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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE ARTES
CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS
CÁSSIA MICHELLYNE SILVA DE FRANÇA
BONECAS DE PANO TRADICIONAIS NO RIO GRANDE DO NORTE:
CONTEXTOS E OBRAS
ORIENTADOR: PROF. DR. EVERARDO DE ARAÚJO RAMOS
NATAL/RN
2014
2
CÁSSIA MICHELLYNE SILVA DE FRANÇA
BONECAS DE PANO TRADICIONAIS NO RIO GRANDE DO NORTE:
CONTEXTOS E OBRAS
Trabalho de Conclusão de Curso
apresentado à Universidade Federal
do Rio Grande do Norte como
requisito para a obtenção do título de
Licenciatura em Artes Visuais.
NATAL/RN
2014
3
F814b França, Cássia Michellyne Silva de.
Bonecas de pano tradicionais no Rio Grande do Norte: contexto e
obras / Cássia Michellyne Silva de França. – Natal, 2014. 62f.
Monografia (Graduação em Licenciatura em Artes Visuais) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências
Humanas, Letras e Artes. Departamento de Artes
1. Arte Popular – Rio Grande do Norte – Monografia. 2. Artes
Visuais - Monografia. 3. Boneca de Pano – Contexto Artístico. 5.
Manifestação Popular. 6. Arte – Rio Grande do Norte. I. Título.
RN CDU: 7.067.26 (813.2)
4
CÁSSIA MICHELLYNE SILVA DE FRANÇA
BONECAS DE PANO TRADICIONAIS NO RIO GRANDE DO NORTE:
CONTEXTOS E OBRAS
BANCA EXAMINADORA
_______________________________________
Prof. Dr. Everardo de Araújo Ramos
(Orientador)
________________________________________
Prof. Arthur Luiz de Souza Maciel
_________________________________________
Prof. Dr. Olavo Fontes Magalhães Bessa
5
Aos meus queridos e amados pais.
6
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pela oportunidade de realizar este trabalho e por ter me
dado forças para concluir esta jornada. Aos meus amados pais, Neuma Medeiros,
Edmilson França (in memoriam) e Moacir Medeiros, que de certa forma serviram de
inspiração nas minhas escolhas e contribuíram para a realização deste meu sonho.
Às minhas irmãs pela compreensão de como sou e do meu jeito de ama-las.
À Heryson Cirilo pela ajuda, dedicação e carinho que foram essenciais para o
alcance dos meus objetivos.
Aos familiares, avô, avós, tios, tias e primos (as) pelo apoio que me
dedicaram. Aos meus amigos pelo incentivo que me encorajou quando pensei em
fraquejar.
Ao professor Everardo Ramos que acreditou na minha capacidade e que é
um exemplo para minha carreira.
A todos que fizeram parte desta minha caminhada a minha eterna gratidão.
7
RESUMO
O presente trabalho visa a análise e investigação das bonecas de pano tradicionais,
em especial as bonecas de pano produzidas no Rio Grande do Norte, dos anos
1920 à época atual. A partir de tal investigação, buscamos identificar e analisar o
contexto de produção e circulação da boneca de pano, seus respectivos criadores e
públicos, além das funções, técnicas, tipos e formas conferidas às obras. Através da
análise de entrevistas e referencial bibliográfico, visa-se contribuir na produção de
conhecimento sobre essa manifestação, chamando a atenção para sua importância
no contexto da arte popular e criando subsídios para sua utilização no âmbito do
ensino de Artes Visuais. Diversos registros fotográficos das bonecas de pano
pesquisadas completa o trabalho, se constituindo em um rico material iconográfico
sobre o tema.
8
LISTA DE FIGURAS
Figura 01: Marafona de Monsanto. Disponível em:
http://portugalonline.livreforum.com/t1393-a-marafona-monsanto-beira-baixa . Acesso em
nov. 2014. Fonte: site Portugal on line........................................................................17
Figura 02: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João
Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela
autora.........................................................................................................................25
Figura 03: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João
Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela
autora.......................................................................................................... ...............25
Figura 04: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João
Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela
autora. ........................................................................................................... ............26
Figura 05: Autor desconhecido. Boneca de pano. Comunidade do Amarelão – João
Câmara/RN, 2013. Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela
autora. .............................................................................................................. .........26
Figura 06: Autor desconhecido. Boneca de pano. Serra Caiada/RN, 2012. Acervo do
Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................26
Figura 07: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, sem data definida.
Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................26
Figura 08: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, sem data definida.
Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................27
Figura 09: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, sem data definida.
Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................27
Figura 10: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, sem data definida.
Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................27
Figura 11: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, sem data definida.
Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................27
Figura 12: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, sem data definida.
Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................28
Figura 13: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, sem data definida.
Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora. ........................28
9
Figura 14: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, sem data definida.
Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................28
Figura 15: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, sem data definida.
Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................28
Figura 16: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, sem data definida.
Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................29
Figura 17: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, sem data definida.
Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................29
Figura 18: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, sem data definida.
Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................29
Figura 19: Ozelita Maria e Maria Inês. Boneca de pano. Major Sales/RN, 2012.
Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................29
Figura 20: Ozelita Maria e Maria Inês. Boneca de pano. Major Sales/RN, 2012.
Acervo do Museu Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora.........30
Figura 21: Autor desconhecido. Boneca de pano. Florânia/RN, 2013. Shopping do
artesanato potiguar, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora...................................30
Figura 22: Autor desconhecido. Boneca de pano. Florânia/RN, 2013. Shopping do
artesanato potiguar, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora...................................30
Figura 23: Autor desconhecido. Bonecas de pano. Florânia/RN, 2013. Shopping do
artesanato potiguar, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora...................................30
Figura 24: Autor desconhecido. Boneca de pano. Natal/RN, 2008. Museu de Arte
Popular Djalma Maranhão, Natal /RN. Fonte: Elaborada pela autora.......................31
Figura 25: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Memorial
Câmara Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora......................................31
Figura 26: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte
Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora........................31
Figura 27: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte
Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora........................31
10
Figura 28: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte
Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora........................32
Figura 29: Autor desconhecido. Boneco de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte
Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora........................32
Figura 30: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte
Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora........................32
Figura 31: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte
Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora........................32
Figura 32: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte
Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora.......................33
Figura 33: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte
Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora........................33
Figura 34: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte
Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora........................33
Figura 35: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte
Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora........................33
Figura 36: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte
Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora........................34
Figura 37: Autor desconhecido. Boneco de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte
Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora........................34
Figura 38: Autor desconhecido. Boneco de pano. Local incerto, 2008. Museu de Arte
Popular Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora........................34
Figura 39: Autor desconhecido. Boneco de pano. Local incerto, 2008. Museu do
Brinquedo Popular - IFRN, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora.........................34
Figura 40: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu do
Brinquedo Popular - IFRN, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora.........................35
11
Figura 41: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu do
Brinquedo Popular - IFRN, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora.........................35
Figura 42: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto, 2008. Museu do
Brinquedo Popular - IFRN, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora.........................35
Figura 43: Autor desconhecido. Boneco de pano. Local incerto, 2008. Museu do
Brinquedo Popular - IFRN, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora.........................35
Figura 44: Francisquinha. Boneco de pano. São Gonçalo do Amarante/RN, 2014.
Quiosque do centro de convivência - UFRN, Natal RN. Fonte: Elaborada pela
autora.........................................................................................................................36
Figura 45: Francisquinha. Boneco de pano. São Gonçalo do Amarante/RN, 2014.
Quiosque do centro de convivência - UFRN, Natal RN. Fonte: Elaborada pela
autora.........................................................................................................................36
Figura 46: Francisquinha. Boneco de pano. São Gonçalo do Amarante/RN, 2014.
Quiosque do centro de convivência - UFRN, Natal RN. Fonte: Elaborada pela
autora....................................................................................................................... ..36
Figura 47: Francisquinha. Boneca de pano. São Gonçalo do Amarante/RN, 2014.
Quiosque do centro de convivência - UFRN, Natal RN. Fonte: Elaborada pela
autora....................................................................................................................... ..36
Figura 48: Francisquinha. Boneca de pano. São Gonçalo do Amarante/RN, 2014.
Quiosque do centro de convivência - UFRN, Natal RN. Fonte: Elaborada pela
autora....................................................................................................................... ..37
Figura 49: Francisquinha. Boneca de pano. São Gonçalo do Amarante/RN, 2014.
Quiosque do centro de convivência - UFRN, Natal RN. Fonte: Elaborada pela
autora....................................................................................................................... ..37
Figura 50: D. Severina. Boneca de pano. Natal/RN, 2013. Acervo particular,
Parnamirim/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................................................37
Figura 51: Conceição. Boneca de pano. São Gonçalo do Amarante/RN, 2014.
