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um estudo do k pop no BrasilTRANSCRIPT
Subcultura, estratégia e produção de gosto: uma análise do k-pop no Brasil
Introdução
A Coreia do Sul recebeu o nome oficial de República da Coreia somente após a
Segunda Guerra Mundial, quando o território da Coreia foi dividido em duas partes,
dando origem à Coreia do Norte, sob a influência do regime socialista, e Coreia do Sul,
influenciada pelo capitalismo Estadunidense. A economia do país, cuja capital é Seul,
um dos grandes centros financeiros do mundo, vem crescendo desde então, e hoje é
considerada a décima terceira economia do mundo, de acordo com a Organização das
Nações Unidas, Banco Mundial e Fundo Monetário Internacional. A Coreia do Sul
mantém relações diplomáticas com inúmeros países e é uma importante parceira
comercial de China, Japão, União Europeia e Estados Unidos.
Dentre os avanços do país, destacam-se os investimentos em educação,
considerados pelo governo coreano como prioridade. O objetivo de vida do jovem
coreano que deseja um bom emprego é entrar para uma boa universidade. Em seguida,
manter-se nela com boas notas. Os investimentos em tecnologia também ajudam nesse
modelo: a Coreia do Sul foi o primeiro país do mundo a fornecer internet banda larga
em todas as escolas do país, é um dos países com mais usuários de internet e com
conexões de alta velocidade. Assim, pode-se dizer que a internet faz parte da vida da
maioria dos sul-coreanos e contribui diretamente para o acesso à informação.
Esse cenário promissor não parecia muito provável poucos anos atrás, se
considerarmos apenas a história recente da Coreia do Sul. A crise financeira asiática de
1997 fez com que as grandes empresas coreanas se reorganizassem, e o governo
investisse em desenvolvimento de tecnologia e conteúdos de filmes e videogames. A
crise, entretanto, pode ter servido como oportunidade. Para HONG (2014), sem a crise
provavelmente não teria havido Hallyu, a Onda Coreana que consiste na “exportação”
desta cultura para diversos países do mundo. O termo (pronuncia-se “ráiliu”) significa
“fluxo da Coreia” e foi cunhado por jornalistas de Pequim, na China, nos anos 90,
surpresos com a popularidade da cultura coreana no restante da Ásia, mediante a
exportação de suas telenovelas, cinema e música.
No Brasil, não é exatamente novidade o interesse pela cultura asiática. Eventos
como animes reúnem fãs da cultura japonesa em todo o país, com foco nos otakus (fãs
de mangás, desenhos japoneses), a fim de compartilharem seu gosto. A comunidade
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coreana, majoritariamente presente na cidade de São Paulo, cidade que também abriga o
Consulado da Coreia do Sul no país, também realiza eventos, como o Festival da
Cultura Coreana, onde é mostrada a cultura do país, abrangendo música, cinema,
gastronomia etc. Se a Hallyu teve sua disseminação primeiramente em países asiáticos,
chegou também ao Brasil, especialmente através do gênero musical conhecido como k-
pop, objeto de estudo deste artigo.
Objetivo
O objetivo deste artigo é avaliar o k-pop e, através dos conceitos de
autenticidade e resistência, analisar se podemos ou não classificar este grupo como uma
subcultura.
Metodologia
Em uma primeira etapa, esta pesquisa contará com um levantamento
bibliográfico, analisando a literatura sobre cultura e subcultura a fim de criar uma base
teórica para o estudo. Em seguida, podemos classificar este estudo como bibliográfico e
documental à medida que serão analisadas matérias, reportagens, vídeos, entrevistas e
artigos publicados que falem sobre k-pop, música coreana e Coreia do Sul.
Por fim, para complementar a análise, será usada uma abordagem qualitativa
através da observação participante realizada em um encontro que contou com
aproximadamente 100 fãs de k-pop, na Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro, no dia
26 de julho de 2015, seguido de oito entrevistas em profundidade, cada uma tendo entre
1 hora e 1 hora e 30 minutos de duração, que foram transcritas e analisadas.
O k-pop: de gênero musical à fábrica de trainees
O nome k-pop vem da junção de Korea e pop (o gênero musical), em uma
alusão ao já existente j-pop (pop japonês). Trata-se de um gênero musical moderno,
dançante, claramente baseado na música pop americana, mas também influenciado por
música eletrônica, hip hop e R&B, com batidas marcantes e coreografias altamente
sincronizadas. Os artistas do k-pop são majoritariamente jovens. Em geral, as bandas
são formadas apenas por homens ou apenas por mulheres, que cantam e dançam,
mesclando sensualidade e “fofurices” (sexy, fofo e meigo são termos comumente
usados por fãs para classificar um grupo de k-pop).
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A estreia da banda Seo Taiji and Boys, em 1992, é considerada um marco na
história da música popular na Coreia do Sul, e se diz que foram os precursores do k-
pop. O trio, formado por rappers e dançarinos, tinha influência de estilos ocidentais,
como hip hop, soul, rock e punk, o que o diferenciava dos demais grupos coreanos e
agradou o público, principalmente os jovens. A partir daí, a indústria musical coreana
enxergou a oportunidade de conquistar um nicho diferente.
