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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO
CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO CIÊNCIAS DA SAÚDE E
BIOLÓGICAS
THAYNÃ ALVES BEZERRA
EFEITOS DE UMA INTERVENÇÃO INTERDISCIPLINAR SOBRE OS
FATORES DE RISCO CARDIOVASCULAR EM CRIANÇAS COM
SOBREPESO E OBESIDADE
PETROLINA
2017
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THAYNÃ ALVES BEZERRA
EFEITOS DE UMA INTERVENÇÃO INTERDISCIPLINAR SOBRE OS
FATORES DE RISCO CARDIOVASCULAR EM CRIANÇAS COM
SOBREPESO E OBESIDADE
Trabalho apresentado a Universidade Federal
do Vale do São Francisco – UNIVASF,
Campus Petrolina Centro, como requisito para
obtenção do título de Mestre.
Orientador: Prof. Ferdinando Oliveira
Carvalho.
Co-orientador: Prof. Marcelo Domingues de
Faria.
PETROLINA
2017
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Bezerra, Thaynã Alves B574e
Efeitos de uma intervenção interdisciplinar sobre os fatores de risco cardiovascular em crianças com sobrepeso e obesidade / Thaynã Alves Bezerra. -- Petrolina, 2017.
121 f.: il. ; 29 cm. Dissertação (Mestrado em Ciências da Saúde e Biológicas) -
Universidade Federal do Vale do São Francisco, Campus Petrolina, Petrolina-PE, 2017.
Orientador: Prof. Dr. Ferdinando Oliveira Carvalho. Referências 1. Obesidade nas crianças -- Tratamento. 2. Sistema
cardiovascular - Doenças. 3. Promoção da saúde. I. Título. II. Universidade Federal do Vale do São Francisco.
CDD 616.398083 Ficha catalográfica elaborada pelo Sistema Integrado de Bibliotecas da UNIVASF.
Bibliotecária: Luciana Souza Oliveira CRB5/1731
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO VALE DO SÃO FRANCISCO
CURSO DE PÓS GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DA SAÚDE E
BIOLÓGICAS
FOLHA DE APROVAÇÃO
THAYNÃ ALVES BEZERRA
EFEITOS DE UMA INTERVENÇÃO INTERDISCIPLINAR SOBRE OS
FATORES DE RISCO CARDIOVASCULAR EM CRIANÇAS COM
SOBREPESO E OBESIDADE
Dissertação apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Mestre em Ciências da Saúde e Biológicas, pela Universidade Federal do Vale do São Francisco.
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Agradecimentos
Em primeiro lugar, quero agradecer ao meu Deus que realizou em minha vida
sonhos que eu nem sequer ousava sonhar, por ter me dado força, coragem e por não
ter deixado nada faltar no decorrer desse processo.
Ao meu companheiro nessa jornada com o qual eu tenho o privilégio de dividir
minha vida, Neco, costumo dizer que ele é o melhor companheiro de vida que eu
poderia ter, e isso só se confirmou ao longo dessa caminhada. Meu melhor amigo,
sorriu e chorou comigo, e muitas vezes também desaminado pelas circunstâncias,
encontrava força e coragem para me animar. Não tenho dúvidas de que você foi
escolhido por Deus para ser meu anjo.
Preciso agradecer à minha família, que foi a base para que esse momento fosse
possível. Meu pai, Tony, um homem simples, que tem apenas o ensino fundamental
completo, mas que sempre me incentivou, lutou e trabalhou pesado para que eu
pudesse estudar, vibrou com cada uma das minhas conquistas, e mesmo sem
entender direito o que é uma pós-graduação, se agarrou ao meu sonho, me fez
acreditar que era possível e lutou cada segundo do meu lado para que eu não
desistisse. Minha mãe, Ivaneide, que também nunca ficou por trás, me ensinou que
sonhar é bom, mas que é com planejamento que os sonhos podem se tornar reais.
Muitas vezes distante de casa, eu ligava e aquela voz de mulher guerreira, que tudo
suporta, acalmava a tempestade que se passava dentro de mim. Meus irmãos, Renata
e Mateus, que são meus amigos e incentivadores de todo esse sonho “maluco”. Minha
sogra, Maria Helena e minha cunhada Nena, com quem sempre pude contar e a quem
serei eternamente grata por todo apoio. Minha família é muito grande e a cada um dos
membros eu precisaria agradecer incansavelmente, mas alguns nomes não podem
faltar, minhas duas avós, Aureny e Socorro, minha tia quase mãe Maninha, minha
prima quase irmã Cinthya e seu esposo Alexandre e minha tia avó Eva que foi um
apoio muito importante na nossa ida para Petrolina. Sou grata à Deus pela vida de
cada um deles e mais ainda por ter me colocado nessa família.
Aos melhores amigos do mundo, Nonato, Conim e Edna, com quem eu sonhei,
planejei, depois reclamei, me queixei, sorri, bebi, cresci, construí e comemorei. Aos
presentes que o mestrado me deu, Carol Penaforte, Luciana, Flavinho, Cleyton e
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Filipe Diego, Petrolina foi muito melhor com vocês. Agradecer também a melhor turma
do programa de Ciências da Saúde, a minha... Amizade para a vida toda.
Aos professores que não eram meus orientadores, mas que foram únicos nesse
processo. Os professores do colegiado de Educação física da UNIVASF, em especial
Mariana, Zé Fernando e Zé Roberto. Agradecer ao professor Cazuza da UFPB,
exemplo de professor e pesquisador, o tempo que passamos com ele e com seus
alunos mostraram o que os artigos não são capazes de dizer: da sua seriedade com
seu grupo, com seus alunos, com a pesquisa e com a Universidade, muito obrigada
por nos receber em seu laboratório, por passar horas ouvindo nossos projetos
orientando para as melhores escolhas, obrigada por disponibilizar seus alunos para
nos ajudar, em especial Alcides e Arthur aos quais também agradeço por todo carinho
e atenção.
Não sei quais palavras eu poderei usar para agradecer ao professor Luciano
Basso da USP. Pelas horas de Skype durante esses dois anos, depois por nos receber
em sua Universidade, em seu laboratório, em sua casa e por fim, em sua vida. Foram
tantos ensinamentos acadêmicos e também pessoais que não cabem no papel,
obrigada por ser esse vendedor de sonhos. Aproveito para estender meus
agradecimentos à sua esposa Micaela, obrigada pela porta sempre aberta e pela
partilha de tão bons momentos.
Gostaria de agradecer também à Cardiovasf aqui representada na pessoa do
doutor Anderson Armstrong e seu aluno Danyl a quem não dei um minuto de descanso
até estar com todos os exames em mãos. À Secretaria Municipal de Educação de
Petrolina, aos gestores das escolas participantes dessa pesquisa. E especialmente,
gostaria de agradecer aos pais e as crianças pela confiança depositada nesse
trabalho.
Quero agradecer à toda equipe que trabalhou comigo para que esse projeto
pudesse acontecer, aos alunos da psicologia orientados pela professora Junnia, as
nutricionistas maravilhosas Karol, Jane e Fátima, e aos alunos do curso de educação
física. Acho que juntos formamos uma boa equipe e fizemos um bom trabalho, muito
obrigada de coração, sozinha eu jamais teria conseguido.
Por fim, ao meu orientador Ferdinando, por acreditar em mim quando eu
mesmo não acreditava, pela oportunidade que me foi dada, pela confiança, pelas
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orientações, pelas cobranças, pelo exemplo de ser humano e de professor. O senhor
que me fez rir e chorar tantas vezes (embora, conforme desafiada fui, nunca chorei
na sua frente), às vezes, como visionário que é, me fazia tanta raiva exigindo coisas
que no momento eu não conseguia ver o porquê daquilo tudo, e aí na frente tudo se
encaixava e ganhava sentido (e eu era obrigada a dar o braço a torcer, admitindo: ele
tinha razão). Obrigada pelo carinho que sempre demonstrou comigo, pela atenção,
pela amizade, pela parceria. Tenho certeza que nosso casamento não acaba com o
fim desse trabalho, talvez, ele tenha apenas começado aqui, mil vezes eu precisaria
repetir obrigada. A educação física do Vale do São Francisco e eu devemos muito ao
seu trabalho e dedicação.
São muitos nomes que eu não posso deixar de agradecer, à turma do meu
grupo de pesquisa, GEPEGENE, aos meninos do laboratório de biomecânica, de
fisiologia, de bioquímica e da sócio-cultural. Aos funcionários da UNIVASF, Paulina,
Luciano, Rejane e Ronaldo. A todos os professores que ministraram aula no nosso
programa, em especial ao professor Diego Luz e Marcelo Faria (meu co-orientador),
pelo amor ao que fazem. Agradecer também a turma de coletas do clube no Pinheiro
em São Paulo, alguns serão eternizados em minha vida. Jane e Aline muito obrigada
pela amizade livre e leve. Aos professores e alunos do Lacom. Aos meus alunos da
URCA, foi o amor à docência que me trouxe até aqui. A todos que não estão citados
aqui, mas que de uma forma ou de outra contribuíram para minha formação pessoal
e profissional nesses últimos anos.
