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  • Dossi: Biodiversidade, Poltica e Religio Artigo original DOI

    Licena Creative Commons Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Unported

    Horizonte, Belo Horizonte, v. 8, n. 17, p. 88-108, abr./jun. 2010 - ISSN: 2175-5841 88

    Encantarias Afroindgenas na Amaznia Marajoara:

    Narrativas, Praticas de Cura e (In)tolerncias Religiosas

    Afroindigena Encantarias in the Marajoara Amazonia: Narratives, Cure

    Practices and Religious (in) tolerance

    Agenor Sarraf Pacheco

    Resumo A Amaznia Marajoara, no Par, constituiu-se desde os tempos coloniais em importante zona de contatos scio-culturais entre ndios, colonizadores e africanos. Para alm dos emprstimos, intercmbios e sociabilidades ali estabelecidas, especialmente entre ndios e negros, originando modos de vida afroindgenas, a regio tornou-se palco de contnuos conflitos e (in)tolerncias estabelecidos pelos poderes polticos e, especialmente, religiosos, contra prticas, rituais, modos de acreditar e viver de grupos oriundos de matrizes orais. Sob a orientao terica dos Estudos Culturais Britnicos, Latino-Americanos e do Pensamento Ps-Colonial, o artigo acompanha, por meio de narrativas histricas, movimentos de controle e transgresso, negao e (re)afirmao constitudos entre ndios, negros, afroindgenas, elites polticas e religiosas em torno das encantarias amaznicas, destacando especialmente percepes e posturas dos padres Agostinianos Recoletos a partir de 1928, quando fundaram e assumiram a direo do projeto de evangelizao do grande arquiplago em tempos de expanso e disseminao de formas e modos de romanizao. Palavras-chave: Encantarias Afroindgenas; Prticas de Cura; (In)tolerncias Religiosas; Amaznia Marajoara. Abstract The Marajoara Amaznia in Par, consisted, since the colonial times, in contact zones of social-culture exchange between Indians, settlers and Africans. Way beyond the lends, interchanges and sociability there settled, specially between Indians and black people, giving birth to a way of living called afroindigenas, the region became a place of continuous conflicts and (in)tolerance established by the politic powers and, specially, religious, against rituals, beliefs, and way of living of those groups which came from the oral heritage. Under the theoretical orientation of the British Cultural Studies, Latin Americans and the Pos-colonial though, this article brings, from the historical narratives, movements of control, transgressions, negation and (re)affirmation putted between indians, negros, afroindigenas, political and religious elites, around the amazonic encatarias, highlighting the perceptions and postures of the Augustinian recoletos priests, since 1928, the year of the foundation of the evangelization of the great archipelago in the times of expansion and dissemination of ways and forms of romanization. Key words: Afroindigena, encantaria, Cure practices, Religious (in)tolerance, Marajoara Amazonia.

    Artigo recebido em 05 de abril de 2010 e aprovado em 08de junho 2010. Doutor em Histria Social (PUC-SP, 2004, 2009). Atua especialmente nos temas: Memrias, Identidades,

    Saberes, Religiosidades letradas e de matrizes orais afroindgenas em circuitos da Amaznia Marajoara, bem como Imaginrio, Representaes, Cotidiano e Histrias Locais no contexto amaznico. Pas de origem: Brasil. E-mail: [email protected]

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    Introduo: Tempos de conflitos

    O ano era 1863. O roteiro, uma visita pastoral pelo Maraj dos Campos. O personagem de destaque, o bispo D. Macedo Costa, o homem da Questo Religiosa no Par e da I Questo Nazarena. As localidades visitadas: Soure, Salvaterra, Joanes, Monsars e Condeixa. Em Joanes, uma proibio: deixar de celebrar os mistrios na velha capela que estava para ruir. Logo mais, com olhares repugnantes assistiu: uma festa de ndios em honra de Santo Tom com o tradicional sair, dana caracterstica acompanhada de canto montono (LUSTOSA, 1992, pp. 81-2). Em Soure, depois de providenciar a ereo do novo cemitrio, o bispo entrevistou o clebre paj do povoado, condenando em pblico suas imposturas (Idem, p. 82).

    O ano era 1932. O roteiro, uma visita pastoral pelo Maraj dos Campos. O redator da memria preservada, o arcebispo de Belm, D. Antnio de Almeida Lustosa, o homem da II Questo Nazarena. O local, Curupuac, interior de Ponta de Pedras. O fato? Tratava-se de um ocorrido no perodo da Cabanagem, quando So Francisco de Brgia, para se livrar do furor iconoclasta do movimento, foi deixado sob os cuidados de uma velha escrava. Porm, atrados pelos bruxuleios da lmpada que ardia ante ela, os revoltosos irromperam de dio contra a imagem sagrada e sacando um terado a mutilaram (LUSTOSA, 1976, 370).

    Dois episdios, distintos contextos, complexos processos envolvendo querelas em torno de poderes, cosmologias e saberes revelados em magias, divindades, smbolos, rituais e crenas, enquanto expresses da persistncia e teimosia de religiosidades com fortes ndices de oralidades indgenas e africanas ainda no vencidas e convencidas a sair de cena do palco da histria marajoara.

