. A iniciativa do Centro de Apoio aos Estudantes do Ensino Superior (CÃES), que visa reunir na Sé os “caloiros” da cidade, foi muito participada, tornando o espaço da Sé demasiado pequeno para o evento, e pautou-se por uma franca e exemplar cooperação entre os vários movimentos e associações de estudantes. Na celebração, o assistente do CAES, padre Gonçalo Diniz, interpelou os estudantes e lançou-lhes o repto de serem no meio estudantil e na cidade “um exemplo claro de vida de acordo com os valores do Evangelho”.

Jornadas Vicariais de LeiriaDecorreram de 20 a 25 de Novembro as jornadas promovidas pela vigararia de

Leiria, este ano com o tema geral “Viver para quê?”, na linha da descoberta e da reflexão vocacional. A conferência de segunda-feira, proferida por Freitas Gomes, contou com 140 participantes e constituiu um forte desafio, com a denúncia de algumas situações de desumanização. Na terça-feira, o colóquio “caminhos voca-cionais e encaminhamento profissional” teve 54 participantes e trouxe à discussão a descoberta vocacional e os obstáculos naturais e artificiais que a dificultam. Na pers-pectiva da psicologia e da religião, a vocação foi entendida como uma descoberta de caminhos, mais do que uma realização profissional. Na quinta-feira, a peça “Mo-tores de Madeira” levou ao teatro Miguel Franco uma plateia que encheu o espaço, e proporcionou uma reflexão sobre o papel dos pais e da família no desabrochar vocacional dos mais novos. Na sexta-feira, a segunda conferência, proferida por D. Augusto César, com 64 participantes, pautou-se por uma centralidade da vida e da vocação na pessoa e na mensagem de Jesus Cristo. Na manhã de sábado, cerca de 60 jovens aderiram ao percurso pedestre que decorreu na Mata dos Marrazes e, à tarde, meia centena voltou a reunir-se para uma breve celebração de encerramento, em que a oração e o convívio marcaram o fim das jornadas.

Conclusões1. Toda a vida é vocação, dom de Deus concedido a cada um para que cada um

o acolha e desenvolva. Sendo dom é também tarefa. Importa, pois, que cada um se conheça a si próprio, na sua personalidade, afectividade, sexualidade, aptidões, como pessoa chamada à vida e ao amor, para estabelecer relações fundadas no amor e assim gerar vida, nas suas múltiplas dimensões. Dar a vida, segundo as circuns-tâncias de cada um, não é mais do que manter a dinâmica do dom como resposta ao chamamento.

2. A animação vocacional nesta perspectiva antropológica e cristã encontra hoje inúmeras dificuldades: a complexidade da cultura urbana, onde prevalece o gueto,

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a massificação, a falta de referência e de pertença com a consequente diluição do sentido comunitário e de paróquia; a incapacidade de fazer uma leitura interpretativa da realidade envolvente; o materialismo da vida, a avidez do lucro, a exploração laboral, os despedimentos e o desemprego; a crise da ética e da dignidade da pessoa, que cederam lugar ao imediatismo e ao hedonismo; a vida sexual sem compromisso antes do casamento, adiando o casamento ou união estável para mais tarde; o decrés-cimo da natalidade e o aumento de divórcios; a religião “invisível” e intimista, a par da proliferação de novas seitas e o consequente trânsito religioso;

3. No desenvolvimento da sua acção pastoral, a Igreja prestará um excelente serviço à sociedade se fizer a denúncia vigorosa desta situação grave de amoralidade da sociedade portuguesa: uma amoralidade que se estende às relações institucionais, ao ensino, à economia e a todos os sectores da sociedade. Os cristãos prestam um bom serviço à vocação cristã se denunciarem tais atropelos à dignidade humana. Por outro lado, não pode a Igreja deixar de apresentar as suas propostas sobre o sentido da vida, a vocação e missão de cada um, devendo, entretanto, fazê-lo pela positiva, de modo renovado e convicto.

4. A vocação e a opção profissional são assuntos que não interessam muito aos adolescentes e jovens; só mais tarde colocam a questão a si próprios. As razões são múltiplas: algum vazio de ideais (muitas vezes nem sequer têm a noção do que é um ideal ou um valor; o que conta é o imediato, o descartável, o consumível); falta de maturidade psicológica; forma aligeirada de tratar a questão na Escola; demissão dos pais que, muitas vezes, não funcionam como tal, mas apenas como “amigos”, ao mesmo nível, quando os jovens necessitam de alguém adulto (pai, professor, padre, catequista) que seja referência, que dite regras, que promova disciplina; ao nível da fé, o verniz de cristianismo nas pessoas e nas comunidades cristãs é também um forte entrave à vocação e discernimento vocacional.

5. Para contrariar esta tendência de desinteresse e alheamento dos jovens, devem as instituições com tarefas e responsabilidades educativas (Família, Escola, Igreja) proporcionar-lhes a abertura aos ideais e valores, apresentar-lhes um leque variado de alternativas de realização pessoal e facultar-lhes a possibilidade de participarem em experiências fortes de vivência pessoal e comunitária. O modo de apresentar tais propostas e caminhos vocacionais deve, entretanto, ser alegre, estimulante, festivo. O contacto com pessoas que sejam modelos fortes de referência é também cada vez mais imprescindível.

6. Há vocação e vocações: vocação à vida, vocação à fé, vocações específicas. Porque Deus não é apenas Deus. É Deus connosco. Além de ser, chama e envia. A história do homem é história de chamamento e envio. A família, a paróquia, a Igreja, não são mais do que comunidades de chamados. A vocação é diálogo entre Deus que chama e o homem que responde. A vocação transcende a dimensão humana. Na sua origem está Alguém que nos transcende, Deus que nunca está a mais na vida do homem.

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7. No discernimento vocacional é fundamental entender e ajudar a entender os apelos que vêm de Deus. A vocação, dom e projecto, chamamento e resposta, tem necessidade de ser descoberta e de ser ajudada a crescer até à maturidade. É na famí-lia e na comunidade que deve acontecer a ressonância desse chamamento e eleição. A vocação é para a edificação do Corpo de Cristo, do qual somos membros e pelo qual somos todos responsáveis. A vocação não é uma profissão mas uma atitude. Não é na facilidade mas na fidelidade que está o segredo da felicidade. A vida só tem encanto como dom e serviço. A vocação deve mostrar-se alegre

Jornada Diocesana Pastoral Familiar“Chamados ao matrimónio… chamados no matrimónio” foi o tema da Jornada

Diocesana da Pastoral Familiar, realizada no dia 26 de Novembro, no Seminário Diocesano, destinada aos casais da diocese, sobretudo aos que pertencem às equipas paroquiais ou integram movimentos familiares.

Foi uma proposta feita aos casais, no sentido de “maior descoberta e aprofunda-mento da sua condição específica”, na linha do projecto diocesano para o presente ano, ajudando a descobrir “como Deus inscreveu na família a vocação ao amor e à comunhão, e a instituiu como comunidade fundamental à vida e realização de todo o ser humano”. Partindo de referências bíblicas, o conferencista, padre Duarte da Cunha, falou do matrimónio como vocação relacional e a “complementaridade entre homem e mulher”.

“Não há apenas um chamamento matrimonial, mas este chamamento continua no matrimónio”, disse o padre Luís Inácio João, director do Secretariado Diocesano da Pastoral Familiar, organizador do encontro. Ao longo deste sacramento, é “fundamen-tal perceber que o exercício do mesmo, tanto ao nível conjugal como ao nível familiar, implica que os matrimoniados se sintam permanentemente em chamamento”.

Marcelo Cavalcante instituído acólitoNo dia 26 de Novembro, na eucaristia dominical da paróquia de Albergaria dos

Doze, o seminarista Marcelo Cavalcante de Moraes recebeu o ministério de Acólito, uma das etapas na caminhada para o sacerdócio. Presidiu a esta celebração o Bispo de Leiria-Fátima, D. António Marto, e concelebraram os padres Filipe Lopes, pároco local, Manuel Ferreira, residente na paróquia, e Carlos Cabecinhas, em representa-ção do Seminário Diocesano de Leiria. Este domingo, que encerrou o ano litúrgico e em que a Igreja celebrou a solenidade de Cristo Rei do Universo, foi festivamente celebrado pelos paroquianos de Albergaria dos Doze e pelos membros da Comuni-dade Luz e Vida, à qual pertence o novo acólito.

Durante a homilia, D. António Marto convidou a assembleia a reflectir sobre a importância da realeza de Cristo na vida dos cristãos e de que forma cada um pode

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contribuir para que o Reino de Deus floresça na sua vida quotidiana. “A realeza de Cristo é a realeza do amor, que se revela na sua plenitude, a partir da morte na cruz e da Sua ressurreição. Só a revolução do amor é capaz de transformar os corações, pois Deus torna o homem grande porque lhe dá dignidade”. Ao seminarista Marcelo o Bispo pediu que desempenhasse “com alegria, coragem e entusiasmo este ministé-rio”, enquanto lhe entregava o vaso com o pão, após a instituição.

Grupo Vocacional Santo AgostinhoO Grupo Vocacional S. Agostinho foi apresentado oficialmente, em Dezembro

passado, como proposta e convite aos jovens cristãos para, durante seis meses, fa-zerem uma caminhada séria de discernimento vocacional, acompanhados por uma equipa nomeada para o efeito. Este grupo oferece uma experiência de reflexão sobre o projecto de vida no âmbito das várias vocações (matrimonial, sacerdotal, religiosa e laical), e serviços (voluntariado, evangelização, tarefas na comunidade cristã), pro-curando descobrir o que Deus quer de cada um. O final do percurso comporta uma decisão, ou vocacional ou de compromisso com a comunidade. Nele podem inscre-ver-se rapazes e raparigas, dos 17 aos 25 anos, crismados e abertos ao chamamento de Deus. A inscrição é feita junto do Bispo diocesano.

Encontro das comunidades neocatecumenais“É preciso cristianizar o sofrimento”, foi a conclusão do Convívio de Transmis-

são, que debateu temas como a doença, a velhice e a morte, e que reuniu as nove comunidades neocatecumenais da diocese de Leiria-Fátima. Encarar estas realidades naturais com esperança e optimismo foi a direcção indicada no encontro, realizado de 1 a 3 de Dezembro, em Fátima, e que contou com mais de uma centena de cate-cúmenos.

“Uma paróquia que não se disponha a cuidar dos seus doentes, não é paróquia cristã”, afirmou o assistente diocesano do carisma, Pe. António Gameiro, numa das suas intervenções. Na abordagem aos restantes temas, muito relacionados entre si, o presbítero optou por recordar as palavras de Bento XVI, no Encontro Mundial das Famílias, em Julho passado, em Valência: “Deus queira que, por nenhuma razão, sejam (idosos) excluídos do círculo familiar. São um tesouro que não podemos arrebatar às novas gerações, sobretudo quando dão testemunho da fé diante da pro-ximidade da morte.”

Numa sociedade que procura afastar a realidade do sofrimento a qualquer custo – cemitérios longe das localidades, despenalização do aborto, envio dos idosos para os lares – o encontro serviu, essencialmente, para consciencializar os crentes de que a “doença, velhice e morte são realidades através das quais Deus quer manifestar o seu amor e falar ao mundo de que, com Ele, tudo é possível, cabendo aos cristãos,

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fazer a diferença na vivência de tais realidades”, referiu o Pe. António Gameiro. No Convívio de Transmissão, assim designado pelas comunidades neocatecume-

nais, estiveram presentes as comunidades das paroquias dos Marrazes (3), Maceira (1), Santa Catarina da Serra (1), São Mamede (2) e Bajouca (1).