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RESUMO
A obesidade tem sido considerada como um dos fatores primários para o desenvolvimento de outras patologias e fatores de risco cardiovascular. Na criança ela tem sido mediadora para o desenvolvimento dessas comorbidades ainda na infância, na adolescência e mais fortemente na idade adulta, momento em que ocorre a maioria dos eventos cardiovasculares com registros de mortes. Objetivo: Analisar os efeitos de uma intervenção interdisciplinar sobre os fatores de risco cardiovascular de crianças com sobrepeso e obesidade. Métodos: Realizou-se uma intervenção de atividades físicas, orientações nutricionais e psicológicas, com duração de dez semanas com crianças sobrepesadas. Participaram da pesquisa 33 crianças, de escolas públicas municipais, com Índice de Massa Corporal (IMC) considerado com sobrepeso e obesidade, as mesmas foram divididas em dois grupos, experimental (n=14) e controle (n=19). As atividades físicas ocorriam três vezes por semana com as crianças e uma vez por semana com as mães, as orientações nutricionais e psicológicas ocorriam uma vez por semana tanto com as crianças quanto com as mães. As atividades realizadas com o grupo experimental aconteciam na escola em que as crianças estudavam, enquanto o grupo controle seguiu suas atividades de rotina. Foram analisados IMC, circunferência de cintura, relação cintura-estatura, percentual de gordura, aptidão cardiorrespiratória, pressão arterial sistólica e diastólica, perfil lipídico, glicose, massa ventricular esquerda, consumo energético diário e percepção dos pais sobre o peso dos filhos. Para a análise estatística foi primeiramente verificado a normalidade dos dados pelo teste de Shappiro Wilk, com as variáveis que apresentavam normalidade verificou-se as possíveis diferenças através do teste Anova de delineamento misto com o post hoc de Bonferroni, para as variáveis com distribuição normal, mas que apresentavam diferença significativas no momento inicial da pesquisa, recorreu-se à Ancova, enfim para as variáveis com distribuição não normal realizou-se os testes “U” de Mann Whitney e Wilcoxon. Resultados: Foram encontradas diferenças significativas para o percentual de gordura, aptidão cardiorrespiratória, colesterol total, LDL, HDL, glicose e consumo energético diário. Nas quais o percentual de gordura, colesterol total, LDL e consumo energético diminuiram significativamente no grupo experimental, enquanto que a glicose e o HDL aumentaram significativamente no grupo experimental, para o grupo controle houve diminuição da aptidão cardiorrespiratória e aumento do LDL e HDL. Conclusão: A intervenção proposta foi eficaz na modificação dos fatores de risco cardiovascular em crianças com sobrepeso e obesidade.
Palavras-Chave: Obesidade, Fatores de risco cardiovascular, Intervenção interdisciplinar.
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ABSTRACT
Obesity has been considered as one of the primary factors for the development of
pathologies and cardiovascular risk factors. In the child it has been mediator for the
development of these comorbidities still in childhood, in the adolescence and more
strongly in the adult age, at the time of most cardiovascular events with death records.
Objective: To analyze the effects of an interdisciplinary intervention program on the
cardiovascular risk factors of overweight and obese children. Methods: We conducted
a physical activity intervention, nutritional and psychological orientations, lasting ten
weeks with overweighed children. Thirty-three children with BMI considered
overweight and obese participated in the study, they were divided into two groups,
experimental (n=14) and control (n=19). Physical activities occurred 3 times a week
with children and once a week with mothers. Nutritional and psychological counseling
occurred once a week with both children and mothers. BMI, waist circumference, waist-
height ratio, percentage of fat, cardiorespiratory fitness, systolic and diastolic blood
pressure, lipid profile, glucose, left ventricular mass, daily energy intake and parental
perception of children's weight were analyzed. For the statistical analysis it was first
verified the normality of the data by the Shappiro Wilk test, with the variables that
presented normality the possible differences were verified through the Anova test of
mixed design with the post hoc of Bonferroni, for the normal variables, but that
presented significant difference in the initial moment of the research, we resorted to
the Ancova, finally, for the non-normal variables the "U" tests of Mann Whitney and
Wilcoxon. Results: Significant differences were found for the percentage of fat,
cardiorespiratory fitness, total cholesterol, LDL, HDL, glucose and daily energy
consumption. The percentage of fat, total cholesterol, LDL and energy consumption
decreased significantly in the experimental group, whereas glucose and HDL
increased significantly in the experimental group, and in the control group there was a
decrease in cardiorespiratory fitness and LDL and HDL increase. Conclusion: The
proposed intervention was efficient in modifying cardiovascular risk factors in
overweight and obese children.
Keys-Works: Obesity, Cardiovascular risk factors, Interdisciplinary intervention.
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SUMÁRIO
1. Introdução ............................................................................................................. 12
2. Objetivos ............................................................................................................... 14
2.1 Objetivo geral ................................................................................................... 14
2.2 Objetivos específicos ....................................................................................... 14
3. Revisão bibliográfica ............................................................................................. 15
3.1 Obesidade infantil ............................................................................................ 15
3.1.1 Afinal, o que é obesidade infantil? ............................................................. 15
3.1.2 Prevalência da obesidade infantil .............................................................. 16
3.1.3 Aspectos nutricionais relacionados à obesidade infantil ............................ 19
3.1.4 Aspectos psicológicos relacionados à obesidade infantil ........................... 22
3.2 Fatores de risco cardiovasculares em crianças obesas ................................... 26
3.2.1 Perfil antropométrico como preditor de riscos cardiovasculares em crianças
............................................................................................................................ 27
3.2.2 Aptidão cardiorrespiratória e sua relação com os fatores de riscos
cardiometabólicos. .............................................................................................. 28
3.2.3 Pressão arterial em crianças com excesso de peso .................................. 30
3.2.4 Os riscos cardiometabólicos e dislipidemias em crianças ......................... 31
3.2.5 Diabetes tipo II: o mais importante distúrbio cardiovascular em crianças
obesas ................................................................................................................ 34
3.2.6 Massa ventricular esquerda um importante marcador da saúde
cardiovascular ..................................................................................................... 36
3.3 Intervenções de base escolar em crianças com excesso de peso como forma
de prevenção e diminuição dos fatores de risco cardiovascular ............................ 37
4. Metodologia ........................................................................................................... 46
4.1 População alvo e amostra ................................................................................ 46
4.1.1 Critérios de Inclusão .................................................................................. 48
4.1.2 Critérios de Exclusão ................................................................................. 48
4.2 Instrumentos e Procedimentos......................................................................... 48
4.2.1 Antropometria ................................................................................................ 48
4.2.2 Percentual de Gordura .................................................................................. 49
4.2.3 Medidas de Pressão Arterial ...................................................................... 49
4.2.4 Aptidão cardiorrespiratória ........................................................................ 50
4.2.5 Marcadores Bioquímicos ........................................................................... 50
4.2.6 Ecocardiograma ......................................................................................... 50
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4.2.7 Avaliações nutricionais .............................................................................. 51
4.2.8 Avaliações psicológicas ............................................................................. 52
4.3 Intervenção ...................................................................................................... 52
4.4 Análise Estatística ............................................................................................ 56
4.5 Aspectos Éticos ................................................................................................ 57
5. Resultados ............................................................................................................ 59
6. Discussão .............................................................................................................. 73
7. Conclusão ............................................................................................................. 80
Referências ............................................................................................................... 81
Anexos ...................................................................................................................... 92
Anexo 1 .................................................................................................................. 92
Anexo 2 ................................................................................................................ 109
Anexo 3 ................................................................................................................ 111
Anexo 4 ................................................................................................................ 113
Anexo 5 ................................................................................................................ 118
Anexo 6 ................................................................................................................ 120
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1. Introdução
A prevalência de obesidade no mundo tem aumentado substancialmente,
sendo considerada pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como a pandemia do
século XXI, e embora ela seja uma patologia de origem multicausal, a principal causa
desse aumento tão expressivo de pessoas acometidas pelo excesso de peso nas
últimas décadas está nas alterações ocorridas no estilo de vida da população,
sobretudo nos hábitos alimentares e no aumento do comportamento sedentário.
Nessa perspectiva, um levantamento realizado por Ezzati et al. (2016) mostrou que
em 2014, 641 milhões de pessoas no mundo estavam obesas. Segundo o mesmo
estudo, no Brasil em 2014 a obesidade já atingia quase 30 milhões de pessoas,
atingindo o 3º lugar no ranking de homens obesos.
Uma questão que tem chamado a atenção de pesquisadores e de agentes de
saúde pública diz respeito ao aparecimento da obesidade ainda na infância. Crianças
obesas com idade de seis a nove anos apresentam probabilidade aumentada em 55%
de serem obesas quando adultas em comparação com crianças eutróficas da mesma
faixa etária (MCARDLE, KACTH & KACTH, 2011). Segundo a OMS (2016) em 2013
a obesidade acometia quase 42 milhões crianças menores de cinco anos de idade,
fato esse que tem despertado preocupação por ser uma condição que pode levar ao
desenvolvimento de comorbidades e fatores de risco cardiovascular ainda em idades
precoces.
Nessa direção, a obesidade tem sido considerada como um dos fatores
primários para o desenvolvimento de outras patologias e fatores de risco
cardiovascular. Na criança, ela tem sido mediadora para o desenvolvimento dessas
comorbidades ainda na infância, na adolescência e mais fortemente na idade adulta,
momento em que ocorre a maioria dos eventos cardiovasculares com registros de
mortes. As doenças cardiovasculares representam a maior causa de morbidades e
mortalidade no mundo. Com 17,3 milhões de mortes em 2008, e uma tendência para
2030 de 23.3 milhões de mortes (WHO, 2011).
Dessa forma, a obesidade na infância está diretamente ao desenvolvimento de
uma série de riscos à saúde, tais como, doenças cardiovasculares, hipertensão
arterial sistêmica, dislipidemias, alterações no metabolismo da glicose, além de
distúrbios psicossociais (WHO, 2011). Além da obesidade, baixos níveis de atividade
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física e muitas horas de comportamento sedentário também estão relacionados ao
desenvolvimento dessas patologias. Assim, baixos níveis de atividade física estão
ligados a horas despendidas com a utilização de meios eletrônicos (vídeo game,
computador, celular, televisão), que cada vez mais, tornaram-se a principal forma de
ocupação na forma de lazer dessa população (MARTINS, et al., 2012; SINAIKO,
2012).
O tratamento da obesidade e dos fatores de risco cardiovascular, passa pela
mudança no estilo de vida, relacionando-se hábitos alimentares saudáveis e a prática
de atividade física habitual. Estudos mostram que a prática de atividade física para
crianças tem promovido redução na obesidade infantil e de outros fatores de risco à
saúde. Os autores ainda relatam a importância dessas atividades serem de cunho
recreativo para maior aceitação do público infantil (LEITE, et al., 2009; REINHER, et
al., 2010; SILVEIRA, et al., 2010).