    O mundo mstico da encantaria brasileira1 tem, na Amaznia Marajoara2, um de seus maiores lcus de existncia. Regio culturalmente gestada na confluncia de matrizes indgenas, europeias e africanas, os marajoaras de campos e florestas, em seus modos de

    1 A expresso vem do grupo de estudos que organizou a VIII Jornada sobre Alternativas Religiosas na

    Amrica Latina, realizado em setembro de 1998, na USP, cuja direo esteve sob a responsabilidade de Reginaldo Prandi. O grupo entende encantaria brasileira como indicativo de uma realidade mgico-religiosa formada de mltiplas modalidades que, embora mantendo cada uma sua autonomia ritual e mtica participam, cada vez mais, como elementos dinmicos, de um quadro geral que as rene numa nica e grande religio brasileira: a religio dos encantados. (PRANDI, 2006, p. 09). Nessa linha de raciocnio aberta por Prandi e o grupo de estudiosos das alternativas religiosas, o termo afroindgena, cunhado ao longo da pesquisa e explorado mais adiante, ganha maior sustentabilidade, por traduzir experincias de contatos partilhados no somente entre ndios e negros, mas entre povos e culturais continuamente em encontros e assimilaes. 2 A chamada ilha de Maraj, na foz do rio Amazonas, maior ilha flvio-marinha do mundo, com mais de 50

    mil quilmetros quadrados distribudos em regies de campos naturais, zonas de matas, praias, rios e mar. conformada, geogrfica e culturalmente pelo Maraj dos Campos, na parte oriental, que compreende os municpios de Soure, Salvaterra, Cachoeira do Arari, Santa Cruz do Arari, Ponta de Pedras e Muan. J o Maraj das Florestas, no lado ocidental, abarca os municpios de So Sebastio da Boa Vista, Curralinho, Bagre, Breves, Melgao, Portel, Anajs, Gurup e Afu (PACHECO, 2009, p. 23).

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    conviver com crenas nos poderes dos pajs, benzedores, curandeiros, pais-de-santo, ao insistirem em curar seus corpos e de seus iguais na fora desses saberes ditos tradicionais, continuam a perturbar a lgica racional/cartesiana, que orienta projetos globais a materializarem em culturas locais uma concepo de vida e religiosidade monoltica e europocntrica3.

    Se o campo da religio constituiu-se, historicamente, em espao de intensa perseguio por parte dos poderes eclesisticos e civis contra rituais afroindgenas4, na

    contramo tornaram-se tambm territrios onde praticantes desses universos puderam resguardar e reafirmar suas religiosidades interligadas a divindades cultuadas por seus ancestrais. Nas artimanhas desenhadas para burlar controles e intolerncias5, naes indgenas e africanas refizeram espaos do sagrado, inseriram outros repertrios e orculos de matrizes culturais diversas, alguns para enlaar emprstimos e influncias recprocas, outros para usar a arma dominante e no se deixar encapsular.

    Os dramas e redes que envolveram territrios de religiosidades subterrneas permitem apreender batalhas de seus praticantes, devotos e adeptos por assegurar

    dimenses liminares de seus modos de vida. Para dizer melhor, faz-se necessrio recorrer a Certeau quando, discutindo processos de mudanas sofridos pelas culturas populares na

    Frana, a partir de meados do sculo XIX, identificou suas expresses religiosas como (...) nica linguagem que ainda lhe permite exprimir-se diante do triunfo da razo que deseja neg-la. A linguagem da religio poderia, nesse caso, ser o ltimo recurso de uma cultura que no pode mais se manifestar e que deve se calar ou se disfarar para que se faa ouvir uma ordem cultural diferente (CERTEAU, 1995, p. 73).

    3 Este argumento baseia-se em reflexes conceituais formuladas por intelectuais dos Estudos Culturais Latino-

    Americanos e do pensamento Ps-Colonial. Nesses termos, entre outros, ver: (BHABHA, 2003; HALL, 2003; MIGNOLO, 2003 e 2005; SHOHAT e STAM, 2006). 4 No bojo da investigao para a escrita da tese de doutoramento, seguindo orientaes da teoria das

    mediaes culturais (HALL, 2003; MARTIN-BARBERO, 2001), tornou-se possvel cunhar a expresso afroindgena para evidenciar como, na Amaznia Marajoara, quase impossvel discutir a presena africana descolada de relaes, interaes e redes de sociabilidades tecidas com grupos nativos da regio. Desde a presena dos primeiros africanos nos Marajs no sculo XVII e sua maior visibilidade com a Companhia Geral de Comrcio do Gro-Par e Maranho (1755-1778), ou mesmo depois de sua extino, os mais de 53.000 africanos recrutados para a regio, no deixaram de criar zonas de contato e reinventar espaos de liberdade sob o regime das guas e sabedorias indgenas (PACHECO, 2009). 5 Sobre inabilidades, preconceitos, desrespeitos e indiferenas em lidar com cdigos do universo afro-

    brasileiro, especialmente por parte de seitas contemporneas, ver: (SILVA, 2007).

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    As religies afroindgenas na Amaznia, desde o perodo colonial, sofreram vigilncias da Coroa Portuguesa sob o olhar punitivo da Igreja. Documentos da presena do Santo Ofcio da Inquisio no Estado do Par (1763-1769), estudados por Laura de Mello e Souza e Rosa Elizabeth Acevedo Marin do conta de expor uma srie de acusaes feitas contra escravos, mulatos, ndios e moradores pobres, tanto de Belm, quanto do interior da

    provncia. Estas memrias escritas registraram prticas de feitiaria realizadas em torno de oraes para recuperar amores perdidos, adivinhaes, usando diferentes instrumentos

    como balaio, tesoura ou amuletos (SOUZA, 1986; ACEVEDO MARIN, 1987). Amaral Lapa recuperou do livro de visitao do Santo Ofcio, prticas e crenas

    operadas por ndios e negros como formas de exorcismo e uso de banhos para afastar foras invisveis que deixavam em sofrimentos populaes paraenses. Esses indiciados eram punidos por praticarem curas mgicas em benzees com ervas ou o prprio tero, realizarem oraes pseudo-catlicas ou de So Cipriano, contra quebranto, mau-olhado, feitios, amarraes amorosas (LAPA, 1978).

    Apesar das formas de punio praticadas pelo poder eclesistico, que quase sempre

    recaiam sobre populaes socialmente marginalizadas, exploradas e desrespeitadas em seus direitos e liberdades, a professora Rosa Acevedo assinalou que munidos de suas crenas,

    apoiavam-se no imaginrio religioso como reduto de valores culturais agredidos pelo colonizador; a religio lhes servia de ponto de unio, mas era tambm utilizada com vistas a sua diviso (ACEVEDO MARIN, 1987, p. 63).

