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Boletim Paranaense de Geociências, n. 51, p. 77-88, 2002. Editora UFPR 77 CARACTERIZAÇÃO DOS ESTROMATÓLITOS DA FORMAÇÃO CAPIRU (PROTEROZÓICO) NAS REGIÕES DE MORRO AZUL E MORRO GRANDE: LESTE DO PARANÁ CHARACTERIZATION OF STROMATOLITES IN THE CAPIRU FORMATION (PROTEROZOIC) IN THE MORRO AZUL AND MORRO GRANDE REGIONS: EASTERN PARANÁ Sandra B. Guimarães 1 José Manoel dos Reis Neto 1 Rossano B. L. Siqueira 1 RESUMO As regiões de Morro Azul e de Morro Grande no leste do Paraná abrigam exposições de estromatólitos, compostos por formas colunares e esteiras microbianas na Formação Capiru do Grupo Açungui de idade Proterozóica. Estes estromatólitos estão associados a metadolomitos e indicam provável controle microbiano na geração de dois diferentes grupos: a) esteiras microbianas na região de Morro Azul e b) estromatólitos colunares na região de Morro Grande. Os estromatólitos colunares possuem até 35 cm de altura por 15 cm de diâmetro, ocorrem em colunas simples ou ramificadas, geralmente associadas a estruturas sedimentares plano-paralelas e a marcas de onda. Em planta, os estromatólitos são elipsoidais a circulares, onde a laminação interna se apresenta de ondulada a moderadamente convexa. As esteiras microbianas são compostas de uma sucessão de lâminas finas associadas a estruturas características de exposição subaérea como tepees e gretas de contração. As características morfológicas das estruturas estromatolíticas, associadas às estruturas sedimentares observadas nas diferentes litofácies, permitem caracterizar distin- tos ambientes de plataforma para as duas regiões: para a de Morro Azul, um ambiente de supramaré; enquanto para a de Morro Grande, um ambiente variando de entremarés a inframaré. Palavras-chave: estromatólitos, esteiras microbianas, metadolomitos, ambiente plataformal, Forma- ção Capiru e Proterozóico. 1 Departamento de Geologia, Universidade Federal do Paraná, cx. postal: 19001, CEP: 81531-990, Curitiba-PR, Brasil. [email protected], [email protected], [email protected]

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As regiões de Morro Azul e de Morro Grande no leste do Paraná abrigam exposições de estromatólitos,compostos por formas colunares e esteiras microbianas na Formação Capiru do Grupo Açungui de idadeProterozóica.

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  • GUIMARES, S. B. et al. Caracterizao dos estromatlitos da Formao Capiru...

    Boletim Paranaense de Geocincias, n. 51, p. 77-88, 2002. Editora UFPR 77

    CARACTERIZAO DOS ESTROMATLITOS DA FORMAO CAPIRU(PROTEROZICO) NAS REGIES DE MORRO AZUL E MORRO GRANDE:

    LESTE DO PARANCHARACTERIZATION OF STROMATOLITES IN THE CAPIRU

    FORMATION (PROTEROZOIC) IN THE MORRO AZUL AND MORROGRANDE REGIONS: EASTERN PARAN

    Sandra B. Guimares1Jos Manoel dos Reis Neto1

    Rossano B. L. Siqueira1

    RESUMO

    As regies de Morro Azul e de Morro Grande no leste do Paran abrigam exposies de estromatlitos,compostos por formas colunares e esteiras microbianas na Formao Capiru do Grupo Aungui de idadeProterozica. Estes estromatlitos esto associados a metadolomitos e indicam provvel controle microbianona gerao de dois diferentes grupos: a) esteiras microbianas na regio de Morro Azul e b) estromatlitoscolunares na regio de Morro Grande. Os estromatlitos colunares possuem at 35 cm de altura por 15 cmde dimetro, ocorrem em colunas simples ou ramificadas, geralmente associadas a estruturas sedimentaresplano-paralelas e a marcas de onda. Em planta, os estromatlitos so elipsoidais a circulares, onde alaminao interna se apresenta de ondulada a moderadamente convexa. As esteiras microbianas socompostas de uma sucesso de lminas finas associadas a estruturas caractersticas de exposiosubarea como tepees e gretas de contrao. As caractersticas morfolgicas das estruturas estromatolticas,associadas s estruturas sedimentares observadas nas diferentes litofcies, permitem caracterizar distin-tos ambientes de plataforma para as duas regies: para a de Morro Azul, um ambiente de supramar;enquanto para a de Morro Grande, um ambiente variando de entremars a inframar.