Um estudo sobre saúde e qualidade de vida de crianças obesas, constatou que
um programa de intervenção interdisciplinar, com prática de atividades físicas e
orientação nutricional às crianças e aos seus pais, mostrou-se relevante na melhora
da qualidade de vida, da saúde, e promoveu a redução da obesidade e dos riscos
associados ao desenvolvimento de doenças cardiovasculares estudo (POETA, et al.,
2013).
Por isso, torna-se relevante à implementação de programas de intervenção e
orientação nos diferentes contextos da criança (família, escola, comunidade), com a
perspectiva de entender os diversos fatores e suas relações com o surgimento de
doenças crônico-degenerativas, proporcionando melhor qualidade de vida a esta
população. Acredita-se que estudos com esse propósito, corroborem para o
estabelecimento de ações governamentais com baixos custos para o poder público e
eficazes no combate a essas doenças (LEITE, et al., 2009; FARIAS JÚNIOR, 2011;
MARTINS, et al., 2012; POETA, et. al. 2013).
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2. Objetivos
2.1 Objetivo geral
Comparar os efeitos de uma intervenção interdisciplinar sobre os fatores de
risco cardiovascular de crianças sobrepesadas e obesas.
2.2 Objetivos específicos
1) Verificar o efeito da intervenção no perfil antropométrico, aptidão
cardiorrespiratória, percentual de gordura, pressão arterial, perfil lipídico e
glicose sanguínea;
2) Investigar se há associação entre a percepção dos pais sobre o estado
nutricional dos filhos e o IMC das crianças;
3) Investigar o efeito da intervenção no consumo energético das crianças;
4) Analisar a massa ventricular esquerda das crianças participantes da
intervenção nos momentos inicial e final.
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3. Revisão bibliográfica
3.1 Obesidade infantil
3.1.1 Afinal, o que é obesidade infantil?
A obesidade é o excesso de gordura corporal e a presença de pelo menos uma
co-morbidade dos componentes da Síndrome dos Obesos, que são: intolerância à
glicose, resistência à insulina, dislipidemia, diabetes tipo II, hipertensão,
concentrações plasmáticas elevadas de leptina, tecido adiposo visceral aumentado e
maior risco de doença cardíaca coronariana e de câncer (GUYTON & HALL, 2011).
Nesse contexto, entender a obesidade unicamente como um distúrbio causado
pela ingesta calórica maior do que o gasto energético, embora não seja errôneo, é no
mínimo simplificar uma doença que apresenta um alto grau de complexidade nas
relações que estabelecem sua origem. Assim, dentre os fatores causadores da
obesidade tem-se a genética, que pode ser a causa de 20 a 25% dos casos de
obesidade. O fator genético pode alterar o metabolismo e o apetite dos indivíduos,
assim, em um ambiente obesogênico (sedentário e estressante, com acesso fácil à
grandes porções de alimentos baratos, de alto conteúdo calórico e paladar agradável),
o indivíduo geneticamente suscetível (propenso à obesidade) aumentará de peso,
possivelmente num grau significativo (GUYTON & HALL, 2011).
Dessa forma, Mcardle, Katch & Katch (2011) referem-se a obesidade como
uma interação complexa de vários fatores, incluindo influência genética, ambiental,
metabólica, fisiológica, comportamental e étnica. Entretanto, um problema cada vez
mais frequente é que a obesidade tem se estabelecido ainda na infância. Assim,
crianças obesas com idade de 6 a 9 anos têm 55% de probabilidade de serem obesas
quando adultas, um risco 10 vezes maior do que crianças eutróficas.
Assim, o desenvolvimento da obesidade na infância, assim como em adultos,
se dá pela influência dos mesmos fatores, entretanto, um fator de agravamento está
no período pré-natal, o decorrer da gestação até o momento do parto apresentam
riscos para a ocorrência da obesidade ainda em idades iniciais da vida. Exemplos de
acontecimentos na gestação que influenciam a obesidade na infância são: estar fora
do tamanho adequado para cada idade gestacional, diabetes gestacional, alta
adiposidade da mãe, exposição ao fumo, peso ao nascer e ainda o nascimento através
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do parto cesáreo, estão diretamente relacionados com a aquisição de altas taxas de
adiposidade ainda na infância (GURNANI et al., 2015).
3.1.2 Prevalência da obesidade infantil
A obesidade infantil tem aumentado de forma acelerada no Brasil e no mundo,
preocupando cada vez mais os profissionais da área da saúde (ver gráfico 1). Embora,
seja uma temática atual, a Organização Mundial de Saúde (OMS) vem pedindo
atenção especial para esse problema desde 1990, depois de uma estimativa de que
naquele mesmo ano, 18 milhões de crianças menores de 5 anos de idade, no mundo
estariam com sobrepeso. A grande preocupação sempre foi com os gastos na saúde
pública que essa população depois de adulta pudesse causar. Entretanto, em 2013,
segundo a própria OMS esse valor subiu para aproximadamente 42 milhões,
demonstrando a ineficiência do que tem sido proposto no combate à essa patologia
(WHO, 2016).
Assim, um estudo realizado nos Estados Unidos da América (EUA), para
verificar a prevalência de sobrepeso e obesidade no país, os pesquisadores
analisaram os dados do National Health and Nutrition Examination Survey (NHANES),
dos anos de 2003/2004 e 2011/2012, encontraram que em 2011/2012, do total de
1.268 crianças investigadas com idade entre 6 e 11 anos, 17,7% estavam obesas e
que 16,5% estavam com percentil maior que 85th, sendo consideradas com
sobrepeso. A análise dos dois períodos não apresentou diferenças significativas,
contudo, o número de crianças com excesso de peso se mantém alto. Os autores
enfatizam que esses dados demonstram que apesar dos programas desenvolvidos no
país para redução da obesidade infantil, as prevalências permanecem elevadas e que
mais medidas de prevenção e redução precisam ser adotadas (OGDEN et al., 2014).
Dessa maneira, foi realizado um outro estudo de prevalência, o K-NHANES,
dessa vez na Coréia, os autores analisaram as mudanças ocorridas no IMC de
crianças e adolescentes dos anos de 1998 a 2012. A variação ocorrida na obesidade
e no sobrepeso não foi estatisticamente significativa entre crianças de 2 a 9 anos de
idade. De acordo com os critérios do CDC, 13,6% dos infantes foram classificados
como obesos e mais 27,3% estavam com sobrepeso, caracterizando-se assim que,
40,9% das crianças estavam com o IMC acima do recomendado (BAHK & KANG,
2016).
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Para Almagor et al.,(2015), no Norte de Israel, onde os autores analisaram
94.239 sujeitos com idades entre 2 e 18 anos, observou-se que 24% da população
avaliada apresentaram sobrepeso e 10,5% obesidade. Os dados foram obtidos
através do serviço médico eletrônico da Clailt Health Service. O estudo ainda mostrou
que os meninos apresentaram maior prevalência de obesidade do que as meninas
(11,5% x 9,5% p
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Nesse sentido, o IBGE (2010) ainda traz resultados mais detalhados, como o
aumento da prevalência entre crianças de 5 a 9 anos de idade, onde o sobrepeso nos
meninos em 1975 era de 10,9% e em 2009 passou para 34,8%, a obesidade no
mesmo sexo era de 2,9% e subiu para 16,6%. Os dados para o sexo feminino também
aumentaram durante esse período, de 8,6% para 32,0% de sobrepeso e de 1,8% para
11,8% de obesidade.
Outro dado apresentado é o acréscimo por regiões (Gráfico 2), no Norte houve
um aumento em 17,2% para o sobrepeso e 8,7% na obesidade. O Nordeste teve um
ganho em 19,7% e 10,6% de sobrepeso e obesidade respectivamente. O Sudeste
apresentou o maior aumento na prevalência de 29,0% para sobrepeso e 17,3% de
obesidade. A região Sul teve aumento em 24,1% de sobrepeso e 13,8% de obesidade.
Por fim o Centro-Oeste também apresentou aumento nos últimos 34 anos, de 26,9%
de sobrepeso e 14,6% de obesidade (IBGE, 2010).
Gráfico 1. Prevalência do excesso de peso na população infantil (5 a 10 anos de idade) no mundo em percentual
Fonte: IBEGE (2010); RIVERA et al., (2014); ALMAGOR et al., (2015); BAHAK & KANG (2015); ODGEN et al., (2014)
34,20%
47,60%
36,90%
18,90%
37,70%
34,50%
40,90%
EUA (2014)
BRASIL (2009)
MÉXICO (2012)
COLÔMBIA (2010)
CHILE (1997)
ISRAEL (2015)
COREIA (2016)
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Gráfico 2. Excesso de peso no Brasil e por regiões nos últimos 34 anos, em crianças
de 5 a 9 anos de ambos sexos.
Fonte: IBGE (2010)
3.1.3 Aspectos nutricionais relacionados à obesidade infantil
A obesidade apresenta dentre as suas causas os maus hábitos alimentares
adquiridos pelos indivíduos nas últimas décadas, sejam eles adultos ou crianças.
Nesse sentido, os pesquisadores têm focado seus estudos no estilo de vida da criança
e da sua família, em especial nos hábitos alimentares desses indivíduos (CIMINO et
al., 2016; CHAO & CHANG, 2016; MAGAREY et al., 2016; STEINSBEKK, BELSKY &
WICHSTROM, 2016). Dessa forma, Sabim et al., (2015) apresentam um ponto de
vista sobre a obesidade infantil nos últimos 50 anos, e os mesmos vem abordando
vários assuntos sobre a temática, tais como: causas, prevenção, consequências e a
perspectiva de futuro para essas crianças obesas.
