acsm nas neoplasias
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ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
ABSTRACT:
Over the last 30 years, therapeutic monoclonal antibodies have become an
increasingly important component of pharmacotherapy. Methods to generate
monoclonal antibodies to antigens of neoplastic cells have revolutionized our
understanding of cancer cell growth and differentiation, diagnosis, and treatment.
Monoclonal antibodies have been critical reagents for the discovery and
characterization of many key molecules involved in the behavior of neoplastic cells.
Currently, monoclonal antibodies are widely used in the differential diagnosis of
cancer and are key elements in the treatment of many forms of cancer. This review will
focus on the roles that monoclonal antibodies play in the treatment of hematological
malignancies. In particular, will be focused on acute myeloid leukemia and mature B-
cell neoplasms.
Key Words: monoclonal antibody, hematological malignancies, lymphoma, leukemia.
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ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
RESUMO:
Nos últimos 30 anos, os anticorpos monoclonais para fins terapêuticos tornaram-se
componentes cada vez mais importantes na farmacoterapia. Os métodos para gerar
anticorpos monoclonais para antígenios de células neoplásicas têm revolucionado a
nossa compreensão sobre o crescimento e a diferenciação de células cancerígenas, o
seu diagnóstico e tratamento. Os anticorpos monoclonais foram reagentes críticos
para a descoberta e caracterização de muitas moléculas chave envolvidas no
comportamento de células neoplásicas.
Atualmente, os anticorpos monoclonais são amplamente utilizados no diagnóstico
diferencial do cancro e são elementos chave no tratamento de muitas formas de
cancro. Esta revisão vai-se focar nas funções que os anticorpos monoclonais,
aprovados até à data, desempenham no tratamento de doenças hematológicas. Em
particular, vai-se focar na leucemia mielóide aguda e neoplasias das células B maduras.
Palavras-chave: Anticorpos monoclonais, neoplasias hematológicas, linfoma, leucemia.
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ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
ÍNDICE
1 Introdução ---------------------------------------------------------------------------------------- --4
2 Métodos--------------------------------------------------------------------------------------------5
3 Anticorpos Monoclonais -----------------------------------------------------------------------6
3.1 Definição ---------------------------------------------------------------------------------------6
3.2 Obtenção --------------------------------------------------------------------------------------9
3.3 Mecanismo de Ação -----------------------------------------------------------------------19
3.4 Aplicação em Neoplasias Hematopoieticas-------------------------------------------21
3.4.1 Leucemia Mielóide Aguda--------------------------------------------------------------22
3.4.2 Linfoma Não-Hodgkins------------------------------------------------------------------26
3.4.3 Leucemia Linfocitica Crónica ---------------------------------------------------------36
3.5 Vantagens e Inconvenientes -------------------------------------------------------------43
3.6 Perspectivas Futuras de Utilização -----------------------------------------------------45
4 Conclusão --------------------------------------------------------------------------------------47
5 Bibliografia ------------------------------------------------------------------------------------48
6 Agradecimentos ------------------------------------------------------------------------------53
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ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
1 INTRODUÇÃO
Nas últimas 3 décadas, os Anticorpos monoclonais (AcsM) tornaram-se cada vez mais
importantes para a farmacoterapia e tiveram um impacto significativo sobre a
descoberta de fármacos e no desenvolvimento de processos. Estima-se que mais de
500 AcsM estão actualmente em desenvolvimento, e que cerca de 30 AcsM
encontram-se aprovados pela Food and Drug Administration (FDA). A maioria dos que
já estão aprovados são para indicações oncológicas, mas a aplicação terapêutica está a
alargar-se para doenças auto-imunes, respiratórias, metabólicas e do sistema nervoso
central. Uma consequência importante da expansão da terapia com AcsM é a sua co-
administração com regimes farmacoterapêuticos estabelecidos.(1)
Até à data, existem seis AcsM aprovados pela FDA para o tratamento de neoplasias
hematológicas, o seu uso terapêutico levou à melhoria dos resultados e a uma
diminuição da toxicidade relativamente aos regimes de quimioterapia convencionais. A
redução da toxicidade resulta da sua especificidade para as células neoplásicas
afetando pouco as células não neoplasicas.(2)
Este trabalho vai-se focar principalmente nos AcsM aprovados pela FDA para uso
terapêutico nas neoplasias hematológicas, nomeadamente na leucemia mielóide
aguda e neoplasias das células B maduras.
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ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
2. MÉTODOS:
Nesta revisão, os suportes bibliográficos utilizados consistem em artigos científicos,
livros e Web sites. A obtenção de artigos foi possível através de pesquisas no PubMed
com várias combinações de diversas palavras-chave, nomeadamente, Antibody,
Monoclonal antibody, Hematological malignancy, Lymphoma, Non-Hodgkin lynphoma,
follicullar lymphoma, Leukemia, Acute myeloid leukemia, Chronic lymphocitic
leukemia, CD20, CD33, CD52 Rituximab, Ofatumumab, Alemtumumab, Gemtuzumab,
Lintuzumab, Ibritumomab Tiuxetan, Tozitumomab, Brentuximab, Campath, Mylotard,
Zevalin, Rituxan, Bexxar, Adcetris, Radioimmunotherapy, immunoconjugate.
Nos artigos obtidos com este método, certificou-se a existência de publicações
relevantes e/ou Web sites nas suas bibliografias e, nesse caso, procedeu-se à pesquisa
para obter o artigo, no PubMed ou Google. Quando o acesso ao artigo completo foi
restrito, considerou-se o resumo do mesmo, apesar da informação ser limitada. Alguns
Web sites também remeteram para outros.
Para justificar a falta de qualquer contribuição relevante, note-se que este
procedimento foi conduzido desde a segunda quinzena de Agosto de 2011 até à última
semana de Dezembro de 2011.
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ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
3 ANTICORPOS MONOCLONAIS:
3.1 DEFINIÇÃO
Os anticorpos (Acs) são moléculas de imunoglobulina bivalente com forma de Y do
sistema imunitário dos vertebrados (Figura 1), que exibem um nível extremamente
elevado de diversidade na especificidade de ligação a antigénios (Ags) alvo. Isto deve-
se ao seu domínio variável (V), que consiste numa sequência de aminoácidos única
presente nas suas cadeias leves e pesadas, que reconhece diferentes Ags e que são
gerados por inúmeros rearranjos do DNA cromossomal durante a maturação dos
linfocitos B.(3)
Fig. 1- Estrutura geral de IgG e suas regiões críticas para cada função. 6
Em 1975, os investigadores Georges Köhler e Cesar Milstein conseguiram, ao fundir
células de mieloma com linfocitos B produtores de Acs com determinada
especificidade, criar um novo tipo de célula, designada por hibridoma, que se
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ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
multiplica em cultura, mantendo uma linha celular “imortal” e produtora de Acs com
uma determinada especificidade, os AcsM. Os AcsM são uma preparação pura de Acs
que são especificos para um único Ag. (4)
Inicialmente, os AcsM eram de origem murina e eram gerados através da tecnologia de
hibridoma. Devido às diferenças entre o sistema imunitário humano e o do rato, estes
AcsM eram geralmente (embora nem sempre) ineficazes no tratamento do cancro em
humanos, devido à impossibilidade de se administrar infusões repetidas. Os avanços
tecnológicos na engenharia de proteínas recombinantes e ratos transgénicos levaram
ao desenvolvimento de AcsM quiméricos, humanizados e totalmente humanos, o que
ajudou a resolver estas limitações e acelerou o desenvolvimento de Acs com uso
terapêutico. (5)
Os AcsM murinos derivam inteiramente de ratos usando a tecnologia do hibridoma,
que envolve a fusão de células de mieloma imortalizadas com células B de ratos
imunizados. Nos seres humanos, estes Acs têm utilidade clínica limitada, porque têm
uma semi-vida curta quando em circulação, são imunogénicos e dificilmente induzem
respostas imunes efetoras nos humanos. A sua principal utilização tem sido a de
servirem como agentes alvo para radioisótopos ou citotoxinas que matam as células
tumorais alvo. Actualmente existem somente dois Acs murinos radiomarcados
aprovados para uso na terapia oncológica, o ibritumomab tiuxetan e o tositumomab.(5)
O desejo de reduzir a imunogenicidade e aumentar a eficiência imunológica dos Acs
levou à produção de AcsM quiméricos e humanizados. Os AcsM quiméricos são
construídos fundindo as regiões variáveis de murino com as regiões constantes de
humano. Os AcsM humanizados foram construídos enxertando Acs humanos com
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ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
regiões de ligação a Ags de murino. A maioria dos AcsM aprovados para a terapêutica
do cancro são humanizados. (5)
Os AcsM totalmente humanos foram desenvolvidos para reduzir ainda mais a
imunogenicidade associada aos AcsM quiméricos, os quais ainda mantêm alguns
componentes murinos. Estes são produzidos usando ratos transgénicos (animais
transgénicos portadores de um sistema imunitário "humano"). O panitumumab e o
ofatumumab são dois AcsM totalmente humanos que se encontram aprovados para
uso clínico.(5)
Embora existam várias classes / subclasses de imunoglobulinas em humanos,
atualmente os Acs para fins terapêuticos são na sua maioria do isotipo IgG1, devido à
sua semi-vida sérica longa e a sua grande capacidade de desempenharem funções
efetoras, relativamente às outras classes / subclasses.(6)
A estrutura básica da IgG1 humana é um heterodímero de ~ 150 kDa, constituído por
duas cadeias leves e duas pesadas em associação covalente e não-covalente, dividido
em três partes de proteínas independentes: dois domínios Fab e um domínio Fc,
ligados por um polipeptido flexível formando a região hinge (Figura 1). Os N-terminais
de cada cadeia leve e pesada encontram-se ligados às regiões variáveis (VL e VH), que
determinam a sua afinidade / especificidade de ligação às moléculas de Ag. O resto da
molécula de Ac, conhecida como a região constante, consiste num domínio CL,
constituinte da cadeia leve, e um domínio CH, dividido nas regiões CH1, hinge, CH2 e