Seo Taiji and Boys
Fonte: Google
De lá para cá, o investimento se profissionalizou e tem gerado frutos. No pós-
crise, através da Hallyu, o k-pop foi sendo expandido para os demais países asiáticos
através do chamado “sistema de ídolos”, ou seja, produtoras especializadas em recrutar
jovens, através de audições, que queiram se tornar ídolos profissionais. Ao contrário do
que ocorre mundo afora, em que artistas em geral têm um dom, que é descoberto muitas
vezes por acaso, na Coreia o modelo disciplinado de educação dos jovens coreanos
parece ter sido incorporado ao treinamento de aspirantes a ídolos k-pop, os chamados
trainees. Os jovens, com idades que não costumam passar dos 20 anos, estudam e
treinam exaustivamente horas a fio, ao longo de anos. A dedicação, entretanto, não
parece assustá-los: a Def Dance Skool, escola de dança localizada em Seul, tinha cerca
de 400 alunos em 2006. Em 2013, já eram mil, pelo menos metade deles buscando
entrar em uma das principais produtoras que “fabricam” ídolos k-pop1. Em uma
pesquisa feita em 2012 pelo Instituto Coreano de Educação Vocacional e Treinamento,
a carreira artística passou a ser uma das principais apostas dos jovens. Matricular os
filhos em escolas de formação artística reflete também uma mudança de comportamento
dos pais coreanos que, segundo a pesquisa, antes preferiam carreiras tradicionais. A
jovem coreana Woo Ji-won, de 18 anos, conta: “Meus colegas estão ralando para passar
1 SANG-HUN, Choe. Jovens da Coreia do Sul apostam futuro no k-pop. Folha de São Paulo, 27 de agosto de 2013.
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no vestibular, mas eu vou a curso de k-pop sete noites por semana. Depois de chegar em
casa, passo horas estudando vídeos do k-pop no Youtube.”
O “sistema de ídolos” consiste em agregar, em um só local, todas as funções
necessárias para treinar e desenvolver futuros ídolos de k-pop. O faturamento das três
principais produtoras sul-coreanas que atuam nesse sistema mais que triplicou de 2009
para 2013, passando os 320 milhões de dólares (as três juntas). Dentre elas, destaca-se a
SM Entertainment, responsável pela maior parte dos grupos que faz sucesso atualmente,
como se vê no quadro abaixo.
GRUPO GÊNERO PRODUTOR
2NE1
Big Band
BTS
EXO
Super Junior
F(x)
Girls Generation
Shinee
Feminino
Masculino
Masculino
Masculino
Masculino
Feminino
Feminino
Masculino
YG Entertainment
YG Entertainment
Big Hit Entertainment
SM Entertainment
SM Entertainment
SM Entertainment
SM Entertainment
SM Entertainment
Fonte: Wikipedia
Grupo Girls Generation
Fonte: Google
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Grupo Super Junior
Fonte: Google
O fundador da SM, Lee Soo Man, é uma das figuras mais controversas nesse
cenário e precursor no processo de “fabricar” ídolos no k-pop. Em 1996, Soo Man
lançou uma banda baseado nas informações obtidas através de uma pesquisa. Ele
buscou em meninas adolescentes as respostas sobre o que elas esperavam dos ídolos, e
montou um grupo de acordo com este perfil. Assim surgiu a banda HoT, hoje extinta.
Depois dela, viriam muitas outras. Apesar das altas cifras, a exaustão a que os trainees
são levados já causou problemas à SM: em 2009, membros de um dos grupos por ela
agenciados alegaram ter contrato escravo. O mesmo ocorreu com um dos membros da
famosa banda Super Junior, o que resultou na decisão da Comissão de Comércio Justo
da Coreia do Sul de ordenar que a SM revisse e ajustasse todos os seus contratos.
As cifras do mercado k-pop são, de fato, atraentes. Em 2005, o governo aportou
1 bilhão de dólares para investir na indústria pop, que hoje movimenta 2 bilhões de
dólares por ano no país. Parece ter valido a pena: o k-pop transformou a Coreia do Sul em
um dos dez principais exportadores de produtos culturais do planeta. Mais de 200 bandas de
k-pop foram lançadas de 2005 a 2014, segundo reportagem apresentada na Rede Globo, no
Programa Mais Você. O fato é que as produtoras desenvolvem ídolos cada vez mais globalizados
para agradar a um público cada vez maior e, consequentemente, gerar lucro. Dentre as estratégias estão
incluir integrantes de outros países, lançar canções no Youtube com nomes também em inglês para
serem encontradas mais facilmente, inserir frases em inglês nas músicas, além do investimento nas
coreografias sincronizadas e batidas contagiantes. Um modelo com tantas regras poderia prejudicar a
expansão k-pop, mas a julgar pelo crescente número de fãs, é exatamente o contrário que parece
ocorrer. Em uma reportagem sobre o k-pop, o jornal The Economist chamou a Coreia de “um país sem
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graça que se tornou produtor de gosto” 2, referindo-se à capacidade do país de exportar o gênero
musical.
Além de venderem canções, os ídolos k-pop vendem a própria imagem: quase
todos os entrevistados em nossa pesquisa afirmaram que eles cultivam a imagem de
“bons moços”, e que isso inclusive os diferencia dos ídolos do pop americano. Essa
imagem mais conservadora (com exceção de algumas coreografias mais sexies das
bandas femininas) faz com que os ídolos sejam frequentemente usados na publicidade
de produtos coreanos, principalmente de cosméticos para a pele.
