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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE ARTES CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS CÁSSIA MICHELLYNE SILVA DE FRANÇA BONECAS DE PANO TRADICIONAIS NO RIO GRANDE DO NORTE: CONTEXTOS E OBRAS ORIENTADOR: PROF. DR. EVERARDO DE ARAÚJO RAMOS NATAL/RN 2014

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Page 1: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE ARTES

CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS

CÁSSIA MICHELLYNE SILVA DE FRANÇA

BONECAS DE PANO TRADICIONAIS NO RIO GRANDE DO NORTE:

CONTEXTOS E OBRAS

ORIENTADOR: PROF. DR. EVERARDO DE ARAÚJO RAMOS

NATAL/RN

2014

Page 2: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

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CÁSSIA MICHELLYNE SILVA DE FRANÇA

BONECAS DE PANO TRADICIONAIS NO RIO GRANDE DO NORTE:

CONTEXTOS E OBRAS

Trabalho de Conclusão de Curso

apresentado à Universidade Federal

do Rio Grande do Norte como

requisito para a obtenção do título de

Licenciatura em Artes Visuais.

NATAL/RN

2014

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F814b França, Cássia Michellyne Silva de.

Bonecas de pano tradicionais no Rio Grande do Norte: contexto e

obras / Cássia Michellyne Silva de França. – Natal, 2014. 62f.

Monografia (Graduação em Licenciatura em Artes Visuais) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências

Humanas, Letras e Artes. Departamento de Artes

1. Arte Popular – Rio Grande do Norte – Monografia. 2. Artes

Visuais - Monografia. 3. Boneca de Pano – Contexto Artístico. 5.

Manifestação Popular. 6. Arte – Rio Grande do Norte. I. Título.

RN CDU: 7.067.26 (813.2)

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CÁSSIA MICHELLYNE SILVA DE FRANÇA

BONECAS DE PANO TRADICIONAIS NO RIO GRANDE DO NORTE:

CONTEXTOS E OBRAS

BANCA EXAMINADORA

_______________________________________

Prof. Dr. Everardo de Araújo Ramos

(Orientador)

________________________________________

Prof. Arthur Luiz de Souza Maciel

_________________________________________

Prof. Dr. Olavo Fontes Magalhães Bessa

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Aos meus queridos e amados pais.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pela oportunidade de realizar este trabalho e por ter me

dado forças para concluir esta jornada. Aos meus amados pais, Neuma Medeiros,

Edmilson França (in memoriam) e Moacir Medeiros, que de certa forma serviram de

inspiração nas minhas escolhas e contribuíram para a realização deste meu sonho.

Às minhas irmãs pela compreensão de como sou e do meu jeito de ama-las.

À Heryson Cirilo pela ajuda, dedicação e carinho que foram essenciais para o

alcance dos meus objetivos.

Aos familiares, avô, avós, tios, tias e primos (as) pelo apoio que me

dedicaram. Aos meus amigos pelo incentivo que me encorajou quando pensei em

fraquejar.

Ao professor Everardo Ramos que acreditou na minha capacidade e que é

um exemplo para minha carreira.

A todos que fizeram parte desta minha caminhada a minha eterna gratidão.

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RESUMO

O presente trabalho visa a análise e investigação das bonecas de pano tradicionais,

em especial as bonecas de pano produzidas no Rio Grande do Norte, dos anos

1920 à época atual. A partir de tal investigação, buscamos identificar e analisar o

contexto de produção e circulação da boneca de pano, seus respectivos criadores e

públicos, além das funções, técnicas, tipos e formas conferidas às obras. Através da

análise de entrevistas e referencial bibliográfico, visa-se contribuir na produção de

conhecimento sobre essa manifestação, chamando a atenção para sua importância

no contexto da arte popular e criando subsídios para sua utilização no âmbito do

ensino de Artes Visuais. Diversos registros fotográficos das bonecas de pano

pesquisadas completa o trabalho, se constituindo em um rico material iconográfico

sobre o tema.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 01: Marafona de Monsanto. Disponível em:

http://portugalonline.livreforum.com/t1393-a-marafona-monsanto-beira-baixa . Acesso em

nov. 2014. Fonte: site Portugal on line........................................................................17

Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João

Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela

autora.........................................................................................................................25

Figura 03: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João

Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela

autora.......................................................................................................... ...............25

Figura 04: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João

Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela

autora. ........................................................................................................... ............26

Figura 05: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João

Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela

autora. .............................................................................................................. .........26

Figura 06: Autor desconhecido. Boneca de pano. Serra Caiada/RN, 2012. Acervo do

Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................26

Figura 07: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, sem data definida.

Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................26

Figura 08: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, sem data definida.

Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................27

Figura 09: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, sem data definida.

Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................27

Figura 10: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, sem data definida.

Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................27

Figura 11: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, sem data definida.

Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................27

Figura 12: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, sem data definida.

Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................28

Figura 13: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, sem data definida.

Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora. ........................28

Page 9: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

9

Figura 14: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, sem data definida.

Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................28

Figura 15: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, sem data definida.

Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................28

Figura 16: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, sem data definida.

Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................29

Figura 17: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, sem data definida.

Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................29

Figura 18: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, sem data definida.

Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................29

Figura 19: Ozelita Maria e Maria Inês. Boneca de pano. Major Sales/RN, 2012.

Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................29

Figura 20: Ozelita Maria e Maria Inês. Boneca de pano. Major Sales/RN, 2012.

Acervo do Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora.........30

Figura 21: Autor desconhecido. Boneca de pano. Florânia/RN, 2013. Shopping do

artesanato potiguar, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora...................................30

Figura 22: Autor desconhecido. Boneca de pano. Florânia/RN, 2013. Shopping do

artesanato potiguar, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora...................................30

Figura 23: Autor desconhecido. Bonecas de pano. Florânia/RN, 2013. Shopping do

artesanato potiguar, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora...................................30

Figura 24: Autor desconhecido. Boneca de pano. Natal/RN, 2008. Museu de Arte

Popular Djalma Maranhão, Natal /RN. Fonte: Elaborada pela autora.......................31

Figura 25: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Memorial

Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora......................................31

Figura 26: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte

Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora........................31

Figura 27: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte

Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora........................31

Page 10: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

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Figura 28: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte

Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora........................32

Figura 29: Autor desconhecido. Boneco de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte

Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora........................32

Figura 30: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte

Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora........................32

Figura 31: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte

Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora........................32

Figura 32: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte

Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora.......................33

Figura 33: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte

Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora........................33

Figura 34: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte

Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora........................33

Figura 35: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte

Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora........................33

Figura 36: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte

Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora........................34

Figura 37: Autor desconhecido. Boneco de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte

Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora........................34

Figura 38: Autor desconhecido. Boneco de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte

Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora........................34

Figura 39: Autor desconhecido. Boneco de pano. Local incerto, 2008. Museu do

Brinquedo Popular - IFRN, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora.........................34

Figura 40: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu do

Brinquedo Popular - IFRN, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora.........................35

Page 11: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

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Figura 41: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu do

Brinquedo Popular - IFRN, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora.........................35

Figura 42: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu do

Brinquedo Popular - IFRN, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora.........................35

Figura 43: Autor desconhecido. Boneco de pano. Local incerto, 2008. Museu do

Brinquedo Popular - IFRN, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora.........................35

Figura 44: Francisquinha. Boneco de pano. São Gonçalo do Amarante/RN, 2014.

Quiosque do centro de convivência - UFRN, Natal RN. Fonte: Elaborada pela

autora.........................................................................................................................36

Figura 45: Francisquinha. Boneco de pano. São Gonçalo do Amarante/RN, 2014.

Quiosque do centro de convivência - UFRN, Natal RN. Fonte: Elaborada pela

autora.........................................................................................................................36

Figura 46: Francisquinha. Boneco de pano. São Gonçalo do Amarante/RN, 2014.

Quiosque do centro de convivência - UFRN, Natal RN. Fonte: Elaborada pela

autora....................................................................................................................... ..36

Figura 47: Francisquinha. Boneca de pano. São Gonçalo do Amarante/RN, 2014.

Quiosque do centro de convivência - UFRN, Natal RN. Fonte: Elaborada pela

autora....................................................................................................................... ..36

Figura 48: Francisquinha. Boneca de pano. São Gonçalo do Amarante/RN, 2014.

Quiosque do centro de convivência - UFRN, Natal RN. Fonte: Elaborada pela

autora....................................................................................................................... ..37

Figura 49: Francisquinha. Boneca de pano. São Gonçalo do Amarante/RN, 2014.

Quiosque do centro de convivência - UFRN, Natal RN. Fonte: Elaborada pela

autora....................................................................................................................... ..37

Figura 50: D. Severina. Boneca de pano. Natal/RN, 2013. Acervo particular,

Parnamirim/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................................................37

Figura 51: Conceição. Boneca de pano. São Gonçalo do Amarante/RN, 2014.

