a adolescência na perspectiva psicanalítica

42
A adolescência na perspectiva psicanalítica

Upload: pablo-alves

Post on 26-Dec-2015

25 views

Category:

Documents


1 download

DESCRIPTION

psicanalitica

TRANSCRIPT

Page 1: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

A adolescência na perspectiva psicanalítica

Page 2: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

A adolescência na perspectiva psicanalítica

Elementos de definição O adolescente é alguém:

que teve o tempo de assimilar os valores mais banais e mais bem compartilhados na comunidade

cujo corpo chegou à maturação necessária para que possa efetiva e eficazmente se consagrar às tarefas que lhe são apontadas por esses valores, competindo de igual para igual com todo mundo

para quem, nesse exato momento, a comunidade impõe uma moratória

cujos sentimentos e comportamentos são obviamente reativos, de rebeldia a uma moratória injusta

que tem o inexplicável dever de ser feliz, pois vive uma época da vida idealizada por todos

que não sabe quando e como vai poder sair de sua adolescência

Page 3: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

A adolescência na perspectiva psicanalítica

Resumindo: há um sujeito capaz, instruído e treinado para adotar os ideais da comunidade que se torna um adolescente quando, apesar de seu corpo e seu espírito estarem pronto para a competição, não é reconhecido como adulto. Há um tempo de suspensão entre a chegada à

maturação dos corpos e a autorização de realizar os ditos valores

Há a difícil tarefa de interpretar o que os adultos esperam dele

Page 4: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

A adolescência na perspectiva psicanalítica

Insegurança A imagem refletida nos espelhos

O Eu “é, sobretudo um Eu corporal” (Freud, 1923/2007, p. 38) e está perpassado pelas pulsões e pelo desejo.

Corpo pulsional

O corpo recebe as marcas do olhar e da palavra do outro anteriormente à identificação com o corpo próprio e à construção da imagem própria pelo sujeito

Corpo simbólico

Page 5: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

A adolescência na perspectiva psicanalítica

A partir desse corpo pulsional e das satisfações obtidas, inúmeras identificações vão ocorrendo no decorrer da vida. De início, há o corpo pulsional fragmentado em zonas

erógenas, estrado para o desenvolvimento da sexualidade e estabelecimento das relações entre o dentro e o fora do corpo, observam Lazzarini e Viana (2006).

Esse corpo recortado vai, aos poucos, se transformando em uma vivência de totalização e unificação corpórea em torno da imagem corporal (Lacan, 1949/1998, “O estádio do espelho”).

Page 6: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

A adolescência na perspectiva psicanalítica

O infans passa a experimentar seu corpo como uno a partir do que o Outro lhe reflete e lhe fala.

Essa identificação e construção de uma imago própria ocorre a partir do olhar da mãe, do Outro.

A partir da articulação entre o corpo real, pulsional, e o corpo simbólico, perpassado pela linguagem e pelo locus da representação da pulsão, surge o corpo imaginário (García-Roza, 1990).

Narcisismo primário

Page 7: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

A adolescência na perspectiva psicanalítica

“O sujeito localiza e reconhece originalmente o desejo por intermédio não só da sua própria imagem, mas também do corpo do seu semelhante (...). É na medida em que seu desejo passou para o outro lado, que ele assimila o corpo do outro e se reconhece como corpo. (...) Nos reconhecemos como corpo na medida em que esses outros, indispensáveis para reconhecer o nosso desejo, têm também um corpo, ou, mais exatamente, que o temos como eles” (Lacan,1975[1954]/1986, “A tópica do imaginário”).

Page 8: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

A adolescência na perspectiva psicanalítica

Eu-Ideal e Ideal-de-Eu O Ideal-de-Eu é impregnado pelos valores, ideais

e interdições sociais. O Ideal-de-Eu, instância herdeira do Complexo de

Édipo e portadora da imago paterna, torna-se alvo do investimento narcísico. Carrega a marca da alteridade – o Eu percebe a

necessidade da intermediação do outro para a realização de seu desejo.

Page 9: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

A adolescência na perspectiva psicanalítica

O Eu é, portanto, uma construção intersubjetiva Constitui-se, em grande parte, a partir daquilo que

idealizamos e fantasiamos causar no outro, e gozamos, em grande medida, com o usufruto dessa condição.