Cultura, subcultura e o universo k-pop no Brasil
Definir subcultura é complexo, dado que o termo começou a ser usado para
explicar os Estudos Culturais da sociedade moderna. Ele não foi necessário para
descrever as sociedades primitivas, mas fundamental para ajudar a definir os limites
existentes nas áreas urbanas que contêm enorme diversidade de modos de vida.
Subcultura é o conjunto de particularidades culturais de um grupo, que se distancia do
modo de vida dominante sem se desprender dele.
Não podemos falar dos Estudos Culturais Britânicos sem mencionar Raymond
Williams, Richard Hoggart e Edward Thompson, pois fundamentaram uma linha de
pensamento que se opôs à escola de pensamento cultural tradicional inglesa. Esta
escola acreditava que a cultura estava ligada ao erudito e às altas classes, em uma visão
elitista que olhava o popular de cima para baixo. As análises produzidas por eles têm
uma grande influência do marxismo. Os Estudos Culturais estão relacionados com a
criação, em 1964, do Centre for Contemporary Cultural Studies (CCCS), na
Universidade de Birmingham, no Reino Unido, que influenciaram profundamente nas
décadas seguintes os métodos de análise e o interesse por objetos de estudo que operam
com a noção de subcultura. Os pesquisadores envolvidos centraram suas atenções,
particularmente, na categoria “juventude”, mas colocaram em evidência outros tipos de
“comportamentos desviantes”, que foram estudados e resultaram em narrativas
substanciais sobre diferentes grupos enquadrados como subculturas sociais de culturas
mais amplas. Os pesquisadores do CCCS lançaram um olhar diferente para essas
subculturas, buscando a relação entre elas e as estruturas culturais mais amplas, como a
classe operária, a cultura “dominante” e a cultura de massa. Os grandes méritos destes
2 The economist. Soap, Sparkle and pop: how a really uncool country became the tastemaker of Asia. 9 de Agosto de 2014.
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autores foi introduzir uma nova forma de analisar as massas, a concepção de classe e os
paradigmas de comunicação da sociedade moderna, entre outros.
Richard Hoggart produziu, em 1957, “As utilizações da Cultura”, e tentou
entender as mudanças que se deram nas classes operárias desde a segunda década do
século XX. Ao analisar publicações populares, introduziu uma abordagem inovadora e
rompeu com uma visão etnocêntrica para observar a vida do povo e os produtos que
faziam parte do consumo cultural destas classes, passando assim a compreender o
conceito de cultura de uma nova forma. Hoggart se diferenciou ainda enfatizando que
existiam diferenças entre os membros da classe operária, não sendo ela uma classe
homogênea nos hábitos de consumo, nas formas de linguagem e no jeito de se vestir.
Ele identificou a juventude do período vivendo um momento de transição entre a
identidade da classe da classe operária e a atrativa vida “mercantil” da cultura de massa.
Esse tipo de abordagem colocou a juventude como desempenhando um papel central
nas contradições daquele período.
O que tornou este livro tão decisivo para a fundação dos Estudos Culturais foi
atentar para algumas atitudes próprias das classes populares, de maneira a mostrar que o
seu consumo cultural não se reduzia à simples marcha rumo à massificação; mas se
configurava em um processo que, acima de tudo, expressava relações sociais básicas,
em outras palavras, as formas de vida das sociedades. E é esse processo que se busca
para localizar a trajetória de sujeitos comuns, alçados da condição de simples receptores
a protagonistas midiáticos. O trabalho de Hoggart trata dos aspectos da vida cultural da
classe trabalhadora visando demonstrar que há uma pluralidade naquilo que se entende
por classe trabalhadora, até mesmo uma “minoria” que oferece resistência à cultura
massificada e “vulgar”. A pesquisa de Hoggart é pioneira ao colocar a importância da
vida cotidiana em evidência. A classe trabalhadora evidencia o concreto, não tendo
interesse pelo que é abstrato, pelo que não podem compreender. Isto é reforçado nas
representações da cultura de massa por temas como crime, traição, amores, sendo
importante para a classe trabalhadora o que lhes é próximo, como casamento, filhos,
relações pessoais e o sexo.
Já a proposta de Williams no livro “Cultura e Sociedade” foi verificar como
palavras como indústria, democracia, classe, arte e cultura sofreram mudanças no uso e,
com isso, construir um mapa das mudanças que ocorreram na maneira de pensar sobre a
vida comum e sobre as instituições sociais, políticas e econômicas. Com isso, conseguiu
descrever e analisar a complexidade da palavra cultura e sua formação histórica,
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postulando que o termo cultura não pode servir para definir qualquer tipo de diretriz
social e pessoal, contribuindo assim para elaborar uma nova teoria geral da cultura.