    Palavras-chave: estromatlitos, esteiras microbianas, metadolomitos, ambiente plataformal, Forma-o Capiru e Proterozico.

    1 Departamento de Geologia, Universidade Federal do Paran, cx. postal: 19001, CEP: 81531-990, Curitiba-PR, [email protected], [email protected], [email protected]

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    ABSTRACT

    The Morro Azul (regio de Morro Azul) and the Morro Grande (regio de Morro Grande) regions ineastern Paran contain columnar stromatolites and microbial mats in the Capiru Formation of the AunguiGroup of Proterozoic age. These structures are associated with metadolomites, indicating probable microbialcontrol in the formation of two different groups of stromatolites: a) columnar stromatolites in regio de MorroGrande and b) microbial mats in the regio de Morro Azul. Columnar stromatolites reach up to 35 cm in heightand 15 cm in diameter as columns or branched generally associated with plane-parallel sedimentary structuresand wave marks. In cross-section, the stromatolites are elliptical to circular, and the lamination is wavey tomoderately convex. The microbial mats are composed of a succession of fine laminal associated with structurescharacteristic of subaerial exposure, such as tepees and mud cracks. The morphlogic features of thestromatolites and the observed sedimentary structures in the different lithofacies suggest distinct shelfenvironments for the two regions: for regio de Morro Azul, a supratidal facies, while in the regio de MorroGrande, an environment varying from intertidal to infratidal.

    Key-words: stromatolites, microbial mats, metadolomites, shelf environment, Capiru Formation andProterozoic.

    INTRODUOA regio de Morro Azul (RMA) abrange uma rea

    de cerca de 17 km2 e est situada no municpio de Almi-rante Tamandar (figura 1); j a regio de Morro Grande(RMG) uma rea com cerca de 15 km2, localizada nomunicpio de Colombo. Ambas pertencem regio me-tropolitana de Curitiba, capital do estado do Paran. Es-tes locais, que abrigam timas e numerosas exposiesestromatolticas, foram encontrados por ocasio demapeamentos geolgicos, visando caracterizao dasrochas metadolomticas quanto ao quimismo, petrografiae anlise faciolgica. Os afloramentos ocorrem numa reade minerao de fcil acesso e caracterizam as rochascalcrias desta faixa, permitindo estudos paleontolgicosdo Proterozico brasileiro. Baseado nestas justificativas,este trabalho teve como objetivo principal uma descriodetalhada visando caracterizao morfolgica e inter-pretao paleoambiental dessas formas estromatolticas,nas duas distintas regies.

    Os estromatlitos so estruturas biossedimen-tares formadas por meio de atividade microbiana(cianobactrias, algas) em ambientes aquticos. Soconsideradas as mais antigas evidncias macroscpicasda vida na Terra (~3,5 Ga Grupo Warrawoona, Austr-lia), mas so encontradas em todos os continentes, emrochas sedimentares de todas as idades geolgicas, prin-cipalmente em rochas com idades Proterozicas, sendoque nesta poca atingiram o mximo de diversidade edistribuio geogrfica.

    Os primeiros estudos sobre os estromatlitosocorrentes no Grupo Aungui foram de Almeida (1944),que os descreveu como Collenia itapevensis, nosmetadolomitos ao sul da cidade de Itapeva-SP. Em 1956,Bigarella e Salamuni reportaram uma ocorrncia desses

    estromatlitos que denominaram de Colennia numa lar-ga faixa de metadolomitos da Formao Capiru. Estesautores tentaram fazer uma comparao aosestromatlitos descritos na Faixa Itaiacoca, distante apro-ximadamente 40 a 60 km a NW, conforme descrio deAlmeida (1957). Fairchild (1977) questionou esta prticacomparativa, observando que as assemblias deestromatlitos das duas formaes possuam caracte-rsticas distintas.

