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Universidade do Vale do Paraíba Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento VIVIANE GADRET BÓRIO CONCEIÇÃO ANÁLISE QUANTITATIVA DE PARACETAMOL POR ESPECTROSCOPIA RAMAN DISPERSIVA São José dos Campos 2009

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Universidade do Vale do Paraíba Instituto de Pesquisa e Desenvolvimento

VIVIANE GADRET BÓRIO CONCEIÇÃO

ANÁLISE QUANTITATIVA DE PARACETAMOL POR ESPECTROSCOPIA

RAMAN DISPERSIVA

São José dos Campos 2009

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Viviane Gadret Bório Conceição

ANÁLISE QUANTITATIVA DE PARACETAMOL POR ESPECTROSCOPIA RAMAN DISPERSIVA

Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Biomédica, como complementação dos créditos necessários para obtenção do título de Mestre em Engenharia Biomédica.

Orientador: Prof. Dr. Landulfo Silveira Junior Orientadora: Profª. Drª. Renata Amadei Nicolau

São José dos Campos, SP 2009

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C745a

Conceição, Mviane Gadret BÓtiolnátise quantitativa de paracetamol por espectroscopia Raman dispersiva

/ Viviane Gadret Bório Conceição. Orien{adores: Prof. Dr- Landulfo SilveiraJunior, Renata AmadeiNicolau. São Jose dos Campos, 2009.

ldisco laser: color.

Dssertaçãoãpresentada ao Programa de Pós*Graduação em EngenharìaBiomédica do lnslituto de Pesquisa e Desenvolvimento da Universidade doVale do Paraíba, 2009.

1. lrrdústria farmacêúica 2. AcètâÍninofen 3. Análise Espectral Raman l.Silveira Junior, LanduÌfo, OÍiênt.ll. Nicolau, Renata Amadei Orient. lll Título

CDU:543.42

Ar:torizo, exclusiyaÍnente para {ins acadêmicos e cien-tíftcos, a ÍepÍoduçãototal ou parcial desta dissertação, por processos fotocopiadores outransmissão eletrônica, desde que citada a fonte,

Aluno: ú'*'av^c ff[ C**ío-íI t

t l ^Data: e,5 log I a,ug

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VIVIANE GADRET BÓRIO CONCEIÇÃO

,6ANTILISE QUAÌ\TITATM DE PARACETAMOL POR ESPECTROSCOPIA RAMAI\

DISPERSTvA''

Dissertação aprovada como requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em Engenharia

Biomédica, do Programa de Pós-Graduação em Engeúaria Biomédica, do Instituto de Pesquisa

e Desenvolvimento da Universidade do Vale do Paraíba, São José dos Campos, SP, pela seguinte

banca examinadora:

Prof. Dra. RENATA AMADEI NICOLAU (UNIVAP)

Prof. Dr. LANDULFO SILVEIRA JIINIOR GTNICAS

Prof. Dr. WELLINGTON RIBEIRO (UNIVAP)

Prof. Dra. MARIA JOSÉ VIEIRA FONSECA (USP) ì

Prof. Dra. Sandra Maria Fonseca da Costa

Diretor do IP&D - UniVap

São José dos Campos, 17 de agosto de2009.

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Dedico este trabalho ao meu amado filho Otávio que, mesmo privado do

aconchego do meu colo, nas horas em que tudo parecia ser tão difícil,

mostrava-me com aquele sorriso doce o quanto tudo era simples.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente agradeço a Deus, sem o qual eu não teria forças para

concluir este trabalho.

Ao professor Dr. Landulfo Silveira Junior, meu mestre, meu orientador,

meu amigo. Obrigada pela dedicação e entusiasmo pelos quais me conduziu

neste trabalho. Só mesmo alguém tão sábio e apaixonado pelo que faz teria

sido tão brilhante.

À professora Drª Renata Amadei Nicolau por me receber no IP&D, por

me incentivar a entrar no mundo da pesquisa e por me orientar. Agradeço pela

dedicação e excelentes explicações e contribuições que deu aos meus

trabalhos, colocando cada palavra no seu exato lugar.

Ao prof. Dr. Carlos José de Lima por ter gentilmente disponibilizado o

cabo de fibras ópticas para este e outros experimentos.

Ao Rubens Vinha Jr, fundamentalmente um dos maiores incentivadores

e colaboradores deste trabalho, por ter me recebido sempre e me orientado

tantas vezes. Agradeço muito pelas amostras concedidas. Ao Rafael Cachiba e

ao Marcelo Martins, que me cederam seu tempo requisitando, preparando e

analisando as amostras utilizadas, e a Naissa Previde Bernardo pelas

discussões muito proveitosas.

A UNIVAP, incluindo aqui todos os funcionários, diretores e professores,

em especial ao Prof. Dr. Wellington Ribeiro por me fazer gostar ainda mais de

farmacologia.

A CAPES/PROSUP pela bolsa de estudos concedida.

Às minha família que, mesmo longe ou até virtualmente, soube se fazer

presente da forma mais bonita que pode. Em especial à Lúcia Rizzolo,

excelente professora de português, minha madrinha querida e amada, pela

grande ajuda ao corrigir este texto durante suas férias! Pai e mãe, agradeço a

vocês por me presentearem com as coisas mais nobres que um filho pode

receber: amor e educação.

Ao Sandro, meu marido, que nas horas mais angustiantes soube

transmitir seu amor com atos e palavras. Obrigada por ser tão amável,

inteligente, incentivador, inspirador, companheiro e principalmente por acreditar

na minha capacidade... e me fazer acreditar nela.

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ANÁLISE QUANTITATIVA DE PARACETAMOL POR ESPECTROSCOPIA RAMAN DISPERSIVA

RESUMO

Este trabalho objetivou quantificar o paracetamol em uma formulação comercial líquida apresentando valor nominal de 200 mg/mL por Espectroscopia Raman Dispersiva (ER/PLS) ao utilizar laser de diodo e cabo de fibras ópticas. Para tanto, construiu-se uma curva de calibração com espectros coletados de amostras de paracetamol em placebo com concentrações crescentes e conhecidas, cedidas pelo fabricante do medicamento. A concentração de cada uma das soluções cedidas foi comparada com a respectiva concentração nominal. Verificou-se, ainda, se a ER, como técnica analítica de controle de qualidade, atende aos critérios da ANVISA para validação e se satisfaz as recomendações do guia PAT. As figuras de mérito preconizadas pela ANVISA, como linearidade, exatidão, precisão e especificidade foram calculadas, obtendo-se resultados alentadores, mostrando ser passível de validação. Concluiu-se, finalmente, que o método atende aos parâmetros de agilidade e confiabilidade recomendados pelo guia PAT, influenciado positivamente pelo uso do laser semicondutor e do cabo de fibras ópticas que trouxeram adequada estabilidade ao sistema.

Palavras chave: Espectroscopia Raman. Paracetamol. PLS. ANVISA.

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QUANTITATIVE ANALYSIS OF ACETAMINOPHEN BY DISPERSIVE RAMAN SPPECTROSCOPY

ABSTRACT

The aim of this study was to quantify the acetaminophen in a liquid commercial formulation with concentration of 200 mg/mL by Dispersive Raman Spectroscopy using diode laser and optical fiber cable. A calibration curve was determined with the spectra collected from acetaminophen solution samples in placebo with rising and known concentrations supplied by the drug manufacturer, and compared with each theoretical concentration. Further it was verified if the ER method, as an analytical technique applied on quality control, complies with the ANVISA validation requirements, and follows the recommendations from the PAT guide. It was calculated the linearity, accuracy, precision and specificity as recommended by ANVISA and appropriate results were obtained, showing this method is capable of being validated. Finally it was concluded that the method comply with the agility and reliability parameters suggested by the PAT guide, influenced positively by the use of semiconductor laser and optical fiber cable that have brought a reasonable stability to the system.

Key words: Raman Spectroscopy. Acetaminophen. PLS. ANVISA.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 13

1.1 Indústria farmacêutica e controle de qualidade.................................. 13 1.2 Tecnologia de Processos Analíticos .................................................. 13 1.3 Resolução 899/03 - ANVISA.............................................................. 14

1.3.1 Intervalo ...................................................................................... 15 1.3.2 Especificidade............................................................................. 15 1.3.3 Linearidade ................................................................................. 15 1.3.4 Precisão...................................................................................... 16 1.3.5 Exatidão...................................................................................... 16 1.3.6 Robustez..................................................................................... 16

1.4 Espectroscopia Raman ...................................................................... 17 1.4.1 Efeito Raman .............................................................................. 18 1.4.2 Espectroscopia Raman e indústria farmacêutica: Revisão da literatura 19

1.5 Paracetamol....................................................................................... 22 1.6 Quimiometria...................................................................................... 24

2 OBJETIVOS.............................................................................................. 26

3 MATERIAL E MÉTODOS ......................................................................... 27

3.1 Amostras utilizadas ............................................................................ 27 3.2 Espectrômetro utilizado na obtenção dos espectros Raman do paracetamol .................................................................................................. 29 3.3 Pré-processamento............................................................................ 32 3.4 Obtenção da curva de calibração ...................................................... 33 3.5 Validação ........................................................................................... 35 3.6 Obtenção das figuras de mérito preconizadas pela ANVISA ............. 36

3.6.1 Intervalo ...................................................................................... 36 3.6.2 Seletividade e especificidade...................................................... 36 3.6.3 Linearidade ................................................................................. 36 3.6.4 Precisão intracorrida (repetibilidade) .......................................... 37 3.6.5 Exatidão...................................................................................... 37

4 RESULTADOS ......................................................................................... 39

4.1 Espectro do paracetamol ................................................................... 39 4.2 Espectro do polietilenoglicol............................................................... 40 4.3 Comparação entre os espectros do polietilenoglicol puro e do placebo 40 4.4 Espectros Raman com as variações de concentração em torno do medicamento estudado................................................................................. 42 4.5 Obtenção do modelo de calibração PLS e validação......................... 42 4.6 PLS de validação do método com espectros de lotes comerciais do medicamento de referência .......................................................................... 44

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4.7 Figuras de mérito ANVISA ................................................................. 46 4.7.1 Intervalo ...................................................................................... 46 4.7.2 Seletividade e especificidade da técnica .................................... 46 4.7.3 Linearidade ................................................................................. 46 4.7.4 Precisão (repetibilidade) ............................................................. 47 4.7.5 Exatidão...................................................................................... 50

5 DISCUSSÃO............................................................................................. 51

6 CONCLUSÕES......................................................................................... 57

REFERÊNCIAS................................................................................................ 58

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Estrutura química do paracetamol................................................... 23

Figura 2 - Espectro Raman do polietilenoglicol. Fonte: SIGMA ALDRICH48 - Traduzido pela autora. ..................................................................................... 27