Assembleia Diocesana da Sociedade de S. Vicente de PauloEm Portugal, as dificuldades económicas e os problemas sociais não param de

aumentar. As Conferências da Sociedade de São Vicente de Paulo assistem 27.961 famílias, auxiliam de forma regular 55.000 indivíduos e 768 utentes. Foi este o ce-nário traçado no passado dia 5 de Dezembro, no salão paroquial das Colmeias, na Assembleia Diocesana da Sociedade de São Vicente de Paulo. Nas 75 paróquias da diocese de Leiria-Fátima existem 28 conferências e cerca de 485 vicentinos, muitos deles jovens, um número expressivo e que, felizmente, não pára de aumentar. Este encontro serviu, sobretudo, para que esses “obreiros” das várias conferências paro-quiais da Diocese se pudessem encontrar, efectuassem um balanço das suas activida-des, partilhassem experiências e lançassem ideias ou projectos para o futuro.

A iniciar a sessão, o Bispo diocesano referiu o “papel missionário dos vicentinos em todas as suas obras”, destacando a beleza da vida na ajuda ao próximo. No final, D. António Marto deixou aos presentes uma pagela com uma oração vocacional de sua autoria.

Inês Lourenço, presidente do Conselho Central da Sociedade de São Vicente de Paulo, fez uma intervenção em que destacou a actividade de 2005, a coragem e “atrevimento” dos vicentinos. Também o padre Manuel Pina, assistente espiritual do Conselho Central de Leiria, fez uma reflexão sobre o tema “Não fostes vós que Me escolhestes – a Vocação”. “A missão, aliada à importância de a cumprir com a trans-missão da fé, é um dos caminhos importantes de todos os vicentinos”, referiu.

Cáritas entrega mais três casas No final de 2006, a Cáritas e a Câmara de Ourém entregaram mais três habita-

ções a famílias que ficaram sem casa, na sequência dos incêndios do verão de 2005. As novas habitações, duas na freguesia da Urqueira e uma na Freixianda, fazem parte de um conjunto de oito que a parceria Cáritas e Câmara entenderam como prio-ritárias no concelho de Ourém. No seu conjunto, importaram em cerca de 615 mil euros e foram erguidas graças à ajuda da população portuguesa que contribuiu para as campanhas de recolha de fundos promovidas pela Cáritas e ao apoio da Câmara Municipal de Ourém na elaboração dos projectos e nos procedimentos de natureza técnica.

Terminado este processo no concelho de Ourém, e concluída, há meses, a inter-venção no concelho de Pombal, com a construção de 5 habitações, apenas se aguarda

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agora a conclusão de uma outra no concelho de Leiria. Nesta ocasião, “a Cáritas associa-se à grande satisfação das famílias que vêem

serem-lhes devolvidas condições de habitação condignas, sublinha os esforços co-muns desenvolvidos com as entidades parceiras, sobretudo Câmaras Municipais e agradece a todas as pessoas e organizações, da sociedade civil e da Igreja, que tendo aderido às propostas da Cáritas, construíram uma imensa cadeia de solidariedade que reconstruiu a esperança e levou a ajuda necessária a dezenas de famílias por todo o Portugal”.

A Cáritas Portuguesa adianta que vai gastar mais de 674 mil euros no apoio às vítimas dos incêndios de 2005. A maior parte dessa verba tem sido aplicada na construção e reconstrução de 27 casas, total ou parcialmente destruídas pelo fogo, no passado verão, nas dioceses de Coimbra, Guarda, Leiria-Fátima e Vila Real.

Milhões de estrelas em noite de NatalSensibilizar todos os níveis da sociedade para os valores da solidariedade e da

paz é o objectivo da iniciativa “10 Milhões de Estrelas – Um Gesto pela Paz”, que a Cáritas leva aos portugueses desde há quatro anos, por altura do Natal. “As tensões, guerras e graves conflitos em diversos pontos do mundo, a par da apreensão gene-ralizada perante novas ameaças, conferem actualidade plena a esta como a todas as iniciativas de exposição pública da causa da paz. Promover uma cultura que afirme o diálogo e a compreensão, como caminho único para a superação de conflitos cons-titui, assim, um imperativo cívico mobilizador dos diferentes níveis da sociedade, para o exercício activo e persistente da pedagogia da paz, como condição decisiva para o desenvolvimento dos povos”, afirma Ambrósio Santos, presidente da Caritas Diocesana.

A campanha concretiza-se num gesto de cariz familiar, na noite de Natal, em que todos são convidados a fazer brilhar nas janelas e varandas das suas casas as velas que a Cáritas concebeu, como símbolos, para esta realização. “A exposição pública da causa da paz constitui penetrante inquietação que atravessa todos natais, pelo que esta iniciativa ocorre também nesta quadra, por ser a época em que emerge com maior intensidade a aspiração universal da justiça e da solidariedade entre todos os povos do mundo que, para grande parte da humanidade, têm como referência mais sublime o Natal de Jesus Cristo”, refere aquele responsável.

A operação “Dez Milhões de Estrelas” tem associada a dimensão solidária, num convite à descentralização de cada um, para favorecer a abertura às necessidades de outros. O resultado da venda das velas reverteu, este ano, para o apoio a iniciativas em favor das pessoas idosas de Fortaleza (Brasil) e para a acção local de cada Caritas no nosso país.

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Serviços e MovimentosServiços e movimentos

Entrevista ao padre José Henrique, director do SDECIA

A vocação do catequistaEntrevista de Rui Ribeiro

Na manhã de 1 de Outubro, decorreu no colégio da Cruz da Areia o Encontro Diocesano de Catequistas, subordinado ao tema “A Vocação do Catequista”. A propósito desta assembleia, entre-vistámos o padre José Henrique, director do Secretariado Diocesano da Educação Cristã da Infância e Adolescência (SDECIA).

Prestes a iniciar um novo ano catequético, quais os objectivos do secretariado diocesano?

Este é o meu primeiro ano como director do Secretariado Diocesano da Educa-ção Cristã da Infância e Adolescência (SDECIA). Acabado de chegar, é difícil poder ter já a percepção, quer do sentir da Diocese, quer da equipa que constitui o secreta-riado. Por isso, para além dos objectivos habituais, que se centram na proposta for-mativa aos catequistas, na Escola Diocesana de Catequistas, dando continuidade ao trabalho até aqui realizado, o meu objectivo pessoal passa, por um lado, por procurar perceber o estado da catequese na Diocese, por outro, por pensar a reestruturação do próprio secretariado. Não venho com “soluções prontas”, mas com a vontade de procurar partir da realidade actual, do viver, do querer e do sentir da própria Dioce-se, para “ensaiar” propostas que possam ajudar a dar resposta à missão que a Igreja Diocesana tem, de continuar a anunciar e a aprofundar o conhecimento, a vivência, a partilha e a celebração da fé.

Quais as actividades que destaca no actual programa do SDECIA?As propostas formativas para os catequistas.A catequese é sobretudo o espaço de uma personalização da resposta de fé, de

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um aprofundamento orgânico e sistemático dos conteúdos da fé, das suas implica-ções na vida, da sua vivência e celebração na comunidade… Por isso, mais que uma “transmissão”, deve ser um espaço de crescimento, de acompanhamento pessoal, de pessoas que já fizeram um percurso pessoal e estão dispostas a acompanhar outros nesse seu caminho de maturação da própria fé.

É por isso que se torna essencial a formação dos catequistas. Para que possam ter um espaço de crescimento da própria fé, para além de poderem ter contacto com ou-tras dimensões que são essenciais quando se trata de ser testemunha, comunicador, mestre… nesta realidade concreta, e nos grupos concretos que lhe serão confiados. Não é apenas o saber fazer catequese, com todas as técnicas e estratégias pedagógi-cas, nem apenas o ter todos os conhecimentos teológicos para saber transmitir. Mas saber integrar o seu ser, com o seu saber e o saber fazer. O catequista, em si mesmo, é o mais importante elemento de metodologia.

Este ano, na Escola de Catequistas, vai continuar a formação com 3 cursos: ini-ciação, médio e geral (pedagogia).

A catequese da infância e adolescência é um dos principais campos de evangeli-zação nos nossos dias. Parece-lhe que está bem aproveitado?

A catequese da infância e adolescência é um dos campos em que se estão a “gastar” mais energias nas nossas comunidades. E, por vezes, parece ser a única proposta formativa em algumas paróquias. Talvez seja o momento de tomar a sério a necessidade de fazer da catequese, não apenas, nem essencialmente, uma “coisa de crianças”, para a tornar, como espaço de personalização e aprofundamento da fé, uma realidade adulta. Uma catequese adulta, para uma fé adulta.

O que não quer dizer que a catequese de infância e adolescência não seja um campo de acção importante. Exige, isso sim, que as comunidades sintam esse espa-ço como um lugar de iniciação dos mais novos que dão os primeiros passos numa resposta de fé à sua medida. E que aqueles que se inserem nos grupos possam ter aí um lugar de crescimento pessoal no encontro com pessoas mais maturas que estão dispostas a partilhar o seu próprio caminhar. Por isso, é um campo de acção que continua a ser sempre um desafio importante para as comunidades.

Naturalmente que, vendo o percurso actual e percebendo que muitas vezes o Crisma, que é o sacramento da entrada plena na vida da comunidade, depois de 10 anos de catequese, se torna “sacramento do adeus”, do fim, e não do princípio de uma vida que aí completa a sua iniciação, nos podemos interrogar sobre esta configuração actual da catequese. Sem atirarmos simplesmente com as culpas para a sociedade, para os pais, para as transformações culturais… procurar perceber as potencialidades deste modelo e como precisamos de estar, como comunidade cristã, para que as crianças e adolescentes sintam o espaço da catequese como significati-vo, pela possibilidades que lhes oferece de se inserirem numa vida que é fonte de esperança e de alegria.

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Que iniciativas, propostas e modelos seria bom experimentar, para alcançar-mos de forma mais eficaz os destinatários, hoje tão solicitados?

Há muito que os documentos oficiais da Igreja falam da necessidade de pensar a catequese num leque mais alargado de destinatários, desde os adultos às crianças, com uma diversidade metodológica que seja fiel a Deus e aos homens concretos, capaz de ajudar a estabelecer pontes de diálogo entre a fé e a cultura, de levar a uma verdadeira integração entre a fé e a vida. O campo é muito alargado, quando se fala de iniciativas ou modelos. Muito se pode fazer, desde que a catequese não deixe de ser o que é.

Pode pensar-se, por exemplo, em iniciativas de primeiro anúncio para crianças em idade pré-escolar, nas chamadas “catequeses familiares”, onde a principal acção catequética é em casa, tendo os pais um espaços de formação na paróquia. E dife-rentes estratégias para catequeses mais activas e envolventes com os adolescentes, com lugares para “experimentarem” a fé, em tempos mais alargados, com espaços de diálogo e partilha, com acção concreta na participação de actividades na comunidade e na celebração da fé.

Mas penso que seria importante que se apostasse sobretudo em modelos de cate-quese com adultos e de formação das comunidades. Iniciativas de formação bíblica ou litúrgica, de reflexão sobre os conteúdos da fé, espaços de oração com a Palavra de Deus… Os modelos podem ser os mais variados, à medida das próprias comuni-dades, sempre com o objectivo de dar espaço de crescimento para a maturação da fé, para adultos com uma fé adulta.

Quando uma pessoa, qualquer que seja a sua idade, percebe a importância de um espaço que se torna significativo para a sua vida, pode optar por ele.

Nos estudos que fez nesta área, encontrou novidades ou caminhos que ainda falta percorrer entre nós? Pode dar exemplos?

Há algumas novidades a nível metodológico, que se vão experimentando aqui e ali, também já pelo nosso país. Vão surgindo propostas na área da catequese de adultos, vai começando a ver-se paróquias que apostam numa dinâmica nova com os adolescentes e que os vão envolvendo mais na vida da comunidade, surgem já al-gumas propostas para a catequese familiar, ou para a catequese na idade pré-escolar, assim como para o acompanhamento de pessoas portadoras de deficiência, além de catecumenatos de adultos e jovens, ou de crianças em idade de catequese que pedem o baptismo. São muito diversas as circunstâncias e, para além do percurso “normal”, é preciso pensar novas propostas, alternativas para quem quer fazer o seu caminho de crescimento na fé.