Acervo particular, Parnamirim/RN. Fonte: Elaborada pela autora.............................37

Page 12: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

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Figura 52: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto. Casa dos milagres,

Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora....................................................................38

Figura 53: Autor desconhecido. Boneco de pano. Local incerto. Casa dos milagres,

Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora....................................................................38

Figura 54: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto. Casa dos milagres,

Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora....................................................................38

Figura 55: Benedita. Boneco de pano. Macaíba/RN, 2008. Museu de Arte Popular

Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora......................................38

Figura 56: Rita de Cássia. Boneca de pano. Parnamirim/RN, 2014. Acervo particular,

Parnamirim/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................................................39

Figura 57: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto. 2008. Museu do

Brinquedo Popular - IFRN, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora.........................39

Figura 58: Maria Augusta. Boneca de pano. Assú/RN, 2014. Museu Câmara

Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora....................................................39

Figura 59: Detalhe da figura 52. Fonte: Elaborada pela autora.................................46

Figura 60: Detalhe de figura 02. Fonte: Elaborada pela autora.................................53

Figura 61: Detalhe de figura 04. Fonte: Elaborada pela autora. ...............................53

Figura 62: Detalhe de figura 14. Fonte: Elaborada pela autora. ...............................53

Figura 63: Detalhe de figura 52. Fonte: Elaborada pela autora. ...............................53

Figura 64: Detalhe de figura 54. Fonte: Elaborada pela autora. ...............................53

Figura 65: Detalhe de figura 55. Fonte: Elaborada pela autora. ...............................53

Figura 66: Detalhe de figura 58. Fonte: Elaborada pela autora. ...............................53

Page 13: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

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LISTA DE TABELAS

TABELA 1: Dados gerais das bonecas de pano ...................................................... 40

TABELA 2: Características das bonecas de pano ................................................... 44

TABELA 3: Materiais das bonecas de pano ............................................................. 48

Page 14: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO...........................................................................................................14

1. ORIGENS DA BONECA DE PANO........................................................................17

2. BONECAS DE PANO NO RIO GRANDE DO NORTE...........................................20

3. OBRAS...................................................................................................................25

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................55

REFERÊNCIAS..........................................................................................................56

ANEXOS....................................................................................................... .............58

Page 15: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

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INTRODUÇÃO

Apesar de existirem muitos elementos na arte popular brasileira, é notável o

destaque de alguns em relação a outros, no cenário acadêmico. No caso da boneca

de pano, por exemplo, é grande a dificuldade de encontrar produção cientifica sobre

o tema, principalmente no campo de estudo das artes.

De fato, os únicos trabalhos que pudemos identificar para o Rio Grande do

Norte – e que se referem às bonecas dentro de um contexto maior, sem se constituir

em estudos específicos sobre o assunto – são os de Araújo (1985), Cascudo (1979)

e Oliveira et al. (2010). A nível nacional e internacional devem ser destacados os

trabalhos de Sousa (2009), que do ponto de vista da psicologia, trata da boneca de

pano como elemento da cultura lúdica brasileira com importante relevância

psicossocial; Amado (2007), que à sombra da pedagogia e da psicologia, aborda o

universo dos brinquedos populares; e Goes e Seligman (2013), que relata e

descreve a trajetória do trabalho artesanal de algumas bonequeiras do Nordeste

brasileiro. Alguns destes autores atribuem apenas uma página de suas obras para

tratar das bonecas de pano e, mesmo assim, as investigam do ponto de vista do

folclore, da antropologia, da psicologia e da pedagogia, geralmente sem fazer uma

análise mais aprofundada e sistemática das bonecas.

Uma atenção maior deve ser dada ao livro Que boneca é essa? de Macao

Goes e Graça Seligman, por se tratar do único estudo que trata especificamente das

bonecas de pano, mais especificamente as bonequeiras e seus modos de vida. Este

livro é fruto de uma pesquisa feita por vários estados do Nordeste brasileiro e

registram, de forma resumida, a trajetória de algumas mulheres que fabricam tais

peças. As autoras fazem um apanhado geral da produção das bonecas de pano,

desde as tradicionais até as modernas, fornecendo diversas informações e

realizando importantes reflexões a respeito do tema.

O estudo da boneca de pano se justifica por ser rica em significados culturais

(lúdicos, religiosos, históricos e míticos), permitindo conexões com a história da

humanidade, e por ser um verdadeiro documento que reflete a cultura brasileira

(SOUSA, 2009).

Page 16: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

16

O presente trabalho pretende preencher lacunas referentes ao conhecimento

das bonecas de pano tradicionais no Rio Grande do Norte. Para isso, tentará

responder a perguntas como: quando e de que maneira surgiram as bonecas de

pano tradicionais? Como chegaram ao Rio Grande do Norte? Quem são seus

autores, que relações têm com as bonecas, como trabalham? Como as obras se

apresentam de um ponto de vista funcional, iconográfico e estilístico? Quais são as

diferenças entre as bonecas feitas no passado e nos dias de hoje? O objetivo é

chamar a atenção para a importância dessa categoria no contexto da arte popular e

criar subsídios para sua utilização no âmbito do ensino de Artes Visuais, além de

fornecer um registro iconográfico das bonecas pesquisadas.

Para responder às questões levantadas, devido à raridade das reflexões

sobre a boneca de pano, foi dada uma especial atenção às entrevistas

(semiestruturadas) realizadas com pessoas que produzem e consomem ou já

produziram e/ou consumiram bonecas de pano, na tentativa de conhecer o mais

diretamente possível as condições históricas e os modos de produção e utilização

de tais obras.

Esta pesquisa se baseia, portanto, na construção de um corpus de analise

constituído por bonecas de pano identificadas em diferentes locais da capital do Rio

Grande do Norte, bem como pelas entrevistas acima referidas. O conjunto desse

material compreende um período histórico que vai dos anos 1920 aos dias de hoje.

Na primeira fase da pesquisa (TCC I), foi iniciada a revisão bibliográfica e a

constituição do corpus de analise, através de fotografias tiradas pela autora, assim

como o tratamento das imagens e as primeiras entrevistas. De tal modo, foram

fotografadas e analisadas as obras pertencentes ao acervo do Memorial Câmara

Cascudo (órgão da Fundação José Augusto, do governo estadual do RN), do Museu

de Arte Popular Djalma Maranhão (órgão da Prefeitura do Natal), do Museu Câmara

Cascudo (órgão da Universidade Federal do Rio Grande do Norte), do Museu do

Brinquedo Popular (órgão do Instituto Federal do Rio grande do Norte, localizado no

Campus Cidade Alta), do Museu Casa dos Milagres (órgão do Governo do Estado

do Rio Grande do Norte), bem como bonecas vendidas no Shopping do Artesanato

Potiguar e no quiosque de Raul do Mamulengo (UFRN – Campus Central), ambos

Page 17: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

17

em Natal. Também foram pesquisadas bonecas avulsas, fabricadas por criadoras

populares, algumas delas pertencentes à família da autora deste trabalho.

Na segunda fase (TCC II), foi finalizada a revisão bibliográfica, a constituição

do corpus de análise, as entrevistas, a análise das imagens e entrevistas e a criação

das tabelas para, somente aí, chegarmos a um panorama da evolução e das

características visuais das bonecas de pano ao longo do tempo. Os elementos

descritos nas tabelas foram escolhidos pelo fato de chamarem mais atenção quanto

aos aspectos visuais e descritivos das bonecas de pano, sendo assim julgados

relevantes para a análise. Os critérios, tanto para a análise das obras, quanto para

as perguntas das entrevistas, tinham por objetivo achar respostas para os

questionamentos desta investigação.

Page 18: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

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1. ORIGENS DA BONECA DE PANO

Pesquisar sobre a boneca de pano nos conduz a uma investigação desde os

seus primórdios. As bonecas existem desde a Antiguidade. Oliveira (2010) relata

que as primeiras bonecas eram feitas de pedra, osso, madeira e argila, cobertas de

trapos e folhas, sem membros e cabeça. Segundo Sousa (2009), registros desses

objetos em textos gregos e romanos, além de informações de escavações

arqueológicas, mostram que na Antiguidade elas eram usadas em rituais de

fertilidade e casamento, culto a divindades, elogios a guerreiros, podendo ser

enterradas em túmulos, representando guerreiros e divindades. Ainda segundo o

autor, as bonecas gregas eram feitas de terracota, já as romanas eram fabricadas

em osso, madeira e marfim. Seguindo essa linha de pensamento, Amado (2007)

acrescenta que as bonecas são perigosos instrumentos de feitiço usado por bruxos

e curandeiros.

Desde sua origem, as bonecas foram sendo modificadas de acordo com o

surgimento de novas técnicas de produção e devido à crescente manipulação pelas

crianças, tornando-se também um brinquedo. Dessa forma, a madeira, o osso e a

terracota foram dando lugar a tecidos, e as bonecas foram ganhando forma mais

parecida com a humana (SOUSA, 2009). Segundo Goes e Seligman (2013), a

transição das bonecas como ídolos para brinquedo ocorre no Egito, porém, as

autoras não dizem nada a respeito do período egípcio a que se referem.

