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430 ATLETISMO SE APRENDE NA ESCOLA IV 1 Sara Quenzer MATTHIESEN 2 Mellissa Fernanda Gomes da SILVA, Vagner Matias do PRADO, Guy GINCIENE, 3 Ivan Luis dos SANTOS, Fernando Paulo Rosa de FREITAS. 4 Resumo: Considerado como um esporte clássico, o atletismo deveria ser trabalhado, em sua plenitude, no campo da Educação Física Escolar. Não por outro motivo, o objetivo deste trabalho consistiu em viabilizar o ensino do atletismo a partir de uma perspectiva histórica, averiguando as principais modificações técnicas, normativas e conceituais ocorridas em suas provas desde suas origens até os dias atuais. Por meio de uma pesquisa histórico-bibliográfica resgatou-se o histórico das provas dos 100 metros rasos, do lançamento do disco e do arremesso do peso, refletindo-se sobre a possibilidade de aplicação em aulas de Educação Física. Com base no desenvolvimento de um mini-curso envolvendo atividades especificamente voltadas ao ensino dessas provas a partir de uma perspectiva histórica, procurou-se criar subsídios capazes de orientar o trabalho do professor de Educação Física em suas aulas. Os resultados advindos da criação desse material e de sua aplicação no campo escolar foram inestimáveis demonstrando que é possível ensinar o atletismo a partir de uma perspectiva histórica em aulas de Educação Física na escola. Palavras-chave: Atletismo, Educação Física Escolar; História do Esporte; Educação. INTRODUÇÃO Considerado como um esporte clássico, passível de ser trabalhado em aulas de Educação Física, o atletismo tem sido um dos alvos dos projetos do Núcleo de Ensino da Prograd/Unesp que tem como preocupação incentivar projetos relacionados à Educação Infantil, Fundamental e Médio do Sistema de Ensino Público bem como suas possibilidades de implementação no que se refere à ações educativas e inclusivas. Assim, com base no Projeto do Núcleo de Ensino “Atletismo se aprende na escola”, iniciado em 2003, como parte das atividades desenvolvidas pelo GEPPA – Grupo de Estudos Pedagógicos e Pesquisa em Atletismo, 5 o projeto para o ano de 2006, tomou um rumo diferenciado. Em linhas gerais diríamos que o projeto abordou um tema inédito no campo da Educação Física ao trabalhar algumas das provas do atletismo a partir de uma perspectiva 1 Apoio: Núcleo de Ensino – PROGRAD/UNESP-2006. GEPPA – Grupo de Estudos Pedagógicos e Pesquisa em Atletismo. Departamento de Educação Física, UNESP - Rio Claro/ SP. 2 Autora e coordenadora do Projeto “Atletismo se aprende na escola IV” e do GEPPA – Grupo de Estudos Pedagógicos e Pesquisa em Atletismo da UNESP-Rio Claro. 3 Bolsistas do Núcleo de Ensino – PROGRAD/UNESP-2006. 4 Colaboradores do Projeto “Atletismo se aprende na escola IV”. 5 Sobre o assunto ver: MATTHIESEN, S. Q.; CALVO, A. P.; SILVA, A. C. L.; FAGANELLO, F. R. Atletismo se aprende na escola: o Projeto do Núcleo de Ensino da UNESP/Rio Claro 2003. In: Núcleos de Ensino da Unesp - Publicação 2006. São Paulo: Universidade Estadual Paulista/FUNDUNESP, 2006, p. 587-611, ISBN: 85.7139.663-9. MATTHIESEN, S. Q.; CALVO, A. P.; SILVA, A. C. L.; FAGANELLO, F.R. Atletismo se aprende na escola: Oficinas Pedagógicas. In: Núcleos de Ensino da Unesp - Publicação 2006. São Paulo: Universidade Estadual Paulista/FUNDUNESP, 2006, p. 611-618, ISBN: 85.7139.663-9.

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Page 1: ATLETISMO SE APRENDE NA ESCOLA IV1

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ATLETISMO SE APRENDE NA ESCOLA IV1

Sara Quenzer MATTHIESEN2 Mellissa Fernanda Gomes da SILVA,

Vagner Matias do PRADO, Guy GINCIENE,3

Ivan Luis dos SANTOS, Fernando Paulo Rosa de FREITAS.4

Resumo: Considerado como um esporte clássico, o atletismo deveria ser trabalhado, em sua plenitude, no campo da Educação Física Escolar. Não por outro motivo, o objetivo deste trabalho consistiu em viabilizar o ensino do atletismo a partir de uma perspectiva histórica, averiguando as principais modificações técnicas, normativas e conceituais ocorridas em suas provas desde suas origens até os dias atuais. Por meio de uma pesquisa histórico-bibliográfica resgatou-se o histórico das provas dos 100 metros rasos, do lançamento do disco e do arremesso do peso, refletindo-se sobre a possibilidade de aplicação em aulas de Educação Física. Com base no desenvolvimento de um mini-curso envolvendo atividades especificamente voltadas ao ensino dessas provas a partir de uma perspectiva histórica, procurou-se criar subsídios capazes de orientar o trabalho do professor de Educação Física em suas aulas. Os resultados advindos da criação desse material e de sua aplicação no campo escolar foram inestimáveis demonstrando que é possível ensinar o atletismo a partir de uma perspectiva histórica em aulas de Educação Física na escola.

Palavras-chave: Atletismo, Educação Física Escolar; História do Esporte; Educação.