Assim, esse mesmo estudo ao retratar a origem da obesidade infantil, os
autores relatam sobre a multicausalidade da doença. Dentre os fatores abordados,
destacam-se os hábitos alimentares como um forte determinante da obesidade. Em
uma análise macroscópica, o excesso de peso é uma relação desajustada entre
0,0% 10,0% 20,0% 30,0% 40,0% 50,0% 60,0% 70,0%
Brasil
Norte
Nordeste
Sul
Sudeste
Centro-Oeste
12,10%
11,40%
10,80%
13,30%
12,85%
11,25%
47,60%
36,05%
39,20%
52,35%
55,90%
49,05%
1975 2009
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20
calorias ingeridas e gastas. Nesse sentido, o desajuste dessa relação é resultado de
outros aspectos, tais como: fácil acesso a alimentos altamente calóricos, aumento
considerável das porções, nível de atividade física e comportamento sedentário.
(SABIM et al., 2015).
Nessa direção, faz-se cada vez mais necessário o entendimento sobre os
hábitos alimentares das crianças, quais são os fatores influenciadores e
determinantes nesses hábitos e o comportamento alimentar delas, para que a partir
desse conhecimento possam surgir intervenções de sucesso no combate e prevenção
à obesidade infantil. Em relação ao comportamento alimentar, Passos et al., (2015),
realizou comparações entre crianças com percentil acima de 85th e crianças
eutróficas. Os resultados mostraram que em todas as subescalas (resposta à comida;
prazer de comer; sobreingestão emocional; desejo de beber; resposta à saciedade;
ingestão lenta; seletividade; subingestão emocional) do interesse pela comida,
crianças com sobrepeso e obesidade apresentaram maior pontuação, porém, crianças
com eutrofia apresentaram maior pontuação para os dois itens de desinteresse pela
comida, que são, resposta à saciedade e ingestão lenta.
Todavia, não se pode negar a complexidade desse tema ou simplesmente
mascarar os fatos que modulam tais comportamentos alimentares na criança. Dessa
maneira, além dos distúrbios fisiológicos causados pela obesidade, aspectos sociais,
financeiros, níveis de escolaridade dos pais e principalmente a interação entre pais e
filhos e as estratégias adotadas pela família, são influenciadores do desenvolvimento
dos hábitos e comportamentos alimentares adotados pelos filhos com ou sem
obesidade (BLISSETT & BENNETT, 2013; TOVAR et al., 2013; TSCHANN et al.,
2015).
Nesse contexto, um levantamento de base nacional, a Pesquisa Nacional de
Saúde do Escolar (PENSE) realizada no Brasil pelo IBGE em 2012, que avaliou o
consumo alimentar de crianças matriculadas no 9º ano do ensino fundamental,
apresentou dados preocupantes. Segundo os resultados, 41,3% das crianças
consomem guloseimas diariamente, 33,2% bebem refrigerantes também todos os
dias, 40% ingerem salgados de pacotes 2 ou mais dias por semana e 52,9%
consomem salgados fritos 2 ou mais dias por semana. Em contra partida, a pesquisa
também apresenta os resultados para o consumo de frutas e hortaliças. Das crianças
-
21
avaliadas, 21,3% não consomem frutas em nenhum dia da semana, bem como 19,7%
também não consomem hortaliças em nenhum dia da semana.
Além disso, a venda na escola desses alimentos não saudáveis, também
contribui para os índices apresentados acima. Entre os itens mais disponíveis para
consumo na cantina encontra-se o refrigerante com 52,7% para as escolas privadas
e 20,3% para as escolas públicas, salgados de forno 89,8% e 28,9% para escolas
particulares e públicas respectivamente (PENSE, 2012).
Entretanto, a preferência alimentar das crianças além de ser determinada pelos
alimentos que lhe são oferecidos, também é influenciada pela mídia e pela internet.
Nesse sentido, uma revisão sistemática realizada por Sonntag et al., (2015), verificou,
com base nos estudos analisados, que três (CICCHIRILLO & LIN, 2011; LASCU et al.,
2013; PAEK et al., 2014) estudos relacionavam o consumo dietético infantil com as
chamadas comerciais dos advergames. Relataram também que outros seis estudos
(DIXON et al., 2007; BUIJZEN, SCHUURMAN & BONHOF, 2008; HARRIS, BARGH
& BROWNELL, 2009; ANDREYEVA, KELLY & HARRIS, 2011; DOVEY et al., 2011;
BEALES & KULICK, 2013) encontraram a influência da televisão relacionada com a
preferência alimentar, o consumo e o IMC das crianças. Outra influência relatada em
mais seis estudos (KOPELMAN, ROBERTS & ADAB, 2007; FORMAN et al., 2009;
CARTER et al., 2011; JONES & KERVIN, 2011; KELLER et al., 2012; MCALISTER &
CORNWELL, 2012) foram as campanhas promocionais realizadas pela indústria
alimentícia. Além desses fatores, as pesquisas analisadas na referida revisão
sistemática, ainda encontraram relação com a casa, a escola e o comércio varejista.
Dessa forma, as preferências dietéticas das crianças têm sido por alimentos
não saudáveis, o que tem dificultado a prevenção e diminuição da obesidade infantil.
Assim, Hawkes et al., (2015) afirmam que a dieta é fator determinante na obesidade,
por isso, os autores apontaram quatro mecanismos fundamentais para o
desenvolvimento de preferências alimentares saudáveis entre as crianças: 1)
proporcionar um ambiente propício para o aprendizado das preferências saudáveis;
2) superar as barreiras de acesso à alimentos saudáveis; 3) incentivar as pessoas a
avaliarem as preferências não-saudáveis expostas nos pontos de venda; 4) estimular
uma resposta dos órgãos públicos para políticas que incentivem a escolha de
alimentos saudáveis.
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22
Nesse sentido, são necessárias políticas públicas eficazes de prevenção da
obesidade, para isso elas precisam adaptar as preferências e comportamentos
alimentares de acordo com os padrões sócio-econômicos e as características
demográficas das pessoas. Devem ser projetadas para atuarem em mecanismos que
apresentem maiores efeitos e serem implementadas como parte de uma combinação
de ações que se reforçam mutuamente. É importante ressaltar que além da família,
outras áreas são determinantes nesse processo: escolas, instrumentos econômicos e
rotulação dos alimentos (HAWKES et al., 2015).
Nessa direção, a WHO (2012) publicou um documento sobre a implementação
de recomendações para o marketing de consumo alimentar e de bebidas não
alcoólicas para crianças. Nessa publicação a WHO afirma que o marketing é um forte
influenciador, pois detém exposição e poder. A exposição está relacionada à
frequência e ao alcance que essas mensagens atingem. Por outro lado, o poder
relaciona-se à parte criativa da propaganda, à forma como ela chega até a criança,
seja através de desenhos, super-heróis ou brinquedos, por exemplo. Assim, o
marketing trabalha em cima da exposição e do poder para obter sucesso. Dessa
maneira, ele consegue causar impacto sobre as preferências alimentares, pedidos de
compra e padrões de consumo da criança. Dessa maneira, as políticas públicas
objetivam diminuir a exposição e o poder do marketing de alimentos ricos em gorduras
saturadas, gorduras trans e com altos valores de açúcares e sal.
Desse modo, como exemplo de políticas públicas para regulamentação do
marketing, a WHO cita a resolução brasileira, nº 24 de 15 de junho de 2010 da Agência
Nacional de Vigilância Sanitária, de critério de especificação de nutrientes por
100g/100ml. De acordo com tal resolução, propagandas de alimentos, seja na
televisão, rádio, jornais, revistas, outdoors e internet precisam ter um aviso escrito ou
verbal sobre os riscos à saúde do consumo excessivo daquele produto. Embora ainda
necessite ser melhorada, medidas como essa, bem como outras políticas de
regulamentação do marketing ainda precisam ser criadas para a redução e prevenção
da obesidade infantil (WHO, 2012).
3.1.4 Aspectos psicológicos relacionados à obesidade infantil
A obesidade infantil tem sua origem ligada a muitos fatores, de ordem genética,
física, ambiental e emocional. Muito além da equação entre calorias ingeridas e
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gastas, ela é influenciada por comportamentos impulsivos, deficiência no sistema
inibitório e ainda por alterações biológicas, tais como diminuição de dopamina
(CARNEL et al., 2012; SCHWARTZ et al., 2014).
Dessa forma, a obesidade que pode ter sua causa nas questões emocionais,
também é causa de distúrbios psicológicos entre crianças e adolescentes. Nessa
direção, Lummeng et al., (2010) realizaram um estudo que objetivou avaliar a relação
entre a obesidade infantil e o bullying na escola. Os mesmos encontraram que
crianças obesas sofrem 63% mais bullying do que crianças com peso normal.
Segundo Puhl (2011), entre crianças e adolescentes, o fator excesso de peso é motivo
de mais discriminação do que a raça, religião ou falta de algumas habilidades, sendo
equivalente à rejeição devido à orientação sexual. Assim, a obesidade causa entre
crianças e adolescentes distúrbios psicológicos preocupantes, tais como, depressão,
ideias suicidas, baixa autoestima, impactos negativos na socialização e no
desempenho acadêmico e ainda aquisição de hábitos não saudáveis, relacionados à
dieta e exercício físico (PUHL, PETERSON & LUEDICKE, 2013).
Nesse sentido, Griffiths, Parsons & Hill (2010) realizaram uma revisão
sistemática afim de avaliar a relação entre obesidade infantil, autoestima e qualidade
de vida. Foram selecionados estudos que avaliaram a autoestima e qualidade de vida
nas suas várias dimensões e que investigaram algum possível efeito, da idade, grupo
étnico, gênero ou pela presença de alguma condição médica. Assim, foi observado
que crianças e adolescentes obesos tem risco aumentado para baixa autoestima,
particularmente no que diz respeito à sua aparência e competência física, bem como,
dificuldade nas relações sociais. Para os autores uma auto avaliação negativa
aumenta o risco para o desenvolvimento de diversas morbidades físicas. Porém,
melhora de auto avaliação, autoestima e/ou qualidade de vida dessas crianças, não
significa somente perda de peso, sugerindo assim, que os programas de intervenções
necessitam atingir aspectos pessoais mais profundos, como por exemplo relações
sociais entre os pares, relacionamento com os pais, percepção de competência, para
assim melhorar a qualidade de vida dessas crianças.
