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Universidade Federal do Rio de Janeiro APLICAÇÃO DE MODELOS VISCOELÁSTICOS NA ANÁLISE DOS EFEITOS REOLÓGICOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO OU PROTENDIDO Gabriel Costa Valente Moraes 2018

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

APLICAÇÃO DE MODELOS VISCOELÁSTICOS NA ANÁLISE DOS EFEITOS REOLÓGICOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO

ARMADO OU PROTENDIDO

Gabriel Costa Valente Moraes

2018

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APLICAÇÃO DE MODELOS VISCOELÁSTICOS NA ANÁLISE DOS EFEITOS

REOLÓGICOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO OU PROTENDIDO

Gabriel Costa Valente Moraes

Projeto de Graduação apresentado ao

curso de Engenharia Civil da Escola

Politécnica, Universidade Federal do Rio

de Janeiro, como parte dos requisitos

necessários à obtenção do título de

Engenheiro.

Orientador: Ricardo Valeriano Alves, D. Sc.

Co-orientador: José Antonio Fontes Santiago, D. Sc.

Rio de Janeiro

Agosto de 2018

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Moraes, Gabriel Costa Valente

Aplicação de modelos viscoelásticos na

análise dos efeitos reológicos em estruturas de

concreto armado ou protendido / Gabriel Costa

Valente Moraes. – Rio de Janeiro: UFRJ / Escola

Politécnica, 2018.

vii, 90 p.: il.; 29,7 cm

Orientador: Ricardo Valeriano Alves

Projeto de Graduação – UFRJ / Escola

Politécnica / Engenharia Civil, 2018.

Referências Bibliográficas: p. 88 – 90

1. Introdução. 2. Reologia. 3. Modelos

viscoelásticos. 4. Caracterização do problema. 5.

Solução do problema. 6. Influência da retração. 7.

Influência da relaxação. 8. Comparação entre

modelos. 9. Conclusões e sugestões de

continuidade I. Alves, Ricardo Valeriano; II.

Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ,

Curso de Engenharia Civil. III. Título.

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Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/UFRJ como parte

dos requisitos para a obtenção do grau de Engenheiro Civil.

APLICAÇÃO DE MODELOS VISCOELÁSTICOS NA ANÁLISE DOS EFEITOS

REOLÓGICOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO OU PROTENDIDO

Gabriel Costa Valente Moraes

Agosto/2018

Orientador: Ricardo Valeriano Alves

Co-orientador: José Antonio Fontes Santiago

Curso: Engenharia Civil

A partir dos modelos viscoelásticos fundamentais básicos e combinados para descrição

do comportamento viscoelástico, pretende-se desenvolver algoritmos para avaliação

dos efeitos reológicos nas estruturas em concreto armado ou protendido. Através de

exemplos simples, pretende-se analisar a influência da retração e fluência no concreto

e mesmo da relaxação do aço de protensão. O objetivo maior é contribuir para a análise

dos efeitos reológicos em estruturas em concreto protendido sujeitas a expressiva

variação do modelo estrutural ao longo do tempo, caso típico das pontes construídas

pelo processo de balanços sucessivos.

Palavras-chave: Fluência, retração, relaxação, reologia, viscoelásticos, modelos

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Abstract of Undergraduate Projetct presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the

requirements for the degree of Civil Engineer.

APPLICATION OF VISCOELASTIC MODELS IN THE ANALYSIS OF RHEOLOGICAL

EFFECTS IN REINFORCED OR PRESTRESSED CONCRETE STRUCTURES

Gabriel Costa Valente Moraes

August/2018

Advisor: Ricardo Valeriano Alves

Co-advisor: José Antonio Fontes Santiago

Course: Engenharia Civil

From the basic and combined viscoelastic models to describe the viscoelastic behavior,

it is intended to develop algorithms for the evaluation of rheological effects in reinforced

or prestressed concrete structures. Through simple examples, it is intended to analyze

the influence of shrinkage and creep on concrete and the same of relaxation of the

pretension steel. The main objective is to contribute to the analysis of the rheological

effects in structures in prestressed concrete subject to the expressive variation of the

structural model over time, a typical case of the bridges constructed by the process of

successive balances.

Keywords: Creep, shrinkage, relaxation, rheology, viscoelastic, models

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Sumário

1 Introdução ................................................................................................... 1

1.1 Motivação ............................................................................................ 1

1.2 Objetivo ................................................................................................ 2

1.3 Estrutura da pesquisa .......................................................................... 2

2 Reologia ...................................................................................................... 4

2.1 Definição .............................................................................................. 4

2.2 Deformações do concreto .................................................................... 4

2.2.1 Retração plástica ............................................................................ 7

2.2.2 Retração autógena ......................................................................... 8

2.2.3 Retração por secagem .................................................................... 8

2.2.4 Deformação instantânea ................................................................. 9

2.2.5 Fluência ou deformação lenta ......................................................... 9

2.2.6 Fatores influenciando a fluência e retração por secagem ............. 17

3 Modelos viscoelásticos .............................................................................. 24

3.1 Elementos básicos ............................................................................. 24

3.1.1 Mola .............................................................................................. 24

3.1.2 Amortecedor ................................................................................. 25

3.2 Fluido de Maxwell .............................................................................. 26

3.3 Sólido de Kelvin ................................................................................. 29

3.4 Modelo de Boltzmann ........................................................................ 31

3.5 Equação constitutiva da viscoelasticidade ......................................... 34

3.6 Coeficientes de fluência e relaxação .................................................. 35

3.7 Princípio da correspondência ............................................................. 36

4 Caracterização do problema ..................................................................... 40

4.1 Obtenção dos coeficientes ................................................................. 41

4.2 Método de solução ............................................................................. 45

4.3 Dados iniciais ..................................................................................... 48

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5 Solução do problema ................................................................................ 49

5.1 Variação dos dados iniciais ................................................................ 49

6 Influência da retração ................................................................................ 52

6.1 Retração isolada ................................................................................ 52

6.1.1 ACI209.2R-08 ............................................................................... 53

6.1.2 AS3600-2009 ................................................................................ 56

6.2 Análise da retração e fluência em conjunto ........................................ 59

6.2.1 Comparação dos resultados ......................................................... 60

7 Influência da relaxação ............................................................................. 65

7.1 Caracterização do problema .............................................................. 65

7.2 Método de solução ............................................................................. 66

7.3 Solução do problema ......................................................................... 71

8 Comparação entre modelos ...................................................................... 73

8.1 Método de Runge-Kutta ..................................................................... 74

8.1.1 Segunda Ordem ............................................................................ 74

8.1.2 Terceira ordem .............................................................................. 77

8.1.3 Quarta ordem ................................................................................ 81

8.2 Solução da equação diferencial ......................................................... 82

8.3 Solução do problema da coluna comprimida ...................................... 85

9 Conclusões e sugestões de continuidade ................................................. 87

9.1 Sugestão de continuidade .................................................................. 87

Referências Bibliográficas ............................................................................... 91

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1 Introdução

1.1 Motivação

Os efeitos reológicos que atuam sobre as estruturas de concreto armado e

protendido (retração e fluência do concreto e relaxação do aço) são fenômenos não-

lineares complexos e em geral negligenciados por profissionais da engenharia.

Usualmente, são adotados métodos simplificados para consideração dos efeitos

reológicos, que podem não refletir a realidade dos fenômenos. Além disso, a natureza

acumulativa das deformações dependentes do tempo (SMITH & COULL, 1991 e MARU

et al., 2003 apud POLETTO, 2015) justificam a relevância do estudo das mesmas em

uma sociedade na qual edifícios cada vez mais altos são a tendência.

Embora o estudo da deformabilidade das estruturas de concreto armado,

decorrentes das propriedades da retração e fluência tenha sido objeto de estudo de

muitos pesquisadores, estas propriedades estão ainda longe de serem totalmente

compreendidas (BAŽANT, 2001).

A falta de consideração ou subestimação desses efeitos estão diretamente

ligadas a patologias pós-obra, principalmente de falhas em vedações devido à

deformação excessiva dos elementos estruturais. Isso acontece devido à elaboração

dos projetos estruturais, geralmente feita com parâmetros que não representam a

deformação por fluência e retração.

Uma vez que essas deformações dependem da taxa de armadura e da relação

volume-superfície, além das propriedades dos materiais (OLIVEIRA, 2011), estas são

reduzidas quando há um aumento nas áreas das barras das armaduras e da seção

transversal de peças submetidas ao mesmo carregamento (SMITH & COULL, 1991).

Portanto, torna-se interessante incluir uma análise dos efeitos reológicos no processo

de escolha de armaduras de um elemento estrutural, visando minimizar os danos

causados pelas deformações decorrentes de tais efeitos e, para isso, deve-se conhecer

de que forma estes influenciam no comportamento da estrutura.

Dentre os métodos empregados na prática, pode-se citar o CEB/78, que

apresenta uma formulação do tipo soma, considerando a deformação por fluência

variando linearmente com a tensão aplicada. Além deste, o método de CEB/90

apresenta uma formulação do tipo produto, com a deformação variando de forma não-

linear com a tensão. Finalmente, tem-se ainda o método da NBR-6118 que, como o

CEB/78, também é do tipo soma e assume a linearidade entre a deformação por fluência

e a tensão aplicada. Cada um destes métodos leva em consideração diversos fatores

na fluência, como umidade relativa, tipo de cimento, resistência do concreto, etc

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(ALVES, 2017). Todavia, estes métodos adotam muitas aproximações e, por isso,

muitas vezes não condizem com a realidade, tornando-os não confiáveis.

Quanto aos modelos viscoelásticos que são apresentados, existem diversos

trabalhos que os aplicam em análises e problemas. Todavia, estes possuem uma

abordagem teórica, considerando elementos de um material viscoelástico isolado. Não

há ainda uma referência que os tenha empregado em uma situação prática de

engenharia civil, envolvendo materiais utilizados na prática, como concreto armado,

introduzindo uma interação entre o concreto e o aço. Em vista da carência de uma

análise do trabalho em conjunto destes materiais por parte desse campo de estudo,

propõe-se aqui aplicar os modelos viscoelásticos em problemas simples, porém comuns

na engenharia civil, incluindo a análise da viscoelasticidade dos materiais.

Com isso, pretende-se tocar em um problema ainda pouco explorado, criando

espaço para estudos mais aprofundados para empregar essas soluções em problemas

complexos, como por exemplo, as pontes em balanços sucessivos.

1.2 Objetivo

Diante do exposto, o objetivo do presente trabalho é analisar a influência dos

efeitos reológicos em estruturas de concreto armado e protendido, bem como a

interação entre os elementos da estrutura. A análise é feita a partir de modelos básicos

já existentes, como o de Kelvin e de Maxwell. Para isso, são empregadas soluções

analíticas já adotadas por outros autores, além de desenvolver soluções numéricas a

partir de equações diferenciais derivadas dos modelos utilizando métodos como Runge-

Kutta ou Diferenças Finitas. Essas soluções são feitas de forma computacional, com

programação em linguagem MatLab ou empregando softwares como Microsoft Excel.

1.3 Estrutura da pesquisa

O trabalho é dividido em nove capítulos:

O primeiro capítulo, introdutório, contém as informações acerca do que se trata

a pesquisa, bem como sua importância, aplicações e interesse, além de apresentar a

proposta de solução adotada no trabalho.

O segundo capítulo é destinado a conceituar os efeitos reológicos, apresentando

suas definições e descrever o comportamento típico do concreto e do aço ao longo do

tempo, incluindo fatores que influenciam os efeitos reológicos nestes materiais.

No terceiro capítulo são apresentados e descritos os modelos viscoelásticos que

são adotados para prever os efeitos reológicos.

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O quarto capítulo tem a função de apresentar o problema viscoelástico a ser

solucionado.

No quinto capítulo apresenta-se a solução do problema descrito no capítulo

quatro, empregando os modelos introduzidos no capítulo três.

O sexto capítulo descreve a influência da retração no problema anterior,

apresentando métodos para sua previsão e solucionando o problema com a atuação da

retração e fluência em conjunto.

No sétimo capítulo apresenta-se, de forma semelhante ao capítulo anterior, a

influência da relaxação no problema. Com a solução de uma variação do problema, é

analisado o caso de concreto protendido submetido à fluência, retração e relaxação.

O oitavo capítulo apresenta comparações das soluções obtidas no quinto

capítulo com as obtidas por outro modelo apresentado no capítulo três. Neste capítulo

descreve-se o método numérico empregado para solucionar o modelo proposto.

O último capítulo contém as conclusões e sugestões de continuidade, propondo

um novo problema e descrevendo a forma de solução do mesmo.

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2 Reologia

2.1 Definição

Reologia tem como definição: “Ramo da física que estuda a viscosidade, a

plasticidade, a elasticidade e o escoamento da matéria em geral” (www.dicio.com.br) e

tem origem do grego rhein, que significa escorrer. A reologia passou a ser conhecida

em meados do século XVII por Newton e Hooke, porém apenas passou a ser estudada

em 1920, após o interesse de previsão do comportamento mecânico de materiais

industriais por parte da física, da matemática, da mecânica e da química (TANNER,

1988) e entende-se como o estudo da deformação e escoamento da matéria (VAN

WAZER et al., 1966).

A reologia analisa as respostas de um material provocadas pela aplicação de

uma tensão ou de uma deformação (DE CASTRO, 2007), ou seja, busca determinar o

valor de uma força necessária para gerar uma dada deformação em um sólido ou

escoamento em um fluido, definindo relações entre tensão e deformação, taxa de

deformação e tempo (TATTERSALL & BANFILL, 1983). Pode ser também definida

como a ciência que estuda o fluxo e a deformação dos materiais quando submetidos a

uma determinada tensão ou solicitação mecânica externa (STEIN, 1986 apud. DE

CASTRO, 2007)

O estudo reológico envolve os três estados da matéria (sólido, líquido e gasoso)

e seu escopo abrange desde deformações em sólidos elásticos ideais ou fluidos simples

até materiais com propriedades de escoamento mais complexas. Outro aspecto

importante é o caráter temporal das propriedades reológicas de uma substância, que

podem apresentar mudanças significativas em função do tempo.

2.2 Deformações do concreto

O estudo reológico aplicado à engenharia civil se mostrou extremamente

importante com a necessidade de se desenvolver uma teoria única de flexão que

descrevesse melhor a realidade (RÜSCH, 1960) e que levasse em consideração a

influência do tempo na resistência e na deformação do concreto.

O concreto, por ser constituído de cimento, água e agregados miúdo e graúdo,

é considerado um material heterogêneo, cujas propriedades ao endurecer são

influenciadas principalmente por sua estrutura interna, imaginada como sendo formada

pelo agregado graúdo embebido numa matriz de argamassa (OLVEIRA, 2011). Dessa

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forma, suas propriedades reológicas decorrem dessa heterogeneidade, que é

condicionada pelas reações de hidratação do cimento (FUSCO, 1976).

Além disso, a NBR-7125/1996 define velocidade de carregamento de (0,25 ±

0,05) MPa/s para determinação da resistência à compressão do cimento Portland.

Todavia, a resistência do concreto é extremamente relacionada a tal velocidade, como

ficou evidenciado através de ensaios realizados por RÜSCH em 1960, que resultaram

no gráfico apresentado na Figura 1Erro! Fonte de referência não encontrada.. O

ensaio foi realizado em corpos-de-prova cilíndricos, submetidos a quatro velocidades de

carregamento (calculadas como taxa de deformação) distintas e evidencia a influência

do tempo na resistência do concreto:

Vale ressaltar que outros fatores também influenciam nas curvas obtidas, tais

como tipo de cimento, diâmetro e módulo de elasticidade dos agregados, temperatura

e umidade (RÜSCH, 1960). Analisando as curvas obtidas, observa-se que uma

velocidade de carregamento lenta acarreta em uma tensão máxima no concreto

aproximadamente 20% menor do que um carregamento rápido, de forma que sob uma

taxa de deformação de 0,001 a cada 100 dias, a tensão máxima no concreto é de

apenas aproximadamente 90% da sua resistência.

Segundo MC CEB-FIP (2010), as deformações do concreto se classificam como

mecânicas e não mecânicas, dependendo se ocorrem devido à força aplicada ou se são

inerentes do material.

0,75

0,50

0,25

1,00

Razã

o e

ntr

e ten

são

no

co

ncre

to e

re

sis

tên

cia

do

cili

nd

ro

0,001 0,002 0,003 0,004 0,005 0,006 0,007

Deformação no concreto, 휀

Resistência do cilindro

𝑓𝑐′ ≅ 21 𝑀𝑃𝑎

a 56 dias

Figura 1 - Resistência do concreto para diferentes velocidades de carregamento (adaptado de RÜSCH, 1960)

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A única deformação não mecânica observada em estruturas de concreto é a

retração, classificada como retração plástica, autógena, por secagem ou por

carbonatação.

Sobre a deformação mecânica do concreto, Neville (2011) as separa, assim

como o dicionário, em 3 categorias: elásticas, plásticas e viscosas, podendo haver

combinações entre as mesmas.

A deformação elástica é regida pela Lei de Hooke. Portanto, é instantânea, linear

(tensão e deformação são proporcionais) e reversível com o descarregamento. A

deformação plástica também é instantânea, porém é irreversível, pode depender do

tempo e não há relação entre a tensão e a deformação. Já a deformação viscosa, além

de possuir parcelas reversíveis e irreversíveis, deve variar com o tempo e há uma

proporcionalidade entre a tensão e a velocidade de deformação, ou seja, uma relação

entre a tensão aplicada e a deformação em um dado instante (NEVILLE, 2011).

Nesta última se encaixa a fluência do concreto, definida como um crescimento

da deformação sob uma tensão constante ou, caso a deformação seja mantida

constante, manifesta-se como uma redução de tensão, fenômeno que é denominado

relaxação (NEVILLE, 2011). A fluência básica é aquela que ocorre sem consideração

da umidade, ou seja, em um concreto conservado em 100% de umidade relativa

(OLIVEIRA, 2011). A influência da umidade e, consequentemente, da retração por

secagem, causa a fluência por secagem, sendo a fluência total a soma de ambas as

fluências (básica e por secagem). Finalmente, a deformação total é dada pela soma da

fluência total com a deformação por retração. Essa dinâmica é ilustrada pelo gráfico da

Figura 2 (NEVILLE, 2011).

Figura 2 - Deformação do concreto ao longo do tempo sob carregamento constante (Fonte: NEVILLE, 1997).

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2.2.1 Retração plástica

A retração plástica é ocasionada pela evaporação de água da superfície e, como

o nome sugere, ocorre no concreto ainda no estado plástico, podendo se dar nos

primeiros minutos após a moldagem. Mehta e Monteiro (1994) discorre sucintamente

sobre as principais causas da retração plástica, listadas a seguir:

Assentamento da fôrma

Exsudação

Perda de água por evaporação

Redução no volume do sistema cimento-água

Inicialmente, após a mistura, observa-se o assentamento dos materiais: cimento

e agregados. Então, devido à diferença de peso específico, a água tende a ascender,

em fenômeno chamado exsudação, que pode ser seguido de evaporação. Esse

processo pode ser agravado por elevadas temperaturas ou velocidade do vento

(MANGAT; AZARI, 1990). Ao passo que a água evapora e a superfície se torna seca,

formam-se meniscos nos capilares entre partículas sólidas, nos quais atuam tensões

superficiais (NEWMAN; CHOO, 2003), gerando contração volumétrica do material.

Segundo Neville (2011), um dos fatores mais influentes na retração é a umidade relativa

do ar, tal que uma umidade relativa maior gera menos retração, uma vez que dificulta a

perda de água para o ar por evaporação. Além disso, a temperatura e a velocidade do

vento também são fatores preponderantes, como descreve a Tabela 1:

Tabela 1 - Retração plástica de pasta de cimento ao ar com umidade relativa de 50% e temperatura de 20°C (adaptado de NEVILLE, 2011)

A maior consequência advinda da retração plástica é a formação de fissuras,

que ocorre quando a velocidade de evaporação excede a velocidade de exsudação (ou

ascensão) da água para a superfície. O tempo necessário para que tal fato advenha

depende da composição do material, geometria do elemento e condições do ambiente

externo (SOROUSSHIAN; RAVANBAKHSH, 1998 apud. SALES, 2006). Tais fissuras

representam um risco para a vida útil da peça, uma vez que podem influenciar

negativamente sobre o comportamento mecânico, diminuindo sua resistência, além de

aumentar a vulnerabilidade à umidade e substâncias agressivas do meio externo. Como

m/s km/h

0 0 1700

0,6 2,16 6000

1 3,6 7300

7 a 8 25 a 29 14000

Velocidade do vento Retração após 8

horas (x 10-6)

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forma de evitar a formação das fissuras, Neville (2011) sugere que se mantenha ao

mínimo a taxa de evaporação de água na superfície do concreto.

2.2.2 Retração autógena

Após o início da pega, é possível observar outro tipo de retração: a retração

autógena, causada pela hidratação do material cimentício. Esse processo, que engloba

fenômenos gerados pela reação química do cimento com a água, ocorre com a remoção

de umidade dos poros capilares por hidratação do cimento não-hidratado, resultando

numa redução de volume da pasta de cimento, sem troca de umidade e sob temperatura

constante (SALES, 2006). Os poros, que anteriormente continham água, passam a

sofrer tensões capilares, que são responsáveis pela contração do material sólido e a

consequente redução do volume.

Essas forças e, consequentemente, a retração autógena são minimizadas por

um alto fator água/cimento, que aumenta os diâmetros dos poros. Temperaturas muito

altas são responsáveis pelo aumento da intensidade dessa retração e a finura do

cimento e sua composição química (principalmente teor de aluminato tricálcico) também

interferem na mesma (GIROTTO, 2012).

A água quimicamente combinada que participa no processo de hidratação do

cimento sofre uma contração de 25% do seu volume original (KALINTZIS, 2000)

2.2.3 Retração por secagem

Também conhecida como retração hidráulica, a retração por secagem afeta não

apenas materiais cimentícios, mas também qualquer material de natureza porosa. Esse

tipo de retração acontece devido à perda de umidade por parte dos elementos

componentes do concreto para o meio ambiente, ocorrendo de forma simultânea à

retração autógena, podendo levar à formação de fissuras e reduzir a resistência e

durabilidade da peça, assim como afetar negativamente o caráter estético da construção

(KATAOKA, 2010).

Com mudanças nas condições do ambiente, ou continuidade de hidratação após

a pega do cimento, forma-se um gradiente de umidade, expelindo água por exsudação.