INTRODUÇÃO

Considerado como um esporte clássico, passível de ser trabalhado em aulas de

Educação Física, o atletismo tem sido um dos alvos dos projetos do Núcleo de Ensino da

Prograd/Unesp que tem como preocupação incentivar projetos relacionados à Educação

Infantil, Fundamental e Médio do Sistema de Ensino Público bem como suas possibilidades de

implementação no que se refere à ações educativas e inclusivas.

Assim, com base no Projeto do Núcleo de Ensino “Atletismo se aprende na

escola”, iniciado em 2003, como parte das atividades desenvolvidas pelo GEPPA – Grupo de

Estudos Pedagógicos e Pesquisa em Atletismo,5 o projeto para o ano de 2006, tomou um rumo

diferenciado. Em linhas gerais diríamos que o projeto abordou um tema inédito no campo da

Educação Física ao trabalhar algumas das provas do atletismo a partir de uma perspectiva 1 Apoio: Núcleo de Ensino – PROGRAD/UNESP-2006. GEPPA – Grupo de Estudos Pedagógicos e Pesquisa em Atletismo. Departamento de Educação Física, UNESP - Rio Claro/ SP. 2 Autora e coordenadora do Projeto “Atletismo se aprende na escola IV” e do GEPPA – Grupo de Estudos Pedagógicos e Pesquisa em Atletismo da UNESP-Rio Claro. 3 Bolsistas do Núcleo de Ensino – PROGRAD/UNESP-2006. 4 Colaboradores do Projeto “Atletismo se aprende na escola IV”. 5 Sobre o assunto ver: MATTHIESEN, S. Q.; CALVO, A. P.; SILVA, A. C. L.; FAGANELLO, F. R. Atletismo se aprende na escola: o Projeto do Núcleo de Ensino da UNESP/Rio Claro 2003. In: Núcleos de Ensino da Unesp - Publicação 2006. São Paulo: Universidade Estadual Paulista/FUNDUNESP, 2006, p. 587-611, ISBN: 85.7139.663-9. MATTHIESEN, S. Q.; CALVO, A. P.; SILVA, A. C. L.; FAGANELLO, F.R. Atletismo se aprende na escola: Oficinas Pedagógicas. In: Núcleos de Ensino da Unesp - Publicação 2006. São Paulo: Universidade Estadual Paulista/FUNDUNESP, 2006, p. 611-618, ISBN: 85.7139.663-9.

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histórica, analisando suas possibilidades de aplicação durante aulas de Educação Física na

escola6.

Para tanto, durante o primeiro semestre do ano de 2006, isto é, de março a julho

de 2006, o projeto concentrou-se no desenvolvimento de uma pesquisa bibliográfica – inédita

no campo da Educação Física - das provas dos 100 metros rasos, do lançamento do disco e do

arremesso do peso, para o que contou com a participação de três alunos (bolsistas do NE –

Núcleo de Ensino) e dois colaboradores do GEPPA – Grupo e Estudos Pedagógicos e

Pesquisa em Atletismo, sendo um deles professor efetivo da Rede Pública de Ensino de Rio

Claro.

Foram, portanto, desenvolvidas, entre outras, as seguintes atividades: discussão

detalhada do projeto com os bolsistas e elaboração de cronograma de atividades individual

para o período da bolsa; contato com o professor de Educação Física da Rede Pública para

discussão do projeto e de sua implementação; pesquisa bibliográfica ampla visando identificar

as últimas produções no campo do atletismo; organização bibliográfica da produção

relacionada ao atletismo, com ênfase numa perspectiva histórica; organização dos endereços

eletrônicos capazes de contribuir para a pesquisa histórica do atletismo; divisão do projeto em

três etapas: corrida de velocidade; lançamento do disco e arremesso do peso, devido à

concessão de três bolsas; reuniões periódicas para discussão das atividades e do projeto em si

etc.

Durante os meses de julho e agosto de 2006, o material pesquisado foi

submetido a diversas análises por parte dos integrantes do projeto, a fim de sintetizar todas as

informações obtidas. Entre outras, foram desenvolvidas as seguintes atividades: organização

do material bibliográfico produzido de acordo com cada subdivisão da modalidade; análise,

seleção e organização do material coletado, para elaboração do material didático; elaboração

de orientações básicas e específicas para o ensino de cada uma das provas, levando-se em

conta os diferentes espaços físicos possíveis para o seu ensino e materiais (oficiais e/ou

alternativos); elaboração de material básico como resultado do trabalho realizado durante o

período; reuniões periódicas para discussão das atividades e do projeto em si; organização do

material em forma de texto completo e síntese para facilitar a divulgação; organização de

apresentações em power-point para facilitar a visualização das particularidades históricas de

cada uma das provas pesquisadas.

A partir de setembro de 2006, o grupo concentrou-se na discussão, elaboração e

aplicação das aulas em uma escola da Rede Pública de Ensino Fundamental da cidade de Rio

Claro – SP, intencionado verificar a viabilidade de aplicação do material produzido em aulas de

6 MATTHIESEN, S. Q.; PRADO, V. M. O Atletismo numa perspectiva histórica: possibilidades para o seu ensino no campo escolar. In: Congresso Internacional de Educação Física – II Congresso Brasileiro de Saúde, 2006, João Pessoa. MATTHIESEN, S. Q.; FREITAS, F. R.; GINCIENE, G. ; PRADO, V. M. ; SILVA, M. F. G. ; SANTOS, I. L. O ensino do atletismo a partir de uma perspectiva histórica. Rio Claro. In. Anais.. I Congresso LETPEF de Educação Física escolar, 2006.