Acervo particular, Parnamirim/RN. Fonte: Elaborada pela autora.............................37
12
Figura 52: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto. Casa dos milagres,
Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora....................................................................38
Figura 53: Autor desconhecido. Boneco de pano. Local incerto. Casa dos milagres,
Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora....................................................................38
Figura 54: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto. Casa dos milagres,
Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora....................................................................38
Figura 55: Benedita. Boneco de pano. Macaíba/RN, 2008. Museu de Arte Popular
Djalma Maranhão, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora......................................38
Figura 56: Rita de Cássia. Boneca de pano. Parnamirim/RN, 2014. Acervo particular,
Parnamirim/RN. Fonte: Elaborada pela autora..........................................................39
Figura 57: Autor desconhecido. Boneca de pano. Local incerto. 2008. Museu do
Brinquedo Popular - IFRN, Natal RN. Fonte: Elaborada pela autora.........................39
Figura 58: Maria Augusta. Boneca de pano. Assú/RN, 2014. Museu Câmara
Cascudo, Natal/RN. Fonte: Elaborada pela autora....................................................39
Figura 59: Detalhe da figura 52. Fonte: Elaborada pela autora.................................46
Figura 60: Detalhe de figura 02. Fonte: Elaborada pela autora.................................53
Figura 61: Detalhe de figura 04. Fonte: Elaborada pela autora. ...............................53
Figura 62: Detalhe de figura 14. Fonte: Elaborada pela autora. ...............................53
Figura 63: Detalhe de figura 52. Fonte: Elaborada pela autora. ...............................53
Figura 64: Detalhe de figura 54. Fonte: Elaborada pela autora. ...............................53
Figura 65: Detalhe de figura 55. Fonte: Elaborada pela autora. ...............................53
Figura 66: Detalhe de figura 58. Fonte: Elaborada pela autora. ...............................53
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LISTA DE TABELAS
TABELA 1: Dados gerais das bonecas de pano ...................................................... 40
TABELA 2: Características das bonecas de pano ................................................... 44
TABELA 3: Materiais das bonecas de pano ............................................................. 48
14
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................14
1. ORIGENS DA BONECA DE PANO........................................................................17
2. BONECAS DE PANO NO RIO GRANDE DO NORTE...........................................20
3. OBRAS...................................................................................................................25
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS...................................................................................55
REFERÊNCIAS..........................................................................................................56
ANEXOS....................................................................................................... .............58
15
INTRODUÇÃO
Apesar de existirem muitos elementos na arte popular brasileira, é notável o
destaque de alguns em relação a outros, no cenário acadêmico. No caso da boneca
de pano, por exemplo, é grande a dificuldade de encontrar produção cientifica sobre
o tema, principalmente no campo de estudo das artes.
De fato, os únicos trabalhos que pudemos identificar para o Rio Grande do
Norte – e que se referem às bonecas dentro de um contexto maior, sem se constituir
em estudos específicos sobre o assunto – são os de Araújo (1985), Cascudo (1979)
e Oliveira et al. (2010). A nível nacional e internacional devem ser destacados os
trabalhos de Sousa (2009), que do ponto de vista da psicologia, trata da boneca de
pano como elemento da cultura lúdica brasileira com importante relevância
psicossocial; Amado (2007), que à sombra da pedagogia e da psicologia, aborda o
universo dos brinquedos populares; e Goes e Seligman (2013), que relata e
descreve a trajetória do trabalho artesanal de algumas bonequeiras do Nordeste
brasileiro. Alguns destes autores atribuem apenas uma página de suas obras para
tratar das bonecas de pano e, mesmo assim, as investigam do ponto de vista do
folclore, da antropologia, da psicologia e da pedagogia, geralmente sem fazer uma
análise mais aprofundada e sistemática das bonecas.
Uma atenção maior deve ser dada ao livro Que boneca é essa? de Macao
Goes e Graça Seligman, por se tratar do único estudo que trata especificamente das
bonecas de pano, mais especificamente as bonequeiras e seus modos de vida. Este
livro é fruto de uma pesquisa feita por vários estados do Nordeste brasileiro e
registram, de forma resumida, a trajetória de algumas mulheres que fabricam tais
peças. As autoras fazem um apanhado geral da produção das bonecas de pano,
desde as tradicionais até as modernas, fornecendo diversas informações e
realizando importantes reflexões a respeito do tema.
O estudo da boneca de pano se justifica por ser rica em significados culturais
(lúdicos, religiosos, históricos e míticos), permitindo conexões com a história da
humanidade, e por ser um verdadeiro documento que reflete a cultura brasileira
(SOUSA, 2009).
16
O presente trabalho pretende preencher lacunas referentes ao conhecimento
das bonecas de pano tradicionais no Rio Grande do Norte. Para isso, tentará
responder a perguntas como: quando e de que maneira surgiram as bonecas de
pano tradicionais? Como chegaram ao Rio Grande do Norte? Quem são seus
autores, que relações têm com as bonecas, como trabalham? Como as obras se
apresentam de um ponto de vista funcional, iconográfico e estilístico? Quais são as
diferenças entre as bonecas feitas no passado e nos dias de hoje? O objetivo é
chamar a atenção para a importância dessa categoria no contexto da arte popular e
criar subsídios para sua utilização no âmbito do ensino de Artes Visuais, além de
fornecer um registro iconográfico das bonecas pesquisadas.
Para responder às questões levantadas, devido à raridade das reflexões
sobre a boneca de pano, foi dada uma especial atenção às entrevistas
(semiestruturadas) realizadas com pessoas que produzem e consomem ou já
produziram e/ou consumiram bonecas de pano, na tentativa de conhecer o mais
diretamente possível as condições históricas e os modos de produção e utilização
de tais obras.
Esta pesquisa se baseia, portanto, na construção de um corpus de analise
constituído por bonecas de pano identificadas em diferentes locais da capital do Rio
Grande do Norte, bem como pelas entrevistas acima referidas. O conjunto desse
material compreende um período histórico que vai dos anos 1920 aos dias de hoje.
Na primeira fase da pesquisa (TCC I), foi iniciada a revisão bibliográfica e a
constituição do corpus de analise, através de fotografias tiradas pela autora, assim
como o tratamento das imagens e as primeiras entrevistas. De tal modo, foram
fotografadas e analisadas as obras pertencentes ao acervo do Memorial Câmara
Cascudo (órgão da Fundação José Augusto, do governo estadual do RN), do Museu
de Arte Popular Djalma Maranhão (órgão da Prefeitura do Natal), do Museu Câmara
Cascudo (órgão da Universidade Federal do Rio Grande do Norte), do Museu do
Brinquedo Popular (órgão do Instituto Federal do Rio grande do Norte, localizado no
Campus Cidade Alta), do Museu Casa dos Milagres (órgão do Governo do Estado
do Rio Grande do Norte), bem como bonecas vendidas no Shopping do Artesanato
Potiguar e no quiosque de Raul do Mamulengo (UFRN – Campus Central), ambos
17
em Natal. Também foram pesquisadas bonecas avulsas, fabricadas por criadoras
populares, algumas delas pertencentes à família da autora deste trabalho.
Na segunda fase (TCC II), foi finalizada a revisão bibliográfica, a constituição
do corpus de análise, as entrevistas, a análise das imagens e entrevistas e a criação
das tabelas para, somente aí, chegarmos a um panorama da evolução e das
características visuais das bonecas de pano ao longo do tempo. Os elementos
descritos nas tabelas foram escolhidos pelo fato de chamarem mais atenção quanto
aos aspectos visuais e descritivos das bonecas de pano, sendo assim julgados
relevantes para a análise. Os critérios, tanto para a análise das obras, quanto para
as perguntas das entrevistas, tinham por objetivo achar respostas para os
questionamentos desta investigação.
18
1. ORIGENS DA BONECA DE PANO
Pesquisar sobre a boneca de pano nos conduz a uma investigação desde os
seus primórdios. As bonecas existem desde a Antiguidade. Oliveira (2010) relata
que as primeiras bonecas eram feitas de pedra, osso, madeira e argila, cobertas de
trapos e folhas, sem membros e cabeça. Segundo Sousa (2009), registros desses
objetos em textos gregos e romanos, além de informações de escavações
arqueológicas, mostram que na Antiguidade elas eram usadas em rituais de
fertilidade e casamento, culto a divindades, elogios a guerreiros, podendo ser
enterradas em túmulos, representando guerreiros e divindades. Ainda segundo o
autor, as bonecas gregas eram feitas de terracota, já as romanas eram fabricadas
em osso, madeira e marfim. Seguindo essa linha de pensamento, Amado (2007)
acrescenta que as bonecas são perigosos instrumentos de feitiço usado por bruxos
e curandeiros.
Desde sua origem, as bonecas foram sendo modificadas de acordo com o
surgimento de novas técnicas de produção e devido à crescente manipulação pelas
crianças, tornando-se também um brinquedo. Dessa forma, a madeira, o osso e a
terracota foram dando lugar a tecidos, e as bonecas foram ganhando forma mais
parecida com a humana (SOUSA, 2009). Segundo Goes e Seligman (2013), a
transição das bonecas como ídolos para brinquedo ocorre no Egito, porém, as
autoras não dizem nada a respeito do período egípcio a que se referem.
