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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS SOCIAIS APLICADAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS ECONÔMICAS
INSERÇÃO DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO NO BRASIL
ATUALPA LUIZ DE LIMA FILHO
NATAL/RN 2017
ATUALPA LUIZ DE LIMA FILHO
INSERÇÃO DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO NO BRASIL
Monografia apresentada como exigência para
obtenção do grau de Bacharelado em
CIÊNCIAS ECONÔMICAS da UNIVERSIDADE
FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE.
Orientador: Professor Dr. William Eufrásio N.
Pereira
Catalogação da Publicação na Fonte. UFRN / Biblioteca Setorial do CCSA
Lima Filho, Atualpa Luiz de.
Inserção da mulher no mercado de trabalho no Brasil/ Atualpa Luiz de Lima Filho. - Natal, RN, 2017.
29f. Orientador: Prof. Dr. William Eufrásio Nunes Pereira. Monografia (Graduação em Economia) - Universidade Federal do Rio Grande
do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Economia. Curso de Graduação em Ciências Econômicas.
1. Mercado de trabalho - Brasil - Monografia. 2. Mulher - Mercado de trabalho -
Monografia. 3. Progresso feminino - Contexto trabalhista – Monografia. I. Pereira, William Eufrásio Nunes. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título. RN/BS/CCSA CDU 331.5-055.2
ATUALPA LUIZ DE LIMA FILHO
INSERÇÃO DA MULHER NO MERCADO DE TRABALHO NO BRASIL
Monografia de Graduação apresentada ao
Departamento de Economia da Universidade
Federal do Rio Grande do Norte, como
requisito parcial para obtenção do título de
Bacharel em Ciências Econômicas.
Aprovada em: __/__/____
______________________________________________________________
Professor Dr. William Eufrásio Nunes Pereira
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Orientador
______________________________________________________________
Me. Ana Cristina dos Santos Morais
Universidade Federal do Pará
Avaliadora
AGRADECIMENTOS
Agradeço antes de tudo a Deus, pelo amor incondicional e por ter preparado
minha trajetória até aqui.
Aos meus pais; Kátia Suzana de Oliveira Machado e Atualpa Luiz de Lima,
que me ensinam diariamente valiosas lições para vida com muito amor e que me
deram forças diretamente ou indiretamente para conclusão deste curso. Como
também ao meu irmão João Cláudio de Vasconcelos Machado Neto, pela
compreensão e incentivo para os meus projetos de vida.
Ao professor, André Luís Cabral de Lourenço, pelo exemplo de
responsabilidade, pela solicitude e grandes ensinamentos.
Ao meu orientador, William Eufrásio Nunes Pereira, pela confiança,
dedicação, ajuda e compreensão na realização deste trabalho.
A professora, Valéria Rodrigues Leite, pela sua postura dentro da sala, que
me passava calma apenas pelo olhar e por ser um modelo de professora.
A todos os professores que contribuíram para minha formação acadêmica.
A todos os colegas de curso que conviveram comigo durante os cinco anos
de curso.
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Número de vínculos formais nos subsetores da economia
brasileira (1994, 2002 e 2010)……………………............................
21
Tabela 2 Remuneração de vínculos formais (1994, 2002, 2010)………….... 23
Tabela 3 Remuneração em porcentagem de trabalhadores formais (1994,
2002, 2010)……………………………………………………………...
24
LISTA DE SIGLAS
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
PEA – População Economicamente Ativa
PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio
RAIS - Relação Anual de Informações Sociais
RN – Rio Grande do Norte
TCC – Trabalho de Conclusão de Curso
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
MTE – Ministério do Trabalho e do Emprego
FILHO LIMA, Atualpa Luiz de. Inserção da mulher no mercado de trabalho no Brasil. Monografia (Bacharel) – Curso de Ciências Econômicas, Departamento de
Economia, UFRN. Natal, 2017.
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo abordar a trajetória da mulher no mercado de
trabalho no Brasil. A ênfase maior está pautada nos anos de 1994, 2002 e 2010
onde ocorre o maior índice de contratação feminina no mercado formal brasileiro. No
decorrer da pesquisa foram analisados dados da Relação Anual de Informações
Sociais (RAIS) que viabilizaram o desenvolvimento constante da pesquisa. A
metodologia utilizada foi uma revisão bibliográfica que serviu de embasamento
teórico na discussão proposta pelo trabalho. Vários autores como; Botelho (2008),
Castells (1999), Abramo (2007), Santos (2011) discorrem sobre o tema proposto e
mediaram o discurso aqui presente. Por fim a conclusão dos fatos e dados
analisados durante o período da pesquisa que contempla que o setor de serviço é o
que mais emprega as mulheres, o êxito feminino no contexto trabalhista e os
questionamentos sobre o salário atribuído às mulheres nos mais variados setores e
serviços.
Palavras – chave: Mercado, Trabalho e Mulher.
FILHO LIMA, Atualpa Luiz de. Isertion of Women in the Labor Market in Brazil.
Monograph (Bachelor) – Course of Economic Sciences, Depatment of Economics,
UFRN. Natal, 2017.
