vol. 3 organizadoras - ufmaaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? princesas...

46
AAIS VI EECE E VI SIPERGE A uher Afrdescedete Ctidia Escar Organizadoras: Iran de Maria Leitão Nunes Diomar das Graças Motta Raimunda Nonata da Silva Machado VOL. 3

Upload: others

Post on 03-Jan-2020

1 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

A�AIS

VI E�E�CE E VI SI�PERGE�

A �u�her Afr�desce�de�te �� C�tidia�� Esc��ar

Organizadoras: Iran de Maria Leitão Nunes Diomar das Graças Motta Raimunda Nonata da Silva Machado

VOL. 3

Page 2: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

Iran de Maria Leitão Nunes Diomar das Graças Motta

Raimunda Nonata da Silva Machado

VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES

DE GÊNERO NO COTIDIANO ESCOLAR

(VI EMEMCE)

VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER,

RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI SIMPERGEN)

São Luís 2017

Page 3: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

Prof.ª Dr.ª Nair Portela Silva Coutinho Reitora

Prof. Dr. Fernando Carvalho Silva Vice-Reitor

Prof. Dr. Allan Kardec Duailibe Barros Filho

Pró-Reitor de Pesquisa, Pós-Graduação e Inovação - PPPGI

Prof.ª Dr.ª Lindalva Martins Maia Maciel Diretora do CCSo

Prof.ª Dr.ª Mariza Borges Wall Barbosa de Carvalho Coordenadora do PPGE

Prof. Dr. Carlos André Sousa Dublante Coordenador do Curso de Pedagogia

Vanja Maria Dominices Coutinho Fernandes Chefe do Departamento de Educação I

Acildo Leite da Silva Chefe do Departamento de Educação II

Prof.ª Dr.ª Diomar das Graças Motta Prof.ª Dr.ª Iran de Maria Leitão Nunes

Coordenadoras do GEMGe

Page 4: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

Copyright © 2017

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO

Prof.ª Dr.ª Nair Portela Silva Coutinho Reitora

Prof. Dr. Fernando Carvalho Silva

Vice-Reitor

COMISSÃO CIENTÍFICA

Prof.ª Dr.ª Elizabeth Sousa Abrantes (UEMA), Prof. Dr. João Batista Bottentuit Junior (UFMA), Prof.ª Dr.ª Karla Cristina Silva Sousa (UFMA), Prof.ª Dr.ª Kilza Fernanda M. de Viveiros (UFRN), Prof.ª Dr.ª

Maria Mary Ferreira (UFMA), Prof.ª Dr.ª Odaléia Alves da Costa (IFMA), Prof.ª Dr.ª Verônica Lima Carneiro Moreira (UFMA), Prof.ª Dr.ª Thelma Helena Costa Chahini (UFMA).

Revisão Prof.ª Dr.ª Iran de Maria Leitão Nunes

Prof.ª Dr.ª Raimunda Nonata da Silva Machado

Coordenação do Projeto Gráfico Raimunda Nonata da Silva Machado

Projeto Gráfico e Editoração Raimunda Nonata da Silva Machado, Walquíria Costa Pereira, Glaucia Santana Silva Padilha e Thays

Coelho França.

Imagem da capa Elizabeth Catlett

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Encontro maranhense sobre educação, mulheres e relações de gênero (6.: 2017: São Luís,

MA); Simpósio maranhense de pesquisadoras (es) sobre mulher, relações de gênero e educação (6.: 2017: São Luís, MA)

Anais do VI Encontro maranhense sobre educação, mulheres e relações de gênero; VI Simpósio maranhense de pesquisadoras (es) sobre mulher, relações de gênero e educação: a mulher afrodescendente no cotidiano escolar [recurso eletrônico] / Organizadoras, Iran de Maria Leitão Nunes, Diomar das Graças Motta, Raimunda Nonata da Silva Machado. — São Luís, 2017. Vol. 3 47 p.

ISSN 2526-3803

Modo de acesso: Internet file:/// http://www.gemge.ufma.br/anais_ememce/anais.php 1. Educação, Mulheres e relações de gênero – Encontro Científico - UFMA. I. Nunes, Iran de Maria Leitão II. Motta, Diomar das Graças III. Machado, Raimunda Nonata da Silva

CDD 370.001 CDU 37.014:001.32 (812.1)

Page 5: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ..................................................................................................... 6

MULHERES AFRODESCENDENTES NAS MÍDIAS, NAS FERRAMENTAS

DIGITAIS E NAS OBRAS DIDÁTICAS E PARADIDÁTICAS

REPRESENTAÇÃO DAS PRINCESAS NOS CONTOS DE FADAS:

ESTEREÓTIPOS E AUSÊNCIAS - Emanuella Geovana Magalhães de Souza

e Kácio dos Santos Silva .....................................................................................

MARIA FIRMINA DOS REIS: GÊNERO E ETNICIDADE A PARTIR DO

ROMANCE ÚRSULA - Zeila Sousa de Albuquerque ..........................................

9

23

AS MULHERES AFRODESCENDENTES NOS SERVIÇOS GERAIS DAS

INSTITUIÇÕES DE ENSINO

MULHERES NEGRAS, TRABALHO E EDUCAÇÃO: LIMPANDO OS

ESPAÇOS ESCOLARES E TECENDO RELAÇÕES SOCIAIS - Ana Cláudia

Batista da Silva, Elaine da Conceição da Silva, Denílson Medeiros dos Santos

e Kelly Almeida de Oliveira ..................................................................................

36

Page 6: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

6

INTRODUÇÃO

A sexta edição do EMEMCE e do SIMPERGEN com a temática “A mulher

afrodescendente no cotidiano escolar” promoveu diálogos sobre a condição

feminina, na ótica intercultural, com a centralidade da pessoa mulher

afrodescendente, tanto no cotidiano escolar, como em outros espaços educacionais.

Esta publicação, em formato de Anais, sistematiza as atividades de

comunicações orais, que foram coordenadas a partir de cinco Eixos Temáticos,

resultantes de estudos, pesquisas e experiências relacionadas ao objeto central do

Evento. São eles: Eixo 1: Afrodescendência feminina, relações de gênero e práticas

de empoderamento no cotidiano escolar; Eixo 2: Mulheres professoras

afrodescendentes, discriminação, sexualidade e religiosidade no contexto escolar;

Eixo 3: Pedagogias Afrocentradas e feminismo negro no debate acadêmico; Eixo 4:

Mulheres afrodescendentes nas mídias, nas ferramentas digitais e nas obras

didáticas e paradidáticas; e, Eixo 5: As Mulheres afrodescendentes nos serviços

gerais das instituições de ensino.

Estes eixos temáticos foram agrupados em três volumes:

O primeiro volume trata do eixo: “Afrodescendência feminina, relações

de gênero e práticas de empoderamento no cotidiano escolar”. Dispõe artigos sobre

espaços e narrativas da educação infantil, memórias escolares, trajetórias de

professoras afrodescendentes, empoderamento de mulheres negras.

O segundo volume agrupa os artigos referentes ao eixo: “Mulheres

professoras afrodescendentes, discriminação, sexualidade e religiosidade no

contexto escolar” e analisa vivências de mulheres afrodescendentes no contexto

escolar, as questões de gênero, raça e etnia na sala de aula como modo de

fortalecer a identidade e autoestima das crianças e adolescentes negros,

professoras normalistas afrodescendentes; as representações racistas, sexistas,

bem como da sexualidade e do corpo feminino na historiografia brasileira;

professoras afrodescendentes na educação básica e na educação superior.

Considerando que, não houve submissão de trabalho no eixo

“Pedagogias Afrocentradas e feminismo negro no debate acadêmico” (um convite

para pensarmos a inserção desta questão na área da educação) e que houve

poucas submissões nos eixos 4 e 5, o terceiro volume reúne estes dois eixos:

Page 7: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

7

“Mulheres afrodescendentes nas mídias, nas ferramentas digitais e

nas obras didáticas e paradidáticas”, recebeu contribuições com as análises de

Obras Complementares do Plano Nacional do Livro Didático (PNLD) nos anos 2009

e 2012, buscando vestígios das trajetórias profissionais da compositora brasileira

afrodescendente Francisca Edwiges Neves Gonzaga (1847-1935), conhecida como

Chiquinha Gonzaga e da africana-queniana Wangari Muta Maathai (1940- 2011). A

romancista Maria Firmina dos Reis, também foi alvo de estudo a partir da obra

Úrsula.

“As Mulheres afrodescendentes nos serviços gerais das instituições

de ensino”, enfatizou, em um único trabalho, as relações sociais que essas

mulheres, atuando nos serviços gerais, tecem no ambiente escolar.

Dessa forma, o VI EMEMCE e o VI SIMPERGE, reuniu discussões sobre

mulheres afrodescendentes no cotidiano escolar, por meio das comunicações orais,

dentre outras atividades. Fomentou a visão da diferença racial como interesse

cultural, necessário para a sociedade; fortificou com as práticas: científicas,

pedagógica e individual o relacionamento entre as pessoas, em especial as

afrodescendentes e discutiu com as/os educadoras/es e educandas/os a importância

da diferença e da diversidade étnico-cultural da pessoa-mulher.

Page 8: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

MMUULLHHEERREESS AAFFRROODDEESSCCEENNDDEENNTTEESS NNAASS MMÍÍDDIIAASS,, NNAASS

FFEERRRRAAMMEENNTTAASS DDIIGGIITTAAIISS EE NNAASS OOBBRRAASS DDIIDDÁÁTTIICCAASS EE

PPAARRAADDIIDDÁÁTTIICCAASS

Page 9: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

9

REPRESENTAÇÃO DAS PRINCESAS NOS CONTOS DE FADAS: ESTEREÓTIPOS E AUSÊNCIAS

Emanuella Geovana Magalhães de Souza1

Kácio dos Santos Silva2

Resumo: O presente artigo procurou analisar a representação das princesas nos contos de fadas, focalizando na manutenção dos estereótipos (princesa eurodescendente, delicada, graciosa) e na ausência das mulheres afrodescendentes nessas histórias. Os contos de fadas no Brasil disseminam vários estereótipos e cristalizam apenas uma cultura: a europeia, podendo ocasionar prejuízos na construção identitária de meninas/mulheres afrodescendentes, uma vez que as mesmas não se sentem representadas nesses contos. Pensando nisso, utilizamos seis filmes dos estúdios Disney, separados em duas categorias: as princesas de descendência europeia e as princesas que fogem da descendência europeia. Na primeira, temos os seguintes filmes: Branca de Neve (1937), Cinderela (1950), A Bela e a Fera (1991). Na segunda categoria temos Alladin (1992), Pocahontas (1995) e A princesa e o sapo (2009). E com isso, buscamos identificar os estereótipos contidos nesses contos e ao mesmo tempo, comparamos com a realidade brasileira, no que se refere à diversidade de gênero e racial. Dialogamos com alguns autores (as) que problematizam esses temas, como Sosa (1995), Khéde (1990), Bettelheim (2012), Castells (2010), Coelho e Boakari (2013); Jovino (2006); Santos (2010), dentre outros. A pesquisa apontou que, das obras investigadas, a maior parte, apresentam o estereótipo da mulher magra, eurodescendente, loira e de cabelos lisos. As princesas, não eurodescendentes, são representadas por cabelos pretos e lisos. Não foram encontradas na amostra, princesas com a pele escura e/ou cabelos crespos. Palavras-chave: Contos de fadas. Mulheres Afrodescendentes. Identidade. Cabelos crespos. Estética Introdução

No mundo encantado dos contos de fadas, abóboras viram carruagem,

dragões ganham vida e sonhos são realizados. Rodeados de magia esses contos

são disseminados em grande proporção no ocidente, estando presente no cotidiano

de várias meninas/mulheres. Afinal, quem nunca ouviu falar de princesas que foram

aprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a

“Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas por muitas

garotas. Mas será que esses contos representam a diversidade racial e de gênero

da sociedade brasileira?