Em diferentes contextos culturais, vão surgindo diferentes propostas na área da catequese. É importante conhecê-las e aprender com aquilo que se vai fazendo por outros lados. Mas penso que é sobretudo importante saber ler a realidade actual no nosso contexto e ousar dar os passos necessários.

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Como pensa que será possível concretizar o tema da diocese para o presente ano, no âmbito das catequeses paroquiais?

Perceber que a vida se vive na resposta ao amor de Deus, que não vivemos por viver, mas com um projecto que se constrói na relação com Alguém que, antes de tudo, nos cria e nos quer, nos sonha e nos ama, é algo de essencial na compreensão, na vivência e na celebração da nossa fé. A descoberta e a vivência da vocação e das opções específicas de cada vocação são, no fundo, o objectivo da catequese: levar cada um a perceber-se a si mesmo numa relação pessoal, profunda e madura com Deus, em Igreja. A catequese não pode deixar de ser sempre vocacional, porque é anúncio de Alguém, de Jesus Cristo, que desafia sempre a vida de quem se encontra com Ele.

Em cada encontro, é possível perceber esta dimensão vocacional. Mas há sempre alguns temas, em cada um dos anos de catequese, que se podem tornar mais especí-ficos. Além disso, há o espaço da criatividade dos catequistas. E também procurare-mos ajudar a elaborar algumas “campanhas” para os momentos mais fortes do ano litúrgico, como o Advento e Natal, a Quaresma e Páscoa, com propostas que ajudem a fazer este caminho com os grupos.

Como vê ou imagina a formação ideal para os catequistas?Uma formação que seja capaz de operar uma transformação para que a sua pre-

sença, o seu testemunho, a sua palavra, o seu modo de comunicar e de entrar em re-lação com os catequizandos os ajude a fazer um percurso de fé que ele está disposto a acompanhar.

Por isso, será uma formação que, adaptada a cada catequista, para a diversidade de catequeses que hoje são necessárias na Igreja, possa ajudar a adquirir competên-cia na área da relação, da comunicação, do conhecimento dos conteúdos bíblicos e teológicos, da leitura da realidade actual e das pessoas concretas que tem à sua fren-te, da pedagogia. No fundo, uma formação que englobe as capacidades humanas, cristãs e pedagógicas, nas dimensões do ser, saber e saber fazer, para que possam coordenar o grupo com que vão trabalhar.

Na prática, pode pensar-se como uma formação muito personalizada e acompa-nhada, feita em sistema de “laboratórios” formativos, onde as próprias pessoas pos-sam fazer o seu caminho de formação, com espaço de diálogo e partilha, estimulan-do a auto-formação, e com desenvolvimentos teóricos nas diversas áreas humanas, teológicas e pedagógicas que estão implicadas na catequese.

Fala-se há muito tempo dos novos catecismos, que parecem ser uma urgência. Pode adiantar alguma coisa sobre o estado actual da sua elaboração?

A revisão do percurso completo está a ser pedida já há bastante tempo e as últi-mas informações que tenho do Secretariado Nacional falam da prioridade com que esse projecto está a ser encarado. A nível de tempos, esperamos que sejam os mais

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curtos possíveis, mas com o tempo suficiente para garantir qualidade no trabalho de inculturação da mensagem no contexto social, cultural e eclesial actual.

Actualmente, está já disponível a última fase: o 9º ano já está publicado e o 10º ano está disponível em fase de experimentação e pode ser pedido ao SDECIA.

O que me parece também importante referir é que os catecismos não podem ser encarados como a “desculpa” para todos os males da catequese actual. Eles são um instrumento fundamental, mas não são eles que fazem a catequese.

Que palavra gostaria de fazer chegar aos catequistas, aos pais e aos catequi-zandos?

Sobretudo uma palavra de esperança. A catequese é o lugar para fundamentar a esperança e a alegria do ser cristão. E é como tal que vale a pena continuar a contar e recontar essa história do amor de Deus por nós, e de a tornar presente na história actual da vida de cada um.

Os catequistas, os pais, e toda a comunidade cristã têm a missão de se tornarem mensageiros dessa esperança e dessa alegria, de dizerem com a sua vida, com as sua opções, com a sua presença, com a sua palavra, que vale a pena ser cristão! E por isso se dispõem a acompanhar o crescimento cristão dos mais novos.

Aos catequizandos, diria que vale a pena correr o risco de conhecer Jesus Cristo de perto…

SDECIA propõe reuniões para catequistasCom base na Carta Pastoral do Bispo diocesano, o Secretariado Diocesano

da Catequese apresentou uma proposta de itinerário para os momentos de oração das reuniões de catequistas, que deverão incluir cânticos, leitura bíblica e do texto da Carta Pastoral (CP), e um momento de reflexão e partilha.

Os temas propostos para cada mês são:1. Toda a vida é vocação. Gen 1, 26-31; CP nº 2.12. A vocação como diálogo. 1Sam 3,7-10; CP nº 2.23. A vocação como encontro com Cristo. Jo 1,35-39; CP nº 2.34. A vocação como vida bela em Cristo. Mat 17, 1-8; CP nº 2.45. A vocação como eleição de amor. Jo 15, 12-17; CP nº 2.56. Variedade de dons e chamamentos. 1Cor 12,12-19; CP nº 3.17. A comunidade cristã, casa e escola vocacional. Act 2,42-47; CP nº 4.18. Acompanhamento vocacional em cada idade. Mt 9,9-12; CP nº 4.29. Testemunho vocacional contagiante. Jo 1,38-42; CP nº 4.3

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O Escutismo Católico PortuguêsO CNE – Corpo Nacional de Escutas, Escutismo Católico Português, é um

Movimento que se apresenta com uma especificidade própria no contexto dos movimentos eclesiais. Sendo um movimento da Igreja é inspirado no Escutismo que, na sua forma original, e nascendo fora do âmbito eclesial, é pensado por Baden-Powell como um espaço de formação das novas gerações para uma parti-cipação activa e responsável na sociedade.

Na sua origem está um método educativo que passa pela relação com a nature-za, vida em pequenos grupos, relação personalizada entre o adulto e cada um dos seus membros, aprender fazendo, proposta de um progresso individual, respeito por uma Lei assumida sob Promessa, e toda uma dimensão simbólica e de esti-mulação da criatividade. No fundo, procura criar as condições necessárias para a valorização pessoal. Tudo isto, fazendo da educação um jogo onde cada um é envolvido na sua auto-formação, jogo que se concretiza em cada actividade, pre-parada, realizada e avaliada em conjunto, como o lugar próprio para desenvolver novas capacidades e para crescer.

Estes elementos metodológicos são assumidos pelo CNE como um movimen-to educativo da Igreja Católica. Uma especificidade que dá ao CNE um horizonte novo, já que insere as dimensões da fé em Jesus Cristo e da participação na vida da comunidade cristã como elemento intrínseco à educação integral dos jovens. Assim, a finalidade educativa ganha um rosto novo. Não se trata apenas de uma formação para a cidadania, mas de uma educação integral, como pessoa, cidadão e cristão, com o horizonte do Homem-Novo: Jesus Cristo.

Centenário de EsperaEm 2007 celebram-se os 100 anos do Escutismo. Um século depois daquele

primeiro acampamento da ilha de Brownsea, que dava início à grande aventura do escutismo, a região de Leria adoptou, para os próximos três anos, o lema «Agora nós!». Um lema que procura também envolver os escuteiros na dinâmica diocesana, fazendo deste primeiro ano do triénio, comemorativo do centenário, um tempo de redescoberta da identidade e da vocação de cada escuteiro: “olha-mos para História que nos precede e percebemos nela as razões da Esperança. Esperança de um mundo melhor que alimentou a vida de Baden-Powell e o seu projecto. Esperança que animou a vida de tantos escuteiros que fizeram de todos estes anos um centenário de Esperança. Esperança que incarna em nós, que é a nossa identidade, como escuteiros, e escuteiros católicos: sabemo-nos inseridos no grande projecto do Deus que nos chama”, refere o padre José Henrique Pedro-sa, assistente do CNE de Leiria.

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Entrevista a Margarida Marques,chefe regional do CNE de Leiria

“O escutismo é lugar privilegiadopara descobrir a vocação”Entrevista de Rui Ribeiro

Com o início do novo ano pastoral, muitos são os grupos e as instituições que iniciam a sua actividade. Um desses grupos é o escutismo. Movi-mentando milhares de ado-lescentes e jovens, os diversos agrupamentos dão o pontapé de saída para mais um ano que se traduzirá numa caminhada de crescimento humano e cristão. Na nossa diocese os agrupamentos estão agora numa fase de planificação e estruturação das suas actividades. Margarida Maria Oliveira Faria Marques é a chefe regional do CNE de Leiria. Falámos com ela sobre o escutismo em geral e sobre as especificidades de Leiria.

Podemos começar pelas origens do escutismo...O fundador do escutismo é Robert Stephenson Smith Baden-Powell, que nasceu

em Londres a 22 de Fevereiro de 1857. Desde menino, Baden-Powell aprendeu atra-vés de caminhadas e excursões a cuidar de si. Embora órfão de pai, teve na mãe e nos irmãos o apoio necessário para uma infância feliz.

Graças aos seus feitos na vida militar, Baden-Powell tornou-se um herói no seu país. Durante uma viagem, viu alguns rapazes criarem brincadeiras através de um livro por si escrito para os batedores do exército, com explicações sobre como acampar e sobreviver em regiões selvagens. Então, conversando com os amigos, entusiasmou-se e resolveu realizar, em 1907, na ilha de Brownsea, um acampamento com vinte rapazes dos 12 aos 16 anos, onde transmitiu conhecimentos técnicos, tais como: primeiros socorros, observação, técnicas de segurança na cidade e na floresta.

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Devido aos bons resultados deste acampamento, Baden-Powell decidiu escrever o “Escutismo para Rapazes”. Os jovens ingleses entusiasmaram-se tanto com o livro, que Baden-Powell organizou e fundou o Movimento Escutista.

Como nasceu em Portugal?O Escutismo português deu os primeiros passos no território de Macau, em 1911.

Os seus impulsionadores, regressados à metrópole, fundaram a “Associação dos Es-coteiros de Portugal”, em 1913. Entre eles, contavam-se o Arcebispo D. Manuel Vieira de Matos e o Dr. Avelino Gonçalves, que haviam assistido a um desfile de 20 mil escutas, em Roma, por ocasião de um Congresso Eucarístico Internacional.

O Corpo Nacional de Escutas, Escutismo Católico Português, veio a ser fundado a 27 de Maio de 1923, na cidade de Braga, 10 anos depois da Associação dos Esco-teiros de Portugal.

Onde está implantado, no País e na nossa diocese?O CNE está organizado em 20 Regiões, coincidentes com as dioceses de Portu-

gal, cada uma com vários agrupamentos, mais de mil em todo o País, coincidentes com a organização paroquial.

Na nossa diocese existem cerca de 28 agrupamentos sedeados nas seguintes fre-guesias: Marinha Grande (36), Leiria (127), Batalha (194), Porto de Mós (370), Mar-razes (737), Maceira (762), Cruz da Areia (776), Pousos (877), Albergaria dos Doze (922), S,Tiago de Litém (923), Ourém (977), Pataias (989), Caranguejeira (1041), Monte Redondo (1054), Vieira de Leiria (1076), Monte Real (1077), Caxarias (1078), Souto da Carpalhosa (1112), Serro Ventoso (1113), Carvide (1136),Olival (1142), Amor (1166), Arrabal (1167), Santo Agostinho (1198), Bidoeira (1209),Car-nide (1210), Santa Catarina (1211), Bajouca (1226), Boavista (1227). Actualmente, há alguns novos agrupamentos em formação: Barosa, Memória, Parceiros, Fátima, Ribeira do Fárrio e Nossa Senhora das Misericórdias - Ourém.

A sede diocesana situa-se na rua Professor José António Saraiva – Cruz da Areia – 2410-085 LEIRIA. Temos uma página na internet (http://leiria.cne-escutismo.pt), o contacto telefónico é o 244815310 e o Fax é o 244802373.