    CONTEXTO GEOLGICOA Formao Capiru constituda por rochas

    metadolomticas, filitos, xistos e quartzitos, cortados pordiques bsicos de idade Mesozica e cobertos por aluvi-es quaternrios.

    Nos metadolomitos onde ocorrem as estruturas

    Figura 1: Mapa de localizao das regies de Morro Azul e Morro Grande-PR,Brasil. Location map of the Morro Azul and Morro Grande regions-PR, Brazil.

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    estromatolticas, nos ltimos anos, dois trabalhos rele-vantes e de origem estrutural foram apresentados: asrochas metadolomticas das regies de Morro Azul eMorro Grande foram denominadas por Fiori (1994) comopertencentes seqncia Morro Grande, enquanto aCPRM (1998) denominou essas mesmas rochas comopertencentes faixa de MC2 (Mesoproterozico Capiru2), (figura 2).

    Os autores concordaram, em seus trabalhos, queo metamorfismo que teria atuado nas litologias das duasregies teria sido o da Fcies Xisto Verde Zona, da Cloritae no relacionaram diferenas significativas entre uma eoutra faixa. A regio de Morro Azul est localizada prxi-ma falha da Tranqueira e falha da Lancinha. J aregio de Morro Grande situa-se junto falha do MorroGrande, mais prximo do anticlinrio do Setuva, prximo Gruta de Bacaetava.

    Embora as duas regies apresentem-se dentro domesmo contexto geolgico corroborado pelos dois tra-balhos, existe uma variao da morfologia dosestromatlitos ocorrentes em uma e outra rea.

    Nas duas regies foram observados seis tipos deestromatlitos com morfologias distintas: a) esteirasmicrobianas na regio de Morro Azul e; b) estromatlitoscolunares de cinco tipos na regio de Morro Grande.

    ras coesivas, no litificadas, mas com formas de estei-ras microbiais achatadas. Depsitos semelhantes soos produtos mais estudados da sedimentao microbial.Eles eram citados como carbonatos criptalgal laminados(Aitken 1967), sedimentos algais laminados (Davies1970), estromatlitos estratiformes (Walter 1976) eestromatlitos potenciais (Krumbein 1979).

    Figura 2: Mapa Geolgico de parte de Curitiba. (Mapa Geolgico CPRM1198.)No mapa, as reas cinza-escuro caracterizam a unidade MC1. (CPRM 1998).Geological map of part of Curitiba. Geological map (CPRM, 1998). The squareslimits the studied areas (Morro Azul and Morro Grande regions). On the map, dedark gray area caracterizes the MC1 unit (CPRM, 1998).

    OCORRNCIAS NA REGIO DE MORRO AZULNesta regio se observou a predominncia de

    morfologias do tipo esteiras algais, em quase todosafloramentos (figura 3). Estas estruturas so aqui deno-minadas como do tipo 1. Apresentam certo paralelismotalvez em decorrncia do envolvimento e oarmadilhamento de sedimentos que produzem estrutu-

    Figura 3: Esteiras microbianas (tipo 1). Microbial mats (type 1).

    A morfologia das esteiras microbianas e das lmi-nas estromatolticas pode conter dados no somentesobre a comunidade microbiana que a edificou, mas tam-bm sobre as condies ambientais ento existentes,como exposies subareas, correntes e ondas. Aslaminaes microbianas possuem espessurassubmilimtricas a milimtricas e encontram-se interca-ladas a outras estruturas (ora plano-paralela, ora tepees).A amplitude entre cada laminao varia em torno de 0,5a 1,5 mm.

