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Universidade Federal do Rio de Janeiro PROJETO DA BANCADA EXPERIMENTAL DE TELHADO VERDE PARA ESTUDO DE RETENÇÃO E RETARDO DE ÁGUAS PLUVIAIS Marcelo Bruno Abril de 2016

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Universidade Federal do Rio de Janeiro

PROJETO DA BANCADA EXPERIMENTAL DE TELHADO VERDE PARA ESTUDO

DE RETENÇÃO E RETARDO DE ÁGUAS PLUVIAIS

Marcelo Bruno

Abril de 2016

ii

PROJETO DA BANCADA EXPERIMENTAL DE TELHADO VERDE PARA ESTUDO

DE RETENÇÃO E RETARDO DE ÁGUAS PLUVIAIS A

Marcelo Bruno

Projeto de Graduação apresentado ao Curso

de Engenharia Civil da Escola Politécnica,

Universidade Federal do Rio de Janeiro,

como parte dos requisitos necessários à

obtenção do título de Engenheiro.

Orientadora: Elaine Garrido Vazquez

RIO DE JANEIRO

ABRIL DE 2016

iii

PROJETO DA BANCADA EXPERIMENTAL DE TELHADO VERDE PARA ESTUDO

DE RETENÇÃO E RETARDO DE ÁGUAS PLUVIAIS

Marcelo Bruno

PROJETO DE GRADUAÇÃO SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO CURSO DE

ENGENHARIA CIVIL DA ESCOLA POLITÉCNICA DA UNIVERSIDADE FEDERAL DO

RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS REQUISITOS NECESSÁRIOS À OBTENÇÃO

DO GRAU DE ENGENHEIRO CIVIL.

Examinado por:

Prof.ª Elaine Garrido Vazquez, D.Sc.

Prof. Marcelo Gomes Miguez D.Sc.

Prof.ª Sandra Oda, D.Sc.

Prof. Paulo Renato Diniz Junqueira Barbosa, D.Sc.

RIO DE JANEIRO, RJ – BRASIL

ABRIL DE 2016

iv

Bruno, Marcelo

Projeto da bancada experimental de telhado verde para estudo

de retenção e retardo de águas pluviais / Marcelo Bruno. – Rio de

Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2016.

IX, 66p.: il.; 29,7 cm.

Orientadora: Elaine Garrido Vazquez.

Projeto de Graduação – UFRJ / Escola Politécnica / Curso de

Engenharia Civil, 2016.

Referências Bibliográficas: p. 59-61.

1. Telhado verde. 2. Enchente. 3. Retenção de água de chuva.

4. Drenagem urbana. I. Elaine Garrido Vazquez. II. Universidade

Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, Escola Politécnica, Curso de

Engenharia Civil. III. Projeto da bancada experimental de telhado

verde para estudo de retenção e retardo de águas pluviais.

v

Agradecimentos

Aos professores da UFRJ, pelo exercício da mais nobre das profissões.

À minha família, pelo apoio e compreensão.

Aos amigos, por estarem presentes em todos os momentos.

Ao esporte, pela disciplina e respeito ensinados ao longo da vida.

vi

Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte

dos requisitos necessários à obtenção do grau de Engenheiro Civil.

PROJETO DA BANCADA EXPERIMENTAL DE TELHADO VERDE PARA ESTUDO

DE RETENÇÃO E RETARDO DE ÁGUAS PLUVIAIS

Marcelo Bruno

Abril 2016

Orientadora: Elaine Garrido Vazquez

Curso: Engenharia Civil

O presente trabalho apresenta um estudo sobre a concepção e construção de um

protótipo de telhado verde em uma bancada experimental, com o objetivo de analisar a

capacidade do telhado verde em reter a água de chuva, atrasando o pico de cheia.

Foi feita uma revisão bibliográfica sobre os tipos de coberturas verdes com o intuito de

definir a composição utilizada para a construção do objeto de estudo. Foram utilizados

uma bancada experimental, um simulador de chuvas e uma caixa pluviométrica para a

determinação do método de realização dos ensaios.

A utilização de telhados verdes como técnica compensatória em drenagem urbana pode

ser uma das possíveis soluções para as inundações que ocorrem nas cidades, uma vez

que o sistema é capaz de atrasar a descarga das águas pluviais no sistema de captação.

Com este estudo, espera-se estabelecer o método de realização de ensaios para o

protótipo de telhado verde para análise da sua capacidade em reter a água de chuva,

além de dar subsídios para futuras pesquisas relacionadas ao tema.

Palavras-chave: telhado verde, drenagem, enchente, simulador de chuvas.

vii

Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of

the requirements for the degree of Engineer.

PROJECT OF THE EXPERIMENTAL BENCH OF A GREEN ROOF FOR THE STUDY

OF RETAINING AND DELAYING OF RAIN WATER

Marcelo Bruno

April 2016

Advisor: Elaine Garrido Vazquez

Course: Civil Engineering

This work presents a study about the conception and construction of a green roof

prototype in an experimental bench, with the aim of analyzing its capacity of retaining

the rain water, causing a delay on the flood peak.

A literature review was made on the matter of green roofs in order to define the

composition of the object of study. An experimental bench, a rain simulator and a

pluviometric box were used to determine the method of conducting the experiment.

Using green roofs as compensatory techniques for urban drainage may be one of many

possible solutions for the floods in the cities, once it’s capable of delaying the runoff to

the urban drainage system.

The expected results for this study are to establish the method of conducting the

experiment with the green roof prototype for the analysis of its capacity of retaining rain

water, and to give subsidy for future researches on this matter.

Keywords: green roof, drainage, flood, rain simulator.

viii

SUMÁRIO

1 Introdução.............................................................................................................. 1

1.1 Referencial teórico .......................................................................................... 1

1.2 Justificativa ..................................................................................................... 9

1.3 Objetivo ........................................................................................................ 10

1.4 Metodologia .................................................................................................. 10

1.5 Descrição dos capítulos ................................................................................ 11

2 Telhados verdes .................................................................................................. 13

2.1 Histórico dos telhados verdes ....................................................................... 13

2.2 Classificação de coberturas verdes .............................................................. 18

2.3 Composição de um telhado verde................................................................. 20

O sistema completo ............................................................................... 20

O sistema modular................................................................................. 23

O sistem de manta vegetativa pré-cultivada .......................................... 24

2.4 Vantagens e desvantagens da utilização de telhados verdes ....................... 25

3 Métodos e materiais ............................................................................................ 27

3.1 Descrição do objeto de estudo ...................................................................... 27

Seleção de materiais para concepção do protótipo de telhado verde .... 30

4 Estudo experimental ............................................................................................ 37

Montagem do protótipo de telhado verde ............................................... 37

ix

4.2 Simulador de chuvas .................................................................................... 44

4.3 Método de realização do ensaio ................................................................... 48

Ajustes iniciais do sistema completo ...................................................... 48

Amostra do substrato para determinação de umidade ........................... 49

Preparação do simulador ....................................................................... 50

Medição da precipitação inicial e final .................................................... 52

Simulação de chuva sobre o protótipo de telhado verde ........................ 54

5 Considerações finais e conclusões ...................................................................... 57

Referências ................................................................................................................ 59

Anexos........................................................................................................................ 62

Especificações técnicas do impermeabilizante Denvertec 100: ............................... 62

Especificações técnicas do impermeabilizante Denvertec 540: ............................... 65

1

1 Introdução

1.1 Referencial teórico

Com a modernização das indústrias e dos processos de produção, a sociedade passou

a se desenvolver mais rapidamente, gerando crescimento econômico e populacional.

Em consequência desses avanços, houve a expansão desordenada das cidades, sem

planejamento urbano, além de um grande consumo de recursos naturais,

transformações de fauna e flora, excesso de resíduos e degradação do meio ambiente,

mudanças estas que impactam diretamente nos dias de hoje (SHAN, 2015).

Um problema muito comum nas cidades é a questão da drenagem urbana, que engloba

coleta, transporte e lançamento final das águas superficiais. Com a urbanização, houve

o aumento da densidade de ocupação por edificações e obras de infraestrutura viária,

gerando grandes áreas impermeáveis, além de devastação de vegetação e ocupação

das várzeas, causando a elevação da velocidade de escoamento superficial e a redução

de recarga do lençol freático. Por consequência, os rios têm o seu volume reduzido, há

erosão em suas margens, os ecossistemas aquáticos são eliminados e ainda, a

ocorrência de enchentes acaba por provocar impactos sociais e econômicos na região

(SHAN, 2015).

O início da preocupação com drenagem pluvial nas cidades foi tido com o enfoque

sanitário-higienista, no qual, segundo Silveira (2002), toda água circulante deveria ir

rapidamente para o esgoto, evitando insalubridades e desconfortos, nas casas e nas

ruas.

A Revolução Industrial acarretou o início do crescimento acelerado da população nos

grandes centros urbanos. Em meados do século XIX, a Europa já apresentava grandes

cidades populosas, como Londres, Paris e Hamburgo. Devido a essa rápida

urbanização, a infraestrutura das cidades europeias passou a ser uma preocupação por

2

não comportar de maneira eficiente tal crescimento urbano, pois não havia redes de

coleta de esgoto e de água pluvial adequada (GARRIDO NETO, 2012).

Nesse contexto, a drenagem pluvial, que antes era um sistema complementar ao de

coleta de esgoto, passa a ser tratada com maior importância devido à mortandade de

pessoas e animais por causa da contaminação das águas que não eram drenadas

adequadamente e misturavam-se com os esgotos (GARRIDO NETO, 2012).

O enfoque ambiental da drenagem urbana atual preocupa-se com a manutenção e

recuperação de ambientes saudáveis interna e externamente à área urbana, ao invés

de só procurar sanear o interior da cidade, segundo preceitos meramente sanitaristas

(SILVEIRA, 1999 apud SILVEIRA, 2002).