Sabemos que o escutismo tem uma estruturação muito bem definida…O Corpo Nacional de Escutas está organizado, pedagogicamente, em 4 secções,

associadas a faixas etárias, com nomenclaturas próprias. Dentro de cada secção, os jovens organizam-se em pequenos grupos, e cada elemento tem uma função.

I Secção: os elementos são denominados Lobitos e dividem-se em Bandos de 5 a 7, que, em grupos de dois a cinco, formam Alcateias. Cada Bando designa-se e distingue-se por uma das seguintes cores, escolhida pelos respectivos Lobitos e que figura no distintivo pessoal e na bandeirola de Bando: branco, cinzento, preto, castanho e ruivo.

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II Secção: os seus elementos são Exploradores e formam Patrulhas de 4 a 8 ele-mentos. Denomina-se Grupo Explorador a unidade formada pelo conjunto de duas a cinco Patrulhas. Estas designam-se pelo nome de um animal – o Totem – cuja silhueta figura na bandeirola da Patrulha e cujas cores identificam o distintivo dos seus membros.

III Secção: os elementos são denominados Pioneiros e formam Equipas de 4 a 8 elementos. Denomina-se Grupo Pioneiro a unidade formada por duas a cinco Equi-pas de Pioneiros. Cada Equipa designa-se por um nome de animal - o Totem –, um Santo da Igreja, um benemérito da humanidade ou um herói nacional, cuja silhueta figura na bandeirola e no distintivo da Equipa.

IV Secção: os elementos são denominados Caminheiros e dividem-se em Equi-pas de 5 a 8 elementos. Cada grupo de duas a cinco Equipas denomina-se Clã, ca-bendo a cada uma delas escolher para Patrono um Santo da Igreja, um benemérito da humanidade ou um herói nacional, cuja vida os Caminheiros devem conhecer e tomar por modelo.

Qual o papel das chefias regionais?O órgão executivo regional é a Junta Regional (JR), composta por um Chefe

Regional, um Chefe Regional Adjunto, e dois, quatro ou seis Secretários Regionais. Além destes elementos, contamos sempre com um Assistente Regional.

Competem à Junta Regional, sob a coordenação do Chefe Regional, entre outras, as seguintes tarefas: representar o CNE a nível regional e exercer competências por delegação da Junta Central; promover a difusão e imagem pública do CNE na Re-gião; velar pela boa aplicação do método escutista; apresentar Relatório e Contas anuais ao Conselho Regional; implementar o plano de acção regional aprovado pelo Conselho Regional; promover actividades regionais; nomear e exonerar os dirigen-tes e outros membros dos Departamentos e Serviços Regionais.

O escutismo professa algum credo religioso?O CNE orienta a sua opção pelos valores espirituais específicos do Escutismo,

iluminados pela fé católica, expressos pela sua simbólica própria e transmitidos pela sua metodologia, procurando a formação humana e cristã dos seus associados, em comunhão eclesial.

A educação da fé deve ser procurada e operada intencionalmente, de modo siste-mático e de acordo com a metodologia de cada Secção e nesta integrada, tendendo a criar um espírito de vida cristã adulta, empenhada, responsável e participante; baseia-se na formação bíblica, litúrgica e moral e na doutrina social da Igreja; e orienta-se pelos documentos conciliares, pontifícios e da Conferência Episcopal Portuguesa, nomeadamente sobre o apostolado dos leigos e sobre o escutismo. A inserção comunitária deve manifestar-se, também, pela presença efectiva nos órgãos eclesiais pastorais de participação.

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Os tempos litúrgicos mais fortes e as principais solenidades do calendário litúr-gico, universal ou particular, devem ser assinaladas pelo Agrupamento, quer por uma formação adequada, quer pela participação activa e colaborante nas actividades paroquiais ou diocesanas com eles relacionadas. Em qualquer actividade escutista, mesmo no campo, devem ser sempre previstos tempos de oração comunitária e ce-lebração eucarística, ou celebração dominical na ausência do Presbítero, que ajudem a conferir um sentido cristão a todo o progresso e contribuam para a educação do sentido de oração pessoal e comunitária.

Quais as grandes linhas de acção para este ano, em Leiria?Estabelecemos um programa para três anos, que tem como tema “Agora nós”.

Para além das actividades habituais, teremos obviamente em atenção a Carta Pastoral do nosso Bispo e o tema geral da Diocese para o presente ano pastoral. Também no escutismo se fala e se descobre a vocação. Creio mesmo que é um lugar privilegiado para essa descoberta, tendo em conta a pedagogia e as actividades que normalmente fazem parte da vida de um agrupamento.

Finalmente, como se pode entrar no movimento? Entrar para o CNE é fácil. Basta contactar um agrupamento e seguir as suas

directrizes. Logo que faça a sua promessa, o escuteiro necessita do uniforme, que poderá adquirir em qualquer das lojas do armazém do CNE. O agrupamento local é normalmente proprietário ou, pelo menos, tem acesso a um vasto leque de dispendio-sos materiais de acampamento ou de aventura, tais como tendas, cordas, equipamen-to de cozinha e até canoas ou barcos. O custo destes equipamentos é normalmente suportado através de patrocínios ou de campanhas de angariação de fundos.

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Organismos que apoiam movimentos migratórios

Como Leiria acolhe os estrangeiros...Por Joaquim Santos

Os portugueses têm, desde há muitos séculos, o hábito de partir para outros destinos e aí se fixarem. Não é por mero acaso que somos considerados como os Descobridores de outras terras e oceanos nunca visitados. Foi este recanto, na pon-ta da Europa, que abriu portas ao mundo... Cinco séculos após os descobrimentos marítimos, somos um povo que continua a deslocar-se, embora no momento actual registemos alguma mudança, acolhendo grande número de outros cidadãos que bus-cam em Portugal melhores condições de vida..

O Conselho de Ministros aprovou, em Agosto de 2006, uma proposta de Lei que define o regime de entrada, permanência e saída de estrangeiros, e que promove no-vos canais de imigração. Efectivamente, a imigração é considerada um factor vital para o País, no contexto económico, social e demográfico. Fenómeno incontornável, carecia de mecanismos legais novos e mais adequados à realidade dos fluxos migra-tórios. A nova Lei veio modificar as regras da admissão e residência, bem como de afastamento e expulsão de estrangeiros em território nacional.

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Sem ignorar que muitos imigrantes são bem acolhidos e conseguem integrar-se no meio social e laboral, quantos não há que se tornam vítimas de exploração de trabalho e vivem em condições verdadeiramente desumanas. É esta a realidade de um Portugal que mandou os seus filhos para todos os continentes.

Entrevista a Olga Ferreira, técnica da AMIGrante

“Vislumbra-se um regime legal mais humanista”A AMIGrante – Associação de Apoio ao Cidadão

Migrante – é um dos organismos instalados em Leiria para apoio e orientação a imigrantes, com protocolo esta-belecido com a ACIME – Alto Comissariado para a Imi-gração e Minorias Étnicas. A ligação estreita que mantém com a diocese de Leiria-Fátima faz com que a sua acção se desenvolva com mais sentido. Com sede no Centro Associativo Municipal de Leiria, acolhe pessoas com problemas, por vezes, bem complicados, e propõe ajuda nas vertentes jurídica e social, na comunicação, através de intérpretes e do ensino do Português, no apoio ético-religioso e na assistência à família, traduzida na educação

e integração dos filhos, saúde e segurança social.Na AMIGrante encontrámos Olga Dias, que nos falou da função deste organismo

e das suas realidades actuais. Tem 28 anos, é natural de Leiria e fez uma pós-grada-ção em “Direito da Inclusão”, na Universidade de Coimbra, com um trabalho final intitulado “Reagrupamento Familiar – Algumas considerações sobre o Direito à Família dos Estrangeiros”, valorado com “Bom com distinção”. É um dos rostos da associação e apresenta-nos os seus pontos de vista sobre esta instituição.

Que é a AMIGrante?A AMIGrante é uma associação sem fins lucrativos para apoio aos cidadãos mi-

grantes. Aquando da sua criação, assumiu estes objectivos: - Combater a xenofobia e todas as formas de discriminação, por razões de nacio-

nalidade, origem étnica, cor ou religião.- Fomentar a integração social e o combater a exclusão de migrantes, refugiados

e minorias étnicas, promovendo a sua dignificação e igualdade de oportunidades, direitos ou obrigações.

- Contribuir para a formação de uma opinião pública positiva face ao fenómeno da imigração.

- Apoiar e favorecer o espírito religioso, independentemente de cada credo.

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Quantas pessoas atendem por dia?Temos uma média de 12 atendimentos por dia.

A AMIGrante foi fundada em ligação estreita com a diocese de Leiria-Fátima. Até que ponto os valores da Igreja estão presentes e são instrumento de acção?

A AMIGrante foi formalmente constituída em Julho de 2003, a partir da acção que já começara a ser desenvolvida desde o ano 2000 por vários movimentos Ca-tólicos – Secretariado Diocesano para as Migrações, Movimento de Educadores Católicos, Acção Católica Independente e Caritas Diocesana de Leiria. Foram estes (mormente o MEC) que estiveram na origem da actividade da associação. Poste-riormente, a Câmara Municipal de Leiria reconheceu o trabalho realizado e decidiu associar-se. Com este historial, e porque a acção da associação é assegurada por voluntários daqueles movimentos, os valores da Igreja estão sempre presentes.

Em que consiste o protocolo assinado recentemente com a ACIME?O protocolo traduz-se, sobretudo, num apoio económico que permite que a

Associação, para além dos voluntários, possa ter uma pessoa em atendimento per-manente.

Existem imigrantes que chegam sem nada, explorados pelas entidades patro-nais e máfias. Como é que a AMIGrante actua nestes casos?

Nos casos de exploração por máfias, qualquer tipo de estratégia revela-se muito custosa. A única possibilidade de apoio é dar informações pertinentes – entidades oficiais, nomeadamente a Polícia, que poderão debelar a situação – e prestar apoio moral.

Quanto à exploração laboral, às vezes temos sucesso nos contactos junto de alguns empregadores. Todavia, os casos mais preocupantes são os de grandes em-presas que, não cumprindo regimes legais, não se intimidam nem com contactos dos organismos públicos, como a Inspecção Geral do Trabalho.

No seu entender, a nova proposta de Lei de Imigração, aprovada em Agosto em Conselho de Ministros, facilitará a vida a quem deseja permanecer legal em Portugal?

As alterações propostas no âmbito da admissão e residência de estrangeiros em território nacional, pelo facto de serem clarificadoras e favorecerem situações de reagrupamento familiar, permitirão repor justiça nalgumas situações que se arras-tavam por não terem uma solução legal no regime actualmente em vigor. O papel administrativo que a nova Lei pretende atribuir às autarquias poderá também ser muito válido, na perspectiva da inclusão social e integração de proximidade local. Vislumbra-se, assim, um regime legal de carácter mais humano, equilibrado e sensa-to, face à realidade da sociedade portuguesa.

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Propostas de formação no CFCNo início do ano pastoral, o Centro de Formação e Cultura apresentou uma série

de propostas para aprofundar e obter formação teológica. Assim, a oferta a nível diocesano, neste primeiro semestre, é a seguinte:

1. O curso “Pensar a Fé” tem como objectivo “iniciar na reflexão teológica os que desejam aventurar-se na compreensão da revelação de Deus em Jesus Cristo”. Neste âmbito, são propostos dois cursos:

- “Concepção Cristã da Fé” é o curso que se realiza no centro paroquial da Marinha Grande, ministrado pelo padre Armindo Janeiro, reitor do Seminário Diocesano de Leiria. Pretende-se “olhar para o depósito da fé apostólica como depósito de vida, capaz de promover a comunhão de vida com Deus, hoje”.- “A Igreja na história” é outra opção, a realizar no Centro Paroquial de Ourém, sob a orientação do padre Luciano Cristino, director do SESDI do Santuário de Fátima. É “uma síntese história dos dois milénios da era cristã: desde a vida das primeiras comunidades até aos grandes desafios do nosso tempo”.2. No Curso Geral de Teologia, a decorrer no Seminário Diocesano de Leiria, se-

rão leccionadas duas disciplinas: “Sacramentologia”, pelo padre Carlos Cabecinhas, e “As religiões no mundo”, pelo vigário-geral, padre Jorge Guarda.

