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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
CENTRO DE EDUCAÇÃO, FILOSOFIA E TEOLOGIA
Victor Augusto Pires da Silva
Vitrais Religiosos:
Um estudo de caso na Paróquia São Luís Gonzaga - SP
São Paulo 2016
VICTOR AUGUSTO PIRES DA SILVA
Vitrais Religiosos:
Um estudo de caso na Paróquia São Luís Gonzaga - SP
Dissertação de Mestrado apresentado ao programa
de Pós-Graduação em Ciências da Religião da
Universidade Presbiteriana Mackenzie como
requisito parcial para a obtenção do título de
mestre em Ciências da Religião.
Orientadora: Profª Dra. Suzana Ramos Coutinho
São Paulo
2016
S586v Silva, Victor Augusto Pires da Vitrais religiosos: um estudo de caso na Paróquia São Luís Gonzaga - SP / Victor Augusto Pires da Silva – 2016. 171 f.: il ; 30 cm Dissertação (Mestrado em Ciências da Religião) – Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2016. Orientador: Profa. Dra. Suzana Ramos Coutinho Bibliografia: f. 161-171
1. Vitral 2. Fotografia 3. Igreja Católica 4. Iconografia 5. História I. Título II. Paróquia São Luís Gonzaga LC NA5471
Dedico essa dissertação ao meu DEUS SOBERANO que possibilitou através dos dias galgar este título de mestre. À minha amada esposa, que em tudo ao meu lado esteve. E ao meu filho Pedro, razão de esforço e alegrias!
Agradecimento
Louvo ao sempiterno Deus, Senhor do Universo e da minha vida.
Faço das palavras do profeta Daniel as minhas, quando ele em necessidade
clamou e Deus numa visão noturna o respondeu: “Ó Deus de meus pais, eu te dou
graças e te louvo, porque me deste sabedoria e força” (Daniel 2:23 a). Obrigado Pai
por sua graça, por seu favor imerecido, por sua infinita misericórdia. Este título foi
alcançado por sua misericórdia; e através dele o servirei e glorificarei.
A minha amada esposa Patricia Lopes que suportou comigo os desafios e
dificuldades. Que me impulsionou seguir em frente, auxiliando-me a priorizar o
imprescindível até a concretização dessa vitória, agradeço.
A toda minha família pelo incentivo, força e paciência. Em especial, aos meus
queridos pais (Cícero e Eliete), agradeço por toda colaboração, incentivos, orações
e esforços.
Meus tios Francisco e Édina agradeço por acreditarem nessa causa e pelo
investimento nela.
Meus avós maternos que compartilharam das minhas dificuldades,
abstinência, e me apoiaram principalmente com oração.
Meu sogro, Jesuíno, por acreditar e investir nessa formação. E a minha sogra
Jandira, por diariamente nos acompanhar e auxiliar com os afazeres paralelos.
Ao meu pastor Francisco Morilha “chefe”, que além de todo incentivo, creu e
orou por nós. E a amada igreja (Castelo Forte) a qual pertenço, pela compreensão e
intercessão dos irmãos.
A pessoa do querido Geraldo de Azevedo, que foi um verdadeiro amigo, que
sem restrições viabilizou meios para que pudéssemos fazer esse mestrado sem
parar.
Louvo a Deus pela pessoa do coordenador do curso, Ricardo Bitun, que além
de motivador, me apoiou nas fases mais difíceis. “Nunca esquecerei nossa conversa
naquele almoço e suas posteriores orientações”.
A minha querida orientadora, professora Suzana, obrigado pela dedicação,
pelas dicas, além das reuniões, e-mails e telefonemas. Obrigado por toda paciência
e por confiar que cumpriríamos o esperado.
Agradeço especialmente a professora Patricia Pazinato e ao professor
Rodrigo Franklin pelas observações na banca de qualificação e depois dela, pelo
voto de fé e por acreditarem que terminaríamos esta dissertação.
A professora Regina Lara, do Mackenzie, da família Conrado, que muito nos
ajudou fornecendo bibliografias, informações e esclarecimentos.
Agradeço à Universidade Presbiteriana Mackenzie e a todos os professores
que repartiram conhecimento, métodos e atalhos. E ao Instituto Presbiteriano
Mackenzie por fazer esse alvo ser alcançado.
Agradeço ao Pároco Geraldo Lacerdine Américo; e ao gerente executivo
Márcio Costa, ambos da Paróquia São Luís Gonzaga, por todas as reuniões,
material, e esclarecimentos para essa pesquisa.
Agradeço na pessoa do bibliotecário Eliezer, a biblioteca de teologia e as
demais bibliotecas da Universidade Presbiteriana Mackenzie.
Agradeço a Larissa Maia Artoni e a Silvia Maria Azevedo, bibliotecárias da
Biblioteca Antônio Vieira da Companhia de Jesus no Pátio do Colégio por nossas
conversas e por toda orientação com a história e as bibliografias dos jesuítas.
Agradeço ao professor Ítalo Curcio que nos forneceu sua tese de doutorado e
indicou seu filho para nos auxiliar. E, ao Gustavo Curcio, arquiteto, que cedeu tempo
para nos receber e fornecer informações sobre aspectos artísticos da paróquia.
Agradeço ao TELES (José Edilson Teles) que compreendeu nossa situação e
colaborou para fazer esta dissertação tomar forma.
Agradeço as pessoas que se dispuseram e colaboraram na revisão do texto.
Minha tia Édina, o Alberto Fonseca e o Francisco Morilha (meu pastor),
companheiros de formação.
Agradeço ao Estúdio Fotográfico CapturArt, local onde atuo
profissionalmente, por me possibilitar horas de leitura, pesquisa e escrita,
compreendendo e apoiando minhas ausências.
Epígrafe
A experiência visual humana é fundamental
no aprendizado para que possamos compreender o
meio ambiente e reagir a ele”.
Donis A. Dondis
Resumo
O objetivo dessa pesquisa consiste em compreender a construção simbólica
dos vitrais religiosos, tomando como estudo de caso a Paróquia São Luís Gonzaga
em São Paulo. Para isso, recorremos à uma contextualização histórica afim de
localizar as origens da igreja e sua relação com a arte religiosa. Através da
exposição detalhada dos vitrais por meio da fotografia, percebe-se como os
personagens da história são retratados na arte. Por fim, nosso objetivo é questionar
se os vitrais preservam os princípios pedagógicos de quando foram originalmente
criados.
Palavras-Chave: Vitral. Fotografia. Igreja Católica. História. Iconografia.
Abstract
The objective of this research is to understand the symbolic construction of
religious stained glass, taking as a case study to Sao Luis Gonzaga Parish in São
Paulo. For this, we turn to a historical context in order to locate the origins of the
church and its relation to religious art. Through detailed exposition of stained glass
through photography, it is perceived as the characters in the story are portrayed in
art. Finally, our goal is to question whether the windows preserve the pedagogical
principles when they were originally created.
Keywords: Stained Glass. Photography. Catholic church. History. Iconography.
