viver no estado novo(carolina vala)

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Carolina Pereira Vala História 2011/2012 1

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Carolina Pereira Vala História 2011/2012

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Introdução………………………………………………………………………………….pág. 3

Entrevista……………………………………………………………………………………pág. 5

Conclusão…………………………………………………………………………………..pág. 18

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No âmbito da Disciplina de História foi-me proposto a elaboração de um

trabalho, cujo tema incidia essencialmente no período do Estado Novo. O objetivo era

realizar uma entrevista a alguém que tenha vivido no período em que Salazar foi

Presidente do Conselho em Portugal (1932-1968) e obter algumas informações

importantes e relevantes, pois são muitas vezes são as vivências de uma população

que fazem a história e relatam os acontecimentos. Portanto, nada melhor do que

entrevistar alguém que durante essa época tenha vivido em Portugal ou nas Colónias

Portuguesas. Poderia entrevistar uma dona de casa, um soldado que fora para a guerra

colonial, ou um emigrante que me pudesse relatar os acontecimentos e

principalmente descrever como era viver no Estado Novo, sob alçada do regime

Salazarista.

No entanto, para abordar esta temática é necessário algum conhecimento

acerca dos acontecimentos mais importantes e das ideologias do regime. Como esta

matéria faz parte dos objetivos para o 12º ano, e já a abordámos nas aulas o que

facilita assim a organização da entrevista.

Contudo, é importante relembrar que a 28 de Maio de 1926, deu-se um golpe

de Estado que derrubou a primeira República parlamentar e implementou um longo

processo de Ditadura Militar, que mais tarde deu lugar ao Estado Novo (1933-1974).

Em Portugal a instabilidade politica, económica e social era gigantesca, o que

fez com que em 1932, Salazar tenha sido nomeado Presidente do Conselho, pois

anteriormente como Ministro das Finanças conseguiu a redução do défice e das

despesas públicas. Deste modo, implementou-se um modelo económico fortemente

intervencionista, onde todas as atividades se submetiam aos interesses da nação. É

então neste contexto que se propaga o slogan motivador: “Trabalhar e poupar, manda

Salazar”.

Salazar defendia o uni-partidarismo, com a justificação de que os partidos

políticos apenas representavam as opiniões e interesses particulares, impedindo deste

modo a realização de eleições livres. Criou ainda alguns organismos de defesa do

Estado, de entre eles a PIDE (Policia Internacional e de Defesa do Estado) que tinha

como principal função a repressão de qualquer forma de oposição ao regime,

utilizando perseguição, repressão, prisão e tortura, do qual é exemplo o Forte de

Peniche, onde estavam alguns dos presos políticos. Foi também criada a Legião

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Portuguesa, uma organização paramilitar que se destinava-se a defender o Estado e a

conter a ameaça bolchevique e a Mocidade Portuguesa, idealizada de acordo com os

exemplos fascistas italianos e alemães. Tinha a função de preparar a juventude para o

“engrandecimento da Nação”.

Neste tempo, a censura era exercida sobre as publicações nacionais e

estrangeiras, emissões de rádio e televisão, pois pretendiam proteger

permanentemente a doutrina e ideologia do Estado Novo e defender a moral e os

bons costumes. Salazar defendia incansavelmente o Nacionalismo, o Colonialismo, o

Corporativismo e a lavoura nacional, que se apresentava como característica da nação

portuguesa. Deste modo, foi publicada a lição de Salazar (livros onde era criticada a

sociedade industrial e a enaltecia a atividade rural, onde a mulher era reduzida a um

papel passivo e onde a Igreja Católica era protegida e glorificada).

É também importante salientar a política de obras públicas do regime, da qual

resultou um grande avanço nesta área, como é o caso da construção de grandes

estradas e pontes, de que é exemplo a Ponte 25 de Abril, anteriormente chamada,

Ponte Salazar. Apesar desta política, a indústria não constituiu um papel muito

importante nas obras de Salazar, ao contrário do projeto cultural, que muito foi

promovido à custa de António Ferro que dirigiu o Secretariado da Propaganda

Nacional. Este movimento pretendia inculcar na mentalidade portuguesa o amor à

pátria, o culto do passado glorioso e dos seus heróis, a consagração da ruralidade e da

tradição, as virtudes da família, alegria no trabalho e o culto do chefe.