Sobre as bonecas de pano portuguesas, João Amado (2007), que faz um

breve panorama da história das bonecas artesanais, conta que em Portugal elas

foram importantes em um período da história do país na qual receberam a

denominação de marafonas.

Figura 01

Page 19: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

19

A marafona tem como característica a ausência de face, ou seja, não tem

olhos, boca nem nariz. Segundo conta o autor, elas foram usadas para enganar os

invasores do castelo de Monsanto a ponto de eles desistirem da ação:

Quanto às marafonas, reza a lenda que quando os mouros cercaram o castelo de Monsanto, a população refugiada no seu interior, utilizou estas bonecas (sem tosto e escondendo por baixo das saias uma estrutura de pau em cruz de Cristo) para, fingidamente, dar a entender aos sitiantes que, apesar do cerco, se mantinham em boa forma de corpo e de espírito; para tanto, no interior das muralhas, empunhavam e agitavam as bonecas ao alto, dando a impressão de que cantavam e dançavam e se mantinham pouco perturbados com o bloqueio; desse modo os sarracenos resolveram levantar, convencidos que nada faria desistir os sitiados e levar à sua rendição (AMADO, 2007, p. 65).

Desde então, todos os anos, no primeiro domingo de maio, esta história é

relembrada e as marafonas são abençoadas, adquirindo, assim, virtudes contra

maus-olhados.

Quanto à origem das bonecas de pano no Brasil, existem duas hipóteses.

Iaperí Araújo (1985) coloca que elas foram trazidas pelos europeus e aqui faziam

parte das prendas domésticas das noivas, além de serem brinquedos de criança. Já

Sousa (2012) afirma que as bonecas de pano chegaram ao Brasil pelas mãos dos

escravos e aqui foram assumindo novas aparências, tornando-se elemento lúdico

das crianças carentes. Nenhum autor propõe a relação das bonecas de pano

tradicionais com as bonecas produzidas pelos índios, sendo que outros autores já

relataram a existência da boneca na cultura indígena.

Nas tribos indígenas brasileiras, elas representavam ídolos de adoração,

simulando divindades ou simplesmente representando cenas do cotidiano, como

atividades femininas (processamento de mandioca) e masculinas (caça e pesca). As

bonecas eram usadas pelos indígenas como brinquedo também, e como a maioria

dos brinquedos indígenas, estavam relacionados às tarefas que as crianças iriam

exercer depois de adultas, tendo assim função prática e educativa dirigidas a cada

gênero. Essas bonecas, segundo as características de cada tribo, eram feitas de

barro, madeira e pano, servindo, este ultimo, de brinquedo para meninas (RIBEIRO,

1988).

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Acerca das bonecas de pano, o folclorista Câmara Cascudo as define como

brinquedo de criança com baixo poder aquisitivo e que faz parte da indústria

doméstica, além de ser um documento expressivo da cultura popular:

Boneca de pano, “bruxas”, brinquedo de criança pobre, indústria doméstica precária e tradicional no Brasil, são documentos expressivos da arte popular, indicando preferencias por determinadas cores, feitios de trajes, tipos antropológicos, índices da seleção indumentária da região do fabrico (CASCUDO, 1979, p.137).

Seja como for, o fato é que, uma vez em solo brasileiro, mais especificamente

no Nordeste, as bonecas de pano passaram de prenda ou simples brinquedo de

crianças desprovidas de condições financeiras a artesanato mantenedor de muitas

famílias carentes.

Segundo as mulheres entrevistadas pela presente pesquisa, elas desejavam

as “bonecas de plástico” (industrializadas), porém, não tinham dinheiro para comprar

tais peças. Por isso, passavam a fabricar as bonecas de pano, copiando o mais

fielmente possível as bonecas industrializadas. Iaperí Araújo (1985, p. 68) cita Maria

Noêmia, nascida em 1922, no município de Bom Jesus, Rio Grande do norte, que

começou a fazer bonecas de pano ainda menina para brincar, passando a realizar

esta função para seu sustento.

Goes e Seligman (2013) apresentam outras cinco potiguares que brincaram

com bruxas de pano fabricadas por elas mesmas na infância e que depois da

mocidade voltaram a fabricá-las para aumentar a renda familiar. Amado (2007)

acrescenta que a boneca de pano tem um importante papel, que é contar a história

de um povo, uma vez que representa o imaginário de uma cultura, além da análise

dos seus materiais servirem como indicadores da cultura de um lugar ou de uma

comunidade, informando particularidades de uma região.

Portanto, a boneca de pano, como elemento da cultura popular, corresponde

a um importante documento de indicação socioeconômica, servindo como objeto de

estudo para antropólogos e psicólogos, mas também para historiadores,

historiadores da arte, sociólogos e educadores.

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2. BONECAS DE PANO NO RIO GRANDE DO NORTE

Brincar de boneca faz parte da história cultural do Rio Grande do Norte,

afirma Oliveira (2010), acrescentando que nesse estado elas eram feitas de sobras

de tecidos das costureiras (retalhos), ossos, pedras, frutas, sabugos de milho, cipós

e buchas imitando menina ou mulher. Araújo (1985) relata que a produção de

bonecas de pano se difundiu por todo o interior potiguar, diferente da renda e do

bico (tipos de artesanato), que ficaram mais forte no litoral.

No Rio Grande do Norte, como em outros estados nordestinos, elas também

integram o teatro de Mamulengo, participando da brincadeira como

bonecas/dançarinas (GURGEL, 1999). Também podem ser utilizadas como ex-votos

deixados por fiéis católicos em santuários populares, representando um corpo inteiro

ou partes de um corpo (cabeça, tronco, pernas, braços, etc.), em agradecimento a

graças alcançadas.

Devido à escassez de referencias bibliográfica, a autora da presente pesquisa

recorreu a entrevistas que permitiram definir características para a produção,

circulação e consumo das bonecas de pano no Rio Grande do Norte, da década de

1920 a de 2010, de acordo com a idade da entrevistada mais velha, nascida em

1924, e das bonecas registradas até o ano de 2014. Ao todo foram feitas sete

entrevistas com as respectivas senhoras:

Severina Honorato Patrício, nascida em 1924, aposentada, nasceu em

Lages/RN e atualmente mora em Natal/RN.

Alice Severina Nascimento de Lima, nascida em 1936, aposentada, natural de

Ceará Mirim/RN e atualmente residente em Parnamirim/RN.

Maria Augusta do Nascimento, nascida em 1944, artesã, natural e moradora

de Assú/RN.

Maria Aparecida da Silva, nascida em 1947, aposentada, nasceu em

Lages/RN e atualmente reside em Parnamirim/RN.

Francisca Neide Dantas, nascida em 1952, pedagoga aposentada, nasceu

em Santa Cruz/RN e hoje mora em Natal/RN.

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Maria Auxiliadora Silva Dantas, nascida em 1957, dona de casa, natural de

Assú/RN e hoje residente em Natal/RN.

A entrevista da senhora Maria Augusta foi feita pelo Projeto Vernáculo, do

Departamento de Artes da UFRN, que autorizou sua utilização no presente trabalho.

De acordo com as informações colhidas nas entrevistas e na bibliografia

consultada, as pessoas que tiveram algum tipo de contato com bonecas de pano

são do sexo feminino. Isso não exclui, naturalmente, a possibilidade de meninos

terem brincado com bonecas de pano, mas, no âmbito desta pesquisa, não foram

identificados tais casos. O nível de escolaridade das entrevistadas vai do ensino

fundamental ao ensino superior. As mesmas usaram as bonecas de pano como

brinquedo durante a infância em cidades do interior potiguar, a exemplo de D. Alice

e D. Auxiliadora, ex-moradoras de Ceará Mirim/RN e Assú/RN, respectivamente.

Vale ressaltar que atualmente as bonecas são feitas individual ou coletivamente.

Segundo informações colhidas pela autora do trabalho, no Shopping do Artesanato

Potiguar, a produção coletiva de bonecas de pano é o caso do grupo de bonequeiras

que existe em Florânia/RN, grupo este que é apoiado pela prefeitura do município

com o intuito de incentivar a produção de renda da localidade.

Comumente, quando não tinham um familiar que fizesse as bonecas, a

exemplo de D. Aparecida, que usava as bonecas feitas por sua madrinha, e de D.

Neide e D. Maria Augusta, que brincavam com as bonecas feitas por suas

respectivas mães, as meninas faziam suas bonecas com as próprias mãos ou

compravam-nas em alguma feira do município. Este é o caso da senhora Severina,

que brincava com as bonecas de pano que sua mãe comprava na feira. Ela conta

que ainda criança começou a fazer bonecas de pano se baseando nas que a mãe

comprava e vendo outras pessoas fazer. Ela fazia boneca de pano para si própria e

para as demais crianças com quem brincava.