As princesas, personagens principais desses contos, em sua maioria são

representadas como eurodescendentes, cabelos lisos, muitas vezes loiros, com 1Mestranda em Educação – UFPI, Teresina – PI, [email protected] 2Mestrando em Educação – UFPI, Teresina – PI, [email protected]

Page 10: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

10

olhos claros, magras, feições finas do rosto. Evidenciando, a ausência de princesas

afrodescendentes e com isso perpetuando o estereótipo de que mulheres

afrodescendentes não podem ser princesas, afinal não possuem características

fenotípicas eurodescendentes.

Além disso, nesses contos também é observado uma delimitação de

comportamento e concepção de “ser mulher”. As princesas são representadas como

modelo de virtude e para isso precisam ser educadas, graciosas, delicadas, noivas

fiéis e sempre bonitas. Em contrapartida, os príncipes possuem papéis ativos, são

fortes, de bom caráter e destemidos, capazes de enfrentar diversas aventuras para

salvar as princesas. Delineando nesse sentido, maneiras “corretas” de “ser mulher”

e de “ser homem”. Essas concepções podem ser internalizadas e acreditadas como

naturais pelas crianças ao lerem esses contos.

A ausência das mulheres afrodescendentes nos contos de fadas (e em

outras mídias) está relacionada com o papel que essas mulheres ocupam em nossa

sociedade, (muitas vezes, subalterno), construída histórica, social e culturalmente.

Essas mulheres compõem uma parcela da população que mais constantemente

sofrem discriminações, seja por causa do seu pertencimento racial, pelo gênero ou

por fatores econômicos trazendo prejuízos para a construção de sua identidade.

Nesse sentido, as mulheres afrodescendentes convivem com uma

realidade desfavorável para a construção de suas identidades, rodeada de

estereótipos, não possui estímulos positivos de valorização do seu grupo racial. Seja

nos livros infantis, nas telenovelas, e até mesmo em ambientes como a família,

escola, igreja, rua, dentre outros.

Como forma de não disseminar esses estereótipos optamos pelo uso do

termo “afrodescendente”, pois, entendemos que “[...] ainda persiste uma tentativa de

invisibilização dos afrodescendentes, minimização de sua importância e negação da

sua identidade, principalmente quando se usam as diversas nomenclaturas (negro,

preto, pardo e outros) que os dissociam de sua ancestralidade”. (COELHO;

BOAKARI, 2013, p. 03)

Page 11: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

11

Diante disso, indagamos: rodeada de estereótipos negativos sobre sua

própria imagem (ou ausência completa) quando criança nos chamados contos

clássicos de fadas, como construir uma identidade afrodescendente positivamente?

Quais as influências desses contos na construção de sua identidade como

descendentes de africanos? Pensando nisso, procuramos neste estudo analisar a

representação das princesas nos contos de fadas, e como outros objetivos,

buscamos identificar os estereótipos contidos nos contos de fadas e comparar os

contos de fadas com a realidade brasileira, no que se refere à diversidade de gênero

e racial.

Para isso, utilizamos seis filmes dos estúdios Disney, separados em duas

categorias: as princesas de descendência europeia e as princesas que fogem da

descendência europeia. Na primeira, temos os seguintes filmes: Branca de Neve

(1937), Cinderela (1950), A Bela e a Fera (1991). Na segunda categoria temos

Alladin (1992), Pocahontas (1995) e A princesa e o sapo (2009).

Em seguida, trataremos especificamente dos contos de fadas,

focalizando na representação das princesas, correlacionando com o processo de

construção das identidades afrodescendentes. Dialogamos com alguns autores (as)

que problematizam esses temas, como Sosa (1995), Khéde (1990), Bettelheim

(2012), Castells (2010), Coelho e Boakari (2013); Jovino (2006); Santos (2010),

dentre outros.

Os contos de fadas e identidade racial

Os contos de fadas são histórias que foram e ainda são transmitidas

oralmente com intensa presença do maravilhoso e do encantamento na resolução

de seus conflitos. E possuem algumas características padrões, como suas

personagens, narrador e ambiente retratado.

Sua origem é imprecisa por ser proveniente de uma tradição oral.

Encontramos algumas explicações, como a de Jovino (2006) que atrela o

surgimento dos contos de fadas aos povos da Pérsia e da Índia, onde histórias como

Page 12: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

12

"Cinderela", "Chapeuzinho Vermelho", "Branca de Neve", dentre outros, foram

adaptações às diversas histórias da coletânea “Ás Mil e uma Noites”. Outra

explicação para seu surgimento é aparição de fadas (símbolo do maravilhoso, bem

como, bruxas, duendes, ogros...) em histórias do povo celta. (KUPSTAS, 1993, p.

08)

Chegando ao continente europeu essas histórias ganharam nova

roupagem, “[...] A partir do século XVII, essas narrativas foram sendo reunidas e

recontadas por escritores, que lhes deram um estilo mais elegante e as ‘traduziram’

na tradição popular para como as conhecemos hoje”. (KUPSTAS, 1993, p. 09) É

nesse período que os autores Perrault, Irmãos Grimm e Andersen se tornaram

famosos.

A característica principal dos contos de fadas é a presença do

maravilhoso, da magia, do encantamento. As outras características como vimos

linhas atrás, são as personagens, normalmente jovens em idade de se casar. São

lineares e comportam-se de acordo com o modelo estratificado da sociedade.

Representam o bem ou o mal. Havendo uma contraposição: extremamente belos ou

feios, bons ou ruins, pobres ou ricos. Príncipes, princesas, reis, rainhas, plebeus,

caçadores, são as mais comuns. As personagens maravilhosas são as fadas,

bruxas, ogros. Outra característica é o narrador, que possui uma fala unívoca e o

local da história é inexato, um local "universal" (KHÉDE, 1990; SOSA, 1985;

BETTELHEIM, 2012)

As personagens principais desses contos são as princesas e os príncipes.

Geralmente as histórias giram em torno das princesas, sendo possível perceber dois

tipos de princesas, a primeira, mais comum: delicada, bela, a noiva fiel e a segunda,

consideradas como pérfidas e vingativas. Elas serão guerreiras, hábeis com o arco-

flecha e na montaria. Enquanto os príncipes desempenham papéis ativos, heroicos e

transgressores. Muitas vezes agentes do resgate da princesa em perigo. (KHÉDE,

1990)

Existe uma representação da mulher como frágil, inferior, sempre a

espera de um príncipe, ilustradas como princesas tipicamente eurodescendentes,

Page 13: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

13

mas onde estão as princesas descendentes de africanos? Como vimos, essas

mulheres são excluídas dessas histórias. E nesse sentido, a construção de suas

identidades são desfavorecidas.

As identidades são aqui entendidas como “[...] o processo de construção

de significado com base em um atributo cultural, ou ainda um conjunto de atributos

culturais inter – relacionados, o (s) qual (ais) prevalecem sobre outras fontes de

significado”. (CASTELLS, 2010, p.22) Nesse sentido, com outras palavras, o

significado do nosso “eu”, está relacionado com os atributos, características, que nos

é dado (seja positiva ou negativa) com a imagem, ideia, conceito que temos de nós

mesmos. Diante disso, nos perguntamos: como a sociedade brasileira marcada por

padrões eurocêntricos percebe as/os afrodescendentes? Como uma sociedade

machista e racista percebe as mulheres descendentes de africanos?

Na próxima seção teceremos algumas considerações sobre os filmes dos

contos de fadas, numa tentativa de capturar as características e estereótipos

contidos nos mesmos, a fim de correlacionarmos e interpretarmos suas influências

na realidade de mulheres afrodescendentes brasileiras, principalmente no que se

refere à construção de suas identidades.

As princesas de descendência europeia

Os contos considerados “clássicos” mais acessíveis e normalmente os

mais divulgados em livros, filmes e que também são contados oralmente são:

"Cinderela", "Branca de Neve", "A Bela Adormecida", "A Pequena Sereia" e "A Bela

e a Fera". Em tempos atuais, outros contos foram surgindo e muitos desses foram

readaptados, principalmente pela indústria cinematográfica.

Dentre esses contos citados anteriormente, resolvemos analisar apenas

três, no caso, “Cinderela” (1950), “Branca de Neve” (1937) e “A Bela e a Fera”

(1991) dos estúdios Disney. Teceremos algumas considerações sobre esses contos,

sua história e a maneira como as princesas são retratadas (esteticamente e na

Page 14: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

14

personalidade) para tentarmos produzir diálogos e problematizações acerca da

identidade afrodescendente.

Por se tratar de muitos filmes e para esse trabalho não ficar demasiado

extenso, resolvemos elencar as principais características desses contos num quadro

comparativo, utilizando como embasamento além dos filmes, as contribuições de

Khéde, (1990); Kupstas, (1993); Bréder, (2013). Observe o quadro 01 a seguir:

Quadro 1: Filmes de princesas de descendência europeia

Nome do filme/ nome da princesa

Ano de produção Características das

princesas Principal objetivo das

princesas

A Branca de Neve e os Sete Anões / Branca de Neve

Estúdios Disney, 1937

Eurodescendente, cabelos pretos e curtos, traços finos do rosto e magra. Representada como um ser belo, gentil e bondosa.

Fugir das perseguições da Madrasta e ter um final feliz ao lado do príncipe.

Cinderella - Cinderela

Estúdios Disney, 1950

Eurodescendente, cabelos lisos e loiros, traços finos do rosto e magra. Possui doçura de temperamento, paciente, bondosa e bela.

Busca de um companheiro para se livrar das humilhações e agressões da Madrasta e das meias irmãs.