Entretanto, a relação obesidade infantil e aspectos psicológicos, apresenta-se
bidirecional, sendo assim, como anteriormente demonstrado, a obesidade causa
diversos distúrbios psicológicos, porém, alguns problemas psicológicos, sobretudo a
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24
depressão, podem ser fator causador da obesidade na infância (MERIKANGAS et al.,
2012; ROBERTS & DUONG, 2013).
Assim, com o intuito de se verificar essa relação bidirecional entre obesidade
infantil e fatores psicológicos, Korzag et al., (2013), realizaram uma revisão
sistemática com estudos longitudinais que analisaram depressão e obesidade, onde
qualquer um dos transtornos tenha sido detectado pela primeira vez na infância. Os
autores concluíram que adolescentes obesos do sexo feminino estão mais propensos
a desenvolverem depressão quando adultas do que seus pares não obesos. Por outro
lado, adolescentes com depressão do sexo feminino e possivelmente também os do
sexo masculino são mais propensos a desenvolverem obesidade quando adultos. Tais
resultados evidenciam a obesidade como causa e efeito da depressão.
Nesse contexto, Chung, Chiou & Chen (2015) analisaram as diferenças
psicológicas e fisiológicas entre crianças obesas e não obesas. Para as análises
psicológicas se verificou: autoconceito, ansiedade, depressão, raiva e comportamento
destrutivo. Os resultados demonstraram que crianças obesas apresentaram menor
autoconceito e menos comportamento destrutivo, fato que os autores justificam por
possivelmente ser uma questão cultural dos ocidentais, uma vez que esse estudo foi
realizado no Taiwan, porém, ressalta a importância de se investigar a fundo as
crianças desse continente, uma vez que esses resultados parecem ser únicos na
literatura. Os autores ressaltam a necessidade de se conhecer melhor as
características fisiológicas e psicológicas das crianças obesas, com o intuito não
apenas de reverter o processo de obesidade, mas também de promover um bem-estar
físico e emocional às crianças mesmo durante o processo obesogênico.
Ademais, outro ponto bastante discutido entre os profissionais da saúde,
especialmente por psicólogos e psiquiatras, são os estilos parentais como
influenciadores da obesidade infantil. Essa associação foi relatada nos resultados de
um estudo longitudinal realizado no México com follow-up de três anos. Os autores
encontraram que filhos de pais com estilo permissivo, apresentam maiores
possibilidades de se tornarem obesos do que crianças cujos os pais tem uma relação
mais autoritária (OLVERA & POWER, 2010).
Dessa maneira, outros estudos que objetivaram analisar essa relação entre os
estilos parentais e o peso das crianças, têm apresentado os mesmos resultados, onde
filhos com pais de estilo autoritário têm adquirido hábitos mais saudáveis, como
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25
melhor alimentação, estilo de vida fisicamente ativo e menores valores de IMC quando
comparados aos filhos cujos pais apresentam estilo permissivo ou sem envolvimento,
sendo assim, o estilo autoritário foi considerado como um protetor contra a obesidade
infantil (SLEDDENS et al., 2011; VOLLMER & MOBLEY, 2013).
Nessa direção, outra questão de pesquisa tem sido a relação entre os estilos
alimentares dos pais e o peso dos seus filhos. Um estudo realizado por Frankel et al.,
(2014) demonstrou que a capacidade de saciedade e o prazer pelos alimentos são
mediados pela relação entre o estilo alimentar do pai e o IMC do filho, de tal modo
que, crianças cujos pais tem estilo alimentar permissivo, tem capacidade de resposta
à saciedade diminuída e maior prazer em comer, do que crianças cujos pais
apresentam outro estilo alimentar, normalmente autoritário. Assim, os filhos dos pais
com estilo alimentar mais permissivo também apresentaram maior peso.
Dessa forma, outros estudos estão analisando a relação entre a prática
regulatória dos pais sobre os hábitos alimentares dos filhos. Assim, um estudo
realizado por Rollins et al., (2014), analisou as diferentes práticas restritivas utilizadas
pelas mães para controle alimentar de meninas com idades de 5 a 7 anos e a relação
das mesmas com o IMC das garotas. Os autores observaram os seguintes hábitos de
restrição: 1) acesso ilimitado à lanches saborosos; 2) estabelece limites mas não
restringe o acesso à esses lanches; 3) estabelece limites e restringe o consumo à
lanches ricos em gorduras e açúcares; 4) restringe todos esses lanches.
Os resultados da pesquisa demonstraram a relação entre as diferentes formas
de restrição e o IMC da criança. Restringir os lanches foi associado com EAH (eating
in the absence of hunger), ou seja, comer na ausência de fome, comportamento esse
que aumenta o risco de obesidade futuramente. Por outro lado, os extremos, tais
como, restringir total ou liberar total o acesso aos lanches, não produziu o efeito
moderador desejado sobre o IMC de meninas que tem baixo poder inibitório. Com
isso, os autores ressaltam que a utilização de limites pode ser a melhor abordagem
para ajudar crianças com baixo controle inibitório, uma vez que ensinam as crianças
a gerirem o próprio consumo de lanches (ROLLINS et al., 2014).
Assim, segundo Gubbels et al., (2011) o estímulo por parte dos pais, com
orientações e principalmente com a aquisição de um estilo de vida mais saudável,
podem ajudar aos filhos por escolhas mais saudáveis, tanto no âmbito nutricional,
quanto na prática regular de atividades físicas. Entretanto, uma grande barreira
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26
quando se remete aos pais orientarem seus filhos para um melhor estilo de vida, está
na percepção do pais sobre os pesos dos filhos. Estudos tem demonstrado que os
pais não conseguem perceber seus filhos com sobrepeso ou obesidade, mesmo
quando as crianças se apresentam no estado avançado dessa patologia (CZAJKA &
KOLODZIEJ, 2015; CARAZZA et al., 2016).
Nesse sentido, um estudo realizado por Almoosawi et al., (2016) que analisou
a percepção dos pais sobre o peso dos filhos e a dieta alimentar das crianças, verificou
que os pais subestimavam o peso dos filhos, assim, os pais percebiam seus filhos
com peso normal quando na verdade as crianças estavam com sobrepeso ou
obesidade e que quando os pais conseguiam perceber que os filhos estavam com
sobrepeso as crianças já tinham atingido a obesidade. Dessa maneira, verificou-se
que quanto mais incorreta era a percepção dos pais sobre o estado nutricional do filho
mais inadequada era a dieta alimentar da criança.
Dessa forma, programas de intervenção que objetivem modificar o estado
nutricional das crianças e todos os agravantes advindos com a obesidade, precisam
ajudar os pais a desconstruir essa imagem distorcida que os mesmos apresentam
sobre seus filhos, afim de conseguirem o apoio da família na diminuição de peso das
crianças.
3.2 Fatores de risco cardiovasculares em crianças obesas
As doenças cardiovasculares representam a maior causa de morbidades e
mortalidade no mundo. Com 17,3 milhões de mortes em 2008, e uma tendência para
2030 de 23.3 milhões de mortes (WOH, 2011). Dessa maneira, os riscos
cardiovasculares em adultos têm dados bastante documentados na literatura, porém,
em crianças a primeira vez que pesquisadores alertaram para o desenvolvimento
desses agravos foi em 1980 (KHOURY et al., 1980). E em 1987 Smoak e
colaboradores chamaram a atenção para os riscos cardiovasculares em crianças
obesas (SMOAK et al., 1987).
Nesse sentido, a obesidade é a entrada para o desenvolvimento de vários
fatores de risco cardiovascular, na criança ela é uma mediadora para o
desenvolvimento dessas comorbidades ainda na infância, na adolescência e mais
fortemente na idade adulta, momento em que ocorre a maioria dos eventos
cardiovasculares com registros de mortes (WHO, 2011). Assim, em um estudo
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27
realizado na Alemanha, diagnosticou-se que 50% dos adolescentes obesos
apresentavam pelo menos um fator de risco cardiovascular (BOODAI et al., 2014).
Dessa maneira, para análise dos fatores de riscos cardiovasculares, Raghuveer
(2010) considerou resistência à insulina, dislipidemias onde se apresentam altos
níveis de triglicerídeos (TG), VLDL (Very Low Density Lipoprotein), LDL (Low Density
Lipoprotein) e baixas taxas no HDL (High Density Lipoprotein), aterosclerose,
hipertensão arterial e altos percentuais de gordura. Quando em um indivíduo
apresentam-se três ou mais desses fatores, tem-se a Síndrome Metabólica (SM),
entretanto, a International Diabetes Federation (IDF) em seu consenso apresenta que
essa síndrome só pode ser diagnosticada em crianças com idade superior à 10 anos.
Assim, em crianças deve-se considerar ainda o histórico familiar, IMC com percentil
acima de 90th e a circunferência de cintura (CC) como possíveis preditores de SM no
futuro (IDF, 2007).
Nessa direção, muitos estudos têm sido realizados utilizando-se diversos
fatores para predição de risco cardiovascular em crianças. Além do perfil lipídico,
pressão arterial, diabetes e obesidade, estudiosos dessa área também têm
investigado espessura íntimo-média da carótida, massa ventricular esquerda, aptidão
cardiorrespiratória, comportamento sedentário e tempo de tela, duração e qualidade
do sono, e ainda muitas outras questões tem apresentado relações com os fatores de
risco cardiovascular (GUALTEROS et al., 2015; RUMINSKA et al., 2015; VALLE-LEAL
et al., 2015; MAHGEREFTEH et al., 2016; ROBINSON et al., 2016; SLUGGETT et al.,
2016). A seguir serão apresentados alguns fatores de risco cardiovascular que atuam
diretamente em crianças com excesso de peso.