Porém, a maioria da população e o exército não estava satisfeito com a

situação do país. A restauração da democracia teve lugar quando, a 25 de Abril de

1974, um movimento militar pôs fim ao autoritarismo que tinha caracterizado os

últimos 42 anos de regime totalitarista e repressivo.

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Entrevistado: Joaquim de Sousa Pereira

Idade: 72

Residência durante o Estado Novo: Atouguia da Baleia

(Peniche), Castelo Branco, Santa Margarida, Luanda,

Alemanha

Residência atual: Atouguia da Baleia (Peniche)

Entrevistador: Carolina Pereira Vala

Assunto: Vida no período Salazarista/ Estado Novo

(1933-1974)

Pequeno Resumo da Vida:

Joaquim entrou na escola aos 8 anos, onde permaneceu até à 3ª classe.

Começou a trabalhar na agricultura aos 10 anos para ajudar a sustentar a família. Até

aos seus 19 anos, continuou sempre a fazer o mesmo trabalho, até ingressar no

exército, onde foi obrigado a permanecer, sem ter qualquer contacto com a família.

Esteve no exército em Castelo Branco e mais tarde em Santa Margarida, de onde

depois partiu aos 21 anos para cumprir serviço militar em Angola, mais propriamente

em Luanda como cozinheiro oficial. Após 27 meses, regressou a Portugal para visitar a

família. Pouco depois, regressou a África como civil, onde permaneceu 1 ano e meio

trabalhando como condutor de pesados. Depois deste tempo, voltou novamente a

Portugal para vir buscar a família que cá tinha deixado (mulher e filha) e emigrou para

a Alemanha em 1965, de onde só voltou 12 anos depois, quando já tinha sido

derrubada a ditadura de Salazar.

Joaquim Pereia, 19 anos, exército

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Infância:

1- Quando era criança andava na escola?

Sim, estive até à 3ª classe.

2- Que matérias eram lecionadas?

Matérias eram poucas… eram as cópias, os ditados e pouco mais. Também

dávamos um pouco de matemática.

3- Então e na escola falava-se do regime e da maneira de estar em casa?

No tempo atrasado não se falava nessas pequenas coisas. Não era importante.

4- E tinha um professor ou uma professora?

Era um professor.

5- E o professor era muito rígido?

Era super, era sim senhor.

6- Havia divisões entre rapazes e raparigas?

Sim, raparigas numa escola, rapazes noutra. A escola só tinha uma sala, nem

dava para pôr lá todos.

7- E havia castigos?

Super castigos. Nem era com a mão, nem com a régua, era com uma corda.

8- Qual era a relação entre o professor e o aluno?

A relação entre o professor e os alunos era que os alunos viviam e estudavam

oprimidos.

9- Existia tempos livres?

Tinha-se 10 minutos para vir ao recreio.

10- Durante um dia inteiro, 10 minutos no recreio?

Era, era, não havia tempo para mais.

11- E o almoço era em casa?

O almoço era em casa de cada um… O almoço não, que nem almoço havia.

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12- Durante o tempo que estava na escola trabalhava?

Muitas vezes faltava-se à escola para ir ajudar os pais, porque a situação era

muito critica.

13- Critica em que sentido?

Em termos de dinheiro, mas principalmente de alimentos.

14- E o trabalho que fazia era onde?

No campo, agricultura.

15- E trabalhava porque era necessário, certo?

Porque era necessário e porque era obrigado.

16- Recebia alguma coisa por ajudar os seus pais?

Não, era só a ajuda.

17- Havia pausas para descansar?

Só nos dias grandes para lanchar. Trabalhava de Sol a Sol e ao meio da tarde

parava-se para comer um bocadinho de pão com azeitonas.

18- Quantas horas trabalhava?

De Sol a Sol.

Joaquim Pereia, e família numa vindima

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19- E nesta altura tinha amigos? Ou tempo para brincar?