A Bela e a Fera – Bela Estúdios Disney, 1991

Eurodescendente, cabelos lisos de tom castanho, traços finos do rosto e magra, é linda, gentil, cuidadosa e amorosa.

A personagem é caracterizada como amantes dos livros e sonhava com o mundo fora da pequena aldeia que morava.

Fonte: Próprios autores, 2017.

Nos dois primeiros filmes, Bréder (2013) faz comparações relacionadas

ao trabalho doméstico presente em ambos os filmes. Em "Branca de Neve e os sete

anões" (WALT DISNEY, 1937) a protagonista considera o trabalho doméstico como

Page 15: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

15

uma forma de agradecer aos anões. Representando o ideal de uma mulher,

recatada e prendada.

Enquanto "Cinderela" (WALT DISNEY, 1950) detestava os serviços

domésticos, vendo como uma obrigação imposta pela madrasta. Embora, em 1950,

ainda predominasse o ideal da mulher como dona de casa e sustentada pelo marido,

o mundo ocidental passava por um novo fenômeno, a fase de sucesso do

capitalismo, e os Estados Unidos como nova potência do mundo. Entra em cena o

novo ideal, era a mulher que conquistava um marido para que pudesse lhe dar

conforto. (BREDER, 2013)

Por último, temos "Bela" do filme "A Bela e a Fera" (WALT DISNEY,

1991). A personagem principal merece destaque. Primeiramente "Bela" é

caracterizada como amante dos livros e sonhava com o mundo fora da pequena

aldeia em que vivia, queria conhecer muito mais. Não tinha pretensão em se casar e

se saia muito bem das cantadas de “Gaston” (considerado o rapaz mais lindo da

aldeia, porém nada inteligente). Nesse filme, mesmo “Bela” indo para o palácio, seus

hábitos de leitura continuam incentivados pelo príncipe (Fera), e nunca deixa de

apoiar as invenções do pai. Também é a primeira vez em que a mulher protagonista

salva o príncipe (BREDER, 2013).

Constatamos nessa primeira parte do estudo que todos esses filmes têm

como figura principal uma princesa eurodescendente, ressaltando apenas um tipo de

beleza: a europeia. E o casamento é visto nesses contos como única opção de

ascensão social e realização pessoal das princesas. Nessa perspectiva como uma

garota afrodescendente, poderá se reconhecer dentro desses contos? Existem

outras possibilidades de realização e ascensão social da mulher? Pensando nisso,

no próximo tópico detalharemos alguns contos onde as princesas fogem da

descendência europeia.

Page 16: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

16

Princesas de descendência não europeia

Nessa parte do estudo, discorremos sobre três filmes que trazem como

protagonistas princesas que fogem da representação fenotípica europeia, e que não

recebem tanto destaque, são eles: Alladin (1992), Pocahontas (1995) e mais

recentemente “A princesa e o sapo” (2009).

Também realizamos um quadro comparativo no qual foram elencadas as

principais características dessas princesas e como embasamento, utilizamos além

dos filmes, as contribuições de Khéde, (1990); Santos (2010); Bréder, (2013).

Observe o quadro 02 a seguir:

Quadro 2: Filmes de princesas de descendência não europeia

Nome do filme/ nome da princesa

Ano de produção Características das

princesas Principal objetivo das

princesas

Alladin / Jasmine

Estúdios Disney, 1992 Oriental, magra, cabelos lisos e pretos, feições finas do rosto.

Seguir seu coração e escolher seu conjunge.

Pocahontas Estúdios Disney, 1995

Indígena norte-americana, cabelos lisos e pretos, magra, feições finas do rosto.

Encontrar seu destino e proteger sua tribo.

A princesa e o sapo / Tiana

Estúdios Disney, 2009

Afrodescendente, cabelo liso, filha de uma costureira e adora cozinhar.

Abrir seu próprio restaurante.

Fonte: Próprios autores, 2017.

Percebemos que a representação de “ser mulher” começa a ser

modificada nesses contos. Essas princesas anseiam por mais independência,

reivindicando o poder de decisão, como no caso de Jasmine, do filme Alladin (1992)

e Pocahontas (1995). Enquanto Tiana, do filme “A princesa e o sapo” (WALT

DISNEY, 2009), representa uma mulher contemporânea, no qual considera o

Page 17: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

17

trabalho uma forma de ascensão social, econômica, ou seja, não precisa mais de

um príncipe rico, como é disseminado no filme Cinderela (WALT DISNEY, 1950).

Temos nesses filmes princesas consideradas rebeldes por de alguma

maneira afrontar, transgredir valores sociais e culturais. “Jasmine” do filme Alladin

(1992), demonstra essa transgressão ao não aceitar o pretendente escolhido pelo

Sultão, seu pai. Chega a fugir do palácio e vive uma vida comum, quando encontra

“Aladin”. É a primeira personagem a ter um poder aquisitivo melhor do que a do seu

“príncipe”. Ao invés de desistir do seu mundo (de riquezas) em nome do amor,

“Jasmine” convence seu pai a mudar as leis e permitir que ela se case com quem

quiser, sem perder sua riqueza e status. (BREDER, 2013)

“Pocahontas” também é considerada uma "princesa rebelde", por desafiar

as leis de sua tribo. Foi o primeiro filme dos estúdios Disney que não terminou com o

tradicional “felizes para sempre”, no final do filme, “Smith” (Colono Inglês que se

apaixona por “Pocahontas”) acaba sendo ferido e precisa retornar a cidade para

sobreviver e convida “Pocahontas”, porém a mesma recusa: “[...] Embora ela não

conquiste o ‘final feliz’ clássico ao lado de seu amado, fica claro que esta foi uma

decisão própria e não alguma forma de castigo. Ela apenas se tornou a primeira

‘princesa’ a escolher a responsabilidade em vez de um amor”. (BREDER, 2013, p.

37)

Enquanto o filme “A princesa e o sapo” (WALT DISNEY, 2009) traz a

história de “Tiana”, uma garota afrodescendente de origem muito humilde que sonha

em ter seu próprio restaurante. Porém, acaba se transformando em uma rã,

juntamente com “Naveen” que foi enganado por um bruxo. Trata-se de um príncipe

boêmio, atrás de uma mulher rica para manter seu padrão luxuoso de vida. Passam

a trama toda como sapos, em busca de se tornarem novamente humanos e acabam

se apaixonando. Conseguem reverter o feitiço, abrem um restaurante e terminam

felizes, mas trabalhando arduamente.

O filme por mais que traga protagonistas afrodescendentes acaba

repercutindo os mesmos estereótipos de sempre como observa Santos (2010, p. 23-

24):

Page 18: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

18

É possível perceber que mesmo quando a obra possui a intenção de trazer inovações, de construir personagens não-caricaturados, vinculados a uma representação mais próxima do real, estas ideologias estão tão fixas no imaginário desta população, ao qual o autor também faz parte, que acabam por cair em muitas estereotipias já verificadas em outras obras.

Percebemos a manutenção de estereótipos nesse filme, como a

naturalização das condições sociais e econômicas das personagens

afrodescendentes, a protagonista na maior parte da trama é representada como um

sapo, e diferentemente dos outros príncipes, “Naveen” é colocado como aquele em

que não se pode confiar afinal ele é o “causador de problemas”, o “anti-herói”, um

charlatão. (BALISCEI; ANDRADE, 2015)

Rodeada de histórias com princesas de pele clara, cabelos lisos, olhos

claros, corpo magro, traços finos do rosto, a criança/jovem/mulher afrodescendente

não se reconhecerá nessas personagens. Constatamos que não gostamos de ser

associado a algo ruim, a algo feio, desonesto, gostamos de nos associar a coisas

aceitas e admiradas por todos. Como então a mulher afrodescendente vai querer se

reconhecer como descendentes de africanos se desde sempre aprende que isso

está associado a coisas pejorativas?

O que pode nos dizer a ausência da princesa afrodescendente nos contos

clássicos de fadas?

Importante entender aqui sobre o que os contos de fadas nos dizem, e o

que eles não dizem. Ao analisarmos os quadros 1 e 2, percebemos algumas

situações. No quadro das princesas eurodescendentes (quadro 1), fica claro o

padrão estético/representativo das mesmas, todas de pele clara, de cabelos lisos e

loiras. Já no quadro 2, de princesas não europeias, todas elas são magras, cabelos

lisos e pretos. Mesmo a princesa afrodescendente, apresenta-se de cabelos lisos.

Nenhuma com cabelo crespo. Chama-nos a atenção essa ausência nos contos de

fadas, uma vez que crianças afrodescendentes podem não reconhecer seu

corpo/estética nos contos destacados.

Page 19: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

19

Nesse contexto, podemos pensar no corpo afrodescendente que, ao

longo de nossa história de colonização foi desprestigiado em favor da matriz

eurocêntrica, através do processo de escravidão e perpetuado pela escassez de

políticas públicas de reparação, de diminuição da desigualdade sócio racial e

também na falta de representatividade, como nos contos de fadas que são

massificados e utilizados como referências nas escolas brasileiras.

Assim, o ser afrodescendente é um corpo com características fenotípicas

diacríticas, em sua maioria definidas pelo tom de pele, traços do rosto e cabelos.

Nesse sentido, o cabelo tem sido um dos marcadores mais peculiares nessa

caracterização racial, onde os cabelos crespos estão associados à condição

afrodescendente, sendo raramente representados nos contos de fadas, e quando

aparecem na maior parte das vezes são atribuídos aos personagens ruins, como as

bruxas.

Por muito tempo, e ainda muito presente nos dias de hoje, o cabelo

crespo sofreu e/ou sofre muitas discriminações, carregando consigo uma carga de

representações ainda muito forte e que tem atravessado séculos de colonização. A

partir do século XIX, o racismo aparece na sua forma acabada, como um

instrumento do imperialismo e como uma justificativa ‘natural’ para a supremacia dos

povos da Europa Ocidental sobre o resto do mundo (DAMATTA, 2000). O cabelo

também entra como marcador desse processo. A despeito desta questão, Quintão

afirma que

Desde pelo menos o século XIX, o cabelo liso do branco europeu vem sendo associado a características positivas – ao cabelo “bom” – enquanto o cabelo crespo do negro vem sendo associado a características negativas – ao cabelo “ruim” – categorizando crespos como inferiores a lisos (QUINTÃO, 2013).

Assim, pensar sobre esta estética da princesa e ao mesmo tempo

questiona-la, é compreender que esses contos não conseguem capturar a

diversidade de gênero e racial brasileira, perpetuando os estereótipos negativos em

Page 20: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

20

relação as mulheres afrodescendentes e simultaneamente deixando-as

invisibilizadas.