Então, uma vez que os vazios, anteriormente preenchidos por água, perdem umidade,

aumentam-se as tensões capilares, causando retração do elemento sólido (SALES,

2006). Esse fenômeno é semelhante à retração plástica, descrita anteriormente, se

distinguindo por acontecer com o concreto já no estado sólido.

Segundo Acker e Ulm (2001), a retração por secagem se apresenta em duas

fases: a primeira, que ocorre nas primeiras horas, enquanto ainda na fase líquida, e gera

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fissuras irregulares e superficiais. A segunda fase ocorre a longo prazo, sendo a duração

proporcional ao quadrado da espessura da peça.

2.2.4 Deformação instantânea

Como mencionado, a deformação instantânea se dá através da Lei de Hooke,

de forma imediata à aplicação da carga. Dessa forma, a tensão aplicada é linearmente

proporcional à deformação medida, podendo ser expressa como:

휀𝑐(𝑡0) =𝜎𝑐(𝑡0)

𝐸𝑐(𝑡0)(2. 1)

onde a tensão no tempo 𝑡0 de aplicação da carga é dada por 𝜎𝑐(𝑡0), a

deformação medida no mesmo instante é denominada 휀𝑐(𝑡0) e a constante 𝐸𝑐(𝑡0) é o

módulo de elasticidade secante do concreto (GHALI et al., 2002).

Essa deformação fornece uma curva de tensão-deformação como a ilustrada na

Figura 3:

2.2.5 Fluência ou deformação lenta

A deformação lenta se difere da deformação instantânea por ser dependente do

tempo. A definição de fluência por Neville (2011), como mencionada anteriormente, é

um crescimento da deformação sob tensão constante. Já a relaxação se trata do mesmo

fenômeno, porém a deformação é mantida constante, de forma que se observa uma

redução da tensão. As figuras Figura 4 e Figura 5 ilustram ambos efeitos:

Tangente = 𝐸𝑐(𝑡0)

Tensão, 𝜎𝑐(𝑡

0)

Deformação instantânea, 휀𝑐(𝑡0)

Figura 3 - Curva tensão-deformação para deformação instantânea (adaptado de GHALI et al., 2002)

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10

Figura 4 - Efeito da fluência (VALERIANO, 2018)

Figura 5 - Efeito da relaxação (VALERIANO, 2018)

A fluência foi primeiramente observada por Hatt em 1907 (RILEM, 1998). De

forma semelhante à Lei de Hooke, é possível se obter uma curva tensão-deformação

dependente do tempo para a fluência, através de um experimento que consiste na

observação da fluência a longo prazo, mantendo-se corpos de prova sob carregamento

constante, com ambiente em temperatura e umidade controladas e também constantes

e medindo sua deformação axial ao longo do tempo (SALES, 2006). A Figura 6 ilustra a

deformação do concreto ao longo do tempo.

Tensão

𝜏0 0

𝜎𝑐0

Tempo, t

Deformação total

휀𝑟𝑒(𝑡) – retração

휀𝑖𝑛(𝑡) – instantânea

𝜏0 𝜏𝑑 0 Tempo, t

휀𝑓𝑙(𝑡) – fluência

Figura 6 - Deformação do concreto ao longo do tempo sob carregamento constante (adaptado de GILBERT; RANZI, 2011)

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11

O instante 𝜏𝑑 é o início do endurecimento ou final da cura úmida. Já 𝜏0 é o

instante de aplicação do carregamento.

De forma semelhante à deformação instantânea, a fluência pode ser expressa

por:

휀𝑐(𝑡) =𝜎𝑐(𝑡0)

𝐸𝑐(𝑡0)[1 + 𝜑(𝑡, 𝑡0)] (2. 2)

onde o coeficiente adimensional 𝜑(𝑡, 𝑡0) para o tempo 𝑡 de cálculo da

deformação e instante 𝑡0 de aplicação do carregamento é a relação entre a fluência e a

deformação instantânea.

Quanto menor a idade do concreto no instante 𝑡0 de aplicação da carga, maior a

fluência. Igualmente, quanto maior o período entre 𝑡 e 𝑡0, ou seja, quanto mais tempo

durar o carregamento, também será maior a fluência (GHALI et al., 2002).

É possível observar que o efeito da fluência é reduzido ao longo do tempo, ou

seja, a fluência atua sob uma taxa decrescente, de forma que aproximadamente 50%

da deformação total por fluência ocorre durante os 2 a 3 primeiros meses do

carregamento (GILBERT; RANZI, 2011). A magnitude das deformações por fluência é

tal que a deformação típica, mantendo-se um carregamento por um ano, pode chegar a

três vezes a deformação na aplicação da carga (NEVILLE, 1970).

O cálculo da fluência é feito subtraindo da deformação total a deformação por

retração de um elemento semelhante conservado nas mesmas condições durante o

mesmo período de tempo (KATAOKA, 2010).

Como já mencionado, a fluência é dividida em duas categorias: a fluência básica

e a fluência por secagem, sendo a fluência total a soma de ambas.

Segundo Acker e Ulm (2011), a água possui uma função paradoxal quanto à sua

ação sobre a fluência: em testes realizados sem troca de umidade com o ambiente

(fluência básica), quanto menor a quantidade de água evaporável da amostra, menor a

fluência. Todavia, ao reduzir a umidade do ambiente, quanto mais secagem ocorrer,

maior a fluência, como mostra a Figura 7, onde a umidade relativa é entendida como a

relação entre a umidade do ambiente e a umidade do corpo-de-prova.

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Acker e Ulm (2011) ainda concluíram que a fluência básica pode ser observada

em dois mecanismos compatíveis com o movimento de água: o primeiro, pela sua

característica de curto prazo (da ordem de 10 dias), sugere que seja ocasionado pela

migração da água para os poros de maiores diâmetros após a aplicação do

carregamento. A ativação desse mecanismo pode ser ocasionada pela permeação nos

polos capilares saturados, o que explicaria a diminuição da fluência básica devido à

menor umidade. Já o segundo mecanismo, de longo prazo, está relacionado ao fluxo

viscoso nos hidratos, ocorrendo através de deslizamento dos lençóis de colóide.

A fluência é originada da movimentação da água no interior da estrutura de gel

do cimento sólido, devido à aplicação de um carregamento (RÜSCH, 1981). Essa

estrutura de gel possui poros capilares e é composta de lençóis de colóide de silicato

de cálcio hidratado (C-S-H), separados por vazios preenchidos por água adsorvida

(GILBERT; RANZI, 2011). As causas da fluência ainda não são totalmente conhecidas,

porém Neville et al. (1983) apud. Gilbert e Ranzi (2011) as identifica a partir dos

seguintes mecanismos:

Deslizamento dos lençóis de colóide entre as camadas de água

adsorvida (escoamento viscoso)

Migração e decomposição das águas dos vazios dentro do gel de cimento

(infiltração)

Deformação elástica dos agregados e cristais de gel com a atuação do

fluxo viscoso e infiltração (elasticidade atrasada)

Fissuração local da estrutura de gel cimentícia envolvendo a quebra e

formação de ligações físicas intermoleculares (microfissuras)

Teoria da deformação mecânica

Fluxo plástico

Fluência por secagem

Fluência básica 5

4

3

2

1

0 0 50 100

Umidade relativa (%)

Flu

ência

rela

tiva

Figura 7 - Fluência a longo prazo sob umidade relativa variável (adaptado de ACKER; ULM, 2011)

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Ou seja, sabe-se que a fonte da fluência está na pasta de cimento hidratada e

está relacionada ao movimento de água adsorvida pelos poros. Uma vez que a fluência

pode ocorrer em concretos de grandes dimensões, a perda de água para o ambiente

não é necessária para a ocorrência da fluência básica, porém tem um papel influente na

ocorrência da fluência por secagem. Além disso, mudanças na fluência sob

temperaturas muito altas podem sugerir que sua fonte deixe de ser o movimento de

água para uma deformação no gel de cimento em si, quando nessas condições.

A função dos vazios na estrutura cimentícia na ocorrência da fluência pode ser

indicada pela relação entre a fluência e a resistência do cimento, já que a quantidade

de vazios no gel de cimento pode ser responsável tanto pela sua resistência quanto pela

fluência. Nesse caso, o volume de vazios do cimento estaria diretamente ligado à

movimentação interna de água no concreto e é determinado pelo fator água/cimento

(NEVILLE, 2011).

Normalmente, a velocidade de aplicação da carga influencia na deformação

instantânea, o que sugere que a mesma inclua não apenas a deformação elástica, mas

também uma parte da fluência inicial. Isso torna complexa a diferenciação entre a

deformação instantânea, regida pela Lei de Hooke e proporcional ao módulo de

elasticidade do material, e a fluência inicial. No entanto, a deformação total permanece

a mesma.

2.2.5.1 Reversibilidade

Parte dos estudos que envolvem a previsão da fluência foi direcionada para

entender seu caráter de reversibilidade no descarregamento. Por não se tratar de uma

deformação totalmente elástica, parte da deformação por fluência será irreversível,

como exemplificado pela Figura 8Erro! Fonte de referência não encontrada.:

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Figura 8 - Curva de deformação do concreto ao longo do tempo no carregamento e descarregamento para até 40% da carga de ruptura (SCANDIUZZI; ANDRIOLO, 1986)

Todavia, segundo Rüsch et al. (1983), ensaios como os realizados por McHenry

foram capazes de tratar a parte recuperável da fluência, a partir do princípio de

superposição das deformações. Esse tratamento determina que qualquer deformação

no tempo 𝑡 advinda de um incremento de carga aplicado em um instante 𝑡0 é

independente dos efeitos de qualquer tensão aplicada em um momento anterior ou

posterior a 𝑡0. Dessa forma, caso haja um descarregamento em um instante 𝑡1, a

recuperação da fluência em qualquer momento seguinte será igual à deformação por

fluência no mesmo momento de um elemento carregado com a mesma tensão na idade

𝑡1.

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Figura 9 - Recuperação da fluência através do princípio de superposição proposto por McHenry (NEVILLE, 2011)

A Figura 9 demonstra a recuperação da deformação por fluência em um

elemento sem exposição ao ambiente, ou seja, trata apenas da fluência básica. Note

que o termo fluência específica refere-se à deformação de fluência por unidade de

tensão aplicada.

O princípio da superposição determina, de um modo geral, uma recuperação

exagerada, o que significa que a deformação residual após o descarregamento costuma

ser maior do que a prevista, ou seja, a fluência é, de fato, menor do que o esperado.

Isso se dá porque o princípio da superposição trata a fluência como uma deformação

elástica atrasada, cuja recuperação é impedida pela hidratação do cimento. (NEVILLE,

2011). Tal suposição não é totalmente correta, uma vez que existe uma parcela da

fluência causada por um fluxo irreversível.

É importante ressaltar que McHenry validou este princípio com base em

experimentos sobre corpos-de-prova isolados e, portanto, apenas sujeitos à fluência

básica. Dessa forma, ao introduzir a possibilidade de perda de água, o erro se torna

elevado tal que a recuperação é extremamente superestimada (RÜSCH et al., 1983).

De forma a confirmar o princípio da superposição, Rüsch et al. (1983) realizou

experimentos em três corpos-de-prova, que foram carregados igualmente, porém em

idades distintas e durante períodos diferentes, como pode ser visto na Figura 10Erro!

Fonte de referência não encontrada.. O corpo-de-prova A foi carregado aos 28 dias,

o corpo-de-prova B aos 90 dias, e o corpo-de-prova C carregado aos 28 dias e

descarregado aos 90 dias. Foram medidas as deformações destes três corpos-de-prova

ao longo do tempo.

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Dessa forma, o resultado esperado deveria ser C = A - B. Porém, como mostra

a Figura 11, tal suposição não é inteiramente correta.

Esse experimento demonstra, portanto, o erro associado com a suposição do

princípio de que a fluência é uma deformação elástica atrasada.

De forma semelhante ao descarregamento e recuperação da fluência, Mehta e

Monteiro (2008) concluíram que a retração por secagem também possui um caráter

recuperativo na molhagem. A Figura 12 demonstra que, assim como a recuperação da

fluência, a recuperação da retração também apresenta uma parte irreversível, sendo a

deformação total por retração a soma da retração reversível por molhagem e a retração

irreversível.

Idade do concreto, dias 90 28

Carga Idade do concreto, dias 90 28

Idade do concreto, dias 28

Carga Experimento

A

Carga

B

C

Superposição: A - B

B

A

C

Idade do concreto, dias

0

0

2

4

6

10-5

100 200 300 400

Figura 11 - Deformações por fluência dos corpos-de-prova A, B e C (adaptado de RÜSCH et al., 1983).

Figura 10 - Teste experimental para avaliar o princípio da superposição: C = A - B (adaptado de RÜSCH et al., 1983).

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Figura 12 - Recuperação da retração por secagem (MEHTA; MONTEIRO, 2008 apud. KATAOKA, 2010)

2.2.6 Fatores influenciando a fluência e retração por secagem

Muitas análises, como as feitas a partir do princípio da superposição, são

baseadas na suposição de que a fluência e a retração são fenômenos independentes,

o que não é o caso exatamente, de modo que a retração possui o efeito de aumento da

magnitude da fluência. Todavia, em casos práticos, ambos ocorrem de maneira

simultânea, sendo muito semelhantes e correlacionados em diversos aspectos. Por isso

torna-se conveniente tratar os dois de forma única.

Diversos fatores influenciam nos fenômenos da fluência e retração por secagem,

de forma que o controle dessa influência é extremamente complexo, uma vez que tais

fatores estão ligados entre si, e alterando um deles certamente modifica-se algum outro

(KATAOKA, 2010). Aqui enumeramos e explicamos estes fatores que são capazes de

influenciar no comportamento do concreto quanto às deformações por fluência e

retração.

2.2.6.1 Materiais e dosagem

Inicialmente, é válido ressaltar que a fluência e a retração ocorrem na pasta de

cimento hidratada, sendo o papel do agregado apenas o de contenção dessas

deformações. O agregado comumente utilizado sob tensões da ordem de grandeza das

atuantes no concreto em si não está sujeito a esses tipos de deformação. Assim, é lógica

a conclusão de que a fluência do concreto é uma função do teor de pasta de cimento

utilizado. Segundo Neville (2011), essa relação não é linear, e obedece a equação (2.3),

que relaciona a fluência do concreto 𝑐, o teor de agregado 𝑔, o volume de pasta de

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cimento não-hidratado 𝑢 e a fluência 𝑐𝑝 da pasta de cimento pura de mesma qualidade

da usada no concreto:

𝑙𝑜𝑔𝑐𝑝

𝑐= 𝛼 ∙ 𝑙𝑜𝑔 (

1

1 − 𝑔 − 𝑢) (2. 3)

Tal que a constante alfa é dada por:

𝛼 =3 ∙ (1 − 𝜇)

1 + 𝜇 + 2 ∙ (1 − 2 ∙ 𝜇𝑎) ∙𝐸𝐸𝑎

(2. 4)

onde 𝜇𝑎 é o coeficiente de Poisson do agregado, 𝜇 é o coeficiente de Poisson do

concreto, 𝐸𝑎 é o módulo de elasticidade do agregado e 𝐸 é o módulo de elasticidade do

concreto.

A maior influência dos agregados advém do seu teor, de tal forma que um

aumento de 65% a 75% deles é capaz de reduzir a fluência em 10%. A granulometria e

o formato influenciam de forma indireta, mas devido ao seu efeito de modificar o teor do

agregado. Além disso, o módulo de elasticidade do agregado também representa

grande importância para a fluência e retração, tal que quanto maior o mesmo, maior a

capacidade do agregado de conter a deformação, diminuindo-a (NEVILLE, 2011).

Segundo Mehta e Monteiro (2008), isso pode explicar a influência do volume de pasta

de cimento na retração e fluência, pois quanto mais cimento utilizado, menor é a fração

dos agregados, aumentando tais deformações.

É possível ainda que a porosidade do agregado tenha influência sobre as

deformações por fluência e retração, porém isso pode ser explicado pelo fato dos

agregados mais porosos em geral possuírem um menor módulo de elasticidade. A

porosidade dos agregados pode ainda gerar um ambiente propício para a ocorrência de

fluência e retração por secagem, pois pode facilitar a movimentação de água dentro da

estrutura do concreto (NEVILLE, 2011). Seguindo a lógica apresentada para essas

características, é possível determinar que o tipo de agregado desempenha um papel

importante na fluência e retração por secagem, já que para cada tipo as características

mencionadas variam. A Figura 13 apresenta resultados de um estudo conduzido por

Troxell et al. apud. Kataoka (2010), que relaciona os tipos de agregado com as

deformações por fluência e retração por secagem:

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Figura 13 - Fluência e retração por secagem em função dos tipos de agregado (TROXELL et al. apud. KATAOKA, 2010)

O fator água/cimento também pode influenciar na fluência e retração por

secagem, de forma que um aumento do mesmo significa um aumento da

permeabilidade e diminuição da resistência, intensificando a magnitude das

deformações por fluência e retração (KATAOKA, 2010). Brooks apud. Neville (2011)

demonstra que a retração da pasta de cimento hidratada é diretamente proporcional ao

fator água/cimento para valores entre 0,2 e 0,6. Para valores acima deste intervalo, a

água excedente é removida por secagem sem a ocorrência de retração.

2.2.6.2 Resistência e tensão

Existe uma relação direta entre a tensão aplicada no concreto e a fluência

consequente. De acordo com Neville (2011), essa proporcionalidade se mantém desde

níveis de tensão muito baixos (visto que a fluência ocorre mesmo para pequenas

tensões), até tensões mais altas, quando se tem início um estado de fissuração grave,

geralmente entre 40% e 60% da resistência do concreto, podendo ir tão baixo quanto

30% ou alto até 75%. Acima do limite de 80% a 90% da resistência, as deformações por

fluência podem causar uma falha temporal, na qual a razão de aumento da fluência

devido a um acréscimo na tensão aumenta até que o concreto atinja sua deformação

máxima e sofra ruptura. Todavia, de qualquer forma, para tensões em serviço, é

possível assumir que a proporcionalidade entre tensão e deformação por fluência é

válida.

Além disso, é possível constatar que as deformações por fluência são

inversamente proporcionais à resistência do concreto na idade de aplicação da carga

(MEHTA; MONTEIRO, 2008), como pode ser observado na Tabela 2:

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Tabela 2 - Fluência específica final de concretos de diferentes resistências carregados a idade de 7 dias (adaptado de NEVILLE, 2011)

Com isso conclui-se que existe uma relação linear entre as deformações por

fluência e a razão tensão/resistência do concreto e, apesar de fatores como relação

água/cimento e tipo de cimento também influenciarem na fluência, a razão

tensão/resistência tem maior finalidade prática, uma vez que são grandezas facilmente

obtidas do projeto. É possível assumir que para uma mesma relação tensão/resistência,

a fluência é aproximadamente independente do fator água/cimento. Além disso, a idade

de aplicação da carga tem como influência apenas a determinação da resistência do

concreto no momento do carregamento, não sendo um fator independente (NEVILLE,

2011).

Estudos realizados por Howells, Lark e Barr (2005), baseados em resultados de

diferentes métodos de previsão, concluíram que, além da umidade relativa do ar, a

resistência do concreto é um dos fatores que mais influenciam na deformação por

fluência, o que deve ser esperado, uma vez que para aumentar a resistência do concreto

deve-se diminuir a quantidade de água, o que reduziria a fluência e retração por

secagem.

2.2.6.3 Propriedades do cimento

A influência do tipo de cimento na fluência está limitada à sua capacidade de

alterar a resistência do concreto. Dessa forma, uma comparação feita entre as

deformações por fluência de diferentes tipos de cimento deve levar em consideração a

influência de tal tipo na resistência do concreto na idade de aplicação da carga

(NEVILLE, 2011).

Utilizando-se da mesma explicação, os estudos conduzidos por Howells, Lark e

Barr (2005) também concluíram que o tipo de cimento não tem grande influência sobre

as deformações por fluência e retração.

Experimentos conduzidos por Neville (2011) chegaram à conclusão de que a

finura do cimento, através da influência no desenvolvimento da resistência, afeta a

fluência, de tal forma que a finura em si não é um fator influente nessas deformações.

Um elemento composto por cimento extremamente fino e área superficial de 740 m²/kg

Resistência à compressão

do concreto

Fluência

específica final

Produto entre resistência

e fluência (x10-3)

MPa 10-6 por MPa

14 203 2,8

28 116 3,2

41 80 3,3

55 58 3,2

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apresenta uma alta fluência inicial, porém uma queda após um a dois anos do

carregamento. Isso se dá pelo rápido ganho de resistência por parte dos cimentos mais

finos.

Howells, Lark e Barr (2005) classificam o tipo de cimento como um fator

insignificante quando se trata de influência nas deformações por retração e fluência.

Sendo o estudo realizado para previsões de deformações após 6 meses, a justificativa

apresentada para tal conclusão é de que a resistência do concreto para diferentes tipos

de cimentos após 6 meses é a mesma, diferindo-se apenas no ganho de resistência

inicial. Dessa forma, a influência seria notável apenas nos três primeiros meses de

idade.

Neville (2011) ainda afirma que a fluência é menor quanto maior for o ganho de

resistência após o momento de aplicação do carregamento. Dessa forma, cimentos com

ganho rápido de resistência apresentarão maior fluência, sendo o cimento de alta

resistência inicial o que apresenta maiores deformações por fluência, e o cimento de

baixo calor de hidratação, os menores. Todavia, para uma tensão constante aplicada

em idades inicias, a ordem se inverte: observa-se maiores deformações no cimento de

baixo calor de hidratação e menores no cimento de alta resistência inicial. Isso se deve

uma vez que, para uma mesma tensão, o cimento de alta resistência inicial apresenta

uma razão tensão/resistência menor do que o de baixo calor de hidratação.

Apesar de não influenciar no desenvolvimento da fluência e da recuperação da

fluência, a presença de materiais cimentícios como cinza volante, escória de alto-forno

e sílica ativa pode ter efeito sobre a permeabilidade e difusividade da pasta de cimento,

o que teria influência sobre a fluência por secagem. Por exemplo, experimentos

conduzidos por Buil e Acker (1985) concluíram que o uso de sílica ativa não afeta a

fluência básica, porém leva a uma menor fluência por secagem. Isso se dá porque as

reações de hidratação da sílica ativa reduzem a quantidade de água disponível para

movimentação no gel de cimento. Além disso, tais materiais têm a capacidade de

interferir na taxa de desenvolvimento de resistência, fator que foi determinado

anteriormente como importante influenciador na deformação por fluência.