ABSTRACT
The present study aims to address the trajectory of women in the labor market in
Brazil. The major emphasis is set in the years of 1994, 2002 and 2010 where the
highest rate of female hiring in the Brazilian formal market occurs. There are no
results of research on data analysis of the Annual Social Information Ratio (RAIS)
that enabled the constant development of the research. A methodology used for a
bibliographic review of the theoretical basement service in the discussion proposed
by the work. Several authors such as; Botelho (2008), Castells (1999), Abramo
(2007), Santos (2011) discuss the proposed theme and mediated the present
discourse. Finally, the data and data analyzed during the research period that
includes the service sector and the one that most uses as women, the female
success in the labor context and the questions about the salary attributed to women
in the most varied sectors and services.
Key words: Market, Work and Women.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................10
2 INDEPENDÊNCIA FEMININA................................................................................13
2.1 DE CASA PARA O MERCADO............................................................................15
3 PROGRESSO FEMININO NO CONTEXTO TRABALHISTA.................................17
4 A MULHER NO MERCADO DE TRABALHO........................................................20
4.1 NOVAS POSSIBILIDADES DE TRABALHO........................................................25
5 CONCLUSÃO ........................................................................................................27
REFERÊNCIAS..........................................................................................................29
10
1 INTRODUÇÃO
Não raro encontramos a expressão: lugar de mulher é em casa. Uma
expressão que tomou forma e terminou por atribuir um rótulo às mulheres. Estas
deveriam em casa ficar, cuidar das atribuições domésticas e dos filhos, caso os
tivesse. Esse contexto existiu no século XX em meio ao expansionismo industrial
(HOFFMANN, 2004). Um mecanismo que não só hostilizou como também estava na
linha que encabeçava o enfrentamento para a não inserção das mulheres no
mercado que frutificava.
A principal questão a ser discutida e apresentada é: como evoluiu a inserção
feminina no mercado de trabalho brasileiro nos últimos anos? Qual o setor que mais
recebeu mão de obra feminina?
O objetivo da pesquisa é mostrar a maior inserção quantitativa da mulher no
mercado de trabalho no Brasil e verificar os setores no qual a mulher mais se
destacou e desenvolveu. A fim de sanar essas questões de representatividade social
feminina é que foi proposta uma análise histórica e quantitativa dos dados oficiais
colhidos, principalmente da Relação Anual de Informações Sociais – RAIS,
disponibilizada pelo Ministério do Trabalho e do Emprego (MTE).
As atribuições no trabalho eram diferenciadas, os homens arcavam com as
despesas da casa e as mulheres ficavam com as atribuições do lar e filhos, se
porventura os tivessem. As mulheres ainda são mal remuneradas se comparado
com o valor da mão de obra feminina e masculina.
A discrepância salarial continua mesmo quando homens e mulheres ocupam
o mesmo posto de trabalho, participam da mesma categoria, mas recebem salários
diferenciados. É um desnível enraizado em um passado sócio histórico gestado por
um pensamento patriarcal.
O panorama citado começa a mudar com a Segunda Guerra Mundial (1939-
1945), os homens são instigados e, muitas vezes, obrigados, a defender seu país.
As mulheres tomam o lugar dos principais personagens mantenedores das suas
residências. A necessidade de prover o alimento da casa e a ausência da figura
masculina, antes o principal provedor, fez com que a mulher galgasse novo lugar na
hierarquia trabalhista (ESPINDOLA; CASTRO, 2012)
11
Refletindo sobre essas questões e nuances envolvendo o trabalho feminino e
o local da mulher no contexto trabalhista, Espindola e Castro (2012) apresenta que:
A partir de eventos como a evolução industrial, em meados do século XVIII, que trouxe o desenvolvimento tecnológico e o crescimento da maquinaria, aliada às duas primeiras Guerras Mundiais e a revolução feminista na década de 70, as mulheres foram requisitadas pelo mercado de trabalho como mão de obra em decorrência da saída da população masculina para a guerra, este movimento favoreceu a conquista de um maior espaço na sociedade e, consequentemente, no mercado de trabalho (ESPINDOLA; CASTRO, 2012, p.2).
Outro quesito que contribuiu para a transição da mulher do lar para o mercado
de trabalho diz respeito às inquietações e questionamentos apresentados pelo
movimento feminista que ocorre nos anos 1970, logo após a Segunda Guerra
Mundial. O movimento feminista ganhou força e recebeu mais vigor com as
mulheres que saíram do trabalho do lar, para ingressarem no enfrentamento por
igualdade de trabalho, sexo, gênero (BRUSCHIN, 1995).
Uma busca incessante por afirmação e direitos iguais. No entanto, as
mulheres continuaram, após o movimento feminista na desigualdade e com
condições de trabalho inferiores ao do homem. São permanências indicam modelos
de famílias patriarcalistas nas quais a mulher fica com a tarefa de cuidar da casa e
dos filhos sem direito, mesmo disponível para o mercado de trabalho, de ingressar
em outra atividade (BRUSCHIN, 2000).
Mesmo com um cenário oscilante entre o lar e o trabalho é constante a
atuação feminina no panorama do mercado de trabalho mundial e brasileiro
(BRUSCHIN, 1995). Com um salário menor do que o pago aos homens, as
mulheres ocupam o mesmo cargo. A diferença salarial é constatada pelos
pagamentos efetuados pela empresa. Independentemente de a atribuição ser a
mesma a figura da mulher, em um contexto geral, ainda recebe um salário inferior se
relacionado à remuneração paga ao homem.