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Educação Física. Assim, foram desenvolvidas as seguintes atividades: orientação para o

ensino de cada uma das provas numa perspectiva histórica, levando-se em conta os diferentes

espaços físicos possíveis para o seu ensino e materiais (oficiais e/ou alternativos); avaliação

das atividades realizadas; discussão com o professor colaborador sobre o material elaborado,

para sugestões; aplicação do material em atividade que foi realizada em parceria com o

professor colaborador da Rede Pública na própria escola; elaboração de artigo final para

divulgação do trabalho realizado e publicação nos cadernos do Núcleo de Ensino;

apresentação do trabalho em eventos científicos; elaboração de projetos para a publicação do

material didático, como uma forma de orientar os interessados no ensino do atletismo, a partir

de uma perspectiva histórica, conforme veremos a seguir.

RESGATANDO A HISTÓRIA

Não é difícil observar as dificuldades de encontramos informações históricas

acerca das provas do atletismo. Com isso, perguntas que, aparentemente, parecem não ser

muito difíceis, ficam, muitas vezes, sem uma resposta imediata. Ou seja: quem foi o primeiro

recordista de tal prova? Quando as mulheres começaram a praticá-la?; Qual era o estilo

técnico predominante?

De maneira geral, é preciso lembrar que os livros nessa área concentram

orientações normativas, técnicas e específicas, muitas vezes voltadas apenas ao treinamento

desse esporte. Somando-se a essa dificuldade, a falta de espaço físico e materiais específicos,

podem ser considerados os principais motivos para que esse, que é um esporte clássico no

campo da Educação Física, seja ainda tão pouco trabalhado por seus profissionais, conforme

identificou Silva (2006).

Também não é difícil observar que, muitas vezes, àqueles que se dedicam a

ensiná-lo no campo escolar priorizam o ensino dos procedimentos, quase sempre voltados a

exercícios técnicos específicos de cada uma de suas provas em detrimento de outros

conhecimentos que também são fundamentais para o seu conhecimento.

Com base nesses argumentos, o projeto “Atletismo se aprende na escola IV”

procurou criar subsídios para o ensino do atletismo no campo escolar para além de uma

perspectiva procedimental, pautada nesses moldes, mas passível de ser integrada a uma

perspectiva de ensino que leve em conta o desenvolvimento histórico de cada uma de suas

provas.

Dada a natureza e amplitude do material a ser investigado, e considerando o

número de envolvidos no projeto, o trabalho de pesquisa se concentrou no resgate histórico de

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algumas das provas do atletismo, em especial, dos 100 metros rasos7, do lançamento do disco8

e do arremesso do peso9 cujos resultados também foram apresentados em eventos

científicos10.

Dando início à pesquisa bibliográfica visando o resgate histórico das provas do

atletismo foram visitados os acervos das bibliotecas da USP, UNESP e UNICAMP. Além disso,

foram acessados vários sites relacionados ao atletismo, tais como os de entidades nacionais e

internacionais a ele relacionadas; artigos científicos publicados na área; fotos e vídeos

relacionados aos diferentes momentos históricos das provas pesquisadas etc.

Após uma triagem inicial o material pesquisado foi elaborado em forma de textos

e apresentações em slides, visando sua viabilização e disponibilização aos professores em

diferentes situações de aulas de Educação Física.

Para que se tenha uma idéia do material investigado, vejamos, a seguir, uma

síntese dos dados coletados acerca da história do lançamento do disco, dos 100 metros rasos

e do arremesso do peso. Lembramos, entretanto, que foram vários os materiais produzidos em

função desse projeto, tais como: um trabalho de conclusão de curso,11 textos sintéticos

contendo informações acerca da história das provas; série de ilustrações para exposição; dois

cadernos didáticos; material em power point, elaboração de aulas etc.

Sobre o lançamento do disco

O lançamento do disco teve origem na Grécia Antiga. Os registros de sua

história eram feitos com pinturas em vasos, paredes e por meio de inscrições nos próprios

discos. Conta a história que os gregos usavam discos de pedra (muito bem polidos) e depois

de bronze (endurecido ou fundido) para a execução do lançamento do disco nos Jogos

Olímpicos da Antiguidade.

Na primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, realizado em Atenas,

no ano de 1896, a prova do lançamento do disco já fazia parte do programa, porém, até então,

só praticado por homens. Somente no ano de 1928, nos Jogos Olímpicos de Amsterdã, é que o

lançamento do disco feminino entrou para a programação dos Jogos Olímpicos.

7 GINCIENE, G.; MATTHIESEN, S. Q. Para uma perspectiva histórica no ensino do atletismo em aulas de Educação Física. In: Anais... 4º. Congresso Científico Latino-Americano de Educação Física-Facis-UNIMEP, 2006, Piracicaba. 4o Congresso Científico Latino-Americano de Educação Física, 2006. 8 SILVA, M. F. G., MATTHIESEN, S. Q. LANÇAMENTO DO DISCO: EVOLUÇÃO E CURIOSIDADES AO LONGO DOS TEMPOS In: Anais... X Congresso Nacional de História do Esporte, Lazer, Educação Física e Dança, 2006, Curitiba. X Congresso Nacional de História do Esporte, Lazer, Educação Física e Dança, II Congresso Latinoamericano de História de la Educación Física, 2006. 9 PRADO, V. M., MATTHIESEN, S. Q. O arremesso do peso: possibilidades do ensino do atletismo a partir de uma perspectiva histórica. XVIII CIC – Congresso de Iniciação Científica – UNESP, Botucatu, 2006. 10 MATTHIESEN, S. Q.; SILVA, M. F.; GINCIENE, G.; PRADO, V. M. O atletismo numa perspectiva histórica: possibilidades para o seu ensino no campo escolar. 2º. Congresso Internacional de Educação Física/Congresso Brasileiro de Saúde realizado em João Pessoa, Paraíba, entre 09 e 12 de agosto de 2006 e MATTHIESEN, S. Q.; FREITAS, F. R.; GINCIENE, G.; PRADO, V. M; SILVA, M. F. G., SANTOS, I. L. O ensino do atletismo a partir de uma perspectiva histórica. In: I Congresso de Educação Física Escolar. Rio Claro, 12 a 14 de outubro de 2006. 11 SILVA, M. F. G. Evolução da prova do lançamento do disco ao longo dos tempos: contribuições para a Educação Física escolar. Trabalho de Conclusão de Curso. Departamento de Educação Física, Unesp – Rio Claro, 2006.

