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Woman is bom ofwoman. But man is bom ofwoman."'> and never recovers from thatfacto
Harold Bloom
A ideia central presente neste ensaio de G. WilsonKnight assenta no contraste entre dois valores: a guerrae o amor. A tragédia do protagonista, Coriolano, é nãoter um destino. No início, Caio Márcio (o nome doherói antes do seu baptismo na batalha de Corioles) é-nos apresentado como a própria personificação daguerra e das suas virtudes. Ele representa a nobreza, aeficiência, o poder e a ambição. Contudo, estascaracterísticas excluem o amor. Segundo WilsonKnight, a busca imoderada destes atributos levaCoriolano ao isolamento e ao orgulho. Esta é a tragédiado nosso herói: o valor da ambição guerreira contradiz-se a si própria, pois contém em si o gérmen da suadestruição. Coriolano é o herói trágico, cuja hubris é aincapacidade de relacionar valores em si positivos como amor.
o estilo da peça reflecte esta oposição entrevalores guerreiros e o poder do amor. O mundopresente em Coriolano é um mundo de armas, batalhas,barulho e revoltas. O estilo é cru, despojado edesapaixonado. A sensação criada é a de umintelectualismo frio - o mundo da arena política. Obrilho e a cor escasseiam e a imagética metálicaassocia-se directamente ao cenário das cidades -Roma e Corioles.
A civilização que emerge desta obra é bárbara,em construção: predominam o tijolo, o metal e a pedra.As cidades são circunscritas por muralhas," sãometálicas e duras, tal como as imagens de guerra. Este éum mundo fechado, sombrio e hostil, que se centra napersonagem de Coriolano: no acto I, Caio Márcio entraa "praguejar" e a "sangrar". Ferro, sangue, ambição ehonra guerreira formam Coriolano. Estamos longe domundo de Antônio e Cleôpatra. Ao contrário deAntónio, Coriolano é um homem de ferro, forjado porum orgulho sanguinário. Coriolano é uma fortalezaférrea, e que só o amor à mãe poderá finalmente diluir edestruir.
O heIÓi é educado por sua mãe, Volúmnia,uma matriarca que glorifica a vontade férrea e oorgulho guerreiro. Mãe e filho vivem uma relação desimbiose, que será a tragédia de Coriolano, quando estecede às súplicas de Volúmnia no acto V. Contudo, noacto I, Volúmnia expressa claramente a sua visão sobre.a educação de Coriolano:
Se meu filho fosse meu marido, antes folgariade o ver ausente a buscar a honra que nosdeleites da cama a mostrar-me o seu amor.
(I. ÍÍi)
A honra é o valor que exclui o amor e que se tornanuma força cega de orgulho. Wilson Knight argumentaque a excelência, o poder, o valor e a virtude resultantesda educação de Coriolano se esfumam em abstracções,quando desligados do universo mais amplo que é oamor. Deste modo, um monstro, Volúmnia, gera outromonstro, Coriolano. Este torna-se a imagem da própriamorte, de um destino inexorável: Coriolano é comouma esfera posta em movimento, destruindo tudo etodos. É uma força sem objectivo; porém, Coriolanonão é isento de virtudes. Ele é uma coisa completa, deuma perfeição redonda, completa e autosuficiente. Aquireside, precisamente, o centro do conflito trágico doherói desta tragédia: Coriqlano é como uma esfera queé arremessada e que atinge um objecto, só que estapersonagem não tem um objecto específico. Coriolano éuma abstracção, uma força isolada. Para estapersonagem, a guerra vale pela guerra, como o podervale pelo poder: não existe uma relação destes valoresC»m realidades mais vastas, como a cidade de. Roma.Coriolano não trava as batalhas para defender a suacidade, mas pelas batalhas e pela guerra em si próprias.
Coriolano distingue-se pelo seu poderaristocrático. Ele está acima da multidão e despreza opovo. As imagens da Natureza reforçam estacaracterística ao longo da peça. A oposição Coriolana!plebeus reflecte-se no contraste entre animais fortes efracos (leões e lebres, raposas e gansos, gato e rato,etc). Esta imagética sugere constantemente adesigualdade inata dos seres humanos. Até mesmo ospatrícios sentem a superioridade de Coriolano, como nacena da entrada triunfal em Roma.
Há tal tumulto que é como se o DeusQue o guia, esquivo, se houvera insinuadoNa sua forma humana e lhe dera
Tão grácil porte. (lI, i)
Coriolano é um deus terrível e irado, em que o poder éa característica dominante, mas nãoo amor.
