william hendriksen - comentário do novo testamento - mateus - volume 2

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William Hendriksen - Comentário Do Novo Testamento - Mateus - Volume 2

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  • i: 2000, Edilora Cultura Crist

    O original desia obra foi publicado por Baker look House, Grand Rapids, Michigan.

    U S A , , sob o ttulo Xew Testament Commentary. Exposition of lhe Gospel According

    to Mathew. Os direitos para publicaro em lngua portuguesa foram cedidos por

    Baker Book I louse a Ldiiora Cultura CrLst.

  • NDICE

  • MATEUS

    Volume 1 Relao de Abreviaturas 5 Introduo aos Evangelhos 9 I. Introduo aos Quatro Evangelhos Mateus, Marcos,

    Lucas e Joo * 11 II. Introduo aos Trs Evangelhos: Mateus, Marcos

    e Lucas (os Sinticos) 15 A. Sua Origem (o Problema Sinlico) 15 B. Sua Confiabilidade 82

    Introduo ao Evangelho Segundo Mateus 117 I. Caractersticas 119 II. Autoria, Data e Lugar 137 III. Propsito 145 IV. Tema e Esboo 147

    TEMA GERAL: A obra que lhe deste para fazer 151

    I. Seu incio ou Inaugurao 151 Captulo 1 153 Captulo 2 211 Captulo 3 275 Captulo 4.1-11 309

    II. Seu Progresso ou Continuao Captulos 4.1220.34 331 A. O Grande Ministrio Galileu 332

    Captulo 4.12-25 333 Captulos 57 - Primeiro Grande Discurso .... 355 Captulos 8, 9 543 Captulo 10 - Segundo Grande Discurso 629 Captulo 11 681

    4

  • RELAO DE ABREVIATURAS < $ >

    As abreviaturas de livros da Bblia so aquelas da traduo Almeida Revista e Atualizada no Brasil. As letras usadas em abreviaturas de outros livros so seguidas de pontos. Nas abreviaes de peridicos no constam pontos e elas esto em itlico. Assim possvel distinguir de relance se a abreviatura se refere a livro ou peridico.

    A. Abreviaes de Livros A.R.V. American Standard Revised Version A.V. Authorized Version (King James) C.N.T. A.T. Robertson, Grammar of the Greek New

    Testament in the Light of Historical Research Gram .N.T. F. Blass and A. De brunner, A Greek Grammar of (Bl.-Debr) the New Testament and Other Early Christian

    Literature Grk.N.T. The Greek New Testament, organizado por Kurt (A-B-M-W) Aland, Matthew Biack, Bruce M. Metzger, and

    Allen Wikgren I. S. B. E. International Standard Bible Encyclopedia L.M.T. (Th.) Thayer's Greek-English Lexicon of the Testament L.N.T. ' W, F. Arndt and F. W. Gingrich, A Greek-English (A. and G.) Lexicon of the New Testament and Other Early

    Christian Literature

  • MATEUS

    M.M. The Vocabulary of the Greek Testament Illustrated from the Papyri and Other Non-Literary Sources, por James Hope Moulton and George Milligan

    N.A.S.B. New American Standard Bible (New Testament) (N.T.) Novum Testamentum Graece, organizado por D. N.N Eberhard Nestle, revisado por Erwin Nestle e Kurt

    Aland N.E.B. New English Bible N.T.C. W. Hendriksen. New Testament Commentary R.S.V. Revised Standard Version S.BK. Strack and Billerbeck, Kommentar zum Neuen

    Testament aus Talmud und Midrasch S.H.E.R.K. The New Schaff-Herzog Encyclopedia of Religious

    Knowledge Th.D.N.T. Theological Dictionary of the New Testament

    (organizado por G. Kittel e F. Friedrich, e traduzido do Alemo por G. W. Bromiley

    W.B.D. Westminster Dictionary of the Bible W.H.A.B. Westminster Historical Atlas to the Bible

    B. Abreviaturas de Peridicos ATR Anglican Theological Review BG Bibel und Gemeinde BJRL Bulletin of the John Rylands Library Btr Bible Translator BW Biblical World BZ Biblische Zeitschrft CT Cuadernos teolgicos CT M Concordia Theological Monthly EB Estdios bblicos EQ Evangelical Quarterly ET Expository Times

    6

  • MATEUS Exp The Expositor GTT Gereformeerd theologisch tijdschrifi JBL Journal of Biblical Literature JR Journal of Religion JTS Journal of Theological Studies NedTT Nederlands theologisch tijdschrifi NTStud New Testament Studies; an International

    Journal publicado trimestralmente sob os auspcios da Studiorum Novi Testamenti Societas

    PTR Princeton Theological Review RSR Recherches de science religieuse Th Theology: A Journal of Historic Christianity ThG Theologie un Glaube TR Theologia Reformada TS Theologische Studien TSK Theologische Studien und Kritiken TT Theologisch tijdschrifi WTJ Westminster Theological Journal ZNW Zeitschrift fr die neutestamentliche

    Wissenschaft und die Kunde des Urchristentums

    7

  • E S B O O DO C A P T U L O 12

    Tema: A Obra Que lhe Deste Para Fazer

    12.1-14 O Filho do Homem Assevera Sua Autoridade como Senhor do Sbado

    12.15-21 O Servo Esco lhido 12.22-37 Milagres de Cristo: Prova do Domnio de Belzebu

    ou de Sua Condenao? 12.38-45 Repreendida a Avidez por Sinais 12.46-50 A Me e os Irmos de Jesus

  • CAPTULO 12 MATEUS li.l-14

    1 Ora, naquele tempo Jesus, no sbado, passou pelos cam-pos de cereal. Seus discpulos estavam famintos, e comearam a

    colher espigas de gros e a com-las, 2 Os fariseus, porm, vendo-o, disse-ram: "Olha, teus discpulos esto fazendo o que no permitido aos sba-dos/" 3 E ele lhes disse: "Vocs no leram o que fez Davi quando ele e os que com ele estavam tiveram fome? 4 como entraram na casa de Deus e comeram o po consagrado, o qual nem ele nem aos que com ele estavam era permitido comer, seno somente os sacerdotes? 5 Ou vocs ainda no leram na lei como no sbado os sacerdotes, no templo, transgridem o sba-do sem serem culpados? 6 E eu lhes digo que aqui est algo maior que o templo. 7 Contudo, se vocs t ivessem conhecido isto: 'misericrdia quero, e no sacrif cio' , no teriam condenado inocentes. 8 Porque o Filho do ho-mem Senhor do sbado/ '

    9 Ele saiu dali e entrou na sinagoga deles. 10 E ali estava um homem com a mo atrofiada! " certo curar no sbado"?, perguntaram-lhe [a Je-sus], procurando um motivo para acus-lo. 11 Ele lhes disse: "Qual de vocs, tendo uma ovelha, e ela, no sbado, cair numa cova, no a apanhar e a tirar de l? 12 De quanto maior valor um homem do que uma ovelha! Portanto, certo fazer o bem no sbado". 13 Ento disse ao homem: "Esten-da sua mo. v Ele a estendeu, e ela foi restaurada, ficando como a outra. 14 Os fariseus, porm, saram e tomaram conselho contra ele sobre como o destruiriam.

    12,1-14 O Filho do Homem Assevera Sua Autoridade como Senhor do Sbado

    Cf Marcos 2.23-3.6; Lucas 6.1-11

    Entre o finai do captulo l e o incio do captulo 12 h uma dupla conexo, Primeiro, a frase "naquele tempo" de 12.1

    9

    12

  • 12.1-14 MATEUS lembra 11.25. Embora as palavras sejam bastante indefinidas, eas indicam que os eventos introduzidos no podiam estar muito afastados uns dos outros quanto ao tempo.194 E. segundo, quan-to ao contedo material, o "fardo" do legalismo imposto, do qual Jesus prometeu libertar a tantos quantos viessem a ele (11.28-30) recebe uma dupla ilustrao em 12.1-14, passagem que subentende que nos ombros do povo fora colocado pelos escribas e fariseus uma pesada carga de regras e preceitos.

    1. Ora, naquele tempo Jesus, no sbado, passou pelos campos de cereal. Os gros, segundo parece, estavam amadu-recendo. Esse processo, variando com a altitude do local, se dava durante um perodo que se estendia desde a primavera do ano at meados do vero. Na Palestina, no clido Vale do Jordo, a cevada amadurece durante o ms de abril; na Transjordnia e na regio oriental do Mar da Galileia, o trigo colhido em agos-to. No est expresso no texto exatamente quando Jesus e seus discpulos passaram pelos campos de gros. O local ainda mais indefinido do que o tempo. A sugesto de A. T. Robertson, de que o fato ocorreu ''provavelmente na Galilia, no regresso de Jerusalm11, pode serto boa quanto qualquer outra conjetura.4''5

    Mas no passa de uma conjetura. w fsso ainda seria procedente, mesmo que o que se acha registrado em 12.1-21

    houvesse ocorrido pouco tempo antes da pregao do Sermo do Monie. Por exemplo, mesmo que as controvrsias sobre o sbado, registradas em Jo 5 e Mt 2.1 -14, seguissem uma outra numa sucesso bastante estreitae ocorressem em abril e princpios de maio, e mesmo que a pregao do sermo e os eventos registrados no captulo 11 ocorressem algum tempo em fins dc maio at julho. Mateus ainda seria plenamente justificado em descrever lodos esses eventos como tendo acontecido "naquele tempo". Essa bem que poderia ter sido a estao "pri-mavera a meio vero do ano 28 d.C." Ver A. T. Robertson. Iktrmony ofthe GospeSs. pp. 42-55. E ver C.N.T. sobre o livangelho Segundo Joo. Vol. 1. pp. 188,189. Com referncia a essa cronologia, muito pouco pode ser estabelecido com certe-za. Hm seu favor esto estes fatos: u. Jo 5.1,16 pressupe que a primeira das trs controvrsias acerca do sbado se dera depois de "uma festa" (provavelmente uma Pscoa, e se assim foi. no primeira Pscoa do ministrio de Cristo; para isso ver Jo 2.23): b. Lucas 6.11.12 pressupe que a ltima das trs coniro\rsias foi seguida pela pregao do Sermo do Monte: e c. Mateus 12.1 mostra que a segunda controvrsia acerca do sbado ocorreu durante a estao do amadureci-mento dos gros.

    ^ Harmony ofthe Gatpels. p. 44.

    10

  • MATEUS 12.43-45

    A traduo, "campos de cereal'; justificada somente pelo contexto. Literal e etimologicamente, a referncia simples-mente a "o que foi semeado". Entretanto, o contexto revela que, quando houve aquela passagem pelos campos de cereal, ou a colheita havia chegado ou eslava prxima.

    Seus discpulos estavam famintos ... Isso relatado s por Mateus, ainda que esteja tambm implcito em Marcos (2.25) e Lucas (6.3). Como no estavam mais trabalhando em suas ocupaes anteriores, no surpreende que naqueles dias os dis-cpulos - no se indica dessa vez quantos eram - tinham (ou "ficaram com1') fome. Jesus tambm, no s experimentou sede (Jo 4.6,7), mas igualmente fome (Mt 21.18). Esse pequeno gru-po era pobre, necessitado e agora tambm faminto.

    Para pessoas em tais condies, a lei fizera uma disposi-o especial (Dt 23.25): "Quando entrares na seara do teu pr-ximo, com a mo arrancars as espigas; porm na seara no meters a foice."

    O que os discpulos fizeram para abrandar sua fome est relatado de forma variada nos Sinticos. Marcos simplesmente menciona que "comearam a colher espigas1'; Mateus: entra-ram a colher espigas e a comer. O ato de comer est tambm implcito em Marcos (2.26). Lucas, mais completo nesse ponto do que ambos os outros, tem: "Seus discpulos colhiam e co-miam espigas, debulhando-as com as mos."

    Quanto a essas "espigas", alguns preferem "... de trigo"'.496

    Uma vez que para ns o trigo geralmente parece mais estreita-mente relacionado com o "alimento bsico", de modo que pen-samos imediatamente nele em conexo com o saciar a fome, e tambm porque o fato registrado no deve ser datado to no incio do ano (a cevada amadurece antes do trigo), no difcil perceber a razo pela qual alguns favorecem a traduo "trigo". Isso bem que pode ser correto. No obstante, oportuno acres-

    7 T

    49,t Assim. A. T, Robertson, Hhrii Pictures- Vol. L p. 93: c!\ o mesmo autor A Translation of Luke's Gospel. Nova York. 1923. p, 40. Williams, em sua traduo do Novo Testamento, tem "espigas de trigo", assim tambm traduzido por T.N/T {A. e ti.), p, 773.