2.2.6.4 Umidade relativa do ambiente

Como já mencionado anteriormente, Howells, Lark e Barr (2005) consideraram,

nas conclusões de seus estudos, que a umidade relativa do ar é um dos fatores mais

importantes na influência das deformações dependentes do tempo. Segundo seus

estudos, a fluência tende a sofrer mais alterações devido à variação de umidade relativa

do ar devido à influência da fluência por secagem.

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Neville (2011) afirma que, para dado concreto, quanto menor a umidade relativa

do ambiente maior será a fluência e a retração, relação ilustrada pelas figuras Figura 14

e Figura 15:

5

Anos Dias

30 20 10 2 1 90 28 10

0

400

800

1200

Flu

ência

(1

0-6

)

Tempo desde carregamento (escala logarítmica)

Umidade relativa

0

1200

800

400

-400

Anos

28

Tempo desde carregamento (escala logarítmica)

Dias

10 90 1 2 5 10 20 30

Retr

ação (

10

-6)

Umidade relativa

Figura 15 - Retração do concreto curado em ambiente saturado, carregado e armazenado sob diferentes umidades (adaptado de NEVILLE, 2011)

Figura 14 - Fluência do concreto curado em ambiente saturado, carregado e armazenado sob diferentes umidades (adaptado de NEVILLE, 2011)

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O gráfico apresenta curvas para a variação da fluência de peças de concreto

curadas em ambiente com 100% de umidade relativa, carregadas e armazenadas em

condições diferentes de umidade relativa. Tais condições resultam em uma retração

inicial extremamente discrepante entre os corpos-de-prova. As taxas de fluência variam

de forma correspondente e, em idades mais avançadas, essas taxas se tornam mais

próximas. Conclui-se que a secagem sob carregamento intensifica a fluência, uma vez

que induz a fluência por secagem.

A influência da umidade relativa é muito pequena, ou ausente, em corpos-de-

prova em equilíbrio higroscópico com o ambiente antes da aplicação do carregamento,

o que indica que a umidade relativa do ambiente não influencia por si só a fluência, mas

sim o processo de secagem (NEVILLE, 2011).

É esperado que um aumento da umidade atmosférica retarde a perda de

umidade das partes interiores do concreto para sua superfície. O CEB-FIP fornece dois

gráficos relacionando a umidade relativa do ar com a retração por secagem e o

coeficiente de fluência, como pode ser visto na Figura 16:

Figura 16 - Influência da umidade relativa na a) retração por secagem e b) coeficiente de fluência (adaptado de CEB-FIP, 1970)

Umidade relativa do ar, %

Retr

ação

po

r seca

ge

m, x

10

-5

Satu

rado

Muito ú

mid

o

Norm

al

Muito s

eco

Co

eficie

nte

de f

luê

ncia

Satu

rado

Muito ú

mid

o

Norm

al

Muito s

eco

Umidade relativa do ar, %

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24

3 Modelos viscoelásticos

Após as análises dos fenômenos que serão estudados pelo presente trabalho,

este capítulo apresenta os modelos de previsão das deformações viscoelásticas e

respectivas expressões.

Em qualquer problema estático, alguns tipos de equações são empregadas:

equações de equilíbrio, que são relações entre as forças ou tensões, e as equações

geométricas, que relacionam os deslocamentos com a deformação. Todavia, nenhuma

dessas equações depende do material do qual o elemento é constituído. A influência

deste material é expressa por um terceiro tipo de equação: as equações constitutivas,

que relacionam as tensões e as deformações. Nos problemas viscoelásticos, as

equações constitutivas sofrem alterações e os modelos viscoelásticos podem ser

empregados para encontrar essas equações para a teoria linear da viscoelasticidade

(FLÜGGE, 1967).

Os modelos são compostos por ligações de elementos de mola e de amortecedor

em série e/ou paralelo. As molas respeitam a Lei de Hooke, representando uma

deformação instantânea diretamente proporcional à carga aplicada. Já os

amortecedores representam a deformação viscosa, sendo a velocidade de deformação

proporcional à tensão. Dessa forma, os modelos são capazes de descrever o

comportamento elástico (parcela da mola) e viscoso (parcela do amortecedor) ao

mesmo tempo.

3.1 Elementos básicos

Inicialmente são apresentados sucintamente os elementos básicos que

constituem os modelos fundamentais: a mola e o amortecedor.

3.1.1 Mola

O elemento de mola é conhecido por ter seu comportamento regido pela Lei de

Hooke. Para uma força 𝑃 aplicada sobre uma mola, será observado um deslocamento

𝑢, de forma que, após o descarregamento, a mola retorna ao seu comprimento original.

A constante 𝑘, que determina a proporcionalidade entre eles, é a rigidez da mola, ou

seja 𝑃 = 𝑘 ∙ 𝑢.

É preferível utilizar a Lei de Hooke em forma de tensões 𝜎 e deformações 𝜖, uma

vez que essa análise descarta as propriedades da seção transversal e comprimento do

elemento. Para um material elástico-linear tem-se:

𝜎 = 𝐸 ∙ 𝜖 (3. 1)

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25

onde 𝐸 é o módulo de elasticidade do material, 𝜎 = 𝑃 𝐴⁄ a tensão normal e 𝜖 =

𝑢 𝐿⁄ sua deformação.

3.1.2 Amortecedor

O comportamento do amortecedor é similar ao de um cilindro com um pistão

interno cujas paredes possuem um lubrificante viscoso. Uma força 𝑃 é necessária para

mover o pistão e, quanto maior essa força, maior será a velocidade do pistão. Ou seja,

tem-se uma relação entre o carregamento e a velocidade de deformação. Para uma

relação linear, tem-se 𝑃 = 𝑘 ∙ (𝑑𝑢 𝑑𝑡⁄ ). Esse comportamento é observado em barras de

certos materiais, nas quais o carregamento não é proporcional ao alongamento 𝜖 ∙ 𝐿 mas

sim à sua velocidade 𝑑(𝜖 ∙ 𝐿) 𝑑𝑡⁄ . Em termos de tensão e deformação, tem-se:

𝜎 = 𝜂 ∙ 𝑑𝜖 𝑑𝑡⁄ = 𝜂 ∙ 𝜖̇ (3. 2)

O termo 𝜖̇ é chamado de taxa de deformação e um material cuja tensão é

proporcional a essa taxa é chamado de material viscoso. A constante de

proporcionalidade 𝜂 é chamada de módulo de viscosidade.

A Figura 17 ilustra o comportamento de ambos elementos:

Figura 17 - Comportamento de elementos elásticos (a) e (b) e viscosos (c) e (d) (FLÜGGE, 1967)

Diversos modelos podem ser aplicados para descrever os efeitos viscosos e

elásticos em materiais viscoelásticos. Esses modelos são, em geral, constituídos por

arranjos geométricos de elementos de molas e amortecedores (SANTOS, 2008).

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26

3.2 Fluido de Maxwell

O modelo fluido de Maxwell possui como característica principal a organização

de uma mola e um amortecedor em série. A deformação na mola é designada por 𝜖′ e

a deformação do amortecedor por 𝜖′′, como ilustra a Figura 18.

Figura 18 - Fluido de Maxwell: mola e amortecedor em série (FLÜGGE, 1967)

Com isso, tem-se que a deformação total do sistema é a soma das deformações

da mola e do amortecedor:

𝜖 = 𝜖′ + 𝜖′′ (3. 3)

Derivando a equação (3.3) e substituindo as deformações da mola e do

amortecedor pelas suas relações tensão-deformação apresentadas no item 3.1, tem-se:

�̇�

𝐸+𝜎

𝜂= 𝜖 ′̇ + 𝜖′′̇ = 𝜖̇ (3. 4)

Substituindo as constantes 𝑝1 =𝜂

𝐸 e 𝑞1 = 𝜂, chega-se a:

𝜎 + 𝑝1 ∙ �̇� = 𝑞1 ∙ 𝜖̇ (3. 5)

Em um primeiro estágio aplica-se um carregamento súbito e constante 𝜎 = 𝜎0 no

instante 𝑡 = 0. A solução da equação diferencial, integrando os dois lados, resulta em:

𝜖 =𝜎0𝑞1

∙ 𝑡 + 𝐶1 (3. 6)

onde 𝐶1 é a constante de integração referente à deformação 𝜖 = 𝜖0 em 𝑡 = 0.

Para encontrá-la considera-se que deve haver uma descontinuidade de �̇� em 𝑡 =

0, uma vez que a aplicação do carregamento é feito de forma repentina. Integrando a

equação (3.5) em torno deste ponto, obtém-se para a constante:

𝐶1 =𝑝1 ∙ 𝜎0𝑞1

(3. 7)

Substituindo na equação (3.6):

𝜖 =𝜎0𝑞1

∙ (𝑝1 + 𝑡) =𝜎0𝐸+𝜎0𝜂∙ 𝑡 (3. 8)

Portanto tem-se uma relação linear entre a deformação do sistema e a tensão

aplicada. Os gráficos de tensão e deformação ao longo do tempo estão exemplificados

na Figura 19:

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27

Figura 19 – Primeiro estágio do elemento de Maxwell (SANTOS, 2008)

É possível observar que, para uma tensão constante, tem-se uma deformação

inicial elástica com valor 𝜎0

𝐸 e uma deformação viscosa dependente do tempo de valor

igual a 𝜎0

𝜂∙ 𝑡. Com o descarregamento tem-se uma recuperação da deformação elástica,

enquanto a deformação viscosa no momento do descarregamento é mantida de forma

permanente (SANTOS, 2008). Este estágio é chamado de fase de fluência.

No segundo estágio do experimento de Maxwell, altera-se o descarregamento

por uma fixação da deformação. Ou seja, no instante 𝑡1 contrariamente ao

descarregamento, mantém-se a deformação constante e observa-se o comportamento

da tensão ao longo do tempo, como ilustra a Figura 20:

𝜎0𝐸

𝜎0𝐸+𝜎0𝜂∙ 𝑡

𝜎0𝐸+𝜎0𝜂∙ 𝑡1

𝑡1

𝑡1 𝑡

𝑡

𝜎

𝜖

?

𝜎0

Figura 20 – Segundo estágio do elemento de Maxwell (adaptado de SANTOS, 2008)

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28

Voltando à equação (3.5), para uma deformação constante 𝜖 = 𝜖1,

consequentemente tem-se 𝜖̇ = 0. Isso resulta em uma equação diferencial homogênea

cujo resultado pode ser escrito como:

𝜎 = 𝐶2 ∙ 𝑒−𝑡 𝑝1⁄ , 𝑡 > 𝑡1 (3. 9)

Para encontrar 𝐶2 necessita-se do valor da tensão logo após o instante 𝑡1, ou

seja, 𝜎(𝑡1+). Sabe-se que um salto no valor de 𝜎 resultaria em um valor infinito de �̇� e,

consequentemente, a partir de (3.5), um valor infinito de 𝜖̇. Pode-se concluir que este

não é o caso, uma vez que não há descontinuidades no valor de 𝜖. Dessa forma, tem-

se a solução:

𝜎 = 𝜎0 ∙ 𝑒−(𝑡−𝑡1) 𝑝1⁄ =

𝜎0

𝑒(𝑡−𝑡1)∙𝐸 𝜂⁄(3. 10)

A equação (3.10) determina que a tensão diminui ao longo do tempo, tendendo

a zero quando 𝑡 → ∞. Este estágio é chamado de fase da relaxação. Resumidamente,

a fase de fluência determina um aumento da deformação ao longo do tempo para uma

tensão constante, de forma descrita por (3.8). A fase de relaxação é uma redução da

tensão ao longo do tempo para uma deformação constante, comportamento ditado por

(3.10). A Figura 21 ilustra ambos os estágios:

Figura 21 - Ensaio padrão do fluido de Maxwell (FLÜGGE, 1967)

Para 0 < 𝑡 < 𝑡1 tem-se a fase de fluência e para 𝑡 > 𝑡1 tem-se a fase de

relaxação. As linhas tracejadas na Figura 21 indicam o comportamento caso a fase de

fluência se estendesse para 𝑡 → ∞ e as relações permanecessem lineares, o que não é

condizente com a realidade. Todavia, no âmbito da linearidade, estas seriam as

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29

propriedades de um fluido, que é capaz de atingir deformações ilimitadas sob tensão

finita (FLÜGGE, 1967).

3.3 Sólido de Kelvin

O elemento de Kelvin é, também, composto por uma mola e um amortecedor. O

arranjo, todavia, é feito em paralelo. A Figura 22 ilustra o modelo.

Figura 22 - Sólido de Kelvin: mola e amortecedor em paralelo (SANTOS, 2008)

Quando os elementos são dispostos desta maneira define-se uma deformação

equivalente 𝜖′ = 𝜖′′ = 𝜖. A tensão se divide entre estes, sendo 𝜎′ a tensão na mola e 𝜎′′

a tensão no amortecedor, de tal forma que 𝜎 = 𝜎′ + 𝜎′′. Aplicando as equações (3.1) e

(3.2) nos elementos, tem-se:

𝜎 = 𝐸 ∙ 𝜖 + 𝜂 ∙ 𝜖̇ = 𝑞0 ∙ 𝜖 + 𝑞1 ∙ 𝜖̇ (3. 11)

onde 𝑞0 = 𝐸 e 𝑞1 = 𝜂.

Aplicando ambos os estágios, da mesma maneira feita no modelo de Maxwell.

Para a fase de fluência com 𝜎 = 𝜎0, tem-se a seguinte solução:

𝜖 =𝜎0𝑞0

+ 𝐶1 ∙ 𝑒−𝑞0∙𝑡 𝑞1⁄ (3. 12)

Na descontinuidade em 𝑡 = 0 quando 𝜎 salta de 0 para 𝜎0, a tensão 𝜎 permanece

finita e, segundo (3.9), 𝜖̇ também deve permanecer finito. Assim, conclui-se que 𝜖 não

pode ter um salto e 𝜖(0+) = 𝜖(0−) = 0. Ou seja, diferentemente do modelo de Maxwell,

o modelo de Kelvin não sofre uma deformação instantânea inicial. Com isso tem-se 𝐶1 =

−𝜎0 𝐸⁄ e, portanto:

𝜖 =𝜎0𝑞0

∙ (1 − 𝑒−𝑞0∙𝑡 𝑞1⁄ ) (3. 13)

Pode-se observar que para 𝑡 → ∞ a deformação converge para o valor da

deformação elástica: 𝜖∞ =𝜎0

𝐸, em oposição ao aumento infinito de deformação proposto

pelo modelo de Maxwell. A Figura 23 ilustra o comportamento do modelo no primeiro

estágio.

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30

Como a deformação nunca atinge o valor da deformação elástica, porém tende

ao mesmo, chama-se este comportamento de elasticidade atrasada.

Para a fase de relaxação, tem-se 𝜖 = 𝜖1 e 𝜖̇ = 0. Assim, deduz-se da equação

(3.11):

𝜎 = 𝑞0 ∙ 𝜖1 (3. 14)

Substituindo o valor de 𝜖1 obtido da equação (3.13) tem-se:

𝜎 = 𝜎0 ∙ (1 − 𝑒−𝑞0∙𝑡1 𝑞1⁄ ) (3. 15)

Ou seja, a tensão assume um valor constante e menor que 𝜎0. Dessa forma tem-

se uma redução imediata da tensão, que permanece constante em seguida. A Figura

24 ilustra ambos os estágios do modelo de Kelvin:

𝑡1 𝑡

𝜎

𝜎0𝐸

𝑡1 𝑡

𝜎0

Figura 23 - Primeiro estágio do elemento de Kelvin (adaptado de SANTOS, 2008)

𝜖

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31

Figura 24 - Ensaio padrão do sólido de Kelvin (FLÜGGE, 1967)

3.4 Modelo de Boltzmann

Considerando os modelos apresentados em conjunto é possível formar, por

exemplo, um sólido de três parâmetros como o apresentado na Figura 25:

Figura 25 – Modelo de Boltzmann (FLÜGGE, 1967)

Sabe-se que a tensão na mola é igual a tensão no sólido de Kelvin e, portanto,

tem-se, a partir das equações (3.1) e (3.11):

𝜎 = 𝐸 ∙ 𝜖′ (3. 16)

𝜎 = 𝑞0′′ ∙ 𝜖′′ + 𝑞1

′′ ∙ 𝜖̇′′ (3. 17)

Aplicando a transformada de Laplace e assumindo que os valores das funções

e suas derivadas em zero são nulos:

�̅� = 𝐸 ∙ 𝜖 ′̅ (3. 18)

�̅� = 𝑞0′′ ∙ 𝜖′′̅̅ ̅ + 𝑞1

′′ ∙ 𝑠 ∙ 𝜖′′̅̅ ̅ = (𝑞0′′ + 𝑠 ∙ 𝑞1

′′) ∙ 𝜖′′̅̅ ̅ (3. 19)

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32

Somando as duas deformações tem-se:

𝜖 ′̅ + 𝜖′′̅̅ ̅ =�̅�

𝐸+

�̅�

(𝑞0′′ + 𝑠 ∙ 𝑞1

′′)(3. 20)

Finalmente, rearranjando os termos, chega-se à equação:

𝐸(𝑞0′′ + 𝑠 ∙ 𝑞1

′′)(𝜖 ′̅ + 𝜖′′̅̅ ̅) = 𝐸 ∙ �̅� + (𝑞0′′ + 𝑠 ∙ 𝑞1

′′) ∙ �̅� (3. 21)

Como a transformada da deformação total 𝜖 ̅é a soma das transformadas das

deformações de cada elemento, tem-se:

𝐸(𝑞0′′ + 𝑠 ∙ 𝑞1

′′)𝜖̅ = 𝐸 ∙ �̅� + (𝑞0′′ + 𝑠 ∙ 𝑞1

′′) ∙ �̅� (3. 22)

Transformando as funções de volta às originais, tem-se a equação diferencial

que rege o modelo, escrita como:

(𝐸 + 𝑞0′′) ∙ 𝜎 + 𝑞1

′′ ∙ �̇� = 𝐸 ∙ 𝑞0′′ ∙ 𝜖 + 𝐸 ∙ 𝑞1

′′ ∙ 𝜖̇ (3. 23)

Pode-se reescrevê-la da seguinte forma:

𝜎 + 𝑝1�̇� = 𝑞0𝜖 + 𝑞1𝜖̇ (3. 24)

onde:

𝑝1 = 𝑞1′′ (𝐸 + 𝑞0

′′)⁄ (3. 25)

𝑞0 = 𝐸 ∙ 𝑞0′′ (𝐸 + 𝑞0

′′)⁄ (3. 26)

𝑞1 = 𝐸 ∙ 𝑞1′′ (𝐸 + 𝑞0

′′)⁄ (3. 27)

Dessas relações, obtém-se:

𝑞1𝑝1

− 𝑞0 =𝐸2

𝐸 + 𝑞0′′ (3. 28)

O lado esquerdo da equação (3.28) deve ser sempre positivo e, portanto:

𝑞1 > 𝑝1 ∙ 𝑞0 (3. 29)

Novamente aplica-se o ensaio padrão, começando pela fase de fluência, onde a

tensão é mantida constante a partir de uma aplicação súbita. Ou seja:

𝜎 = 𝜎0 ∙ 𝛥(𝑡) (3. 30)

onde Δ(𝑡) é a função degrau, iniciando na origem.

Aplica-se, então, a transformada de Laplace na equação (3.24), assumindo que

os valores das funções e suas derivadas em 𝑡 = 0 são nulos:

𝜎0 ∙ (1

𝑠+ 𝑝1) = (𝑞0 + 𝑞1 ∙ 𝑠) ∙ 𝜖̅ (3. 31)

Isolando a deformação, tem-se:

𝜖̅ = 𝜎0 ∙1 + 𝑝1 ∙ 𝑠

𝑠 ∙ (𝑞0 + 𝑞1 ∙ 𝑠)(3. 32)

Aplicando uma constante definida como 𝜆 = 𝑞0 𝑞1⁄ , resulta em:

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33

𝜖̅ =𝜎0𝑞1

∙ [1

𝑠 ∙ (𝑠 + 𝜆)+

𝑝1𝑠 + 𝜆

] (3. 33)

Transformando de volta para a função original:

𝜖 =𝜎0𝑞1

∙ [1

𝜆∙ (1 − 𝑒−𝜆∙𝑡) + 𝑝1 ∙ 𝑒

−𝜆∙𝑡] (3. 34)

Substituindo o valor de 𝜆, encontra-se a função da deformação no tempo:

𝜖 =𝜎0𝑞0

∙ [1 − (1 −𝑝1 ∙ 𝑞0𝑞1

) ∙ 𝑒−𝑞0∙𝑡 𝑞1⁄ ] (3. 35)

Analisando a equação (3.35), pode-se observar que inicialmente o material sofre

uma deformação elástica:

𝜖(0+) = 𝜖0 = 𝜎0 ∙𝑝1𝑞1

=𝜎0𝐸0

(3. 36)

E possui ainda um comportamento assintótico, tendendo a:

𝜖(∞) = 𝜖∞ =𝜎0𝑞0

=𝜎0𝐸∞

(3. 37)

Esse comportamento é descrito pela Figura 26:

A partir do instante 𝑡1 insere-se linhas pontilhadas, uma vez que é o instante em

que terá início a fase de relaxação, que será tratada. Na fase de relaxação mantém-se

a deformação constante e aplica-se uma variável temporal 𝜏 definida de forma que 𝜏 =

𝜖0 𝜖1

𝑡1

𝜎0 𝑞0⁄

𝜖

𝑡

𝑡1

𝜎0

𝜎

𝑡

Figura 26 - Fase de fluência do modelo de Boltzmann (adaptado de FLÜGGE, 1967)

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34

𝑡 − 𝑡1. Assim, para 𝜏 ≥ 0, tem-se 𝜖 = 𝜖1 ∙ Δ(𝜏), cuja transformada de Laplace é 𝜖̅ = 𝜖1 𝑠⁄ .

Assim, pode-se escrever a nova transformada de Laplace de (3.24). Desta vez as

funções não possuem valores nulos para 𝜏 = 0:

�̅� + 𝑝1 ∙ (𝑠 ∙ �̅� − 𝜎0) = 𝑞0 ∙ 𝜖 ̅ + 𝑞1 ∙ (𝑠 ∙ 𝜖̅ − 𝜖1) = 𝑞0 ∙ 𝜖1 𝑠⁄ (3. 38)

Isolando �̅�:

�̅� =𝑞0 ∙ 𝜖1

𝑠 ∙ (1 + 𝑝1 ∙ 𝑠)+

𝑝1 ∙ 𝜎01 + 𝑝1 ∙ 𝑠

(3. 39)

Trazendo de volta para a função original obtém-se a função da tensão no tempo:

𝜎 = 𝑞0 ∙ 𝜖1 ∙ (1 − 𝑒−𝜏 𝑝1⁄ ) + 𝜎0 ∙ 𝑒−𝜏 𝑝1⁄ (3. 40)

Nota-se que a tensão diminui assintoticamente, tendendo a 𝜎∞ = 𝑞0 ∙ 𝜖1 = 𝐸∞ ∙

𝜖1. Assim, pode-se finalizar os gráficos de 𝜎 × 𝑡 e 𝜖 × 𝑡 contendo ambas as fases:

Outros modelos mais complexos podem ser desenvolvidos e, para isso, deve-se

usar uma equação diferencial genérica, a seguir apresentada.