Lista de Fotografias
Foto 1 - Fachada da Capela do Colégio. ................................................................. 20
Foto 2 - Fachada da Paróquia São Luís Gonzaga atualmente. ............................... 21
Foto 3 - Interior da paróquia. Destaque do altar com a escultura de Luís Gonzaga e
do sacrário. .............................................................................................................. 23
Foto 4 - Convento franciscano de São Luiz de Tolosa, primeira sede do Colégio dos
jesuítas em Itú. ......................................................................................................... 26
Foto 5 - Nova sede do Colégio São Luís em 1872. ................................................. 27
Foto 6 - Recorte do início do Colégio São Luís em São Paulo. ............................... 27
Foto 7 - Panorâmica do Complexo São Luís, 1932. ................................................ 29
Foto 8 - Fachada do Complexo São Luís, em 1935. ............................................... 29
Foto 9 - Fachada do Complexo São Luís, 1966. ..................................................... 29
Foto 10 - Saída dos carros dos pais dos alunos da galeria. Detalhe, a galeria é
considerada uma rua, a rua do Colégio São Luís, que sai na rua Bela Cintra. ......... 31
Foto 11 - Fachada do Colégio São Luís. Entrada principal na rua Haddok Lobo,
400. Detalhe para a galeria! ..................................................................................... 31
Foto 12 - Fachada do Complexo São Luís atualmente. ........................................... 32
Foto 13 - Panorâmica do Complexo São Luís Atualmente. ..................................... 33
Foto 14 - Panorâmica do Complexo São Luís atualmente com detalhe para a
Avenida Paulista. ..................................................................................................... 33
Foto 15 - Panorâmica do interior da Paróquia São Luís Gonzaga. Fundo. ............. 34
Foto 16 - Panorâmica do interior da Paróquia São Luís Gonzaga. Altar.................. 34
Foto 17 - Disposição dos Vitrais na Paróquia. ......................................................... 36
Foto 18 - Vitral 1 ..................................................................................................... 45
Foto 19 - Vitral 2 ..................................................................................................... 46
Foto 20 - Vitral 3 ..................................................................................................... 47
Foto 21 - Vitral 4 ..................................................................................................... 48
Foto 22 - Vitral 5 ..................................................................................................... 49
Foto 23 - Vitral 6 ..................................................................................................... 50
Foto 24 - Vitral 7 ..................................................................................................... 51
Foto 25 - Vitral 8 ..................................................................................................... 52
Foto 26 - Vitral 9 ..................................................................................................... 53
Foto 27 - Vitral 10 ................................................................................................... 54
Foto 28 - Vitral 11 ................................................................................................... 55
Foto 29 - Vitral 12 ................................................................................................... 56
Foto 30 - Vitral 13 ................................................................................................... 57
Foto 31 - Vitral 14 ................................................................................................... 58
Foto 32 - Vitral 15 ................................................................................................... 59
Foto 33 - Vitral 16 ................................................................................................... 60
Foto 34 - Iluminação natural da parte direita da Paróquia. ...................................... 61
Foto 35 - Detalhe da luz natural atingindo só metade do vitral. ............................... 62
Foto 36 - Detalhe do vitral "escuro" próximo ao meio dia. ....................................... 63
Foto 37 - Contraste da luz natural entre a coluna e o vitral. .................................... 63
Foto 38 - Detalhe da moldura fechada após uma reforma. Havia um vitral aqui...... 64
Foto 39 - Panorâmica do lado esquerdo da Paróquia, rua Bela Cintra. Detalhe da
moldura fechada após uma reforma. ........................................................................ 65
Foto 40 - Vitral sem imagem. Tudo indica que eram outros vidros que originalmente
foram colocados aqui. Parte externa, lado direito da Paróquia. ................................ 65
Foto 41 - Panorâmica do interior da Paróquia. Detalhe para um fiel. ...................... 67
Foto 42 - Azulejos com imagem de Inácio de Loyola, em memória dos 400 anos de
sua morte. Parte externa da Paróquia. ................................................................... 107
Foto 43 - Detalhes do processo de correção de perspectiva 1. ............................. 117
Foto 44 - Detalhes do processo de correção de perspectiva 2. ............................. 118
Foto 45 - Detalhe do LED iluminando o vitral. ....................................................... 119
Foto 46 - Vista geral dos LEDs iluminando o vitral. ............................................... 119
Foto 47 - Visão geral dos vários vitrais iluminados artificialmente com LEDs. ....... 120
Foto 48 - O vitral 5 (Pedro Canísio), da esquerda, está iluminado artificialmente; o
vitral 6 (João Berchmans), da direita, está recebendo somente a luz natural. ........ 120
Foto 49 - Vitral 2 com tábua da Via Sacra. ............................................................ 124
Foto 50 - Vitral 3 com tábua da Via Sacra ............................................................. 125
Foto 51 - Vitral 5 com tábua da Via Sacra ............................................................. 126
Foto 52 - Vitral 7 com tábua da Via Sacra ............................................................. 127
Foto 53 - Vitral 8 com tábua da Via Sacra ............................................................. 128
Foto 54 - Banner 1 com tábua da Via Sacra ......................................................... 129
Foto 55 - Banner 2 com tábua da Via Sacra ......................................................... 130
Foto 56 - Vitral 9 com tábua da Via Sacra ............................................................. 131
Foto 57 - Vitral 10 com tábua da Via Sacra ........................................................... 132
Foto 58 - Vitral 11 com tábua da Via Sacra ........................................................... 133
Foto 59 - Vitral 12 com tábua da Via Sacra ........................................................... 134
Foto 60 - Vitral 13 com tábua da Via Sacra ........................................................... 135
Foto 61 - Vitral 14 com tábua da Via Sacra ........................................................... 136
Foto 62 - Vitral 15 com tábua da Via Sacra ........................................................... 137
Foto 63 - Planta da cruz e algarismos romanos das tábuas da Via Sacra. ............ 138
SUMÁRIO INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 15
CAPÍTULO 1............................................................................................................ 19
UMA CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA ICONOGRAFIA CRISTÃ ................. 19
1.1 A PARÓQUIA SÃO LUÍS GONZAGA ................................................................. 20
CAPÍTULO 2............................................................................................................ 35
A PARÓQUIA SÃO LUÍS GONZAGA E OS VITRAIS DA FÉ ................................... 35
2.1 A CASA CONRADO E A HISTÓRIA DOS VITRAIS ........................................... 37
2.2 A RELAÇÃO ENTRE ARTE E RELIGIÃO .......................................................... 40
APRESENTAÇÃO DAS FOTOGRAFIAS ................................................................. 44
A ILUMINAÇÃO NATURAL DOS VITRAIS. ............................................................. 61
OUTROS VITRAIS. .................................................................................................. 64
CAPÍTULO 3............................................................................................................ 67
UMA ANÁLISE DOS VITRAIS E SEUS SÍMBOLOS ................................................ 67
CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 113
ANEXO 1 - O TRATAMENTO DAS FOTOS ........................................................... 115
ANEXO 3 – TÁBUAS DA VIA SACRA ................................................................... 122
ANEXO 4 – PLANTA DE 1971 ............................................................................... 138
ANEXO 5 – PLANTA DE 1986 ............................................................................... 140
ANEXO 6 – PLANTA DA REFORMA ACÚSTICA E ALTERAÇÃO DOS VITRAIS . 141
ANEXO 7 – ORÇAMENTO PARA A REFORMA DE 1971 (VITRAIS). ................... 142
ANEXO 8 – RELATÓRIO DOS SERVIÇOS EM EXECUÇÃO, 1971. (VITRAIS). ... 146
ANEXO 9 – CRONOGRAMA FÍSICO E FINANCEIRO DA REFORMA 1971. ........ 148
ANEXO 10 – RECIBO DE 15% DE PAGAMENTO, 1971. ...................................... 149
ANEXO 11 – RELAÇÃO DE SERVIÇOS PARA CONCLUIR A REFORMA, 1972. . 150
ANEXO 12 – RECURSOS PARA CONTINUAÇÃO DA REFORMA, 1972. ............ 152
ANEXO 13 – LISTA DE SERVIÇOS PARA CONCLUSAO DA REFORMA, 1972. . 153
ANEXO 14 – PEDIDO DE PAGAMENTO DA CONSTRUTORA, 1972. ................. 155
ANEXO 15 – FICHA MODELO DE REGISTRO E IDENTIFICAÇÃO DE VITRAL. . 157
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 161
15
INTRODUÇÃO
O objetivo dessa dissertação consiste em compreender a importância de um
tipo específico de arte, a saber, os vitrais. Sabe-se, que, historicamente a tradição
cristã serviu-se de um variado repertório para expressar a fé. Essa iconografia tinha
como objetivo servir como uma pedagogia da fé. A fim de descrever essa relação
entre religião e arte, utilizaremos como estudo de caso a Igreja São Luís Gonzaga
em São Paulo.