Quanto à brincadeira, ela diz o seguinte:

Eu brincava com Dorinha, minha irmã, e às vezes era que vinha uma vizinha brincar mais a gente (...). A gente ia atrás de retalho, cortava os pedacinhos de pano, enrolava no sabugo e dava um lacinho, que era para brincar no mato. E com as bonecas de pano a gente brincava em casa, que era para não deixar do lado de fora, que aí a

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gente esquecia lá. A gente fazia a casinha de pedra com quartinho e cozinha, tudo arrumadinho. (Severina Honorato Patrício, 10/01/2014).

De modo geral, as entrevistadas brincavam com as bonecas não como se

elas fossem suas filhas, mas se projetavam nas bonecas ou imaginavam

personagens. Chegavam a dar nomes de parentes e amigos às bonecas de pano ou

criavam nomes variados, como fez D. Auxiliadora, que chamava umas das bonecas

que teve de “Lolita”. Elas faziam aniversários, batizados e até casamentos das

bonecas de pano, como relatou D. Auxiliadora, que tinha bonecos do sexo

masculino para brincar: “(...) juntava as amigas para fazer festa, aniversário das

bonecas e casamentos com os noivos”. O mesmo não acontecia com D. Severina,

pois o brincar com personagens masculinos não era bem visto pelo pai da mesma:

“a gente não tinha nenhum boneco, por que se tivesse o pai dizia que era

„enxerimento‟”. Tal fato aponta para o machismo presente na sociedade da época da

infância de D. Severina, e que pode ser identificado até hoje.

A expressão “boneca de pano” – cuja referência mais antiga, na bibliografia

que consultamos, é a de Câmara Cascudo (publicado pela primeira vez em 1954) –

se refere justamente ao material nela usado, o “pano” (GOES, 2013). Nas

entrevistas, quando perguntamos sobre a origem do nome “bruxas de pano”, quatro

das entrevistadas (D. Severina Honorato, D. Maria Aparecida, D. Francisca Neide e

D. Maria Auxiliadora), disseram achar que tinha a ver com a aparência de algumas

bonecas que eram mal feitas e mal conservadas. Disseram também que tinha a ver

com o fato de algumas serem usadas em rituais de bruxaria, mas acrescentaram

que nunca presenciaram tal utilização. Não pudemos, portanto, saber quando

começou a ser usado este termo, hoje em dia bastante corrente. D. Aparecida diz o

seguinte: “quando tinha umas bonecas feias, com o cabelo arrepiado, as pessoas

chamavam de bruxa” e D. Alice acrescenta: “... antigamente não chamava de bruxa,

isso é atual”. Logo, ao que parece, elas permaneceram denominadas como boneca

de pano, com exceção de algumas bonecas que eram mal feitas, em relação à

fabricação (costura) e à aparência das peças ou porque eram usadas em rituais de

bruxaria, como afirmou D. Francisca Neide, que tem um cliente que vai à sua loja

para comprar as bonecas de pano tradicionais para fazer trabalhos.

Só três das seis entrevistadas, D. Severina, D. Maria Augusta e D. Alice,

fazem bonecas de pano atualmente. D. Alice, aos 78 anos de idade, faz parte de um

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grupo de idosos do bairro em que mora, no município de Parnamirim/RN, onde, com

outras idosas, fazem bonecas de pano como passatempo. Estas bonecas não são

como as bonecas de pano tradicionais – são como aquelas que se ensina a fazer

em revistas de artesanato, lembram as bonecas bebê industriais só que feitas e

pano - e são vendidas em outros municípios. Já D. Neide vende em sua loja do

Shopping do artesanato potiguar as bonecas produzidas em vários municípios do

Estado, como Florânia, por exemplo. Ela relata que as crianças não brincam mais

com esse tipo de boneca, e se brincam é muito raro. Afirma que quem compra as

bruxinhas são as mulheres adultas, para guardar como lembrança, pois já brincaram

um dia com elas. Ainda sobre o desinteresse pelas bonecas de pano por parte das

crianças, D. Neide diz o seguinte:

As crianças hoje não querem mais as bonecas de pano. Quando eu vendo alguma boneca, são para adultos que têm filhos pequenos ou que um dia já brincaram de boneca de pano. Quem não brincou com elas não as valorizam. Então eu tenho medo que isso faça perder o sentindo do brinquedo. (Francisca Neide Dantas, 10/01/2014).

Como maneira de alargar a análise, é interessante comparar os relatos das

entrevistas realizadas no âmbito da presente pesquisa com as reflexões publicadas

no livro Que boneca é essa?, de Macao Goes e Graça Seligman (2013),

especialmente sobre cinco bonequeiras do Rio Grande do Norte.

Segundo as autoras desse livro, Benedita Jerônimo Campelo, uma senhora

nascida em 1945, vive em Macaíba (à data da publicação do livro) e tira seu

sustento da venda de suas bonecas de pano, seja por encomenda eu venda direta.

Ela é autora, por exemplo, de uma boneca de pano gigante (fig. 55). As autoras

também falam das irmãs Maria Soares (1954), Maria José (1959) e Rita de Cássia

(1967), que vivem em Santa Cruz do Inharé e sustentam a família a partir da venda

das bruxas e de ex-votos para os próprios moradores do município. As três irmãs

produzem o ano inteiro com a ajuda das filhas e sobrinhas (coletivamente). Foi com

estas últimas bonequeiras que Goes e Seligman encontraram, pela primeira vez em

suas pesquisas de campo, jovens participando da fabricação de tais artefatos. As

jovens tinham entre 17 e 22 anos de idade.

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Este é um fato curioso. Por que as jovens do século XXI vêm cada vez mais

perdendo o interesse na fabricação das bonecas de pano? E por que essas citadas

por Goes e Seligman ainda as fazem? Talvez a agitação da vida moderna e urbana

tenha levado essas jovens a se interessarem por outros objetos, não lhes chamando

tanto a atenção para a boneca de pano, como ocorreu anteriormente com suas

mães e avós. Porém, atualmente, ainda existem aquelas que, nascidas e crescidas

no contexto de fabricação de bonecas de pano, as confecciona para brincar e/ou

contribuir na renda familiar.

Enfim, sobre a última bonequeira potiguar citada no livro de Goes e Seligman,

a senhora Isabel Antonia de Araújo (1926), é destacado a produção de bonecas de

pano tradicionais não como fonte de sustento familiar, mas sim como um

passatempo de uma mulher que aprendeu, ainda criança, a fazer as bonecas de

pano. Segundo as autoras, as peças são bem feitas e bem caprichadas.

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3. OBRAS

Para o estudo das obras foi constituído um corpus de análise composto por

bonecas de pano encontradas em museus e pontos de venda na capital do Estado,

além do acervo pessoal da autora. Tal atividade rendeu 57 (cinquenta e sete)

exemplares com funções, autores, datas, tipos e formas diferentes. Para facilitar a

análise, todas as obras foram fotografadas e inventariadas, as informações obtidas a

partir das bonecas foram organizadas em tabelas e, depois, procurou-se associar

essas informações às entrevistas feitas com as bonequeiras. Tudo isso ajuda a criar

um panorama de relações entre as peças, permitindo assim chegar a conclusões

relatadas no decorrer do trabalho.

Figura 02 Figura 03

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Figura 04 Figura 05

Figura 06 Figura 07

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Figura 08 Figura 09

Figura 10 Figura 11

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Figura 12 Figura 13

Figura 14 Figura 15

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Figura 16 Figura 17

Figura 18 Figura 19

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Figura 20 Figura 21

Figura 22 Figura 23

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Figura 24 Figura 25

Figura 26 Figura 27

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Figura 28 Figura 29

Figura 30 Figura 31

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Figura 32 Figura 33

Figura 34 Figura 35

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Figura 36 Figura 37

Figura 38 Figura 39

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Figura 40 Figura 41

Figura 42 Figura 43

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Figura 44 Figura 45

Figura 46 Figura 47

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Figura 48 Figura 49

Figura 50 Figura 51

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Figura 52 Figura 53

Figura 54 Figura 55

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Figura 56 Figura 57

Figura 58

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A tabela a seguir ajuda a visualizar os dados gerais do conjunto de bonecas

como autor, local de produção e acervo em que se encontram. Os tópicos da mesma

foram escolhidos a fim de mostrar os dados de cada peça sem distinção. Com os

tópicos “período de criação” e “origem”, por exemplo, busca-se identificar variação

das peças de acordo com o tempo, desde as peças mais antigas às mais recentes, e

de acordo com o local, respectivamente.