3.2.1 Perfil antropométrico como preditor de riscos cardiovasculares em
crianças
Análises do perfil antropométrico como preditor de risco cardiovascular em
crianças tem apresentado cada vez mais aceitação, tanto pela facilidade de aplicação,
como também por apresentar boas relações com outros fatores de risco mais
complexos, tais como, perfil lipídico, pressão arterial e glicose sanguínea. Nessa
direção, um estudo realizado por Ferreira et al., (2011) com 958 crianças brasileiras,
compreendidas entre 7 e 11 anos de idade, analisou as medidas antropométricas
como preditoras de SM, os autores apontaram o percentual de gordura, IMC e CC
como sendo bons indicadores de SM para a população infantil.
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28
Nesse sentido, medidas simples como peso, estatura e CC, apresentam-se
como aliados no diagnóstico precoce de possíveis anormalidade metabólicas. Dessa
maneira, Valle-Leal et al., (2015) observaram que crianças mexicanas com idade entre
6 e 12 anos, com valores de relação cintura-estatura (RCE) maiores do que o
considerado saudável (
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29
estão fortemente associados com doenças cardiovasculares e todas as causas de
mortalidade, e isso independente de ser fumante, do peso, ter histórico familiar de
doenças coronarianas, do estado de saúde, dos níveis de colesterol e de ser
hipertenso ou não. Nesse sentido, um estudo que avaliou a aptidão cardiorrespiratória
de 1976 crianças com média etária de 11,2±2,5 e 10,9±2,6 anos, meninos e meninas
respectivamente, e os reavaliou vinte anos depois, apontou que os índices de aptidão
cardiorrespiratória verificados na infância se apresentaram inversamente associados
com os valores de marcadores inflamatórios e com a presença de fibrogênio
plasmático na idade adulta, ambos são fortes indicadores de doenças e eventos
coronarianos (SUN et al., 2014).
Contudo, em crianças, a aptidão cardiorrespiratória apresenta associação com
altos valores de IMC e com altos valores de percentual de gordura. Um estudo
realizado por Fairchild et al., (2016) demonstrou que crianças com peso normal, mas
que continham altos valores de percentual de gordura demonstravam baixos valores
de aptidão cardiorrespiratória, tanto quanto crianças que apresentavam obesidade,
desse modo, o percentual de gordura parece ser um forte preditor da aptidão
cardiorrespiratória.
Nessa direção, tem-se que a obesidade se apresenta como um fator de risco
para uma baixa aptidão cardiorrespiratória, que por sua vez se apresenta como fator
de risco cardiovascular (BAILEY et al., 2015). Entretanto, um estudo realizado no
nordeste brasileiro, verificou que baixos níveis de aptidão cardiorrespiratória também
foram associados com baixo desempenho acadêmico em meninas entre 10 e 13 anos
de idade. Tais associações demonstram que além de melhorar a saúde física, bons
níveis de aptidão cardiorrespiratória também melhoram o desempenho cognitivo
(SANTANA et al., 2016).
Contudo, ganhos na aptidão cardiorrespiratória de crianças não requerem
exercícios de grande complexidade, pois segundo Andersen et al., (2011) programas
de atividade física de intensidade vigorosa 3 vezes por semana, com duração maior
que 30 minutos, aumentam em até 10% da aptidão cardiorrespiratória em crianças, e
ainda, ir de bicicleta para a escola por pelo menos duas vezes por semana aumenta
aptidão cardiorrespiratória em até 9%. Dessa maneira, a prática de atividade física na
infância tem se apresentado como um bom aliado para manutenção e aquisição de
uma melhor aptidão física.
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3.2.3 Pressão arterial em crianças com excesso de peso
A pressão arterial refere-se a resistência que a artéria exerce sobre o fluxo
sanguíneo, nesse sentido quanto maior a resistência arterial maior também deverá
ser a força realizada para que o sangue possa percorrer pelas artérias e vasos, porém,
essa resistência promovida pelas artéria aumentando assim a pressão arterial
associa-se com o comprometimento de órgãos vitais, tais como coração, encéfalo e
rins, consequentemente aumentando o risco de eventos cardiovasculares
(SOCIEDADE BRASILEIRA DE HIPERTENSÃO, 2010).
A classificação da pressão arterial sistólica e diastólica em crianças é feita de
acordo com a idade, o sexo e a estatura. Dessa maneira tem-se que crianças com o
percentil maior que 90th e menor que 95th ou com valores de pressão arterial
superiores a 120/80 mmHg são consideradas pré hipertensas e maior que 95th são
consideradas com hipertensas. Nessa direção, altos valores pressóricos observados
ainda na infância se apresentam como um fator determinante para a hipertensão
arterial na vida adulta e está relacionado com o risco de morte prematura (LOWES, et
al., 2008). Contudo, para Falkner (2010) a hipertensão em crianças não é o suficiente
para promover morte ou algum evento cardiovascular ainda na infância, porém, a
longo prazo ela pode se tornar um sério problema de saúde. O autor ainda relata que
crianças com pressão arterial alta apresentam concomitantemente outros marcadores
intermediários de danos à órgãos alvos, tais como hipertrofia ventricular esquerda,
espessamento da carótida, alterações vasculares na retina e até mesmo leves
alterações cognitivas.
Um estudo realizado no interior da Bahia, com escolares de seis a 18 anos
verificou alguns fatores de risco cardiovascular nessa população, dentre eles a
pressão arterial, os resultados demonstraram que 9,4% da população com idade entre
6 e 9 anos apresentaram pressão arterial elevada. O mesmo estudo também
constatou que dentre os escolares com sobrepeso e obesidade 41,4% exibiram altos
valores pressóricos (QUADROS et al., 2016). Segundo Pinto et al., (2011) crianças
com sobrepeso/obesidade apresentam três vezes mais chances de serem pré
hipertensas (OR: 3,13; IC95%: 1,759-5,579) e três vezes mais chances de serem
hipertensas (OR: 3,02; IC95%: 1,455-6,284). Essa relação entre a prevalência de
hipertensão arterial e obesidade também tem sido relatada por outros autores (RAJ,
2010; MOYER, 2013).
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31
Nessa direção, os programas de intervenção que aumentem o nível de
atividade física de crianças em especial as obesas, apresentam-se como essenciais
para tentar manter a pressão arterial dessas crianças em equilíbrio. Em uma revisão
sistemática com meta análise realizada por García-Hermoso, Saavedra & Escalante
(2013), os autores concluíram que programas de atividade física que apresentem
duração maior que 60 minutos por sessão apresentam efeitos moderados na pressão
arterial sistólica e diastólica, e que melhores resultados podem ser atingidos em
programas que tenham duração maior do que doze semanas e que aconteçam três
vezes por semana ou mais. Ressalta-se que modificações pequenas na pressão
arterial, sobretudo em crianças que já apresentam hipertensão, são consideradas
como grandes ganhos clínicos.
3.2.4 Os riscos cardiometabólicos e dislipidemias em crianças
As dislipidemias são caracterizadas por altos valores de TG e baixos valores
de HDL, essas alterações podem apresentar várias causas e sua principal
consequência é o desenvolvimento de doenças cardiovasculares (figura 1).
Especialmente em crianças, essas causas necessitam ser investigadas para que um
tratamento mais eficaz seja elaborado (BLACKET, WILSON & MCNEAL, 2015).
Nesse sentido, as dislipidemias estão cada vez mais frequentes em crianças,
principalmente naquelas que são sobrepesadas e obesas. Dessa forma, um estudo
realizado na Alemanha por Dathan-Stumpf et al., (2016), verificou a prevalência de
dislipidemia entre crianças de 0 a 16 anos. Os autores encontraram uma prevalência
de 8% para o HDL baixo, e 22,1% de altos valores de TG, especificamente entre as
crianças de 0 a 9 anos de idade. Nessa direção, Parray, Parry & Latief (2016) também
analisaram a prevalência de dislipidemia entre crianças do vale da Caxemira, Índia.
Observou-se que 82,6% e 47,6% dos meninos e meninas, respectivamente, com
idade de 5 a 9 anos apresentaram altas taxas de TG, e que 34,7% dos meninos e 19%
das meninas exibiram baixos valores para o HDL.
Dessa forma, essas alterações do perfil lipídico são fatores determinantes de
SM e doenças cardiovasculares. Assim, para D’adamo et al., (2015) as dislipidemias
principalmente se associadas à obesidade estão fortemente relacionadas ao
desenvolvimento de aterosclerose e outros fatores de risco cardiovascular em
crianças. Nessa direção, aterosclerose é uma doença das artérias de tamanho médio
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32
e grande, onde placas ateromatosas se desenvolvem dentro das paredes arteriais.
Toda via, hiperlidemia quando unida à hipertensão e diabetes aumentam em mais de
vinte vezes o risco para o surgimento de doença coronariana aterosclerótica. É
comum em indivíduos obesos esses três fatores ocorrem juntos, aumentando
drasticamente o risco, podendo levar a um ataque cardíaco, derrame ou doença renal
(GUYTON & HALL, 2011).
Nesse sentido, a V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da
Aterosclerose (2013), recomenda a análise do perfil lipídico de crianças quando há
algumas situações especiais, tais como: histórico familiar, caso clínico confirmado de
dislipidemia, quando há algum fator de risco já diagnosticado, o acometimento de
alguma doença como hipotireoidismo, imunodeficiência, ou quando há a utilização de
algum medicamento que possa alterar o colesterol. Assim, a diretriz orienta quanto
aos valores de referência para crianças e adolescentes de 2 a 19 anos (tabela 1).
Tabela 1. Valores de referência do perfil lipídico para crianças e adolescentes.