3. No âmbito da “Formação Teológica Complementar”, são também duas as propostas temáticas.

Em relação ao ano passado, duplicou o número de inscritos nos diversos cursos promovidos pelo Centro de Formação e Cultura neste ano pastoral, com cerca de 90 inscrições nas actividades que se realizam em Leiria.

Uma das disciplinas com mais participantes, cerca de três dezenas, é “Relação de ajuda em cuidados de saúde”, orientado pelo padre Adelino Guarda. Cerca de meta-de dos formandos colabora em actividades ou movimentos eclesiais e mais de uma dúzia provém de profissões ligadas aos cuidados de saúde: enfermeiros, médicos e técnicos.

Também na formação teológica houve um aumento de participantes. O curso sobre “As religiões do mundo”, orientado pelo padre Jorge Guarda, é frequentado por 22 pessoas, interessadas em conhecer o conspecto religioso do mundo actual, cujas influências se fazem sentir também na nossa sociedade. Na nova disciplina de “Sacramentologia”, que aprofunda a liturgia e teologia das celebrações da Igreja, leccionada pelo padre Carlos Cabecinhas, inscreveram-se 25 alunos.

O calendário deste semestre conta com mais uma disciplina de formação teoló-gica sobre a “Vida e obra de São Paulo”, orientada pelo padre Gonçalo Diniz, com 15 participantes.

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Comissão Diocesana Justiça e PazA Comissão Diocesana Justiça e Paz, criada em Janeiro de 2002, tem procurado

estar atenta aos problemas relacionados com a promoção dos grandes objectivos que constam da sua denominação, sem esquecer outra problemática que tem a ver com a justiça e a paz em comunidades mais alargadas nas quais se inclui a nossa Diocese. Na actividade da Comissão, que se têm realizado através de colóquios e conferência públicas e, também, em realizações de âmbito mais restrito, tomadas de posição e comunicados, tem estado sempre presente a defesa dos Direitos Fundamentais da Pessoa Humana, à luz do Evangelho e da Doutrina Social da Igreja.

É agora oportuno divulgar as principais realizações que tem em vista para 2006/07, sempre no mesmo espírito e com total abertura relativamente aos temas que irão ser apresentados a todos quantos por eles se venham a interessar, quaisquer que sejam as suas opções ideológicas, na certeza de que todos os contributos serão bem vindos. Assim, e sem prejuízo do estudo de outros problemas que venham a suscitar-se estão em preparação, para o próximo ano de actividade, a abordagem das seguintes grandes questões:

1 - No seguimento do Colóquio “Pobreza e Exclusão Social”, realizado em Ju-nho último, após inquérito lançado na Diocese, procurará aprofundar o tema, tendo presentes novas realidades e as muitas sugestões recebidas no decorrer das várias acções levadas a cabo. Fá-lo-á com a mesma transparência e objectividade procuran-do colaborar com outras organizações, estejam ou não ligadas à Igreja, dispostas a um grande combate comum contra a miséria e a exclusão, numa fase, como a actual, em que a crise económica pode levar ao agravamento das questões sociais na nossa região.

2 - Abordará também, em tempo oportuno, o tema actual da Interrupção Voluntá-ria da Gravidez, tendo presente a doutrina da Igreja a tal propósito, não ignorando as posições em contrário, e na busca de novos caminhos que ajudem a ultrapassar situ-ações humanas difíceis, sem quebra dos direitos fundamentais da pessoa, incluindo o direito à vida, à luz da ética pessoal e da ética social, e a adopção de medidas de protecção à mãe e à criança que combatam situações que todos deploram, procuran-do prevenir as suas causas.

3 - Chamará ainda a atenção da comunidade para os graves problemas com que se debate todo mundo no que se refere à paz e ao terrorismo e a necessidade de unir esforços de todos os homens de boa vontade na sua defesa. Fá-lo-á na linha de ou-tras iniciativas que englobaram diversas confissões religiosas, unidas na tolerância e na prossecução do grande objectivo da paz mundial. Tem a intenção de o fazer na profunda convicção da necessidade do diálogo nomeadamente entre as religiões e as culturas, e no espírito de Assis que, por iniciativa do Papa João Paulo II, congregou pessoas e religiões activas defensoras da Paz. Recordará o Compromisso Comum para a Paz, aprovado na reunião de 24 de Janeiro de 2002 – vão completar-se em

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breve 5 anos – já depois dos atentados terroristas na América, que parece esquecido mas que compreende as grandes linhas de acção para a paz aceites pelas várias con-fissões religiosas.

Oportunamente apresentaremos a calendarização das iniciativas com a indicação dos principais intervenientes.

Tomás Oliveira Dias

Centros de Preparação para o MatrimónioA 18 e 19 de Novembro, realizou-se na Cruz da Areia o primeiro dos encontros

de noivos do Centro de Preparação para o Matrimónio (CPM) no ano pastoral de 2006/2007. Em Fevereiro de 2007, os encontros decorrerão em Ortigosa (3 e 4), na Cruz da Areia (10 e 11), em Caxarias, Marinha Grande e Santa Eufémia (24 e 25). Em Março realizar-se-ão na Cruz da Areia (10 e 11) e em Amor (17 e 18). Em Abril está marcado apenas um encontro, a 28 e 29, em Albergaria dos Doze. No mês de Maio, haverá encontro na Cruz da Areia (5 e 6) e em Caranguejeira e Caxarias (26 e 27). Em Junho os encontros realizam-se em Vieira de Leiria (2 e 3), na Cruz da Areia (16 e 17) e na Marinha Grande (23 e 24). O último encontro de noivos está marcado para Setembro, na Marinha Grande (29 e 30).

MEC – programação e formaçãoNo passado dia 20 de Outubro, o Movimento de Educadores Católicos (MEC)

promoveu a apresentação do seu plano de actividade para o novo ano pastoral, num encontro que juntou muitos dos seus membros e alguns simpatizantes. O novo assistente diocesano, padre Adriano Brites, saudou os presentes com palavras de estímulo e perseverança. O orador convidado foi o padre Jorge guarda, vigário-geral da Diocese, que abordou a temática proposta pelo Projecto Pastoral Diocesano para este ano, dedicado à pastoral das vocações na Igreja, centrando a sua intervenção na recente Carta Pastoral de D. António Marto.

Novo encontro entre membros e simpatizantes do MEC realizou-se no dia 1 de Dezembro, na continuidade do trabalho que vem desenvolvendo na área da forma-ção, tendo no horizonte o Advento e a celebração do Natal. D. António Marto fez uma conferência sobre “a beleza e a alegria da Fé cristã”. Todos sentiram vivamente e, com certeza, tomaram como seu o grito de Santo Agostinho, oportunamente citado por D. António Marto: “Tarde te amei, beleza tão antiga e tão nova, tarde te amei!”.

Seguiu-se a celebração Eucarística, presidida pelo assistente, padre Adriano Brites. No final, cada um dos presentes pôde levar consigo uma breve mensagem natalícia da equipa diocesana. O encontro terminou com um jantar de convívio.

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Movimento dos Convívios FraternosDecorreu de 7 a 9 de Setembro, em Fátima, o I Congresso do Movimento dos

Convívios Fraternos, precedendo o encontro nacional sob o tema “Com Maria ca-minhamos na Luz”. Por ocasião da celebração de mil convívios, “quisemos fazer a experiência de um Congresso com o objectivo congregar os jovens e ver novos caminhos de trabalho”, salientou o padre Valente de Matos, fundador do movimento. Surgiu, pois, desta necessidade de continuar o esforço de uma renovação e revitali-zação dos Convívios Fraternos.

Sendo um movimento de espiritualidade e acção de jovens católicos, que conta com 40 anos de história, o caminho realizado tornou-se possível “graças à unidade que mantemos à volta do nosso carisma, respeitando as diferenças das dioceses onde estamos e o seu trabalho com os jovens”, salientado no plano de actividades que propõem as reuniões e actividades nacionais, o jornal que ajuda a unificar todo o movimento e a peregrinação nacional.

A organização salientou a numerosa participação neste primeiro Congresso - 140 congressistas de todo o País - como espelho da importância que o movimento tem hoje em dia para a Igreja em Portugal, no Brasil e Moçambique e entre as comunida-des portuguesas do Luxemburgo, Suiça e França, bem como para a sociedade.

Entre outras, uma das preocupações centrais abordada pelos congressistas foi a necessidade do reconhecimento jurídico do movimento, como tal, por parte da Con-ferência Episcopal Portuguesa. Como consequência, irão ainda ser constituídos gru-pos de trabalho, com o objectivo de adaptar os conteúdos, abordagens e linguagem às exigências do século XXI e também de tirar partido das potencialidades ofereci-das hoje em dia à evangelização pelas tecnologias de informação e comunicação.

Conclusões do Congresso “Unidade na Diversidade”1ª - O Movimento dos Convívios Fraternos, reunido em congresso em Fátima,

nos dias 7 a 9 de Setembro de 2006, dá graças a Deus pela oportunidade de, com a presença de 140 representantes das diversas dioceses do país, ter podido reflectir sobre a sua actualidade como instrumento de evangelização juvenil e familiar em Portugal e também no estrangeiro.

2ª - Como fruto principal, julgamos haver uma unidade do movimento, embora com alguma diversidade de procedimentos. Para que esta unidade na diversidade se mantenha, é fundamental que: a) haja uma temática comum nos diversos conví-vios, embora numa linha testemunhal adaptada às realidades pessoais e locais; b) as actividades propostas pelo guião “Caminho de Libertação” sejam seguidas por todas as Dioceses, nomeadamente os testemunhos, os diálogos em equipa, o diálogo particular/personalizante e todas as celebrações litúrgicas e/ou momentos de oração propostos; c) os cânticos escolhidos e propostos com um objectivo concreto no guião, deverão ser também usados em todas as Dioceses, sem no entanto se fechar

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a porta a um enriquecimento com novas propostas; d) os Símbolos como a Cruz, o Hino e o Livro devem ser usados por todas as Dioceses; e) cada Convívio deve levar os participantes a um compromisso pessoal de integração eclesial, a preencher no último dia; f) cada convívio deve terminar com um encerramento – testemunho público que incluirá a Eucaristia final de Acção de Graças; g) tendo o Convívio Fra-terno um forte impacto na vida pessoal, recomenda-se que ele se destine a pessoas com alguma maturidade física e psicológica. A idade mínima aconselhável é de 17 anos ou com frequência do 11º ano.

3ª - Reconhece-se a necessidade de remodelação do Guião “Caminho de Liberta-ção” e do Livro do Movimento no que diz respeito a alguns conteúdos e linguagem, propondo-se a criação de grupos de trabalho para esse efeito, nomeadamente: a) liturgia; b) cânticos; c) conteúdos – Cristo Jovem e Testemunhos “Tu és a Igreja de Cristo”/”Missão Evangelizadora da Igreja”.

4ª - Reconhece-se o potencial que as Novas Tecnologias de Informação e Comu-nicação podem ter na transmissão da mensagem, sendo o seu uso conveniente mas não se substituindo ao indispensável testemunho pessoal de vida.

5ª - Pede-se a criação, no âmbito das novas tecnologias, de uma página web unificada, de apoio às diversas Dioceses na elaboração e preparação dos Convívios e Encontros, testemunhos, músicas e demais conteúdos.

6ª - Todos os elementos participantes das equipas deverão ser pessoas com matu-ridade, coerência de vida, formação catequética e espírito de serviço.

7ª - A formação e composição das equipas será sempre com a participação do director espiritual de cada Diocese, devendo ter em conta um equilíbrio entre expe-riência e rejuvenescimento.