“Nosso desejo é o de fazer o outro nos desejar, e nossa satisfação consiste em alcançar, na realidade ou na imaginação, o que antecipamos de forma imaginária” (Costa, 2005, p. 73). Assim, durante a primeira infância, a criança apreende

que sua realidade é regida pelo desejo dos outros que se manifesta através do espelho presente no olhar.

Page 10: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

A adolescência na perspectiva psicanalítica

“A identidade não é um estado, é uma busca do Eu que só pode receber sua resposta reflexiva através do objeto e da realidade que a refletem” (Green, 1988, p. 45).

Como em um espelho, ou vários, a realidade reflete a identidade do sujeito que, por conseguinte, constrói uma imagem de si.

Page 11: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

“Ela tentava se ver através do próprio corpo. Por isso, passava longos momentos diante do espelho. E como temia ser surpreendida pela mãe, esses olhares traziam a marca de um vício secreto. Não era vaidade que a atraía para o espelho, mas o espanto de se descobrir nele. Esquecia que tinha diante dos olhos o painel dos mecanismos corporais. Acreditava ver sua alma se revelando para ela sob os traços do rosto. Esquecia que o nariz é a extremidade de um tubo que leva ar aos pulmões. Via nele a expressão fiel de sua natureza. Contemplava-se demoradamente, e o que a contrariava às vezes era encontrar em seu rosto alguns traços da mãe. Então, olhava-se obstinadamente e dirigia sua vontade para se abstrair da fisionomia materna, fazer dela tábua rasa e só deixar subsistir em seu rosto aquilo que era ela mesma. Quando conseguia, era um momento inebriante: a alma subia à superfície do corpo, semelhante à tripulação que se lança no ventre do navio e invade o convés agitando os braços e cantando em direção ao céu” (Kundera, 1984/2008, pp. 44-45, “A insustentável leveza do ser”).

Page 12: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

A adolescência na perspectiva psicanalítica

Mudança do olhar do outro diante do corpo adolescente em mutação

Busca no espelho pelo olhar do Outro Atuação no corpo: cabelos, piercings, tatuagens Angústia ante a retirado do olhar apaixonado dos pais

O adolescente vive a falta do olhar apaixonado que ele merecia quando criança e a falta de palavras que o admitam como par na sociedade dos adultos

Page 13: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

A adolescência na perspectiva psicanalítica

“Mas, o que eles esperam de mim, então?” “Os adultos querem coisas contraditórias. Eles pedem

uma moratória de minha autonomia, mas o resultado de minha aceitação é que eles não me amam mais como uma criança, nem reconhecem como um par essa ‘coisa’ na qual me transformei. Talvez, para ganhar seu amor e seu reconhecimento, eu não deva seguir à risca suas indicações e seus pedidos, mas descobrir qual é de fato o desejo deles, atrás do que dizem que querem. Em suma: de fato, qual é o ideal dos adultos para que eu possa presenteá-los com isso e portanto ser por eles enfim amado e reconhecido como adulto?”

Page 14: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

A adolescência na perspectiva psicanalítica

Autonomia e independência X Conformidade social Duplo vínculo

NÃO LEIA

Page 15: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

A adolescência na perspectiva psicanalítica

Em resposta à falta de reconhecimento que o adolescente esperava dos adultos, ele vai em busca de novas condições sociais, em que sua admissão como cidadão de pleno direito não dependa mais dos adultos e, portanto, não seja mais sujeita à moratória.

Busca pelo reconhecimento no grupo de iguais Adolescente gregário Adolescente delinquente Adolescente toxicômaco Adolescente que se enfeia Adolescente barulhento

Page 16: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

A adolescência na perspectiva psicanalítica

A adolescência como ideal cultural Ideal de liberdade Desejo dos adultos em se libertarem das regras e convenções sociais A infância é um ideal comparativo. Os adultos podem desejar ser ou

vir a ser felizes, inocentes, despreocupados como as crianças. Mas normalmente não gostariam de voltar a ser crianças

A adolescência é um ideal identificatórios. Os adultos podem querer ser adolescentes. Os adolescentes ideais têm corpos que reconhecemos parecidos com os nossos em suas formas e seus gozos, prazeres iguais aos nossos e, ao mesmo tempo, graças à mágica da infância estendida (moratória), são ou deveriam ser felizes numa hipotética suspensão das obrigações, das dificuldades e das responsabilidades da vida adulta.