    A rocha onde se observam estas estruturas ummetadolomito holocristalino, ora equigranular, orainequigranular, cinza-claro a cinza-escuro ao que tudoindica estar caracterizando ciclos regulares. Estruturascruzadas so observadas principalmente em nveis ex-postos pela dissoluo crstica, com uma amplitudecentimtrica e sets que variam entre 15 e 30 cm de es-pessura. Os principais tipos de estruturas cruzadas soos do tipo simples e os do tipo acanalado, esses geral-mente paralelos e simtricos, passando aparentementeaos tipos chamados marcas onduladas, bem como aoutros de aspecto anastomosado. Associado a estrutu-ras cruzadas foi observada a presena de estruturas dotipo tepees e gretas de dissecao (figura 4) indicandoperodos de exposio.

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    As esteiras microbianas representam camadas deestromatlitos estratiformes que ocorrem intercaladascom camadas de metadolomitos muito finas e camadasde metasiltitos carbonticos (dolarenito mdio/grosso).

    A marcante presena de siliciclastos finos nesta

    ESTRUTURAS DO TIPO 2

    Ocorrem nas proximidades das UTMs 7.208.188N e 679.665 em metadolomitos (dololutitos-mdios) decores cinza-claro a cinza-escuro, com granulao de finaa mdia, textura granoblstica e estrutura macia, asso-ciadas a estruturas sedimentares plano-paralela e rtmi-cas. Esse tipo de estromatlito pode ser caracterizadopor colunas delgadas (figura 5), subcilndricas de maisou menos 5 cm de dimetro e, aproximadamente, 35 cmde comprimento. As colunas encontram-se paralelas entresi e esto separadas uma das outras por uma distnciade mais ou menos 1 a 3 cm, so eretas e no ramificadas.As lminas internas so convexas e finamente intercala-das. Os estromatlitos so isolados (individualmente),subcilndricos, retos e com a atitude normal a recumbente,s vezes encontram-se inclinados, coalescidos na basee geralmente uniformes em seus dimetros. A ornamen-tao marginal lisa, s vezes com costelas e ocorremcom muita freqncia. As lminas internas lisas so pou-co convexas. O relevo sinptico das lminas baixo e ograu de herana de laminao alto e simtrico. Estru-tura laminar marginal inflectida sem superposio. Aritmicidade laminar bastante desenvolvida.

    ESTRUTURA TIPO 3

    O segundo tipo de estromatlito ocorre nas proximi-dades das UTMs 7.208.173N e 679.706, em rochasmetadolomticas (doloruditos e dolarenitos grossos), comcor cinza-claro, encontrando-se intercalado a nveiscentimtricos de colorao cinza-escuro, granulao m-dia e estrutura macia. Os estromatlitos formam dese-nhos dmicos a subsfricos isolados, prximos um do ou-tro (1 a 2 cm de distncia), com at 5 cm de dimetro. Osestromatlitos so colunares, cilndricos a subcilndricos,bifurcados em formato da letra U, podendo ser coalescenteno topo (figura 6). As formas em planta (contorno transver-sal perpendicular ao eixo principal de crescimento) so ge-ralmente lobadas a elpticas. Esse tipo de estromatlito(figura 6) tambm se apresenta com aproximadamente 14cm de comprimento e um contorno transversal circular aelptico de aproximadamente 5 cm de dimetro, caracteri-zando estromatlitos finos e eretos. Na borda dosestromatlitos, em contato com os sedimentos de tempes-tades (doloruditos e dolarenitos inter-recifais), as colunasso geralmente inclinadas a recumbentes. No tocante variabilidade de dimetro ao longo do eixo das colunas, osestromatlitos deste grupo so considerados uniformes,podendo ser decrescentes. As laminaes internas lisasso geralmente pouco a moderadamente convexas, podendo

    Figura 4: Gretas de dissecao em metadolomitos (fcies evaporitos-supramar). Desiccation cracks in metadolomites.

    localidade, inclusive delineando as laminaesestromatolticas, evidencia a resistncia intemprica dascomunidades microbianas bentnicas. Os estromatlitosestratiformes desenvolveram-se na zona de supramar,onde o influxo de siliciclastos normalmente pequeno.Estas estruturas biossedimentares foram severamenteafetadas durante estes eventos de influxo com intensida-de varivel, cujos efeitos vo desde quebramento de co-lunas de estromatlitos at deposio de filmes de lamaque delineiam as laminaes estromatolticas.