TABELA 1

BONECAS DE PANO – DADOS GERAIS

BONECAS DE PANO

FUNÇÃO AUTOR PERÍODO DE CRIAÇÃO

ORIGEM ACERVO

Figura 02 boneca desconhecido 2013 João Câmara/RN Museus Câmara Cascudo

Figura 03 boneca desconhecido 2013 João Câmara/RN Museus Câmara Cascudo

Figura 04 boneca desconhecido 2013 João Câmara/RN Museus Câmara Cascudo

Figura 05 boneca desconhecido 2013 João Câmara/RN Museus Câmara Cascudo

Figura 06 ex-voto desconhecido + de 10 anos Serra Caiada/RN Museus Câmara Cascudo

Figura 07 boneca desconhecido + de 10 anos desconhecido Museus Câmara Cascudo

Figura 08 boneca desconhecido + de 10 anos desconhecido Museus Câmara Cascudo

Figura 09 boneca desconhecido + de 10 anos desconhecido Museus Câmara Cascudo

Figura 10 boneca desconhecido + de 10 anos desconhecido Museus Câmara Cascudo

Figura 11 boneca desconhecido + de 10 anos desconhecido Museus Câmara Cascudo

Figura 12 boneca desconhecido + de 10 anos desconhecido Museus Câmara Cascudo

Figura 13 boneca desconhecido + de 10 anos desconhecido Museus Câmara Cascudo

Figura 14 boneca desconhecido + de 10 anos desconhecido Museus Câmara Cascudo

Figura 15 boneca desconhecido + de 10 anos desconhecido Museus Câmara Cascudo

Figura 16 boneca desconhecido + de 10 anos desconhecido Museus Câmara Cascudo

Figura 17 boneca desconhecido + de 10 anos desconhecido Museus Câmara Cascudo

Figura 18 boneca desconhecido + de 10 anos desconhecido Museus Câmara Cascudo

Figura 19 boneca Ozelita e Inês 2012 Major Sales/RN Museus Câmara Cascudo

Figura 20 boneca Ozelita e Inês 2012 Major Sales/RN Museus Câmara Cascudo

Figura 21 boneca desconhecido 2013 Florânia/RN Shopping do artesanato potiguar

Figura 22 boneca desconhecido 2013 Florânia/RN Shopping do artesanato potiguar

Figura 23 boneca desconhecido 2013 Florânia/RN Shopping do artesanato potiguar

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BONECAS DE PANO

FUNÇÃO AUTOR PERÍODO DE CRIAÇÃO

ORIGEM ACERVO

Figura 24 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.

Figura 25 boneca desconhecido 2008 Natal/RN Memorial Câmara Cascudo

Figura 26 ex-voto desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.

Figura 27 ex-voto desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.

Figura 28 ex-voto desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.

Figura 29 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.

Figura 30 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.

Figura 31 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.

Figura 32 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.

Figura 33 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.

Figura 34 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.

Figura 35 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.

Figura 36 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.

Figura 37 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.

Figura 38 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.

Figura 39 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu do brinquedo popular

Figura 40 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu do brinquedo popular

Figura 41 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu do brinquedo popular

Figura 42 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu do brinquedo popular

Figura 43 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu do brinquedo popular

Figura 44 boneca Francisquinha 2014 São Gonçalo do Amarante/RN

Quiosque Raul do

Mamulengo

Figura 45 boneca Francisquinha 2014 São Gonçalo do Amarante/RN

Quiosque Raul do

Mamulengo

Figura 46 boneca Francisquinha 2014 São Gonçalo do Amarante/RN

Quiosque Raul do

Mamulengo

Figura 47 boneca Francisquinha 2014 São Gonçalo do Amarante/RN

Quiosque Raul do

Mamulengo

Figura 48 boneca Francisquinha 2014 São Gonçalo do Amarante/RN

Quiosque Raul do

Mamulengo

Figura 49 boneca Francisquinha 2014 São Gonçalo do Amarante/RN

Quiosque Raul do

Mamulengo

Figura 50 boneca Severina 2014 Natal/RN Particular

Figura 51 boneca Conceição 2014 São Gonçalo do Amarante/RN

Particular

Figura 52 ex-voto desconhecido Dec. 80 desconhecido Casa dos milagres

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Figura 53 ex-voto desconhecido Dec. 80 desconhecido Casa dos milagres

Figura 54 ex-voto desconhecido Dec. 80 desconhecido Casa dos milagres

Figura 55 boneco desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.

Figura 56 boneca chaveiro

Rita de Cássia

2014 Parnamirim/RN Particular

Figura 57 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu do brinquedo popular

Figura 58 boneca Maria

Augusta 2014 Assú/RN Museu Câmara

Cascudo

Como mostra os dados da tabela 1, as informações sobre autor, local e data

de quando foram produzidas as bonecas de pano são basicamente das peças mais

recentes. Sobre as bonecas mais antigas, os museus onde elas se encontram pouco

ou nada indicam a respeito.

Jailma Medeiros dos Santos, responsável pela reserva técnica do Museu

Câmara Cascudo, localizado no bairro do Tirol, em Natal, disse que pode garantir

apenas que as bonecas de pano estão lá há no mínimo dez anos, pois exatamente

há dez anos ela começou a trabalhar no museu e as bonecas já estavam lá, além de

apresentar um material bastante deteriorado. As bonecas de pano do Museu Casa

dos Milagres, localizado no Centro de Turismo de Natal, no bairro de Petrópolis,

também não apresentam local de origem nem autoria, sabendo-se apenas que elas

são bem antigas e que foram coletadas em santuários e igrejas de Florânia/RN (fig.

52 e fig.53) e Santa Cruz/RN (fig. 54) por volta dos anos 80 do século XX, onde

foram deixadas como ex-votos. Além dessas bonecas, o Museu Casa dos Milagres

apresenta diversos outros tipos de ex-votos que foram colecionados ao longo de

décadas, pelo marchand e ex-professor da UFRN Antônio Marques de Carvalho

Júnior.

No caso do Museu do Brinquedo Popular, localizado no bairro da Cidade Alta,

a data de origem das bonecas de pano é atribuída à data de fundação do museu,

2008. Mesmo que o museu seja resultado de uma pesquisa, seus fundadores não

têm registros de onde foram coletadas as bonecas de pano. Este é o mesmo caso

do Museu de Arte Popular Djalma Maranhão, localizado no bairro da Ribeira, que

atribui a data de origem das bonecas de pano ao seu ano de fundação, também em

2008.

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A boneca do acervo do Memorial Câmara Cascudo, segundo Daliana

Cascudo, neta de Câmara Cascudo e administradora do espaço, foi adquirida na

feira do Alecrim no ano de 2008, para integrar o acervo permanente de arte popular.

Como se pode ver, infelizmente não se trata de casos pontuais: a falta de

referências sobre as bonecas de pano aconteceu em quase todos os

estabelecimentos pesquisados. É como se não houvesse uma preocupação em

registrar, guardar a história de tais peças. Talvez tenha havido dificuldade na coleta

de dados durante a aquisição da boneca de pano tradicional, uma vez que as

bonequeiras não assinam nem datam suas peças. E também por que muitas

bonequeiras não comercializam suas peças diretamente: para tal atividade, elas

contam com a ação das “atravessadeiras”, como são chamadas as pessoas que

revendem essas bonecas de pano. Ou ainda, por falta de interesse mesmo, visto

que a arte popular no Rio Grande do Norte não é tão valorizada.

Seja como for, essa situação representa um grande obstáculo para se tentar

fazer relações entre as bonecas de pano, seus autores, seus locais de origem e

suas datas de criação, bem como para confrontar e atravessar esses dados. Na

verdade, para se estudar as bonecas de pano, é imprescindível retirar informações

das próprias peças, a partir de uma análise cuidadosa de seus materiais e da

maneira como elas se apresentam, tanto em termos de tema, quanto de estilo. E

esse é um procedimento que o pesquisador em artes visuais está especialmente

preparado para fazer.

Na tabela a seguir, foram escolhidos como tópicos para a construção da

mesma as características mais evidentes e relevantes para uma comparação entre

as peças na busca por um padrão ou não entre as mesmas, tentando relacionar

material, gênero, cor, etc.

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TABELA 2

1 Feminino 2 Masculino 3 Claro 4 Escuro

BONECAS DE PANO – CARACTERÍSTICAS

BONECAS DE PANO

ALTURA

(em cm.)