Williams explora ainda que o surgimento da palavra massas ganha representação
naquele contexto à medida que há uma enorme aglomeração física nas cidades, devido à
industrialização e em virtude do desenvolvimento de uma classe trabalhadora
organizada. Ele defende ainda que as massas não existem, há apenas formas de ver as
pessoas como massas, já que massas são sempre as outras pessoas, pois ninguém se
identifica como parte delas. A teoria geral da cultura para Williams corresponde à teoria
das relações entre os elementos de um sistema amplo de vida. Desta forma, ele rejeita a
ideia de que exista uma discrepância entre uma cultura de massas e uma suposta cultura
da minoria. Ele relativiza esta ideia de hierarquia, porque mesmo tendo diferenças nos
padrões de consumo e no discurso entre os indivíduos das classes trabalhadoras e das
classes mais altas, há uma partilha de heranças culturais, uma convergência de
experiências, o que significa dizer que não há uma oposição completa entre eles.
Rompe-se, portanto, com a ideia de cultura esteja relacionada à classe mais alta.
Vale salientar as contribuições dadas por Thompson através da obra “A
Formação da Classe Operária Inglesa”, publicada em 1963. Thompson também
contribuiu para que novas leituras sobre a classe e sobre a cultura operária fossem feitas.
Enfoca seu estudo na constituição da classe, interpretando classe como um processo
ativo e dinâmico que é o resultado de uma evolução que se transforma ao longo do
tempo. Nas palavras do próprio autor:
Por classe, entendo um fenômeno histórico, que unifica uma série de acontecimentos díspares e aparentemente desconectados, tanto na matéria-prima da experiência como na consciência. Ressalto que é um fenômeno histórico. Não vejo a classe como uma “estrutura”, nem mesmo como uma “categoria”, mas como algo que ocorre efetivamente [...] nas relações humanas.
A obra de Thompson aponta que a classe operária inglesa nasceu de um processo
histórico anterior à Revolução Industrial. Ele sugere que ela se origina da história
política, cultural e econômica. Como se o ethos da classe operária inglesa tenha se
formado a partir das diferentes formas de resistência à religião que impunham uma
rigorosa disciplina no trabalho, na Igreja e na vida cotidiana. As diretrizes religiosas
protestantes repreendiam as formas de diversão da classe operária, o que provocou
manifestações de resistência. Thompson demonstra como a classe operária inglesa
conseguiu, através da resistência à cultura tradicional, construir uma “nova cultura”.
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Segundo ele, a exploração das classes operárias não determina que eles sejam
totalmente submissos ou passivos.
No livro “Resistance Through Rituals” (1975), John Clarke, Stuart Hall, Tony
Jefferson e Brian Roberts retomam o conceito de juventude como categoria de classe,
identificando a cultura de massa de uma forma menos ofensiva do que os teóricos
críticos marxistas da Escola de Frankfurt. Eles rompem com a visão de que a juventude
é manipulada e homogênea. É significativa a proximidade nas formas de análise
utilizadas pelos três autores, ao reunir diferentes formas de expressão e ao retratar os
aspectos da vida cotidiana da população. Eles construíram a base teórica dos Estudos
Culturais, possibilitando uma nova leitura do significado da palavra cultura, que vai
além daquela estática e homogênea pertencente às classes mais letradas.
Um autor muito importante neste contexto é Stuart Hall, que foi responsável, em
certa medida, pela propagação dessas ideias para outros campos do conhecimento. Hall
esteve à frente do CCCS entre 1970 e 1979, em substituição ao cargo que, até então,
ocupara Richard Hoggart. Publicou diversos trabalhos a partir das perspectivas deste
campo. Foi no período em que Hall dirigiu o CCCS que os Estudos Culturais se
consolidaram, ampliando-se os estudos das subculturas juvenis britânicas, tais como
teds, mods, skinheads, rastas e em seguida, viria o punk. A subcultura é uma resposta da
juventude aos problemas sociais decorrentes da imposição de um estilo de vida
hegemônico imposto por uma classe social tradicional, representa uma resistência à
tradição.
THORNTON (1996) explorou as hierarquias criadas dentro de outra subcultura,
a dos dance clubs e festas raves britânicas. Uma das características mais marcantes da
pesquisa da socióloga canadense foi mudar o foco das tradicionais divisões entre “nós”
e “eles” anteriormente feitas em estudos de subculturas, entre as quais a dos punks, dos
teddy boys, dos rastas, dos hippies etc. Segundo CAMPANELLA (2010; p.176), alguns
dos mais importantes trabalhos pertencentes à tradição dos Estudos Culturais Britânicos
que investigaram a cultura popular - denominação esta que abrange subculturas, como
as mencionadas acima -, concentraram-se no mapeamento de disputas simbólicas como
forma de resistência às culturas dominantes. De um modo geral, esses são estudos que
analisam como adolescentes de classes trabalhadoras, donas de casa ou jovens negros
buscavam transformar suas condições desfavoráveis na sociedade por meio da
subversão e criação de novos sentidos culturais.