3.5 Equação constitutiva da viscoelasticidade

A equação diferencial genérica que pode ser aplicada a qualquer modelo

baseado nos elementos de Kelvin e Maxwell é apresentada a seguir:

𝜖

𝜖0 𝜖1

𝑡1 𝑡

𝜎0 𝑞0⁄

𝜎

𝜎0

𝑡1 𝑡

𝑞0 ∙ 𝜖1

Figura 27 - Fases de fluência e relaxação do modelo de Boltzmann (adaptado de FLÜGGE, 1967)

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35

𝜎 + 𝑝1�̇� + 𝑝2�̈� + ⋯ = 𝑞0𝜖 + 𝑞1𝜖̇ + 𝑞2𝜖̈ + ⋯ (3. 41)

Pode-se escrevê-la em forma de somatório:

∑𝑝𝑘𝑑𝑘𝜎

𝑑𝑡𝑘

𝑚

0

=∑𝑞𝑘𝑑𝑘𝜖

𝑑𝑡𝑘

𝑛

0

(3. 42)

onde mantém-se 𝑝0 sempre unitário, dividindo a equação por seu valor.

Pode-se reescrever os somatórios de modo a gerar a seguinte equação:

𝑷𝜎 = 𝑸𝜖 (3. 43)

onde os coeficientes 𝐏 e 𝐐 são operadores diferenciais, escritos como:

𝑷 =∑𝑝𝑘𝑑𝑘

𝑑𝑡𝑘

𝑚

0

(3. 44)

𝑸 =∑𝑞𝑘𝑑𝑘

𝑑𝑡𝑘

𝑛

0

(3. 45)

Para cada modelo tem-se um número diferente de coeficientes 𝑝𝑘 e 𝑞𝑘, ou seja,

valores diferentes para 𝑚 e 𝑛. Assumindo que os valores de ambas funções e suas

derivadas em zero são nulos, obtém-se a transformação de Laplace para (3.42):

∑𝑝𝑘 ∙ 𝑠𝑘 ∙ �̅�

𝑚

0

=∑𝑞𝑘 ∙ 𝑠𝑘 ∙ 𝜖 ̅

𝑛

0

(3. 46)

Pode-se reescrever a equação (3.46) da seguinte forma:

𝒫(𝑠) ∙ �̅� = ℒ(𝑠) ∙ 𝜖̅ (3. 47)

onde 𝒫 e ℒ são polinômios em função de 𝑠:

𝒫(𝑠) =∑𝑝𝑘 ∙ 𝑠𝑘

𝑚

0

(3. 48)

ℒ(𝑠) =∑𝑞𝑘 ∙ 𝑠𝑘

𝑛

0

(3. 49)

3.6 Coeficientes de fluência e relaxação

A seguir apresenta-se brevemente dois parâmetros aplicados ao estudo de

problemas viscoelásticos: os coeficientes de fluência e relaxação. Nos itens anteriores,

divide-se o ensaio padrão em duas fases: fase da fluência e fase da relaxação.

Começando pela fase da fluência, tem-se uma aplicação súbita de uma tensão, que é

mantida constante. Ou seja, tem-se uma tensão 𝜎 = 𝜎0 ∙ Δ(𝑡), onde Δ(𝑡) é a função

degrau. Como se tratam de materiais lineares, pode-se escrever a seguinte relação

entre tensão e deformação:

𝜖(𝑡) = 𝜎0 ∙ 𝐽(𝑡) (3. 50)

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A função 𝐽(𝑡) depende do tempo e é capaz de descrever a relação entre a tensão

e a deformação na fase de fluência. Essa função é chamada de coeficiente de fluência,

definida como sendo deformação por carga aplicada, e varia para cada material. Pode-

se obtê-la a partir das equações diferenciais de cada modelo considerando 𝜎0 = 1, 𝜎 =

Δ(𝑡) e 𝜖(𝑡) = 𝐽(𝑡).

De forma análoga, também se tem uma mesma relação para a fase de relaxação.

Nesta fase, tem-se uma deformação imposta de forma súbita e mantida constante. Ou

seja, 𝜖(𝑡) = 𝜖0 ∙ Δ(𝑡). A relação tensão-deformação deve ser:

𝜎(𝑡) = 𝜖0 ∙ 𝑌(𝑡) (3. 51)

onde 𝑌(𝑡) é uma função dependente do tempo, definida como tensão por

deformação aplicada, e que varia para cada material. Esta é chamada de módulo de

relaxação, e pode ser obtida da mesma maneira que 𝐽(𝑡): admite-se que 𝜖0 = 1, 𝜖(𝑡) =

Δ(𝑡) e 𝜎(𝑡) = 𝑌(𝑡).

3.7 Princípio da correspondência

Em geral, um problema viscoelástico se difere de um problema elástico apenas

pela relação constitutiva, que relaciona as tensões e as deformações. Enquanto a

elasticidade obedece a Lei de Hooke, a viscoelasticidade possui outra relação,

dependente do tempo, e já apresentada anteriormente.

Dessa forma, o princípio da correspondência busca encontrar relações entre os

problemas elásticos e viscoelásticos, mais precisamente encontrando equivalências

entre seus parâmetros. Para exemplificar o princípio, considera-se uma viga composta

por material viscoelástico, inicialmente submetida a um carregamento 𝑃0 no instante 𝑡 =

0. O carregamento é, então, mantido constante, o que caracteriza a fase de fluência do

ensaio padrão, como descreve a Figura 28:

Figura 28 - Carregamento 𝑃 em função do tempo

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Assim, pode-se escrever:

𝑃(𝑡) = 𝑃0 ∙ 𝛥(𝑡) (3. 52)

Pode-se ainda escrever a tensão em função do tempo:

𝜎(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡) = 𝜎(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∙ 𝛥(𝑡) (3. 53)

onde 𝜎(𝑥, 𝑦, 𝑧) é a tensão da viga elástica.

Como visto no item Erro! Fonte de referência não encontrada., pode-se

escrever a relação tensão-deformação:

𝜖(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡) = 𝜎(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∙ 𝐽(𝑡) (3. 54)

É possível observar que, para um material viscoelástico, a deformação em

qualquer instante 𝑡 seria igual à deformação de um material elástico cujo módulo de

elasticidade seja 𝐸 = 1 𝐽(𝑡)⁄ .

Chega-se à conclusão de que se uma viga viscoelástica sofrer carregamentos

simultâneos em um instante 𝑡 = 0, que são então mantidos constantes, suas tensões

são as mesmas que as de uma viga elástica submetida aos mesmos carregamentos, e

suas deformações e deslocamentos dependem do tempo e podem ser obtidos do

problema elástico substituindo o módulo de elasticidade 𝐸 pelo inverso do coeficiente

de fluência: 1 𝐽(𝑡)⁄ . Essa é a primeira parte do princípio da correspondência.

Em seguida, efetiva-se uma análise semelhante para a fase de relaxação. Seja

um deslocamento subitamente imposto e mantido constante, como um deslocamento

𝑤0 na ponta em balanço de uma viga engastada e livre. Tem-se, para um ponto 𝑥0

qualquer, um comportamento descrito pela Figura 29:

Figura 29 - Deslocamento 𝑤(𝑥0) de um ponto 𝑥0 qualquer em função do tempo

Assim, pode-se escrever para qualquer ponto 𝑥:

𝑤(𝑥, 𝑡) = 𝑤(𝑥) ∙ 𝛥(𝑡) (3. 55)

Em termos de deformações, tem-se:

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38

𝜖(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡) = 𝜖(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∙ 𝛥(𝑡) (3. 56)

Como já visto no item Erro! Fonte de referência não encontrada., tem-se uma

relação linear entre as tensões e as deformações:

𝜎(𝑥, 𝑦, 𝑧, 𝑡) = 𝜖(𝑥, 𝑦, 𝑧) ∙ 𝑌(𝑡) (3. 57)

Tem-se, portanto, a segunda parte do princípio da correspondência: se uma viga

viscoelástica for submetida a deslocamentos simultâneos em um instante 𝑡 = 0, que são

então mantidos constantes, suas deformações são as mesmas que as de uma viga

elástica submetida aos mesmos deslocamentos, e suas tensões dependem do tempo e

podem ser obtidos do problema elástico substituindo o módulo de elasticidade 𝐸 pelo

coeficiente de relaxação 𝑌(𝑡).

Para exemplificar, considera-se uma viga biapoiada submetida a um

deslocamento 𝑤0 em seu centro no momento 𝑡 = 0, que será mantido constante. Uma

força 𝑃, ainda desconhecida, é necessária para causar tal deslocamento.

Figura 30 - Aplicação do deslocamento 𝑤0 no instante t = 0 (adaptado de FLÜGGE, 1967)

Figura 31 - Força 𝑃 necessária para gerar 𝑤0 (adaptado de FLÜGGE, 1967)

Para uma viga elástica, tem-se a relação de resistência dos materiais:

𝑤0 =𝑃𝑙3

48𝐸𝐼(3. 58)

Isolando o carregamento 𝑃 e substituindo 𝐸 pelo módulo de relaxação, tem-se:

𝑃 =48𝐼 ∙ 𝑤0

𝑙3∙ 𝑌(𝑡) (3. 59)

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39

Substituindo os valores de 𝑌(𝑡) na equação (3.59), pode-se obter as funções de

𝑃(𝑡) para o sólido e fluido de três parâmetros, conforme tabela 2.2 encontrada em

FLÜGGE, 1967:

𝑃(𝑡) =48𝐼 ∙ 𝑤0

𝑙3∙ [𝑞1𝑝1

∙ 𝑒−𝑡 𝑝1⁄ + 𝑞0 ∙ (1 − 𝑒−𝑡 𝑝1⁄ )] (3. 60)

𝑃(𝑡) =48𝐼 ∙ 𝑤0

𝑙3∙ [𝑞2𝑝1

∙ 𝛿(𝑡) +1

𝑝1∙ (𝑞1 −

𝑞2𝑝1) ∙ 𝑒−𝑡 𝑝1⁄ ] (3. 61)

onde 𝛿(𝑡) é a função delta de Dirac.

A partir das funções (3.60) e (3.61) tem-se os gráficos de 𝑃(𝑡):

Figura 32 - Carregamento 𝑃 em função do tempo para o a) sólido de três parâmetros e b) fluido

de três parâmetros (FLÜGGE, 1967)

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40

4 Caracterização do problema

No capítulo 2 definiu-se que a fluência se trata de um aumento da deformação

sob tensão constante. Todavia, esse fenômeno pode gerar um comportamento distinto

do esperado quando se trata de estruturas de concreto armado. Isso ocorre devido à

interação entre o concreto e o aço apresentar um novo aspecto ao problema

viscoelástico, indo além da simples incidência dos efeitos reológicos individualmente.

Segundo Gilbert e Ranzi (2011), quando se trata de concreto armado, a fluência

pode ter o efeito de mudança dramática na distribuição de tensões. Por exemplo, as

tensões causadas pela retração ou variação de temperatura podem ser aliviadas pela

fluência, que também causa uma redistribuição das tensões entre o concreto e a

armadura.

Assumindo uma seção transversal de concreto armado submetida a uma tensão

constante, uma vez que o concreto e o aço estão unidos em um único elemento, a

compatibilidade requer que a deformação em ambos seja idêntica. Ao passo que o

concreto comprimido sofre fluência (contração), o aço é comprimido e a tensão de

compressão no aço aumenta gradativamente. Esse efeito é similar para a retração.

Então, devido ao equilíbrio, a tensão compressiva atuante no aço precisa ser

compensada por uma tensão de tração de mesma direção e sentido oposto no concreto.

Dessa forma, a tensão de compressão no concreto diminui com o tempo, ao passo que

a tensão no aço aumenta.

Para caracterizar esse comportamento, propõe-se analisar a distribuição de

tensões entre o aço e o concreto de uma coluna de concreto armado submetida a um

carregamento axial constante de compressão, conforme Figura 33. Como é esperado,

as tensões irão se distribuir inicialmente entre os dois elementos. O objetivo é, então,

prever como essas tensões se distribuem ao longo do tempo, ao passo que o concreto

sofre fluência e se deforma, deformando igualmente o aço estrutural.

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41

Figura 33 – Caracterização do problema da fluência

Aplica-se neste problema o modelo de Boltzmann descrito no item Erro! Fonte

de referência não encontrada.. Para isso, são necessários valores satisfatórios para

os coeficientes incluídos nos operadores diferenciais 𝐏 e 𝐐. Esse processo pode ser

feito tanto de forma experimental quanto teórica. Opta-se aqui pela maneira teórica,

através de um refinamento computacional até atingir um resultado próximo do esperado.

4.1 Obtenção dos coeficientes

Dedica-se esta seção à obtenção dos coeficientes a serem usados na resolução

do problema. Primeiramente, reapresenta-se as relações (3.25), (3.26) e (3.27)

introduzidas no item Erro! Fonte de referência não encontrada.:

𝑝1 = 𝑞1′′ (𝐸 + 𝑞0

′′)⁄ (4. 1)

𝑞0 = 𝐸 ∙ 𝑞0′′ (𝐸 + 𝑞0

′′)⁄ (4. 2)

𝑞1 = 𝐸 ∙ 𝑞1′′ (𝐸 + 𝑞0

′′)⁄ (4. 3)

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42

onde 𝑞0′′ e 𝑞1

′′ são a constante elástica da mola e o módulo de viscosidade do

amortecedor, respectivamente, presentes no sólido de Kelvin, sendo 𝐸 o módulo de

elasticidade da mola associada em série com o sólido.

Essas designações são indicadas na Figura 34:

Figura 34 - Parâmetros iniciais do modelo de Boltzmann (adaptado de FLÜGGE, 1967)

A equação (3.35) da deformação em função do tempo obtida no item Erro! Fonte

de referência não encontrada. é reapresentada a seguir:

𝜖(𝑡) =𝜎0𝑞0

∙ [1 − (1 −𝑝1 ∙ 𝑞0𝑞1

) ∙ 𝑒−𝑞0∙𝑡 𝑞1⁄ ] (4. 4)

Como observado no item supracitado, a deformação inicial é dada por:

𝜖(0+) = 𝜖0 = 𝜎0 ∙𝑝1𝑞1

=𝜎0𝐸0

(4. 5)

Dessa forma, a razão 𝑞1

𝑝1 deve apresentar um valor tal que a deformação inicial

seja igual à deformação elástica do concreto. Assim:

𝑞1𝑝1

= 𝐸𝑐 (4. 6)

Desta relação, tem-se:

𝐸 ∙ 𝑞1′′ (𝐸 + 𝑞0

′′)⁄

𝑞1′′ (𝐸 + 𝑞0

′′)⁄= 𝐸𝑐 → 𝐸 = 𝐸𝑐 (4. 7)

Adotando-se o valor do módulo de elasticidade do concreto como 𝐸𝑐 = 25 𝐺𝑃𝑎 e

estimando-se os seguintes valores iniciais para os parâmetros:

𝑞0′′ = 105 𝑀𝑃𝑎 (4. 8)

𝑞1′′ = 10−2 𝑀𝑃𝑎 ∙ 𝑑𝑖𝑎 (4. 9)

𝐸 = 25 × 103 𝑀𝑃𝑎 (4. 10)

Obtém-se os coeficientes iniciais:

𝑝1 = 10−2 (25 × 103 + 105)⁄ = 8 × 10−8 𝑑𝑖𝑎𝑠 (4. 11)

𝑞0 = 25 × 103 × 105 (25 × 103 + 105)⁄ = 20000 𝑀𝑃𝑎 (4. 12)

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43

𝑞1 = 25 × 103 × 10−2 (25 × 103 + 105)⁄ = 0,002 𝑀𝑃𝑎 ∙ 𝑑𝑖𝑎 (4. 13)

A equação para a deformação em função do tempo é, portanto:

𝜖 =𝜎0

20000∙ [1 − (1 −

8 × 10−8 × 20000

0,002) ∙ 𝑒−20000∙𝑡 0,002⁄ ] (4. 14)

Simplificando, pode-se escrevê-la como:

𝜖(𝑡) =𝜎0

20000∙ (1 − 0,2 ∙ 𝑒−10

7∙𝑡) (4. 15)

Assumindo uma tensão inicial 𝜎0 = 20 𝑀𝑃𝑎, produz-se um gráfico da função

obtida pelo tempo:

Figura 35 - Deformação em função do tempo - modelo de Boltzmann - coeficientes iniciais

Observa-se pelo gráfico que não foram obtidos coeficientes satisfatórios. A

deformação rapidamente convergiu, de forma semelhante à deformação elástica. Isso

se dá pelo fato de ter sido adotado um módulo de viscosidade muito baixo.

Dando continuidade ao processo de refinamento dos parâmetros, chega-se ao

resultado a seguir:

𝑞0′′ = 15000 𝑀𝑃𝑎 (4. 16)

𝑞1′′ = 1,5 × 107 𝑀𝑃𝑎 ∙ 𝑑𝑖𝑎 (4. 17)

𝐸 = 25 × 103 𝑀𝑃𝑎 (4. 18)

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44

Com isso, calculam-se os coeficientes a serem usados na equação da

deformação:

𝑝1 = 1,5 × 107 (15000 + 25 × 103)⁄ = 375 𝑑𝑖𝑎𝑠 (4. 19)

𝑞0 = 15000 × 25 × 103 (15000 + 25 × 103)⁄ = 9375 𝑀𝑃𝑎 (4. 20)

𝑞1 = 25 × 103 × 1,5 × 107 (15000 + 25 × 103)⁄ = 9375000 𝑀𝑃𝑎 ∙ 𝑑𝑖𝑎𝑠 (4. 21)

Esses valores, inseridos na equação (4.4), resulta em:

𝜖(𝑡) =𝜎0

9375∙ [1 − (1 −

375 × 9375

9375000) ∙ 𝑒−9375∙𝑡 9375000⁄ ] (4. 22)

Simplificando, obtém-se:

𝜖(𝑡) =𝜎0

9375∙ (1 − 0,625 ∙ 𝑒−0,001∙𝑡) (4. 23)

Para uma tensão inicial 𝜎0 = 20 𝑀𝑃𝑎, obtém-se o gráfico apresentado na Figura

36.

Figura 36 - Deformação em função do tempo após refinamento dos parâmetros

Considerando-se satisfatórios os resultados obtidos, pode-se justificar a adoção

destes coeficientes.

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45

4.2 Método de solução

A qualquer momento após a aplicação da tensão inicial na coluna de concreto

armado, tem-se a seguinte condição que determina a distribuição de tensões entre o

aço e o concreto, devendo ser sempre respeitada:

𝜎𝑠 ∙ 𝐴𝑠 + 𝜎𝑐 ∙ 𝐴𝑐 = 𝑃 (4. 24)

A equação (4.24) é a equação de equilíbrio do problema. Além disso, considera-

se que a deformação no concreto e a deformação no aço são sempre iguais.

𝜖𝑐 = 𝜖𝑠 (4. 25)

A equação (4.25) é definida como equação de compatibilidade. Essas equações,

em conjunto com a equação (4.23), são empregadas na solução do problema.

Inicialmente, após a aplicação da carga 𝑃, tem-se uma distribuição inicial de

tensões, de tal forma que, a partir de (4.25), tem-se:

𝜖𝑐(𝑡0) = 𝜖𝑠(𝑡0) →𝜎𝑠(𝑡0)

𝐸𝑠=𝜎𝑐(𝑡0)

𝐸𝑐(4. 26)

De onde pode-se determinar a tensão no aço em função da tensão no concreto:

𝜎𝑠(𝑡0) =𝐸𝑠𝐸𝑐

∙ 𝜎𝑐(𝑡0) (4. 27)

Substituindo em (4.24), tem-se:

𝐸𝑠𝐸𝑐

∙ 𝜎𝑐(𝑡0) ∙ 𝐴𝑠 + 𝜎𝑐(𝑡0) ∙ 𝐴𝑐 = 𝑃 → 𝜎𝑐(𝑡0) ∙ (𝐸𝑠𝐸𝑐

∙ 𝐴𝑠 + 𝐴𝑐) = 𝑃 (4. 28)

Finalmente, obtém-se a tensão inicial no concreto:

𝜎𝑐(𝑡0) =𝑃

(𝐸𝑠𝐸𝑐

∙ 𝐴𝑠 + 𝐴𝑐)(4. 29)

Para encontrar a tensão no aço, utiliza-se novamente a equação (4.24), desta

vez conhecendo a tensão no concreto:

𝜎𝑠(𝑡0) =𝑃 − 𝜎𝑐(𝑡0) ∙ 𝐴𝑐

𝐴𝑠(4. 30)

Como mencionado no item 4, apenas o concreto estará sujeito ao efeito da

fluência, uma vez que seu comportamento viscoelástico é predominante em

comparação ao do aço nas tensões sob as quais geralmente estão sujeitas as estruturas

de concreto armado.

Portanto, para considerarmos a fluência, define-se um passo Δ𝑡, dentro do qual

assume-se que a tensão no concreto permanece constante. Dessa forma, através de

(4.23), pode-se calcular a deformação sofrida pelo concreto após esse passo, em um

instante 𝑡1 = Δ𝑡:

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𝜖𝑐(𝑡1) =𝜎0

9375∙ (1 − 0,625 ∙ 𝑒−0,001∙𝑡1) (4. 31)

Em seguida, de acordo com a equação (4.25), tem-se também a deformação no

aço:

𝜖𝑠(𝑡1) = 𝜖𝑐(𝑡1) (4. 32)

Assim, pela Lei de Hooke, pode-se calcular a nova tensão no aço.

𝜎𝑠(𝑡1) = 𝐸𝑠 ∙ 𝜖𝑠(𝑡1) (4. 33)

Através da equação (4.24), calcula-se também a nova tensão no concreto,

prevendo a redistribuição das tensões após o intervalo de tempo Δ𝑡.