Sobre as bonecas de pano portuguesas, João Amado (2007), que faz um
breve panorama da história das bonecas artesanais, conta que em Portugal elas
foram importantes em um período da história do país na qual receberam a
denominação de marafonas.
Figura 01
19
A marafona tem como característica a ausência de face, ou seja, não tem
olhos, boca nem nariz. Segundo conta o autor, elas foram usadas para enganar os
invasores do castelo de Monsanto a ponto de eles desistirem da ação:
Quanto às marafonas, reza a lenda que quando os mouros cercaram o castelo de Monsanto, a população refugiada no seu interior, utilizou estas bonecas (sem tosto e escondendo por baixo das saias uma estrutura de pau em cruz de Cristo) para, fingidamente, dar a entender aos sitiantes que, apesar do cerco, se mantinham em boa forma de corpo e de espírito; para tanto, no interior das muralhas, empunhavam e agitavam as bonecas ao alto, dando a impressão de que cantavam e dançavam e se mantinham pouco perturbados com o bloqueio; desse modo os sarracenos resolveram levantar, convencidos que nada faria desistir os sitiados e levar à sua rendição (AMADO, 2007, p. 65).
Desde então, todos os anos, no primeiro domingo de maio, esta história é
relembrada e as marafonas são abençoadas, adquirindo, assim, virtudes contra
maus-olhados.
Quanto à origem das bonecas de pano no Brasil, existem duas hipóteses.
Iaperí Araújo (1985) coloca que elas foram trazidas pelos europeus e aqui faziam
parte das prendas domésticas das noivas, além de serem brinquedos de criança. Já
Sousa (2012) afirma que as bonecas de pano chegaram ao Brasil pelas mãos dos
escravos e aqui foram assumindo novas aparências, tornando-se elemento lúdico
das crianças carentes. Nenhum autor propõe a relação das bonecas de pano
tradicionais com as bonecas produzidas pelos índios, sendo que outros autores já
relataram a existência da boneca na cultura indígena.
Nas tribos indígenas brasileiras, elas representavam ídolos de adoração,
simulando divindades ou simplesmente representando cenas do cotidiano, como
atividades femininas (processamento de mandioca) e masculinas (caça e pesca). As
bonecas eram usadas pelos indígenas como brinquedo também, e como a maioria
dos brinquedos indígenas, estavam relacionados às tarefas que as crianças iriam
exercer depois de adultas, tendo assim função prática e educativa dirigidas a cada
gênero. Essas bonecas, segundo as características de cada tribo, eram feitas de
barro, madeira e pano, servindo, este ultimo, de brinquedo para meninas (RIBEIRO,
1988).
20
Acerca das bonecas de pano, o folclorista Câmara Cascudo as define como
brinquedo de criança com baixo poder aquisitivo e que faz parte da indústria
doméstica, além de ser um documento expressivo da cultura popular:
Boneca de pano, “bruxas”, brinquedo de criança pobre, indústria doméstica precária e tradicional no Brasil, são documentos expressivos da arte popular, indicando preferencias por determinadas cores, feitios de trajes, tipos antropológicos, índices da seleção indumentária da região do fabrico (CASCUDO, 1979, p.137).
Seja como for, o fato é que, uma vez em solo brasileiro, mais especificamente
no Nordeste, as bonecas de pano passaram de prenda ou simples brinquedo de
crianças desprovidas de condições financeiras a artesanato mantenedor de muitas
famílias carentes.
Segundo as mulheres entrevistadas pela presente pesquisa, elas desejavam
as “bonecas de plástico” (industrializadas), porém, não tinham dinheiro para comprar
tais peças. Por isso, passavam a fabricar as bonecas de pano, copiando o mais
fielmente possível as bonecas industrializadas. Iaperí Araújo (1985, p. 68) cita Maria
Noêmia, nascida em 1922, no município de Bom Jesus, Rio Grande do norte, que
começou a fazer bonecas de pano ainda menina para brincar, passando a realizar
esta função para seu sustento.
Goes e Seligman (2013) apresentam outras cinco potiguares que brincaram
com bruxas de pano fabricadas por elas mesmas na infância e que depois da
mocidade voltaram a fabricá-las para aumentar a renda familiar. Amado (2007)
acrescenta que a boneca de pano tem um importante papel, que é contar a história
de um povo, uma vez que representa o imaginário de uma cultura, além da análise
dos seus materiais servirem como indicadores da cultura de um lugar ou de uma
comunidade, informando particularidades de uma região.
Portanto, a boneca de pano, como elemento da cultura popular, corresponde
a um importante documento de indicação socioeconômica, servindo como objeto de
estudo para antropólogos e psicólogos, mas também para historiadores,
historiadores da arte, sociólogos e educadores.
21
2. BONECAS DE PANO NO RIO GRANDE DO NORTE
Brincar de boneca faz parte da história cultural do Rio Grande do Norte,
afirma Oliveira (2010), acrescentando que nesse estado elas eram feitas de sobras
de tecidos das costureiras (retalhos), ossos, pedras, frutas, sabugos de milho, cipós
e buchas imitando menina ou mulher. Araújo (1985) relata que a produção de
bonecas de pano se difundiu por todo o interior potiguar, diferente da renda e do
bico (tipos de artesanato), que ficaram mais forte no litoral.
No Rio Grande do Norte, como em outros estados nordestinos, elas também
integram o teatro de Mamulengo, participando da brincadeira como
bonecas/dançarinas (GURGEL, 1999). Também podem ser utilizadas como ex-votos
deixados por fiéis católicos em santuários populares, representando um corpo inteiro
ou partes de um corpo (cabeça, tronco, pernas, braços, etc.), em agradecimento a
graças alcançadas.
Devido à escassez de referencias bibliográfica, a autora da presente pesquisa
recorreu a entrevistas que permitiram definir características para a produção,
circulação e consumo das bonecas de pano no Rio Grande do Norte, da década de
1920 a de 2010, de acordo com a idade da entrevistada mais velha, nascida em
1924, e das bonecas registradas até o ano de 2014. Ao todo foram feitas sete
entrevistas com as respectivas senhoras:
Severina Honorato Patrício, nascida em 1924, aposentada, nasceu em
Lages/RN e atualmente mora em Natal/RN.
Alice Severina Nascimento de Lima, nascida em 1936, aposentada, natural de
Ceará Mirim/RN e atualmente residente em Parnamirim/RN.
Maria Augusta do Nascimento, nascida em 1944, artesã, natural e moradora
de Assú/RN.
Maria Aparecida da Silva, nascida em 1947, aposentada, nasceu em
Lages/RN e atualmente reside em Parnamirim/RN.
Francisca Neide Dantas, nascida em 1952, pedagoga aposentada, nasceu
em Santa Cruz/RN e hoje mora em Natal/RN.
22
Maria Auxiliadora Silva Dantas, nascida em 1957, dona de casa, natural de
Assú/RN e hoje residente em Natal/RN.
A entrevista da senhora Maria Augusta foi feita pelo Projeto Vernáculo, do
Departamento de Artes da UFRN, que autorizou sua utilização no presente trabalho.
De acordo com as informações colhidas nas entrevistas e na bibliografia
consultada, as pessoas que tiveram algum tipo de contato com bonecas de pano
são do sexo feminino. Isso não exclui, naturalmente, a possibilidade de meninos
terem brincado com bonecas de pano, mas, no âmbito desta pesquisa, não foram
identificados tais casos. O nível de escolaridade das entrevistadas vai do ensino
fundamental ao ensino superior. As mesmas usaram as bonecas de pano como
brinquedo durante a infância em cidades do interior potiguar, a exemplo de D. Alice
e D. Auxiliadora, ex-moradoras de Ceará Mirim/RN e Assú/RN, respectivamente.
Vale ressaltar que atualmente as bonecas são feitas individual ou coletivamente.
Segundo informações colhidas pela autora do trabalho, no Shopping do Artesanato
Potiguar, a produção coletiva de bonecas de pano é o caso do grupo de bonequeiras
que existe em Florânia/RN, grupo este que é apoiado pela prefeitura do município
com o intuito de incentivar a produção de renda da localidade.
Comumente, quando não tinham um familiar que fizesse as bonecas, a
exemplo de D. Aparecida, que usava as bonecas feitas por sua madrinha, e de D.
Neide e D. Maria Augusta, que brincavam com as bonecas feitas por suas
respectivas mães, as meninas faziam suas bonecas com as próprias mãos ou
compravam-nas em alguma feira do município. Este é o caso da senhora Severina,
que brincava com as bonecas de pano que sua mãe comprava na feira. Ela conta
que ainda criança começou a fazer bonecas de pano se baseando nas que a mãe
comprava e vendo outras pessoas fazer. Ela fazia boneca de pano para si própria e
para as demais crianças com quem brincava.