Os amigos eram poucos porque ninguém tinha vagar para brincar.

Juventude

20- A sua juventude foi fácil?

A juventude na época nunca foi fácil, até que chegou a hora de ir para a tropa.

21- Como eram os relacionamentos amorosos nessa altura?

No tempo da vida amorosa, para se ter contacto com as raparigas era preciso ir

à fonte buscar uma bilha de água. Aí é que se conseguia conversar, pois por

contrário os pais não autorizavam. E muito de longe em longe um pouco de

bailarico.

22- Havia tempo para estar com os amigos?

Não havia muito tempo, porque cada um tinha o seu papel a desempenhar.

23- Como era o vestuário?

Era calças rotas e pé descalço. Só quando fui para a tropa é que tive umas botas

(19 anos).

24- Havia mais do que uma muda de roupa?

Era só uma muda de roupa. Lavava-se à noite para vestir de manhã. E os lençóis

da cama eram as sacas do trigo.

25- Como eram as condições em casa?

Em geral, péssimas. Começando por mim e acabando nos outros. Era último

grau, não tinha nada. À noite, para fazer as necessidades tinha que ir ao

quintal.

26- Por exemplo, como é que cozinhavam?

Era com lenha verde que só fazia fumo. Porque havia pouco que cozinhar.

27- E no que respeita às mulheres, tinham a mesma liberdade?

Não, muito diferente.

28- Como assim, pode especificar?

A mulher estava muito em casa, porque os pais não a deixavam sair. Os

homens saiam mais, para brincar e trabalhar. O rapaz namorava com uma

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rapariga e estava o pai à janela, a mãe à porta e o irmão no postigo. Não se

podia dar um beijo, não podia nada.

Trabalho

29- Quando é que deixou a escola e começou a trabalhar?

Então, comecei a trabalhar aos 10 anos, que foi quando saí da escola.

30- Quantas horas trabalhava?

Em geral era toda a gente de sol a sol. Não havia as oito horas.

31- E fazia o quê?

Trabalhava no campo, na agricultura e por vezes com os animais.

32- E recebia algum dinheiro?

Não ganhava nada. Como trabalhava com os pais ganhava o comer.

33- Como era um dia de trabalho?

Trabalhava-se de Sol a Sol. Havia a pausa para almoçar, jantar e para a

merenda.

Vindima onde estava o pai de Joaquim a trabalhar

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34- E o que é que se comia nestas refeições?

Era feijão com batatas e batatas com feijão. Não havia carne, não havia nada.

Uma galinha era só uma vez por ano na Festa de Nossa Senhora.

35- Qual era o nível de exigência do trabalho?

Tinha poucas exigências porque trabalhava para os pais. Era só a

responsabilidade do serviço que estava a desempenhar.

36- E as mulheres também faziam o mesmo trabalho?

Não, as mulheres nessa época trabalhavam mais como donas de casa. Só lá iam

levar o almoço.

37- As mulheres que trabalhavam sem ser em casa, tinha o mesmo ordenado que o

homem?

Não, não. Era menor, sempre menor. A mulher era inferior ao homem nessa

época.

Família

38- Como é que era a relação família?

Pobre mas boa.

39- E teve filhos?

Sim, duas filhas.

40- Neste caso as suas filhas andavam na escola?

Andavam as duas.

41- Era fácil tê-las na escola?

Nessa época já era mais fácil, porque estava na Alemanha.

42- A sua mulher trabalhava?

Sim, em casa a tomar conta das crianças. Isto numa primeira fase de casados

porque depois foi para uma fábrica na Alemanha.

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Cidadania

43- Sabendo que na altura o Salazar era o chefe de Estado, sentia-se pressionado

pelo regime?

Eu não porque era criança, mas os adultos sim, porque havia muitos

informadores da PIDE e tinham medo de ir para a prisão.

44- Reparou se nessa altura existiam campanhas a favor de Salazar. Ou seja a favor

do regime?

Havia essa política sim.

45- E as pessoas podiam falar abertamente sobre tudo o que queriam?