𝜎𝑐(𝑡1) =𝑃 − 𝜎𝑠(𝑡1) ∙ 𝐴𝑠

𝐴𝑐(4. 34)

Após o primeiro passo, o cálculo da deformação no concreto tem uma pequena

mudança, uma vez que a tensão no concreto foi alterada de 𝜎0 para 𝜎1 devido à variação

de deformação do aço, ocasionada pela fluência do concreto durante o primeiro passo.

Nesse caso, primeiramente, calcula-se a deformação que o concreto sofreria no instante

𝑡2 = 2 ∙ Δ𝑡 sob ação de 𝜎1:

𝜖𝑐′(𝑡2) =

𝜎19375

∙ (1 − 0,625 ∙ 𝑒−0,001∙𝑡2) (4. 35)

Todavia, esse cálculo representa o valor da deformação no concreto caso ele

estivesse sujeito à tensão 𝜎1 durante o intervalo 2 ∙ Δ𝑡 inteiro. Então, subtrai-se deste

valor a deformação que o concreto sofreria até o instante 𝑡1 = Δ𝑡 sob ação da mesma

tensão, obtendo a variação da deformação entre os instantes 𝑡1 e 𝑡2 para 𝜎1:

𝛥𝜖𝑐(𝑡2) = 𝜖𝑐′(𝑡2) − 𝜖𝑐

′(𝑡1) (4. 36)

𝛥𝜖𝑐(𝑡2) =𝜎1

9375∙ (1 − 0,625 ∙ 𝑒−0,001∙𝑡2) −

𝜎19375

∙ (1 − 0,625 ∙ 𝑒−0,001∙𝑡1) (4. 37)

Somando a essa variação a deformação obtida por (4.32), obtém-se a

deformação do concreto no instante 𝑡2:

𝜖𝑐(𝑡2) = 𝜖𝑐(𝑡1) + 𝛥𝜖𝑐(𝑡2) (4. 38)

Com isso, pode-se calcular a deformação no aço, e as tensões no aço e no

concreto da mesma maneira feita para o instante 𝑡1. Esse mesmo processo é repetido

para qualquer instante 𝑡𝑛.

Finalmente, apresenta-se um fluxograma explicativo de todo o procedimento na

Figura 37.

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Figura 37 - Fluxograma descritivo do método de solução do problema da fluência

𝜎𝑐(𝑡0) =𝑃

𝐸𝑠𝐸𝑐

𝐴𝑠+𝐴𝑐

𝜎𝑠(𝑡0) =𝑃− 𝜎𝑐(𝑡0) 𝐴𝑐

𝐴𝑠

Tensão inicial no concreto:

Tensão inicial no aço (equação de equilíbrio):

Estado de tensões iniciais

Δ𝑡 (passo)

𝜖𝑐 𝑡1 =𝜎0

3448,28 1 − 1−

137,93× 3448,28

3448275,86 𝑒−3 8,28 𝑡1 3 8275,8 ⁄

𝜖𝑠 𝑡1 = 𝜖𝑐 𝑡1

Deformação por fluência do concreto:

Equação de compatibilidade:

𝜎𝑠 𝑡1 = 𝐸𝑠 𝜖𝑠 𝑡1Lei de Hooke para o aço:

𝜎𝑐 𝑡1 =𝑃 −𝜎𝑠 𝑡1 𝐴𝑠

𝐴𝑐Tensão no concreto (equação de equilíbrio):

Estado de tensões no tempo 𝑡1

Deformação por fluência do concreto: 𝜖𝑐 𝑡2 =𝜎1

9375 1 − 0,625 𝑒−0,001 𝑡2 −

𝜎19375

1 − 0,625 𝑒−0,001 𝑡1 + 𝜖𝑐 𝑡1

𝜖𝑠 𝑡2 = 𝜖𝑐 𝑡2Equação de compatibilidade:

𝜎𝑠 𝑡2 = 𝐸𝑠 𝜖𝑠 𝑡2Lei de Hooke para o aço:

𝜎𝑐 𝑡2 =𝑃−𝜎𝑠 𝑡2 𝐴𝑠

𝐴𝑐Tensão no concreto (equação de equilíbrio):

Estado de tensões no tempo 𝑡2

Δ𝑡 (passo)

Repete-se o processo para qualquer tempo 𝑡𝑛

Δ𝜖𝑐(𝑡2)

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48

4.3 Dados iniciais

Define-se a seção transversal da coluna com dimensões de 40 x 40 cm², sendo

armada com 10 barras de 32 mm de diâmetro (10𝜙32 𝑚𝑚), totalizando 80 cm², conforme

a Figura 38.

Figura 38 - Seção transversal da coluna de concreto armado analisada

Os parâmetros adotados para os materiais são os seguintes:

𝐸𝑐 = 25 𝐺𝑃𝑎 (4. 39)

𝐸𝑠 = 200 𝐺𝑃𝑎 (4. 40)

A carga aplicada será 𝑃 = 5000 𝑘𝑁. Assim, de (4.29), calcula-se a tensão inicial

no concreto:

𝜎𝑐(𝑡0) =5000

(20025

∙ 80 × 10− + 0,42)= 22321 𝑘𝑃𝑎 (4. 41)

Calcula-se, por (4.30), a tensão inicial no aço:

𝜎𝑠(𝑡0) =5000 − 22321 × 0,42

80 × 10− = 178580 𝑘𝑃𝑎 (4. 42)

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5 Solução do problema

Determinando um passo de Δ𝑡 = 10 𝑑𝑖𝑎𝑠, observa-se que a deformação se

estabiliza após aproximadamente 4700 dias, no qual a tensão no concreto prevista é

𝜎𝑐 = 11,52 𝑀𝑃𝑎 e a tensão no aço é 𝜎𝑠 = 394,66 𝑀𝑃𝑎. A variação dessas tensões no

tempo é dada no gráfico da Figura 39.

Figura 39 - Variação da tensão no aço e no concreto

É possível observar na curva a demonstração do comportamento descrito no

item 4, no qual se prevê que a fluência teria um efeito de aumento da tensão

compressiva no aço e diminuição da mesma tensão no concreto. A variação entre as

tensões inicial e final do concreto é de, aproximadamente, 48%. Já o aço tem sua tensão

aumentada em 1,2 vezes.

5.1 Variação dos dados iniciais

Agora, com o intuito de observar de que forma os dados iniciais utilizados afetam

a solução obtida, opta-se por variar o valor do carregamento inicial, como descrito pela

Figura 40. É possível perceber que o comportamento previsto se mantém igual, sendo

apenas os valores das tensões efetivamente alterados.

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Figura 40 - Variação das tensões no aço e no concreto para 𝑃 = 100000 𝑘𝑁, 𝐴𝑐 = 0,16 𝑚² e

𝐴𝑠 = 0,008 𝑚²

Em seguida, variando a área de concreto, se torna nítido que esta é determinante

no desenvolvimento da variação das tensões, além de influenciar no valor das mesmas.

Figura 41 - Variação das tensões no aço e no concreto para 𝐴𝑐 = 0,5 𝑚², 𝐴𝑠 = 0,008 𝑚² e 𝑃 =5000 𝑘𝑁

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Nota-se, pela Figura 41, que a evolução das tensões se dá de maneira mais

gradual e, além das tensões encontradas terem menor valor, a variação entre a tensão

inicial e final do concreto foram também menores, tendo sua tensão variando apenas

de 𝜎𝑐(0) = 8,86 𝑀𝑃𝑎 para 𝜎𝑐(4700) = 7,17 𝑀𝑃𝑎, uma variação de 19%. Esse

comportamento é inverso no aço, que tem sua tensão final representando 1,5 vezes o

valor de sua tensão inicial. Ou seja, o acréscimo de área de concreto reduz a variação

relativa de tensões no mesmo, porém aumenta a mesma para as tensões no aço.

Para a área de aço, pode-se observar um comportamento inverso. Uma área de

aço maior proporciona uma evolução mais brusca das tensões. Quanto à influência

sobre as tensões dos elementos, observamos um efeito semelhante.

Figura 42 - Variação das tensões no concreto e no aço para 𝐴𝑠 = 0,02 𝑚², 𝐴𝑐 = 0,16 𝑚² e 𝑃 =5000 𝑘𝑁

Da Figura 42 observa-se que as tensões em ambos elementos são notavelmente

inferiores às tensões obtidas no problema inicial. Além disso, a variação de tensão para

o concreto e para o aço neste caso é de 81%, registrando um aumento da variação

relativa para o concreto, porém uma redução da variação relativa para o aço.

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6 Influência da retração

O mesmo comportamento descrito no item 4 pode ser observado quando

tratamos isoladamente da retração. A retração gera uma contração no concreto, que

ocasiona uma igual contração na armadura. Isso gera uma resposta no aço de aumento

da compressão, que é equilibrada por uma tração no concreto.

Portanto, neste capítulo tem-se como objetivo incluir a retração no problema já

apresentado. Para isso, precisa-se descrever um modelo de previsão deste fenômeno.

Pode-se encontrar uma variedade de modelos na literatura: Bazant-Baweja B3, CEB

MC90, CEB MC90-99, GL2000 e AS3600-2009 são alguns deles. Primeiramente, é

analisada a retração isolada com os modelos ACI209.2R-08 e AS3600-2009,

comparando os resultados e determinando os mais satisfatórios.

6.1 Retração isolada

Para analisar-se a retração isolada, se faz necessário mudar o problema, que

passa a ser descrito da forma ilustrada pela Figura 43.

Figura 43 - Caracterização do problema para retração isolada

Utiliza-se, além da equação da retração obtida dos modelos, as equações de

equilíbrio (4.24) e de compatibilidade (4.25) anteriormente apresentadas.

Diferentemente do problema da fluência, a carga aplicada na equação de equilíbrio é

nula.

Espera-se observar um comportamento semelhante ao obtido no item 5, porém,

uma vez que não se tem aplicação de um carregamento, deve-se chegar a uma tensão

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53

de tração no concreto, em oposição ao alívio de uma tensão de compressão inicial,

como calculado para a fluência.

6.1.1 ACI209.2R-08

Este é um modelo empírico desenvolvido por Branson e Christiason (1971), que

foi modificado pelo ACI (American Institute Committee). Assim como os demais modelos

semelhantes, este modelo adota o mesmo princípio: uma curva hiperbólica que tende a

um valor assintótico chamado de valor último. O modelo assume condições padrões,

que podem ser ajustadas por fatores de correção calculados a partir dos parâmetros

que descrevam as condições reais. Tem-se a seguir a equação da retração em função

do tempo medida a partir da idade de secagem 𝑡𝑐:

𝜖𝑠ℎ(𝑡, 𝑡𝑐) =(𝑡 − 𝑡𝑐)

𝛼

𝑓 + (𝑡 − 𝑡𝑐)∙ 𝜖𝑠ℎ𝑢 (6. 1)

onde 𝑓 (em dias) e 𝛼 são considerados constantes para uma dada forma e

tamanho do elemento, 𝜖𝑠ℎ𝑢 é a deformação por retração última e (𝑡 − 𝑡𝑐) é o tempo a

partir do final da cura inicial.

Para as condições padrões do modelo, ou seja, quando não há informações

acerca dos agregados e características do meio, o valor da deformação por retração

última sob uma umidade relativa de 40% é de:

𝜖𝑠ℎ𝑢 = 780 × 10− 𝑚𝑚 𝑚𝑚⁄ (6. 2)

Além disso, para o valor de 𝑓, é recomendado que se utilize 35 para 7 dias de

cura úmida e 55 para 1 a 3 dias de cura à vapor. Para 𝛼 o modelo sugere um valor de

1,0. Na Tabela 3 descreve-se as condições padrões consideradas pelo modelo

ACI209R-42:

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Tabela 3 - Fatores afetando a retração do concreto e as variáveis consideradas no método de previsão recomendado (adaptado de ACI 209.2R-08, 2008)

A constante 𝑓 pode ainda ser calculada com base na razão volume-superfície do

elemento, como descrito em (6.3).

𝑓 = 26 ∙ 𝑒[1, 2×10−2∙(𝑉 𝑆⁄ )] (6. 3)

onde 𝑉 𝑆⁄ é a razão volume-superfície em 𝑚𝑚.

Dessa forma, inicialmente, precisa-se determinar uma altura para a coluna do

problema, procurando obter um valor mais próximo da realidade para 𝑓. Assumindo uma

altura de 3,0 m, tem-se:

𝑉 = 0,40 × 0,40 × 3,00 = 0,48 𝑚3 = 4,8 × 108 𝑚𝑚3 (6. 4)

𝑆 = 4 × 0,40 × 3,00 + 0,40 × 0,40 = 4,96 𝑚2 = 4,96 × 10 𝑚𝑚2 (6. 5)

Para esses valores, calcula-se a razão volume-superfície:

𝑉 𝑆⁄ =4,8 × 108

4,96 × 10 = 96,77 𝑚𝑚 (6. 6)

A partir de (6.3), calcula-se o valor de 𝑓:

𝑓 = 26 ∙ 𝑒[1, 2×10−2×9 ,77] = 26,04 (6. 7)

Finalmente, substituindo o valor de 𝑓 encontrado e assumindo 𝑡𝑐 = 0, tem-se a

equação da deformação por retração em função do tempo, a partir de (6.1).

𝜖𝑠ℎ(𝑡) =𝑡1,0

26,04 + 𝑡× 780 × 10− (6. 8)

O método de solução do problema é descrito pelo fluxograma apresentado na

Figura 44.

Variáveis consideradas Condições padrão

Conteúdo da pasta de

cimentoTipo de cimento Tipos I e III

Fator água/cimento Slump 70 mm

Proporções de mistura Conteúdo de ar ≤ 6%

Características dos

agregados

Porcentagem de

agregado miúdo50%

Grau de compacidade Conteúdo de cimento 279 a 446 kg/m³

Cura úmida 7 dias

Cura à vapor 1 a 3 dias

Cura úmida 23,2 ± 2 °C

Cura à vapor ≤ 100 °C

Umidade da cura Umidade relativa ≥ 95%

Temperatura do concretoTemperatura do

concreto23,2 ± 2 °C

Conteúdo de água do

concreto

Umidade relativa do

ambiente40%

Razão volume-superfície V/S = 38 mm

Espessura mínima 150 mm

Fatores

Concreto

Composição do

concreto

Duração da cura inicial

Temperatura de cura

Forma e tamanho

Cura inicial

Ambiente

Geometria

Geometria do

elemento e

condições do

ambiente

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55

Figura 44 - Fluxograma descritivo do método de solução ACI209.2R-08 para o problema da retração isolada

A partir deste método, obtém-se o gráfico da Figura 45:

Figura 45 - Distribuição de tensões no concreto e no aço determinadas pelo modelo ACI209.2R-08 para a análise da retração isolada

𝜖𝑐(𝑡𝑛) =𝑡𝑛

1,0

26,04+ 𝑡𝑛× 780× 10−6Deformação no concreto:

𝜖𝑐 = 𝜖𝑠Equação de compatibilidade:

𝜎𝑠 = 𝐸𝑠 𝜖𝑠Lei de Hooke para o aço:

𝜎𝑐 =−𝜎𝑠 𝐴𝑠

𝐴𝑐Tensão no concreto (equação de equilíbrio):

Estado de tensões no tempo 𝑡𝑛

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56

Pode-se notar que os valores finais atingidos para as tensões são

aproximadamente 160 MPa para o aço e -8,0 MPa no concreto. Além disso, o

desenvolvimento dessas tensões se dá de forma rápida, atingindo seus valores finais

com aproximadamente 1000 dias.

6.1.2 AS3600-2009

O modelo presente no AS3600-2009 para previsão das deformações por

retração em concretos normais e de alta resistência foi proposto por Gilbert (2002). Esse

modelo divide a deformação por retração em duas parcelas: a retração endógena e a

retração por secagem, como descrito pela equação (6.9). A retração endógena é a soma

da retração autógena e retração térmica (causada por variação de temperatura) e é

causada principalmente por reações químicas na pasta de cimento, como carbonatação.

Esse tipo de retração se desenvolve rapidamente e aumenta com a resistência do

concreto. Já a retração por secagem ocorre pela perda de umidade para o ambiente e

tende a se desenvolver mais lentamente, diminuindo com a resistência do concreto

(GILBERT; RANZI, 2011).

𝜖𝑠ℎ = 𝜖𝑠ℎ𝑒 + 𝜖𝑠ℎ𝑑 (6. 9)

A deformação por retração endógena é dada pela equação (6.10).

𝜖𝑠ℎ𝑒 = 𝜖𝑠ℎ𝑒∗ ∙ (1,0 − 𝑒−0,1∙𝑡) (6. 10)

onde 𝑡 é dado em dias.

A retração endógena última 𝜖𝑠ℎ𝑒∗ pode ser calculada através de (6.11).

𝜖𝑠ℎ𝑒∗ = (0,06 ∙ 𝑓′𝑐 − 1,0) ∙ 50 ∙ 10− (6. 11)

onde 𝑓′𝑐 é a resistência do concreto em MPa.

A retração por secagem básica 𝜖𝑠ℎ𝑑,𝑏 é dada por (6.12).

𝜖𝑠ℎ𝑑,𝑏 = (1,0 − 0,008 ∙ 𝑓′𝑐) ∙ 𝜖𝑠ℎ𝑑,𝑏∗ (6. 12)

A retração por secagem básica última 𝜖𝑠ℎ𝑑,𝑏∗ depende da qualidade do agregado

e pode ser tomada como 800 × 10− quando o agregado for de boa qualidade ou 1000 ×

10− quando a qualidade do agregado é incerta. Então, o cálculo da deformação por

retração por secagem é feito a partir de (6.13).

𝜖𝑠ℎ𝑑 = 𝑘1 ∙ 𝑘 ∙ 𝜖𝑠ℎ𝑑,𝑏 (6. 13)

O fator 𝑘 depende das condições de temperatura do ambiente e é igual a 0,7

para ambientes áridos, 0,65 para ambientes internos, 0,6 para ambientes de clima

temperado e 0,5 para ambientes de clima tropical ou costais. Finalmente, o fator 𝑘1 é

dado, para qualquer momento (𝑡 − 𝑡𝑐) após o instante 𝑡𝑐 de início de secagem, por

(6.14).

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𝑘1 =𝛼1 ∙ (𝑡 − 𝑡𝑐)

0,8

(𝑡 − 𝑡𝑐)0,8 + 0,15 ∙ 𝑡ℎ

(6. 14)

onde 𝑡ℎ é uma espessura hipotética, calculada pela razão entre o dobro da área

𝐴 da seção transversal da peça e o seu perímetro 𝑢𝑒 exposto à atmosfera acrescido de

metade do perímetro de quaisquer vazios na seção, como descrito pela equação (6.15).

𝑡ℎ =2 ∙ 𝐴

𝑢𝑒(6. 15)

Enfim, o fator 𝛼1 é dado por:

𝛼1 = 0,8 + 1,2 ∙ 𝑒−0,005∙𝑡ℎ (6. 16)

Agora, aplica-se o modelo no problema inicial. Inicialmente, realiza-se o cálculo

da deformação por retração endógena, para o qual precisa-se determinar a retração

endógena última. Considerando um concreto C30, ou seja, 𝑓′𝑐 = 30 𝑀𝑃𝑎, tem-se, a

partir de (6.11):

𝜖𝑠ℎ𝑒∗ = (0,06 × 30 − 1,0) × 50 × 10− = 4 × 10−5 (6. 17)

Utilizando (6.10), tem-se a deformação por retração endógena em função do

tempo.

𝜖𝑠ℎ𝑒 = 4 × 10−5 × (1,0 − 𝑒−0,1∙𝑡) (6. 18)

Em seguida, assumindo uma incerteza acerca da qualidade dos agregados,

determina-se 𝜖𝑠ℎ𝑑,𝑏∗ = 1000 × 10− e é calculada a deformação por retração por

secagem básica, a partir de (6.12).

𝜖𝑠ℎ𝑑,𝑏 = (1,0 − 0,008 × 30) × 1000 × 10− = 7,6 × 10− (6. 19)

Para calcular a deformação por retração por secagem, precisa-se inicialmente

determinar os fatores 𝑘1 e 𝑘 . Para uma realidade próxima da cidade do Rio de Janeiro,

pode-se assumir 𝑘 = 0,50, pois se trata de uma cidade costal com clima semelhante

ao tropical. Agora, calcula-se a espessura hipotética. Como a seção transversal da

coluna não possui vazios, tem-se, de (6.13):

𝑡ℎ =2 × 0,40 × 0,40

4 × 0,40= 0,20 𝑚 = 200 𝑚𝑚 (6. 20)

A partir de (6.16) pode-se calcular o fator 𝛼1:

𝛼1 = 0,8 + 1,2 ∙ 𝑒−0,005×200 = 1,2414 (6. 21)

Assumindo que a secagem tem início no instante 𝑡𝑐 = 0, tem-se 𝑘1 a partir de

(6.14):

𝑘1 =1,2414 ∙ 𝑡0,8

𝑡0,8 + 0,15 × 200=1,2414 ∙ 𝑡0,8

𝑡0,8 + 30(6. 22)

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Substituindo em (6.13) os valores encontrados em (6.19) e (6.22), tem-se a

deformação por retração por secagem:

𝜖𝑠ℎ𝑑 = 7,6 × 10− × 0,50 ×1,2414 ∙ 𝑡0,8

𝑡0,8 + 30=4,71732 × 10− ∙ 𝑡0,8

𝑡0,8 + 30(6. 23)

Finalmente, substitui-se (6.18) e (6.23) em (6.9) para obter a deformação por

retração em função do tempo:

𝜖𝑠ℎ(𝑡) = 4 × 10−5 × (1,0 − 𝑒−0,1∙𝑡) +4,71732 × 10− ∙ 𝑡0,8

𝑡0,8 + 30(6. 24)

Utilizando o mesmo método de solução apresentado pelo fluxograma da Figura

44 adaptado para a equação (6.24), obtém-se o gráfico apresentado na Figura 46.

Figura 46 - Distribuição de tensões no concreto e no aço determinadas pelo modelo AS3600-2009 para a análise da retração isolada

Chegando a 100 MPa para o aço e -5,0 MPa para o concreto, pode-se concluir

que os valores obtidos para as tensões são consideravelmente inferiores aos calculados

pelo modelo ACI209.2R-08. Além disso, nota-se um desenvolvimento de tensões mais

retardado, uma vez que os valores das tensões apenas atingem seus valores finais com

aproximadamente 3000 dias.

Decide-se, por estes motivos, aplicar os resultados do modelo AS3600-2009 no

problema inicial, para analisar os efeitos da fluência em conjunto com a retração.