Page 17: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

A adolescência na perspectiva psicanalítica

Idealizar os prazeres da adolescência é uma maneira de querer menos consolo com perspectivas futuras e mais satisfação imediata.

Identificação dos adultos com a adolescência Como satisfazer os adultos, senão sendo mais

adolescentes ainda do que já eram? Os adolescentes pedem reconhecimento e encontram no

âmago dos adultos um espelho para se contemplar. Pedem uma palavra para crescer e ganham um olhar que admira justamente o casulo que eles queriam deixar.

Page 18: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

A Síndrome Normal da Adolescência

Page 19: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

Síndrome Normal da Adolescência

Entrada no mundo dos adultos Mundo desejado e temido Perda definitiva da condição de criança Etapa decisiva de um processo de desprendimento Imperativos e contradições do mundo externo Modificações corporais incontroláveis Novas relações com os pais e com o mundo

Luto pelo corpo de criança Luto pela identidade infantil Luto pela relação com os pais da infância

Page 20: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

Luto pelo corpo infantil e pela identidade infantil Novo esquema corporal Nova identidade

Flutuações da identidade: versões contraditórias de si mesmo Dificuldades em renunciar aspectos de si mesmo e não poder

sintetizar os que vai adquirindo

Novas relações consigo e com seu corpo Genitalidade Aceitação do novo corpo

Síndrome Normal da Adolescência

Page 21: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

Nova identidade adulta Sentir-se dolorosamente separado do meio familiar Desprendimento de seu corpo infantil Encontrar o lugar de si mesmo no seu corpo e no seu

mundo Capacidade de utilizar seu corpo e seu lugar no mundo

Síndrome Normal da Adolescência

Page 22: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

Luto pelos pais da infância Queda da idealização dos pais da infância

Imagem mais próxima do real, com defeitos e problemas

Luto dos pais pelos filhos Luto pelo corpo do filho pequeno

Enfrentamento da aceitação do futuro, do envelhecimento e da morte

Abandono da imagem idealizada de si mesmo que seu filho criou e na que ele se acomodou

Luto pela identidade de criança Luto pela relação de dependência infantil

Enfrentamento das próprias capacidades

Avaliação de suas conquistas e fracassos

Síndrome Normal da Adolescência

Page 23: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

Novas relações com os pais Dificuldade dos pais em aceitar o crescimento e amadurecimento do

adolescente

Rejeição da genitalidade e à livre manifestação da personalidade que dela surge

Excessiva liberdade ou restrições exageradas

Dependência e independência Incompreensão dos pais

Maturidade biológica e maturidade afetiva e intelectual que possibilite a entrada no mundo do adulto Sistema de valores pessoais

Crítica construtiva da realidade circundante

Resposta às dificuldades e desordens da vida

Síndrome Normal da Adolescência

Page 24: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

A dor que lhe causa abandonar o seu mundo e a consciência de que vão se produzindo mais modificações incontroláveis dentro de si, levam o adolescente a produzir reformas exteriores que lhe garantam a satisfação de suas necessidades na nova situação em que se encontra agora frente ao mundo e que, ao mesmo tempo, servem-lhe de defesa contra as mudanças internas e do seu corpo Intelectualização Atividades esportivas Amizades Modificações corporais: roupas, cabelo

Síndrome Normal da Adolescência

Page 25: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

Normalidade x Anormalidade na adolescência ‘Anormal’ dentro de determinado marco familiar ou social A estabilização da personalidade não se consegue sem passar por um

certo grau de conduta ‘patológica’ que deve ser considerar inerente à evolução normal desta etapa da vida (Knobel,1992)

Normalidade se estabelece sobre as pautas de adaptação ao meio e não significa submetimento ao meio Capacidade de utilizar dispositivos existentes para o alcance das

satisfações básicas do indivíduo numa interação permanente que procura modificar o desagradável ou o inútil através do alcance substituições para o indivíduo e para a comunidade

Síndrome Normal da Adolescência

Page 26: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

Sintomatologia que integraria a Síndrome Normal da Adolescência (Knobel, 1992): Busca de si mesmo e da identidade Tendência grupal Necessidade de intelectualizar e fantasiar Crises religiosas que podem ir desde o ateísmo mais

intransigente até o misticismo mais fervoroso Deslocalização temporal em que o pensamento adquire

as características de pensamento primário

Síndrome Normal da Adolescência

Page 27: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

Evolução sexual manifesta Atitude social reivindicatória com tendências anti ou

associais de diversas intensidades Contradições sucessivas em todas as manifestações da

conduta, dominada pela ação, que constitui a forma de expressão conceitual mais típica deste período da vida