A frieza metálica da peça também encontracorrespondências na utilização do som e da música.Brevemente, o contraste estabelecido entre o barulho daguerra e da revolta e a harmonia da música, aponta ereforça a oposição guerra/amor. Em Coriolano, o
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barulho é uma arma política em que a vontade, e não arazão, predomina.
E quando começarem a gritarNão se calem e com grande alvoroçoExijam imediato cumprimentoDa pena que for dada... (III, iii)
Barulho e música contrastam claramente no acto V,quando Coriolano, uma máquina de guerra, cede aVolúmnia. Menénio comenta a atitude do protagonista,quando este não cede à sua argumentação para desistirdo propósito de destruir Roma.
... E agora não se lembra mais da mãe do queum cavalo de oito anos. O azedume do seuolhar azedaria as uvas maduras. Quandocaminha, dir-se-ia uma máquina de guerra e osolo afunda-se sob os seus pés. Consegueperfurar uma couraça com os olhos, a sua voz éum toque de finados e os seus grunhidos, umassalto militar. (V, iv)
Após Coriolano ceder às súplicas da mãe, o amor venceo orgulho guerreiro e Roma irrompe em música.
Tubas, tambores, pífaros, saltériosCímbalos, tamborins e gritos dos romanosFazem dançar o sol! Escutai! (V, iv)
A imagem metálica e ruidosa transforma-se emharmonia que rege o próprio universo.
Aproximamo-nos do centro do conflitotrágico. No acto V, Coriolano, que nunca demonstrou oamor por alguém, cede incondicionalmente a sua mãe.Este amor será simultaneamente a salvação de Roma ea morte de Coriolano, quando este, em plena agonia,diz:
Oh, mãe, minha mãe!Que me fizestes? Vede, os céus se abrem,Os deuses olham lá de cima rindo-se ...Desta desnaturada cena. Oh, mãe!Feliz vitória destes vós a Roma;Porém, a vosso filho, crede, crede,Infligistes ferida muito grave,Senão mortal. (V, iii)
Estamos perante uma ironia trágica profundamenteamarga: mãe e filho foram personagens que nuncademonstraram amor, mas que serviram valoresdesligados da vivência humana - honra, orgulho eglória. Volúmnia amou a honra e a glória de Coriolano:Finalmente apercebe-se que criou uma coisaaparentemente despojada de afectos, um robot idiota ouuma bomba-relógio. Ironicamente, o amor vinga-se (oAmor é um deus ciumento), pondo mãe e filho emconflito mortal. Volúmnia e Coriolano apercebem-se deque não podem amar exclusivamente através doorgulho, desprezando tudo e todos à sua volta, isolados
no seu poder aristocrático. Estas duas personagensamaram de forma provinciana e exclusiva, tal como ascidades de Roma e Corioles estavam circunscritas pormuralhas. O seu amor esteve sempre abaixo do orgulho.Por este motivo, Volúmnia e Coriolano opõem-se nofinal: aquela suplica por Roma, este combate porCorioles. Ambos esqueceram-se que o amor é a últimarealidade e é assim que Volúmnia, ironicamente,defende Roma, o mesmo mundo que ensinara Coriolanoa desprezar.
O orgulho do herói é oposto a três formas debeleza feminina: a mãe, a mulher e a ama do seu filho.Volúmnia apercebe-se tarde demais que a comunidadeexige que rejeite o seu filho: ao saquear Roma,Coriolano estará a entrar e violar o ventre matemo. Aoceder a este amor, mãe e filho amam verdadeiramentepela primeira vez. O orgulho de cada um submete-se aoamor pela comunidade. Coriolano regressa a Âncio,indo de encontro à sua própria morte. Primeiro comotraidor de Roma, o protagonista é agora o traidor dosVolscos. A sua "honra" conduziu-o a um mundo decontradições. Coriolano é sacrificado para que acomunidade possa ser salva, mas é igualmentepurificado. O amor governa, agora, todos os outrosvalores: no início, o herói procurou a nobreza pelanobreza, desenraizada da vida comunitária; no final,Coriolano submete-se ao 'poder do amor e, por estarazão, pode por fim demonstrar o seu orgulho de umaforma graciosa e vigorosa, quando responde àsacusações de traição proferidas por Aufídio.
Se escrevestes direito as vossas crónicas
Sabeis que em Corioles fiz espavorirVossos Volscos como águia num pombal!E o fiz sozinho! (V, vi)
O orgulho de Coriolano é agora iluminado pelo amor, oque lhe confere um esplendor próprio, digno do mundode António e Cleópatra.
Silêncio! Não, ultrajes, não! Silêncio!É nobre este homem! Sua fama cobreTodo o orbe! (V, vi)
* In The Imperial Theme. Oxford: O.v.P., 1930, pp.154--198.
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