3º jornalirismo debate popular x sofisitcado
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Debate promovido pelo Jornalirismo no dia 27/11/2008TRANSCRIPT
Realização:
Apoio:
Mário Sérgio Cortella, filósofo e educador
Mário Sérgio Cortella é um dos principaisdiscípulos do educador Paulo Freire e
escreveulivros como “A Escola e o Conhecimento”(Cortez) e “Não Espere Pelo
Epitáfio: Provocações Filosóficas” (Vozes). Éprofessor da PUC-SP (Pontifícia Universidade
Católica) e foi secretário municipal de Educaçãode São Paulo (1991-92), no governo da prefeita
Luiza Erundina.
Celso Loducca, publicitário
Celso Loducca é um dos profissionais de criação publicitária mais premiados do Brasil, ganhador de
Leões no Festival de Cannes, o principal da propaganda mundial. Criou campanhas que marcaram a história da
propaganda brasileira, como a de “Os nossos japoneses são mais criativos”, para a Semp Toshiba. Hoje é
presidente da agência Loducca e sócio do centro cultural Casa do Saber.
Pedro Alexandre Sanches,
jornalista
Pedro Alexandre Sanches tornou-se um dos críticos culturais mais irreverentes e cultuados do Brasil,
especializado em música. Começou como repórter e crítico do jornal Folha de S.Paulo e hoje escreve na revista CartaCapital. É autor dos livros Tropicalismo:
Decadência Bonita do Samba e Como Dois e Dois São Cinco – Roberto Carlos (& Erasmo & Wanderléa),
ambos lançados pela Boitempo.
Alessandro Buzo,
escritor e produtor cultural
Alessandro Buzo é escritor e produtor cultural. Hoje apresenta o quadro “Buzão”, do programa “Manos e
Minas”, da TV Cultura. Natural do Itaim Paulista, bairro pobre da periferia paulistana, já escreveu cinco livros, entre eles, o romance Guerreira (Global Editora), que
ganhou o Prêmio Hutúz em 2007. Como produtor cultural, já realizou 17 edições do “Favela Toma Conta”,
evento de hip-hop.
Dialogismo como base“Tu me ensinas, que eu te ensino”
Método Paulo Freire de AlfabetizaçãoPedagogia do Oprimido, publicado em 1970
“Ler o mundo”; “Educação é política”
“Como lembrava Paulo Freire, só a prática de pensar a prática permite pensar certo”, Mário Sérgio Cortella
Famílias fonêmicas de palavras do dia-a-dia da comunidade.Voto. – va, ve, vi, vo,vu. Ta, te, ti, to tu.Parte do pressuposto de que o alfabetizado tem muito a ensinar ao alfabetizador, o conhecimento/alfabetização é uma via de duas mãos.A alfabetização como processo integrado à vida de quem está aprendendo a ler.
Darcy Ribeiro, antropólogoConceito de Transfiguração Étnica
“Compreensão de que as culturas são imperativamente transformadas no confronto de umas com as outras. (...) Mas suas identificações étnicas originais persistem, resistem a toda sorte de violência.”
“A transfiguração étnica consiste precisamente nos modos de transformação de toda a vida e cultura de um grupo para tornar viável sua existência no contexto hostil, mantendo sua identificação”
O Povo Brasileiro – A formação e o sentido do Brasil• Matriz Indígena• Matriz Africana• Matriz Lusitana
O que é sofisticado?
Aurélio• Sofisticado [Particípio de sofisticar] Adj. 1. Falsificado, contrafeito,
adulterado. 2. Bras. Que não é natural; artificial, afetado. 3. Falsamente refinado ou intelectual. 4. Requintado ao extremo; aprimorado.
• Sofisma [Do gr. Sóphisma, ´sutileza de sofista´, pelo lat. Sophisma] S.m. 1. Lóg. Argumento aparentemente válido, mas, na realidade, não conclusivo, e que supõe má-fé por parte de quem o apresenta; falácia, silogismo erístico. 2. Argumento que parte de premissas verdadeiras, ou tidas como verdadeiras, e chega a uma conclusão inadmissível, que não pode enganar ninguém, mas que se apresenta como resultante das regras formais de raciocínio; falácia.
O que é popular?