GÊNERO

COR

(PELE)

CABELO

PERSONAGEM

ROUPA COLORIDA

ARTICULADA

ADORNO

F1 M

2 C

3 E

4 C E SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO

Figura 02 27 x x x Mulher x x x

Figura 03 28 x x x Mulher x x x

Figura 04 28 x x x Homem x x x

Figura 05 25 x x Freira x x x

Figura 06 13 x x x Mulher x x x

Figura 07 16 x x x x Mulher x x x

Figura 08 15,5 x x x Mulher x x x

Figura 09 15 x x x Mulher x x x

Figura 10 16 x x x Mulher x x x

Figura 11 17 x x x x Mulher x x x

Figura 12 18,5 x x Mulher x x x

Figura 13 23 x x x Mulher x x x

Figura 14 29 x x x Mulher x x x

Figura 15 28 x x x Mulher grávida

x x x

Figura 16 31 x x x Mulher x x x

Figura 17 28 x x x x Mulher x x x

Figura 18 33 x x x x Mulher x x x

Figura 19 9,5 x x x Mulher x x x

Figura 20 19 x x x Mulher x x x

Figura 21 20 x x x Mulher x x x

Figura 22 18 x x x Mulher x x x

Figura 23 20 x x x x Casal x x x

Figura 24 18 x x x x Mulher x x x

Figura 25 20 x x x x Mulher x x x

Figura 26 23 x x x Mulher x x x

Figura 27 28 x x x Mulher x x x

Figura 28 22 x x x Mulher x x x

Figura 29 22 x x x Lampião x x x

Figura 30 18 x x x Mulher x x x

Figura 31 15 x x x Mulher x x x

Figura 32 18 x x x Mulher x x x

Figura 33 20 x x x x x Emília x x x

Figura 34 27 x x x Mulher x x x

Page 46: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

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Como podemos observar na tabela 2, todas as bonecas de pano representam

um personagem, desde mulheres (mais comum) à freira, cangaceiro, boneca Emília

e noiva (fig. 05, fig. 29, fig. 33 e fig. 54 respectivamente); um exemplar apenas

representa mais de um personagem, no caso, um pai com uma filha nos braços (fig.

43). Outro detalhe é que quase todas – se não todas (menos a masculina) – as

bonecas têm um cinto (tira de tecido) marcando a cintura (geralmente de cor

diferente). Isso parece ser um elemento importante para o desenho do corpo da

boneca feminina, uma vez que a presença de cintura é um elemento estético

característico nas mulheres e tais bonecas são feitas baseadas nas feições

humanas.

A existência de uma grande quantidade de personagens do gênero feminino

se explica pelo fato de as bonecas serem mais utilizadas pelas meninas, quando

BONECAS DE PANO

ALTURA (em cm.)

GÊNERO COR

(PELE) CABELO

PERSONGEM

ROUPA COLORIDA

ARTICULADA ADORNO

F M C E C E SIM NÂO SIM NÃO SIM NÃO

Figura 35 18 x x x Mulher x x x

Figura 36 18 x x Mulher x x x

Figura 37 16 x x x Homem x x

Figura 38 18 x x x x Homem x x x

Figura 39 22 x x x x Homem x x x

Figura 40 18 x x x Mulher x x x

Figura 41 15 x x x Mulher x x x

Figura 42 15 x x x Mulher x x x

Figura 43 20 x x x Homem e filha

x x x

Figura 44 25 x x x Homem x x x

Figura 45 14 x x x Homem x x x

Figura 46 28 x x x Homem x x x

Figura 47 22 x x x Mulher x x x

Figura 48 28 x x x Mulher x x x

Figura 49 25 x x x Mulher x x x

Figura 50 17 x x x Mulher x x x

Figura 51 25 x x x Mulher x x x

Figura 52 24 x x x Mulher x x x

Figura 53 24 x x x Homem x x x

Figura 54 25 x x x Noiva x x x

Figura 55 1,30 x x Lampião x x x

Figura 56 10 x x x Mulher x x x

Figura 57 25 x x x Mulher x x x

Figura 58 18 x x x Mulher x x x

Page 47: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

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brincam, imitando afazeres domésticos e situações diversas, sem excluir a

existência de utilização de bonecos masculinos, como já foi apontado anteriormente.

Quanto às outras variações de personagens, como freira, cangaceiro, pai com filha,

boneca Emília e noivas, acredita-se que tem a ver com a tentativa de tornar o

produto diferente, mais atrativo aos olhos do consumidor. Vale salientar que as

bonecas de pano encontradas em museus e instituições podem representar peças

feitas especialmente para serem vendidas, não apenas para servirem de brinquedo

e vice versa. Isso é importante, pois pode acarretar características diferentes nas

peças, em função da necessidade de diversificação do produto para aumento das

vendas.

Sobre esse assunto, Brougère (2010) explica que a boneca, assim como

muitos objetos ocidentais, é fruto da ruptura com o sistema de produção artesanal a

partir da industrialização, ocorrendo assim o alargamento das relações entre

produtores e consumidores. Essas rupturas sempre produzem intensas mutações,

como o surgimento de novas técnicas e novas formas de distribuição. A essas

mutações, que se estende até as formas de promoção, publicidade e criatividade do

produto, ele deu o nome de “racionalização”. Isso explica a variedade de

personagens, materiais e adornos (pulseiras, laços, sapatinhos e bolsinhas)

empregados nas bonecas de pano tradicionais.

No caso das bonecas de pano usadas como ex-votos, apresentam

características das graças pedidas e alcançadas pelos fieis: em uma (fig. 27),

podemos observar um coração costurado ao peito da boneca de pano, mostrando

que a graça tinha a ver com esse órgão do corpo humano; já em outra (fig. 51),

notamos que o cabelo é natural, provavelmente da pessoa que fez o voto, e no peito

da boneca tem uma marca que parece uma cicatriz (fig. 59), provavelmente

representando a marca de uma cirurgia cardíaca.

Figura 59

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A cor da pele (clara), o cabelo (escuro) e a roupa colorida das bonecas de

pano é grande maioria, como podemos observar na tabela 2. Isso está relacionado

muito provavelmente ao material disponível para fabricação das bonecas, pois, no

que diz respeito às escolhas por tipos de bonecas de pano loira ou morena, as

entrevistas mostram que não havia preferência, o que havia era o material disponível

e às vezes imitação da aparência de pessoas próximas: “... a boneca negra sempre

existiu. Às vezes as bonecas se assemelhavam a algum morador. Faziam as

bonecas inspiradas nas pessoas.” (Francisca Neide Dantas, 10/01/2014).

Em outro relato, D. Neide afirma: “uma boneca com carinha delicada [tecido

representando pele clara e feições bem costuradas] era de uma pessoa branca”.

Essa afirmação parece revelar um certo preconceito, segundo o qual pessoas de

pele clara têm feições delicadas, enquanto pessoas de pele negra têm traços

grosseiros. Esta discriminação talvez não tenha sido a intenção da entrevistada,

porém, manifesta uma atitude que está entranhada na nossa sociedade e que por

muitas vezes a expressamos sem nos darmos conta.

Quanto ao fato de quase todas as bonecas apresentarem roupinhas muito

coloridas, com tecidos de estampas diversas (representando vegetais, linhas,

manchas), isso se explica por elas serem feitas com sobras de tecidos descartadas

pelas costureiras, resultando assim na utilização de vários pedaços diferentes para

montar a vestimenta inteira da boneca. Caso houvesse um tecido de comprimento

maior, a boneca de pano ganharia, possivelmente, uma roupa com uma só estampa,

sem tanta diversidade de cores. Entretanto, o aspecto colorido e a variedade de

estampas pode agregar valor às bonecas, tornando-as mais chamativas e alegres.

Em todo caso, parece não haver uma preocupação em combinar cores e estampas,

nem em relação às vestimentas de personagens femininos, nem masculinos, as

combinações parecem refletir escolhas feitas aleatoriamente, em função do material

disponível.

O tamanho e a cor das bonecas são outros fatores que dependem do material

disponível. Mas não é somente desta disponibilidade que depende o tamanho e a

cor das bonecas, é o caso das bonecas de pano que são feitas por encomenda, do

tamanho e na cor que os clientes solicitam. Porém, não se deve excluir a

Page 49: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

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possibilidade de haver combinações feitas de acordo com o gosto pessoal das

bonequeiras, de acordo com suas particularidades.

Os critérios para a criação dos tópicos da tabela a seguir estão ligados aos

materiais encontrados nas bonecas de pano tradicionais, e foram assim expostos

para uma melhor visualização de tais características.