Quanto à brincadeira, ela diz o seguinte:
Eu brincava com Dorinha, minha irmã, e às vezes era que vinha uma vizinha brincar mais a gente (...). A gente ia atrás de retalho, cortava os pedacinhos de pano, enrolava no sabugo e dava um lacinho, que era para brincar no mato. E com as bonecas de pano a gente brincava em casa, que era para não deixar do lado de fora, que aí a
23
gente esquecia lá. A gente fazia a casinha de pedra com quartinho e cozinha, tudo arrumadinho. (Severina Honorato Patrício, 10/01/2014).
De modo geral, as entrevistadas brincavam com as bonecas não como se
elas fossem suas filhas, mas se projetavam nas bonecas ou imaginavam
personagens. Chegavam a dar nomes de parentes e amigos às bonecas de pano ou
criavam nomes variados, como fez D. Auxiliadora, que chamava umas das bonecas
que teve de “Lolita”. Elas faziam aniversários, batizados e até casamentos das
bonecas de pano, como relatou D. Auxiliadora, que tinha bonecos do sexo
masculino para brincar: “(...) juntava as amigas para fazer festa, aniversário das
bonecas e casamentos com os noivos”. O mesmo não acontecia com D. Severina,
pois o brincar com personagens masculinos não era bem visto pelo pai da mesma:
“a gente não tinha nenhum boneco, por que se tivesse o pai dizia que era
„enxerimento‟”. Tal fato aponta para o machismo presente na sociedade da época da
infância de D. Severina, e que pode ser identificado até hoje.
A expressão “boneca de pano” – cuja referência mais antiga, na bibliografia
que consultamos, é a de Câmara Cascudo (publicado pela primeira vez em 1954) –
se refere justamente ao material nela usado, o “pano” (GOES, 2013). Nas
entrevistas, quando perguntamos sobre a origem do nome “bruxas de pano”, quatro
das entrevistadas (D. Severina Honorato, D. Maria Aparecida, D. Francisca Neide e
D. Maria Auxiliadora), disseram achar que tinha a ver com a aparência de algumas
bonecas que eram mal feitas e mal conservadas. Disseram também que tinha a ver
com o fato de algumas serem usadas em rituais de bruxaria, mas acrescentaram
que nunca presenciaram tal utilização. Não pudemos, portanto, saber quando
começou a ser usado este termo, hoje em dia bastante corrente. D. Aparecida diz o
seguinte: “quando tinha umas bonecas feias, com o cabelo arrepiado, as pessoas
chamavam de bruxa” e D. Alice acrescenta: “... antigamente não chamava de bruxa,
isso é atual”. Logo, ao que parece, elas permaneceram denominadas como boneca
de pano, com exceção de algumas bonecas que eram mal feitas, em relação à
fabricação (costura) e à aparência das peças ou porque eram usadas em rituais de
bruxaria, como afirmou D. Francisca Neide, que tem um cliente que vai à sua loja
para comprar as bonecas de pano tradicionais para fazer trabalhos.
Só três das seis entrevistadas, D. Severina, D. Maria Augusta e D. Alice,
fazem bonecas de pano atualmente. D. Alice, aos 78 anos de idade, faz parte de um
24
grupo de idosos do bairro em que mora, no município de Parnamirim/RN, onde, com
outras idosas, fazem bonecas de pano como passatempo. Estas bonecas não são
como as bonecas de pano tradicionais – são como aquelas que se ensina a fazer
em revistas de artesanato, lembram as bonecas bebê industriais só que feitas e
pano - e são vendidas em outros municípios. Já D. Neide vende em sua loja do
Shopping do artesanato potiguar as bonecas produzidas em vários municípios do
Estado, como Florânia, por exemplo. Ela relata que as crianças não brincam mais
com esse tipo de boneca, e se brincam é muito raro. Afirma que quem compra as
bruxinhas são as mulheres adultas, para guardar como lembrança, pois já brincaram
um dia com elas. Ainda sobre o desinteresse pelas bonecas de pano por parte das
crianças, D. Neide diz o seguinte:
As crianças hoje não querem mais as bonecas de pano. Quando eu vendo alguma boneca, são para adultos que têm filhos pequenos ou que um dia já brincaram de boneca de pano. Quem não brincou com elas não as valorizam. Então eu tenho medo que isso faça perder o sentindo do brinquedo. (Francisca Neide Dantas, 10/01/2014).
Como maneira de alargar a análise, é interessante comparar os relatos das
entrevistas realizadas no âmbito da presente pesquisa com as reflexões publicadas
no livro Que boneca é essa?, de Macao Goes e Graça Seligman (2013),
especialmente sobre cinco bonequeiras do Rio Grande do Norte.
Segundo as autoras desse livro, Benedita Jerônimo Campelo, uma senhora
nascida em 1945, vive em Macaíba (à data da publicação do livro) e tira seu
sustento da venda de suas bonecas de pano, seja por encomenda eu venda direta.
Ela é autora, por exemplo, de uma boneca de pano gigante (fig. 55). As autoras
também falam das irmãs Maria Soares (1954), Maria José (1959) e Rita de Cássia
(1967), que vivem em Santa Cruz do Inharé e sustentam a família a partir da venda
das bruxas e de ex-votos para os próprios moradores do município. As três irmãs
produzem o ano inteiro com a ajuda das filhas e sobrinhas (coletivamente). Foi com
estas últimas bonequeiras que Goes e Seligman encontraram, pela primeira vez em
suas pesquisas de campo, jovens participando da fabricação de tais artefatos. As
jovens tinham entre 17 e 22 anos de idade.
25
Este é um fato curioso. Por que as jovens do século XXI vêm cada vez mais
perdendo o interesse na fabricação das bonecas de pano? E por que essas citadas
por Goes e Seligman ainda as fazem? Talvez a agitação da vida moderna e urbana
tenha levado essas jovens a se interessarem por outros objetos, não lhes chamando
tanto a atenção para a boneca de pano, como ocorreu anteriormente com suas
mães e avós. Porém, atualmente, ainda existem aquelas que, nascidas e crescidas
no contexto de fabricação de bonecas de pano, as confecciona para brincar e/ou
contribuir na renda familiar.
Enfim, sobre a última bonequeira potiguar citada no livro de Goes e Seligman,
a senhora Isabel Antonia de Araújo (1926), é destacado a produção de bonecas de
pano tradicionais não como fonte de sustento familiar, mas sim como um
passatempo de uma mulher que aprendeu, ainda criança, a fazer as bonecas de
pano. Segundo as autoras, as peças são bem feitas e bem caprichadas.
26
3. OBRAS
Para o estudo das obras foi constituído um corpus de análise composto por
bonecas de pano encontradas em museus e pontos de venda na capital do Estado,
além do acervo pessoal da autora. Tal atividade rendeu 57 (cinquenta e sete)
exemplares com funções, autores, datas, tipos e formas diferentes. Para facilitar a
análise, todas as obras foram fotografadas e inventariadas, as informações obtidas a
partir das bonecas foram organizadas em tabelas e, depois, procurou-se associar
essas informações às entrevistas feitas com as bonequeiras. Tudo isso ajuda a criar
um panorama de relações entre as peças, permitindo assim chegar a conclusões
relatadas no decorrer do trabalho.
Figura 02 Figura 03
27
Figura 04 Figura 05
Figura 06 Figura 07
28
Figura 08 Figura 09
Figura 10 Figura 11
29
Figura 12 Figura 13
Figura 14 Figura 15
30
Figura 16 Figura 17
Figura 18 Figura 19
31
Figura 20 Figura 21
Figura 22 Figura 23
32
Figura 24 Figura 25
Figura 26 Figura 27
33
Figura 28 Figura 29
Figura 30 Figura 31
34
Figura 32 Figura 33
Figura 34 Figura 35
35
Figura 36 Figura 37
Figura 38 Figura 39
36
Figura 40 Figura 41
Figura 42 Figura 43
37
Figura 44 Figura 45
Figura 46 Figura 47
38
Figura 48 Figura 49
Figura 50 Figura 51
39
Figura 52 Figura 53
Figura 54 Figura 55
40
Figura 56 Figura 57
Figura 58
41
A tabela a seguir ajuda a visualizar os dados gerais do conjunto de bonecas
como autor, local de produção e acervo em que se encontram. Os tópicos da mesma
foram escolhidos a fim de mostrar os dados de cada peça sem distinção. Com os
tópicos “período de criação” e “origem”, por exemplo, busca-se identificar variação
das peças de acordo com o tempo, desde as peças mais antigas às mais recentes, e
de acordo com o local, respectivamente.