Considerações finais

Os contos de fadas trazem em seu bojo importantes contribuições para o

desenvolvimento da criança, através do encantamento e do maravilhoso conseguem

abrir portas para um entendimento de mundo e resolver conflitos existenciais das

crianças. (BETTELHEIM, 2012; MESQUITA NETO; BERVIQUE, 2010) Por outro

lado, esses contos podem gerar expectativas muitas vezes não alcançadas, como a

relação “identidade – rotulação estética”. Assim, alguns sonhos podem ser negados!

Comparando a representação das princesas nos filmes analisados com a

realidade das mulheres afrodescendentes brasileiras, percebemos que existe uma

invisibilização das personagens afrodescendentes, ou seja, das mulheres

descendentes de africanos da “vida real”. Podendo ser caracterizado como uma

inculcação de estereótipos: mulheres afrodescendentes não podem ser princesas!

Nesse sentido, a falta de representatividade pode gerar algumas consequências

negativas, como: tentativa de embraquecimento, baixa autoestima, apatia, regimes

rigorosos, alisamentos de cabelos desde a infância, dentre outros.

Logo, a expressão que sinaliza o fim da maior parte dos contos: "e

viveram felizes para sempre...", gera expectativas para as crianças que na fantasia e

no sonho projetam um futuro a partir da representação desses contos. Esse “final

feliz” pode não ser encontrado por algumas mulheres afrodescendentes ao

leres/assistirem esses contos. Por isso, pensar nessa felicidade (ou infelicidade), é

pensar diretamente sobre a relação expectativa/realidade que a criança será

submetida em sua vida: até que ponto os contos de fadas conseguem capturar a

diversidade de gênero e racial dessas crianças/jovens/mulheres afrodescendentes?

Page 21: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

21

Referências

BALISCEI, João Paulo; ANDRADE, Giane Rodrigues de Souza. Observações sobre Tiana, a primeira princesa negra da Disney. 6º Seminário Brasileiro de Estudos Culturais e Educação/ 3º Seminário Internacional de Estudos Culturais e Educação (Anais Eletrônicos), 2015. Disponível em:<http://www.sbece.com.br/resources/anais/3/1427568679_ARQUIVO_MENINOSPODEMUSARVESTIDOS-COMPLETO.pdf> > Acesso em: 09 jun. 2016.

BETTELHEIM, Bruno. A psicanálise dos contos de fadas. São Paulo: Paz e Terra, 2012.

BREDER, Fernanda Cabanez. Feminismo e príncipes encantados: a representação feminina nos filmes de princesa da Disney. Orientadora: Dra. Cristiane Henriques Costa. Monografia (Graduação em Comunicação Social/ Jornalismo) Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ, Escola de Comunicação – ECO, 2013. Disponível em: <https://literaturaexpandida.files.wordpress.com/2011/09/feminismo-e-prc3adncipes-encantados-a-representac3a7c3a3o-feminina-nos-filmes-de-princesa-da-disney.pdf> Acesso em: 09 de jun de 2016.

CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. São Paulo: Paz e Terra, 2010.

COELHO, Raimunda Ferreira Gomes; BOAKARI, Francis Musa. Por que afrodescendente? E não negro, pardo ou preto? In: ANAIS, I CONGEAFRO, Teresina: UFPI, 2013.

DAMATTA, Roberto. Digressão: a fábula das três raças. Relativizando: Uma introdução à antropologia social (1987).. Vol. 1. J. Olympio, 1933.

JOVINO, Ione da Silva. Literatura infanto-juvenil com personagens negros no Brasil. In: SOUZA, Florentina e LIMA, Maria Nazaré (Org). Literatura Afro-Brasileira. Centro de Estudos Afro- Orientais, Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006.

KHÉDE, Sônia Salomão. Personagens da literatura infanto-juvenil. São Paulo: Editora Ática, 1990.

KUPSTAS Márcia. et ali. Sete faces do conto de fadas. São Paulo. Moderna, 1993. (Coleção Veredas)

MESQUITA NETO, Rui e BERVIQUE, Janete de Aguirre. A influência dos contos de fadas na compreensão do mundo pela criança. Revista cientifica eletrônica de Psicologia. São Paulo – SP, 2010.

QUINTÃO, Ana Maria Penna. O QUE ELA TEM NA CABEÇA?: Um estudo sobre o cabelo como performance identitária. Dissertação de mestrado. Universidade

Page 22: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

22

Federal Fluminense, Instituto de Ciências Humanas e Filosofia, Departamento de Antropologia, Niterói – RJ: 2013.

SANTOS, Cristiana Ferreira dos. Literatura infantil e a identidade da criança negra: construção ou negação? Orientadora: Drª Mª de Fátima Nolleto. Monografia (Graduação em Pedagogia) Universidade do Estado da Bahia – UNB, Salvador: Departamento de educação/ UNEB, 2010. Disponível em: <http://www.uneb.br/salvador/dedc/files/2011/05/Monografia-CRISTIANA-FERREIRA-DOS-SANTOS.pdf> Acesso em: 09 de jun de 2016.

SOSA, J. A literatura infantil. São Paulo: Editora Cultrix, 1985.

FILMOGRAFIA

A Bela e a Fera (Beauty and the Beast). Direção: Gary Trousdale e Kirk Wise. Produção: Don Hahn. Walt Disney Pictures, 1991. 84 min, cor.

A Branca de Neve e os Sete Anões (Snow White and the Seven Dwarfs). Direção: David Hand, William Cottrell, Wilfred Jackson, Larry Morey, Perce Pearce e Ben Sharpsteen. Produção: Walt Disney. Walt Disney Productions, 1937. 83 min, cor.

Aladdin. Direção: Ron Clements e John Musker. Produção: Ron Clements e John Musker. Walt Disney Pictures, 1992. 90 min, cor.

Cinderela (Cinderella). Direção: Clyde Geronimi, Hamilton Luske e Wilfred Jackson. Produção: Walt Disney. Walt Disney Productions, 1950. 74 min, cor.

Pocahontas. Direção: Mike Gabriel e Eric Goldberg. Produção: James Pentecost. Walt Disney Pictures, 1995. 81 min, cor. Pocahontas. Direção: Mike Gabriel e Eric Goldberg. Produção: James Pentecost. Walt Disney Pictures, 1995. 81 min, cor.

Page 23: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

23

MARIA FIRMINA DOS REIS: GÊNERO E ETNICIDADE A PARTIR DO ROMANCE ÚRSULA

Zeila Sousa de Albuquerque3

Resumo: O presente artigo foi realizado por meio de levantamento bibliográfico; tem como objetivo analisar, a partir da perspectiva étnica e de gênero, o romance Úrsula escrito pela maranhense Maria Firmina dos Reis, no Brasil oitocentista. Evidencia-se no texto a condição de desigualdade em que as mulheres estavam submetidas em virtude do patriarcalismo. Palavras-chave: Mulher. Gênero. Etnia.

Introdução

Este artigo é um estudo feito por meio de uma pesquisa bibliográfica que

analisa o romance “Úrsula” (1859), o primeiro saído da pena de uma mulher no

Brasil, a maranhense Maria Firmina dos Reis, no século XIX. O romance é uma

importante fonte de pesquisa para os estudos de gênero e etnia, pelo deslocamento

que confere à mulher e ao negro, constituindo como uma espécie de denúncia à

exploração em que as mulheres, sobretudo as negras estavam submetidas na

sociedade brasileira oitocentista.

A incorporação do gênero como categoria abre caminhos para

entendermos melhor as desigualdades existentes entre homens e mulheres. Assim,

Scott (1998) definiu gênero como um “[...] elemento constitutivo de relações sociais

fundadas sobre as diferenças percebidas entre os sexos, sendo um primeiro modo

de dar significado às relações de poder”.

Ao trabalhar as questões de gênero é necessário estarmos atentos aos

aspectos relacionados ao sexo, sexualidade, raça/etnia, classe social e à orientação

sexual. Neste sentido, estudar a categoria gênero nos possibilita ter um olhar mais

atento para as questões que consolidam diferenças de valor entre homens e

mulheres e que acabam gerando desigualdades.

3 Pedagoga, mestra em educação – UFMA, professora do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Maranhão - IFMA. E-mail: [email protected].

Page 24: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

24

Nessa perspectiva, este estudo tem como problema norteador as

seguintes questões: Como Maria Firmina aborda em seu romance Úrsula as

relações de gênero e etnia? E como as mulheres da sociedade maranhense do

Brasil oitocentista é representada no romance por Maria Firmina?

A base desta pesquisa é o romance Úrsula. Contudo, além desta obra

literária de Maria Firmina, utiliza-se, também, leituras críticas e reflexivas de autores

que contribuíram com o tema. Na análise do romance busca-se evidenciar a

condição de desigualdade em que as mulheres estavam submetidas em virtude do

patriarcalismo no Brasil, na primeira metade do século XIX. Destaca-se que ao se

utilizar em pesquisa uma fonte literária, é de suma importância que a análise leve

em consideração o período histórico no qual a obra foi escrita.

A Mulher Maria Firmina dos Reis: afrodescendente, escritora e educadora

Maria Firmina dos Reis nasceu na Ilha de São Luís, capital da província

do Maranhão, em 11 de outubro de 1825. Filha “bastarda” de João Pedro Esteves e

Leonor Felipa dos Reis, fruto do incomum relacionamento amoroso entre uma

portuguesa e um escravo africano, era prima do escritor maranhense Francisco

Sotero dos Reis por parte de mãe.

A escritora foi autodidata no mundo das letras, instruída por meio de

muitas leituras, lia e escrevia em francês fluentemente. Conseguiu aprovação em

concurso público para lecionar as primeiras letras, na Vila de Guimarães, interior do

estado, mudando-se definitivamente da cidade de São Luís para esse local aos

cinco anos para morar com a avó, a mãe e as primas e onde viveu até o dia de sua

morte, em onze de novembro de 1917, aos 92 anos de idade (MENDES, 2013). A

instrução e o posicionamento por meio da escrita eram meios de luta em que as

mulheres do século XIX utilizavam para a conquistar espaço numa sociedade

excludente.

Em 1880, um ano antes de se aposentar, Maria Firmina funda uma escola

com aulas mista e gratuita, em Maçaricó, a poucos quilômetros de Guimarães, em

Page 25: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

25

um período que não era comum que meninos e meninas estudassem juntos. “Era

reconhecida como Mestra Régia, o que na época significava professora formada e

concursada em contraposição à professora leiga” (TELLES, 2010, p. 410).

A escola mista, criada por Firmina em 1880, foi uma revolução

educacional pelo seu pioneirismo subversivo da época. Segundo Muzart (2000, p.

265) ao fundar a primeira escola mista do país, Maria Firmina mostrou as suas ideias

avançadas para a época, já que subvertia “a ordem educacional vigente, ao quebrar

o cânone moral oficializado, que segregava os sexos em aulas separadas”.