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A combinação dessas dinâmicas se mostrou fundamental para a geração de uma
comunidade rica em disputas por status, legitimidade e capital social e subcultural
(THORNTON, 1996). Segundo a autora, este último conceito pode ser útil para se
pensar as culturas jovens e foi a partir dele que ela desenvolveu a ideia de capital
subcultural. Em suas palavras:
“[o] capital subcultural confere status para o seu possuidor, aos olhos daquelas
pessoas que importam. [...] Assim como livros ou pinturas são demonstrações
de capital cultural dentro da casa de uma família, o capital subcultural é
objetificado na forma de cortes de cabelo da moda, e de coleções de discos bem
construídas.” (Thornton, 1996, p. 11)
O capital subcultural descrito a partir da etnografia de Thornton é ligado a um
tipo de conhecimento de que é in, ou seja, de quem está por dentro dos acontecimentos e
que por isso sabem como falar, que gírias usar, que roupas vestir, como dançar certos
estilos musicais. Ao mesmo tempo, esta pessoa deve demonstrá-lo de maneira natural e
espontânea. Capital subcultural não se aprende através da educação formal, é resultado
do contato com culturas que incorporam aspectos como rebeldia, juventude,
independência, masculinidade, especialização, heterogeneidade e radicalismo (ibid., p.
115).
As discussões nas aulas da disciplina “Cultura midiática e experiência da
juventude” foram essenciais para apontar que autenticidade e resistência são dois
conceitos fundamentais para entender se os fãs de k-pop brasileiros constituem ou não
uma subcultura. Mesmo com os investimentos citados, os eventos de anime e a Hallyu,
o k-pop mantinha-se, até bem pouco tempo atrás, limitado às fronteiras dos países
asiáticos. Nesse contexto, a internet teve papel fundamental. O espaço virtual tornou-se
o grande aliado da expansão mundial do k-pop, com destaque para o canal de vídeos
Youtube, que se mostra determinante: o vídeo de k-pop com menos visualizações no
Youtube foi visto quase 70 milhões de vezes. Além do Youtube, as mídias sociais como
Facebook, onde fãs organizam eventos de k-pop, e Twitter, onde os artistas são alçados
com frequência aos trending topics (tópicos mais comentados) também contribuíram e
contribuem para tornar o k-pop um fenômeno musical. Sem tais ferramentas, muito
possivelmente o k-pop não seria difundido no Brasil, e sem dúvidas, não com a mesma
velocidade.
Com mais de dois bilhões de visualizações no Youtube, o vídeo Gangnam Style,
do coreano Psy, não pode deixar de ser mencionado. Muitos dos jovens entrevistados
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disseram ter tido o primeiro contato com o universo k-pop através deste sucesso.
Embora se mantenha recordista de visualizações, o cantor não é mencionado como
favorito de nenhum fã k-pop entrevistado, perdendo para bandas como Super Junior,
Girls Generation, EXO, Infinity e muitas outras.
O fanatismo por esses grupos provoca comportamentos interessantes nos jovens.
A necessidade de consumir produtos relacionados aos ídolos é comum à maioria.
Praticamente todos compram os CDs das suas bandas favoritas, mesmo que precisem
abrir mão de consumir outro objeto, já que estes produtos são mais caros que a média do
mercado. Alguns já deixam dinheiro guardado para uma “emergência”, que seria um
show de algum ídolo anunciado em cima da hora. Todos concordam que os CDs são
muito bem produzidos, primorosos, totalmente diferentes de quaisquer outros, pois
contêm fotos, livreto, cards. Para alguns, é um objeto tão valioso que não é tocado:
mesmo tendo o CD, baixam as músicas da internet para não terem que tocá-lo, pois
funcionam como ponte entre o fã e o ídolo. Como disse DOUGLAS (2004), “os bens
são neutros, seus usos são sociais; podem ser usados como cercas ou pontes”.
Se a estratégia da Coreia do Sul é, através do k-pop, tornar mais consumidos os
diversos produtos da Hallyu, a julgar pelos fãs brasileiros, parece estar surtindo efeito.
O interesse pelo k-pop despertou em muitos fãs a vontade de aprender mais sobre o
país, a começar pelo idioma. Todos têm vontade de conhecer a Coreia, embora a
maioria perceba o país como bem diferente do Brasil e diz não saber se moraria lá. O
conhecimento acerca do país, da música coreana, dos ídolos k-pop e da cultura coreana
de modo geral pode ser entendido como o capital subcultural que torna ou não um
jovem k-pop.
É comum fãs de k-pop fazerem parte de grupos cover dos seus ídolos, imitando
as coreografias e chegando a competir em eventos. Nesses casos, os ensaios tomam todo
o tempo livre. Outros, mesmo sem competir, aprendem as coreografias nem que seja
para confraternizar. Confraternização, aliás, é um ponto importante. Nossa pesquisa
mostrou que os fãs de k-pop no Rio de Janeiro são jovens que, com indicações de
amigos ou por conta própria, conheceram o gênero através da Internet, principalmente
através de vídeos no Youtube. A maioria, em um primeiro contato, se sentia um
estranho no ninho, mas o consumo do k-pop aproximou fãs de todas as localidades, seja
nos eventos aos quais comparecem, seja no ambiente virtual. Como afirma HALL
(2011; p 74), os fluxos culturais entre as nações e o consumismo global criam
possibilidades de identidades partilhadas, como consumidores para os mesmos bens,
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ainda que estejam em pontos diferentes do planeta. Cada vez mais as identidades se
tornam desvinculadas de tempos, lugares, histórias e tradições, e parecem flutuar
livremente.