    Maus, ao refletir sobre as mesmas prticas e contexto histrico, comenta que tudo isso demonstra o quanto prosseguia viva uma voz subterrnea, popular, sincrtica, que representava a formao da voz nativa das Amaznias, em contato com o processo rpido e violento da conquista e colonizao portuguesas (MAUS, 1999, p. 88).

    A cobia portuguesa pelas terras marajoaras transformou campos e florestas em territrios de importantes produes econmicas, sustentadas pelo viveiro de homens, mulheres e culturas ali reunidas e em tentativas de submisso. possvel que os primeiros africanos tenham sido introduzidos na regio, a partir de 1644, junto com as primeiras cabeas de gado vacum transportadas das Ilhas de Cabo Verde.

    Nesse mesmo contexto, enquanto Jesutas fundavam, na parte de florestas, as

    aldeias Guaricuru (Melgao), Arucar (Portel) e Araticu (Oeiras), explorando a coleta das

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    drogas do serto, o cultivo da cana de acar e da mandioca, no lado dos campos, outros jesutas, juntamente com mercedrios, carmelitas, franciscanos e colonos portugueses cuidavam de barganhar concesses de terras junto a Coroa. Seus objetivos eram construir fazendas, roas de mandioca e outros gneros, alm de mapear espaos de pesca, utilizando, inicialmente, mo-de-obra nativa e depois de africanos recolhidos em diversos

    portos do continente negro (PACHECO, 2009, p. 244). Ao longo desses sculos, a histria regional foi alinhavada por prticas de

    explorao, dizimao, resistncia e astuciosas reatualizaes de populaes portadoras de saberes e religiosidades afroindgenas. Para hierarquias eclesisticas e civis, essas expresses culturais representavam perigos porque, ao conseguirem manter outros modos de lidar com a ideia de respeito autoridade, ao trabalho, ao sagrado, festa e prpria concepo de morte, sustentados em suas ancestrais tradies, questionavam a matriz apostlico-romana e ocidental.

    A Amaznia paraense, no contexto do bispado de D. Antnio de Macedo Costa (1861-1890), foi inserida nas perspectivas de orientaes eclesisticas romanizadoras6, em cujo centro de seus controles e perseguies tambm estiveram prticas religiosas dos universos afroindgenas. Nesse enredo, torna-se compreensvel porque o homem da Questo Religiosa assistiu, com eivada indiferena, o sair de Joanes e excomungou o paj de Soure7.

    Em Belm, no to cantado e estudado perodo da Belle poque (1870-1912), apesar de toda a poltica lemista de embelezamento da cidade e esforos para civilizar hbitos e costumes imprprios modernidade urbano-cntrica de inspirao francesa, Aldrin Figueiredo constatou que no houve qualquer iniciativa em dotar os hospitais e asilos com

    6 O termo romanizao recorrente nos estudos do catolicismo brasileiro a partir do sculo XIX. Seu

    pressuposto bsico era a adequao do catolicismo ao Conclio Tridentino e s orientaes de Roma para promover uma grande reforma na vida catlica. Suas interpretaes, entretanto, so extremamente variadas, porque orientaes hierrquicas foram sempre ressignificadas e praticadas com outros sentidos, tanto por religiosos, quanto por populares. Da ser mais prudente utilizar a categoria no plural para no perder de vista o movimento que a orientao romana assumiu em histrias locais. Sem perder de vista essas dinmicas, apoiando-me em Abreu preciso dizer que esse movimento reformador, sustentado pela lgica ultramontano, condenou o pensamento liberal, emergente na sociedade brasileira daqueles tempos. Igualmente, lutou por sacralizar os locais de culto, moralizar o clero, reforar a estrutura hierrquica da Igreja e diminuir o poder dos leigos organizados nas irmandades, bem como guerreou contra diferentes prticas de cura operadas por populaes pobres de descendncia indgena e negra (ABREU, 1998, p. 312). 7 Para Anaza Vergolino a pajelana vivida na Amaznia, de procedncia indgena, uma forma de

    xamanismo em que se d a ocorrncia do fenmeno da incorporao pelo paj, sendo seu corpo tomado, no transe ritual, por entidades conhecidas como encantados ou caruanas (VERGOLINO, 2005, p. 64).

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    um corpo de mdicos capaz de atender as doenas mais comuns. Eram pajs e curandeiros os que, afinal, tratavam das verminoses, febres palustres e sezes, to comuns nas populaes mais pobres das capitais, do interior do Par e do Amazonas (FIGUEIREDO, 2003, p. 59).

    Uma das principais metrpoles da Amaznia, em sua poca de esplendor, vivia

    profundos dilemas para se tornar a petit francesa, conforme pensavam seus planejadores. Parecia que, quanto mais o poder pblico esforava-se para negar aspectos provinciais da

    vida urbana, mais os habitantes reafirmavam antigas tradies e costumes operando com seus saberes locais.

    O carter heterogneo e multifacetado das relaes estabelecidas entre poder poltico, eclesistico, diligentes policiais, bares da borracha, profissionais liberais, moradores, pajs, aponta a inveno de complexas experincias e mediaes culturais, ora divergentes, convergentes, ou passando ao largo das maiores tenses sociais. Da serem perceptveis, no contexto dos anos 30 do sculo XX, posturas extremamente diferentes entre o arcebispo de Belm, D. Antnio de Almeida Lustosa, quando criticou e taxou a

    prtica da negra guardi de So Francisco de Brgia como bruxaria e o interventor paraense Magalhes Barata que se protegia com a me-de-santo Maria Aguiar (VERGULINO, 2003, pp. 15-6)8.