TABELA 3

BONECAS DE PANO – MATERIAIS

BONECAS DE PANO

CORPO CABELO ROSTO

ALGODÃO CETIM MALHA TECIDO LINHA SINTÉTICO

TECIDO DESFIADO

PINTADO BORDADO

Figura 02 X X X Figura 03 X X X X Figura 04 X X X X X Figura 05 X X X Figura 06 X X X Figura 07 X X X Figura 08 X X X X Figura 09 X X X Figura 10 X X X X Figura 11 X X X X Figura 12 X X X X X Figura 13 X X X Figura 14 X X X X Figura 15 X X X X Figura 16 X X X Figura 17 X X X X Figura 18 X X X X Figura 19 X X X Figura 20 X X X X Figura 21 X X X X Figura 22 X X X X X Figura 23 X X X Figura 24 X X X X Figura 25 X X X X Figura 26 X X X X Figura 27 X X X Figura 28 X X X X Figura 29 X X X Figura 30 X X X X X Figura 31 X X X X Figura 32 X X X X Figura 33 X X X X Figura 34 X X X X

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BONECAS

DE PANO

CORPO CABELO ROSTO

ALGODÃO CETIM MALHA TECIDO LINHA SINTÉTICO TECIDO

DESFIADO PINTADO BORDADO

Figura 35 X X X X Figura 36 X X Figura 37 X X X Figura 38 X X X Figura 39 X X X Figura 40 X X X X X Figura 41 X X X Figura 42 X X X X Figura 43 X X X X X X Figura 44 X X X X Figura 45 X X X X Figura 46 X X X Figura 47 X X X X X Figura 48 X X X X Figura 49 X X X X X Figura 50 X X X X Figura 51 X X X X Figura 52 X X Figura 53 X X X Figura 54 X X X X Figura 55 X X X Figura 56 X X X Figura 57 X X X Figura 58 X X X X

Como mostra esta última tabela, a maioria das bonecas de pano,

principalmente as aparentemente mais antigas (como as do Museu Câmara

Cascudo), são feitas de tecido de algodão, enquanto as mais atuais apresentam

maior variação de tipos de tecido, como o cetim e a malha, devido ao aumento do

poder aquisitivo e da diversidade de tecidos disponíveis no mercado, a partir das

últimas décadas. Nas entrevistas, quando foram perguntados os tipos de materiais

usados na fabricação das bonecas de pano antigamente, a maioria das

entrevistadas respondia que as bonecas eram feitas de morim, por ser barato e

comum seu uso pelas costureiras. Como explica D. Auxiliadora “morim, é um tipo de

tecido branco”, muito usado para forros de roupas.

Quanto ao enchimento das bonecas, não podemos generalizar a informação,

pois, muitas vezes, durante a pesquisa, não pudemos manusear as bonecas, devido

algumas delas estarem em locais de difícil acesso (penduradas no alto de uma

parede, como no caso do Museu do Brinquedo Popular (fig. 57), ou exposto em

Page 51: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

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locais fechados, como no caso do Memorial Câmara Cascudo). Por outro lado, não

encontramos informações escritas sobre o assunto. Porém, segundo as

entrevistadas, as bonecas de pano que elas tiveram e/ou com que brincaram eram

cheias com tecido picotado ou com espuma sintética, sendo este ultimo material

muito raro nas bonecas de pano da época de infância das entrevistadas, pois elas

não costumavam comprar materiais para fabricar as bonecas, apenas aproveitavam

os restos de tecidos usados pelas costureiras.

Ainda segundo as entrevistadas, as bonecas de pano, desde a época de sua

infância, eram fabricadas manualmente, costuradas milímetro a milímetro com linha

e agulha de mão. Hoje, as bonequeiras ainda costuram as bonecas de pano à mão,

mas também podem contar com o auxílio das máquinas de costura na preparação

de algumas partes do corpo (tronco e membros) e das vestimentas, partes que não

necessitam de detalhes minuciosos. Isso gera certa diferença entre as bonecas

feitas totalmente a mão e as que têm alguma parte feita com o auxilio de maquinas,

pois, estas últimas perdem um pouco da forma característica da boneca de pano

tradicional e acaba se aproximando daquelas bonecas de pano que se ensina a

fazer em revistas de artesanato. Porem, não se pode negar que a confecção dessas

bonecas ficou mais fácil e ágil com essa tecnologia, a máquina de costura.

Goes e Seligman também descrevem brevemente dois processos de

produção das bonecas, por bonequeiras do Rio Grande do Norte. O primeiro se

inicia pela costura do corpo ou de partes dele, para depois preenchê-lo com espuma

eu retalhos bem picotados. Já o outro é considerado bem diferente em relação ao

modo de preencher o corpo das bonecas;

Para a montagem do corpo, é usada uma espuma de quatro centímetros de espessura, cortada em forma de retângulo, com um corte no meio, para dar o formato das pernas. Recoberto com morim branco e costurado a mão, bem apertado, em poucos minutos o corpo da bruxinha está pronto. (...) costuram os vestidos a mão, com bom acabamento – olhos e bocas das bonecas são sempre bordados. O cabelo é feito só de tecido, quando curto, ou em malha, para longas tranças, com um laço de tecido de cor vibrante (GOES e SELIGMAN, 2013, p.145).

Podemos notar, portanto, que a produção da boneca de pano foi sendo

aperfeiçoada com o passar do tempo, graças às novas possibilidades financeiras

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para se incrementar a produção: antes, enrolava-se resto de tecido no sabugo de

milho para brincar, enquanto hoje compra-se espuma para encher o corpo da

boneca modelado com tecido.

Mesmo que a boneca de pano esteja sendo pouco usada para brincar, como

conta D. Neide, elas ainda estão vivas como símbolos do passado, a exemplo das

mulheres que as compram para guardar como lembrança da infância. O

aperfeiçoamento da boneca de pano também pode estar ligado a outras

ressignificações da mesma, como nos conta Goes e Seligman:

A permanência e vitalidade dessa boneca talvez estejam na ressignificação da bruxinha de pano, transformadas de brinquedo a produto decorativo e, assim, utilizadas por decoradores, colecionadores e designers (GOES e SELIGMAN, 2013, p.17).

Como exemplo dessa ressignificação, podemos citar a boneca de pano feita

pela D. Rita de Cássia (fig. 56) para servir de chaveiro. Goes e Siligman (2013)

também citam a poltrona Multidão, criada pelos irmãos Campana, que reúne várias

unidades de bonecas de pano tradicionais na decoração. Porém, há quem se

preocupe com tanta modernização e com as adequações dos produtos artesanais

ao publico, como Berta G. Ribeiro, por exemplo, que diz:

A perda de relações com o seu meio, suas referencias culturais e o engajamento em cultura exótica sem conscientização e integração assimilada tem como gravíssima consequência a perda de identidade de sua cultura autêntica (RIBEIRO, 1983, p. 167).

Na face de quase todas as bonecas aqui pesquisadas, observamos olhos,

nariz, boca, bigode (no caso dos bonecos) e sobrancelhas costurados com linha. É

como se fosse uma característica fundamental das bruxas de pano. O que muda, às

vezes, é a cor da linha usada para costurar um olho azul, por exemplo. No caso das

bonecas negras, muda-se a cor da linha para contrastar com o tom do tecido usado

para a pele da boneca. De acordo com a tabela 3, as bonecas com as faces

pintadas são mais comuns nas bonecas de pano atuais, e mesmo assim é minoria.

Na grande maioria das bonecas tradicionais, os detalhes do rosto são desenhados

Page 53: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

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não com lápis, caneta ou pincel, mas sim com linha, literalmente. Elas constroem o

desenho com linha de costura e este parece ser uma característica da boneca de

pano tradicional.

Sobre os elementos da composição visual, que constituem a estrutura de toda

informação que captamos com os olhos, Dondis (2007) coloca que a linha é o

elementos essencial do desenho e que ela sozinha não representa outra coisa se

não ela mesma, mas que assume formas diversas de expressar uma variedade de

estados de espirito, refletindo a intenção do artista, seus sentimentos, emoções e,

acima de tudo, sua maneira de ver.

Num primeiro momento, acreditávamos que a riqueza de detalhes

empregados na boneca de pano tradicional tinha a ver com a modernização. Porém,

as bonecas que aparentam ser mais antigas, devido ao desgaste do próprio

material, eram feitas com bastante capricho, no detalhe dos narizes em relevo e

sobrancelhas, por exemplo. É como se a quantidade de detalhes, seja na roupa da

boneca ou no rosto, tornasse-a mais bela aos olhos de algumas criadoras, as

bonequeiras, na medida em que se tornavam mais parecidas com a forma humana.

A maioria das bonecas não tem mãos nem pés. O que aparece, às vezes, é

um tecido enrolado nos pés que lembra sapatinhos. Tais ausências ocorrem em

quase todas as bonecas deste trabalho. Duas bonecas de pano tradicionais do

acervo do Museu Câmara Cascudo são articuladas (fig. 16 e fig. 18) – apresentam

pernas que se movem para frente e para trás – porém, não se sabe nada de sua

origem e fabricação, como já foi dito. Fato curioso é que existe uma boneca de pano

com as mesmas características no Museu do Brinquedo Popular (fig. 57) e, mais

uma vez, não há informações sobre a mesma. Ao tentar relacionar as bonecas do

primeiro museu (fig. 16 e fig. 18), que são muito parecidas e talvez tenham a mesma

origem, com a do segundo museu (fig. 57), foi verificado que as três possuem em

comum as pernas feitas com tecido estampado listrado e que os detalhes dos rostos

são feitos da mesma maneira: boca representada por uma linha vermelha e reta na

posição horizontal, olho e sobrancelhas também representadas por linhas escuras

na posição horizontal e todas sem nariz. Sem falar que todas as três tem

vestimentas coloridas e as bonecas da fig. 18 e fig. 57 tem o cabelo de tecido

desfiado em tons de amarelo.