    11

  • 12.1-14 MATEUS

    centar que A. T. Robertson, sem seu Word Pie lures (ver nota de rodap supra), deixa margem possibilidade de que o gro a que Mateus se refere fosse cevada. Ver Jo 6.9,13. Cf. Rt 1.22; 3.2,15,17. Se soubssemos de uma forma mais especfica onde e quando se deu o fato relatado em Mateus 12.1,2, seria mais fcil comprovar que gro era esse.

    Para saciar sua fome e estar plenamente em concordncia com a lei de Deuteronmio, como j ficou demonstrado, os dis-cpulos comearam a colher as espigas e a comer o gro, depois de debulh-los com suas mos. Houve imediata reao por par-te daqueles que odiavam a Cristo e tudo faziam para encontrar alguma justificativa para conden-lo, como se demonstra no versculo 2. Os fariseus, porm, vendo-o, disseram: "olha, teus discpulos esto fazendo o que no permitido aos s-bados." Sobre a atitude hostil dos fariseus para com Jesus, ver o que foi explicado em conexo com 3.7; 5.17-20; 9.11,34. Por meio de seu legalismo excessivamente minucioso, esses homens estavam constantemente sepultando a lei de Deus debaixo do pesado fardo de suas tradies, como se tem visto claramente luz da explicao de 5.21-48; ver tambm sobre 15.1-11 e sobre o captulo 23. Dominados pela inveja, eles estavam sempre de olho em Jesus para ver se ele diria ou faria algo que pudesse ser usado como acusao contra ele, e com isso o destruir. No to-cante aos fariseus aqui mencionados, no h como saber se vie-ram de bem longe - tendo seguido Jesus bem de perto, talvez desde a Judia em seu regresso para a Galileia - ou das vizi-nhanas uma coisa certa: suas intenes no eram nobres. Havia homicdios no corao deles. Ver o versculo 14. Cf. Jo 5.18; 7.19; 8.40.

    De repente se defrontaram com Jesus, acusando-o por per-mitir que seus discpulos profanassem o sbado. No era proibi-do trabalhar no dia de sbado? (Ver x 20.8-11; 34.21; Dt 5.12-15.) No tinham os rabinos elaborado um catlogo de 39 obras principais, subdivididas em diversas categorias menores, de sorte que, por exemplo, arrancar espigas era considerado colher, e

    12

  • MATEUS 12.43-45

    extrair o gro, debulhar?497 E eis os discpulos atarefados nes-sas mesmas atividades, e ainda desfrutando do resultado de seus pecados: estavam comendo desse gro mal adquirido! De acor-do com a passagem ora em estudo (cf. Mc 2.24, a acusao foi dirigida ao prprio Jesus. Segundo Lc 6.2, os acusados eram os discpulos. Uma vez que todos estavam envolvidos, no h ne-nhuma discrepncia aqui (ver tambm Mt 10.24, 25; Jo 15.20).

    Em sua resposta, Jesus, que em outro lugar deu a verdadei-ra interpretao espiritual do primeiro e segundo mandamentos (x 20.1-6; cf. Mt 22.37, 38, que sumaria toda a primeira tbua

    a

    da lei), do terceiro e do nono mandamentos (Ex 20.7; Lv 19.12: A

    Nm 30.2; Dt 23.21; cf. Mt 5.33-37), do quinto e do oitavo (Ex 20.12, 15; cf. Mt 15.3-6), do sexto (x 20.13; cf. Mt 5.21-26; 38-42), do stimo (x 20.14; cf. Mt 5.27-32; 19.3-12), e do d-cimo (x 20.17; cf. Lc 12.13-21; 16.14, 19-31; ver tambm Mt 22.39, onde se acha sumariada toda a segunda tbua), agora re-vela o verdadeiro sentido do quarto mandamento (Ex 20.8-11). Em sua interpretao est implcita, mas no expresso em mui-tas palavras, uma condenao da falsa interpretao que os ra-binos haviam imposto sobre este mandamento, e que nos dias da peregrinao terrena de Cristo ela era amplamente propaga-da pelos escribas e fariseus. Ou desconsideram completamente - ou no davam suficiente espao em seu ensino - s seguintes verdades, as quais tambm sumariam o ensino de Cristo ora apresentado.

    a. A necessidade no conhece nenhuma lei (Mt 12.3 e 4) b. Toda regra tem sua exceo (vv. 5 e 6)

    t

    c. E sempre certo demonstrar misericrdia (vv. 7 e 11) d. O sbado foi institudo por causa do homem, e no vice-

    versa (Mc 2.27) e. O Soberano Administrador de tudo. inclusive do sba-

    do, o Filho do homem (Mt 12.8; cf. v. 6).

    4,7 Segundo a Mishna. culpado de profanar o sbado unem no dia de sbado "apa-nhar espigas equivalente a dar um bocado para um cordeiro" (Shabbaih 7.4: cf. 7.2). Ver tambm S.BK.., Vol. 1. pp. 615-618: c A. T. Robertson. The Pharisees and Jesus. Nova York. 1920, pp. 87.88.

    13

  • 12.1-14 MATEUS

    a. A necessidade no conhece nenhuma lei 3, 4. E ele lhes disse: Vocs no leram o que fez Davi

    quando ele e os que com ele estavam tiveram fome? como entraram na casa de Deus e comeram o po consagrado, o qual nem ele nem os que com ele estavam era permitido co-mer, seno somente os sacerdotes? "Vocs no leram?" Como dizendo: "Vocs se orgulham em ser as prprias pessoas que defendem a lei, e se julgam to profundamente versados nela que podem ensin-la a outros, e no tomaram cincia do fato de que essa mesma lei permitiu que sua restries cerimoniais fos-sem deixadas de lado em casos de necessidade? Vocs no le-ram acerca de Davi e os pes?" Essa referncia aos pes con-sagrados, aos pes da proposio, literalmente "pes da presen-a", aos doze pes que eram postos em duas fileiras e exibidos na "mesa da proposio" diante do Senhor. Os doze pes repre-sentavam as doze tribos de Israel, e simbolizavam a constante comunho do povo com seu Deus, recebendo dele seu po, co-mendo com ele, consagrando-se a ele e reconhecendo com gra-tido, por meio dessa oferenda, sua dvida para com ele.

    A cada sbado esses pes eram trocados por pes frescos. a

    Os pes velhos eram comidos pelos sacerdotes (Ex 25.30; ISm 21.6). A regra era que esse "santo1* po fosse para "Aro e seus filhos", ou seja, para o sacerdcio, certamente no para qual-quer pessoa (Lv 24.9). Todavia, quando Aimeleque exercia suas funes nos dias de Abiatar, o sumo sacerdote (l Sm 21.1-6; Mc 2.26). compreendeu que Davi e seus homens estavam famintos, e se convenceu de que o homem a quem Deus ungira para ser rei sobre Israel (ISm 16.12,13) tinha a incumbncia de uma misso sagrada (ISm 21.5), entregou a esse futuro rei e a seu squito o po de que necessitavam. Davi, havendo entrado na "casa de Deus", ou seja. o tabernculo que se achava em Nobe (1 Sm 21,1; 22.9), comeu esse po. Se, pois, Davi tinha o direito de deixar de lado uma proviso cerimonial divinamente orde-nada. quando a necessidade o exigia - pois, com toda certeza, o ungido do Senhor tinha o direito e o dever de nutrir-se fisica-

    14

  • MATEUS 12.43-45

    mente, bem como seus famintos assistentes! -, ento, no tinha o grande anttipo de Davi, Jesus, o Ungido de Deus num sentido muito mais profundo, o direito de pr de lado uma regra huma-na totalmente injustificada acerca do sbado? A adequao dessa referncia histrica surge muito mais claramente quando se considera o fato de que aqui se traa um paralelo entre Davi e seus seguidores, de um lado. e Jesus e seus discpulos, do outro. Ainda que, naturalmente, durante a antiga dispensao as leis cerimoniais foram institudas para ser obedecidas, contudo se-ria difcil comprovar que mesmo ento uma lei superior - nesse caso o princpio de que a vida e o bem-estar humanos devem ser

    a

    preservados {Ex 20.13; Mt 22.39b; ICo 6.19)-no pudesse em certas circunstncias invalidar ou pelo menos modificar uma ordenana de menor importncia. Com maior razo havia bons motivos, no caso de Jesus e seus discpulos, para desconsiderar uma regra puramente rabnica acerca da observncia do sbado, regra esta que no tinha por base nada mais slido do que uma m interpretao e m aplicao da santa lei de Deus.

    b. Toda regra tem sua exceo O princpio enunciado nos versculos 3 e 4 se aplica sem-

    pre, seja com referncia ao sbado ou no. O que Davi fez ao comer o po consagrado era certo e necessrio, quer fosse feito no sbado ou em qualquer outro dia da semana. Voltando agora especificamente para as ordenanas divinas relativas ao sbado, Jesus prossegue: 5,6. Ou vocs ainda no leram na lei como no sbado os sacerdotes, no templo, violam o sbado sem serem culpados? No sbado, os sacerdotes se mantinham mui-to ocupados (Lv 24.8,9; Nm 28.9,10; 1 Cr 9.32; 23.31; 2Cr W.\ 2-14; 23.4; 31.2,3), tudo isso a despeito do mandamento referente

    A

    ao sbado achar-se em xodo 20.8-11; Deuteronmio 5.12-15. O que ocorre em tal caso que uma lei superior, que exigia que tudo fosse feito para tornar possvel a realizao do culto divino pelo povo, modifica e restringe a interpretao por demais lite-ral da ordenana relativa ao dia de repouso. Assim tambm hoje

    15

  • 12.1-14 MATEUS

    ningum, em s conscincia, culparia um ministro por pregar e/ou administrar os sacramentos no Dia do Senhor. O problema com os fariseus, quando colocavam defeito em Jesus e seus dis-cpulos, era que no s punham a tradio rabnica em p de igualdade com a lei de Deus, o que s vezes na prtica equivalia a elev-la acima da lei escrita, mas que, alm disso, atribuam um valor quase absoluto a tradies especficas. Nem mesmo a lei divina, como se acha registrada no Declogo, parece dizer Jesus, era para ser aplicada com tal rigidez. De outra sorte, como poderiam os sacerdotes ter executado seu trabalho no sbado?

    r

    E conhecida a observao: "Toda regra tem sua exceo. Essa uma regra. Portanto, ela tem sua exceo." No presente caso, a exceo , naturalmente, o princpio bsico expresso por Jesus em Mateus 22.37-40; Marcos 12.29-31; Lucas 10.27, qualquer que seja a forma de se expressar esse princpio. Esse princpio bsico se aplica sempre e em toda parte.

    De uma forma autoritativa, Jesus acrescenta: E eu lhes digo que aqui est algo maior que o templo. Significando: se mes-mo um templo terreno, que no passava de Anttipo demandava modificao do quarto mandamento, literalmente interpretado, no teria seu Anttipo muito superior, a saber, Jesus Cristo, que se dirigia aos fariseus aqui e agora, e em quem "habita toda a plenitude da divindade" (Cl 2.9; cf. Jo 10.30), muito maior di-reito de fazer semelhante exigncia? Seguramente, algo maior que o templo, um tesouro infinitamente mais precioso, um dom celestial imensuravelmente mais valioso, uma autoridade dota-da de direitos muito mais magistrais lhes estava falando.

    c. E sempre certo demonstrar misericrdia Reiterando o que havia dito em outra ocasio - por conse-

    guinte, quanto ao significado da passagem, ver sobre 9 . 1 3 - 0 Senhor prossegue: 7. Contudo, se vocs tivessem conhecido isto: misericrdia quero, e no sacrifcio, no teriam conde-nado inocentes. Esse era precisamente o problema com esses fariseus: eram destitudos de compaixo. No eram amantes da

    16

  • MATEUS 12.43-45

    bondade. Portanto, a fome que afligia os discpulos de Jesus no podia acender nos coraes de seus crticos qualquer senti-mento de ternura ou solicitude para socorr-los. Ao contrrio, s sabiam condenar os discpulos. Quanto a Jesus, no s o con-denavam, mas secretamente regozijavam-se em haver desco-berto outra razo, segundo eles o viam, para lev-lo destruio.