    Nos romances de Dalcdio Jurandir, maior literato das cosmologias e saberes afroindgenas na Amaznia Marajoara, facilmente visualizam-se, em algumas vilas ou cidades do Maraj dos Campos, tentativas de poderes eclesisticos e polticos locais em controlarem manifestaes populares como danas de bois e arraiais festivos ou ritos afroindgenas. Outra fonte onde podem ser encontrados esses controles reside, em jornais do sculo XIX, que circularam na grande imprensa paraense quando autoridades ou moradores, j sob orientaes eclesisticas, denunciaram pajs, macumbeiros e feiticeiros por suas prticas demonacas. Em conversa informal com o professor Aldrin Moura, a proximidade de Cachoeira do Arari, nos Campos de Maraj, com Belm, talvez explique

    8 Segundo a memria oral, conta-se que inicialmente o interventor perseguia os terreiros at o momento em

    que a vingana dos encantados o fez tirar os sapatos e danar no espao daquela guia espiritual. Em sua gesto, Barata nomeou como seu secretrio particular o funcionrio pblico Miguel Silva, mdium da casa de Maria Aguiar. (Idem, p. 16).

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    por que aquela cidade foi, recorrentemente, citada em matutinos da capital, como espao em que vez ou outra vivia a encapsular aes e feitos de pajs daquele municpio.

    A partir de agora, o texto mergulha nas tenses vividas na Amaznia Marajoara em torno dos rituais de encantarias praticados pelas populaes ribeirinhas, filhas das mesclas afroindgenas, explorando depoimentos orais de padres, irms e documentos eclesisticos

    como memrias, crnicas e relatrios confeccionados pelos Agostinianos Recoletos a partir de 1950. A proposta desvelar percepes e posturas adotadas pelos regulares diante da lgica de mundo que sustenta modos de ser, viver, saber e acreditar dos habitantes das regies de campos e florestas marajoaras.

    Aspecto importante no cruzamento do conjunto de olhares dos religiosos e religiosas seu carter individual e distinto. Mesmo participando de orientaes eclesisticas assentadas em matriz sacramental, diferenciaes tanto na tonalidade e performance da narrativa, quanto em seu contedo sero visivelmente perceptveis. Essas posturas explicitam o carter multifacetado, contraditrio e complexo da percepo crist sobre celebraes, rituais e smbolos das religies de heranas afroindgenas.

    (In)tolerantes olhares religiosos

    As representaes sobre a Amaznia Marajoara elaboradas pelos padres agostinianos Recoletos a partir de 1930, quando assumiram os rumos da f crist na regio, reproduziram imagens restritas e imutveis: campos como espao de uma religiosidade de matriz africana e florestas de torro indgena. Desvalorizando os trnsitos de povos e culturas entre campos e florestas, as letras missionrias silenciaram ritos, rostos e matrizes das religiosidades afroindgenas em suas memrias documentais.

    No percurso dos 80 anos de registro, a investigao conseguiu identificar apenas 03 referncias sobre celebraes praticados pelos populares. Apesar desta ausncia, no h

    dvidas que diferentes religiosos foram (in)tolerantes e guerrearam em palavras, gestos e aes contra benzedores, curandeiros, pajs e pais-de-santo nos primeiros 40 anos (1930-1970) da presena agostiniana na regio. Igualmente possvel apostar que sentiram embaraos para toler-los depois de Medelln.

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    Sinal desse preconceito vem da denominao da religiosidade indgena como supersties que, para o universo dos padres espanhis, compreendiam tudo aquilo que pouco lhe era aceitvel e coerente como expresso do mundo sagrado ou estava situado no limbo do catolicismo esclarecido. Em 1959, Salvaterra foi configurada como um lugar de pouco movimento e grande indiferena prtica religiosa estabelecida. O redator

    justificava a situao em virtude da falta de sacerdotes, possibilitando a catlicos formarem sua religio misturada de abusos e falsas crenas oriundas do tempo dos ndios. Nos

    momentos de doena, s vezes por falta de mdico e outras vezes por seguir a prtica supersticiosa, consultam-se com o paj curandeiro da terra. Chateadamente o proco explicava:

    Mediante gestos ridculos feitos com a forada aguardente que vo tomando os poucos tratam de impressionar o cliente, chamando ao mesmo tempo os mestres (espritos dos velhos ndios que andam rodando pelo ar, para que venham ensinar o remdio certo). No fim, o paj d sua receita que quase sempre consiste em chs de ervas da terra. Esperando, em primeiro lugar, na graa de Deus e disciplinando cada vez mais as irmandades, propagadas na parquia, Centro Agostiniano, Apostolado da Orao, Filhas de Maria e Cruzada Eucarstica, purificaremos cada vez mais a religio, separando o gro das ervas ms e da palha (Boletim da Provncia de Santo Toms de Vila Nova (A partir de agora BPSTVN/OAR). Un Missionrio, 1959, num. 393, p. 236).

    A escrita do religioso acena para a necessidade de domesticar e desqualificar aquelas prticas de cura, que no so sobrevivncias dos universos indgenas, mas vivas expresses de fatos religiosos ou hierofanias, para usar rica terminologia cunhada por

    Eliade (2008). A narrativa permite adentrar em circuitos culturais de populaes de tradies orais que, formadas em concepes de respeito e equilbrio cultura e natureza,

    trocaram entre si cdigos, simbologias e sabedorias mesmo diante dos olhares enviesados dos representantes da instituio catlica.

    Enquadrado numa formao teolgica romanizadora, o argumento do padre para o controle daquele modo de vida apontou apenas a errncia e negatividade da manifestao

    de f. Apesar da forte presena de povoados de descendncia negra em Salvaterra, alguns atualmente na fase de reconhecimento de sua identidade como comunidade quilombola

    (ACEVEDO MARIN, 2006), outros j legalmente autodenominados herdeiros da terra, na

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    documentao da Ordem Agostiniana no aparece nenhuma expresso de suas crenas e religiosidades.

    Um estudo de campo nestas reas, de certo ajudaria a compreender o movimento percorrido por essas populaes na defesa, adaptao e reelaborao de antigos traos de suas vivncias e relaes com o sagrado. Entrevistas com D. Jos Luis Azcona, Frei Joo

    Antnio Gonzalez, Irm Rita e Irm Eufrsia Amlia, ao falarem de prticas culturais expressas e vividas por habitantes do Maraj dos Campos, permitem entrever tanto experincias de Soure, quanto de Chaves e Salvaterra.