Figura 3 - Diagrama esquemático do sistema Raman dispersivo acoplado ao cabo de fibras ópticas utilizado na coleta dos espectros Raman. .................... 30

Figura 4 – Detalhe mostrando o cabo de fibras ópticas imerso na cubeta contendo amostra............................................................................................. 31

Figura 5 - Espectro Raman do paracetamol (acetaminofen) Fonte: SIGMA ALDRICH51 . Traduzido pela autora.................................................................. 31

Figura 6 – Gráfico demonstrando os erros padrão de predição (SEP) obtidos com diferentes números de variáveis latentes. ................................................ 35

Figura 7 – Espectro do paracetamol (deslocado 3 u.a. no eixo vertical), da solução de placebo com paracetamol (sol G – deslocada 1 u.a. no eixo vertical) e da solução de placebo (sol J)........................................................................ 39

Figura 8 – Espectro do paracetamol obtido indiretamente e seus principais picos. ................................................................................................................ 40

Figura 9 – Espectro do polietilenoglicol, da solução de polietilenoglicol com paracetamol (deslocado 1 u.a. no eixo vertical), e do paracetamol isolado (deslocado 3 u.a. no eixo vertical).................................................................... 41

Figura 10 – Espectros do polietilenoglicol e do placebo................................... 41

Figura 11 – Espectros Raman das soluções de A a I, com suas respectivas concentrações de paracetamol. ....................................................................... 42

Figura 12 –: Resultado da predição das concentrações do grupo 2 (validação) utilizando modelo PLS com 1 lv comparados com as concentrações nominais das diluições..................................................................................................... 43

Figura 13 – Espectros Raman dos medicamentos comerciais e do desvio padrão. ............................................................................................................. 45

Figura 14 – Quantidades em mg/mL de paracetamol em cada amostra pelos métodos ER/PLS (∆) e NIRS (●). Valor nominal (_.._.._) do paracetamol. ...... 45

Figura 15 – Curva padrão de linearidade com as concentrações obtidas ER/PLS referentes às concentrações nominais das 5 soluções. ..................... 47

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Classificação dos testes, segundo sua finalidade .......................... 15

Tabela 2 – Grupamentos responsáveis pelos principais picos Raman do paracetamol e vibrações relativas a cada um deles......................................... 24

Tabela 3 – Soluções utilizadas e suas respectivas concentrações nominais de paracetamol (em % e mg/mL) e veículos ......................................................... 28

Tabela 4 – Valores de concentração predita utilizando 1 lv tendo como referência as concentrações nominais. Em função do mean subtracting, os valores de concentração são referenciados a partir da relação 100% (200 mg/mL) = 0. ...................................................................................................... 43

Tabela 5 – Quantidades calculadas por ER/PLS e por NIRS........................... 44

Tabela 6 – Concentrações das soluções e erro de previsão............................ 46

Tabela 7 – Concentrações nominais de paracetamol e obtidas por ER/PLS. .. 47

Tabela 8 – Precisão: Soluções de concentração baixa (H): 80%..................... 48

Tabela 9 – Precisão: Soluções de concentração média (G): 100% ................. 48

Tabela 10 – Precisão: Soluções de concentração alta (E): 120%.................... 49

Tabela 11 – Precisão: Soluções de concentração alta (E): 120%, sem o outlier......................................................................................................................... 49

Tabela 12 – Resultados do cálculo de exatidão. .............................................. 50

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1 Introdução

1.1 Indústria farmacêutica e controle de qualidade

A farmacotécnica industrial é a área da farmácia responsável pela

transformação de matérias-primas em produtos finais. É importante ressaltar que o

setor do controle de qualidade destes produtos tem se tornado cada vez mais

representativo, e a determinação do teor do princípio-ativo no medicamento final em

tempo real tem sido bastante requerida.

No controle de qualidade, a maioria dos métodos analíticos fundamentados

em técnicas instrumentais são relativamente demorados e dispendiosos, como a

Cromatografia Líquida de Alta Performance ou High Performance Liquid

Chromatography (HPLC),1 o que impossibilita o estabelecimento de análises rápidas.

Cabe relatar que as técnicas analíticas evoluem de acordo com a necessidade da

época. Baseado nisso, a Food and Drug Administration (FDA) lançou no ano de

2004 o Guia PAT (Process Analytical Technology), no qual é preconizada a análise

em tempo real.

O desenvolvimento de novas tecnologias voltadas para a produção e controle

de fármacos e medicamentos tem objetivado grande interesse em centros de ensino

e pesquisa. A expansão de tecnologia de rápida incorporação no mercado

farmacêutico se faz necessária, contudo, o franco desenvolvimento não se reflete

proporcionalmente em valores econômicos e sociais.2

1.2 Tecnologia de Processos Analíticos

A Tecnologia de Processos Analíticos (do inglês Process Analytical

Technology - PAT) está em desenvolvimento na indústria farmacêutica, promovendo

estratégias para o controle dos processos de produção. Por definição da FDA, o guia

PAT é constituído de sistemas para análise e controle dos processamentos dos

parâmetros da qualidade e atributos críticos do desempenho de materiais. O guia

visa assegurar qualidade aceitável do produto durante todo o processo de

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fabricação.3 O anúncio do guia PAT pela FDA no ano de 2004 alertou para a

necessidade de aumentar as investigações de metodologias analíticas novas e

rápidas para medições em tempo real. Um instrumento para o PAT é a

Espectroscopia Raman Dispersiva.4

1.3 Resolução 899/03 - ANVISA

Devido ao aumento no número de novos equipamentos e sistemas para

controle de qualidade de medicamentos, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária

(ANVISA) criou resoluções a fim de regulamentar tais metodologias e equipamentos,

referindo-se à validação de métodos analíticos.

A primeira resolução (RE) a dispor sobre o assunto foi a RE Nº 475 de 19 de

março de 2002, a qual fora revogada pela RE Nº 899 de 23 de maio de 2003,

estando esta em vigor até o presente. Segundo a ANVISA, as informações ali

contidas apresentam as características a serem consideradas durante a validação

de procedimentos analíticos.5

O objetivo de uma validação é demonstrar que o método é apropriado para a

finalidade pretendida, ou seja, a determinação qualitativa, semiquantitativa e/ou

quantitativa de fármacos e outras substâncias em produtos farmacêuticos. Uma

validação deve garantir, por meio de estudos experimentais, que o método atenda

às exigências das aplicações analíticas, assegurando a confiabilidade dos

resultados. Para tal, deve apresentar especificidade, linearidade, intervalo, precisão

(repetibilidade), sensibilidade, robustez, exatidão, limite de detecção e quantificação

adequadas à análise.5 Os testes, segundo sua finalidade, são classificados em

quatro categorias distintas (Tabela 1).

Para cada categoria é exigido um conjunto de testes. A validação de métodos

de quantificação de fármacos pode ser realizada aplicando-se a categoria I. Para a

categoria I as figuras de mérito exigidas são: intervalo, especificidade, linearidade,

precisão, exatidão e robustez. 5

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Tabela 1 – Classificação dos testes, segundo sua finalidade

Categoria Finalidade do teste I Testes quantitativos para a determinação do princípio ativo em

produtos farmacêuticos ou matérias-primas II Testes quantitativos ou ensaio limite para a determinação de

impurezas e produtos de degradação em produtos farmacêuticos e matérias-primas

III Testes de performance IV Testes de identificação

1.3.1 Intervalo

O intervalo especificado é a faixa entre os limites de quantificação superior e

inferior de um método analítico. Para determinações quantitativas do analito em

matérias-primas ou em formas farmacêuticas, é indicada a análise das substâncias

nas concentrações de 80% a 120% da concentração nominal do teste. 5

1.3.2 Especificidade

É a capacidade que o método possui de medir exatamente um composto em

presença de outros componentes tais como impurezas, produtos de degradação e

componentes da matriz. Para análise quantitativa (teor de princípio ativo), a

especificidade pode ser determinada pela comparação dos resultados obtidos de

amostras do fármaco contaminadas com quantidades apropriadas de impurezas ou

excipientes e amostras não contaminadas, a fim de demonstrar que o resultado do

teste não é afetado por esses materiais. 5

1.3.3 Linearidade

É a capacidade de uma metodologia analítica de demonstrar se há

proporcionalidade entre os resultados obtidos e as concentrações do analito na

amostra, dentro de um intervalo especificado. Recomenda-se que seja determinada

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pela análise de, no mínimo, 5 concentrações diferentes. Essas concentrações

devem seguir os intervalos já estabelecidos. 5

1.3.4 Precisão

É a avaliação da proximidade dos resultados obtidos em uma série de

medidas de múltipla amostragem de uma mesma amostra. Para a determinação dos

níveis de precisão é necessário testar a repetibilidade e a precisão intermediária. A

repetibilidade (precisão intracorrida) se traduz na concordância entre os resultados

dentro de um curto período de tempo com o mesmo analista e mesma

instrumentação. Verifica-se por, no mínimo, 9 determinações contemplando o

intervalo linear do método, ou seja, 3 concentrações (baixa, média e alta) com 3

réplicas cada, ou mínimo de 6 determinações a 100 % da concentração nominal do

teste. 5

1.3.5 Exatidão

É a proximidade dos resultados obtidos pelo método em estudo em relação

ao valor verdadeiro (padrão). Para a análise de formas farmacêuticas adicionam-se

quantidades conhecidas de fármaco às misturas dos componentes do medicamento,

ou seja, faz-se “placebos contaminados”. A exatidão deve ser determinada após o

estabelecimento da linearidade e da especificidade do método, sendo verificada a

partir de, no mínimo, 9 determinações contemplando o intervalo linear do

procedimento, ou seja, 3 concentrações (baixa, média e alta) com 3 réplicas de

cada. 5

1.3.6 Robustez

É a medida da capacidade do método em resistir a pequenas e deliberadas

variações dos parâmetros analíticos. Indica sua confiança durante o uso normal. A

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robustez deve ser avaliada durante o desenvolvimento da metodologia.

Constatando-se a susceptibilidade do método às variações nas condições analíticas

como variação do potencial hidrogeniônico (pH) da solução, temperatura, entre

outros, estas deverão ser controladas e precauções devem ser incluídas no

procedimento. 5

Os métodos atualmente utilizados no controle de qualidade de analgésicos

(ex.: paracetamol) são vários, dentre eles: métodos cromatográficos (cromatografia

de camada delgada, cromatografia líquida miscelar, cromatografia líquida de alta

eficiência, cromatografia de injeção sequencial), métodos eletroanalíticos, métodos

de eletroforese capilar e métodos ópticos (espectrofotometria de absorção no

infravermelho próximo, no Ultravioleta-visível ou multivariada, espectrofluorimetria,

quimioluminescência.6

1.4 Espectroscopia Raman

A espectroscopia Raman (ER) tem sido empregada em análises

farmacêuticas, apresentando inúmeras vantagens em relação aos métodos

convencionais, principalmente pelo fato de ser uma técnica rápida e não destrutiva.