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Com o passar dos anos a prova do lançamento do disco sofreu diversas

modificações que dizem respeito à técnica, às regras e aos estilos, tanto no masculino quanto

no feminino, as quais merecem ser conhecidas por todos aqueles interessados no atletismo.

Sobre os 100 metros rasos

A corrida de velocidade também teve sua origem na Grécia Antiga. Nessa época

era conhecida como estádio ou dromo que correspondia a 600 pés (aproximadamente 192,27

metros). Essa prova era a mais rápida da época e era disputada nos Jogos Olímpicos da

Grécia Antiga.

Nos Jogos Olímpicos da Era Moderna a corrida de velocidade passou a ser os

100 metros rasos e já na primeira edição o americano Thomas Burke se diferenciou dos

demais competidores já que utilizou a saída baixa. Burke ganhou a prova com o tempo de 12

segundos, passando a ser imitado por outros atletas, ainda que o bloco de saída, que é

obrigatório atualmente, tenha sido introduzido nas provas de velocidade entre 1936 e 1948.

Os sistemas de largada, chegada e cronometragem melhoraram com os anos, o

que ajudou muito na marcação dos tempos e classificação final da prova.

Sobre o arremesso do peso

Ainda que sua origem esteja atrelada ao ato de lançar pedras, há registros de

que nos Jogos Tailteanos realizados pelos celtas, realizavam-se competições de uma espécie

de arremesso de pedra, o que muitos acreditam ser o embrião principal da prova do arremesso

do peso disputada atualmente.

No final do século XIX, a prova do arremesso do peso adquiriu as características

atuais, sendo realizada com um implemento de ferro ou chumbo com um peso de 7,260 kg

para provas masculinas e de 4 kg para as provas femininas.

VIVENCIANDO SUAS POSSIBILIDADES

Como parte complementar ao desenvolvimento desse projeto, procurou-se

discutir e implementar possibilidades de aplicação do material pesquisado. Em última instância,

o grupo tinha como preocupação verificar as possibilidades de ensino do atletismo a partir

dessa perspectiva histórica, procurando, com base na vivência prática, ensinar cada uma

dessas provas.

Sendo assim, cada bolsista se concentrou na elaboração de uma aula, com

duração de aproximadamente cem minutos, atentos ao objetivo especifico do projeto. Após a

elaboração destas aulas implementou-se, com o apoio de um professor de Educação Física da

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Rede Pública de Ensino de Rio Claro, um mini-curso com duração de sete semanas, com base

no que descreveremos a seguir.

Localizada na Rua 17 (dezessete) número 1726, no bairro Cidade Claret, em Rio

Claro, a Escola Estadual Prof. Odilon Corrêa, nos abriu as portas para a realização do projeto

“Atletismo se aprende na escola IV”.

Esta escola, que funciona nos períodos matutino, vespertino e noturno abrigando

classes de 5ª a 8ª séries e um curso do EJA (Ensino para Jovens e Adultos), localiza-se numa

região central, ainda que receba, em sua maioria, alunos de bairros afastados como o

Bonsucesso e o Novo Wenzel.

Além desses cursos, a escola conta com quatro turmas de treinamento, sendo

duas de futsal (masculino e feminino), uma de atletismo e uma de dança de modo que os

alunos podem participar de inúmeras atividades esportivas e culturais com bons resultados,

apesar dos problemas comuns à maioria dos estabelecimentos públicos.

A turma escolhida para a aplicação do mini-curso foi a 8ª A, por possuir um

horário compatível com o dos participantes do projeto, qual seja, terças-feiras das 7:00 às 8:40

horas. Esta turma demonstrou grande interesse pelo mini-curso desde o início, com a

participação dos alunos durante todas as aulas.

Em relação aos conteúdos transmitidos, muitos dos alunos já tinham um

conhecimento prévio acerca do atletismo e suas provas, o que colaborou com o andamento

das aulas. Porém, nenhum deles havia tido um contato com a história das provas do atletismo,

o que gerou uma motivação especial em relação ao mini-curso.

Para que se tenha uma idéia do mini-curso, as aulas do Projeto do Núcleo de

Ensino foram desenvolvidas com base nos seguintes temas: aula introdutória; 100 metros

rasos; lançamento do disco; arremesso do peso; aula de encerramento, tais quais veremos a

seguir.

Tema da aula: Aula introdutória.

Objetivo da aula: Contato inicial com o atletismo e sua história.

Materiais: Filmes dos Jogos Olímpicos produzido pela Revista Placar12; bloco de saída,

barreiras, peso feminino de 4 kg; disco masculino de 2 kg; vara de bambu; colchões de

espuma; bolinhas de meia; pratos de papelão.