CH3, constituindo a cadeia pesada. Enquanto a região variável determina a ligação aos
Ags alvo, é o domínio Fc que desencadeia as funções efetoras ligando-se a recetores
celulares tipo Fc (FcγRI, FcγRII e FcγRIII) e ao componente C1q do complemento. (6)
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3.2 OBTENÇÃO
O método convencional de obtenção de AcsM, foi descrito por Kholer & Milstein, em
1975. Este método começa com a imunização de ratinhos com um determinado Ag, a
obtenção das células B produtoras de Acs com a especificidade seleccionada e que, ao
fundirem-se com um plasmócito de mieloma, vai originar hibridomas, cada um deles
produtor de Acs rigorosamente iguais e com igual especificidade para um só dos
epitopos (grupo químico determinante) do Ag. Cada hibridoma, depois de isolado, vai
multiplicar-se, assegurando a produção de um determinado AcM (Figura 2). Pela
primeira vez foi possível obter AcsM, homogéneos, da mesma classe e com a mesma
especificidade, produzidos por hibridomas que são células estáveis, que se
reproduzem em cultura, com carácter de continuidade ilimitado, o que assegura uma
produção fácil e praticamente ilimitada de AcsM.(4)
Fig. 2- Método convencional de obtenção de AcsM. (4)
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A produção de AcsM em células de mamíferos consiste num longo processo que
envolve as etapas de transfeção do gene de interesse para o interior das células,
seleção de clones, a adaptação a diferentes condições de cultura, cultura em
biorreatores e aumento de escala até ao nível industrial.(7)
O processo começa com o desenvolvimento duma linhagem celular adequada. Se o
objetivo for a produção de pequenas quantidades de AcsM, as células de rim do
macaco verde Africano são as mais apropriadas. No entanto, não são as mais
adequadas para processos de produção em larga escala, uma vez que perdem
capacidade de produção ao longo do tempo. (8) Nesse caso, as células mais utilizadas
atualmente para esta aplicação são as células de ovário de hamster chinês, uma vez
que têm as vantagens de serem seguras para uso em seres humanos, apresentam
facilidade de transfeção, possuem um poderoso sistema de amplificação de genes, têm
facilidade de adaptação para o crescimento em suspensão e em meio livre de soro, e a
capacidade de crescer em altas densidades.(7)
As células de hibridoma foram muito usadas durante várias décadas na produção de
AcsM, no entanto, são cada vez menos usadas devido à sua sensibilidade às alterações
ambientais e aos compostos tóxicos formados durante o crescimento celular, o que
dificulta a sua cultura em grande escala. (8)
A transfeção consiste na introdução do DNA nas células e envolve várias etapas, desde
a concepção do vetor de expressão, da definição do método de transfeção (sistema de
expressão e de sistema de entrega de DNA) até à seleção das células transfetadas com
as características mais desejáveis.(8)
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ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
Os vetores devem exibir três características principais: níveis de expressão
independentes do seu local de integração no genoma, níveis de expressão
correlacionados com o número de cópias do transgene integrado e a manutenção da
eficiência de expressão ao longo do tempo. Devido a estes requisitos, os vetores
usados são normalmente plasmídeos. Os plasmídeos são moléculas circulares de DNA,
que existem nas células bacterianas para além do seu cromossoma principal, e como
possuem pelo menos uma origem de replicação podem replicar-se dentro das células.
(7)
A capacidade de expressar genes em células de mamíferos requer o uso de dois tipos
de elementos: os promotores, que conduzem a expressão do gene recombinante,
promovendo e posicionando o inicio da transcrição; e os potenciadores (enhancers),
que aumentam a transcrição. Os promotores/potenciadores mais utilizados são
provenientes do vírus símio 40 (VS40) e do citomegalovírus (CMV). (7)
Para estabilizar e promover a translação do transcrito primário podem ser usados
sinais de poliadenilação, sequências de Kozac e sequências intervenientes. Os sinais de
poliadenilação derivados de VS40 e da hormona de crescimento bovina são os mais
usados e pensa-se que prolongam a meia-vida do RNAm no citoplasma e permitem a
translação eficiente. A sequência de Kozac é óptima para circundar o codão de
iniciação dos genes dos mamíferos e é usada para melhorar a iniciação translacional do
RNAm do gene de interesse. As sequências intervenientes consistem em intrões que
são incluídos nos vectores de expressão. (7)
As moléculas de plasmideo vão ser integradas aleatoriamente no genoma hospedeiro,
e o local de integração vai influenciar a taxa de transcrição do gene recombinante, um
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fenómeno conhecido como “Efeito da Posição”. Dependendo da cromatina
circundante ao local de integração, a expressão do produto pode ser alta, baixa ou
mesmo nula. Para ultrapassar o efeito da posição, foram desenvolvidas várias
estratégias, tais como o uso de elementos anti-repressores a flanquear os vetores, a
integração de vetores em loci cromossomais específicos com cromatina aberta
(altamente transcritas) ou o uso de factores regulatórios nucleares. (7;8)
A introdução do gene pretendido na célula hospedeira de mamífero pode ser realizada
por diversos métodos, de forma transiente ou estável, dependendo da aplicação
pretendida e de factores técnicos e económicos. (7)
A produção de AcsM para fins clínicos ou comerciais é normalmente efectuada por
transfeção estável, uma vez que é possível obter uma expressão contínua do produto
por períodos de tempo prolongados permitindo a produção de grandes quantidades
(Kg/ano). (7)
A transfeção estável é conseguida pela integração do DNA no genoma da célula
hospedeira. Para garantir a integração, normalmente usa-se um gene marcador que é
transfetado em conjunto com o gene de interesse, e as células transfetadas (que
produzem o AcM) são identificadas e selecionadas pelas características do produto do
gene marcador. Isto é, no entanto, um passo trabalhoso e demorado que envolve um
investimento considerável em recursos/equipamento. (7)
A transfeção transiente é uma aproximação mais rápida e económica para a produção
de AcsM. É muito similar à estável, mas distingue-se pela eliminação dos passos de
identificação e seleção das células que integraram os plasmideos no genoma. Uma vez
que o DNA do produto é mantido/replicado como unidade extracromossomal, a
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capacidade de expressão é rapidamente perdida, somente permitindo a produção de
de pequenas quantidades de AcsM, pelo que não é usada para produção em larga
escala. (7)
Devido às diferenças entre os sistemas estáveis e transiente em termos de inserção do
plasmideo no genoma, os factores que influenciam o nível de expressão das células
transfetadas também são diferente. No sistema transiente, a eficiência da transfeção é
um dos factores mais importantes, consistindo na percentagem de células a expressar
DNA. Por outro lado, nos sistemas estáveis, a frequência de integração do DNA no
cromossoma (numero de cópias) e a posição da integração torna-se mais importante.(7)
Como foi mencionado anteriormente, na transfecção estável, é transfectado um gene
marcador com o gene de interesse, conferindo uma vantagem selectiva para as células
hospedeiras. Os genes marcadores normalmente usados são a dihidrofolato redutase
(DKFR) e a glutamina sintetase (GS). (7;8)
O sistema de expressão da DKFR, usado com células de ovário de hamster chinês, é
baseado na codificação do gene dkfr para a enzima DKFR, que está envolvida no
metabolismo de nucleótidos, catalisando a conversão de dihidrofolato em
tetrahidrofolato. Neste sistema a vantagem selectiva dada à célula transfectada é a da
resistência à geneticina. Então a selecção é feita cultivando as células em meio
contendo geneticina e sem hipoxantina e timidina. Este sistema permite um processo
de amplificação do gene que aumenta a capacidade de produção da celular, pelo uso
de metotrexato (MTX) que inibe a enzima DKFR. Usando concentrações cada vez
maiores de MTX, as células transfectadas contendo o gene dhfr vão ter de aumentar a
sua capacidade de sintetizar DHFR, amplificando o gene dhfr, no sentido de
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sobreviverem. Como a unidade de amplificação é maior que o tamanho do gene dhfr,
o gene de interesse que está localizado no mesmo vector de expressão que o gene
dhfr é também amplificado. (7;8)
Em contraste, o sistema GS explora o metabolismo da glutamina nas células de
mamíferos. A formação de glutamina segue uma via de biossintese enzimática a partir
do glutamato e amónia usando a enzima GS. Sem glutamina no meio de crescimento,
esta enzima GS é vital para as células de mamífero em cultura. Como algumas linhas
celulares não expressam enzima GS suficiente para a sobrevivência, é possível usar um
gene GS transfetado como um marcador seletivo permitindo o crescimento num meio
livre de glutamina. (7)
O sistema GS é mais vantajoso em termos de tempo relativamente ao sistema DHFR
durante o desenvolvimento, e requer menos cópias do gene recombinante por célula,
permitindo uma selecção mais rápida das linhas celulares mais produtivas. (7)
Para a introdução do gene de interesse (e do gene marcador, no caso da transfecção
estável) nas células de mamíferos, foram desenvolvidos vários sistemas de entrega de
DNA, sendo a transferência com genes não virais o sistema mais adequado em
processos produtivos. Estes métodos incluem precipitação cálcio-fosfato,
electroporação, lipofecção e transferência mediada por polímero. (7)
A precipitação cálcio-fosfato (CaPO4) é o método de transferência de plasmideos mais
usado, e baseia-se na formação de precipitado de DNA que entra nas células de
mamíferos via uma vesícula endocítica e tem a vantagem de ser económica e de
resultar em vários tipos de células. Contudo, a sua eficiência e reprodutibilidade são
baixas. (7)
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A electroporação é um método simples e rápido. O gene é entregue dentro da célula
por um campo eléctrico que interrompe o gradiente de voltagem da membrana
plasmática, criando poros reversíveis que permitem a entrada do DNA. Embora tenha
menos especificidade quanto ao tipo de células, relativamente a outros métodos de
transfeção, os parâmetros como o pico de voltagem e o tempo de descarga necessitam
de ser otimizados para cada caso. Com este método também resulta uma mais baixa
viabiliade celular pós-transfecional. Consequentemente a electroporação é mais usada
em trabalhos pequenos que requerem níveis mais baixos e mais rápidos de produção.