Permite identificar ativos farmacêuticos, assim como outras substâncias presentes

nas formulações, sem necessidade de tratamento prévio das amostras.7 O interesse

por técnicas confiáveis e mais ágeis, com custo reduzido, visando à determinação

de teores em fármacos, é uma constante na área.8

As duas técnicas mais utilizadas para a obtenção do espectro Raman são:

espectroscopia Raman dispersiva e Raman por transformada de Fourier (FT-

Raman). A diferença entre elas está no comprimento de onda do laser utilizado e na

maneira como o espalhamento Raman é detectado e analisado. Cada técnica

apresenta vantagens únicas e a escolha do método ideal depende da amostra em

questão. As vantagens oferecidas pela espectroscopia Raman têm feito desta

técnica uma das mais atrativas na determinação qualitativa e quantitativa de

medicamentos. Muitas formas farmacêuticas têm sido qualificadas e quantificadas

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por este método, como: comprimidos, tabletes, cápsulas, soluções, suspensões,

injetáveis, entre outros.9

1.4.1 Efeito Raman

O efeito Raman é um processo fundamental de troca de energia ocorrida da

interação entre a luz e a matéria. Quando a luz incide sobre uma substância, ela

poderá sofrer diversos efeitos. No que se refere ao espalhamento da luz, a maior

parte da radiação retorna com o mesmo comprimento de onda que a luz incidente e

este fenômeno é denominado espalhamento Rayleigh (elástico). Todavia, uma

pequena fração pode interferir no estado vibracional da molécula e, sendo a energia

da radiação proporcional à frequência, a mudança na frequência da luz espalhada

deve ser a frequência vibracional das moléculas (espalhamento inelástico). Esse

processo de troca de energia entre moléculas e a luz incidente é conhecido como

efeito Raman. Quando a energia do fóton incidente diminui após a interação com a

matéria, o processo é conhecido por Raman Stokes, e quando aumenta

(significando que roubou energia da matéria) é conhecido como Raman Anti-

Stokes.10 Em temperatura ambiente a maioria das moléculas se encontra no estado

fundamental e a minoria no estado excitado. Sendo assim, o efeito Raman obtido é

geralmente do tipo Stokes. É importante salientar que o espalhamento inelástico

aparece na razão de aproximadamente um fóton por milhão (0,0001%), tornando

sua detecção possível apenas com detectores de alta sensibilidade.11

O espalhamento Raman pode ser visto como uma transição da molécula do

seu estado de repouso para o estado vibracional excitado, acompanhado de

absorção simultânea do fóton incidente e da emissão do fóton espalhado. Tal efeito

da luz pode ser coletado por um espectrômetro e visualizado como um espectro, na

qual a intensidade é obtida em função da mudança da frequência induzida pela

vibração molecular. Como cada tipo de molécula tem sua própria energia de

vibração, o espectro Raman de cada espécie consistirá de picos ou bandas

deslocados para cada uma das frequências vibracionais características daquela

molécula. 10

A principal limitação da Espectroscopia Raman é a fluorescência, processo

que compete com o espalhamento Raman devido à absorção e consequente

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decaimento das bandas eletrônicas dos átomos, pois pode interferir na detecção do

sinal Raman que é muito fraco. Porém, esse fenômeno pode ser contornado quando

da escolha de uma fonte laser com comprimento de onda longo, como na região

espectral do infravermelho próximo.12

1.4.2 Espectroscopia Raman e indústria farmacêutica: Revisão da literatura

O método ideal de controle de qualidade para produtos farmacêuticos deve

ser capaz de testar medicamentos de forma não destrutiva. A espectroscopia

Raman dispersiva no infravermelho próximo pode ser empregada de forma direta na

determinação do conteúdo de cápsulas, ou através do blister original. Niemczyk et

al. determinaram a dosagem de bucindolol pelas duas formas e observaram

espectros idênticos, porém com menor intensidade no espectro obtido através do

blister devido a perdas por reflexão da radiação incidente sobre as curvaturas da

parede do invólucro.13 Segundo Kim et al. a possibilidade de determinação de ativos

sem violar os frascos plásticos ou de vidro pode ser problemática devido às

variações entre as paredes dos mesmos, além do posicionamento de cada invólucro

no experimento. Porém, métodos de iluminação em área maior, reduzem o erro de

amostragem da parede do frasco, aumentando a reprodutibilidade e confiabilidade

das análises.14

A água apresenta um fraco espalhamento Raman na região de análise

espectral de compostos orgânicos (entre 600 e 1800 cm-1), não gerando alterações

significativas no espectro. Em consequência disso, medidas espectrais de fármacos

em meio aquoso podem ser realizadas utilizando excitação no infravermelho

próximo. De Beer et al determinaram o conteúdo do acetato de medroxiprogesterona

(MPA) por meio de FT-Raman das amostras e em seguida por HPLC. Concluíram

que o FT-Raman é mais preciso na quantificação do MPA em suspensão aquosa

quando comparado ao método HPLC, visto que este último requer o preparo das

amostras e conhecimento do volume exato da suspensão e sua densidade, o que

pode induzir a erros.15

De acordo com esta característica da água, o diclofenaco de sódio (DS) foi

quantificado em diversas diluições pelo sistema Raman dispersivo de bancada e

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20

pelo sistema Raman dispersivo portátil, utilizando fibras ópticas. A técnica mostrou-

se fiel devido às intensidades dos espectros obtidos estarem correlacionadas às

concentrações do DS de cada diluição. Comparando-se o sistema portátil com o de

bancada, obteve-se semelhança de resultados, mesmo com a utilização do cabo de

fibras ópticas pelo sistema portátil.16

Segundo Mazurek et al. não é comum encontrar estudos de quantificação de

fármacos com concentração inferior a 10% pela ER. Da mesma forma, estudos de

soluções injetáveis são especialmente raros, visto que necessitam preferencialmente

ser realizados nos recipientes originais. Os autores quantificaram soluções

comerciais injetáveis, contendo 2,4% de DS e 2,4% de aminofilina, por FT-Raman.17

Ainda se tratando de quantificação de fármacos em medicamentos de baixa

concentração, Mazurek et al. testaram o potencial de quantificação da FT-Raman

em sistemas contendo de 10-20% da substância ativa. Utilizaram tabletes de

prednisolona e captopril e criaram um modelo de calibração multivariada. Por este

estudo confirmaram o potencial da espectroscopia FT-Raman combinada com

modelo de calibração multivariado para este fim.18

Orkoula et al. compararam FT-Raman com HPLC em relação aos requisitos

de validação de métodos analíticos: linearidade, exatidão, precisão, LOD e LOQ.

Quantificaram o hidrocloridrato de difenidramina (DPH) no Benadryl (elixir). O

resultado obtido com as duas técnicas foi praticamente o mesmo. O HPLC

apresentou menor LOD quando comparado ao FT-Raman, porém, o último pode ser

empregado sem necessidade de preparo de amostra e de forma não destrutiva. Os

autores concluíram que a técnica FT-Raman é uma boa ferramenta para a indústria

na determinação e monitorização da presença do princípio ativo.19

Zhihong et al. estudaram o espectro Raman de soluções supersaturadas de

boratos durante acidificação/alcalinização e diluição, a fim de conhecer mais

profundamente o comportamento químico dos sais em soluções aquosas.

Demonstraram a influência da diluição nos picos do espectro, devido à ocorrência de

polimerização/despolimerização. Demonstraram, ainda, os picos relativos a cada

grupamento químico. Concluíram que a ER também é válida na verificação do

comportamento químico de compostos em solução.20

Muitos estudos quantitativos utilizando espectros Raman têm determinado

ativos em misturas líquidas. Sato-Berrú et al. desenvolveram uma expressão

matemática que relaciona a intensidade de um determinado pico Raman com a

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21

respectiva concentração do fármaco em líquidos puros ou em misturas, tornando

possível a análise quantitativa. Os autores verificaram que quanto maior o número

de solventes misturados maior o nível de erro de predição. Tal desvio é uma

provável interação dos solventes gerando novos picos Raman. Embora com a

presença de desvios, estes não foram expressivos suficientemente para invalidar o

modelo matemático desenvolvido.21

Mifune et al. salientam que, durante as análises, podem ocorrer alterações

com os fármacos, como modificações cristalinas ou em diferentes fases da matéria,

interações com excipientes, ou ainda alterações por aquecimento e/ou mudanças na

pressão do sistema. Além disso, os processos utilizados atualmente para esse fim

são destrutivos. Utilizaram FT-Raman para examinar o estado de algumas

substâncias em várias amostras: alacepril (comprimidos), esparfloxacina

(comprimidos, pós e nanopartículas), sulfato de quinidina e cafeína (partículas). O

espectro das substâncias ativas não foi alterado na formulação em comprimidos de

alacepril, comprimidos e pós de esparfloxacina e nas partículas de cafeína e sulfato

de quinidina. Todavia, a esparfloxacina em nanopartículas apresentou modificações

espectrais. Esses resultados mostraram que o FT-Raman pode ser utilizado no

controle de qualidade de preparações farmacêuticas cristalinas.22

Segundo De Beer et al., dentre as formas farmacêuticas já analisadas pela

ER, as menos estudadas são as pomadas e os cremes. Relatam, ainda, que o

tamanho das partículas influencia a intensidade do sinal Raman, o que pode resultar

em conclusões errôneas sobre a quantidade das substâncias. Os autores

compararam o AS (ácido salicílico) utilizado no preparo de pomadas por diferentes

farmacêuticos (diferentes formas de manipulação do medicamento), com aquela

utilizada no desenvolvimento de um modelo de calibração, preparada por um único

profissional. A seguir, determinaram o conteúdo do AS em todas as pomadas por

HPLC e pelo FT-Raman. Concluíram que FT-Raman é confiável na determinação de

AS em pomadas, mas a repetibilidade, embora aceitável, não superou a obtida pelo

método de referência. Foi demonstrado que, para um bom resultado, o tamanho da

partícula do ativo presente nas amostras deve ser semelhante àquele utilizado no

preparo dos padrões, pois, para este fármaco, a intensidade do sinal foi influenciada

pela granulometria.23

Estudos relativos à avaliação in vivo da capacidade de proteção de filtros

solares, usando espectroscopia Raman, tem sido descritos na literatura.24,25

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22

Atualmente tem se observado um número crescente de falsificações de

medicamentos até mesmo nos países desenvolvidos, o que suscita alvo de muitas

pesquisas.26 Veij et al. testaram a ER na diferenciação de medicamentos

verdadeiros dos adulterados, comparando esse método com análise colorimétrica e

Cromatografia líquida combinada com espectroscopia de massas (LC-MS).