Page 54: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

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Mesmo ao supor que um grupo de bonequeiras tenha feito as bonecas de

pano com pernas articuladas e acrescentando-lhes roupas de acordo com o seu

gosto pessoal - Isto é, levando em consideração que, as bonequeiras procuram

manter um padrão de feitura das bonecas de pano tradicionais, ainda que outras

pessoas participem do processo de fabricação - ou que uma única pessoa tenha

produzindo-as, não se pode inferir que estas peças foram feitas de tais maneiras.

Muitas bonecas de pano apresentam adornos na cabeça, nas orelhas ou nos

braços (a maioria dos braços não tem mãos) e isso mostra o quanto essas bonecas

são feitas baseadas em características humanas. Talvez essa seja apenas uma

maneira de ornamentar a peça, de torná-la mais chamativa. Em relação à imitação

de um corpo humano, algumas bonecas apresentam detalhes que nos saltam aos

olhos. É o caso das bonecas que possuem mãos um tanto realistas. Algumas são

bem estilizadas, a exemplo das bonecas de pano tradicionais feitas na Comunidade

do Amarelão, em Ceará Mirim (fig. 60 e fig. 61), que possuem quatro e três dedos

em cada mão respectivamente. Já outras bonecas que pertencem ao Museu

Câmara Cascudo (fig. 62 e fig. 66) e ao Museu de Arte Popular (fig. 65), assim como

ex-votos que agora pertencem à Casa dos Milagres (fig. 63 e fig. 64), apresentam

cinco dedos em cada mão.

Figura 60 Figura 61 Figura 62 Figura 63

Figura 64 Figura 65 Figura 66

Page 55: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

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Com exceção de uma boneca (fig. 13), de que não se sabe a origem, a

boneca (fig. 58) foi feita em Assú, a outra (fig. 55) foi confeccionada em Macaíba e

as bonecas representadas nas fig. 52 e fig. 54 respectivamente, foram

provavelmente fabricadas em Florânia, pois, uma vez usada como ex-votos, é

possível que tenham sido feitas e consumidas na mesma cidade. Logo, constata-se

que, em várias regiões foram feitas bonecas com essa mesma característica, não

cabendo atribuir tal especificidade a uma só autora ou afirmar que esta seja

exclusiva de uma localidade, pois existem bonecas em outros estados do nordeste

com esta mesma peculiaridade, como mostra o estudo de Goes e Seligman (2013).

Sem falar também que estes dedos são feitos de acordo com a vontade das autoras.

Algumas delas, como dona Isabel Antônia, já não fazem mais os dedinhos das mãos

por falta de paciência para realizar tal atividade.

Page 56: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A partir do tema exposto neste trabalho, percorremos uma serie de etapas

analisando-o a fim de compreender melhor o universo das bonecas de pano. É sem

dúvida um tema de grande importância, como revelador de aspectos da cultura

popular. Vale salientar que pouco vem sendo feito para tentar manter este elemento

da arte popular vivo nos dias atuais, a exemplo disso temos o descaso com as

informações a respeito das peças que chegam aos museus.

Em relação à produção das bonecas tradicionais foi possível constatar que,

apesar de pouco conhecido e valorizado, esse trabalho ainda vem sendo feito

atualmente por mulheres que já tiveram/têm contato com esse mundo da técnica e

oralidade popular.

Através do olhar apurado voltado às bonecas de pano tradicionais,

destacamos elementos que ajudam a compreender o contexto de criação e alguns

significados de diferentes características presentes nas bonecas atuais e do

passado.

Houve um grande envolvimento e aprofundamento no que diz respeito às

analises e discussões, a fim de conhecer mais a temática estudada. Alguns

elementos como questão de gênero, mercado e fabricação foram levantados com o

intuito de abrir novos caminhos para que trabalhos futuros, pela autora da presente

pesquisa, possam enriquecer cada vez mais o conhecimento sobre esse tema tão

presente na vida das pessoas, mas tão pouco presente na Academia: as bonecas de

pano tradicionais.

Page 57: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

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REFERÊNCIAS

AMADO, João. Universo dos brinquedos populares. Coimbra: Quarteto, 2007.

ARAUJO, Iaperí. Elementos da arte popular. Natal: Editora universitária – UFRN, 1985.

BROUGÉRE, Gilles. Brinquedo e cultura. Tradução de La poupèe industrielle. São Paulo: Cortez, 2010.

CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. São Paulo: Melhoramentos, 1979.

D'ÁVILA, José Silveira. O artesão tradicional e seu papel na sociedade contemporânea. In: RIBEIRO, Berta G. O artesão tradicional e seu papel na sociedade contemporânea. Rio de Janeiro, FUNARTE – Instituto Nacional do Folclore, 1983.

DONDIS, Donis A.. Sintaxe da linguagem visual. 3º ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.

FRANÇA, Cássia M. S.. Bonecas de pano tradicionais. 2013 - 2014. 65 fotos.

GOES, Macao e SELIGMAN, Graça. Que boneca é essa? Corte e recorte de mestras brasileiras. Brasília: ITS - Instituto Terceiro Setor, 2013.

GURGEL, Deífilo. Espaço e tempo do folclore potiguar. Natal: Secretaria do 4º Centenário, 1999.

OLIVEIRA, Marcus Vinícius de Faria; COSTA, Tânia; GOMES, Vivianne Limeira Azevedo; CAMPOS, Caroline Cristina de Arruda; LIMA, Priscila Janaina Dantas; MAIA, Lerson Fernando dos Santos. Brinquedos e brincadeiras populares. 2ªed. Natal: IFRN Editora, 2010.

RIBEIRO, Berta G. Dicionário do artesanato indígena. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988.

Page 58: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

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SOUSA, Roselne Santarosa de. Descobrindo o lugar da boneca de pano na cultura lúdica brasileira. In: Encontro da ABRAPSO, XV, 2009, Maceió. Anais do XV Encontro da ABRAPSO. Maceió:UFSJ, 2009. p.1 – p.9.

SOUSA, Roselne Santarosa de. Um estudo auto-rede sobre a boneca de pano: costurando narrativas de artesãs das cidades mineiras de Barbacena, Antônio Carlos e São João Del-Rei. 2012. 121. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Universidade de Federal de São João Del-Rei - UFSJ, Minas Gerais.

Page 59: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

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ANEXOS

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ROTEIRO DE ENTREVISTA COM OS PRODUTORES:

PERCURSO PESSOAL

1. Nome completo (nome artístico, se houver); 2. Data e local de nascimento; 3. Local de residência atual; 4. Escolaridade (nível, completo, incompleto, razões, etc.); 5. Fatos marcantes (casamento, filhos, separação, doenças, etc.)

TRABALHO

1. Onde, quando e com quem aprendeu a fazer as bonecas de pano? 2. Como, onde e por que produziu as bonecas de pano? 3. Como, onde e para quem vendia (vende) as bonecas? 4. Já fez exposição das suas bonecas? Já houve algum estudo sobre elas? Já

participou de algum concurso? 5. Já ensinou alguém a fazer boneca?

OBRAS

1. Qual é/era a função das bonecas? 2. Quais modelos de boneca fabricava/fabrica? 3. Que materiais usava e como fazia/faz as bonecas de pano? 4. Você cria personagens? Quais e por quê? 5. Quanto às formas, como eram e por quê?

Page 61: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

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ROTEIRO DE ENTREVISTA COM OS CONSUMIDORES

PERCURSO PESSOAL

1. Nome completo (nome artístico, se houver) 2. Data e local de nascimento 3. Local de residência atual 4. Escolaridade 5. Fatos marcantes (casamento, filhos, separação, doenças, etc.)

RELAÇÃO COM BONECAS

1. Quando, como, onde e através de quem começo o contato com as bonecas de pano?

2. Por quem, quando e onde eram vendidas? Quais os preços? 3. Que nomes dava, havia/ há preferências? Por quê? 4. Como, onde, quando, para quê e por que eram usadas? 5. Quais as características? (tipos, personagens (quais?), tamanhos, materiais,

particularidades, diferenças, semelhanças, evoluções, preferências, etc.)

Page 62: UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO …...Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte:

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TERMO DE AUTORIZAÇÃO

Pelo presente instrumento, eu,_____________________________________________

portadora do RG: ____________, autorizo a aluna Cássia Michellyne Silva de França

portadora do RG: 002.801.018, realizar a gravação de minha entrevista (sem custos

financeiros a nenhuma parte) que, posteriormente será transformada em texto a fim de gerar

informações para o Trabalho de Conclusão de Curso da mesma, e a outras publicações dela

decorrentes, quais sejam: revistas científicas, congressos, jornais e livros.

Esta AUTORIZAÇÃO foi concedida mediante o compromisso da aluna acima citada em

garantir-me os seguintes direitos:

1. poderei ler a transcrição de minha gravação;

2. qualquer outra forma de utilização dessas informações somente poderá ser feita mediante

minha autorização;

3. serei livre para interromper minha participação na pesquisa a qualquer momento e/ou

solicitar a posse da gravação e transcrição de minha entrevista.

Natal, _____ de _______________ de 2014.

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Assinatura do entrevistado

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Assinatura do entrevistador