TABELA 1
BONECAS DE PANO – DADOS GERAIS
BONECAS DE PANO
FUNÇÃO AUTOR PERÍODO DE CRIAÇÃO
ORIGEM ACERVO
Figura 02 boneca desconhecido 2013 João Câmara/RN Museus Câmara Cascudo
Figura 03 boneca desconhecido 2013 João Câmara/RN Museus Câmara Cascudo
Figura 04 boneca desconhecido 2013 João Câmara/RN Museus Câmara Cascudo
Figura 05 boneca desconhecido 2013 João Câmara/RN Museus Câmara Cascudo
Figura 06 ex-voto desconhecido + de 10 anos Serra Caiada/RN Museus Câmara Cascudo
Figura 07 boneca desconhecido + de 10 anos desconhecido Museus Câmara Cascudo
Figura 08 boneca desconhecido + de 10 anos desconhecido Museus Câmara Cascudo
Figura 09 boneca desconhecido + de 10 anos desconhecido Museus Câmara Cascudo
Figura 10 boneca desconhecido + de 10 anos desconhecido Museus Câmara Cascudo
Figura 11 boneca desconhecido + de 10 anos desconhecido Museus Câmara Cascudo
Figura 12 boneca desconhecido + de 10 anos desconhecido Museus Câmara Cascudo
Figura 13 boneca desconhecido + de 10 anos desconhecido Museus Câmara Cascudo
Figura 14 boneca desconhecido + de 10 anos desconhecido Museus Câmara Cascudo
Figura 15 boneca desconhecido + de 10 anos desconhecido Museus Câmara Cascudo
Figura 16 boneca desconhecido + de 10 anos desconhecido Museus Câmara Cascudo
Figura 17 boneca desconhecido + de 10 anos desconhecido Museus Câmara Cascudo
Figura 18 boneca desconhecido + de 10 anos desconhecido Museus Câmara Cascudo
Figura 19 boneca Ozelita e Inês 2012 Major Sales/RN Museus Câmara Cascudo
Figura 20 boneca Ozelita e Inês 2012 Major Sales/RN Museus Câmara Cascudo
Figura 21 boneca desconhecido 2013 Florânia/RN Shopping do artesanato potiguar
Figura 22 boneca desconhecido 2013 Florânia/RN Shopping do artesanato potiguar
Figura 23 boneca desconhecido 2013 Florânia/RN Shopping do artesanato potiguar
42
BONECAS DE PANO
FUNÇÃO AUTOR PERÍODO DE CRIAÇÃO
ORIGEM ACERVO
Figura 24 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.
Figura 25 boneca desconhecido 2008 Natal/RN Memorial Câmara Cascudo
Figura 26 ex-voto desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.
Figura 27 ex-voto desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.
Figura 28 ex-voto desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.
Figura 29 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.
Figura 30 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.
Figura 31 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.
Figura 32 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.
Figura 33 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.
Figura 34 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.
Figura 35 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.
Figura 36 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.
Figura 37 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.
Figura 38 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.
Figura 39 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu do brinquedo popular
Figura 40 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu do brinquedo popular
Figura 41 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu do brinquedo popular
Figura 42 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu do brinquedo popular
Figura 43 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu do brinquedo popular
Figura 44 boneca Francisquinha 2014 São Gonçalo do Amarante/RN
Quiosque Raul do
Mamulengo
Figura 45 boneca Francisquinha 2014 São Gonçalo do Amarante/RN
Quiosque Raul do
Mamulengo
Figura 46 boneca Francisquinha 2014 São Gonçalo do Amarante/RN
Quiosque Raul do
Mamulengo
Figura 47 boneca Francisquinha 2014 São Gonçalo do Amarante/RN
Quiosque Raul do
Mamulengo
Figura 48 boneca Francisquinha 2014 São Gonçalo do Amarante/RN
Quiosque Raul do
Mamulengo
Figura 49 boneca Francisquinha 2014 São Gonçalo do Amarante/RN
Quiosque Raul do
Mamulengo
Figura 50 boneca Severina 2014 Natal/RN Particular
Figura 51 boneca Conceição 2014 São Gonçalo do Amarante/RN
Particular
Figura 52 ex-voto desconhecido Dec. 80 desconhecido Casa dos milagres
43
Figura 53 ex-voto desconhecido Dec. 80 desconhecido Casa dos milagres
Figura 54 ex-voto desconhecido Dec. 80 desconhecido Casa dos milagres
Figura 55 boneco desconhecido 2008 desconhecido Museu de arte popular D. M.
Figura 56 boneca chaveiro
Rita de Cássia
2014 Parnamirim/RN Particular
Figura 57 boneca desconhecido 2008 desconhecido Museu do brinquedo popular
Figura 58 boneca Maria
Augusta 2014 Assú/RN Museu Câmara
Cascudo
Como mostra os dados da tabela 1, as informações sobre autor, local e data
de quando foram produzidas as bonecas de pano são basicamente das peças mais
recentes. Sobre as bonecas mais antigas, os museus onde elas se encontram pouco
ou nada indicam a respeito.
Jailma Medeiros dos Santos, responsável pela reserva técnica do Museu
Câmara Cascudo, localizado no bairro do Tirol, em Natal, disse que pode garantir
apenas que as bonecas de pano estão lá há no mínimo dez anos, pois exatamente
há dez anos ela começou a trabalhar no museu e as bonecas já estavam lá, além de
apresentar um material bastante deteriorado. As bonecas de pano do Museu Casa
dos Milagres, localizado no Centro de Turismo de Natal, no bairro de Petrópolis,
também não apresentam local de origem nem autoria, sabendo-se apenas que elas
são bem antigas e que foram coletadas em santuários e igrejas de Florânia/RN (fig.
52 e fig.53) e Santa Cruz/RN (fig. 54) por volta dos anos 80 do século XX, onde
foram deixadas como ex-votos. Além dessas bonecas, o Museu Casa dos Milagres
apresenta diversos outros tipos de ex-votos que foram colecionados ao longo de
décadas, pelo marchand e ex-professor da UFRN Antônio Marques de Carvalho
Júnior.
No caso do Museu do Brinquedo Popular, localizado no bairro da Cidade Alta,
a data de origem das bonecas de pano é atribuída à data de fundação do museu,
2008. Mesmo que o museu seja resultado de uma pesquisa, seus fundadores não
têm registros de onde foram coletadas as bonecas de pano. Este é o mesmo caso
do Museu de Arte Popular Djalma Maranhão, localizado no bairro da Ribeira, que
atribui a data de origem das bonecas de pano ao seu ano de fundação, também em
2008.
44
A boneca do acervo do Memorial Câmara Cascudo, segundo Daliana
Cascudo, neta de Câmara Cascudo e administradora do espaço, foi adquirida na
feira do Alecrim no ano de 2008, para integrar o acervo permanente de arte popular.
Como se pode ver, infelizmente não se trata de casos pontuais: a falta de
referências sobre as bonecas de pano aconteceu em quase todos os
estabelecimentos pesquisados. É como se não houvesse uma preocupação em
registrar, guardar a história de tais peças. Talvez tenha havido dificuldade na coleta
de dados durante a aquisição da boneca de pano tradicional, uma vez que as
bonequeiras não assinam nem datam suas peças. E também por que muitas
bonequeiras não comercializam suas peças diretamente: para tal atividade, elas
contam com a ação das “atravessadeiras”, como são chamadas as pessoas que
revendem essas bonecas de pano. Ou ainda, por falta de interesse mesmo, visto
que a arte popular no Rio Grande do Norte não é tão valorizada.
Seja como for, essa situação representa um grande obstáculo para se tentar
fazer relações entre as bonecas de pano, seus autores, seus locais de origem e
suas datas de criação, bem como para confrontar e atravessar esses dados. Na
verdade, para se estudar as bonecas de pano, é imprescindível retirar informações
das próprias peças, a partir de uma análise cuidadosa de seus materiais e da
maneira como elas se apresentam, tanto em termos de tema, quanto de estilo. E
esse é um procedimento que o pesquisador em artes visuais está especialmente
preparado para fazer.
Na tabela a seguir, foram escolhidos como tópicos para a construção da
mesma as características mais evidentes e relevantes para uma comparação entre
as peças na busca por um padrão ou não entre as mesmas, tentando relacionar
material, gênero, cor, etc.
45
TABELA 2
1 Feminino 2 Masculino 3 Claro 4 Escuro
BONECAS DE PANO – CARACTERÍSTICAS
BONECAS DE PANO
ALTURA
(em cm.)