Concluíram que a ER pode diferenciar comprimidos antimaláricos verdadeiros dos

falsificados, e ainda determinar o “fingerprint” dos diferentes tipos de adulterantes.26

Em trabalho semelhante, os mesmos autores testaram comprimidos de Viagra®

(sildenafil) pela ER associada ao método quimiométrico de Análise dos componentes

principais (PCA) para diferenciar os comprimidos falsos dos verdadeiros. Os

mesmos concluíram que tal associação pode servir futuramente para uso nas

alfândegas, na identificação de falsos comprimidos no local onde forem

encontrados.28

Em relação ao Controle de Qualidade, Vinha Jr. desenvolveu um estudo

sobre a ER na quantificação de paracetamol no Tylenol® gotas 200 mg/mL. Os

resultados foram analisados em relação aos parâmetros de linearidade, precisão,

exatidão, limite de detecção e limite de quantificação. O autor testou diferentes

concentrações de paracetamol em polietilenoglicol ou placebo (veículo

descontamindado) de Tylenol® gotas. Apenas com o paracetamol diluído a 200

mg/mL em placebo do Tylenol® gotas é que obteve boa linearidade e exatidão. 8

1.5 Paracetamol

O paracetamol (ou acetaminofen) é um analgésico e antitérmico presente no

mercado em várias especialidades farmacêuticas, em diversas apresentações:

suspensão, solução, comprimido, cápsula e mastigáveis. Tem despertado muito

interesse devido à baixa incidência de efeitos colaterais, se comparado ao AAS

quando administrado em doses terapêuticas.29,30

Em 1949 pesquisadores confirmaram, por estudos e uso clínico, a sua

efetividade e segurança como analgésico e antitérmico. Porém, foi na década de 60

que seu uso foi amplamente difundido no alívio dos sintomas de adultos e crianças. 8

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Ao contrário de outros analgésicos e antipiréticos como AAS, dipirona e

ibuprofeno, o paracetamol não apresenta propriedades anti-inflamatórias. Em doses

terapêuticas não irrita as paredes do estômago, nem afeta a coagulação sanguínea,

rins ou ducto arterial fetal.6 Atualmente inúmeros estudos têm indicado o

paracetamol em substituição a outros fármacos antitérmicos e analgésicos como a

dipirona, haja vista que esta pode provocar efeitos colaterais mais evidentes como

uma significativa queda na pressão arterial e no débito urinário, além de

agranulocitose que é rara e, portanto, de difícil prevenção e potencialmente letal.31

Diversas pesquisas em pediatria também apontam o ibuprofeno e o

paracetamol como preferenciais aos demais, em casos de dor e febre, visto que o

AAS pode provocar a síndrome de Reye em crianças, doença que causa danos

cerebrais e pode levar à morte.32,33

É importante ressaltar que as epidemias de dengue no Brasil contribuíram

para um aumento no uso do paracetamol, pois fármacos como o AAS são contra-

indicados por proporcionarem maior risco de hemorragias. Porém, o paracetamol

também deve ser utilizado com indicação médica, pois doses acima da usual podem

prontamente levar à hepatotoxicidade.34

Quimicamente o paracetamol é uma amida aromática acetilada (Figura 1),

sintetizada por Von Mering em 1893, podendo apresentar-se sob duas formas

cristalinas: a monoclínica (comercial) e a ortorrômbica que ocorre pelo aquecimento

da primeira.35

Figura 1 – Estrutura química do paracetamol

De acordo com dados da literatura, os grupamentos químicos responsáveis

pelos principais picos Raman característicos da molécula do paracetamol e os tipos

de vibração correspondentes são: estiramento C=O em 1649 cm-1, deformação N-H

entre 1620 e 1612 cm-1, estiramento e deformação H-N-C=O em 1562 cm-1,

estiramento C-H do agrupamento acetil em 1325 cm-1 e estiramento do anel fenólico

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em 799 cm-1. 1, 29, 35, 36 A Tabela 2 apresenta o tipo de vibração e o deslocamento

Raman de cada grupamento supracitado.

O paracetamol é o princípio ativo (ou fármaco) de alguns medicamentos

analgésicos e antipiréticos específicos para crianças na forma de solução, visto que

as preparações líquidas são as mais adequadas ao segmento infantil.8

O medicamento utilizado neste trabalho é quantificado pela empresa que o

fabrica, pela espectroscopia de absorção no infravermelho próximo (NIRS). De

acordo com dados do fabricante, o teor de paracetamol no mesmo é de 200 mg/mL,

tendo como limite interno de liberação de lotes: 95 a 105% (190 a 210 mg/mL). 8

Dentre os métodos ópticos para caracterização do paracetamol, a ER

destaca-se pela possibilidade de identificação dos grupos moleculares presentes

nesta substância, de forma não destrutiva e em tempo real. 35 A ER associada à

técnica quimiométrica dos mínimos quadrados parciais (PLS – Partial Least

Squares) têm demonstrado resultados promissores na área farmacêutica.37

Tabela 2 – Grupamentos responsáveis pelos principais picos Raman do paracetamol e vibrações

relativas a cada um deles.

Grupamento Tipo de vibração Deslocamento C=O (amida I: 1580-1720 cm -1) estiramento 1649 cm-1

N-H deformação 1612 a 1620 cm-1

H-N-C=O (amida II:1475-1580 cm-1)estiramento e deformação

1562 cm-1

C-H (acetil) estiramento 1325 cm-1 Anel fenólico estiramento 799 cm-1

1.6 Quimiometria

A Quimiometria é a área da Química que se utiliza de ferramentas estatísticas

e matemáticas para o planejamento e otimização dos experimentos, bem como para

extrair informações relevantes de dados químicos multivariados, possibilitando

analisar mais de uma variável simultaneamente, além de identificar a correlação

entre elas.38

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Métodos quimiométricos como a calibração multivariada são rotineiramente

aplicados em controle de processos e controle de qualidade, sendo boas

ferramentas para a PAT.39

Em associação à espectroscopia, as técnicas quimiométricas utilizam

modelos matemáticos multivariados que correlacionam a concentração do analito

em uma ampla faixa espectral, mesmo na presença de interferentes, sem

comprometer a eficiência do método.40

O PLS é um dos métodos quimiométricos multivariados mais utilizados em

associação à espectroscopia Raman 41 e sua base fundamental é a PCA. A PCA

consiste em uma manipulação da matriz de dados espectrais com o objetivo de

representar as variações presentes por meio de um número menor de fatores. Para

tal, é construído um novo sistema de eixos denominados rotineiramente de

componentes principais ou variáveis latentes, calculados a partir da variância dos

dados. A partir dessas novas variáveis, obtêm-se os escores, que são os valores

ponderados de tais variáveis em todos os espectros do conjunto de dados.42

O PLS é obtido de maneira semelhante à PCA, no entanto, no PLS a

concentração de todos os constituintes da amostra está incluída no processo de

decomposição, com isso, os espectros, contendo maiores concentrações, são

ponderados mais fortemente do que aqueles com baixas concentrações. Na

realidade, o PLS tira proveito da correlação entre os dados espectrais e as

concentrações dos constituintes. A idéia principal do PLS é obter tanta informação

da concentração quanto possível para os primeiros vetores das variáveis latentes.

Uma vez que os dados espectrais podem ser decompostos em suas variações mais

comuns, a concentração dos dados está nas primeiras variáveis. 43, 44

Na área de farmácia industrial, inúmeros trabalhos têm sido desenvolvidos na

determinação de substâncias ativas e excipientes de medicamentos, utilizando-se a

PCA16, 26 e o PLS 13, 17, 18, 37, 45, 45, 46 haja vista sua extrema adequação para tal

finalidade.

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2 Objetivos

Este trabalho teve como objetivo principal estudar a potencialidade da

espectroscopia Raman dispersiva no infravermelho próximo (830 nm) ao utilizar

laser semicondutor de diodo e cabo de fibras ópticas na quantificação de

paracetamol em medicamento comercial (200 mg/mL). Ao construir uma curva de

calibração, com auxílio da técnica PLS, foram empregados os espectros Raman de

amostras com concentrações conhecidas e crescentes de paracetamol em veículo.

Outro objeto desta pesquisa foi verificar se a espectroscopia Raman, utilizando

fibras ópticas, atende aos critérios estabelecidos pela ANVISA para a sua validação

como técnica analítica de controle de qualidade, bem como verificar a utilidade da

técnica como ferramenta para a PAT.

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27

3 Material e Métodos

3.1 Amostras utilizadas

Soluções de diferentes concentrações de paracetamol foram preparadas e

cedidas pela empresa fabricante do medicamento a ser analisado. Foram

estudadas, além do veículo puro do medicamento (placebo), várias diluições do

paracetamol no mesmo veículo e uma solução do princípio ativo diluído somente em

polietilenoglicol (PEG). O PEG é o principal componente detectável do veículo na

faixa espectral de 600 a 1800 cm-1 (Figura 5). De acordo com informações contidas

na bula do medicamento, o veículo completo é constituído de polietilenoglicol (Figura

2), ciclamato de sódio, sacarina sódica, benzoato de sódio, metabissulfito de sódio,

corante amarelo crepúsculo, aromas, hidróxido de sódio, ácido cítrico e água

deionizada.

Figura 2 - Espectro Raman do polietilenoglicol. Fonte: SIGMA ALDRICH48 - Traduzido pela autora.

As soluções de paracetamol em veículo completo (placebo) foram preparadas

nas seguintes concentrações: 70%, 80%, 90%, 95%, 100%, 105%, 110%, 120%,

130% em torno da concentração na qual o medicamento é comercializado (200

mg/mL = 100%), além do veículo completo puro (denominado “descontaminado”) e

de uma solução do paracetamol no polietilenoglicol (PEG) na mesma concentração

TRA

NS

MIT

ÂN

CIA

[%]

INTE

NS

IDA

DE

AB

SO

RBÂ

NC

IA

COMPRIMENTO DE ONDA 4000 2400 2200 2000 1800 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 100

NICOLET RAMAN 950

MICRONS

0102030405060708090

1002.5 4.5 5 5.5 6 7 8 9 10 11 12 13 15 20 25 30 45 100

2.01.00.7

0.50.40.3

0.2

0.1.050.0

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da bula (100%). Essas diluições (concentrações nominais) foram preparadas por

técnicos da empresa, em seu laboratório químico, segundo procedimento interno de

fabricação. De acordo com a própria empresa, os erros relativos ao preparo

(pesagem, diluição) são pouco significativos devido ao uso de balanças de alta

precisão. A Tabela 3 mostra as soluções conforme recebidas, com a nomenclatura

utilizada pela empresa (A a J e PEG), suas concentrações de princípio ativo

(paracetamol) e o veículo utilizado em cada uma delas.