12 HISTÓRIA das Olimpíadas: o melhor dos filmes (DVD). Placar, Editora Abril, 2004. São quatro números, que concentram imagens dos seguintes Jogos Olímpicos: o número 1 contém imagens dos Jogos Olímpicos de 1948, 1956 e 1960; o número 2: de 1964, 1968 e 1976; o número 3: 1980, 1982 e 1988 e o número 4: 1992, 1996 e 2000.

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No dia 12 de setembro de 2006, objetivando propiciar um contato inicial com as

provas do atletismo e com os participantes do projeto foram exibidos alguns filmes sobre os

Jogos Olímpicos da Revista Placar. Cada integrante do grupo mostrou aos alunos imagens

das provas do atletismo, dentre as quais as que seriam trabalhadas no projeto: corridas de

velocidade, lançamento do disco e arremesso do peso.

Após a sessão de vídeo realizada na biblioteca, os alunos se dirigiram para a

quadra esportiva da escola, onde participaram de uma parte prática da aula, composta por um

circuito para que pudessem vivenciar algumas das provas do atletismo. Em cada estação, sob

a orientação do integrante responsável pela prova, os alunos participaram de uma atividade

referente àquelas que seriam abordadas no projeto. Nessa ocasião, os alunos tiveram a

oportunidade de experimentar o movimento das provas, assim como esclarecer dúvidas e

complementar seus conhecimentos acerca das imagens do filme que assistiram.

Além disso, os alunos tiveram a oportunidade de conhecerem os implementos

oficiais, ainda que durante a vivência explorassem materiais alternativos como bolas de meia e

discos confeccionados com pratos descartáveis, por exemplo.

Em linhas gerais, pudemos perceber uma grande receptividade e interesse por

parte dos alunos em relação ao conteúdo apresentado desde o início da aula. Devido a alguns

problemas técnicos de instalação do equipamento, alguns minutos da aula foram

comprometidos, mas não a ponto de prejudicá-la. Os alunos se entusiasmaram com as

imagens do filme exibido antes da parte prática da aula, sobretudo, por não conhecerem muitas

delas, mas por estarem dispostos a fazê-lo.

Fig 1. Introdução à história do atletismo

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Tema da aula: A história da prova dos 100 metros rasos.

Objetivo da aula: Mostrar a evolução da prova dos 100 metros rasos.

Materiais: cordas; papéis; canetas e cones.

No dia 3 de outubro de 2006 a aula teve como objetivo contar a história das

provas de corrida do atletismo, mais especificamente a dos 100 metros rasos.

Durante o aquecimento os alunos, correndo nas linhas demarcatórias da quadra,

deveriam, ao se encontrarem, passar por baixo da perna do outro executando a seguinte

seqüência: se o encontro ocorresse entre menino e menina, o menino deveria passar por

baixo; se o encontro fosse de menino com menino ou menina com menina, o mais alto passaria

por baixo. Após essa atividade foram realizados alongamentos visando à musculatura que

seria mais trabalhada durante a aula.

A fim de introduzir um pouco da técnica de corrida foi realizada uma atividade

com os educativos de corrida. Os alunos divididos em três equipes deveriam correr até um

cone a 4 metros de distância, executando um educativo de corrida. Na volta deveriam executar

outro educativo até chegar ao próximo companheiro da equipe, que desempenharia a mesma

tarefa até que todos da fila terminassem, vencendo a atividade.

Logo após essa atividade os alunos, divididos nas mesmas três equipes e sob a

orientação de um estagiário, deveriam se organizar sendo que cada grupo se concentraria em

uma das três tarefas: 1. dar a largada da corrida; 2. correr; 3. anotar a ordem de chegada dos

corredores. Vale destacar que todos os grupos passaram por todas as estações.

Cada grupo organizou sua estação, tendo como base as informações

concernentes ao período da Grécia Antiga. Nessa época não existia a saída baixa, as raias e

nem um sistema efetivo para a classificação da chegada. Seguindo as orientações do

estagiário, os alunos organizaram a prova reconstruindo a evolução histórica dos 100 metros

rasos. Assim, realizaram a demarcação das raias; delimitaram o número de participantes por

série; aperfeiçoaram a verificação da chegada e introduziram a saída baixa na largada da

prova. Para que isso fosse feito, os alunos puderam fazer uso de materiais tais como: cordas,

cones, papéis e canetas, de modo a organizarem, da forma mais fiel possível, a evolução

dessa importante prova do atletismo.

Na parte final da aula o estagiário contextualizou as organizações realizadas

pelos alunos, convergindo para o objetivo de “historicizar” a prova dos 100 metros rasos.

Essa aula superou as expectativas de todos, pois, a resposta dos alunos em

relação à aula foi surpreendente, já que foram muito participativos. A aplicação da aula pautada

na historicidade das corridas de velocidade dentro do atletismo superou todas as expectativas,

inclusive as do próprio estagiário responsável: “Me surpreendi com o desenvolvimento da aula.

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Achava que teria que auxiliar os alunos o tempo todo durante as tarefas”, disse ele. Ao

contrário disso, os alunos, com base nas orientações iniciais do estagiário, construíram, na

prática, a história dos 100 metros rasos, com muita autonomia e integração atingindo os

objetivos do projeto.

Fig 2. Resgatando a história dos 100 metros rasos

Tema da aula: A história do lançamento do disco.

Objetivo da aula: Vivenciar a história do lançamento do disco.