    Com respeito ao que os discpulos estavam fazendo com aquelas espigas, esses homens famintos eram totalmente "ino-centes". Em nenhum sentido estavam transgredindo qualquer mandamento divino. No entanto, os fariseus, esses hipcritas, com intenes homicidas em seus coraes, os condenavam. "A eles", sim, mas especialmente a seu Mestre (cf. Tg 5.6). Se pelo menos tivessem recebido sinceramente as palavras de Osias 6.6, teriam entendido que demonstrar misericrdia certo em qualquer dia da semana, incluindo, com toda a certeza, o sbado!

    d. O sbado foi feito para o homem, e no vice-versa Essa afirmao de nosso Senhor, tambm em defesa de seus

    discpulos, se encontra em Marcos 2.27, onde imediatamente precede as palavras: "Portanto, o Filho do homem Senhor tam-bm do sbado", com paralelo em Mateus 12.8. O sbado foi institudo para ser uma bno para o homem: para a conserva-o de sua sade, para faz-lo feliz e para torn-lo santo. O ho-mem no foi criado para ser escravo do sbado.

    e. O Soberano Sendor de tudo, inclusive do sbado, o Filho do homem

    Em harmonia com a expresso do versculo 6 ("aqui est algo maior que o templo"), Jesus conclui essa controvrsia sabtica do campo de cereal, dizendo: 8. Porque o Filho do homem Senhor do sbado. A conjuno, "porque", no de difcil compreenso. Jesus acaba de declarar seus discpulos "ino-centes". De fato estavam destitudos de culpa com respeito acusao dos fariseus pronunciada contra eles, "porque", ao colherem e (depois de debulharem o gro) comerem esse ali-

    17

  • 12.1-14 MATEUS

    mento, estavam fazendo o que Jesus lhes permitia e queria que fizessem. Estavam reconhecendo o senhorio de Jesus acima do senhorio dos fariseus e suas tradies muitas vezes tolas. Os discpulos estavam certos em agir assim, "porque" o Filho do homem de fato Senhor do sbado. Estavam certos quando puseram a obedincia devida a ele acima de uma escravizadora observncia de um arbitrrio ritual sabtico de inveno huma-na. No o Filho do homem - para esse termo ver sobre 8.20 -Senhor de tudo? (11.27; 28.18.) No seria ele, portanto, tam-bm Senhor do sbado? Culpados so aqueles que imaginam que podem honrar o sbado enquanto desonram seu Senhor!

    Jesus, como Senhor do sbado, no s o honrava assistin-do regularmente aos cultos da sinagoga nesse dia, mas tambm s vezes tomando parte importante neles (Lc 4.16-27). Alm disso, o honrava realizando atos de misericrdia e curando nes-se dia (12.9-14; Lc 13.10-17; 14.1-6; Jo 5.9; 7.23; 9.14). Tam-bm o santificou ao descansar no tmulo nesse dia, com isso santificando a sepultura para seus seguidores (Mt 27.57-60; Mc 15.42,46; 16.1; Lc 23.53,54; 24.1). Alm do mais, ele o tratou altura, cumprindo sua importncia simblica.

    Ao longo da antiga dispensao, a semana comeava com seis dias de TRABALHO. Estes eram seguidos de um dia de DESCANSO. Depois, pelo trabalho de seu sofrimento vicrio, Cristo, o grande Sumo Sacerdote, alcanou para "o povo de Deus" "o eterno descanso sabtico" (Hb 4.8,9,14). Pela f nele, os crentes ainda agora (em princpio!) entram nesse DESCAN-SO, que constantemente seguido por seu TRABALHO de amor, ou seja, por suas obras de gratido pela salvao j obtida para eles como um dom gratuito. A ordem, TRABALHO-DESCAN-SO, portanto se inverte para DESCANSO-TRABALHO: muito apropriadamente, a semana agora comea com o dia de DES-CANSO. Em suma, Jesus asseverou sua autoridade sobre o s-bado, interpretando-o por meio de palavras e atos como sendo um dia de verdadeira liberdade, um dia de jbilo, um dia de prestar servio de amor a cada um e a todos, e, nisso e por meio de tudo isso, cultuando a Deus acima de todas as coisas!

    18

  • MATEUS 12.43-45

    As verdades mencionadas acima, nos itens b. c\ d e e, se aplicam tambm prxima controvrsia sabtica. No to dire-tamente no item pois no se torna imediatamente aparente que o homem da mo mirrada necessitasse ser curado no sba-do. Humanamente falando, algum poderia argumentar que a restaurao de uma mo paraltica poderia esperai" at o dia se-guinte. Aqui, pois, parece que os fariseus pisavam em terreno mais firme. Agarraram a oportunidade, nem mesmo esperaram que Jesus tomasse a iniciativa. Note bem sua precipitao: 9, 10. Ele saiu dali e entrou na sinagoga deles. E ali estava

    r

    um homem com a mo atrofiada! E certo curar no sbado?, perguntaram-lhe [a Jesus), procurando um motivo para acus-lo. Saindo do campo da lavoura, a ao agora se desloca para a sinagoga. E sbado. Entra na sinagoga um homem com uma mo aleijada. Alm de tudo, sua mo direita (Lc 6.6). O evangelho apcrifo segundo os Hebreus afirma que o homem era um pedreiro que suplicou a Jesus que o curasse para que no tivesse de passar sua vida como mendigo. Seja como for, a ques-to que esse um sbado, e embora houvesse diferena de opinio entre os discpulos de Shammai, com sua interpretao mais rigorosa sobre a observncia do sbado, e os de Hillel, com seu ponto de vista mais flexvel - a posio mais rigorosa se radicava em Jerusalm, a mais flexvel na Galileia naquele tempo quase todos aceitavam a regra de que somente no caso de que a vida de um homem pudesse estar realmente em perigo, podia permitir-se cur-lo no sbado.49* Ousaria Jesus opor-se a essa regra, considerada pelos fariseus como um princpio to bsico e to bem estabelecido que no podia ser violado?

    Os oponentes esperam secretamente que, por palavra e/ou por ao Jesus venha a pisotear a regra de conduta que eles ha-viam estabelecido. E assim maquiavelicamente motivados (ver

    t

    v. 14), eles lhe perguntam: *'E certo curar no sbado?" Seu pro-psito "formular uma acusao contra ele". No conseguiam compreender que sua prpria motivao perversa constitui a mais ** Ver S.BK.. Vol. I. pp. 622-629.

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  • 12.11,12 MATEUS

    crassa profanao do sbado, pecado este to condenvel ante os olhos do Todo-Poderoso, que constitui uma denncia crimi-nal muitssimo grave contra eles! Alm disso, no conseguem compreender que Jesus conhece os pensamentos deles? (Lc 6.8.)

    O Senhor do sbado (ver v. 8) ordena ao homem pr-se de p diante de toda a assemblia (Mc 3.3; Lc 6.8), como se qui-sesse dizer a todos eles: "Olhem para ele; mirem bem sua mo e ponderem sobre o que significa para ele sua condio. No des-perta ele, porventura, a compaixo de vocs?" Em seguida Je-sus responde pergunta de seus crticos. Ele age de forma que, por assim dizer, vira a mesa contra eles. Formulando uma con-tra-pergunta, ele fora tais fariseus a responderem prpria per-gunta deles: 11,12. Ele lhes disse: Qual de vocs, tendo uma ,M ovelha, e ela, no sbado, cair numa cova, no a apanhar e a tirar de l? De quanto maior valor um homem do que uma ovelha! Pode inferir-se com segurana, luz da pergunta formulada por Jesus, que pelo menos naquele tempo e regio no se considerava errneo resgatar uma ovelha que houvesse sofrido tal infortnio, sem levar em conta se o acidente ocorres-se no sbado ou em qualquer outro dia. Sendo assim, um ser humano no de muito maior valor que uma ovelha? Se per-mitido fazer o bem a um animal no dia de sbado, ento com muito maior razo correto e oportuno demonstrar nesse dia bene-volncia a um homem, que portador da imagem de Deus!

    Deve oferecer-se tal socorro somente quando a vida est correndo perigo? Jesus nem sequer entra no mrito da questo, salvo por inferncia. E tal inferncia muito clara: mostrar mi-sericrdia sempre certo (ver supra, p. 13, item c\). A conduta tica sempre muito mais importante do que a obedincia ceri-monial. Se os fariseus houvessem to-somente feito um estudo mais cuidadoso e imparcial de suas prprias Escrituras realmente

    Isso bem que poderia ser um caso.de e (aqui. naturalmente '4t'), lendo a funo de artigo indefinido. O significado no precisa ser "apenas uma"\ ou "uma em distino dc mais que uma", ou ''uma nica ovelha" (Lenski. op. cit. p. 455). mas simplesmente "uma" [artigo indetlnidoj. Ver Gram. N.T., pp. 674. 675. No obstante, a Iraduo "uma [numeral] ovelha" pode ser correta!

    20

  • MATEUS 12.43-45

    sagradas (ver, por exemplo, Mq 6.6-8), teriam tido conscincia de tal fato! Indubitavelmente, visto que um homem incompa-ravelmente mais valioso, aos olhos de Deus, que uma ovelha. Portanto certo fazer o bem no sbado, ou seja, ser uma bn-o a algum, no se mostrando indiferente ante suas necessi-dades. Para esse tipo de argumento, ver tambm 6.26,30; 10.29,31 (cf.Lc 12.6,7).

    Estas palavras - "Portanto certo fazer o bem no sbado" - devem ter sido ditas com profunda gravidade. Podem ter sido expressas como uma declarao positiva (como em Mateus) ou em forma de pergunta: "Aos sbados lcito fazer o bem, ou causar danos? salvar a vida, ou matar?" (Mc 3.4; cf. Lc 6,9). Mas se fosse usada somente a forma interrogativa, no suben-tenderia que Cristo estava afirmando a tese de que realmente certo fazer o bem no sbado? Portanto, no se pode comprovar que exista conflito real entre os escritores dos Evangelhos. Era o prprio Jesus quem estava para fazer o bem a esse homem. Os crticos de Cristo, por outro lado, nutriam intenes homicidas: o assassinato do Benfeitor (v. 14). O que era melhor?

    Jesus, olhando ao redor, perscruta as fisionomias de seus oponentes e l seus segredos ntimos (Lc 6.8,10). As faces de Jesus esto rubras com santa indignao. Sente-se triste ante a dureza do corao deles (Mc 3.5). Ningum tem a capacidade de responder-lhe. Os fariseus no tm como negar que fazer o bem em qualquer dia, e indiscutivelmente no sbado, certo e oportuno. No obstante, admitir isso publicamente significa ren-dio para eles. Portanto, prevalece em suas fileiras um emba-raoso e deprimente silncio (Mc 3.4). Com a respirao conti-da. o resto do povo se pe tambm a observar, indagando sobre o que acontecer ento. A atmosfera na sinagoga est saturada de constrangimento, de um lado, e de expectativa, do outro. O homem da mo "mirrada" est ainda de p ali, ante os olhares de todo o auditrio.

    Jesus est para efetuar o milagre que a situao exigia. Deve agir agora, no mais tarde. Caso deixasse para o dia seguinte.

    21

  • 12.1-14 MATEUS

    poderia facilmente ter-se interpretado como um reconheci men-to de sua parte que os atos de cura so. afinal de contas, err-neos quando realizados aos sbados. Tal prorrogao, conse-qentemente, teria agravado o erro. Tal coisa era inadmissvel. Agora a oportunidade certa. E assim, depois desse olhar perscrutador em todos ao redor, o Mestre volta sua ateno para o homem aleijado. 13. Ento disse ao homem: Estenda sua mo. Ele a estendeu, e ela foi restaurada,500 ficando como a outra. A cura instantnea e completa. Dispensam-se subse-qentes tratamentos e quaisquer check-ups mdicos. A mo di-reita est agora to sadia quanto a esquerda. Deve enfatizar-se tambm que a cura ocorreu em conexo com o ato de obedin-cia do homem. No obstante, no tocante ao milagre em si, deve-se dar a Jesus todo o crdito e toda a glria, e a ele somente. Ele no tocou o homem. Alis, nem sequer pronunciou uma nica slaba, ordenando que a mo fosse curada (contrastar com Mc 7.34). Simplesmente disse ao homem que estendesse sua mo e ela foi restaurada. De uma maneira misteriosa demais para qual-quer mortal compreender, o Salvador concentrou sua mente na condio desse pobre homem, enchendo-se de compaixo, e vista de todos os presentes ele quis e efetuou a cura!