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6.2 Análise da retração e fluência em conjunto

Neste capítulo, as deformações por fluência são incluídas no problema,

buscando observar o comportamento do concreto quando submetido a ambos efeitos

reológicos. Para isso, soma-se as deformações por fluência obtidas no item 5 com as

deformações por retração obtidas do modelo AS3600-2009 no item 6.1.2. A equação

para a deformação em função do tempo é, de (4.23) e (6.19):

𝜖(𝑡) =𝜎0

9375∙ (1 − 0,625 ∙ 𝑒−0,001∙𝑡) + 4 × 10−5 × (1,0 − 𝑒−0,1∙𝑡) +

4,71732 × 10− ∙ 𝑡0,8

𝑡0,8 + 30(6. 25)

Aplicando a equação (6.25) no método de solução descrito no item 4.2, obtém-

se o gráfico da Figura 47.

Figura 47 - Distribuição de tensões no concreto e no aço para a análise da fluência e retração em conjunto

É possível observar que o concreto, quando sujeito à retração, sofre um alívio

maior de tensão e, consequentemente, o aumento de tensão no aço também é maior,

quando comparado ao caso onde não se inclui o efeito da retração simultâneo ao

carregamento.

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Observa-se ainda que a tensão final no aço é consideravelmente maior e,

consequentemente, a tensão final no concreto se mostra menor, quando comparadas

às tensões finais para o problema da fluência isolada. Pode-se mais facilmente analisar

essa comparação com o gráfico no qual são sobrepostas ambas análises, conforme

Figura 48.

Figura 48 – Comparação das distribuições de tensões no concreto e no aço para a análise da fluência e retração e para a análise da fluência isolada

Nota-se também que os valores iniciais das tensões são idênticos e as curvas

de ambas análises possuem formatos semelhantes, sendo a curva das tensões para a

fluência isolada deslocada para valores maiores no concreto e menores no aço.

6.2.1 Comparação dos resultados

Pode-se comparar os resultados obtidos no gráfico da Figura 48 com os obtidos

por uma análise semelhante realizada por Gilbert e Ranzi (2011). Para chegar em seus

resultados, eles utilizaram uma previsão de fluência baseada no coeficiente 𝜑 de

fluência que, quando multiplicado pela deformação elástica, fornece a deformação por

fluência:

𝜖𝑓𝑙(𝑡, 𝜏) = 𝜑(𝑡, 𝜏) ∙ 𝜖𝑒(𝜏) (6. 26)

O método de previsão da retração empregado foi o mesmo utilizado neste estudo

(AS3600-2009). Os dados iniciais adotados por Gilbert e Ranzi (2011) foram:

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61

Seção quadrada de 30 x 30 cm

𝐴𝑠 = 1500 𝑚𝑚²

𝐸𝑐 = 25 𝐺𝑃𝑎

𝐸𝑠 = 200 𝐺𝑃𝑎

𝑃 = 1000 𝑘𝑁

Os resultados obtidos para análise da fluência são descritos na Figura 49:

Figura 49 - Variação de tensões devido à fluência em uma seção transversal simetricamente armada sob tensão de compressão axial constante (adaptado de GILBERT; RANZI, 2011)

300

𝜎𝑐 = 7,2 MPa 8 Tensão no concreto

𝜎𝑠 = 80 MPa

12

250

200

150

100

50

0

𝜏 0

0

2

4

6

10 𝜎𝑠 = 242 MPa Tensão no aço 𝜎𝑐 = 10 MPa

300 mm

300 mm

𝐴𝑠 = 1500 mm²

P = 1000 kN

𝐸𝑐 = 25 GPa

𝐸𝑠 = 200 GPa

𝜑∗(𝜏) = 3.0

Tensão d

e c

om

pre

ssão n

o c

oncre

to (

MP

a)

Tempo (dias) 10.000

Tensão d

e c

om

pre

ssão n

o a

ço (

MP

a)

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Em seguida compara-se as curvas obtidas por Gilbert e Ranzi (2011) com as

curvas obtidas pela análise do item 5, substituindo os dados iniciais para coincidirem

com os utilizados pelos autores, e apresenta-se esta comparação no gráfico da Figura

50.

Figura 50 - Comparação entre os resultados obtidos pela solução do modelo de Boltzmann e a solução de Gilbert e Ranzi para o problema da fluência isolada (2011)

Pode-se observar que o modelo de Boltzmann chega a um resultado

satisfatoriamente semelhante ao obtido pelo método utilizado por Gilbert e Ranzi (2011),

com ambas as curvas se encontrando muito próximas e chegando a valores finais

extremamente parecidos.

Seguindo para a análise conjunta da fluência e retração, apresenta-se os

resultados obtidos por Gilbert e Ranzi (2011) na Figura 51 e uma comparação com a

análise utilizando o modelo adotado na Figura 52.

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Figura 52 - Comparação entre os resultados obtidos pela solução do modelo de Boltzmann e a solução de Gilbert e Ranzi (2011) para a fluência atuando em conjunto com a retração

Observa-se pela Figura 52 que o efeito da retração se desmonstra discrepante

entre ambas análises nas idades iniciais, logo após o início do carregamento. Enquanto

𝜎𝑠 = 80 MPa

360

300

240

180

120

60

0

𝜏

0

2

4

6

8

10

12

𝜎𝑐 = 5,8 MPa

𝜎𝑠 = 326 MPa 𝜎𝑐 = 10 MPa

300 mm

300 mm

𝐴𝑠 = 1500 mm²

P = 1000 kN 𝐸𝑐 = 25 GPa

𝐸𝑠 = 200 GPa 𝜑∗(𝜏) = 3.0

휀𝑠ℎ∗ = -600x10-6

0 10.000

Tensão d

e c

om

pre

ssão n

o c

oncre

to (

MP

a)

Tensão d

e c

om

pre

ssão n

o a

ço (

MP

a)

Tempo (dias)

Figura 51 - Variação das tensões com o tempo devido à retração em uma seção transversal de concreto simetricamente armado sujeito à compressão axial (adaptado de GILBERT; RANZI,

2011)

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a análise proposta no item 6.2 registra um desenvolvimento mais rápido da retração, de

forma a acelerar a redistribuição de tensões nos elementos, a análise de Gilbert e Ranzi

(2011) forneceu uma distribuição mais lenta das tensões, de forma que o efeito da

retração não se mostra tão intenso nos períodos iniciais.

Essa diferença pode ser explicada pela falta de informações acerca da análise

realizada pelos autores no que se refere às constantes utilizadas no método AS3600-

2009 de previsão da retração.

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7 Influência da relaxação

No presente capítulo propõe-se realizar uma análise dos fenômenos

previamente estudados incluindo uma tensão inicial de protensão na armadura, cujo aço

está sujeito ao efeito da relaxação. Dessa forma, atuam tanto a fluência quanto a

retração no concreto, como a relaxação no aço de protensão. Para o problema apenas

a força de protensão dos cabos de aço.

7.1 Caracterização do problema

A caracterização do problema considerando fluência, retração e relaxação pode

ser visto na Figura 53. Inicialmente é aplicada uma protensão sobre a armadura que, ao

ser liberada, engendra uma perda de protensão por deformação imediata (elástica) do

concreto. Nos momentos subsequentes ocorre a atuação dos fenômenos reológicos:

deformação do concreto por fluência e retração e perda de tensão no aço por relaxação.

Figura 53 - Caracterização do problema sob influência da relaxação

Aplica-se novamente o modelo de Boltzmann tanto para a fluência do concreto

quanto para a relaxação do aço. Para a previsão da retração, utiliza-se novamente o

método AS3600-2009 já introduzido anteriormente.

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7.2 Método de solução

O método de solução empregado aqui é semelhante ao descrito no item 4.2 para

o problema da fluência. Em um momento inicial, tem-se a aplicação de uma carga de

protensão inicial 𝐹𝑝(𝑡0) em cada cabo de aço. Essa força é equivalente a uma tensão

inicial 𝜎𝑝(𝑡0).

𝜎𝑝(𝑡0) =𝑛 ∙ 𝐹𝑝(𝑡0)

𝐴𝑠(7. 1)

onde 𝑛 é o número de barras de aço.

Em conjunto à tensão, tem-se uma deformação inicial dos cabos de aço

protendidos.

𝜖𝑝(𝑡0) =𝜎𝑝(𝑡0)

𝐸𝑝(7. 2)

onde adotamos Ep = Es.

Ao liberarmos os cabos num instante 𝑡0+, essa tensão é transferida para o

concreto, obedecendo a equação de equilíbrio.

𝜎𝑐(𝑡0+) =𝜎𝑝(𝑡0) ∙ 𝐴𝑠

𝐴𝑐(7. 3)

O concreto submetido a essa tensão sofre uma deformação elástica.

𝜖𝑐(𝑡0+) =𝜎𝑐(𝑡0+)

𝐸𝑐(7. 4)

Essa deformação diminui a deformação no aço, segundo uma nova equação de

compatibilidade:

𝜖𝑝(𝑡0+) = 𝜖𝑝(𝑡0) − 𝜖𝑐(𝑡0+) (7. 5)

Devido à redução da deformação, ocorre uma perda de protensão. Chama-se

esse fenômeno de perda por deformação imediata.

𝜎𝑝(𝑡0+) = 𝐸𝑠 ∙ 𝜖𝑝(𝑡0+) (7. 6)

A partir desse momento, com o passar do tempo, a retração e fluência aumentam

a deformação no concreto, o contraindo e, consequentemente, diminuindo a

deformação e tensão no aço de protensão. Já o aço sofre relaxação, o que diminui ainda

mais sua tensão. Para avaliar-se esse comportamento define-se, novamente, um passo

∆𝑡, no qual considera-se que a tensão no concreto e a deformação no aço são

constantes. Com isso, pode-se calcular, através de (6.25), a nova deformação no

concreto após a atuação da fluência e retração durante o passo ∆𝑡:

𝜖𝑐(𝑡1) =𝜎0

9375∙ (1 − 0,625 ∙ 𝑒−0,001∙𝑡1) + 4 × 10−5 × (1,0 − 𝑒−0,1∙𝑡1) +

4,71732 × 10− ∙ 𝑡10,8

𝑡10,8 + 30

(7. 7)

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Com isso, pode-se calcular, através da equação (7.5) de compatibilidade do

problema, a nova deformação no aço:

𝜖𝑝(𝑡1) = 𝜖𝑝(𝑡0) − 𝜖𝑐(𝑡1) (7. 8)

A relaxação sofrida pelo aço é calculada através de (3.37). Todavia, precisa-se

calcular os parâmetros do modelo de Boltzmann para o aço. Aplica-se o mesmo método

teórico de obtenção dos coeficientes utilizado no item 4.1 para o concreto, através do

qual chega-se aos seguintes valores:

𝑞0′′ = 250000 𝑀𝑃𝑎 (7. 9)

𝑞1′′ = 4,5 × 108 𝑀𝑃𝑎 ∙ 𝑑𝑖𝑎 (7. 10)

𝐸 = 200 × 103 𝑀𝑃𝑎 (7. 11)

Com isso, chega-se aos coeficientes:

𝑝1 = 4,5 × 108 (250000 + 200 × 103)⁄ = 1000 𝑑𝑖𝑎𝑠 (7. 12)

𝑞0 = 250000 × 200 × 103 (250000 + 200 × 103)⁄ = 111111,11 𝑀𝑃𝑎 (7. 13)

𝑞1 = 200 × 103 × 4,5 × 108 (250000 + 200 × 103)⁄ = 2 × 108 𝑀𝑃𝑎 ∙ 𝑑𝑖𝑎𝑠 (7. 14)

A curva da tensão em função do tempo, ilustrada na Figura 54, é obtida através

destes coeficientes.

Figura 54 - Tensão no aço em função do tempo sob atuação da relaxação

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Por ter aspecto semelhante à curva padrão para a fase de relaxação do modelo

de Boltzmann (descrita na Figura 27), julga-se satisfatórios os coeficientes obtidos.

Então, considerando que a relaxação do aço tem início no instante 𝑡0 = 0, considera-se

𝜏 = 𝑡 e, através de (3.37), calcula-se a nova tensão no aço após a perda por relaxação

durante o passo ∆𝑡.

𝜎𝑝(𝑡1) = 111111,11 ∙ 𝜖𝑝(𝑡0+) ∙ (1 − 𝑒−𝑡1 1000⁄ ) + 𝜎𝑝(𝑡0+) ∙ 𝑒−𝑡1 1000⁄ (7. 15)

Enfim, pode-se calcular, através de (7.3), a nova tensão no concreto com base

na tensão no aço, prevendo a redistribuição de tensões.

𝜎𝑐(𝑡1) =𝜎𝑝(𝑡1) ∙ 𝐴𝑠

𝐴𝑐(7. 16)

Ao seguir para o segundo passo chega-se ao instante 𝑡2 = 2 ∙ ∆𝑡. As equações

(7.7) e (7.15) sofrem algumas mudanças. Como explicado no item 4.2, tem-se uma

variação da deformação no concreto por fluência.

𝛥𝜖𝑐,𝑓𝑙(𝑡2) =𝜎1

9375∙ (1 − 0,625 ∙ 𝑒−0,001∙𝑡2) −

𝜎19375

∙ (1 − 0,625 ∙ 𝑒−0,001∙𝑡1) (7. 17)

A nova deformação por fluência no concreto no instante 𝑡2 = 2 ∙ ∆𝑡 é a soma

dessa variação com a deformação por fluência no instante anterior:

𝜖𝑐,𝑓𝑙(𝑡2) = 𝛥𝜖𝑐,𝑓𝑙(𝑡2) +𝜎0

9375∙ (1 − 0,625 ∙ 𝑒−0,001∙𝑡1) (7. 18)

Finalmente, a deformação total do concreto no instante 𝑡2 será a soma de (7.18)

com a deformação por retração neste instante:

𝜖𝑐(𝑡2) = 𝜖𝑐,𝑓𝑙(𝑡2) + 4 × 10−5 × (1,0 − 𝑒−0,1∙𝑡2) +4,71732 × 10− ∙ 𝑡2

0,8

𝑡20,8 + 30

Calcula-se, então, a nova deformação no aço novamente através de (7.5).

𝜖𝑝(𝑡2) = 𝜖𝑝(𝑡0) − 𝜖𝑐(𝑡2) (7. 19)

De forma semelhante à deformação do concreto, a tensão no aço neste instante

deve ser calculada através da variação da tensão no aço entre os instantes 𝑡1 e 𝑡2 para

uma deformação constante igual a 𝜖𝑝(𝑡1). Ou seja, precisa-se verificar a perda de tensão

sofrida pelo aço por relaxação entre os instantes 𝑡1 e 𝑡2 quando submetido a uma

deformação 𝜖𝑝(𝑡1).

𝛥𝜎𝑝(𝑡2) = 111111,11 ∙ 𝜖𝑝(𝑡1) ∙ (1 − 𝑒−𝑡2 1000⁄ ) + 𝜎𝑝(𝑡0+) ∙ 𝑒−𝑡2 1000⁄ −

−[111111,11 ∙ 𝜖𝑝(𝑡1) ∙ (1 − 𝑒−𝑡1 1000⁄ ) + 𝜎𝑝(𝑡0+) ∙ 𝑒−𝑡1 1000⁄ ] (7. 20)

Somando essa perda de tensão com a tensão no instante 𝑡1 anterior, obtém-se

a tensão no aço no instante 𝑡2.

𝜎𝑝(𝑡2) = 𝜎𝑝(𝑡1) + 𝛥𝜎𝑝(𝑡2) (7. 21)

Enfim, calcula-se a nova tensão no concreto através de (7.3).

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69

𝜎𝑐(𝑡2) =𝜎𝑝(𝑡2) ∙ 𝐴𝑠

𝐴𝑐(7. 22)

Assim, tem-se a redistribuição de tensões no instante 𝑡2. Reproduzindo esse

processo para qualquer instante 𝑡𝑛 soluciona-se o problema. O método de solução

apresentado é descrito pelo fluxograma da Figura 55.

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Figura 55 - Fluxograma descritivo do método de solução do problema da relaxação

𝜎𝑝(𝑡0) =𝑛 𝐹𝑝(𝑡0)

𝐴𝑠Tensão inicial de protensão:

Estado de tensões iniciais

Δ𝑡 (passo)

𝜖𝑐 𝑡1 =𝜎0

9375 1 − 0,625 𝑒−0,001 𝑡1 +4 ×10−5× 1,0 − 𝑒−0,1 𝑡1 +

4,71732 × 10− 𝑡10,8

𝑡10,8 +30

𝜖𝑝 𝑡1 = 𝜖𝑝 𝑡0 − 𝜖𝑐 𝑡1

Deformação por fluência do concreto:

Equação de compatibilidade:

𝜎𝑐 𝑡1 =𝜎𝑝 𝑡1 𝐴𝑠

𝐴𝑐Tensão no concreto:

Estado de tensões no tempo 𝑡1

Deformação por fluência do concreto: 𝜖𝑐 𝑡2 =𝜎1

9375 1− 0,625 𝑒−0,001 𝑡2 −

𝜎19375

1 − 0,625 𝑒−0,001 𝑡1 +𝜎0

9375∙ 1− 0,625 ∙ 𝑒−0,001∙𝑡1 + 4× 10−5 × 1,0− 𝑒−0,1 𝑡2 +

4,71732× 10− 𝑡20,8

𝑡20,8 +30

𝜖𝑝 𝑡2 = 𝜖𝑝 𝑡0 − 𝜖𝑐 𝑡2Equação de compatibilidade:

𝜎𝑝 𝑡2 = 111111,11 𝜖𝑝 𝑡1 1− 𝑒−𝑡2 1000⁄ +𝜎𝑝 𝑡0+ 𝑒−𝑡2 1000⁄ − 111111,11 𝜖𝑝 𝑡1 1 − 𝑒−𝑡1 1000⁄ + 𝜎𝑝 𝑡0+ 𝑒−𝑡1 1000⁄ + 𝜎𝑝 𝑡1Tensão por relaxação do aço:

𝜎𝑐 𝑡2 =𝜎𝑝 𝑡2 𝐴𝑠

𝐴𝑐Tensão no concreto:

Estado de tensões no tempo 𝑡2

Δ𝑡 (passo)

Repete-se o processo para qualquer tempo 𝑡𝑛

Δ𝜖𝑐,𝑓𝑙(𝑡2)

Deformação inicial do aço de protensão: 𝜖𝑝 𝑡0 =𝜎𝑝(𝑡0)

𝐸𝑝

Tensão inicial do concreto: 𝜎𝑐 𝑡0+ =𝜎𝑝 𝑡0 𝐴𝑠

𝐴𝑐

Deformação inicial do concreto: 𝜖𝑐 𝑡0+ =𝜎𝑐 𝑡0+

𝐸𝑐

Deformação do aço de protensão:𝜖𝑝 𝑡0+ = 𝜖𝑝 𝑡0 − 𝜖𝑐 𝑡0+Ap

ós

lib

era

ção

da

pro

ten

são

Tensão por relaxação do aço: 𝜎𝑝 𝑡1 = 111111,11 𝜖𝑝 𝑡0+ 1 − 𝑒−𝑡1 1000⁄ + 𝜎𝑝 𝑡0+ 𝑒−𝑡1 1000⁄

Δ𝜎𝑝(𝑡2)

𝜖𝑐,𝑓𝑙(𝑡1)

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71

7.3 Solução do problema

Utilizando os dados iniciais introduzidos no item 4.3, no que diz respeito à seção

da coluna ilustrada na Figura 38, e o módulo de elasticidade dos materiais:

𝐸𝑐 = 25 𝐺𝑃𝑎 (7. 23)

𝐸𝑠 = 200 𝐺𝑃𝑎 (7. 24)

Adota-se uma força de protensão inicial 𝐹𝑝(𝑡0) = 900 𝑘𝑁 em cada barra. Com

isso, calcula-se a tensão inicial de protensão no aço através de (7.1).

𝜎𝑝(𝑡0) =8 × 900

0,008= 9 × 105 𝑘𝑃𝑎 = 900 𝑀𝑃𝑎 (7. 25)

Então, calcula-se a deformação inicial do aço, por (7.2).

𝜖𝑝(𝑡0) =900

200 × 103= 0,0045 (7. 26)

A tensão inicial no concreto após a liberação da protensão é obtida por (7.3).

𝜎𝑐(𝑡0+) =900 × 0,008

0,16= 45 𝑀𝑃𝑎 (7. 27)

Essa tensão resulta numa deformação elástica do concreto, calculada por (7.4).

𝜖𝑐(𝑡0+) =45

25 × 103= 0,0018 (7. 28)

A consequente redução da deformação do aço é calculada por (7.5).

𝜖𝑝(𝑡0+) = 0,0045 − 0,0018 = 0,0027 (7. 29)

A perda de protensão por deformação imediata é dada por (7.6).

𝜎𝑝(𝑡0+) = 200 × 103 × 0,0027 = 540 𝑀𝑃𝑎 (7. 30)

Nos instantes posteriores, tem-se a atuação dos efeitos reológicos. Utilizando o

método descrito no final do item 7.2 gera-se as curvas da Figura 56.

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72

Figura 56 - Variação das tensões do concreto e do aço de protensão sob efeito da fluência, retração e relaxação

Nota-se que a tensão no aço varia de 𝜎𝑝(0) = 540,00 𝑀𝑃𝑎 após a perda por

deformação instantânea, para 𝜎𝑝(4700) = 272,42 𝑀𝑃𝑎, registrando uma perda relativa

de, aproximadamente, 50% da protensão. É possível observar ainda que a curva de

tensão do concreto é paralela à curva de tensão do aço. Isso pode ser explicado pelo

fato de não haver carregamento externo, sendo apenas tensões internas redistribuídas

pelos efeitos reológicos. Dessa forma, a tensão no aço também sofre a mesma perda

relativa, chegando a um valor final de 𝜎𝑐(4700) = 13,62 𝑀𝑃𝑎.

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73

8 Comparação entre modelos

Como foi visto no item 3, existem diversos modelos viscoelásticos baseados na

combinação de molas e amortecedores para previsão da fluência. Nos capítulos

anteriores, soluciona-se o problema da coluna comprimida, prevendo a interação entre

o aço e o concreto quando submetidos aos efeitos reológicos usando o modelo de

Boltzmann. Neste capítulo o mesmo problema é solucionado, porém utilizando outro

modelo.

Segundo FLÜGGE (1967), as equações diferenciais que regem cada modelo são

dadas pela Tabela 4.

