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TENDÊNCIAS DA EDUCAÇÃO FÍSICA BRASILEIRA
PROFESSOR FAGNER ROSEMBERG
‐ Estudar as tendências da Educação Física brasileira significa, em
última instância, compreender sua historicidade, com as concepções
filosóficas, políticas e ideológicas nelas subjacentes.
‐ A Educação Física ganhou diferentes contornos, conforme o momento
histórico‐social e econômico em que o Brasil atravessou.
‐ No período imperial, havia a depreciação da realização de atividades
físicas, associando‐a ao trabalho escravo e a considerando de menor
importância que a atividade intelectual. (Isto pela elite imperial)
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‐ A Reforma Couto Ferraz, em 1851, representa o início oficial da Educação
Física (Ginástica) na escola brasileira.
‐ Em 1882, Rui Barbosa emite seu parecer recomendando que a ginástica
fosse obrigatória para ambos os sexos e fosse oferecida às Escolas
Normais. Seu argumento: um corpo saudável de suporte à atividade
intelectual.
‐ Desde o final do Brasil Imperial, perpassando toda a Primeira República
(1889‐1930), percebe‐se uma Educação Física comprometida com ideais
higienistas, de formação de homens forte, sadios e dispostos à ação.
GHIRALDELLI JR (1988)
identifica 5 (cinco)
Tendências da Educação
Física brasileira:
1‐ Educação Física Higienista
(até 1930): homens fortes e
saudáveis;2 –Educação Física
Militarista (1930 – 1945):
homem obediente e à
serviço da Pátria;
3‐ Educação Física
Pedagogicista (1945 –
1964): educação integral do
homem;
4 – Educação Física Competitivista (pós 1964):
Culto ao atleta‐herói;
5 – Educação Física
Popular: “Solidariedade
Operária”.
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1‐ Educação Física Higienista (até 1930): homens fortes e saudáveis
‐ Final do período imperial até 1930 (1ª República).
‐ Ocorre processo de industrialização e urbanização, ocasionando
proliferação de doenças infecciosas devido condições insalubres
imposta aos operários com o capitalismo.
‐ Produto do pensamento liberal, que entendia ingenuamente a escola
como “redentora da humanidade”. Perspectiva da pedagogia
tradicional.
‐ Educação Física capaz de garantir e manter a saúde das pessoas;
formando homens e mulheres sadios, fortes, dispostos à ação. Sob o
lema: “Mente sã em corpo são”.
‐ Defendida por Rui Barbosa, que dizia serem inseparáveis tanto a
higiene do corpo quanto a da alma;
‐ Educação Física como erradicadora de doenças; protagonista num
projeto de “desodorização” e “assepsia social”. Uma agente de
saneamento público pela via educacional. Abrange todas as classes
sociais.
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‐ A ginástica/jogos /desportos devem disciplinar hábitos saudáveis e
higiênicos nas pessoas, onde irão se afastar daquilo que deteriora
a saúde e a moral.
‐ Décadas de 1910 e 1920: importação de modelos de práticas
corporais do sistema ginástico alemão e sueco; além do método
francês. Princípios biológicos.
‐ Delega para o indivíduo a responsabilidade de “adquirir saúde”,
independentemente de sua condição existencial e material.
‐ Atualmente: academias de ginástica; saúde e beleza através da
Educação Física; busca desenfreada pelo padrão estético‐
corporal divulgado pela mídia, ignorando a individualidade e
condições sócio‐econômicas da pessoa.
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2 –Educação Física Militarista (1930 – 1945): homem obediente e à
serviço da Pátria
‐ Abrangendo a Era Vargas, se caracteriza por impor a toda sociedade
padrões de comportamento estereotipados, próprios do regime do
quartel.
‐ De inspiração fascista, destaca como papel da Educação Física e do
Desporto a formação do homem obediente e adestrado, que
cumpre cegamente as regras. Analogia do estádio com o quartel
como lugares de reconhecimento da autoridade e do dever.
‐ Busca‐se formar o “cidadão‐soldado”: a obtenção de uma juventude
capaz de suportar o combate, a luta, a guerra. Objetivando “elevar a
Nação” à condição de “servidora e defensora da Pátria”.
‐ Forjar “máquinas humanas” subservientes: com base em ideais
nazifascistas, almeja o “aperfeiçoamento da raça”, onde no processo de
eugenização caberia à Educação Física a “seleção natural” dos
indivíduos, eliminando os fracos e premiando os fortes.
‐ Coragem, vitalidade, heroísmo e disciplina: valores disseminados.
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‐ Em 1931 o “Método do Exército Francês” foi incorporado na rede
escolar, sendo oficialmente obrigatório até os anos 50.
‐ O método francês orienta‐se em princípios anátomo‐fisiológicos, de
desenvolvimento harmônico do corpo e, na idade adulta, a
manutenção e desenvolvimento dos órgãos. Valores como obediência,
submissão às autoridades superiores e não contestação às ordens, são
inseridos por este método. (Darido, 2005)
‐ Em 1933 : fundação da Escola de Educação Física do Exército‐ RJ;
disseminando o pensamento vigente sobre a Educação Física Brasileira
nas duas décadas seguintes.
‐ Em 1937: primeira menção explícita da Educação Física em textos da
constituição federal, incluindo‐a no currículo como “prática educativa”
obrigatória (e não como disciplina curricular). (PCN, 1997)
‐ Assim como a concepção higienista, a militarista também considerava a
Educação Física como uma disciplina essencialmente prática, dispensando
arcabouço teórico que lhe servisse de base.