Essa identidade comum parece ter feito com que os fãs “abrasileirassem” o k-
pop. Se na cultura oriental não são comuns demonstrações públicas de afeto, os fãs
brasileiros têm a integração e a inclusão como ponto forte dos eventos de k-pop. Na
contramão de uma sociedade individualizada, muitos jovens vão sozinhos aos
encontros, porque sabem que farão novos amigos com facilidade, a partir da construção
da identidade em comum: ouvem as mesmas músicas, falam sobre os mesmos artistas,
dançam as mesmas coreografias. Observamos, no encontro ao qual comparecemos, que
os jovens não usam celular, exceto para tirar fotos, não comem, não bebem. Segundo
eles, não querem perder o momento em que sua música preferida tocar. Na definição
desses mesmos jovens, estão “afundados”, no melhor dos sentidos, no k-pop.
PAREI AQUI!
Análise das entrevistas
A Corea passa a ser incorporada através da música:
A gente acaba que entra (no universo k-pop) pela música, mas hoje em dia eu já
gosto do país por um todo, mas a gente acaba pesquisando seja governo, modo de vida,
comida…
Menino, morador do Meier, 19 anos
Os pontos turísticos, aonde a gente vai, a gente acaba montando lugares que a
gente quer ir quando vai para Coréia, tanto é que a gente até sabe uns lugares, uns
nomes de lugares de lá…
Menina, Moradora de Água Santa, 19 anos
Autenticidade é fundamental, não dá para ser o que não é:
Teve até um menino, o Chiam, ele era do Sul, ele era loiro dos olhos azuis, ele
fez intercâmbio para Coreia, voltou e fez plástica para virar coreano. Eu acho exagero.
Acho que acaba que passa do ponto…
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Menino, morador do Meier, 19 anos
O dzang, ele é tipo assim, o modelo asiático, eles têm um tipo de maquiagem,
eles tiram foto, eles tentam chegar na perfeição, no estilo perfeito do coreano, aí ele…
Ele tira esse tipo de foto, ele pinta o cabelo toda hora e tals, e ele fez essa plástica
porque tipo assim, “ah, ele queria virar coreano e tal”, mas tipo assim, você não é
coreano cara, você nunca vai ser coreano, sabe? Mesmo você fazendo plástica, sei lá,
você mudando de nome… Você não vai ser coreano.
Menina, Moradora de Água Santa, 19 anos
Referindo-se a um grupo brasileiro que tentou montar um grupo k-pop:
Em vez de eles quererem usar o estilo brasileiro e botar, o brasileiro tem um
estilo próprio, funk, pagode… Eles quiseram se basear tanto lá que acabou ficando uma
coisa muito artificial. Não passou uma emoção que normalmente a gente sente em
algumas músicas, então fica aquela coisa…
Menina, Moradora de Agua Santa, 19 anos
Sistema de produção de ídolos para exportar a cultura nacional:
(fiquei na dúvida sobre colocar isso já lá na parte em que eu explico que os
jovens processaram a SM. Deixei pra vc ver)
Alguns jovens coreanos estão processando as empresas porque recebem, durante
anos, pouco ou nenhum dinheiro. Alguns escândalos têm surgido, os fãs percebem e têm
certa resistência a este sistema. Este processo não é bem visto por nenhum dos
entrevistados, sentem-se responsáveis por eles porque têm uma relação de “irmãos” com
os ídolos e não são passivos em ajudá-los, como podemos perceber na fala deles:
“Os fãs ou eles vão pra frente da empresa pra mostrar isso ou eles fazem projetos
gigantes pra empresa ver tipo “não, vocês estão errados, eles estão certos, vamos fazer alguma
coisa pra ajudar”. Os fãs, eles fazem de tudo pra ajudar o ídolo, pra, tipo, eles levantam hashtag
no Twitter, eles fazem projetos no Facebook, eles fazem… Eles, tipo assim, “ah, vamos doar sei
lá o quê pra gente comprar isso pra ajudar”, e os fãs doam dinheiro, eles doam…”
Menina, Moradora de Água Santa, 19 anos
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Porque o K-Pop tem isso, sai um grupo a cada dia, praticamente, é uma coisa…
É muito bom, mas é muito industrial, é muito uma formula certa. Isso é um lado ruim
também, é muito “vamos treinar por três anos, e debutar esse grupo…”, debutar é
lançar, e fica essa coisa… Então, assim, a cada semana lança um grupo diferente, então
a cada semana tem um grupo diferente pra você gostar.
Menino, morador do Meier, 19 anos
Os trainees são os que normalmente são selecionados… Treinam e treinam para
ou debutar ou não, que é se lançar. Ou eles vão ser lançados ou eles simplesmente
treinam por dois anos e o cara chega e fala “ah, não, você não quero mais”!
Menina, Moradora de Agua Santa, 19 anos
O Jokon. Ele treinou por 7 anos e ele não sabia quando que ele ia se lançar, se
ele ia se lançar, ele ficou tipo assim, todo dia sei lá quantas horas treinando…
Menina, Moradora de Agua Santa, 19 anos
A maneira de pensar que tudo tem que ser perfeito, que não pode ser nada
errado, tanto que muitos fazem plástica pra ficar o mais bonito possível, o mais
certinho…
Menina, Moradora de Agua Santa, 19 anos
Cultura material
Como podemos identificar em muitas subculturas, existe uma cultura material
própria do k-pop. Independente do sexo, todos usam maquiagem para se apresentarem
nos eventos. Além disso, colecionar os DVD´s das bandas preferidas, torna-se algo
sagrado. Alguns têm DVD´s que jamais foram ouvidos. Segundo, os entrevistados, o
CD é muito bonito, parece uma revista e podemos percebem que o consumo destes
produtos possui dimensões simbólicas: culto, pertencimento e ajuda. A primeira, porque
comprar o DVD é uma forma de idolatrar a banda e aquele objeto torna-se algo sagrado
diante de outros DVDs. Além disso, ao adquirir o DVD da banda preferida o fã ganha
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um passaporte que o coloca num status superior aos demais. Trata-se um capital
subcultural para este grupo que ao mesmo tempo que o insere em um grupo, se
apresenta sob a forma de uma disputa por status que é conquistada através do consumo.