GÊNERO
COR
(PELE)
CABELO
PERSONAGEM
ROUPA COLORIDA
ARTICULADA
ADORNO
F1 M
2 C
3 E
4 C E SIM NÃO SIM NÃO SIM NÃO
Figura 02 27 x x x Mulher x x x
Figura 03 28 x x x Mulher x x x
Figura 04 28 x x x Homem x x x
Figura 05 25 x x Freira x x x
Figura 06 13 x x x Mulher x x x
Figura 07 16 x x x x Mulher x x x
Figura 08 15,5 x x x Mulher x x x
Figura 09 15 x x x Mulher x x x
Figura 10 16 x x x Mulher x x x
Figura 11 17 x x x x Mulher x x x
Figura 12 18,5 x x Mulher x x x
Figura 13 23 x x x Mulher x x x
Figura 14 29 x x x Mulher x x x
Figura 15 28 x x x Mulher grávida
x x x
Figura 16 31 x x x Mulher x x x
Figura 17 28 x x x x Mulher x x x
Figura 18 33 x x x x Mulher x x x
Figura 19 9,5 x x x Mulher x x x
Figura 20 19 x x x Mulher x x x
Figura 21 20 x x x Mulher x x x
Figura 22 18 x x x Mulher x x x
Figura 23 20 x x x x Casal x x x
Figura 24 18 x x x x Mulher x x x
Figura 25 20 x x x x Mulher x x x
Figura 26 23 x x x Mulher x x x
Figura 27 28 x x x Mulher x x x
Figura 28 22 x x x Mulher x x x
Figura 29 22 x x x Lampião x x x
Figura 30 18 x x x Mulher x x x
Figura 31 15 x x x Mulher x x x
Figura 32 18 x x x Mulher x x x
Figura 33 20 x x x x x Emília x x x
Figura 34 27 x x x Mulher x x x
46
Como podemos observar na tabela 2, todas as bonecas de pano representam
um personagem, desde mulheres (mais comum) à freira, cangaceiro, boneca Emília
e noiva (fig. 05, fig. 29, fig. 33 e fig. 54 respectivamente); um exemplar apenas
representa mais de um personagem, no caso, um pai com uma filha nos braços (fig.
43). Outro detalhe é que quase todas – se não todas (menos a masculina) – as
bonecas têm um cinto (tira de tecido) marcando a cintura (geralmente de cor
diferente). Isso parece ser um elemento importante para o desenho do corpo da
boneca feminina, uma vez que a presença de cintura é um elemento estético
característico nas mulheres e tais bonecas são feitas baseadas nas feições
humanas.
A existência de uma grande quantidade de personagens do gênero feminino
se explica pelo fato de as bonecas serem mais utilizadas pelas meninas, quando
BONECAS DE PANO
ALTURA (em cm.)
GÊNERO COR
(PELE) CABELO
PERSONGEM
ROUPA COLORIDA
ARTICULADA ADORNO
F M C E C E SIM NÂO SIM NÃO SIM NÃO
Figura 35 18 x x x Mulher x x x
Figura 36 18 x x Mulher x x x
Figura 37 16 x x x Homem x x
Figura 38 18 x x x x Homem x x x
Figura 39 22 x x x x Homem x x x
Figura 40 18 x x x Mulher x x x
Figura 41 15 x x x Mulher x x x
Figura 42 15 x x x Mulher x x x
Figura 43 20 x x x Homem e filha
x x x
Figura 44 25 x x x Homem x x x
Figura 45 14 x x x Homem x x x
Figura 46 28 x x x Homem x x x
Figura 47 22 x x x Mulher x x x
Figura 48 28 x x x Mulher x x x
Figura 49 25 x x x Mulher x x x
Figura 50 17 x x x Mulher x x x
Figura 51 25 x x x Mulher x x x
Figura 52 24 x x x Mulher x x x
Figura 53 24 x x x Homem x x x
Figura 54 25 x x x Noiva x x x
Figura 55 1,30 x x Lampião x x x
Figura 56 10 x x x Mulher x x x
Figura 57 25 x x x Mulher x x x
Figura 58 18 x x x Mulher x x x
47
brincam, imitando afazeres domésticos e situações diversas, sem excluir a
existência de utilização de bonecos masculinos, como já foi apontado anteriormente.
Quanto às outras variações de personagens, como freira, cangaceiro, pai com filha,
boneca Emília e noivas, acredita-se que tem a ver com a tentativa de tornar o
produto diferente, mais atrativo aos olhos do consumidor. Vale salientar que as
bonecas de pano encontradas em museus e instituições podem representar peças
feitas especialmente para serem vendidas, não apenas para servirem de brinquedo
e vice versa. Isso é importante, pois pode acarretar características diferentes nas
peças, em função da necessidade de diversificação do produto para aumento das
vendas.
Sobre esse assunto, Brougère (2010) explica que a boneca, assim como
muitos objetos ocidentais, é fruto da ruptura com o sistema de produção artesanal a
partir da industrialização, ocorrendo assim o alargamento das relações entre
produtores e consumidores. Essas rupturas sempre produzem intensas mutações,
como o surgimento de novas técnicas e novas formas de distribuição. A essas
mutações, que se estende até as formas de promoção, publicidade e criatividade do
produto, ele deu o nome de “racionalização”. Isso explica a variedade de
personagens, materiais e adornos (pulseiras, laços, sapatinhos e bolsinhas)
empregados nas bonecas de pano tradicionais.
No caso das bonecas de pano usadas como ex-votos, apresentam
características das graças pedidas e alcançadas pelos fieis: em uma (fig. 27),
podemos observar um coração costurado ao peito da boneca de pano, mostrando
que a graça tinha a ver com esse órgão do corpo humano; já em outra (fig. 51),
notamos que o cabelo é natural, provavelmente da pessoa que fez o voto, e no peito
da boneca tem uma marca que parece uma cicatriz (fig. 59), provavelmente
representando a marca de uma cirurgia cardíaca.
Figura 59
48
A cor da pele (clara), o cabelo (escuro) e a roupa colorida das bonecas de
pano é grande maioria, como podemos observar na tabela 2. Isso está relacionado
muito provavelmente ao material disponível para fabricação das bonecas, pois, no
que diz respeito às escolhas por tipos de bonecas de pano loira ou morena, as
entrevistas mostram que não havia preferência, o que havia era o material disponível
e às vezes imitação da aparência de pessoas próximas: “... a boneca negra sempre
existiu. Às vezes as bonecas se assemelhavam a algum morador. Faziam as
bonecas inspiradas nas pessoas.” (Francisca Neide Dantas, 10/01/2014).
Em outro relato, D. Neide afirma: “uma boneca com carinha delicada [tecido
representando pele clara e feições bem costuradas] era de uma pessoa branca”.
Essa afirmação parece revelar um certo preconceito, segundo o qual pessoas de
pele clara têm feições delicadas, enquanto pessoas de pele negra têm traços
grosseiros. Esta discriminação talvez não tenha sido a intenção da entrevistada,
porém, manifesta uma atitude que está entranhada na nossa sociedade e que por
muitas vezes a expressamos sem nos darmos conta.
Quanto ao fato de quase todas as bonecas apresentarem roupinhas muito
coloridas, com tecidos de estampas diversas (representando vegetais, linhas,
manchas), isso se explica por elas serem feitas com sobras de tecidos descartadas
pelas costureiras, resultando assim na utilização de vários pedaços diferentes para
montar a vestimenta inteira da boneca. Caso houvesse um tecido de comprimento
maior, a boneca de pano ganharia, possivelmente, uma roupa com uma só estampa,
sem tanta diversidade de cores. Entretanto, o aspecto colorido e a variedade de
estampas pode agregar valor às bonecas, tornando-as mais chamativas e alegres.
Em todo caso, parece não haver uma preocupação em combinar cores e estampas,
nem em relação às vestimentas de personagens femininos, nem masculinos, as
combinações parecem refletir escolhas feitas aleatoriamente, em função do material
disponível.
O tamanho e a cor das bonecas são outros fatores que dependem do material
disponível. Mas não é somente desta disponibilidade que depende o tamanho e a
cor das bonecas, é o caso das bonecas de pano que são feitas por encomenda, do
tamanho e na cor que os clientes solicitam. Porém, não se deve excluir a
49
possibilidade de haver combinações feitas de acordo com o gosto pessoal das
bonequeiras, de acordo com suas particularidades.
Os critérios para a criação dos tópicos da tabela a seguir estão ligados aos
materiais encontrados nas bonecas de pano tradicionais, e foram assim expostos
para uma melhor visualização de tais características.