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‐ Não havia diferença clara entre instrução militar e Educação Física,
bastando ser um ex‐praticante para que se pudesse ensiná‐la.
(Darido,2005)
‐ Igualmente enquadra‐se à perspectiva pedagógica tradicional, elucidada
por Libâneo (1990).
‐ Enquanto a higienista buscava a saúde pública e dos indivíduos, a
militarista visava a “saúde da pátria”.
3‐ Educação Física Pedagogicista (1945 – 1964): educação integral do
homem
‐ Ganhou força especialmente no período pós‐guerra, durante a
República Populista; sendo impulsionada pela ideologia nacionalista‐
desenvolvimentista de JK, que preconizava a aliança das classes.
‐ Considerada a versão escolanovista da Educação Física, defende a
necessidade desta disciplina ser entendida pela sociedade como uma
prática prioritariamente educativa. E não apenas promotora de saúde
ou disciplina.
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‐ Influenciada pelo liberalismo americano, tem nas teorias de John
Dewey e Carl Rogers, respectivamente, as bases para uma
“pedagogia ativa” e um “ensino não‐diretivo”, onde o aluno passa a
ser o centro. (crítica à pedagogia tradicional )
‐ Há um sentimento de valorização do profissional de Educação Física.
‐ Advoga a “educação do movimento” como a única forma capaz de
promover a chamada “educação integral”, respeitando as
peculiaridades culturais, físicas e psicológicas dos alunos. Formação
do cidadão.
‐ Ocorre o processo de esportivização da Educação Física escolar com a
introdução do Método Desportivo Generalizado (Listello). Esporte
adaptado aos objetivos e práticas pedagógicas; como um meio de
preparação para a vida; e com ênfase no aspecto lúdico.
‐ Entretanto, a Educação Física como meio de educação holística fica mais
no discurso, pois a prática militarista ainda se fazia fortemente presente.
Isto porque o método francês ainda era oficialmente obrigatório na rede
escolar brasileira.
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‐ Nesta concepção, a Educação Física estaria acima dos conflitos políticos
e de classes (pretensa neutralidade). Sendo “socialmente útil e boa”
para levar a juventude a aceitar as regras de convívio democrático, o
altruísmo e culto a riquezas nacionais. (funcionalismo de Durkheim)
4 – Educação Física Competitivista (pós 1964): Culto ao atleta‐herói
‐ Situada no período do Regime Militar, aqui a Educação Física é reduzida
ao “desporto de alto nível” ou “desporto‐espetáculo”, que busca
performances atléticas capazes de trazer medalhas olímpicas para o
Brasil.
‐ Culto ao atleta‐herói, aquele que superou inúmeras dificuldades para se
chegar ao podium. Ilustrado por ídolos do esporte que, pelo seu esforço,
“venceram na vida”(justifica‐se as regras a partir das exceções/mascara
as desigualdades sociais).
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‐ Incentivo aos estudos da fisiologia e biomecânica, objetivando o
aperfeiçoamento técnico‐desportivo. Início do Treinamento
Desportivo (periodização).
‐ Com base na pedagogia liberal‐tecnicista, apregoa uma falsa
neutralidade científica, onde os princípios da racionalidade, eficiência
e produtividade são característicos do conteúdo esportivo durante as
aulas de Educação Física.
‐ Para o governo militar o que importava era desmobilizar organização
popular; eliminar críticas internas; aparentar desenvolvimento,
prosperidade e serenidade; “dirigir e canalizar energias” através da
massificação do desporto‐espetáculo. Ex.: “A taça do mundo é nossa
(...) Copa de 1970”.
‐ A Educação Física Competitivista, assim como as anteriores, serviu
como instrumento da classe dominante para alienação e
manipulação popular. Um Aparelho Ideológico de Estado, conforme
Althusser.
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‐ Troca a ideologia nacionalista‐desenvolvimentista pela
ideologia de “segurança‐desenvolvimentista”.
5 – Educação Física Popular: “Solidariedade Operária”
‐ Representa a prática de Educação Física relativamente autônoma dos
trabalhadores. Contrária à ideologia dominante disseminada nas
demais tendências.
‐ Iniciou‐se, praticamente, junto com a República. Foi se desenvolvendo
aos poucos, sorrateira e paralelamente às demais concepções de
Educação Física. Busca uma sociedade efetivamente democrática.
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‐ Produção teórica transmitida oralmente pelas gerações de
trabalhadores (incineração dos documentos do Movimento Operário
e Popular).
‐ Educação Física não está preocupada com a saúde pública,
tampouco com a busca de medalhas olímpicas. Ela é, antes de tudo,
cooperação e ludicidade.
‐ Entende a educação proletária intimamente ligada à luta de classes.
Reconhece as contradições sociais e antagonismo de interesses.
‐ Educação Física como promotora da organização e mobilização dos
trabalhadores (inclusive para o embate social).
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Referências Bibliográficas:
BARBOSA,Claudio Luis de. Educação Física e Didática: um diálogo possívele necessário. Petrópolis, RJ:Vozes,2010.
BRASIL, Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curricularesnacionais: Educação física. Volume 7. Brasília: MEC/SEF, 1997.
DARIDO, Suraya Cristina. RANGEL, Irene Conceição Andrade. EducaçãoFísica na escola: implicações para a prática pedagógica. Rio de Janeiro:Guanabara Koogan, 2005.
GHIRALDELLI JR., P. Educação Física Progressista. A pedagogia crítico‐social dos conteúdos e a educação física brasileira. São Paulo: Loyola,1988
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. Cortez, 2013.
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