A literatura relata uma longa jornada que tem na figura da mulher a presença
da luta por igualdade, não só de salários, mas de direitos também, no fim da década
de 1970 e início de 1980, principalmente (BRUSCHIN; LOMBARDI, 1996
SEDLACEK, 1991; SANTOS, 2011). O acesso ao trabalho e a saída, mesmo que
não em definitivo, do lar não foi fácil para a mulher que galgava novos sonhos e
12
cada vez mais aproximava da atividade desenvolvida pelo público masculino
(WAJNMAN, QUEIROZ, LIBERATO, 1998).
O trabalho em questão utilizou a metodologia utilizada foi uma revisão
bibliográfica. Esta bibliografia contribuiu para o desenvolvimento da pesquisa
relacionada à trajetória da mulher no mercado de trabalho. O diálogo entre os
autores permeia todo o curso da pesquisa como forma de embasar as questões
apresentadas e discutidas na pesquisa.
A pesquisa foi dividida em capítulos e foi contemplada a historiografia sobre a
inserção das mulheres no mercado de trabalho e a trajetória destas nos vários
setores trabalhistas. Foi mostrada a remuneração em relação ao valor pago pelo
trabalho entre homens e mulheres no período de 1994, 2002 e 2010.
No capítulo intitulado “Independência feminina” foram abordadas questões
que enlevam o posicionamento das mulheres no que se refere ao trabalho fora do
ambiente doméstico. Uma das questões principais é que as mulheres passaram a
custear a despesa da casa com o trabalho, formal ou não, em outros setores,
principalmente o comércio.
O progresso feminino no contexto trabalhista, terceiro capítulo, aborda a
ascensão das mulheres em vários setores da economia, tais como serviços,
comércio, etc. Apresenta, ainda, com base em dados discutidos no decorrer do
texto, o aumento da renda e a participação feminina no mercado de trabalho.
No quarto capitulo (A mulher no mercado de trabalho) ter-se-á a discussão do
desenvolvimento feminino no mercado de trabalho. É a exposição de dados que
apresentam o número crescente de mulheres que não mais estão no ambiente
doméstico, mas sim no emprego formal. Para tal, foram usadas tabelas que
apresentam os dados do período.
Por fim, a conclusão da pesquisa com a culminância e resultado dos dados
analisados. É perceptível a mudança no perfil dos trabalhadores, inclusive após o
ingresso das mulheres no mercado, de acordo com os indicadores coletados.
13
2 INDEPENDÊNCIA FEMININA
As mulheres trabalham a muito tempo fora e dentro das suas residências.
Não é fato novo o deslocamento do público feminino para o ambiente de trabalho
externo recebeu uma dimensão grandiosa inclusive a partir de 1990. Tanto em
décadas anteriores – 1970, por exemplo, com o movimento feminista - como na
contemporaneidade a luta feminina é presente na sociedade, quer seja ela do século
XX ou XXI.
Na década de 1990 o cenário mundial recebe uma nova configuração, a partir
desse período a participação feminina no mercado de trabalho aumenta e
caracteriza um novo contexto que insere a mulher no espaço do trabalho. É também,
nesse momento que ocorre um aumento nos números das mulheres formalmente
assalariadas. Uma representatividade que aumentará em outros períodos, inclusive
no século XXI1.
A sociedade é marcada por uma tradição patriarcal que impulsiona a exclusão
das mulheres do mercado de trabalho, visto que essa categoria, sexo, está,
erroneamente, vinculada ao trabalho doméstico.
No Brasil, em 2001, 34.852.764 mulheres estavam no mercado de trabalho como ocupadas ou desempregadas, número equivalente a 41,9% da População Economicamente Ativa (PEA), segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD), realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em 1995, o percentual era menor – correspondia a 40,1%da PEA – e a força de trabalho feminina ficava em 29.820.663 pessoas. Quase metade – cerca de 46% do total das mulheres que estavam ocupadas em 2001 – trabalhava como assalariada, forma de trabalho que, quando envolve vínculo de trabalho formal representado pela carteira assinada, garante à mulher ocupação de melhor qualidade, com mais garantias e benefícios. No entanto, é alto o percentual de mulheres que se ocupava na condição de empregadas domésticas (18,3%), de autônomas (16,3%) ou mesmo que exercia trabalho sem remuneração (9,8%), o que evidencia a vulnerabilidade do trabalho feminino (SANCHES; GEBRIM, 2003, p.100).
Sanches e Gebrin (2003) aborda a questão panorâmica do trabalho feminino
no Brasil e o contexto do trabalho feminino no espaço laboral que agrega a noção do
feminino e vulnerabilidade existente.
1Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados, SP, 2002.
14
Cristina Bruschini (2000) apresenta uma gama de trabalhos que procura
desmistificar a tese de que lugar de mulher é em casa. Jargão que fundamentou
ainda mais a sociedade patriarcal.
Fato é que o lugar da mulher mudou, saiu do ambiente caseiro e migrou para
o mercado de trabalho. No contexto trabalhista começou a moldar-se a figura
histórica da mulher. Suas prioridades não mais estavam, unicamente, vinculadas ao
ambiente domestico, mas, com decorrer do tempo, a mulher priorizou o trabalho
externo como meio, também, de contribuir e aumentar a renda familiar (BRUSCHINI,
1995).