Em definição de Tucci (2002), as enchentes aumentam a sua frequência e magnitude

devido à impermeabilização, ocupação do solo e à construção da rede de condutos

pluviais. Segundo Silveira (2002), em síntese, a urbanização desequilibra o fluxo natural

das águas, tanto pelas alterações que a própria urbanização causa nos volumes dos

diversos processos hidrológicos quanto pela sua interposição no caminho natural das

águas.

O fluxo natural das águas supracitado é o ciclo hidrológico, fenômeno de circulação da

água em um circuito fechado entre a superfície da terra e a atmosfera. A partir de Rola

(2008), podemos definir o ciclo hidrológico em seus principais processos sendo:

precipitação, drenagem, infiltração, percolação, evaporação e transpiração.

A precipitação é originada da condensação do vapor d’água, podendo ser líquida

(chuva) ou sólida (neve ou gelo). Drenagem é toda a movimentação de deslocamento

da água sobre a superfície da terra. A infiltração é o processo no qual a água é absorvida

pelo solo. A percolação, advinda da infiltração, é o processo pelo qual a água se insere

nas formações rochosas até o lençol freático. A evaporação é o processo da

transformação da água em sua fase líquida para a fase gasosa, vindo principalmente

3

dos oceanos e também de rios, lagos etc. A transpiração é o processo em que a

vegetação perde vapor d’água para a atmosfera.

A figura 1 ilustra os principais processos do ciclo hidrológico.

Figura 1 - O ciclo hidrológico

(Fonte: http://www.educacao.cc/wp-content/uploads/2011/10/ciclo-da-agua.jpg, em março de 2016)

O planejamento urbano, embora envolva fundamentos interdisciplinares, na prática é

realizado dentro de um âmbito mais restrito do conhecimento. O planejamento da

ocupação do espaço urbano no Brasil não tem considerado aspectos fundamentais, que

trazem grandes transtornos e custos para a sociedade e para o ambiente (TUCCI,

1997).

O aumento das aglomerações urbanas, em particular a partir do século XIX, trouxe

dificuldades e desconforto resultantes da precariedade de infraestrutura de controle da

presença de água nas cidades. Datam dessa época as concepções de sistemas de

4

drenagem de águas pluviais e de esgotamento sanitário por meio de redes subterrâneas

de tubulações e a canalização quase que generalizada de cursos d’água em meio

urbano. As principais motivações desses preceitos e técnicas de fundamentação

higienista eram a melhoria das condições de circulação e conforto, tal qual a prevenção

de doenças de veiculação hídrica. Observa-se, a partir desta época, a redução

progressiva do papel dos cursos d’água, no quadro urbanístico, como elemento da

paisagem e como fator de embelezamento das cidades (BAPTISTA; NASCIMENTO,

2002, apud GARRIDO NETO, 2012).

No Rio de Janeiro, o desenvolvimento da cidade causa enchentes desde o século XIX,

com o caso chamado de “águas do monte”. Na ocasião, o morro do Castelo

desmoronou, arrastando casas e vítimas. Em 1966 ocorreu uma das maiores enchentes

da história da cidade. A figura 2 mostra as precipitações desse evento.

Figura 2 - Precipitações do período da enchente de 1966

(Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados do INMET, 2016)

Segundo dados do Instituto Nacional de Meteorologia, foram seis dias seguidos de

chuvas intensas, com precipitação de 166,2 mm no dia 12 de janeiro, deixando mortos

e desabrigados. A figura 3 apresenta a Rua Jardim Botânico alagada.

5

Figura 3 - Enchente de 1966, no Rio de Janeiro

(Fonte: http://www.ebc.com.br/noticias/meio-ambiente/2015/12/pior-enchente-do-rio-de-janeiro-completa-50-anos, em março de 2016)

De acordo com dados do INMET, desde 1962 até o final de 2015, apenas em três

ocasiões houve chuvas de mais de 160mm em 24 horas, e estas estão ilustradas na

figura 4. A primeira foi em 1962, com 167,4 mm. A segunda ocorreu em 1966, com 166,2

mm. A última ocorreu em 2010, com 178,5 mm.

Figura 4 - Histórico de precipitações no Rio de Janeiro

(Fonte: Elaborado pelo autor, a partir de dados do INMET, 2016)

6

A crescente urbanização gera problemas de impermeabilização do solo e consequente

diminuição de áreas verdes, que são fundamentais tanto para a recarga de águas

pluviais nos leitos subterrâneos, quanto para o balanço térmico das cidades que se dá

através da evapotranspiração da vegetação. Como alternativa de adaptação das

cidades frente aos problemas de enchentes e ilhas de calor, os telhados verdes se

mostram como uma técnica de ampliação de áreas verdes úteis nas crescentemente

densas e impermeabilizadas cidades (ROLA, 2008).

A inundação urbana é uma ocorrência tão antiga quanto às cidades ou qualquer

aglomerado urbano. A inundação ocorre quando as águas dos rios, riachos e galerias

pluviais saem do leito de escoamento devido à falta de capacidade de transporte de um

destes sistemas e ocupam áreas que a população utiliza para moradia, transporte (ruas,

rodovias e passeios), recreação, comércio, indústria, entre outros. Estes eventos podem

ocorrer devido ao comportamento natural dos rios ou ampliados pelo efeito de alteração

produzida pelo homem na urbanização pela impermeabilização das superfícies e a

canalização dos rios (TUCCI; BERTONI, 2003).

De uma maneira geral, os sistemas de drenagem convencionais conduzem o

escoamento superficial para fora das cidades, lançando em cursos d’água ou

reservatórios. As técnicas compensatórias em drenagem urbana são tentativas de se

restituir o ciclo hidrológico que existia naquele local. Estas técnicas, além de reterem

parte do volume de água, promovem sua infiltração no solo ou disponibilizam a mesma

para consumo.

A aplicação de cada técnica compensatória deve levar em conta diversos fatores, como

as características do local e o custo de implantação e manutenção. De acordo com

Carvalho e Lelis (2000), existem três tipos de implantação das técnicas de drenagem:

técnicas de controle na fonte, técnicas lineares e técnicas de controle centralizado.

7

As técnicas de controle na fonte estão associadas a pequenas estruturas de drenagem,

como os poços, as valas de infiltração e os telhados verde, e são de responsabilidade

do proprietário da área. Técnicas lineares estão associadas a áreas maiores de

drenagem, como ruas e estacionamentos, onde podem ser implementadas as

trincheiras de infiltração ou pavimentos permeáveis. A responsabilidade varia de acordo

com o local, podendo ser pública ou privada. As técnicas de controle centralizado estão

associadas a estruturas de drenagem de grande porte, como as bacias de retenção e

detenção, que atendem a uma determinada área urbana, de expansão urbana ou rural.

A responsabilidade é, via de regra, do Estado.

O conceito de cobertura verde como técnica compensatória em drenagem urbana pode

ser considerado uma das soluções possíveis para controle de cheias nas cidades, uma

vez que tem a capacidade de reter temporariamente a água precipitada, atrasando o

momento de pico do sistema de drenagem.

Além disso, é possível reutilizar a água retida, após tratamento, para fins não potáveis

como descargas, lavagem de piso e rega de jardins. Outras funções do telhado verde

são: purificar o ar absorvendo gás carbônico e liberando oxigênio; isolante acústico; e

são bons para áreas de lazer.

Inúmeros programas de pesquisa de telhados verdes revelaram altas variações nos

níveis de retenção, tipicamente de 30% a 100%. Acredita-se que estas variações

refletem as diversas configurações possíveis para os ensaios, além das diferentes

condições climáticas dos locais de realização dos mesmos (POË et al., 2011).

São considerados telhados verdes toda cobertura ou telhado, plano ou inclinado,

devidamente impermeabilizado e com sistema de drenagem para o escoamento pluvial

excedente, que agrega em sua composição, uma camada de solo ou substrato e outra

camada de vegetação. São classificados quanto ao porte adotado em extensivos ou

intensivos, diferindo entre si unicamente pela espessura do substrato e vegetação

8

utilizada. Os telhados verdes ainda podem ser classificados como acessíveis ou

inacessíveis, sendo o primeiro uma área aberta ao uso das pessoas, como jardim

suspenso ou um terraço, e os inacessíveis que não permitem a circulação de pessoas

(CORREA & GONZALEZ, 2002 apud JOBIM, 2013).

O sistema de naturação é uma técnica de aplicação de vegetação sobre superfícies

construídas que busca amenizar os impactos ambientais e redirecionar as cidades para

o desenvolvimento sustentável, visando uma maior integração entre espaço urbano,

cidadãos e natureza (ROLA et al., 2003).

As coberturas verdes trazem consigo a ideia de recomposição da vegetação original

retirada do solo, de forma a recuperar suas propriedades superficiais originais. Para isto,

tal tecnologia utiliza a cobertura das edificações, onde são implantadas camadas de

vegetação, substrato, drenagem e impermeabilização, de forma a simular uma

superfície de solo vegetado. Em certo sentido, as coberturas verdes podem ainda ser

entendidas como uma forma de realocação da vegetação do solo retirada para

implantação do edifício (CAETANO; TIBIRIÇÁ; SANTOS, 2010 apud GARRIDO NETO,

2012).