Variáveis
Lipídicas
Valores (mg/dl)
Desejáveis Limítrofes Elevados
CT
-
33
Figura 1. Influências no desenvolvimento da dislipidemia. Uma sequência de fatores exógenos e endógenos, incluindo antecedentes
genéticos, influenciam o desenvolvimento da dislipidemia aterogênica. O processo metabólico envolvido na formação de
lipoproteínas ricas de triglicerídeos, quilomícrons, e muitas lipoproteínas de baixa densidade (VLDL) são programadas durante a
gestação e bem cedo na infância e são influenciadas por doenças e fatores ambientais, tais como dieta e inatividade física. Os
resultados da dislipidemia aterogênica consistem em aumento do não-colesterol de lipoproteína de alta densidade (não-HDL-C),
aumento do número de partículas do colesterol de lipoproteína de baixa densidade (LDL-P) apolipoproteína B (apo B), diminuição
do colesterol de lipoproteína de alta densidade (HDL-C), e diminuição da apolipoproteína A-1 (apo A1) conduzindo a doença
cardiovascular (DCV).
Nota: Figura traduzida e adaptada de Blacket, Wilson & McNeal (2015). Os quadros em vermelho significam as causas e os azuis as consequências.
Mobilização dos ácidos graxos nos adipócitos; Síntese dos triglicerídeos no fígado;
Produção de VLDL no fígado; Diminuição da absorção de receptores;
Diminuição da lipoproteína lipase; Formação de quilomícrons intestinal;
Inatividade Dieta Gestação
Endócrina Obesidade
Lipodistrofia Renal
Hepática Infecção
Mutações ou variações genética
Pancreatite Quilomícron VLDL e restos ricos em triglicerídeos
Não-HDL-C; LDL-P; APO B
DCV HDL
APO A-1
-
34
3.2.5 Diabetes tipo II: o mais importante distúrbio cardiovascular em crianças
obesas
A prevalência de diabetes no mundo tem aumentado de maneira assustadora.
Segundo a International Diabetes Federation (IDF) uma em cada 11 pessoas tem
diabetes, o equivalente à 415 milhões de pessoas. Dados da própria IDF apontam que
a cada 6 segundos, uma pessoa morre decorrente da diabetes, no Brasil no ano de
2015 foram 130.700 (cento e trinta mil e setecentos) mortes por diabetes. Esses dados
reportam os valores somados dos três tipos de diabetes (tipo 1 e 2 e diabetes
gestacional), entretanto, dos casos de diabetes, 87% a 95% são diabetes melito tipo
2 (DM2), adquirida especialmente pelo sobrepeso/obesidade, inatividade física,
sedentarismo e hábitos alimentares inadequados (IDF, 2015).
Nessa direção, os valores acima mencionados se referem a população adulta,
porém, a frequência de diabetes entre crianças também tem alcançado grandes
proporções. No ranking mundial de crianças com diabetes tipo I, o Brasil ocupa a 3ª
colocação, com 30.900 (trinta mil e novecentos) casos entre crianças de 0 a 14 anos
(IDF, 2015). O atlas de diabetes do IDF em sua sétima edição não relata a prevalência
de DM2 em crianças, contudo, várias pesquisas têm sido realizadas mostrando que
com o advindo da epidemia mundial de obesidade infantil, a DM2 também se tornou
um preocupante assunto de saúde pública nessa população (DEAN & SELLERS,
2015; AMUTHA & MOHAN, 2016; SMITH, MILLS & CARLISLE, 2016;).
Dessa forma, faz-se importante o entendimento sobre o que é a diabetes melito
e a diferença entre o tipo 1 e tipo 2. Segundo Guyton e Hall (2011), a diabetes é uma
alteração defeituosa no metabolismo dos carboidratos, lipídios e proteínas, a causa
dessa alteração é quem faz a diferenciação entre os tipos de diabetes. A tipo 1,
comumente chamada de insulino-dependente é causada pela ausência de secreção
da insulina, assim, lesões nas células β pancreáticas ou doenças que danifiquem a
produção de insulina podem levar a esse tipo de diabetes. Em contrapartida, o DM2
ou insulino-não dependente é causado pela diminuição da sensibilidade dos tecidos
alvos, nesse tipo de diabetes ocorre uma resistência à insulina. O fator causador mais
importante da DM2 é a obesidade.
Nesse sentido, a DM2 em crianças, assim como em adultos, pode causar sérios
problemas de saúde. Desse modo, retinopatia, nefropatia e neuropatias estão entre
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as complicações microvasculares. Segundo Amutha e Mohan (2016), a retinopatia
ocorre devido a um prolongado descontrole da hiperglicemia que afeta pequenos
vasos da retina, podendo causar desde pequenas hemorragias até a cegueira. Da
mesma forma, os rins também são órgãos afetados, inicialmente com a excreção de
albumina na urina até alcançar o estágio final da doença renal. Outra complicação da
DM2, a neuropatia diabética é uma disfunção do nervo periférico.
Entretanto, além das complicações a nível microvascular, existem as de nível
macrovascular, as mesmas são consideradas as maiores causas de morte entre
diabéticos tipo 2 (IDF, 2015). Dentre as complicações macrovasculares, encontram-
se os fatores de risco para o desenvolvimento de doenças coronarianas e eventos
cardíacos. Nesse contexto, um estudo realizado pelo grupo TODAY com
adolescentes, verificou que 14% dos adolescentes com DM2 apresentavam também
hipertensão, 80% baixos níveis de HDL e 10% hipertrigliceridemia (COPELANDO et
al., 2011). Corroborando, Mandy, Garnett & Baur (2014), afirmam que não somente
em adolescentes, mas também em crianças com DM2, ocorrem as complicações
microvasculares e macrovasculares.
Dessa maneira, os pesquisadores enfatizam a necessidade de se explorar mais
sobre a DM2, afim de se entender melhor sobre a patologia para que medidas de
prevenção e também para remediar sejam elaboradas, uma vez que, quanto mais
jovem o indivíduo adquirir tal doença, mais tempo seu corpo passará exposto aos
efeitos deletérios dela (DEAN & SELLERS, 2015; MONTGOMERY, JOHNSON &
EWELL, 2015).
Nessa direção, ao se tratar de medidas para prevenir e tratar a diabetes tipo 2
em crianças obesas, Tompkins et al.,(2011) afirmam categoricamente que
intervenções com atividades físicas, mesmo aquelas em que não há intervenções
nutricionais, são efetivas na diminuição do risco de resistência à insulina e
consequentemente na prevenção da doença. Dessa forma, os autores relatam sobre
a necessidade de mais programas de intervenção de atividades físicas.
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36
3.2.6 Massa ventricular esquerda um importante marcador da saúde
cardiovascular
Com a epidemia da obesidade infantil, uma questão que tem despertado
interesse nos pesquisadores e profissionais da área da saúde, é sobre a estrutura
cardíaca da criança obesa, conhecer até que ponto a obesidade na infância, assim
como em adultos, tem alterado a estrutura física e funcional do coração e
consequentemente de todo o sistema cardiovascular. É nessa perspectiva que uma
revisão sistemática realizada por Cote et al., (2013) tenta explanar as diferenças
cardíacas entre crianças obesas e não obesas, dentre as estruturas analisadas
encontra-se a massa ventricular esquerda (MVE).
Nesse sentido, os autores encontraram que dos vintes estudos analisados,
quinze demonstraram que crianças obesas apresentavam a massa ventricular
esquerda maior do que as crianças com IMC saudável (COTE et al., 2013). Dentre
esses estudos, apresenta-se o de Atabek et al., (2011) que objetivou verificar a relação
entre o índice de massa ventricular esquerda e a síndrome metabólica em crianças e
adolescentes obesos com a SM. Para tanto, eles analisaram 208 crianças com
obesidade e SM e cinquenta saudáveis para grupo controle. Os resultados
demonstraram relação significativa para todos os parâmetros analisados relacionados
à SM no grupo de crianças obesas, tanto para o perfil antropométrico como para o
lipídico e ainda pressão arterial sistólica e diastólica.
Nessa direção, o aumento da massa ventricular esquerda, chamada de
hipertrofia ventricular esquerda (HVE) apresenta associações com eventos
cardiovasculares em adultos, e embora esses eventos não são sejam comuns na
infância, acredita-se que a HVE, bem como os primeiros sinais de arteriosclerose
acontecem nessa faixa etária. Por essas razões, sugere-se que em crianças obesas,
tais investigações ocorram o mais precocemente, para assim se propor intervenções
que possam atenuar os efeitos deletérios dessas alterações (LEVY et al., 1990; COTE
et al., 2013).
Dessa maneira, estudos de intervenção que visem os efeitos na massa
ventricular esquerda de crianças obesas ainda parecem escassos na literatura,
contudo, um estudo realizado por Horner et al., (2015) apresentou como um de seus
objetivos analisar os efeitos do exercício aeróbio versus o exercício resistido na massa
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ventricular esquerda de adolescentes obesos. Participaram do estudo 81
adolescentes entre 12 e 18 anos de idade, com IMC percentil ≥ 85th. Os jovens foram
distribuídos aleatoriamente em grupo exercício aeróbio (n=30), grupo exercício
resistido (n=27) e grupo controle (n=24). A intervenção teve duração de 3 meses, nos
quais para os grupos experimentais eram realizadas 3 sessões de exercícios por
semana, cada grupo na sua categoria de exercício. Para a MVE não foi possível
verificar alterações significativas entre os grupos. Os autores enfatizam a necessidade
de outros estudos afim de se ter uma prescrição mais eficaz de exercícios.
Nessa direção, fica evidente a necessidade de estudos de intervenção que
investiguem a MVE em crianças obesas, afim de se estabelecer evidencias sobre a
possibilidade de modificação dessa estrutura cardíaca, bem como de outras que se
apresentem como fatores de risco para eventos cardiovasculares futuros.