Conforme Norma Telles (2010):

Toda manhã, subia em um carro de bois para dirigir-se a um barracão de propriedade de um senhor de engenho, onde lecionava para as filhas do proprietário. Levava consigo alguns alunos, outros se juntavam. Uma antiga aluna, em depoimento de 1978, conta que a mestra era enérgica, falava baixo, não aplicava castigos corporais nem ralhava, aconselhava.”. (TELLES, 2010, p. 412)

Por escandalizar a sociedade da época, a escola mista foi suspensa

depois de dois anos e meio, mas Maria Firmina continuou ministrando aulas,

eventualmente para crianças da região de Guimarães (MENESES, 1978).

Vale ressaltar, que a conquista do território da escrita e a carreira de

magistério não foram fáceis para as mulheres na primeira metade do século XIX,

conforme aponta Louro (2010, p.450):

A identificação da mulher com a atividade docente, que hoje parece a muitos tão natural, era alvo de discussões, disputas e polêmicas. Para alguns parecia uma completa insensatez entregar às mulheres usualmente despreparadas, portadoras de cérebros “pouco desenvolvidos” pelo seu “desuso” a educação das crianças. [...] Outras vozes surgiam para argumentar na direção oposta, afirmavam que as mulheres tinham, “por natureza”, uma inclinação para o trato com as crianças, que elas eram as primeiras e “naturais educadoras”, portanto nada mais adequado do que lhes confiar a educação escolar dos pequeninos (LOURO, 2010, p. 450).

Esse segundo discurso que as mulheres tinham “por natureza”, uma

afeição para o trato com as crianças, que eram as primeiras e “naturais” educadoras,

justificaria mais tarde a saída dos homens das salas de aula dedicando-se a ocupar

Page 26: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

26

funções mais rendosas, e “legitimava a entrada das mulheres nas escolas”,

(LOURO, 2010).

Dessa forma, a trajetória de Maria Firmina abarca a segunda metade do

século XIX e segue a primeira década do século XX, no qual desenvolveu sua

trajetória literária, incorporando a luta contra a escravidão sob o reinado de D. Pedro

II, vivenciando anos depois, a libertação dos negros e a Proclamação da República.

Atualmente, a data do seu nascimento, o dia 11 de outubro, passou a ser o Dia da

mulher Maranhense, em homenagem à escritora.

ÚRSULA: gênero e etnicidade aos olhos de Maria Firmina dos Reis

O nome de Maria Firmina dos Reis ficou no esquecimento na história da

literatura maranhense por mais de um século; este esquecimento foi objeto do

prólogo da edição fac-simile de Úrsula escrita pelo autor Horácio Almeida que

lamenta:

Pouco se sabe da autora. Seu nome, Maria Firmina dos Reis, permaneceu mais de um século sepultado no esquecimento. De espantar é que isso tenha acontecido no Maranhão, terra que foi no passado um viveiro de homens ilustres, muitos dos quais com repercussão além das fronteiras do Brasil. Eram tantos os que se acotovelavam na literatura maranhense, entre Jornalistas, poetas, escritores, ensaista, historiadores, que São Luís, a gloriosa capital do Maranhão, granjeou fama de Atenas brasileira. Nenhum, entretanto, tomou conhecimento da autora, certamente porque era mulher, numa época em que o homem fazia alarde da proclamada superioridade do sexo. (ALMEIDA, 1975, p. 03)

Percebe-se na fala do autor o total silêncio em torno do nome da escritora

maranhense. O resgate da obra de Maria Firmina deu-se somente no final do século

XX, por volta de 1973, a partir da pesquisa de Nascimento de Moraes Filho.

“Descobrimo-la, casualmente, em 1973 ao procurar nos bolorentos jornais do século

XIX, na biblioteca Benedito Leite” (MENDES apud MORAIS, 2016, p. 41).

Segundo Mendes (2016, p. 41), a causa do espanto e da curiosidade de

Nascimento de Morais deu-se principalmente por duas indagações: “quem era

aquela mulher que no século passado já escrevia em jornais, e por que ele, assim

Page 27: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

27

como tantos outros intelectuais, não a conhecia e não tinham nenhum conhecimento

sobre a obra da precursora?”.

Maria Firmina foi uma mulher à frente do seu tempo, pois não somente

escreveu em jornais, mas também publicou livros. Verifica-se na historiografia

brasileira que somente a partir da escolarização feminina em meados da segunda

metade do século XIX, é que se inicia a construção da identidade da mulher como

um agente social e político. Embora a formação intelectual ainda fosse precária,

nesse período cresceu o número de mulheres instruídas. Assim sendo, a imprensa

passou a ser um veículo de exposição de ideias, os jornais passaram a ser

organizados, editados e escritos por mulheres. Para Schmidt (1995, p. 187): “A

literatura feita por mulheres envolve dupla conquista: a conquista da identidade e a

conquista da escritura”. Nessa perspectiva, a mulher enquanto agente discursivo,

deixa de ser apenas objeto do discurso masculino.

Em 1859, décadas antes de fundar a escola mista, Maria Firmina aos 34

anos, publicou o romance Úrsula sob pseudônimo “Uma maranhense” 4, fato este

muito comum em uma época em que as mulheres viviam submetidas a várias

limitações e preconceitos. Conforme mostra as primeiras palavras de Maria Firmina

no romance:

Não é a vaidade de adquirir nome que me cega, nem o amor próprio de autor. Sei que pouco vale este romance, porque escrito por uma mulher, e mulher brasileira, de educação acanhada e sem o trato e a conversação dos homens ilustrados, que aconselham, que discutem e que corrigem, com uma instrução miserrima, apenas conhecendo a língua de seus paes, e pouco lida, o seu cabedal intelectual e quase nulo. (REIS, 1859, p.05).

A autora oculta-se no anonimato e mostra sua modéstia. Fala no prefácio

do livro, de pequeno cabedal nas letras para tão ousado empreendimento, sem

convívio, ao menos, com homens letrados de quem pudesse receber conselhos.

No entanto, na chamada sobre a publicação do romance, pela Tipografia

do Progresso impressa por B. de Mattos em São Luís, 18 de fevereiro de 1860

4 Ela utilizou outros pseudônimos (uma senhora, uma brasileira, entre outros). Contudo, a partir de agosto de 1860, os anúncios nos periódicos já informam o nome da autora do romance Úrsula; acredita-se que esse aceitação se deu devido à sua boa recepção (MENDES, 2014, p. 44).

Page 28: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

28

demonstra-se a importância de sua obra. Segundo Mendes (2013, p. 53), logo após

a publicação do romance, ele “alcança propagandas positivas em diversos jornais

locais”:

Úrsula romance brasileiro por uma maranhense um volume em preço de 2$000. Esta obra, digna de ser lida não só pela singeleza e elegância com que é escrita, como por ser a estreia de uma talentosa maranhense, merece toda a proteção pública para animar a sua modesta autora a fim de continuar a dar-nos provas do seu belo talento. (MENDES, 2014, p. 44). Jornal A moderação – Crônica Semanária ÚRSULA – Acha-se à venda na Tipografia do Progresso, este romance original brasileiro, produção da exma. sra. D. Maria Firmina dos Reis, professora pública em Guimarães. Saudamos a nossa comprovinciana pelo seu ensaio, que revela de sua parte bastante ilustração: e, com mais vagar emitiremos a nossa opinião desde já afiançamos não será desfavorável à nossa distinta comprovinciana. – 11 de agosto de 1860 (apud MORAES FILHO, 1975, s.p.).

Maria Firmina dos Reis colabora a partir daí com a imprensa maranhense

através da publicação de livros, poemas, contos e com a composição de letra e

música de um hino em homenagem à abolição dos escravos. Um fragmento do Hino

da abolição canta: “Quebrou-se enfim a cadeia da nefanda Escravidão! Aqueles que

antes oprimias, hoje terás como irmão!”. (TELLES, 2010, p. 416).

Publicou, também, o romance indianista “Gupeva” (1861), as poesias de

“Cantos à beira-mar” (1871), e o conto “A escrava” (1887). Os dois romances

destacam em seus enredos a marginalização do outro: da mulher, do negro e do

índio, no primeiro, D. Narcisa de Villar, e da mulher e do negro, em Úrsula.

“Úrsula” é considerado o primeiro romance de autoria feminina no Brasil

que registrou a temática abolicionista. Maria Firmina foi precursora de um discurso

na literatura brasileira que tornou pública as condições de submissão do negro e da

mulher na sociedade brasileira oitocentista, sociedade esta marcada pelo

preconceito em que sob a justificativa biológica, as mulheres carregavam o estigma

de seres inferiores intelectualmente, de fragilidade física e emocional. Estavam

relegadas ao espaço privado, exercendo atividades estritamente domésticas, como

o cuidado da casa e família. “O domínio da casa era claramente o seu destino [...]

Page 29: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

29

Sua circulação pelos espaços públicos só deveria se fazer em situações especiais,

notadamente ligadas às atividades da igreja que com suas missas, novenas e

procissões, representava uma das poucas formas de lazer” (LOURO, 2010, p. 446).

Nessa perspectiva, o romance Úrsula é uma obra de vanguarda, porque

trata das questões de gênero e étnica racial, abordando a opressão dos

afrodescendentes e a opressão da mulher numa sociedade patriarcal. A escravidão

é o cenário social do enredo que retrata essa questão sob o ponto de vista dos

próprios escravos, tendo em vista que os personagens escravos Túlio e Susana

desempenham papéis determinantes, ela foi arrancada da África quando jovem e

escravizada no Brasil por dois cruéis senhores. Mãe Susana tem voz e um passado

que é relembrado quando vivia livre na mãe África

Ao escrever o nono capítulo, intitulado “A preta Susana”, Firmina fala

sobre o passado vivido na África. A personagem Susana é de suma importância

para entendermos o discurso antiescravagista proferido na primeira pessoa, falando

da sua condição de escrava e como era antes quando vivia livre na África outrora.

Segundo Mendes (2016):

Maria Firmina dos Reis, ao criar a personagem Susana, personificação do sentimento africano, contraria tudo que já tinha sido feito até então. A negra Susana é a imagem do africano que tirado à força, de forma brutal e bestial, de sua terra natal, foi animalizado e classificado como objeto, coisa, mão-de-obra forçada e gratuita para senhores inescrupulosos. É ela quem explica ao jovem Túlio, escravo alforriado pelo branco Tancredo, o sentido da verdadeira liberdade. (MENDES, 2016, p.106).