    Afu, a Veneza do Maraj, foi desde a instalao da Ordem, em 1946, uma parquia promissora, o mesmo no se pode dizer de Chaves, municpio que a ela ficou subordinado pastoralmente at a dcada de 1990. Ali, a fora da cultura das fazendas, especialmente o modo de vida deixado por antigos negros escravos e famlias afroindgenas, conformou, na viso agostiniana, um tipo especfico de religiosidade, cujas expresses foram e ainda so difceis de compreenso para a lgica do catolicismo sacramental.

    Na dcada de 1970, Frei Jos de Juana documentou dessemelhanas entre a religiosidade dos campos e das florestas. Se pde perceber a diferena da religiosidade dos moradores dos rios de Afu e Anajs com os que vivem nos campos de Chaves. Os primeiros muitos mais respeitosos e atentos, aceitando as orientaes sobre matrimnios, batismos e formao de comunidades, os de Chaves parecem algo embrutecidos e em geral orgulhosos (BPSTVN/OAR, 1977, num. 485, p. 126).

    A diferena entre campos e florestas foi, recorrentemente, apontada pelos padres de Afu. Para alm das facilidades de navegar nos espaos de florestas e as dificuldades de atingir campos, no norte da ilha, os padres tambm procuraram reforar o modo como se

    expressavam esses distintos moradores.

    En el sentido religioso debemos destacar por una parte la regin de las islas donde la gente es muy religiosa, acogen con gran estima al sacerdote y el Evangelio; por otra parte est la regin de los campos, haciendas donde la gente es menos comunicativa, ms fra en una palabra menos religiosa. Hay que constatar que est entrando poco a poco el materialismo (BPSTVN/OAR. Comunidad de Afu. 1984, num. 517, p. 121).

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    Por una parte la regin de los campos (haciendas o cortijos) donde la gente es de raza negra, descendiente de africanos, estos pueblos son poco religiosos, con poca cultura, gente solitaria. Por otra parte la regin de las islas, la gente es bien diferente. Acogen con entusiasmo el Evangelio, son gente ms abierta y comunicativa, etc (BPSTVN/OAR, Comunidade de Afu. 1985, num. 521, p. 522).

    Irm Rita de Cssia, natural de Minas Gerais, chegou regio marajoara, no final da dcada de 90, para integrar a primeira Comunidade Religiosa nativa, Filhas da Divina Graa, criada em 1987 pelo bispo D. Jos Azcona. Suas experincias com o trabalho pastoral realizado em Soure, Salvaterra e depois em Melgao, permitiu-lhe construir percepes em torno do modo de viver entre as duas principais realidades regionais. Comungou a perspectiva de que na regio de campos a f do povo mais fria, j nas florestas existe maior calor, vitalidade, o que no autoriza falar em uma populao convertida ao catolicismo letrado.

    A superficialidade da f manifestada em atos, gestos e nas grandes procisses demonstraram para a religiosa, um homem marajoara preso a sua individualidade, limitado ao rito e sacramento do batismo, pois ainda no conseguiu aderir ao projeto revolucionrio de Jesus Cristo para viver a dimenso plena do servio como leigo. Dentro desse eixo e seus limites, observa o marajoara da floresta com maior disponibilidade e facilidade para assumir, em sua comunidade religiosa, tarefas que lhes so muito difceis. A dificuldade apresentada para apreender com segurana um saber pastoral, justifica-se pelo precrio domnio da leitura e da escrita.

    Mesmo defendendo a proposta da urgncia do desenvolvimento de uma nova conscincia crist, a religiosa compreende no ser tarefa fcil para homens de campos e

    florestas, espaos urbanos e rurais assumirem a identidade de leigo. A trajetria trilhada pela Igreja Catlica na regio, com as visitas espordicas dos padres nas desobrigas e as dificuldades para o estabelecimento das parquias, foram/so barreiras que se transpem diante do novo projeto de evangelizao defendida pela Prelazia de Maraj.

    Entre respeito, tolerncia e necessidade de equacionar mudanas de mentalidades, os sentidos assumidos pela religio na vida do povo, fazem irm Rita reconhecer que preciso valoriz-los, preserv-los, pois so tradies assentadas em razes profundas e consistentes. A gente percebe que a religiosidade do povo ainda uma forma de alimentar

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    a prpria vida, ele precisa crer, ele precisa esperar, ele precisa se agarrar ao Divino, principalmente nas dificuldades da vida e se este Divino est por tradio neste ou naquele santo padroeiro ento a que ele forma sua espiritualidade, sua relao com Deus (Entrevista realizada em agosto de 2006).

    Ao expor tal compreenso, a religiosa identifica traos de heranas de f, cujas referncias esto nos antepassados. A cultura indgena que legou a existncia do paj, o lder espiritual da tribo, e os cultos chegados com as disporas africanas para a regio, to

    vivas nos campos, so particularidades que precisam ser levadas em conta no processo de converso. Trabalhar a purificao dessas formas de expresso , para irm Rita, um desafio indispensvel e precisa ser urgentemente assumido por todos os religiosos que constroem suas identidades missionrias em terras marajoaras.

    Frei Joo Antonio Gonzalez, procurando apresentar sua viso do modo de ser e viver entre campos e florestas, comps interpretao que traz a diferena de trajetrias entre habitantes desses espaos. Para ele, a religiosidade de pessoas das ilhas/florestas manifesta-se de uma forma muito aberta, comunicativa, expressiva, diferenciando-se com grande

    nfase de moradores dos campos. As pessoas de f eram mais numerosas na regio das ilhas do que nos campos, havia sempre uma maior participao nas celebraes realizadas

    (Entrevista realizada em junho de 2008). As razes para o aparecimento dessas diferenas estariam, para o religioso, no

    processo de organizao territorial do trabalho e na prpria geografia fsica dos espaos onde habitaram antigos moradores. Enquanto na regio de campos, ndios, negros, afroindgenas viveram em cercamentos de fazendas sem grandes contatos com o mundo externo em funo da prpria dinmica de trabalho empregada por senhores e feitores, no espao de florestas a diversidade de rios abertos para todos os lados, interligando e facilitando a circulao de povos e culturas, ajudou gestao de identidades plurais alinhavadas em mediaes que aglutinaram traos indgenas, negros escravos, fugitivos quilombolas9, nordestinos e estrangeiros como portugueses, judeus, turcos, norte