Por fim, comprar um DVD é uma forma de patrocinar o sucesso de uma banda. Na
Coreia existem concursos para ver qual banda vende mais CD e alguns jovens compram
o CD para ajudar a banda a ganhar a competição. A maior parte dos jovens usa sites de
e-commerce asiáticos para comprar produtos como: DVD, camisetas, bolsas, mochilas,
carteiras. No Brasil, não há lojas físicas acessíveis para a compra destes produtos, sendo
a internet um canal fundamental para a concretização deste consumo.
Porque cada vez que eles ganham, a banda ganha dinheiro, a empresa acaba deixando
com que a banda não sofra tanto em relação a treinamento e etc, porque quando eles não
ganham, quando eles não ganham, por exemplo, a minha banda preferida que é a East, eles são
considerados uma banda não tão famosa. Então, por exemplo, eles nunca ganharam um
programa, então eles se culpam muito, eles acham que eles são ruins, que eles não tão dando o
melhor deles. Sendo que, assim, eles são bons do jeito deles, só que eles acham que a culpa é
deles, e isso é muito do K-Pop também. Qualquer coisa que eles façam, que acaba tendo uma
repercussão, eles falam que a culpa é deles, que eles que são ruins, que eles não merecem o
respeito de ninguém, porque tem muito essa pressão da empresa de se eles não conseguirem a
culpa é deles, porque eles falharam, eles que são ruins. Isso que eu acho que é muito ruim,
porque é muita pressão pra pouca gente. Porque os idols também, os ídolos, tão cada vez
ficando mais novos, essa minha banda favorite tem a nossa idade e eles já fazem shows foram
do Brasil… Fora da Coréia, já vieram pro Brasil duas vezes, acaba que você para e pensa, são
pessoas de 19 anos que tão tendo uma pressão de pessoas de 30
Menino, morador do Meier, 19 anos
Ao mesmo tempo, alguns produtos foram abandonados pelos jovens ao entrarem
no k-pop, especialmente revistas. As meninas dizem que compravam Capricho para ver
e saber sobre os seus ídolos, mas os DVD´s das bandas coreanas têm uma revista muito
bem produzida e ilustrada com todas as informações dos artistas. Segundo algumas
entrevistadas, elas não precisam saber de mais nada.
A internet tem um papel essencial
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Podemos afirmar que sem a internet o k-pop não teria a repercussão que tem. Ela
é essencial para que se conheçam as bandas, para que se forme um comunidade k-pop
no Brasil, para que existe o consumo de produtos relacionados, para a amplificação da
cultura coreana, para que as bandas se comuniquem com os fãs e para que elas
divulguem sua agenda de shows. Podemos afirmar que toda a publicidade das bandas é
feita nas redes sociais como facebook e youtube, o que é muito adequado para se atingir
o público jovem, numa estratégia bastante eficiente.
As diferenças entre os fãs do Brasil e da Corea
Na Corea, os fãs elegem sua banda preferida e seguem fieis a ela. Não podem
gostar de várias bandas ao mesmo tempo, analogamente ao Brasil seriam como times de
futebol. O brasileiro parece ter topicalizado isso, talvez pela natureza miscigenada do
brasileiro, este comportamento não teve muita aderência no Brasil, já que os fãs aqui
normalmente gostam de tudo um pouco.
O fanatismo lá é muito forte, chega as vezes até dar medo. E na Ásia, tipo assim,
é muito diferente do Brasil, que na Ásia o coreano só pode ser fã de uma banda. Aqui,
exemplo, eu e Augusto, a gente é fã de, sei lá, de quase todas as bandas. Lá não, lá é só
de um, você…Você só pode ser fã de uma. É como um time de futebol.
Menina, Moradora de Agua Santa, 19 anos
Você escolheu, você fica. Você pode mudar, você pode gostar de outro, mas
normalmente você sai de um e vai pra outro. Você não é mais daquele, você só gosta
da… Daquela banda. É bem fanatismo doente, assim.
Menino, morador do Meier, 19 anos
O K-pop parece ser um lugar seguro para os jovens
Eu acho que no dia a dia o que mais afeta é que no K-Pop a gente pode ser um pouco
mais livre em relação a tudo. Se a gente quiser falar o que for, se a gente quiser fazer, agir do
jeito que for, a gente pode agir. No mundo, mais pra fora, a gente tenta se controlar um pouco
por ter medo do que as pessoas vão falar, do que as pessoas vão achar, julgar e etc. No K-Pop é
muito difícil de acontecer, de a pessoa ter algum tipo de preconceito, seja pelo… Por gosto,
gosto fora do K-Pop, não tem muito isso. Agora já, fora do K-Pop, a gente se sente um pouco
mais ameaçado de acontecer alguma coisa.