Tabela 3 – Soluções utilizadas e suas respectivas concentrações nominais de paracetamol (em % e

mg/mL) e veículos

Amostras Concentração

nominal (mg/mL)

Concentração nominal

(%) Veículo utilizado

A 210 105 Completo B 190 95 Completo C 180 90 Completo D 140 70 Completo E 240 120 Completo

F** 260 130 Completo G* 200 100 Completo H 160 80 Completo I 220 110 Completo J 0 0 Completo

PEG 200 100 Polietilenoglicol * Solução análoga ao medicamento referência.

** Solução excluída do estudo por problemas de solubilização do paracetamol.

As amostras foram previamente avaliadas com emprego da técnica de NIRS

(near-infrared spectroscopy, espectroscopia no infravermelho próximo) pela empresa

fabricante.

Logo após o recebimento, todas as soluções foram armazenadas à

temperatura média de 20ºC, umidade média do ar de 40 a 60% e ao abrigo da luz no

Laboratório de Espectroscopia Biomolecular do Instituto de Pesquisa e

Desenvolvimento (IP&D) da Universidade do Vale do Paraíba (UNIVAP).

Tais soluções foram fornecidas em duplicata e os espectros das amostras de

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A a I foram divididos em 2 grupos, um deles utilizado para determinação da curva de

calibração e outro para validação do método de análise.

As soluções foram submetidas à espectroscopia Raman dispersiva no

Laboratório de Espectroscopia Biomolecular em um mesmo dia, sendo os espectros

processados pela técnica quimiométrica multivariada PLS.

Diferentes lotes de um medicamento referência, contendo 200 mg/mL de

paracetamol, adquiridos no comércio local, tiveram seus espectros coletados, nas

mesmas condições experimentais, com o objeto de verificar a quantidade de

paracetamol nas soluções.

3.2 Espectrômetro utilizado na obtenção dos espectros Raman do paracetamol

No presente trabalho, as soluções foram submetidas à técnica de

espectroscopia Raman dispersiva, usando o espectrômetro Raman disposto de

forma esquemática na Figura 3. Este equipamento é composto por um laser de

diodo semicondutor (GaAlAs – Micro Laser Systems Inc., modelo L4830S, CA,

EUA), com potência de saída de 100 mW e comprimento de onda de 830 nm (região

espectral do infravermelho próximo). O feixe laser de excitação passou por um filtro

holográfico passa-banda para eliminar a luz indesejável e transmitir somente o

comprimento de onda desejado. Com o emprego de uma lente de distância focal f =

26 mm para colimação e focalização, o feixe do laser foi acoplado a um cabo de

fibras ópticas de quartzo em configuração “6x1” (correspondente a uma fibra de

excitação circundada por seis fibras de coleta de sinal na extremidade de

excitação)49 com potência de saída na extremidade distal de 50 mW para direcionar

a radiação e auxiliar na coleta da luz espalhada pela amostra. O laser foi conduzido

até uma cubeta de quartzo de 4 mL que continha as amostras líquidas, por um

tempo de exposição de 50 s para cada amostra (Figura 4). O sinal proveniente da

excitação das amostras, coletado pelo cabo de fibras ópticas, foi acoplado ao

espectrógrafo (Chromex, modelo 250IS, MA, EUA) para dispersão. Na entrada do

espectrógrafo foi posicionado um filtro passa-faixa do tipo notch em 830 nm (Iridian

Spectral Technologies, modelo PN-ZX 000080, ON, Canadá) que visava bloquear o

sinal do laser retroespalhado na amostra (espalhamento Rayleigh), captado pelas

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fibras. O espectrógrafo possui fenda de entrada de 200 µm e grade com 600

linhas/mm, que fornece uma resolução espectral de aproximadamente 12 cm-1 50. O

sinal dispersado pelo mesmo foi detectado por uma câmera CCD 1024x256,

refrigerada por nitrogênio líquido (Princeton Instruments, modelo LN/CCD-1024-

EHR1, NJ, EUA) para detecção do sinal e separação espectral, conectada a um

controlador de CCD (Princeton Instruments, modelo ST130, NJ, EUA) e um

computador para a aquisição e armazenamento dos espectros.

Figura 3 - Diagrama esquemático do sistema Raman dispersivo acoplado ao cabo de fibras ópticas

utilizado na coleta dos espectros Raman.

Os procedimentos de pré-processamento, obtenção da curva de calibração,

cálculo das figuras de mérito e validação do método foram realizados por uma rotina

desenvolvida no próprio laboratório, quando foi utilizada a planilha Microsoft Excel e

o programa Matlab (The Mathworks, versão 5.2, MA, EUA). A faixa de deslocamento

Raman selecionada para o estudo do paracetamol foi de 600 a 1800 cm-1, visto que,

de acordo com a Figura 5, nesta faixa encontra-se a maioria dos picos que

identificam o paracetamol, sendo essa região conhecida como fingerprint – a faixa

onde se encontram os compostos orgânicos.

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Figura 4 – Detalhe mostrando o cabo de fibras ópticas imerso na cubeta contendo amostra.

Figura 5 - Espectro Raman do paracetamol (acetaminofen) Fonte: SIGMA ALDRICH51 . Traduzido

pela autora.

TRA

NS

MIT

ÂN

CIA

[%]

INTE

NS

IDA

DE

AB

SO

RB

ÂN

CIA

COMPRIMENTO DE ONDA 4000 2800 2600 2400 2200 2000 1800 1600 1400 1200 1000 800 600 400 200 100

0102030405060708090

1002.5 4 4.5 5 5.5 6 7 8 9 10 11 12 13 15 20 25 30 45 100

0.0

.050.1

0.1

0.30.40.50.60.71.02.0

MICRONS

NICOLET RAMAN 950

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3.3 Pré-processamento

A etapa de pré-processamento é importante no auxílio à extração de

informações e, consequentemente, na interpretação dos dados obtidos.

Primeiramente o espectrômetro foi calibrado em deslocamento Raman. Para

tal, utilizou-se uma substância que apresenta bandas Raman conhecidas na faixa

espectral de interesse. A posição dessas bandas no espectro coletado (em pixels)

foi determinada e um polinômio de ordem 3 correlacionado ao deslocamento das

bandas Raman com a posição em pixel. A função polinomial de ordem 3 foi

empregada, uma vez que tem sido descrita na literatura como mais precisa e melhor

representativa da função de dispersão em instrumentos dispersivos de imagem e

detecção por câmera CCD.52 A substância utilizada neste experimento foi o

naftaleno, que possui picos Raman em 764, 1022, 1147, 1383, 1464 e 1577 cm-1.53

Após essa etapa, fez-se necessário remover a fluorescência de fundo

(background) residual que acompanha os espectros Raman, para eliminar esta fonte

de interferência. Para tanto, foi calculada uma equação polinomial de ordem 3

utilizando-se a intensidade dos espectros de cada amostra em 6 pontos de mínimo

(baseline) na faixa entre 600 e 1800 cm-1, e este polinômio foi então subtraído do

espectro bruto, permanecendo assim os picos Raman de alta frequência.54, 55 Essa

rotina foi desenvolvida no software Matlab.

Em seguida, foi realizada a normalização dos espectros pelo pico Raman, que

ocorre em 1450 cm-1, por tratar-se de informação espectral contida em todos os

espectros analisados e por ser um pico característico do polietilenoglicol (Figura 2),

principal componente do veículo detectável na faixa Raman do fingerprint. Esse

tratamento dos dados foi realizado por meio de planilha Excel, determinando-se a

intensidade no pico acima e dividindo-se todo o sinal por esta intensidade. Os dados

tiveram a média subtraída (mean subtracting). Nesse procedimento, calculou-se o

espectro médio do conjunto de dados de calibração e efetuou-se a subtração desta

média de cada espectro, tanto de calibração quanto de validação. 40 O objetivo desta

etapa foi reforçar as diferenças entre as amostras, para facilitar a extração de

informações úteis e a interpretação dos dados, eliminando, assim, a primeira fonte

de variações espectrais, no caso, todos os sinais que contribuem para a média.

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33

3.4 Obtenção da curva de calibração

A calibração multivariada visa encontrar um algoritmo matemático que

produza propriedades de interesse a partir dos resultados registrados pelo

instrumento. Uma vez encontrado, este poderá ser usado para prever a

concentração do componente de interesse em amostras de composição

desconhecida, usando a resposta instrumental das mesmas. 40

Neste estudo foi criado um modelo de calibração multivariada utilizando o

método PLS com os valores das concentrações nominais das amostras de A até I

(Tabela 3), e as intensidades de seus espectros Raman da primeira coleta.

Para obtenção da curva de calibração multivariada foi utilizado o ambiente

computacional Matlab (versão 4.2), aplicando-se a função:

[p,q,w,t,u,b,ssq] = pls(x,y,lv,1) (1)

onde os dados de entrada da função são:

x = espectros (variáveis independentes);

y = valores de concentrações nominais (variáveis dependentes);

lv = número de variáveis latentes;

e os dados de saída da função são:

p = carregamento das variáveis independentes;

q = carregamento das variáveis dependentes;

w = importância das variáveis independentes;

t = escores das variáveis independentes;

u = importância das variáveis dependentes;

b = vetor coeficiente interno do PLS;

ssq = tabela de variâncias entre x e y obtida pelo modelo PLS.

Uma vez obtida a curva de calibração multivariada, conforme descrito

anteriormente, pode-se prever a concentração de amostras desconhecidas com o

emprego da função:

ypred = plspred(x,b,p,q,w,lv). (2)

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onde os dados de entrada já foram descritos para a função (1), e o dado de saída é:

ypred = concentração da amostra sob avaliação.

Um passo importante para a aplicação do método PLS é a definição do

número de variáveis latentes. Para tal, utilizando-se as funções 1 e 2, foram sendo

substituídos em ambas os números de variáveis latentes, desde 1 até 5, e foram

calculados os erros padrão de predição (SEP, do inglês standart error of prediction).

A função do SEP é determinar o quanto o PLS é capaz de prever concentrações de

amostras não utilizadas na construção do modelo. 42 , 56 A expressão utilizada para

cálculo do erro padrão foi a seguinte: 1

( )100

1

2

1

2

×−

=

=

=n

ii

n

iii

Ca

CaCSEP (3)

Onde:

Cai = concentração nominal do princípio ativo;

Ci = concentração predita pelo modelo PLS (Raman);

n = número de amostras;

SEP = Standart error of prediction - Erro padrão de predição (%).

A Figura 6 demonstra os valores de SEP obtidos em função do número de lv,

em que o erro padrão de predição obtido com uma lv é semelhante ao obtido com

três, quatro ou cinco lv, e menor do que o obtido com duas.

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35

0,00

0,25

0,50

0,75

1,00

1,25

1,50

1 2 3 4 5

Erro

pad

rão

de p

revi

são

(%)

Variáveis latentes (número) Figura 6 – Gráfico demonstrando os erros padrão de predição (SEP) obtidos com diferentes números

de variáveis latentes.

Finalmente, considerando-se o número de variáveis latentes igual a 1, a

função (1) foi novamente empregada para determinar a curva de calibração

multivariada adequada.