Assim, Maria Firmina discute questões sobre cativeiro, liberdade, diáspora

negra, entre outros. Sua narrativa aponta um posicionamento político de denúncia às

injustiças contra os negros e mulheres, e a personagem Mãe Susana é a voz

feminina, “um elo vivo entre a memória ancestral e a consciência da subordinação”

(MENDES, 2016, p. 107). A autora dá voz ao negro, a preta Susana é a porta-voz do

discurso antiescravagista:

No romance, as personagens protagonistas são brancas, e as negras são todas secundárias, mas muito significativas, já que através delas são abordadas questões fundamentais, como a problemática da escravidão

Page 30: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

30

negra. São as personagens negras e escravas que fazem com que o romance adquira um tom de denúncia, assim como expressa sentimentos de igualdade, fraternidade e liberdade, misturados a resignação e revolta. Enquanto outros autores do século XIX punham mordaças nas bocas dos negros, Maria Firmina lhes dá voz, para expressarem suas angustias e anseios na terra estranha. (MENDES, 2016, p. 101)

Sendo assim, Maria Firmina em Úrsula, mostra o seu discurso ideológico

da abolição da escravidão dos negros, as relações de poder que se dão entre os

senhores de escravos e africanidades, entre homens e mulheres, a estrutura do

poder colonial gerida por uma sociedade patriarcal.

Outro diferencial da autora ao abordar a questão racial no romance, é no

tocante a representação da mulher negra, ao descrever as características físicas da

personagem negra Susana não explora o lado sexual, é delineada como uma mulher

de corpo descarnado e sofrido em virtude da escravidão, diferentemente do

arquétipo recorrente na literatura brasileira do século XIX, que é o da negra vulgar,

imoral, carnal, entre outros.

A personagem Susana possui fortes valores, pois é “uma mulher escrava,

e negra como ele; mas boa, e compassiva” (REIS, 1859, p. 88).

A personagem, como mulher, reproduz o discurso sobre as mulheres de sua época, não importa se mulher negra ou branca, as mulheres corretas sempre são anjos, como sua filha, inocente e angelical. Quanto mais próximas da inocência, mais perto do ideal celeste estão as mulheres da primeira metade do século XIX. Por outro lado, a personagem não concorda com a forma como seus irmãos escravizados. (MENDES, 2013, p. 132).

Susana é defensora da justiça, da honra, da verdade. Ela é a voz da

autora, que bradava por igualdade, que enxergava negros e brancos como irmãos. É

por meio dessa personagem que Maria Firmina demonstra a violência que os negros

sofreram ao serem trazidos para o Brasil, os infortúnios sofridos na travessia dos

navios negreiros, uma estratégia da autora para revelar aos seus leitores a

crueldade da escravidão.

Contudo, em se tratando da personagem principal do romance, a jovem

Úrsula, Maria Firmina a personificou como o ideal de mulher da primeira metade do

Page 31: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

31

século XIX, ou seja, é tudo que se pretendia que toda mulher deveria ser: virtuosa,

pura, afetiva, correta, dócil, maternal em seus cuidados para com o outro. Ao fazer

referência a personagem a autora diz que ela “é um anjo de beleza e de candura”

(REIS, 1859, p. 17).

Úrsula, a mimosa filha de Luisa B..., a flor daquelas solidões [...] Esse anjo de sublime doçura [...]. Bela como o primeiro raio de esperança [...]. Era ela tão caridosa... tão bela... e tanta compaixão lhe inspirava o sofrimento alheio, que lágrimas de tristeza e de sincero pesar se lhe escaparam dos olhos, negros, formosos, e melancólicos (REIS, 1859, p. 22).

Verifica-se que a personagem Úrsula, é o exemplo de comportamento

social a ser seguido na época. Conforme nos mostra Mendes 2013:

[...] inúmeras representações sociais sobre as mulheres da primeira metade do século XIX no Maranhão (e mesmo no Brasil), estão personificadas na figura da personagem Úrsula. A mulher era considerada um ser passivo e de natureza dócil e frágil. Além disso, deveria estar subordinada ao homem, casando-se virgem e servindo ao seu marido, sendo-lhe fiel. As jovens deviam respeito e obediência à família, no caso de nossa protagonista, ela nutria profundo respeito pela figura materna. Não há na narrativa nenhuma referência à instrução e/ou ao trabalho da mulher. Úrsula realiza apenas afazeres domésticos. Ela e sua mãe passam por diversas necessidades financeiras, pois nenhuma das duas exerce um trabalho remunerado e também não têm uma figura masculina que intervenha por elas (MENDES, 2013, p. 112).

Contraposto da Santa virgem Úrsula que era frágil, doce, piedosa e pura,

a personagem Adelaide órfã de mãe e pai, tem a representação de mulher

“demônio”, anjo decaído, com comportamentos que precisaria ser combatido. Sendo

ela considerada como uma mulher altiva, vaidosa, cruel e ambiciosa, interesseira e

segura, que ostenta os luxos proporcionado pelo casamento:

[...] Adelaide passa a ser apresentada aos leitores como a Eva pecadora, que se deixou seduzir pela serpente. No caso de Adelaide, a serpente é o próprio dinheiro, a ascensão social. E a personagem Adelaide é a representação da pecadora Eva, o arquétipo primordial de todas as mulheres que não seguem o caminho correto, esperado, desejado para seu gênero. (MENDES, 2013, p. 118).

Maria Firmina por meio dessa personagem, descreve uma imagem de

mulher diferente, uma mulher infratora.

Page 32: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

32

Outra personagem é a Mãe de Tancredo, apresentada como a

personificação da mãe, símbolo de docilidade e amor sem limites aos filhos,

característica entendida como natural de toda a mulher na primeira metade do

século XIX. Assim, a mulher ideal está na representação da figura materna. A mãe

de Tancredo era uma “mulher obediente e temerosa do comportamento, das

vontades do esposo” (MENDES, 2013, p. 124).

Maria Firmina ao mostrar no romance a representação sobre as mulheres

na primeira metade do século XIX no Maranhão, principalmente no que se refere aos

modelos de bom e mau comportamento feminino, critica a violência como os

homens abordavam suas esposas. “Tanto a mãe de Tancredo como Luísa B..., mãe

de Úrsula, são mostradas como mulheres que sofreram com os comportamentos

tirânicos ou levianos respectivamente, de seus esposos. E esse sofrimento fica

visível na forma física como as duas mulheres são representadas no enredo”.

(MENDES, 2013, p. 127).

Considerações finais

Ao longo desta pesquisa, procura-se compreender a representação da

mulher negra no romance Úrsula na segunda metade do século XIX, a partir da

perspectiva étnica e de gênero, examinando-se os estereótipos femininos utilizados

por Firmina na referida obra, no qual percebe-se dois tipos de mulher: a mãe dócil e

gentil de amor incondicional aos filhos e a demônio ambiciosa, vaidosa.

Ao analisar a obra Úrsula de Maria Firmina dos Reis, percebe-se que a

autora em grande parte das suas personagens, incorporou as representações

sociais sobre as mulheres na primeira metade do século XIX, notadamente no que

se refere aos predicados de boa mãe, boa esposa, mulher adequada. São

personagens de mulheres que apesar de resignadas, servem para denunciar a

tirania que muitas estavam submetidas numa sociedade patriarcal.

A autora condena o modo como os homens tratavam suas esposas,

especialmente a violência que sofriam por serem consideradas inferiores. Porém,

Page 33: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

33

sem romper com a visão de mulher ideal. É uma narrativa que traz um discurso

antiescravagista, que tece crítica a respeito da escravidão.

Referências

LOURO, Guacira Lopes. Mulheres na sala de aula. In: PRIORI, Mary (Org.). História das Mulheres no Brasil. São Paulo: Contexto, 2010.

SCOTT, Joan. Wallach. Uma categoria útil de análise histórica. Educação e realidade, Porto Alegre, 16 (2), 1998, pp. 5-22.

MENDES, Algemira Macêdo. Maria Firmina dos Reis e Amélia Beviláqua na história da literatura brasileira: representação, imagens e memórias nos séculos XIX e XX. 2006. Tese (Doutorado em Teoria Literária) – Pontifícia Universidade Católica, Porto Alegre, RS.

______________________. A escrita de Maria Firmina dos Reis na Literatura Afrodescendente Brasileira: Revisitando o Cânone. São Paulo: Chiado, 2016.

MENDES, Melissa Rosa Teixeira. Uma análise das representações sobre as mulheres no Maranhão da primeira metade do século XIX a partir do romance Úrsula, de Maria Firmina dos Reis. (Dissertação/UFMA): São Luís, 2013.

MENESES, Raimundo de. Dicionário literário brasileiro. Prefácio de Antônio Candido; apresentação de José Ederaldo Castello. 2 ed. Rio de Janeiro: Livros Técnicos e Científicos, 1978, p. 570-571.

MORAES FILHO, José Nascimento. Maria Firmina, fragmentos de uma vida. São Luís: COCSN, 1975.

MUZART, Zahidé Lupinacci. Maria Firmina dos Reis. In: MUZART, Z. L. (Org.). Escritoras Brasileiras do século XIX. Florianópolis: Editora Mulheres, 2000, p. 264- 284.

REIS, Maria Firmina. Úrsula: Romance original brasileiro. Edição fac-similar: São Luís/BPBL, 1975.

TELLES, Norma. Escritoras, escritas e escrituras. In: PRIORE, Mary Del. História das mulheres no Brasil. São Paulo: Editora Contexto, 2010.

Page 34: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

AASS MMUULLHHEERREESS AAFFRROODDEESSCCEENNDDEENNTTEESS NNOOSS SSEERRVVIIÇÇOOSS

GGEERRAAIISS DDAASS IINNSSTTIITTUUIIÇÇÕÕEESS DDEE EENNSSIINNOO

Page 35: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

35

MULHERES NEGRAS, TRABALHO E EDUCAÇÃO: LIMPANDO OS ESPAÇOS ESCOLARES E TECENDO RELAÇÕES SOCIAIS

Ana Cláudia Batista da Silva

Elaine da Conceição da Silva Denílson Medeiros dos Santos

Kelly Almeida de Oliveira

Resumo: Sabe-se que na sociedade em que vivemos o mercado de trabalho está cada vez mais competitivo principalmente para a população negra, e para as mulheres essa problemática se torna muito mais difícil. Diante disso, este artigo visa apresentar posições acerca da seguinte problemática, a saber: quais são as relações intra-sociais apresentadas por tais mulheres no tocante ao âmbito escolar (escola e demais funcionários).Devido a uma ausência de pesquisas relacionadas a tal aspecto, este artigo visa mostrar como ocorre esse processo de relações sociais entre os indivíduos envolvidos nesse contexto.Tendo como objetivo verificar como ocorre o processo de construção das relações sociais dessas mulheres no ambiente escolar. Para tanto, foram utilizadas entrevistas de caráter investigativo com mulheres que se declaram negras que trabalham como zeladoras em algumas instituições de ensino do município de Timbiras, localizado no estado do maranhão. Utilizaram-se também pesquisas bibliográficas em que se utilizou livros, dissertações e artigos científicos publicados nos últimos anos relacionados à temática de alguns autores como Karl Marx (1867), Chimamanda Adichie (2015) e Jaqueline Nogueira Cambota (2007). Deste modo, verificou-se que as mulheres negras são as que mais ocupam tais cargos como zeladoras, executando afazeres de limpeza e conservação no âmbito dos espaços educacionais. Os resultados obtidos mostram que apesar de alguns lugares ainda possuírem as desigualdades raciais, as entrevistadas relatam que possuem boas relações com as pessoas em seu convívio escolar.