Toda pesquisa, assim como o objeto pela qual ela se interessa, possuí uma
história. E não se trata apenas de explicitar os “bons” resultados, mas também,
explicitar as dificuldades. Em nosso caso, o contato inicial com as autoridades
eclesiásticas da paróquia para que nos permitissem estudar os vitrais foi demorado.
A primeira tentativa foi via e-mail, mas sem êxito. Uma segunda tentativa fora
realizada e também não houve sucesso.
O contato via telefone permitiu conhecer o nome de um responsável pela
administração da Paróquia, o gerente executivo, senhor Márcio Costa e o nome do
recém-chegado1 ao nível de pároco, o padre Geraldo Lacerdine Américo, sj. Um
segundo contato telefônico possibilitou-nos falar com o senhor Márcio e agendar
uma primeira reunião. Nesta, nos apresentamos e expusemos os objetivos da
pesquisa. Houve uma sincera disposição e atenção da parte do Márcio que
posteriormente viabilizou nossa primeira reunião com o pároco Geraldo.
Embora a primeira reunião com o pároco estivesse agendada, devido seus
inúmeros compromissos essa precisou ser reagendada. Na próxima data realizou-se
a reunião, reapresentamos nosso interesse pela Paróquia São Luís Gonzaga
especificamente nos seus vitrais. O pároco e todos com quem tivemos contato
sempre nos atenderam com muita atenção e cuidado.
A partir de então tivemos autorização verbal do pároco para fotografar os
vitrais da Paróquia desde que isso fosse realizado no intervalo das missas. A
paróquia possui dezesseis vitrais que selecionamos para a pesquisa. No entanto,
existem outros vitrais menores e redondos na parte superior do altar e, em cima de
1 O padre assumiu a função de pároco em 7 de dezembro de 2014.
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alguns vitrais, isso pode ser observado nas fotografias panorâmicas que serão
apresentadas no decorrer do trabalho.
Optamos por utilizar a fotografia como recurso, pois como a etimologia da
palavra já diz, fotografia é a escrita, o desenho obtido pela luz; e isso tem tudo a ver
com o tema desta pesquisa, os vitrais, pois são desenhos, imagens que precisam de
luz.
Sem sombra de dúvida, a fotografia é o melhor recurso para registrar,
transpor, e reproduzir uma imagem. Acerca disso, Donis Dondis firma:
Em todas as suas formas, a câmera acabou com isso. Ela constitui o último elo de ligação entre a capacidade inata de ver e a capacidade extrínseca de relatar, interpretar e expressar, o que vemos, prescindindo de um talento especial ou de um longo aprendizado que nos predisponha a efetuar o processo DONDIS (2007, p. 12).
Ciente das restrições e preparado fotograficamente, iniciamos os registros. Os
vitrais são peculiarmente atraentes, suntuosos e estão em posição de destaque.
Mesmo um indivíduo que nunca viu um, ao entrar numa igreja, certamente irá
observar as luzes coloridas, suas várias formas e ficará maravilhado.
Além desse caráter estético, os vitrais das igrejas católicas não são
simplesmente vidros coloridos. Eles são coloridos sim, mas muito mais do que isso.
Possuem formas diferentes, tamanhos diferentes, espessuras diferentes e,
principalmente, imagens. São essas imagens que narram uma história tornado um
vitral ainda mais atraente, instigante, mas ao mesmo tempo profundo, complexo,
exigindo tempo de estudo e pesquisa.
A Paróquia São Luís Gonzaga foi escolhida como objeto de estudo porque se
constitui num modelo de igreja que valoriza a arte dos vitrais para exposição dos
símbolos da fé. Além disso, essa igreja se localiza na Avenida Paulista, via de
grande importância social, principalmente econômica. Desse modo, sua história está
intimamente ligada com a história da mais importante cidade da América Latina, a
cidade de São Paulo. Buscamos, portanto, registrar fotograficamente os vitrais da
Paróquia São Luís Gonzaga e analisar seus símbolos. Além disso, até o momento
não há nenhum trabalho dedicado aos vitrais e o seu registro. E para que não se
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perca a história e o valor destes, seja durante uma reforma, ou um ato de
vandalismo, ou ainda por causa naturais, empenhamo-nos em fazê-lo.
Não há nenhum documento, pedido ou croqui, ou seja, desenho dos vitrais.
Isto somente, já nos chama atenção. Porque, como é que uma igreja que é
historicamente detentora de tanto conhecimento, e que protegeu por séculos, livros
e informações físicas, não arquivou documentos referente a uma construção que
não tem 100 anos? Portanto, não é difícil aceitar que vitrais se perderam, ou foram
quebrados, eventualmente em alguma reforma ou restauro, e não há imagens que
registrem isso.
Essa pesquisa além deste caráter histórico e social, colabora também
academicamente de forma interdisciplinar com as ciências da religião devido sua
articulação principalmente com a área da história, fotografia, teologia, antropologia
visual, e através dos resultados obtidos das investigações bibliográficas e de campo.
Buscamos organizar os dados de modo que nos permita compreender essa
dimensão histórica. O primeiro capítulo trata de uma contextualização histórica, cujo
objetivo é compreender a tradição religiosa que deu origem à Paróquia São Luís
Gonzaga. Consideramos importante descrever brevemente alguns episódios
históricos em torno dos jesuítas e suas atividades, relacionando-as à história da
Paróquia.
A história da Companhia de Jesus navega por um tripé conhecido por política,
conhecimento e carisma. Inácio de Loyola cultiva personagens e quanto a
religiosidade, ela não é possível sem conhecimento. Que envolve educação,
identidade, ideologia e sem dúvida as elites e status.
O segundo capítulo trata da relação entre religião e arte. Buscamos descrever
alguns elementos técnicos da arte fotográfica de modo que nos possibilitasse
interpretar a arte religiosa. As cores, por exemplo, são fortes e belas, mas
transmitem peculiaridades. Três entre elas foram motivo de contenda entre os
jesuítas. O vermelho, o azul e o amarelo, que estão presentes em todos os vitrais.
Consideramos importante fazer uma breve introdução à história dos vitrais,
utilizando como recorte o caso da contratação do vitralista Conrado Sorgenicht Filho.
Esse personagem é importante para compreensão da moderna arte dos vitrais.
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Por sua vez, o terceiro capítulo busca articular alguns elementos históricos e
sociais a fim de analisar a estrutura simbólica dos vitrais e sua função. Qual a
importância dessa tradição de fé em meio a um mundo moderno?
19
CAPÍTULO 1
UMA CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA DA ICONOGRAFIA CRISTÃ
A iconografia cristã (certamente) pode ser concebida como um tipo de arte
carregada de sentidos e, nesse caso, uma via de acesso para compreender um
sistema de crenças e práticas. Desse modo, podemos argumentar que a tradição
cristã, em diferentes momentos de sua longa história, procurou reproduzir sua
função pedagógica por meio dos símbolos. Nesse sentido, pode-se argumentar que
paralelamente a uma teologia abstrata (uma via racional), houve também a produção
de uma teologia iconográfica, isto é, uma codificação do sistema de crenças em
imagens, que por via da produção visual tornava concreto os principais conceitos
religiosos.