Começa a transformação da figura da mulher no mercado de trabalho. Um
grande desenvolvimento que fortalece a formação identitária das mesmas no
contexto trabalhista. Agregou-se mais valor ao trabalho feminino no mesmo
momento em que a identidade da mulher passa a se caracterizar como mantenedora
da família. A construção da identidade feminina, nesse contexto, não nasceu do dia
para a noite, décadas foram necessárias.
Manuel Castells (1999) aborda que
[...] a construção da identidade é construída. A principal questão, na verdade, diz respeito a como, a partir de quê, por quem, e para quê isso acontece. A construção de identidades vale-se da matéria-prima fornecida pela história, geografia, biologia, instituições produtivas e reprodutivas, pela memória coletiva e por fantasias pessoais, pelos aparatos de poder e revelações de cunho religioso. […] todos esses materiais são processados pelos indivíduos, grupos sociais e sociedades, que reorganizam seu significado em função de tendências sociais e projetos culturais enraizados em sua estrutura social, bem como em sua visão de tempo/espaço (CASTELLS, 1999, p. 23).
Existe uma formação identitária que viabilizou o novo contexto trabalhista no
qual a mulher passa a ser figura central no lar. Essa relação histórica também foi
mantida pela relação de poder existente na trajetória trabalhista feminina. Uma
identidade que recebeu apoio para que fosse concebida a resistência desses atores
sociais. Manuel Castells identifica essa conjuntura de identidade de resistência
(CASTELLS, 1999)
Obviamente, identidades que começam como resistência pode acabar resultando em projetos, ou mesmo tornarem-se dominantes nas instituições da sociedade, transformando-se assim em
15
identidades legitimadoras para racionalizar sua dominação. (CASTELLS, 1999, p. 24).
Uma das contribuições para a mudança da mulher para o mercado de
trabalho, foi a concepção de prioridade que antes mantinha o foco no lar, e, com o
passar dos anos, com a própria resistência femininas, deslocou para o trabalho
externo. Ou seja, um grande número de mulheres priorizou outras funções, que
viabilizou um retorno financeiro e contribuiu para que elas provessem o sustento das
suas casas.
2.1 De casa para o trabalho
O trajeto percorrido pelas mulheres ao sair do ambiente familiar, dominado
pelo homem – por muito tempo com o status de provedor das despesas da casa –
foi longo e árduo.
Foram as diferenças entre os sexos que materializaram os sentidos opostos
entre o homem e a mulher, diferenças estabelecidas historicamente que
segregaram, por muito tempo, o chamado “sexo frágil” ao ambiente domiciliar, a
passividade (CABRAL; DIAZ, 1998).
A mulher passa de reprodutora, passiva, ao papel de provedora principal. O
estigma de que a passividade da reprodutora está atrelada aos bons modos forjados
pelas relações de poder nas sociedades. A mulher perde força no momento em que
elas resistem a uma dupla jornada de trabalho, em casa e fora do domicílio.
[…] as mulheres, além da jornada de 8 horas de trabalho remunerado, têm um número variável de horas de trabalho em casa, o que aumenta nos finais de semana. Esse excesso de trabalho, soma do esforço realizado no âmbito público e privado é o que se chama: dupla jornada de trabalho. Isto significa que todo o poder e independência que tem trazido para as mulheres a saída do lar, têm por outro lado significado um desgaste e impacto na sua saúde tanto física como mental, incluindo o sentimento de culpa por não conseguir realizar bem todas as tarefas de casa ou pelo “descuido” dos filhos (CABRAL; DIAZ, 1998, p.142).
Mesmo com o êxito das mulheres no mercado de trabalho, as mesmas ainda
continuam sobrecarregadas pela construção patriarcal que lhes fora imposta. Tal
16
fato não bloqueou o crescimento profissional da carreira da mulher no mercado de
trabalho, mas alimentou um estereótipo já formado (CABRAL; DIAZ 1998).
A estereotipia recorre à generalização, reforça a carga subjetiva e pode manifestar-se sob a forma de preconceito. O estereótipo é a base que suporta a formação de preconceitos, pois exerce influência na percepção social, nos julgamentos e nos comportamentos (BOTELHO, 2008, p.42).
Os papéis são constituídos por via cultural e, historicamente, disseminados no
sentido de que as mulheres fazem parte do “sexo frágil” e, por outro lado, os homens
são tidos como os ativos da história familiar. Esses estereótipos começam a ser
formado ainda quando a criança está na barriga da mãe.
O papel do homem e da mulher é constituído culturalmente e muda conforme a sociedade e o tempo. Esse papel começa a ser construído desde que o (a) bebê está na barriga da mãe, quando a família de acordo à expectativa começa a preparar o enxoval de acordo ao sexo. Dessa forma, cor de rosa para as meninas e azul para os meninos. Depois que nasce um bebê, a primeira coisa que se identifica é o sexo: “menina ou menino” e a partir desse momento começará a receber mensagens sobre o que a sociedade espera desta menina ou menino. Ou seja, por ter genitais femininos ou masculinos, eles são ensinados pelo pai, mãe, família, escola, mídia, sociedade em geral, diferentes modos de pensar, de sentir, de atuar (CABRAL; DÍAZ, 1998, p.142).
Assim como aponta Cabral e Diaz (1998) o contexto que por longo tempo se
desenvolveu sobre a fragilidade2 feminina não sufocou a saída das mulheres do lar
para a formalidade trabalhista. A necessidade de aumentar os proventos da família
também influenciou no crescente ingresso das mulheres no mercado de trabalho
atuando formalmente em várias funções.