(7;8)
A lipofeção e a polifeção são os métodos mais recentes, e provavelmente os mais
simples, de transfeção. A lipofecção consiste numa transferência catiónica de gene
mediada por lípidos, onde lipossomas cationicos formam um complexo com o DNA
carregado negativamente. Este método pode ser realizado na presença ou ausência de
soro, com pouca ou nenhuma toxicidade, bem como com células suspensas ou ligadas.
No entanto, a quantidade de DNA e de lípidos usados bem como a razão entre eles
afeta a eficiência de transfeção pelo que tem de ser otimizado. (7;8)
A polifeção, por seu turno, refere-se a transferência de genes mediada por polímeros
cationicos, que interagem com o DNA formando um poliplexo que protege o DNA da
degradação, antes da chegada ao núcleo. Este método pode ser usado em culturas em
suspensão livres de soro. E tal como a lipofeção, a otimização do protocolo tem de ser
determinada empiricamente para cada cultura celular. (7;8)
Após a transfeção as células são sujeitas a um processo de monitorização/selecção que
dura desde a recuperação do crescimento após a transfeção, passando pela clonagem
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de célula única, amplificação, suspensão, adaptação sem soro, até à selecção final dos
clones. (7)
Após a transfeção, as células produtoras de AcsM são seleccionadas sendo sujeitas a
condições de cultura específicas que apenas permitem a sobrevivência e crescimento
dos clones celulares que expressem o gene marcador. Estes clones são transferidos
como células únicas para um segundo recipiente de cultura, onde as culturas são
expandidas para produzir populações de clones. Os clones são depois avaliados em
termos de crescimento e título do produto, e os maiores produtores são selecionados
para nova cultura e análise, para confirmar se os níveis de produtividade se mantêm. (7)
Estes clones inicialmente selecionados têm uma produtividade que pode não ser a
ótima. Para melhorar isto, as células podem ser sujeitas a sucessivas sessões de
exposição a concentrações cada vez mais altas de inibidores dos marcadores selectivos
(MTX), o que resulta na amplificação dos genes. O gene de interesse que expressa o Ac
pode ser co-amplificado com o gene do marcador seletivo, resultando num aumento
dos níveis de expressão a produtividade de AcsM. (7)
Tradicionalmente, a amplificação é realizada com uma abordagem de diluição
limitante e é um processo de sceening demorado e trabalhoso. De facto, a seleção e
monitorização de um clone altamente produtivo e estável num curto espaço de tempo
é actualmente o maior desafio. Então, devido à carga de trabalho que representa, a
seleção é feita baseada somente numa característica – o nível de expressão. Contudo,
há outras propriedades celulares que podem ser importantes no processo produtivo e
que deveriam ser incluídas na monitorização, tais como, a capacidade do clone crescer
em meio sem soro, a resistência à apoptose, as características celulares (i.e. o tamanho
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celular tem sido considerado determinante de produtividade), estabilidade na
formação do produto e a robustez geral da linha celular sob o stress e as condições do
biorreactor. É particularmente importante que o nível produtivo de AcsM dos clones
seleccionados se mantenha estável por longos períodos de tempo (pelo menos 60
gerações), uma vez que o aumento de escala do processo de cultura para níveis
industriais leva um tempo significativo. (7;8)
Após a obtenção das células produtoras de AcsM, estas têm de ser sujeitas a um
processo de adaptação a novas condições, o que pode impor algumas limitações ao
desenvolvimento do processo de produção. (7)
A produção em larga escala de AcsM em biorreatores é feita com o crescimento celular
em suspensão. Isto é porque a razão superfície/volume das culturas em suspensão é
muito mais alta que em culturas aderentes. No entanto, a maioria das células de
mamíferos crescem naturalmente em aderência e o seu crescimento em suspensão
requer um processo de adaptação. Esta adaptação não é possível para todos os tipos
celulares, o que limita a escolha da linha celular e pode ser muito demorado. (7)
A adaptação das células que crescem em aderência num meio contendo soro, a
crescerem em suspensão faz-se normalmente usando o mesmo meio mas mudando as
células para recipientes com agitação de 50-80 rpm. Para garantir uma adaptação bem
sucedida, alguns parâmetros são críticos, tais como a densidade e viabilidade do
inoculo inicial. Num processo de adaptação, há uma grande proporção das células que
não sobrevivem. Então é de extrema importância que a baixa proporção que sobrevive
seja suficiente para que expansão não demore demasiado. Por esta razão, a cultura em
suspensão deve de ser iniciada com uma densidade celular adequadamente elevada.