Essa teologia iconográfica vista em seu contexto histórico, não pode ser
isolada das relações culturais que a compõem. Maria de Fátima Eusébio (2005, p.
9), por exemplo, argumenta que o surgimento do cristianismo no contexto greco-
romano não representou uma ruptura com essa cultura; pelo contrário, além de sua
herança judaica, verificou-se também uma “apropriação de símbolos e imagens” na
composição de seu imaginário.
Entre os variáveis elementos iconográficos encontra-se, de modo particular, o
objeto de nossa reflexão, a saber, a produção imagética dos vitrais. Para isso,
tomaremos como estudo de caso a Paróquia São Luís Gonzaga em São Paulo. Para
além de seu aspecto estético, caracterizado pelo mosaico de cores, a iconografia
dos vitrais reproduz uma função pedagógica que consiste numa fixação do modelo
de fé. Desse modo, o objetivo desse capítulo é contextualizar o surgimento da
Paróquia São Luís Gonzaga.
20
1.1 A PARÓQUIA SÃO LUÍS GONZAGA
2A paróquia São Luís Gonzaga faz parte da Arquidiocese de São Paulo,
região Sé, setor pastoral Santa Cecília. Sua origem está vinculada à campanha de
evangelização dos jesuítas por meio da Companhia de Jesus no século XVI e
também se relaciona com o Colégio São Luís, datado do século XX.
2 Imagem retirada do livro: Paulista símbolo da cidade/1990. (Banco Itaú)
Foto 1 - Fachada da Capela do Colégio.
21
3
Cabe ressaltar que o processo de evangelização jesuíta buscava sua eficácia
na educação, por meio da criação de colégios. Além disso, num movimento de
Contra-Reforma, a Companhia de Jesus e seu fundador, Inácio de Loyola,
encontrava no setor da educação um viés para afirmação da doutrina católica.
Acerca disso, Percival Tirapeli, Günter Heil e Emanoel Araújo (2001) nos informa:
Organizados por Inácio de Loyola na primeira metade do século XVI, os jesuítas rapidamente assimilaram as propostas inovadoras de sua época. Atentos às recomendações do Concílio de Trento, promoviam renovação na forma de conceber uma construção religiosa, preocupados principalmente com a necessidade de reconquistar o espaço perdido para a reforma protestante. Os jesuítas chegaram ao Brasil em 1549, à Bahia, junto com o primeiro governador-geral, Tomé de Souza, com missões bem definidas: converter o gentio por meio da catequese e doutrinação, libertar os índios do jugo dos portugueses, que já os escravizavam, e aldeá-los à medida que fossem sendo catequizados. O padre Manoel da Nóbrega recebeu instruções para iniciar imediatamente a edificação de um colégio para meninos em Salvador (TIRAPELI, HEIL, ARAÚJO, 2001, p. 28).
3 Todas as fotografias foram feitas pelo fotógrafo e autor da dissertação.
Foto 2 - Fachada da Paróquia São Luís Gonzaga atualmente.
22
Como se pode observar, a ideia inicial era proporcionar ensino cristão aos
desvalorizados socialmente. Depois, a ideia foi transmitir o ensino das universidades
para os escolásticos (aqueles que dentro da Companhia se preparam para exercer
sacerdócio). Esse segundo método era tão elevado que as famílias nobres
imploravam para que seus filhos pudessem estudar com os seguidores da Ordem.
Inácio de Loyola se mostrava aberto ao diálogo e as novas propostas e,
gradualmente foi aderindo às sugestões e pedidos. Finalmente, em 1548 Loyola
aceita um pedido e funda um colégio com o mesmo conceito dos atuais. Este é
considerado o primeiro colégio dos jesuítas.
Como este “protótipo” funcionou, Loyola recomendou a abertura de colégios
pelos jesuítas, sempre respeitando o conceito de ensinar os jovens leigos e mantê-
los fieis à Igreja. A criação de colégios pelos jesuítas foi vital para a propagação do
evangelho e ensino secular. No caso do Brasil, um desses colégios daria origem à
paróquia São Luís Gonzaga, da qual falaremos mais adiante.
Mas, quem teria sido Luís Gonzaga, personagem que daria o nome à Igreja?
Filho do Marquês Dom Ferrante Gonzaga e da Condessa Maria Tana de Santena,
Gonzaga teria nascido em 9 de março de 1568. Conforme Horácio Botero, “Luís
Gonzaga é um dos Santos mais conhecidos porque, como Padroeiro da Juventude,
tem muitas obras educativas com seu nome” BOTERO (1987, p. 4).
23
Foto 3 - Interior da paróquia. Destaque do altar com a escultura de Luís Gonzaga e do sacrário.
Luís Gonzaga era muito inteligente e deveria assumir os negócios da família.
Foi instruído como um príncipe em etiqueta, cortesia, armas, estudos humanísticos,
tanto na Itália, como na Espanha. Com 10 anos, teria feito seu voto de castidade e
perseguido uma vida de oração e penitência. Aos 12 anos, após sua primeira
comunhão, ficou inclinado a se tornar jesuíta, mas seu pai não aprovou e por quatro
anos ele esperou. Por fim, no dia 25 de novembro de 1585, com 17 anos, finalmente
entrou para a Companhia de Jesus, sob a direção de São Roberto Bellarmino.
Entretanto, 3 meses depois seu pai morreu e seu irmão Rodolfo assumiu os
negócios gerando muitos problemas. Luís Gonzaga teve de intervir, motivo pelo qual
parou seus estudos. Já em 1591, ainda estudante de teologia, teria servido aos
atingidos pela peste tifo em Roma. Gonzaga não teria contraído a maligna peste,
mas teve um enorme enfraquecimento orgânico que o levou a morte com 23 anos de
idade, no exato dia 21 de junho. Esse histórico de altruísmo e de mártir da caridade
fez com que o Papa Bento XIII o canonizasse e o declarasse patrono dos
estudantes. Por sua vez, o Papa Pio XI em 1926 o fez patrono dos jovens.
Em relação ao conceito de espiritualidade e apostolado de Luís Gonzaga,
Paolo Molinari afirma:
24
Por isso, a sua espiritualidade está cheia da ideia dum serviço prestado – por amor – aos homens, aos pobres, aos que sofrem. Mas este serviço de Deus pelo bem dos outros, para Luís, não se identifica com uma pura atividade exterior. Compreendeu que na vida do religioso e do sacerdote este serviço se presta também, primeiramente na oblação de si mesmo, na transformação com que, sob o impulso da graça, o homem aprende a fazer seus os sentimentos do Senhor e a viver da sua vida, tornando-se assim autêntico apóstolo (MOLINARI, 1974, p. 95).
Com relação ao Colégio São Luís, é preciso contextualizá-lo com a história
dos jesuítas. Cabe lembrar que, esse episódio, está relacionado à expulsão e
retorno dos jesuítas do território brasileiro. No Brasil a Companhia de Jesus teve
duas expulsões, sendo a primeira em 13 de julho de 1640 e a segunda em 21 de
julho de 1773.4 Essa grande supressão teve início com Marquês de Pombal,
conhecido como Sebastião José de Carvalho e Melo. Ele teria sido foi o principal
personagem para a queda da Companhia.5
Durante as brigas do padroado, os jesuítas sofreram perseguições e
acusações de traidores e rebeldes. Muitos foram expulsos sob a proibição de se
comunicar com outras pessoas; quem os recebesse, seria condenado a pena de
morte e seus bens eram tomados. As pressões perduraram até que o Papa
Clemente XIII assumiu o pontificado e defendeu a atuação da Companhia de Jesus
em todos os territórios, alegando que a Companhia ajudava os trabalhos da igreja.
