a mais bela noite do mundo

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Fernando Namora

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A Mais Bela Noite do MundoHoje, ser o fim! Hoje nem este falso silncio dos meus gestos malogrados debruando-se sobre os meus ombros nus e esmagados! Nem o luar, pano bao de cenrio velho, escutando a minha priso de viver a lio que me ditavam: - Menino! acende uma vela na tua vida, que o sol, a luz e o ar so perfumes de pecado. Tem braos longos e tentadores o dia! - Menino! recolhe-te na sombra do meu regao que teus ps so feitos de barro e cansao! (Era esta a voz do papo pintado de belo na mscara de papelo). Eram inteis e magoadas as noites da minha rua... Noites de lua que lembravam as grilhetas da minha vida parada. - Amanh, ters os mestres, as aulas, os amigos e os livros e o espectculo da morgue morando durante dias nos teus sentidos gorados. Amanh, ser o ultrapassar outra curva no teu caminho destinado. (Era esta a voz do papo que acendia a vela, tinha regao de sombra e velava as noites da minha rua e a minha vida e pintava-se de belo na mscara de papelo). Hoje, ser o fim! Hoje, nem a sombra do que h-de vir, nem os mestres, nem os amigos, nem os livros, nem a fragilidade dos meus ps feitos de barro e cansao! Todas as minhas revoltas domadas, todos os meus gestos em meio e as minhas palavras sufocadas tero a sua hora de viver e amar! Hoje, nem o cadver a sorrir na morgue, nem as mos que ficaram angustiosas, arrepiadas no seu medo de findar! Hoje, ser a mais bela noite do mundo! Fernando Namora, in 'Mar de Sargaos' A Mais Bela Noite do MundoHoje, ser o fim! Hoje nem este falso silncio dos meus gestos malogrados debruando-se sobre os meus ombros nus e esmagados! Nem o luar, pano bao de cenrio velho, escutando a minha priso de viver a lio que me ditavam: - Menino! acende uma vela na tua vida, que o sol, a luz e o ar so perfumes de pecado. Tem braos longos e tentadores o dia! - Menino! recolhe-te na sombra do meu regao que teus ps so feitos de barro e cansao! (Era esta a voz do papo pintado de belo na mscara de papelo). Eram inteis e magoadas as noites da minha rua... Noites de lua que lembravam as grilhetas da minha vida parada. - Amanh, ters os mestres, as aulas, os amigos e os livros e o espectculo da morgue morando durante dias nos teus sentidos gorados. Amanh, ser o ultrapassar outra curva no teu caminho destinado. (Era esta a voz do papo que acendia a vela, tinha regao de sombra e velava as noites da minha rua e a minha vida e pintava-se de belo na mscara de papelo). Hoje, ser o fim! Hoje, nem a sombra do que h-de vir, nem os mestres, nem os amigos, nem os livros, nem a fragilidade dos meus ps feitos de barro e cansao! Todas as minhas revoltas domadas, todos os meus gestos em meio e as minhas palavras sufocadas tero a sua hora de viver e amar! Hoje, nem o cadver a sorrir na morgue, nem as mos que ficaram angustiosas, arrepiadas no seu medo de findar! Hoje, ser a mais bela noite do mundo! Fernando Namora, in 'Mar de Sargaos'