Aurélio• [Do latim populare] Adj 2 g. 1. Do, ou próprio do povo. 2. Feito para
o povo. 3. Agradável ao povo; que tem as simpatias dele. 4. Democrático. 5. Vulgar, trivial, ordinário; plebeu. S. m. 6. Homem do povo.
Nelson Sargento,
compositor e escritor
“A sofisticação é uma simples e sábia maneira de dar a notícia com a dimensão de uma estrutura que exalte
mais o texto que for escrito ou falado.”
Sérgio Vaz, poeta da periferia
“E o que é sofisticado? Uma ópera não tem nenhum significado para mim. Não sei quem é Verdi, quem é
Tosca. Sofisticado é cair no samba na minha rua, com a minha menina. O sofisticado tem a ver com o gosto de
cada um. Essa coisa de julgar é foda.”
Washington Olivetto, publicitário
“O popular é infinitamente mais sofisticado do que o sofisticado, até porque a palavra ‘sofisticado’ é sofística,
mas não é sofisticada.”
Eleilson Leite, educador e editor
“Sofisticado é quando se chega próximo da perfeição. E a perfeição é o reino da simplicidade. O popular é simples,
o que não é o mesmo que simplório. Simples como a canção ‘As rosas não falam’, do Cartola. (...) Ou seja, o
popular é sofisticado. Uma sofisticação sem sofisma.”
Inspiração Mútua e Recriação
Antônio Nóbrega, músico, dramaturgo, ator, dançarinoEntrevista à “Caros Amigos”, janeiro de 2004
“A rabeca é um violino popular. Ou seja, o homem do povo se inspira no tocador de violino pra tocar a rabeca e construí-la também. (...) Mas aí o povo, quando construiu esse instrumento e começou a tocar – isso é que é o ouro, no meu ponto de vista –, ignora a técnica de tocar violino ocidental, porque não tem formação musical, e emprega naquele instrumento uma forma de tocar que expressa de maneira coletiva o nosso temperamento, o nosso pulsar. (...) E aí é que sustento que essa é uma maneira que exprime inconscientemente, da forma mais profunda, o nosso temperamento musical”
“O que seria de Lorca, de Cervantes sem a cultura popular: o Quixote é uma figura nutrida, alicerçada nela. E o Brasil prova isso, o que seria de Guimarães Rosa, de Villa-Lobos, você pode dizer que os maiores criadores do Brasil têm um pé na cultura popular do país. A cultura popular carrega uma missão na cultura do mundo que a gente ainda não foi capaz de ver”
Evolução do Analfabetismo no Brasil (IBGE)
14,1 milhões de analfabetos: 9 milhões deles eram pretos e pardos e mais da metade residia no Nordeste.
Evolução da urbanização no BrasilTaxa de urbanização do Brasil, 2007
• Rio de Janeiro: 96,7% (maior do Brasil)• Região Metropolitana de São Paulo: 96,2%• Piauí: 62,1% (menor do Brasil)
Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios 2007.• 1991: 75,59%• 2000: 81,25%
Evolução da população brasileira (IBGE)
• 1872: 10 milhões (1º censo realizado no Brasil)• 1920: 20 milhões• 1940: 40 milhões• 1950: 50 milhões• 1960: 70 milhões• 1970: 93 milhões• 1980: 120 milhões• 1991: 145 milhões• 2000: 165 milhões• 2007: 185 milhões
População rural no Brasil,
1940 a 2000, IBGE
População urbana no Brasil, 1940 a 2000, IBGE
Conhecimento formal e Conhecimento Empírico/Talento/Gênio
“O Fim e o Princípio”, documentário de Eduardo Coutinho
Comunidade do Sítio Araçás, no município de São João do Rio do Peixe, sertão da Paraíba
Seu Nato: “Um homem vai pra um banco de colégio, e aprendi muita coisa. Mas as coisas matutas se aprende no campo, entendeu? Porque vai convivendo, vai ficando
prático, vai conhecendo”
Chico Moisés: “A sabedoria não vem só pela escrita, só por escrever. Isso já vem da mente, é dom.
É gênio”
“Feito de Oração”, Noel Rosa
Batuque é um privilégioNinguém aprende samba no colégio
Sambar é chorar de alegriaÉ sorrir de nostalgiaDentro da melodia
(...)O samba na realidade não vem do morro
Nem lá da cidadeE quem suportar uma paixãoSentirá que o samba então
Nasce do coração
Raízes do preconceito
• Como nasce e por que existe o preconceito? Rotulação.