Várias foram as cartas, formais e elogiosas, de Dom José (rei de Portugal) ao papa
e vice e versa.
Na Espanha, por exemplo, Carlos III assumiu o trono, fez acordos e poucos
anos depois, os jesuítas foram expulsos foram expulsos das colônias espanholas.
Em 19 de maio de 1769, o Cardeal Lorenzo Ganganelli foi eleito como novo papa
sob o nome Clemente XIV. Este, diante de várias pressões, entre elas, escolher
4 Conforme Donato (2008, p. 127), em 1640 foi uma expulsão local. Diante da liberdade dos índios, os padres que habitavam no Colégio de São Paulo foram expulsos “a saber: o reitor, Pe. Nicolau Botelho, com os padres Antonio Ferreira, Antonio de Mariz, Mateus de Aguiar, Lourenço Vaz, e os irmãos Domingos Alves, Antonio Gonçalves e Lourenço Rodrigues” (DONATO, 2008, p. 127). E em 1773, foi a grande supressão da Ordem, por determinação do Papa Clemente XIV com o documento Breve Dominus ac Redemptor. Além de expulsos, o Estado tomou os bens da Companhia de Jesus. 5 Os pesquisadores Carlos Alberto Contiere, Angélica Brito Silva, Carla Galeano, Larissa Maia Artoni e Silvia Maria Azevedo afirmam que “o Marquês de Pombal obteve do Papa Bento XIV a nomeação de seu primo, o Cardeal Francisco Saldanha, como visitador apostólico para a reforma dos jesuítas portugueses. Ao mesmo tempo, procurou estreitar as relações com as cortes bourbônicas, francesa e espanhola, formando uma forte aliança para a expulsão da Companhia de Jesus dos domínios portugueses e para posterior supressão da Companhia de Jesus” (2013, p. 9).
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suprimir os jesuítas ou ter os países França, Espanha e Nápoles separados,
suprimiu os jesuítas em 1773.
Quanto a Portugal, além das questões econômicas, em especial ao Marquês
de Pombal, seu maior temor era o conhecimento dos jesuítas. Principalmente, o
fazer pensar, ou seja, o ensino. Temor comprovado, pois depois da expulsão, as
obras da Companhia de Jesus foram queimadas.
No caso da Rússia, a Imperatriz Catarina II impediu o fim da Companhia em
seu país, protegendo e recepcionando os integrantes da Companhia de todos os
cantos do mundo. Essa proteção se deu pelo importante papel desempenhado pelos
jesuítas na Rússia, principalmente na área da educação, mas também nas ações
sociais e na evangelização.
Um ano depois da supressão imposta pelo Papa Clemente XIV, este veio a
falecer e Pio VI assumiu o cargo eclesiástico. Pio VI iniciou a análise sobre o fim da
Companhia de Jesus. E vagarosamente algumas atitudes foram tomadas e
observava que o povo não aprovava as decisões de Pombal referente aos Jesuítas.
Assim, a ideia de restauração ficava cada mais forte. Aos poucos algumas ações
foram tomadas colaborando e incentivando a restauração da Companhia. Ações
como a que Fernando IV rei de Nápoles e o padre Joseph Pignatelli tomaram de
manter o controle da educação nas mãos dos jesuítas no país de Nápoles. Assim,
após intensas dificuldades, conseguiram que o então Papa Pio VII assinasse o
Breve de restauração da Companhia de Jesus em Nápoles e nas duas Sicílias.
Na França, Napoleão expulsou cerca de 4600 religiosos, dificultando a
restauração da Companhia. Mas, em contrapartida, as invasões realizadas por
Napoleão favoreceram a ação dos jesuítas na Europa e logo a campanha de
restauração retornou.
Finalmente, 41 anos depois da supressão da Companhia, em 07 de agosto de
1814, o Papa Pio VII, após celebrar missa no altar de Santo Inácio entregou a Bula
Sollicitudo Omnium Ecclesiarum que restaurava a Companhia.
O retorno da Companhia de Jesus ao Brasil demorou 28 anos e veio pelo sul
do país depois de terem passado pela Argentina e Uruguai. Foi no Rio Grande do
Sul em 1842 que padres jesuítas fixaram residência. Lá desenvolvem missões
populares que envolviam visitas no interior do estado, além de missas e catequeses.
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Há destaque na criação em Porto Alegre de uma escola de latim e realizações
missionárias entre os índios Kaingáng.
Em 1845 foi inaugurado o Colégio dos Missionários, pouco depois a primeira
propriedade nesse retorno foi adquirida, um sítio, onde em 1846 o colégio passou a
funcionar. Mas em 1853 devido a insalubridade na atual Florianópolis e aos altos
custos, as atividades foram finalizadas.
Assim, aconteceu o retorno, a retomada do trabalho no Brasil. Roque
Schneider afirma que “a história do Brasil, em suas primeiras décadas, está
intimamente vinculada à história de um punhado de jesuítas, que aportaram em
nossas selvas, como missionários” (1980, p. 3). De acordo com Hernâni Donato
(2008, p. 230), o Padre Jaques Razzini, então visitador da missão jesuíta no Brasil,
teria articulado a criação do Colégio São Luís em 1867 na cidade de Itú, passando a
ser considerado o primeiro colégio jesuíta no Estado de São Paulo.
Foto 4 - Convento franciscano de São Luiz de Tolosa, primeira sede do Colégio dos jesuítas em Itú.
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Estes trabalhos realizados no Brasil eram mantidos pela Província da
Espanha até o ano de 1865. A partir de então boa parte da missão brasileira passou
ser mantida pela Província Romana e o Colégio São Luís foi o centro das atividades,
sendo a base de trabalho para alcançar outros Estados. É nesse contexto que surge
a história do Colégio e da Paróquia São Luís Gonzaga.
Foto 5 - Nova sede do Colégio São Luís em 1872.
Foto 6 - Recorte do início do Colégio São Luís em São Paulo.
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Vejamos brevemente a história narrada pela própria instituição:
A história da Paróquia São Luís Gonzaga está vinculada à história do Colégio São Luís, que foi fundado na cidade de Itu, interior de São Paulo, em 1867. No ano de 1917, foi transferido para a Capital, na atual quadra da Avenida Paulista, onde existia o Colégio Anglo-Brasileiro. Durante os anos de 1932 e 1933, o antigo edifício foi reformado e complementado por outro, ocupando toda a fachada da Avenida Paulista. Na ocasião, na esquina da Av. Paulista com a Rua Bela Cintra, foi construída a Capela do Colégio. Lançou-se a 1ª pedra do novo edifício no dia do padroeiro das escolas católicas, São Tomás de Aquino, que celebramos em 7 de março. A bênção foi dada pelo Exmo. Sr. Arcebispo Metropolitano, com a presença de grande número dos antigos alunos, famílias, pessoas amigas e os alunos do Colégio. A construção, em estilo greco-romano, conforme projeto do ex-aluno do Colégio São Luís, o engenheiro e arquiteto Luís de Anhaia Mello, teve início no ano de 1932. Em março de 1935, terminada a construção da nova Capela, houve a benção, oficiada por S. Exmo. Sr. Arcebispo Dom Duarte Leopoldo e Silva. A consagração só aconteceu em 1º de novembro do mesmo ano, por Dom José Gaspar de Fonseca e Silva, Bispo Auxiliar da Arquidiocese. A então capela do Colégio São Luís tornou-se Paróquia de São Luís Gonzaga, por Decreto do Arcebispo Metropolitano Dom Agnelo Rossi, em 10 de abril de 1966, e foi confiada à Companhia de Jesus, Ordem dos Jesuítas, fundada em 1540 por Santo Inácio de Loyola. O grande pórtico em estilo jônico foi inspirado no Templo de Erecteion, em Atenas, Grécia. Suas colunas, de 11 metros em granito rosa, são encimadas por capitéis de bronze, que pesam 3 toneladas, modelados e fundidos no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo, SP. O sacrário, todo em bronze trabalhado e com o interior dourado, cria a impressão de uma miniatura de um templo romano. Próximo ao sacrário, há os castiçais, que medem 1,10 metros e pesam, aproximadamente, 22 quilos cada. Verdadeiras peças de arte, também foram fundidos no Liceu, conforme desenho e moldes de seus técnicos. Inspirados ainda pela importância histórica da Companhia de Jesus no mundo e no Brasil e na projeção que os grandes santos por ela elevados à honra dos altares adquiriram dentro da Igreja, resolveu-se venerá-los figurando-os em 14 dos grandes vitrais da nave da Igreja, além de 2 vitrais dedicados a Nosso Senhor Jesus Cristo, junto do altar-mor. Para estudar o desenho desses vitrais e sua execução, foi convocado o vitralista Conrado Sogernicht Filho. (Institucional, 2015).