Separação progressiva dos pais Constantes flutuações de humor e do estado de ânimo

Síndrome Normal da Adolescência

Page 28: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

Busca de si mesmo e da identidade O adolescente recorre, muitas vezes, a um comportamento defensivo

de busca de uniformidade – segurança e estima pessoal Confusão de papéis: impossibilidade de manutenção da dependência

e do corpo infantil, e impossibilidade de assunção da independência adulta

Tendência grupal Uniformidade: superidentificação em massa

Representa a oposição às figuras parentais

Maneira ativa de determinar uma identidade diferente da do meio familiar

Depois de passar pela experiência grupal, o indivíduo poderá começar a separar-se do grupo e assumir a sua identidade adulta

Síndrome Normal da Adolescência

Page 29: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

Necessidade de intelectualizar e fantasiar A necessidade que a realidade impõe de renúncia ao corpo, ao

papel infantil e aos pais da infância, leva o adolescente a uma vivência de fracasso ou impotência frente à realidade externa – o adolescente recorre ao pensamento para compensar as perdas inevitáveis que ocorrem dentro de si Fantasias conscientes – fantasiar Intelectualização e ascetismo como formas de controle do próprio

id Perda dos objetos reais – substituição por símbolos

intelectualizados

Síndrome Normal da Adolescência

Page 30: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

Fuga para o mundo interior permite uma espécie de reajuste emocional, um ‘autismo positivo’ e que leva à preocupação por princípios éticos, filosóficos, sociais, formulações de um plano de vida Envolvimento com movimentos sociais e políticos

Envolvimento com atividades artísticas: escrita de poesias, desenhos etc.

Anna Freud afirma que na puberdade há uma recapitulação do período pré-genital e identifica alguns mecanismos de defesa: ascetismo (negação de se conceder prazer) e a intelectualização (recalcamento dos sentimentos e análise dos problemas em termos puramente abstratos), através dos quais o adolescente se protege do acréscimo das pulsões.

Síndrome Normal da Adolescência

Page 31: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

Crises religiosas/ideológicas Preocupações metafísicas

Tentativas de soluções de angústias que vive o ego na sua busca por identificações positivas e de confronto com o fenômeno da morte definitiva de parte do seu ego corporal

Necessidade de identificações positivas com imagens idealizadas que lhe garantam a continuidade da existência de si mesmo e de seus pais infantis

Síndrome Normal da Adolescência

Page 32: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

Deslocalização temporal Tentativa de manejar e controlar o tempo

Negação da passagem do tempo Comportamentos de isolamento

Necessidade de elaboração das perdas da infância Necessidade de formular projetos para o futuro Necessidade de desenvolver a capacidade de estar consigo

mesmo Importância de se vivenciar o tempo como contínuo – sou o

mesmo do passado, mas diferente

Síndrome Normal da Adolescência

Page 33: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

Evolução sexual manifesta Evolução do auto-erotismo ao exercício da genitalidade

Oscilação entre atividades masturbatórias e o começo do contato genital de forma exploratória e preparatória para a genitalidade amadurecida

Conclusão da situação edípica

Aceitar e aprender, progressivamente, a lidar com sua genitalidade, o adolescente inicia uma busca do parceiro de maneira mais íntima e intensa

O amor apaixonado e idealização desse objeto de amor – impulsividade e labilidade emocional

Síndrome Normal da Adolescência

Page 34: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

Questões

Filme 1) quais os principais atrasos no desenvolvimento cognitivo

apresentados pelo garoto do filme? 2) Como musicoterapeuta, elabore uma estratégia de

intervenção para auxiliá-lo nessas dificuldades.

Prova 1) Pesquise e discorra sobre a crise de identidade na

adolescência de acordo com Erik Erikson. 2) Explique o que é a Sindrome Normal da adolescência.

Page 35: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

Retorno a Freud

Page 36: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

Freud sustenta em Projeto para uma Psicologia Científica (1895) que “toda pessoa adolescente possui marcas mnêmicas que só podem ser compreendidas com a emergência de sensações sexuais próprias; dir-se-ia então que todo adolescente porta em si o ‘gérmen da histeria”.