2 Que se entenda a palavra fragilidade no sentido de que a mulher era tida como o “sexo frágil” no contexto trabalhista até a década de 1990 (CABRAL; DÍAZ, 1998).
17
3 PROGRESSO FEMININO NO CONTEXTO TRABALHISTA
Diante do contexto exposto e contrariando as ações capitalistas sobre a
remuneração daquelas que exercem as mesmas funções que os homens, nos anos
seguintes a 2002 o perfil feminino ocupa espaço no universo do trabalho. Os dados
da RAIS (2002) apontam que as mulheres estão encontrando novas formas de
trabalho em um contexto antes, em sua maioria, ocupadas por homens.
O aumento da participação da renda da mulher na renda domiciliar é mais uma conseqüência da ampliação da participação da mulher no mercado de trabalho do que um aumento da renda da mulher que trabalha, embora tenha ocorrido substancial aumento na relação entre rendimentos individuais de trabalho de mulheres e homens (HOFFMANN, 2004, p. 43)
Segundo o pensamento de Hoffmann (2004) muito embora o cenário
trabalhista feminino não proporcione melhorias salariais significativas, as mulheres
estão inovando e ingressando no mercado de trabalho em áreas que antes não se
aceitava. Uma configuração que representa mudança e superação feminina.
O autor ainda informa que a diferença no rendimento trabalhista entre homens
e mulheres está diminuindo paulatinamente, isso se deve ao fato de que a mulher
está ingressando cada vez mais no trabalho formal (HOFFMANN, 2004).
Ocorre uma modificação ante o setor trabalhista feminino. A mesma se
reinventa e descobre as mudanças que incidem no mundo capitalista, dessa forma
busca novas formas de trabalho e, com isso, esse reinventar, conhece novos
“nichos” de trabalho (FRANKEL, 2007).
A mulher não só buscou outros meios de trabalho, mas a luta por direitos que
lhe garantissem a igualdade salarial estava atrelada as reivindicações sociais que
não determinasse um local inferior. O contexto nacional e internacional assimilou as
mudanças no mercado de trabalho que absorvia mão de obra feminina.
O resultado sobre as famílias foi a diminuição da qualidade de vida dos indivíduos e o aumento do desemprego do chefe do domicílio, obrigando os demais membros da família a buscar um posto de trabalho para aumentar a renda familiar. Além disso, as mudanças na composição das famílias, tradicionalmente chefiadas por homens, contribuíram para esse movimento. O crescimento de famílias com chefia feminina, seja pela dissolução do casamento, seja pela morte do marido ou, ainda, pela simples opção de viverem sozinhas,
18
também impeliram a mulher para o mercado de trabalho. No entanto, justificar a presença da mulher na força de trabalho por motivos meramente econômicos significa reduzir as conquistas por elas alcançadas. Essa inserção se deve, igualmente, ao movimento de emancipação feminina e à busca de direitos iguais na sociedade. Apesar de crescente, a participação feminina no mercado de trabalho tem sido marcada por uma série de adversidades que se somam às decorrentes da difícil situação socioeconômica que o país tem atravessado nas últimas décadas. Para as mulheres, as dificuldades colocam-se desde sua forma de inserção no mercado (SANCHES, 2003, p.99).
Além de descobrir novas funções nas quais se pode trabalhar, a mulher
adentrou espaços de trabalho antes tidos como masculinizados, é o caso da área
mineradora, construção civil e metalúrgica. O perfil das mulheres mudou, foi à
reinvenção no trabalho (PROBST; RAMOS, 2003). Mesmo com o aumento da renda
e a nova conjuntura da família brasileira que passa, em muitos casos, a ter a mulher
como a principal mantenedora da residência, ocorre também uma evolução nas
formações familiares onde trabalham o homem e a mulher (SEDLACEK; SANTOS;
1991).
É importante salientar que o desenvolvimento das mulheres e sua postura
frente ao desenvolvimento no trabalho contribuíram para que elas ganhassem
visibilidade na função de chefe, gerentes, gestoras, etc. Esse panorama recebeu
força, também, pela postura feminina no que se refere ao trabalho.
Com a globalização o envolvimento da mulher com a força de trabalho ganhou mais impulso. Surgindo assim, no mundo empresarial, mulheres que apresentam como características: a flexibilidade para se adaptar a diferentes situações; maior estabilidade emocional; objetividade e persistência; paciência e disposição para começar de níveis inferiores (SANTOS; GOMINHO, 2011, p. 3).
Santos (2011) ao apresentar a questão de que a mulher, enquanto
personagem desse processo de distribuição de renda, modifica o espaço no qual
está inserida. É a reformulação do contexto no qual a mulher, na condição de
paciente e disposta a “começar por níveis inferiores”, está inserida. As mulheres são
mais flexíveis para se adaptar a diferentes situações e tal característica faz com que
as mesmas ganhem visibilidade no mercado de trabalho.
Sina (2005) reflete sobre o processo trabalhista da mulher no mercado de
trabalho e assinala que a caminhada percorrida por elas foi marcada pela presença
19
do preconceito e discriminação, inclusive no trabalho exercido pelos homens. No
entanto, essa configuração sofreu alterações, visto que mesmo nesse contexto a
mulher conseguiu conquistar espaço no mercado de trabalho mesmo com as
diferenças impostas.