Materiais: Papéis impressos; giz para riscar a quadra; discos confeccionados com pratos de

papelão envoltos com fita adesiva.

No dia 17 de outubro de 2006, foi realizada a aula do lançamento do disco com

o objetivo de transmitir, de forma geral, a história e a técnica dessa prova. Apesar de alguns

imprevistos – como uma reunião de pais e mestres e o fato de uma aluna não ter se sentido

bem – a aula foi desenvolvida com a classe dividida em quatro grupos.

Na primeira atividade foram dados a cada grupo algumas palavras e fotos

ilustrando a história do lançamento do disco. Sem que houvesse nenhuma explicação prévia

sobre a história dessa prova, foi solicitado que cada grupo criasse a história do surgimento do

lançamento do disco baseado nas informações transmitidas por meio das palavras e das fotos

recebidas. Após 15 minutos os alunos contaram a “sua” versão da história, a partir da qual a

estagiária (utilizando as mesmas palavras e fotos) contou a versão oficial, enfatizando que a

origem dessa prova foi na Grécia Antiga.

Naquela época, o disco era lançado inicialmente partindo-se de um pedestal.

Depois disso, passou a ser lançado de um quadrado denominado Balbis e, posteriormente, de

um círculo (utilizado até os dias de hoje), mais conhecido como círculo de lançamento. Passou

a ser uma prova olímpica já na primeira edição dos Jogos Olímpicos da Era Moderna, realizado

em 1886 em Atenas, ainda que apenas na categoria masculina, já que as mulheres passaram

a competir nessa prova somente a partir dos Jogos Olímpicos de 1928, realizados em

Amsterdã.

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Depois disso, os alunos, divididos em grupos, deveriam correr até o final da

quadra, pegar um pedaço de papel e retornar, após cinco giros em torno de um cabo de

vassoura. Ao final da atividade cada grupo foi capaz de formar uma sentença relacionada os

estilos técnicos da prova, quais sejam: lançamento do disco com giro; lançamento do disco

sem giro; balanceio, ½ giro, oito deitado, a partir das quais foi demonstrada sua execução.

Ao final, os alunos divididos em quatro círculos desenhados no chão, deveriam

lançar discos coloridos de papelão (da mesma maneira como o disco é lançado atualmente),

para um círculo no centro da quadra, no qual havia pontuações.

Apesar dos imprevistos ocorridos no início da aula, observou-se que os alunos

tiveram uma boa apreensão do conteúdo transmitido, levantando questionamentos pertinentes

à prova em questão. As atividades que envolveram competição entusiasmaram muito os

alunos, que se interessaram ainda mais pela aula, inclusive pelos conteúdos históricos

abordados.

Fig 3. Quebrando a cabeça com a história

Tema da aula: Arremesso do peso.

Objetivos da aula: Vivenciar historicamente alguns tópicos da evolução da prova do

arremesso do peso.

Materiais: Bolas de meia; garrafas de refrigerante descartáveis; cordas; lençóis; bolas de

diversos tamanhos (futebol, vôlei, basquete, borracha); painéis para exposição de fotos;

bexigas com água; dois baldes grandes; tatames sintético e arcos.

No dia 24 de outubro de 2006 foi realizada uma aula com o objetivo de propiciar

aos alunos um conhecimento acerca da histórica da prova do arremesso do peso com base em

atividades práticas.

Visando o aquecimento, os alunos, divididos em dois grupos denominados

“arremesso” e “lançamento”, desenvolveram um jogo em equipe que consistia em transferir a

bola – de diferentes tamanhos – de um campo para o outro utilizando um lençol. Ao final da

atividade foi discutido com os alunos a diferença técnica entre um lançamento e um arremesso.

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Depois, em duplas, foi realizado um alongamento geral dos membros superiores,

seguido pela parte principal da aula que se constituiu em um “Túnel do tempo”, onde os alunos

deveriam passar por quatro estações que contariam a história da prova do arremesso do peso.

Ao passarem pelo “túnel”, os alunos deveriam executar algumas atividades

relacionadas à prova do arremesso do peso, de acordo com a época especificada em cada

estação. Na primeira estação, referente ao ano de 1896, os alunos puderam arremessar, de

dentro de um setor quadrado, garrafas plásticas e bolas de meia, devido ao fato de que os

celtas, antes da codificação da prova tal como é conhecida hoje em dia, arremessarem pedras

e ramos de árvores; já o setor quadrado fez referência ao formato do setor de arremessos que

teve essa forma até o ano de 1900.

Na segunda estação, referente ao ano de 1904 a 1936, os alunos puderam

executar arremessos de dentro de um setor circular, porém, utilizando o arremesso parado.

Com isso, os alunos puderam vivenciar a mudança no formato do setor de arremessos. Na

mesma estação, os alunos executaram vários arremessos com as bolas de meia e também

com caixas de papelão, em referência à prova do arremesso do peso de aproximadamente 25

Kg, disputada durante os Jogos Olímpicos de 1904 em Saint Louis, Estados Unidos. Também

foi relatado aos alunos a existência, em 1912, da prova do arremesso do peso com as duas

mãos.

Na terceira estação, referente ao ano de 1948, os alunos se certificaram que

este foi o ano em que as mulheres começaram a praticar a prova do arremesso do peso em

Jogos Olímpicos, antes permitida apenas para homens.