    9 Pesquisa desenvolvida por Vergolino-Henry e Figueiredo, sobre africanos na Amaznia, demonstra que

    ambientes da floresta marajoara como Melgao, Portel, Gurup, Anajs, Breves ou de municpios em fronteiras como Oeiras, foram espaos de vivncias de negros na condio de escravos ou de fugitivos. (VERGOLINO-HENRY e FIGUEIREDO, 1990, pp. 53 e 62). Nas pesquisas de Gomes so recorrentes as passagens em que escravos fugidos de diferentes localidades do Par, Macap e Guiana Brasileira, embrenharam-se e constituram provisrios quilombos e mocambos no Maraj das Florestas. No oitavo

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    americanos. Da, Frei Joo Antnio interpretar que a possibilidade de construir maiores mesclas culturais entre essas populaes facilitou a disseminao do projeto evangelizador.

    O regime das fazendas, empregado por senhores nos campos certamente se distinguiu do regime empregado por religiosos, colonos e proprietrios de terras a serem lavradas na floresta. De outro ngulo, preciso no perder de vista formas dominantes que

    vaqueiros, agricultores, pescadores, seringueiros, palmiteiros, extratores de madeira historicamente foram submetidos.

    Se houve maior liberdade para circular e realizar trocas culturais entre os habitantes da floresta, no se pode esquecer que vaqueiros, mesmo vivendo em fazendas, ainda que vigiados, estabeleceram contatos com seus iguais instalados em outras fazendas e com o prprio mundo externo, quando visitavam as cidades para realizar ofcios a mando de seus senhores. O tempo das ferras do gado, as festas de So Sebastio e outros santos cultuados naquelas cercanias, configuraram espaos para o estabelecimento de inmeras sociabilidades.

    O possvel desinteresse pela religio crist, que negros descendentes de africanos

    demonstraram diante dos padres agostinianos pode ser respondido de outra maneira. de conhecimento do mundo acadmico inteirado em estudos do processo de catequizao de

    ndios e negros na colnia, que preocupaes na converso das gentes escravizadas no espao colonial estiveram bem mais focalizadas ao ndio do que ao africano.

    Se o leitor lembrar que o mito branco-bblico, da maldio de Cam10, foi retomado por missionrios nas colnias luso-espanholas como justificao para a servido de negros, no fica difcil compreender o papel decisivo assumido pela Igreja na formulao da instituio da escravido nas Amricas. preciso no esquecer que a desgraa da servido era princpio de felicidade e salvao (HURBON, 1992, p. 536).

    Destarte, o projeto missionrio portugus, mesmo pretendendo retirar do estgio de barbrie, africanos traficados para o Brasil, especialmente para negar suas crenas religiosas, deixou-os entregues a orientao de seus donos. Sobre essa aparente

    ambiguidade vivida pela poltica portuguesa na catequizao dos negros em disporas pelos

    captulo de minha tese de doutorado, tais espaos e movimentaes foram mais bem apresentados. Por hora cito as duas principais referncias desse autor: (GOMES, 1999 e GOMES, 2005). 10

    Este mito narra que Cam era o filho mais moreno de No. Ao ver o pai nu e embriagado, seus descendentes foram amaldioados a trabalhar para obter redeno de seu pecado mortal. Para saber mais, ler: (HERNANDEZ, 2005, 423).

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    Brasis, a professora Josildeth Consorte desenvolveu interessante comentrio: Desse modo, nem o monoplio do sagrado exercido pela Igreja, nem sua onipresena na vida da colnia e do Imprio, nem mesmo os ensinamentos recebidos das sinhs e das sinhazinhas no interior das casas-grandes e dos sobrados seriam suficientes para convert-los inteiramente ao catolicismo (2004, p. 197).

    Na busca do entendimento de sentidos e recepes que moradores de campos e florestas expressaram diante da evangelizao dos padres agostinianos, explicao

    apresentada por D. Jos Luis Azcona, quando questionado sobre a diferena entre a religiosidade vivida nos dois lados da regio, discorda da compreenso de que habitantes de Soure, Salvaterra e Chaves sejam poucos religiosos ou detentores de uma religiosidade fria. Segundo ele, seus 24 anos de vivncia permitiram afinar a seguinte compreenso: os marajoaras dos campos so supremamente religiosos e infinitamente religiosos, seu problema reside no sincretismo pavoroso e atroz, na confuso que fazem de crenas. Em seu Olimpo entra todo mundo. Ali se vive uma religiosidade muito vinculada natureza, aos antepassados, aos defuntos, aos espritos, enorme a relao com o animismo

    (Entrevista realizada em agosto de 2008). Por apresentarem tal comportamento, apesar se serem potencialmente capazes de

    incorporar um novo viver religioso, suas relaes com crenas em seres antepassados ou do fogo, da gua, da terra, do ar, da floresta, inviabiliza, na tica do prelado, o desenvolvimento pleno de uma religiosidade que seja capaz de integrar seus valores, filtrando-os por uma outra racionalidade11. Para D. Jos, enquanto continuarem apegados aos seus muitos deuses controladores de suas foras e liberdades, vivero subjugados e na passividade em relao ao cristianismo, sem condies de lutarem para tomarem a frente sua histria.

    Ento para mim so duas razes muito profundas que explicam o atraso daquela regio: uma cultural e a outra religiosa. A reside o nosso grande desafio. Na parte de florestas no enfrentamos essa complicao to grande. Aqui o homem e a mulher j tm uma forte religiosidade, profundssima, no est to marcada por

    11 Zlia Lopes da Silva, em prefcio a obra de Carvalho que acompanhou processos de mudanas culturais no

    tocante a hbitos e prticas de sade em So Paulo, entre as dcadas de 1950 e 1980, compreende estar-se diante de campos polares de percepes diferentes de saberes, gestando fissuras que produziram estigmas a conhecimentos populares sobre doenas. Desse modo, perseguies e tolerncias acompanharam convenincias histricas. (CARVALHO, 2005, p. 11).