20
4 A MULHER NO MERCADO DE TRABALHO
Este capítulo tem como objetivo mostrar dados do RAIS dos anos de 1994,
2002 e 2010. Pode-se verificar a evolução do número de vínculos trabalhistas tanto
para homens quanto para mulheres. Aponta, ainda, a quantidade de homens e
mulheres empregadas formalmente nos anos supracitados.
Entre os anos de 1994 e 2002, que são foram as duas gestões do governo
de Fernando Henrique Cardoso (FHC) e entre 2002 e 2010, que foram os dois
mandatos do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (Lula). Um se caracteriza mais por
um governo neoliberal (FHC) o outro com uma proposta mais assistencial (Lula).
Nos dados recolhidos observa-se que na maioria dos subsetores a
predominância é masculina. De toda forma, é perceptível a presença feminina nesse
ambiente de trabalho.
É possível notar um aumento de empregos formais entre os anos de 1994 e
2002 (inicio e fim do governo FHC). Para os homens o aumento foi de mais de 2,4
milhões e para as mulheres aproximadamente 2,7 milhões. Já nos anos de 2002 e
2010 (inicio e fim do governo Lula) houve um grande aumento no número de
trabalhos formais. Para os homens esse aumento foi de 8,4 milhões e para mulheres
de 6,8 milhões.
Entre os anos de 1994 e 2010 o aumento do trabalho feminino cresceu
significante ultrapassando os 10 milhões de empregos formais. Chegando aos 18
milhões de empregos ocupados3.
Em todos os anos supracitados é possível avaliar que os segmentos da
Administração Pública, Ensino, Serviço Médicos, Odontológicos e Veterinários e
Indústria Têxtil, sempre houve predominância feminina. Pode-se constatar um
grande aumento no subsetores de Comércio Varejista e da Administração Técnica
Profissional. Mas nos setores mais estáveis – Construção Civil, por exemplo - e
melhores salários a predominância é masculina.
3 Dados retirados do site da RAIS, 2010.
21
Tabela 14 - Número de vínculos formais nos subsetores da economia brasileira (1994, 2002 e 2010).
1994 2002 2010
IBGE Subsetor Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino
Extrativa Mineral
120.668 10.562 113.316 9.485 189.848 21.368
Prod. Mineral Não Metálico
212.391 30.390 252.129 30.357 361.451 49.283
Indústria Metalúrgica
497.672 59.545 457.597 54.314 693.630 102.987
Indústria Mecânica
273.713 43.276 260.740 42.136 467.598 98.892
Elétrico e Comunicação
154.623 70.436 125.309 56.756 182.725 99.054
Material de Transporte
305.127 30.839 283.536 32.878 505.355 78.422
Madeira e Mobiliário
287.019 54.919 351.806 63.198 376.868 91.876
Papel e Gráf.
226.718 72.370 226.420 81.120 281.622 124.452
Borracha, Fumo, Couros
177.661 74.421 167.781 71.441 226.166 101.105
Indústria Química
361.979 138.363 393.991 153.408 645.143 257.560
Indústria Têxtil
313.412 448.902 283.536 449.023 385.593 651.356
Indústria Calçados
124.955 115.630 131.858 130.679 167.594 181.097
Alimentos e Bebidas
745.449 233.846 809.013 300.748 1.170.532 585.341
Serviço Utilidade Pública
344.387 70.611 260.737 49.629 332.171 70.113
Construção Civil
1.017.493 77.344 1.029.416 76.934 2.319.169 189.753
Comércio Varejista
1.597.055 957.865 2.436.913 1.634.646 3.884.934 3.117.103
Comércio Atacadista
486.231 166.832 551.171 203.803 963.150 417.052
Instituição Financeira
418.359 299.998 302.584 269.655 373.266 411.901
Adm. Técnica Profissional
1.099.490 433.684 1.877.998 807.421 2.870.935 1.697.111
Transporte e Comunicações
1.149.412 188.041 1.236.546 242.294 1.886.418 422.404
Alojamento e Comunicação
831.890 714.198 1.242.666 1.301.343 1.665.774 2.036.882
Médicos Odontolo. Veterinário
222.658 597.533 249.420 758.229 354.867 1.120.457
Ensino
138.548 324.841 341.302 553.094 590.892 914.108
Administração Pública
2.274.869 2.821.339 2.886.631 3.900.671 3.666.388 5.256.992
Agricultura
774.797 125.373 992.935 145.300 1.190.669 218.928
Total
14.790.708 8.705.877 17.265.351 11.418.562 25.752.758 18.315.597
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da RAIS/MTE.
4 Os dados embora apresentados como Não Classificados não foram computados no ano de 1994.
22
Analisando o ano de 2002, além desses subsetores de predominância
feminina, o subsetor de Alojamento Comunicação ultrapassa o número de vínculos
trabalhistas dos homens. Chegando em 2010 a mais de dois milhões de empregos
formais para as mulheres, um aumento de mais de um milhão e trezentos mil
comparado com o ano de 1994.
No ano de 2010, as mulheres predominam também nos subsetores de
Indústria de Calçados e Instituições Financeiras.
Assim, foi analisado que de 24 subsetores, a mulher, predominava em 4
subsetores em 1994, passando para 5 em 2002 e 7 em 2010. Os subsetores que
mais receberam mão de obra feminina foi da Administração Pública e Comércio
varejista.