3.5 Validação

A seguir, foi realizada uma etapa correspondente à aplicação prática do

modelo, ou validação final. Para isso, foram adquiridos em drogarias locais 6 frascos

de diferentes lotes do medicamento de referência, os quais foram utilizados como

soluções de validação. Foi aplicada a função (2) nos espectros dessas amostras

para previsão das suas concentrações de paracetamol.

A empresa fabricante do medicamento de referência forneceu a concentração

de paracetamol presente em cada um dos lotes, obtida pelo método NIRS. Tais

valores, assim como aqueles valores de concentração obtidos pela técnica Raman

associada ao PLS (ER/PLS) foram comparados ao valor nominal (200 mg/mL) pelo

cálculo do erro padrão.

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36

3.6 Obtenção das figuras de mérito preconizadas pela ANVISA

3.6.1 Intervalo

Foi determinado um intervalo de 70% a 130%, porém este último valor fora

excluído por problemas de solubilização do paracetamol, resultando finalmente no

intervalo de 70% a 120%.

3.6.2 Seletividade e especificidade

Foram consideradas como calibração as soluções G (200 mg/mL de

paracetamol no veículo puro) em 6 réplicas e as soluções PEG (200 mg/mL de

paracetamol no polietilenoglicol) como previsão também em 6 réplicas, a fim de

verificar se a técnica proposta seria capaz de identificar e quantificar o paracetamol

mesmo em veículos diferentes.

3.6.3 Linearidade

Foi obtida a partir da determinação da concentração de 5 soluções de

concentrações diferentes (80, 90, 100, 110 e 120%) pela ER/PLS e com os

resultados nominais em mg/mL, construiu-se uma curva. Calculou-se o coeficiente

angular (m) que determina a proporcionalidade da função analítica, a equação

reduzida da reta ou coeficiente linear (h) e finalmente o coeficiente de correlação (r).

O critério mínimo de aceitação é de r = 0,99.5

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37

3.6.4 Precisão intracorrida (repetibilidade)

Foram feitas determinações de concentrações baixa, média e alta (80, 100 e

120% respectivamente) em triplicata, totalizando 9 soluções analisadas. A precisão

foi expressa como desvio padrão relativo (DPR), segundo a fórmula:

100×=CMDDPDPR (4)

Onde:

DP = desvio padrão;

CMD = concentração média determinada.

O DP foi inicialmente calculado pela equação:

( )

11

2

−=

∑=

n

CMDVODP

n

i (5)

Onde:

VO = valor obtido no ensaio

CMD = concentração média determinada

Foi pré-estabelecido um DPR ≤ 5%, visto que o valor máximo aceitável deve

ser definido de acordo com a metodologia empregada, a concentração do analito na

amostra, o tipo de matriz e a finalidade do método, não se admitindo valores

superiores a 5%. 5

3.6.5 Exatidão

Foi determinada a partir de 9 determinações contemplando o intervalo linear

do procedimento, ou seja, concentrações baixas, média e alta (80, 100 e 120%

respectivamente) com 3 espectros de cada.

A exatidão foi expressa pela recuperação, que se trata de uma relação entre o

valor adicionado (concentração nominal correspondente) e o valor obtido

(concentração determinada experimentalmente). Isso indica o quão próximos estão

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38

os mesmos, ou seja, o quanto foi recuperado daquilo que foi adicionado ao

equipamento em teste. A equação utilizada foi:

100×=VA

CMEEXAT (6)

Onde:

CME = concentração média experimental (valor médio obtido pela técnica)

VA = valor adicionado (concentração nominal)

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39

4 Resultados

4.1 Espectro do paracetamol

O espectro do paracetamol foi obtido indiretamente, por meio da subtração do

espectro da solução J (placebo, veículo descontaminado) do espectro da solução G

cujo conteúdo é idêntico ao do medicamento referência (200 mg/mL de paracetamol

em placebo). Os espectros das duas soluções e o espectro do paracetamol

resultante da subtração podem ser visualizados na Figura 7. A Figura 8 mostra o

espectro do paracetamol com seus principais picos relativos às ligações químicas

responsáveis pelas vibrações características desta molécula.1, 8, 29, 35

Figura 7 – Espectro do paracetamol (deslocado 3 u.a. no eixo vertical), da solução de placebo com

paracetamol (sol G – deslocada 1 u.a. no eixo vertical) e da solução de placebo (sol J).

0

1

2

3

4

5

600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800

Inte

nsid

ade

Ram

an n

orm

aliz

ada

pelo

pic

o a

1450

cm

-1[u

.a.]

Deslocamento Raman [cm-1]

Paracetamol (sol G - sol J) Placebo + Paracetamol (sol G) Placebo (sol J)

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40

Figura 8 – Espectro do paracetamol obtido indiretamente e seus principais picos.

4.2 Espectro do polietilenoglicol

O espectro do polietilenoglicol, o principal componente do veículo, foi obtido

subtraindo-se o espectro da solução PEG (200 mg/mL de paracetamol +

polietilenoglicol) do espectro do paracetamol puro (resultante de subtração

matemática). A Figura 9 apresenta os três espectros e evidencia o pico a 1450 cm-1

no espectro do polietilenoglicol, o qual fora utilizado na normalização de todos os

demais espectros utilizados neste trabalho.

4.3 Comparação entre os espectros do polietilenoglicol puro e do placebo

Os espectros do polietilenoglicol (obtido indiretamente por subtração) e do

placebo (solução J, obtido diretamente) foram plotados em um mesmo gráfico

(Figura 10), demonstrando que o polietilenoglicol é realmente o principal constituinte

do placebo que pode ser detectado na região do fingerprint.

-0,2

0,2

0,6

1

1,4

1,8

600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800

Inte

nsid

ade

Ram

an n

orm

aliz

ada p

elo

pico

a14

50 c

m-1

[u.a

.]

Deslocamento Raman [cm-1]

799

cm-1

1562

cm

-1

1620

cm

-1

1649

cm

-1

Paracetamol (sol G – sol J)

1325

cm

-1

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41

Figura 9 – Espectro do polietilenoglicol, da solução de polietilenoglicol com paracetamol (deslocado 1

u.a. no eixo vertical), e do paracetamol isolado (deslocado 3 u.a. no eixo vertical).

-0,2

0,2

0,6

1

1,4

600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800

Inte

nsid

ade

Ram

an n

orm

aliz

ada p

elo

pico

a 14

50 c

m-1

[u.a

.]

Deslocamento Raman [cm-1]

Polietilenoglicol (sol peg - Paracetamol) Placebo (sol J)

Figura 10 – Espectros do polietilenoglicol e do placebo.

0

1

2

3

4

5

600 700 800 900 1000 1100 1200 1300 1400 1500 1600 1700 1800

Inte

nsi

dad

e R

aman

no

rmal

izad

a p

elo

pic

o a

145

0 cm

-1[u

.a.]

Deslocamento Raman [cm-1]

Paracetamol (sol G - sol J) Peg+ Paracetamol (sol peg) Polietilenoglicol (sol peg - Paracetamol)

1450 cm-1

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42

4.4 Espectros Raman com as variações de concentração em torno do

medicamento estudado

Os espectros Raman das soluções de A a I (exceto a solução F), que contém

quantidades diferentes de paracetamol dissolvidas em placebo, normalizados pelo

pico em 1450 cm-1, são visualizados na Figura 11.

Figura 11 – Espectros Raman das soluções de A a I, com suas respectivas concentrações de

paracetamol.

4.5 Obtenção do modelo de calibração PLS e validação

A partir dos espectros Raman das concentrações nominais de 70, 80, 90, 95,

100, 105, 110 e 120% de paracetamol em placebo do grupo 1, foi desenvolvido um

modelo de calibração utilizando o PLS, a partir da função (1) aplicada nas soluções

citadas acima. Com os parâmetros extraídos do grupo de calibração, foi

desenvolvido o procedimento de validação utilizando-se a função (2) nos espectros

do grupo 2 (réplica com as mesmas concentrações), obtendo-se os valores previstos

pelo modelo, conforme Tabela 4. Por meio do pré-processamento mean subtracting,

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43

os resultados das concentrações preditas variam em torno do zero. A Figura 12

demonstra os resultados previstos das concentrações do grupo de validação

utilizando PLS com 1 lv e compara com as concentrações nominais das soluções.

Tabela 4 – Valores de concentração predita utilizando 1 lv tendo como referência as concentrações

nominais. Em função do mean subtracting, os valores de concentração são referenciados a partir da

relação 100% (200 mg/mL) = 0.

Valor nominal da diluição (%)

Valor nominal da diluição

subtraída de 100% (%)

Concentração prevista PLS com 1 lv (%)

70 -30 -27,8 80 -20 -19,4 90 -10 -9,3 95 -5 -5,0 100 0 -0,0 105 5 8,6 110 10 11,8 120 20 24,5

SEP = 1,6%

Figura 12 –: Resultados da predição das concentrações do grupo 2 (validação) utilizando modelo PLS

com 1 lv comparados com as concentrações nominais das diluições.

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44

Comparando-se os valores obtidos pelo método proposto com os valores

nominais verificou-se que o SEP encontrado foi de 1,6%, mostrando que o método

oferece adequada previsão na quantificação de amostras.

4.6 PLS de validação do método com espectros de lotes comerciais do

medicamento de referência

Aplicou-se o modelo de calibração PLS nos espectros dos medicamentos

comerciais para determinar a quantidade de paracetamol presente nas amostras.

Observou-se que a quantidade predita pela ER/PLS em cada amostra aproximou-se

mais do valor nominal (200 mg/mL) do que aqueles obtidos pela técnica NIRS,

apresentando erros relativos a cada amostra menores que 1,9%, o que pode ser

observado na Tabela 5. Os espectros dos medicamentos comerciais e do desvio

padrão espectral entre eles podem ser visualizados na Figura 13. A Figura 14

apresenta uma comparação entre as concentrações obtidas por NIRS e por ER/PLS,

bem como os erros de cada técnica.

Tabela 5 – Quantidades calculadas por ER/PLS e por NIRS

Medicamento de referência (comercial)

Valor nominal (mg/mL)

ER/PLS (mg/mL)

Erro ER/PLS

(%)

NIRS (mg/mL)

Erro NIRS (%)

med_ref_1 200,0 201,3 0,7 202,0 1,0 med_ref_2 200,0 202,7 1,4 204,0 2,0 med_ref_3 200,0 199,0 0,5 207,4 3,7 med_ref_4 200,0 201,5 0,8 202,0 1,0 med_ref_5 200,0 201,4 0,7 204,0 2,0 med_ref_6 200,0 203,8 1,9 206,4 3,2

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45

Figura 13 – Espectros Raman dos medicamentos comerciais e do desvio padrão.