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Deve manter-se uma monitorização apertada da cultura durante o período de
adaptação, com o crescimento celular e viabilidade avaliados frequentemente. Os
níveis de produção também devem ser verificados, uma vez que mudam durante a
adaptação. (7;8)
O soro é um componente essencial em qualquer meio de cultura para proliferação
celular, mas tem muitas desvantagens, nomeadamente os altos custos e o risco de
transmissão de doenças de animais a humanos. Um dos principais objetivos na cultura
celular para fins comerciais é o uso de meios sem soro e sem proteínas, o que requer o
desenvolvimento de um soro específico para cada linhagem celular. (7)
Têm-se feito esforços para identificar suplementos substitutos do soro que preencham
os requisitos nutricionais complexos das células de mamíferos, o que normalmente é
feito por metodologias muito demoradas. Para ultrapassar isso, o desenho
experimental estatístico pode ser usado como uma forma eficiente de monitorizar um
grande número de suplementos do meio e identificar os mais importantes para o
crescimento celular e produção de AcsM, acelerando o processo de desenvolvimento
do meio sem soro. (7)
Mesmo após a definição química do meio sem soro, a adaptação celular ao novo meio
pode ser um processo longo, uma vez que ainda não está fisiologicamente bem
entendido. Para esta adaptação podem-se usar dois tipos de aproximação, a direta
onde o soro é completamente removido num único passo, e a gradual/sequencial
onde a concentração de soro no meio é reduzida lentamente. (7)
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Apesar de ainda não existir nenhuma forma fácil de acelerar a adaptação, o uso de
grandes densidades de inoculo, bem como as trocas de meio, centrifugando as células
e ressuspendendo em meio novo, podem de alguma forma abreviar o processo. (7)
3.3 MECANISMO DE AÇÃO
Os AcsM matam as células neoplásicas por múltiplos mecanismos, incluindo a indução
da apoptose, inibição do crescimento celular, citotoxicidade mediada pelo
complemento (CMC), citotoxicidade celular Ac-dependente (CCAD), e sensibilização à
quimioterapia ou radioterapia. Em parte devido a este aumento da sensibilidade à
quimioterapia, as terapias com AcsM levam a melhores resultados quando usado em
combinação com a quimioterapia. (2)
Numerosos estudos, incluindo in vitro, in vivo e estudos clínicos, indicam que as
funções efetoras dos Acs são mecanismos de ação particularmente importantes,
nomeadamente a CCAD e a CMC, sendo que ambas são primeiramente despoletadas
pela interação direta do domínio Fc do Ac com o seu ligante correspondente. (6)
A CCAD é um mecanismo efetor citolitico que envolve a destruição da célula
cancerígena revestida com Acs por recrutamento de células efetoras (tais como as
células natural killer, macrófagos e neutrófilos). Esta depende da ligação do Ac ao
receptor FcγRIIIa e leva à destruição das células alvo por exocitose de grânulos
citoliticos constituídos pelo complexo perfurima/granzima B (Figura 3). (5;6)
A CMC é uma cascata citolitica conhecida como a “via clássica” do sistema do
complemento, e é mediada por uma série de proteínas do complemento (C1-C9) que
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se encontram em abundância no soro. Esta cascata começa com a ligação de C1q ao
domínio Fc das moléculas do Ac ligadas à superfície das células cancerígenas e leva à
citolise (Figura 3). (5;6)
Os AcsM aprovados pela FDA que têm como principal mecanismo de acção a CCAD
são o rituxumab e o ofatumumab, no entanto a sua actividade é também parcialmente
dependente da CMC. Em contraste, o alemtuzumab induz CMC e não CCAD. (5)
Fig. 3- Mecanismo de funções efectoras de CCAD e CMC. (6)
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3.4 APLICAÇÕES EM NEOPLASIAS HEMATOPOIETICAS
Existem atualmente seis AcsM aprovados pela FDA para o tratamento de neoplasias
hematológicas (Tabela 1). Com os tratamentos com AcsM obteve-se uma melhoria dos
resultados e uma redução da toxicidade comparativamente com os regimes de
quimioterapia convencionais. (2)
Tabela 1: Anticorpos monoclonais aprovados pela FDA (7)
NOME GENERICO
NOME COMERCIAL
Ag ALVO TIPO INDICAÇÃO TERAPEUTICA
Gentuzumab ozagamicin
Mylotard® CD33 Humanizado IgG4
LMA
Rituximab Rituxan®, Mabthera®
CD20 Quimérico LNH-B, LLC
Ibritumomab tiuxetan Zevalin® CD20
Murino conjugado com
90-ItrioLNH-B
Tositumomab Bexxar® CD20Murino
conjugado com 131-Iodo
LNH-B
Ofatumumab Arzerra® CD20 Humano IgG1 LLC
Alemtuzumab Campath® CD52 Humanizado IgG1
LLC
Como é verdade para muitos tratamentos de cancro, os resultados obtidos com os
regimes de AcsM combinados são variáveis. Algumas neoplasias hematológicas com o
mesmo diagnóstico respondem bem, enquanto outras mostram pouca ou nenhuma
resposta. A resistência aos AcsM, nestes tratamentos combinados, ocorre
principalmente por razões desconhecidas, mas há indícios de que as diferenças que
contribuem para a resistência incluem a perda de expressão do Ag-alvo, o aumento da
expressão de inibidores do complemento e a modulação das vias de sinalização
celulares associadas com a apoptose ou a regulação do crescimento celular. (2)
21 FFUL
ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
3.4.1.Leucemia Mielóide Aguda:
A leucemia mielóide aguda (LMA) é a forma mais comum de leucemia em adultos. A
sua incidência aumenta com a idade e a doença manifesta-se normalmente após os 60
anos. (9)
A terapia para a LMA envolve quimioterapia de indução intensiva, que resulta numa
remissão completa em cerca de 75% dos doentes com idade inferior a 60 anos. No
entanto, os índices de remissão diminuem rapidamente com a idade, e os doentes
idosos apresentam co-morbilidades que os impedem de tolerar altas doses de
quimioterapia. Em consequência, a sobrevida média dos doentes idosos com LMA é
inferior a 6 meses (10) e menos de 30% dos doentes sobrevive mais de 3 anos (11) .
A maioria das células de LMA expressam uma série de Ags restritos, nomeadamente
CD11a, CD13, CD14, CD15, CD16, CD33 e CD64. O Ag CD33 é muito útil para a distinção
entre células mielóides e células linfóides. Estudos recentes demonstraram que uma
fração relativamente grande de populações de leucemias linfóides pode expressar
alguns desses Ags mielóides (CD33, CD13, CD65, CD15), o que amplia o valor dos
respectivos Acs no tratamento dos subtipos de leucemia. Estes Ags podem servir como
alvos para a terapia mediada por AcsM usando um dos vários mecanismos de acção.
Estes incluem CMC, CCAD, e entrega de radionuclídeos, produtos químicos ou toxinas.
(2)
Embora exista uma infinidade de possíveis Ags alvos nas células de leucemia mielóide,
apenas alguns emergiram como clinicamente relevantes com base numa variedade de
fatores, incluindo a especificidade de expressão (linhagem específica), a
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ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
disponibilidade de AcsM clinicamente úteis e, recentemente, a demonstração de
expressão nas células estaminais da leucemias. (2)
O Ag CD33 é uma glicoproteína de superfície celular geralmente expresso em células
mielóides, incluindo nas células de leucemia mielóide. É o menor membro da família
Siglec (ácido siálico de ligação de lectinas Ig-relacionados), e é uma glicoproteína de 67
kDa expressa pelos percursores mielóides bem como pelos monócitos maduros, e em
menor quantidade pelos neutrófilos. O CD33 está envolvido nas interacções celulares
dependentes do ácido siálico e na adesão das células mielóides em certas fases da sua
diferenciação. A cauda citoplasmática do CD33 contém dois motivos baseados em
tirosina, ambos com potencial imunológico inibitório. Assim, o CD33 pode servir como
um receptor inibitório. A ligação de um AcM com o CD33 induz a apoptose e inibe a
proliferação das células mielóides normais e das células de leucemia. (2)
O Gemtuzumab Ozogamicina (Mylotarg®; Wyeth-Ayerst, Madison, NJ) (GO), é um
fármaco imunoconjugado em que um AcM anti-CD33 se encontra ligado
covalentemente a um derivado semi-sintético da caliqueamicina [Oldham,2008], a
NAc-γ caliqueamicina. (11)
A caliqueamicina é um antibiótico citotóxico muito potente originalmente isolado da
Microspora echinospora ssp. Acredita-se que esse antibiótico se intercala no DNA do
mieloblasto, desencadeando o processo de apoptose. (12)
23 FFUL
ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
O GO é um AcM humanizado tipo IgG4. O Ac é ligado à N-acetil-gama caliqueamicina,
através de um ligante bifuncional e 50% do Ac é carregado com 4-6 moles de
caliqueamicina por mole de Ac. (2)
Após a ligação ao CD33, cada molécula de GO é endocitada por um mecanismo
mediado por clatrina (Figura 4). Seguindo através da via endocítica, as moléculas de
GO ligadas ao recetor passam para lisossomas, onde as condições são suficientemente
acidicas para facilitar a hidrólise eficiente da coliqueamicina e a redução na sua forma
citotoxica ativa. (11)
Fig. 4- Acção do Gemtuzumab ozogamicin na célula alvo. (11)
O principal desafio de farmacocinética para o GO é a sua ligação às células saudáveis
no sangue periférico, o que diminui a sua eficácia. Tais células expressam níveis de
CD33 suficientemente elevados para concorrerem com as células-alvo, que residem
principalmente na medula óssea. Uma opção para superar este problema é a
24 FFUL
ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
administração de várias doses de GO. A justificação para esta abordagem é que as
células na periferia ficam saturadas com o imunoconjugado após a primeira dose, e as
doses subsequentes de tratamento vão atuar principalmente nas células alvo. Pelo
mesmo raciocínio, o tratamento com uma dose superior permitiria saturar as células
periféricas e actuar eficazmente nas células-alvo na medula óssea. Uma preocupação
óbvia inerente ao aumento da dosagem é relativa aos efeitos tóxicos que podem
incorrer. Por esta razão, são necessários estudos mais aprofundados para testar estas
abordagens. (11)
Este fármaco foi aprovado, em 2000, pela FDA para a terapia da recidiva de LMA em
doentes com mais de 60 anos, que não são candidatos aos esquemas convencionais. (2)
Mas a sua aprovação foi concedida ao abrigo dos regulamentos de aprovação
acelerada da FDA com base nas taxas de resposta global (TRG) registadas em três
estudos não comparativos, pelo que foram necessários estudos clínicos posteriores.