    OCORRNCIAS NA REGIO DE MORROGRANDE

    Na regio de Morro Grande ocorrem estroma-tlitos colunares em uma camada de continuidade late-ral com aproximadamente 80 me 120 m de espessura.Essas ocorrncias so comuns nas frentes de lavrasprximas Gruta do Bacaetava, na estrada que liga omunicpio de Colombo com a sede do distrito de MorroGrande. Nesta localidade ocorrem lavras ativas dasempresas Tancal, Calfibra, Calbroto e Polical, uma se-guida da outra no sentido E-W, onde foram identificadascinco formas estromato-lticas que apresentammorfotipos tpicos e distintos entre si. Para a descriodessas formas utilizou-se o guia de classificao paraestromatlitos, sugerido por Fairchild que se baseouem Grey (1989) (comunicao verbal).

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    B - Formas simtricas, e com posicionamento regular sobre ritmitos emmetadolomitos.

    C - Formas mantendo simetria, coalescente na base e topo. D - Formas eretas mantendo um paralelismo entre elas.

    Figura 5: Estromatlitos Colunares do tipo 2. Columnar stromatolites of type 2.

    A - Formas sem preservao de simetria e posicionamento (imagemrenderizada para melhor observao).

    ser suavemente retangulares. O relevo sinptico das lmi-nas normalmente baixo e o grau de herana de naturezada laminao alto. Lateralmente tem continuidade, cur-vando-se para baixo, sem formar a parede externa ou en-trando em sedimentos intercolunares. A ritmicidade dalaminao bastante desenvolvida, devido ao acrescenta-mento paralelo e alternncia marcante da cor e da espes-sura. As camadas claras e escuras (matria orgnica) en-contram-se finamente intercaladas.

    ESTRUTURA TIPO 4

    Esse tipo de estromatlito ocorre em rochasmetadolomticas (metadololutitos finos) de colorao cin-

    za-claro a cinza-escuro, com granulao fina e texturagranoblstica, nas proximidades das UTMs 7.208.173 Ne 679.744 E. Este tipo de estromatlito est caracteriza-do por sua seo transversal (figura 7), alongada bemdefinida desenvolvendo uma estrutura semelhante a for-ma da letra Y. As lminas so caracteristicamente muitoconvexas a parablicas, apesar de algumas serem leve-mente convexas e no estarem ligadas lateralmente.Ramificaes parecem ser relativamente comuns, estassaindo com projees laterais, com a aparncia da letraY (ramificaes paralelas).

    A natureza da ramificao normalmente passivaou paralela, nesse caso do tipo Y (em que a largura deramificao fica constante), mas pode ocorrer tambm

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    D - Estruturas rtmicas associadas estromatlitos em forma de U.

    Figura 6: Estromatlitos do tipo 3. Stromatolites Type 3.

    C - Estromatlitos do tipo 3 em formato da letra U.

    A - Exposio caracterstica dos estromatlitos do tipo 3 em formato deU.

    B -Estromatlitos do tipo 3 com altura maior do que a maioria.

    ramificao tipo beta (ligeiro aumento de largura da colu-na principal antes da ramificao). Essas estruturas cor-rem como estromatlitos subsfricos e seu morfotipo lateralmente descontnuo ramificado turbinado a cilndri-co. A atitude das formas de normal (ereta) a curva, coma proximidade entre colunas de mais ou menos 5 cm. Aramificao dicotmica paralela do tipo Y, sendo quelocalmente observam-se algumas estruturas do tipo gamae outras moderadamente divergentes. A ornamentaomarginal como costela e a estrutura marginal inflectidasem superposio. As estruturas apresentam comprimen-tos de 30 a 40 cm e largura de 13 a 18 cm. H dimen-ses com perfis laminares moderadamente convexos eque esto associadas estrutura plano-paralela.