    Esse estupendo ato de poder e misericrdia convenceu os fariseus de seu erro? Confessaram sua culpa? De forma algu-ma! Odiaram a Jesus ainda mais pelo que fez no sbado. Segun-do seu conceito, comunicar sade e felicidade a um homem, removendo sua invalidez, se constitua um crime por ser reali-zado no sbado; contudo, tramar no mesmo dia a destruio do Mdico dos mdicos equivalia a um ato meritrio. 14. Os fariseus, porm, saram e tomaram conselho contra ele so-bre como o destruiriam. Se lhes fosse possvel, teriam todo mt ctTrtKcc:tat0r|. terc. pes. sing. aor. indic. pas, de iTOKeGairuj-L O verbo se refere

    ao em virtude da qual algo posto ( orr|(.U) abaixo (KKTC ) ou estabelecido ao ser libertado cie (CITO) sua condio conturbada. No presente contexto (cf. Mc 3.5: J.c 6.10). freKarfOiaSri significa "foi restauradu" ou "foi curado" ou "ficou bem". Num sentido um pouco diferente, "restaurado" tambm o sentido cm 11b 13.19. Ver tambm sobre Mt 17.11 (cf. Mc 9.12).

    22

  • MATEUS 12.43-45

    prazer de matar Jesus ali mesmo, porquanto estavam domina-dos de furor (Lc 6. II). Dois obstculos tornavam-lhes difcil levar a cabo imediatamente seu intento perverso: a. o governo romano (Jo 18.3) e b. os espectadores. O auditrio da sinagoga, profundamente impressionado, no teria tolerado qualquer ao drstica contra Jesus naquele momento. O que se poderia fazer em ta conjuntura? A fim de achar uma soluo para seu proble-ma, os fariseus, esses mesmos homens que estavam sempre van-gloriando-se de sua extraordinria santidade, levando s vezes a elevada opinio de si mesmos ao prprio trono de Deus (Lc 18.11,12), agora consultam com... imaginem quem? os com-pletamente profanos e mundanos herodianos (Mc 3.6), partido poltico que apoiava a dinastia herodiana! A desgraa produz estranhas confrarias, especialmente quando est vinculada in-veja. Reunidos os dois grupos, agora tramam como aniquilar Jesus. Ver tambm sobre 3.7 e sobre 22.16 (cf. Mc 12.13). Es-ses amargos inimigos do Senhor deveriam ter lido e levado a srio o Salmo 2.

    15 Jesus, sabendo disso, retirou-se daquele lugar. Muitos o seguiram, e ele curou a todos. 16 E os advertia que no o f izessem conhecido, 17 a fim de que se cumprisse o que fora dito por Isaias, o profeta:

    18 "Eis aqui meu servo, a quem escolhi, meu amado, em quem minha alma se sente prazerosa. Porei sobre ele meu Esprito,

    e ele proclamar justia aos gentios. 19 No discutir nem gritar,

    e ningum ouvir sua v o z nas ruas. 20 No quebrar o canio esmagado,

    no apagar o pavio fumegante, at que leve a justia vitria.

    21 E em seu nome os gentios esperaro."

    12.15-21 O Servo Escolhido Cf. Marcos 3,7-12

    Visto que Jesus estava plenamente ciente dos intentos ho-micidas de seus inimigos, e visto que ele tambm sabia que o momento de sua partida da terra no havia ainda chegado, no

    23

  • 12.1-14 MATEUS

    nos causa surpresa lermos: 15. Jesus, sabendo disso, retirou-se daquele lugar. Mas, mesmo em sua retirada, ele no se preo-cupava apenas consigo mesmo, mas tambm com aqueles de outras regies para quem poderia ser uma bno: Muitos o seguiram, e ele curou a todos. Para explicao, ver sobre 4.23-25; 9.35; 11.5. Ele fez tudo isso pelas pessoas, muitas das quais iriam rejeit-lo depois. Cf. 11.20-24; Jo 6.66. Quanto ao versculo 16. E os advertia que no o fizessem conhecido, ver a expli-cao detalhada de 8.4, especialmente alneas c. e d. Ver tam-bm sobre 9.30.

    Jesus no buscava fama. Ele no desejava sobressair-se como operador de milagres. A exibio v, a glria terrena, e questes como essas, no constituam a razo para sua encarna-o e peregrinao entre os homens. Eram todas completamen-te destoante com o humilde "Servo do SENHOR" das profecias de Isaas. Isso explica o versculo 17. A fim de que se cumprisse o que fora dito por Isaas, o profeta. Para demonstrar a natureza modesta, mansa e discreta de Cristo, talvez bastasse uma refe-rncia a Isaas 42.2,3, mas o desejo de Mateus era citar tambm o contexto precedente e seguinte, a fim de que a glria do Mes-sias pudesse tornar-se evidente de uma forma ainda mais extra-ordinria, e a impiedade de seus oponentes se sobressasse mais claramente pelo contraste. Conseqentemente, o que se oferece aqui em 12.18-21 Isaas 42.1 -4, como interpretado por Mateus, o apstolo plenamente inspirado de Cristo. No uma reprodu-o palavra por palavra, mas o resultado de uma profunda refle-xo compassiva. E uma cuidadosa comparao do original hebraico com a verso de Mateus no deixa dvida sobre o fato de que o ex-coletor de impostos havia certamente captado o sig-nificado da descrio extraordinariamente bela que Isaas faz da vinda de Cristo.501 5U Traduzido de forma bastante literal do original hebraico. Isaas 42.1-4 diz assim:

    42,1 "Fs aqui meu servo, a quem sustenho. meu escolhido, em quem minha alma se deleita tenho posto sobre ele meu Esprito, ele anunciar justia s naes.

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  • MATEUS 12.43-45

    Is 42.1-4 a primeira de quatro profecias relativas a W4o Servo do S E N H O R " . A S outras so ls 49.1 -9a; 5 0 , 4 - 9 ; e 5 2 . 1 3 -53.12 (todavia, cf tambm Is 61.1-11), A verso de Mateus co-mea assim:

    18. Eis que meu servo, a quem escolhi, meu amado, em quem minha alma se compraz.

    Porei sobre ele o meu Esprito, e proclamarei a justia aos gentios,

    E bvio luz de todo o contexto que quando Mateus, a seu prprio modo, cita Isaas 42.1-4, ele aplica essa profecia direta-mente a Jesus Cristo, o Filho amado de Deus, o Mediador entre Deus e o homem. Mateus interpreta Isaas 42 como Filipe, o evangelista, e como os apstolos Joo e Pedro interpretaram

    2 Ele no gritar nem levantar sua voz, nem deitar que ela seja ouvida na rua,

    3 Um canio lascado no quebrar, e um pavio que tremula no se apagar; em verdade ele anunciar justia.

    4 Ele no fraquejar e nem se quebrar, at que se estabelea a justia na terra. E os litorais aguardaro sua lei/"

    Note-se o seguinte; a Em Isaas 42, la, c Mateus 12.18a, embora "meu servo, a quem sustenho *

    no seja literalmente reproduzido por Mateus, a expresso completa de Isaas, tfcmeu servo, a quem sustenho, meu escolhido, em quem minha alma se deleita \ d a Mateus todo o direito de dizer: "meu amado, em quem minha alma se sente prazerosa" (ou "meu amado, em quem me deleito"),

    b. Quanto a Isaas 42.2b, cf. 12,19b, seguramente no h diferena essencial entre "NSo se far ouvir na rua", de Isaas, e "e ningum ouv ir sua voz nas ruas"\ de Mateus.

    a Um momento de reflexo provar que Is 42.3b e 4a habilita Mateus a dizer {12.20b) "at que ele leve a justia vitria".

    d. Os "litorais*1 de Isaas 42,4b representam as regies mais distantes, ou seja* as naes fora do territrio de Israel; da corretamente traduzido por Mateus (12.21), "os gentios". E o "aguardar" do texto hebraico um aguardar com confiante ante-cipao, um esperar (cf Mt 12.21).

    Mateus segue a traduo da LXX, quando no versculo 18 ele usa a palavra TCE em vez de ouko ISSO. contudo, no faz diferena, visto que ml amide significa "servo". Ver sobre Mateus 8,6. Deve notar-se. contudo, que Mateus evi-ta "Jac meu servo ... Israel meu eleito" (LXX)T e corretamente aplica Is 42.1-4 diretamente a Cristo.

    25

  • 12.1-14 MATEUS

    Isaas 53 (A 8.26-35; Jo 12.37*43; IPe2.24). De fato, Isaas42 no pode ser separado de Isaas 53. Em razo de 42.6,7 (cf. 9.2,6). simplesmente impossvel interpretar Isaas 42.1-4 inteligivel-mente, a no ser como referncia a Cristo e se cumprindo nele. Alm do mais, quanto s coisas grandiosas ditas sobre Lto Servo do SENHOR" em Isaas 49.6; 53 (todo o captulo); e 55.3-5, a quem se poderia referir tais declaraes seno ao Filho de Deus que tambm o Filho do homem? Os que dizem que tais passa-gens se aplicam a Israel se esquecem de que 53.6 traa uma ntida distino entre a. o povo que se extraviou e b, o Servo sobre quem o Senhor depositou o fardo da iniqidade deles (ver tambm vv. 4, 5, 8 e 12).

    Mateus, pois, traa um ntido contraste entre a. os mpios oponentes de Cristo, nesse caso os fariseus que buscavam des-tru-lo (12.14), e b, Cristo mesmo, o amado Filho do Pai (Mt 3.17; Lc 9.35; Cl 1.13; 2Pe 1.17,18; cf. SI 2.6-12). sempre dispos-to a fazer a vontade daquele que o enviou (Jo 4.34; 5.30,36; 17.4).

    sobre esse divino e humano Redentor que o Pai derrama seu Esprito, e isso "sem medida" (Mt 3.16; Jo 3.34, 35; cf. SI 45.7; Is 11.2; 61.1-11). Como resultado (Lc 4.18), o Mediador realiza plenamente sua atividade proftica, a saber, a de procla-mar a "justia", o que justo, o que est em harmonia com a vontade de Deus: que os pecadores se arrependam, venham a (isto , creiam em) o Salvador, encontrem nele a salvao e com gratido vivam para a glria de seu benfeitor. Ver mais sobre o versculo 21.

    Em estreita conexo com o versculo 16, agora se reala a atitude do Mediador, cheio do Esprito, entre Deus e o homem. Sua disposio de mente e corao precisamente o oposto da de seus inimigos:

    19. Ele no discutir nem gritar, e ningum ouvir sua voz nas ruas.

    O grito que aqui se menciona no o de jbilo religioso (SI 5.11; 32.11; Is 12.6; Zc 9.9 etc.), nem o de batalha ou vitria (Ex 32.18; Am 1.14; cf. Js 6.20). Ao contrrio, ele lembra o

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  • MATEUS 12.43-45 esbravejar de "quem governa entre tolos'', em contraste com "as palavras de sabedoria" expressas e recebidas numa atmos-

    r

    fera de bendita quietude (Ec 9.17). E como o revoltoso grito que *

    a crena popular atribua aos stiros (Is 34.14). E, como a pre-sente passagem (Mt 12.19) claramente o demonstra, o tipo de grito que se acha associado a uma disputa. Pense na odiosa altercao pblica entre aqueles que esto perdendo o jogo, a ruidosa exploso do demagogo quando agita a multido nas ruas, a turbulenta ostentao e agressividade do desfile de Baco (ver C.N.T. sobre Glatas 5.21), etc. Completamente diferente o manso e terno Salvador. Ver (em adio a Is 42.1-4) Is 57.15; Zc 9.9; lRs 19.11,12; Mt 5.7-9; 21.5; Lc 23.34. E prossegue:

    20. No quebrar o canio esmagado, E no apagar o pavio fumegante.502

    Num contexto que fala de justia sendo proclamada aos gentios, e dos gentios esperando em seu nome, quase certo que os termos canio50- esmagado504 e pavio505 fumegante500 tm de ser considerados em sentido figurado, como referncia aos que esto longe, aos fracos e desamparados, aos de pequena f, etc. Que contraste entre a crueldade dos fariseus e a bondade de Jesus, entre a futilidade deles e a discrio dele, o amor que devotavam exibio e a mansido dele! Eles planejam matar (12.14) e so insensveis, indiferentes agonia dos que pade-cem incapacidades (12.10). " lcito? lcito?'' seu constante clamor; nunca perguntam: " bom?" Ele completamente dife-rente. Alis, to diferente que seria incorreto interpretar as pala-vras do versculo 20 de uma maneira puramente negativa, como se simplesmente quisessem indicar o que ele no faria aos que

    Ver P. Van Dik. "Het gekrookte riet en de rookende vlaswiek". GTT, 23 (1923). pp. 155,172. Grego Kqitx, (acusativo -or). ef. latim calamus. Grego ouiTtTpi|i|i'ov acus. sing. masc, part. perf. pas. de ourtppu): quebrar. esmagar. Grego Xyof: fibra, linho: tambm algo feito de tais materiais (cf. Ap 15.6). no presente caso um pavio de lmpada.