TABELA 3
BONECAS DE PANO – MATERIAIS
BONECAS DE PANO
CORPO CABELO ROSTO
ALGODÃO CETIM MALHA TECIDO LINHA SINTÉTICO
TECIDO DESFIADO
PINTADO BORDADO
Figura 02 X X X Figura 03 X X X X Figura 04 X X X X X Figura 05 X X X Figura 06 X X X Figura 07 X X X Figura 08 X X X X Figura 09 X X X Figura 10 X X X X Figura 11 X X X X Figura 12 X X X X X Figura 13 X X X Figura 14 X X X X Figura 15 X X X X Figura 16 X X X Figura 17 X X X X Figura 18 X X X X Figura 19 X X X Figura 20 X X X X Figura 21 X X X X Figura 22 X X X X X Figura 23 X X X Figura 24 X X X X Figura 25 X X X X Figura 26 X X X X Figura 27 X X X Figura 28 X X X X Figura 29 X X X Figura 30 X X X X X Figura 31 X X X X Figura 32 X X X X Figura 33 X X X X Figura 34 X X X X
50
BONECAS
DE PANO
CORPO CABELO ROSTO
ALGODÃO CETIM MALHA TECIDO LINHA SINTÉTICO TECIDO
DESFIADO PINTADO BORDADO
Figura 35 X X X X Figura 36 X X Figura 37 X X X Figura 38 X X X Figura 39 X X X Figura 40 X X X X X Figura 41 X X X Figura 42 X X X X Figura 43 X X X X X X Figura 44 X X X X Figura 45 X X X X Figura 46 X X X Figura 47 X X X X X Figura 48 X X X X Figura 49 X X X X X Figura 50 X X X X Figura 51 X X X X Figura 52 X X Figura 53 X X X Figura 54 X X X X Figura 55 X X X Figura 56 X X X Figura 57 X X X Figura 58 X X X X
Como mostra esta última tabela, a maioria das bonecas de pano,
principalmente as aparentemente mais antigas (como as do Museu Câmara
Cascudo), são feitas de tecido de algodão, enquanto as mais atuais apresentam
maior variação de tipos de tecido, como o cetim e a malha, devido ao aumento do
poder aquisitivo e da diversidade de tecidos disponíveis no mercado, a partir das
últimas décadas. Nas entrevistas, quando foram perguntados os tipos de materiais
usados na fabricação das bonecas de pano antigamente, a maioria das
entrevistadas respondia que as bonecas eram feitas de morim, por ser barato e
comum seu uso pelas costureiras. Como explica D. Auxiliadora “morim, é um tipo de
tecido branco”, muito usado para forros de roupas.
Quanto ao enchimento das bonecas, não podemos generalizar a informação,
pois, muitas vezes, durante a pesquisa, não pudemos manusear as bonecas, devido
algumas delas estarem em locais de difícil acesso (penduradas no alto de uma
parede, como no caso do Museu do Brinquedo Popular (fig. 57), ou exposto em
51
locais fechados, como no caso do Memorial Câmara Cascudo). Por outro lado, não
encontramos informações escritas sobre o assunto. Porém, segundo as
entrevistadas, as bonecas de pano que elas tiveram e/ou com que brincaram eram
cheias com tecido picotado ou com espuma sintética, sendo este ultimo material
muito raro nas bonecas de pano da época de infância das entrevistadas, pois elas
não costumavam comprar materiais para fabricar as bonecas, apenas aproveitavam
os restos de tecidos usados pelas costureiras.
Ainda segundo as entrevistadas, as bonecas de pano, desde a época de sua
infância, eram fabricadas manualmente, costuradas milímetro a milímetro com linha
e agulha de mão. Hoje, as bonequeiras ainda costuram as bonecas de pano à mão,
mas também podem contar com o auxílio das máquinas de costura na preparação
de algumas partes do corpo (tronco e membros) e das vestimentas, partes que não
necessitam de detalhes minuciosos. Isso gera certa diferença entre as bonecas
feitas totalmente a mão e as que têm alguma parte feita com o auxilio de maquinas,
pois, estas últimas perdem um pouco da forma característica da boneca de pano
tradicional e acaba se aproximando daquelas bonecas de pano que se ensina a
fazer em revistas de artesanato. Porem, não se pode negar que a confecção dessas
bonecas ficou mais fácil e ágil com essa tecnologia, a máquina de costura.
Goes e Seligman também descrevem brevemente dois processos de
produção das bonecas, por bonequeiras do Rio Grande do Norte. O primeiro se
inicia pela costura do corpo ou de partes dele, para depois preenchê-lo com espuma
eu retalhos bem picotados. Já o outro é considerado bem diferente em relação ao
modo de preencher o corpo das bonecas;
Para a montagem do corpo, é usada uma espuma de quatro centímetros de espessura, cortada em forma de retângulo, com um corte no meio, para dar o formato das pernas. Recoberto com morim branco e costurado a mão, bem apertado, em poucos minutos o corpo da bruxinha está pronto. (...) costuram os vestidos a mão, com bom acabamento – olhos e bocas das bonecas são sempre bordados. O cabelo é feito só de tecido, quando curto, ou em malha, para longas tranças, com um laço de tecido de cor vibrante (GOES e SELIGMAN, 2013, p.145).
Podemos notar, portanto, que a produção da boneca de pano foi sendo
aperfeiçoada com o passar do tempo, graças às novas possibilidades financeiras
52
para se incrementar a produção: antes, enrolava-se resto de tecido no sabugo de
milho para brincar, enquanto hoje compra-se espuma para encher o corpo da
boneca modelado com tecido.
Mesmo que a boneca de pano esteja sendo pouco usada para brincar, como
conta D. Neide, elas ainda estão vivas como símbolos do passado, a exemplo das
mulheres que as compram para guardar como lembrança da infância. O
aperfeiçoamento da boneca de pano também pode estar ligado a outras
ressignificações da mesma, como nos conta Goes e Seligman:
A permanência e vitalidade dessa boneca talvez estejam na ressignificação da bruxinha de pano, transformadas de brinquedo a produto decorativo e, assim, utilizadas por decoradores, colecionadores e designers (GOES e SELIGMAN, 2013, p.17).
Como exemplo dessa ressignificação, podemos citar a boneca de pano feita
pela D. Rita de Cássia (fig. 56) para servir de chaveiro. Goes e Siligman (2013)
também citam a poltrona Multidão, criada pelos irmãos Campana, que reúne várias
unidades de bonecas de pano tradicionais na decoração. Porém, há quem se
preocupe com tanta modernização e com as adequações dos produtos artesanais
ao publico, como Berta G. Ribeiro, por exemplo, que diz:
A perda de relações com o seu meio, suas referencias culturais e o engajamento em cultura exótica sem conscientização e integração assimilada tem como gravíssima consequência a perda de identidade de sua cultura autêntica (RIBEIRO, 1983, p. 167).
Na face de quase todas as bonecas aqui pesquisadas, observamos olhos,
nariz, boca, bigode (no caso dos bonecos) e sobrancelhas costurados com linha. É
como se fosse uma característica fundamental das bruxas de pano. O que muda, às
vezes, é a cor da linha usada para costurar um olho azul, por exemplo. No caso das
bonecas negras, muda-se a cor da linha para contrastar com o tom do tecido usado
para a pele da boneca. De acordo com a tabela 3, as bonecas com as faces
pintadas são mais comuns nas bonecas de pano atuais, e mesmo assim é minoria.
Na grande maioria das bonecas tradicionais, os detalhes do rosto são desenhados
53
não com lápis, caneta ou pincel, mas sim com linha, literalmente. Elas constroem o
desenho com linha de costura e este parece ser uma característica da boneca de
pano tradicional.
Sobre os elementos da composição visual, que constituem a estrutura de toda
informação que captamos com os olhos, Dondis (2007) coloca que a linha é o
elementos essencial do desenho e que ela sozinha não representa outra coisa se
não ela mesma, mas que assume formas diversas de expressar uma variedade de
estados de espirito, refletindo a intenção do artista, seus sentimentos, emoções e,
acima de tudo, sua maneira de ver.
Num primeiro momento, acreditávamos que a riqueza de detalhes
empregados na boneca de pano tradicional tinha a ver com a modernização. Porém,
as bonecas que aparentam ser mais antigas, devido ao desgaste do próprio
material, eram feitas com bastante capricho, no detalhe dos narizes em relevo e
sobrancelhas, por exemplo. É como se a quantidade de detalhes, seja na roupa da
boneca ou no rosto, tornasse-a mais bela aos olhos de algumas criadoras, as
bonequeiras, na medida em que se tornavam mais parecidas com a forma humana.
A maioria das bonecas não tem mãos nem pés. O que aparece, às vezes, é
um tecido enrolado nos pés que lembra sapatinhos. Tais ausências ocorrem em
quase todas as bonecas deste trabalho. Duas bonecas de pano tradicionais do
acervo do Museu Câmara Cascudo são articuladas (fig. 16 e fig. 18) – apresentam
pernas que se movem para frente e para trás – porém, não se sabe nada de sua
origem e fabricação, como já foi dito. Fato curioso é que existe uma boneca de pano
com as mesmas características no Museu do Brinquedo Popular (fig. 57) e, mais
uma vez, não há informações sobre a mesma. Ao tentar relacionar as bonecas do
primeiro museu (fig. 16 e fig. 18), que são muito parecidas e talvez tenham a mesma
origem, com a do segundo museu (fig. 57), foi verificado que as três possuem em
comum as pernas feitas com tecido estampado listrado e que os detalhes dos rostos
são feitos da mesma maneira: boca representada por uma linha vermelha e reta na
posição horizontal, olho e sobrancelhas também representadas por linhas escuras
na posição horizontal e todas sem nariz. Sem falar que todas as três tem
vestimentas coloridas e as bonecas da fig. 18 e fig. 57 tem o cabelo de tecido
desfiado em tons de amarelo.