    ESTRUTURA TIPO 5

    O quinto tipo de estromatlito ocorre nas proximi-dades das UTMs 7.208.262N e 679.839 em rochasmetadolomticas (dololutito fino/mdio), colorao cinza-clara e ocorrem intercalados a nveis centimtricos decolorao cinza-escuro, granulao mdia e estruturamacia. Os estromatlitos formam litoermas dmicas asubsfricas isoladas, prximas uma da outra (aproxima-damente 1 a 2 cm), com at 5 cm de dimetro. Aslitoermas esto associadas a dololutitos mdios a finos,estes depositados sob influncia das mars altas emque predomina sobre as estruturas uma lmina dguabem espessa. Os estromatlitos so colunares, cilndri-cos a subcilndricos, bifurcados sucessivamente em for-

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    mato ramificado. As formas em planta (contorno trans-versal perpendicular ao eixo principal de crescimento) sogeralmente lobadas a elipsoidais. Esse tipo deestromatlito (figura 8) possui aproximadamente 30 cmde comprimento e um contorno transversal circular aelptico de aproximadamente 5 cm de dimetro. Na bor-da dos estromatlitos em contato com os sedimentos,as colunas so geralmente inclinadas a recumbentes.Para cima a laminao lisa e pouco a moderadamenteconvexa, podendo ser suavemente retangular. O relevosinptico das lminas normalmente baixo e o grau deherana de natureza da laminao alto. Lateralmentetem continuidade, curvando-se para baixo, sem formarparede externa ou entrando em sedimentosintercolunares. As camadas de colorao cinza-claras e

    cinza-escuras (matria orgnica) encontram-se finamenteintercaladas.

    O morfotipo lateralmente descontnuo, subciln-drico a tuberoso, de atitude ereta inclinada a decumben-te. A ramificao dictoma muito divergente e as proje-es laterais tambm. Ocorre com pouca freqncia e asua ornamentao lateral em tipo de costelas.

    ESTRUTURA TIPO 6

    Esse tipo de estromatlito (presente em estrutu-ras oolticas) ocorre em rochas metadolomticas de colo-rao cinza-clara a cinza-escura (metadololutitos mdi-os/grossos), com granulao fina e textura granoblstica,nas proximidades das UTMs 7.208.220 N e 679.838 E.

    A - Estromatlito tipo 4 com projees paralelas.

    Figura 7: Estromatlitos do tipo 4. Type 4 stromatolites.

    B - Imagem renderizada, para melhor visualizao, dos estromatlitos do tipo4 mostrados na letra A (ao lado).

    C - Tipo 4 com projees desiguais em comprimento.

    D - Tipo 4 com a haste alongada

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    Figura 9: Estromatlitos do tipo 6, zona de inframar. Type 6 stromatolites, subtidal zone.

    A - Estromatlitos em corte transversal. Formas circulares, elipsoidais eenvelopadas.

    B - Estromatlitos onde se pode observar o contorno elptico (corte trans-versal).

    B - Estrutura bem ramificada.

    Figura 8: Estromatlitos do tipo 5. Type 5 stromatolites

    A - Estrutura (em escuro) com projeo secundria.

    Este tipo de estromatlito est caracterizado por suaseo transversal, achatada, elptica e circular com mar-gens suaves, bem definidas (figura 9). Os estromatlitosso de pequeno tamanho (3 cm) e aproximadamente 10cm de dimetro. Essa medida aumenta para cima, ad-quirindo formas abauladas, com lminas muito conve-xas. O relevo sinptico das lminas normalmente bai-xo e o grau de herana da laminao alto. Estas estru-

    turas no apresentam no topo uma orientao paralela epolarizada, podem ser classificadas como oncides, ain-da que paream pequenas colunas bulbosas a infladas.As camadas claras e escuras (matria orgnica) encon-tram-se finamen-te intercaladas. A faixa de ocorrnciadeste tipo de estrutura estromatoltica restrita, pormocorre em uma camada especfica da seo colunar, comaproximadamente 2,5 m de espessura.