No entanto estes estudos não demonstraram evidências dos benefícios clínicos em
doentes com LMA. Um dos estudos de fase III comparou o uso do produto em doentes
recentemente diagnosticados com LMA com idades entre os 18 e 60 anos, e concluiu
que a adição do GO à quimioterapia não melhorou a sobrevida relativamente à sua
não adição e que aumentou a taxa de toxicidade fatal induzida. (13) Como resultado, em
Outubro de 2010, a Pfiser (que adquiriu o fármaco à Wyeth) retirou voluntariamente o
produto dos mercados nos Estados Unidos. Na Europa, o fármaco permanece
disponível. (13)
O Lintuzumab, também é um AcM humanizado que tem como alvo a proteína CD33.
Como é um AcM inalterado, depende exclusivamente da sua propriedade inerente de
25 FFUL
ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
mediar os efeitos diretos através da ligação à CD33 e activar as células efetoras através
do seu domínio Fc. (2) Estudos in vitro demonstraram que o lintuzumab se liga
especificamente ao CD33 e apresenta múltiplos mecanismos de acção,
nomeadamente, induz funções efetoras através de CMC, fagocitose celular Ac-
dependente, e CCAD mediada por células natural killer (NK). Também foi demonstrado
que inibe a produção de citocinas inflamatórias via sinalização direta. (10)
O Lintuzumab foi testado em mais de 350 doentes e foi, em geral, bem tolerado.
Mesmo em doses baixas e em monoterapia, foi obtida remissão completa em vários
doentes com LMA avançada. Além disso, no cenário de doença residual mínima,
induziu remissão molecular em doentes com leucemia promielocítica aguda. (10)
Com base na actividade antileucémica demonstrada num ensaio clínico de fase 2 com
lintuzumab em monoterapia, colocou-se a hipótese do seu desenvolvimento em
associação com quimioterapia. No ensaio de fase 3, com doentes em recidiva ou com
LMA refractária que receberam quimioterapia com ou sem baixa dose de lintuzumab
(12 mg/m2 por dia, em 4 dias consecutivos), a melhoria na taxa de remição completa
atribuível ao AcM não teve significância estatística (36% vs 28%, P = 0,28). (10)
3.4.2 Linfoma Não-Hodgkin:
A incidência de linfoma não Hodgkin (LNH) aumentou dramaticamente desde 1970 até
meados de anos 90, e de acordo com a American Cancer Society aproximadamente
65540 casos foram diagnosticados nos Estados Unidos em 2010, fazendo do LNH o 7º
tipo de cancro mais comum. (14; 15)
26 FFUL
ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
A classificação do LNH de Indolente (também designado de baixo grau ou de
crescimento lento) ou Agressivo (também designado de alto grau ou de crescimento
rápido) baseia-se na evolução clínica do linfoma. (15)
No LNH indolente, o curso clínico do linfoma é lento, os doentes raramente
apresentam sintomas na fase inicial, o que leva a que este não seja detetado durante
algum tempo. Mesmo após o diagnóstico, os doentes podem não necessitar de
tratamento imediato (por vezes durante meses ou anos). (15)
Quando é necessário iniciar tratamento, este é quase sempre eficaz, levando à
redução e/ou ao desaparecimento da doença. No entanto, é frequente a doença
recidivar, o que requer novo tratamento. (15)
O LNH agressivo evolui mais rapidamente, tende a apresentar mais sintomas e requer
tratamento imediato na maioria dos casos. Estes linfomas tendem a responder bem ao
tratamento. Na realidade, a cura completa é mais provável do que nos LNH indolentes.
(15)
O quadro seguinte apresenta os principais tipos de LNH:
Tabela 2: Principais tipos de linfoma não-Hogkin (15)
27 FFUL
ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
Os resultados do tratamento para o LHN têm melhorado significativamente ao longo
da última década, especialmente devido ao desenvolvimento do AcM anti-CD20, o
Rituximab (RTX). (16)
Exceto para o mieloma, quase todas as neoplasias das células B maduras expressam
CD20, o alvo do RTX (Rituxan, MabThera, Genentech, South San Francisco, CA). O RTX
foi o primeiro AcM a receber aprovação da FDA, em 1997, para o tratamento do
cancro, nomeadamente o linfoma folicular (LF). (2)
Fig. 4- Modelo computacional da molécula de Rituximab mostrando a estrutura secundária. A estrutura primária do oligosacárido está na parte superior esquerda (37)
O RTX é um Ac IG1-kappa quimérico humano/rato que incorpora regiões variáveis de
murino e regiões constantes kappa e Fc humanas para diminuir o desenvolvimento de
imunoglobulinas anti-rato e possíveis resistências. (17)
O CD20 é uma fosfoproteína transmembranar não glicosilada com função pouco clara,
mas há evidências de que tem a atividade dos canais de cálcio e tem um papel na
regulação da ativação e crescimento de células B. O sucesso da terapia com RTX
reflete, em grande medida, determinadas características do CD20 que o tornam um
28 FFUL
ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
excelente alvo para terapia com AcsM: o CD20 não é internalizado após a ligação com
o Ac, permanece na superfície celular após a ligação e é expresso em todas as fases de
maturação das células B, mas não em células B precursoras na medula óssea ou
noutras células. Infelizmente, nem todas as neoplasias de células B maduras
expressam altos níveis de CD20 uma vez que existem evidências de que a eficácia do
RTX se correlaciona com o nível de expressão de CD20. (2)
O RTX exerce efeitos antineoplasicos através de mais do que um mecanismo de ação.
Os mecanismos predominantes que induzem a morte celular são a CCAD, a CDC e a
apoptose. (17)
O RTX provoca depleção das células B que expressam CD20, normais e neoplásicas. O
nadir da contagem de células B do sangue periférico ocorre 24-72 h após a infusão
inicial e retorna aos valores normais cerca de 9 meses após cessação da terapia. Os
doentes toleram melhor a diminuição das células-B do que a diminuição de outros
leucócitos (granulócitos ou células T), porque a imunoglobulina, o principal produto
dos linfócitos B, têm uma meia-vida entre duas a três semanas. As terapias com Acs
para outros alvos, como CD33 ou CD52 causam diminuição dos granulócitos e
aumentam o risco de infeção, o que não é tão facilmente corrigido. (2)
Devido à sua alta prevalência o LF é a neoplasia mais frequentemente tratada com
RTX. Os resultados da terapêutica são significativamente melhores com a
quimioterapia combinada que inclui RTX em relação à que não o inclui. No entanto, o
RTX em monoterapia também demonstra atividade, induzindo a remissão completa
em muitos doentes. De facto, a monoterapia com o RTX em doentes com LF teve em
geral uma TRG de 43%, uma taxa de remissão completa (TRC) de 4% e um tempo
29 FFUL
ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
médio de progressão (TMP) de 8,1 meses. As situações clínicas em que a monoterapia
beneficia mais os doentes do que a terapia combinada incluem doentes que não
toleram regimes terapêuticos com citotóxicos. No entanto, os resultados obtidos com
a terapia combinada sem RTX são melhores do que a monoterapia com RTX. Os
resultados típicos do tratamento de LF com ciclofosfamida, doxorubicina, vincristine e
prednisona (CHOP) são de 60-80% de TRG e 20% TRC. (2)
Na maioria das neoplasias das células B maduras, a terapia combinada com RTX e
quimioterapia aumenta a TRG, TMP e a sobrevivência sem eventos (SSE) relativamente
à quimiotepia ou ao RTX individualmente. Esta conclusão foi clara desde os primeiros
estudos publicados comparando a quimioterapia CHOP vs CHOP mais RTX. Os doentes
que receberam seis infusões de RTX com seis doses de CHOP tiveram uma TRG de 95%
com 55% TRC e 40% de resposta parcial (RP), a duração da resposta e TMP não foram
alcançados após os 29 meses de observação. Num estudo com LF avançado as
diferenças foram ainda mais impressionantes, os doentes tratados somente com CHOP
tiveram TRG e TRC de 57% e 10% e TMP de 15 meses enquanto os resultados dos que
foram tratados com CHOP e RTX foram TRG de 81%, TRC de 41% e TMP de 32 meses. (2)
Além das infecções devidas à diminuição das células-B, a toxicidade do RTX inclui febre
aguda, calafrios, náuseas, vómitos, broncoespasmo, e hipotensão. As maiorias destes
efeitos secundários são devidos a reações imunes ao produto ou à lise das células B
neoplásicas. As reações imunes em geral ocorrem durante ou logo após a infusão e
podem ser graves, ou mesmo fatais. As reações mais graves têm sido rotuladas de
"síndrome de libertação de citocinas". (2)
30 FFUL
ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
Relatórios recentes indicam que o tratamento do LNH de células B com RTX pode estar