[…] em 2001, os setores que mais contaram com o trabalho feminino foram os que englobam as atividades que têm as mesmas características das funções exercidas no lar, como prestação de serviços e atividade social que, juntas, alocaram 48,7% das ocupadas. Também é significativa a participação da mulher no comércio de mercadorias: 14,7%. Em 2001, ainda se mantém elevada a proporção de mulheres que atua na agricultura e pecuária (16,2%). Os homens têm maior presença em setores com atividades mais estáveis e melhores salários, como a indústria de transformação. São ainda absolutamente majoritários na indústria da construção e encontram-se em maior proporção nas atividades rurais (SANCHES; GEBRIM, 2003, p. 100).
A oferta de emprego formal nos subsetores alavancou o crescimento
econômico nesses anos, o que contribuiu para a formação profissional das
mulheres, e, consequentemente, a maior adesão no mercado de trabalho.
[...] um contingente expressivo é composto por mulheres, o que caracteriza outro traço marcante das transformações em curso no interior da classe trabalhadora. Esta não é "exclusivamente" masculina, mas convive, sim, com um enorme contingente de mulheres, não só em setores como o têxtil, onde tradicionalmente sempre foi expressiva a presença feminina, mas em novos ramos, como a indústria microeletrônica, sem falar do setor de serviços. Essa mudança na estrutura produtiva e no mercado de trabalho possibilitou também a incorporação e o aumento da exploração da força de trabalho das mulheres em ocupações de tempo parcial, em trabalhos "domésticos" [...] (ANTUNES, 2008, p. 52).
Existe uma grande disparidade em vários subsetores, no qual o sexo
masculino possui um maior número de vínculos formais do que o sexo feminino. Por
23
exemplo: Extrativa Mineral – o que possui o menor número de vínculos trabalhistas
feminino –, Produção Mineral não metálico, Indústria Metalúrgica, Indústria
Mecânica, Material de transporte, Madeira e Mobiliário, Construção Civil, Transporte
e Comunicação e Agricultura.
Tabela 2 5 – Remuneração de vínculos formais (1994, 2002, 2010).
Faixa Remun.
Média (SM)
1994 2002 2010
Masculino Feminino Masculino Feminino Masculino Feminino
Até 3,00 9.433.652 6.201.834 13.213.118 9.153.248 21.715.078 15.998.354
3,01 a 5,00 3.114.005 1.504.097 3.221.793 1.708.556 3.554.718 2.082.191
5,01 a 10,00 2.745.620 1.303.675 2.449.753 1.480.009 2.283.746 1.429.569
10,01 a 15,00 999.290 440.497 693.126 400.037 656.542 369.911
15,01 a 20,00 465.817 199.289 322.119 159.760 294.827 140.432
Mais de 20,00 759.430 239.264 546.970 203.720 416.114 157.969
Total 14.790.708 8.705.877 17.265.351 11.418.562 25.752.758 18.315.597
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da RAIS/MTE.
Após a análise do crescimento e adesão no trabalho formal, tanto por homens
quanto por mulheres, pode-se constatar, na tabela 2, que no ano de 1994, a única
faixa de indicação de renda que comporta uma menor discrepância é a de até três
(3) salários mínimos.
A tabela 3 esboça, no ano de 1994 que 54% das mulheres e 42% dos
homens recebem até três (3) salários mínimos. Esses valores aumentam em 2002,
para aproximadamente 65% (mulheres) e 57% (homens), e mostrando, assim, a
única faixa de renda que a mulher está a frente, percentualmente, do que o sexo
masculino. Esse aumento continua em 2010, que passa para 76% (mulheres) e 70%
(homens).
5 Os dados embora apresentados como Não Classificados não foram computados no período de 1994, 2002 e 2010.
24
Tabela 3 – Remuneração em porcentagem de trabalhadores formais (1994, 2002, 2010). Faixa Remun.
Média (SM)
1994 2002 2010
Masculino% Feminino% Masculino% Feminino% Masculino% Feminino %
Até 3,00 42,72 53,93 57,85 65,18 70,48 75,95
3,01 a 5,00 21,05 17,27 18,65 14,95 13,79 11,36
5,01 a 10,00 18,55 14,97 14,18 12,95 8,85 7,79
10,01 a 15,00 6,75 5,05 4,01 3,5 2,54 2,01
15,01 a 20,00 3,14 2,28 1,86 1,39 1,14 0,76
Mais de 20,00 5,13 2,74 3,16 1,78 1,61 0,86
Total 100 100 100 100 100 100
Fonte: Elaboração própria a partir dos dados da RAIS/MTE.
A tabela ainda ilustra, que nas faixas de renda de mais de três a cinco; de
mais de cinco a dez e de dez a quinze salários mínimos ocorreu uma aproximação
do sexo feminina em relação ao masculino. Mas, nas faixas de renda de mais de
quinze a vinte e de mais de vinte salários mínimos, a predominância continua sendo
masculina em todos nos anos três pesquisados.
A remuneração do trabalho exercido pelas mulheres era muito inferior ao dos homens o que fez com que surgissem no século XIX lutas femininas por melhores condições de trabalho, alguns movimentos reivindicando direitos trabalhistas, igualdade de jornadas de trabalho e direito ao voto. No século XX, as mulheres começaram a entrar nas profissões que exigem formação intelectualizada. Elas, porém, ainda estão em desvantagem em diversos aspectos e não são representadas na proporção adequada de chefia e, embora seja crescente, ainda não é maioria em cargos políticos e militares (ESPINDOLA; CASTRO, 2012, p.4).