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    MORFOTIPOS ESTROMATOLTICOS OCORREN-TES NAS DUAS REGIES

    As caractersticas compartilhadas pelas diversasformas e as diferenas diagnsticas ocorrentes entre elasesto resumidas no quadro 1, onde so abordados deforma esquemtica os contornos das estruturasestromatolticas, as estruturas sin-deposicionais asso-ciadas e a localizao precisa das ocorrncias (projeoUniversal Transversa de Mercator UTM, SAD 69-22S,meridiano central 51).

    PALEOGEOGRAFIA DA REGIO DE MORRO AZULE REGIO DE MORRO GRANDE

    Embora as regies de Morro Azul e Morro Grandeocorram na mesma seqncia litolgica, observou-se quea primeira possui estruturas estromatolticas esedimentares sin-deposicionais, totalmente diferentesdas ocorrentes na segunda.

    Diferentes pacotes de rocha, hoje justapostos ladoa lado, podem ter sido originados em ambientes bastan-te distintos e distantes estando, na realidade, justapos-

    Quadro 1: caractersticas morfolgicas dos diversos tipos de estromatlitos, seus desenhos esquemticos e sua localizao.Morphologic characteristics of the stromatolite types, their schematic drawings and location.

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    tos por grandes falhamentos, o que leva a concluir quesua ordenao atual no de ordem estratigrfica e simtectnica. No obstante essa dificuldade, possvel es-boar uma tentativa de interpretao ambiental, tendo-se por base certas evidncias, como estruturasorgangenas, estruturas e texturas sedimentares, asso-ciaes litolgicas etc.

    Na regio de Morro Azul os dolarenitos apresen-tam acamamento paralelo e contnuo, com camadas deespessura centimtrica, intercaladas com lminas irre-gulares, ondulantes e alternadas de dolossiltitos edolarenitos muito finos a finos. A porosidade fenestral estpreenchida por cristais de dolomita e ndulossubmilimtricos de calcita. Camadas brechadas comintraclastos tabulares de dimenses centimtricas socomuns nesta litofcies.

    As caractersticas desta faixa indicam uma depo-sio em ambiente peritidal protegido da ao das on-das, onde as camadas de dolarenitos representam de-posio episdica durante tempestades e as lminas ir-regulares so o produto do crescimento de comunidadesmicrobianas, nos perodos calmos intervenientes. Emanalogia com os modelos atuais, as fenestras, osteppes, as brechas de ressecao e as gretas de con-trao formaram-se quando os sedimentos lamosos fo-ram expostos, provocando o ressecamento e a expan-so dos tapetes microbianos. O ressecamento das ca-madas lamosas j cimentadas produziu os intraclastostabulares que foram erodidos e redepositados durante osepisdios de tempestades. Os estromatlitos descritoscomo esteira microbiana ou do tipo 1 caracterizam,ento, um ambiente deposicional da fcies de supramar.Barreiras recifais protegiam esta regio das ondas e mar,sendo que estes estromatlitos formavam-se no interiordessas barreiras.

    A morfologia dos estromatlitos da regio de Mor-ro Grande em associao com as estruturas sin-deposicionais (plano-paralelas e rtmicas) caractersti-ca de regies de intermars de praias abertas, onde aforte movimentao das guas inibe o crescimento deligaes laterais entre as estruturas ou removem-nas logoaps a sua formao. Talvez a principal condio para odesenvolvimento das estruturas biossedimentares tenhasido a limpidez da gua naquela ocasio e h unanimi-dade entre diversos autores em admitir condies mari-nhas para a sua deposio.

    Os estromatlitos do tipo 2 provavelmente foramformados em regies de supramar a intermar (fciesestromatlitos colunares), na poro mediana entre amar alta e a mar baixa, onde exposies areas eramfreqentes, uma vez que na zona de mar alta ficam maistempo expostos do que submersos.