associado com a reincidência de linfoma CD20-negativo, e a frequência da perda de
CD20 após o tratamento com RTX varia bastante (24, 56, 60 e 94%). (18)
Têm sido sugeridos vários mecanismos de resistência ao RTX, incluindo a selecção de
clones CD20-negativos como consequência da exposição ao RTX, os epitopos CD20
serem mascarados pelo próprio RTX, ou a verdadeira perda do Ag CD20 devido a
alterações genéticas e epigeneticas. (18)
O RTX é um bom candidato para a terapêutica de manutenção devido ao seu perfil de
eficácia e segurança favoráveis, permitindo assim que a terapêutica prolongada
melhore o resultado sem comprometer a qualidade de vida. No LNH indolente, o
tratamento de manutenção com RTX sugere claramente uma melhoria nas respostas
seguintes aos resultados obtidos com a monoterapia inicial com RTX ou com
quimioterapia. (17)
Em Janeiro de 2011 a FDA aprovou o uso do RTX no tratamento de manutenção em
doentes com LF avançado que responderam ao tratamento inicial com RTX mais
quimioterapia (tratamento de indução). Esta aprovação, foi baseada num estudo que
envolveu 1217 doentes com LF avançado e que mostrou que a administração continua
a cada dois meses, durante dois anos, em doentes que responderam ao tratamento
inicial com o RTX e quimioterapia quase dobrou a probabilidade de estes viverem sem
que a doença piore (sobrevivência sem progressão ou SSP) comparativamente com
aqueles que pararam o tratamento. (19)
31 FFUL
ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
A Radioimunoterapia (RIT) representa outra abordagem terapêutica que permite a
entrega de uma dose terapêutica de radiação a tumores disseminados. Atualmente os
AcsM radiomarcados aprovado para o tratamento de LNH folicular são o iodo-131-
tositumomab (131I-TST, Bexxar ®; GlaxoSmithKline, Research Triangle Park, NC, EUA),
que não está aprovado na União Europeia (UE) e o ítrio-90 ibritumomab tiuxetan (90Y-
IT, Zevalin ®; Bayer Schering Pharma AG, Berlin, Alemanha). Ambos têm como alvo o
Ag CD20. A RIT é uma opção no tratamento estabelecido a partir da segunda recidiva e
o 90Y-IT obteve recentemente um parecer positivo da Agência Europeia de
Medicamentos (EMEA) sobre a sua utilização como terapia de consolidação após
tratamento de primeira linha. (20)
O radioisótopo 90-ítrio (90Y) está ligado covalentemente ao AcM ibritumomab através
do quelador de alta afinidade, o tiuxetan (Figura 5). O 90Y é um emissor beta de alta
energia (2,3 MeV) com uma semi-vida física de 64 horas. Mais de 90% da radiação
emitida é absorvida em 5 mm e este comprimento corresponde a um diâmetro de 100
a 200 células, permitindo assim uma entrega altamente precisa de radiação sem a
necessidade de isolamento ou blindagem do doente. A radiação provoca danos
celulares tanto nas células alvo do linfoma como nas células vizinhas e pode ser eficaz
nos casos de tumores pobremente vascularizados e nos que expressam Ags de forma
heterogénea. (20)
32 FFUL
ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
Fig. 5: 90Y- Ibritumomab tiuxetan. (21)
O 90Y-IT está atualmente aprovado na UE para o tratamento de doentes adultos com
LNH folicular de células B CD20-positivas com recidiva após tratamento com RTX. (20)
O esquema de tratamento inclui a infusão de 250 mg/m² de RTX no dia 1 e 8 seguida
de uma dose terapêutica de 90Y-IT no dia 8 por via intravenosa durante 10 minutos . (20)
O pré-tratamento com RTX é feito para melhorar a biodistribuição dos radionuclídeos
e para reduzir a sua ligação aos CD20 em células B normais em circulação, na medula
óssea e no baço. Devido ao 90Y ser um emissor beta puro, o radioisotopo 111-índio
(111I), que é um emissor gama, é usado como um substituto para estudar a clearance e
a biodistribuição, usando câmaras de imagem gama como parte dos estudos. A
primeira infusão de RTX é seguida de uma aplicação de 5 mCi de 111In-IT com a
finalidade de geração de imagens. Os exames com câmaras gama são realizados
dentro de 24 a 48 horas. Os estudos de dosimetria mostram que a aplicação de 90Y-IT
resulta numa exposição à radiação mínima dos órgãos que não são alvo, mas falha em
demonstrar uma correlação significativa entre a biodistribuição do AcM radioativo e a
33 FFUL
ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
toxicidade hematológica. Esta falta de correlação levou à aprovação de 90Y-IT dentro da
UE sem a necessidade de estudos de imagem. (20)
Os ensaios clínicos de fase I / II mostraram uma melhoria na biodistribuição do
radioimunoconjugado, após pré-tratamento com rituximab, na dose de 250 mg/m². A
dose máxima tolerada (DMT) determinada foi de 0,4 mCi / kg (ou 14,8 MBq / kg), para
doentes com contagem de plaquetas superior a 150 mil/mL, e 0,3 mCi/kg (ou 11,1
MBq / kg) para doentes com trombocitopenia ligeira (contagem de plaquetas
>150000 /mL, mas < 100000 / mL). Outro estudo confirmou a segurança do
tratamento com 90Y-IT, em doentes com trombocitopenia, com uma dose de 0,3
mCi/kg. Os doentes com risco aumentado de toxicidade hematológica devem ser
excluídos do tratamento. (20)
O 90Y-IT está aprovado nos EUA desde 2002 para doentes com LF CD20+ ou LNH das
células B transformado, refratário ou recidivo após rituximab. Na UE a licença é restrita
ao tratamento de LF CD20+ refratário ou recidivo ao rituximab. A terapia com 90Y-I é a
única aprovada na EU após falha do tratamento com rituximab. (20)
O Tositumomab (TST) é um AcM murino tipo IgG2a lambda que tem como alvo o Ag
CD20. É produzido em cultura de células de mamíferos livre de antibióticos e é
composto por duas cadeias pesadas gama 2a de murino, de 451 aminoácidos cada, e
duas cadeias leves lambda, de 220 aminoácidos cada. O seu peso molecular
aproximado é de 150 kD (Figura 6). (22)
34 FFUL
ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
Fig. 6: Tositumomab (23)
Quando o TST está conjugado covalentemente com 131I, é mais conhecido pelo seu
nome comercial, Bexxar ®. O isotopo 131I é um emissor β e um emissor γ. A particula β
tem uma energia média de 191,6 KeV, uma energia máxima de 0,61 mEv, e um alcance
de 0,8mm nos tecidos. O raio-γ tem uma energia de 364,5 KeV. A semivida física do 131I
é de 8,1 dias. A emissão gama permite visualizar o Bexxar ® através de uma câmara de
gama e é necessária para a determinação da quantidade adequada de medicamento a
ser administrado. (24)
Quanto ao mecanismo de acção, este AcM tem maior capacidade de mediar a adesão
homotipica do que o RTX, o que se correlaciona com sua maior capacidade de induzir a
apoptose. In vitro, a indução da apoptose parece exigir o cross-linking do CD20 pelo Ac
anti-CD20, quer através de interações Ac-Ac quer através de interações com o Fc dos
receptores. Os dados in vitro e in vivo sugerem que o TST parece induzir a apoptose
através de mecanismos adicionais independentes da região FC. Além disso, a apoptose
induzida por TST não envolve a clássica fragmentação do DNA, ou processamento da
caspase. O TST não faz activação do complemento. (25)
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ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
O 131I-TST está aprovado pela FDA para o tratamento do LNH das células B CD20+
indolente recidivo ou refratário, incluindo a doença refratária ao RTX, ou LNH
transformado. (25)
A administração de TST (Ac não marcado) com131I-TST (Ac marcado) em doentes
envolve uma colaboração entre o oncologista e a medicina nuclear e envolve dois
passos, o dosimétrico e o terapêutico. Os doentes recebem no dia 1 uma dose de TST
seguida de uma dose de 131I-TST, e seguidamente são sujeitos a vários scans com
câmaras gama em momentos diversos ao longo da semana seguinte. Os dados obtidos
permitem determinar a atividade do 131I-TST em cada doente e calcular a dose
terapêutica a ser administrada a fim da exposição corporal total à radiação ser de 75
cGy. (26)
As contra-indicações ao tratamento incluem alergia de iodo, gravidez, contagem de
plaquetas < 100000/mL, contagem absoluta de neutrófilos <1500/mL, insuficiência
renal ou hepática, medula óssea linfomatosa >25% ou soropositividade major para Acs
humanos anti-rato. (26)
3.4.3 Leucemia Linfocítica Crónica:
A leucemia linfocítica crónica (LLC) das células B é a leucemia mais comum nos países
ocidentais, com uma incidência anual de 3 a 5 novos diagnósticos por cada 100,000, na
sua maioria em idosos. (17) O prognóstico da LLC é bastante variável: alguns doentes
vivem uma vida normal durante anos com a doença estável e sem qualquer
intervenção, outros sofrem um curso de doença agressivo e desgastante com uma