“Zeca Pagodinho leva polêmica ao clube Paulistano”, matéria da “Folha de S.Paulo”. Show na sexta-feira, dia
28 de novembro.“Era só o que faltava trazer, esse pagodeiro. O clube vive
de exclusividade. Daqui a pouco vão fazer baile funk", diz um sócio que pede anonimato.
“Numa das mensagens, um sócio desgostoso chama o músico de "cachaceiro" e sugere que ele "vá se
apresentar para o pessoal do Corinthians".
Tecnologia e Inclusão Social
Fatos novos:
• Barateamento dos modos de produção e publicação de conteúdo
• Periferia entra no mercado de consumo (maior poder aquisitivo) e no mercado de opinião
• Multiplicação de novas vozes, artistas, escritores, bandas, músicos
Tecnologia e Inclusão Social
Alessandro Buzo, em “Suburbano mostra a força que uma convicção tem”“A Internet foi o tiro que saiu pela culatra da elite, eles criaram o computador, a Internet,para eles, mas o computador barateou e chegou à periferia, hoje tem “lan house” nafavela por R$ 1,00 a hora. Mas a revolução está por vir... Quando os moleques dasquebradas pararem de acessar só Orkut e MSN, aí o barato vai ficar louco.”
Pedro Alexandre Sanches, em entrevista ao blog “Trabalho Sujo”, sobre a revolução digital“Ver a música funcionando a pleno vapor mesmo quando o jabá e o caixa 2 e asmamatas e as tramóias da indústria fonográfica vão se desmilinguindo é um sonhorealizado. Perceber como a música está cada vez mais inteligente e liberta deconvenções paralisadoras e limitadoras (à parte a avalanche de sósias de LosHermanos que não param mais de surgir) é um sonho realizado. Ver linhas diretas dediálogo sendo abertas, via internet, entre artistas, produtores, críticos e "eles", osconsumidores, os "cidadãos civis", que até há pouco eram mera platéia passiva (eabobalhada, na opinião dos "formadores"), é um grande sonho se realizando pouco apouco. Testemunhar uma nova leva de pujança e força de músicas criadas nas periferias(hip hop, funk carioca, tecnobrega etc.) é um sonho que eu nem sabia que tinha, as que vai se realizando à medida que eu o descubro.”
Vox populi, vox dei, A voz do povo é a voz de Deus
Pesquisa Datafolha sobre os músicos mais populares
do Brasil, março de 2007:
Brasil • Banda Calypso, 14%
• Zezé di Camargo e Luciano, 12%• Bruno e Marrone, 10%
• Roberto Carlos, 8%
• Ariano Suassuna, escritor, em vídeo sobre a Banda Calypso:
“Tem gente que vai na minha casa para me convencer a escutar Calypso em nome da modernidade. ´Mas, Ariano, não dá, você está ficando arcaico.´ É melhor ficar arcaico que idiota.”
• Hermano Vianna, crítico musical, em “Isso é Calypso – ou A Lua Não Me Traiu”, de 17/7/2007:
“Há poucas canções melhores de se ouvir no rádio do que Mais Uma Chance, cantada por Joelma e Leonardo. Quando ouço na rua, meu dia se alegra e saio cantando junto. A situação de amor descrita na letra também é cativante, no seu narcisismo calculadamente desamparado e espertamente ingênuo: "Meu amor se eu fosse você, eu voltava para mim, eu viria me socorrer". Um dia, quando um cantor chique fizer uma versão, todo mundo vai achar bacana...
Mas é preciso tempo: o popular muito popular só se torna elogiável quando sua popularidade é coisa do passado, não é mesmo?”
• Pedro Alexandre Sanches, em “Música Popular”, reportagem publicada na revista “CartaCapital”
“Era uma vez uma sigla chamada MPB. Designava uma tal “músicapopular brasileira” e se tornou moeda corrente a partir dos anos 1960,quando adotada por toda uma geração universitária de compositores,cantores e admiradores. Décadas adiante, a sigla pouco a pouco seencastelou. Isolou-se de gêneros supostamente “inferiores”, blindou-secomo num condomínio fechado de bairro nobre. Entrou em crise, atéde identidade. Quem faria a MPB de 2008? O rococó Djavan ou asimplória Banda Calypso? O bissexto João Gilberto ou a onipresenteIvete Sangalo? O que seria MPB em 2008? O banquinho-e-violão emredutos exclusivos do eixo Rio-São Paulo ou o pop que corre por forada indústria e lota arenas nas periferias do Brasil?”