Palavras-chave: Trabalho, Mulheres negras, Ambiente Escolar, Relações Sociais.

Introdução

O trabalho é denominado como um conjunto de atividades produtivas ou

criativas que o homem exerce para atingir determinado fim, isto é uma atividade

profissional regular, remunerada ou assalariada. Nesse sentido Karl Marx (1867, p.1)

diz que“antes de tudo, o trabalho é um processo de que participam o homem e a

natureza, processo em que o ser humano com sua própria ação impulsiona, regula e

controla seu intercâmbio material com a natureza”.

Assim, o ser humano, está inserido no âmbito do trabalho, mesmo que os

regimes escravistas tenham passado, as desigualdades raciais permanecem e os/as

negros continuam em posições inferiores no mercado de trabalho. Envolvidas nesse

contexto estão às mulheres, as quais são vistas pela sociedade e, principalmente

pelos homens, meramente como donas de casa ou empregadas domésticas.

Page 36: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

36

Com as mulheres afrodescendentes não é diferente, são criadas

ideologias relacionadas ao gênero e a cor em relação à mulher negra sendo que os

serviços mais comuns franqueados nas instituições de ensino para estas, são os

serviços gerais. Principalmente pelo baixo nível de escolaridade dessas mulheres e

pela classe social a qual se insere. Ocorrendo assim enfrentamentos pré-conceituais

devido à cor, como por exemplo, agressões verbais e discriminações sem

justificativas concretas.

Há lugares em que esses são aspectos bem explícitos e lugares em que

essa ideia vem se modificando aos poucos e o preconceito vem diminuindo. No

entanto, em instituições de ensino os serviços disponíveis à mulher negra são

serviços de limpeza e cozinha, pois é a oportunidade para as mulheres pobres e

negras.

Diante disso, este artigo visa apresentar posições acerca da seguinte

problemática, a saber: quais são as relações intra-sociais apresentadas por tais

mulheres no tocante ao âmbito escolar (escola e demais funcionários).

Devido a uma ausência de pesquisas relacionadas a tal aspecto, este

artigo visamostrar como ocorre esse processo de relações sociais entre os

indivíduos envolvidos nesse contexto. Tendo assim, como objetivo verificar como

ocorre o processo de construção das relações sociais dessas mulheres no ambiente

escolar.

Mostrando assim, resultados de algumas entrevistas de caráter

investigativo com mulheres que se declaram negras que trabalham como zeladoras

em algumas instituições de ensino do município de Timbiras, localizado no estado

do Maranhão. Utilizaram-se também pesquisas bibliográficas em que se utilizou

livros, dissertações e artigos científicos publicados nos últimos anos relacionados à

temática de alguns autores como Karl Marx (1867), Chimamanda Adichie (2015) e

Jaqueline Nogueira Cambota (2007).

O artigo está organizado a partir de cinco tópicos: primeiro, a presente

introdução; segundo, o referencial teórico; terceiro, a metodologia; no quarto

encontram-se os resultados; e, no quinto consta as considerações finais.

Page 37: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

37

Relações de trabalho da população negra: capitalismo

Para entender-se o processo de organização sistemática do trabalho

negro no Brasil deve-se buscar um pouco desse contexto histórico e analisar como

era o funcionamento do trabalho depois do descobrimento do Brasil. Nesse sentido,

Assis (2009, p.1) afirma que os portugueses com intuito de povoar a colônia e

aproveitar o clima e as características do solo brasileiro principalmente para o cultivo

de cana, necessitariam de formas de trabalhos específicas que ainda não haviam ter

sido definido.

Portugal já era experiente em utilizar mão de obra escrava e certamente

se o trabalho utilizado fosse o trabalho livre os lucros não seriam os lucros

esperados. Então se introduziu o trabalho escravo na extração do pau-brasil com a

mão de obra escrava indígena e posteriormente o cultivo da cana-de-açúcar com a

mão de obra escrava africana. As relações de trabalho eram adversas aos direitos

humanos, como por exemplo, jornada de trabalho ultrapassavam 15 horas diárias

sem falar a vivência nas senzalas que eram totalmente degradantes e indesejáveis

como reitera Assis (2009,p.2).

Contudo, ocorre a transição do trabalho escravo para o trabalho livre

porque o sistema capitalista exerce sua influência sobre a sociedade contrapondo os

parâmetros impostos pelos portugueses. Surgem então novas possibilidades de

investimentos no mundo capitalista. O capitalismo tem como base a tendência a

subordinar tudo ao interesse e ao lucro. Vejamos o que Karl Marx fala sobre o

sistema capitalista quando chama a atenção para duas classes básicas desse

sistema:

Desde o primeiro instante, são duas as características que distinguem o modo capitalista de produção. Primeira. Ele produz os seus produtos como mercadorias. O fato que produz mercadorias não o distingue de outros modos de produção; o que o distingue é a circunstância de que o ser mercadoria constitui o caráter dominante e determinante dos seus produtos. Isto implica antes de tudo, o fato de que o próprio operário somente aparece como vendedor de mercadorias, ou seja, como trabalhador livre assalariado, de tal maneira que o trabalho aparece, em geral, como trabalho assalariado. (...) Os principais agentes deste modo de produção, o capitalista e o operário assalariado, determinados característicos sociais que o processo

Page 38: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

38

social de produção imprime nas pessoas, produtos destas relações determinadas de produção. (...) O Segundo característico do modo capitalista de produção é a produção da mais valia, como finalidade direta e o móvel determinante da produção. O capital produz essencialmente capital e isto somente na medida em que ele produz mais- valia. (MARX, 1946 apud LANNI, 1980.p. 8-9).

Nesse sentido a mais-valia, a mercadoria e o produto estão interligados

com a organização sistema do capitalismo. O trabalhador não usufrui do seu

trabalho e torna-se uma mercadoria, pois quanto mais produz menos ganha pelo seu

trabalho. Assim diz Karl Marx:

O trabalhador é tanto mais pobre quanto mais riqueza produz, quanto mais cresce sua produção em potência e em volume. O trabalhador converte-se numa mercadoria tanto mais barata quanto mais mercadorias produz. A desvalorização do mundo humano cresce na razão direta da valorização do mundo das coisas. O trabalho não apenas produz mercadorias, produz também a si mesmo e ao operário como mercadoria, e justamente na proporção em que produz mercadorias em geral. (MARX,2001apud OLIVEIRA e QUINTANEIRO 2009. p.2)

O indivíduo em busca de melhoria de vida ingressa no mercado de

trabalho buscando melhores condições vivenciais. Porém, nem sempre o trabalho é

valorizado como deveria. Como diz Quintaneiro (2010.p. 33), “A estrutura de uma

sociedade depende do estado de desenvolvimento de suas forças produtivas e das

relações sociais de produção que lhes são correspondentes”. Os indivíduos

fortalecem-se a partir do momento em que seu trabalho passa a ser valorizado e que

constroem boas relações sociais em seu ambiente de trabalho, trazendo assim, uma

melhoria tanto na produção quando na sociedade.

Diferenciação do trabalho masculino e feminino

A desigualdade entre homens e mulheres em variados aspectos é notável

no mundo atual. De acordo com Adichie (2015, p.19-20),“existem mais mulheres do

que homens no mundo – 52 % da população mundial é feminina, mas os cargos de

poder e prestígio são ocupados pelos homens”.

Page 39: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

39

Desde a infância, é imposto que os homens são os mais fortes e os mais

capacitados. E apesar das mulheres já estarem conquistando espaços maiores no

mercado de trabalho, os homens ainda se sobressai obtendo melhor prestígio nas

atividades. Nesse sentido, Adichie assevera que:

A questão de gênero é importante em qualquer canto do mundo. É importante que comecemos planejar e sonhar um mundo diferente. Um mundo mais justo. Um mundo de homens mais felizes, de mulheres mais felizes, mais autênticos consigo mesmos. (Ibid, p.30).

Os homens vêem as mulheres simplesmente como donas de casa úteis

nos serviços domésticos. Porém, muitas dessas mulheres trabalham em serviços

domésticos para a melhoria da renda familiar, incluindo em sua maioria as mulheres

negras, e ainda possui o trabalho desvalorizado pela sociedade e principalmente

pelos homens.

Trabalho: mulheres brancas e negras

A diferenciação entre mulheres brancas e negras no mercado de trabalho

é evidente tanto desde os serviços mais bem visto pela sociedade quanto por

aqueles considerados de baixo nível. “A realidade vivenciada pelas mulheres negras

brasileiras, na maior parte das vezes, traz no seu interior relatos de discriminação e

desqualificação, principalmente, no mercado de trabalho” (ASSIS, 2009.p.5).

A inserção das mulheres negras no mercado de trabalho tem se tornado

cada vez mais complexa e os melhores espaços de trabalho são ocupados pelas

mulheres brancas, restando assim os serviços menos valorizados como, por

exemplo, os serviços domésticos.

O perfil dessa ocupação tem, assim, ocupado posição central nas possibilidades de incorporação das mulheres ao mercado de trabalho, particularmente das negras, pobres e sem escolaridade ou qualificação profissional (FARIAS et al, 2014.p.363)

Page 40: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

40

Na maioria das vezes, as mulheres negras são obrigadas pelas

circunstâncias a se sobrepor aos parâmetros impostos pela sociedade,

classificando-o como um trabalho sem prestígio, assim uns vivem do trabalho e

outros trabalham para sobreviver. Enquanto os brancos possuem as melhores

oportunidades de ensino para ingressar em trabalhos que possuem valorização e

prestígio. Assim, Cambota e Pontes (2007, p.348) em sua pesquisa concluem que:

A desigualdade de rendimentos por gênero se mostrou mais elevada para as ocupações em que a escolaridade é maior e com tendência crescente ao longo da distribuição. Este último fato sugere que o mercado de trabalho brasileiro pode estar impedindo mulheres de ocuparem cargos de melhor remuneração e, consequentemente, dificultando a mobilidade social feminina e contribuindo para o grau de feminização da pobreza.