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ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
rápida progressão, tratamentos árduos e morte precoce. Assim, as taxas de sobrevida
global podem ir de menos de 2 a mais de 15 anos (mediana de 9 anos) após o
diagnóstico. Não existe nenhuma cura para esta doença com excepção do transplante
alogeneico de células estaminais aplicável a uma pequena porção dos doentes. (27)
A descoberta de aberrações cromossómicas recorrentes e relevantes para o
prognósticos nas células de LLC, via citogenética convencional e hibridização in situ
fluorescente (FISH), introduziu a estratificação dos casos de LLC de acordo com a
presença ou ausência de anomalias genéticas chave. Deleções/mutações no
cromossoma 17p13, o sítio do supressor de tumor TP53 (gene p53), estão associadas
com a resistência ou falha logo após a quimioterapia. Uma vez refratária ao
tratamento à base de análogos de purina, tais como a fludarabina, os doentes
pertencem à categoria de pior prognóstico com uma sobrevida global média de menos
de 12 meses. Da mesma forma, as deleções/mutações no cromossoma 11q22-23
(inclui o locus do gene ATM) correlacionam-se com doença avançada precoce,
especialmente nos nódulos linfáticos, menor tempo para o primeiro tratamento e
diminuição da sobrevivência a longo prazo após quimioterapia. (27)
A LLC é caracterizada pela acumulação progressiva de linfocitos maduros
fenotipicamente malignos, provavelmente uma combinação de resistência à apoptose
e uma componente de proliferação continua. As células de LLC normalmente co-
expressam CD5, CD23, CD19, CD79b e CD20, mas o nível de expressão de CD20,
CD79b, e de imunoglobulina de superfície é baixo quando comparado com os linfocitos
B normais. (28)
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ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
Os fármacos de primeira linha, aprovados pelas agencias reguladoras incluem agentes
alquilantes, como o clorambucil, a ciclofosfamida e a bendamustina, o análogo de
purina, a fludarabina, e o AcM anti-CD52, o alemtuzumab (ALM). A aprovação explícita
do RTX, para imunoquimioterapia combinada para tratamento da LLC não tratada, foi
dada pela EMEA em Fevereiro de 2009. Nunca foi demonstrado o benefício do
tratamento para a sobrevida dos doentes com LLC em fase inicial da doença. (27)
De acordo com ensaios clínicos de fase II e III, a imunoquimioterapia combinada com
fludarabina, ciclofosfamida, e RTX (FCR) é atualmente o regime de primeira linha mais
ativo, com uma TRG de 95%, 44% de TRC e SSE de 51,8 meses. O regime FCR
demonstrou ser significativamente melhor do que o tratamento só com FC (TRG
88,4%, 21,7% TRC, SSE 32,8 meses), embora induza mais mielossupressão,
particularmente neutropenias. (27; 29)
Os grupos de estudo continuam a investigar modificações ao regime FCR, a fim de
otimizar a sua eficácia e diminuir a sua toxicidade (isto é, pela redução da dose de FC,
o aumento da dose de RTX, adição de mitoxantrona ou ALM, por exemplo). (27)
O Ofatumumab (Arzzera TM, GlaxoSmithKline, Philadephia, PA, HuMax-CD20TM,
Genmab, Copenhagen, Denmark) (OFA) é um Ac IgG do tipo 1 humanizado, de 2ª
geração, que se liga a um segmento do CD20 que contém uma pequena laçada ( loop)
extracelular junto da região N-terminal da segunda grande laçada extracelular. (28) Tem
maior afinidade para o CD20 que o RTX e liga-se a um epítopo diferente mais perto da
superfície da célula (Figura 7), teoricamente melhorando a ativação do complemento e
o acesso das células efetoras para destruírem o alvo por CCAD. (2)
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ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
Fig. 7- Sitios de ligação do Rituximab e Ofatumumab no CD20. (28)
O OFA exibe múltiplas atividades via CMC, ADCC, e tem mostrado acentuar a morte
celular de linhas celulares resistentes ao RTX. Existe a hipótese que o aumento da CMC
demonstrado pelo OFA está relacionado com a sua ligação ocorrer mais próxima à
membrana celular. (28)
Coiffier et al relataram num estudo de fase I / II em LLC recidivante / refratária com
uma TRG de 50%, mas a duração de resposta média foi de apenas 3,7 meses. (30) No
entanto, a duração média do tratamento seguinte foi de 12 meses. Posteriormente, foi
realizado um estudo internacional de fase II com 138 doentes com LLC refratária dupla
(refratária à fludarabina e alemtuzumab; n = 59) e LLC refratária à fludarabina com
linfadenopatia volumosa (>5 cm) (aqui o alemtuzumab foi considerado uma opção
menos viável). A TRG foi de 47% -58% com uma SSE mediana de 5,7- 5,9 meses e uma
sobrevida mediana 13,7-15,4 meses. O OFA foi bem tolerado, mas foi reportada uma
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ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
incidência de 25% de complicações infecciosas. (31) Estes resultados clínicos
impressionantes em LLC de risco muito elevado levou à aprovação do OFA pela FDA,
em 2009, para o tratamento de doentes com LLC refratário a outras formas de
quimioterapia. (2)
O OFA tem sido bem tolerado, e os efeitos adversos mais reportados são os
relacionados com a perfusão. A maioria dos efeitos secundários ocorrem no dia da
infusão e são de graus 1 ou 2. Estes são geralmente febre, calafrios, falta de ar,
erupções cutâneas e urticária. Apenas 12% dos doentes apresentam complicações
infecciosas de grau 3 ou pior, embora sem queda significativa dos níveis de
imunoglobulina sérica. Observa-se toxicidade hematológica de grau 3 ou 4 em 15% dos
doentes doa quais 6% apresentaram grau 3 ou 4 de neutropenia. (28)
O Alemtuzumab (Campath-1H, Campath ® / MabCampath ®; Bayer Schering Pharma,
Berlin) (ALM) é um AcM totalmente humanizado do tipo IgG1 contra o recetor CD52,
uma glicoproteína ancorada na superfície celular expressa em células B e T humanas,
células NK, eosinófilos e macrofagos. (27)
Fig. 8 - Imagem do ALM. (32)
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ANTICORPOS MONOCLONAIS – Aplicações em Neoplasias 2011
As células estaminais hematopoiéticas, eritrócitos e plaquetas não expressam CD52 na
sua superfície pelo que se encontram protegidas da citotoxicidade induzida. Em
contraste, os neutrófilos expressam CD52 em baixos níveis, pelo que sofrem lise
mediada pelo complemento e explica as neutropénias observadas com o uso clínico do
ALM. (27)
O ALM foi inicialmente aprovado para doentes com LLC refratária à fludarabina. No
estudo piloto com ALM em 93 doentes com LLC refractária à fludarabina, a TRG foi
33%, e apenas 2% de TRC. O TMP para doentes que responderam à terapia foi de 9,5
meses, mas houve uma melhora na sobrevida em 32 meses, em comparação com 16
meses para todos os doentes. É de notar, que o ALM parece ter atividade em doentes
que não respondem à quimioterapia devido à presença de mutações no gene p53. Isto
foi confirmado num estudo com 36 doentes de LLC refratário à fludarabina tratados
com ALM, 15 dos quais com mutações ou deleções no p53. (33)
O ALM demonstra uma eficácia impressionante no tratamento da doença do sangue
periférico e nos compartimentos de medula óssea, no entanto tem menor atividade
em linfadenopatias volumosas (>5cm). Infelizmente, muitos doentes refractários à
fludarabina têm linfadenopatias significativas, pelo que o benefício do tratamento com
ALM é, portanto, limitado. (33; 34)
Num esforço para superar esta limitação, foram investigadas terapias de combinação,
acrescentando RTX, fludarabina, FC, ou FCR ao ALM. Embora as TRG relatadas sejam
encorajadoras, não está claro que qualquer destas combinações permitam superar
significativamente as limitações do ALM no tratamento de doentes com
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linfadenopatias. Além disso, a quimioimunoterapia combinado com ALM é
potencialmente muito tóxica. (34)
O ALM, foi mais recentemente aprovado para a utilização em LLC não tratada
previamente. Foi realizado um estudo de fase III com 297 doentes com LLC progressiva
sem tratamentos prévios em que comparou o ALM com o clorambucil. Este estudo
demonstrou uma TRG significativamente superior, bem como uma maior SSE para o
ALM relativamente ao clorambucil (TRG, 83% vs 56%; P < 0,001% e TRC,24% vs 2%; P<
0,001). O ALM em monoterapia ou em combinação é uma boa opção para doentes
com mutações no 17p ou no p53, uma vez que tem sido demonstrada a sua eficácia
nestes casos. (33)
Não existe nenhum protocolo estabelecido para a terapia de manutenção da LLC. O
ALM foi avaliado neste cenário com alguns resultados interessantes, mas o entusiasmo