    ' Grego iu(j)i'OP. part. pas. pres. de rbc|)w: produzir fumaa, queimar sem chama.

    27

  • 12.1-14 MATEUS

    temessem que sua f fracassasse ou que o tentador prevalecer. Ao contrrio, tais expresses pertencem figura de linguagem chamada litotes, por meio da qual uma verdade positiva trans-mitida pela negao de seu oposto. Portanto, o verdadeiro signi-ficado de "canio esmagado*', que ele no quebrar, e do ibpavio fumegante", que ele no apagar, consiste em que ele tratar com profunda e genuna simpatia, com terna solicitude, a todos quantos se acham em extrema exausto. Ele comunicar fora ao fraco, a todo aquele que se consome de desgosto e lhe implo-ra socorro. Ele curar os doentes (4.23-25; 9.35; 11,5; 12.15), buscar e salvar os publicanos e pecadores (9.9,10), confortar os que choram (5.4), animar aos temerosos (14.13-21), enche-r de convico os que tm dvidas (11.2-6), alimentar os fa-mintos (14.13-21) e conceder perdo aos que se arrependem de seus pecados (9.2). Ele o genuno Emanuel (ver supra, so-bre 1.23).

    Ele jamais cessar de fazer tudo isso, at que leve a justi-a vitria, ou seja, at que, finalmente, na grande consuma-o, o pecado e suas conseqncias tenham sido banidos para sempre do universo redimido de Deus. Ento a justia de Deus (ver supra, sobre v. 18) triunfar completamente, pois "a terra se encher do conhecimento do SENHOR como as guas cobrem o [fundo do] do mar" (Is 11.9; cf. 61.2, 3, 11; Jr 31.34).

    No surpreende, pois, que segundo o plano divino aproxi-mava-se o tempo quando o mandamento de no tornar Jesus conhecido (12.16) seria removido. O Salvador de Israel se con-verteria em "o Salvador do mundo" (Jo 4.42; 1 Jo 4.14). Portan-to, o seguimento natural: 21. E em seu nome, ou seja, em "Cristo como revelado" ao mundo, os gentios esperaro. Eles poro sua confiana firmemente ancorada (cf. Hb 6.19) no Se-nhor Jesus Cristo. O perodo de sigilo (Mt 12.16) ser gradual-mente substitudo por aquele de ampla publicidade, quando a igreja cumprir sua misso entre os gentios.507 A prelibao des-w Cf. G. W. Barker, W. L. Lane e J. R. Michaels. The Sew Testament Speaks. Nova

    York, 1969, p. 269.

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  • MATEUS 12,21

    ta era evanglica de proclamao e salvao aos gentios, tanto quanto aos judeus, predita porm ainda no amplamente reali-zada durante a antiga dispensao (Gn 22.15-18; SI 72.8-11; 87; Is 54.103; 60,3; Mi 1.11), pode ser visualizada ern Mateus 2.1, % 11; 8-10-12; 15.21-28; Lucas 232a; Joo 3.16; cap. 4; 10.16, Para uma maior medida de cumprimento, ver Mateus 28,18-20; Atos 22-2 ]; Efsios 2.11 -22. Para o resultado final ou "vitria", ver Apocalipse 7.9-17.

    22 Ento lhe trouxeram um homem possesso de demnio que no podia nem ver nem falar E ele o curou, de modo que o mudo falou e viu. 23 Todo o povo estava atnito e dizia; ktNao seria este, porventura, o Filho de Davi?" 24 Quando, porm, os fariseus ouviram [isso], disseram: "Esse homem no expulsa os demnios seno por Belzebu, o prncipe dos dem-nios / ' 25 Conhecendo seus pensamentos, ele lhes disse: f c kTodo reino dividi-do contra si mesmo se destina runa, e nenhuma cidade ou casa dividida contra si mesma subsistir, 26 Se Satans est empenhado em expulsar a Satans, ele est dividido contra si mesmo; como, pois, seu reino subsistir? 27 E se por Belzebu que eu expulso demnios , por quem os fi lhos de vocs os expulsam? Portanto, eles sero seus juzes. 28 Mas se pelo Esp-rito de Deus que eu expulso demnios, ento o reino de Deus chegou a vocs, 29 Ou, como pode algum entrar na casa do homem forte e levar seus bens, a no ser que primeiro ele amarre o homem forte? Somente ento que e le saquear sua casa. 30 Aquele que no por mim contra mm; aquele que comigo no ajunta, espalha. 31 Portanto lhes digo, todo pecado e blasfmia sero perdoados aos homens, mas a blasfmia contra o Esprito no ser perdoada. 32 Todo aquele que disser uma palavra contra o Filho, lhe ser perdoado; mas aquele que falar contra o Esprito Santo, no lhe ser perdoado, nem nesta era nem na era por vir.

    33 Ou considerem a rvore boa e seu fruto bom, ou considerem a rvore enferma e seu fruto doentio, pois pelo fruto se conhece a rvore. 34 Raa de vboras, como podem falar o que bom quando vocs mesmos so maus? Pois da abundncia do corao que a boca fala. 35 O homem bom, de seu bom deps i to , tira o que bom, e o homem mau, de seu mau tesouro, tira o que mau. 36 Eu, porm, lhes d igo que, para cada palavra imprudente que os homens falarem, daro conta no dia do ju zo . 37 Por-que por suas palavras v o c ser just i f icado, e por suas palavras ser con-denado."

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  • 12.1-14 MATEUS

    12.22-37 Milagres de Cristo: Prova do Domnio de Belzebu ou de Sua Condenao?

    Quanto a 12.22-32, cf. Marcos 3.19-30; Lucas 11.14-23; 12.10 Quanto a 12.33-37, cf. Lucas 6.43-45

    22, Ento lhe trouxeram um homem possesso de demo-nio que no podia ver nem falar. O advrbio "ento" , uma vez mais, muito indefinido. Como em 12.2,10 e 14, assim tam-bm aqui Jesus se encontra na companhia de seus opositores. Trazem-lhe um aflito endemoninhado com a perda da vista e da fala. Para a possesso demonaca em geral e para a relao entre ela e as aflies fsicas, ver sobre 9.32. E ele o curou, de modo que o mudo falou e viu. Jesus o curou instantnea e completa-mente, de sorte que o homem que havia sido at ento grave-mente afligido, no mais era endemoninhado, nem era cego nem mudo. Efeito sobre os espectadores: 23. Todo o povo estava atnito e dizia: No seria este, porventura, o Filho de Davi? As pessoas que testemunharam esse milagre se viam completa-mente aturdidas. Um sentimento de perplexidade associado, sem dvida, a certa dose de medo na presena desse ser que acabava de realizar to estupendo feito tomou posse deles. Se no fosse, talvez, um tanto coloquial, poderamos dizer: "Seus sentidos foram nocauteados." Isso, ou algo semelhante, preserva o sabor do original. Mediante a pergunta se Jesus no seria o Filho de Davi, bvio que ateno dos espectadores, havendo-se pri-meiro concentrado no homem que estava para receber a trplice bno, de repente fixou-se no prprio Benfeitor. Quanto ao sig-nificado deste ttulo, "Filho de Davi1', ver sobre 9.27. A pergun-ta foi exprimida com tal nfase que se esperava uma resposta negativa modificada, algo mais ou menos assim: "No, prova-velmente ele no o Filho de Davi... no entanto, quem mais ele poderia ser para realizar tal milagre?" De fato a pergunta era importante! Talvez se pudesse descrever assim o estado de esp-rito daquelas pessoas: o assombroso carter do milagre os convencera de que este Jesus bem que poderia ser o Messias,

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  • MATEUS 12.43-45

    mas no ousavam externar tal pensamento em termos vocais e definidos, especialmente por causa da presena dos amargos opositores de Cristo, os fariseus. Sua pergunta pode tambm ser assim traduzida: "Poderia ser este o Filho de Davi?" Ainda que a possibilidade de ser Jesus o Messias fosse expressa de manei-ra hesitante, sem dvida um progresso em referncia pergunta mais ou menos neutra: "Que espcie de pessoa esta?" (8.27).

    Mas, embora devamos precaver-nos contra atribuirmos pouca importncia pergunta, preciso igualmente refrear-nos de lhe atribuir demais. Deve ter-se em mente que, mesmo em se admitindo que essas pessoas, ou pelo menos algumas delas, viam em Jesus o Messias, ainda assim ter-se-ia que responder a per-gunta: "Que tipo de Messias? Meramente um libertador de pe-nrias terrenas, tais como enfermidades e defeitos corporais, sim, at mesmo de demnios, possivelmente tambm um potencial libertador do jugo romano, e da da degradao e opresso, tudo isso... mas no do pecado? No do mal que a base de todas as demais misrias, isto , a alienao do homem de Deus?" A concepo messinica de muitas pessoas, inclusive em certa medida de alguns dos prprios discpulos, era distintamente materialista, terrena, judaica (Mt20.21; 23.37-39; Lc 19.41. 42; At 1.6; Jo 6.15,35-42).

    A prpria sugesto da possibilidade, no importa quo imperfeita e remotamente concebida ou apresentada, de que Je-sus pudesse ser o Messias havia tanto tempo esperado, era ve-neno para os fariseus; particularmente tambm para os escribas, que haviam percorrido todo caminho desde Jerusalm (Mc 3.22), sem dvida para apanhar Jesus em suas palavras e/ou atos. E prossegue: 24. Quando, porm, os fariseus ouviram [isso), disseram: Esse homem no expulsa os demnios seno por Belzebu, o prncipe dos demnios. Dessa vez, diferentemente de 12.2,10, os opositores no se dirigem a Jesus diretamente, mas o caluniam pelas costas. Vilmente atribuem sua ao de expulsar demnios ao poder de Belzebu, o prncipe dos dem-nios. Para o estudo do ttulo, Belzebu (Satans), ver sobre 10.25,

    31

  • 12.11,12 MATEUS

    inclusive nota de rodap 450. Ver tambm sobre 9.34. A acusa-o dirigida contra Jesus pelos escribas e fariseus era maligna. Era fruto de inveja. Cf. Mateus 27.18. Sentiam que comeavam a perder seus seguidores, e tal fato era-lhes impossvel de su-portar. Quo completamente diferente havia sido a atitude de Joo Batista (Jo 3.26, 30). O carter totalmente vilipendioso da acusao torna-se patente tambm luz do fato de que ela con-siderava Belzebu, no como sendo um esprito mal a exer-cer sua sinistra influncia sobre Jesus, vindo do lado de fora; ao contrrio, Satans considerado como que habitando na alma de Jesus. Diz-se possuir este um esprito imundo (Mc 3.30; cf. Jo 8.48); alis, que ele prprio Belzebu (Mt 10.25).

    Revidando acusao de expulsar ele os demnios pelo poder de Belzebu, Jesus reala que tal coisa a. absurda (vv. 25,26); b. igualmente inconsistente (v. 27); c. ela obscu-rece a real situao (vv. 28-30); d. tambm imperdovel (vv. 31, 32); e e. ela desmascara a malignidade daqueles que a formularam, revelando de quem tais blasfemos realmente so filhos, da mesma maneira que os bons atos e atitudes de outros fornecem evidncia para comprovar que gnero de indivduos tais pessoas boas so interiormente (w. 33-37).

    Antes de tudo, pois, a acusao absurda. 25,26. Conhecendo seus pensamentos, ele lhes disse:

    Todo reino dividido contra si mesmo se destina runa, e nenhuma cidade ou casa dividida contra si mesma subsisti-r. Se Satans est empenhado em expulsar a Satans, ele est dividido contra si mesmo; como, pois, seu reino subsis-tir? A calnia ridcula, totalmente irracional, porquanto, se assim fosse, ento Satans estaria opondo-se a Satans. Ele es-taria destruindo sua prpria obra. Primeiro, estaria enviando seus representantes, os demnios, causando devastao no corao e na vida dos homens. Em seguida, com vil ingratido e loucura suicida, estaria outorgando a Jesus o prprio poder indispens-vel para a expulso de seus prprios servos obedientes! E assim estaria lanando abaixo seu prprio imprio. Nenhum reino.

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  • MATEUS 12.27

    cidade ou famlia assim dividida contra si mesma pode man-ter-se de p.