8ª - Necessidade de um compromisso por parte dos elementos que aceitam fazer parte das equipas, de um esforço pessoal de formação humana e cristã e de acompa-nhamento dos “novos” convivas no Pós-Convívio (4º dia).

9ª - Colaboração com a Pastoral Juvenil e Familiar das paróquias e das diversas Dioceses, encontrando meios de perseverança e inserção paroquial e diocesana dos jovens e casais convivas.

10ª- Na consciência que tudo se deve à acção do Espírito Santo, não se descuide a oração dos elementos da equipa coordenadora do Convívio e procure-se uma cons-tante atitude de humildade diante dos dons de Deus.

CONCLUSÃO FINALSomos um movimento aberto à participação de todos e damos graças a Deus

por haver muitos outros meios de O encontrar. A continuidade do movimento, para além das circunstâncias ou pessoas, faz-nos sentir a necessidade do reconhecimento jurídico do movimento, como tal, por parte da Conferência Episcopal. Queremos co-laborar com os outros movimentos eclesiais e com todos aqueles que estejam abertos à constante novidade de Jesus Cristo Libertador e Sedutor.

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Vida Consagrada

Semana dos Seminários

Promover os “lugares vocacionais”A Semana dos Seminários decorreu de 12 a 19 de Novembro, uma ocasião espe-

cial para propor às comunidades cristãs que dirijam o olhar e o coração, mas também a inteligência para estas outras comunidades eclesiais educativas e formativas, onde vivem os que se preparam para o sacramento da Ordem.

Este é um tema que afecta a vida pessoal de cada cristão, pois da oração, do apoio e da acção e testemunho de cada um depende a receptividade e a sustentabilidade dos que recebem o dom da vocação sacerdotal.

Afecta, igualmente, a vida comunitária, pois o ministério presbiteral é insubs-tituível para as comunidades cristãs. Por isso, estas devem questionar-se acerca de uma manifesta disfunção orgânica: que nelas há abundância de dons e carismas para uma multiplicidade de serviços, mas não surge no seu seio quem voluntariamente se disponha a traduzir a sua fé em opção pelo sacerdócio, respondendo ao apelo para viver o seguimento de Jesus como padre.

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A primeira acção há-de ser sempre a súplica orante. O coração do Senhor da Messe não há-de ficar insensível quando vir as comunidades cristãs a cumprirem as ordens do seu Filho. Precisamos ainda de confiar que os jovens de hoje são sensí-veis à Palavra de Deus e têm possibilidade de a interpretar como orientação válida e significativa para as suas vidas. Muitos dos seus modos de viver, preocupações e valores traduzem sintonia com o Evangelho. Se o maior dom do amor de Deus é fazer-nos amar como Ele ama, precisamos de reaprender a linguagem do Evangelho e a linguagem dos jovens, e falar ambas.

No III Fórum Nacional das Vocações, no passado mês de Outubro, em Fátima, com o tema “Paróquia - Lugar Vocacional”, o padre Amedeo Cencini sublinhou que, embora a tarefa de chamar diga respeito a todos os cristãos, no âmbito paroquial, o pároco tem um lugar de primazia: porque “os jovens têm uma necessidade extrema de coerência e de modelos de vida”, é natural que olhem de modo especial para o seu pároco, buscando nele o modelo que procuram. Dizia ainda que “a relação é o lugar sacramental do chamamento”. Por isso, a relação que o pároco consiga estabelecer com os jovens é propícia para sugerir novos horizontes e, quem sabe, lançar o desa-fio a alguns para que um ou outro possa acolher a ideia do sacerdócio.

Mas se a Semana dos Seminários é uma oportunidade singular para fazer, nas paróquias, pastoral vocacional específica, ela não esgota o que deva ser feito com ca-rácter permanente. Tal como propôs, por esta ocasião, o padre Jorge Madureira, se-cretário da Comissão Episcopal Vocações e Ministérios: “Pressuposta uma pastoral das crianças, impõe-se trabalhar com os jovens em idades especialmente fecundas como sejam as de mudança de ciclo vital e existencial; criar equipas de pastoral vo-cacional nas paróquias que dinamizem a comunidade e os principais educadores da fé para que os itinerários formativos conduzam à opção vocacional; tornar visíveis e acolhedores lugares vocacionais, serenos e alegres, onde se faça experiência de encontro com Jesus e onde seja possível fazer discernimento vocacional; promover o contacto dos jovens com experiências de sofrimento humano, que sejam semente de verdadeiro seguimento; cuidar a formação permanente dos colaboradores principais da pastoral vocacional para que descubram, em cada dia, sabores novos na sua voca-ção e se decidam, sem medo, a comunicar o dom que levam em vasos de barro”.

Padre Armindo Janeiro, reitor do Seminário Diocesano

“O tempo presente exige opções conscientes”

Nesta Semana dos Seminários, fomos entrevistar o padre Ar-mindo Janeiro, reitor do Seminário Diocesano de Leiria.

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Como é a vida do dia a dia no Seminário? No espaço (edifício) do Seminário funcionam diversos serviços com ritmos

próprios. No que se refere à Comunidade do Seminário que dá nome ao edifício, tudo decorre normalmente, com a seriedade e serenidade próprias de quem estuda e contempla a beleza da vocação cristã, capaz de mobilizar as energias e dar corpo a um projecto que compromete a vida inteira no ministro ordenado.

Que elementos compõem actualmente a equipa formadora, o corpo de alunos e pessoal auxiliar?

A Comunidade do Seminário é constituída por 3 sacerdotes (dois de Leiria e um de Coimbra), 14 alunos de seis Dioceses (Coimbra e Mindelo [Cabo Verde] com 4, Aveiro com 3 e com 1, as dioceses de Évora, Leiria e Portalegre-Castelo Branco). O pessoal auxiliar é comum a todas as valências da Casa. Nela vivem também sacerdo-tes responsáveis por serviços diocesanos e por comunidades paroquiais.

Como estão as contas do seminário? Em quanto fica a formação de um padre?O resumo das contas do Seminário foi publicado no último número do órgão

oficial da Diocese “Leiria-Fátima”. No que se refere à formação de um novo padre, temos de distinguir entre as despesas com a formação (estudos), totalmente assumi-das pelo Seminário (ou pelas respectivas Dioceses) e as despesas com o alojamento que são assumidas pelas famílias na medida do possível. A título de exemplo, no ano lectivo passado, os custos mensais com a formação dos alunos do Ano Propedêutico rondou os 2800 euros por mês.

Nos últimos anos temos assistido a uma diminuição dos alunos. Essa é uma preocupação que atinge contornos graves? Que motivos há para alimentar a esperança?

Além da real diminuição do número de candidatos ao Seminário, também a op-ção pela desactivação progressiva, no Seminário Menor, do segundo e terceiro ciclos do Ensino Básico, fez aumentar essa preocupação. Acresce ainda o facto de as tenta-tivas para manter com dinamismo o Pré-Seminário e fazer uma promoção eficaz das vocações na Diocese terem passado, nos últimos anos, por sérias dificuldades. Da nossa Diocese, chega ao Tempo Propedêutico, em média, um candidato por ano.

Os motivos de esperança são os mesmos de sempre: Deus continua a chamar e no coração das novas gerações não falta a generosidade e a ousadia necessárias para abraçar projectos que façam da vida uma aventura apaixonante ao serviço de Deus e dos irmãos. Compete-nos, por um lado, criar condições para que a voz de Deus possa ser escutada e, por outro, oferecer aos que a ouviram oportunidades para discernirem o seu convite. Este trabalho passa necessariamente pela oração pessoal e comunitá-ria, e pelo lançamento de algumas iniciativas.

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O Seminário está a ser a referência que devia na vida da Diocese?As mudanças sociais dos últimos tempos foram de tal maneira profundas que

deixaram sem contexto favorável não só a instituição “Seminário” como a própria compreensão da vocação cristã e, em especial, embora não exclusivamente, da vocação ao ministério ordenado. O ambiente que respiramos não ajuda! Mas nem pensamos que isso seja o mais importante, certos, isso sim, de que o presente exige opções conscientes, alicerçadas na fé. É como amigos do Senhor e suas testemunhas no meio dos homens que somos convidados a viver. Daqui hão-de surgir comunida-des felizes, capazes de rever modos de agir e de levar à revitalização das instituições ao serviço da missão da Igreja.

Se caminharmos neste sentido, com a participação do presbitério e das co-munidades cristãs, será possível, não só redescobrir, como até aprofundar o lugar imprescindível do Seminário na vida da Diocese. Se é verdade que a Igreja precisa de novos ministérios, também é certo que, por vontade expressa do Senhor, ela não pode prescindir do ministério ordenado.

A par da revitalização da instituição Seminário, há ainda que considerar a refun-cionalização dos espaços do edifício, que já não são ocupados por duas centenas e meia de alunos, como há anos, e podem hoje acolher condignamente a cerca de meia centena de serviços, comissões, associações, movimentos e outras instituições da Diocese.

Qual a situação do Pré-Seminário?Depois de um arranque promissor, o Pré-Seminário passa por um período de bas-

tante instabilidade. Dentro do Projecto Pastoral Diocesano e no seguimento da Carta Pastoral do nosso Bispo “Descobrir a beleza e a alegria da vocação cristã”, estamos a trabalhar no relançamento deste serviço com as seguintes iniciativas: constituição do grupo do Pré-Seminário, edição de um “convite”, realização de encontros mensais (primeiro sábado de cada mês) e acompanhamento pessoal dos interessados.

Quais os projectos para o futuro em relação ao edifício e ao programa de for-mação?

No edifício do Seminário serão instaladas quatro valências: Comunidade do Se-minário, Casa de Retiros/Formação, Centro Pastoral e Residência de Padres. Em re-lação ao serviço que o Seminário possa prestar à Diocese, pensamos na revitalização da relação do Seminário com as Comunidades cristãs e na adequação do projecto do Seminário ao tempo presente. Isto significa, por um lado, promover a mútua coope-ração entre as paróquias/grupos e o Seminário, suscitando elos de ligação (animado-res vocacionais) e por outro, discernir as expectativas dos jovens e adolescentes, e propor modos de acompanhamento adequados à sua caminhada. Para uns, pode ser na família até ao Ano Propedêutico; outros poderão entrar no Seminário durante os anos do Ensino Secundário.

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Seminaristas em discurso directoEntrevistámos também três dos seminaristas que frequentam o Seminário de

Leiria, de várias proveniências:1 - Que motivou a tua vinda para o Seminário? Como foi o percurso até aqui?2 - Como defines a vida no Seminário, aspectos positivos e dificuldades?3 - Que aconselhas a um jovem que se interrogue sobre a sua vocação?4 - O Seminário na tua diocese é diferente? Em quê?

Nome: Juan Ramón García ReyesIdade: 22 anos Diocese: CoimbraPercurso de estudos: 12º Ano, inícios da Filosofia e Teologia no Instituto Teológico Verbum Dei em Guadalajara México, e um ano de estudos de Filosofia em Roma na Pontifícia Universitá Urbaniana.

1 - Nasci há 22 anos, numa cidade chamada Morelia, no centro do México. Como “bom cristão”, fiz tudo o que tinha a fazer, segundo a Igreja; a minha fé era muito simples e acreditava em tudo. Mas aos 15 anos deixei a fé porque não me dava res-postas, comecei a ter contactos com filosofias pessimistas: a fé era só para os fracos do espírito.

Mas a misericórdia de Deus, na pessoa de Cristo, saiu ao meu encontro quando tinha 16 anos. Nessa altura tive um encontro muito forte com Deus, comecei a co-nhecê-Lo mais de perto, sobretudo através da sua Palavra e dos sacramentos. Deus dava respostas claras e fortes à minha vida e a mensagem do Evangelho enchia o meu coração: senti vontade de lutar por um mundo melhor e viver para partilhar com os outros… Pouco a pouco, Deus deu-me as razões para existir e força para viver. Fiz uma caminhada com uma comunidade missionária durante 1 ano e meio, depois tive um dos momentos mais importantes da minha vida: o chamamento.