Figura 14 – Quantidades em mg/mL de paracetamol em cada amostra pelos métodos ER/PLS (∆) e

NIRS (●). Valor nominal (_.._.._) do paracetamol.

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46

4.7 Figuras de mérito ANVISA

4.7.1 Intervalo

Foi estabelecido o intervalo de 70 a 120% 5.

4.7.2 Seletividade e especificidade da técnica

Ao compararem-se os valores de concentração do paracetamol nas soluções

G (de 1 até 6) e PEG (também de 1 até 6), utilizando erros relativos, foi possível

testar a seletividade da técnica (Tabela 6).

O maior erro relativo calculado foi obtido na comparação da solução G com a

solução PEG no teste 6, e foi de 2,4% mostrando que a técnica permite detecção do

componente principal da amostra (o paracetamol) em diferentes veículos.

Tabela 6 – Concentrações das soluções e erro de previsão.

Teste Sol. G1 a G6 (calibração) %

Sol. PEG1 a PEG6 (previsão) %

Erro relativo [%]

1 99,1 98,9 0,2% 2 100,3 98,7 1,6% 3 100,2 98,4 1,8% 4 100,1 98,3 1,8% 5 99,7 98,2 1,5% 6 100,6 98,2 2,4%

4.7.3 Linearidade

Para avaliação da linearidade do método, foram determinadas as

concentrações de 5 soluções em placebo do medicamento, a saber: solução H

(80%), Solução C (90%), Solução G (100%), Solução I (110%), Solução E (120%).

Os resultados foram comparados com os valores de NIRS conforme Tabela 7. A

Figura 15 apresenta a curva padrão obtida.

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47

Tabela 7 – Concentrações nominais de paracetamol e obtidas por ER/PLS.

Soluções Valor nominal ER/PLS NIRS

(Nomenclatura) (%) (mg/mL) (mg/mL) (mg/mL)

H 80 160 166,9 172,8 C 90 180 186,9 184,6 G 100 200 198,3 199,8 I 110 220 219,3 215,6 E 120 240 229,7 233,6

160

170

180

190

200

210

220

230

240

160165170175180185190195200205210215220225230235240

Con

cent

raçã

o ob

tida

-Ram

an (m

g/m

L)

Concentração Nominal (mg/mL)

Figura 15 – Curva padrão de linearidade com as concentrações obtidas ER/PLS referentes às

concentrações nominais das 5 soluções.

A curva padrão de linearidade obtida foi y = 0,790x + 42,149 (y = a.x + b,

onde a - coeficiente angular e b - intercepto da reta com o eixo das ordenadas). O

coeficiente de regressão linear obtido foi r = 0,99 indicando adequada correlação

entre os dados. 5

4.7.4 Precisão (repetibilidade)

Para o cálculo da precisão (repetibilidade) foram utilizadas 3 soluções

(concentrações baixa, média e alta) com 6 coletas espectrais de cada amostra, no

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48

caso Solução H, contendo 80% da quantidade comercial de paracetamol, ou seja,

160 mg/mL, solução G, contendo 100% da quantidade comercial, ou seja, 200

mg/mL e solução E, contendo 120% da quantidade comercial, ou seja, 240 mg/mL.

Foi calculado o Desvio Padrão Relativo (DPR) das concentrações obtidas por

ER/PLS. A ANVISA aceita valores de DPR ≤ 5%.5

A Tabela 8 apresenta os dados utilizados no cálculo do DPR para as soluções

de concentrações baixas.

A Tabela 9 apresenta os dados utilizados no cálculo do DPR para as soluções

de concentrações médias.

Tabela 8 – Precisão: Soluções de concentração baixa (H): 80%

VO ER/PLS (mg/mL)

CMD (mg/mL)

(VO - CMD)2

(mg/mL)2 DP

(mg/mL) DPR (%)

168,5 0,6 166,8 0,8 168,1 0,2 167,1 0,4 169,2 2,3 166,7

167,7

1,0

1,0 0,6

Tabela 9 – Precisão: Soluções de concentração média (G): 100%

VO ER/PLS (mg/mL)

CMD (mg/mL)

(VO - CMD)2 (mg/mL)2

DP (mg/mL)

DPR (%)

194,9 8,4 198,2 0,2 198,2 0,2 195,6 4,8 196,4 2,0 203,1

197,8

28,1

2,9 1,5

A Tabela 10 apresenta os dados utilizados no cálculo do DPR para as

soluções de concentrações altas.

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49

Tabela 10 – Precisão: Soluções de concentração alta (E): 120%

VO ER/PLS (mg/mL)

CMD (mg/mL)

(VO - CMD)2

(mg/mL)2 DP

(mg/mL) DPR (%)

223,6 1,4 232,5 59,3 233,2 70,6 *198,5 691,7 228,9 16,8 232,3

224,8

56,3

13,4 6,0

* Possível ponto fora da curva (outlier)

A Tabela 11 apresenta os dados utilizados no cálculo do DPR para as

soluções de concentrações altas, sem o ponto considerado como outlier.

Tabela 11 – Precisão: Soluções de concentração alta (E): 120%, sem o outlier

VO ER/PLS (mg/mL)

CMD (mg/mL)

(VO - CMD)2

(mg/mL)2 DP

(mg/mL) DPR (%)

223,6 1,4 232,5 59,3 233,2 70,6

-- -- 228,9 16,8 232,3

230,1

56,3

4,0 1,7

Pode-se verificar que, para as soluções de concentração abaixo da média do

medicamento (80%) e para as soluções de concentração na média (100%), os

desvios padrão relativos obtidos encontraram-se abaixo do limite máximo

especificado pela ANVISA. Já nas concentrações mais altas que a média (120%),

isto não ocorreu, obtendo-se um DPR de 6,0. Esse fato pode ter sido causado pela

presença de um valor destoante dos demais (outlier) no conjunto de medidas. Porém

ao ser descartado, foi possível minimizar o erro devido a causas especiais desse

ponto e obteve-se, então, um valor de DPR mais condizente com o restante do

conjunto de dados.

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50

4.7.5 Exatidão

A exatidão foi calculada pelo uso das soluções utilizadas no cálculo da

precisão, em triplicata, sendo determinada por meio de desvio relativo e ensaios de

recuperação, conforme Tabela 12.

O critério de aceitação estabelecido para Desvio Relativo foi ≤ 2%. Valores

satisfatórios de recuperação situam-se entre 98 e 102%.5

Tabela 12 – Resultados do cálculo de exatidão.

Concentração baixa 80% (H)

Concentração média 100% (G)

Concentração alta 120% (E)

Valor nominal (mg/mL) 160,0 200,0 240,0 Valor Médio Obtido de três medições ER/PLS (mg/mL) 167,7 197,8 230,1

Valor Obtido por NIRS (mg/mL) 172,8 199,8 233,6

Desvio Absoluto ER/PLS(mg/mL) -7,7 -2,2 -9,9

Desvio Relativo ER/PLS (%) -4,6 -1,1 -4,3

Recuperação ER/PLS (%) 104,8 99,0 96,0 Recuperação NIRS (%) 108,0 99,9 97,3

As soluções de concentração baixa e alta apresentaram valores recuperação

fora dos limites de aceitação estabelecidos, ao contrário da solução de concentração

média, que apresentou valor satisfatório. Calculando-se os valores de recuperação

do NIRS, observou-se semelhança de resultados, exceto para a concentração baixa.

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51

5 Discussão

A indústria farmacêutica mundial encontra-se em busca de aperfeiçoamento

dos métodos para o monitoramento de fármacos durante todo o processo de

produção,5, 57 já que a maioria das técnicas de alta performance utilizada atualmente

necessita de preparação das amostras com uso de diluentes, sendo destrutivas,

dispendiosas tanto de insumos quanto de tempo.45, 57 É certo que o tempo entre a

produção e a análise da qualidade do medicamento acabado preocupa o fabricante,

porquanto é um período em que o produto não está sendo comercializado e seu

prazo de validade já está sendo considerado. Salienta-se, ainda, a importância

social deste tipo de análise, pois a partir dela é que lotes inteiros serão liberados à

comercialização, sendo, portanto, fundamental que o método utilizado na

quantificação de fármaco seja confiável acima de tudo. A literatura denota que a

espectroscopia Raman dispersiva, associada ao método quimiométrico PLS

(ER/PLS), tem correspondido às expectativas de agilidade e não destruição de

amostras na determinação quantitativa de alguns fármacos e se mostrado fidedigna

.14, 45, 45, 46

Neste trabalho utilizou-se a ER dispersiva como método de avaliação

quantitativa do paracetamol em amostras comerciais de um medicamento de

referência. As amostras preparadas pela empresa fabricante do medicamento sob

estudo, foram divididas em 2 grupos os quais foram utilizados na construção da

curva de calibração e na validação da mesma. Foram utilizados dois espectros de

cada uma das soluções, um para calibrar e outro para validar o método, pois dessa

forma é possível descartar erros de diluição. Pelo fato de que as amostras de teste

constituem-se do paracetamol em diferentes diluições no veículo (placebo), que

contém água além de vários adjuvantes farmacotécnicos, o sistema Raman

dispersivo vem sendo considerado o mais vantajoso.9 Ainda como vantagens do

sistema dispersivo, estão a capacidade de obtenção de espectro com alta relação

sinal-ruído, a utilização de laser de baixa potência na região do infravermelho

próximo e menor tempo de coleta do espectro, já que com o uso de detetor

multicanal e espectrógrafo de imagem, a coleta de todo o espectro é feita de uma

única vez, diferente do que ocorre no sistema FT-Raman, cujo espectro depende de

um escaneamento da faixa espectral. 9

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É pertinente comentar que neste estudo foi utilizado um sistema dispersivo de

bancada (aberto), e esse fato contribuiu de forma didática para a compreensão do

funcionamento do mesmo, destacando-se a visualização e o reconhecimento dos

equipamentos que constituem o espectrômetro. Certamente, um sistema fechado,

compacto e com menos interferências externas, vem ao encontro das necessidades

da indústria, o que pode justificar a maior quantidade de trabalhos com o FT-

Raman.15,17, 19, 23, 36 Porém, atualmente já se encontra no mercado equipamentos

Raman dispersivos compactos e fechados (RamanStation® 400 – Perkin Elmer) e

ainda com possibilidade de acoplamento a cabo de fibras ópticas (Dimension-P2®

Raman System - Lambda Solutions e DXR SmartRaman Spectrometer® – Thermo

Scientific).