    Figura 10 Sees colunares mostrando a faixa de metadolomitos ocorrentesna seqncia Morro Grande (Fiori 1994) ou MC2 (CPRM 1998) e as ocorrnciasestromatolticas . Columnar sections showing the metadolomites in the MorroGrande Sequence (Fiori 1994) or MC2 (CPRM 1998) and the stromatoliteoccurrences.

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    Estromatlitos tipo 1

    Estromatlitos tipo 2

    Estromatlitos tipo 3

    Estromatlitos tipo 4

    Estromatlitos tipo 5

    Estromatlitos tipo 6

    A anlise integrada considerando a relao dostipos estromatolticos com os possveis ambientes desedimentao para a seqncia Morro Grande ou MC1permite concluir que as litologias da regio de Morro Azule regio de Morro Grande foram depositadas em umambiente marinho plataformal. A regio de Morro Azulcaracteriza um ambiente plataformal da fcies evaporitos (supramar superior) a fcies lamitos algais-microbianas (supramar), onde a plataforma deveria ficarexposta durante algum intervalo de tempo. J a regio deMorro Grande com a diversidade de seus cinco tiposestromatolticos (tipos 2, 3, 4, 5 e 6), porm sempre emassociao com estruturas sin-deposicionais plano-pa-ralelas e rtmicas, caracteriza um ambiente deposicional,tambm plataformal, porm do fcies estromatlitoscolunares e a fcies dolarenitos onclitos, intermars ainframars (figura 11).

    J os estromatlitos do tipo 3 esto associados ametadoloruditos intraclsticos, depositados sob influn-cia de ondas de tempestades. As microfciescarbonticas e estruturas sedimentares associadas sconstrues biossedimentares do tipo 3 sugerem umambiente de submar rasa, com oscilaes em profundi-dades sob a influncia de tempestades.

    Os estromatlitos do tipo 4 podem ser classifica-dos tambm como de guas mais ou menos agitadas,ambiente de intermar, na fcies estromatoltico colunar(figura 10).

    As microfcies carbonticas e as estrutu-ras sedimentares associadas (plano-paralela) ca-racterizam o paleoambiente dos estromatlitos dotipo 5 como sendo um mar mais profundo, hajavisto os seus comprimentos que chegam a atingirat 30 cm. Este amplo comprimento pode signifi-car que estas estruturas se formaram em guasrelativamente profundas e em condies maisuniformes.

    As estruturas biossedimentares do tipo 6 poderi-am ter ocorrido em feies inframar, no nvel de marbaixa, em dolarenitos onclitos, onde a mxima relaogro/lama verificada. As estruturas sedimentares as-sociadas s construes biossedimentares desse tiposugerem que possam ter sido formadas em um ambien-te de transio entre margem e plataforma, com oscila-es em profundidades sob influncia de tempestades.

    A variao dos tipos estromatolticos para as duasregies est representada na figura 9.

    Figura 11: Perfil esquemtico mostrando a distribuio morfolgica dos estromatlitos. Schematic profile, showing the distribuition ofstromatolite morphologies.

  • GUIMARES, S. B. et al. Caracterizao dos estromatlitos da Formao Capiru...

    Boletim Paranaense de Geocincias, n. 51, p. 77-88, 2002. Editora UFPR88

    A caracterizao de ambientes distintos, por meioda associao da forma e tipo de estromatlito com asdiferentes estruturas sedimentares, permite determinar quea seqncia Morro Grande/MC1 foi formado em um con-texto plataformal raso. Foi possvel caracterizar tambmque essa plataforma de idade Proterozica foi gerada emum ambiente de mar baixa (inframar) at, possivelmen-te, em um ambiente de mar alta ou supramar.

    AGRADECIMENTOS

    Gostaramos de agradecer a UFPR pela conces-so de auxlio financeiro para estudo de campo e anli-ses qumicas, atravs do processo FDA, n. 124199. Osautores tambm agradecem ao prof. Dr. Thomas R.Fairchild pela orientao nas descries das morfologiasestromatolticas e pela crtica construtiva.

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    Recebido em 6 ago. 2001Aceito 30 maio 2002