54
Mesmo ao supor que um grupo de bonequeiras tenha feito as bonecas de
pano com pernas articuladas e acrescentando-lhes roupas de acordo com o seu
gosto pessoal - Isto é, levando em consideração que, as bonequeiras procuram
manter um padrão de feitura das bonecas de pano tradicionais, ainda que outras
pessoas participem do processo de fabricação - ou que uma única pessoa tenha
produzindo-as, não se pode inferir que estas peças foram feitas de tais maneiras.
Muitas bonecas de pano apresentam adornos na cabeça, nas orelhas ou nos
braços (a maioria dos braços não tem mãos) e isso mostra o quanto essas bonecas
são feitas baseadas em características humanas. Talvez essa seja apenas uma
maneira de ornamentar a peça, de torná-la mais chamativa. Em relação à imitação
de um corpo humano, algumas bonecas apresentam detalhes que nos saltam aos
olhos. É o caso das bonecas que possuem mãos um tanto realistas. Algumas são
bem estilizadas, a exemplo das bonecas de pano tradicionais feitas na Comunidade
do Amarelão, em Ceará Mirim (fig. 60 e fig. 61), que possuem quatro e três dedos
em cada mão respectivamente. Já outras bonecas que pertencem ao Museu
Câmara Cascudo (fig. 62 e fig. 66) e ao Museu de Arte Popular (fig. 65), assim como
ex-votos que agora pertencem à Casa dos Milagres (fig. 63 e fig. 64), apresentam
cinco dedos em cada mão.
Figura 60 Figura 61 Figura 62 Figura 63
Figura 64 Figura 65 Figura 66
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Com exceção de uma boneca (fig. 13), de que não se sabe a origem, a
boneca (fig. 58) foi feita em Assú, a outra (fig. 55) foi confeccionada em Macaíba e
as bonecas representadas nas fig. 52 e fig. 54 respectivamente, foram
provavelmente fabricadas em Florânia, pois, uma vez usada como ex-votos, é
possível que tenham sido feitas e consumidas na mesma cidade. Logo, constata-se
que, em várias regiões foram feitas bonecas com essa mesma característica, não
cabendo atribuir tal especificidade a uma só autora ou afirmar que esta seja
exclusiva de uma localidade, pois existem bonecas em outros estados do nordeste
com esta mesma peculiaridade, como mostra o estudo de Goes e Seligman (2013).
Sem falar também que estes dedos são feitos de acordo com a vontade das autoras.
Algumas delas, como dona Isabel Antônia, já não fazem mais os dedinhos das mãos
por falta de paciência para realizar tal atividade.
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
A partir do tema exposto neste trabalho, percorremos uma serie de etapas
analisando-o a fim de compreender melhor o universo das bonecas de pano. É sem
dúvida um tema de grande importância, como revelador de aspectos da cultura
popular. Vale salientar que pouco vem sendo feito para tentar manter este elemento
da arte popular vivo nos dias atuais, a exemplo disso temos o descaso com as
informações a respeito das peças que chegam aos museus.
Em relação à produção das bonecas tradicionais foi possível constatar que,
apesar de pouco conhecido e valorizado, esse trabalho ainda vem sendo feito
atualmente por mulheres que já tiveram/têm contato com esse mundo da técnica e
oralidade popular.
Através do olhar apurado voltado às bonecas de pano tradicionais,
destacamos elementos que ajudam a compreender o contexto de criação e alguns
significados de diferentes características presentes nas bonecas atuais e do
passado.
Houve um grande envolvimento e aprofundamento no que diz respeito às
analises e discussões, a fim de conhecer mais a temática estudada. Alguns
elementos como questão de gênero, mercado e fabricação foram levantados com o
intuito de abrir novos caminhos para que trabalhos futuros, pela autora da presente
pesquisa, possam enriquecer cada vez mais o conhecimento sobre esse tema tão
presente na vida das pessoas, mas tão pouco presente na Academia: as bonecas de
pano tradicionais.
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REFERÊNCIAS
AMADO, João. Universo dos brinquedos populares. Coimbra: Quarteto, 2007.
ARAUJO, Iaperí. Elementos da arte popular. Natal: Editora universitária – UFRN, 1985.
BROUGÉRE, Gilles. Brinquedo e cultura. Tradução de La poupèe industrielle. São Paulo: Cortez, 2010.
CASCUDO, Luís da Câmara. Dicionário do folclore brasileiro. São Paulo: Melhoramentos, 1979.
D'ÁVILA, José Silveira. O artesão tradicional e seu papel na sociedade contemporânea. In: RIBEIRO, Berta G. O artesão tradicional e seu papel na sociedade contemporânea. Rio de Janeiro, FUNARTE – Instituto Nacional do Folclore, 1983.
DONDIS, Donis A.. Sintaxe da linguagem visual. 3º ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
FRANÇA, Cássia M. S.. Bonecas de pano tradicionais. 2013 - 2014. 65 fotos.
GOES, Macao e SELIGMAN, Graça. Que boneca é essa? Corte e recorte de mestras brasileiras. Brasília: ITS - Instituto Terceiro Setor, 2013.
GURGEL, Deífilo. Espaço e tempo do folclore potiguar. Natal: Secretaria do 4º Centenário, 1999.
OLIVEIRA, Marcus Vinícius de Faria; COSTA, Tânia; GOMES, Vivianne Limeira Azevedo; CAMPOS, Caroline Cristina de Arruda; LIMA, Priscila Janaina Dantas; MAIA, Lerson Fernando dos Santos. Brinquedos e brincadeiras populares. 2ªed. Natal: IFRN Editora, 2010.
RIBEIRO, Berta G. Dicionário do artesanato indígena. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1988.
58
SOUSA, Roselne Santarosa de. Descobrindo o lugar da boneca de pano na cultura lúdica brasileira. In: Encontro da ABRAPSO, XV, 2009, Maceió. Anais do XV Encontro da ABRAPSO. Maceió:UFSJ, 2009. p.1 – p.9.
SOUSA, Roselne Santarosa de. Um estudo auto-rede sobre a boneca de pano: costurando narrativas de artesãs das cidades mineiras de Barbacena, Antônio Carlos e São João Del-Rei. 2012. 121. Dissertação (Mestrado em Psicologia) - Universidade de Federal de São João Del-Rei - UFSJ, Minas Gerais.
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ANEXOS
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ROTEIRO DE ENTREVISTA COM OS PRODUTORES:
PERCURSO PESSOAL
1. Nome completo (nome artístico, se houver); 2. Data e local de nascimento; 3. Local de residência atual; 4. Escolaridade (nível, completo, incompleto, razões, etc.); 5. Fatos marcantes (casamento, filhos, separação, doenças, etc.)
TRABALHO
1. Onde, quando e com quem aprendeu a fazer as bonecas de pano? 2. Como, onde e por que produziu as bonecas de pano? 3. Como, onde e para quem vendia (vende) as bonecas? 4. Já fez exposição das suas bonecas? Já houve algum estudo sobre elas? Já
participou de algum concurso? 5. Já ensinou alguém a fazer boneca?
OBRAS
1. Qual é/era a função das bonecas? 2. Quais modelos de boneca fabricava/fabrica? 3. Que materiais usava e como fazia/faz as bonecas de pano? 4. Você cria personagens? Quais e por quê? 5. Quanto às formas, como eram e por quê?
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ROTEIRO DE ENTREVISTA COM OS CONSUMIDORES
PERCURSO PESSOAL
1. Nome completo (nome artístico, se houver) 2. Data e local de nascimento 3. Local de residência atual 4. Escolaridade 5. Fatos marcantes (casamento, filhos, separação, doenças, etc.)
RELAÇÃO COM BONECAS
1. Quando, como, onde e através de quem começo o contato com as bonecas de pano?
2. Por quem, quando e onde eram vendidas? Quais os preços? 3. Que nomes dava, havia/ há preferências? Por quê? 4. Como, onde, quando, para quê e por que eram usadas? 5. Quais as características? (tipos, personagens (quais?), tamanhos, materiais,
particularidades, diferenças, semelhanças, evoluções, preferências, etc.)
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TERMO DE AUTORIZAÇÃO
Pelo presente instrumento, eu,_____________________________________________
portadora do RG: ____________, autorizo a aluna Cássia Michellyne Silva de França
portadora do RG: 002.801.018, realizar a gravação de minha entrevista (sem custos
financeiros a nenhuma parte) que, posteriormente será transformada em texto a fim de gerar
informações para o Trabalho de Conclusão de Curso da mesma, e a outras publicações dela
decorrentes, quais sejam: revistas científicas, congressos, jornais e livros.
Esta AUTORIZAÇÃO foi concedida mediante o compromisso da aluna acima citada em
garantir-me os seguintes direitos:
1. poderei ler a transcrição de minha gravação;
2. qualquer outra forma de utilização dessas informações somente poderá ser feita mediante
minha autorização;
3. serei livre para interromper minha participação na pesquisa a qualquer momento e/ou
solicitar a posse da gravação e transcrição de minha entrevista.
Natal, _____ de _______________ de 2014.
___________________________________
Assinatura do entrevistado
___________________________________
Assinatura do entrevistador