Tabela 4 - Modelos viscoelásticos (adaptado de FLÜGGE, 1967)

Equação diferencial

Desigualdade

Fluido de 3

parâmetros

Fluido de 4

parâmetros

Sólido de 4

parâmetros

Fluido de Maxwell

Sólido de Kelvin

Modelo de

Boltzmann (Sólido

de 3 parâmetros)

Modelo Nome

Sólido elástico

Fluido viscoso

Flexibilidade à fluência

𝜎 = 𝑞0 𝜖

𝜎 = 𝑞1 𝜖̇

𝜎 + 𝑝1 �̇� = 𝑞1 𝜖̇

𝜎 = 𝑞0 𝜖 + 𝑞1 𝜖̇

𝜎 + 𝑝1 �̇� = 𝑞0 𝜖 + 𝑞1 𝜖̇

𝑞1 > 𝑝1 𝑞0

𝜎 + 𝑝1 �̇� = 𝑞1 𝜖̇ + 𝑞2 𝜖̈

𝑝1 𝑞1 > 𝑞2

𝜎 + 𝑝1 �̇� + 𝑝2 �̈� = 𝑞1 𝜖̇ + 𝑞2 𝜖̈

𝑝12 > 4 𝑝2

𝑝1 𝑞1 𝑞2 = 𝑝2 𝑞12+𝑞2

2

𝜎 + 𝑝1 �̇� = 𝑞0 𝜖 + 𝑞1 𝜖̇ + 𝑞2 𝜖̈

𝑞12 > 4 𝑞0 𝑞2

𝑞1 𝑝1 > 𝑞0 𝑝12 +𝑞2

𝐽(𝑡)

1

𝑞0

𝑡

𝑞1

𝑝1 + 𝑡

𝑞1

1

𝑞0 1 − 𝑒−𝜆𝑡 𝜆 =

𝑞0𝑞1

,

𝑝1𝑞1

𝑒−𝜆𝑡 +1

𝑞0 1 − 𝑒−𝜆𝑡 ,

𝜆 =𝑞0𝑞1

𝑡

𝑞1+𝑝1 𝑞1 −𝑞2

𝑞1² 1 − 𝑒−𝜆𝑡

𝜆 =𝑞0𝑞1

𝑡

𝑞1+𝑝1 𝑞1 −𝑞2

𝑞1² 1 − 𝑒−𝜆𝑡

+𝑝2𝑞2

𝑒−𝜆𝑡

,

, 𝜆 =𝑞1𝑞2

1− 𝑝1 𝜆1𝑞2 𝜆1 𝜆2− 𝜆1

1 − 𝑒−𝜆1𝑡

+1 − 𝑝1 𝜆2

𝑞2 𝜆2 𝜆1 −𝜆2 1 − 𝑒−𝜆2𝑡

onde 𝜆1 e 𝜆2 são raízes de:

𝑞2 𝜆2 −𝑞1 𝜆 + 𝑞0 = 0

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74

Dentre os modelos que são listados na Tabela 4, opta-se por desenvolver a

solução pelo sólido de 4 parâmetros, cuja equação diferencial é dada por (8.1).

𝜎 + 𝑝1 ∙ �̇� = 𝑞0 ∙ 𝜖 + 𝑞1 ∙ 𝜖̇ + 𝑞2 ∙ 𝜖̈ (8. 1)

A solução da equação diferencial (8.1) é a função 𝜖(𝑡) da deformação em função

do tempo para o efeito da fluência. Para isso, precisa-se, como visto no item 3 para os

demais modelos, aplicar o ensaio padrão que, para a fase de fluência, consiste em

admitir que a tensão é constante e igual a 𝜎0.

𝜎0 = 𝑞0 ∙ 𝜖 + 𝑞1 ∙ 𝜖̇ + 𝑞2 ∙ 𝜖̈ (8. 2)

Para solucionar a equação diferencial (8.2) propõe-se utilizar um método

numérico, que nos fornece uma solução aproximada, podendo ser comparada com a

solução exata obtida da Tabela 4. Dentre diversos métodos numéricos existentes, como

os métodos das diferenças finitas ou de Runge-Kutta, opta-se por adotar o segundo.

8.1 Método de Runge-Kutta

O método de Runge-Kutta, nomeado em homenagem a Carl David Runge e

Martin Wilhelm Kutta, é um método numérico utilizado para solucionar equações

diferenciais ordinárias. Ele faz uso de uma aproximação por uma tangente média e se

baseia em expansões em séries de Taylor truncadas em uma determinada ordem

(VALERIANO, 2017), de forma a adotar várias avaliações da derivada da função em um

mesmo passo, generalizando o método de Euler.

8.1.1 Segunda Ordem

O método de segunda ordem faz uso de duas tangentes no mesmo passo para

chegar ao ponto seguinte. É empregada a tangente 𝐾1, obtida inicialmente pelas

condições iniciais do problema, para calcular um ponto intermediário, através do qual

obtém-se outra tangente 𝐾2. Calcula-se uma tangente média 𝐾𝑀 a partir das duas

tangentes anteriores, através da qual obtém-se a posição do ponto seguinte, como

descreve a Figura 57.

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75

Figura 57 - Método de Runge-Kutta de segunda ordem (VALERIANO, 2017)

Dessa forma, tem-se:

𝐾1 = 𝑦′(𝑥0, 𝑦0) (8. 3)

𝐾2 = 𝑦′(𝑥0 + 𝑐 ∙ ∆𝑥, 𝑦0 + 𝐾1 ∙ 𝑎 ∙ ∆𝑥) (8. 4)

As constantes 𝑐 e 𝑎 definem a abscissa e ordenada do ponto intermediário, no

qual calcula-se a tangente 𝐾2. Já a tangente média é calculada por uma combinação

linear das duas tangentes.

𝐾𝑀 = 𝑏1 ∙ 𝐾1 + 𝑏2 ∙ 𝐾2 (8. 5)

Precisa-se determinar ainda as constantes 𝑏1 e 𝑏2. O ponto seguinte é calculado

através da tangente média.

𝑦(𝑥0 + ∆𝑥) = 𝑦𝑎𝑝𝑟𝑜𝑥 = 𝑦(𝑥0) + 𝐾𝑀 ∙ ∆𝑥 (8. 6)

Tem-se a aproximação por série de Taylor a partir do ponto (𝑥0, 𝑦0), truncada na

segunda ordem:

𝑦(𝑥0 + ∆𝑥) ≅ 𝑦(𝑥0) + 𝑦′(𝑥0, 𝑦0) ∙ ∆𝑥 +1

2∙ 𝑦′′(𝑥0, 𝑦0) ∙ ∆𝑥

2 (8. 7)

Pode-se expressar a derivada 𝑦′(𝑥, 𝑦), dada pelo próprio problema como

equação diferencial ordinária, como uma função 𝑓(𝑥, 𝑦):

𝑦′ = 𝑓(𝑥, 𝑦) (8. 8)

Dessa forma, pode-se escrever as derivadas na origem de maneira que:

𝑦′(𝑥0, 𝑦0) = 𝑓(𝑥0, 𝑦0) = 𝑓0 (8. 9)

É expressada a diferencial total da função 𝑓(𝑥, 𝑦) no ponto (𝑥0, 𝑦0):

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76

𝑑𝑓|(𝑥0,𝑦0) =𝜕

𝜕𝑥[𝑓(𝑥0, 𝑦0)]𝑑𝑥 +

𝜕

𝜕𝑦[𝑓(𝑥0, 𝑦0)]𝑑𝑦 (8. 10)

Dividindo pelo diferencial 𝑑𝑥, encontra-se a derivada da função 𝑓(𝑥, 𝑦) em

relação a 𝑥 no ponto (𝑥0, 𝑦0):

𝑑𝑓

𝑑𝑥|𝑥0,𝑦0

=𝜕𝑓

𝜕𝑥|𝑥0,𝑦0

+𝑑𝑦

𝑑𝑥(𝑥0, 𝑦0) ∙

𝜕𝑓

𝜕𝑦|𝑥0,𝑦0

(8. 11)

Uma vez que 𝑑𝑦

𝑑𝑥(𝑥0, 𝑦0) = 𝑦′(𝑥0, 𝑦0), a derivada segunda da função 𝑦 no ponto

(𝑥0, 𝑦0) é dada por (8.12).

𝑦′′(𝑥0, 𝑦0) = 𝑓′ = 𝑓𝑥 + 𝑓0 ∙ 𝑓𝑦 (8. 12)

onde:

𝑓𝑥 =𝜕𝑓

𝜕𝑥|𝑥0,𝑦0

(8. 13)

𝑓𝑦 =𝜕𝑓

𝜕𝑦|𝑥0,𝑦0

(8. 14)

Pode-se reescrever a aproximação em série de Taylor de forma que:

𝑦(𝑥0 + ∆𝑥) ≅ 𝑦(𝑥0) + 𝑓0 ∙ ∆𝑥 +1

2∙ (𝑓𝑥 + 𝑓0 ∙ 𝑓𝑦) ∙ ∆𝑥

2 (8. 15)

Igualando (8.6) e (8.15), tem-se:

𝑦(𝑥0) + 𝐾𝑀 ∙ ∆𝑥 = 𝑦(𝑥0) + 𝑓0 ∙ ∆𝑥 +1

2∙ (𝑓𝑥 + 𝑓0 ∙ 𝑓𝑦) ∙ ∆𝑥

2 (8. 16)

Subtraindo ambos os lados por 𝑦(𝑥0) e dividindo-os por ∆𝑥, encontra-se:

𝐾𝑀 = 𝑓0 +1

2∙ (𝑓𝑥 + 𝑓0 ∙ 𝑓𝑦) ∙ ∆𝑥 (8. 17)

Substituindo (8.5) em (8.17):

𝑏1 ∙ 𝐾1 + 𝑏2 ∙ 𝐾2 = 𝑓0 ∙ ∆𝑥 +1

2∙ (𝑓𝑥 + 𝑓0 ∙ 𝑓𝑦) ∙ ∆𝑥

2 (8. 18)

Sabe-se que a expansão em série de Taylor truncada em primeira ordem para

duas variáveis é dada por:

𝑓(𝑥, 𝑦) = 𝑓0 + 𝑓𝑥 ∙ (𝑥 − 𝑥0) + 𝑓𝑦 ∙ (𝑦 − 𝑦0) (8. 19)

Assim, pode-se expandir a equação de 𝐾2 dada em (8.4).

𝐾2 = 𝑓(𝑥0 + 𝑐 ∙ ∆𝑥, 𝑦0 + 𝐾1 ∙ 𝑎 ∙ ∆𝑥) = 𝑓0 + 𝑓𝑥 ∙ 𝑐 ∙ ∆𝑥 + 𝑓𝑦 ∙ 𝐾1 ∙ 𝑎 ∙ ∆𝑥 (8. 20)

Substituindo (8.20), (8.3) e (8.9) em (8.18), obtém-se:

𝑏1 ∙ 𝑓0 + 𝑏2 ∙ (𝑓0 + 𝑓𝑥 ∙ 𝑐 ∙ ∆𝑥 + 𝑓𝑦 ∙ 𝐾1 ∙ 𝑎 ∙ ∆𝑥) = 𝑓0 +1

2∙ (𝑓𝑥 + 𝑓0 ∙ 𝑓𝑦) ∙ ∆𝑥 (8. 21)

Observando-se (8.21), chegamos às seguintes conclusões:

𝑏1 + 𝑏2 = 1 (8. 22)

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𝑏2 ∙ 𝑐 =1

2(8. 23)

𝑏2 ∙ 𝑎 =1

2(8. 24)

As três equações acima formam um sistema indeterminado, uma vez que

existem quatro incógnitas. Dessa forma, adota-se a seguinte condição para o método

de Runge-Kutta de segunda ordem:

𝑎 = 𝑐 = 1 (8. 25)

Isso permite solucionar o sistema, chegando na solução:

𝑏1 = 𝑏2 =1

2(8. 26)

Finalmente, define-se as tangentes e a solução iterativa do método:

𝐾1 = 𝑦′(𝑥0, 𝑦0) (8. 27)

𝐾2 = 𝑦′(𝑥0 + ∆𝑥, 𝑦0 + 𝐾1 ∙ ∆𝑥) (8. 28)

𝐾𝑀 =1

2∙ 𝐾1 +

1

2∙ 𝐾2 (8. 29)

𝑦(𝑥0 + ∆𝑥) = 𝑦𝑎𝑝𝑟𝑜𝑥 = 𝑦(𝑥0) +𝐾1 + 𝐾2

2∙ ∆𝑥 (8. 30)

8.1.2 Terceira ordem

De forma análoga ao apresentado no item anterior, pode-se deduzir as seguintes

tangentes intermediárias para o método de Runge-Kutta de terceira ordem:

𝐾1 = 𝑦′(𝑥0, 𝑦0) (8. 31)

𝐾2 = 𝑦′(𝑥0 + 𝑐2 ∙ ∆𝑥, 𝑦0 +𝐾1 ∙ 𝑎21 ∙ ∆𝑥) (8. 32)

𝐾3 = 𝑦′(𝑥0 + 𝑐3 ∙ ∆𝑥, 𝑦0 + 𝐾1 ∙ 𝑎31 ∙ ∆𝑥 + 𝐾2 ∙ 𝑎32 ∙ ∆𝑥) (8. 33)

Dessa forma, tem-se as constantes 𝑐2 e 𝑐3, que definem as abscissas dos pontos

intermediários, e as constantes 𝑎21, 𝑎31 e 𝑎32 que definem as ordenadas dos pontos

intermediários. Assim como no método de segunda ordem, tem-se a tangente média:

𝐾𝑀 = 𝑏1 ∙ 𝐾1 + 𝑏2 ∙ 𝐾2 + 𝑏3 ∙ 𝐾3 (8. 34)

A solução da ordenada do ponto seguinte ao passo é dada por (8.35)

𝑦(𝑥0 + ∆𝑥) = 𝑦(𝑥0) + 𝐾𝑀 ∙ ∆𝑥 (8. 35)

A partir de (8.11), pode-se deduzir que:

𝑑2𝑓

𝑑𝑥2|𝑥0,𝑦0

= (𝜕

𝜕𝑥+ 𝑓0 ∙

𝜕

𝜕𝑦) ∙ (𝑓𝑥 + 𝑓0 ∙ 𝑓𝑦) (8. 36)

Desenvolvendo a equação (8.36), tem-se:

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𝑑2𝑓

𝑑𝑥2|𝑥0,𝑦0

= 𝑓𝑥𝑥 + 𝑓𝑥 ∙ 𝑓𝑦 + 2 ∙ 𝑓0 ∙ 𝑓𝑥𝑦 + 𝑓02 ∙ 𝑓𝑦𝑦 + 𝑓0 ∙ 𝑓𝑦

2 (8. 37)

A seguir é feita a expansão em série de Taylor em torno do ponto (𝑥0, 𝑦0)

truncada na terceira ordem, substituindo na mesma as equações para 𝑓′(𝑥0, 𝑦0)

encontrada em (8.12) e 𝑓′′(𝑥0, 𝑦0) encontrada em (8.37):

𝑦(𝑥0 + ∆𝑥) ≅ 𝑦(𝑥0) + 𝑓0 ∙ ∆𝑥 +1

2∙ (𝑓𝑥 + 𝑓0 ∙ 𝑓𝑦) ∙ ∆𝑥

2 +

+1

6∙ (𝑓𝑥𝑥 + 𝑓𝑥 ∙ 𝑓𝑦 + 2 ∙ 𝑓0 ∙ 𝑓𝑥𝑦 + 𝑓0

2 ∙ 𝑓𝑦𝑦 + 𝑓0 ∙ 𝑓𝑦2) ∙ ∆𝑥3 (8. 38)

Então, substituindo (8.1) e (8.34) em (8.38):

𝑏1 ∙ 𝐾1 + 𝑏2 ∙ 𝐾2 + 𝑏3 ∙ 𝐾3 =

= 𝑓0 +1

2∙ (𝑓𝑥 + 𝑓0 ∙ 𝑓𝑦) ∙ ∆𝑥 +

1

6∙ (𝑓𝑥𝑥 + 𝑓𝑥 ∙ 𝑓𝑦 + 2 ∙ 𝑓0 ∙ 𝑓𝑥𝑦 + 𝑓0

2 ∙ 𝑓𝑦𝑦 + 𝑓0 ∙ 𝑓𝑦2) ∙ ∆𝑥2 (8. 39)

Fazendo a expansão de (8.32) em série de Taylor para duas variáveis truncada

em segunda ordem:

𝐾2 ≅ 𝑓0 + 𝑐2 ∙ ∆𝑥 ∙ 𝑓𝑥 + 𝐾1 ∙ 𝑎21 ∙ ∆𝑥 ∙ 𝑓𝑦 +

+1

2[(𝑐2 ∙ ∆𝑥)

2 ∙ 𝑓𝑥𝑥 + 2 ∙ (𝑐2 ∙ ∆𝑥) ∙ (𝐾1 ∙ 𝑎21 ∙ ∆𝑥) ∙ 𝑓𝑥𝑦 + (𝐾1 ∙ 𝑎21 ∙ ∆𝑥)2 ∙ 𝑓𝑦𝑦] (8. 40)

Desenvolve-se (8.40) e substitui-se nesta a equação (8.31), encontrando (8.41).

𝐾2 ≅ 𝑓0 + (𝑐2 ∙ 𝑓𝑥 + 𝑎21 ∙ 𝑓0 ∙ 𝑓𝑦) ∙ ∆𝑥 + (𝑐22

2∙ 𝑓𝑥𝑥 + 𝑐2 ∙ 𝑎21 ∙ 𝑓0 ∙ 𝑓𝑥𝑦 +

𝑎212

2∙ 𝑓0

2 ∙ 𝑓𝑦𝑦) ∙ ∆𝑥2(8. 41)

Realizando a mesma expansão de duas variáveis para (8.33):

𝐾3 ≅ 𝑓0 + 𝑐3 ∙ ∆𝑥 ∙ 𝑓𝑥 + (𝐾1 ∙ 𝑎31 + 𝐾2 ∙ 𝑎32) ∙ ∆𝑥 ∙ 𝑓𝑦 +

+1

2∙ (𝑐3 ∙ ∆𝑥)

2 ∙ 𝑓𝑥𝑥 + 2 ∙ (𝑐3 ∙ ∆𝑥)(𝐾1 ∙ 𝑎31 ∙ ∆𝑥 + 𝐾2 ∙ 𝑎32 ∙ ∆𝑥) ∙ 𝑓𝑥𝑦 +

+1

2∙ (𝐾1 ∙ 𝑎31 ∙ ∆𝑥 + 𝐾2 ∙ 𝑎32 ∙ ∆𝑥)

2 ∙ 𝑓𝑦𝑦 (8. 42)

Novamente, desenvolve-se (8.42) e substitui-se (8.41) e (8.31) para encontrar a

solução (8.43). Foram desprezadas parcelas que contivessem termos além de ∆𝑥².

𝐾3 ≅ 𝑓0 + (𝑐3 ∙ 𝑓𝑥 + 𝑎31 ∙ 𝑓0 ∙ 𝑓𝑦 + 𝑎32 ∙ 𝑓0 ∙ 𝑓𝑦) ∙ ∆𝑥 +

+(𝑐32

2∙ 𝑓𝑥𝑥 + 𝑐3 ∙ 𝑎31 ∙ 𝑓0 ∙ 𝑓𝑥𝑦 + 𝑐3 ∙ 𝑎32 ∙ 𝑓0 ∙ 𝑓𝑥𝑦 +

𝑎312

2∙ 𝑓0

2 ∙ 𝑓𝑦𝑦 + 𝑎31 ∙ 𝑎32 ∙ 𝑓02 ∙ 𝑓𝑦𝑦 +

+𝑎32

2

2∙ 𝑓0

2 ∙ 𝑓𝑦𝑦 + 𝑐2 ∙ 𝑎32 ∙ 𝑓𝑥 ∙ 𝑓𝑦 + 𝑎21 ∙ 𝑎32 ∙ 𝑓0 ∙ 𝑓𝑦2) ∙ ∆𝑥2 (8. 43)

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Substituindo (8.31), (8.41) e (8.43) em (8.39), tem-se:

(𝑏1 + 𝑏2 + 𝑏3) ∙ 𝑓0 +

+(𝑏2 ∙ 𝑐2 + 𝑏3 ∙ 𝑐3) ∙ 𝑓𝑥 ∙ ∆𝑥 +

+(𝑏2 ∙ 𝑎21 + 𝑏3 ∙ 𝑎31 + 𝑏3 ∙ 𝑎32) ∙ 𝑓0 ∙ 𝑓𝑦 ∙ ∆𝑥 +

+(𝑏2∙𝑐2

2

2+

𝑏3∙𝑐32

2) ∙ 𝑓𝑥𝑥 ∙ ∆𝑥

2 +

+𝑏3 ∙ 𝑐2 ∙ 𝑎32 ∙ 𝑓𝑥 ∙ 𝑓𝑦 ∙ ∆𝑥2 +

+(𝑏2 ∙ 𝑐2 ∙ 𝑎21 + 𝑏3 ∙ 𝑐3 ∙ 𝑎31 + 𝑏3 ∙ 𝑐3 ∙ 𝑎32) ∙ 𝑓0 ∙ 𝑓𝑥𝑦 ∙ ∆𝑥2 +

+(𝑏2∙𝑎21

2

2+

𝑏3∙𝑎312

2+

𝑏3∙𝑎322

2+ 𝑏3 ∙ 𝑎31 ∙ 𝑎32) ∙ 𝑓0

2 ∙ 𝑓𝑦𝑦 ∙ ∆𝑥2 +

+𝑏3 ∙ 𝑎21 ∙ 𝑎32 ∙ 𝑓0 ∙ 𝑓𝑦2 ∙ ∆𝑥2 =

= 𝑓0 +1

2∙ (𝑓𝑥 + 𝑓0 ∙ 𝑓𝑦) ∙ ∆𝑥 +

1

6∙ (𝑓𝑥𝑥 + 𝑓𝑥 ∙ 𝑓𝑦 + 2 ∙ 𝑓0 ∙ 𝑓𝑥𝑦 + 𝑓0

2 ∙ 𝑓𝑦𝑦 + 𝑓0 ∙ 𝑓𝑦2) ∙ ∆𝑥2 (8. 44)

Da equação (8.44), obtém-se as condições:

𝑏1 + 𝑏2 + 𝑏3 = 1 (8. 45)

𝑏2 ∙ 𝑐2 + 𝑏3 ∙ 𝑐3 =1

2(8. 46)

𝑏2 ∙ 𝑎21 + 𝑏3 ∙ 𝑎31 + 𝑏3 ∙ 𝑎32 =1

2(8. 47)

𝑏2 ∙ 𝑐22

2+𝑏3 ∙ 𝑐3

2

2=1

6(8. 48)

𝑏3 ∙ 𝑐2 ∙ 𝑎32 =1

6(8. 49)

𝑏2 ∙ 𝑐2 ∙ 𝑎21 + 𝑏3 ∙ 𝑐3 ∙ 𝑎31 + 𝑏3 ∙ 𝑐3 ∙ 𝑎32 =1

3(8. 50)

𝑏2 ∙ 𝑎212

2+𝑏3 ∙ 𝑎31

2

2+𝑏3 ∙ 𝑎32

2

2+ 𝑏3 ∙ 𝑎31 ∙ 𝑎32 =

1

6(8. 51)

𝑏3 ∙ 𝑎21 ∙ 𝑎32 =1

6(8. 52)

Com isso, pode-se montar o que chama-se quadro de Butcher, dispondo os

coeficientes (𝑎21, 𝑎31, 𝑎32, 𝑏1, 𝑏2, 𝑏3, 𝑐2, 𝑐3) de maneira descrita pela Figura 58.