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Menina, Moradora de Agua Santa, 19 anos
A música para os jovens
“eu não me importo com a língua, eu… A música pra mim tem que mexer comigo, se
fez alguma coisa em mim eu já gosto. Mesmo que eu não entenda, depois eu vá ler a letra e
pode ser uma coisa totalmente nada haver, mas assim, desde aquele negócio mexeu…
emoção…”
Menina, Moradora de Agua Santa, 19 anos
O processo de construção dos ídolos
Para fazer parte de um grupo k-pop é necessário um processo, assim como os
ídolos têm um processo de trabalho para serem promovidos, os fãs também passam por
um ritual até se tornarem parte do grupo. Primeiro precisam escolher uma banda
principal, em seguida pesquisar tudo sobre eles e por fim, aprender a dançar a
coreografia das músicas.
como tem vários grupos, você tem que ver um que se identifica com você, sabe? E, não
sei, escutar música… É, porque assim, eu e o Augusto, tem uns fãs que são tipo assim, “ah,
você tem que saber tudo daquele grupo, você tem que saber a marca da calcinha que a mulher
usa”.
Menina, Moradora de Agua Santa, 19 anos
“caraca, achei esse grupo aqui que ninguém conhece, vou abrir pra todo mundo,
vou me achar o…”
Menino, morador do Meier, 19 anos
A diversidade dentro do K-pop
Existem diversas formas de cada jovem se apresentar neste grupo. Alguns
dançam e fazem parte de grupos cover das bandas, cobrando inclusive para se
apresentarem em festas e eventos, outros gostam apenas de dançar nas rodas de amigos
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e têm ainda aqueles que nem dançam e participam dos encontros apenas para conversar
e se reunir com amigos.
Interessante observar que se forma uma grande roda e grupos menores fazem no
centro a coreografia da música que está tocando. Num dado momento, toca uma música
e dois jovens que ainda estavam chegando, jogam suas mochilas e adentram a roda
dançando de forma efusiva. Eles chegaram no exato momento que tocava sua música
preferida, da banda preferida. Neste mesmo instante, alguns iniciantes, um pouco mais
afastados da roda, tentam acompanhar a coreografia ainda não assimilada e por isso
cometem alguns erros que nem são notados pelos demais. Ao final de cada música, o
“micro grupo” se abraça, como se estivessem comemorando a performance
coletiva, ......, toca outra música e outro “micro grupo” se forma para realizar seus
passos, cada música, uma coreografia e um grupo específico. Dentro de um mesmo
conjunto de pessoas, grupos menores se aglutinam de acordo com a afinidade que têm
por uma ou mais bandas.
Em relação às bandas, todas são divertidas e têm coreografias sincronizadas, mas
cada uma tem um estilo. Em geral, as bandas são femininas ou masculinas, grupos
mistos são muito raros. Embora, haja esta diferença, o ethos do K-pop é feminino, dado
que os homens se apropriam de representações femininas como maquiagem, uso de
lentes de contato, uso extremo da vaidade e danças bem marcadas. Cada banda tem um
estilo, algumas são mais sexy, outras mais divertidas e engraçadas e outras ainda são
ousadas. Os grupos femininos sofrem uma certa pressão na Corea porque não é bem
visto que as meninas façam danças mais sensuais. Mas, alguns grupos femininos estão
fazendo isso como forma de resistência à cultura coreana de que a mulher precisa ser
recatada e não pode mostrar muito o corpo.
A sensação do k-pop
Atualmente, as músicas coreanas têm um refrão em inglês numa tentativa de
atingir um público cada vez maior. Apesar disso, a maior parte da música não é
entendida pelo público ao redor do mundo. Segundo os jovens entrevistados, o k-pop é
um jeito de se expressar e uma música para ser sentida ao invés de entendida. Para eles,
a música é muito associada à felicidade, alegria e diversão. Em outros momentos, a
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música parece um remédio capaz de curar tristezas, acalmar e trazer os bons
sentimentos de volta. Alguns jovens dizem passar mal nos shows porque a emoção de
dançar na frente dos ídolos é catártica.
Juventude e o k-pop
Os “k-popers” brasileiros são jovens entre 15 e 24 anos. É natural acreditar que
este seja um momento típico da juventude onde existe o culto aos ídolos e um
agrupamento em torno de uma causa. Os entrevistados acreditam que quando ficarem
mais velhos se afastarão do k-pop porque dizem não fazer sentido dançar na rua ou em
eventos quando se é mais velho. Eles só se lembram de uma pessoa adulta que gosta de
frequentar os grupos de k-pop.
O fato de os artistas se preocuparem com a imagem e não fazerem loucuras
parece ser algo copiado pelos fãs. Nos eventos, é proibido consumir bebida alcoólica e,
segundo os jovens, não há consumo de álcool ou droga. Esta imagem de “bom moço” é
facilmente apropriada pelo público e também pela publicidade, segundo alguns
entrevistados na Coreia do Sul alguns ídolos estão presentes na publicidade,
principalmente na de produtos de beleza para a pele, como BB Cream da L´oreal.
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