foi temperado pela alta toxicidade observada. (33)
Clinicamente, este AcM reduz os linfócitos normais das linhagens B e T, resultando
numa profunda e ocasional linfopénia de longa duração com imunossupressão
concomitante. Isto tem sido associado a um risco aumentado de infeções oportunistas,
especialmente em doentes pré-tratados intensivamente. A infeção com
Cytomegalovírus (CMV) é a mais comum e requer a monitorização cuidadosa dos
doentes, de acordo com as guidelines publicadas. A profilaxia anti-infecciosa com
cotrimoxazol e aciclovir, ou equivalente, é obrigatória durante o tratamento e deve
continuar por pelo menos 6 meses após a cessação do ALM. (27)
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3.5 VANTAGENS E INCONVENIENTES
O trunfo dos AcsM sobre a utilização de outros fármacos é a sua especificidade. Os Acs
podem selectivamente reconhecer pequenas modificações em proteínas, péptidos e
moléculas orgânicas, bem como mudanças conformacionais que podem estar
associadas a alterações na atividade de enzimas, recetores ou outros componentes
biologicamente ativos de uma célula. (35)
Os Acs circulantes têm semi-vidas de 7-14 dias, quando não são destinados a linfócitos
circulantes. Quando comparados com pequenos fármacos, com semi-vidas de minutos
a horas, os Acs têm grande vantagem no período de tempo em que estão no corpo
para manter o bloqueio. (35)
Os ensaios clínicos iniciais com AcsM produziram alguns efeitos antitumorais
impressionantes, mas a maioria dessas experiências ilustraram os obstáculos a uma
terapia bem sucedida. A maioria dos AcsM empregues nos primeiros ensaios clínicos
foram obtidos a partir ratos, e os doentes expostos desenvolveram resposta imunitária
contra esses AcsM, o que limitava o número de tratamentos que esses doentes
poderiam receber de forma segura. Mas as técnicas de engenharia molecular têm
superado este obstáculo, e agora é possível criar imunoglobulinas completamente
humanas. No entanto, estas abordagens não inibem a produção de Acs anti-idiotipo. (35;
36) Além disso, devido à sua grande dimensão molecular (~150kDa), os AcsM não são
eficientes a penetrarem células vivas para alvos intracelulares e a sua
biodisponibilidade é baixa quando administrados oralmente. (6; 35)
Alguns Ags tumorais são eliminados ou secretado. Os Acs que têm como alvo estes
Ags vão-se ligar na circulação, limitando a quantidade de Acs não ligados disponíveis
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para se ligarem ao tumor. As barreiras que impedem a distribuição dos Acs dentro dos
tumores incluem (a) vascularização tumoral desordenado, (b) aumento da pressão
hidrostática nos tumores e (c) heterogenenicidade na distribuição dos Ags nos
tumores. Estima-se que, devido a estas barreiras, uma molécula de IgG levará dois dias
para percorrer 1 mm e 7-8 meses para viajar um centímetro dentro de um tumor. As
estimativas para uma molécula de Ac menor, como um fragmento Fab, são um dia
para percorrer 1 mm e dois meses para percorrer 1 cm. Se os Acs alcançarem os seus
alvos, há pouca evidência de que vão mediar CCAD eficazmente in vivo. Para que isso
ocorra, devem de estar presentes no tumor um número suficiente de células efetoras,
tais como macrófagos, células NK, ou células T citotóxicas. Finalmente, sabe-se que
muitos tumores secretam compostos que desregulam a resposta imune, ou que têm
diminuição de células efetoras como consequência de hipoxia. Apesar destes
impedimentos, os dados pré-clínicos e clínicos continuam a demonstrar que a terapia
com AcsM tem um papel importante no arsenal oncológico. (36)
Outra questão, são os custos extremamente elevados das atuais terapêuticas com
AcsM, principalmente devido ao uso de sistemas de expressão em células de
mamíferos e os processos de purificação em grande escala que são necessários. A
administração continua de dose elevadas, que é muitas vezes necessária para manter
uma concentração sérica de AcM eficaz para induzir uma resposta clínica, não só limita
os atuais regimes / aplicações clínica devido aos efeitos colaterais relacionados com a
dose, mas também reduz os seus potenciais campos de indicação. (6)
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3.6 PRESPECTIVAS FUTURAS
Em esquemas de terapia combinada, a terapia com AcsM melhora claramente os
resultados do tratamento das neoplasias hematológicas. O momento ideal e os
regimes de combinação são áreas de investigação em curso. O melhor entendimento
dos mecanismos de ação dos AcsM e das combinações deve levar à melhoria da sua
atividade e à redução dos efeitos colaterais. No que respeita aos AcsM desses regimes
de tratamento, fazem-se esforços para encontrar melhores Ags-alvos de superfície,
melhorar a afinidade das ligação, melhorar a interação com as células efetoras, e
reduzir a imunogenicidade. A imunogenecidade é reduzida com o uso de Acs
totalmente humanizados e a melhoria da afinidade pode ocorrer com a engenharia de
proteínas ou a seleção de epitopos alternativos no Ag-alvo. A melhoria da interação do
AcM com as células efetoras tem potencial para aproveitar mais plenamente o poder
do sistema imunológico para combater a neoplasia. (2; 5)
A interação entre o AcM e as células efetoras depende principalmente da ligação ao
Fc, pelo que as investigações em curso têm como foco a melhoria da qualidade dessa
ligação Fc através da engenharia de proteínas. Outra abordagem para a melhoria da
interação entre célula efetora/AcM é a melhoria da qualidade das células efetoras
através da expansão e/ou ativação. Uma abordagem intrigante para a melhoria dessa
interação é a criação de Acs bivalentes (diabodies), que consiste na construção de uma
proteína que se liga tanto às células alvo como às células efetoras. Já há relatos da
criação de Acs trivalentes e até de maior valência, mas quanto maiores os Acs menor a
penetração no tumor apesar de terem semi-vidas maiores e maior actividade ligante. (2)
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Para os tumores sólidos, como o linfoma, a penetração do tumor pelo Ac é uma
questão importante. Esta questão pode ser um problema menor para o caso da
leucemia, mas mesmo nesta há formação de nódulos ou acumulações de massas na
medula e outros tecidos. Para investigar o significado do tamanho dos Acs na
penetração do tumor e na eficácia da terapia, os investigadores testaram fragmentos
de Acs gerados por proteólise ou por engenharia genética. Estes fragmentos têm
menores pesos moleculares, variando entre 25 e 100 kDa, do que os Acs intactos (150
kDa). Infelizmente, os fragmentos de Ac têm desvantagens, incluindo a perda das
funções efetoras e curta semivida. (2)
A tabela 3 lista os AcsM atualmente em ensaios clínicos, para a terapêutica de
neoplasias hematopoieticas, que incorporam algumas dessas melhorias.
Tabela 3: Anticorpos monoclonais em estudos clinicos (2; 5)
NOME GENERICO
NOME COMERCIAL
Ag ALVO TIPO INDICAÇÃO TERAPEUTICA
Lintuzumab SGN-33 CD33 Humanizado LMABrentuximab
vedotinSGN-30 CD30 Quimérico Linfoma Hogkins
MDX-60 CD30 Humano Linfoma Hogkins
Epartuzumab hLL2, LymphoCide
CD22 Humanizado LNH
Mapatuzumab TRM-1 TRAIL-R1 Humano LNH, Mieloma
Apolizumab HUlD10, Remitogen
HLA-DRB Humanizado LLC, LNH
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4 CONCLUSÕES
Os AcsM revolucionaram o arsenal terapêutico contra o cancro, sendo hoje elementos
chave no tratamento de muitas formas de cancro, particularmente nas neoplasias
hematopoieticas. A sua inclusão nos tratamentos oncológicos levou à melhoria dos
resultados terapêuticos e à diminuição da toxicidade relativamente aos regimes
convencionais de quimioterapia, mas ainda ocorrem muitas falhas no tratamento.
Atualmente os AcsM aprovados pela FDA têm como alvos os Ags CD33 das células
mielóides, o CD20 das células linfoides B, e CD52 expresso nas células linfoides. No
entanto, o seu uso ainda é emergente e a compreensão do seu potencial requer a
otimização do uso dos AcsM atualmente disponíveis e um esforço concertado para
assegurar que os programas de desenvolvimento de novos AcsM são baseados em
princípios científicos robustos.
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6 AGRADECIMENTOS
Agradeço à minha orientadora, a Professora Doutora Maria Leonor Correia pelo
empenho, dedicação e disponibilidade para contribuir valiosamente na concretização
do presente revisão. E, também, aos meus amigos e família por serem uma
extraordinária fonte de apoio.
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