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Foto 7 - Panorâmica do Complexo São Luís, 1932.
Foto 8 - Fachada do Complexo São Luís, em 1935.
Foto 9 - Fachada do Complexo São Luís, 1966.
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No período em que o colégio São Luís foi para a avenida Paulista, o estilo
usado é um atestado do apogeu do ecletismo arquitetônico do neoclassicismo
paulistano, em síntese um ecletismo muito grande, uma mistura de estilos. Estava
em voga o estilo neoclássico. Portanto, os artistas estavam buscando referência na
arquitetura clássica europeia. Assim, este estilo em vigência foi bem aceito pois era
imponente. Entretanto, ele chegou muito eclético, não veio um estilo neoclássico
puro.
A paróquia, como vimos, foi construída no estilo Greco-romano, mas nota-se
a influência de outros estilos, porque fazia parte do momento arquitetônico que São
Paulo vivia. Então, isso se reflete na planta, na estrutura, nos ornamentos e nos
vitrais.
Como podemos observar a história da Paróquia São Luís Gonzaga se
confunde com o processo de modernização. Além disso, o colégio foi ativo nos
eventos da cidade, inclusive nos esportes e foi galgando degraus acompanhando o
rápido desenvolvimento da Avenida Paulista que teve sua verticalização, ou seja,
saíram os típicos casarões e prédios tomaram seu lugar. Para ilustrar isso, em 1971
finalizou-se uma importante e moderna reforma. Ele tomou de fato a forma de um
prédio. O ápice dessa reforma aconteceu um ano depois, em 1972 foi inaugurada
uma galeria, um acesso onde os pais poderiam trafegar com seus carros para levar
e buscar seus filhos sem atrapalhar o caótico trânsito na região e oferecer maior
segurança aos transeuntes. A próxima fotografia mostra o acesso a galeria.
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Foto 10 - Saída dos carros dos pais dos alunos da galeria. Detalhe, a galeria é considerada uma rua, a rua do Colégio São Luís, que sai na rua Bela Cintra.
Foto 11 - Fachada do Colégio São Luís. Entrada principal na rua Haddok Lobo, 400. Detalhe para a galeria!
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Para aproveitar a modernização externa, o colégio também em 1972 permitiu
a inserção de meninas nas salas de aula. Foi, portanto, um dos colégios tradicionais
pioneiros por aceitar alunos de ambos os sexos. Desde então, o colégio seguiu o
ritmo da cidade e não parou de crescer e se modernizar. Hoje é um importante e
conceituado colégio de São Paulo e conta com mais de 2500 alunos.
Tal reforma envolveu importantes profissionais, entre eles, o ex-aluno do
colégio e professor da Escola Politécnica, Luiz de Anhaia Mello; e um importante
sobrenome no que se refere aos vitrais, o vitralista, Conrado Sorgenicht Filho. Mais
adiante destacaremos a importância do renomado vitralista para confecção dos
vitrais da Igreja.
Abaixo, algumas fotografias panorâmicas do exterior e do interior da Paróquia
atualmente.
Foto 12 - Fachada do Complexo São Luís atualmente.
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Foto 14 - Panorâmica do Complexo São Luís atualmente com detalhe para a Avenida Paulista.
Foto 13 - Panorâmica do Complexo São Luís Atualmente.
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Foto 15 - Panorâmica do interior da Paróquia São Luís Gonzaga. Fundo.
Foto 16 - Panorâmica do interior da Paróquia São Luís Gonzaga. Altar.
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CAPÍTULO 2
A PARÓQUIA SÃO LUÍS GONZAGA E OS VITRAIS DA FÉ
O objetivo desse capítulo é apresentar o desenvolvimento histórico do uso
dos vitrais nas artes brasileiras e, de modo especial, buscar relacionar com a
Paróquia São Luís Gonzaga. No primeiro capítulo procuramos esboçar o surgimento
da Paróquia a partir das atividades dos jesuítas, a Companhia de Jesus. São esses
personagens e seus modos de vida que são retratados em muitos dos vitrais da
igreja. Essa importância é ressaltada na reforma da Paróquia e a contratação do
vitralista Conrado Sorgenicht Filho.
A Paróquia São Luís Gonzaga possui 16 vitrais, que estão numerados (mas
não exposto) por seguirem uma sequência. Não seguem uma sequência
cronológica, e nem mesmo de grau de importância. Isso é facilmente observado,
pois o primeiro e o último fazem menção a pessoa de Jesus Cristo, Inácio de Loyola
é representado no vitral número quinze e o fundador da Companhia no Brasil no
vitral treze, provando que não há uma razão quanto a distribuição dos mesmos na
nave da paróquia.
Para quem olha o altar, perceberá oito vitrais à direita e oito à esquerda. O
número um e a sequência iniciam-se no altar, do lado direito. Rodeiam a Paróquia e
terminam no décimo sexto vitral, também no altar, mas do lado esquerdo de quem
olha para o altar. O esquema da disposição dos vitrais abaixo, baseado na planta da
nave da paróquia, ilustra o que afirmamos.
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Em uma recente dissertação de mestrado Helder Magalhães Viana buscou
criar um “padrão” nacional para o registro e identificação dos vitrais. Conforme
Viana:
A longevidade de um vitral é inversamente proporcional à natureza frágil de seus materiais. Embora existam exemplares conservados que remontam a um período de cerca de mil anos, foram várias as perdas causadas pela falta de conhecimento do valor de muitas destas obras. O tema desta dissertação apresenta a etapa inicial de um processo de conhecimento que visa a proteção de acervos de vitrais (VIANA, 2015, p. 17).
Existem fichas e métodos internacionais que ele considerou para desenvolver
a sua ficha. Essa ficha é um grande passo para o resgaste da importância dos vitrais
na sociedade e seu respectivo registro histórico. E colabora com nossa pesquisa,
pois o viés são os vitrais e, não há nenhum tipo de registro dos vitrais da Paróquia
São Luís Gonzaga como proposto por ele. Há uma dificuldade muito grande de obter
informações, e essa ficha pode ser posteriormente preenchida e arquivada, ou
ainda, disponível no site da Paróquia, para que se conheça sua história e dados
técnicos; e ainda, ao se obter novas informações, estas sejam lançadas na ficha
deixando-a o mais completa possível.
Nós não preenchemos a ficha com um vitral da Paróquia São Luís Gonzaga,
mas deixamos no fim do trabalho, em anexo, uma ficha modelo que possui 4
páginas, ou seja, cada 4 páginas (uma ficha) se referem a 1 único vitral.