3.3 Intervenções de base escolar em crianças com excesso de peso como
forma de prevenção e diminuição dos fatores de risco cardiovascular
A obesidade infantil apresenta como principal consequência o desenvolvimento
de anormalidades metabólicas, aumentando substancialmente os riscos para o
surgimento de patologias cardiovasculares. Dessa maneira, a OMS publicou em 2016
um documento de recomendações para acabar com a obesidade infantil. Essas
indicações são: a) promover a ingestão de alimentos saudáveis; b) promover atividade
física; c) cuidados na preconcepção e gestação; d) inserir em idade precoce atividade
física e dieta; e) saúde, nutrição e atividade física para crianças com idade escolar; f)
manutenção do peso (WHO, 2016).
Nessa direção, muitos programas de intervenção têm sido realizados com o
objetivo de diminuir o peso e os fatores de risco cardiovascular já estabelecidos na
infância (KHAN et al., 2014; LEE et al., 2014). Entretanto, de acordo com a abordagem
ecológica e confirmando as orientações da WHO (2016) essa intervenção deve
abranger ao máximo as dimensões do universo da criança. Assim, se faz necessário
atingir a família, a escola e a vizinhança, em diversos aspectos físicos e emocionais,
com intervenções multidisciplinares e interdisciplinares que possam promover
atividade física e alimentação saudável e que sejam capazes de interagir com o meio
em que a criança convive (HARRISON et al., 2011).
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No entanto, ao se avaliar os programas de intervenção atuais na perspectiva
de Harrison et al., (2011), o que se apresenta é ainda uma limitação dos estudos, uma
vez que na literatura, embora poucos, é possível encontrar programas
multidisciplinares, entretanto, o que Harrison et al., (2011) propõem é uma evolução
nos programas de intervenção de multidisciplinar para transdisciplinar.
Nesse contexto, alguns estudos têm utilizado essa metodologia multidisciplinar
para avaliar os possíveis benefícios nos fatores de risco cardiovascular em crianças
sobrepesadas ou obesas. Dessa maneira, Harder-Lauridsen et al., (2014), realizaram
um estudo que objetivou analisar os efeitos de uma intervenção multidisciplinar em
crianças sobrepesadas ou obesas com foco na atividade física e alimentação. A
proposta dos autores foi um programa que aumentou a atividade física das crianças
em mais sessenta minutos semanais, atividades essas com características
recreacionais. Entretanto, além da atividade física para as crianças, os autores
promoveram sessões de atividade física entre a criança, seus pais e seus irmãos,
assim enfatizando a necessidade das atividades em família. Outro aspecto
desenvolvido no programa, foram orientações sobre alimentação saudável e a
preparação de um jantar com os pais e as crianças participantes.
Nessa direção, o programa teve duração de 20 semanas, e dentre as variáveis
analisadas encontram-se as que apresentam desfecho cardiovascular, que foram,
IMC, CC, RCE, percentual de gordura, pressão arterial, aptidão cardiorrespiratória,
tolerância à glicose e perfil lipídico. Nos resultados, foram observados mudanças
significativas na medidas antropométricas e percentual de gordura, com p
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Entretanto, segundo Vizcaíno et al.,(2014), a generalização dos resultados de
tais programas ainda se apresenta como um mistério a ser revelado, pois, embora
com características metodológicas semelhantes, os estudos tem apresentado
resultados muito divergentes entre si.
Assim, uma pesquisa realizada por Hrafnkelsson et al.,(2014) que expôs como
objetivo reportar os efeitos de dois anos de um programa de intervenção de base
escolar sobre os fatores de risco cardiovascular. O programa trabalhou com atividade
física e nutrição, sendo o mesmo introduzido na rotina da escola, com 30 minutos de
atividades físicas diárias e orientações nutricionais sendo conduzidas pelas
professoras no decorrer das aulas. Os autores analisaram como variáveis de desfecho
cardiovascular, IMC, percentual de gordura, colesterol total, LDL, HDL, triglicerídeos,
hemoglobina glicada, pressão arterial e aptidão cardiorrespiratória. Entretanto,
nenhuma modificação significativa foi observada para essas variáveis ao término do
programa. Para os autores dois anos foi um curto período para promover mudanças
no estilo de vida.
Nessa direção, porém sem ser de base escolar, Bianchini et al., (2013)
realizaram um estudo no Brasil que visava observar o efeito de 16 semanas de
intervenção multidisciplinar para o tratamento da obesidade, controle e manutenção
dos elementos da SM. Dessa maneira, os pesquisadores propuseram um programa
que envolvia atividade física, nutrição e psicologia, para promover mudança de
comportamento e como consequência redução nas anormalidades metabólicas em
indivíduos de 10 a 18 anos de idade.
Nesse sentido, as intervenções ocorriam três vezes por semana, com duração
de duas horas por sessão. Cada sessão era dividida em dois momentos, na primeira
hora ocorriam orientações, às segundas-feiras as orientações eram sobre atividade
física, às quartas-feiras sobre nutrição e às sextas-feiras sobre mudanças
comportamentais com profissionais da psicologia. Após as orientações, ocorria o
segundo momento das sessões que eram práticas de atividades físicas, com foco nos
esportes. Os resultados do estudo apresentaram que houveram diminuição no número
de participantes obesos no grupo experimental, o inverso foi observado no grupo
controle. Outras modificações foram observadas para CC, CT, PAD e PAS que
diminuíram significativamente no grupo experimental (BIANCHINI et al., 2013).
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40
A seguir um quadro com o resumo dos estudos publicados nos últimos cinco
anos, com crianças com excesso de peso, faixa etária de 5 a 10 anos de idade com
foco nos desfechos cardiovasculares.
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Autor, ano
Objetivo N, grupos, idade
Tipo de intervenção Duração
Desfecho cardiovascular
Principais achados
Almas et al., 2015
- Analisar a possibilidade e eficácia de recrutamento e retenção de pré-adolescentes femininas em um programa de intervenção de atividade física, em ambos os grupos, experimental e controle;
- Implementar um programa de atividades físicas no ambiente escolar durante 20 semanas.
- Ensaio clínico não randomizado;
- Exclusivamente meninas;
- Experimental (n=131) e Controle (n=149);
- 9 a 11 anos de idade;
- 30 minutos de duração;
- 4x por semana;
- 20 semanas.
- Pressão arterial;
- IMC.
Foi observado melhoras significativas na pressão arterial sistólica e no IMC.
Lambrick et al., 2015
- Avaliar os efeitos de 6 semanas de intervenção com HIIT nos índices fisiológicos, antropométricos, indicadores de saúde e aptidão de crianças com diferentes IMC.
- 55 crianças;
- Grupo experimental (n=28) e controle (n=27);
- 8 a 10 anos de idade;
- A intervenção ocorreu 2 vezes por semana com sessões de 60 minutos da atividade HIIT específico para crianças, com jogos previamente programados, onde as crianças ficavam ativas durante 40 minutos de cada sessão;
- Duração de 6 semanas.
- IMC;
- Percentual de gordura;
- Circunferência de Cintura;
- VO2Máx;
Houve melhoras significativas em todas as variáveis de desfecho cardiovascular analisadas, tanto em crianças com peso normal quanto naquelas com obesidade.
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Hourder-Lauridsen et al., 2014.
- Avaliar os efeitos de uma intervenção multidisciplinar com foco na dieta e na atividade física em crianças sobrepesadas.
- N= 37;
- Grupo experimental (n=18); grupo controle (n=19);
- 7 a 10 anos.
- 60minutos semanais só com as crianças;
- 90minutos semanais com as crianças, os pais e os irmãos;
- Treinamento individual sobre alimentação saudável com pais e crianças 2 vezes durante o programa;
- Preparação de um jantar com as crianças e os pais 2 vezes durante o programa;
- Duração de 20 semanas.
- IMC;
- Circunferência de cintura;
- Relação cintura-estatura;
- Pressão arterial.
- Percentual de gordura;
- Aptidão cardiorrespiratória;
- Tolerância a glicose;
- Perfil lipídico.
- Diminuição do IMC, circunferência de cintura, relação cintura-estatura e percentual de gordura;
- Nos testes de tolerância a glicose, houve modificação apenas no índice Matsuda;
- Não houveram mudanças significativas para o perfil lipídico, pressão arterial e aptidão cardiorrespiratória.
Hrafnkelsson et al., 2014
- Reportar os efeitos de 2 anos de um programa de intervenção de base escolar sobre os fatores de risco cardiovascular.
- 3 escolas no grupo experimental (n=151) e 3 no grupo controle (n=170);
- 7 a 9 anos de idade;
- Foi realizada intervenção de atividade física e nutrição. A intervenção foi introduzida na rotina da escola, inicialmente com atividades físicas de 30 minutos diários até atingir 60 minutos.
- Duração de 2 anos;
- IMC;
- Percentual de gordura;
- Perfil lipídico;
- Hemoglobina glicada;
- Pressão arterial;
- Aptidão cardiorrespiratória;
- Não houveram diferenças significativas em nenhuma das variáveis entre os grupos após a intervenção.
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Khan et al., 2014
- Observar o efeito de 9 meses de intervenção de atividade física no corpo todo e na adiposidade central, entre crianças pré púberes, variando o status do peso.
- Foram recrutadas 7 escolas, no total de 220 crianças (110 para o experimental e 110 para o controle);
- 8 a 9 anos de idade;
- Foi realizada atividade física durante 2 horas por sessão, 5 vezes por semana, com intensidade de 55% a 80% da frequência cardíaca máxima;
- Duração de 9 meses.
- IMC;
- Percentual de gordura;
- Aptidão cardiorrespiratória;
- Adiposidade central.
- Para o grupo intervenção houve melhora da aptidão cardiorrespiratória, redução do percentual de gordura e da adiposidade central;
- O percentual de gordura diminuiu tanto no grupo de obesos quanto no de não obesos;
- No grupo controle houve aumento no percentual de gordura e na adiposidade central, sendo que os não obesos aumentaram percentual de gordura e os obesos gordura visceral.
Li et al., 2014
- Avaliar os efeitos de uma intervenção multi-componentes de atividade física de base escolar.
- 2 escolas, experimental (n=388 crianças) e controle (n= 533);
- 7 a 15 anos de idade;
-A