Trazer o verde para a superfície de áreas já edificadas passa pelo aspecto técnico da

capacidade de suporte das estruturas. Tecnicamente, nem todas as construções já

existentes tem capacidade de aguentar o peso de um jardim convencional hidratado que

varia de 700 a 1200 kg/m². Diante deste dado e dos problemas ambientais que as

megacidades vinham sofrendo, os estudos de superposição de variáveis resultaram no

desenvolvimento de um sistema de espessura mínima para reduzir o peso, com uma

vegetação específica para suportar condições extremas, substrato controlado, ou seja,

não tão rico em nutrientes para evitar a proliferação de outras espécies vegetais trazidas

pela fauna local e impermeabilização inibidora da proliferação de enraizamento, e ainda

com a possibilidade de captar e filtrar a água de chuva (ROLA et al., 2003).

9

Ainda segundo Rola (2003), a técnica da naturação pode ser aplicada em quaisquer

áreas construídas, ou seja, cobertura, fachadas e vias, resumindo-se em transformar

um velho sistema de terraços ajardinados em um sistema de revegetação do espaço

construído com índices de controle e benefícios do meio ambiente, formado,

principalmente, por quatro camadas: impermeabilização, drenagem, substrato e

vegetação.

A aplicação de coberturas verdes foi definida como um dos cinco pontos fundamentais

da arquitetura moderna de Le Corbusier (1887-1965), arquiteto franco-suíço, na década

de 1920, sendo: construção sobre pilotis, planta livre, janelas em fita, fachada livre e

terraços jardins.

1.2 Justificativa

As cheias urbanas causam prejuízos à população que vão além dos bens materiais.

Carros inundados e comércio de portas fechadas são exemplos dos prejuízos materiais

causados pelas enchentes. Mas o pior problema são os desabrigados, os feridos e,

eventualmente, até as mortes causadas pelas cheias. Alguns motivos para as cheias

podem ser o dimensionamento errado das galerias de águas pluviais e a obstrução das

mesmas, diminuindo o volume de água captada e aumentando o volume de água que

escoa superficialmente.

A aplicação de telhados verdes nas coberturas de edificações em centros urbanos pode

ser uma parte da solução para os problemas de drenagem urbana. Sua utilização como

técnica compensatória gera um atraso no pico da cheia que pode ser fundamental para

o alívio momentâneo dos sistemas de drenagem, causando uma diminuição das cheias

e prevenindo a população de desastres.

10

1.3 Objetivo

O objetivo deste trabalho é analisar a capacidade de um telhado verde em reter água

de chuva, a partir de um protótipo de telhado verde construído com camadas

específicas, mostrando a viabilidade de sua aplicação como técnica compensatória em

drenagem urbana.

Através de uma revisão bibliográfica sobre telhados verdes e de uma proposta de estudo

experimental, no qual será construído um protótipo de telhado verde, ficará evidenciado

que os telhados verdes são capazes de reter a água e atrasar o pico de cheia, podendo

ser uma das possíveis soluções para as inundações nas cidades.

1.4 Metodologia

Para que sejam feitas as análises destes quantitativos, será construído um protótipo de

telhado verde no Centro Experimental de Saneamento Ambiental da UFRJ. A

metodologia está dividia em quatro partes, sendo a primeira o projeto da bancada

experimental com cinco módulos, o segundo a construção da mesma, em seguida a

implementação do telhado em um dos módulos e, por fim, o método de realização dos

ensaios.

O projeto da bancada experimental foi elaborado por Garrido Neto (2012), e considerou

a utilização dos equipamentos para os ensaios: o simulador de chuvas e a caixa

pluviométrica. Sua construção, realizada por Pontes (2013), foi executada em alvenaria

e foram instalados a caixa pluviométrica e os trilhos para o simulador de chuvas, tal qual

previsto no projeto.

O protótipo será construído com uma camada de impermeabilização, uma camada

filtrante de argila expandida, substrato de areia e vegetação em bromélias. Os ensaios

serão realizados com o auxílio de um simulador de chuvas, medindo-se o tempo que a

11

água demora para atravessar o protótipo, além de medir a quantidade de chuva drenada

pelo telhado ao longo do tempo, usando uma caixa pluviométrica.

Os ensaios são feitos em um período de aproximadamente três horas. No início e no

final do ensaio será feita a medição da chuva simulada e, para os cálculos, será utilizada

a média das precipitações medidas. A chuva simulada terá sua intensidade sempre

conhecida, e também será conhecida a condição de umidade inicial do solo, uma vez

que será retirada uma amostra imediatamente antes de cada ensaio e enviada para o

laboratório.

Após o início da simulação da chuva, será medido o tempo necessário para o início do

escoamento da água infiltrada e, posteriormente, será medida a quantidade de água

drenada pelo protótipo, através de leituras da caixa pluviométrica.

1.5 Descrição dos capítulos

O trabalho está estruturado em cinco capítulos, desde a apresentação do tema em um

referencial teórico, até as sugestões para pesquisas futuras, apresentadas no último

capítulo. Além destes, há ainda a parte das referências bibliográficas e referências

eletrônicas.

No primeiro capítulo apresenta-se o tema da pesquisa, com um breve histórico de sua

aplicação. Em seguida, apresenta-se a justificativa que leva ao desenvolvimento do

trabalho, o objetivo que se pretende alcançar, a metodologia aplicada e a descrição dos

capítulos.

O segundo capítulo discorre sobre os telhados verdes, com um histórico de sua

aplicação e definições sobre o conceito de naturação.

O terceiro capítulo apresenta os métodos e materiais utilizados para o estudo

experimental deste trabalho.

12

A parte prática do trabalho está no quarto capítulo, onde é explicado o processo de

construção e montagem do protótipo de telhado verde, mostrando os detalhes de cada

componente do sistema. É colocado também o procedimento a ser seguido para a

realização de ensaios no telhado verde visando ao estudo da sua capacidade de

retenção de água de chuva.

No quinto capítulo são apresentadas as considerações finais e conclusões referentes

ao trabalho realizado. São feitas, ainda, sugestões para futuras pesquisas utilizando o

objeto de estudo deste trabalho, que é o protótipo de telhado verde. Em seguida estão

as referências bibliográficas, apêndices e anexos.

13

2 Telhados verdes

2.1 Histórico dos telhados verdes

As coberturas verdes não são fenômenos novos. Este sistema construtivo foi

considerado prática padrão em muitos países por centenas de anos, principalmente, por

causa das excelentes qualidades térmicas promovidas pela combinação das camadas

de vegetação e substrato (PECK et al. 1999 apud LOPES, 2007).

Durante vários séculos a arquitetura espontânea construiu moradias com coberturas

verdes. Sendo assim, são encontrados exemplares datados de diversas épocas em

culturas diferentes e por vezes, não correlacionadas. Por exemplo, em países frios como

Escandinávia, Islândia e Rússia e em muitos quentes como a Tanzânia, além de cidades

como Pompéia e outros cidades importantes do Império Romano e, posteriormente, na

renascença italiana e francesa. Foram os vikings e normandos que levaram a técnica

para o Canadá e Estados Unidos (PECK et al., 2009 apud FERRAZ, 2012).

Os primeiros registros de edificações com coberturas vegetais datam de 2500 anos

antes da era cristã com os antigos templos na antiga Mesopotâmia, atual Iraque,

conhecidos como Zigurates (ilustrado na figura 5), que em formato escalonado

possibilitavam a aplicação de vegetação em diferentes níveis (OSMUNDSON, 1999;

DUNNET & KINGBURY, 2004 apud ROLA, 2008).

Figura 5 - Torre Zigurate

(Fonte: http://conradopaisagismo.com.br/?p=90, em março de 2016)

14

Considerados entre as sete maravilhas do mundo antigo, os Jardins Suspensos da

Babilônia são o exemplo mais espetacular e difundido historicamente (ROLA, 2008). Os

jardins, provavelmente construídos durante a reconstrução da Babilônia, por volta de

500 a.C., foram presumidamente erguidos por ordem do rei Nabucodonosor II para

agradar e consolar a rainha Amytis, que se encontrava acometida pela saudade das

paisagens montanhosas e verdejantes de sua terra natal, a Média (antiga Pérsia)

(OSMUNDSON, 1999 e KRYSTEK, 1998 apud ROLA, 2008).

A figura 6 ilustra os Jardins Suspensos da Babilônia.

Figura 6 - Ilustração dos Jardins Suspensos da Babilônia

(Fonte: http://adorei.net/blog/as-sete-maravilhas-do-mundo/, em março de 2016)

Ao longo da história, outros exemplos da utilização dos terraços verdes aconteceram,

como o Mont Saint Michel (França), na idade média e o Palazzo Picolomini (Itália), no

século XV. Passando pelo Palácio do Kremlin e pelo Museu de Arte Hermitage, ambos

na Rússia, chegamos até a década de 1920, quando Frank Lloyd Wright e Le Corbusier

implementavam em seus projetos a funcionalidade do espaço das coberturas.

15

Em 1926, Le Corbusier formulou os cinco princípios do Movimento Modernista, que são:

construção sobe pilotis, janela em fita, fachada livre de estrutura, planta livre e terraço

jardim.

A figura 7 apresenta a Vila Savoie, projeto de Le Corbusier.

Figura 7 - Villa Savoie, de Le Corbusier, em Poussy, na França

(Fonte: http://www.e-architect.co.uk/architects/le-corbusier, em março de 2016)

As coberturas verdes não tinham uma aplicação tão grande até tempos mais recentes.

Então, nos países do norte da Europa, onde a escassez de terras para novas

construções, combinadas com o desenvolvimento de novos materiais para construção

de coberturas, acabaram somando forças para as adaptações modernas das coberturas

verdes. Quando Suíça, Alemanha, Áustria e outros países iniciaram a campanha de

reconstrução após a Segunda Guerra Mundial, os construtores utilizaram coberturas

verdes por razões práticas, ambientais e estéticas (SNODGRASS, 2006 apud FERRAZ,

2012).

16

A partir da década de 1960, com o aumento da densidade urbana e diminuição das

áreas verdes, a preocupação com o declínio da qualidade de vida nas cidades renovou

o interesse em telhados vegetados como solução verde nos países do norte da Europa.

Desde então novas técnicas têm se desenvolvido nestes países. Na Alemanha as

coberturas verdes se expandiram rapidamente desde 1980 e há uma estimativa de que

existam ao menos 10 milhões de metros quadrados de telhados vegetados neste país

(PECK et al., 2009 apud FERRAZ, 2012).

Nos anos 1970, o movimento ecológico urbano iniciado na Alemanha ajudou a ocupar

os telhados como forma de devolver o verde às cidades. Os remanescentes das antigas

coberturas verdes dos apartamentos do século XIX perduram até hoje, e novamente

atuaram como protótipos, desta vez para o início do movimento alemão de coberturas

verdes (NASCIMENTO & CHMID, 2008).

Entre os anos de 1989 e 1999 foram instalados na Alemanha 32,5 km² de naturação,

contabilizando um total de 10% dos telhados existentes na Alemanha (BEATTIE &

BERGHAGE, 2001 apud ROLA, 2008). Somente no ano de 1995 que a área de telhados

naturados atinge os 10 milhões de m² e em 1999 essa área aumenta consideravelmente

atingindo cerca de 84 milhões de m² (DUNNET & KINGSBURY, 2004 apud ROLA,

2008). Além disso, atualmente, em algumas regiões da Alemanha, a maioria dos prédios

novos possui o sistema de naturação aplicado na sua forma extensiva (KOEHLER et al,

2003 apud ROLA, 2008).

A figura 8 mostra o edifício Waldspirale, que significa floresta espiral, localizado na

cidade de Darmstadt, na Alemanha.

17

Figura 8 - Waldspirale, em Darmstadt, Alemanha

(Fonte: http://www.faszination-dachbegruenung.de/projekte/waldspirale-darmstadt/51, em março de 2016)

No Brasil o uso de coberturas verdes ainda não é tão aplicado quanto na Alemanha,

mas a legislação vem sendo ajustada para que seu uso seja cada vez mais abundante.

Em Recife, Pernambuco, no dia 13 de janeiro de 2015, foi publicada no Diário Oficial a

Lei N° 18.112/2015, determinando que “os projetos de edificações habitacionais

multifamiliares com mais de quatro pavimentos e não-habitacionais com mais de 400 m²

de área de cobertura deverão prever a implantação de telhado verde para sua

aprovação”. Essas mudanças na legislação são fundamentais para que as novas

construções passem a ser mais sustentáveis, gerando todos os benefícios que as

coberturas verdes podem trazer.

Um dos exemplos de cobertura verde no nosso país está no Rio de Janeiro, no Palácio

Gustavo Capanema, no centro da cidade. A figura 9 mostra o terraço do edifício, com

jardins projetados pelo paisagista Burle Marx.

18

Figura 9 - Terraço jardim do Palácio Gustavo Capanema, no Rio de Janeiro

(Fonte: https://br.pinterest.com/pin/465207836489000610/, em março de 2016)

2.2 Classificação de coberturas verdes

Telhados verdes são a aplicação do conceito de naturação em coberturas. Segundo

Rola (2008), conceituar naturação exige que se percorram diversos caminhos que levem

à compreensão do real significado da palavra. A palavra naturação é um neologismo e

se baseia na terminologia latina natura, que significa natureza, em seu sentido mais

amplo. Utilizar o conceito de naturação em coberturas significa envolver a vida urbana

e rural em um meio ambiente onde a natureza recupera seu protagonismo através de

espécies vegetais que melhoram as condições de vida de uma forma sustentável.

De acordo com a IGRA, sigla em inglês para Associação Internacional de Telhados

Verdes, os sistemas podem ser classificados em três tipos: sistema extensivo, sistema

semi-intensivo e sistema intensivo.

19

Telhados verdes extensivos são bons para estruturas que suportam menores cargas em

suas coberturas, pesando até 100 kg/m², e não possuem a finalidade de utilização como

jardins. O substrato possui apenas os nutrientes necessários para a sobrevivência da

vegetação e tem uma espessura de aproximadamente dez centímetros, além de baixa

manutenção.

Os sistemas semi-intensivos necessitam mais manutenção, pois são compostos por

vegetação mais robusta, entre cinco e cem centímetros, e tem uma camada de substrato

um pouco mais espessa, variando entre dez e vinte centímetros. Seu peso pode variar

entre 100 kg/m² e 700 kg/m².

Os sistemas intensivos possuem sua vegetação do tipo arbórea, com mais de dois

metros e meio de altura, e necessitam intensa manutenção. Seu peso varia de 700 kg/m²

a 1200 kg/m², com uma camada de substrato maior que vinte centímetros.

A tabela 1 mostra a classificação dos sistemas e suas características.

Tabela 1 – Classificação de sistemas de naturação

(Fonte: ROLA, 2003)

20

2.3 Composição de um telhado verde

O sistema de coberturas verdes consiste na sobreposição de diversas camadas sobre

uma superfície estrutural que, de modo geral, incluem: membrana a prova de água

(impermeabilização), sistema de drenagem, substrato (meio de crescimento das

vegetações) e plantas. Esse sistema construtivo pode ser parte de uma produção pré-

fabricada ou cada camada pode ser instalada separadamente na obra, o que é definido

com base nos objetivos e restrições de cada projeto. As coberturas verdes com pequena

espessura de substrato, ou seja, leves, são denominadas pela literatura como

coberturas verdes extensivas. Já as coberturas com grande espessura de substrato são

denominadas coberturas verdes intensivas (ROSENZWEIG; GAFFI; PARSHALL, 2006

apud LOPES, 2007).

Várias tem sido as técnicas e tecnologias de naturação desenvolvidas para a sua ampla

adoção em qualquer superfície construída e, portanto, hoje a naturação pode ser

sistematizada em três tipos básicos: o completo, o modular e a manta vegetativa pré-

cultivada (ROLA, 2008).

O sistema completo

O Sistema Completo é o sistema mais comum em uso no mundo e é aplicado

diretamente na superfície da estrutura de suporte, obedecendo à ordem das principais

camadas, de baixo para cima: impermeabilizante, drenagem, substrato e vegetação.

Como camada secundária tem-se o geotêxtil, o qual serve tanto como protetor do

impermeabilizante da ação mecânica da drenagem, quanto filtro das partículas mais

finas do substrato para a drenagem, evitando assim o entupimento desta (ROLA, 2008).

A figura 10 ilustra as camadas de um sistema completo de cobertura verde.

21

Figura 10 - Corte esquemático de um sistema completo de naturação

(Fonte: Elaborado pelo autor, em março de 2016)

Estrutura

O suporte para a cobertura verde pode ser uma laje, telhas ou qualquer outra estrutura,

desde que devidamente impermeabilizada e resistente às cargas do tipo de cobertura

escolhido. É sobre essa estrutura que será montado o telhado verde, e deve ser

considerado no peso adicional, o substrato saturado e o peso das plantas adultas.

Também é importante que seja considerado um acesso ao telhado, para eventuais

trabalhos de manutenção.

Impermeabilização

A primeira camada é a impermeabilização, que tem a função de proteger a estrutura da

umidade presente no ambiente, garantindo sua estanqueidade e, também, proteger da

ação perfurante das raízes. Se a manta não for capaz de resistir às raízes, deve ser

colocada uma membrana extra, que pode ser uma membrana termoplástica de PVC,

por exemplo.

Drenagem

A camada seguinte é a de drenagem, responsável por recolher a água infiltrada e

conduzir até sua descarga. Dependendo da espessura da camada, pode haver a

retenção temporária de um determinado volume de água.

VEGETAÇÃO

SUBSTRATO

GEOTÊXTIL GEOTÊXTIL

CAMADA FILTRANTE

IMPERMEABILIZAÇÃO

ESTRUTURA

22

O material a ser utilizado nesta camada deve ser de origem mineral e o mais leve

possível, de preferência poroso e, prioritariamente, de canto rolado (arredondado) para

que não ofereça risco de perfuração para a membrana impermeabilizante e com

corpúsculos de diâmetro não menor que dez milímetros (ROLA, 2008).

Camada separadora filtrante de proteção

O próprio nome já indica a função, que tem como material o geotêxtil, que é composto

de fibra sintética semelhante a um feltro, e que tem a capacidade de impedir a passagem

de partículas finas do substrato e a consequente obstrução da camada de drenagem.

Deve obedecer aos seguintes critérios: resistência à ruptura e à compressão, ser

imputrescível, ser compatível com materiais que estão em contato, não proporcionando

reações químicas, permeabilidade hídrica até dez vezes superior à do substrato, permitir

o crescimento de raízes, de estrutura duradoura e estável e ser resistente à ação de

micro-organismos (ROLA, 2008).

Substrato

A camada seguinte é o substrato, que, segundo Rola (2008), é uma mistura de

elementos orgânicos e inorgânicos capazes de manter: o nível de nutrientes, umidade

e oxigenação durante um período de tempo economicamente viável. Dependendo do

tipo de cobertura verde, uma grande variedade de substratos está disponível. É

importante, ainda, que a presença de ervas daninhas seja mínima.

Juntamente com a camada de drenagem, o substrato facilita a drenagem adequada do

excesso de águas pluviais. Materiais minerais leves como pedra-pomes, argila

expandida, xisto expandido e lajotas de argila se provaram confiáveis em uso

prolongado. Material orgânico não tratado e solo superficial têm desvantagens em

termos de peso e drenagem (FERRAZ, 2012).

23

Vegetação

A última camada é a da vegetação, que recebe diretamente a precipitação. A escolha

das plantas depende de diversos fatores como o clima da região onde o telhado está

localizado e a intensidade das chuvas.

Entre as duas primeiras camadas, utiliza-se a camada separadora filtrante e de

proteção, em manta geotêxtil. O objetivo é que esta manda evite a passagem de

partículas mais finas de uma camada para outra, mantendo a estrutura inicial do telhado

verde.

O sistema modular

O sistema modular é similar ao sistema completo, tendo como diferencial a parte de

impermeabilização. Para o sistema modular, a laje já deve estar impermeabilizada

quando da instalação dos módulos de telhado verde, que são placas do telhado, com a

mesma composição do sistema completo, com exceção da impermeabilização. A figura

11 apresenta uma placa do sistema modular.

Figura 11 – Fotos de um sistema modular sem a vegetação e com a vegetação já consolidada

(Fonte: Rola, 2008)

A empresa ECOTELHA, sediada no Rio Grande do Sul, fornece módulos já

consolidados no tamanho de 35 centímetros de largura e 68 centímetros de

24

comprimento, com 6 centímetros de espessura e, segundo as especificações técnicas

da própria empresa, com 12,5 kg por módulo já hidratado, ou seja, saturado em água.

Desta forma, para cobrir um metro quadrado são necessários cerca de 4 módulos e o

peso por metro quadrado fica em 50 kg, classificando o sistema modular como um

sistema extensivo de naturação.

O sistem de manta vegetativa pré-cultivada

O sistema de manta vegetativa pré-cultivada é o que possui menor espessura. O cultivo

da vegetação ocorre fora do local onde será implantado. Sua instalação é simples,

sendo necessário apenas apoiar a manta sobre a superfície que vai receber o sistema.

A figura 12 apresenta uma manta com espessura reduzida.

Figura 12 – Experimento de mantas com espessuras mínimas

(Fonte: ROLA, 2008)

Há empresas que realizam a aplicação de telhado verde com alta tecnologia, reduzindo

o peso específico do conjunto como um todo. A SkyGarden afirma que instala telhados

verdes com pesos a partir de 40 kg por metro quadrado.

25

2.4 Vantagens e desvantagens da utilização de telhados verdes

De acordo com o tripé da sustentabilidade, no qual se baseiam as questões econômicas,

sociais e ambientais, podemos considerar como vantagens da aplicação de coberturas

verdes em edificações o que vem a seguir.

As vantagens econômicas estão ligadas ao conforto térmico que a cobertura pode

causar no ambiente interno, diminuindo os custos de energia, já que vai gerar uma

menor necessidade de ar condicionado. Além disso, é possível que sejam cobrados

menos impostos a partir de legislações que favoreçam as construções que apresentam

esta técnica em seu projeto.

Existe também a valorização do empreendimento por certificações. Os telhados verdes

podem ser essenciais para empreendimentos que desejam um certificado LEED. No

processo de avaliação, o projeto ganha pontos em nove aspectos de construções

sustentáveis, dentre os quais se destacam: eficiência na captação de água; energia e

atmosfera; materiais e recursos; e qualidade do ambiente interior.

As vantagens sociais estão ligadas à questão da interação dos usuários. Uma cobertura

com um jardim em meio ao caos urbano pode ser um local de relaxamento e

socialização em um ambiente distante da poluição. Um jardim suspenso no topo de

edificações é como uma ilha paradisíaca em meio à selva urbana.

As vantagens ambientais são as mais significativas. A aplicação de telhados verdes na

área urbana compensa a impermeabilização do solo que foi causada pela construção,

melhorando o microclima do entorno e diminuindo o efeito de ilhas de calor, resultando

em benefício para a população. Além disso, o aumento de área verde significa um

aumento da capacidade de retenção de água, minorando o problema de enchentes em

eventos de grandes volumes de precipitação.

26

A tabela 2 apresenta os benefícios da utilização de coberturas verdes, levando em

consideração o proprietário, a comunidade e o ambiente.

Tabela 2 - Benefícios da naturação

Fonte: ROLA, 2008

Como desvantagens, pode ser citada a sobrecarga na estrutura e os custos de

manutenção, dependendo do tipo de vegetação escolhida. Para a cobertura verde em

estudo, o custo de manutenção é muito baixo, pois as bromélias sobrevivem com a

irrigação das chuvas locais.

27

3 Métodos e materiais

3.1 Descrição do objeto de estudo

Os ensaios de naturação serão realizados em uma bancada experimental construída no

Centro Experimental de Saneamento Ambiental, CESA, na UFRJ. As figuras 13 e 14

mostram o local da bancada.

Figura 13 - CESA UFRJ em imagem de satélite

(Fonte: Google Earth, em março de 2016)

Figura 14 - Imagem de satélite mostrando a localização do CESA na Ilha do Fundão

(Fonte: Google Earth, em março de 2016)

28

A construção da bancada experimental com os protótipos, tal qual existe hoje, teve início

em 2013, e foi uma adaptação da bancada que existia no local anteriormente, como

mostra a figura 15. A figura 16 mostra a bancada em fase final de construção.

Figura 16 – Bancada experimental em fase final de construção

(Fonte: PONTES, 2013)

Figura 15 - Bancada experimental no início da construção

(Fonte: PONTES, 2013)

29

No último módulo está a cobertura verde, montada no final de 2015 para a realização

dos experimentos. A montagem foi feita por um pequeno grupo de alunos e foi realizada

na manhã do dia 6 de novembro de 2015. O protótipo é retangular, medindo 2,02 metros

de comprimento e 89 centímetros de largura, computando uma área de 1,78 metros

quadrados, com alturas variáveis devido ao caimento em direção aos drenos. A figura

17 mostra os nomes dados às faces do protótipo para facilitar a identificação das

mesmas.

Figura 17 - Esquema de identificação das faces do protótipo

(Fonte: Autor, 2015)

O canto que corresponde ao encontro da face norte com a face oeste possui uma altura

de 24 centímetros, enquanto o canto oposto da face norte, que encontra com a face

leste, possui 27,5 centímetros. A diferença de 3,5 centímetros de altura em um

comprimento de 89 centímetros nos dá uma declividade de 3,9% nesta face. Já na face

30

sul, o canto que encontra com a face oeste possui 23,5 centímetros, ao passo que o

canto que encontra a face leste possui 26,5 centímetros. Os 3 centímetros de diferença

na altura ao longo de 87 centímetros de comprimento nos levam a uma declividade de

3,4% na face sul.

O protótipo tem caimento na direção da face leste, que é a face que possui os dois

drenos. Por estes orifícios, a água que infiltra no telhado verde é despejada em calhas

laterais que, por sua vez, levam a água em direção à caixa pluviométrica. É importante

que esta calha receba única e exclusivamente a água drenada por estas torneiras, sem

receber qualquer volume extra. Por esta razão, o simulador de chuvas deve ser

protegido lateralmente com lona plástica. Esta proteção, além de evitar a interferência

no volume drenado, também evita a interferência do vendo nos ensaios.

No projeto original havia a previsão de uma calha lateral de proteção, posicionada acima

da calha de recolhimento da água drenada. Esta calha de proteção garantia que a água

externa, ou seja, alheia ao experimento, seria descartada, não influenciando nos

resultados dos ensaios.

Seleção de materiais para concepção do protótipo de telhado verde

Para cada camada que compõe o protótipo de telhado verde foi escolhido um

determinado tipo de material. Essas escolhas levaram em consideração o objetivo de

se obter uma estrutura de baixo peso e também de baixo custo. A seguir são detalhadas

as escolhas dos materiais para cada camada.

Camada de impermeabilização

A função da camada de impermeabilização é dar proteção mecânica às paredes e ao

fundo do protótipo, além de garantir sua estanqueidade. As opções de materiais eram:

manta asfáltica e massa impermeabilizante. Dentre as opções de materiais para

aplicação, o escolhido foi a massa impermeabilizante, pois sua aplicação não exige mão

31

de obra específica e o custo também é menor. Como o estudo será feito em um protótipo

de dimensões reduzidas, a solução é cabível. Para situações de coberturas reais, a

impermeabilização provavelmente será feita em manta asfáltica.

Todas as rachaduras que existiam nas paredes do protótipo foram preenchidas com

uma mistura de cimento, areia e Vedacit® (massa impermeabilizante), com o intuito de

deixar toda a superfície pronta para receber a impermeabilização final.

Para a camada de impermeabilização foi decidido que seriam utilizadas as massas

impermeabilizantes Denvertec 100, para a primeira camada e, para a segunda camada,

a Denvertec 540, que tem a propriedade de não alterar a potabilidade da água,

característica importante para os resultados de um possível ensaio de qualidade da

água drenada pelo telhado verde. As especificações técnicas dos produtos estão em

anexo a este trabalho.

A figura 18 apresenta os materiais utilizados na impermeabilização do protótipo.

Figura 18 - Materiais utilizados para a impermeabilização do protótipo

(Fonte: Autor, 2015)

Camada drenante

A camada drenante é a última camada do telhado verde pela qual a água passa antes

de ser descarregada pelo sistema, seja para um reservatório, seja para as galerias de

32

águas pluviais. Algumas opções de materiais para utilização nesta camada eram brita,

resíduos de construção e argila expandida. O material escolhido foi a argila expandida,

que é o material mais leve dentre as opções, além de ser ecologicamente correto, por

sua base natural de argila. O material foi reutilizado, pois estava abandonado no CESA

UFRJ. Foi levado em consideração que queremos gerar a menor sobrecarga possível

em estruturas já existentes, quando da aplicação desta técnica. A figura 19 apresenta a

retirada da argila expandida que será reutilizada no protótipo.

Figure 19 - Retirada da argila expandida a ser reutilizada no protótipo de telhado verde

(Fonte: Autor, 2015)

Esta camada deve ser protegida tanto na região dos drenos quanto no contato com o

substrato. Para este fim, foi utilizada manta geotêxtil, que tem a função de filtrar a água

que passa pelo substrato e vai para a camada drenante, fazendo também a filtragem da

água que sai da camada de drenagem para fora do sistema.

Substrato

Para o substrato o material escolhido foi a areia lavada, tradicionalmente usada na

construção civil. A escolha deste material se deu pela sua alta permeabilidade, mesmo

que a intenção seja reter a água. A água por muito tempo no substrato poderia acabar

33

sendo aquecida pelo sol, cozinhando as raízes da vegetação. Por isso, foi concluído

que seria mais interessante utilizar um material pelo qual a água passasse em menos

tempo, deixando a retenção ser mais duradoura na camada de drenagem.

A figura 20 apresenta a areia lavada utilizada no substrato.

Figura 20 - Areia lavada comprada para execução do substrato do telhado verde

(Fonte: Autor, 2015)

Entre o substrato e a argila expandida existe uma camada de manta geotêxtil, já citada

anteriormente. Sua função é fazer com que apenas a água seja transportada desta

camada para a próxima, evitando a passagem de partículas mais finas.

Matéria orgânica

A matéria orgânica utilizada para a montagem do protótipo de telhado verde foi o húmus

tropstrato floreiras e vasos, e a decisão de sua utilização partiu da consulta ao arquiteto

paisagista Fernando Augusto Acylino de Lima. A função desta camada é fornecer à

vegetação os nutrientes básicos para sua sobrevivência.

Ela estará em contato direto com o substrato de areia, e as raízes da vegetação podem

crescer livremente por esta camada. Ainda assim, a camada de matéria orgânica

34

diretamente relacionada à vegetação é a de húmus. O material utilizado para a camada

de matéria orgânica é apresentado na figura 21.

Figura 21 - Tropstrado vasos e flores, material utilizado na camada de matéria orgânica

(Fonte: Autor, 2015)

Vegetação

A vegetação a ser aplicada no protótipo de telhado verde deve atender ao conceito de

sustentabilidade que queremos envolver. Coberturas verdes que possuem grande

necessidade de manutenção acabam não sendo sustentáveis, pois podem demandar

altas frequências de irrigação, podas regulares e fertilização ou replantio. Tendo essa

questão em vista, foi decidido que a vegetação a ser utilizada seriam as bromélias. A

escolha da vegetação levou em consideração sua pequena necessidade de

manutenção. As bromélias acumulam água pela sua formação, e diminuem muito a

necessidade de irrigação, sobrevivendo apenas com a irrigação natural das chuvas.

35

Dentre as mudas plantadas, havia três espécies diferentes: neoregelia cruenta,

neoregelia cruenta var. rubra e neoregelia cruenta var. marmorata.

A figura 22 apresenta as bromélias utilizadas no protótipo de telhado verde.

Figura 22 - Detalhe das bromélias plantadas no protótipo de telhado verde

(Fonte: Autor, 2015)

Para a garantia da sobrevivência das mudas das bromélias no primeiro momento, foi

utilizado o fertilizante Forth Cote, apresentado na figura 23. Seus grãos foram

espalhados pelos espaços entre as bromélias.

Figura 23 - Fertilizante utilizado no protótipo de telhado verde

(Fonte: Autor, 2015)

36

Com o objetivo de dar proteção mecânica ao substrato que estava exposto, foi decidido

colocar uma camada de casca de pinus, que aparece ainda dentro da embalagem na

figura 24. Outros materiais poderiam ser utilizados, como a própria argila expandida,

mas a casca de pinus foi uma opção menos custosa e um pouco mais eficiente no

sentido de proteger a terra, já que ocupa mais os espaços se comparada à argila

expandida.

Figura 24 - Casca de pinus ainda na embalagem

(Fonte: Autor, 2015)

37

4 Estudo experimental

Montagem do protótipo de telhado verde

A montagem foi realizada em diversas etapas,

Inicialmente foi executada a limpeza de todo o interior do protótipo. Toda a sujeira foi

retirada e o protótipo ficou completamente livre para o início da montagem das camadas

que o compõem.

A primeira camada é de massa impermeabilizante, garantindo proteção mecânica ao

fundo e às paredes do protótipo e mantendo sua estanqueidade. O produto utilizado foi

o Denvertec 100 e o Denvertec 540. A massa foi aplicada deixando os cantos

arredondados, diminuindo o risco de fissuras nas arestas do protótipo, o que causaria

vazamentos, prejudicando os resultados dos experimentos.

Posteriormente, foram feitas duas demãos de Denvertec 100. A primeira no sentido

horizontal e a segunda, após a secagem da primeira, no sentido vertical. No dia seguinte

foram feitas mais quatro demãos, dessa vez com Denvertec 540. Assim como na

primeira camada, as demãos alternaram o sentido entre horizontal e vertical, sempre

com intervalo entre demãos para que a massa ficasse seca.

Após a finalização da impermeabilização foi realizado o teste de estanqueidade, quando

o protótipo foi enchido com água e deixado dessa maneira por setenta e duas horas,

verificando que não havia qualquer vazamento.

O quadro 1 ilustra, com fotos e uma breve descrição, cada uma das etapas do

procedimento de construção do telhado verde.

38

Etapa Descrição Foto

1 Limpeza do protótipo e verificação do caimento em direção aos drenos

2 Impermeabilização do protótipo

3 Teste de estanqueidade

Quadro 1 – Etapas de construção do protótipo de telhado verde

(Fonte: Elaborado pelo autor, em março de 2016)

O passo seguinte foi proteger com manta geotêxtil os drenos inferiores. Foi utilizada

uma faixa do material não muito larga, com o objetivo apenas de proteger os drenos.

Outras camadas de geotêxtil com o intuito de proteção para toda a área do protótipo

serão usadas em outros momentos.

Em seguida foi colocada a camada de argila expandida, que tem o objetivo de fazer o

papel de filtro da água. A água que chega a esta camada através da infiltração é

escoada pelo fundo do protótipo em direção aos drenos. Em virtude do declívio existente

no fundo do protótipo, a camada de argila tem sua espessura variável, sendo menor nas

39

proximidades da face oeste e maior quanto mais se aproxima da face leste. Cada grão

tem aproximadamente 3 centímetros de diâmetro, fazendo com que a camada, ao final

de sua aplicação, ficasse com aproximadamente 5 centímetros de espessura, em

média. Toda a área do protótipo foi preenchida com o material, que ficou regularizado

em sua superfície.

Após a regularização da camada de argila, foi colocada uma camada de manta geotêxtil

sobre toda a área do protótipo, subindo pelas paredes do mesmo, garantindo que toda

a areia colocada na camada seguinte ficasse isolada das camadas inferiores. Ainda

antes da colocação da areia, foi feita uma proteção, também com um pedaço de manta

geotêxtil, no dreno superior, responsável pelo escoamento superficial do telhado verde.

O quadro 2 ilustra estas etapas da construção.

Etapa Descrição Foto

4 Proteção dos drenos com manta geotêxtil e preparação para lançamento da camada de argila expandida

5 Espalhamento da camada filtrante de argila expandida

40

6 Proteção da camada de argila expandida com manta geotêxtil

7 Proteção do dreno superior, de escoamento superficial, com manta geotêxtil

Quadro 2 – Etapas de construção do protótipo de telhado verde

(Fonte: Elaborado pelo autor, em março de 2016)

A camada seguinte é o substrato de areia, com aproximadamente 12 centímetros de

espessura. O processo de colocação da areia foi uniforme em toda a área do protótipo.

Os sacos foram dispostos dentro do protótipo, rasgados e então suspensos, deixando

a areia cair sobre a manta. A ideia era não arremessar a areia de distâncias variadas,

para evitar que houvesse diferentes propriedades físicas ao longo desta camada,

mantendo aproximadamente o mesmo índice de vazios em toda a espessura da camada

de areia.

41

Após a colocação dessa primeira camada de areia, ainda foi preciso aumentar a

espessura para chegar aos 12 centímetros, e foi então colocado mais um pouco do

material. O quadro 3 ilustra estas etapas da construção.

Etapa Descrição Foto

8 Posicionamento dos sacos de areia para colocação da camada

9 Retirada dos sacos de areia de forma padronizada para manter a uniformidade

10 Espalhamento da areia

11 Colocação de sacos extras de areia para aumentar a camada

42

12 Regularização da camada de areia

Quadro 3 – Etapas de construção do protótipo de telhado verde

(Fonte: Elaborado pelo autor, em março de 2016)

A camada seguinte é constituída de humus, que é o material orgânico utilizado para

garantir a sobrevivência da vegetação. Esta camada possui aproximadamente três

centímetros de espessura, e foi espalhada com as mãos sobre a camada de areia e

regularizada com o auxílio de uma colher de pedreiro.

Após a regularização da camada de húmus, foram plantadas as bromélias,

uniformemente espalhadas pela área do protótipo. O processo de plantio consiste na

abertura de um pequeno buraco no solo e inserção da muda da bromélia. Seguido a

isso foi feita a fertilização, para que a vegetação tivesse condições de sobreviver.

A última etapa da montagem foi a colocação da casca de pinus, com o objetivo de dar

proteção mecânica à camada orgânica que estava exposta. O material foi espalhado

pelos espaços entre as plantas. Para finalizar, o protótipo foi irrigado.

O quadro 4 ilustra estas etapas da construção.

Etapa Descrição Foto

13 Espalhamento da camada de húmus

43

14 Regularização da camada de húmus

15 Plantio da vegetação

16 Espalhamento do fertilizante

17 Colocação de casca de pinus para proteção mecânica do húmus exposto

44

18 Protótipo do telhado verde pronto para a realização dos ensaios

Quadro 4 – Etapas de construção do protótipo de telhado verde

(Fonte: Elaborado pelo autor, em março de 2016)

4.2 Simulador de chuvas

O simulador de chuvas é um equipamento desenvolvido pelos professores Teodorico

Alves Sobrinho, Paulo Ferreira e Fernando Pruski, em 2002. É formado, basicamente,

por dois obturadores, uma bomba e um reservatório de água. A figura 25 mostra o

desenho do equipamento.

Figura 25 - Desenho do simulador de chuvas duplo

(Fonte: desenho do Prof. Teodorico Alves Sobrinho, 2008)

45

Em sua concepção, foi definido que o simulador deveria atender aos seguintes

requisitos: produzir gotas de diâmetro médio similar ao da chuva natural, aplicar água

em uma parcela com área útil de 0,5 a 1,0 metro quadrado, por simulador, com

coeficiente de Christhiansen superior a 80% e apresentar valores da relação entre

aenergia cinética da chuva simulada e da chuva real superiores a 75%. Em resumo, o

simulador de chuvas imita uma chuva real. A figura 26 apresenta uma foto do simulador

de chuvas duplo, localizado no CESA UFRJ, e utilizado nos ensaios deste trabalho.

Figura 26 - Componentes do simulador de chuvas

(Fonte: Autor, 2015)

Uma bomba puxa a água do reservatório e leva até os obturadores, que ficam no topo

de uma estrutura de ferro. A bomba fica regulada para trabalhar durante todo o ensaio

com a mesma pressão, evitando variações nas condições impostas ao ensaio.

OBTURADOR OBTURADOR

RESERVATÓRIO

BOMBA

46

Os obturadores ficam dentro de dois cilindros que recebem a água bombeada do

reservatório. Funcionam com a rotação de pás internas circulares, que liberam apenas

um pequeno espaço para a passagem da água. Dessa forma, a água que passa pelo

obturador é lançada sobre o protótipo e a água que sobra é devolvida ao reservatório

através de dois tubos.

A figura 27 mostra a fenda entre as pás dos obturadores.

Figura 27 - Detalhe das pás circulares dos dispersores

(Fonte: Autor, 2015)

Um reservatório de 200 litros é mantido constantemente cheio através de uma

mangueira. O objetivo de se manter o reservatório sempre com o mesmo volume é

garantir que, durante todo o ensaio, não haverá variação nas condições impostas para

o mesmo. Portanto, em nenhum momento o simulador terá variações na quantidade de

água disponível.

O simulador de chuvas garante que a chuva estudada é conhecida, pois fornece a

possibilidade de controle da intensidade e da duração. A regulagem de velocidade de

rotação das pás dos dispersores combinada com a regulagem de pressão da bomba

fazem com que a intensidade de chuva simulada seja controlada. O tempo de duração

da chuva também pode ser controlado, pois o início e término da chuva simulada são

definidos manualmente, através do botão de ligar e desligar do equipamento.

FENDA

47

A figura 28 mostra um esquema de funcionamento do simulador de chuvas. O

reservatório, que é alimentado constantemente por uma mangueira, está ligado à

bomba. Essa bomba tem sua pressão regulável, e leva a água do reservatório para os

cilindros dos obturadores, no alto da estrutura do equipamento. Os obturadores, quando

ligados, funcionam como uma rotação das pás que pode ser regulada. A água que não

passa por eles é devolvida para o reservatório e a água que passa é a chuva simulada

sendo lançada sobre a área de estudo.

Figura 28 - Esquema de funcionamento do simulador de chuvas

(Fonte: Autor, 2015)

RESERVATÓRIO

RETORNO DE ÁGUA PARA O

RESERVATÓRIO

BOMBA

CHEGADA DE ÁGUA PARA OS

OBTURADORES

SAÍDA DA CHUVA SIMULADA

SOBRE A ÁREA DE ESTUDO

48

4.3 Método de realização do ensaio

O ensaio é realizado na seguinte sequência de etapas: retirada da amostra do solo para

determinação da umidade, limpeza do sistema, leitura inicial da caixa pluviométrica,

ajuste dos parâmetros do simulador de chuva, medição da precipitação inicial,

simulação de chuva sobre o protótipo de telhado verde, medição da água drenada pelo

telhado verde ao longo do tempo através de uma caixa pluviométrica e medição da

precipitação final. Cada etapa tem a sua importância, e estas serão expostas nos tópicos

a seguir.

Ajustes iniciais do sistema completo

Antes de todo o processo de realização dos ensaios, devem ser tomadas algumas

medidas de ajuste do sistema. A calha lateral, que leva a água drenada pelo telhado

verde para a caixa pluviométrica, deve ser completamente limpa, assim como o acesso

à caixa.

A caixa pluviométrica é o dispositivo do sistema responsável por receber toda a água

que é drenada pelo protótipo de telhado verde. A caixa pluviométrica possui um

compartimento que recebe todo o volume, e sua área é de 0,54 metro quadrado. Através

de vasos comunicantes, um cilindro ligado à caixa mantem a mesma altura de água e

possui área de 0,0026 metro quadrado. É neste cilindro que fica a régua de medição

para as leituras de volumes captados pela caixa pluviométrica. A régua possui uma

pequena esfera de isopor na ponta e sobe conforme o enchimento da caixa. Com área

útil de 0,5426 metro quadrado, cada milímetro na leitura significa 542,6 mililitros de água

captada.

Os registros das torneiras dos drenos devem estar totalmente abertos, para que a água

infiltrada no telhado verde seja drenada por eles. A leitura inicial da caixa pluviométrica

deve ser anotada, e é importante que seja uma leitura inicial baixa, para que a caixa

49

suporte todo o volume de chuva do ensaio sem necessidade de retirada de água durante

a realização do mesmo. Também é importante manter a mangueira ligada e diretamente

conectada ao reservatório, para que este nunca fique com seu volume inferior ao

máximo.

Amostra do substrato para determinação de umidade

O primeiro passo na realização dos ensaios é a retirada de uma amostra do solo para

determinação da umidade. Este parâmetro deve ser medido para que seja conhecida a

condição inicial de umidade do substrato do protótipo em cada ensaio realizado. A

retirada da amostra foi feita com um pedaço de tubo de PVC e um cartão. O material

então deve ser colocado em uma embalagem impermeável e vedada, para que não

perca umidade, e então levado para o laboratório para a determinação da sua umidade.

Primeiro, pesa-se o material em sua condição do campo, obtendo-se o peso úmido. Em

seguida, coloca-se o material em uma estufa a 110 graus célsius por 24 horas. Ao final

desse processo de secagem, pesa-se novamente a amostra, obtendo-se o peso seco.

A diferença de peso entre a amostra inicial e a amostra seca, dividia pelo peso da

amostra seca, e então multiplicada por 100, dá a umidade do solo. A figura 29 mostra o

processo de retirada da amostra do solo imediatamente antes de um ensaio realizado.

Figura 29 – Processo de retirada da amostra do solo para determinação da umidade

(Fonte: Autor, 2015)

50

Preparação do simulador

O simulador de chuvas precisa ser preparado para a realização dos ensaios. Existe uma

série de ajustes a se fazer antes do início da precipitação, a saber: posicionamento,

verificação do reservatório, ajuste da velocidade de rotação das pás dos obturadores,

ajuste da pressão da bomba, proteção lateral da estrutura.

O simulador deve ser inicialmente posicionado em qualquer ponto da bancada que não

seja sobre o protótipo de telhado verde, pois os ajustes envolvem um primeiro teste e a

irrigação do protótipo neste momento pode ser prejudicial aos resultados do

experimento.

O reservatório deve estar preenchido com água até o seu nível máximo, onde ficam dois

buracos que vertem o excesso de água. Durante todo o ensaio o reservatório deverá

permanecer cheio, para que não haja variações na coluna de água. Para isso, é

importante manter uma mangueira alimentando o reservatório durante todo o ensaio. É

importante verificar ainda a conexão dos obturadores com o reservatório. Toda a água

que é bombeada para os tambores superiores, mas que não é precipitada, volta para o

reservatório através desses dois tubos.

As pás dos obturadores giram em velocidade controlada. Seu ajuste é feito pelo painel

de comando do simulador, através de um pequeno visor digital. A pressão da bomba

deve ser ajustada através de um registro na entrada de água para os tambores dos

obturadores. Nesta entrada existe um manômetro, que indica a pressão com que a água

está sendo bombeada para o sistema. Para uma chuva média de 100 milímetros por

hora, o ajuste deve ser feito para 127 rotações por minuto das pás dos obturadores e 5

metros de coluna d’água para a bomba.

51

Antes de iniciar qualquer simulação de chuva, o equipamento deve ser ligado e seus

parâmetros ajustados, tanto as rotações das pás dos obturadores quanto a pressão da

bomba. Após esse ajuste, a bomba pode ser temporariamente desligada, mas as pás

devem continuar girando até o final do ensaio. É importante que este parâmetro seja

mantido estável até o final, pois é um fato fundamental na quantidade de água que passa

pelos obturadores e vira chuva simulada.

Por se tratar de uma bancada experimental ao ar livre, a chuva simulada fica sujeita a

ações externas, como o vento, que podem alterar os parâmetros iniciais considerados

para os posteriores cálculos com os resultados. Para evitar que seja perdida qualquer

quantidade de água da chuva simulada, a estrutura lateral do simulador deve ser

protegida com lona plástica, evitando que o vento cause grande influência na queda das

gotas. Deve haver a preocupação para que a lona não direcione a água para a calha

lateral, já que queremos que apenas a água drenada pelo protótipo de telhado verde

siga para a caixa pluviométrica. A figura 30 apresenta o simulador protegido pela lona

plástica.

Figura 30 - Simulador de chuva com proteção lateral em lona plástica

(Fonte: Autor, 2015)

52

Medição da precipitação inicial e final

Durante o ensaio pode haver variações na intensidade da chuva simulada pelo

equipamento. Por isso, tanto antes quanto após a realização da chuva simulada sobre

o telhado verde, são realizadas medições de intensidade de chuva. Os cálculos finais

com os resultados do experimento deverão considerar como valor de intensidade de

chuva do ensaio, a média entre os valores medidos para a precipitação inicial e a

precipitação final.

Para a medição da intensidade da chuva, tanto no início quanto no final do experimento,

são necessárias duas placas coletoras que, somadas, possuem aproximadamente a

mesma área do protótipo: 1,8 metros quadrados. São utilizados também um balde

graduado com capacidade de 12 litros e uma proveta graduada de 1 litro, com precisão

de 100 mililitros.

As placas coletoras são posicionadas exatamente abaixo do simulador de chuva, que já

está com as pás dos obturadores girando e a pressão ajustada. O simulador então é

ligado e a chuva simulada se inicia. A água será coletada pelas placas durante

exatamente seis minutos, tempo escolhido para facilitar as contas, já que são

exatamente 0,1 hora. Quando o cronômetro atinge os seis minutos a bomba é desligada,

mas as pás dos obturadores devem continuar girando. A primeira placa tem seu volume

de água captada medido através do balde e da proveta. Em seguida mede-se o volume

de água captada pela segunda placa. A volume total de água captada é a soma dos

volumes das duas placas coletoras. Para calcular a intensidade da chuva, deve-se

multiplicar o volume captado por dez para aproximarmos o volume que seria captado

em uma hora, e em seguida dividir este valor pela área das placas coletoras, chegando

a um valor expresso em litros por metro quadrado por hora. Como um litro de água em

um metro quadrado equivale a um milímetro de altura, então temos a intensidade da

chuva em milímetros por hora.

53

Para exemplificar, vamos considerar que durante os 6 minutos de teste foram captados

8 litros na primeira placa e 9,5 litros de água na segunda placa. O volume total captado

em 6 minutos foi de 17,5 litros, que multiplicados por 10 nos daria um volume de 175

litros em uma hora de chuva simulada. Dividindo esse volume por 1,8 metros quadrados,

que é a área de captação, temos que a intensidade de chuva foi de 97,22 litros por metro

quadrado em uma hora. Convertendo as unidades para mm/h, temos que a intensidade

de chuva simulada foi de 97 mm/h.

Este procedimento é executado antes da simulação de chuva sobre o protótipo de

telhado verde, e deve ser repetido ao final do experimento, para o cálculo da intensidade

de chuva do ensaio. Como exemplo, se a chuva inicial foi de 97 mm/h e a chuva final foi

de 105 mm/h, então a intensidade de chuva considerada para os cálculos será definida

pela média das duas intensidades: 0,5 × ( 97 + 105 ) = 101 𝑚𝑚/ℎ.

A figura 31 mostra as placas coletoras recebendo a chuva simulada.

Figura 31 - Placas coletoras recebendo a chuva simulada durante a medição de precipitação inicial

(Fonte: Autor, 2015)

54

Simulação de chuva sobre o protótipo de telhado verde

Após a medição da precipitação inicial, o conjunto formado pelo simulador, reservatório

e bomba é movimentado em direção ao protótipo e posicionado exatamente em cima

do telhado verde. As pás dos obturadores se mantém em rotação durante todo o ensaio.

O cronômetro tem sua contagem iniciada junto com o acionamento do simulador. A partir

desde momento, a chuva está sendo lançada sobre o protótipo e algumas gotas podem

cair fora de sua área. Essa perda já foi considerada quando medimos a precipitação

inicial, pois o volume captado foi apenas o que atingiu a área das placas, que é igual à

área do protótipo.

A água que é lançada sobre o protótipo através do simulador de chuva é distribuída

entre as plantas e a superfície do telhado verde ficando uma parte retida nas bromélias,

enquanto outra parte infiltra no solo. Durante o início da chuva simulada, toda a água

que infiltra vai percorrendo as camadas do telhado verde até chegar aos drenos. No

momento que o primeiro filete de água começa a sair pela torneira do dreno lateral,

anota-se o tempo marcado no cronômetro. Esse é o tempo que o telhado consegue reter

a chuva simulada antes de começar a descarregar no sistema de drenagem.

A figura 32 apresenta o dreno lateral durante o ensaio.

Figura 32 - Água sendo drenada pelo telhado verde e indo em direção à caixa pluviométrica

(Fonte: Autor, 2015)

55

O momento seguinte a ser observado é o tempo que a água demora para chegar do

dreno até a caixa pluviométrica. No instante em que a água começa a ser captada pela

caixa, anota-se o tempo marcado no cronômetro. A partir deste evento, a leitura da caixa

pluviométrica será anotada a cada sessenta segundos e lançada na folha de campo,

até sua estabilização, ou seja, quando o aumento de volume captado pela caixa

pluviométrica for constante. A figura 33 apresenta uma leitura sendo feita na régua da

caixa pluviométrica.

Figura 33 - Detalhe da medição de volumes captados pela caixa pluviométrica

(Fonte: Autor, 2015)

Quando a caixa pluviométrica estiver recebendo a água com taxa constante, a chuva

deverá ser interrompida, sem que as pás dos obturadores cessem o giro, sendo anotado

o tempo marcado no cronômetro. A partir deste momento, a água que foi infiltrada no

telhado verde continuará sendo drenada e direcionada para a caixa, mas a taxa de

captação deve começar a diminuir. As leituras da caixa pluviométrica devem continuar

sendo anotadas até que o telhado verde pare de drenar a água infiltrada.

56

Após o término das leituras, o procedimento de medição da precipitação é executado

novamente, desta vez para que seja determinada a intensidade da precipitação final e,

consequentemente, a intensidade da chuva que foi simulada no ensaio. O método é

exatamente o mesmo utilizado na medição da intensidade da precipitação inicial.

Os ensaios para determinação da capacidade do telhado verde em reter água da chuva

devem levar a um resultado semelhante ao apresentado no gráfico 3, que possui em

seu eixo vertical os volumes de água captada e, no eixo horizontal, o tempo decorrido

de ensaio.

No exemplo do gráfico da figura 34, a leitura inicial da caixa pluviométrica é de

aproximadamente vinte milímetros. As primeiras leituras são constantes e se mantêm

com o mesmo valor inicial. A partir do momento em que a água começa a chegar à

caixa, a leitura começa a aumentar, e mantém seu crescimento linear até que a chuva

simulada seja interrompida. A partir deste momento, a quantidade de água que chega

na caixa é cada vez menor, até que seu volume fica novamente constante.

Figura 34

(Fonte: Elaborado pelo autor, 2016)

0.0

10.0

20.0

30.0

40.0

50.0

60.0

0 4 8 12 16 20 24 28 32 36 40 44 48 52 56 60 64 68 72 76 80 84 88 92 96

10

0

10

4

10

8

11

2

11

6

12

0

Início do ensaio: retenção inicial pelo telhado verde

Durante o ensaio: aumento constant no volume da caixa

Final do ensaio: a chuva é interrompida e o volume

recebido pela caixa passa a ser cada vez menor

57

5 Considerações finais

O crescimento das cidades ao longo do tempo causou uma grande impermeabilização

do solo, o que gera enormes prejuízos aos habitantes das áreas de inundação. Muitas

vezes, os sistemas de drenagem urbana não são suficientes para as chuvas de uma

determinada localização. A utilização de técnicas compensatórias em drenagem urbana

tem o objetivo de minimizar este problema, e a aplicação de telhados verdes em

edificações é uma das possíveis soluções para as cheias urbanas.

O presente trabalho apresentou o processo de construção e montagem de um protótipo

de telhado verde em uma bancada experimental. As camadas do protótipo seguem os

princípios vistos na revisão bibliográfica feita previamente, e possuem materiais

específicos, tendo sua aplicação justificada ao longo do texto. Foi exposto também o

método de realização de ensaios para o estudo da capacidade do telhado verde em

reter água da chuva, mostrando desde a regulagem dos equipamentos até a coleta de

dados, passando por medições iniciais e finais de precipitação, simulação de chuva

sobre o protótipo e leituras de volumes na caixa pluviométrica.

Espera-se que, com o protótipo montado e com a realização dos ensaios, seja possível

concluir sobre a utilização de telhados verdes como técnica compensatória em

drenagem urbana, uma vez que suas camadas retardam a chegada da água no sistema

de captação.

O protótipo de telhado verde está pronto para ser testado com diversos objetivos. Além

dos ensaios para determinação da capacidade de retenção do telhado, como proposto

neste trabalho, uma das sugestões de pesquisa é a realização do estudo da qualidade

da água que é drenada pelo telhado verde, comparando os parâmetros iniciais e finais

da água e considerando a construção de um novo protótipo com camadas que causem

uma melhora na qualidade desta água. Outra sugestão é o estudo da capacidade do

telhado verde em melhorar o conforto térmico e acústico de ambientes.

58

Como mais uma opção, fica a sugestão de se estudar os efeitos que a aplicação de

telhados verdes em uma determinada região poderia causar no meio ambiente, como o

alívio do fenômeno de ilhas de calor urbanas, por exemplo.

Conclui-se que o protótipo de telhado verde pode dar subsídios a futuras pesquisas

relacionadas ao tema, considerando as camadas utilizadas para a montagem do objeto

de estudo deste trabalho.

59

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62

Anexos

Anexo 1 - Especificações técnicas do impermeabilizante Denvertec 100:

63

64

65

Especificações técnicas do impermeabilizante Denvertec 540:

66