Mídia e produção cultural popular: necessidade de legitimação?
Hermano Vianna, crítico musical, em “Isso é Calypso – ou A Lua Não Me Traiu”, de 17/7/2007:
“O que o novo sucesso popular brasileiro, criado àrevelia da mídia, ainda busca na mídia é a legitimação, o
selo de que é mesmo sucesso e se possível"cultura"”
Alessandro Buzo, escritor“Use a mídia em nosso favor”
“Os grupos de rap e escritores devem, sim, ocupar os espaços na mídia.”
Discurso e exclusão
Como é a relação da propaganda/universidade/academia
com a cultura popular?
Como fica a PPB, Propaganda Popular Brasileira?
A propaganda precisa refletir o país? Valorizar a
sua população? Contar suas histórias?
Discurso da diferenciação, do exclusivo.
Propaganda indiana: Recusa ao padrãoimportado.
Sofisticação x Descaracterização? Patrocínio x Corrupção? Incentivo x Influência
Texto do encarte do novo CD de Nelson Sargento, patrocinado pelo Projeto Natura Musical
"É muito importante – e ao mesmo tempo gratificante para todos nós – quando uma empresa do porte e da envergadura da Natura tem a preocupação em investir, com dignidade, respeito e amor, na cultura do país onde atua e foi criada, exaltando e prestigiando músicos, cantores, compositores e todas as outras formas de arte, de um modo geral.
O Projeto Natura Musical tem um papel deveras espetacular na música e uma nobre missão; tirar do ostracismo ou do esquecimento artistas de real valor que, sem esse magnífico projeto, seriam eternamente ilustres desconhecidos. Parabéns e que dure para todo o sempre".
• Pedro Alexandre Sanches, em “Ela finge que me ama, e eu finjo que acredito”, 20/11/2008
“Este é o slogan comercial de determinada fábrica, ou eu estou redondamente enganado?
(...)Antes de terminar, só repito uma vez mais: nada contra as tramas do patrocínio, demodo algum, nem quero aqui desempenhar eu o "falso moralista". mas, ai, essadeselegância nada discreta, quem ainda agüenta, hein? Quanto a mim, só me trazirritação, e torna mais especial a faixa 12 de "versátil", quando n.s. canta de novo ogenial samba antigo "falso amor sincero", aquele que diz assim: "o nosso amor é tãosincero/ ela finge que me ama/ e eu finjo que acredito". toda vez que seu nelsonpronuncia "ela", eu não consigo mais parar de pensar na natura. Tudo bem que, embora"ele" não o diga, a recíproca deve ser 100% verdadeira. né, seu sargento?”
Escolas de samba. Influência de governos e marcas no enredo.Paulinho da Viola, cantor e compositor: “Elas [as escolas de samba] passam a dizer:‘Onde a gente vai pegar dinheiro pra montar o enredo?”, afirmou Paulinho da Viola, ementrevista à revista Caros Amigos, em fevereiro de 2006.
Sofisticação x Descaracterização?Patrocínio x Corrupção?
Incentivo x Influência
• Projetos como o Natura Musical podem corromper a cultura popular? Podem querer influenciar no conteúdo da criação?
• Qual o limite para o patrocínio? Até onde pode ir uma empresa que investe em cultura? Tem o direito de influenciar o conteúdo, de interferir?
Darcy Ribeiro, em “O Povo Brasileiro”
“Na verdade das coisas, o que somos é a nova Roma. Uma Romatardia e tropical. O Brasil já é a maior das nações neolatinas, pela
magnitude populacional, e começa a sê-lo também por sua criatividadeartística e cultural. Precisa agora sê-lo no domínio da tecnologia da
futura civilização, para se fazer uma potência econômica, de progressoauto-sustentado. Estamos nos construindo para florescer amanhã
como uma nova civilização, mestiça e tropical, orgulhosa de si mesma.Mais alegre, porque mais sofrida. Melhor, porque incorpora em si maishumanidades. Mais generosa, porque aberta à convivência com todas
as raças e todas as culturas e porque assentada na mais bela eluminosa província da Terra”