As diferenças salariais entre homens e mulheres continuam com
desigualdade. Mas, com o decorrer do tempo esta diferença está sendo diminuída
paulatinamente.
25
4.1 Novas possibilidades de trabalho
Ao ingressar no mundo do trabalho, a mulher enfrenta uma série de barreiras
até que seu trabalho seja minimamente reconhecido, visto que ela não é bem
remunerada. Vários fatores contribuem para que a imagem da mulher seja moldada
no espaço do trabalho, por muitos momentos um espaço masculinizado.
Nunca é demais repetir que a manutenção de um modelo de família patriarcal, segundo o qual cabem às mulheres as responsabilidades domésticas e socializadoras, bem como a persistência de uma identidade construída em torno do mundo doméstico condicionam a participação feminina no mercado de trabalho a outros fatores além daqueles que se referem à sua qualificação e à oferta de emprego, como no caso dos homens. A constante necessidade de articular papéis familiares e profissionais limita a disponibilidade das mulheres para o trabalho, que depende de uma complexa combinação de características pessoais e familiares, como o estado conjugal e a presença de filhos, associados à idade e à escolaridade da trabalhadora, assim como a características do grupo familiar, como o ciclo de vida e a estrutura familiar. Fatores como esses afetam a participação feminina, mas não a masculina, no mercado de trabalho. O importante a registrar é que o trabalho das mulheres não depende apenas da demanda do mercado e das suas necessidades e qualificações para atendê-las, mas decorre também de uma articulação complexa, e em permanente transformação, dos fatores mencionados” (BRUSCHINI, 2000, p. 16-17).
O conjunto de fatores dita a realidade social trabalhista na qual a mulher está
inserida, tanto no espaço doméstico quanto no ambiente de trabalho. Bruschini
(2000) aponta, ainda, que a comunicação dos fatores elencados acima somados ao
conceito preestabelecido da figura da mulher como agente ativa no mercado de
trabalho contribui para uma redução na remuneração das mesmas.
A classe que vive do trabalho é tanto masculina quanto feminina. É, portanto, também por isso, mais diversa, heterogênea e complexificada. Desse modo, uma crítica do capital, enquanto relação social, deve necessariamente apreender a dimensão de exploração presente nas relações capital/trabalho e também aquelas opressivas presentes na relação homem/mulher, de modo que a luta pela constituição do gênero para si mesmo possibilite também a emancipação do gênero mulher (ANTUNES, 2008, p. 54)
A oferta de trabalho voltado ao público feminino cresce, essa afirmação é
apontada por vários autores (ANTUNES, 2008; BRUSCHINI, 1995; ABRAMO, 2007;
26
BOTELHO, 2008), no entanto, não minimiza o recuo no valor do salário oferecido as
mulheres. O comportamento capitalista distingue o valor recebido pelo trabalho
desempenhado por homens e mulheres.
27
5 CONCLUSÃO O presente trabalho trouxe contribuições históricas. Um estudo bibliográfico
que procurou mostrar a inserção da mulher no mercado brasileiro. Foi exposto o
comportamento do número de empregos formais da mulher no Brasil de 1994, 2002
e 2010. Suas implicações e eventualidades também foram abordadas no presente
trabalho. Vale salientar que nesse processo as mulheres estão ampliando sua
participação nos setores que antes eram minoria, no que se refere ao número de
vínculos e até mesmo as condições salariais.
Em relação ao setor que mais recebeu mulheres empregadas com carteira
assinada e que mais se destacou e desenvolveu, foi o setor de serviços. Os
subsetores que mais se destacaram no número de vínculos formais, segundo o
RAIS, foram: Os de Administração Pública, Instituição Financeira, Ensino, Serviço
Médico, Odontológico e veterinário, Alojamento e Comunicação, Comércio Varejista,
Indústria Têxtil e Indústria de Calçados e Administração Técnica Profissional.
Outro fator importantíssimo ressaltado no decorrer do trabalho foram as
relações mantidas para a organização dos trabalhos, para homens e para mulheres,
que viabilizaram melhorias para as categorias, como melhoria nos rendimentos
trabalhistas. Esse assunto é tratado por autores (SANCHES, 2003; HOFFMANN,
2004) como sendo um indicativo de desenvolvimento no trabalho das mulheres,
igualdade.
O progresso trabalhista da mulher nem sempre foi tranqüilo, existiram vários
percalços, no entanto, as diferenças foram sendo ajustadas de acordo com o
contexto temporal e a busca por igualdade. A resistência feminina garantiu muitos
direitos trabalhistas para as mulheres.
As garantias que levaram as mulheres a uma condição de trabalho mais
favorável contribuíram para que as residências passassem a ter na figura da mulher
a pessoa de chefe da casa. Novamente deixa-se claro que as condições de trabalho
não bloquearam a luta por direitos igualitários entre homens e mulheres, mas
fortaleceu a causa.
28
Por fim, destaca-se a importância da presença feminina nos mais variados
subsetores trabalhistas como formas de garantia de igualdade social e diminuir a
vulnerabilidade da mulher.
29
REFERENCIAS
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de trabalho secundária? Tese de Doutorado (sociologia), 327p. Departamento de
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gênero – mudanças, permanências e desafios. Campinas: São Paulo: Editora 34,
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30
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