Sabemos que posterior a alguma reforma que ocorreu, alguns vitrais não
foram recolocados e não há, até onde investigamos nenhuma foto ou desenho de
como eles eram e onde precisamente estavam na nave.
2.1 A CASA CONRADO E A HISTÓRIA DOS VITRAIS
De modo geral, a arte dos vitrais é relativamente recente no Brasil. Segundo a
pesquisadora Mariana Gaelzer Wertheimer (2011), o Brasil demorou para
confeccionar seus próprios vitrais. Até o início do século XX os vitrais que aqui foram
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colocados, vieram da Europa, particularmente da França e Alemanha. Gradualmente
as dificuldades foram sobrepujadas, entre elas, a maior era a matéria prima.
Nesse contexto, houve uma família que galgou um destaque nesta
empreitada pioneira, a família Conrado. Além disso, conforme apontamos no
primeiro capítulo, a relação entre Conrado Sorgenicht Filho e a reforma da Paróquia
São Luís Gonzaga é pertinente para compreendermos a arte dos vitrais. Regina
Lara Mello (1996) afirma que:
Em 1889, é fundada a Casa Conrado, que desenvolveu a atividade do vitral, criando mais de 600 obras espalhadas por todo o Brasil, 144 registradas neste trabalho. Em cem anos de atividade, o ateliê viveu dois períodos áureos, aproximadamente de 1920 a 35, e de 1950 a 65, quando foram feitos os vitrais mais interessantes (MELLO, 1996, p. 12).
Nesta relação de vitrais projetados e executados pela Casa Conrado notamos
várias igrejas, grandes e importantes, na capital e no interior, no estado de São
Paulo e fora dele, por exemplo, a Catedral da Sé, a igreja Nossa Senhora do Brasil,
a Igreja de Santa Cecília, a capela do hospital Beneficência Portuguesa, capela do
Hospital das Clínicas, que foi desenhado por Di Cavalcanti e escultadas por Victor
Brecheret. Além de várias obras tidas como profanas, tais como: banco do Brasil nas
agências Boa Vista e São João e com especial destaque o Salão Nobre da
Sociedade de Beneficência Portuguesa, tida por Conrado Filho, a obra prima do
legado construído.
Cada igreja ou instituição teve um pedido, um artista para desenhar. A Casa
Conrado dispunha de vários artistas. E, depois de desenhado, esperava-se a
aprovação do cliente, para só depois, executar e colocar os vitrais no local
especificado.
O trabalho de Regina Lara Mello nos apresenta importantes dados acerca da
história dos vitrais. A Casa Conrado imperou por três gerações, com três Conrado
Sorgenicht. O primeiro de 1835-1901; o segundo de 1869-1935 e o terceiro, criador
dos vitrais do nosso estudo de caso, de 1902-1994. Conforme Mello:
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Nas últimas décadas do século XIX, o Novo Continente seduzia muitos imigrantes europeus com a esperança de conquistar um espaço de trabalho e uma vida melhor. [...] Em 1874 chega ao Brasil o artesão Conrado Sorgenicht, natural de Cleve (1836), norte da Alemanha, atraído pelas novas oportunidades de trabalho e obedecendo a recomendações médicas de acomodar-se numa terra quente, para livrar-se de um forte reumatismo adquirido em luta na guerra franco-prussiana. (MELLO, 1996, p. 22-23).
A família Conrado obteve êxito no Brasil, além da saúde do pai melhorar, eles
desfrutaram do aquecimento e expansão econômica de São Paulo. Ainda de acordo
com Mello:
A Casa Conrado sempre ofereceu diversos serviços de decoração, e chegou a lançar algumas series de objetos utilitários, conforme veremos. Mas o que a tornou conhecida foi a excelência de seus vitrais. A que razões isto se deve? São muitas, algumas de ordem pratica e econômicas, outras estéticas e até espirituais. A família Sorgenicht viveu na região da Renânia do Norte, uma região católica, com muitas catedrais do período alto-gótico. Conrado Sorgenicht I frequentou estas catedrais até os 39 anos, quando veio ao Brasil. Ele já trabalhava com pinturas de afrescos e vitrais, não exclusivamente para igrejas, mas sua formação religiosa se deu nestes templos, onde o ambiente era propicio a introspeção, onde da luz diurna era filtrada por grandes vitrais. As ideias de representação de Deus na materialização da luz colorida do vitral no interior das igrejas estavam impregnadas na memória cultural deste artesão (MELLO, 1996, p. 28).
O ateliê da Casa Conrado sempre se dedicou ao vitral mais belo
esteticamente, que certamente eram os mais caros, mas essa característica trouxe
fama e bons resultados.
O vidro pode ser colorido diretamente na fundição, pelo acréscimo de óxidos, de ferro, cobre, cobalto e até ouro (para se conseguir o vermelho mais profundo); ou através da pintura uma placa de vidro incolor, fixando a tinta a quente, num processo quase sempre mais econômico, mas que certamente perde a qualidade estética (MELLO, 1996, p. 49).
Posteriormente, o terceiro Conrado absorve em sua arte as características
brasileiras e assim, junto com outros artistas, iniciam um estilo de arte brasileiro.
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A decoração de uma igreja normalmente era feita de modo a integrar a pintura das paredes com os vitrais. O tema poderia ser a vida de um santo, contada através de seus milagres, as passagens bíblicas mais significantes, uma alegoria dos seus atributos, ou simplesmente o santo da devoção do doador do vitral aquela igreja. Como todos são vitrais de caráter sacro, a verdade, neste coso, se traduz na tentativa de encaixar os personagens dentro de seu “cenário natural”, seu habitat, caracterizando-os da melhor forma possível (MELLO, 1996, p. 57-58).
O renome do senhor Conrado tem base histórica remetida à Idade Média.
Para Nunes, (2012) as grandes catedrais na França e por toda a Europa abriram
grandes espaços para os mestres vitralistas executarem sua arte. Desta
oportunidade bem aproveitada surgiu um legado, a Casa Conrado6.
2.2 A RELAÇÃO ENTRE ARTE E RELIGIÃO
Uma análise da fotografia dos vitrais pode nos ser útil para compreendermos
as dimensões dessa arte. Conforme já argumentamos, o cristianismo primitivo havia
educado o povo para a tradução simbólica dos princípios de fé; fizera-o por motivos
prudenciais, escondendo, por exemplo, a figura do Salvador sob a aparência do
peixe, para fugir, através da criptografia, aos riscos de perseguição (ECO, 2010, p.
107).
De que modo podemos apreender os principais símbolos dos vitrais? Donis
Dondis, (2007, p. 16) afirma que “a visão é natural; criar e compreender imagens
visuais é natural até certo ponto, mas a eficácia, em ambos os níveis, só pode ser
alcançada através do estudo”.
O tratamento metodológico da obra de arte é sugerido por Giulio Carlo Argan:
Uma vez que as obras de arte são coisas às quais está relacionado um valor, há duas maneiras de tratá-las. Pode-se ter preocupação pelas coisas: procurá-las, identificá-las, classificá-las, conservá-las, restaurá-las, exibi-las, comprá-las, vendê-las; ou, então, pode-se ter em mente o valor: pesquisar em que ele consiste, como se gera e se transmite, se reconhece e se usufrui. A informação abundante e exata ajuda sem dúvida a formular, mas não resolve o problema do
6 Há uma documentação histórica sobre a Casa Conrado no Royal Society. Mas ela tem acesso restrito.
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significado e do alcance de um fato. Percebe-se isso com clareza quando se estuda arte contemporânea: apesar da precisão da informação, ela nos parece, do ponto de vista da interpretação, ainda mais problemática (ARGAN, 2014, p. 13, 14).