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    esses caos religiosos em que o homem fica dominado, controlado que no tem a autonomia para dizer: a histria minha (Depoimento citado).

    Frei Joo Antnio Gonzalez, ao ter convivido diretamente com o saber religioso de populaes de campos (Chaves, Soure) e florestas (Afu, Anajs), percebeu que o entrave para a Ordem implantar uma catequese eficiente esteve, alm da falta de transporte e dos difceis meios de comunicao, a dificuldade em lidar com o sincretismo do povo.

    Essa uma dificuldade que chega at hoje. Est enraizada essa cultura arcaica como a africana, como a nativa, a indgena, e leva no sangue o que a umbanda, toda esta manifestao, o que o paj, a pajelana, o candombl, as misturas que passam pelo ndio, mas desgua na umbanda, na macumba, na pajelana. Tudo est muito enraizado no povo, o que dificulta o crescimento de uma f autntica, pois eles tm participado de crenas muito fortes (Depoimento citado).

    Na compreenso deste padre, campos e florestas participaram de uma religiosidade herdada de seus antepassados. Trata-se de tradies que foram vlidas para tempos mais recuados, quando a presena do paj, do curador, do pai-de-santo, do rezador, substitua a ausncia do padre e do mdico. Em tempos modernos, difcil para o religioso aceitar que essas populaes continuem utilizando os mesmos referenciais de crenas, quando todas as

    comunidades j esto, paroquialmente constitudas em constante formao pastoral de seus dirigentes.

    Como entender a mentalidade de um dirigente ou membro de comunidade que, apesar de ouvir inmeras vezes, ser o centro da f crist Jesus Cristo, continue, seja no espao rural ou mesmo urbano, levando seu filho para ser benzido contra quebranto e mau-olhado? Se a luta dos padres para minimizar a relao homens e santos, ou pelo menos alterar sentidos atribudos ao orago ainda acena sinais de sua continuidade, o combate a crenas em caruanas e orixs indica ao religioso que os argumentos utilizados precisam ser repensados, mesmo em tempos de liberdades e perspectivas de tolerncia religiosa na regio.

    A postura mais compreensiva de Frei Joo Antnio, ao abordar o difcil lidar com universos culturais que beberam no catolicismo, mas no se permitiram dominar, ainda que

    no negue o lugar social de onde fala e compreende o campo do sagrado nos Marajs, mostra a heterogeneidades de posturas e modos de conduzir o trabalho de evangelizao pelos diversos padres instalados em parquias pertencentes Prelazia. A leitura de mundo,

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    a formao scio-cultural, sem esquecer a filosfica e a teolgica, a personalidade, a psicologia humana, a maneira como se relacionam com esses universos de crena e as circunstncias onde as prticas se manifestam, so aspectos que ajudam a compreender determinadas atitudes adotadas pelos regulares.

    Frei Cleto Milln, ao falar de seus contatos com ritos desenvolvidos por benzedores

    e pajs, recomps leituras e dimenses que complexificam a interpretao dos atores sociais e dos sentidos atribudos pelo poder eclesistico ao ritual xamanstico vivido na

    regio de florestas. Numa de suas visitas as CEBs de Afu desembarcou numa comunidade em que o filho do dirigente estava muito enfermo. Depois de visitar a criana, procurou informaes se ela j tinha recebido algum atendimento hospitalar. Este padre ficou revoltado ao saber que o nico tratamento foi conduzido pelas mos de um benzedor.

    J fazia dez dias que o menor de idade estava acamado, piorando diariamente e sem soluo do problema. Conforme padre Cleto, mesmo tendo orientado a famlia a ir cidade levar a criana ao mdico, a chegada tardia fez o menor perecer. Diante disso, assinalou que a ao de falsos pajs e benzedores da floresta, ao representar uma perda de tempo vivida pelo doente, deveria ser perseguida pela justia, porque muitas pessoas morrem por causa deles, prometem, no conseguem curar a enfermidade e o resultado a morte (Entrevista realizada em agosto de 2008).

    Com o avano da medicina cientfica e as inmeras querelas entre mdicos e pajs, to recorrentemente noticiadas em jornais do sculo XIX e primeiras dcadas do XX, os praticantes da medicina mgico-teraputica reatualizaram suas concepes sobre os tipos de doenas que se desenvolvem entre as pessoas. Nas conversas realizadas ou acessadas com/sobre benzedores, curandeiros, pajs e pais-de-santo, todos so unnimes em afirmar haver doenas que cabem medicina cientfica resolver e outras, somente com a ajuda do reino das encantarias.

    Certamente, se esse grupo de praticantes ouvisse o padre contar essa histria ocorrida entre o filho do dirigente da comunidade e o benzedor, possivelmente no

    interpretaria o insucesso do trabalho realizado, utilizando-se dos aspectos racionais apresentados por Frei Cleto, mas sustentariam seus argumentos buscando explicaes mgico-fantsticas, envolvendo foras espirituais que atuariam sobre a vida da criana, a

    necessidade do sofrimento como um ato de purificao da alma, o tempo da cura.

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    Diante destes quadros preciso avaliar o mundo dos encantarias afroindgenas em suas complexidades e ambiguidades. As relaes envolvendo padres, pajs, curandeiros e benzedores deixam ver disputas por poderes sobre o controle da cura e conduo do paciente. Na pesquisa realizada pelos alunos do curso de Histria do Campus Universitrio de Soure, por intermdio do projeto, Vaqueiros, pescadores, curandeiros e pais-de-santo, observou-se relaes conflituosas entre praticantes das religies afroindgenas. A me-de-santo Rosilda, por exemplo, quando questionada sobre sua relao com outros curandeiros,

    falou que dificilmente trabalha em parceria. Segundo ela, h uma grande desconfiana, cime, inveja e discordncia entre eles. Enquanto uns orientam a realizao do trabalho de uma maneira, outros encaminham de outro modo, da torna-se impossvel o dilogo conjunto, ainda que trabalhem com a mesma linha12.