O indispensável ou nada. Não se podiam abrir a boca, senão eram logo presos.

Havia muito medo.

46- Podia votar?

Não havia votos, o Salazar ocupou o poder 40 anos.

47- Esteve inscrito em alguma associação do regime, como por exemplo a

Mocidade Portuguesa?

Não, não estive em nada disso.

48- Tem conhecimento do que se passava na prisão de Peniche?

Joaquim Pereia e a mulher num carro de um amigo

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Agora tenho, mas quando era mais novo não me apercebia. Só depois de velho,

quando voltei a Portugal é que soube, porque quando era “cachoupo” não dei

por isso, nem íamos muitas vezes a Peniche.

49- Em Peniche ou na Atouguia existia alguma dessas instituições?

Não, não havia.

50- Qual era a sua opinião sobre Salazar?

Em geral poucos gostavam dele porque Salazar queria só para ele e não se

importava que os outros passassem fome. Arrecadou muito ouro ao abrigo

daqueles que passaram muita muita fome. Era tudo contra ele. Não nos

deixava ir para as colónias e estava tudo em Portugal a passar fome.

51- E pessoalmente gostava dele?

Eu em principio não, tinha a barriga vazia.

Vida militar

52- Esteve no exército?

Sim, não posso é dizer quantas namoradas

tive em África.

53- Entrou quando?

Aos 19 anos.

54- E manteve-se lá até que ano?

Até 1963, tinha 23 anos.

55- Esteve nas colónias?

Estive em Angola, mais propriamente em

Luanda.

56- Quanto recebia por mês?

Enquanto estive em Portugal 100 escudos (50 cêntimos), mas quando fui para

Angola 600 escudos (3 euros).

57- Qual é ou era a sua opinião quanto à guerra colonial?

É que não teve qualquer jeito.

Um dos percursos do exército

em Angola

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58- Porquê?

Porque aquilo era dos Africanos, mas foi mal entregue (1975). Foram precisos

morrer milhares de soldados, que se podia ter evitado.

59- Quando partiu para África deixou família em Portugal?

Sim, só namorada.

60- Que trabalho desempenhava enquanto estava em Angola?

Em todo o tempo fui cozinheiro.

61- Esteve na frente de combate?

Não.

62- Apesar de não ter estado na frente de combate viu pessoas morrerem?

Algumas. Os pretos tinham na ideia que depois de morrerem ressuscitavam e o

meu capitão, cortou cinco cabeças e pendurou-as lá num pau, para eles verem

como não saiam de lá.

63- Para além de ter visto os negros a morrerem, também viu alguns dos seus

companheiros, certo?

Sim, uns quantos.

64- Qual era a relação entre os soldados e os habitantes das colónias?

Era boa com as pessoas normais das cidades, porque com os terroristas era má.

Joaquim Pereia em Angola a cozinhar Soldados em Angola à espera do almoço

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65- Então não havia problemas entre o exército e os habitantes?

Não, pois havia um problema. A população tinha medo do terrorismo, por isso

eram amigos da tropa.

66- Tem algumas histórias que possa contar?

Estava eu a tomar banho em Santo António do Zaire, no rio e quando dei por

ela, estava um jacaré a abrir a boca para me engolir, e eu, ao ver aquilo

consegui fugir para terra.

Estava numa mata a descansar e pensando que era uma árvore cortada era

uma jibóia que estava enrolada. E até acabo em verso.

Onde eu estava, ao passar o jipe com os oficiais, rebentou uma mina em cada

roda do carro e ficou tudo desfeito. Depois a tropa matou os homens todos e

as mulheres e as crianças tive eu que ir acartá-las para uma missão.

67- Porque é que a tropa matou esses homens?

Porque os terroristas meteram as minas e morreram os nossos oficiais.

Joaquim Pereia e os seus ajudantes de cozinha negros em África, Luanda

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68- Mas mataram os terroristas ou as outras pessoas?

Mataram alguns terroristas, mas depois pagou o inocente pelo pecador, tudo o

que era homem não escapou ninguém.

69- Não tem mais nenhuma história?