Figura 58 - Quadro de Butcher para o método de Runge-Kutta de segunda ordem (VALERIANO, 2017)

0

𝑐2𝑐3

𝑎21𝑎31 𝑎32

𝑏1 𝑏2 𝑏3

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80

A última linha do quadro de Butcher, que contém os coeficientes dos pesos das

tangentes, deve ser sempre igual à unidade, de forma que para um método de ordem

𝑛:

∑𝑏𝑛

𝑛

𝑖=1

= 1 (8. 53)

Para as demais linhas, o somatório dos termos 𝑎𝑖𝑗 deve ser igual ao termo 𝑐𝑖:

∑𝑎𝑖𝑗

𝑖−1

𝑗=1

= 𝑐𝑖 (8. 54)

Dessa forma, pode-se assumir diferentes soluções para o método de Runge-

Kutta de terceira ordem. As duas soluções mais utilizadas são apresentadas pelas

figuras Figura 59 e Figura 60.

Figura 59 - Primeira solução do quadro de Butcher para o método de Runge-Kutta de terceira ordem (VALERIANO, 2017)

Assim, tem-se as equações das tangentes intermediárias:

𝐾2 = 𝑦′ (𝑥0 +2

3∙ ∆𝑥, 𝑦0 +

2

3∙ 𝐾1 ∙ ∆𝑥) (8. 55)

𝐾3 = 𝑦′ (𝑥0 +2

3∙ ∆𝑥, 𝑦0 +

1

3∙ 𝐾1 ∙ ∆𝑥 +

1

3∙ 𝐾2 ∙ ∆𝑥) (8. 56)

𝐾𝑀 =1

4∙ 𝐾1 +

3

4∙ 𝐾3 (8. 57)

Figura 60 - Segunda solução do quadro de Butcher para o método de Runge-Kutta de terceira ordem (VALERIANO, 2017)

As tangentes intermediárias para a segunda solução:

𝐾2 = 𝑦′ (𝑥0 +1

2∙ ∆𝑥, 𝑦0 +

1

2∙ 𝐾1 ∙ ∆𝑥) (8. 58)

𝐾3 = 𝑦′(𝑥0 + ∆𝑥, 𝑦0 − 𝐾1 ∙ ∆𝑥 + 2 ∙ 𝐾2 ∙ ∆𝑥) (8. 59)

0

RK31 23

0

23

23

13

13

14

34

0

RK32 12

1

12

−1 2

16

16

46

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81

𝐾𝑀 =1

6∙ 𝐾1 +

4

6∙ 𝐾2 +

1

6∙ 𝐾3 (8. 60)

8.1.3 Quarta ordem

O desenvolvimento do método de quarta ordem é análogo ao realizado para os

de segunda e terceira ordem. Pode-se ainda dispor os coeficientes no quadro de

Butcher, como demonstrado no item 8.1.2. Assim, apresenta-se três soluções de quarta

ordem.

Figura 61 - Primeira solução do quadro de Butcher para o método de Runge-Kutta de quarta ordem (VALERIANO, 2017)

𝐾2 = 𝑦′ (𝑥0 +1

2∙ ∆𝑥, 𝑦0 +

1

2∙ 𝐾1 ∙ ∆𝑥) (8. 61)

𝐾3 = 𝑦′ (𝑥0 +1

2∙ ∆𝑥, 𝑦0 +

1

2∙ 𝐾2 ∙ ∆𝑥) (8. 62)

𝐾 = 𝑦′(𝑥0 + ∆𝑥, 𝑦0 + 𝐾3 ∙ ∆𝑥) (8. 63)

𝐾𝑀 =𝐾1 + 2 ∙ 𝐾2 + 2 ∙ 𝐾3 + 𝐾

6(8. 64)

Figura 62 - Segunda solução do quadro de Butcher para o método de Runge-Kutta de quarta ordem (VALERIANO, 2017)

𝐾2 = 𝑦′ (𝑥0 +1

4∙ ∆𝑥, 𝑦0 +

1

4∙ 𝐾1 ∙ ∆𝑥) (8. 65)

𝐾3 = 𝑦′ (𝑥0 +1

2∙ ∆𝑥, 𝑦0 +

1

2∙ 𝐾2 ∙ ∆𝑥) (8. 66)

𝐾 = 𝑦′(𝑥0 + ∆𝑥, 𝑦0 + 𝐾1 ∙ ∆𝑥 − 2 ∙ 𝐾2 ∙ ∆𝑥 + 2 ∙ 𝐾3 ∙ ∆𝑥) (8. 67)

𝐾𝑀 =𝐾1 + 4 ∙ 𝐾3 + 𝐾

6(8. 68)

0

RK41 12

12

12

0 12

16

1 0 0 1

26

26

16

0

RK42 14

12

14

0 12

16

1 1 -2 2

0 46

16

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82

Figura 63 - Terceira solução do quadro de Butcher para o método de Runge-Kutta de quarta ordem (VALERIANO, 2017)

𝐾2 = 𝑦′ (𝑥0 +1

3∙ ∆𝑥, 𝑦0 +

1

3∙ 𝐾1 ∙ ∆𝑥) (8. 69)

𝐾3 = 𝑦′ (𝑥0 +2

3∙ ∆𝑥, 𝑦0 −

1

3∙ 𝐾1 ∙ ∆𝑥 + 𝐾2 ∙ ∆𝑥) (8. 70)

𝐾 = 𝑦′(𝑥0 + ∆𝑥, 𝑦0 +𝐾1 ∙ ∆𝑥 − 𝐾2 ∙ ∆𝑥 + 𝐾3 ∙ ∆𝑥) (8. 71)

𝐾𝑀 =𝐾1 + 3 ∙ 𝐾2 + 3 ∙ 𝐾3 + 𝐾

8(8. 72)

A primeira solução é a mais usual das três, sendo a terceira a forma adotada por

Kutta em 1901, no qual assumiu tangentes a cada terço do passo.

8.2 Solução da equação diferencial

Tendo apresentado o método de Runge-Kutta pode-se dar continuidade à

resolução da equação (8.2). Rearranjando os termos para isolar a derivada segunda da

deformação, tem-se (8.73).

𝜖̈ =𝜎0 − 𝑞0 ∙ 𝜖 − 𝑞1 ∙ 𝜖̇

𝑞2(8. 73)

Para adequar as funções nas quais utiliza-se o método de Runge-Kutta, adota-

se as substituições:

𝑌1 = 𝜖 (8. 74)

𝑌2 = 𝜖̇ (8. 75)

Com isso, obtém-se as equações (8.76) e (8.77).

𝑌1′ = 𝑌2 (8. 76)

𝑌2′ =

𝜎0 − 𝑞0 ∙ 𝑌1 − 𝑞1 ∙ 𝑌2𝑞2

(8. 77)

Para solucionar o problema deve-se definir condições iniciais ao mesmo. Para

fins de comparação entre a solução aproximada (pelo método de Runge-Kutta) e a

solução exata, adota-se condições iniciais nulas.

𝜖(0) = 𝑌1(0) = 0 (8. 78)

0

RK43 13

23

13

1

18

1 1 -1 1

38

18

−13

38

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83

𝜖̇(0) = 𝑌2(0) = 0 (8. 79)

Como tem-se um sistema de equações diferenciais, deve-se aplicar o método de

Runge-Kutta simultaneamente para cada função 𝑌1′ e 𝑌2

′ em cada iteração.

Utiliza-se os mesmos valores dos coeficientes 𝑞0 e 𝑞1 obtidos em (4.20) e (4.21)

para o modelo de Boltzmann:

𝑞0 = 9375 𝑀𝑃𝑎 (8. 80)

𝑞1 = 9375000 𝑀𝑃𝑎 ∙ 𝑑𝑖𝑎𝑠 (8. 81)

Quanto ao coeficiente 𝑞2, arbitra-se um valor inicial, variando seu valor até se

chegar a um refinamento adequado.

Para comparação do resultado com a solução exata, utiliza-se a flexibilidade à

fluência para o modelo sólido de 4 parâmetros apresentada na Tabela 4. Como descrito

pelo princípio da superposição no item 3.7, sabe-se que a solução da deformação no

tempo para a fluência é dada por 𝜖(𝑡) = 𝜎0 ∙ 𝐽(𝑡). Assim, a solução exata é expressa por

(8.82).

𝜖(𝑡) = 𝜎0 ∙ [1 − 𝑝1 ∙ 𝜆1

𝑞2 ∙ 𝜆1 ∙ (𝜆2 − 𝜆1)∙ (1 − 𝑒−𝜆1𝑡) +

1 − 𝑝1 ∙ 𝜆2𝑞2 ∙ 𝜆2 ∙ (𝜆1 − 𝜆2)

∙ (1 − 𝑒−𝜆2𝑡)] (8. 82)

onde 𝜆1 e 𝜆2 são raízes da equação (8.83).

𝑞2 ∙ 𝜆2 − 𝑞1 ∙ 𝜆 + 𝑞0 = 0 (8. 83)

Automatiza-se o método em um programa em linguagem MatLab, desenvolvido

a partir de um código já existente, obtido de uma disciplina do curso. O programa é

apresentado a seguir:

% SOLUCAO NUMERICA DE PROBLEMA DE VALOR INICIAL

%

% METODO DE RUNGE-KUTTA

%

% 4a ORDEM - RK4EDO2

%

% SISTEMA DE E.D.O.

% =========================================

% INICIALIZACAO

clear; % limpar memoria (variaveis)

clc; % limpar janela de comandos

clf; % limpar figura (graficos)

% DADOS

x(1) = 0.0; % abscissa inicial

dx = 10; % incremento

xf = 10000.; % abscissa final

% VALORES INICIAIS

y(:,1) = [0.; 0.];

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84

% COEFICIENTES DO MODELO

p1 = 375

q0 = 9375

q1 = 9375000

q2 = 5*10^8

equac = [q2 -q1 q0]

lambda = roots(equac)

% DEFINICAO DO SISTEMA DE EQUACOES DIFERENCIAIS DE 1a ORDEM

% Y'(x) = yl(x,y)

% y(x) vetor com as equacoes diferencias 1a ordem

yl = @(y,x) [y(2,:);

(22.321-q0*y(1,:)-q1*y(2,:))/q2];

% SOLUCAO ANALITICA

yE1 = @(x) 22.321*((1-p1*lambda(1))*(1-exp(-

lambda(1)*x))/(q2*lambda(1)*(lambda(2)-lambda(1)))+(1-p1*lambda(2))*(1-exp(-

lambda(2)*x))/(q2*lambda(2)*(lambda(1)-lambda(2))));

% DEFINICAO DOS PONTOS DE ABSCISSAS

x = x(1):dx:xf; % abscissas

n = length(x); % numero de pontos

xE = x(1):dx/10:xf; % abscissas com passo 10x menor

% SOLUCAO NUMERICA (RUNGE-KUTTA)

for i = 2:n

k1 = yl(y(:,i-1),x(i-1)); % tangentes K1

y1 = y(:,i-1)+k1*dx/2; % pontos intermediarios 1

k2 = yl(y1,x(i-1)+dx/2); % tangentes K2

y2 = y(:,i-1)+k2*dx/2; % pontos intermediarios 2

k3 = yl(y2,x(i-1)+dx/2); % tangentes K3

y3 = y(:,i-1)+k3*dx; % pontos intermediarios 3

k4 = yl(y3,x(i-1)+dx); % tangentes K4

km = (k1+2*k2+2*k3+k4)/6; % tangentes medias

y(:,i)=y(:,i-1)+dx*km; % solucoes aproximadas

endfor

% GRAFICOS DAS FUNCOES

subplot (1, 1, 1)

hold on; % superpor graficos

grid on; % apresentar "grid"

% PLOTAR SOLUCAO EXATA

plot(xE,yE1(xE)); % resp. exata Y1 em linha continua

% PLOTAR SOLUCAO NUMERICA

plot(x,y(1,:),'*','markeredgecolor','k'); % pontos da resp. aprox. Y1

set(gca,'FontSize',25) % tamanho da fonte dos eixos

tit=strcat('Y1 ;', % título

' dx=',num2str(dx,'%5.2f'), % título

' ; Deformação em função do tempo', % título

' - efeito da fluência', % título

' (modelo sólido de 4 parâmetros)', % título

' - Solução Exata x Runge-Kutta'); % título

title(tit); % apresentar titulo no grafico

set(gca,'FontSize',20) % tamanho da fonte dos eixos

h=get(gca,'title');

set(h,'FontSize',20) % tamanho da fonte do titulo

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85

Executando o programa consegue-se extrair os gráficos da solução numérica

(com passo 𝑑𝑥 = 10) e da solução exata sobrepostos, presentes na Figura 64. A curva

em linha cheia clara representa o resultado exato e o de linha pontilhada escura

representa o resultado numérico.

Figura 64 - Deformação em função do tempo para o modelo sólido de 4 parâmetros - Solução Exata x Runge-Kutta

Utiliza-se um coeficiente 𝑞2 = 5 × 108 na solução.

É possível observar que a solução pelo método de Runge-Kutta subestima o

desenvolvimento inicial das deformações quando comparada à solução exata. Dessa

forma, a curva para a solução aproximada possui um aspecto mais suave, com menores

deformações iniciais. Isso pode ser explicado pelo coeficiente 𝑝1, que está presente na

solução exata. Porém, ao adotar-se a consideração de 𝜎 = 𝜎0 no item 8, este coeficiente

se anula, sendo desconsiderado na solução numérica por Runge-Kutta.

Como os valores finais encontrados são iguais, opta-se por continuar com a

solução do problema inicial.

8.3 Solução do problema da coluna comprimida

Neste capítulo aplica-se a solução encontrada pelo método de Runge-Kutta para

solucionar o problema apresentado no item 4.

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Como os dados iniciais são os mesmos, tem-se que considerar uma condição

inicial diferente da condição do item 8.2, de forma que a deformação inicial do problema

deve ser a deformação elástica do concreto.

𝜖(0) = 𝑌1(0) =𝜎0𝐸𝑐

=22,321

25 × 103= 8,9284 × 10− (8. 84)

𝜖̇(0) = 𝑌2(0) = 0 (8. 85)

Reproduz-se o método de Runge-Kutta em uma planilha Excel e aplica-se a

solução, variando a tensão do concreto em cada passo na equação (8.77) e

comparando as tensões com a solução obtida pelo modelo de Boltzmann no item 5. O

resultado está descrito na Figura 65.

Figura 65 - Comparação entre as soluções do problema pelo modelo de Boltzmann e pelo modelo sólido de 4 parâmetros obtido pelo método de Runge-Kutta

Analisando a comparação, pode-se concluir que os resultados estão próximos,

apesar do modelo sólido de 4 parâmetros prever maiores deformações finais do que o

modelo de Boltzmann, o que se traduz em tensões maiores para o aço e menores para

o concreto.

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87

9 Conclusões e sugestões de continuidade

No decorrer dos capítulos anteriores pôde-se prever o comportamento de

estruturas de concreto armado e protendido em um problema simples, de uma coluna

comprimida, sob a ótica da viscoelasticidade. Gerou-se gráficos de previsão da

distribuição de tensões entre os materiais ao longo do tempo para fluência, retração e

relaxação atuando de forma isolada e em conjunto, obtendo resultados satisfatórios

quando comparados a análises feitas por outros autores.

A previsão da fluência pelos modelos viscoelásticos se mostrou extremamente

precisa, gerando curvas de distribuição de tensões muito similares às obtidas por Gilbert

e Ranzi (2011) em sua análise, como mostra a Figura 50. Observou-se algumas

diferenças, principalmente na previsão da retração (que não envolve a aplicação dos

modelos viscoelásticos), porém estas podem ser explicadas pela falta de dados

fornecidos pelos autores. Todavia, como ilustra a Figura 52, apesar do desenvolvimento

da deformação ter se mostrado discrepante, as deformações finais e, por consequência,

as tensões finais do concreto e do aço, se mostraram equivalentes às da análise deles,

o que, neste caso, caracteriza um bom resultado.

Se cumpriu ainda a proposta de comparar os resultados obtidos por modelos

diferentes, desenvolvendo o modelo sólido de 4 parâmetros através do método

numérico de Runge-Kutta. Pôde-se automatizar o método em um programa e obter uma

função da deformação que atinge a mesma assíntota que a solução exata, de acordo

com a Figura 64. O desenvolvimento inicial de deformações se mostrou subestimado

pelo método numérico, o que pode ser explicado pela ausência do coeficiente 𝑝1, que

foi eliminado na consideração de uma tensão constante 𝜎 = 𝜎0, primordial para a

aplicação do método.

Um próximo passo em direção à análise de questões complexas, como é o

exemplo das pontes em balanços sucessivos, pode ser desenvolver uma solução para

o problema da flexão, seguindo os moldes do desenvolvimento do presente trabalho.

9.1 Sugestão de continuidade

Como sugestão de continuidade, apresenta-se o problema da flexão, que

demonstra complexidade ligeiramente maior ao problema da compressão resolvido nos

capítulos 5 a 8.

Segundo FLÜGGE (1967), tem-se as relações (9.1), (9.2) e (9.3) da teoria

elástica.

𝑉′ = −𝑝 (9. 1)

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𝑀′ = 𝑉 (9. 2)

𝑀′′ = −𝑝 (9. 3)

onde 𝑀 é o momento fletor, 𝑉 é o esforço cortante, 𝑝 é o carregamento

distribuído por unidade de comprimento e os apóstrofos representam derivadas em

função do espaço.

Além das relações acima, tem-se ainda a relação (9.4) para vigas elásticas.

𝑤′′ =−𝑀

𝐸𝐼(9. 4)

A Figura 66a mostra em linhas grossas o formato de um elemento de viga antes

da deformação e em linhas finas seu formato após a deformação. Nota-se que as

seções transversais das suas extremidades eram verticais, porém passaram a formar

um ângulo 𝑑𝜓 = 𝜅𝑑𝑥, onde 𝜅 é a curvatura do eixo da viga. Tem-se que, para uma

deflexão 𝑤 e sua rotação 𝑤′ pequenas, tal que 𝑤′ ≪ 1, a curvatura é dada por:

𝜅 = −𝑤′′ (9. 5)

Toma-se um elemento de área 𝑑𝐴 = 𝑑𝑦 ∙ 𝑑𝑧 da seção transversal ilustrada pela

Figura 66b, e considera-se uma “fibra” de comprimento 𝑑𝑥 no elemento de viga. Em seu

estado deformado, essa “fibra” é alongada em 𝑧 ∙ 𝑑𝜓, de onde tem-se a deformação:

𝜖 =𝑧 ∙ 𝑑𝜓

𝑑𝑥= 𝑧 ∙ 𝜅 (9. 6)

Figura 66 - Elemento de viga (adaptado de FLÜGGE, 1967)

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89

Ao longo do elemento de área 𝑑𝐴, está atuando uma tensão 𝜎 que, sob um

regime viscoelástico, se relaciona com a deformação 𝜖 através de (3.11). A força 𝜎 ∙ 𝑑𝐴

contribui para o momento fletor 𝑀 transmitido na seção transversal.

𝑀 = ∫ 𝜎 ∙ 𝑧 ∙ 𝑑𝐴𝐴

(9. 7)

Na equação (9.7) aplica-se o operador diferencial 𝐏 de (3.40) e, em seguida,

substitui-se 𝐏(𝜎) por 𝐐(𝜖), obtendo:

𝑷(𝑀) = ∫ 𝑷(𝜎) ∙ 𝑧 ∙ 𝑑𝐴𝐴

= ∫ 𝑸(𝜖) ∙ 𝑧 ∙ 𝑑𝐴𝐴

= ∫ 𝑸(𝜅 ∙ 𝑧) ∙ 𝑧 ∙ 𝑑𝐴𝐴

(9. 8)

𝐐 é um operador diferencial que contém apenas derivadas no tempo. Dessa

forma, pode-se retirar 𝑧 de sua função e, então, 𝐐(𝜅) para fora da integral, chegando a:

𝑷(𝑀) = ∫ 𝑸(𝜅) ∙ 𝑧2 ∙ 𝑑𝐴𝐴

= 𝑸(𝜅) ∙ ∫ 𝑧2 ∙ 𝑑𝐴𝐴

= 𝑸(𝜅) ∙ 𝐼 (9. 9)

onde 𝐼 é o momento de inércia da seção transversal em relação à linha neutra

(eixo 𝑦), que passa pelo centroide pelo mesmo motivo de uma viga elástica.

Quando se expressa a curvatura em termos da deflexão, pode-se finalmente

chegar na seguinte equação diferencial:

𝐼 ∙ 𝑸(𝑤′′) = −𝑷(𝑀) (9. 10)

Combinando (9.10) com (9.3), obtém-se:

𝐼 ∙ 𝑸(𝑤𝑖𝑣) = 𝑷(𝑝) (9. 11)

Que corresponde a equação elástica conhecida:

𝐸𝐼 ∙ 𝑤𝑖𝑣 = 𝑝 (9. 12)

Como os coeficientes 𝐐 e 𝐏 possuem derivadas no tempo, obtém-se derivadas

no tempo e no espaço na mesma equação. Para solucionar este problema, há duas

opções: aplicar um método numérico na variável 𝑡 do tempo, obtendo uma curva de

variação da deflexão em função do tempo para cada ponto do espaço, ou aplicar o

método na variável 𝑥 do espaço, obtendo uma curva de variação da deflexão em função

do espaço para cada ponto do tempo. Esse procedimento pode ser explicado

graficamente pelas figuras Figura 67 e Figura 68:

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Figura 67 - Solução numérica para 𝑤(𝑡) em cada posição 𝑥 da viga

Figura 68 - Solução numérica para 𝑤(𝑥) em cada instante 𝑡 da viga

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