    Aprofundando narrativas dessas prticas, padre Cleto ainda narrou dois episdios envolvendo a pajelana, como so externamente nominadas as prticas xamansticas na Amaznia13. A primeira, na visita a outra comunidade, quando viajava pelos rios brevenses, na fronteira com Afu e Anajs, para atender sete povoados do municpio de Breves que fazem parte da Parquia de N. Sr da Conceio. Um criana, por ter ficado paraltica, sua famlia acionou o trabalho do paj, contou o padre. O guia espiritual, antes de realizar seus rituais de incorporao, tirou a famlia da vila e a levou para morar com ele no alto de um igarap, prejudicando a vida escolar da criana.

    Eu fiz uma parada na visita pastoral nessa moradia e esculhambei o paj, pedi que a famlia largasse ele, porque estava acabando com a vida da criana. E na visita seguinte o paj continuava, lembro que enviei para a criana uma cadeira de roda, ela melhorou porque voltou para a vila. A f do povo no poder do paj muito forte. Mas tudo isso pago, eles alm de enganarem, exploram economicamente o povo. to interessante, que as pessoas que voc menos suspeita, porque so lideranas na comunidade, eles visitam essas pessoas (Depoimento citado).

    12 A palavra linha uma categoria importante no campo dos estudos das religies afro-brasileiras porque

    distingue e demarca entidades invisveis originalmente separadas. Segundo Laveleye, a expresso linha aproxima-se de linhagem e permite mostrar que encantados e outras entidades invisveis esto agrupados naquela determinada famlia fundadora da prtica religiosa, tal como antepassados mticos de cada etnia africana. J para o espiritismo, linha significa corrente sem ter precisamente associaes familiares; na pajelana, tem sentido topogrfico, cada linha demarca seu espao natural. H, portanto, conclui o autor, uma grande distribuio e polissemia na noo de linha que permite distinguir e aproximar concepes variadas da encantaria. (LAVELEYE, 2008, p. 117). 13

    Dois aspectos so apontados por Laveleye para questionar o uso do termo pajelana. Primeiro o seu carter multirreferencial, por agregar expresses e rituais de diferentes religies e segundo porque os praticantes no se reconhecem nos quadros da denominao, preferem ser chamados de curadores e pajs. (Idem, pp. 116-7).

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    O segundo episdio narrado pelo proco de Afu aconteceu em 2001, com uma menina menor de idade, habitante do espao rural que andava assustada. Certo dia, caminhando pela rua com sua me, a garota foi abordada por um benzedor que a prometeu, alm de livr-la do susto, muita riqueza e prosperidade. Valendo-se da situao, o benzedor em seu ritual, misturando religio e sexo, deitava a menina no assoalho, com uma bblia em

    cima do peito, e abusava-a. O padre, ao tomar conhecimento do episdio, em parceria com outros moradores e autoridades, denunciou o charlato para a polcia que o deixou preso

    por alguns anos.

    Consideraes finais: Continuidades histricas

    Parece ainda ser bastante expressiva a autoridade que exercem pajs, benzedores e curandeiros, situados nos rios de Afu, Anajs e em fronteiras com Breves, como portadores de saberes e poderes diante de populaes de origem rural. As experincias descritas por Frei Cleto e sua compreenso da persistncia desse tipo de saber-fazer mdico-religioso, em tempos atuais, apontam mltiplos sentidos, usos e apropriaes dessas prticas por variados sujeitos sociais. Independente de se questionar a veracidade das demonstraes dos falsos poderes, atitudes e interesses que curandeiros e pajs apresentaram diante do religioso, importa destacar o contnuo jogo, no cenrio regional, de complicadas disputas envolvendo a Igreja, a medicina cientfica e as prticas de cura agenciadas pelos rituais afroindgenas.

    Esses litigiosos relacionamentos que pem no palco da luta cultural saberes e religiosidades de populaes locais, contaminadas por outros contatos, muitos oriundos de experincias enraizadas antes e depois da colnia, possuem fortes ligaes com conflitos

    desencadeados nas ltimas dcadas do sculo XIX e primeiras do XX, nos fortes tempos da romanizao. Nesse perodo, marajoaras foram fortemente diligenciados em seus modos de viver e expressar crenas mistas ao associarem santos, caruanas, orixs, num mosaico de prticas culturais, festas e rituais sagrados.

    Em alguns espaos da regio, especialmente em intendncias municipais, como as situadas no Maraj dos Campos, religies afroindgenas sentirem o peso de intervenes e

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    controles de poderes institudos14. Na contramo das interdies, pajs, pais-de-santo e seus clientes no se deixaram intimidar pelas foras de poderes hegemnicos. Resistiram e reiventaram-se continuamente, seja refugiando-se em espaos situados longe dos alcances de diligncias policiais, das ex-comunhes de religiosos, agregando outros elementos do mundo religioso oficial ou utilizando cdigos de comunicaes aceitveis ao dilogo com a

    sociedade em geral. Hoje, ainda que maliciosamente, estes agentes histricos teimam a viver seus imaginrios de crenas e curas, batalhando para reafirmar suas identidades

    histricas e religiosas. No veio das cosmologias que sustentam os modos de vida dessas populaes de

    campos e florestas est a interao e respeito aos recursos naturais. Na contramo da lgica capitalista e globalizada que fragmentou o homem, a natureza e o campo espiritual, mergulhar no mundo das encantarias afroindgenas reencontrar-se com concepes de ser, cujo centro a vida humana em simbiose com o cosmo em todas as suas dimenses.

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    14 Sobre essas prticas e suas artimanhas para burlar cerceamentos nos espaos de Belm e da regio do

    Salgado, na virada do XIX para o XX, ver especialmente trabalhos de (MAUS; VERGULINO; FIGUEIREDO).

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