Foi em Julho do 2002. Num mês de exercícios espirituais, escutei com mais paz e tranquilidade a voz de Deus que me chamava a segui-Lo. Ffoi tão forte que deixei a minha família, os meus projectos e a namorada, terminei a escola e ingressei nos missionários de Guadalajara, México, onde estive 3 anos e vivi belas experiências missionárias: pude ver que muitos, hoje, ainda não conhecem o Amor de Deus e a sua graça. Por isso, a minha resposta foi “sim”. Tinha a experiência de viver sem Ele e sabia que muitos ainda crêem que não precisam d’Ele. Por isso, Jesus diz: “Vamos para outras partes, para as aldeias vizinhas, a fim de pregar aí, pois foi para isso que Eu vim” (Mc 1, 38), para dar a conhecer a Boa Nova da Salvação.

Assim, comecei a minha formação filosófico-teológica, um ano em Guadalajara e outro em Roma. Aprendi muito e o caminho que Deus está a fazer comigo tomou

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outro sentido: o chamamento a ser missionário, mais especificamente, como padre. É por isso que estou no Seminário de Leiria, pela diocese de Coimbra. Depois de uma caminhada espiritual de discernimento, cheguei ao Tempo Propedêutico e sigo o chamamento de Deus. Quero ser instrumento e mensageiro da alegria onde for preciso, mesmo longe da minha terra.

O que me fez vir para o Seminário foi o chamamento de Deus e o desejo de co-nhecer com certeza a sua vontade, que, dia a dia, se revela na oração e na formação que temos. A vida no Seminário, posso dizer, é de muita graça, alegria e fraternidade entre nós. Segundo a minha experiência, é uma vida em crescimento, onde tudo depende não apenas dos padres, mas também de nós: a responsabilidade primeira é nossa, atentos à voz de Deus e ao que Ele quer.

2 - É uma vida de oração, de formação, de conhecimento de nós próprios e de muita alegria, pois viemos de muitos lugares e realidades por causa do mesmo cha-mamento. Acho que os aspectos mais difíceis não são externos mas interiores, pois é no coração de cada um que se responde ao chamamento: não se tem vocação como se tem uma coisa ou um objecto, a vocação é a resposta a uma pessoa viva, Jesus Cristo.

3 - Aos jovens que se interrogam sob a vocação, só quero dizer que tenham os ouvidos abertos e o coração disponível para escutar o que Deus quer. Como disse o nosso amado papa João Paulo II: “Não tenhas medo de abrir as portas a Cristo”. Amigo, não tenhas medo de seguir o que Deus quer para ti, pois quem, mais do que Ele, sabe o que precisa a tua vida? Se Deus te pede algo, podes estar certo que será para a tua felicidade. Começámos o ano, no Seminário, com uma frase do papa Ben-to XVI, que, recentemente, me ajudou muito na oração: “Tu pertences-me, coloca-te nas minhas mãos e dá-me as tuas”. Que Deus conduza e acolha sempre a vida que Lhe queremos oferecer.

Nome: Benvindo Lopes Rodrigues Idade: 24 anos Diocese: Mindelo, Cabo Verde Percurso de estudos: 12º ano do liceu e um ano no Pré-Seminário, em Cabo Verde, mais propriamente no centro paroquial de Ribei-ra Grande, Santo Antão.

1 - Seria muito fácil responder esta pergunta se me limitasse simplesmente a dizer que foi por causa de Jesus Cristo ou para descobrir e até aprofundar a minha vocação. Mas, vou mais longe: foi porque recebi um chamamento de Jesus Cristo,

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tal como Ele chama cada Baptizado a descobrir a sua vocação independentemente de ser religiosa, matrimonial ou sacerdotal. Este chamamento ao qual respondi depois de muito me interrogar, é a causa da minha vinda para o Seminário. Até agora, em cada dia que amanhece, sinto que estou a vivê-lo e que ainda sou chamado.

Quanto ao meu percurso. Em 2001, conheci um padre chamado António Ferreira. O nosso primeiro encontro foi a coisa mais bizarra de toda a minha vida. Frequen-tava o 12º ano. Numa tarde de quinta-feira, andava com alguns colegas a passear na avenida que dá acesso ao liceu. Ele veio com o carro da paróquia contra mim, eu fugi e pensei “é doido, quer matar-me!”. Parou o carro, chamou-me e eu respondi. Olhou-me nos olhos, perguntou-me de onde era e, depois, disse que precisava de falar comigo, mas não disse quem era nem o que fazia. Fiquei muito espantado e per-guntei a mim mesmo se havia feito algo de errado. Como não era o caso, nem liguei. Mais tarde, voltámos a encontrar-nos e disse-me que era padre. Fiquei surpreendido, e mais ainda, quando me disse que a paróquia precisava de padres e eu tinha de ser um deles. Padre, eu? Em plena idade de namorar? Discutimos muito sobre o assunto e chegou ao ponto de me chamar arrogante. Fiquei fulo e fui-me embora.

Depois, com o andar do tempo, fui pensando no assunto, perguntando-me como seria a vida de um padre e quis saber mais. A primeira coisa foi a questão do celiba-to… o padre não pode casar. Só que, depois, descobri que quando nos entregamos a Cristo não perdemos nada, pelo contrário, ganhamos muito. Entretanto, continuei os meus estudos e terminei o 12º ano, mas com uma deficiência a Matemática, e tive que repetir a disciplina. Em Novembro de 2002, fui chamado para cumprir o servi-ço militar, onde passei cerca de um ano e meio. Saí em Maio de 2004. Em Julho e Agosto, tive alguns encontros com o padre Imã. Nessa altura, senti um chamamento muito forte por parte de Deus e aceitei fazer uma experiência, ali na casa paroquial onde vivem os padres. Fiz, então, uma carta endereçada ao senhor Bispo D. Arlindo e pedi que me aceitasse no Seminário. Aceitou-me e hoje estou aqui.

2 - Defino a vida no Seminário como um tempo de recolhimento, durante o qual nos familiarizamos mais com a pessoa de Jesus, descobrindo-O na intimidade da oração. Aprendemos a viver uma realidade completamente diferente da que viví-amos antes no Pré-Seminário, ou mesmo na nossa casa. Dá-se mais importância à vida em comunidade e à oração, que tem um papel muito importante na vida de qualquer seminarista. É também um tempo de equilíbrio das nossas emoções, que se definem e são trabalhadas de forma a seguir aquilo a que somos chamados, pois a Vocação não é um propósito “meu” mas uma graça de Deus.

Quanto aos aspectos positivos. A vida em Cristo é alegria, amor e fraternidade, pois Ele chama-nos a fazer parte de uma grande família. Já não temos um pai e uma mãe, mas pais e mães. O mesmo acontece com os irmãos: ganhas irmãos e irmãs em Cristo e tu e eles têm o mesmo lugar, os mesmos sentimentos, unidos pelo mesmo elo que é Cristo.

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Quanto aos aspectos difíceis. O caminho de Jesus não é realmente o mais fácil. É cheio de dificuldades e dúvidas. Mas Aquele que nos chama é o mesmo que nos sustenta o passo nos momentos em que o fardo nos parece pesado. Ele não permitirá que este fardo seja mais pesado do que as nossas forças. Aqueles que seguem Jesus, ao contrário do que muitos pensam, são das pessoas mais felizes e também verda-deiros donos da vida.

3 - A um jovem que se interrogue sobre a sua vocação, em primeiro lugar, acon-selhava-o a definir o que realmente significa a vocação. Não tem nada a ver com a questão das profissões. Depois, que procurasse alguém, de preferência um padre, que o ajudasse a descobrir progressivamente a sua vocação, independentemente daquilo que fosse, sacerdócio, matrimónio ou mesmo vida consagrada, pois a Igreja não precisa só de padres, mas também de casais e de jovens comprometidos com Deus e com a vida.

4 - Diferenças entre a minha diocese e esta não são grandes. É praticamente a mesma coisa. Já conhecíamos mais ou menos o ritmo. A carga horária é que talvez seja exagerada. Em Cabo Verde, o nosso dia começava as 06h30 e terminava, com as Vésperas, às 17h45. Mas o espaço era limitado e a casa não tinha o melhor ambiente. Aqui, para além do nosso quarto, temos outros espaços que nos permitem um íntimo recolhimento com Senhor.

Nome: Fábio Manuel Carvalho BernardinoIdade: 18 AnosDiocese: Leiria-Fátima (paróquia de Aljubarrota)Percurso de estudos: 1º ciclo na escola primária de Ataíja de Cima; 2º e 3º ciclos concluídos na Escola Frei Estêvão Martins, em Alcobaça; Secundário concluído na Escola Secundária D. Inês de Castro, também em Alcobaça.

1 - O que motivou a minha entrada no Seminário foi o apelo de Deus, que senti e sinto em mim, para dar tudo o que tenho ao Seu serviço, ao serviço dos irmãos e da Igreja. Durante este ano, esperarei pacientemente a “confirmação”, por parte de Cristo, daquilo que Ele deseja para a minha vida. É essa a finalidade deste tempo de discernimento vocacional e de adaptação à vida comunitária: que escutemos a voz de Deus, no íntimo de cada um de nós, e que sigamos em frente, de acordo com a Sua vontade.

Fui educado na fé cristã, numa família crente que pediu, para mim, o Baptismo, aos três meses de vida, e me inseriu na catequese. Recebi, assim, de Deus o Dom da fé e, ao longo destes anos de vida, tenho sentido dentro de mim algo que me faz

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ir em frente: “fazer-me ao largo”. Foi por volta dos 10 anos que comecei a pensar mais seriamente em ser padre. Olhando hoje para a minha infância, acredito que, já aí, Deus me chamava através da vontade que me incutia para a oração, diária e muito frequente, e para a aprendizagem de verdades sobre Cristo e sobre a Igreja, o que me fazia interpelar muitas vezes as pessoas mais velhas, como os meus pais, avós ou vizinhos mais idosos.

Foi um percurso simples, mas excepcional, porque cada caso é um caso e Deus chama cada um de maneira diferente, visto que cada pessoa é única aos Seus olhos.

2 - Para mim, é novo... Nunca tinha vivido uma experiência de vida comunitária tão longa, fora do seio familiar. Contudo, acho que ganho imenso com esta nova forma de vida, à qual ainda me estou a adaptar. Aqui, consigo mais tempo para a oração e para a contemplação, o que me permite escutar melhor a voz do Senhor, porque a vida, na sociedade de hoje, é tão frenética e agitada que se torna difícil obter espaço para o diálogo espiritual entre a pessoa, no seu íntimo, e Deus, que Se lhe comunica.

O que também se torna muito benéfico é, sem dúvida, esta experiência de vida em comunidade que irá ser, se Deus quiser, uma realidade para os meus próximos anos de Seminário. É, de facto, na oração comunitária, na entreajuda, na partilha e no convívio, que me vejo a beneficiar deste Tempo Propedêutico que, no entanto, não deixa de nos introduzir nas várias áreas de formação e de estudo, contribuindo para a nossa melhor compreensão da Fé e da Igreja. Devo ainda referir que as caracte-rísticas excepcionais do grupo, isto é, a grande diversidade, quer a nível das idades, quer a nível das proveniências, e as diferentes experiências que cada um viveu, são uma mais valia para todos, sobretudo para mim, que sou dos mais novos. Aprende-se muito com esta gente. Por ser o único “representante” desta diocese, sinto que pesa sobre mim uma grande responsabilidade...

Claro, para aceitar este desafio, tive que passar por dificuldades, como o afasta-mento da família, em geral, dos amigos, da casa, da terra. Custou-me, sobretudo, o afastamento dos meus pais e irmãos, dos quais nunca, antes, me tinha separado de maneira tão prolongada. Devo admitir ainda que o cumprimento do horário nem sempre é fácil, pois exige, e muito bem, que passemos a dividir o nosso tempo com mais rigor e que nos habituemos a este ritmo, o que, para mim, se torna um pouco difícil. Embora tivesse que cumprir horários, lá fora, nomeadamente, na escola e no trabalho, nessas situações quem poderia ficar prejudicado com a minha falta de pontualidade era apenas eu. Aqui, a comunidade depende de todos e a falta de pontu-alidade de alguém, não prejudica só o próprio, mas todo o grupo. A responsabilidade torna-se, assim, numa competência que importa adquirir.