A introdução da fibra óptica ao sistema Raman vem possibilitar análises on

line, em harmonia com o guia PAT, em que são estabelecidos requisitos para tornar

as análises industriais mais rápidas, seguras e confiáveis, e facilita a chegada da luz

laser até a linha de produção ou a locais de difícil acesso.3 Tendo em vista essas

premissas, no presente trabalho utilizaram-se um cabo de fibras ópticas, com o

intuito de, além de análises on line, obter-se reprodutibilidade na potência de saída e

na área de irradiação da amostra e coleta do sinal, tornando o sistema mais estável

com garantia de repetibilidade da excitação e coleta dos espectros.45

O método PLS vem sendo utilizado preferencialmente aos modelos clássicos

de quantificação em análises químicas, quando aplicado a métodos

espectroscópicos. Em sistemas complexos e multivariados, tais como análise de

ingredientes ativos em medicamentos, a regressão linear univariada clássica torna-

se insuficiente frente à quantidade de dados que podem ser obtidos a partir de um

espectro. O PLS inclui todas as variáveis relevantes no modelo e, assim, a

calibração pode ser realizada com eficiência mesmo na presença de interferentes,

enquanto que os métodos de calibração univariada necessitam de amostras simples

(ex. compostos puros) para que se obtenham resultados satisfatórios.39 A calibração

multivariada é condizente com PAT, na qual é preconizada a manutenção on line da

qualidade dos experimentos.42

Tanto a ER como a NIRS são ótimos candidatos para PAT, ambos

possibilitando análises não invasivas e não destrutivas.45, 57 A empresa fabricante do

medicamento de referência do presente estudo utiliza a NIRS no controle de

qualidade do mesmo e, segundo alguns autores, essa técnica tem se destacado na

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última década como umas das mais utilizadas pela indústria farmacêutica no

controle de qualidade de medicamentos.58 Todavia, de acordo com Bosch et al. a

técnica NIRS é restrita à determinação de poucos componentes, devido à

possibilidade de sobreposição de bandas de interesse dos produtos em análise.6

Deve ser considerado ainda o fato de que a indústria necessita de agilidade, sendo

interessante a detecção do fármaco no próprio frasco que será comercializado e,

neste caso, a ER oferece vantagem sobre NIRS por fornecer uma configuração

óptica mais simples para este tipo de medição.14

Neste trabalho, os valores obtidos por NIRS na quantificação de paracetamol

das soluções de 70 a 120% deste fármaco em placebo e dos medicamentos

comerciais foram comparados com os resultados obtidos por ER/PLS. Inicialmente,

espectros das amostras obtidos por ER foram plotados e foi possível observar os

picos Raman do paracetamol e dos constituintes do veículo. A solução denominada

F (130% de paracetamol) foi excluída dos resultados por problemas de solubilização.

Pela comparação dos espectros das diferentes concentrações, verificou-se a

coincidência da posição das bandas Raman em todos os espectros, e também as

diferenças nas concentrações de cada uma destas soluções, através das crescentes

intensidades dos picos. De acordo com a Farmacopéia Britânica, a intensidade da

banda Raman é diretamente proporcional à concentração dos componentes de

espalhamento da amostra.12

No espectro do paracetamol puro pode-se observar as principais bandas

responsáveis pelas vibrações da molécula do fármaco. Em relação à constituição do

veículo utilizado (placebo), não pode ser ignorado o fato de que a água deionizada

também é utilizada na sua fabricação, porém esta substância apresenta um fraco

espalhamento Raman, não sendo detectável na região espectral selecionada.15

Deve-se considerar também que, de acordo com a bula do medicamento utilizado,

os demais constituintes do veículo são conservantes, corantes, aromatizantes,

antioxidantes, ajustadores de pH e edulcorantes, que são utilizados em baixas

concentrações, justificando a evidenciação do polietilenoglicol no espectro do

placebo completo.

O modelo PLS, aplicado ao conjunto de espectros de validação, mostrou que

o erro de previsão aumentou quando se utilizou 2 lv comparativamente a utilização

de 1 lv. Optou-se, então, pelo uso de 1 lv para a construção do modelo, o que já era

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esperado, visto que o único componente a sofrer variação nas amostras analisadas

era o paracetamol.

Corroborando o método de validação de Orkoula et al., algumas amostras

comerciais do medicamento referência do presente estudo foram utilizadas para

validação do modelo criado.19 Para tal, foram adquiridos diferentes lotes do

medicamento em gotas contendo 200 mg/mL de paracetamol. Comparando-se as

concentrações de paracetamol de cada um dos lotes obtidas pela técnica ER/PLS

com o resultado nominal (ou seja, aquele valor que consta na bula do medicamento,

no caso 200 mg/mL), verificou-se uma importante similaridade, com erros relativos

muito baixos, não excedendo de 1,9%. Cabe ressaltar que a técnica NIRS

apresentou valores, em sua maioria, um pouco superiores ao valor nominal. De

qualquer forma, o maior erro relativo obtido por ER/PLS é considerado pequeno,

sugerindo que a técnica proposta tem condições de ser utilizada na quantificação do

paracetamol do medicamento referência, apesar do pequeno número de amostras

avaliadas. Fortalece esta afirmação o baixo valor de desvio padrão espectral médio

obtido entre os 6 medicamentos analisados (DP = 0,01).

Orkoula et al. validaram seu método Raman avaliando parâmetros como

linearidade, exatidão e precisão da mesma forma que Vinha Jr e Cordeiro. 2,8,19 Tais

parâmetros fazem parte das figuras de mérito descritas pela ANVISA na resolução

RE 899/03, e no presente trabalho foram calculados demonstrando que a ER/PLS é

capaz de reproduzir as quantidades do analito apresentando boa linearidade, pois o

índice de correlação obtido pela comparação entre os resultados ER/PLS com os

resultados nominais das soluções ficou dentro do esperado, que é menor ou igual a

0,99. 5 Calculando-se a precisão do método ER/PLS, pode-se observar que o

mesmo é bastante preciso para concentrações mais baixas (80%) que a

concentração do medicamento, da mesma forma que para a concentração média

(100%), em que os DPR não excederam de 1,5% (A ANVISA admite DPR até 5%). 5

Para concentrações maiores (120%) verificou-se primeiramente um DPR de 6% Tal

fato pode ser explicado pela presença de um valor de medição destoante do restante

do grupo, e então esse foi admitido como outlier e excluído do cálculo do valor

médio, resultando em um novo DPR de 1,7%.O método pode ser considerado como

tendo boa exatidão para a solução de concentração média (100%) onde os valores

obtidos de DPR e do ensaio de recuperação mantiveram-se dentro dos valores

considerados satisfatórios, em oposição às soluções de concentração 80% e 120%

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que apresentaram DPR pouco acima do esperado e recuperação fora da faixa de

aceitação, porém não muito distantes desta.

Ainda em se tratando da RE 899/03, realizou-se uma etapa de verificação da

seletividade do método e verificou-se que o mesmo é capaz de identificar o princípio

ativo, mesmo em diferentes veículos, demonstrando um erro relativo de 2,4% no

teste 6, sendo este o maior erro obtido. Técnicas como a HPLC são capazes de

fornecer melhores resultados das figuras de mérito do que os obtidos por técnicas

espectroscópicas, porém, costumam consumir solventes e dispor de maior tempo de

análise.59

Em estudo semelhante, Vinha Jr. quantificou o paracetamol também por

espectroscopia Raman dispersiva, porém, com laser de Argônio bombeando

Ti:safira. Em relação à linearidade, pode-se afirmar que para concentrações em

torno de 200 mg/mL o método demonstrou proporcionalidade entre a concentração

do princípio ativo e a resposta espectral. Nessa faixa de concentração o método do

mesmo autor pode também ser considerado exato, em semelhança ao presente

estudo.8 Verificou-se que o sistema utilizado pelo autor não proporcionou resultados

precisos. Em oposição, o laser de diodo semicondutor utilizado no presente estudo

proporcionou equivalente comprimento de onda de excitação do material em 830

nm, baixa variação da potência de saída o que proporcionou maior precisão dos

resultados obtidos. Além dessas características técnicas, salienta-se também seu

menor custo quando comparado ao laser de Ti:Safira.60 Pela utilização de cabo de

fibras ópticas obtiveram-se potência estável e reprodutibilidade na geometria de

excitação e coleta dos espectros, com a possibilidade de irradiar proporcionalmente

a mesma área, uma vez que o cabo fora introduzido na cubeta contendo a amostra,

ao contrário da situação em que o feixe precisa atravessar o recipiente que contém

as soluções, considerando que esses podem apresentar irregularidades em suas

paredes, proporcionando irradiação desigual das amostras e também

comprometendo a regularidade da potência do laser depositada sobre cada amostra,

como demonstrado através do estudo de Vinha Jr, no qual a cubeta fora submetida

a 6 rotações de 90° para cada amostra. 8 Soma-se a isso a utilização de excitação

na região do infravermelho próximo, que minimizou a emissão de fluorescência

gerada em amostras orgânicas, melhorando a relação sinal-ruído devido ao “shot

noise” (ruído de fóton), tornando a ER dispersiva na região IV comparável ao HPLC

e a UV-Vis, em conformidade com Vinha Jr, Hanlon et al.,e Lopez-Gil et al. 8,10, 60

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Futuramente, sugere-se a realização de uma análise espectral detalhada de

cada constituinte do veículo padrão (placebo) do medicamento estudado, a inclusão

de variações nas quantidades relativas dos mesmos, a fim de identificar a sua real

influência na análise espectrométrica da solução completa deste medicamento em

gotas. Além disso, seria importante avaliar a influência do potencial hidrogeniônico

(pH) e da temperatura sobre os resultados, o que possibilitaria a determinação da

robustez do método. Dessa forma, de acordo com a RE 899/03, todas as figuras de

mérito pré-estabelecidas seriam avaliadas e, dependendo dos resultados, a

espectroscopia Raman poderia ser finalmente validada para o controle de qualidade

do medicamento. É aconselhável ainda testar o modelo utilizado para medicamentos

contendo mais de um princípio ativo, visto que o método quimiométrico PLS

demonstra plena capacidade de identificar mais de uma substância na mesma

amostra. Seria interessante, para tais finalidades, utilizar um sistema Raman

compacto.

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6 Conclusões

Pode-se concluir com este trabalho que a espectroscopia Raman dispersiva

no infravermelho próximo associada ao método quimiométrico PLS demonstrou ser

uma ferramenta promissora para a área de controle de qualidade na indústria

farmacêutica, especificamente na quantificação do paracetamol em formas

farmacêuticas líquidas. Constatou-se que este método atende aos parâmetros de

agilidade e confiabilidade recomendada pelo guia PAT. Ainda em concordância às

recomendações desse guia, pode-se também afirmar que a inclusão do cabo de

fibras ópticas ao sistema possibilitou a análise em tempo real, o que sugere menos

tempo de armazenamento de lotes inteiros até a sua liberação e subsequente

comercialização. Observou-se, também, que o laser semicondutor de diodo foi de

extrema importância na obtenção de bons resultados.

Finalmente pode-se concluir que a ER/PLS é passível de validação perante

os critérios pré-estabelecidos pela ANVISA, tendo em vista os resultados

alentadores obtidos da maioria das figuras de mérito as quais este estudo se propôs

a avaliar.

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