    Em segundo lugar, tal acusao igualmente inconsistente. 27. E se por Belzebu que eu expulso demnios, por

    quem os filhos de vocs os expulsam? Portanto, eles sero seus juzes. Havia outros, alm de Jesus e seus discpulos, que reivindicavam o poder de expulsar demnios. No necessrio debater se ocasionalmente uma bem sucedida conjurao de maus espritos, pelos "filhos" ou discpulos dos fariseus, pode-ria realmente ocorrer. Ver sobre 7.22. Entretanto, no h neces-sidade de comprovar ou refutar tal coisa. Eis a questo: amigos e seguidores dos fariseus alegavam possuir tal poder, e por ra-zes procedentes ou improcedentes essa alegao era geralmente aceita. Naturalmente, os mestres desses reputados exorcistas s estavam demasiadamente ansiosos por receber uma fatia do cr-dito, ou seja, desfrutar da glria refletida. Se os fariseus, porm, estavam certos em proceder assim, como poderiam eles, sem lhes faltar totalmente a coerncia, opor-se a Jesus por ocupar-se no mesmo tipo de obra? Portanto, que os "filhos" julguem se ou no correto o que seus mestres disseram acerca da fonte do poder de Jesus para expulsar demnios. Se esses filhos julga-rem correta a acusao, afirmando, pois, que ele realmente ex-pulsava demnios pelo poder dos demnios, estariam conde-nando a si prprios. Em contrapartida, se julgassem a acusao falsa, ento estariam condenando a seus mestres e defendendo a Jesus. Qualquer que fosse seu veredito, ele seria muito embara-oso para os opositores de Cristo.

    Outro exemplo desse mtodo de argumentao que o Mes-tre usava, segundo o qual os inimigos perderiam, qualquer que fosse sua resposta, est registrado em 21.23-27. Por outro lado, quando eles - nesse caso os fariseus apoiados pelos herodianos - confrontam Jesus com um dilema, ele no s rompe suas ar-madilhas, mas tambm, ao fazer isso, lhes ensina uma lio que eles, e todas as pessoas de todos os lugares, deviam ler a srio (22.15-22) . Jesus o Mestre de toda situao. Portanto, que seja ele exaltado!

  • 12.1-14 MATEUS

    Em terceiro lugar, tal acusao obscurece. A calnia difundida pelos adversrios no era um leve des-

    vio da apresentao dos fatos, mas um perverso obscurecimento. Era o prprio oposto da verdade, pois no era pelo poder de um esprito mau que Jesus expulsava demnios, e, sim, pelo Espri-to de Deus. De que outra maneira poderia ser? 28. Mas se pelo Esprito de Deus que eu expulso demnios, ento o rei-no de Deus chegou a vocs. Este "se" significa: "se, como realmente o caso." O prprio fato de que o reino de Satans est se mostrando vulnervel - pois seus mensageiros esto sendo expulsos do corao e da vida dos homens - demonstra que o reino de Deus (ver sobre 4.23) est fazendo sentir sua presena.

    f

    Est em vias de obter vitria sobre o reino de Satans. E muito evidente luz dessa passagem que o termo "reino de Deus" (a designao mais usual em Mateus "do cu", ver supra, p.l 30 do volume I) indica a realidade que no meramente futura,

    r

    mas tambm presente. E uma realidade crescente, uma existn-cia em desenvolvimento, sendo cada uma de suas bnos pre-cursora de maiores bnos ainda por vir, at que o eterno cl-max seja atingido na grande consumao, e ainda ento a "per-feio" ser, em certo sentido, progressiva.508 Ainda agora, du-rante o ministrio terreno de Cristo, os enfermos estavam sendo curados, os mortos ressuscitados, os leprosos purificados,' os demnios expulsos, os pecados perdoados, a verdade difundi-da, as mentiras refutadas. Em vez de opor-se a esse reino e combat-lo, que os homens de todos os lugares entrem nele (7.13, 14; 11.28-30; 23.37; Jo 7.39).

    r

    E "pelo Esprito de Deus" que o poder de Cristo est, por-tanto, se manifestando na terra. Quanto a este ttulo, "o Esprito de Deus", ver tambm 3.16; Romanos 8.9b, 14; 1 Corntios 2.11b (cf. 2.12b); 2.14; 3.16; 6.11; 7.40; 12.3; 2 Corntios 3.3 ("o Es-prito do Deus vivo"); 1 Pedro 4.14: 1 Joo 4.2a, O paralelismo

    Ver o livro do autor. A I Ida Futura Segundo a Bblia. Editora Cultura Crist. So Paulo, SP

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  • MATEUS 12.43-45

    em 1 Corntios 12.3 comprova que esse "Esprito de Deus" a terceira pessoa da Trindade, "o Esprito Santo". E assim indubita-velmente tambm aqui em Mateus, como o revela uma compa-rao de 12.28 com 12.32.

    Que esta explicao da fonte do poder de Cristo a nica lgica, v-se luz do versculo 29. Ou, como pode algum entrar na casa do homem forte e levar seus bens, a no ser que primeiro ele amarre o homem forte? S ento que ele saquear sua casa. Na vida comum, o ladro no recebe ajuda voluntria do dono da casa. Pelo contrrio, a fim de obter o que quer, primeiro o intruso amarra o proprietrio. Ento o saqueia. Jesus, por meio de palavras e atos, est privando Satans daque-les bens que o Maligno considera seus, e sobre os quais ele exerce seu sinistro controle (Lc 13.16). O Senhor est expulsando os servos de Belzebu, os demnios, e est restaurando aquilo que, por meio de sua atuao, Satans tem feito alma e ao corpo dos homens. Jesus est fazendo tudo isso porque, por meio de sua encarnao, de sua vitria sobre o diabo no deserto da tenta-o, de suas palavras de autoridade pronunciadas contra os de-mnios, sua total atividade, ele comeou a amarrar Belzebu, processo este de atamento ou restrio de poder que estava para ser muito mais reforado pela sua vitria sobre Satans na cruz (Cl 2.15) e na ressurreio, ascenso e coroao (Ap 12.5,9-12). Ele tem feito, est fazendo e far isso pelo poder, no do prprio Belzebu, mas seguramente do Esprito Santo, justamente como acaba de dizer (v. 28). Sim, o diabo est sendo, e est progressivamente para ser, privado de seus "acessrios", ou seja, da alma e do corpo dos homens, e isso no s por meio das curas, mas tambm por meio de m poderoso programa missio-nrio, que alcanar primeiro os judeus, mas subseqentemente tambm as naes em geral (Jo 12.31,32; Rm 1.16). No essa precisamente a chave para se compreender Apocalipse 20.3 ?509

    Note-se como tambm em Lucas 10.17,18 a "queda de Sata-Ver meu livro Mais Que Vencedores, Interpretao do Livro de Apocalipse.

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  • 12.11,12 MATEUS

    ns como relmpago do cu" se acha registrado em conexo com o regresso e relatrio dos setenta missionrios.

    Nesta luta entre Cristo e Satans, a neutralidade imposs-vel (assim tambm Mc 9.40; Lc 9.50), como se revela no versculo 30. Aquele que no por mim contra mim. Ra-zo: s existem dois imprios: a. o de Deus ou do cu, com Cristo como Cabea, e b. o de Satans. Cada pessoa pertence ou a um ou ao outro. Conseqentemente, se ela no est em ntima associao com Cristo, ento lhe hostil.m contra Ele. Ser "com" Jesus significa ajuntar; ser-lhe hostil significa espalhar: aquele que comigo no ajunta, espalha.

    Ser "com" Jesus significa ser instrumento para arregimentar pessoas para serem seus seguidores (Pv 9.40; Dn 12.3; Mt 9.37, 38; Lc 19.10; Jo 4.35, 36; ICo 9.22). Ser "contra" ele significa indisposio para segui-lo em sua misso de ajuntar os perdi-dos. Significa deix-los sem apriscos, espalhados, presa fcil de Satans (ver sobre 9.36; cf. Jo 10.12).

    Em quarto lugar, tal acusao imperdovel. Jesus prossegue: 31,32. Portanto lhes digo, todo peca-

    do e blasfmia sero perdoados aos homens, mas a blasf-mia contra o Esprito no ser perdoada. Todo aquele que disser uma palavra contra o Filho, lhe ser perdoado; mas aquele que falar contra o Esprito Santo, no lhe ser per-doado, nem nesta era nem na era por vir.

    Todo e qualquer pecado do qual os homens sinceramente se arrependem, lhes ser perdoado (assim tambm Mc 3.28;

    f

    Lc 12.10). E verdade que em nenhuma dessas passagens se men-ciona a condio do arrependimento. No obstante, o prprio contexto (12.41), Mateus 4.17 e, talvez ainda mais especifica-mente, Lucas 17.3,4, a tornam claramente implcita. Ver tam-bm SI 32.1,5; Pv 28.13; Tg 5.16; Uo 1.9. Esta regra tambm vlida a respeito deste nefando pecado, a saber, a blasfmia. Nesse contexto, contudo, preciso precaver-nos, tendo em mente que as Escrituras s vezes usam essa palavra num sentido mais

    Em grego, as duas preposies so (iti versus Kara.

    36

  • MATEUS 12.43-45

    amplo do que o fazemos. Entre ns, "blasfmia" poderia ser definida como "irreverncia desafiante". A propsito disso, pen-samos, por exemplo, em crimes como amaldioar a Deus ou ao rei que reina pela graa de Deus, ou a degradao voluntria de coisas consideradas santas, rebaixando-as esfera secular, ou a reivindicao para o que secular ou puramente humano a hon-ra que pertence exclusivamente a Deus. Em grego, contudo, um sentido mais geral era tambm atribudo palavra "blasfmia", ou seja, o uso de linguagem insolente dirigida contra Deus ou contra o homem, difamao, xingamento, injria (Ef 4.31; Cl 3.8; lTm 6.4). Conseqentemente, quando Jesus nos assegu-ra que "toda (ou "toda espcie de") blasfmia ser perdoada aos homens", ele est usando o termo "blasfmia" no sentido mais geral. Entretanto, ao fazer uma exceo - "mas a blasfmia con-tra o Esprito Santo no ser perdoada" ele est se referindo a um pecado que mesmo em nossa lngua seria considerado "blas-fmia". Ver tambm sobre 9.3. Cf. Marcos 2.7; Lucas 5.21; Joo 10.30, 33; Apocalipse 13.1, 5, 6; 16.9, 11; 17.3.

    No obstante, h perdo para todo gnero de irreverncia desafiante, menos para um, como evidente luz do que Jesus diz: "Todo aquele que disser uma palavra contra o Filho, lhe ser perdoado." Se isso no fosse verdade, como o pecado de Pedro teria sido perdoado (Mc 14.7), e como poderia ter sido restaurado? (Jo 21.15-17.) Como poderia Saulo (Paulo) de Tarso ter sido perdoado? (lTm 1.12-17.) Em contrapartida, para a "blasfmia contra o Esprito Santo", isto , "falar contra o Esprito Santo", declara-se no haver perdo algum, nem agora nem na "era por vir".

    De passagem, deve sublinhar-se que essas palavras, de for-nia alguma implicam que haver perdo para certos pecados na vida futura. Em nenhum sentido apoiam a doutrina do purgat-

    V no. A expresso simplesmente significa que o pecado indicado * jamais ser perdoado. Quanto doutrina do purgatrio, supos-tamente o lugar onde as almas dos que no se perderam eterna-mente pagam o resto de sua dvida sofrendo o castigo pelos pe-

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  • 12.11,12 MATEUS

    cados que cometeram enquanto ainda viviam na terra, clara-mente refutado pela Escritura, a qual ensina que "Jesus o pagou todo" (Hb 5.9; 9.12, 26; 10.14; 1 Jo 1.7; Ap 1.5; 7.14).

    Fica a pergunta: "Como se deve entender que a blasfmia contra o Esprito Santo imperdovel?" Quanto aos demais pecados, no importa quo graves e horrveis sejam, h perdo para eles. H perdo para o pecado de Davi, de adultrio, desonestidade e homicdio (2Sm 12.13; SI 51; cf. SI 32); para os "muitos" pecados da mulher descrita em Lucas 7; para o "vi-ver dissoluto" dos filhos prdigos (Lc 15.13, 21-24); para a trplice negao por Simo Pedro seguida de maldies (Mt 26.74, 75; Lc 22.31, 32; Jo 18.15-18,25-27; 21.15-17); e para a impiedosa perseguio dos cristos movida por Paulo antes de sua converso (At 9.1; 22.4; 26.9-11; ICo 15.9; Ef 3.8; Fp 3.6). Mas para a pessoa que "fala contra o Esprito Santo" no h perdo algum.