Também nessa estação, devido ao início da cientificidade da prova onde os

atletas começaram a analisar as técnicas de arremesso, os alunos reproduziram, depois de

uma explicação, a técnica de Funchs ou arremesso ortodoxo, onde, partindo da posição lateral

em relação ao setor de arremessos, os alunos executavam arremessos tentando realizar um

giro de aproximadamente 240° graus, a fim de finalizar o arremesso de costas para o setor. O

estagiário responsável pela aula explicou aos alunos alguns princípios físicos de transferência

de energia, que faz com que os atletas transfiram a energia cinética biomecânica para a

energia cinética do implemento.

A quarta e última estação foi referente ao ano de 1952, ano este em que W.

Parry O’Brien se destacou e revolucionou a prova do arremesso do peso com sua técnica

linear de costas. Nessa estação, os alunos puderam executar vários arremessos com bolas de

meia, utilizando a técnica desenvolvida por O’Brien. Em todas as estações foi apresentado aos

alunos um mural, contendo fotos de atletas, nomes de técnicas e anos de referência em que

àqueles estilos foram utilizados.

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441

Como atividade final, os alunos foram novamente divididos em dois grupos, o de

“lançamento” e o de “arremesso”. Os grupos, em colunas, deveriam tentar encher um balde

com água, proveniente das bexigas. O primeiro aluno de cada grupo deveria, ao sinal do

responsável pela aula, pegar uma bexiga com água e executar um arremesso em direção ao

balde objetivando estourar a bexiga dentro do balde, que liberando seu conteúdo, passaria a

enchê-lo com água. A equipe que finalizasse a atividade com o balde “mais cheio”, ganharia a

prova. Como única regra os alunos deveriam executar arremessos, não sendo permitido, para

efeito da competição, a realização de lançamentos.

Em linhas gerais, foi uma aula que teve boa participação e colaboração por parte

dos alunos. Mesmo sendo de um conteúdo relativamente extenso, os alunos tiveram uma

ótima assimilação acerca dos conteúdos transmitidos. A aula foi elaborada objetivando a

prática durante todo o tempo, porém, devido aos poucos setores de arremesso disponibilizados

em cada estação a aula não proporcionou a dinâmica esperada.

A idéia do “túnel do tempo” para a aplicação das aulas foi boa, porém, opções

para dinamizá-la um pouco mais como, por exemplo, aumento do número de setores para

arremesso por estação, execução de jogos competitivos visando desenvolver os arremessos

dentro de cada estação, poderiam ter dinamizado as atividades. As fotos, que ficaram expostas

em cada estação, serviram como estímulo, pois, os alunos puderam ver aquilo que estavam

tentando fazer, e ver que aquilo tudo que estava sendo ensinado era real. Ao final da aula os

alunos se divertiram bastante com as bexigas de água.

Fig 4. A evolução técnica das provas na prática

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Tema da aula: Encerramento do projeto.

Objetivo da aula: Relembrar as provas do atletismo que foram transmitidas durante o mini-

curso.

Materiais utilizados: CD com fotos das aulas, exposição de fotos do atletismo, festa de

encerramento.

Realizada no dia 31 de outubro de 2006, a aula de encerramento foi iniciada na

sala de audiovisual, com a exposição das fotos que foram tiradas durante as aulas do mini-

curso. Após a exposição das fotos, os alunos foram divididos em cinco grupos, sendo que cada

grupo ficou responsável por recontar a história de uma das provas que foram ensinadas

durante o mini-curso.

Já na quadra, os grupos reuniram-se para montar o que seria apresentado da

prova que lhes foi designada. Esta apresentação podia ser em forma de teatro, explanação,

música, ou qualquer outra forma que os alunos definissem.

Após a apresentação dos grupos foi feita uma confraternização entre alunos e

professores com comida, música e uma exposição contendo 23 fotos relacionadas ao

atletismo.

Na aula que antecedeu esta ultima, foi pedido aos alunos que elaborassem uma

redação sobre o que aprenderam no mini-curso, ainda que essa não fosse uma atividade

obrigatória. Sete alunos participaram e receberam uma caixa de bombons do professor

responsável.

Foi uma aula muito importante, pois foi onde conseguimos observar o que

realmente “ficou” de todo o mini-curso, possibilitando aos alunos o resgate do conteúdo

trabalhado durante as aulas. Inicialmente, devido às atividades propostas, os alunos se

mostraram um pouco tímidos, porém, com o desenrolar das explicações e auxílio dos

estagiários, os mesmos puderam demonstrar o que aprenderam, como veremos adiante.

Em relação à exposição elaborada pelo GEPPA na escola, os alunos puderam

conhecer imagens das provas trabalhadas no contexto esportivo de alto rendimento e de

competições para-olímpicas, o que gerou muito interesse por parte dos alunos. Durante a festa

de confraternização, estagiários e alunos puderam ter um contato mais próximo, onde todos

puderam explicitar os votos de agradecimento pela participação no projeto.

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Fig 5. Exposição de imagens do atletismo

AVALIAÇÃO DO PROJETO

Como forma de avaliação da implementação da parte prática deste projeto foram

utilizadas duas ferramentas: a elaboração de uma redação por parte dos alunos (individual e

não obrigatória); elaboração de uma retrospectiva do conteúdo transmitido em forma de um

rápido seminário, em que os alunos deveriam recontar a história de uma das provas do

atletismo, explanando, elaborando e aplicando alguns exercícios educativos, por exemplo.