Enfim, são algumas dificuldades que consigo enfrentar com amor, quando penso na presença constante de Jesus e Maria, caminhando ao meu lado e dando sentido ao percurso a que me chamaram.

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3 - Nos tempos que correm, os jovens revelam cada vez mais dificuldades em saber o que desejam para a sua vida. A crescente secularização da sociedade, o “ba-rulho” e o constante “bombardeamento” de propostas não tornam fácil a tarefa de optar por um percurso, que conduza à plena realização. É necessário parar. Penso que a denominada crise das vacações, de que tanto se fala, é consequência da falta de reflexão e da tomada de consciência de si próprio. O silêncio e a contemplação são meios eficazes que permitem o diálogo com Deus e a clarificação da vocação. O grande problema é a falta desse espaço tão importante, na vida espiritual da juven-tude cristã de hoje. Nesta situação de dúvida, o jovem deve procurar auxílio, quer na pastoral juvenil (oração e partilha comunitária), quer na pastoral vocacional, que procura ajudar a pessoa a discernir e a fazer despertar e crescer nela uma vocação que, porventura, a vida nesta sociedade tenha “ofuscado”.

Considero que o Pré-Seminário, que frequentei, pode fazer brilhar essa luz, o que terá, evidentemente, de contar também com o empenho pessoal. Com isto, não quero dizer que tal diga respeito, única e exclusivamente, à vocação para o ministério or-denado, mas à descoberta da vontade de Deus, seja ela qual for.

4 - Como já referi, sou desta diocese de Leiria-Fátima e é a primeira vez que vivo a experiência de Seminário, a tempo inteiro. O Pré-Seminário não foi uma experi-ência tão intensa como a do Tempo Propedêutico. Embora com encontros regulares, após o termo destes, regressava-se à sociedade do relativismo e da confusão. Na minha opinião, o Pré-Seminário é, mesmo assim, um importante passo que convém ser dado, antes da entrada no Seminário, propriamente dito, que, de modo nenhum, deve ser decidida de maneira precipitada.

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Irmã Maria de Lurdes Capelo

“Como nãohei-de estar feliz,se é o Senhora minha herança?”

No passado dia 8 de Setembro, o Convento de Santa Clara em Monte Real viveu um dia de festa, com a profissão religiosa dos Votos Perpétuos Solenes da irmã Ma-ria de Lurdes Capelo Fernandes, natural da Guarda. Presidiu à celebração eucarística D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima. No final, uma breve apresentação mul-timédia, preparada pela Comunidade, mostrou o percurso vocacional da irmã Maria de Lurdes. Fomos falar com ela sobre o seu percurso e motivações.

Quando se sentiu chamada à vocação religiosa?Aos dezassete anos, Deus bate à minha porta. No seio de uma família profunda-

mente cristã, sentia-me feliz e instalada. Não me dispunha a perder os meus privilé-gios, seguranças e tudo quanto o futuro me oferecia. Todavia, a voz de Deus não me deixava tranquila: “Deixa tudo, vem e segue-Me”.

Sentindo-se amada por Deus, soube desde logo que a sua vocação incluía a clausura?

Não. Nos meus horizontes não divisava a clausura. Ela surgiu quando a minha vocação amadureceu e compreendi que só na clausura poderia ser missionária a tem-po inteiro e, pelo amor, abraçar a Humanidade. Procurei conhecer o mais possível outras formas de espiritualidade e Vida Religiosa. Investiguei, estudei, aprofundei, rezei e procurei discernir qual o plano de Deus a meu respeito.

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Quando fez os primeiros votos?Emiti os primeiros votos, ou Profissão Temporária, a 15 de Setembro de 2002.

Professei só depois de ter feito uma caminhada que englobou várias etapas: um ano de Postulantado, que teve início no dia 4 de Junho de 1999, Festa da Ascensão. Ini-ciei a vida religiosa pela recepção do hábito da Ordem de Santa Clara, a 4 de Junho de 2000.

Agora, faz os votos perpétuos. Calculo que seja um momento de grande ale-gria...

Hoje, é um momento de alegria e júbilo. São verdadeiras as palavras de Santa Clara, quando diz: “A nossa vocação é o maior de todos os dons”. Entre tantas jovens da minha terra e da minha idade, o Senhor olhou para mim com amor de predilecção. Como não hei-de estar feliz, se é o Senhor a minha herança? Só posso dizer: “Que retribuirei ao Senhor por tudo o que Ele me dá?”

É também um momento de serenidade?Serenidade? Como não, se o Senhor me olha com amor constante?! Depois de

uma caminhada de alguns anos, aprendi e experimento que “o Senhor está sempre na minha presença; com Ele a meu lado jamais vacilarei. Por isso o meu coração se alegra e a minha alma exulta e até o meu corpo descansa tranquilo”. A minha alegria é estar dia e noite na presença do Senhor.

Que tarefas a esperam depois deste dia?As tarefas na clausura, sendo muito variadas, são, paradoxalmente, sempre as

mesmas. Não me preocupo com isso. “Basta a cada dia a sua malícia”. Entrego-me a Deus e Ele cuidará de mim, em cada dia me dará o Seu Pão. Eu sei que o combate é d’Ele e não meu.

Pobreza, virgindade, clausura e silêncio… são desafios muito grandes para as jovens de hoje?

O desafio é de facto grande, na medida em que o padrão social é o oposto do Evangelho. Pobreza, virgindade, obediência, clausura e silêncio, são um desafio para muitos jovens de hoje, porque incompatíveis com o espírito que campeia na socieda-de, cujos valores não são, precisamente, os valores evangélicos a que o espírito das Bem-Aventuranças convida. A sociedade consumista não suporta qualquer género de renúncia, privação ou ascese, enquanto Jesus convida à pobreza de espírito que, aliás, não é miséria. O mundo preconiza a liberdade desenfreada que é libertinagem, enquanto Jesus convida a fazer a vontade do Pai do Céu. O mundo oferece música ruidosa e alienante, atordoa com a desordem “stressante” e o rodopio depressivo, enquanto Jesus diz: “Vem comigo a um lugar silencioso e retirado”, que, para mim, é a harmonia silenciosa e criativa da clausura.

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Índice Geral - 2006

Ano XIV • Número 40 • Janeiro / Abril • 2006

EditorialUma pastoral (toda) vocacional? 5

Documentos PastoraisNomeações Episcopais 8

Comunicado do Conselho Presbiteral 8Nota Episcopal sobre a Quaresma 2006 9

Nota Pastoral sobre a Peregrinação Diocesana a Fátima 11Comunicado do Administrador Apostólico • Nomeação do Bispo diocesano 12

Em DestaqueD. António Marto é o novo Bispo diocesano • Tomada de posse será a 25 de Junho 13

Cartas Apostólicas 14Saudação à Diocese de Leiria-Fátima 15Nota biográfica de D. António Marto 16

Entrevista a D. Serafim • Aposta na sinceridade com olhar atento ao mundo 18

NotíciasResumo noticioso do quadrimestre 23

Santuário de FátimaResumo noticioso do quadrimestre 37

Serviços e movimentosLeiria acolheu Jornadas de Universitários Católicos • O trabalho do MCE nas escolas 44

Seminário Diocesano de Leiria • Resumo Geral de Contas - Ano de 2005 48

Vida ConsagradaAbertura das comemorações em Leiria • Franciscanos - Oito séculos de história 51

Mártires de Marrocos • Papiro da confirmação da Regra pelo Papa Honório III 52Entrevista a Fr. José Neves • Celebrar “A Graça das Origens” 53

Entrevista a Fr. Daniel • “Ser pobre é sair do seu ego para se abrir a Deus” 56

ReflexõesImpressões de uma peregrinação • Taizé - Um paraíso na terra 59

Celebração do Tríduo Pascal• Da morte à vida… o mistério da fé 63

AnexoTabela de Taxas, Tributos e Emolumentos (Província Eclesiástica de Lisboa) 67

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Índice Geral - 2006

Ano XIV • Número 41 • Maio / Agosto • 2006

EditorialEm júbilo! 85

Documentos PastoraisNota de despedida de D. Serafim 87

Nomeações Episcopais 88Missionários nas pegadas de Maria 89

Comunicação e inter-relação 90

Em DestaqueHomilia da entrada solene de D. António Marto na Diocese de Leiria

“Descobrir a beleza e a alegria da fé” 91Diocese acolhe calorosamente D. António Marto 96

Entrevista: “Quero conhecer ‘ao vivo’... vou deixar-me surpreender” 98

NotíciasResumo noticioso do quadrimestre 104

Santuário de FátimaResumo noticioso do quadrimestre 117

Serviços e movimentosComissão Diocesana das Comunicações Sociais

Entrevista ao padre Rui Ribeiro: “Ousadia, criatividade, profissionalismo” 125Comissão Diocesana Justiça e Paz • “Pobreza e Exclusão Social na Diocese” 129

Grupo diocesano Ondjoyetu está no Gungo • A missão no coração, o mundo nas mãos 131Colónia de Férias da Caritas • Monitores dão tudo por um sorriso 139

Confraria de Nossa Senhora da Encarnação 142

TemaDeus chama todos e cada um • Falar de vocações não é (só) falar de padres 143

Entrevista ao padre Armindo Janeiro: “Descobrir a condição de chamados” 145Jubileus sacerdotais: O padre, esse desconhecido 147

Marco Brites, diácono: “Deus chama-nos não por sermos bons mas para sermos bons” 157

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Índice Geral - 2006

Ano XIV • Número 42 • Setembro / Dezembro • 2006

EditorialCoesão europeia e solidariedade humana 165

Documentos PastoraisCarta Pastoral • Descobrir a beleza e a alegria da vocação cristã 169

A beleza e a alegria da vocação de especial consagração 181Arte Sacra em Fátima 192

Fátima no coração da História 194Abertura da Peregrinação Aniversária 196

Reconduzir para o centro do culto a verdadeira adoração de Deus 198Em Ti cantamos a Beleza da Misericórdia do Pai 201

Carta aos Jovens: Itinerário Vocacional 205O Todo-Poderoso fez em mim maravilhas! 206

“Vinde benditos de meu Pai”: A apoteose da Misericórdia 207Comunicação ao Conselho Presbiteral da Diocese de Leiria-Fátima 210Comunicado do Conselho Presbiteral da Diocese de Leiria-Fátima 216

Louvor e memória no final de um ano 217

Em DestaqueCarta Pastoral apresentada no Dia da Diocese • Assembleia marca início do ano pastoral 219

Entrevista ao padre Jorge Guarda, vigário-geral da Diocese 221

NotíciasResumo noticioso do quadrimestre 224

Serviços e movimentosA vocação do catequista • Entrevista ao padre José Henrique, director do SDECIA 239

SDECIA propõe reuniões para catequistas 243O Escutismo Católico Português 244

Entrevista a Margarida Marques • “O escutismo é lugar privilegiado para descobrir a vocação” 245Organismos que apoiam movimentos migratórios • Como Leiria acolhe os estrangeiros... 249

Entrevista a Olga Ferreira, técnica da AMIGrante 250Propostas de formação no CFC 252

Comissão Diocesana Justiça e Paz 253Centros de Preparação para o Matrimónio 254

MEC – programação e formação 254Movimento dos Convívios Fraternos 255

TemaSemana dos Seminários • Promover os “lugares vocacionais” 257

Entrevista ao padre Armindo Janeiro, reitor do Seminário Diocesano 258Seminaristas em discurso directo 261

Irmã Maria de Lurdes Capelo • “Como não hei-de estar feliz, se é o Senhor a minha herança?” 267

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Fax:• 244 845 039

E-mail• Gabinete Episcopal - [email protected]• Vigário Geral - [email protected]

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