    Por que no?! Aqui, como sempre quando o texto em si no imediatamente claro, o contexto deve ser nosso guia. Dele aprendemos que os fariseus esto atribuindo a Satans o que o Esprito Santo, por meio de Cristo, est realizando. Alm do mais, esto agindo assim voluntariamente, deliberadamente. A despeito de todas as evidncias ao contrrio, ainda afirmam que Jesus est expulsando demnios pelo poder de Belzebu. No s isso, mas esto fazendo progresso no pecado, conforme uma comparao entre 9.11; 12.2 e 12.14 o revela claramente. Ora, como j foi indicado, ser perdoado implica que o pecador se arrependa verdadeiramente. Entre os fariseus aqui descritos tal genuna tristeza pelo pecado est totalmente ausente. Substitu-ram o arrependimento pelo endurecimento; a confisso, pela conspirao. E assim, por meio de sua pessoal e criminosa in-sensibilidade, completamente inescusvel, eles esto condenando a si prprios. Seu pecado imperdovel porque so indispostos a trilhar a vereda que conduz ao perdo. Para um ladro, um adltero e um homicida h esperana. A mensagem do evange-

    f

    lho pode lev-lo a clamar: "O Deus, s propcio a mim, peca-

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  • MATEUS 12.31,32

    dor." Mas quando uma pessoa se torna empedernida, de tal ma-neira que se predispe a no mais prestar ateno aos impulsos do Esprito, nem sequer ouve mais sua voz que pleiteia e exorta, ela se pe na vereda que conduz perdio. Ela pecou o pecado "para morte" (lJo 5.16; ver tambm Hb 6.4-8).

    Para algum que realmente arrependido, por mais vergo-nhosa que tenha sido sua transgresso, no h motivo para de-sespero (SI 103.12; Is 1.18; 44.22; 55.6,7; Mq 7.18-20; 1 Jo 1.9). Em contrapartida, no h justificativa para o cultivo da indife-rena, como se o assunto do pecado imperdovel no fosse motivo de preocupao para o membro mediano da igreja. A blasfmia contra o Esprito o resultado de gradual progresso no pecado. Entristecer o Esprito (Ef 4.30), se no h arrependi-mento, leva resistncia ao Esprito (At 7.51), a qual, se persistida, se desenvolve at que o Esprito apagado (1 Ts 5.19). A verdadei-ra soluo se encontra em Salmo 95.7b, 8a: "Hoje, se ouvirem sua voz, no enduream seu corao!" Cf. Hebreus 3,7,8a.

    Finalmente, tal acusao desmascara. Essa acusao desmascara a perversidade daqueles que a

    formulam. Ela revela de quem esses blasfemos realmente so filhos. Semelhantemente, as obras e atitudes boas dos genunos filhos de Deus revelam que gnero de indivduos essas boas pessoas so interiormente. A luz do versculo 34 ("raa de vbo-ras") se faz evidente que tambm nesse breve pargrafo (vv. 33-37) Jesus ainda tem em mente os fariseus. No obstante, tam-bm evidente que aqui ele avana do particular para o geral, ou seja, desse grupo particular de pessoas ele faz uma transio para "o homem mau", sejam ou no os fariseus, versus "o ho-mem bom", qualquer que seja ele (v. 35). Ele conclui com uma veemente palavra de advertncia dirigida diretamente a cada in-divduo em contradistino dos demais; observe-se a mudana de "vocs" ("eu lhes digo", v. 36) para "voc" ("Porque por suas palavras", v. 37),

    O pargrafo comea assim: 33. Ou considerem a rvore boa e seu fruto bom, ou considerem a rvore enferma e seu

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  • 12.1-14 MATEUS

    fruto doentio, pois pelo fruto se conhece a rvore. O fruto e a rvore formam um s conjunto. No devem separar-se. Portan-to, dizer que. embora os feitos de Jesus, tais como expulsar de-mnios, curar enfermos, etc., sejam benficos, ele mesmo, po-rm. mau, instrumento de Belzebu, no faz qualquer senti-do. Quem Jesus deve ser determinado pelo que ele faz: uma rvore julgada por seus frutos. Literalmente, o original diz: "Ou faam a rvore boa e seu fruto bom, ou faam a rvore enferma e seu fruto doentio", em que "fazer" significa "consi-derem ser". Ver tambm Jo 5.18: 8.53; 10.33. Em nossa lngua h um uso semelhante, por exemplo: "Ele no o gnio que alguns fazem dele", ou seja: "... que alguns consideram ser." Para o restante, ver sobre 7.16-20.

    O fruto doentio comprova que algo est errado com a r-vore. Os fariseus produziam fruto doentio: linguagem blasfema (ver v. 24). No se pode esperar nada melhor de uma rvore - ou corao - enferma: 34. Raa de vboras - ver sobre 3.7 -, como podem falar o que bom quando vocs mesmos so maus? Visto que o cubo de onde saem todos os raios da roda do ser deles, visto que a prpria fonte de seus pensamentos, sentimen-tos e vontade totalmente depravada, como seria possvel que sua boca pronuncie algo que no seja mau? Pois da abundn-cia do corao que a boca fala. Literalmente, "do transborda-mento", da sobra, do excesso. Como uma populao prolfica que transborda para o territrio adjacente, e como uma cisterna demasiadamente cheia que transborda para uma bica, assim tam-bm os excessos do corao irrompero em palavras, como indu-bitavelmente faziam esses perversos fariseus. O oposio tam-bm verdico: quando o corao est cheio de boas e nobres intenes, o que o homem bom fala comprovar ser isso um fato. A regra segundo a qual tudo o que o homem almeja em seu corao, de sorte que o prprio cerne e centro de seu ser saturado disso, mais cedo ou mais tarde ser revelado em seu modo de falar, aplicvel ao bem ou ao mal igualmente: 35. O homem bom, de seu bom depsito, tira o que bom, e o ho-

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  • MATEUS 12.43-45 raem mau, de seu mau tesouro, tira o que mau. O corao de uma pessoa um reservatrio, um armazm ou, como o ori-ginal literalmente expressa, um tesouro. Comparar com Mateus 2.II, onde a palavra usada para indicar um cofre ou caixa da qual os sbios tiraram ouro, incenso e mirra.?n O que o homem extrai desse depsito interior, seja bom, seja mau. precioso ou barato, depende do que est levando nele.

    Isso, contudo, no oferece qualquer justificativa para um conceito fatalista da vida. No justifica que uma pessoa diga: "Eu no fui meu prprio criador. Posso evitar ser como sou, o que penso, o que falo e determinar a maneira de faz-lo?" Ao contrrio, diz Jesus: 36. Eu, porm, lhes digo que, de cada palavra imprudente que os homens falarem, daro conta512 no dia do juzo. Cada pessoa permanece plenamente respons-vel pelo que ela , pensa, fala e faz, pois embora seja verdade que ela no pode mudar seu prprio corao, tambm verdade que, com o poder que Deus lhe confere, tem a capacidade de apelar para aquele que renova coraes e vidas. O Senhor est sempre disposto e desejoso de conceder gratuitamente aos ho-mens tudo quanto ele exige deles. Se os homens no o recebem, por culpa deles* no de Deus (SI 81.10; Is 45.22; 55.6,7; Mt 7.7; 11.28-30; Lc 22.22; Jo 7.37; At 2.23; Tg 4.2b; Ap 3.18; 22.17b).

    Ora, se at mesmo por cada palavra "imprudente" - segun-do o original mera "conversa" que no produz nenhum trabalho (proveitoso), e portanto ineficaz para produzir qualquer bom resultado - os homens prestaro contas no dia do juzo final, no sero porventura chamados a dai' uma razo satisfatria por suas palavras falsas, ferinas, blasfemas, tais como as que se acham registradas em 12.24? Quanto ao carter abrangente do juzo final, ver a lista de passagens mencionada na p. 664 do volume I, em conexo com a exposio de 10.26.

    A mesma pafavra pode lambem indicar o prprio tesouro (Mt 6.19-21: 13.44; Hb 11.26; Cl 2.3). Literalmente: "... cada palavra displicente que os homens Talarem prestaro conta dela, etc." Esse anaeoluto, se algum desejar assim o chamar, facilmente enten-dido. Ver Gram. N.T., p. 718. Ele ocorre em grego e freqente em hebraico.

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  • 12.1-14 MATEUS Dirigindo-se enfaticamente a cada pessoa individualmente

    no auditrio, como se tal indivduo no mais fizesse parte do grupo, mas estivesse sozinho e face a face com o Senhor, Jesus, usando agora a segunda pessoa do singular, conclui e culmina suas palavras, dizendo: 37. Porque por suas palavras voc ser justificado, e por suas palavras ser condenado. O juzo pro-nunciado sobre o indivduo no dia final (ver v. 36) ir ser "por", no sentido de "de conformidade com", "em concordncia com", "em harmonia com" suas palavras, consideradas como espelhos do corao. Essas palavras revelaro se ele era um crente pro-fesso ou um incrdulo; se era um crente professo, elas revelaro

    r

    se sua f era genuna ou falsificada. E verdade que uma pessoa salva unicamente pela graa, mediante a f, parte de quais-quer obras consideradas como merecedoras da salvao. No obstante, suas obras - e isso inclui suas palavras - fornecem a evidncia necessria, demonstrando se ela era e , ou no, filha de Deus, Alm do mais, se esse juzo resulta ser favorvel, as obras, refletindo o grau de lealdade humana a seu Mestre e Re-dentor, influi na determinao de seu grau de glria. Elas in-fluem semelhantemente para estabelecer o grau de punio para os que perecem. Jesus quer que cada indivduo medite nessa importante verdade, para que seja justificado (declarado justo vista de Deus) e no condenado,

    38 Ento alguns dos escribas e fariseus lhe responderam, dizendo: "Mestre, queremos ver um sinal feito por t i 3 9 Respondendo, ele lhes disse: "Uma gerao m e adltera procura um sinal, mas nenhum sinal lhe ser dado, exceto aquele de Jonas o profeta, 40 Pois como Jonas esteve no ventre do monstro marinho trs dias e trs noites, assim tambm o Filho do homem estar no corao da terra trs dias e trs noites. 41 Homens de Nnive se levantaro no ju zo com esta gerao, e a condenaro, pois se arrependeram com a pregao de Jonas; eis aqui, porm, algo maior que Jonas, 42 A rainha do sul se erguer no juzo com esta gerao, e a condena-r, pois ela veio dos confins da terra para ouvir a sabedoria de Salomo; e eis aqui algo maior que Salomao,

    43 Ora, quando o esprito imundo sai de um homem, ele perambula por lugares ridos, buscando descanso, mas no o encontra, 44 Ento diz: 'Voltarei para minha casa que de ixe i / Ele vai e a encontra desocupada,

    42

  • MATEUS 12.43-45 varrida e em ordem. 45 Ento vai e leva consigo outros sete espritos mais perversos que ele. e entram e vivem ali. E a condio final dessa pessoa se torna pior que a anterior. Assim ser tambm com esta gerao perversa.11

    12.38-45 Repreendida a Avidez por Sinais Para 12.38-42, cf. Marcos 8.11,12; Lucas 11.29-32. Para 12.43-45, cf. Lucas 11.24-26.

    38. Ento alguns dos escribas e fariseus lhe responde-r

    ram, dizendo: Mestre, queremos ver um sinal feito por ti. E provvel que os fariseus hajam se ressentido com sua total der-rota. Jesus comprovara que a notcia que haviam espalhado so-bre ele (ver 12.24) era tanto perversa quanto absurda. Alm dis-so, tambm os chamara de "raa de vboras". Portanto agora os fariseus, que um pouco antes se haviam aliado com os herodianos (Mc 3.6), buscam o socorro daqueles a quem profundamente admiram (pelo menos fingiam admirar), a saber, os escribas, reconhecidos expositores e mestres do Antigo Testamento e das tradies que haviam vinculado a ele. Ver mais acerca da seita dos fariseus e da profisso dos escribas, nas notas sobre 3.7; 5.20; 7.29.

    Esses fariseus e escribas vo juntos a Jesus e lhe dizem que queriam ver um sinal feito por ele. Atitude completamente judastica! (1 Co 1.22.) Ao apresentarem sua solicitao, obser-vam as formas exteriores da cortesia e do respeito.513 Tal poli-dez, contudo, no passava de mera aparncia. Esses homens odiavam Jesus (cf. Lc 11.16). O que realmente estavam dizendo era que nenhuma das prodigiosas obras de cura que Jesus at ento realizara, inclusive aquela descrita no versculo 22, era suficiente para comprovar que era pelo poder do Esprito que 5,3 Pode-se muito bem duvidar se correta a teoria segundo a qual o uso do indicativo.

    indica brusqutdo -"queremos de ti" (Lenski). "queremos ver" (N.A.S.) de sorte que a soiicitao equivale a uma exigncia. De acordo com o tato de

    que esses homens se dirigem respeitosamente a Jesus como "Mestre", pareceria mais provvel que, quanto forma. a solicitao foi corts: "queramos ver" (A.V. e A.S.V.), "queremos ver"(R.S.V.), "gostaramos de ver" (Williams), tradu-es essas certamente dentro da harmonia com o uso do indicativo do verbo Q/Lu. Ver L/N.T. (A. eG.K p. 355.