Na análise das redações pudemos observar que essa abordagem de trabalho

pautada na historicidade das provas obteve uma boa aceitação por parte dos alunos, o que

pode ser comprovado em algumas passagens das redações como “... as aulas nos ensinaram

muitas coisas e em seis semanas consegui, de forma divertida, aprender sobre o atletismo,

como e quando aconteceu.”. Nessa passagem podemos observar o quanto uma aula prática

contextualizada historicamente pode gerar interesse nos alunos, explicando o “como” e

“quando” tais provas se originaram.

“Foi uma experiência divertida e ao mesmo tempo histórica, onde passamos a

conhecer a história de cada esporte [em referência às provas] que surgiu há muito tempo

atrás.” O ensino do atletismo a partir de uma perspectiva histórica propiciou que a vivência

corporal também fosse interpretada pelos alunos como uma espécie de conceito, ou seja,

através da prática eles puderam conhecer conceitualmente a história.

Em muitas redações também foram citados os conteúdos das aulas, o que

demonstra claramente que os alunos conseguiram apreender o que se pretendeu ensinar: “Eu

gostei bastante do arremesso do peso, que aprendemos algumas táticas para melhorar o

arremesso.”, “...pulamos em um pé só, de costas, abraçado com um amigo e estouramos uma

bexiga para montar uma frase...”, “A quarta aula foi quando o Guy nos mandou organizar uma

corrida dividida em três grupos: corrida, chegada e partida.”.

De modo geral os alunos expressaram sentimentos positivos em relação as

aulas: “Gostei de todas as modalidades [provas]”, “...adorei as aulas por aprender coisas

novas”;.

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Outro fator apontado foi em relação à viabilidade de nossa proposta na visão dos

alunos: “em seis semanas aprendemos o básico, que iria nos incentivar muito.”, “Aprendi

muitas coisas que não sabia.”, “tudo que tenho a dizer é que aprendi muito.”.

Já na atividade que consistia em recontar com seus próprios meios a história

das provas, os alunos foram divididos em grupos, sendo que cada grupo formado ficou

responsável por uma das provas trabalhadas. O grupo que ficou responsável pelo histórico do

lançamento do disco fez uma explanação acerca da prova utilizando desenhos na quadra; o

grupo responsável pela corrida de 100 metros rasos desenvolveu um teatro reconstituindo

assim alguns pontos históricos dessa prova; o grupo responsável pelo arremesso do peso

elaborou uma música que foi reproduzida ritmicamente para os demais alunos.

A letra, reproduzida na íntegra, demonstra a capacidade dos alunos de

remeterem-se àquilo que foi aprendido com o ensino dessa prova, de uma forma divertida.

“Tudo começou de dentro do quadrado,

pesos e mais pesos para serem arremessados.

Depois de certo tempo, o círculo chegou,

e então um canadense um bloco arremessou.

Depois de certo tempo,

o disco se virou.

As mulheres tomaram frente e o homem se rebaixou,

e então uma francesa, o ouro abocanhou.

A técnica parada,

movimento se tornou,

o bagulho ficou louco

e tudo acabou.”

Sendo assim, tanto na elaboração das redações quanto no recontar da história,

pudemos analisar a viabilidade dessa perspectiva de ensino, onde o resgate histórico das

provas do atletismo desde suas origens até os dias atuais contribuiu de forma efetiva para o

conhecimento desse esporte, em especial, das provas do lançamento do disco, do arremesso

do peso e dos 100 metros rasos.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Mesmo considerado como um esporte clássico, o atletismo é muito pouco

trabalhado durante o desenvolvimento de aulas de Educação Física na escola.

A falta de material didático-pedagógico é visível, fato este que pode ser

comprovado por meio de um levantamento bibliográfico sobre o assunto, o que evidencia a

pouca produção bibliográfica na área e a predominância de livros e cadernos técnicos em

relação a reflexões pedagógicas.

Com isso, quando profissionais de Educação Física atentam para as

possibilidades de trabalho das provas do atletismo durante suas aulas, acabam ensinando

apenas os procedimentos, deixando em segundo plano as atitudes e conceitos que também

deveriam ser trabalhados.

Atentos para essa realidade, a proposta de trabalho desenvolvida pelo GEPPA

para o ano de 2006, contando com o apoio do Núcleo de Ensino, procurou demonstrar a

viabilidade de se ensinar o atletismo a partir de uma perspectiva histórica, averiguando as

principais modificações técnicas, normativas e conceituais ocorridas em suas provas desde

suas origens até os dias atuais, de modo a subsidiar o trabalho do professor de Educação

Física em suas aulas no campo escolar.

Nesse sentido, procuramos resgatar a história das provas dos 100 metros rasos,

lançamento do disco e arremesso do peso, constituindo assim um acervo relacionado às

questões históricas, culturais e filosóficas que envolveram a criação, implementação e

desenvolvimento dessas provas no cenário esportivo atual.

A partir de um aprofundamento na história dessas provas, tivemos elementos

que nos proporcionaram sintetizar, analisar e refletir sobre o material coletado a fim de criar

subsídios para o ensino do atletismo a partir de uma perspectiva histórica, inédita no campo da

Educação Física escolar.

Durante o desenvolvimento do mini-curso pudemos observar o quão viável é

trabalhar sob essa perspectiva de ensino no que diz respeito ao material elaborado, interesse

gerado pelos alunos e possibilidades de trabalho pautado nessa abordagem.

Com isso, é possível pensar em uma Educação Física escolar para além dos

procedimentos, porém, evidenciando que trabalhar os conceitos envolvidos em sua prática não

remete o professor simplesmente a explicação de regras ou de movimentações técnicas a seus

alunos, mas uma contextualização histórica, social e cultural nas quais a Educação Física

como um todo está inserida.

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