Tinha um colega da tropa, que vivia em Angola e ao fim-de-semana foi visitar os

pais. Quando lá chegou estava tudo cortadinho e salgado dentro de uma

barrica. O homem ficou de tal maneira que depois não podiam ver um preto à

frente. Cada preto que via matava-o e depois mandava-o lá para a baía, para os

jacarés.

Vida nas Colónias

70- Como era a vida nas colónias?

Era um sonho, porque tive lá 8 meses sem guerra e aquilo era um paraíso. Toda

a gente vivia bem. Depois da guerra é que apareceu os problemas.

71- E tinha amigos?

Tinha.

72- Negros ou brancos?

Emboscada dos terroristas contra o exército Português em Angola

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Os dois. Toda a gente queria que eu lhes desse comer, então tínhamos que ser

todos amigos.

73- Quando estava lá nas colónias, saía e divertia-se?

Antes da guerra. Quando estive lá como civil, não se podia sair porque era

muito perigoso.

74- Como é que era a

vida nas colónias quando estava lá a trabalhar como civil?

Almoço com os amigos nas Colónias- Luanda

Jogo de Futebol com alguns dos amigos em África

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Era muito pior. Era uma vida mais presa, porque não se podia sair. A qualquer

momento aparecia um terrorista.

75- Existia relacionamentos entre os negros e os bancos?

Em geral havia.

76- Nesse tempo que esteve lá como civil trabalhava em quê?

Era como chofer de pesados.

77- Depois de trabalhar nas colónias foi para onde?

Para a Alemanha, até 1977.

78- Gostou de emigrar ou preferia ter ficado cá?

Preferia ter ficado cá, se a situação do país fosse boa.

79- Foi para lá porquê?

Porque a vida cá era difícil e eu queria dar uma boa vida à minha família.

O regime era difícil, as condições eram mínimas, não havia condições de viver.

Fui eu e milhares de pessoas.

80- Quando terminou o regime de Salazar a vida em Portugal melhorou ou não?

Sim, a vida melhorou, porque no tempo de Salazar estava tudo parado. No

tempo de Salazar era só pobres e pobrezinhos e quando terminou o Salazar era

só pobres, portanto melhorou.

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Com este trabalho confirmei algumas das teorias e ideias que tinha acerca deste

período da vida Portugal. Apesar de eu saber que este regime era totalitarista e repressivo, sei

que existiram também algumas marcas positivas, como o equilíbrio das finanças e a

restauração de monumentos nacionais. Contudo, e com a entrevista que realizei ao Sr.

Joaquim Pereira não detetei qualquer manifestação de agrado ou apoio ao regime, o que me

fez refletir um pouco mais acerca da situação social que se vivia na altura. Dei por mim

honestamente chocada com alguns dos relatos que remetiam muitas vezes para a fome e para

a falta de condições em que se vivia, pois comparando com alguns dos países da Europa,

apesar de também terem passado por alguns regimes repressivos, Portugal encontrava-se

bastante desatualizado.

Fiquei bastante surpreendida com algumas das informações que adquiri, pois penso

que sejam bastante relevantes para o estudo desta questão. Apesar de ter recolhido alguma

informação já conhecida é sempre interessante saber como era viver antes do 25 de Abril e

principalmente conhecer algumas das curiosidades, que particularmente me tocaram, tanto

pela surpresa, como pelo aspeto histórico, o que me ajudou bastante a compreender algumas

mentalidades também mais recentes.

O que mais me entusiasmou, foi de facto a realização da entrevista, na medida em que

considero que o desenrolar da conversa, que tentei tornar o mais informal possível, foi

bastante interessante e enriquecedor, tanto para mim, como para a pessoa entrevistada que

me revelou estar bastante satisfeita com o interesse dos mais jovens para esta problemática,

que considero que não deva ser esquecida, ou relativizada.

Concluo extremamente satisfeita a elaboração deste pequeno trabalho, pois apesar de

ter sido bastante interessante e divertido de realizar (principalmente a entrevista), também

contribuiu em muito para o meu maior à vontade no que respeita falar do Estado Novo e de

como era viver nesse período concreto da História.