O funcionamento psíquico a partir de uma dupla temporalidade através da concepção de uma ação retardada.

Três ensaios sobre a sexualidade (1905), Freud teoriza que a puberdade leva a vida sexual infantil a sua conformação definitiva, a partir do primado das zonas genitais e da escolha objetal, ambas prefiguradas no tempo do infantil.

A puberdade e o incremento da pulsão sexual com a primazia da zona genital. Ela reordena todas as zonas e permite que o sujeito realize escolhas objetais fora de seu próprio corpo, saindo do autoerotismo.

Retorno a Freud

Page 37: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

Outro fator apontado por Freud em 1905 é o desligamento da autoridade dos pais, entendido como o evento mais significativo e doloroso da puberdade. Demarca a diferença de gerações

Forte ligação entre a desistência de realização das fantasias incestuosas e o desligamento da autoridade parental

Em Romances Familiares, Freud (1908) toma a puberdade como referencia em relação ao objetivo erótico e ambicioso da fantasia no desligamento com a autoridade. A criança pequena toma seus pais como fonte de todo o conhecimento, porem em seu desenvolvimento conhece outras famílias e começa a “por em duvida as qualidades extraordinárias e incomparáveis que lhes atribuía” (p.219). Esse processo se inicia em um período logo anterior a puberdade podendo

prolongar-se para muito depois dela. O indivíduo elabora o seu romance familiar neurótico, que pode incluir as mais variadas fantasias, desde a substituição por pais melhores ate a infidelidade materna.

Retorno a Freud

Page 38: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

Em Algumas Reflexões sobre a Psicologia Escolar, Freud (1914) trabalha o desligamento dos pais na juventude e as outras relações no mesmo período da vida, atravessado pelas marcas do Complexo de Édipo. No fim da infância o menino mantém contato com várias pessoas fora do núcleo

familiar e não pode deixar de perceber o quão elevado era o seu primeiro ideal paterno.

Se apressa em desligar-se desse ideal infantil e começa a criticar e avaliar seus comportamentos.

Entra em contato com outras figuras de autoridade, porém em seus relacionamentos traz traços infantis e edipianos e investe nos substitutos parentais as ambivalências de sentimentos que experimenta em relação aos seus pais.

“Essas figuras substitutivas podem classificar-se, do ponto de vista da criança, segundo provenham do que chamamos as ‘imagos’, do pai, da mãe, dos irmãos e das irmãs, e assim por diante. Seus relacionamentos posteriores são assim obrigados a arcar com uma espécie de herança emocional [...]” (p. 248-249).

Retorno a Freud

Page 39: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

Os Grandes Dilemas do Adolescente

Page 40: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

Os Grandes Dilemas do Adolescente

O dilema existencial Redefinição da imagem corporal consubstanciada na perda do corpo

infantil e aquisição do corpo adulto Culminação do processo de separação/individuação e substituição do

vínculo de dependência simbiótica com os pais da infância por relações objetais de autonomia plena

Elaboração do luto referente à perda da condição infantil Estabelecimento de uma escala de valores ou código de ética próprio Busca de pautas de identificação no grupo de iguais Assunção de papéis sexuais auto-outorgados, ou seja, consoante

inclinações pessoais, independentemente das expectativas familiares

Page 41: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

O dilema vocacional Desempenho e competição x ludicidade do trabalho Realizar-se profissionalmente numa sociedade que reduziu o

trabalho a mero sucedâneo do poder econômico

O dilema sexual Permissividade x resolução dos conflitos sexuais Liberdade sexual concedida x liberdade sexual conquistada

pela superação individual das próprias inibições e conflitos internos Liberalidade de fachada: ânsia dos adultos em recuperar o tempo e

a juventude perdidos nas malhas da repressão sexual

Os Grandes Dilemas do Adolescente

Page 42: A Adolescência Na Perspectiva Psicanalítica

Repetição dos conflitos do período edipiano Necessidade de integração da sexualidade ao

conjunto da personalidade Pressupõe que o adolescente se aceite sem receio como

indivíduo com desejo sexual e seja capaz de experienciar esse desejo numa relação de amor com um(a) parceiro(a) maturidade

Escolha objetal

Os Grandes Dilemas do Adolescente