    43

  • 12.39,40 MATEUS

    ele as fizera. Eles tinham uma explicao diferente (12.24). No fundo, portanto, sua solicitao era insultuosa e impudente. J haviam sido fornecidas todas as comprovaes necessrias das reivindicaes de Cristo. Haviam sido fornecidas por meio de milagres em conexo com os quais se haviam abraado a efic-cia e a compaixo. Sim, tambm a compaixo, o amor, a graa para com os pobres pecadores perdidos. Os inimigos, porm, no estavam interessados em compaixo, e, sim, em prodgios; no por curas, mas por aquilo que apelava para os sentidos. O sinal teria de ser diferente de tudo quanto fora feito previamen-te. Tinha de ser emocionante, excitante, sensacional. Muito bem, o que eles queriam mesmo? Queriam que Jesus fizesse mudar o lugar das constelaes celestes no zodaco? Queriam que ele

    r

    fizesse o Touro (Taurus) alcanar o Gigante Caador (Orion)? Devia, quem sabe. fazer resplandecer seu nome pelo cu inteiro com enormes letras douradas? Espera-se que ele reproduza no cu, acima deles, uma viso de Miguel deixando subitamente sua morada celestial e descendo para libertar os judeus do amargo jugo dos romanos? A exigncia deles perversa, pois alm de ser insultante e impudente, era tambm hipcrita, porque se sen-tiam seguros de que, o que de forma to polida haviam solicita-do a Jesus que fizesse, ele de forma alguma o poderia fazer.

    E prossegue: 39, 40. Respondendo, ele lhes disse: Uma gerao m e adltera procura um sinal, mas nenhum sinal lhe ser dado, exceto aquele de Jonas o profeta. Pois corno Jonas esteve no ventre do monstro marinho trs dias e trs noites, assim tambm o Filho do homem estar no corao da terra trs dias e trs noites. Jesus, longe de se deixar enga-nar pela polidez exterior exibida diante dele por esses advers-rios, discerne seus verdadeiros motivos, a saber, reprimir sua influncia entre o povo e, havendo desmascarado o que por eles seria considerado fracasso e incapacidade, destru-lo como um falso pretendente aos direitos e prerrogativas messinicas (12.14).

    f

    E bvio luz das palavras, "uma gerao m e adltera", que o Senhor se dirige no s aos fariseus e escribas, mas tam-bm a seus seguidores. Ele denomina esses contemporneos de

    44 L

  • MATEUS 12.43-45

    "maus'', isto , moralmente corruptos; igualmente de "adlte-ros", infiis ao seu legtimo Esposo. Jeov (Is 50.1-11; Jr 3.8; 13.27; 31.32: Ez 16.32, 35-43; Os 2.1-23). Ver tambm sobre Mateus 9.15. Foi precisamente a uma tal gerao adltera que o Messias, segundo uma opinio judaica bastante generalizada, se manifestaria.514

    No surpreende, pois, que Jesus recuse dar a esses inimi-gos, fariseus e escribas e seus adeptos, o sinal que pediram. Ele, e o Pai em conexo com ele, lhes oferece seu prprio sinal, sinal este no qual ele triunfar totalmente sobre eles, para sua vergo-nha eterna, isto , o sinal de Jonas, o profeta, o qual foi restitu-do do ventre do monstro marinho depois de "trs dias e trs

    f

    noites". (Ver Jn 1.17 - 2.1 no original hebraico 2.10.) E evi-dente que Jesus aceita esse relato do Antigo Testamento como o registro de um fato histrico. Ora, o Senhor diz que o Filho do homem - quanto ao ttulo, ver sobre 8.20 semelhantemente, ficar no corao da terra, na sepultura, durante trs dias e trs noites. A lio central consiste em que, como Jonas fora traga-do pelo monstro marinho, assim ele, Jesus, seria tragado pela terra; e como Jonas fora libertado de seu encarceramento, assim tambm o grande Anttipo de Jonas sairia da sepultura.

    Exatamente como, no caso de Jonas, esses trs dias e trs noites foram computados, a Escritura em parte alguma revela. Foram trs dias e trs noites inteiros, 72 horas ao todo, ou foi o perodo de sua estada no ventre do "peixe", um dia inteiro mais partes de dois outros dias? No sabemos. No entanto, sabemos, luz de Ester 4.16, que o terceiro dia no pode ter sido um dia inteiro (ver 5.1, "ao terceiro dia", no "aps o terceiro dia"). Ver tambm o livro apcrifo de Tobias, 3.12,13. Portanto, fora de propsito dizer que. para interpretar corretamente Mateus 12.40, Jesus teria permanecido na sepultura trs dias inteiros mais trs

    t

    noites inteiras. E contrrio ao uso judaico desses termos. No obstante, reiteradamente - s vezes em pequenos pan-

    fletos - advoga-se a opinio de que, segundo Mateus 12.40. Je-M S.BK. Vol. I. p. 641.

    45

  • 12.11,12 MATEUS

    sus teria morrido e teria sido sepultado na quinta-feira. Isso, contudo, decididamente errneo, pois os registros inspirados nos contam que esses eventos se deram na sexta-feira, isto , na Paraskeu a mesma palavra ainda usada no grego moderno para indicar sexta-feira (Mc 15.42, 43; Lc 23.46, 54; Jo 19.14, 30, 42). Alm disso, se os proponentes da teoria,"Jesus foi sepulta-do na tarde de quinta-feira'', exigem que "trs dias" significam trs dias inteiros, sua teoria ainda ficar sendo insuficiente; e, em contrapartida, se, como consideram, uma parte de um dia seria equivalente a um dia, o resultado seria: dias demais!

    Tampouco inteiramente satisfatrio dizer que, embora seja verdade que Jesus morreu na sexta-feira e ressuscitou no domingo de manha, a soluo precisa ser encontrada no fato de que, como j se comprovou, os judeus contavam uma parte do dia como equivalente a um dia, e uma parte da noite como equi-valente a uma noite. No que concerne aos "dias", esta seria uma explicao satisfatria, mas ainda nos deixaria com apenas duas noites, no trs.

    E como fica? Alguns, sem esperana de encontrar soluo, declaram que o dito, ainda que fosse parte do Evangelho desde o princpio, esprio, no havendo sido nunca pronunciado pelo prprio Jesus. Entretanto, no h uma razo plausvel para se cortar o n grdio. A verdadeira soluo acha-se, provavelmen-te, numa direo diferente. Quando dizemos, "o universo", os antigos diriam, "cu e terra". Assim tambm, no deveria sua expresso, "um dia e uma noite", ser tomada no sentido de uma unidade de tempo, um perodo de dia,5'5 uma parte de tal pero-do ser tomada como um todo? Na verdade ele esteve no corao da terra "trs-dias-e-trs-noites", isto , durante trs dessas uni-dades de tempo.

    Nessa passagem, a predio de Cristo com referncia sua ressurreio vindoura ainda era um tanto velada. Subseqente-mente, a profecia seria expressa com crescente clareza (cf. 16.21; 20.17-19; Mc 9.31; Lc 9.22; 18.31-33). 515 Cf. o lermo holands etmaal {um perodo de 24 horas - a partir de qualquer

    horrio).

    46

  • MATEUS 12.43-45

    O poderoso evento da gloriosa ressurreio de Cristo de-veria levar todos os homens ao arrependimento. E se arrepende-ro? Com respeito a muitos deles, aqueles que haviam se endu-recido completamente (12.24,31,32), Jesus de forma alguma o espera, pois tais pessoas so muito mais mpias do que os ninivitas que foram por meio de Jonas chamados ao arrependi-mento: 41. Homens de Nnive se levantaro no juzo com esta gerao, e a condenaro, pois se arrependeram com a pre-gao de Jonas; eis aqui, porm, algo maior que Jonas. Se at mesmo ninivitas516 arrependeram-se, no deveriam os ju-deus fazer o mesmo?

    Comparao Entre Aqueles a Quem Jesus Se Dirige e os Ninivitas

    Quanto aos escribas e fariseus e seus seguidores:

    r

    a. E o prprio Fiiho do homem que, reiteradamente, se lhes dirige e os convida ao arrepen-dimento (Mt 4.17; 11.28-30; 23.37).

    b. Este Cristo completamente sem pecado (12.17-21; Jo 8.46), cheio de sabedoria e compaixo (Mt 1 1.27-30; 15.32; ICo 1.24).

    c. Ele apresenta a mensagem de graa e perdo, de salvao completa e gratuita (Mt 9.2; 11.28-30; Lc 19.10; Jo 7.37).

    Quanto aos ninivitas:

    a. Foi um profeta menor quem lhes pregou.

    b. Esse profeta era pecador, in-sensato e rebelde (Jn 1.3; 4.3,9b).

    c. Sua mensagem era de conde-nao. Embora indubitavel-mente contivesse um chama-do ao arrependimento, a nfa-se estava nisto: "Daqui a qua-renta dias, e Nnive ser sub-vertida" (Jn 3.4).

    516 No ^os" homens de Nnive. tomo sc todos eles houvessem se arrependido, mas "homens dc Nnive". Assim lambem em Lucas 11.32. provvel qtie a prpria omisso do artigo enfatize a natureza ou carter dessas pessoas em comparao com os judeus, como a dizer: "Pensem nisso: meros ninivitas se arrependeram, ento no deveriam vocs fazer o mesmo?"

    47

  • 12.1-14 MATEUS d. Essa mensagem est sendo cor- d.

    roborada pelos milagres, nos quais as profecias esto se cum-prindo (Mt 11.5; Lc4.16-2 l;cf. Is 35.5, 6; 61.1-3; Jo 13.37).

    e. Est sendo levada a um povo e. que tem sempre desfrutado de infindveis bnos espirituais (Dt 4, 7, 8; 19.4; SI 147.19,20; Is 5.1-4; Am 3.2a: Rm 3.1,2; 9.4,5).

    No havia milagres ou outros sinais autenticadores para con-firmar a mensagem de Jonas.

    A mensagem de Jonas foi diri-gida a um povo que no desfru-tava de nenhuma das bnos de que os escribas, fariseus e seus seguidores desfrutavam.

    Os ninivitas, contudo, se arrependeram; a maioria dos israelitas, no (Jo 1.11; 12.37). Pessoas menos iluminadas obe-deceram a uma pregao menos iluminada; em contrapartida, pessoas mais iluminadas se recusam a obedecer Luz do mun-do. Surge a pergunta: "O arrependimento dos ninivitas, contu-do, foi genuno, isto , para a salvao?" A resposta freqente-mente apresentada, que no foi, seno os ninivitas no teriam sido destrudos. Objeo: a destruio dessa grande cidade ocor-reu cerca do ano 612 a.C, isto , cerca de um sculo e meio depois da pregao de Jonas. Portanto, seria injusto culpar os ninivitas dos dias de Jonas dos pecados de uma gerao muito posterior.317

    A Escritura em parte alguma alega que o arrependimento de todos os ninivitas foi genuno, tampouco deixa a impresso de que nenhum deles fosse salvo; muito ao contrrio. Que hou-ve deveras converses genunas em Nnive, provavelmente muitas, parece achar-se implcito tanto no livro proftico quan-to aqui em Mateus 12.41. A idia de que o arrependimento dos ninivitas no foi genuno, que no passou de mera mudana dos vcios para a virtude, se abre a trs outras objees: a. se ao falar da necessidade de arrependimento em Mateus 4.17. Jesus

    Concordo plenamente, pois. coni o juzo de E. Gaebelein sohre esse lema. Ver seu livro. Foar Maior Prophe/s. Chicago. 1970. p. 109. Para o ponlo de vista contrrio, ver Lenski. op. cU. pp. 433. 481.

    48

  • MATEUS 12.43-45

    tinha em mente uma genuna tristeza pelo pecado, por que no aqui em Mateus 12.41?; b. em 11.20-24 (cf. Lc 10.13-15; 11.30) Nnive no se acha inclusa na lista das cidades impenitentes do Antigo Testamento; e c. se o arrependimento referido em Mateus 12.41 no foi genuno, torna-se difcil explicar a declarao: "Homens de Nnive se levantaro no juzo