Quanto às mulheres negras, os autores afirmam que:

o mercado de trabalho brasileiro discrimina homens negros e mulheres brancas e negras, mas a pior situação é a da mulher negra, que sofre com uma discriminação setorial-regional-cupacional maior do que os homens da mesma cor e as mulheres brancas (CAMBOTA; PONTES, 2007, p 332).

Assim percebe-se que as mulheres negras possuem seu trabalho

desvalorizado principalmente em relação às mulheres brancas E um dos Aspectos

influenciadores de homens ou mulheres brancas ocuparem os trabalhos mais

valorizados é o preconceito.

Segmentos para obtenção de dados

A metodologia constitui-se inicialmente na revisão bibliográfica acerca da

temática abordada na introdução por meio de um estudo de caráter

investigativosobre o processo de trabalho dos negros, incluindo as mulheres na

sociedade atual.A pesquisa foi composta por artigos publicados nos últimos anos, e

alguns livros relacionados ao trabalho.

Page 41: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

41

Tendo em vista que a proposta deste artigo é mostrar resumidamente as

relações sociais das mulheres negras nas instituições de ensino, foram realizadas

entrevistas de natureza qualitativa. Nesse sentido, foram questionadas três

zeladoras(identificadas como Entrevistada A, B e C)que trabalham nas Escolas

Municipais da cidade de Timbiras, Unidade Escolar Maranhão Sobrinho, Unidade

Escolar José Sarney e Unidade Escolar Leda Tajra, respectivamente. Elas foram

indagadas sobre o processamento de relações com gestores, professores alunos e

colegas no ambiente de trabalho. Buscou-se saber se as mesmas passaram por

constrangimentos retratando, ainda, aspectos negativos e positivos em ligação a sua

função na escola.

Análise e intervenções

Para realização das entrevistas as mulheres escolhidas foram mulheres

que se consideravam negras e que, de livre e espontânea vontade respondessem as

perguntas dirigidas a elas. Em uma pesquisa de campo pode-se observar que as

escolas possuíam boas estruturas, eram bem localizadas e apesar de não

possuírem muitos recursos, o ambiente das mesmas ofereciam uma área de lazer

para os alunos.

As mulheres que participaram das entrevistas encontravam-se na faixa

etária de 23 anos a 39 anos; duas eram casadas e uma solteira e todas se

autodeclararam negras e com ensino fundamental incompleto. As entrevistadas

responderam a um questionário com as seguintes questões: Quais os pontos

positivos e negativos do trabalho que você realiza? Relate como é a sua relação

social no seu ambiente de trabalho; Você já passou por alguma situação

constrangedora por mulher/negra?

Observou-se que há companheirismo entre colegas, que não há o

reconhecimento do trabalho por alguns gestores e professores e que em algumas

vezes acontece o julgamento pela aparência, isto é, o preconceito.

Page 42: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

42

Relação social com os colegas de trabalho

A entrevistada A afirma que “a amizade e o companheirismo são muito

importantes, pois no mundo que vivemos ninguém vive sozinho, todo mundo precisa

de alguém”, demonstrando que possui uma boa relação com as pessoas no seu

ambiente de trabalho dizendo que a relação social com seus colegas é”Normal.

Todo mundo se entende, todo mundo se ajuda”.E para que aja uma boa relação

entre indivíduos tanto em variados lugares quanto em ambiente de trabalho é

necessário que já exista algo que proporcionou a construção desse pensamento,

como por exemplo, os valores.

Nesse sentido, Cardozo e Silva (2014, p.29) dizem que: “O

desenvolvimento das pessoas no contexto organizacional depende do

relacionamento interpessoal, sendo o homem influenciável e influenciador pela

organização de acordo com seu conjunto de valores”, como por exemplo, o respeito,

a amizade, e o companheirismo.

Já a entrevistada B diz que a relação com os seus colegas de trabalho

“depende de mim, eu gosto de ter um bom relacionamento com todas as pessoas

principalmente com os meus colegas que estão comigo o dia todo, tento ser sempre

legal e simpática, mas sempre tem umas fofoquinhas”. A entrevista B relata que

mesmo trabalhando em um mesmo ambiente e sendo amigável, surgem alguns

problemas básicos como as fofocas: “negativo aqui na escola, só a questão das

fofocas, é um falando do outro, mas nada muito grave”.

Assim Cardozo e Silva (2014.p.31) dizem que “Os problemas ou os

conflitos surgem quando há dificuldade em conciliar as diferenças e os desejos

individuais” mais quando as pessoas veem as coisas de maneira diferente, ou

acontece de aceitarem a opinião uns dos outros, ou ocorre atrito. Contudo, as

mulheres não deram importância a essa questão, afirmando que no ambiente

escolar, no seu ambiente de trabalho tudo acaba dando certo.

Page 43: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

43

Relação social com gestores e professores

Uma questão abordada pela entrevistada C é a falta de reconhecimento

do trabalho. Ela diz que “nem sempre as pessoas que a gente serve reconhece o

nosso trabalho, principalmente as pessoas que trabalham na área administrativa da

escola, eles só ver o nosso erro quando fazemos alguma coisa errada, aí eles ver”.

Nesse sentido, percebe-se que há uma indiferença, o que torna essas mulheres

desmotivadas ao realizarem seus afazeres, o que dificulta a interação entre ambos,

com diz Cardozo e Silva (2014.p.32): “sentimentos de antipatia e rejeição tenderão à

diminuição das interações, ao afastamento, à menos comunicação, repercutindo

desfavoravelmente nas atividades, com provável queda de produtividade.”

A entrevistada C relata que por mais que se esforce para fazer o seu

trabalho corretamente, ainda ocorre erros e quando isso acontece logo às pessoas

que trabalham na área administrativa reclamam. Mas fala ainda que “a relação com

alguns professores é boa, eles são gente boa, mas só depois de um tempo, porque

assim que chegam na escola parecem que são arrogantes”, demonstrando que a

relação com o professores é construída no decorrer do tempo.

Relação social com os alunos

As mulheres entrevistadas afirmam que não sofrem preconceito

frequentemente pelos alunos. Diz a entrevistada C:“há sempre aqueles meninos que

sempre respeitam a gente”, mas a entrevistada B diz “tem aquelas meninas que são

filhas de papaizinhos que tratam a gente como se não fossemos ninguém e aqueles

meninos salientes”.Muitas vezes o relacionamento entre funcionários e alunos se

torna primordial para uma boa convivência no âmbito escolar, mas nem sempre isso

acontece, pois como dito, há sempre aqueles que não respeitam e que acabam

praticando o preconceito.

Constata-se então que a relação com alguns alunos é boa, contudo há

aqueles que desmerecem os zeladores escolares simplesmente por trabalharem nos

Page 44: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

44

serviços gerais ou até por serem negros, praticando assim o preconceito racial e o

preconceito de classe social.

Considerações finais

Por fim, enfatizamos como a sociedade se porta mediante a ocupação

dos cargos no mercado de trabalho, em que as mulheres negras são as mais

desvalorizadas e principalmente o tipo de trabalho que ele exerce, na qual, devido a

baixa escolaridade e condições econômica vulnerável essas mulheres precisam

trabalhar fora de casa, e os empregos destinado a essas mulheres são a cozinha e

limpeza.

Contudo, com o resultado obtido observa-se que essa realidade vem se

modificando aos poucos, na qual a relação social de mulheres afrodescendentes,

que trabalham em serviços gerais nas instituições de ensino, é considerada

agradável. Isso foi visto de acordo com as entrevistas realizadas, mostrando que as

relações sociais com colegas, alunos, professores e gestores são imprescindíveis

para construção de valores agradáveis e relevantes.

Conclui-se que o trabalho realizado é de suma importância para que haja

uma maior compreensão em relação a esses aspectos e para que haja uma reflexão

que nos faz repensar que uma boa relação social contribui para uma sociedade, mas

igualitária.

Referências

ADICHIE, Chimamanda Ngozi. Sejamos todos feministas. Tradução Christina Baum. 1a ed. São Paulo: Companhia das Letras, 2015.

ASSIS, Jussara Francisca. Relações de trabalho da população negra no Brasil: situação das trabalhadoras negras e a contribuição das políticas públicas e do Serviço Social para o enfrentamento das desigualdades. In: IV JORNADA INTERNACIONAL DE POLÍTICAS PÚBLICAS. Neoliberalismo e lutas sociais: perspectivas para as políticas públicas, 2009, São Luis - MA. Anais... Universidade Federal do Maranhão, 2009.

Page 45: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

UNIVERSIDADE FEDERAL DO MARANHÃO – UFMA

ANAIS DO VI ENCONTRO MARANHENSE SOBRE EDUCAÇÃO, MULHERES E RELAÇÕES DE GÊNERO E VI SIMPÓSIO MARANHENSE DE PESQUISADORAS (ES) SOBRE MULHER, RELAÇÕES DE GÊNERO E EDUCAÇÃO

(VI EMEMCE E VI SIMPERGEN) - 11 a 14 de setembro de 2017 - ISSN 2526-3803

45

CAMBOTA, Jacqueline Nogueira; PONTES, Paulo Araújo. Desigualdade de rendimentos por Gênero Intra-ocupações no Brasil. 2004. Revista Econômica Contemporânea. Rio de Janeiro, v. 11, n. 2, ago. 2007.

CARDOZO, Carolina Garcia; SILVA, Leticia Oliveira Silva. A importância do relacionamento interpessoal no ambiente de trabalho. Interbio. v.8 n.2, Jul-Dez, 2014.

FARIAS, Guélmer Júnior Almeida de. FERREIRA, Maria da Luz Alves. COUTINHO, Caroline Marci Fagundes.“A condição para quem nasce negra e mulher é ser doméstica?”: desigualdade entre mulheres brancas e negras no trabalho doméstico Ver. PerCursos. Florianópolis, v. 15, n. 28, p. 354 ‐ 375. jan./jun. 2014.

IANNI, Otávio. (Org.). Karl Marx: Sociologia. Trad. Maria Elisa Mascarenhas, Ione de Andrade e Fausto N. Pellegrini. 2.ed. São Paulo: 1980

MARX, Karl. O capital – Parte III: A produção da Mais Valia Absoluta. 1867. Fonte: The Marxists Internet Archive. Disponível em: https://www.marxists.org/portugues/marx/1867/ocapital-v1/. Acesso em: 03 jul 2017.

QUITANEIRO, Tânia; BARBOSA, Maria Ligia de Oliveira. OLIVEIRA, Márcia Gardênia Monteiro. Um Toque de Clássicos. 2º Ed. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2002.

Page 46: VOL. 3 Organizadoras - UFMAaprisionadas em torres gigantescas a espera de um príncipe? Princesas como a “Bela Adormecida”, “Cinderela”, “Rapunzel”, são conhecidas e admiradas

Realização: Apoio: