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UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS
INSTITUTO DE CINCIAS HUMANAS
E LETRAS - ICHL
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM GEOGRAFIA -
PPGEO
UNIDADES DE CONSERVAO, PESCA E MODO DE VIDA:
CONTRADIES.
FLVIA MARIA GOMES RODRIGUES
MANAUS - AM
2014
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FLVIA MARIA GOMES RODRIGUES
UNIDADES DE CONSERVAO, PESCA E MODO DE
VIDA: CONTRADIES.
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
Graduao em Geografia da Universidade Federal
do Amazonas, como requisito parcial para
obteno do Ttulo de Mestre em Geografia. rea
de Concentrao: Amaznia: Territrio e Ambiente.
ORIENTADOR: PROF. DR. REINALDO CORRA COSTA
MANAUS AM
2014
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FLVIA MARIA GOMES RODRIGUES
UNIDADES DE CONSERVAO, PESCA E MODO DE
VIDA: CONTRADIES.
Dissertao apresentada ao Programa de Ps-
Graduao em Geografia da Universidade Federal
do Amazonas, como requisito parcial para
obteno do Ttulo de Mestre em Geografia. rea
de Concentrao: Amaznia: Territrio e Ambiente.
BANCA EXAMINADORA
________________________________________
Dr. Reinaldo Corra Costa (Orientador)/Presidente (PPG-GEO/INPA)
________________________________________
Dra. Larissa Bombardi Membro Titular (USP)
________________________________________
Dra. Adora Rebello da Cunha Albuquerque Membro Titular (PPG-GEO/UFAM)
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Dedico este trabalho a Minha Me
Raimunda Gomes e as minhas Irms
Lvia Gomes e Flvia Gomes.
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Agradecimentos
Agradeo a Deus.
A minha Me, Raimunda Gomes, pela fora, sustento, compreenso e amor.
Ao meu orientador Prof. Dr. Reinaldo Corra Costa, pelas contribuies em
toda a minha vida acadmica, desde bolsista de Iniciao Cientfica at os dias de
hoje enquanto discente de Mestrado, para a construo e apreenso do
conhecimento cientfico.
Aos guias da Linha de Umbanda Ogum Beira-Mar (Pai das Naes), Ogum
Mg, Ogum Sete Espadas, Ogum de Lei, Ogum de Ronda, Ogum da Mata, Ogum
Rompe Mato, Ogum Jurema, Oxumar, Mariazinha, Joozinho, Ricardinho,
Manoelzinho das Canoas, Preto Velho e Preta Velha, Me Conga, Pai Joaquim, Z
Pelintra (nas Sete linhas), Nego Gerson, Tranca-Rua, Pena Roxa, Caboclo Roxo,
Ubirajara, Sibamba, Z Raimundo, Quebra Barrra e Rompe Demanda, Ex da
Mata, Mariana, Cabca Braba e Ex-Mirim.
A CAPES pela bolsa concedida.
As minhas irms Lvia e Flvia pelo apoio.
Ao amigo Paulista, por ter cedido sua lancha para os trabalhos de campo.
A todos os pescadores e demais sujeitos sociais do municpio de Novo Airo
pelas contribuies empricas que nortearam esse trabalho.
Aos Colegas Talita Carvalho, Mximo Billacrs, Marciclei Bernardo, Thiago
Marinho, Tiago Rodrigues, Brbara Ferreira, Guilherme Faial, Gabriela Colares e
Breno Amorim pelo bom convvio, contribuies e amizade.
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Resumo
Constituda de 80,4% de reas de proteo integrais nas esferas federais e estaduais o municpio de Novo Airo AM tem em seu cotidiano alguns entraves, na utilizao direta dessas paisagens. O exerccio da pesca se materializa junto dos seus movimentos sociais, que assumem cunho poltico de resistncia para com as limitaes estabelecidas pelo Estado, encadeando problemticas peculiares. A forma da composio dos sujeitos sociais, principalmente o campons haliutico, sua relao com os demais agentes, que interagem e dinamizam a cadeia produtiva do Pescado de Novo Airo (AM). As relaes espaciais tm como referncia na cincia geogrfica a base para a anlise da cadeia produtiva da pesca em Novo Airo (AM), as gravitacionalidades, as foras centrpetas e centrfugas de mercado, nas perspectivas econmicas de Paul Krugman. Pois, parte da produo de pescado de Novo Airo municpio chega at o mercado de Manacapuru (AM) pela Rodovia AM-352, que liga esses dois municpios. O municpio de Manacapuru - AM se consolidou como centralidade de industrializao de pescado in natura, produzido por vrios municpios do Estado do Amazonas, por via hidroviria, no caso o Rio Solimes. A Rodovia Manoel Urbano AM-070 que liga Manacapuru a Manaus, torna o escoamento da produo eficaz. Novo Airo tem caractersticas que exprimem uma realidade onde as condies de trabalho na pesca tm sido temporalmente marginalizadas. Por meio de coeres territoriais determinadas pela sobreposio das gestes de variados poderes: Estadual, Federal e Municipal. As mudanas e interferncias benficas quanto reproduo dos camponeses haliuticos e demais sujeitos sociais que tenham na pesca a base de seus modos de vida, ou seja, que dependem diretamente dos rios (uso dos recursos ictiolgicos, em especial de algumas espcies que tem mercado consumidor estvel por demandas de consumo e industrializao beneficiamento). O recurso atualmente idealizado como: ponto chave para a preservao/conservao da biodiversidade possui em seu amplo sentido o recurso (valor de uso) como uma herana como meio de produo. Com um contexto histrico mencionado pelos seus sujeitos sociais como um momento de sua histria em que se tinha fartura, onde se tinha assegurado o direito de trabalhar sem interferncias do Estado. Atualmente em meio s delimitaes que se sobrepem uma nas outras, entre as Instituies Pblicas de Gesto dos recursos naturais que representam o Estado, as reas de pesca esto mais limitadas que escassas. Com aproximadamente 2.000 pescadores a produo de Novo Airo tem sua representatividade na economia do Estado, mesmo que pescado tenha seu beneficiamento em Manacapuru, lugar em que esto os benefcios fiscais e ocorrendo agregao de valor da mercadoria in natura. Novo Airo sem benefcios da agregao de valor, sem capital territorializado na rea municipal, somente com capital fixo da Rodovia AM-352, que ponto de partida desta pesquisa, a qual foi construda pelo Governo do Estado do Amazonas e asfaltada em 2005, no com o capital ganho pelas relaes econmicas.
Palavras-chave: Pesca, Unidades de Conservao e Sujeitos Sociais.
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Rsum
Constitu 80,4% des pans entiers de la protection fdrale et de l'tat dans la municipalit boules de Novo Airo - AM a quelques obstacles dans leur vie quotidienne, l'utilisation directe de ces paysages. L'activit de pche se matrialise de leurs mouvements sociaux, qui prennent la nature politique de la rsistance aux limites tablies par l'tat, l'enchanement problme particulier. La forme de la composition des sujets sociaux, en particulier le paysan de la pche, sa relation avec les autres agents, qui interagissent et de rationaliser la chane de Poisson Novo Airo (AM) de production. Les relations spatiales sont rfrencs dans la science gographique de base pour l'analyse de la chane de production de la pche en Novo Airo (AM), les gravitacionalidades, les forces centriptes et centrifuges du march, les perspectives conomiques de Paul Krugman. Pour, partie de la production de poisson de la municipalit de Novo Airo atteint la Manacapuru de march (AM) par AM-352 autoroute, qui relie ces deux villes. La municipalit de Manacapuru - AM consolide centralit de l'industrialisation de poissons dans la nature, produit par plusieurs municipalits de l'tat de l'Amazonas, par voie de route, dans le cas de la rivire Solimes. La route Manoel Urbano AM-070 qui relie Manaus la Manacapuru, rend le flux de production efficace. Novo Airo a des caractristiques qui refltent une ralit o les conditions de travail dans la pche a t temporairement exclus. Par des contraintes territoriales sont dtermines par le chevauchement des directions des diffrents pouvoirs: l'tat, fdraux et municipaux. Changements et bnfique l'ingrence de la reproduction des pisciculteurs et autres sujets sociaux qui ont la pche en fonction de leurs modes de vie, c'est dire, qui dpendent directement des rivires (utilisation des ressources ichtyologiques, en particulier certaines espces qui a le march de la consommation stable pour la demande de consommation et de l'industrialisation - traitement). La ressource actuellement idalise comme la cl de la prservation / conservation de la biodiversit dans son sens le plus large a la particularit (valeur d'usage) comme un hritage comme un moyen de production. Avec un contexte historique mentionn par ses sujets comme un moment de leur histoire sociale dans laquelle ils avaient beaucoup, o il avait obtenu le droit de travailler sans ingrence de l'tat. Actuellement dans le milieu des limites qui se chevauchent les uns les autres, entre les institutions publiques de gestion des ressources naturelles reprsentant l'tat, les lieux de pche sont "plus limite que maigre". Avec environ 2000 pcheurs production New Airo a sa reprsentation dans l'conomie de l'tat, mme si le poisson a son traitement Manacapuru, lieu o sont les avantages fiscaux et survenant valeur globale des marchandises in natura. Novo Airo sans avantages ajouter de la valeur sans territorializado capitaux dans le secteur municipal, seulement capital fixe de l'autoroute AM-352, qui est le point de dpart de cette recherche, qui a t construit par le gouvernement de l'tat d'Amazonas et pave en 2005, pas avec un gain en capital par les relations conomiques.
Mots-Cl:Pche, Units de Conservation et Sujets Sociaux.
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O conhecimento tem desestruturado os ecossistemas,
degradado o ambiente, desnaturalizado a natureza. No
se trata apenas do fato de que as cincias se
transformaram em instrumentos de poder, de que esse
poder se aproprie da potncia da natureza, e de que esse
poder seja usado por alguns homens contra outros
homens: o uso blico do conhecimento e a
superexplorao da natureza. A racionalidade da
modernidade est carcomendo suas prprias entranhas,
como Saturno devorando a sua prognie, socavando as
bases de sustentabilidade da vida e pervertendo a ordem
simblica que acompanha sua vontade ecodestrutiva.
(ENRIQUE LEFF, 2006:17)
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Lista de Figuras
Figura 1. Porto do Padre, lugar onde ocorre o embarque e desembarque da mercadoria in natura
...............................................................................................................................................................19
Figura 2. Praia Artificial, local onde era o antigo porto dos pescadores................................................20
Figura 3. Embarcao de um pescador de caixinha no momento de sua chegada no Porto do
Padre.....................................................................................................................................................44
Figura 4. Produo do pescador de caixinha........................................................................................45
Figura 5: Produo de pescado de um campons haliutico...............................................................47
Figura 6: Campons haliutico, e sua produo em terra encoivarando na APA Margem Direita do
Rio Negro-Novo Airo...........................................................................................................................48
Figura 7. Enquanto a roa de mandioca cresce, eles plantam entre elas o maxixe...........................50
Figura 8. O roado...............................................................................................................................51
Figura 9: Embarcao de um armador de pesca, pescadores cotistas, nos altos do Rio
Puduar..................................................................................................................................................52
Figura 10: Peixeiro, comprando a mercadoria in natura.......................................................................57
Figura 11: FRIGOPESCA, localizado na Estrada da Correnteza em Manacapuru (AM),....................58
Figura 12. Empacotamento do pescado Beneficiado............................................................................59
Figura 13: Peixaria do Carrefour do Amazonas Shopping....................................................................61
Figura 14. Bairro Anavilhanas onde foram alocados alguns dos ex-moradores do PARNA Ja e
PARNA Anavilhanas.............................................................................................................................73
Figura 15: Embarcao emborcada na praia, na frente da cidade, retirada pelo IBAMA....................82
Figura 16: Embarcaes no Porto do Padre, onde os pescadores de caixinha...................................83
Figura 17. Tucunars, a pesca desta espcie atualmente tem causado conflitos...............................87
Figura 18. Na hora da compra o consumidor vai optar pelo pescado beneficiado...............................91
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Lista de Quadros e Grficos
Quadro 1. Todas as UCs que se encontram dentro do territrio do Municpio de Novo Airo (AM) e
demais municpios aos quais elas se integram..............................................................................72
Grfico 1. A porcentagem que cada UC abrange dentro do territrio do municpio de Novo Airo-
AM..................................................................................................................................................67
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Lista de Tabelas e Mapas
Tabela 1. Tabela com o valor do quilograma do peixe......................................................................60
Tabela 2: Com uma populao inferior, Novo Airo (AM) no tem mercado suficiente para sua
produo............................................................................................................................................89
Tabela 3. Tabela de Preos por cambada........................................................................................90
Mapa 1. Mapa de Sobreposio das UCs no territrio do municpio de Novo Airo AM................24
Mapa 2. Mapa das Comunidades do Entorno do PARNA Anavilhanas............................................69
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Lista de Siglas
APA Margem Direita do Rio Negro - rea de Proteo Ambiental Margem Direita do
Rio Negro.
APA Margem Direita do Rio Negro - rea de Proteo Ambiental Margem Esquerda
do Rio Negro.
APNA Associao dos Pescadores de Novo Airo AM.
CDP AM 34 Colnia dos Pescadores de Novo Airo-AM 34.
CDP Z 34 Colnia dos Pescadores Zona 34.
CEUC Centro de Unidades de Conservao.
FUNASA - Fundao Nacional da Sade
IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renovveis
IDAM Instituto de Desenvolvimento Agropecurio e Florestal Sustentvel do
Estado do Amazonas.
ICMBio Instituto Chico Mendes de Proteo a Biodiversidade.
INPA Instituto Nacional de Pesquisas da Amaznia.
INSS - Instituto Nacional de Seguridade Social
MPA Ministrio de Pesca e Aquicultura.
MAPA - Ministrio do Abastecimento, Pecuria e Agricultura.
ONG Organizao No Governamental
PARNA Anavilhanas Parque Nacional de Anavilhanas.
PARNA Ja Parque Nacional do Ja.
PES Rio Negro Parque Estadual Rio Negro.
SEFAZ - Secretaria da Fazenda.
SEMMA Secretaria de Meio Ambiente de Novo Airo.
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S.I.F. Sistema de Inspeo Federal.
SINDPESCA Sindicato dos Pescadores do Amazonas.
UC (UCs) Unidade(s) de Conservao (es).
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Sumrio Resumo ........................................................................................................................................ 6
Rsum ........................................................................................................................................ 7
Introduo .......................................................................................................................................15
1. PARTE ..........................................................................................................................................22
Captulo 1 Matrizes tericas e Unidade Espacial de Anlise (U. E. A) ..................................23
Captulo 2 Tipologia dos Sujeitos Sociais que atuam na rea de estudo. .............................45
2.1. Pescador de Caixinha (campons haliutico) ..................................................................45
2.2. Pescador cotista..................................................................................................................52
2.3. Armador de Pesca ..............................................................................................................54
2.4. Atravessadores ...................................................................................................................56
2.5. Peixeiro ................................................................................................................................57
2.6. Empresas de beneficiamento do pescado (frigorficos) ..................................................58
2. PARTE ..........................................................................................................................................63
Captulo 3 O confronto pelo territrio de pesca em Novo Airo .............................................64
3.1. A Regio de Novo Airo AM e a guerra geogrfica .....................................................64
3.2. O uso do territrio, Modo de Vida X Unidades de Conservao. ...................................69
CONSIDERAES FINAIS ..........................................................................................................93
REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .............................................................................................95
Glossrio .......................................................................................................................................104
ANEXOS .......................................................................................................................................107
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Introduo
Este estudo resultado de questes ligadas geografia, como totalidade,
direcionadas para o meio amaznico e reas protegidas, foco do nosso trabalho.
antes de tudo um ponto de partida para uma problemtica de muitos e diferenciados
impactos ligados formao de reas protegidas com grupos sociais em seu
interior, devido s suas caractersticas naturais h uma situao ecolgica ainda no
identificada principalmente reproduo da ictiofauna. Tal situao, frente usos
feitos e permitidos pelos moradores e ICMBIO, so geralmente influenciadas por
foras econmicas e polticas externas ao lugar, o que pode comprometer as
geraes futuras dos grupos que al vivem, assim como a prpria essncia de rea
protegida.
Em nosso trabalho, tratamos os problemas ambientais (sociais e polticos) de
uma rea de significativa relevncia no estado do Amazonas (rea polarizada pela
cidade de Novo Airo) que compreende as reas protegidas: APA Margem Direita do
Rio Negro, APA Margem Esquerda do Rio Negro, RDS Rio Negro, PARNA Ja,
PARNA Anavilhanas e PES Rio Negro (vide Mapa:24).
As reas protegidas ficam no rio consequentemente mestre regional, o rio
Negro, a noroeste de Manaus est a rea de estudo atravs das Rodovias AM-070
(que liga Manaus a Manacapuru) e que em seu trecho possui uma conexo com a
AM-352 (que liga Manacapuru a Novo Airo) e por navegao fluvial pelo Rio Negro
at Manaus.
A constituio da rea para o estudo se fundamentou em quatro bases:
Porque as unidades de conservao em Novo Airo integraram uma poltica
mais ampla de proteo (estadual e nacional) onde a ocupao e uso da terra
(natureza) so marcados pela contradio sociedade e natureza, mediadas
pela misantropia;
Pelas alteraes processadas que se consolidaram, o uso da natureza pela
lgica do modo de vida, mas pela lgica da legislao ambiental, e com o
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fortalecimento do movimento ambientalista e a forma que enfraqueceu a
dinmica pesqueira de camponeses haliuticos;
Tais alteraes impactaram o modo de vida ao instaurar outra realidade
agrria e fundiria, a supresso da propriedade camponesa pela instalao
de unidades de conservao, fortaleceu o turismo, o consumo da natureza em
outra forma;
Pelas injustias e desigualdades espaciais que foram criadas e at
fortalecidas entre o campons haliutico e as atividades tursticas, porm,
apesar das transformaes econmicas e sociais, a lgica de reproduo dos
modos de vida tradicional ainda resiste.
A relao sociedade e natureza resultado de uma especfica formao
espacial, no caso a brasileira, a essncia dos fatos identificados fundamenta
plenamente a escolha do tema, pois trata do uso de domnios da natureza e seus
impactos. A interao de fatores naturais (to forte que por isso foi criada uma UC) e
a presena de grupos sociais (longe dos centros decisrios do poder e mercado)
uma relao sociedade e natureza que fundamenta a preocupao central do
gegrafo na direo de identificar e analisar os processos que fazem organizao
dos espaos e a gesto dos territrios.
Como fundamento dos objetivos, temos a rea de estudo de forma total, a
totalidade do espao, a integrao de fatores que conduzem a diferentes formas de
uso da terra (natureza) e que resultam em uma determinada organizao do espao
agrrio e ambiental em Novo Airo, como espacialidade conforme seu espao
herdado da natureza gerou formas especficas de organizao e resistncia. Assim,
buscamos identificar e analisar as relaes que se fundamentam entre as condies
naturais, os camponeses haliuticos e as instituies ambientais do poder pblico,
tais foras opostas, geram usos diferenciados e conflitos no uso e acesso
natureza, aos mercados e aos modos de vida.
A pesca camponesa haliutica, por um longo perodo foi feita sem
interferncias do Estado. Atualmente, em Novo Airo (AM) com a fiscalizao do
IBAMA/ICMBio ocorreram mudanas do/no uso dos espaos de pesca e dos
territrios de pesca, transformando a realidade dos camponeses que utilizam esses
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espaos, pois exercida uma pesca que vem sendo marginalizada por conta da
conscincia ambiental.
Essa pesca praticada s escondidas, em certos momentos aparenta no
existir, desde a criao das Unidades de Conservao (UCs), como a Estao
Ecolgica (ESEC) Anavilhanas - criada pelo Decreto n. 86.061 de dois de junho de
1981 at sua instituio enquanto Parque Nacional com a Lei n 11.799, de 29 de
outubro de 2008 , o Parque Nacional do Ja que a quarta maior reserva florestal
do Brasil, criado pelo Decreto n 85.200 de 24 de setembro de 1980, o Parque
Estadual Rio Negro Setor Norte criado pelo Decreto 16.497, e feita alterao dos
seus limites pela Lei - 2646 - 22/05/2001 (vide os Anexos:107).
A rea de Proteo Ambiental (APA) Margem Direita do Rio Negro criada
pela Lei 3.355 - 26/12/2008 -, a APA Margem Esquerda do Rio Negro criada pelo
Decreto 16.498 de 02/04/1995 e com as alteraes de seus limites pela Lei 2.646 -
22/05/2001- e a Reserva de Desenvolvimento Sustentvel (RDS) Rio Negro (AM)
criado pela Lei 3.355 de 26/12/2008 (ISA, 2011). (vide os Anexos: 107)
Desde a efetivao dessas Unidades de Conservao (UCs) Federais e
Estaduais em tempos diferentes, que juntas abrangem 80,4% do territrio deste
municpio; a problemtica da fiscalizao das reas de pesca (antes) hoje
Unidades de Conservao advindas de um ordenamento territorial onde as
formaes sociais que vivem da cadeia produtiva do pescado em Novo Airo (AM)
no foram consultadas/ouvidas, nem para assegurar seus direitos ao trabalho, muito
menos sua existncia social dentro dos territrios que atualmente so de UCs.
A limitao de reas de pesca impede o uso dos rios e lagos, o modo de vida
dos camponeses haliuticos, armadores de pesca e pescadores cotistas, que tm
como meios de produo os rios: Ja, Jauperi, Branco, Unini, Negro, Puduari,
Carabinani; os Lagos: Trovo, Apac, Couro Diqu, Grande, Arroz, Jarupari,
Tambaqui, entre outros, e igaraps os quais esto localizados dentro das Unidades
de Conservao, pois a contradio da realidade geogrfica mtodo, a dialtica
Sociedade & Natureza o ponto de partida terico-metodolgico desta pesquisa, em
que o uso dos recursos naturais pelos pescadores camponeses haliuticos - a
contradio para toda a ideologia de ambientalismo fechado que se tm para a
http://pt.wikipedia.org/wiki/2_de_junhohttp://pt.wikipedia.org/wiki/1981
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preservao da Amaznia que vem sendo utilizada por ONGs (Organizaes no
Governamentais) e demais ativistas ambientais. Pois para Adorno et. al. (1985):
Se a opinio pblica atingiu um estado em que o pensamento inevitavelmente se converte em mercadoria e a linguagem em seu encarecimento, ento por a nu semelhante depravao tem de recusar lealdade s convenes lingusticas e conceituais em vigor, antes que suas consequncias para a histria universal frustrem completamente essa tentativa.
A Amaznia possui um conceito genrico para as distintas realidades sociais
que nela habitam, por ser uma unidade territorial extensa, com cerca de 4.196.943
Km (IBGE: 2004), a sociedade ao mesmo tempo em que produz existncia, produz
o espao, diferenciado, pois a sociedade no um aglomerado homogneo de
pessoas, ela est diferenciada em classes sociais, que por sua vez, possuem
temporalidades e especificidades distintas. (SADER, 1986:03 apud COSTA:
1999:75)
Para Cardoso (2001:40) A atividade pesqueira consiste em um processo de
apropriao da natureza pelo trabalho humano. E como base de sua pesquisa:
Genrica, esta afirmativa no explicita as particularidades do processo de produo na pesca, uma vez que grande parte das atividades humanas consiste em um ato de apropriao da natureza atravs do trabalho. Que tipo de apropriao? Que natureza? Que trabalho? (CARDOSO, 2001:40).
A realidade pesqueira se mostra com mudanas que Novo Airo perpassou
no tempo e no espao, num contexto de lutas, resistncias integradas a movimentos
sociais que tem pouca fora (poltica, econmica e organizacional), nem proximidade
com circuitos decisrios de mercado e poder, mas o poder interno delas disputado
e chega at a atrapalhar o desenvolvimento dos processos, projetos e relaes
sociais.
Conforme Adorno et al (1985:24) o despertar do sujeito tem por preo o
reconhecimento do poder como princpio de todas as relaes. o que culminou
numa separao visvel, onde h dois anos eram trs entidades, atualmente so
quatro associaes, no pleito dos direitos dos pescadores, que dependendo da
discusso lutam entre si, mas posterior aos enclaves buscam foras polticas
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institucionais ligadas prefeitura municipal, cmara do municpio, ao Governo do
Estado do Amazonas e ao Senado. Segundo Delgado (2008):
O que a realidade histrica do prprio capitalismo demonstra que o Direito
do Trabalho consiste no mais abrangente e eficaz mecanismo de integrao
dos seres humanos ao sistema econmico, ainda que considerados todos
os problemas e diferenciaes das pessoas e vida social. Respeitados os
marcos do sistema capitalista, trata-se do mais generalizante e consistente
instrumento assecuratrio de efetiva cidadania, no plano socioeconmico, e
de efetiva dignidade, no plano individual. Est-se diante, pois, de um
potente e articulado sistema garantidor de significativo patamar de
democracia social. (DELGADO, 2008:40)
Dos fatores da pesca em Novo Airo o principal a marginalizao do
trabalho, que ocorre desde os meios de produo dos camponeses haliuticos at o
porto onde eles atracam ou desembarcam, o espao fsico do ponto de venda, de
chegada e de sada da mercadoria in natura, que o Porto do Padre local onde
rapidamente se criou/teve caractersticas porturias por meio de um pequeno
flutuante onde ficavam guardados os barcos da Fundao Nacional da Sade
(FUNASA), que se tornou um ponto com ocorrncia gravitacional de parada dos
pescadores e sua produo.
O Porto do Padre (vide Figura 1) foi um lugar que sucedeu o ponto onde os
pescadores de Novo Airo foram compelidos a frequentar, pois, como Lugar, este,
que atualmente ocupou a forma de terminal pesqueiro polariza a chegada e sada da
produo de pescado in natura. Antes os pescadores atracavam na parte da praia
principal da cidade, uma praia artificial que foi feita para a chegada de um presidente
da Repblica, na poca Fernando Henrique Cardoso (vide Figura 2) que fazia parte
do mesmo partido do prefeito municipal, Antnio Tiburtino em 1994.
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Figura 1: Porto do Padre, lugar onde ocorre gravitacionalidade, onde os pescadores
de caixinha, pescadores cotistas, atravessadores e armadores de pesca vendem a maior parte de sua mercadoria in natura neste lugar os atravessadores, peixeiros e consumidores.
Fonte: Trabalho de Campo, em: 24/02/2014.
Com um porto previamente estabelecido e com uma fbrica de gelo prxima,
o porto dos pescadores ficou neste lugar, atualmente, com a coero territorial do
ecoturismo dos botos, que a partir da presso do habitat dos botos e a poluio
que estes sofriam pela poluio de leo de motor, coliforme fecal (pois os
pescadores defecavam na praia) e outras problemticas impostas pelo turismo de
Novo Airo que avesso s necessidades dos muncipes.
A atividade turstica se beneficia cada dia pelas belezas naturais, deixando
margem os modos de vida dos camponeses haliuticos, que foram transportados
para outro lugar, mas que atualmente esto se articulando para conseguir um
terminal pesqueiro, proposta que est sendo defendida pela Colnia dos Pescadores
AM 34(CDP AM-34).
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Figura 2: Praia Artificial, local onde era o antigo porto dos pescadores, atualmente ocorre gravitacionalidade do turismo (visitao aos botos, porto para navios e barcos de turismo, e onde esto concentrados os associados da Associao de Turismo de Novo Airo AM (ATUNA). Fonte: Trabalho de campo, em: 01/2010).
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1. PARTE
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Captulo 1 Matrizes tericas e Unidade Espacial de Anlise (U.
E. A)
Novo Airo (237'33"S; 6056'36" O; 41m altit.) um municpio do interior do
Estado do Amazonas, est constitudo na regio metropolitana de Manaus. Com
uma populao de 14.723 habitantes (IBGE, 2010), a Unidade Espacial de Anlise
desta pesquisa. Em seu territrio esto constitudas 80,4% de Unidades de
Conservao (conforme mapa pg. 23 das Unidades de Conservao) e uma
reserva de Terra Indgena em seu territrio, fator que o diferencia dos outros
municpios, pois esto delimitados em seu territrio dois Parques Nacionais, O
PARNA Ja e o PARNA Anavilhanas.
A partir da criao dos parques nacionais, o Estado do Amazonas cria
Unidades de Conservao estaduais como zonas de amortecimento de impacto dos
parques nacionais, ou seja, cria estrategicamente reas envoltas como um escudo
protetor. Que so o Parque Estadual Rio Negro Setor, a APA Margem Direita do Rio
Negro, a APA Margem Esquerda do Rio Negro a RDS Rio Negro (AM) e uma rea
indgena, a Reserva Waimiri Atroari.
Na atualidade em que vivemos, tal atitude do Estado vista de uma forma
macro seria uma atitude memorvel, pois a produo de soja e criao de gado vem
se expandindo para a Amaznia num processo vital do agronegcio, principalmente
pela posse da terra por grandes empresrios do campo.
Esta pesquisa tem na pesca sua principal temtica, por se tratar de um modo
de vida. Exercer a pesca em Novo Airo tem sido uma faina difcil, devido
constituio das Unidades de Conservao. Principalmente pelo fato da alterao do
sentido dessa atividade pelo Estado e suas legislaes. Segundo Mantovani
(2009:3):
Um dos mais importantes indutores do conflito que existe conservao biolgica a mudana, ao longo da histria, na relao do homem com a natureza, atualmente vista como oposio, sendo que poucas aes so concretizadas considerando o homem como componente da prpria natureza.
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Algumas formas de pesca foram acometidas, por serem definidas como
predatrias, sendo que, as margens do Baixo Rio Negro tem uma estimativa de
serem habitadas h pelo menos 300 anos, desde o sculo XVIII. (LEONARDI, 1999)
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Domnios de Natureza e a pesquisa.
Para uma melhor compreenso da relao unidades de conservao,
domnios e geografia preciso ter a noo de totalidade, visto que este um
sistema natural, que portador de uma organizao espacial que reflexo dos
diferentes elementos e processos naturais como o clima, geologia/geomorfologia,
vegetao, solos, fauna entre tantos outros usos (sociais, econmicos, polticos e
culturais) ocorrem, logo geogrfica, em particular geografia fsica, que vale lembrar
no se limita apenas as medies. As unidades de conservao enquanto tais s
existem, por ser forma-contedo de sistemas naturais com expresso para uma
determinada sociedade (local, municipal, regional, setorial, nacional e internacional).
A natureza composta de vrios processos que se expressam aos olhos da
sociedade como recurso natural, e com isso se diferencia o uso, acesso e ocupao
de reas, que so utilizadas de diferentes formas e com diversos impactos (sociais,
econmicos, ambientais e culturais). Isso envolve o conceito de organizao
espacial, onde o espao produzido produtor de uma conexo prpria ente os
lugares.
Na rea em estudo, diferente das grandes e mdias cidades, o geossistema
natural que tem maior influncia na vida das pessoas, no como determinismo, mas
como base material da vida, com as limitaes prprias de uma unidade de
conservao que demarcou determinada poro de um domnio, impactando a vida
das pessoas que l moram e tiram seu sustento, enfim a base do modo de vida,
fazendo uma correlao prpria da anlise geogrfica.
So reas que tem o domnio de determinado conjunto biogeogrfico,
geomorfolgico e climtico, mas no so vistos, e nem podem, pelo lado unicamente
natural, h as suas potencialidades paisagsticas utilizadas pelos diferentes modos
de vida e por formas empresariais, atividades tursticas, urbanas entre tantas outras.
Os domnios da natureza em seu tempo de formao e reproduo de suas
paisagens evidentemente tm o tempo da natureza, mas o uso e a apropriao dos
recursos naturais so do tempo da sociedade e do mercado que so muito mais
rpidos que o tempo de reproduo da natureza.
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A natureza para os camponeses haliuticos adequadamente identificada e
analisada com o uso de uma geografia local, zonal, e dependendo da abrangncia
da pesquisa, regional devido relevncia das informaes do clima, da vegetao, e
da dinmica das guas e bacias hidrogrficas, e os sistemas de resilincia. As
sociedades que vivem nesses conjuntos naturais desses locais prenhes de cultura,
com uma realidade empiricamente observada com sazonalidades e ritmicidades
junto do aparato tcnico culturalmente e o acesso s tecnologias. No se trata
evidentemente de ser subordinada a natureza, a questo maior e produzir
condies que faam viver, produzir sem alterar as bases naturais.
O que so domnios da natureza? Antes de tudo uma categoria da cincia
geogrfica, ainda que tenha origem nas cincias naturais (a geografia tambm faz
parte disso). Os domnios, um conjunto individualizado tem por contedo um
mosaico, uma assembleia de processos e getopos. Uma espcie ou bioma
subordinado aos processos mais amplos, geossistmicos, de suporte, regenerao e
reproduo do domnio. Na lgica das sociedades os domnios so a base natural
da reproduo da vida, a fonte de aparatos tcnicos, e as tcnicas conforme Max
Sorre, podem ser mentais ou materiais, logo os domnios so uma projeo do olhar
(cientfico, poltico, cultural, econmico e social), assim como o espao de
reproduo de modos de vida como fonte de recursos naturais para a economia
nacional, logo, Domnios da Natureza no se confundem com geografia fsica muito
embora, sejam muito prximos.
Para Gregory (1992:26), Entretanto, os gegrafos fsicos continuam
escrevendo como se aparentemente ignorassem os debates na filosofia da cincia.
Evidentemente alguma coisa mudou desde o momento em que Gregory
escreveu a frase, h mais gegrafos fsicos incorporando a reflexo necessria para
o avano do conhecimento, principalmente os que esto ligados a questes sociais
e de reflexo terica. E o prprio Gregory cita Chorley a respeito de enunciados de
gegrafos fsicos, focalizando a necessidade do estudo da atividade humana:
...Est claro, contudo, que o homem social est, para melhor ou para pior, assumindo o controle do seu meio ambiente terrestre e que qualquer metodologia geogrfica que no reconhea este ato, est fadada total obsolescncia. (Chorley apud Gregory: 190).
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Os domnios passaram a ser o almoxarifado, um tipo de fundo das grandes
empresas e governos, uma mercadoria, pois a natureza subsumida como
mercadoria, como esttica, como beleza cnica, enfim uma fonte de lucro e poder.
Em seu aspecto acadmico cientfico a geografia tem uma grande importncia, pois
uma de suas bases a relao sociedade e natureza, poder-se-ia dizer sociedade e
domnios da natureza.
O estudo em geografia fsica no pode negligenciar processos (sociais,
econmicos, polticos e culturais) e por extenso os estudos dos domnios, a prtica
apedeuta de separar sociedade da natureza apenas orienta estudos para a
mensurao sem identificao terica (uma das bases da cincia) e em geral uma
frouxido que apenas, atrasa e atropela os estudos da natureza. O ponto principal
para os estudos dos domnios so as identificaes e o entendimento de processos
ecolgicos ou geossistmicos, em suas devidas escalas e paisagens. Outro passo
o referente aos processos climticos e geomorfolgicos que se entrecruzam na base
das diversas formas e processos e mesmo de espcies que so utilizadas pelas
sociedades locais, sejam em plancies alagveis holocnicas e suas sazonalidades
climticas (Costa, comunicao oral); conforme: George (1973: 20):
Seja como for sempre a relao com o homem - e mais exatamente aos
grupos humanos - que se define o meio ambiente. Por conseguinte,
teremos de partir da percepo do meio pelas coletividades que o ocupam e
modelam. Podemos distinguir trs termos de percepo do meio:
A resposta s necessidades;
A subordinao s injunes;
O temor de ameaas e de perigos;
As necessidades se projetam em trs planos essenciais: necessidades de
consumo, necessidades de habitat e necessidade de relaes;
Quanto a isso conforme George o que problematiza para as reas protegidas,
que so domnios da natureza com legislaes relativas aos modos de vida que l
habitam tradicionalmente. Bertrand (2007:200): preciso especializar o meio
ambiente:
A contribuio da geografia aqui essencial, mas ela est longe de ter
atingido seu pleno desenvolvimento. Constatamos que numerosos estudos
ambientais ou flutuam em um espao mal determinado, ou se limitam a uma
diviso do espao de tipo corolgico herdado da biogeografia. A abordagem
espacial, qualitativa ou quantitativa, tornou-se um conhecimento no sentido
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pleno, rico em implicaes e prolongamentos sociais e naturais no qual
muitos gegrafos se destacam.
Bertrand (op. Cit.:208), conclui que:
Durante muito tempo natural, o meio ambiente invadiu o social muito mais
do que o social o invadiu. Primeiramente, margem distante e facultativa,
transformada em seguida em periferia obrigatria e cada vez mais exigente,
o meio ambiente est hoje no corao do social, n grdio da gesto
territorial e da qualidade de vida.
Em relao s escalas, conforme Strahler e Strahler (1989:440):
Em considerao de como os diversos fatores do meio fsico influem sobre
as plantas e os animais, podemos tratar com duas escalas. Uma a escala
global, que considera tais fatores climticos como os modelos estacional e
latitudinal de insolao, luminosidade e escurido (sombreamento),
temperatura, precipitao e ventos predominantes. A outra escala de
considerao constituem as variaes do meio fsico em uma rea
relativamente pequena.
Tanto para a escala grande quanto para a escala pequena as aes humanas
podem alterar impactando os metabolismos vigentes levando a formao de reas
que no servem de recursos para os povos locais. Mas sobre aspectos naturais, o
que se tem de relevncia para proteger, temos que entender a natureza e a
estrutura dos ecossistemas, conforme Walter (1986), que comenta trs grupos de
organismos, os produtores, os consumidores e os decompositores. Como a natureza
no um sistema fechado, se tais elementos no existem ou esto em desequilbrio,
seus impactos na reproduo dos ecossistemas no daro lgica para fins de
preservao.
Para Rougerie (1996: 158) h uma tentao ecolgica e:
Este fenmeno social muito particularmente tocado a geografia fsica,
ajudando a redescobrir uma geografia de todo o meio natural e no
apenas a sua expresso topogrfica. Alm disso, a ecologia moderna deu-
lhe a oportunidade de conhecer um aparato conceitual e metodolgico. Foi
normal que nos ramos da geografia mais abertos em uma natureza viva,
para o primeiro plano aparecem o primeiro rascunho, e a biogeografia tem
ocupado uma posio-chave na busca de geografia fsica global.
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Quanto aos motivos para preservar ambientes de gua doce relevncia j
era conhecida desde o sculo XIX, quando Darwin (1985:299) escreve que:
Como os lagos e as bacias hidrogrficas esto separados entre si por
barreiras terrestres, poder-se-ia imaginar que as produes de gua doce
no teriam condies de se espalhar numa terra contnua. Sendo o mar, por
sua vez, uma barreira aparentemente ainda mais intransponvel, tais
produes jamais poderiam se difundir em terras distantes. S que o que
ocorre exatamente o inverso. Espcies de gua doce, pertencentes a
classes inteiramente diferentes, no s podem possuir enorme rea de
ocorrncia, como as espcies aliadas efetivamente predominam de maneira
notvel por todo o mundo. Quando fiz minhas primeiras produes de
colees de produes de gua doce no Brasil, me lembro bem da grande
surpresa que senti ao constatar a semelhana dos insetos e moluscos
aquticos e a dessemelhana dos seres terrestres das circunvizinhanas,
em comparao com os da Gr-Bretanha.
Vale ainda salientar conforme Amat, Dorize e Le Coeur (2008:16):
O meio ambiente o meio fsico em seu contexto social. Com efeito, o
impacto das atividades humanas sobre o espao "natural" se tornou tal que
agora aparece como uma questo de gesto. No passado, as sociedades
consideradas em seu territrio, principalmente como espao de produo
e de troca, incluindo caractersticas fsicas, alm do pitoresco, poderia ser
entendido em termos de recursos e possveis riscos.
Bases da relao de Conflito entre Sociedade e Natureza.
Atualmente sob o domnio da mundializao do capital e de formas
neoliberais de pensar e agir. Que predomina entre os planejadores de polticas
pblicas, principalmente os de gesto de recursos naturais, isto a natureza como
mercadoria, a lgica aceita inclusive por uma grande parte da comunidade cientfica
de no achar relevante identificar os processos (sociais econmicos, polticos e
culturais) dos grupos afetados. Predominado apenas a identificao de espaos
geoecolgicos de relevncia na lgica burocrtica em detrimento dos povos
atingidos por polticas pblicas de preservao, em clara poltica e de misantropia.
Neste estudo, se tenta mostrar que as aes de proteo da diversidade
biolgica, mais conhecida como biodiversidade, so objetivadas para a formao de
espaos diferenciais, ou seja, da formao de enclaves denominados de Unidades
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de Conservao, que so oriundos da Conveno da Diversidade Biolgica,
produzida na Cpula da Terra em 1992. A criao, formao e demarcao e
vigilncia das reas protegidas (sejam de proteo integral ou de algum tipo de uso)
so feitos pelas diretrizes aceitas do Sistema Nacional de Unidades de Conservao
(SNUC), criado pela lei 9.985/00.
No se trata de negar ou de no reconhecer que preciso preservar reas
naturais, seus biomas e ecossistemas, sua fauna e flora, evidentemente os espaos
herdados da natureza precisam de uma poltica especfica. Mas que no seja uma
deteriorao da qualidade dos modos de vida de moradores de tais reas, a grande
questo que muitos tentam esconder a misantropia, encarar os moradores como
estranhos aquele espao, uma forma de preconceito e etnocentrismo que ignora e
invisibiliza os sujeitos sociais sujeitados as prticas de preservao, isto revela que
h grandes lacunas na poltica ambiental em no reconhecer direitos, o que pe em
dvida o verdadeiro carter da poltica ambiental, para a sociedade brasileira, para
os atingidos diretamente ou para outros interesses que no conhecemos ainda que
essas Unidades de Conservao (UCs) foram feitas?
Pois Segundo Martins (2012):
At o final dos anos de 1980, a tnica do movimento ambientalista brasileiro
e das polticas pblicas relacionadas gesto ambiental, em geral, pautava-
se por uma viso centrada na superioridade da natureza sobre a espcie
humana. A criao de espaos naturais protegidos, ou Unidades de
Conservao (UCs), j era uma das principais estratgias da poltica
ambiental brasileira baseada no modelo biogeogrfico de ilhas de
diversidade. Dito de outra forma, as UCs desse perodo eram criadas sob
um regime de proteo integral, onde no se admite a permanncia
humana de nenhuma natureza. De acordo com Orlando (2009), at o final
dos anos de 1980, foram criadas setenta e quatro UCs com essas
caractersticas.
Atualmente ainda existe um comportamento autoritrio e autocrtico, que
indiretamente tem objetivos de preservar a natureza e no as pessoas que l vivem
e tem forte oposio participao dos moradores atingidos nos processos de
administrao e conduo da reserva, que so as concepes do cerne das
Instituies do Estado.
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Tal fato tambm ocorre pelo fato de que muitos estudiosos da natureza,
inclusive alguns gegrafos fsicos, que tem uma viso estreita da natureza,
preocupados apenas em medir e identificar, no se preocupando com processos e
fatos da sociedade, como se nada contribusse para o entendimento da dinmica do
processo.
Por outro lado, muitos estudiosos, inclusive da geografia fsica, entendem os
domnios da natureza de forma ampla, como totalidade geogrfica, sem limitaes
ao pensamento ou divises desprovidas de intelecto, pois segundo Moraes
(2002:59-60):
A universidade pblica brasileira vive, j h algum tempo, um processo
difcil de reestruturao, em que esto mais explicitadas as crticas (
estrutura existente aos descaminhos da renovao) do que os parmetros
(para a nova estrutura). E o meio a este quadro, que o trato da temtica
ambiental emerge com especificidade, inicialmente disperso em
departamentos existentes e agora j em vias de alocar-se autonomamente
em diferentes unidades (e por diferentes modelos institucionais). Este
processo expressa com clareza o paradoxo enunciado: em alguns locais a
pesquisa universitria articula-se diretamente com as demandas do Estado
e com projetos das grandes corporaes, em outros se erguem verdadeiras
cidadelas da luta ambientalista.
Conforme Marinho (2006: 24): a importncia de construo de uma nova
base para os estudos geogrficos que envolvam a relao sociedade e natureza,
indo alm do campo da dicotomia de correntes tericas que norteiam vertentes da
conservao ambiental. Ainda em Marinho (id: ib.) cita Furlan: Este parece ser um
dos ns mais difceis de desatar quando discutimos geografia. Ao humanizarmos
demais o conceito de natureza, estamos antropomorfizando a natureza. Ao
adotarmos uma postura animista, estamos naturalizando a sociedade. Por que
caminhar pelos extremos?
A questo muito maior que o debate geogrfico, pois envolve outras reas
do conhecimento, outro motivo para buscar a totalidade. Assim o termo conflito
ganha contorno geogrfico, pois um resultante so as desigualdade e injustias
espaciais, isto porque identifica relaes sociais e polticas de conflito de interesses
entre os diferentes grupos sociais pelo domnio para fins de gesto das unidades de
conservao.
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Em situaes onde h o conflito, principalmente quando afeta as formas de
obteno de alimento e renda para satisfao das necessidades alimentares e
bsicas (incluindo cultural), s vezes se concretizam em formas de violncia fsica e
ameaas. Visto que, as instituies do Estado como o IBAMA e o ICMBio tem poder
de polcia ambiental e recebem treinamento, como a capacitao de tiro com arma
de fogo, onde o translado do facilitador foram presenciados pela autora.
Para Coelho, Cunha e Monteiro (2009:67-68):
(...) os conflitos gerados pela criao de unidades de conservao revelia
das populaes que dependem dos recursos naturais dessas e se a criao
de algumas dessas unidades tem sido proposta enquanto estratgias de
regularizao fundiria e garantia de direitos das populaes tradicionais
deixou de ser marcada por contradies das mais diferentes ordens.
Quanto s justias espaciais, para Gervais-Lambony e Dufaux (2010:15):
O conceito de justia espacial no novo, ele tem sua origem em uma
geografia radical e antes de tudo urbana. Mas hoje a temtica da justia
espacial apresenta aos nossos olhos uma importncia dupla e renovada
pela geografia. De uma parte ela acrescenta questes cruciais sobre a
utilidade social da disciplina geogrfica. De outra parte, ela
fundamentalmente unificadora pela disciplina uma vez que nenhuma das
correntes cientficas que a compem no exclui o debate que ela abre.
Segundo a abordagem adotada sobre a questo, se conduz por questes
sobre as distribuies espaciais de bens, de servios, de pessoas...) porque
escolhida uma definio redistributiva da justia, seja ela conduzida a se
por questes de representao do espao, das identidades (territoriais ou
no), de prticas, e escolher e refletir sobre a dimenso processual da
justia. Em outros termos, se encontram mobilizados e eventualmente
associados s abordagens relevantes mais da geografia das
representaes ou da geografia cultural. Esta convergncia se faz atravs
de uma reflexo sobre as modalidades da tomada de deciso poltica e
sobre as polticas conduzidas para assegurar as melhores distribuies
espaciais. O carter unificador do conceito de justia espacial vai ainda mais
alm, uma vez que necessita mobilizar tambm plenamente os estudos
ambientais. E muito prximo em efeito da noo de justia ambiental que
aparece nos anos de 1970-1980, nas cidades norte americanas, para
denunciar a recuperao espacial entre as formas de discriminao espacial
e de excluso socioeconmicas, as poluies industriais e a vulnerabilidade
face aos riscos naturais. Nos pases do sul, os parques nacionais onde os
conflitos entorno dos recursos naturais mostram a dimenso ecolgica dos
processos de dominao econmica e poltica.
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Ainda a respeito de injustias espaciais, Molle (2011:131), comenta que:
A justia (ou injustia espacial) pode ser vista com todas as implicaes em
termos de equidade social dos ajustamentos scios naturais permanentes.
A governana da gua includa como articulao de todos os mecanismos
pelas quais exercido o poder de modificar a repartio social e espacial de
custos e de benefcios. As bacias hidrogrficas aparecem, pois como o lugar
onde se implantam de maneira incessante os debates, os discursos e as
lutas visando influenciar esta distribuio para um poder acrescido sobre os
processos de deciso concernentes as intervenes por sua vez estruturais
e gerenciais sobre o ciclo hidrolgico.
Para Depraz (2008) a abordagem dos espaos protegidos so construes
sociais e territrios de proteo de natureza, ele identifica que a proteo da
natureza possui o seguinte conjunto de regras:
- tica antropocntrica: utilitarista (uso no regulado da natureza e proteo
ex-post do valor compensatrio) e recursista (uso regulado da natureza, plano e
gesto dos recursos e restrio por antecipao).
- tica biocntrica: preservacionista (sem uso da natureza, segregao
homem da natureza, proteo estrita sem interveno humana).
- tica ecocntrica: Conservacionista (uso limitado da natureza, proteo
alterada pela interveno humana).
Depraz (2008:281) comenta que:
Caso contrrio, a disputa poder eleger como o ponto focal o 'lugar atributo' espao protegido (um monte, lago, monumento natural), cujo valor simblico de outra maneira muito forte.
O que ocorre no Brasil so uma resistncia, de matrizes territoriais, de
camponeses e ndios, ante ao avano de latifndios e ao agronegcio, no contra o
desenvolvimento e gerao de emprego e renda, mas contra as formas de expulso
de suas prprias terras, e nesse caso surge o ecologismo social, tambm conhecido
como ambientalismo campons (...). (MARINHO: 2006: 22)
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Conflito aqui no sentido de dominialidade do recurso natural, se faz
necessrio para identificao do sentido do contexto do trabalho, quando h conflito
em um sentido semelhante, tal conflito e suas formas de resistncia, principalmente
por parte dos moradores, no assume a forma de confronto, de luta direta, quase
sempre mediado por instituies e pessoas que se auto identificam como
representativas de tal ideia ou instituio, ou seja, pela natureza e pela estrutura dos
objetivos que esto em jogo. (BOUDON & BOURRICARD: 1993). Quanto ao recurso
natural aqui visto conforme Thomas (2008: 333):
Fica claro, a partir da perspectiva da geografia, que o recurso natural pode ser considerado a partir de ambas as suas dimenses fsicas e humanas. Neste ltimo caso demanda oferta, as diferenas nas percepes dos recursos com base no desenvolvimento cultural, riqueza e assim por diante so todas as questes relevantes a serem consideradas. Do ponto de vista fsico, a distribuio natural dos recursos da biosfera e litosfera, os tipos de recursos e os impactos do uso de recursos no ambiente em geral so atualmente tema de interesse. Na prtica, no entanto, a dimenso fsica e humana coexistir ande colidir uns sobre os outros, (...)
Aqui no iremos tratar no sentido de que o livre acesso e uso aos recursos
naturais de uso comunal sejam diretamente relacionados sua destruio no
decorrer do tempo, pois isso um grande equvoco, ao confundir a situao de
acesso livre com a gesto de domnio comum dos espaos naturais transformados
em recursos naturais, tal equvoco o responsvel por decises que desconhecem
a realidade vivida e so processos decisrios que no querem deliberadamente
incluir temas sociais.
Os recursos naturais transformados em uso comum assinalam alguns
desdobramentos. Como o fato de que fica difcil esconder seus conjuntos sociais,
que lhe do vida e significado, os povos que nele vivem, assim como o fato de que
um indivduo, um grupo ou mesmo o Estado ao se apropriar dele faz
necessariamente a excluso e expulso, do que era no de todos, mas do grupo
que l vivem. o que acontece no caso dos recursos pesqueiros em Novo Airo.
As diversas UCs localizadas no municpio de Novo Airo foram criadas em
um contexto onde as instituies ambientais colocaram suas aes e poder jurdico
em conflito com os moradores das reas agora transformadas em UCs. As ideias de
proteo, seja conservao ou preservao, feitas sem conhecimento da realidade
empiricamente observada e aceitas muitas vezes em encontros, congressos e
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simpsios nacionais e internacionais, quando so implementadas no terreno j se
constituem fatos polticos a respeito da natureza e seus processos e principalmente
da vida dos moradores, e o que ocorre a ao de vrios sujeitos sociais em
diversos locais onde o tema debatido.
Conforme Coelho, Cunha e Monteiro (2009: 72):
Os estudos meramente diagnsticos das unidades de conservao, mesmo quando acompanhados de esforos de zoneamento geogrfico-ecolgico, oferecem resultados limitados e poucos criativos, insuficientes para dar conta da complexidade de relaes, processos e contradies inerentes prpria constituio das unidades de conservao e formulao e execuo das polticas ambientais/conservacionistas em geral.
Os moradores so vtimas de cartilhas e outros panfletos de educao
ambiental e preservao, sendo que em suas prticas eles no destroem, eles so
instrudos a se modernizarem e aceitarem o iderio das UCs, uma imposio, e
ignorada que na maioria dos casos os moradores no tm uma prtica cotidiana de
participao poltica, de assembleia, no tinham no por desprovimento intelectual
ou despreparo, mas porque no era necessrio em seus modos de vida, e no
houve um processo educacional para a formao da prtica de assembleia foram
subitamente e sem nenhum preparo prvio, jogados em uma situao desconhecida,
conforme entrevista na rea de trabalho de campo. Pois segundo a fala de um
pescador de caixinha que cedeu entrevista ele relata:
-Tem muitos pescadores que so profissionais e nem mesmo possuem
documento, por medo, vergonha ou distncia (Moram longe da sede do
municpio). Extraordinariamente e Ordinariamente: 30 dias. Assembleia
Geral: um ms. uma comprovao de reunio e de luta, de que algo est
sendo feito, pra comprovar.
Em torno disso, vem s reclamaes que questionam o plano de gesto e
manejo da unidade de conservao, implantado sem aviso, sem prvio acordo com
os pescadores, que so os principais atingidos no uso dos recursos naturais e
tambm so os mais prejudicados pelo surgimento do regulamento, de um modo de
uso tradicional cultural para o de acesso e uso restrito.
H evidentemente um autoritarismo nisso, e a balana do poder no age
igual, pois se assim fosse o governo teria poder para interferir nos grandes
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desmatamentos feitos por empresrios e latifundirios, mas estes so fortes, quanto
aos pescadores de Novo Airo so fracos, esto longe dos centros decisrios de
poder e mercado, por isso desigual, o governo chega e faz, o resto impacto,
concretizado em conflito.
Para Lvque (1999: 172-173) em relao s reas protegidas e conflitos:
No entanto, a criao de reas protegidas, quando devem ser estabelecidas em zonas habitadas no ocorre sem colocar problemas humanos. Em certos casos, foi necessrio deslocar as populaes locais em que elas exerciam, anteriormente, suas atividades. Se Sentindo espoliadas, elas no so nada estimuladas a respeitar uma regulamentao que as administraes responsveis pela gesto dos parques e reservas tm, por outro lado, muita dificuldade em aplicar, por falta de meios suficientes. Esta situao conduz caa e, s vezes, a pesca ilegal e engendra, de vez em quando, verdadeiros conflitos sociais.
Em Novo Airo, a implantao de diversas unidades de conservao produziu
uma nova espacialidade dos espaos de uso e proteo com a criao ante ao
marco legal do iderio ambiental, em prejuzo ao modo de vida dos moradores que
so tratados genericamente como antrpicos. Com tal restruturao espacial foi
criado um novo conjunto de interesses e indignaes relacionados ao uso de
recursos naturais pelos modos de vida que compunham a base produtiva de vrias
atividades ligadas pesca (comrcio, gelo, combustvel, restaurantes entre outros).
Evidentemente os principais problemas so entre os pescadores (locais e de
outros lugares) e as normas da unidade de conservao, isto acontece devido s
proibies ao acesso e uso dos recursos pesqueiros, e como no h uma poltica ou
atividades complementares de renda que possam compensar os prejuzos causados
aos pescadores e comrcio ligados a pesca, fica o conflito, a tenso e at a fuga de
investimento do municpio para outro que no tem tantas unidades de conservao.
Muitos pescadores recusam obedecerem aos regulamentos da UC, e, como
impactos ocorre pesca ilegal, que se transformou em um problema em Novo Airo
e fica a pergunta, a pesca ilegal ento pescar socialmente justo, ainda que
ilegal?
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Metodologia e Tcnicas de Pesquisa
Na pesquisa para o mestrado, no criamos uma hiptese a priori para ser
comprovada ou refutada ao estilo do positivismo, produzimos uma hiptese
problemtica baseada em fatos empiricamente observados que justificaram a
identificao dos sujeitos e do objeto e tema da pesquisa, sem o uso de ideias pr-
concebidas fizemos o estudo com base no conhecimento da realidade estudada.
A pesquisa se fundamenta em procedimento emprico, trabalhos de campo, e
levando em conta as limitaes da autora, de acesso aos lugares, as dificuldades de
locomoo nos levaram a resultados que tenham sido possveis os objetivos, ainda
que, evidentemente, com limitaes.
Principalmente em relao ao trabalho de Campo, que em sua especificidade
tem um alto custo, devido o rea territorial ser bem extensa, porm, foram
combinadas com as visitas da Secretaria de Educao em ao conjunta com a
Secretaria de Produo do municpio de Novo Airo as reas mais longnquas.
Como foi o caso, de dois momentos importantes, como o perodo dos dias 29 de
Agosto de 2013 com as visitas nas Comunidades: Sobrado, Aracari e Bom Jesus do
Puduar, viagem breve, com durao de um dia.
E em outra viagem da Secretaria de Educao pelo Programa PNAIC- Plano
Nacional de Educao na Idade Certa, nos dias 5 a 6 de Novembro de 2013, com
visita as comunidades bem mais distantes, como os extremos do Norte do municpio,
como a Comunidade de Moura, Comunidade do Tanaua e Comunidade Deus me
Deu. Sendo que, essa viagem tem gastos que variam de R$ 800 a R$ 2.000. Por
serem realizadas de lancha, embarcao de alta velocidade e alto consumo de
combustvel, no caso gasolina e leo de dois tempos. E os demais trabalhos de
campo, foram realizados no Porto do Padre, local do atraco de vrios pescadores no
decorrer de cada dia. Ponto principal do encontro desses sujeitos sociais.
As categorias empricas foram identificadas como: campons haliutico,
pesca, unidade de conservao, conflitos, pois so recorrentes e estruturais no tema
e no lugar do estudo, com eles foi possvel montar uma relao de gnese e
processos, distribuio e organizao espacial e uso do territrio. Para tal, foram
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feitas leituras preliminares, trabalhos de campo, uso de questionrios
semielaborados, fotos, imagens de satlite e mapas.
Em Novo Airo, em meio resistncia para a realizao dos trabalhos com a
pesca, existe o Conflito (Diagrama I) como produto da interseco da relao
Sociedade e Natureza. E a partir desta realidade, iniciada a anlise.
Diagrama I. O Conflito enquanto produto da criao das UCs. No caso de Novo Airo, foi
criada e instituda pelo Estado, onde a autorizao ao exerccio da atividade da pesca
proibida. Desde sua gnese jurdica, caso seja uma UC de cunho Federal e de Proteo
Integral. Desde o momento em que se instituem as UCs, os espaos livres para a pesca,
mudam para espaos delimitados e vigiados, para a conservao e preservao dos recursos
naturais ali encontrados. Fonte: o Orientador e a autora (2014).
O conflito no unilateral. Segundo Boudon (1993) Os conflitos so as
manifestaes de antagonismos abertos entre dois atores (individuais ou coletivos)
de interesses momentaneamente incompatveis quanto posse ou a gesto de bens
raros - materiais ou simblicos.
O tipo de conflito existente em Novo Airo envolve a posio dos pescadores,
no caso, so contra as leis, logo, e conforme a classificao de Boudon (1993) o
conflito para com as leis. Para que ocorra mudana, ou pertinncia nas legislaes
e decretos das criaes das UCs existe essa resistncia, esse conflito, mas o
Estado por algum motivo se mostra executando uma gesto de fiscalizao, com
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poder de polcia ambiental como atividade de seus funcionrios. Sendo que, com a
extenso das UCs, praticamente impossvel uma fiscalizao integral, conforme
tratarei nos captulos seguintes.
Para o levantamento da realidade vivida pelos sujeitos sociais existentes
nesta rea de estudo, foram realizados trabalhos de campo que esto/so
associados aos levantamentos bibliogrficos, fundamentados em Santos (1984),
Oliveira (1996) e outros, e na realizao de roteiros de conversa ou entrevista no
estruturada.
Atravs dessas entrevistas, as informaes que os sujeitos e agentes sociais
relatam, compem a realidade vivida desses sujeitos sociais e como eles se
relacionam com as instituies do estado. Segundo Marx (2009):
A linguagem to velha como a conscincia: a conscincia real, prtica,
que existe tambm para outros homens e que, portanto existe igualmente s
para mim e, tal como a conscincia, s surge com a necessidade, s
exigncias dos contatos com os outros homens.
A metodologia utilizada para o desenvolvimento do referido estudo est
pautada no materialismo histrico e dialtico e em outra categoria, a formao scio
espacial, pois toda formao social suficientemente contraditria. (SANTOS, 2009.
p.20) No caso, pelo uso do territrio ficam identificveis territorialidades que
compem a espacializao da cadeia produtiva do pescado em Novo Airo - AM.
Estas territorialidades podem ser humanas ou de instituies do Estado, visto
que, a viso da paisagem depende de como o sujeito social ou do agente social a
concebe.
Para Raffestin (1993) a territorialidade adquire um valor bem particular, pois
reflete a multidimensionalidade do vivido territorial pelos membros de uma
coletividade, pelas sociedades em geral. So compostas por coletividades que se
expandem e exercem suas atividades em parcelas do territrio, no caso os territrios
de pesca, que so aqueles que abrangem as guas com maior ndice de
piscosidade, no caso os lagos.
Estes sujeitos sociais dinamizam essa espacializao atravs de sua faina
diria, do seu modo de vida, o qual em curto prazo tem que se reestruturar devido
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criao de Unidades de Conservao, das quais so entendidas segundo a Lei
9.982/2000 no Art. 2, Inciso I do SNUC/2000:
I - unidade de conservao: espao territorial e seus recursos ambientais,
incluindo as guas jurisdicionais, com caractersticas naturais relevantes,
legalmente institudo pelo Poder Pblico, com objetivos de conservao e
limites definidos, sob regime especial de administrao, ao qual se aplicam
garantias adequadas de proteo;( LEI 9.985, 18/7/2000.)
No caso de Novo Airo - AM, desde 1980, com a criao do Parque Nacional
do Ja, a primeira Unidade de Conservao de categoria de proteo Integral, a
qual foi criada pelo Decreto 85.200 de 24/09/1989 (conforme Anexo:103) com uma
rea de 2.272.000 ha, que foi considerada por alguns cientistas do INPA como uma
rea de relevncia biolgica, para a preservao e conservao (FVA, 2005), os
modos de vida daqueles que vivem da pesca, extrativismo e agricultura foram
impactados pela mudana da funo do espao de sua morada pelo status Unidade
de Conservao, sendo ele Parque, Estao Ecolgica, e etc. E essa transio tem
gerado conflitos.
Conflitos por leis que ocasionam injustias sociais, onde o Estado oprime
esses modos de vida, que tem seu ethos no uso dos recursos naturais, no caso a
retirada do pescado.
Impactados porque os Parques Nacionais no Estado Brasileiro tem por
finalidade a desocupao das populaes tradicionais, conforme Lei N.
9.985/2000 (SNUC), sendo que, em Novo Airo, desde 1989, ainda existem famlias
morando no Parque Nacional do Ja, das quais utilizam os recursos desta rea
como base de seu modo de vida, mas esta realidade no foi homognea, visto que,
muitas famlias foram expropriadas desta rea, e no foram devidamente
indenizadas.
Tal fato um indcio da Misantropia que as Unidades de Conservao, tem
inerentes em sua gnese, principalmente os parques nacionais.
O termo Misantropia vem do grego (misanthropia) e significa dio pela
humanidade. O misantropo aquele que no mostra preocupao em ter uma vida
social, isto , possui averso sociedade (Houaiss, 2007). Em nosso caso o ser
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humano excludo da natureza, ou uma natureza excluda e excludente do ser social.
(SANTOS, 2009)
As famlias retiradas do parque foram alocadas na sede do muncipio de Novo
Airo, no Bairro Murici e no Bairro Anavilhanas, e como ocorre/ocorreu em outros
lugares, os habitantes que tem em determinado lugar seu ethos acabam por no
encontrar na cidade o seu verdadeiro lugar de morada, e acabam se periferizando,
acometidos a pobreza, pois outrora eles retiravam seus recursos para materializao
da natureza, e perdendo esse meio de produo acabam por no administrar o novo
cotidiano, pela lgica e lugar diferentes que possuam outrora.
As Unidades de Conservao se dividem em quatro tipos, os quais so: as
federais, estaduais, municipais e particulares. reas de Proteo Integral
(permanente): que so os Parques Nacionais, Florestas Nacionais, Parques
Estaduais e Estaes Ecolgicas. As reas de uso direto e controlado como as
Reservas de Desenvolvimento Sustentvel, Reservas Extrativistas e etc.
Para Minayo (1993) na cincia ocidental, a cincia a forma hegemnica de
construo da realidade, no entanto, continuamos a fazer perguntas e a buscar
solues, perdendo espao para quem discute temas como a fome, que necessita
de uma fundamentao terico-metodolgica e de prxis. Buscar a compreenso da
realidade necessrio, e todo trabalho analtico tem sua importncia, a cadeia
produtiva do pescado, pela forma de como variados sujeitos sociais esto inseridos,
fundamental para o entendimento desta realidade.
A pesca continua a ser praticada, pela sua importncia na produo de
protena, essencial para a existncia humana, pois necessria a sobrevivncia,
um bem natural necessrio a todos, mas uma mercadoria: para saciar a fome, para
ter o pescado preciso dinheiro.
As organizaes dos pescadores em conjunto, se dividem entre o territrio da
pesca como territorialidade. Os pescadores constituem vrias territorialidades
distintas, territorialidades que atuam em conflito, que convergem em cotidianos
interligados pela produo do pescado e dinamizados pelas prticas de trabalho, o
uso comum de rios e lagos, so exemplos de como as ligaes Sociedade &
Natureza ocorre, ou seja, no existe materializao sem ter alguma produo para
efetivao de venda, trocas, e em Novo Airo (AM) o direito de pescar uma
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extensa discusso onde as Leis no so efetivadas e essas leis ocasionam enormes
injustias, desigualdades sociais e polticas, portanto espaciais.
Injustias sociais das quais no s os pescadores, mas madeireiros,
extrativistas, roceiros e demais profissionais tm de encarar como fato real e
contraditrio. E o que seria a ao das instituies como IBAMA e ICMBio seno
uma coero territorial de injustia social contraditria a labuta diria desses sujeitos
sociais. Sendo que, das mais variadas contradies o iderio de parque, rea de
proteo integral e ambiental o que estaria realmente protegendo? E os direitos dos
cidados e contribuintes de uma economia poltica de concretude e escala municipal
so superados pelo iderio ambientalista? Os peixes so somente necessrios para
a existncia de materialidade do mercado?
Segundo Soriano (2004) o Estabelecimento de objetivos parte fundamental
do estudo, pois os pontos de referncia ou assinalamentos que guiam o
desenvolvimento da pesquisa e a eles visam todos os esforos. Assim, analisar a
cadeia produtiva do pescado em Novo Airo (AM) e suas relaes espaciais e
econmicas com o municpio de Manacapuru (AM) para compreender a
espacialidade territorial do capital do pescado e seus processos sociais,
econmicos, espaciais, culturais, e a identificao das formaes sociais, espaciais,
econmicas, espaciais e culturais, possibilita a compreenso de que as Leis
Nacionais e Estaduais podem ocasionar injustias sociais.
A partir da anlise das entrevistas dos trabalhos de campo feitos
anteriormente ao mestrado (na bolsa de Iniciao Cientfica ITI-A; 2009/2011) foi
possvel identificar os distintos sujeitos sociais que movimentam a cadeia produtiva
da pesca, a forma como estes sujeitos se identificam, conforme suas atividades de
trabalho. Foi respeitada a classificao das divises de trabalho e das atividades
que esses exercem.
Para Foster (2005) o modo de produo no deve ser considerado
simplesmente a reproduo da existncia fsica destes indivduos, uma forma
definida de expressar a vida deles, um modo de vida definido da parte deles. Esta
pesquisa tem por base, a anlise dos modos de vida destes pescadores,
camponeses haliuticos e suas atividades de materializao a pesca.
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A cadeia produtiva do pescado em Novo Airo (AM) possui peculiaridades
que constituem territorialidades distintas, formando uma espacialidade de
contradies, tais fatos evidenciam a realidade dos sujeitos sociais e como estes
interagem para a produo de mercadoria. Conforme discusso do Captulo 2 deste
trabalho.
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Captulo 2 Tipologia dos Sujeitos Sociais que atuam na rea de
estudo.
2.1. Pescador de Caixinha (campons haliutico)
So pescadores profissionais, que detm dos objetos de produo, trazem
aproximadamente 300 peixes por campanha (vide Glossrio:103) e por utilizarem
caixas trmicas de isopor de 170 l ou geladeiras domesticas que no funcionam, a
denominao por eles mesmos a de Pescadores de Caixinha (Figura 3).
Figura 3: Embarcao de um pescador de caixinha no momento de sua chegada ao Porto do Padre.
Fonte: Trabalho de Campo, 07/07/2013.
Podem fazer parte ou no de associaes do pleito da luta dos pescadores
(Figura 4), porm, os que no possuem vnculos, ficam sem alguns benefcios
oferecidos pelo governo classe dos pescadores artesanais, pois com esse
conceito que o Ministrio de Pesca e Aquicultura (MPA) os reconhece, e quanto aos
benefcios, os que no so cadastrados ficam sem o seguro defeso (seguro
desemprego), sem ter como comprovar que trabalham e contribuem para o Instituto
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Nacional de Seguridade Social- INSS, isso prejudica na sua aposentadoria por idade
ou por tempo de trabalho como pescador, no se esquecendo de mencionar, que
segundo o Estado, a carteira de pescador profissional valida pesca do indivduo
em qualquer lugar, nas guas do territrio nacional.
Os associados da Colnia dos pescadores de Novo Airo AM 34 (CDP-
AM34), da Associao dos Pescadores de Novo Airo e do Sindicato dos
Pescadores do Estado do Amazonas, tem por direito pescar nos rios pertencentes
ao municpio de Novo Airo.
Figura 4. Produo do pescador de caixinha, este chegou a noite, morador de uma comunidade do interior do municpio de Novo Airo, e veio ao municpio para vender sua produo, como no tem parentes e nem casa no municpio eles dormiriam no seu barco enquanto estivessem na cidade, o pescador veio para se cadastrar na CDP AM-34, pois no tinha carteirinha de pescador profissional do MPA, segundo ele, no tinham queixas de perigo ao dormir no Porto do Padre. Trabalho de Campo: 24/02/2014.
No entanto, a pesca comercial proibida no Defeso das guas do Continente
(de 15 de Novembro a 15 de Maro) que o perodo de desova (reproduo) das
espcies de peixes (piracema) que segundo o MPA impactada com a retirada do
pescado em excesso.
Os pescadores de caixinha so donos dos meios de produo, os
instrumentos de produo como canoa que pode variar de 4 a 7 m, dependendo
das condies de trabalho -, caixa de isopor (ou geladeira sem o seu funcionamento
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eltrico), canios, linhas e anzis, varas de pesca profissionais para a pesca do
tucunar (Au, que tem um porte maior, que variam de 2 kg a 4,5 kg, dependendo
da isca, segundo os pescadores a penouca (vide Glossrio:104) a favorita, pois
engana melhor o peixe do que a isca vendida nas lojas de pesca), arpo (Glossrio:
103), zagaia (Glossrio: 105), malhadeiras (Glossrio: 104) de 45 a 50 mm, tarrafas
(Glossrio: 105), lanterna ou um holofote (vide Glossrio:104) que tem maior
potencia fotovoltaica e motores rabeta.
A pesca pode ser feita nos turnos do dia e da noite. Pela manh geralmente
o tempo de viagem at a rea de pesca (Glossrio: 103), que pode levar muitas
horas, de 6 a 10 h de viagem, pois quanto mais longe da sede melhor, pelo fato de
que mais distante, o que torna mais difcil a fiscalizao do IBAMA e ICMbio.
Quando se chegam s reas de pesca, iniciado o trabalho com a
distribuio de malhadeiras em partes de igap, e a pesca de canio nessas reas,
normalmente as mulheres e crianas so as que mais pescam de canio ou linha,
por ser designada uma atividade menos trabalhosa.
No caso das crianas, elas so iniciadas na labuta com a pesca
aproximadamente a partir dos 10 aos 12 anos de idade. Nos arredores da
propriedade do campo, ou da faixa que se encontra as margens do rio Negro na
cidade de Novo Airo - AM.
As cambadas (Figura 5, vide Glossrio:103) variam de R$ 8,00 a R$ 10,00.
Dependendo da qualidade do peixe, s que o termo qualidade no devido
aparncia do pescado, e sim pelo tipo, ou espcie.
Os camponeses haliuticos, geralmente preferem o tempo de peixe de
baixada, pois de maro a junho, os cardumes, vo at o encontro das guas
desovam e no vero (Amaznico), voltam para o Rio Negro. Pescam nas reas dos
rios Ja (PARNA); Rio Branco e Rio Jauperis.
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Figura 5: Produo de pescado de um campons haliutico, o peixe amarrado com o arum, que
uma planta da famlia das matantceas, com colme liso e reto, do qual possui uma fibra que serve
para amarrar os peixes pela boca, e deixa-los em conjunto para o comprador. Trabalho de Campo:
27/07/2013.
Os pescadores de caixinha possuem uma peculiaridade, porque
pescam e tambm lidam com o cultivo da terra. Pois, segundo Costa (2003):
Aqueles que vivem da pesca como modo de vida, so denominados como
Camponeses haliuticos, so uma classe social que utiliza a mo-de-obra
familiar na agricultura e nas atividades da pesca, sendo um policultor, no
assalaria, sua lgica no capitalista, no dependem exclusivamente da
pesca, mas tem nesta o ethos do seu modo de vida. (COSTA, 2003)
Os pescadores de caixinha ou camponeses haliuticos (Figura 6) dedicam
seu tempo de trabalho entre a pesca e agricultura.
O que os prejudica mediante ao Estado, pois dois sujeitos sociais ao
mesmo tempo, o Estado em suas categorizaes de trabalho, o reconhece apenas
por uma atividade de trabalho que exercem, por exemplo, se este cidado tiver a
carteira profissional de pescador, no poder ser associado de um sindicato de
trabalhadores rurais, e vice-versa.
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A modalidade de trabalho Pescador Profissional compete ao Ministrio de
Pesca e Aquicultura, e a modalidade de Agricultor Familiar, que como o
Ministrio do Abastecimento, Pecuria e Agricultura - MAPA o reconhece, so
Instituies do Estado especficas.
Figura 6: Campons haliutico, e sua produo em terra encoivarando na APA Margem
Direita do Rio Negro-Novo Airo, aqui ele possui a escritura de posse da terra. Fonte:
Trabalho de Campo: 11/09/2013
Para o Estado, ou se profissional de um ramo, ou de outro, mas, na
realidade no isso que ocorre com os camponeses haliuticos de Novo Airo.
So agricultores (policultores) e pescadores, e se organizam em manter as
duas atividades, devido sazonalidade dos rios, entre a seca, cheia, vazante do Rio
Negro.
Da produo em terra firme, os camponeses haliuticos trabalham em um
roado onde a maior parte da produo voltada para a mandioca (Figura 8), e a
respectiva produo de farinha de mandioca, farinha de tapioca, beijus de massa e
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goma, crura e retirada de fcula1. Tambm so cultivados, maxixe (Cucumis
anguria) (Figura 7), limo (Citrus limon), cupuau (Theobroma grandiflorum), milho
(Zea mays), macaxeira (Manihot palmata), feijo carioca (Phaseolus vulgaris), feijo
de praia (Canavalia rosea), diversas bananas (M. acuminata) como a nanica,
banana-pacov, banana-prata, banana-ma, laranja (Citrus aurantium), aa
(Euterpe oleracea), bacaba (Oenocarpos circumtextus), goiaba (Psidium guajava),
ing (Inga ssp.), caju (Anacardium occidentale), cacau (Theobroma cacao), cana-de-
acar (Saccharum officinarum) para produo de mel e de garapa, abacate (Persea
americana), abacaxi (Ananas comosus), manga (Mangifera indica L.), melancia
(Citrullus lanatus), jerimum (Cucurbita pepo) (abbora), mamo (Carica papaya),
tucum (Astrocaryum aculeatum), Tapau, coco (Cocos nucifera), maracuj
(Passiflora edulis), pimenta de cheiro (Capsicum ssp.), pimenta malagueta
(Capsicum annuum L.), pimenta murupi (Capsicum ssp.), pimento (Capsicum ssp.),
e canteiros para produo de cheiro verde (C. sativum), chicria do Amazonas
(Cichorium endivia) e cebolinha de palha (Allium fistulosum). Produzem carvo
vegetal para consumo e venda.
E o cultivo de algumas plantas medicinais como: capim santo, cidreira, boldo,
pobre-velho, babosa e mantm em p em sua propriedade algumas rvores de
grande porte que tambm servem como remdios, como a: carapanaba (casca da
rvore), castanha-do-brasil, andiroba, sucuba (sua seiva) e etc.
Das espcies que pescam, est includa: os peixes de escama: Tambaqui
(Colossoma macropomum), Acar-Cascudo (Caquetaia spectabilis), Acar-Bararu
(Uaru amphiacanthoides), Acar-Au (Astronotus ocellatus), Baru (Astronotus
crassipinnis), Acar-Jarupari (Satanoperca jurupari), Tucunar-Boto (Cichla spp.),
Tucunar-Paca (Cichla spp.), Tucunar-Au (Cichla spp.), Jacund (Crenicichla
spp.), Matrinx (Brycon amazonicus), Jaraqui (Prochilodus brama), Curimat (), Pacu
Vermelho (Mylossoma spp), Pacu Branco (Mylossoma spp), Sardinha, Sardinho,
Aruan Branca (Osteoglossum bicirrhosum), Aruan Preta (Osteoglossum ferreirai),
Pescada (Plagioscion spp.), Piranha-Branca (Serrasalmus brandti), Piranha-Preta
(Serrasalmus rhombeus), Barbado Barba-chata (Pirinampus pirinampu), Trara (
1 Os termos regionais que aparecem em itlico, esto com seus significados no Glossrio, a partir da pgina
103, aps as Referncias.
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Hoplias malabaricus), Leporinus fasciatus) ou Aracu (Leporinus friderici), Camunrio,
e os Bagres (peixes lisos): Piramutada (Phractocephalus hemioliopterus), Dourado e
Surubim.
Figura 7. Enquanto a roa de mandioca cresce, eles plantam entre elas o maxixe (planta de cultura temporria assim como a roa, ou outras espcies, como melancia, abacaxi e etc.), por conta de seus frutos comestveis, que podem ser vendidos ou consumidos pelos prprios camponeses haliuticos, dependendo da demanda que este decidir. Trabalho de Campo: 11/09/2013.
Dessas espcies, os acars (Astronotus crassipinnis) e tucunars (Cichla
spp.), so os mais utilizados na alimentao das crianas, pois possuem poucas
espinhas nos membros, como a forma de como as crianas, so iniciadas no ato de
catar o peixe (vide Glossrio: 103) para comer, sendo ele cozido, frito ou assado. E
conforme a criana vai crescendo o seu domnio de catar outros peixes vai se
aprimorando.
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Figura 8. O roado, com covas recentes, esta parcela de terra foi encoivarada, e o
plantio sempre moderado, e parcelado, para que se tenha mandioca para a produo de
farinha para o ano inteiro. Fonte: Trabalho de Campo: 11/09/2013.
2.2. Pescador cotista
Pescadores que no possuem os instrumentos de trabalho vendem sua fora
de trabalho, (vide Figura 9) para continuar se (re) produzindo social e materialmente
na sociedade, trabalham nos barcos de Atravessadores ou de Armadores de Pesca.
Geralmente sua campanha tem durao de 15 a 20 dias, pelo fato de estarem
acompanhados de um barco geleiro, ou seja, um barco que possui uma rea interior
que pode armazenar de 4 a 8 toneladas entre gelo e pescado.
Estes barcos se encaminham as reas de pesca, e levam consigo canoas
(variam de 2 a 4 embarcaes de mdio porte). Visto que, h lagos onde a
passagem deste barco impossibilitada pela profundidade do canal em seu leito
principal (talvegue) geralmente na seca, que pode ocasionar encalhamentos. E
deixam em locais pontuais os pescadores cotistas (pescador por cota parte) em
lagos mais piscoso, para que estes iniciem sua pescaria e conforme a produo de
mercadoria in natura, os salrios sero pagos.
Os barcos tem uma tripulao de aproximadamente nove pessoas, incluindo o
prtico, que o comandante da embarcao. Essa campanha pode durar menos
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dias, caso encontrem em sua rota, pescadores com produo in natura, que estejam
dispostos a vender para o Atravessador ou Armador de Pesca.
Nesse processo de pesca e assalariamento, os pesc