E sobre a necessidade de contextualizar a obra de arte, Argan argumenta:
Sem sombra de dúvida, a obra de arte não tem para nós o mesmo valor que tinha para o artista que a fez e para os homens da sua época. A obra é sempre a mesma, mas as consciências mudam. Entretanto, não é verdade que algo dela perca valor e algo continue a valer; mais precisamente, que os conteúdos da comunicação percam seu valor e os sinais com que são comunicados continuem a valer. Se assim fosse, a arte seria uma linguagem e o historiador de arte um glotólogo interessado apenas na mecânica dos sistemas linguísticos (ARGAN, 2014, p. 25).
Ainda sobre essa hermenêutica dos vitrais, Hélio Requena da Conceição
afirma:
Ao analisar as figuras representadas nos vitrais, não podemos nos esquecer de que o artista medieval não estava empenhado numa imitação de formas naturais e se preocupava exclusivamente com a disposição de tradicionais símbolos sagrados. Por isso, não devemos buscar nas figuras aquilo que o artista nunca pretendeu passar (CONCEIÇÃO, 2000, p. 129).
Como se pode observar nos personagens exaltados nos vitrais, “a auréola
elíptica, ou auréola situada em volta da cabeça, indica luz espiritual. Essa, por sua
vez, prefigura a dos corpos ressuscitados. Trata-se, pois, de uma transfiguração
antecipada em corpo glorioso” CONCEIÇÃO, (2000, p. 160).
Portanto, além de todos esses elementos simbólicos presentes nos vitrais da
Paróquia São Luís Gonzaga, nota-se um simbolismo estético e de status dos fiéis.
Os vitrais simbolizam poder, destaque social e equilíbrio econômico.
Quanto à importância da luz e da cor na composição da arte, Umberto Eco diz:
A luz é princípio de toda beleza, não só porque ela é maxime delectabilis entre todos os tipos de realidade que se podem apreender, mas porque, através dela, cria-se a diferenciação das cores e das luminosidades, da terra e do céu. A luz refulgirá em suas
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quatro propriedades fundamentais: a claritas, que ilumina; a impassibilidade, pela qual nada pode corrompê-la; a agilidade, quia subito vadit, e a penetrabilidade, pela qual atravessa os corpos diáfanos sem corrompê-los. (Eco, 2010, p. 100, 102).
Ítalo Curcio, por sua vez, acrescenta.
Em diversas culturas, a luz foi vista sempre com especial destaque, tendo-se, inclusive, em algumas o “status” de divindade. Na antiga mitologia egípcia, a luz tinha “status” de deusa e na cultura judaico-cristã, por exemplo, a luz ganhou “status” de elemento universal (CURCIO, 2013, p. 64).
Portanto, sem luz, sem visão, sem visão não aprenderíamos, o que limitaria
drasticamente as ações humanas e a transmissão do aprendizado, do belo e do
sagrado.
Sobre as cores, sabemos que o ser humano as observou na natureza e a
usou para reproduzi-las. A tese de Ítalo Curcio (2013) refere-se às cores dos vitrais:
Outro registro relevante da reprodução das cores refere-se à Arte dos Vitrais de templos católicos edificados na Europa, desde o século X. Também nesse caso, não se tem nenhum indício de conhecimento da Física das cores e tampouco dos conceitos da Óptica, apresentados somente após o século XVII. Mesmo assim a refração sofrida pela luz nos vidros desses vitrais resulta em efeitos que sugerem verdadeiras mensagens litúrgicas. Verifica-se, no caso, a utilização do azul para enfatizar figuras consideradas de maior importância. Hoje, com o conhecimento disponível a partir da Física e da Fisiologia Humana, sabe-se que em um ambiente como o destes templos, a maior sensibilização da visão humana se dá com o azul de um vidro que refrata a luz do dia, à medida que a iluminação esvanece. E é exatamente o que ocorre no caso desses vitrais. Portanto, também neste caso, os artistas, mesmo que empiricamente, já conheciam estes efeitos (CURCIO, 2013, p. 169).
É impressionante, como o homem mesmo que por tentativa e erro conseguiu
reproduzir cores e criar atmosferas suaves, de paz, para contemplação, como
fizeram no período medieval.
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Segundo Curcio, (2013) quando alguém precisa obter ou reproduzir uma cor,
ele poderá utilizar pigmentos ou lâmpadas, entretanto, deverá ter conhecimento de
que a cor é resultado de um efeito fisiológico e que esse efeito dependerá
exclusivamente da informação recebida por quem vê.
Nesse sentido, entende-se que determinada cor depende de vários fatores,
como por exemplo: a cor da incidência da luz sobre um objeto, as cores próximas a
esse objeto e o mais importante, o processo fisiológico de cada indivíduo, ou seja, o
que seu cérebro compreendeu. No entanto, determinadas culturas atribuem
significados diferentes a certas cores e o professor Curcio cita:
Em princípio o caráter simbólico das cores seria universal, porém, devido às diversas culturas que se sucederam nas diversas regiões geográficas da Terra, verifica-se que este simbolismo decorre diretamente de influências destas culturas. Certas cores, no geral, apresentam simbologias comuns, como, por exemplo, o vermelho e o laranja, que simbolizam o fogo; o amarelo e o branco, que simbolizam o ar; o verde, a água e o preto ou marrom-castanho, a terra (CURCIO, 2013, p. 88, 89).
De acordo com Umberto Eco “a propósito da percepção da cor (gemas,
estofos, flores, luz etc.), a Idade Média manifesta, no entanto, um gosto muito vivaz
pelos aspectos sensíveis da realidade” ECO, (2010, p. 88). Ítalo Curcio (2013)
comenta que há uma simbologia cristã das cores, onde o branco representa o Pai, o
azul o Filho e o vermelho o Espírito Santo. O branco representa ainda a pureza, o
vermelho o fogo do Espírito Santo e o verde, simboliza a esperança. Há também, a
cor violeta que simboliza penitência e o rosa a contrição. Ainda, o professor Ítalo
Curcio (2013) em sua tese cita a obra de Albert:
Destaca-se que a percepção das cores advém de uma leitura da imagem, de forma análoga à leitura de um texto. Ele alegoriza que as letras separadamente geralmente não significam nada, porém, convenientemente agrupadas, formam as palavras que, embora restrito, já possuem significado e estas, por sua vez, também convenientemente agrupadas, transmitem uma mensagem. Assim ocorre com as cores. Isoladamente elas não possuem necessariamente um significado, mas agrupadas, numa sequência, fornecem a
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mensagem, que pode ser “lida” pelo observador (Albert, Apud Curcio, 2013, p. 168).
APRESENTAÇÃO DAS FOTOGRAFIAS
Fica nítido que os vitrais da Paróquia São Luís Gonzaga são religiosos devido
sua origem. No entanto, não é difícil verificar o caráter histórico e social arraigado
nesses vidros advindo dos propósitos da Companhia. Por isso precisamos ver, “Nos
modernos meios de comunicação acontece exatamente o contrário. O visual
predomina, o verbal tem a função de acréscimo”. Dondis, (2007, p. 12).
Conceição (2000) afirma sobre os vitrais, “Gravavam-se frequentemente nelas
mais história de santos do que episódios da Bíblia”. Não é diferente na Paróquia São
Luís Gonzaga, onde dos 16 vitrais apenas 2 retratam fatos bíblicos.
Um dos vitrais, o de número 15 é de Santo Inácio de Loyola, honrando o
criador da Companhia de Jesus, e o responsável indiretamente pela criação da
paróquia.
A respeito disso o professor Hilário Franco Junior afirma que havia no desejo
de construção de grandes igrejas uma intenção de trazer prestígio para a cidade ou
a um personagem importante. Franco Junior, (2006, p. 28).